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Contabilidade Social

Profª. Carla Eunice Gomes Corrêa


Prof. Diego Boehlke Vargas
Prof. Maurício Leite

2018
Copyright © UNIASSELVI 2018

Elaboração:
Profª. Carla Eunice Gomes Corrêa
Prof. Diego Boehlke Vargas
Prof. Maurício Leite

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

V297c

Vargas, Diego Boehlke

Contabilidade social. / Diego Boehlke Vargas; Carla Eunice Gomes


Corrêa; Maurício Leite – Indaial: UNIASSELVI, 2018.

187 p.; il.

ISBN 978-85-515-0197-9

1.Contabilidade social – Brasil. I. Corrêa, Carla Eunice Gomes. II.


Leite, Maurício. III. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 339.381

Impresso por:
Apresentação
Seja bem-vindo aos estudos de Contabilidade Social! A partir de
agora, entraremos em uma nova etapa do curso, na qual descobriremos
instrumentos capazes de mensurar quantitativamente o movimento da
atividade econômica de um país.

Aqueles indicadores econômicos tão vistos em artigos científicos


ou em noticiários na televisão, como o Produto Interno Bruto (PIB), as
exportações e importações e os gastos do governo, serão aqui apresentados e
discutidos sobre seu real significado.

Você sabia que cada país possui uma maneira de organizar seu
Sistema de Contas Nacionais? É justamente por meio desses sistemas de
contas que as informações econômicas são agrupadas. Sua organização é
fundamental para que possam ser adequadamente utilizadas pelas políticas
econômicas nacionais.

Como forma de auxiliá-lo dos estudos apresentados ao longo do livro,


didaticamente dividimos o tema em três unidades, cada uma delas contando
com autoatividades de apoio.

Na Unidade 1, você fará uma primeira aproximação dos principais


temas relativos à Contabilidade Social. Neste capítulo introdutório, você
conhecerá os conceitos básicos da disciplina e as chamadas identidades
básicas da Contabilidade Social (Tópico 1).

Já no Tópico 2, será sistematizado o funcionamento do Sistema de Contas


Nacionais em economias fechadas e abertas, contando com a presença do governo
ou não. Por fim, examinaremos os principais agregados macroeconômicos e as
identidades contábeis presentes no sistema de contas nacionais.

Na Unidade 2, outros três tópicos procuram ordenar nosso estudo em


Contabilidade Social. No primeiro deles, você verá com maior profundidade
o Sistema de Contas Nacionais por meio da interpretação das Contas
Econômicas Integradas e do uso das Tabelas de Recursos e Usos.

O Tópico 2 avança para o setor externo, cujas exposições garantirão


que você entenda os principais conceitos do Balanço de Pagamentos, bem
como identifique e interprete suas contas internas. Já o Tópico 3 foi reservado
à elaboração da Matriz de Insumo-Produto, criada pelo economista Wassily
W. Leontief.

Na Unidade 3, avançaremos na disciplina de Contabilidade Social na


direção da área financeira e dos indicadores econômicos e sociais. O Tópico
1 será destinado à compreensão do funcionamento e da estrutura do Sistema
Financeiro Nacional para que possamos analisar as contas monetárias e

III
financeiras das instituições. Em seguida, no Tópico 2, compreenderemos
a importância dos índices na análise econômica, estudando os índices de
variação de preço e de quantidade.

Finalmente, no Tópico 3 da Unidade 3, entenderemos a construção


de indicadores econômicos e sociais e sua aplicabilidade na economia.
Discutiremos os conceitos de crescimento e desenvolvimento e analisaremos
indicadores recentes da economia brasileira.

Cabe lembrar que os temas aqui indicados são o principal material


para os seus estudos de Contabilidade Social, entretanto, não são os únicos.
Você verá que, ao longo das páginas deste livro, são indicadas diversas dicas,
fontes de pesquisa, bibliografias e muito mais para que você possa ampliar
ao máximo seus conhecimentos.

Além disso, as autoatividades garantem que o conteúdo estudado


seja devidamente discutido e aprendido. Portanto, não deixe de fazer e tirar
as dúvidas posteriormente.

Desejamos um ótimo aprendizado! Bons estudos e um forte abraço!

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL.................................................. 1

TÓPICO 1 – CONTABILIDADE SOCIAL......................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 3
2 CONCEITOS BÁSICOS..................................................................................................................... 4
3 A IDENTIDADE PRODUTO ≡ DISPÊNDIO ≡ RENDA.............................................................. 7
4 FLUXO CIRCULAR DA RENDA...................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 22

TÓPICO 2 – SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS.................................................. 23


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 23
2 AS CONTAS NACIONAIS NO SISTEMA SNA 68...................................................................... 23
2.1 ECONOMIA FECHADA E SEM GOVERNO............................................................................. 25
2.2 ECONOMIA ABERTA E SEM GOVERNO................................................................................. 31
2.3 ECONOMIA ABERTA E COM GOVERNO................................................................................ 34
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 40

TÓPICO 3 – PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS........................................... 41


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 41
2 DA CONTABILIDADE NACIONAL À MACROECONOMIA................................................. 41
3 AS IDENTIDADES CONTÁBEIS PRESENTES NO SISTEMA DE
CONTAS NACIONAIS........................................................................................................................ 45
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 51
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 55

UNIDADE 2 – O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO


DE PAGAMENTOS..................................................................................................... 57

TÓPICO 1 – O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS


INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE RECURSOS E USOS (TRU)...................... 59
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 59
2 SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS............................................................................................ 60
2.1 AS CONTAS NACIONAIS DO BRASIL...................................................................................... 62
2.2 TABELAS DE RECURSOS E USOS.............................................................................................. 65
2.3 AS CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS............................................................................ 72
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 85
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 87
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 88

VII
TÓPICO 2 – BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA
E REGISTROS ................................................................................................................. 89
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 89
2 BALANÇO DE PAGAMENTOS....................................................................................................... 90
2.1 A ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS.............................................................. 94
2.2 A CONTABILIDADE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS..................................................... 107
2.3 BALANÇO DE PAGAMENTOS E CONTAS NACIONAIS..................................................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 114
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 117

TÓPICO 3 – MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO............................................................................. 119


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 119
2 DESAGREGAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS: AS MATRIZES DE
INSUMO-PRODUTO......................................................................................................................... 120
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 124
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 125
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 126

UNIDADE 3 – SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS.... 127

TÓPICO 1 – CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS............................................................. 129


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 129
2 MEIOS DE PAGAMENTO: MOEDA CORRENTE E MOEDA ESCRITURAL....................... 130
3 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL ................................................................................................ 134
4 CONTAS MONETÁRIAS ................................................................................................................. 136
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 141
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 144
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 145

TÓPICO 2 – ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE...................................... 147


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 147
2 CLASSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES E PRODUTOS ................................................................. 148
2.1 PERÍODO DE COLETA ................................................................................................................ 152
3 CONSTRUÇÃO DE NÚMEROS-ÍNDICES................................................................................... 152
3.1 CONCEITO DE RELATIVOS ....................................................................................................... 152
3.2 RELATIVOS .................................................................................................................................... 153
3.3 MUDANÇA DE BASE .................................................................................................................. 155
3.4 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR................................................................................. 156
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 159
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 161
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 162

TÓPICO 3 – INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS........................................................... 163


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 163
2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO................................................................................... 164
3 CONCEITO E CONSTRUÇÃO DE INDICADORES................................................................... 169
4 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA E SOCIAIS......................................................... 171
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 178
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 182
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 183

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 185

VIII
UNIDADE 1

INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE
SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• conhecer os conceitos básicos da Contabilidade Social por meio das


identidades básicas;

• compreender o funcionamento do fluxo circular da renda;

• sistematizar o funcionamento do Sistema de Contas Nacionais;

• examinar os principais agregados macroeconômicos,

• identificar as identidades contábeis presentes no Sistema de Contas


Nacionais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – CONTABILIDADE SOCIAL

TÓPICO 2 – SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

TÓPICO 3 – PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONTABILIDADE SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Nas páginas que compõem este livro, você descobrirá a importância
dos temas ligados à contabilidade social para o estudo da Ciência Econômica.
Estudaremos desde os conceitos mais elementares a respeito da contabilidade
social até a utilização das teorias pelos países para a compreensão de suas
economias.

Nesta primeira unidade do livro, o objetivo mais geral será conhecer as


noções iniciais sobre a Contabilidade Social por meio das identidades básicas;
sistematizar o funcionamento do Sistema de Contas Nacionais e examinar os
principais agregados macroeconômicos.

A compreensão do conjunto de todas as atividades econômicas de um


país e suas inter-relações é uma tarefa difícil, ainda mais em um contexto em
que desconhecemos os reais volumes de produção, renda, emprego e fluxos
internacionais. É fundamental que as informações estatísticas e econômicas
estejam alinhadas, para que empresas, estado e demais agentes econômicos
possam produzir uma economia justa e igualitária para todos.

Assim, para que serve, afinal, a Contabilidade Social? Qual a importância


do estado para a regulação da atividade econômica? Como são organizadas as
contas nacionais no Brasil? Quais são os principais agregados macroeconômicos
que compõem nossa economia?

Preparamos o presente livro com a pretensão de conter uma leitura fácil


e dinâmica, cujas páginas contam com ilustrações, informações adicionais e dicas
para aprofundar o seu estudo.

No Tópico 1, estudaremos a chamada identidade básica das contas


nacionais, um conceito muito importante para a Contabilidade Social. Além
disso, iremos compreender do que se trata o fluxo circular da renda.

Desejamos ótimos estudos!

3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

2 CONCEITOS BÁSICOS
A Contabilidade Social é uma área que integra a Ciência Econômica,
responsável pela mensuração dos grandes agregados da economia de um
país em certo período. Trata-se da contribuição da Contabilidade para melhor
compreendermos as economias mundiais.

Para que uma política econômica seja eficiente, é preciso que saibamos
com precisão, por exemplo, quanto se produziu em certo período, qual foi o
nível de investimento, quanto se vendeu para o exterior, e quanto se comprou
do exterior. Outro exemplo está na execução das políticas fiscais, as quais não
ocorreriam caso não tivéssemos conhecimento a respeito da arrecadação e dos
gastos do governo.

NOTA

O estudo dos grandes agregados econômicos nacionais se refere à mensuração


e ao comportamento da economia como um todo, ou seja, compreender a renda nacional,
o produto nacional, o nível de inflação, o emprego e o desemprego, o estoque de moedas
e a taxa de juros, o balanço de pagamentos, a taxa de câmbio.

O consumo individual e a produção individual, por exemplo, não são considerados


agregados econômicos pois não condizem com o conjunto de toda a economia de um
país (VASCONCELLOS; GARCIA, 2008).

Por que é importante avaliarmos os agregados econômicos por meio de


contas? Por que há necessidade de uma “contabilidade social”? A contabilidade,
que surgiu em 1494 a partir dos estudos de Luca Pacioli, não estaria preocupada
em lidar com a vida econômica das empresas? Seria ela adequada para contribuir
com a economia de um país?

A teoria macroeconômica, bem como a história do pensamento econômico,


pode ajudar na compreensão das perguntas. Como o próprio nome já diz, a
macroeconomia possui uma visão macroscópica dos fenômenos econômicos, de
modo que suas variáveis sempre são agregadas. Daí a importância fundamental
para a contabilidade social (PAULANI; BRAGA, 2012).

Os objetos de estudo da macroeconomia combinam com as variáveis


agregadas mensuradas pela contabilidade social. Assim, a contabilidade
social se torna uma fonte de informação para a execução de diversas políticas
macroeconômicas.

4
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

FIGURA 1 – OBJETOS DE ESTUDO E AGREGADOS ECONÔMICOS NACIONAIS

FONTE: Os autores

A própria ciência econômica nasce com a preocupação para o crescimento


econômico e a repartição do produto social ao final do século XVIII. Os principais
autores da Escola Clássica, tais como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart
Mill, quando investigam o funcionamento da economia, estavam constantemente
interessados nos resultados econômicos para a dimensão agregada (PAULANI;
BRAGA, 2012).

Outro economista, Jean Baptiste Say, também revelava maior atenção


aos aspectos de simultaneidade, interdependência e identidade nas relações
econômicas, temas próprios da contabilidade social.

No entanto, com a chamada revolução marginalista, ao final do século


XIX, a preocupação com o nível agregado da economia perde sua força quando
comparada com o avanço dos estudos das dinâmicas microeconômicas, relativos
ao comportamento geral dos agentes econômicos, tais como as empresas e os
consumidores.

NOTA

: A Revolução Marginalista trata de uma nova abordagem trazida para o


pensamento econômico a partir de economistas como William Stanley Jeveons (1835-
1882), Carl Menger (1840-1921) e Léon Walras (1834-19140) (PAULANI; BRAGA, 2012).

5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A próxima escola de pensamento da Economia se organiza na teoria


neoclássica, na virada do século XIX para o século XX. Embora seu principal
representante, Alfred Marshall, tenha levado em conta os preceitos dos
economistas clássicos, dividiu a economia por meio de dois conceitos: o real e o
monetário.

Assim, deixava de lado a preocupação efetiva com o crescimento da


riqueza e da divisão do produto, cuja análise revelava a utilização de variáveis
agregadas e sua mensuração. Novamente, subjugava-se a utilização dos conceitos
e entendimentos próprios à contabilidade social.

A crítica ao pensamento marginalista viria a surgir a partir de John


Maynard Keynes (1883-1946), com a publicação de “Teoria geral do emprego,
do juro e da moeda”, em 1936. Ainda, é a partir do momento em questão que a
macroeconomia, tendo a contabilidade social como fonte de informação, teve seu
(re)surgimento.

NOTA

A Teoria geral de Keynes traz os contornos definitivos para os conceitos


fundamentais da contabilidade social, bem como enfatiza a existência de identidades no
nível macro e a relação entre os diferentes agregados (PAULANI; BRAGA, 2012).

FIGURA 2 – KEYNES E SUA PRINCIPAL OBRA PUBLICADA

FONTE: Disponível em: <https://d3i6fh83elv35t.cloudfront.net/newshour/app/


uploads/2015/08/GettyImages-3092643-1024x683.jpg>. Acesso em: 6 jun. 2018.

6
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

A crise da década de 1930, iniciada com o colapso da quebra da bolsa


de valores de Nova Iorque em 1929, traz a importância da macroeconomia e da
contabilidade social. A partir de Keynes, os economistas passaram a saber o que
era importante medir, mas também como medir e por que medir em termos de
agregados econômicos.

Perceba que a Revolução Keynesiana, como costuma ser chamada a


participação de Keynes no debate acadêmico e político, trouxe a possibilidade
de os economistas do período verificarem o comportamento e a evolução da
economia de uma forma sistêmica.
A partir dos primeiros esforços para fechar logicamente o sistema
de contas nacionais, a teoria macroeconômica e a contabilidade
social experimentaram desenvolvimentos conjuntos, beneficiando-se
mutuamente. Ainda, a evolução prática da contabilidade social, rumo
à produção de estatísticas sistematizadas sobre variáveis agregadas,
foi tornando possível a verificação empírica das proposições teóricas
derivadas da macroeconomia, seja no que tange a leis fundamentais,
seja no que diz respeito a modelos específicos (PAULANI; BRAGA,
2012, p. 4).

O princípio das partidas dobradas (quando um lançamento a débito deve


sempre corresponder ao outro de mesmo valor a crédito) e a exigência de um
equilíbrio interno (a igualdade entre o valor do débito e do crédito em cada uma
das contas) e externo (igualdade entre todas as contas do sistema) mostraram ser
fundamentais para a tarefa de mensurar de forma sistêmica e lógica a evolução e
o comportamento dos agregados econômicos (PAULANI; BRAGA, 2012).

Por meio da perspectiva, a contabilidade passa a ser responsável por


medir, de forma macroscópica, o comportamento da atividade econômica, como
se a economia fosse uma grande empresa e seus resultados, em um certo período
de tempo, apresentados em contas que integram o Sistema de Contas Nacionais.

O fechamento de todas as informações precisa ser útil aos governos federais,


no sentido de contribuir com uma ideia mais clara dos rumos de uma sociedade
econômica, tanto do ponto de vista do setor privado quanto da sociedade civil,
para que a intervenção governamental seja suficiente na resolução dos problemas
econômicos e sociais.

3 A IDENTIDADE PRODUTO ≡ DISPÊNDIO ≡ RENDA


É importante ressaltar que é a partir da identidade entre produto,
dispêndio e renda que há a derivação do fluxo circular da renda e, também, que
há uma identidade própria do sistema econômico. Uma compra não ocorre se,
de outro lado, também haja uma venda; produção não ocorre sem dispêndio,
tampouco, sem geração de renda.

7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Portanto, não podemos confundir igualdade com identidade. Compra não


é igual à venda, ou precede a venda, nem explica a venda. Não há uma relação de
causalidade, mas de identidade. Assim, é usado o sinal de identidade (≡) e não
de igualdade (=).

Os exemplos a seguir procuraram clarear as ideias. Nas próximas linhas,


compreenderemos que o produto de um país pode ser mensurado a partir de três
óticas: a ótica do dispêndio, a ótica do produto, e a ótica da renda.

a) Ótica do dispêndio:

Imaginemos uma economia hipotética H na qual não exista governo e não


realize transações com o exterior. Na economia, existem apenas quatro setores
econômicos, cada um deles com uma empresa: produção de sementes (setor 1),
produção de trigo (setor 2), produção de farinha de trigo (setor 3) e produção de
pães (setor 4). Ao final do ano X, teríamos as seguintes transações entre os setores,
apresentadas no Quadro 1:

QUADRO 1 – TRANSAÇÕES OCORRIDAS NA ECONOMIA H NO ANO X

A empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $500 e vendeu-as à empresa do setor 2.


A empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $1.500 e vendeu-o à empresa do setor 3.
A empresa do setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $2.100 e vendeu-a à empresa do setor 4.
A empresa do setor 4 produziu pães no valor de $2.520 e vendeu-os aos consumidores finais.
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 10)

Primeiramente, procuraríamos responder, qual foi o produto da


economia? Para tanto, precisaríamos saber o que foi produzido no ano X. A partir
dos dados, podemos presumir que foi produzido um valor de $6.620, que se
refere à soma das sementes ($500), do trigo ($1.500), da farinha de trigo ($2.100)
e de pães ($2.520).

Ao final do período X, a economia H não possui todos os itens à disposição.


As sementes foram consumidas para a produção do trigo, o trigo na farinha de
trigo, e a farinha de trigo na produção de pães. Temos, portanto, apenas os pães,
no valor de $2.520, relativo à produção. Os demais bens foram utilizados em
diferentes estágios da cadeia produtiva na forma de insumos.

Assim, temos o valor bruto da produção, no valor de $6.620, que


corresponde ao que foi produzido, incluindo aquilo que foi utilizado como insumo
no processo produtivo de outros bens, chamado de consumo intermediário: as
sementes, o trigo e a farinha de trigo.

8
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

ATENCAO

Para encontrarmos o valor do produto de uma economia, o produto agregado,


é preciso deduzir do valor bruto da produção o valor do consumo intermediário.

A forma mais fácil de encontrarmos o valor do produto de uma economia


é considerar apenas o valor dos bens finais produzidos. No exemplo da economia
H foram os pães.

NOTA

Os bens finais de uma economia são aqueles produtos que estão prontos para
serem consumidos pelos indivíduos. São aqueles itens que não precisarão passar por etapa
de produção alguma para poderem ser consumidos, tampouco serão utilizados para o
consumo intermediário.

Contudo, aqueles produtos que não foram utilizados na esfera da


produção também precisam ser contabilizados no produto da economia. Assim,
caso a empresa do setor 2, por exemplo, que produz trigo, não queira vender todo
o trigo produzido para a produção de farinha de trigo, a parcela restante também
será somada ao produto da economia.

Assim, a parcela não consumida no processo de produção não será


nomeada de consumo intermediário, nem de bem final, pois trata-se de uma
produção realizada pela economia que, no futuro, tornar-se-á um bem final.

Assim, podemos perceber que não é a natureza de um bem que determina


se ele é final ou intermediário, mas a sua utilização no momento da contabilização
das contas nacionais. No caso do trigo, se suas unidades ainda não tiverem sido
utilizadas no consumo intermediário, para os efeitos da contabilidade nacional,
ele é considerado um bem final.

A forma de perceber o produto de uma economia é chamada de ótica da


despesa ou ótica do dispêndio. A interpretação procura responder: para produzir
quais tipos de bens a economia despendeu esforços, força de trabalho, recursos,
capital material?

9
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

No caso da economia H, o dispêndio foi totalmente concentrado para a


produção de pães e no caso da empresa do setor 2 não vender todo o trigo, o
dispêndio da economia H seria relativo à produção de pães para o consumo e (b)
para a produção de trigo para o consumo futuro.

NOTA

A ótica da despesa ou ótica do dispêndio avalia o produto de uma economia,


considerando a soma dos valores de todos os bens e serviços produzidos no período que
não foram destruídos (ou absorvidos como insumos) na produção de outros bens e serviços
(PAULANI; BRAGA, 2012).

b) Ótica do produto:

Vimos, portanto, que a ótica do dispêndio procura averiguar o produto


total de certa economia em determinado período. Entretanto, para que
compreendamos a identidade produto ≡ despesa ≡ renda, precisamos considerar
as três óticas em conjunto.

A ótica do produto propriamente dita é denominada pelos economistas


como valor adicionado. Para entendermos a dimensão, utilizaremos novamente
as informações de exemplo anteriores, dispostas no Quadro 2:

QUADRO 2 –TRANSAÇÕES OCORRIDAS NA ECONOMIA H NO ANO X


A empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $500 e vendeu-as à empresa do setor 2.
A empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $1.500 e vendeu-o à empresa do setor 3.
A empresa do setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $2.100 e vendeu-a à empresa do setor 4.
A empresa do setor 4 produziu pães no valor de $2.520 e vendeu-os aos consumidores finais.
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 12)

Agora, perguntamos: o que foi produzido na economia quando olhamos


unidade produtiva por unidade produtiva? A empresa do setor 1 produziu $500
em sementes, e como não precisou comprar nenhum insumo, seu produto é, de
fato, $500.

Já a empresa do setor 2 produziu $1.500, mas ela só pôde produzir o valor


a partir da compra das sementes no valor de $500 da empresa do setor 1. Assim,
para o cálculo do produto a partir da ótica, os insumos utilizados devem ser
descontados para encontrarmos o produto. O produto da empresa do setor 2 foi
de $1.000, que é a diferença entre o valor de sua produção ($1.500) e o valor da
produção que adquiriu da empresa do setor 1 ($500).
10
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

ATENCAO

O valor adicionado é justamente a quantia que é adicionada em um determinado


ambiente de produção. A empresa do setor 2 adicionou $1.000 aos $500 que recebeu em
sementes da empresa do setor 1. Transformou sementes em trigo.

Quando miramos para o caso dos demais setores de nosso exemplo, temos
a conclusão exposta no Quadro 3:

QUADRO 3 – PRODUTO DA ECONOMIA H NO ANO X

Produto (ou valor adicionado) do setor 1 $500


Produto (ou valor adicionado) do setor 2: $1.500 – $500 $1.000
Produto (ou valor adicionado) do setor 3: $2.100 – $1.500 $600
Produto (ou valor adicionado) do setor 4: $2.520 – $2.100 $420
Produto total ou valor adicionado total $2.520

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 15)

O produto total ou o valor adicionado total para a economia foi de $2.520,


pois refere-se à soma de todos os valores adicionados ao longo de todas as etapas
de produção. Tanto pela ótica do dispêndio, vista anteriormente, quanto aqui,
na ótica do produto, o produto total para a economia é o mesmo. Trata-se de
enxergar e mensurar o mesmo agregado econômico por meio de óticas diferentes
para o mesmo período.

NOTA

Pela ótica do produto, a avaliação do produto total da economia consiste


na consideração do valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em cada
unidade produtiva (PAULANI; BRAGA, 2012).

Logo, o produto de uma economia pode ser mensurado a partir do valor


adicionado deduzindo, de cada unidade produtiva, o consumo intermediário do
valor bruto da produção.

11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

c) Ótica da renda

A identidade produto ≡ renda leva em conta que para produzirmos


qualquer produto, precisamos consumir previamente fatores de produção. Dito
de outra forma, devemos empregar determinados fatores de produção (mão de
obra, empréstimos, insumos etc.) durante a produção de um produto.

Para os objetivos dos nossos estudos, podemos considerar que os fatores


de produção são classificados em trabalho e capital. O trabalho se refere à força
de trabalho humano, enquanto o capital se refere às máquinas, aos equipamentos,
aos imóveis utilizados na produção, moinhos, celeiros, dentre tantos outros
elementos que podemos imaginar que são utilizados para o processo de produção.

É, portanto, entre o trabalho e o capital que devemos repartir o produto


gerado por uma economia, uma vez que certo produto só pôde ser feito a partir da
participação dos fatores de produção. Nas economias de mercado, a forma encontrada
para repartir o produto gerado foi a partir de uma remuneração monetária.

NOTA

A remuneração do fator trabalho é denominada salário e a remuneração do


fator capital é denominada lucro.

Consequentemente, as remunerações pagas aos fatores de produção, ou


seja, as rendas, consideradas em conjunto em certo período, devem ser iguais ao
produto obtido por uma economia. Assim, chegamos novamente à identidade da
contabilidade social, agora expressa pela identidade produto ≡ renda.

De volta ao exemplo apresentado anteriormente, suponhamos que


saibamos as rendas pagas aos fatores de produção dos quatro setores da Economia
H no ano X, conforme a Tabela 1:

12
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

TABELA 1 – RENDA DA ECONOMIA H NO ANO X

Renda Nacional (salários


Setor Salários Lucros
+ lucros)
Setor 1 $400 $100 $500
Setor 2 $800 $200 $1.000
Setor 3 $480 $120 $600
Setor 4 $336 $84 $420
Total $2.016 $504 $2.520
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 18)

Como observamos, o total das remunerações pagas aos fatores de


produção é idêntico ao total do produto obtido na economia no período X.

NOTA

O produto gerado por uma economia em um determinado período de tempo


é igual à renda gerada no mesmo período (PAULANI; BRAGA, 2012).

Ainda, podemos notar que a soma das remunerações de cada setor


também iguala o produto da economia, embora a mensuração do produto pela
ótica da renda não exija que se investigue setor por setor.

Para encontrarmos o produto pela ótica da renda, basta apenas que sejam
somadas as remunerações pagas aos diferentes fatores de produção: o total gasto
com salários e o total dos lucros ganhos no período (conforme podemos visualizar
na última linha da Tabela 1).
Pela ótica da renda, podemos avaliar o produto gerado pela economia
em um determinado período de tempo, considerando o montante total
das remunerações pagas a todos os fatores de produção nesse período
(PAULANI; BRAGA, 2012, p. 18).

Podemos apreender que a identidade produto ≡ dispêndio ≡ renda


permite avaliar o produto de uma economia para um certo período por meio de
três óticas: do dispêndio, do produto e da renda.

13
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A Figura 3 procura detalhar as principais características de cada uma das


três óticas.

FIGURA 3 – A IDENTIDADE PRODUTO ≡ DISPÊNDIO ≡ RENDA EM UMA ECONOMIA

FONTE: Os autores

A identidade produto ≡ dispêndio ≡ renda está presente em todo o


funcionamento da economia, cuja dinâmica origina um conceito muito importante
na economia, relativo ao fluxo circular da atividade econômica, que será visto nas
páginas seguintes.

4 FLUXO CIRCULAR DA RENDA


Todos os dias, a todo o momento, em todas as nossas atividades, ocorrem
transações e fluxos que determinam os aspectos materiais de nossas vidas em
sociedade.

Ao comprarmos um simples pão na padaria, por exemplo, passamos


a estabelecer inúmeras relações com diferentes pessoas e instituições, fazendo
com que os mecanismos da economia girem e produzam determinado tipo de
sociedade.

14
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

FIGURA – 4 INTER-RELAÇÕES ENTRE OS AGENTES ECONÔMICOS

FONTE: Os autores

Para compreendermos certa economia, suponhamos que o dinheiro não


componha os fluxos existentes, restando assim, apenas um conjunto de bens e
serviços ao final de um período de atividades econômicas.

Mas qual finalidade produzimos bens e serviços? Para que servem as


mercadorias? Ora, os bens e serviços são utilizados para saciar nossas necessidades,
sejam quais elas forem, portanto, servem para serem consumidos pela própria
sociedade que os produziu e garantir que a reprodução social e material ocorra.

ATENCAO

Os indivíduos que compõem certa sociedade aparecem duas vezes na


dinâmica de reprodução social. Em cada momento, desempenham um papel distinto: às
vezes são produtores; às vezes, consumidores daquilo que foi produzido.

15
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Para que indivíduos de uma sociedade desempenhem o papel de


consumidores, basta que haja vontade em demandar certos produtos. Entretanto,
para que desempenhem o papel de produtores, é preciso que sejam proprietários
de fatores de produção, donos de indústrias, de máquinas e equipamentos, de
matérias-primas. Contudo, todas as pessoas possuem ao menos um fator de
produção, a força de trabalho, que é de propriedade de cada um de nós.

Assim, procuramos organizar a sociedade por meio de dois conjuntos: as


famílias e as empresas (ou unidades produtivas). As empresas produzem para
que as famílias consumam bens e serviços.

Uma vez que as famílias também são proprietárias de fatores de produção


– sua força de trabalho – os produtos produzidos retornarão para o consumo
dos indivíduos. As famílias “trocam” seu único fator de produção para que as
empresas possam produzir por bens e serviços.

Agora, se voltarmos à identidade da contabilidade social produto ≡


dispêndio ≡ renda, perceberemos que a ótica do produto se refere às atividades
dos indivíduos como produtores, ou às atividades das próprias empresas, uma
vez que a ótica do produto procura avaliar unidade produtiva por unidade
produtiva. Por outro lado, a ótica do dispêndio se refere às demandas dos
consumidores, ou às atividades das famílias.

Lembrando que o dinheiro não existe na economia que estamos supondo.


O fluxo para a economia será apenas de bens e serviços e, possivelmente, ocorrerá
da seguinte forma:

FIGURA 5 – FLUXO DE BENS E SERVIÇOS EM UMA ECONOMIA SEM A PRESENÇA DE DINHEIRO

FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012)

16
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

Já a Figura 6, a seguir, apresenta o fluxograma do conjunto muito simples


de transações, ainda sem a presença do dinheiro. É a forma mais comum de
apresentarmos as relações que ocorrem entre as empresas e as famílias.

FIGURA 6 – FLUXOGRAMA DA RELAÇÃO EMPRESA-FAMÍLIA


Fatores de produção
(Trabalho e capital material)

Empresas Famílias
2 4

Bens de serviços finais


FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 21)

Por meio do fluxograma, é possível visualizar dois movimentos: primeiro,


aquele expresso pela linha 1, que diz respeito aos fatores de produção (a mão de
obra) das famílias sendo levados às empresas. O segundo movimento está na linha
3, que corresponde aos bens e serviços finalizados sendo levados até às famílias.

O passo Número 2 da Figura 6 não aparece aqui, pois se trata das atividades
internas das empresas durante o processo de produção de bens e serviços. Assim
como o passo 4, uma vez que se refere ao consumo, uma atividade interna às famílias.

Agora, uma vez que compreendemos a ótica do produto e do dispêndio


no fluxo da atividade econômica, resta-nos conhecer o funcionamento da ótica
da renda.

Para tanto, vamos abandonar nossa suposição inicial e considerar a


presença do dinheiro para a economia. As sociedades econômicas vivem da
troca de mercadorias, por exemplo, certa quantia de força de trabalho por certa
quantidade de produtos.

As trocas são mediadas ou intermediadas por dinheiro. Assim, o fluxo


simples de relações visto anteriormente vai ser complementado pela variável
dinheiro, o chamado fluxo monetário.

O fluxo para a economia, composto por bens, serviços e dinheiro, ocorrerá


da seguinte forma:
17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

FIGURA 7 – FLUXO DE BENS E SERVIÇOS EM UMA ECONOMIA COM A PRESENÇA DE DINHEIRO

FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012)

A Figura 8, a seguir, apresenta o fluxograma do conjunto mais complexo


de transações, que conta com a presença do dinheiro. É a forma mais comum de
apresentarmos as relações que ocorrem entre as empresas e as famílias quando há
participação do dinheiro. A linha cheia representa os bens e serviços, enquanto a
linha pontilhada é utilizada para demonstrar os fluxos monetários.

FIGURA 8 – FLUXOGRAMA DOS BENS E SERVIÇOS E O FLUXO MONETÁRIO


Força de trabalho e capital material

Empresas Salário e Lucro [$] Famílias


2
4
Salário e Lucro [$]

Bens de serviços finais


FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 21)

18
TÓPICO 1 | CONTABILIDADE SOCIAL

Com a leitura da Figura 8, constatamos o movimento concreto dos bens e


serviços, bem como o movimento do dinheiro. No passo 1, há um fluxo de fatores
de produção (os bens reais), representado pela mão de obra das famílias para
empresas. Entretanto, há também um fluxo monetário, no sentido contrário, das
empresas para as famílias, representado pelos salários e lucros pagos (a linha
pontilhada).

No passo 3, temos outro movimento: há um fluxo real das empresas para


as famílias, que são os bens e serviços finais produzidos e um fluxo monetário
das famílias para as empresas, representado pela renda gasta com a aquisição dos
bens e serviços (a linha pontilhada).

Os passos 2 e 4 são iguais ao esquema anterior mais simples, referindo-se


às atividades internas das empresas durante a produção, e das famílias durante
o consumo.

Para completar nossa análise sobre a identidade da contabilidade social


produto ≡ dispêndio ≡ renda, é importante perceber que com a existência do fluxo
monetário, podemos compreender a ótica renda, que considera os membros da
sociedade em sua condição de proprietários de fatores de produção.

Segundo Paulani e Braga (2012, p. 23), uma síntese sobre as três óticas
poderia ser descrita da seguinte forma:
Na sociedade em que vivemos [...], a ótica do produto considera a
atividade dos indivíduos como produtores, ou seja, a atividade das
unidades produtivas ou empresas. Já́ a ótica do dispêndio (ou do gasto,
ou da demanda) refere-se a sua atuação como consumidores, ou seja,
como famílias. Finalmente, a ótica da renda analisa os indivíduos em
sua condição de proprietários de fatores de produção. As transações
ocorrem entre famílias e empresas e envolvem fluxos reciprocamente
determinados de bens e serviços concretos, por um lado, e de dinheiro,
por outro.

Assim, vimos ao longo deste tópico, que há uma identidade entre produto,
dispêndio e renda, mas, ainda, é preciso reforçar que o conjunto das atividades
e transações de uma economia (o agregado) se trata de diversas idas e vindas de
bens/serviços e de dinheiro.

É justamente ao fluxo de idas e vindas de bens/serviços e de dinheiro que


damos o nome de fluxo circular da renda.

A economia é vista como um fluxo, pois está em constante movimento,


e é circular, pois tende a passar sempre pelos mesmos pontos, ainda que em
momentos e em condições diferentes. Por fim, o fluxo circular é da renda (e
não da despesa nem do produto) porque está associado ao lado monetário das
transações.

19
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Se pararmos para pensar, “aquilo” que está sempre circulando é o dinheiro.


O dinheiro utilizado para remunerar os fatores de produção (matérias-primas,
mão de obra...) é o mesmo utilizado para a aquisição de bens/serviços finais (por
exemplo, as compras nos supermercados pelas famílias). Assim, o dinheiro vai e
volta ao longo da economia.

Por outro lado, os bens/serviços reais (ou concretos) têm caminho apenas
de ida. Os fatores de produção saem das famílias e vão para as empresas. Quando
saem das empresas, já estão transformados em bens finais prontos para o consumo.
Esses bens também não irão circular, pois também têm caminho apenas de ida:
das empresas para as famílias.

E
IMPORTANT

Você entendeu o sentido do termo “fluxo circular da renda”? Cada uma dessas
palavras possui um significado importante para o entendimento do crescimento econômico.

Outra ideia interessante sobre a proposição teórica do fluxo circular da


renda é que o fluxo é contínuo e ininterrupto. Ele nunca cessa, embora possa
apresentar mudanças de intensidade em determinados períodos.

Em uma economia real, o fluxo nunca começa do passo 1 e/ou termina


no passo 4, porque de fato o fluxo é constante. Assim, para que possamos avaliar
os resultados dos movimentos para uma economia, precisamos dar um pause em
todas as transações econômicas durante certo período para, então, podermos
medir o volume de produção, salários, fatores de produção, entre outros
indicadores que se queria.

Assim, quanto maior for a intensidade do fluxo em certo período escolhido,


por exemplo, um ano, maior será a produção, a renda e o dispêndio da economia
para aquele ano.

Ao registrarmos um aumento do fluxo entre um período e outro, por


exemplo, um aumento do fluxo entre este ano e o ano anterior, estaremos
revelando um crescimento econômico: maior produção, maior emprego, maior
renda e maior consumo.

Entretanto, se a variação da intensidade do fluxo circular da renda for


negativa entre o período atual e o anterior, estaremos diante de uma redução da
atividade econômica.

Caro acadêmico, esperamos que os estudos ao longo do Tópico 1 tenham


sido esclarecedores. Nos próximos tópicos, aprofundaremos o entendimento
a respeito da Contabilidade Social. Acompanhe nossa revisão e resolva as
autoatividades para melhor assimilarmos e aproveitarmos os conceitos.
20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os grandes agregados econômicos nacionais se referem à mensuração e ao


comportamento da economia como um todo.

• A teoria keynesiana é responsável por formular os conceitos fundamentais da


contabilidade social.

• O princípio das partidas dobradas considera que haja um equilíbrio interno e


externo entre as contas nacionais.

• O sistema econômico possui uma identidade entre produto, dispêndio e renda.

• A partir da ótica do dispêndio, o produto de uma economia mostra-se pela


soma dos valores de todos os bens e serviços finais que não foram destruídos
ou consumidos na produção de outros bens e serviços.

• Pela ótica do produto, o produto da economia consiste no valor efetivamente


adicionado pelo processo de produção em cada unidade produtiva.

• A partir da ótica da renda, o produto de uma economia se refere à soma das


remunerações pagas a todos os fatores de produção.

• A relação entre empresas e famílias sem a presença de dinheiro pode ser vista
na troca entre fatores de produção e bens/serviços finais.

• Quando ocorre a mediação do dinheiro entre empresas e famílias, os salários/


lucros são transferidos às famílias e a renda despendida é transferida às
empresas.

• Quanto maior for a intensidade do fluxo circular da renda, maior será o


crescimento da economia por meio do aumento da produção, do emprego, da
renda e do consumo.

21
AUTOATIVIDADE

1 Considere uma economia que produz R$1.500 em bens finais (camisetas)


e R$1.000 em bens intermediários (fios), sendo que uma parte dos bens
intermediários, no valor de R$200, não foi consumida no período.

a) Explique como calcular o produto de uma economia pela ótica do dispêndio.


b) Qual é o produto desta economia a partir da ótica do dispêndio.

2 De que forma se calcula o produto de uma economia por meio do método do


valor adicionado (ou ótica do produto)?

3 Descreva como ocorre o fluxo de bens e serviços em uma economia que


considera a presença do dinheiro.

4 Explique o motivo pelo qual o crescimento econômico depende da


intensidade do fluxo circular da renda na economia.

22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

1 INTRODUÇÃO
O tópico que você estudará a partir de agora é muito importante para
todo o estudo da disciplina de Contabilidade Social.

O tema a ser visto aqui será relativo ao Sistema de Contas Nacionais,


lançado pela Organização das Nações Unidas, cujas diretrizes vêm sendo
atualizadas e utilizadas em diversas partes no mundo.

Portanto, em um primeiro momento, procuraremos compreender como


surge a ideia da elaboração de um sistema deste tipo para, então, analisar o caso
das economias fechadas e abertas, que se trata de uma forma de examinar as
contas nacionais sem considerar as transações com os demais países.

Em seguida, dedicaremos uma parte dos estudos para verificar a


participação do governo nas contas nacionais. Será o caso de especificar as
economias fechadas e abertas, mas com a participação do governo e sem a
participação do governo.

Tenha uma boa leitura!

2 AS CONTAS NACIONAIS NO SISTEMA SNA 68


Os esquemas mais elementares vistos ao longo da Unidade 1 são
fundamentais para analisarmos a estrutura do Sistema de Contas Nacionais (SCN)
que é, de fato, utilizado pelos países na execução de suas políticas econômicas.

O que acontece é que as economias reais são muito mais complexas do


que os modelos e fluxogramas vistos anteriormente, embora sejam extremamente
úteis aos nossos estudos.

As transações econômicas existentes, por exemplo, ocorrem em número


elevado, impossibilitando que todas as características da relação entre empresas
e famílias fossem colocadas no papel.

23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A atuação do governo, por outro lado, também é muito importante


para compreendermos corretamente o fluxo circular da renda, alterando-o
substancialmente cada uma das etapas. Ainda, há relações travadas entre agentes
econômicos de outros países, ou seja, uma economia nunca é inteiramente
“fechada”, mas procura realizar transações constantes com economias de
diferentes países.

NOTA

Quando nos referirmos às economias “fechadas”, significa que certo país não
realiza transações econômicas, como compras ou vendas de produtos, com outros países
do mundo. Já as economias “abertas” possuem atividades econômicas com outros territórios.

Outro exemplo de como a economia real é muito mais complexa do


que nossos modelos iniciais, pode ser visto pelos fatores de produção, cuja
remuneração vai além dos salários e dos lucros. Assim, os aluguéis e os juros
também devem ser contemplados no conceito de renda.

Ainda, as empresas também realizam interações entre si, originando


novos fluxos de renda, bem como as famílias, que podem constituir também
interações autônomas. Noutra análise, percebemos que as famílias nem sempre
gastam toda a renda recebida. Tal comportamento dará origem a conceitos que
serão vistos posteriormente, relativos ao investimento e à poupança.

FIGURA 9 – AS RELAÇÕES ECONÔMICAS E SUAS COMPLEXIDADES

FONTE: Os autores

24
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

A partir das informações podemos supor que cada país possui sua própria
forma de conduzir as contas nacionais. A base teórica e conceitual é importante
para que compreendamos a lógica básica por trás do que é específico para cada
país.

Cada país possui uma forma própria de apresentar as informações


do sistema de contas nacionais; de maneira que não desrespeite os conceitos
fundamentais da contabilidade social.

O formato das contas nacionais pode, portanto, variar de país para


país, e para que possamos comparar as diferentes metodologias, a ONU ficou
responsável (Organização das Nações Unidas) pela elaboração do chamado SNA,
System of National Accounts.

Assim, de tempos em tempos, a ONU lança um conjunto de recomendações


a serem seguidas pelos países de todo o mundo, com o objetivo de homogeneizar
e padronizar o formato de apresentação do Sistema de Contas Nacionais.

Em 1968, foi lançado o SNA 68, que vigorou por um longo período, até ser
substituído pelo complexo SNA 93, em 1993. Embora tenha ocorrido a mudança
nos sistemas, os princípios básicos do sistema não se alteram.

Vejamos primeiramente a estrutura do SNA 68 para, mais adiante,


analisarmos o novo sistema, bem como o caso do Brasil.

2.1 ECONOMIA FECHADA E SEM GOVERNO


Os estudos vistos até o momento mostram que a Contabilidade Social
reúne instrumentos capazes de mensurar a atividade econômica de um país em
um determinado período.

Assim são três as formas pelas quais podemos perceber a produção de


uma economia. Para que uma economia funcione, é preciso haver produção pois,
sem produção, não haverá nem dispêndio, tampouco, renda.

Portanto, a conta de produção é a conta mais importante do sistema de


contas nacionais de uma economia, uma vez que é a partir da produção que as
outras contas ganham forma.

Na primeira situação que veremos, não será considerada a participação


do governo e iremos supor que nossa economia não realiza transação econômica
alguma com outros países, ou seja, tratar-se-á de uma economia fechada.

Pela ótica do dispêndio, vimos que são considerados os bens finais


produzidos, mas também os bens que não foram destruídos (ou consumidos) ao
longo do processo produtivo. Por exemplo, os pães (bens finais) e o trigo, que não
foram consumidos na produção de mais pães.
25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Em uma outra situação, poderia ter ocorrido que, no momento da


mensuração do produto, outros produtos tivessem sobrado, tais como farinha de
trigo e sementes. Ainda, que alguns pães não tivessem sido vendidos. Seria o caso
da formação de um nível de estoque ao final do período mensurado.

Por meio das situações apresentadas, podemos prever que de uma forma
será composta a conta de produção: de um lado, teremos o produto; de outro, a
utilização do mesmo produto pelo consumo das famílias (consumo pessoal ou
consumo privado) e pela formação ou variação de estoques (valor do estoque de
trigo, de pães não vendidos, de farinha de trigo e de sementes).

E os estoques, de que são constituídos? Como vimos, trata-se de


mercadorias com consumo futuro. Tudo aquilo que é produzido, mas não
consumido no mesmo período, recebe o nome de investimento.

E os investimentos? São constituídos apenas de mercadorias não


consumidas? A resposta é não! Imagine que nossa economia hipotética tivesse
produzido pães (e vendidos estes pães), pães (não vendidos), farinha de trigo
(ainda não vendida) e fornos para assar pães (que ainda não foram devidamente
ligados e utilizados na produção).

Obviamente, os fornos para assar pães têm caráter especial, porque


serão utilizados inúmeras vezes para a produção de pães até o momento que se
desgastem por completo e necessitem ser substituídos por novos fornos. Assim,
procuramos separar os investimentos em variação de estoques e formação de
capital fixo.

NOTA

O investimento costuma ser dividido em variação de estoques, que congrega os


bens cujo consumo e absorção futuros se darão de uma única vez, e a formação bruta de capital
fixo, que agrega os bens que não desaparecem depois de uma única utilização e possibilitam
a produção (e, portanto, o consumo) ao longo de um determinado período de tempo, ou seja,
possibilitam a produção de um fluxo de bens e serviços (PAULANI; BRAGA, 2012).

26
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

FIGURA 10 – EXEMPLOS DE CAPITAL FIXO

FONTE: Os autores

Ao contrário dos bens que se incluem em “variação dos estoques”, o


capital fixo possibilita o consumo de Bens e Serviços Finais por um longo período
de tempo, embora não seja eterno. Um novo furgão para cargas, por exemplo,
possibilita que um serviço de entregas seja realizado por muito tempo, até o
momento de ser substituído ou reformado.

É justamente determinada característica do capital fixo que dá origem


a uma nova rubrica em nossa conta da produção: a depreciação. O capital fixo
será utilizado por muito tempo, até o momento que necessite ser recolhido para
manutenção ou até que se desgaste por completo. Aí teremos os conceitos de
produto bruto e produto líquido.

ATENCAO

Para obter o valor do produto líquido de uma economia em um determinado


período, é preciso deduzir, do valor total produzido, ou seja, do valor do produto bruto,
aquela parcela meramente destinada à reposição da parte desgastada do estoque de capital
da economia, a chamada depreciação (PAULANI; BRAGA, 2012).

27
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A partir dos conceitos apresentados, é possível apresentarmos a conta de


produção de nossa economia fechada e sem governo. Do lado esquerdo, teremos
o produto líquido e a depreciação que juntos formam o produto bruto. Do outro
lado, teremos a utilização ou o destino da produção, formado por consumo
pessoal, variação de estoques e formação bruta de capital fixo. Analise a estrutura
da conta de produção a partir do quadro a seguir:

QUADRO 4 – CONTA DO PRODUTO (ECONOMIA FECHADA E SEM GOVERNO)


Débito Crédito
A produto líquido C consumo pessoal
B depreciação D variação de estoques
E formação bruta de capital fixo
Produto Bruto Despesa Bruta

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 38)

Portanto, com tal modelo da conta do produto, procuramos revelar


o produto como dispêndio, levando em conta os bens finais produzidos e
consumidos e aqueles bens que não foram consumidos no período.

Já outra versão da conta da produção procura demonstrar a renda gerada


no processo de produção. Aqui também temos a situação de uma economia
fechada e sem governo, mas o produto é apresentado a partir da soma das
diversas remunerações realizadas aos fatores de produção como contrapartida
por terem cedido sua força de trabalho e alocado suas matérias-primas.

Se, anteriormente, reduzimos os tipos de fatores de produção para apenas


dois, salários e lucros, agora procuraremos nos aproximar um pouco mais de
uma economia real. Analise as informações do quadro a seguir.

QUADRO 5 – CONTA DO PRODUTO (SEGUNDA VERSÃO)


Débito Crédito
a1 salários C consumo pessoal
a2 lucros D variação de estoques
a3 aluguéis E formação bruta de capital fixo
a4 juros
A renda ou produto nacional líquido
(A=a1+a2+a3+a4)
B depreciação
Renda ou Produto Bruto Despesa Bruta
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 40)

28
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

Por que os lançamentos da conta da produção aparecem separados no


lado do débito e no lado do crédito? Os agentes mais importantes são as empresas,
porque é por meio delas que a produção é realizada e os fatores de produção são
consumidos. Quanto maiores foram os valores ali lançados, maior terá sido o
consumo dos fatores de produção e maior será a produção.

Já o lado do crédito se refere ao crédito que as empresas recebem pelos


bens que foram produzidos, sejam eles já consumidos (consumo pessoal), ainda
não consumidos (variação de estoques), ou bens que servirão para a produção de
outros bens (formação bruta de capital fixo). A conta da produção é construída
sob o ponto de vista das empresas. A renda nacional aparece como um débito e a
despesa como um crédito.

Com a primeira e a segunda versão da conta da produção, podemos


perceber a identidade produto = renda = dispêndio. Revela o equilíbrio interno
do sistema de contas – exigência do princípio das partidas dobradas.

NOTA

O princípio das partidas dobradas reza que, para um lançamento a débito,


deve sempre corresponder outro de mesmo valor a crédito. O equilíbrio interno se refere
à exigência de igualdade entre o valor do débito e o do crédito em cada uma das contas,
enquanto o equilíbrio externo implica a necessidade de equilíbrio entre todas as contas do
sistema (PAULANI; BRAGA, 2012).

Para que o sistema entre em equilíbrio externo, ou seja, para haja um


equilíbrio entre todas as contas, consideraremos também a conta de apropriação
e a conta de capital.

Primeiro, vejamos a conta de apropriação. A conta nos mostra de


que maneira as famílias alocam a renda que recebem por terem trabalhado
certo período. Se na conta de produção as pessoas eram consideradas agentes
envolvidos nas atividades produtivas, na conta de apropriação elas são vistas
como unidades de dispêndio.

Assim, as remunerações recebidas pelos proprietários dos fatores de


produção são lançadas como crédito. Os salários dos funcionários; os lucros
dos empresários; os aluguéis e os juros dos rentistas: todos créditos recebidos
enquanto o consumo e a poupança líquida são relativos aos usos e destinos da
renda, portanto, lançados como débito. Analise como ficou a conta de apropriação
em sua primeira versão.

29
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

QUADRO 6 – CONTA DE APROPRIAÇÃO (PRIMEIRA VERSÃO)

Débito Crédito
C consumo pessoal a1 salários
F poupança líquida a2 lucros
a3 aluguéis
a4 juros
Utilização da Renda Líquida Renda líquida

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 41)

Para que haja um equilíbrio externo, como já comentamos, cada


lançamento a crédito na conta de apropriação precisa receber um lançamento a
débito na conta de produção.

O lado do crédito possui os mesmos itens do lado do débito da conta


de produção. Logo, cada um dos lançamentos a débito na conta de produção
encontra seu par nos lançamentos a crédito na conta de apropriação. No lado do
crédito da conta de produção, o item consumo pessoal encontra seu par aqui na
conta de apropriação, como um lançamento a débito.

Contudo, alguns itens permaneceram sem contrapartida na conta do


produto. Os itens D (variação de estoques) e E (formação bruta de capital fixo)
requerem lançamentos a débito. B (depreciação) requer um lançamento a crédito.
Já na conta de apropriação, o item F também requer um lançamento a crédito.

Para que o sistema se complete, é preciso adicionar uma terceira conta que
apresente os lançamentos faltantes: a conta de capital. Analise a conta de capital
em sua primeira versão a partir do quadro a seguir.

QUADRO 7 – CONTA DE CAPITAL, PRIMEIRA VERSÃO

Débito Crédito
D variação de estoques F poupança líquida
E formação bruta de capital fixo B depreciação
Investimento Bruto Poupança Bruta

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 43)

Além da conta de capital completar e fechar o sistema, uma vez que todas
as contas passam a ter os lançamentos pareados, revela uma identidade também
importante para a contabilidade social: investimento ≡ renda.

30
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

NOTA

A identidade entre investimento e despesa mostra que “se a variação de estoques


e a formação bruta de capital fixo devem ser considerados investimento, porque possibilitam,
viabilizam ou ensejam consumo futuro. Eles também devem ser considerados poupança,
pois indicam que, dos esforços de produção da sociedade em um determinado período de
tempo, nem tudo foi consumido naquele período, mas parte foi guardada (poupada) para
ser consumida no futuro” (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 43).

Como a poupança diz respeito a um crédito (poupado para um consumo


futuro), o investimento deve ser suficiente para compensar a poupança efetuada,
por isso, está lançado como um débito.

2.2 ECONOMIA ABERTA E SEM GOVERNO


Agora que já entendemos o funcionamento básico do sistema de contas
nacionais, podemos partir para um modelo mais complexo, no qual teremos uma
economia que realiza transações econômicas com os demais países do mundo,
mas sem ainda considerar a participação do governo.

Quando uma economia passa a se relacionar com outras economias


mundiais, dizemos que há uma interação com o resto do mundo. Assim, há uma
troca de produtos entre o resto do mundo, que possibilita a venda de produtos
nacionais para o resto do mundo, configurando uma exportação e, também, a
compra de produtos que foram produzidos pelo resto do mundo, a importação.

E
IMPORTANT

Na Unidade 2, estudaremos por completo a relação entre exportações e


importações com o auxílio do balanço de pagamentos, da balança comercial e da balança
de serviços e rendas.

31
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Um elemento importante nas contas que consideram o setor externo


da economia diz respeito à contabilização dos bens e serviços fatores e os não
fatores. Ora, as transações econômicas entre os países não se restringem somente
à compra e à venda de produtos, mas envolvem situações mais complexas, como
a utilização de fatores de produção externos. Assim, passamos a considerar o
pagamento e recebimento de lucros de empresas nacionais e estrangeiras, os
juros, os aluguéis, os royalties.

Por meio da perspectiva, é possível imaginar que a produção de uma


economia pode ter sido parcialmente realizada a partir da utilização de fatores
de não residentes: capital físico, trabalho, investimento ou tecnologia cujos donos
são de outro país. No caso, a renda gerada a partir de fatores de produção de não
residentes não pode ser considerada interna e nacional, pois precisa ser reenviada
para os países de origem.

Agora, por outro lado, se a produção de uma economia contar com a utilização
de fatores de produção localizados em outros países, os fatores de produção dos
residentes têm o direito de receber a renda gerada ao longo do processo.

O que importa, portanto, é o saldo das transações com o exterior. Às


vezes, o produto interno de uma economia será maior que o produto nacional
quando utilizou mais fatores de não residentes (estrangeiros) do que de residentes
(nacionais). A diferença entre o recebimento e o envio de renda é negativo.

Às vezes, o produto interno de uma economia será menor do que o


produto nacional quando utilizou mais fatores de residentes (nacionais) do que
de não residentes (estrangeiros). A diferença entre o recebimento e o envio de
renda é positiva. Com base nos conceitos, podemos apresentar a conta do setor
externo em sua primeira versão, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 8 – CONTA DO SETOR EXTERNO (PRIMEIRA VERSÃO)

Débito Crédito
G exportações de bens e serviços não fatores I importações de bens e serviços não fatores
H renda recebida do exterior J renda enviada ao exterior
K resultado do BP em transações correntes
Total do Débito Total do Crédito
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 47)

Como é uma conta com o resto do mundo, no lado dos débitos aparecem
os itens que representam débito de nossa economia com o resto do mundo; no
lado dos créditos aparecem os itens que representam crédito com o resto do
mundo.

32
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

A diferença observada em H e J determinará o produto interno e o produto


nacional de uma economia. Se o resultado for positivo (mais renda recebida do
que enviada) soma-se ao produto interno; se for negativo, diminui-se do produto
interno, gerando um produto nacional menor que o produto interno.

E como ficam as demais contas do sistema nacional com a inclusão do setor


externo? As contas afetadas pelos novos lançamentos são as contas do produto e
de capital. Vejamos a estrutura de cada uma delas.

QUADRO 9 – CONTA DO PRODUTO (TERCEIRA VERSÃO)


Débito Crédito
I importações de bens e serviços não fatores G exportações de bens e serviços não fatores
J-H renda líquida enviada (+) ou recebida (-) C consumo pessoal
do exterior
a1 salários D variação de estoques
a2 lucros E formação bruta de capital fixo
a3 aluguéis
a4 juros
A renda ou produto nacional líquido
(A=a1+a2+a3+a4)
B depreciação
Oferta de Bens e Serviços Demanda por Bens e Serviços
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 48)

A modificação mais evidente na conta de produção é a participação do


setor externo. Assim, são considerados não apenas os valores produzidos a partir
dos fatores nacionais, mas também, os valores produzidos com fatores de não
residentes.

Com a adição do setor externo, a conta de produção passa a demonstrar a


oferta total no lado do débito, que diz respeito à oferta de produtos disponíveis.

Enquanto no lado do crédito, que são lançadas as exportações, a conta de


produção revela a demanda total da economia. Para completar o fechamento do
sistema, basta apenas encontrarmos um lançamento a crédito para o item K da
conta do setor externo.

33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

NOTA

A rubrica K, relativa à soma do resultado do Balanço de Pagamentos em


transações correntes, refere-se à soma do saldo das exportações e importações de bens e
serviços não fatores, com o saldo da renda enviada e renda recebida do exterior (PAULANI;
BRAGA, 2012).

QUADRO 10 – CONTA DE CAPITAL (SEGUNDA VERSÃO)

Débito Crédito
D variação de estoques F poupança líquida
E formação bruta de capital fixo B depreciação
K resultado do BP em transações correntes

Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 48)

O lançamento K no lado do crédito da conta de capital procura compensar


o lançamento a débito na conta do setor externo. Se com a análise percebemos
que investimento tem identidade com a poupança, quer dizer que uma parte da
poupança será composta pelas transações com o exterior (rubrica K). Uma parte
do investimento interno será composta pela importação de poupança externa.

2.3 ECONOMIA ABERTA E COM GOVERNO


Após compreendermos o sistema de contas nacionais a partir de
economias fechadas e abertas sem a presença do governo, completaremos nosso
modelo considerando a participação do elemento governo no desenvolvimento
das economias.

Ao passo que o governo arrecada impostos dos mais diversos tipos e


para os diferentes fins, consome bens e serviços para possibilitar o fornecimento
de outros bens e serviços à população, tais como saúde, educação, segurança
pública etc. Também realiza transferências para o setor privado e subsidia muitos
dos setores econômicos. Daí a importância da conta do governo no sistema de
contas nacionais, uma conta que tem como objetivo agregar todas as operações e
transações do governo com a sociedade.

Analise a primeira conta disposta no quadro a seguir. Enquanto os impostos


e receitas do governo aparecem no lado do crédito da conta, as transferências do
governo para o setor privado e os subsídios para os setores são listados no lado
do débito da conta do governo.

34
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

QUADRO 11 – CONTA DO GOVERNO


Débito Crédito
L consumo do Governo P impostos diretos
M transferências Q impostos indiretos
N subsídios
R outras receitas correntes líquidas
O saldo do governo em conta corrente
Utilização da Receita Total da Receita

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 50)

Assim, no lado do crédito, a conta governo mostra o valor total da receita


arrecada pelo governo a partir de diferentes rubricas. Já no lado do débito da
conta do governo, temos apresentada a utilização da receita total do governo.

É justamente de tal conta que surge um saldo que pode ser negativo ou
positivo: a relação entre a arrecadação e os gastos do governo. Se o saldo for positivo,
indica um superávit das contas públicas quando o governo arrecada mais do que
gasta, gerando uma poupança do governo. Se o saldo for negativo, significa que o
governo gastou mais do que arrecadou, gerando um déficit das contas públicas,
precisando ser financiado por poupanças privadas internas ou externas.

No lado do crédito da conta do governo percebemos que os impostos


são separados em impostos diretos e impostos indiretos. Os impostos diretos
são aqueles exigidos de forma direta ao consumidor e incidem sobre a renda
e as propriedades. Os exemplos estão no Imposto de Renda, no Imposto sobre
a Propriedade Territorial (IPTU), no Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA).

Os impostos indiretos não são pagos como impostos pelo consumidor,


mas como parte do preço dos produtos consumidos. Já estão incluídos nos valores
dos produtos no momento que os consumimos, como é o caso do Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS).

Outra rubrica é relativa às transferências do governo, que se referem


à devolução da arrecadação para a sociedade. As transferências demonstram a
característica conhecida como “mão única”, pois é um repasse direto de renda para
o setor privado da economia. Os exemplos estão em pensões do tipo auxílio-doença,
auxílio-maternidade, ou programas como o Bolsa Família. Nas situações, não há tipo
de contrapartida algum, pois são ações diretas do governo para com a sociedade.

E o item N relativo aos subsídios? Os subsídios significam as abdicações


do governo em receber determinada receita que teria direito do setor privado.
Quando o governo decide subsidiar a produção de determinado produto,
pode reduzir os impostos daquele determinado produto com objetivos de
desenvolvimento para o país.

35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

O caso dos alimentos é o mais comum. Para que a população não seja
altamente prejudicada por uma safra ruim ou pela alta repentina de preços, o governo
normalmente subsidia a produção por meio da redução do ICMS dos produtos.

Os últimos conceitos importantes para podermos apresentar o sistema


completo de contas nacionais dizem respeito ao produto a preços de mercado
(Produtopm) e ao produto a custo de fatores (Produtocf).

Uma vez que a atuação do governo altera o preço dos produtos tanto
por meio da cobrança dos impostos quanto por meio das políticas de subsídios,
é preciso que o acréscimo no valor tenha como contrapartida o pagamento aos
fatores de produção.

O produto a preços de mercado inclui o valor dos impostos indiretos


compensados dos subsídios. Já o produto a custo de fatores não considera o
valor adicional.

Tais conceitos relativos à atuação do setor público possibilitam o


fechamento das contas nacionais para uma economia aberta e com governo.
Analise cada uma das contas em sua versão final a partir dos quadros a seguir:

QUADRO 12 – CONTA DE PRODUÇÃO

Débito Crédito
I importações de bens e serviços não fatores G exportações de bens e serviços não fatores
J-H renda líquida enviada (+) ou recebida (-) C consumo pessoal
do exterior
a1 salários L consumo do governo
a2 lucros D variação de estoques
a3 aluguéis E formação bruta de capital fixo
a4 juros
A renda ou produto nacional líquido
(A=a1+a2+a3+a4)
B depreciação
Q-N impostos indiretos líquidos de subsídios
Oferta de Bens e Serviços Demanda por Bens e Serviços

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

36
TÓPICO 2 | SISTEMATIZAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS

QUADRO 13 – CONTA DE APROPRIAÇÃO

Débito Crédito
C consumo pessoal a1 salários
P-M impostos diretos líquidos de transferências a2 lucros
R outras receitas correntes líquidas a3 aluguéis
F poupança privada líquida a4 juros

Utilização da Renda Líquida Renda Líquida

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

QUADRO 14 – CONTA DO GOVERNO

Débito Crédito
L consumo do Governo P impostos diretos
M transferências p.1 empresas
N subsídios p.2 famílias
O saldo do governo em conta corrente Q impostos indiretos
R outras receitas correntes líquidas
Utilização da Receita Total da Receita
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

QUADRO 15 – CONTA DO SETOR EXTERNO


Débito Crédito
G exportações de bens e serviços não fatores I importações de bens e serviços não fatores
H renda recebida do exterior J renda enviada ao exterior
K resultado do BP em transações correntes
Total do Débito Total do Crédito

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

QUADRO 16 – CONTA DE CAPITAL

Débito Crédito
D variação de estoques F poupança líquida
E formação bruta de capital fixo B depreciação
K resultado do BP em transações correntes
O saldo do governo em conta corrente
Investimento Bruto Total Poupança Bruta Total

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A introdução do governo altera a dinâmica das contas, sendo que a que


mais recebe impacto é conta de produção. Encontramos, por exemplo, a rubrica
“Q-N impostos indiretos líquidos de subsídios” na conta de produção, que
compensa o lançamento a crédito na conta do governo. O valor aparece na conta
de produção justamente pela cobrança de impostos indiretos.

No lado do crédito da conta de produção também percebemos uma


mudança a partir da inserção da rubrica “L consumo do governo”, que compensa
o lançamento a débito na conta do governo.

Na conta de apropriação são adicionados os lançamentos “P-M impostos


diretos líquidos de transferências” e “R outras receitas correntes líquidas”. O
primeiro se refere à decisão de consumir ou poupar estar relacionada com os
recursos em sua forma líquida e isenta de impostos, no caso, diretos.

O segundo lançamento, da rubrica R, é lançado como débito na conta


de apropriação, tendo sua compensação de forma idêntica no lado do crédito
na conta do governo. Os detentores de renda também realizam outros tipos de
pagamento além dos presentes nos impostos diretos, tais como taxas, multas,
aluguéis para o Estado, constituindo as outras receitas para o governo.

Por fim, temos o lançamento a débito da rubrica “O saldo do governo em


conta corrente” na conta do governo, que encontrará um lançamento a crédito na
conta de capital. A partir do momento do governo ser introduzido, também se
torna gerador de poupança e, logo, de investimento.

A identidade entre investimento e poupança ocorre pelo fato do lado direito


(crédito) da conta de capital estar composto por depreciação e pelas três fontes
geradoras de poupança: o setor privado, o setor externo e o governo e, por no lado
esquerdo (débito), aparecer a formação bruta de capital, relativa ao investimento
total, formado por formação bruta de capital fixo e variação de estoques.

Caro acadêmico! Esperamos que os estudos desenvolvidos ao longo


deste tópico tenham sido esclarecedores. Com a adição do setor público e do
setor externo, ou seja, considerando uma economia aberta para as transações
econômicas internacionais e com participação do governo, podemos encerrar
nosso sistema.

Assim, adicionando lançamentos a débito para cada lançamento a crédito,


conforme preza o princípio das partidas dobradas, temos o equilíbrio interno de
cada uma das contas e o equilíbrio externo entre todas as contas que compõem o
sistema de contas nacionais.

38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Cada país procura organizar seu próprio formato das Contas Nacionais a partir
do System of National Accounts organizado pela ONU.

• É a partir da conta de produção que as demais contas das contas nacionais de


uma economia ganham forma.

• A conta de produção é formada, de um lado, pelo produto e, por outro, pelo


consumo das famílias somado à variação dos estoques.

• Os investimentos são formados pela variação de estoques e pela formação de


capital fixo.

• A variação de estoques reúne os bens que serão consumidos de uma única vez.

• A formação bruta de capital fixo reúne os bens que não desaparecem após uma
única utilização e possibilitam a produção de outros bens e serviços.

• O produto líquido de uma economia diz respeito ao produto bruto menos a


depreciação dos ativos.

• A conta da produção é construída sob o ponto de vista das empresas. A renda


nacional aparece como um débito e a despesa como um crédito.

• Em uma economia aberta e sem governo, são consideradas as transações com


o resto do mundo por meio das exportações e importações.

• Na conta do governo, em uma economia aberta e com governo, são lançados os


débitos e os crédito do governo.

• O produto a preços de mercado inclui o valor dos impostos, mas subtraindo o


valor relativo aos subsídios.

39
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as duas possíveis formas de investimento? Explique cada uma


delas.

2 Qual a diferença entre o produto bruto e o produto líquido de uma


economia?

3 Como se apresenta e qual a importância da conta de apropriação em uma


economia fechada em sem governo?

4 Dependendo da organização e estrutura econômica de determinado país,


o produto interno de uma economia será maior ou menor do que o seu
produto nacional. De que forma podemos compreender a constatação?

40
UNIDADE 1
TÓPICO 3

PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

1 INTRODUÇÃO
Os estudos macroeconômicos têm uma forte preocupação com a condução
do estado na economia, bem como com o entendimento dos grandes agregados
macroeconômicos.

Assim, a Contabilidade Social recebe forte atenção por parte dos


economistas, justamente por desvelar o entendimento a respeito dos principais
agregados macroeconômicos.

Este último tópico mostrará de que forma a teoria macroeconômica, a


partir de John Maynard Keynes, se relaciona com a Contabilidade Social e as
identidades contábeis que estão presentes no sistema de contas nacionais, tais
como o investimento e a poupança.

Fique atento às autoatividades e bons estudos!

2 DA CONTABILIDADE NACIONAL À MACROECONOMIA


Ao longo dos últimos itens, compreendemos a estrutura básica das contas
nacionais, bem como a chamada identidade macroeconômica básica, formada por
Produto ≡ Dispêndio ≡ Renda. Entretanto, qual é a relação da contabilidade social
com a macroeconomia? Veremos a partir de uma revisão da teoria keynesiana.

NOTA

Como você já sabe, a teoria keynesiana se refere aos estudos de John Maynard
Keynes, um dos mais importantes economistas do século XX. Algumas curiosidades: o pai
de Keynes foi o economista John Neville Keynes, formado em Cambridge. Keynes foi aluno
de Alfred Marshall, outro importantíssimo economista (FORSTATER, 2009).

41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Os estudos da importante área da economia ocorrem a partir da publicação


da obra “Teoria geral do emprego, do juro e da moeda”, por John Maynard Keynes,
em 1936. Há o início dos esforços para a construção de um sistema que pudesse
observar o comportamento dos grandes agregados econômicos, fundamentais
para a avaliação da economia de um país. Assim, partimos da macroeconomia
para os estudos das contas nacionais.

Com a Teoria Geral, Keynes procurou contrapor as ideias da Ciência


Econômica neoclássica. A teoria neoclássica dominante defendia que a economia
possuía um regulador automático que impedia crises e desemprego. Assim, o
desemprego existente era fruto da falta de vontade das pessoas em ofertarem sua
força de trabalho.

Contudo, a crise da década de 1930 revelou falhas no entendimento do


desemprego e da realidade prática por meio da teoria. Assim, Keynes procurou
mostrar que o desemprego era involuntário e a regulação da economia não
acontecia de forma automática.

A leitura de Keynes da realidade econômica entendeu que o problema


estava na baixa demanda por força de trabalho, que era muito pequena, incapaz
de empregar toda a oferta de trabalho (PAULANI; BRAGA, 2012).

A partir de seus estudos, Keynes, além de questionar as análises


dominantes, criou novos conceitos para explicar a realidade econômica dos
países, e revelou identidades, tão importantes para os nossos objetivos em
Contabilidade Social.

QUADRO 17 – CONTA DO PRODUTO (ECONOMIA FECHADA E SEM GOVERNO)

Débito Crédito
a1 salários C consumo pessoal
a2 lucros D variação de estoques
a3 aluguéis E formação bruta de capital fixo
a4 juros
A renda ou produto nacional líquido
(A=a1+a2+a3+a4)
B depreciação
Renda ou Produto Bruto Despesa Bruta

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 40)

No lado do débito da conta, temos a renda ou Produto Nacional Bruto, e no


lado do crédito, o uso da produção: quanto foi consumido e quanto foi investido,
tanto pelos estoques quanto pela formação bruta de capital fixo. Assim, conforme
a teoria keynesiana, a renda é chamada de Y, o consumo de C, e o investimento
de I, e podemos escrever que:

42
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

Y=C+I

Por meio da expressão, podemos perceber que, em cada momento, a


renda gerada é resultado da quantidade produzida de bens e serviços, ou seja, da
quantidade produzida de bens de consumo, somada à quantidade produzida de
bens de investimento.

Agora, se tomarmos a conta de produção em sua versão final, contando


com a participação do governo e considerando uma economia aberta, chegaremos
a outras conclusões.

QUADRO 18 – CONTA DE PRODUÇÃO

Débito Crédito
I importações de bens e serviços não fatores G exportações de bens e serviços não fatores
J-H renda líquida enviada (+) ou recebida (-) C consumo pessoal
do exterior
a1 salários L consumo do governo
a2 lucros D variação de estoques
a3 aluguéis E formação bruta de capital fixo
a4 juros
A renda ou produto nacional líquido
(A=a1+a2+a3+a4)
B depreciação
Q-N impostos indiretos líquidos de subsídios
Oferta de Bens e Serviços Demanda por Bens e Serviços
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 54)

No lado do débito aparece a oferta total de bens e serviços e, do lado do


crédito, a demanda total por bens e serviços. Se passarmos a rubrica importações
para o lado do crédito com o sinal trocado, teremos a seguinte expressão:

Y = C + I + G + (X – M)

Sendo:

C = consumo (rubrica consumo pessoal).


G = gastos do governo (rubrica consumo do governo).
X = exportações de bens e serviços não fatores.
M = importações de bens e serviços não fatores.
Y e I = conservam seus significados anteriores.

43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Portanto, o nível de produto e de renda passa a não depender apenas do


consumo e do investimento, mas também dos gastos do governo e das exportações
(líquidas das importações).

Logo, um aumento nos gastos e nas exportações do governo elevará


o nível de renda de um país. Já um aumento nas importações trará um efeito
oposto, pois diminuirá a renda (Y).

Outra contribuição a partir da teoria keynesiana, que pode ser constatada


pela expressão da renda [Y = C + I + G + (X – M)], foi a importância atribuída ao
Governo, sendo um dos determinantes da renda das economias de todo o mundo.

Quando o aumento do nível de renda e produto pode ser oriundo do


aumento dos gastos do governo, temos uma situação em que o governo recebe
um importante papel na condução das atividades e crescimento econômico.

Assim, em determinados momentos de crise e depressão econômica, em


que os investimentos e o nível de consumo sejam mínimos, além dos estímulos
externos insuficientes para combater o desemprego, somente a atuação do
governo pode retirar as economias da situação de crise. Com o aumento dos
gastos do governo, haverá uma elevação do nível de renda e produto, retomando
o nível de emprego e revertendo as condições pessimistas para o investimento
privado (PAULANI; BRAGA, 2012).

Veja, por meio do trecho a seguir, a importância mais ampla que as análises
keynesianas trouxeram para o contexto das economias mundiais (PAULANI;
BRAGA, 2012, p. 83):
Tais considerações [a partir do keynesianismo], bem como o novo
papel que ganha o governo a partir delas, deram origem, no mundo
acadêmico, ao que se chamou consenso keynesiano e, no funcionamento
pratico do capitalismo, particularmente nas economias centrais, a um
período de cerca de 30 anos (do pós-guerra até meados da década de
1970), em que o Estado efetivamente assumiu esse papel.

A onda de inflação e desemprego no mundo, após a década de 1970,


fez com que questionássemos a pertinência e a importância do papel do Estado
como regulador das atividades econômicas, dando ênfase às políticas de cunho
neoliberal, pelas quais o Estado deveria ser mínimo.

Trata-se do momento conhecido como globalização, em que o controle dos


gastos públicos é mais rígido, as privatizações são mais frequentes em detrimento
das empresas públicas, há uma desregulamentação da economia como um todo e
uma forte abertura econômica.

Entretanto, a contabilidade social e o sistema de contas nacionais não


foram abalados por pelas mudanças políticas, econômicas e ideológicas, uma
vez que as identidades demonstradas pela teoria keynesiana revelam relações
de causalidade entre suas variáveis, cujos resultados são importantes para o
entendimento da economia.
44
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

QUADRO 19 – CONTA DO PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)


Débito Crédito
Produto Interno Bruto a custo de fatores Consumo final das famílias
Remuneração dos empregados Consumo final das administrações públicas
Excedente Operacional Bruto Formação bruta de capital fixo
Tributos indiretos Variação de estoques
(menos) Subsídios Exportações de bem e serviços não fatores
(Menos) Importações de bens e serviços não
fatores

Produto Interno Bruto a preços de mercado Dispêndio correspondente ao Produto


(PIBpm) Interno Bruto

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 84)

Um exemplo da relação entre a macroeconomia e a contabilidade social


está no estudo da identidade entre produto, renda e dispêndio. Até hoje continua
sendo relevante para os estudos econômicos e é inquestionável pelos economistas,
independentemente da aceitação ou não das proposições de causa e efeito da
teoria keynesiana.

O quadro mostrou uma das óticas de mensuração do produto pela ótica


da demanda agregada (dispêndio), na qual o PIB é composto pelas categorias de
demanda estipuladas pela equação Y = C + I + G + (X – M).

3 AS IDENTIDADES CONTÁBEIS PRESENTES NO SISTEMA DE


CONTAS NACIONAIS
Os estudos a partir deste livro vêm mostrando que a contabilidade social
possui muitas identidades importantes. A mais básica delas é entre produto,
dispêndio e renda, que compreendemos ao longo do Tópico 1. Para aprofundarmos
os conceitos, estudaremos uma outra identidade, que se estabelece entre poupança
e investimento.

Devemos lembrar, primeiramente, a distinção existente entre “igualdades”


(=), que se referem a certas proposições que possuem relação de causa e efeito, e
“identidades” (≡), “que expressam as diferentes óticas por meio das quais se pode
enxergar e mensurar os agregados econômicos” (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 85).

É muito comum que pensemos em uma identidade como se fosse uma


igualdade, por exemplo, poupança = investimento, pois existe uma tentação ao
pensarmos que a poupança precede o investimento, ou que sem poupança não há
investimento ou, ainda, que a poupança explica o investimento.

45
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Portanto, as afirmações que revelam relações de causa e efeito não podem


ser utilizadas como conclusão, pois a identidade entre poupança e investimento
revela a existência de uma identidade contábil entre os dois elementos. Assim,
procuraremos observar as outras identidades que derivam das duas identidades
mais elementares: produto ≡ dispêndio ≡ renda e investimento ≡ poupança.

Um primeiro ponto a ser lembrado é sobre a diferença entre os agregados


serem medidos “internamente” e “nacionalmente”. A partir da mensuração
interna, temos o valor total produzido no território de um país, sem considerar
a origem dos fatores de produção. Os agregados nacionais se referem ao valor
gerado por fatores de produção de residentes, independentemente do território
em que os fatores se encontram.

NOTA

O Produto Interno, bruto ou líquido, a preços de mercado ou a custo de fatores,


reflete o produto total produzido no território do país, independentemente da origem dos
fatores de produção responsáveis por ele.

A Renda Nacional, bruta ou liquida, a preços de mercado ou a custo de fatores, considera


o valor adicionado gerado por fatores de produção de propriedade de residentes,
independentemente do território onde tal valor é gerado (PAULANI; BRAGA, 2012).

Assim, temos a primeira expressão que deriva da identidade Renda ≡


Produto ≡ Dispêndio:

1) RNB = PIB – RLEE

RLEE = renda líquida enviada ao exterior.

A Identidade 1 mostra que a Renda Nacional Bruta (RNB) pode ser entendida
como o valor do PIB deduzido das rendas líquidas enviadas ao exterior. Às vezes, o
PIB tenderá a ser maior do que a RNB; às vezes, o PIB será menor do que a RNB.

Uma segunda identidade diz respeito à Renda Nacional Disponível Bruta


(RDB). Precisamos lembrar a renda de fato disponível para que os residentes de um
país (incluindo o governo) possam consumir ou poupar. Devemos levar em conta as
transações líquidas do exterior (saldo entre as transferências recebidas e enviadas).

Determinadas transferências são transações unilaterais, pois são de


“mão única”, diferentes das usuais transações econômicas de compra e venda
de produtos. Temos como exemplo: ajuda humanitária entre países, remessas de
imigrantes. Assim, temos a seguinte identidade:
46
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

2) RDB = RNB + TUR

RDB = Renda Nacional Disponível Bruta


TUR = Transferências Unilaterais Liquidas Recebidas

A partir das expressões anteriores, temos:

PIB = RNB + RLEE (identidade 1 reescrita)


RNB = RDB – TUR (identidade 2 reescrita)

Então:

3) PIB = RDB + RLEE – TUR

A partir da Identidade 3, percebemos que o PIB pode ser visto como a soma
da Renda Nacional Disponível Bruta com a renda líquida enviada ao exterior, mas
deduzidas as Transferências Unilaterais Correntes Líquidas Recebidas (TUR).

Quando a renda recebida do exterior for maior que a renda enviada ao


exterior, a renda líquida será negativa, logo, a Renda Nacional será maior que
o Produto Interno. Tal situação é mais comum aos países considerados mais
desenvolvidos economicamente, pois tendem a ser exportadores de capital.

Agora, se as transferências unilaterais enviadas forem maiores do que as


transferências unilaterais recebidas, a renda líquida será positiva, resultando em
um Produto Interno maior do que a Renda Nacional.

O que vimos até então ainda não menciona de forma explícita a participação
do governo. É preciso lembrar que a RDB pode ser dividida em renda do setor privado
e renda do governo ou renda liquida do governo (RLG). A RLG, por sua vez, é
composta pela soma dos impostos diretos e indiretos e das outras receitas correntes
do governo, mas deduzidas as transferências e subsídios concedidos às empresas.

RLG = receita total do governo – (transferências + subsídios)

47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

Portanto:

4) RDB = RPD + RLG


Ou
RPD = RDB – RLG

Sendo:
RPD = Renda Privada Disponível

Uma vez que escrevemos as identidades Produto ≡ Renda, considerando


economias abertas e com governo, completaremos o quadro das identidades
macroeconômicas presentes no sistema de contas nacionais.

Primeiro, retomemos para a ideia de uma economia fechada e sem governo,


e pensemos em identidades que expressem a demanda pelo produto e a alocação
da renda. Logo, produto (Y) é igual à demanda por consumo (C) e à demanda por
investimento (I) e renda (Y) é igual ao consumo (C) mais poupança (S):

Y=C+I
e também
Y=C+S

Assim, derivamos a Identidade 5:

5) I = S (ou I ≡ S)

Agora, com a introdução do governo, as duas expressões que geraram a


identidade I ≡ S são modificadas quando acrescentamos os gastos do governo (G).
Do ponto de vista da alocação da renda, temos de introduzir a RLG, pois além de
consumirem e pouparem, os agentes econômicos também pagam impostos, taxas
e outros tributos. Veja como fica:

Y=C+I+Ge
e também
Y = C + S + RLG

48
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

Assim, derivamos a Identidade 6:

6) I + G = S + RLG
Ou
6A) I = S + RLG – G

A Identidade 6 também foi escrita no formato 6ª, pois a expressão “RLG –


G” significa exatamente a poupança do governo (Sg). O termo S significa apenas
a poupança privada.

Temos, com a Identidade 6, a identidade básica entre investimento e


poupança, mas modificada pela presença do governo. Portanto, ainda sobre a
identidade 6, podemos escrever:

Sg = RLG – G

Em que:

6B) I = S + Sg

Se tivermos a soma da poupança privada com a poupança do governo de


poupança doméstica (SD), teremos ainda, em termos brutos:

S + Sg = SD

NOTA

A sigla SD deve-se à utilização para o agregado poupança, da letra S, referente


ao termo em inglês, Saving.

49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

E, portanto, a identidade 6C:

6C) I = SD

Por fim, devemos reintroduzir o setor externo na identidade 6C. É preciso


considerar as informações referentes à alocação da renda e lembrar que a Renda
Disponível Bruta, que aparece na Identidade 3, pode ser escrita como o somatório
dos recursos destinados ao consumo, os destinados à poupança e com aqueles
destinados ao pagamento de tributos.

3) PIB = RDB + RLEE – TUR, e também


RDB = C + S + RLG, sendo:
PIB = C + S + RLG + RLEE – TUR
Como também PIB = C + I + G + (X – M), temos:

7) I + G + (X – M) = S + RLG + RLEE – TUR, ou ainda


7A) I – S + (G – RLG) = (M – X) + RLEE – TUR

Lembrando que:

RLG – G = Sg, e que


(M – X) + RLEE – TUR = Poupança externa (SE), temos finalmente:

7B) I – S – Sg = SE ou
7C) I ≡ S + Sg + SE

A identidade 7, em seu formato 7C, reescreve, para uma economia aberta e


com governo, a identidade básica entre investimento e poupança. Ela nos diz que
a poupança necessária para suportar o investimento bruto feito pela economia
como um todo (governo incluído) vem de três fontes possíveis: do setor privado
(S), do governo (Sg) e do setor externo (SE).

Logicamente, qualquer uma delas pode ser negativa. Assim, se a poupança


do governo foi negativa, foi a poupança privada ou a poupança externa que
possibilitou a realização de certo investimento.

Agora, se houve uma situação com poupança externa negativa, significara


que essa economia, ao invés de necessitar de financiamento externo, foi capaz de
financiar outros países do mundo (PAULANI; BRAGA, 2012).

50
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Água passa a ser contabilizada no Sistema de Contas Nacionais do Brasil

Agência Nacional de Águas

A Agência Nacional de Águas (ANA), o Instituto Brasileiro de Geografia


e Estatística (IBGE) e a Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental
do Ministério do Meio Ambiente (SRHQ/MMA) apresentaram na manhã desta
sexta-feira (16/03/2018) as  Contas Econômicas Ambientais da Água no Brasil
2013-2015 (CEAA).

O estudo inédito traduz-se em uma importante ferramenta de disseminação


de informações sobre os recursos hídricos nacionais, integrando indicadores físicos
e monetários em uma perspectiva de contabilização do capital natural do país.
 
Com a publicação das Contas Econômicas Ambientais da Água, as
instituições parceiras têm o objetivo de produzir e disseminar sistematicamente
informações para a sociedade referentes ao balanço entre a disponibilidade
quantitativa e qualitativa e a demanda hídrica dos diversos setores da economia
brasileira, incluindo as famílias.

Marcelo Cruz, diretor da Área de Planejamento da ANA, afirma que


acompanhou as negociações dessa temática desde a época em que atuava como
Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente e garante que o grande
desafio sempre foi a definição de critérios claros para contabilizar esse recurso tão
precioso que é a água.

Para ele, a parceria com o MMA e com o IBGE é também uma constatação
de que o Brasil caminha para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, em especial o Objetivo nº 6 sobre água e saneamento.

As “Contas da Água” são um marco no reconhecimento da água como


componente do desenvolvimento econômico. Por meio delas, será possível
entender com maior clareza a relação entre os recursos hídricos e o valor agregado
de cada atividade econômica, por exemplo.

Alinhadas à metodologia internacional System of Environmental-


Economic Accouting for Water (SEEA-Water), desenvolvida pela Divisão de
Estatística das Nações Unidas, as CEAA foram estruturadas a partir da integração
de dados e informações sobre recursos hídricos consolidados pela ANA nos
relatórios de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil publicados entre 2013 e
2015, entre outros estudos, e pelo IBGE.

Veja uma das informações que constam no relatório a respeito dos volumes
de água captados por setor no meio ambiente:

51
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIAL

A metodologia adotada permite a padronização dos dados para fins de


gerenciamento da informação e a comparação periódica dos resultados tanto a nível
Brasil, tendo como base os indicadores de anos anteriores, como com outros países.

A publicação leva em conta o histórico dos estoques de água do país


no período e o panorama de retirada e consumo de água, com destaque para
os setores agrícola, de abastecimento humano e industrial, que concentram as
maiores demandas, e a geração de energia.

Nesse sentido, as Contas Econômicas Ambientais da Água indicam, por


exemplo, que em 2015 a entrada de água no Brasil por meio de precipitação
(chuva) foi de cerca de 13 trilhões de m³ (metros cúbicos) e a saída de água para o
Oceano Atlântico foi de cerca de 8 trilhões de m³. Nesse mesmo ano, a retirada de
água para a economia brasileira totalizou 3,2 trilhões de m³.

As CEEA analisaram, por exemplo, o setor de captação, tratamento e


distribuição da água sob uma perspectiva temporal. O resultado mostrou uma
queda acumulada no volume de água retirada para distribuição em -3,8% no
período de apuração.

Tal resultado teve influência da crise hídrica vivida pelo Brasil, em


especial na região Sudeste e no Semiárido, bem como da diminuição da produção
de diversas atividades econômicas ocorridas no período. Seus maiores usuários,
famílias e demais atividades – apresentaram, para o mesmo período, variação no
volume usado de água de -4,3% e -3,4%, respectivamente.

O indicador de intensidade hídrica mostra a vazão consumida de água,


em litros, para cada real de valor adicionado bruto gerado pelas atividades
econômicas. Em geral, o setor agrícola é responsável pelas maiores vazões
consumidas no país em função das demandas hídricas para as atividades de

52
TÓPICO 3 | PRINCIPAIS AGREGADOS MACROECONÔMICOS

irrigação. Em 2015, o resultado desse indicador para a atividade agricultura,


pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi de 91,58 litros por Real
investido (l/R$).

Para Sérgio Ayrimoraes, superintendente de Planejamento de Recursos


Hídricos da ANA, é fundamental perceber a dimensão do setor de recursos
hídricos, suas potencialidades e complexidades de gestão, além de buscar sempre
a integração do setor com políticas públicas efetivas.

“Ter o setor de recursos hídricos como o marco para a construção do


chamado ‘PIB Verde’ é algo que merece destaque, pois demonstra a preocupação
e o compromisso das instituições não só em manter a excelência na gestão desses
recursos, como também mostra a visão estratégica do governo em conferir à água
uma dimensão econômica”, afirmou Sérgio.

As CEAA passam a ser incorporadas ao Sistema de Contas Nacionais


sob coordenação do IBGE, e contribuirão significativamente para a formulação
e o monitoramento de políticas de desenvolvimento sustentável com foco em
recursos hídricos, especialmente no contexto de escassez hídrica que o país vem
enfrentando nos últimos anos. Posteriormente, deverão ser contabilizados os
capitais energético, florestal e dos ecossistemas nacionais.
FONTE: AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Água passa a ser contabilizada no Sistema de Contas
Nacionais do Brasil. 2018. Disponível em: <http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/noticias/agua-
passa-a-ser-contabilizada-no-sistema-de-contas-nacionais-do-brasil-1>.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A partir de John Maynard Keynes e da macroeconomia, se aprofundam


os estudos para a construção de um sistema de mensuração dos agregados
macroeconômicos.

• A teoria keynesiana criou novos conceitos para explicar a realidade econômica


dos países, além de revelar suas identidades.

• Quando não são consideradas a participação do governo e nem a do setor


externo, a renda gerada em determinado momento é igual ao consumo somado
aos investimentos.

• Com a participação do governo e do setor externo, temos que a renda é igual


à soma do consumo pessoal, investimentos, gastos do governo e da diferença
entre exportações e importações.

• A Renda Nacional Bruta é igual ao Produto Interno Bruto deduzido das rendas
líquidas enviadas ao exterior.

• Uma das identidades contábeis mostra que investimento tem identidade com
poupança.

• Com a participação do governo, investimento e poupança são acrescidos da


poupança do governo (Sg), sendo investimento + gastos do governo = poupança
+ receita líquida do governo.

• Ao adicionar o setor externo, temos que investimento tem identidade com a


soma das poupanças do setor privado, do governo e do setor externo.

54
AUTOATIVIDADE

1 A partir dos estudos de John Maynard Keynes, novos conceitos se tornam


relevantes para os estudos econômicos. Como podemos entender a tão
importante expressão da renda (Y)?

2 Explique qual a diferença entre o PIB (Produto Interno Bruto) e a RNB


(Renda Nacional Bruta).

3 Como se divide a RDB (Renda Nacional Disponível Bruta) considerando a


existência do governo?

4 De que forma podemos compreender a relação de identidade entre


investimento e poupança doméstica com a participação do governo?

55
56
UNIDADE 2

O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E


O BALANÇO DE PAGAMENTOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• definir o Sistema de Contas Nacionais (SCN);

• identificar as Tabelas de Recursos e Usos (TRU);

• interpretar as Contas Econômicas Integradas (CEI);

• elaborar um sistema simplificado de contas nacionais;

• entender os principais conceitos do Balanço de Pagamentos (BP);

• identificar as contas do Balanço de Pagamentos (BP);

• interpretar o Balanço de Pagamentos (BP);

• elaborar a Matriz de Insumo-Produto.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS


ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

TÓPICO 2 – BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E


REGISTROS

TÓPICO 3 – MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO

57
58
UNIDADE 2
TÓPICO 1

O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS


ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

1 INTRODUÇÃO
O sistema econômico consiste na forma organizada que a estrutura
econômica de uma sociedade assume, envolvendo o tipo de propriedade, a
gestão da economia, os processos de produção e circulação de bens e serviços, o
consumo, os níveis de desenvolvimento tecnológico e a divisão do trabalho. Cabe
destacar que o Sistema Econômico é organizado não apenas no ponto de vista
econômico, mas também social, jurídico e institucional.

Assim, podemos inferir que os elementos integrantes de um Sistema


Econômico não são apenas pessoas, mas todo o conjunto de fatores de produção,
que são constituídos pelos recursos naturais, pelo trabalho e pelo capital. No
entanto, para que esses fatores de produção façam parte do processo produtivo,
eles precisam estar organizados de tal forma que as suas combinações resultem
em algum bem ou serviço.

Cada país, por meio de instituições de estatísticas, produz informações


acerca da mensuração de sua atividade econômica, constituindo assim um Sistema
de Contas Nacionais (SCN), sendo que seu formato pode variar de país para
país. Assim, observa-se um esforço internacional, especialmente por parte das
Nações Unidas (ONU), para que os países produzam informações sistemáticas e
padronizadas sobre o funcionamento de suas economias.

Assim, este tópico tem por objetivo descrever o Sistema de Contas


Nacionais (SCN) e apresentar as Contas Nacionais (CN) do Brasil. Dado tal
objetivo, espera-se que, ao final deste tópico, você seja capaz de definir o
Sistema de Contas Nacionais (SCN); identificar as Tabelas de Recursos e Usos
(TRU), interpretar as Contas Econômicas Integradas (CEI) e elaborar um sistema
simplificado de contas nacionais.

59
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

2 SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS


Como você já pôde observar, o estudo da macroeconomia é de suma
importância, pois trata da evolução da economia como um todo, analisando
especificamente o comportamento dos grandes agregados macroeconômicos.
Explicitando quanto foi produzido de cada uma das milhares de mercadorias,
a macroeconomia avalia o resultado da atividade econômica global aferindo a
riqueza de uma nação.

Conforme Morcillo (2006, p. 260), “o enfoque macroeconômico exige a


definição e medição de certos agregados que permitam ter uma visão global da
economia”, ou seja, medidas que permitam mostrar, de forma simplificada, quanto
uma economia produziu, consumiu, poupou ou exportou. Foi a partir da Grande
Depressão de 1929 que se evidenciou a necessidade do desenvolvimento de um
instrumental que permitisse mensurar a totalidade das atividades econômicas, a
chamada Contabilidade Social ou Contabilidade Nacional.

UNI

A Contabilidade Social é uma forma especial de estatística econômica, de


natureza contábil, que se propõe a apresentar valores que expressam os montantes das
transações econômicas verificadas em determinada economia nacional (ROSSETTI, 2003).

Podemos, assim, inferir que um dos principais objetivos da Contabilidade


Social é apresentar os principais agregados macroeconômicos e as formas de medi-los,
bem como identificar os diversos atores envolvidos no funcionamento da economia
(famílias, empresas, governo e o setor externo). Assim, a Contabilidade Social tem
sido um importante instrumento para mensurar o desempenho da economia.

Neste momento, você deve se perguntar: por que mensurar o desempenho


de uma economia? Imaginemos a seguinte situação: em uma avaliação de uma
determinada disciplina, você tirou nota 9 (nove). É uma “boa nota”? Digamos
que sim, seu desempenho foi “muito bom”. No entanto, toda a sua classe tirou
nota 10 (dez). Agora, comparativamente, como foi seu desempenho? Talvez não
tão bom assim.

Podemos transportar a analogia também para a economia. Há a necessidade


de mensuração da atividade econômica, não para verificar apenas o seu próprio
desempenho, mas para que se possa também comparar o seu desempenho com
o desempenho de outros países, fazer comparações entre setores, bem como
comparações entre empresas de um mesmo setor. No entanto, são necessários
mecanismos que permitam comparações entre valores comparáveis.

60
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Assim, o Sistema de Contas Nacionais (SCN) representa um sistema de


agregados estatísticos que registra a atividade econômica global de um país em
um determinado período, que geralmente corresponde a um ano. Seu registro
contábil é feito pelo método das partidas dobradas, de tal maneira que os
agregados são apresentados duas vezes: a débito de uma conta e a crédito de
outra (SANDRONI, 1999).

É de suma importância apresentar os apontamentos de Vasconcellos e


Garcia (2014, p. 122), de que “assim como na contabilidade privada, o sistema
de contas nacionais utiliza o método das partidas dobradas, discriminando as
transações dos grandes agentes (setores) macroeconômicos: famílias, empresas,
governo e setor externo, cada uma representada por uma conta específica”.

E
IMPORTANT

o Princípio das Partidas Dobradas é o princípio contábil básico do Sistema de


Contas Nacionais (SCN), que reza que a um lançamento a crédito deve sempre corresponder
outro a débito, e vice-versa.

Rossetti (1992) assinala que a metodologia de cálculo dos agregados


macroeconômicos está sujeita a constantes modificações. O autor acrescenta que
as mudanças são explicadas por mudanças de ordem conceitual, por alterações
estruturais da economia de cada país e ainda pela disponibilidade de novos dados.
Diante desses fatores, impõe-se periodicamente a revisão de critérios de cálculos.

Paulani (2011) destaca que diversas são as formas para apresentação


das informações dos Sistemas de Contas Nacionais (SCN), sem que sejam
desrespeitados os conceitos básicos que lhes dão origem. No entanto, a necessidade
de se estabelecerem comparações entre os países tem feito com que a Organização
das Nações Unidas (ONU) divulgue um conjunto de recomendações a fim de
tornar seu formato o mais homogêneo possível.

Assim, o Sistema de Contas Nacionais (SCN) é constituído como um


indispensável instrumento de análise para a macroeconomia, obedecendo à
padronização internacional estabelecida pela Organização das Nações Unidas
(ONU). Há a inclusão dos seguintes itens: a conta do produto interno, conta da
renda nacional, conta dos consumidores, conta do governo, conta das transações
com o exterior e conta consolidada de capital.

61
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

E
IMPORTANT

– O Sistema de Contas Nacionais (SCN) é peça básica da Contabilidade Social,


que se preocupa com a definição e os métodos de quantificação dos principais agregados
macroeconômicos, como o produto nacional, consumo global, investimentos, exportação etc.

Segundo Feijó et al. (2013), as contas nacionais fornecem as referências de


classificação de atividades e de setores institucionais, bem como conceitos para
definir e classificar unidades estatísticas e suas transações. Assim, elas permitem
que se integre um conjunto de dados sobre a realidade econômica e social,
portanto, constituem a principal força da consistência das estatísticas econômicas,
sociais e demográficas.

2.1 AS CONTAS NACIONAIS DO BRASIL


Como vimos na seção anterior, as Contas Nacionais (CN) oferecem
informações importantes acerca da atividade econômica de um país, permitindo
a integração de um conjunto de dados sistematicamente disponíveis. No entanto,
em cada país, essas informações são produzidas por instituições de estatísticas
que são, geralmente, instituições públicas, cuja atribuição é a construção das
contas nacionais para uso do governo e da sociedade em geral.

Conforme Paulani (2011), no Brasil, os esforços na criação do primeiro


Sistema de Contas Nacionais (SCN) datam de 1947, a partir da criação do Núcleo
de Economia (que mais tarde se tornaria o Instituto Brasileiro de Economia – IBRE)
da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na época, ainda estava em estudo, no âmbito
internacional, o desenho conceitual de um Sistema de Contas Nacionais (SCN).

E
IMPORTANT

No caso do Brasil, desde o pós-guerra até 1985, a Fundação Getúlio Vargas


(FGV) do Rio de Janeiro foi a responsável pela construção e divulgação das contas nacionais,
por delegação do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) porém, a partir de 1985, essa
atribuição foi assumida pelo IBGE (FEIJÓ et al., 2013).

62
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Paulani e Braga (2012) destacam que, desde o fim da Segunda Guerra


Mundial, há um esforço internacional para que os países produzam informações
acerca de suas economias, de uma forma sistemática e padronizada. Tal
necessidade fez com que a ONU operacionalizasse o System of National Accounts
(SNA), responsável pela elaboração e divulgação, de tempos em tempos, de um
conjunto de recomendações que a maior parte dos países procura seguir, dentre
eles, o Brasil.

Conforme Feijó et al. (2013), o primeiro modelo foi elaborado em 1953,


no qual se fundamentava na divisão do sistema econômico em três principais
agentes econômicos: famílias, empresas e administração pública e, para cada um
deles, quatro contas: produção, apropriação e uso da renda, formação bruta de
capital fixo e transações com o exterior. A partir daí o Sistema de Contas Nacionais
(SCN) da ONU se tornou o sistema padrão utilizado pelos países.

ATENCAO

Formação Bruta de Capital Fixo: agrega os bens que não desaparecem depois
de uma única utilização, possibilita a produção e, portanto, o consumo futuro em um
período bastante extenso.

As recomendações da ONU se preocupam em manter o sistema flexível


quanto ao seu desenvolvimento e utilização. Assim, a partir de 1997, o IBGE
modificou a forma de apresentação do Sistema de Contas Nacionais (SCN) do
Brasil para adaptá-la às recomendações do System of National Accounts 1993
(SNA 1993). Cabe destacar que a SNA 1993 é a terceira versão do Sistema de
Contas Nacionais (SCN), atualizada em 2008.

E
IMPORTANT

O IBGE divulgou, pela primeira vez, o novo SCN, em dezembro de 1997, com
a série histórica das contas nacionais para a década de 1990. Em março de 2007, o IBGE
reviu as contas nacionais do Brasil para aquela década, lançando as contas nacionais na base
2000. Em 2011, passou a apresentar a conta de patrimônio financeiro.

63
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

O novo desenho do sistema de contas foi elaborado sob a responsabilidade


conjunta da ONU, do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Comissão
de Estatística das Comunidades Europeias (Eurostat), da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do Banco Mundial.
Apesar das diferenças entre os modelos serem significativas, seus fundamentos e
princípios contábeis permanecem os mesmos (FEIJÓ et al., 2013).

A preocupação da ONU acerca do novo modelo foi acompanhar a evolução


das economias em função da inflação, as mudanças no papel do governo, o
desenvolvimento das comunicações e da informática, uma maior complexidade
das instituições e dos mercados financeiros e a crescente preocupação com o meio
ambiente. Destaca-se, ainda, a passagem de diversos países para o modelo de
economia de mercado (PAULANI; BRAGA, 2012).

Ainda, conforme Paulani e Braga (2012), as mudanças implementadas


pelo SNA 1993 não são mudanças de forma. O novo sistema é bem mais complexo
e rico em informações, sendo constituído pela integração de instrumentos de
mensuração dos agregados econômicos que tem natureza distinta. O que antes
denominávamos de débito e crédito, passamos a recursos e usos, sendo válidos os
princípios contábeis que norteiam os sistemas de contabilidade nacional.

Assim, o novo Sistema de Contas Nacionais (SCN) da ONU está centrado


nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU), que apresentam os resultados dos
agregados macroeconômicos por setores de atividade econômica, e nas Contas
Econômicas Integradas (CEI), que são formadas por um conjunto de operações e
contas de ativos e passivos dos setores institucionais e do setor externo.

TUROS
ESTUDOS FU

Nas seções seguintes, aprofundaremos os estudos sobre as Tabelas de Recursos


e Usos (TRU) e as Contas Econômicas Integradas (CEI).

Ademais, cabe ressaltar os apontamentos de Paulani e Braga (2012, p.


97) de que “as CEI são, na realidade, o resultado da análise do desempenho
da economia por setores institucionais, de modo que as contas econômicas
integradas por setores institucionais são também elementos fundamentais para a
compreensão da dinâmica de funcionamento do novo sistema”.

Como podemos observar pelo que discutimos até então, a construção


de um Sistema de Contas Nacionais (SCN) passa por um constante processo
de modificações e atualizações acompanhando o próprio desenvolvimento
econômico. Podemos, assim, inferir que não é um processo totalmente acabado.
Assim, como funciona na prática? É o objetivo das próximas seções.
64
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

2.2 TABELAS DE RECURSOS E USOS


As Tabelas de Recursos e Usos (TRU) apresentam as operações da conta de
bens e serviços, de produção e da geração de renda por setor de atividade econômica.
Elas permitem estimar o Produto Interno Bruto (PIB) pelas óticas do produto, da
renda e das despesas. Seu cálculo é realizado com base em 56 classes de atividades
econômicas e em 110 grupos de produtos, que são agregados em 12 setores.

Conforme o IBGE (2018a), as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) fornecem


estimativas, a preços correntes e constantes do ano anterior, da oferta e demanda
de bens e serviços, desagregadas por produtos contendo os componentes do valor
adicionado e o total de pessoas ocupadas por atividade econômica a partir de
estatísticas primárias (demografia, agropecuária, indústria, comércio, serviços,
construção civil, transportes etc).

Ainda, segundo o IBGE (2018a), as tabelas de produção e de consumo


intermediário demonstram bens e serviços realizados e consumidos pelas
atividades econômicas. As tabelas de recursos e usos incluem os componentes do
valor adicionado e o total de pessoas ocupadas por atividade econômica a partir
de estatísticas primárias, originárias do IBGE e de outras instituições.

De forma geral, as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) apresentam os


resultados dos agregados macroeconômicos por setores de atividades econômicas.
Assim, as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) permitem a visualização das relações
de troca entre os diversos setores. O quadro seguinte apresenta a composição dos
setores econômicos.

QUADRO 1 – SETORES QUE COMPÕEM AS TABELAS DE RECURSOS E USOS (TRU)

• Agropecuária.
• Indústria extrativa.
• Indústria de transformação.
• Produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto, e limpeza urbana.
• Construção civil.
• Comércio.
• Transporte, armazenagem e correio.
• Serviços de informação.
• Intermediação financeira, seguros e previdência complementar.
• Atividades imobiliárias e aluguéis.
• Outros serviços.
• Administração, saúde e educação públicas e seguridade social.
FONTE: Feijó et al. (2013, p. 100)

65
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

DICAS

As Tabelas de Recursos e Usos (TRU), com os 12 setores de atividades


econômicas, são divulgadas na publicação do Sistema de Contas Nacionais (SCN), enquanto
as informações desagregadas são disponibilizadas no site do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2018b). Disponível em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/
indicadores/pib/defaulttabelasTRU.shtm>. Acesso em: 27 abr. 2018.

Conforme Feijó et al. (2013, p. 80), as Tabelas de Recursos e Usos (TRU)


são divididas em:

• Tabela de recursos de bens e serviços: apresenta a oferta total de bens e


serviços da economia (produção nacional e importação).
• Tabela de usos de bens e serviços: apresenta o consumo intermediário e a
demanda final (exportação, consumo final e formação bruta de capital),
totalizando a demanda da economia.
• Componentes do valor adicionado: apresenta os componentes do valor
adicionado por setor de atividade econômica.

Assim, as Tabelas de Recursos e Usos (TRU) do sistema brasileiro de


contas nacionais são constituídas por seis matrizes, as quais contêm os seguintes
conteúdos: A – matriz de Oferta; A1 – matriz de Produção; A2 – matriz de
Importação; B1 – matriz de Consumo Intermediário; B2 – matriz de Demanda
Final e; C – matriz de Componentes do Valor Adicionado. O quadro a seguir
apresenta de forma sintética tais matrizes.

QUADRO 2 – RECURSOS E USOS (TRU)

Tabelas de RECUROS de Bens e Serviços


A A1 A2
Tabelas de Usos de Bens e Serviços
B1 B2
C

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 98)

66
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Diante do que foi apresentado no quadro acima, Paulani e Braga (2012)


explicam que, entre essas matrizes, estabelecem-se as seguintes relações:

A = A1 + A2 (Equação I)
A = B1 + B2 (Equação II)
C = A1 – B1 (Equação III)

A relação (I) mostra que, para cada tipo de atividade econômica, a oferta
total da economia é igual à produção interna mais a importação. A oferta iguala-
se à demanda total, demonstrada pela relação (II). A mesma relação mostra que
a demanda total é constituída pela demanda para consumo intermediário e pela
demanda por bens finais. Já a relação (III) mostra o valor adicionado total da
economia (PIB) deduzindo do valor da produção o consumo intermediário.

E
IMPORTANT

Tabelas de Recursos e Usos (TRU) – dentro do sistema brasileiro de contas


nacionais há seis matrizes: oferta, produção, importação, consumo, intermediário, demanda
final e componentes do valor adicionado.

Para melhor compreensão da estrutura da TRU, usaremos um exemplo


hipotético e simplificado de uma economia aberta e com governo, ou seja, um
modelo de economia de mercado. Tal estrutura simplificada foi adaptada do
modelo proposto por Paulani (2011), que apresenta o atual formato de contas
nacionais do Brasil, conforme o Sistema Nacional de Contas 1993 SNA (93), o
qual podemos observar no quadro a seguir.

67
QUADRO 3 – RECURSOS E USOS (TRU) PARA UMA ECONOMIA HIPOTÉTICA

68
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 328)


TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Os setores apresentados no Quadro 2 2 são os mesmos utilizados no sistema


brasileiro de contas nacionais, sendo eles: Agropecuária (A); Indústria (I), que
se refere à indústria de transformação, extração, construção civil e de utilidade
pública; Comércio (C) e Transporte (T), que engloba correio e armazenagem;
Intermediação Financeira (F), que envolve seguros e previdência complementar;
Serviços (S), que envolve atividades imobiliárias, aluguel e serviços de informação
e; Administração Pública (G), que envolve saúde e educação públicas.

No exemplo hipotético, observemos que as linhas da matriz A e suas


componentes A1 e A2 correspondem aos seis grandes setores da economia. As
matrizes indicam que, por exemplo, a oferta total do setor I (Indústria) alcançou
o valor de US$ 3.600, avaliada a preços de consumidor, montante esse resultante
de US$ 2.880, quando avaliada a preços básicos, mais US$ 360 de impostos sobre
produtos de importação, mais US$ 360 referente à margem de comércio e transporte.

ATENCAO

Observe o sinal negativo (-) frente ao valor referente à margem de comércio e


transporte do setor C + T. Quando consideramos a produção no agregado, não faz sentido falar
em margem de comércio e transportes, visto que também constituem setores de produção.

Podemos, ainda, verificar na matriz A1 os valores da produção doméstica.


Na matriz, cada linha indica em quais atividades os produtos são produzidos,
enquanto as colunas mostram a composição dos produtos pelas atividades.
Assim, o país produziu US$ 504 em produtos agropecuários (setor A), sendo
US$ 468 produzidos pela própria atividade agropecuária, US$ 24 pela atividade
industrial (setor I) e mais US$ 12 produzidos pelo governo (setor G).

Também podemos verificar que a atividade industrial (setor I), verificada


pela coluna, produziu uma oferta total no valor de US$ 2.556, sendo US$ 2.520 em
produtos industriais (setor I), US$ 24 em produtos do setor agropecuário (setor
A) e US$ 12 em serviços de comércio e transporte (setor C + T). Cabe destacar
que os setores não são puros, ou seja, dentro da atividade industrial encontramos
atividades de produção de bens agrícolas, de serviços de comércio e transporte etc.

Já a matriz A2 traz os valores, em moeda local, alcançados pelas


importações de bens e serviços realizados pelo país. No exemplo, o país importou
US$ 12 pela atividade agropecuária (setor A), US$ 240 pela atividade industrial
(setor I), mais US$ 12 pela atividade de intermediação financeira (setor F) e mais
US$ 36 pelas atividades de comércio e transporte (setor C + T), totalizando US$
300 em produtos importados.

69
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Com o somatório da matriz A1 (produção doméstica) e da matriz A2


(importação) chegamos à oferta total a preços básicos de cada tipo de produto,
tal como apresentado na matriz A. Por exemplo: a oferta total a preços básicos
de US$ 2.880 em bens industriais (setor I) é resultado da produção doméstica
no valor de US$ 2.640, mais $ 240 de importações. A mesma relação vale para os
demais produtos, até chegar na oferta agregada total.

Agora passemos para a análise da matriz B1. Tal matriz nos mostra as compras
intermediárias que cada um dos setores efetua entre si, com o intuito de obter os
insumos necessários à produção de seus bens, ou seja, a matriz B1 nos mostra quanto
cada um dos seis setores da economia comprou de insumos dos demais setores. Para
o entendimento da matriz, observemos o raciocínio descrito a seguir.

No período em questão, o setor industrial (setor I), para produzir os seus US$
2.556 em produtos industriais, necessitou de US$ 300 em insumos vindos do setor
agropecuário (setor A), mais US$ 1.260 em insumos vindos do próprio setor industrial
(setor I), mais US$ 24 de insumos do setor de serviços (setor S), mais US$ 156 em
insumos do setor financeiro (setor F) e mais US$ 72 em insumos do setor de comércio
e transportes (setor C + T), totalizando US$ 1.812 em compras intermediárias.

Assim, podemos obter o valor adicionado do produto do setor industrial


(setor I). Temos, de um lado, a matriz A1, o valor total da produção das atividades
desenvolvidas por esse setor, que foi de US$ 2.556 e, de outro lado, a matriz B1, o
valor do consumo intermediário que foi de US$ 1.812. Deduzindo os dois valores,
conforme proposto na Equação 3 (A1 – B1), temos o valor adicionado por esse
setor no período em questão. Assim, segue-se para os demais setores.

Então, a primeira linha da matriz C é aquela que aponta o valor adicionado


de cada setor. A soma dos valores que compõem a linha do valor adicionado
bruto produz o valor do PIB a preços básicos (custo de fatores), ou seja, US$
3.780, valor esse que, somando o valor dos impostos líquidos de subsídios sobre
produtos e importação, produz o valor do PIB a preços de consumidor (preço de
mercado), que é de US$ 4.440, conforme destacado na Tabela 2.

E
IMPORTANT

Produto a custo de fatores: valor do produto que reflete o custo dos fatores,
excluindo impostos indiretos e subsídios do governo. Produto a preços de mercado: inclui
o valor dos impostos indiretos, compensados dos subsídios.

70
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

A matriz B2 discrimina a demanda final em seus componentes básicos e


cujos valores totais, somados, no agregado setorialmente, àqueles apresentados
na matriz B1, recuperam o valor da oferta total de bens e serviços (coluna da
demanda total), tal como indica a equação básica da tabela de usos de bens e
serviços da TRU. Cada um dos elementos constitui uma coluna e, nas linhas,
encontramos as contribuições de cada um dos setores para a constituição da
demanda final.

Por fim, conforme descrito por Paulani (2011, p. 329), “a matriz C


decompõe o valor adicionado de cada um dos setores nas categorias de renda
e impostos sobre a produção. Assim, a primeira linha indica o valor adicionado
gerado em cada um dos setores e seus valores são obtidos deduzindo-se, do valor
de cada setor (última linha da matriz A1), o valor de seu respectivo consumo
intermediário (última linha da matriz B1)”.

Assim, as linhas da matriz C mostram a decomposição do valor adicionado


de cada um dos seis setores do Sistema Nacional de Contas (SNC) nas seguintes
categorias: i) remunerações (que subdivide em salários e contribuições sociais); ii)
excedente operacional bruto; iii) rendimento de autônomos; iv) impostos líquidos
de subsídios sobre produtos e importação e; v) outros impostos sobre a produção.

E
IMPORTANT

Excedente Operacional Bruto: é a diferença entre o valor do produto e total dos


salários pagos. Trata-se de uma forma de obter-se, por exclusão, a soma conjunta dos juros,
dos aluguéis e dos lucros.

Podemos observar que, dos US$ 744 de valor adicionado gerado pelo
setor industrial (setor I), $ 420 tomaram a forma de remunerações (sendo US$ 336
em salários e US$ 84 em contribuições sociais); US$ 276 constituíram o excedente
operacional bruto do setor; US$ 42 constituíram os rendimentos de autônomos,
enquanto US$ 6 tomaram a forma de outros impostos sobre a produção de
líquidos de outros subsídios sobre a produção. A mesma análise pode ser feita
para todos os demais setores.

DICAS

Recomenda-se a leitura complementar de Paulani (2011), Paulani e Braga (2012)


e Feijó et al. (2013).

71
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Em suma, os agregados econômicos, em torno dos quais as Tabela de


Recursos e Usos (TRU) são construídas, dizem respeito ao valor da produção, ao
consumo intermediário e ao valor adicionado (calculado pelas óticas do produto
e da despesa). Determinados agregados são distribuídos por produtos e setores
da atividade econômica, os quais enfocam as relações técnicas e econômicas
estabelecidas entre os agentes econômicos (BÊRNI; LAUTERT, 2011).

As Tabelas de Recursos e Usos (TRU) reúnem, organizam e permitem


que se explore as estatísticas destinadas às análises detalhadas da produção e da
formação de preços. Permitem também que se estudem as relações técnicas de
produção entre os setores de atividade econômica (FEIJÓ et al., 2013). Ademais, as
Tabelas de Recursos e Usos (TRU) permitem a estruturação e análise das Contas
Econômicas Integradas (CEI), que serão objeto de estudo na próxima seção.

2.3 AS CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS


Na seção anterior, obtivemos informações acerca da construção e
interpretação das Tabelas de Recursos e Usos (TRU). Agora, iremos complementar
o entendimento da estrutura do Sistema de Contas Nacionais (SCN), utilizada no
modelo brasileiro, verificando a estrutura das Contas Econômicas Integradas (CEI).
O objetivo é que, ao final desta seção, você consiga interpretar as Contas Econômicas
Integradas (CEI) e elaborar um sistema simplificado de contas nacionais.

As Contas Econômicas Integradas (CEI) representam o núcleo central


do Sistema de Contas Nacionais (SCN), no qual consiste em uma sequência de
contas inter-relacionadas, que são detalhadas por setor institucional, incluindo
empresas financeiras, empresas não financeiras, administração pública e famílias.
Mostram, também, as relações entre a economia nacional e o resto do mundo
(IBGE, 2018a).

Conforme Feijó et al. (2013), as Contas Econômicas Integradas (CEI)


compõem a estrutura central do Sistema de Contas Nacionais (SCN), que são
construídas em torno de uma sequência de contas de fluxos (que descrevem como
ocorrem as atividades econômicas em determinado período de tempo) inter-
relacionadas com as contas de patrimônio (que registram os valores de ativos e
passivos detidos pelos setores institucionais no início e no fim de um período).

E
IMPORTANT

Contas Econômicas Integradas (CEI) – constitui-se do resultado agregado de


seis setores institucionais: empresas não financeiras, administrações públicas, instituições
sem fins lucrativos a serviço das famílias, famílias e resto do mundo.

72
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Paulani (2011) destaca que, por apresentarem apenas os resultados


agregados, as Contas Econômicas Integradas (CEI) são de compreensão simples
e intuitiva. São feitas algumas relações entre as Contas Econômicas Integradas
(CEI) e algumas identidades contábeis. Assim, as CEI são constituídas por cinco
contas e sete subcontas divididas em três grupos, estruturados conforme se pode
observar no quadro a seguir

QUADRO 4 – ESTRUTURA DAS CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI)

Grupo A – Conta de Bens e Serviços


Conta 0 Conta de Bens e Serviços
Grupo B – Contas de Produção, Renda e Capital
Conta 1 Conta de Produção
Conta 2 Conta de Renda
Conta 2.1 Conta de Distribuição Primária da Renda
Conta 2.1.1 Conta de Geração de Renda
Conta 2.1.2 Conta de Alocação de Renda
Conta 2.2 Conta de distribuição Secundária de Renda
Conta 2.3 Conta de Uso da Renda
Conta 3 Conta de Acumulação
Grupo C – Conta das Operações Correntes com o Resto do Mundo
Conta 4 Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo
Conta 4.1 Conta de Bens e Serviços do Resto do Mundo com a
Economia Nacional
Conta 4.2 Conta de Distribuição Primária da Renda e Transferências
Correntes do Resto do Mundo com a Economia Nacional
Conta 4.3 Conta de Acumulação do Resto do Mundo com a
Economia Nacional

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 332)

Assim como nas Tabelas de Recursos e Usos (TRU), as Contas Econômicas


Integradas (CEI) utilizam a nomenclatura usos e recursos. Além disso, as rubricas
aparecem no centro da conta e, os valores, lançados como usos ou recursos, à
esquerda e à direita, respectivamente. Assim, segue-se a convenção contábil,
que coloca o débito (uso) ao lado esquerdo e crédito (recurso), ao lado direito
(PAULANI; BRAGA, 2012).

Para facilitar a compreensão da estruturação das Contas Econômicas


Integradas (CEI), continuaremos com o mesmo exemplo numérico já utilizado
na seção anterior, quando estudadas as Tabelas de Recursos e Usos (TRU).
Lembrando que o exemplo está pautado no estudo proposto por Paulani (2011).
Assim, o quadro a seguir apresenta o primeiro grupo de contas, ou seja, as contas
do Grupo A, que contempla a Conta 0 – Conta de Bens e Serviços.

73
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

QUADRO 5 – GRUPO A – CONTAS DE BENS E SERVIÇOS

Grupo A Contas de Bens e Serviços


Conta 0 – Conta de Bens e Serviços
Recursos Operações e Saldos Usos
7.200 Valor Bruto da Produção (VBP)
300 Importação de Bens e Serviços (M)
Impostos Líquidos de Subsídios sobre Produtos e Importações (IpM - Sub.
660
pM)
110 Imposto de Importação (IM)
550 Demais Impostos sobre Produtos (Ip)
Consumo Intermediário (CI) 3.420
Consumo Final (adm. Pública e famílias - CF) 3.912
Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF) 516
Variação de Estoque (VarE) 30
Exportação de Bens e Serviços (X) 282
8.160 Total 8.160

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 332)

Conforme se pode observar, o quadro acima demonstra a igualdade


entre oferta total e demanda total da economia no nível da produção total. Ao
lado dos recursos (oferta), insere-se o valor bruto da produção (VBP) e, ao lado
dos usos (demanda), acrescentam-se os componentes da demanda agregada
(consumo final, FBKF, variação dos estoques e exportação), bem como o consumo
intermediário (CI).

Essa conta trata de uma espécie de conta síntese que apresenta, para a
economia como um todo, as informações sobre a oferta total e a demanda total
de bens e serviços. Diferentemente das demais contas, ela traz os recursos do
lado esquerdo e os usos do lado direito da conta. Determinada conta permite que
visualizemos a seguinte identidade:

Oferta Total Bruta = Demanda Total Bruta


VBP + M + (IpM – Sub.pM) = CF + CI + FBKF + VarE + X

Já a Conta 1 – Conta de Produção serve para apresentar o valor do PIB,


como sendo resultado da seguinte equação: PIB = VBP – CI + (IpM – Sub. pM).
Da conta em diante, as colunas de usos e recursos passam a se localizar dos lados
esquerdo e direito, respectivamente (débito e crédito), cujas somas dos valores
de ambos os lados devem ser iguais. Parte-se do valor da produção (VBP) para
chegar ao PIB. Observe como ela fica no exemplo, conforme o quadro a seguir.

74
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

QUADRO 6 – GRUPO B – CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL

Conta 1 – Conta de Produção


Usos Operações e Saldos Recursos
Valor Bruto da Produção
7.200
(VBP)
3.420 Consumo Intermediário (CI)
Impostos Líquidos de
Subsídios sobre Produtos e 660
Importação (IpM – Sub. pM)
4.440 Produto Interno Bruto (PIB)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 333)

Como você pôde observar, o quadro acima traz menos informações, pois
parte das informações contidas na Conta 0 – Conta de Bens e Serviços, enquanto
outra parte das informações está nas próximas contas. De posse do valor do PIB, a
conta seguinte (Conta 2.1.1 - Conta de Distribuição Primária da Renda – Geração)
busca chegar ao valor do Excedente Operacional Bruto (EOB), utilizado para
encontrar o valor da Poupança Bruta, conforme demonstrado no quadro a seguir.

QUADRO 7 – GRUPO B CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL (GERAÇÃO)


Conta 2 – Conta de Renda
Conta 2.1 – Conta de Distribuição Primária da Renda
Conta 2.1.1 – Conta de Geração de Renda
Usos Operações e Saldos Recursos
Produto Interno Bruto (PIB) 4.440
2.226 Remuneração dos Empregados (W + Wnr)
2.200 Remunerações Pagas por Residentes a Residentes (W)
26 Remunerações Pagas por Residentes a Não Residentes (Wnr)
690 Impostos Líquidos de Subsídios sobre Produção e Importação (Ipç – Sub. pç)
1.524 Excedente Operacional Bruto – EOB (inclusive Rendimento de Autônomos)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 333)

É a conta da geração de renda, que se pretende obter é como a totalidade do


valor adicionado (PIB), gerado internamente no país se distribuiu dentre as várias
categorias de rendimento, ou seja, quanto do PIB remunerou os trabalhadores
(incluído aí as contribuições sociais). Outro elemento destacado por essa conta é
a remuneração aos empregados em salários pagos por residentes a residentes (W)
e salários pagos por residentes a não residentes (Wnr).

75
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

E
IMPORTANT

Residentes: pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas em um país, engajadas


em atividade econômica por pelo menos um ano, incluindo indivíduos com residência
fixa, mesmo imigrantes, filiais de empresas estrangeiras sediadas no país, funcionários em
serviços no exterior, bem como os indivíduos que se encontram transitoriamente no exterior.
A distinção entre residentes e não residentes está associada ao local em que eles participam
da produção e do consumo.

Contudo, você deve se perguntar o que são as remunerações aos


empregados em como salários pagos por residentes a residentes (W) e salários
pagos por residentes a não residentes (Wnr). O que efetivamente significa?
Para esclarecer estas duas formas de remuneração da mão de obra vejamos os
apontamentos de Paulani e Braga (2012, p. 109):

Como efeito da internacionalização e abertura cada vez maior das


economias nacionais, surgem fenômenos como esse, em que as rendas
são enviadas ao exterior não apenas para remunerar o capital de
propriedade de não residentes operando na economia doméstica, mas
também para remunerar trabalhadores não residentes que tenham
prestado serviços ao país. Por exemplo, uma confecção brasileira pode
mandar efetuar parte do serviço de sua empresa em algum país do
sudeste asiático ou mesmo na China, pois dada a diferença de salários,
as despesas adicionais com transporte e eventuais perdas devido a
deslocamento podem, a depender da escala do negócio, compensar
a substituição. Em caso como esse, será enviada ao exterior para
pagamento desses salários. As informações sobre Wnr são extraídas da
balança de serviços e rendas, que compõe o Balanço de Pagamentos.

DICAS

Efetuaremos o estudo do Balanço de Pagamentos no próximo tópico deste


livro de estudos.

A conta seguinte apresenta a Conta 2.1.2 – Conta de Distribuição Primária


da Renda – Alocação. Parte do Excedente Operacional Bruto (EOB), apurado
na conta anterior (Conta 2.1.1 – Conta de Distribuição Primária da Renda –
Geração). Observe a evolução, conforme demonstrada no quadro a seguir.

76
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

QUADRO 8 6 – GRUPO B CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL (ALOCAÇÃO)


Conta 2 – Conta de Renda
Conta 2.1 – Conta de Distribuição Primária da Renda
Conta 2.1.2 – Conta de Alocação da Renda
Usos Operações e Saldos Recursos
Excedente Operacional Bruto – EOB (inclusive Rendimento de Autônomos) 1.524
Remuneração dos Empregados (W + Wnr) 2.240
2.200 Remunerações Pagas por Residentes a Residentes (W) 2.200
Remunerações Pagas por não Residentes a Residentes (Wr) 40
Impostos Líquidos de Subsídios sobre Produção e Importação (Ipç – Sub. pç) 690
500 Renda de Propriedades Enviadas (Rppe) e Recebidas do Resto do Mundo (Rppr) 150
4.104 Renda Nacional Bruta (RNB)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 335)

Conforme se pode observar no quadro acima, para se chegar à Renda


Nacional Bruta (RNB), parte-se do Excedente Operacional Bruto (EOB), somando
a remuneração total paga a empregados, os impostos líquidos de subsídios sobre
a produção e o saldo das rendas de propriedade recebidas e enviadas ao exterior.
Determinada conta possui uma peculiaridade que não podemos deixar passar
despercebida.

Da mesma forma que podem existir pagamentos a não residentes por


parte dos residentes (Wnr), devemos considerar o fenômeno recíproco, ou seja,
pagamentos de não residentes aos residentes (Wr), que no nosso exemplo consiste
no valor de US$ 40. Determinado tipo de renda tem que ser incorporada à Renda
Nacional Bruta (RNB), assim como devem ser incorporados os recebimentos de
renda de propriedade. Daí o aparecimento, nesta conta, da rubrica Wr.

Este seria o montante de renda à disposição dos residentes para


consumirem ou pouparem, no entanto, a conta ainda precisa de alguns ajustes
para se chegar efetivamente ao valor exato para tais finalidades. Até aqui
obtivemos a renda nacional, que se atinge considerando apenas a distribuição
primária da renda. Contudo, determinada distribuição primária não é aquela que
efetivamente permanece.

Dadas as transferências existentes entre os setores da economia, encontramos


também as transferências com o resto do mundo. Portanto, é necessário considerar
esses valores para que se chegue ao efetivo montante de renda à disposição dos
residentes para consumirem ou pouparem. A Conta 2.2 – Conta de Distribuição
Secundária da Renda traz para as Contas Econômicas Integradas (CEI) o resultado
agregado, conforme demonstrado no quadro a seguir.

77
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

QUADRO 9 - GRUPO B CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL (DISTRIBUIÇÃO SECUNDÁRIA)

Conta 2 – Conta de Renda


Conta 2.2 – Conta de Distribuição Secundária da Renda
Usos Operações e Saldos Recursos
Renda Nacional Bruta (RNB) 1.524
30 Outras Receitas Correntes Enviadas (Te) e Recebidas do Resto do Mundo (Tr) 60
4.134 Renda Nacional Disponível Bruta (RDB)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 336)

Tendo a Renda Nacional Disponível Bruta (RDB), conseguimos saber


como a renda foi utilizada pelos residentes entre consumo e poupança. Assim, o
quadro a seguir apresenta a Conta 2.3 – Conta de Uso da Renda, demonstrando
qual a participação de cada um desses dois diferentes usos, ou seja, como a renda
disponível foi alocada entre consumo e poupança. Mostra, portanto, a Poupança
Bruta ou Poupança Doméstica (SD) efetuada pela economia.

QUADRO 10 – GRUPO B CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL (USO DA RENDA)

Conta 2 – Conta de Renda


Conta 2.3 – Conta de Uso da Renda
Usos Operações e Saldos Recursos
Renda Nacional Disponível Bruta (RDB) 4.134
3.912 Despesa de Consumo Final (CF)
222 Poupança Bruta (SD)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 336)

Conforme podemos observar no quadro anterior, dos US$ 4.134 de


Renda Nacional Disponível Bruta (RDB), a economia utilizou US$ 3.912 para
consumo, poupando US$ 222. Essa poupança deve ser agora cotejada com o
investimento feito por essa economia (Formação Bruta de Capital Fixo – FBKF)
e em variação de estoques, sabendo se a economia foi financiada ou financiou
o resto do mundo. Assim, o quadro a seguir apresenta a Conta 3 – Conta de
Acumulação (Conta de Capital).

QUADRO 11 – GRUPO B CONTAS DE PRODUÇÃO, RENDA E CAPITAL (CONTA DE ACUMULAÇÃO)

Conta 3 – Conta de Acumulação (Conta de Capital)


Usos Operações e Saldos Recursos
Poupança Bruta (SD) 222
516 Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF)
30 Variação de Estoque (Var.E)
36 Transferências de Capital Enviadas (Tce) e Recebidas (Tcr) do Resto do Mundo 100
(-) 260 Capacidade (+) ou Necessidade (-) de Financiamento (+ ou – S. Ext.)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 337)

78
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

Conforme observamos no quadro, a economia teve uma poupança


doméstica insuficiente para sustentar seus investimentos e foi financiada pelo resto
do mundo. Os valores de Transferências de Capital Enviadas (Tce) e Recebidas (Tcr)
do Resto do Mundo se referem às transferências ocorridas no período do resto do
mundo para a economia e vice-versa, no entanto, tais contas são distintas daquelas
que aparecem na Conta 2.2 - Conta de Distribuição Secundária da Renda.

O que difere determinados itens é a natureza da transferência, pois o


primeiro caso (Conta 2.2 – Conta de Distribuição Secundária da Renda) trata
de transferências correntes, ou seja, que alteram os fluxos de renda, enquanto
o segundo, Conta 3 – Conta de Acumulação (Conta de Capital) trata de
transferências relacionadas ao estoque de capital e que envolvem direito de
propriedade sobre ativos (que podem ser reais, financeiros ou intangíveis).

Paulani e Braga (2012) explicam que determinadas transferências de


capital não aparecem nas contas anteriores, mas apenas na conta de acumulação,
visto que sua finalidade é mostrar a formação de capital, ou seja, o aumento
do estoque de riqueza da economia. Exemplos desse tipo de transferência são
a entrada ou saída no país de patrimônio de imigrantes, perdão de dívidas ou
cessão de marcas e patentes entre residentes e não residentes.

Assim, além do país despender renda com Formação Bruta de Capital


Fixo (FBKF) e acumular estoque (Var.E), resolve ainda transferir capital para o
resto do mundo (Tce = US$ 36). Então, essa transferência tem de entrar no cotejo
entre investimento e poupança. Para saber o resultado final, é preciso acrescentar
à Poupança Doméstica (SD) as transferências de capital recebido (Tcr = US$100).
Assim, a economia recebeu financiamento externo de US$ 260.

O quadro a seguir apresenta a conta de transações correntes com o resto


do mundo que, nas Contas Econômicas Integradas (CEI), equivale ao grupo C de
contas. Assim, a Conta 4.1 – Conta de Bens e Serviços do Resto do Mundo mostra
o valor total das importações e exportações de bens e serviços. Essas transações
(entre residentes e não residentes) objetivam a compra de bens e serviços (não
incluem os pagamentos e recebimentos dos fatores de produção).

QUADRO 12 – GRUPO C CONTAS DAS OPERAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO

Conta 4 – Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo


Conta 4.1 – Conta de Bens e Serviços do Resto do Mundo com a Economia
Nacional
Usos Operações e Saldos Recursos
282 Exportações de Bens e Serviços (X)
Importações de Bens e Serviços (M) 300
18 Saldo de Bens e Serviços do Resto do Mundo

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 337-338)

79
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Como demonstrado no quadro acima, a economia em análise teve um


déficit na conta no valor de US$ 18. Este grupo de contas é elaborado do ponto de
vista do Resto do Mundo e não do ponto de vista da Economia Nacional. Significa
dizer que as importações de bens e serviços entram como recursos, enquanto
as exportações entram como usos, indicando que o resto do mundo utilizou
boa parte dos recursos obtidos com as vendas feitas à economia nacional para
comprar produtos da mesma economia.

Já a Conta 4.2 – Conta de Distribuição Primária da Renda e Transferências


Correntes do Resto do Mundo com a Economia Nacional vai acrescentar ao
resultado aqueles decorrentes das demais operações correntes que o resto do
mundo estabeleceu com a Economia Nacional, o que envolve pagamentos de
fatores de produção e as transferências efetuadas entre residentes e não residentes,
as quais podem ser observadas no quadro a seguir.

QUADRO 13 – GRUPO C CONTAS DAS OPERAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO


(DISTRIBUIÇÃO PRIMÁRIA)

Conta 4 – Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo


Conta 4.2 – Conta de Distribuição Primária da Renda e Transferências Correntes
do Resto do Mundo com a Economia Nacional
Usos Operações e Saldos Recursos
Saldo de Bens e Serviços 18
150 Rendas de Propriedades Enviadas (Rppe) e Recebidas do Resto do Mundo (Rppr) 500
40 Remunerações Pagas (Wnr) e Recebidas (Wrn) do Resto do Mundo 26
60 Outras Receitas Correntes Enviadas (Te) e Recebidas do Resto do Mundo (Tr) 30
324 Saldo das Transações Correntes do Resto do Mundo

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 337-338)

Como você pôde observar no quadro acima, as operações correntes entre


a Economia Nacional com o Resto do Mundo acumularam um saldo positivo
de US$ 324. Contudo, esse valor tem ainda que ser corrigido pelo montante das
transferências de capital, envolvendo residentes e não residentes efetuados no
mesmo período. Só depois do acerto é que ele nos apresentará o resultado final
dessas operações, tanto em termos de sinais (déficit ou superávit), quanto em
termos de valores.

Assim, o quadro a seguir apresenta nossa última conta das Contas


Econômicas Integradas (CEI), a Conta 4.3 – Conta de Acumulação do Resto do
Mundo com a Economia Nacional, que vai apresentar o resultado final.

80
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

QUADRO 14 – GRUPO C CONTAS DAS OPERAÇÕES CORRENTES COM O RESTO DO MUNDO


(DISTRIBUIÇÃO PRIMÁRIA)

Conta 4 – Conta de Operações Correntes com o Resto do Mundo


Conta 4.3 – Conta de Acumulação do Resto do Mundo com a Economia Nacional
Usos Operações e Saldos Recursos
Saldo das Transações Correntes do Resto do Mundo 324
100 Transferências de Capital Enviadas (Tce) e Recebidas (Tcr) do Resto do Mundo 36
(+) 260 Capacidade (+) ou Necessidade (-) de Financiamento (+ ou – S. Ext.)

FONTE: Adaptado de Paulani (2011, p. 337-338)

Como podemos observar, a Conta 4.3 – Conta de Acumulação do Resto


do Mundo com a Economia Nacional apresenta o resultado inverso da Conta
3 – Conta de Acumulação (Conta de Capital). Apresenta um resultado negativo,
no valor de US$ 260, indicando que a Economia Doméstica necessitou de um
financiamento externo nesse valor para efetivar os investimentos.

Já a Conta 4.3 demonstra o reverso desse resultado, uma vez que


representa, no mesmo período, que o Resto do Mundo acumulou contra a
Economia Nacional um saldo de montante exatamente idêntico, indicando assim
sua capacidade de financiar a Economia Nacional. Para finalizar este tópico,
apresentaremos a sequência das operações que as Contas Econômicas Integradas
(CEI) apresentaram, que podem ser observadas no quadro a seguir.

QUADRO 15 – EQUAÇÕES DAS CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI)

1 VBP – CI + (IpM – Sub. pM) = PIB (Conta 1 – Produção)


2 PIB – (W = Wnr) – (Ipç – Sub. pç) = EOB (Conta 2.1.1 – Distribuição Primária
da Renda – Geração)
3 EOB + (W + Wnr) + (Ipç – Sub. pç) + (Rppr – Rppe) = RNB (Conta 2.1.2 –
Distribuição Primária da Renda – Alocação)
4 RNB + (Tr – Te) = RDB (Conta 2.2 – Distribuição Secundária da Renda)
5 RDB – CF = SD (Conta 2.3 – Uso da Renda)
6 SD – (FBKF + VE) + Tcr – Tce = + ou – S. ext. (Conta 3 – Acumulação)
7 M – X = Saldo de Bens e Serviços do Resto do Mundo (Conta 4.1 – Bens e
Serviços do Resto do Mundo)
8 Saldo de Bens e Serviços do Resto do Mundo + (Rppe – Rppr) + (Wnr + Wrn)
+ (Te – Tr) = Saldo de Transações Correntes do Resto do Mundo (Conta 4.2 –
Distribuição Primária da Renda e Transferências do Resto do Mundo)
9 Saldo das Transações correntes do Resto do Mundo + (Tce – Tcr) = + ou – S.
ext. (Conta 4.3 – Conta de Acumulação do Resto do Mundo).
FONTE: Adaptado de Paulani (2011) e Paulani e Braga (2012)

81
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Cabe ainda destacar que, dada a importância do Sistema de Contas


Nacionais (SCN), sua divulgação apenas anualmente não seria suficiente
para que se possa, a partir das informações contidas, fazer melhor uso como
instrumento mais eficiente de tomada de decisão, principalmente por parte do
governo. Significa dizer que a necessidade de acompanhar e analisar a evolução
dos principais agregados em um período mais curto é primordial para a tomada
de decisões a respeito de produção, consumo, investimentos, endividamento etc.

Paulani e Braga (2012, p. 153) explicam que “tanto o governo, quanto os


agentes privados, beneficiam-se da existência de informações em prazos mais curtos,
pois facilita o planejamento, permitindo um processo de tomada de decisão mais
fundamentado”. Assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com
base nas recomendações internacionais, publica trimestralmente dados referentes
à evolução do Produto Interno Bruto (PIB), bem como de outros componentes do
Sistema de Contas Nacionais (SCN). O quadro a seguir apresenta as informações
das Contas Nacionais Trimestrais no período de 2000 até o ano de 2016.

82
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

QUADRO 16 – CONTAS NACIONAIS TRIMESTRAIS – 2001- 016

FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2018c)

83
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

DICAS

As informações dos componentes do Sistema de Contas Nacionais (SCN) podem


ser acessadas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
<https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasnacionais/2014/default.shtm>.
Acesso em: 27 abr. 2018.

Como vimos na seção, as Contas Econômicas Integradas (CEI)


representam, de forma simplificada, os fenômenos da economia, demonstrando
os resultados da atividade econômica entre os setores da economia, de acordo
com as ações praticadas pelos agentes econômicos, ou seja, como os setores
participam no processo de geração, apropriação, distribuição, uso e acumulação
de renda nacional, bem como as relações do país com os demais países (BÊRNI;
LAUTERT, 2011).

84
TÓPICO 1 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS (SCN): CONTAS ECONÔMICAS INTEGRADAS (CEI) E TABELAS DE
RECURSOS E USOS (TRU)

LEITURA COMPLEMENTAR

Implantação da série do Sistema de Contas Nacionais – referência 2010

A rotina de revisões das séries do Sistema de Contas Nacionais, a


publicação do novo manual Internacional System of National Accounts 2008 (SNA
2008), a revisão da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE e
o surgimento de novas fontes de dados para a economia brasileira indicaram a
necessidade de atualização da série do Sistema de Contas Nacionais do Brasil.

Especificamente, os seguintes pontos foram objetos de revisão na série vigente:

• adoção de nova classificação de produtos e atividades no Sistema de Contas


Nacionais, integrada com a CNAE 2.0, e, consequentemente, com a revisão 4 da
Clasificación Industrial Internacional Uniforme de Todas las Actividades Económicas –
CIIU (International Standard Industrial Classification of all Economic Activities – ISIC);

• introdução dos resultados do Censo Agropecuário 2006, da Pesquisa de


Orçamentos Familiares - POF 2008-2009 e do Censo Demográfico 2010;

• atualização da matriz de consumo intermediário com dados da Pesquisa de


Consumo Intermediário – PCI 2010 para as seguintes atividades econômicas:
extrativa mineral; indústria de transformação; construção civil; e serviços.
A atualização da estrutura de consumo intermediário das atividades
agropecuárias foi realizada com base no Censo Agropecuário 2006; Contas
Nacionais n° 56 Sistema de Contas Nacionais 2015;

• atualização das margens de comércio e de transporte com base em pesquisas


específicas e na Pesquisa Anual de Serviços – PAS 2010;

• atualização das estruturas de impostos com base na revisão das alíquotas e nas
novas estruturas de consumo;

• utilização dos dados da Declaração do Imposto de Renda de Pessoa Física como


referência para parte dos resultados do setor institucional Famílias nas CEI; e

• adoção das recomendações e modificações conceituais e metodológicas


apresentadas no manual internacional SNA 2008.

Com a publicação do SNA 2008, foram introduzidas algumas modificações


conceituais que impactaram os resultados dos agregados econômicos em geral e,
especificamente, do Produto Interno Bruto - PIB. É o caso da nova taxonomia para
os ativos não financeiros, que ampliou o escopo da formação bruta de capital fixo.

85
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Como exemplos, temos que todos os gastos em softwares e pesquisa e


desenvolvimento (P&D) passaram a ser tratados como formação bruta de capital
fixo e não mais como consumo intermediário.

Foi introduzido também no SNA 2008 um capítulo específico sobre


governo e setor público. O capítulo consolida diversos conceitos dispersos
pelo manual, que se relacionam com as atividades de governo, e estabelece a
ligação com outros sistemas estatísticos, em particular o Government Finance
Statistics Manual, publicado, em 2014, pelo Fundo Monetário Internacional - FMI
(International Monetary Fund – IMF).

Assim, o Sistema de Contas Nacionais incorporou em seus resultados


informações, para alguns agregados macroeconômicos, referentes aos setores
institucionais Empresas não financeiras e Empresas financeiras por origem de
capital, público e privado, e sobre o total dos setores privado e público.

O setor público é composto pelos setores institucionais Governo geral,


Empresas não financeiras públicas e Empresas financeiras públicas; o setor
privado engloba os setores institucionais Famílias e Instituições sem fins de
lucro a serviço das famílias, as Empresas não financeiras privadas e Empresas
financeiras privadas.

A série vigente do Sistema de Contas Nacionais não incorporou novas


pesquisas estruturais anuais, como ocorrera na série anterior, com referência
no ano 2000, quando foram adotadas a Pesquisa Industrial Anual - Empresa,
PIA-Empresa, a Pesquisa Anual da Indústria da Construção - PAIC, a Pesquisa
Anual de Comércio - PAC e a Pesquisa Anual de Serviços - PAS como marcos de
referência dos valores correntes.

Tais pesquisas permanecem estruturantes no Sistema de Contas Nacionais


– referência 2010, bem como a Declaração de Informações Econômico-fiscais da
Pessoa Jurídica – DIPJ e outros registros que trazem informações de atividades
não investigadas pelas pesquisas do IBGE.
FONTE: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Contas Nacionais. 2015.
Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101289_notas_tecnicas.pdf>.
Acesso em: 16 jan. 2018.

86
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Em 1953, a ONU publicou pela primeira vez o manual para a construção das
contas nacionais. Desde então, o manual do Sistema de Contabilidade Nacional
se tornou padrão utilizado pela maioria dos países.

• Em 1993 foi publicado a terceira versão do manual, atualizada em 2008, com


várias e significativas inovações.

• A preocupação da ONU acerca do novo modelo foi para acompanhar a evolução


das economias em função da inflação, as mudanças no papel do governo, o
desenvolvimento das comunicações e da informática, uma maior complexidade
das instituições e dos mercados financeiros e a crescente preocupação com o
meio ambiente.

• O Sistema de Contas Nacionais (SCN) está centrado nas Tabelas de Recursos


e Usos (TRU), que apresentam as contas por setor de atividade e nas Contas
Econômicas Integradas (CEI), que apresentam as contas de operações por
setores institucionais.

• Ao contrário do sistema anterior, que trabalhava com o par débito/crédito, as


Contas Integradas Nacionais (CEI) trabalham com o par usos/recursos, mas
continuam a valer para as CEI os mesmos princípios do sistema anterior: os
dois lados devem apresentar o mesmo valor e a coerência contábil de todo o
conjunto de informações.

• As Tabelas de Recursos e Usos (TRU) reúnem, organizam e permitem que se


explorem as estatísticas destinadas às análises detalhadas da produção e da
formação de preços, permitem que se estudem as relações técnicas de produção
entre os setores de atividade econômica.

• As Contas Econômicas Integradas (CEI) representam, de forma simplificada, os


fenômenos da economia, demonstrando os resultados da atividade econômica
entre os setores da economia, de acordo com as ações praticadas pelos agentes
econômicos, bem como as relações do país com os demais países.

87
AUTOATIVIDADE

1 O que são as Contas Econômicas Integradas (CEI)? Como elas se estruturam?

2 Qual é a diferença entre a distribuição primária e secundária de renda? Que


relação tem com a passagem do conceito de Renda Nacional Bruta (RNB)
para o conceito de Renda Nacional Disponível Bruta (RDB)?

3 Em que consiste, no sistema brasileiro de contas nacionais, o conceito de


Excedente Operacional Bruto (EOB)?

4 Qual é a diferença entre Produto a custo de fatores e Produto a preços de


mercado?

5 Qual é a diferença entre transferência de renda e transferência de capital?

88
UNIDADE 2 TÓPICO 2

BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E


REGISTROS

1 INTRODUÇÃO
As relações econômicas extrapolam os limites territoriais de um país.
Estão interligadas por operações econômicas, financeiras e políticas. Dentre
elas: as exportações e importações de bens e serviços, investimentos fora do país
de origem, transferências financeiras entre as mais diversas regiões do mundo,
acordos de cooperações internacionais etc. Todo o complexo de operações faz
com que o desempenho econômico de um país não dependa apenas de suas
operações internas, mas também das operações para com o resto do mundo.

O progresso da globalização, entendido como o processo de intensificação


das relações econômicas internacionais, sob o ponto de vista produtivo, comercial
e financeiro, aliado às mudanças tecnológicas e de comunicação, além das
políticas de desregulamentações dos mercados, permitiram maior liberdade de
circulação de bens e serviços, moedas e títulos entre os países. Assim, destaca-se
a importância do estudo do Balanço de Pagamentos.

Nele estão registradas todas as transações econômicas realizadas entre os


residentes do país com os residentes de outros países, ou seja, todas as transações
com mercadorias, serviços e capitais físicos e financeiros entre o país e o resto
do mundo. A contabilidade dessas transações segue as normas da contabilidade
geral, utilizando o método de partidas dobradas (débito e crédito), assim como
vimos no estudo das TRU (Tabelas de Usos e Recursos) e nas CEI (Contas
Econômicas Integradas).

Assim, este tópico tem por objetivo apresentar as contas do Balanço de


Pagamentos segundo as normas do Banco Central. Dado o objetivo, esperamos
que, ao final deste tópico, você seja capaz de entender os principais conceitos do
Balanço de Pagamentos, identificar as contas do Balanço de Pagamentos (BP) e
interpretar o Balanço de Pagamentos.

89
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

2 BALANÇO DE PAGAMENTOS
Como você deve ter percebido, o foco do nosso estudo tem se pautado
de forma mais específica na macroeconomia. No entanto, é necessário incluir,
na discussão das teorias econômicas, o comércio internacional. Conforme
Silber (2011), as trocas (ou comércio), neste contexto, não são realizadas entre
os indivíduos ou empresas de uma mesma nação. Não significa que o comércio
entre as nações seja feito por meio do governo.

O autor destaca que “na realidade, os principais participantes do comércio


internacional são indivíduos e firmas pertencentes a nações diferentes e, portanto,
sujeitos a legislações diferentes” (SILBER, 2011, p. 495). Cabe destacar que, uma
melhor compreensão das teorias econômicas em uma economia aberta, cenário no
qual vivemos nos dias atuais, requer não apenas considerações sobre os fatores
comerciais (exportações e importações), mas também sobre os fatores financeiros.

E
IMPORTANT

Os países não são estruturas isoladas. Eles mantêm uma série de relações
econômicas com outros países, envolvendo trocas de mercadorias, fatores de produção e
ativos, reais e financeiros (PAULANI; BRAGA, 2012).

Determinado instrumento contábil nasceu da necessidade que os dirigentes


das economias nacionais sentiram em coletar e organizar a informação voltada
para orientar a implementação da política econômica. De forma que as economias
mundiais foram se tornando mais abertas, a evolução das contas externas passou
a constituir um dos condicionantes centrais das políticas macroeconômicas
(BÊRNI; LAUTERT, 2011).

Os autores destacam a importância e o impacto do Balanço de Pagamentos


em toda a estrutura macroeconômica de um país:
[...] os movimentos internacionais de mercadorias, da produção,
de moeda e mesmo de pessoas afetam o grau de autonomia das
economias domésticas na determinação de seus preços-chave,
nomeadamente, a taxa de juros e a taxa de câmbio. No caso das
economias em desenvolvimento ou periféricas, a influência da
evolução desses dois preços sobre o nível geral de preços e, como tal,
sobre a política econômica é ainda mais intensa, afetando as gestões
cambial, monetária e fiscal (BÊRNI; LAUTERT, 2011, p. 292).

90
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

Assim, a análise das relações econômicas e financeiras internacionais


constitui a condição necessária para um adequado entendimento da estrutura
econômica de uma determinada nação. A existência de transações econômicas
internacionais produz uma série de implicações, não só para as contas nacionais,
como para a própria teoria econômica, uma vez que que modifica todo o cômputo
de determinados agregados macroeconômicos (PAULANI; BRAGA, 2012).

A partir das considerações apresentadas, podemos inferir que, assim como


as operações das empresas e as operações da economia devem ser registradas
e contabilizadas, as operações internacionais seguem a mesma lógica, ou seja,
as relações internacionais passam pelo mesmo processo de contabilização das
contas nacionais (visto no tópico anterior), só que com algumas peculiaridades.
Vamos ver como isso funciona? Primeiramente, vamos entender o que é Balanço
de Pagamentos.

O Balanço de Pagamentos é o registro estatístico-contábil de todas


as transações econômicas realizadas entre os residentes de um país com os
residentes do resto do mundo durante um determinado período de tempo, ou
seja, residentes e não residentes (BRAGA, 2011). Nele, estão registrados todas as
exportações e importações, fretes, seguros, empréstimos obtidos no exterior, ou
seja, todas as transações entre o país e o resto do mundo.

UNI

Balanço de Pagamentos é o registro de todas as transações de caráter


econômico-financeiro realizadas por residentes de um país com residentes dos demais
países (SANDRONI, 1999).

Assim, Feijó et al. (2013, p. 165) destaca que o Balanço de Pagamentos “é


normalmente utilizado para analisar o estado das finanças internacionais de um
país, uma vez que um saldo negativo em uma determinada conta significa que os
pagamentos para o exterior superam as receitas vindas do exterior naquele tipo
de transação”. Serve como um importante instrumento de análise econômica,
pois com ele, é possível acompanhar a evolução dos fluxos de recursos materiais
e financeiros entre os residentes de um país e os residentes do resto do mundo.

A contabilização das contas do Balanço de Pagamentos segue as normas


gerais da contabilidade, ou seja, há a utilização do método das partidas dobradas.
Assim, nas transações que dão origem à entrada de recursos, há o lançamento em
crédito, assumindo sinal positivo. Já nas transações que dão origem de saída de
recursos, há o lançamento em débito, assumindo sinal negativo (BRAGA, 2011).

91
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Braga e Vasconcellos (2011) alertam que o procedimento não é utilizado


na conta caixa ou na conta variação das reservas. Assim, quando há ingresso de
recurso na conta, o lançamento é feito em débito (sinal negativo), quando há saída
de recurso, é utilizado o lançamento em crédito (sinal positivo). Para melhor
entendimento, vamos observar o exemplo apresentado pelos autores:

• Exportações à vista
Conta creditada (+): Exportações
Conta debitada (-): Variação de Reservas

Significa dizer que, quando estamos exportando um bem ou um serviço,


estamos recebendo divisas do país que comprou determinado bem ou serviço,
ou seja, teremos uma entrada de recurso (sinal positivo). Devemos lembrar que
o Balanço de Pagamentos segue os mesmos princípios das partidas dobradas.
Como já temos um lançamento a crédito, nos falta um lançamento a débito, feito
na variação de reservas.

TUROS
ESTUDOS FU

Nas próximas seções, estudaremos a estrutura do Balanço de Pagamentos e os


lançamentos contábeis.

No Sistema de Contas Nacionais (SCN) são explicitadas a conta do setor


externo, em que são lançadas as exportações, as importações e a renda líquida
enviada ao resto do mundo referente aos pagamentos e recebimentos relacionados
aos fatores de produção. Na metodologia adotada no Brasil (SNA 2008), também
pode ser encontrada a conta de operações correntes com o resto do mundo, que
contempla lançamentos da interação cada vez maior entre as diversas economias.

Segundo Feijó et al. (2013), no Brasil, assim como na maioria dos demais
países, os registros do Balanço de Pagamento seguem as normas publicadas pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) que, por sua vez, adota uma metodologia
de registro contábil compatível com o Sistema de Contas Nacionais (SCN) da
Organização das Nações Unidas (ONU), sendo este divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), conforme já estudado.

Carvalho e Silva (2007) destacam que o início da contabilização da Balanço


de Pagamentos no Brasil data de 1947, quando os levantamentos eram feitos pelo
Banco do Brasil e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Atualmente, a tarefa é
atribuída ao Banco Central do Brasil (BACEN).

92
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

Assim, o registro e a divulgação do Balanço de Pagamentos brasileiro


disponibilizam estatísticas anuais desde 1947 para o público em geral, estatísticas
trimestrais desde 1979 e estatísticas mensais desde 1995. O quadro a seguir apresenta
as principais contas e subcontas que compõem o Balanço de Pagamentos brasileiro.

QUADRO 17 – RESUMO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL NO ANO DE 2016


Descrição da Conta Valor
1 Conta Corrente -23.546
1.1 Balanço Comercial 45.037
1.2 Balanço de Serviços -30.447
1.3 Balanço de Rendas -38.136
1 Conta Capital 274
2 Conta Financeira -16.415
2.1 Investimento Direto -65.367
2.2 Investimento em Carteira 19.216
2.3 Derivativos -969
2.4 Outros Investimentos 30.705
3 Erros e Omissões 6.857
4 Saldo do Balanço de Pagamento -54.551
5 Haveres da Autoridade Monetária 54.551

Legenda: valores expressos em milhões de dólares.


FONTE: Banco Central do Brasil – BACEN (2018a)

Como se pode observar no quadro acima, o saldo do Balanço de Pagamentos


do Brasil, no ano de 2016, apresenta um saldo negativo de 54.551 bilhões de dólares,
ou seja, o saldo das transações efetuadas entre os residentes brasileiros e o resto do
mundo foi negativo, o que representa uma saída de divisas do país maior do que as
entradas. Entretanto, por que determinada informação é importante?

Devemos lembrar a analogia do desempenho da nota apresentado no


tópico anterior. Esse tipo de informação serve justamente para avaliarmos o
desempenho da economia de um país, no nosso caso, o Brasil, comparativamente
com o resto do mundo, ou seja, incluindo as transações internacionais. Bêrni e
Lautert (2011) são enfáticos ao afirmarem que o Balanço de Pagamentos permite
a realização de comparações entre agregados de diferentes países.

DICAS

As contas completas do Balanço de Pagamentos brasileiro podem ser acessadas


no seguinte endereço eletrônico: Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/
Seriehist_bpm6.asp>. Acesso em: 2 maio 2018.

93
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Braga e Vasconcellos (2011) salientam que as contas do Balanço de


Pagamentos se referem ao fluxo das transações em um dado ano e não indicam
o total de endividamento externo e de reservas internacionais do país, que são
estoques. No entanto, é possível saber a variação da dívida externa por meio da
diferença entre a entrada de empréstimos e os pagamentos efetuados. A partir da
síntese das contas, estudaremos individualmente cada uma delas na próxima seção.

2.1 A ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS


Conforme Carvalho e Silva (2007), o Fundo Monetário Internacional
(FMI) define balanço de pagamentos como o registro sistemático das transações
econômicas entre residentes e não-residentes de um país durante determinado
período de tempo. Como todo plano contábil, o Balanço de Pagamentos consiste
em um conjunto de contas agregadas, que podem ser subdivididas em duas ou
mais subcontas, dependendo do objetivo da análise.

E
IMPORTANT

Quando se trata de transações com o exterior, os registros são efetuados em


dólar norte-americano, que é atualmente o meio de pagamento internacional.

Após a abordagem inicial, a qual foram apresentadas as principais


definições, apresentaremos de forma mais detalhada as contas do Balanço de
Pagamentos. Assim, o Quadro 1 apresenta as contas do Balanço de Pagamento,
subcontas e os respectivos itens.

QUADRO 18 – ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS


Conta Corrente
1 Balança Comercial (transações envolvendo mercadorias tangíveis)
2 Balança de Serviços (transações envolvendo mercadorias intangíveis)
3 Balança de Rendas
4 Transferências Correntes (são transferências e não transações econômicas)
5 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (ou simplesmente saldo da Conta
Corrente do Balanço de Pagamentos)
(5 = 1 + 2 + 3 + 4)
Conta Capital e Financeira
6 Conta Capital
7 Conta Financeira
8 Erros e Omissões

94
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

9 Saldo do Balanço de Pagamentos


(9 = 5 + 6 +7 + 8)
10 Haveres da autoridade Monetária – variação (haveres estrangeiros líquidos e sob controle da
autoridade monetária)
FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012, p. 174-175)

Conforme explicitado no quadro acima, o Balanço de Pagamentos é


dividido em duas grandes contas: Conta Corrente e Conta Capital e Financeira. A
Conta Corrente é dividida em 4 subcontas: 1 – Balança Comercial; 2 – Balança de
Serviços; 3 – Balança de Rendas e 4 – Transferências Corrente. Já a Conta Capital
e Financeira é dividida em 2 subcontas: 6 – Conta Capital e 7 Conta Financeira.
Destacamos ainda que as contas 5 – Saldos do Balanço de Pagamentos; 8 – Erros
e Omissões, 9 – Saldo do Balanço de Pagamento e 6 – Haveres da Autoridade
Monetária são as contas resultantes e/ou complementares das 2 grandes contas
(Corrente e Capital e Financeira).

Assim, o Balanço de Pagamentos apresenta uma estrutura bastante


detalhada das operações que um país realiza com o resto do mundo. A partir
dela, iremos verificar, como se fosse um “passo a passo”, cada um dos itens que
a compõe. O quadro a seguir apresenta a composição da primeira grande conta,
que é a Conta Corrente.

QUADRO 19 – ESTRUTURA DA CONTA CORRENTE


Conta Corrente
1 Balança Comercial (transações envolvendo mercadorias tangíveis)
1.1 Exportações
1.1 Importações
2 Balança de Serviços (transações envolvendo mercadorias intangíveis)
2.1 Viagens e Turismo
2.2 Fretes e Transporte
2.3 Seguros
2.4 Royalties
2.5 Outros
3 Balança de Rendas
3.1 Lucros
3.2 Juros
3.3 Salários
4 Transferências Correntes (são transferências e não transações econômicas)
5 Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes (ou simplesmente Saldo da Conta
Corrente) = [5 = 1 + 2 + 3 + 4]
FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012, p. 174-175)

95
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Podemos observar no Quadro 2, a primeira grande conta, que é a


Conta Corrente (ou Balanço de Transações Correntes). Determinada conta faz
o registro contábil de todas as transações de um país com o resto do mundo,
o qual envolve as transações com mercadorias (Balança Comercial), serviços
(Balança de Serviços), rendas (Balança de Rendas) e transferências unilaterais
(Transferências Correntes).

NOTA

Paulani e Braga (2012) explicam que a estrutura foi adaptada e sintetizada para
fins didáticos. A descrição das contas em sua forma completa deve ser consultada na Nota
Técnica do BACEN nº1 de julho de 2001. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pec/
notastecnicas/port/2001nt01bpm5p.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018.

De forma prática, podemos descrever que a Balança Comercial (subconta


1) registra as transações de compra e venda de bens tangíveis entre os países, mais
especificamente entre residentes e não residentes. O saldo é dado pela diferença entre
as vendas de mercadorias efetuadas pelo país ao exterior (Exportações – item 1.1) e
as compras de mercadorias efetuadas pelo país no exterior (Importações – item 1.1).

Cabe destacar que, na balança, as exportações geram lançamentos a crédito,


enquanto as importações geram lançamentos a débito. Assim, se as exportações
forem maiores que as importações, teremos um superávit na Balança Comercial,
no entanto, se as importações forem maiores que as importações, teremos um
déficit na Balança Comercial.

Conforme Paulani e Braga (2012), existem duas formas de contabilizarmos


as operações. A primeira se refere ao conceito FOB (Free on Board), que representa
o valor do embarque da mercadoria (custo da mercadoria). A segunda ao CIF
(Cost, Insurance and Freight), que inclui, além do custo efetivo da mercadoria,
os fretes e seguros relacionados ao transporte. Na Balança Comercial, tanto as
exportações quanto as importações são registradas pelo valor FOB.

Devemos refletir a respeito do dito por Feijó et al. (2013). Imaginemos que a
importação de um determinado bem teve um custo de US$ 120 para o importador
(CIF), dos quais US$ 15 correspondem ao frete e US$ 105 ao valor propriamente
dito. A Balança Comercial irá registrar somente US$ 105 como importação, sendo
os outros US$ 15 como pagamento de fretes (subconta da Balança de Serviços).

96
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

A conta Balança de Serviços (subconta 2) procura registrar as receitas


e os pagamentos relativos à prestação de serviços do país, ou seja, registrar as
transações na categoria serviços entre residentes e não residentes. Dentre tais
serviços destacamos os transportes, os seguros, as viagens internacionais, os
royalties, a assistência técnica (SANDRONI, 1999). Segundo Feijó et al. (2013, p.
169-170), há alguns dos serviços que são registrados na subconta:

• transportes: serviços relacionados ao transporte de cargas (frete) e passageiros


(passagens), excluindo seguros;

• viagens internacionais: receitas e despesas relacionadas à aquisição de bens e


serviços por viajantes em viagens de negócios ou de turismo com duração de
até 1 ano. A conta não inclui as despesas de passagens, que são registradas na
subconta de transportes;

• seguros: receitas e despesas relativas à provisão de seguros, como o seguro de


cargas, os seguros pessoais, os seguros de vida e os resseguros;

• serviços financeiros: receitas e despesas relativas aos custos de intermediação


financeira, como taxas e comissões associadas a linhas de crédito, operações de
financiamento, consultoria financeira, subscrição de ações, ofertas primárias
de títulos mobiliários etc.;

• computação e informação: receitas e despesas relativas à prestação de serviços


de manutenção, reparo e implementação de software, gerenciamento de
informações e de bases de dados;

• royalties e licenças: receitas e despesas relativas ao uso autorizado de ativos


e direitos de propriedade intangível, como marcas comerciais, patentes,
franquias, livros e filmes;

• aluguel de equipamentos: receitas e despesas relativas ao aluguel ou ao leasing


de máquinas e equipamentos;

• serviços governamentais: receitas e despesas relacionadas aos serviços


prestados por órgãos governamentais no exterior, como as embaixadas e os
consulados, não relacionados com outros itens da Balança de Serviços;

• comunicações: receitas e despesas associadas à comunicação entre o país


e o resto do mundo, a exemplo dos correios e serviços de telecomunicação
proporcionados por residentes para não residentes e vice-versa;

97
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

• construção: serviços de construção e instalação de projetos, prestadores


temporariamente por residentes para não residentes no exterior e vice-versa;

• serviços relativos ao comércio: serviços de representação e intermediação


comercial;

• serviços empresariais, profissionais e técnicos: serviços diversos como


publicidade, honorários de profissionais liberais, participações em feiras e
exposições etc.;

• serviços pessoais, culturais e recreação: serviços audiovisuais e culturais, como


produção de filmes, eventos esportivos e realização de shows e espetáculos;

• serviços diversos: conta residual destinada a registrar todas as transações que


não se enquadram mas categorias anteriores.

A terceira subconta, apresentada no Quadro 2 da Conta Corrente, é a


Balança de Rendas (subconta 3). Determinada subconta registra as receitas e os
pagamentos associados às rendas do trabalho e do capital. De forma mais explícita,
Paulani e Braga (2012) explicam que a Balança de Rendas inclui os pagamentos e
recebimentos referentes às transações relacionadas aos fatores de produção (item
3.1 lucros ou dividendos) ou pagamento e recebimento em função da utilização
do fator capital (item 3.2 juros).

E
IMPORTANT

Ativos intangíveis são os ativos que não possuem existência física. Exemplos:
direitos de exploração de serviços públicos mediante concessão ou permissão do Poder
Público, marcas e patentes, direitos autorais adquiridos, softwares etc.

Cabe destacar as observações de Lima, Silber e Vasconcellos (2012)


a respeito dos lucros e dividendos, que se referem a remessas efetuadas por
empresas multinacionais instaladas no país para os países de origem. Embora
existam empresas brasileiras com filiais no exterior, a presença de multinacionais
no Brasil é muito maior, fazendo com que o resultado líquido seja negativo,
resultando em uma maior saída de dólares do país.

Outra observação apontada pelos mesmos autores consiste no pagamento


de juros, que são devidos tanto pelo setor privado (empresas) quanto pelo setor
público (governo). Como o Brasil, por meio do governo, é um grande tomador
de empréstimos no exterior e não emprestador, a conta líquida dos juros (juros
pagos menos juros recebidos) geralmente tem se apresentado negativa.

98
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

DICAS

Se você retornar à Tabela 1 da seção anterior, você verificará que o item Balança
de Renda apresenta o valor negativo de US$ 38, 1 milhões de dólares.

A quarta e última subconta da Conta Corrente é a conta de Transferências


Correntes, ou também conhecida como Transferências Unilaterais. Segundo
Sandroni (1999), as Transferências Unilaterais registram as entradas ou saídas
de divisas decorrentes, como por exemplo, o envio de recursos ao exterior para
a manutenção de embaixadas e serviços consulares, de imigrantes que mandam
parte de seus salários para familiares em seus países de origem etc.

Paulani e Braga (2012) explicam que as Transferências Unilaterais


envolvem pagamentos ou recebimentos, tanto em moeda quanto em bens, sem
contrapartida, tais como as remessas de recursos realizadas por pessoas que
trabalham em outro país aos seus familiares no país de origem, ou as doações de
um país para outro a título de ajuda humanitária ou reparação de guerra.

A partir do exposto por Paulani e Braga (2012), você consegue imaginar


exemplos das operações? Podemos citar, neste contexto, o recebimento, por parte
do Brasil, do grande número de refugiados, principalmente haitianos, ou então
dos médicos cubanos do programa “Mais Médicos”, do Governo Federal. Caso
determinados trabalhadores, que recebem seus salários no Brasil, enviarem parte
dos valores para seus familiares, determinada transferência é classificada, no
Balanço de Pagamentos, como Transferências Correntes.

Outro exemplo de Transferências Unilaterais se refere aos recursos


enviados, por exemplo, pela ONU para reconstrução das regiões de conflitos e/
ou catástrofes naturais, ou então para a diminuição da pobreza. Assim, o Brasil
tem sido um grande transferidor de recursos financeiros para fora do país.

Segundo Carvalho e Silva (2007), essas transferências consistem em


transações que não envolvem obrigações em contrapartida. Exemplo: donativos
em dinheiro para financiamento dos gastos correntes, donativos de alimentos,
roupas, medicamentos etc. Na categoria se enquadram também as contribuições
para organismos internacionais, organizações não governamentais etc.

Assim, somando os saldos da Balança Comercial (subconta 1), da Balança


de Serviços (subconta 2), da Balança de Rendas (subconta 3) com o resultado
líquido das Transferências Correntes (subconta 4), iremos obter o Saldo da
Balança de Pagamentos em Transações Correntes, ou simplesmente, Saldo em
Conta Corrente (subconta 5).

99
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

E
IMPORTANT

A Balança Comercial registra as exportações e as importações de mercadorias


tangíveis. A Balança de Serviços discrimina as receitas e despesas com mercadorias
intangíveis, como transporte e seguros, por exemplo. Já na Balança das Rendas são
apontadas as transações envolvendo fatores de produção, como recebimento de lucros e/
ou pagamento de juros. Por fim, as Transferências Correntes dão computa os recebimentos
e remessas de recursos ou mercadorias sem contrapartida. Somando os saldos das quatro
contas, obtemos o Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes.

Cabe verificar os apontamentos de Paulani e Braga (2012, p. 177):


Em termos concretos, a ocorrência de um déficit em transações
correntes no balanço de pagamentos, situação muito comum em
países como o Brasil, significa que, em determinado período, o país
“produziu” – por meio da venda de bens, serviços, recebimento de
rendas e recebimento de transferências unilaterais – uma quantidade
de divisas (atualmente em dólares) insuficiente para pagar as despesas
em divisas contraídas no mesmo período.

Assim, como um país financia seus déficits em Conta Corrente? Se


olhássemos para a conta corrente de uma pessoa física, ela poderia recorrer a um
empréstimo bancário e/ou entrar no cheque especial, certo? E um país, então? A
resposta pode ser encontrada na outra grande conta do Balanço de pagamentos,
mais especificamente na subconta 7 (Conta Financeira) e na subconta 10 (Haveres
de Autoridade Monetária).

Quando um país apresenta um déficit em sua conta corrente, o problema


pode ser resolvido se as transações com capital forem superavitárias. Para
entendermos melhor, vamos imaginar que em um determinado ano, o país
pode ter tido um resultado líquido negativo de seu fluxo de receitas e despesas
correntes, mas pode ter recebido recursos em moeda estrangeira em função,
por exemplo, de investimentos externos diretos que tenham sido feitos no país
(compra de um ativo por não residente), ou ainda empréstimos que residentes
tenham obtidos junto a não residentes.

Nesses exemplos, Paulani e Braga (2012, p. 178) explicam que “se o


resultado dessas transações for superavitário em magnitude suficiente para
compensar o déficit da conta corrente, o país terá tido um superávit em seu BP,
apesar do déficit registrado em sua conta corrente”. Os autores alertam que se
isso não acontecer, o país terá que recorrer às reservas (haveres) para honrar
seus compromissos. Necessitamos verificar cada um dos itens da Conta Capital e
Financeira, conforme se demonstra no quadro a seguir

100
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

QUADRO 20 – ESTRUTURA DA CONTA CAPITAL E FINANCEIRA


Conta Capital e Financeira
6 Conta Capital
7 Conta Financeira
7.1 Investimentos Diretos (inclui reinvestimentos e empréstimos intercompanhia)
7.2 Investimentos em Carteira
7.3 Investimentos em Derivativos
7.4 Outros
7.4.1 Empréstimos e Financiamentos (inclui empréstimos de
7.4.2 regularização e amortizações
7.4.3 Crédito Comercial
7.4.4 Moedas e Depósitos
7.4.5 Outros
FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012, p. 174-175)

A Conta Capital (subconta 6) é uma inovação metodológica do Balanço de


Pagamentos adotada pelo BACEN, para que o país se adequasse às diretrizes do
FMI. A diferença entre a conta e as subsequentes (que integram a Conta Financeira
– subconta 7), é que na Conta Capital se registram apenas as transferências
unilaterais de capital, enquanto as restantes registram todas as demais transações
envolvendo capital (PAULANI; BRAGA, 2012).

Silber (2011) destaca que, a Conta Capital e Financeira, relaciona-


se com todas as transações que não se referem à produção. Nela se registram
os investimentos diretos, ou seja, as entradas de capital de risco das empresas
estrangeiras que se estabelecem no país e as saídas de investimentos de empresas
nacionais que se estabelecem no exterior; os empréstimos e financiamentos
obtidos por residentes no exterior (entrada de divisas) e as saídas de empréstimos
concedidos a não residentes (saída de divisas).

E
IMPORTANT

Conta Capital e Financeira: registro de entrada e saída de investimento direto,


investimento em carteira (por exemplo, aplicação e bolsa de valores), derivativos e outros
investimentos.

Já na Conta Financeira (subconta 7) se registram as transações envolvendo


investimentos, empréstimos e financiamentos entre países. Na conta Investimentos
Diretos (ou Investimentos Externos Diretos – IED – item 7.1), contabilizam-se todas
as aquisições e vendas de capital produtivo entre residentes e não residentes. Há a
inclusão de compra e venda de empresas nacionais (privadas ou estatais); aquisições
ou venda de participações societárias e a ampliação e/ou criação de capacidade
produtiva nova no país por iniciativa de empresas ou grupos estrangeiros.
101
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

DICAS

As aquisições entram com sinal positivo (ingresso de divisa no país), já as vendas


entram com sinal negativo (saída de divisa do país).

Paulani e Braga (2012) explicam que quando o resultado da subconta


Investimento Direto (item 7.1) é positivo, o que geralmente acontece em países
menos desenvolvidos (dentre eles o Brasil), significa que os investimentos no
país constituíram uma importante fonte de obtenção de divisas, as quais podem
ser utilizadas para fazer frente aos compromissos externos registrados na Conta
Corrente do Balanço de Pagamentos. Os autores explicam que,

no Brasil, desde o início dos anos 1990, e particularmente depois de


1994, a conta investimentos diretos revestiu-se de extrema importância,
não só em função do acelerado e intenso processo de privatização, que
contou com uma expressiva participação do capital estrangeiro, como
também em função das inúmeras aquisições de empresas de capital
privado nacional por parte de grupos estrangeiros (p. 179).

Nos Investimentos em Carteira (item 7.2) são registradas todas as


transações que envolvem ativos financeiros, tais como títulos públicos, commercial
papers (títulos de dívidas privadas) e ações. Determinados ativos financeiros são
obrigações e direitos de curto prazo, pois operam em mercados secundários onde
podem ser comprados ou vendidos a qualquer momento.

Segundo Feijó et al. (2013, p. 174), a conta “registra as receitas e despesas


relacionadas a investimentos em ações, debêntures e outros títulos de renda fixa
ou variável, além das receitas e despesas ligadas a investimentos em instrumentos
de mercado monetário, como os certificados de depósitos bancários”.

Já nos Investimentos em Derivativos (item 7.3) são registradas as aplicações


financeiras que têm como base ativos derivados de outros ativos, tais como o
ouro, soja, boi, entre outros, mas também podem ser financeiros, como ações,
moedas e taxas de juros. O item foi incluído recentemente na metodologia do FMI
para registrar, separadamente, as receitas e despesas associadas a instrumentos
financeiros cujo valor depende de outros instrumentos financeiros, e sobre o qual
não há pagamento de juros.

102
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

E
IMPORTANT

Derivativos são contratos financeiros cujo valor deriva de outros ativos ou


índices, como os contratos de dólar futuro, as opções de ações e os swaps de taxas de juros
(FEIJÓ et al., 2013, p. 175).

Dentro da Conta Financeira, há o item 7.4, denominado de Outros (Outros


Investimentos). Entretanto, o que é lançado neste item? Vamos primeiramente
entender o que ele significa. Segundo Feijó et al. (2013), o item Outros é uma
conta residual que registra todos os fluxos de capitais que não se enquadram em
nenhuma das definições anteriores. Segundo a metodologia do FMI, ele deve ser
subdividido em quatro grupos:

• empréstimos e financiamentos: empréstimos de curto e longo prazo, incluindo


amortizações e refinanciamentos;

• crédito comercial: financiamentos de curto ou longo prazo associados a


operações de exportação ou importação de bens e serviços, como as operações
de crédito ao fornecedor (supplier´s credit) ou ao comprador (buyer´s credit);

• moedas e depósitos: disponibilidades monetárias de não residentes no país e


de residentes no exterior, como moeda em espécie e depósitos bancários;

• outras operações: todas as operações que não se enquadram nas definições


anteriores, como depósitos de margem relativos à operação com derivativos.

Nos países endividados e anfitriões de empresas multinacionais (poderíamos


afirmar que o Brasil se enquadra em determinado contexto), a Balança de Serviços
(subconta 2) geralmente se apresenta deficitária devido ao pagamento de juros e
pelos lucros e dividendos enviados ao exterior. Se o déficit não for compensado
por um superávit na Balança Comercial (subconta 1), a Conta Capital e a Conta
Financeira (subcontas 6 e 7 respectivamente) terão de obter um superávit muito
elevado para que não ocorra um déficit no Balanço de Pagamentos.

É importante esclarecer que as contas do Balanço de Pagamentos se


influenciam mutuamente. Por exemplo: se na Conta Capital (subconta 6) entrar
uma grande quantidade de investimentos diretos, bem como de empréstimos e
financiamentos, algum tempo depois significará em uma saída mais intensa de
lucros, dividendos e juros pela Balança de Serviços, provocando e/ou aumentando
um eventual déficit no Balanço de Pagamentos (SANDRONI, 1999).

103
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Dada a apresentação das referidas contas (Conta Corrente e Conta Capital


e Financeira), teríamos informações suficientes para apurar o saldo do Balanço
de Pagamentos? Teoricamente sim, mas na prática ainda necessitamos de mais
alguns ajustes. Vamos então a eles.

Vamos imaginar a contabilidade de uma empresa privada. Ela é um pouco


complexa. Então a contabilidade de um país poderia ser diferente? Intuitivamente
não. Em outras palavras, a contabilidade de um país é bem mais complexa do
que a contabilidade de uma empresa privada, dada as suas devidas proporções.
Deve-se principalmente porque os lançamentos a débito e a crédito, efetuados
no Balanço de Pagamentos, provêm de diversas fontes de informações, o que na
prática, gera uma diferença no total líquido das contas.

Paulani e Braga (2012, p. 183) explicam que “apesar do completo respeito


ao princípio das partidas dobradas, a existência de dificuldades operacionais
impede que o resultado final de todos os lançamentos efetuados seja zero”.
Assim, surge o lançamento Erros e Omissões (item 8). Ele é calculado justamente
para tornar nula a somatória de créditos e débitos no Balanço de Pagamentos.
Exerce uma função de “ajuste” das contas.

De forma mais específica, podemos entender que a diferença entre o


Saldo do Balanço de Pagamentos e seu financiamento surge quando se tenta
compatibilizar transações físicas e financeiras nas diversas fontes de informações,
tais como o Banco Central, Departamento de Comércio Exterior, Receita Federal,
entre outros. No entanto, cabe destacar que a regra internacional é admitir para
Erros e Omissões um valor de no máximo 5% da soma dos valores das exportações
com os valores das importações.

E
IMPORTANT

Erros e Omissões: a contabilização do Balanço de Pagamentos pelo sistema


das partidas dobradas, com base em diversas fontes de informações, não garante que o
resultado agregado seja zero. Se o Balanço totaliza saldo líquido diferente de zero, a conta
tem o papel de realizar o balanceamento do conjunto das contas, ou seja, compensar a
sobre-estimação ou subestimação dos demais componentes (CARVALHO; SILVA, 2007).

Assim, a soma da Conta Corrente, Conta Capital e Financeira, ajustada


pelos Erros e Omissões, nos proporciona o resultado final do Balanço de
Pagamentos. Assim, se as receitas totais (entradas) superarem as despesas totais
(saídas), o Balanço de Pagamentos apresentará um superávit, caso contrário,
teremos um déficit. Raro acontece, mas se o total de entradas for igual ao total de
saídas, teremos um equilíbrio no Balanço de Pagamentos.

104
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

Entretanto, quais são as implicações disso na prática? Como pode influenciar


o resultado da economia de um país? Ou ainda, como pode impactar na tomada
de decisão dos governantes? Paulani e Braga (2012) explicam que se o saldo do
Balanço de Pagamentos for positivo, significa que o país acumulou divisas. Assim,
o país pode utilizar o superávit para realizar investimentos em outras economias, ou
lhes conceder empréstimos ou ainda, aumentar as reservas em divisas.

Caso contrário, ou seja, se o resultado for negativo, o país não foi capaz
de gerar os recursos necessários para honrar seus compromissos em moeda
estrangeira. Assim, terá de obtê-los de outras formas: tomar empréstimos, atrair
investimentos estrangeiros e capital de curto prazo, vai consumir suas reservas
(se ainda tiver), pedir socorro ao FMI, ou ainda, em últimos casos, vai deixar de
pagar suas contas (Declaração de Moratória).

Devemos ter em mente que, apesar de ser uma situação pouco confortável,
em termos das relações internacionais, um país pode optar por uma declaração de
moratória em detrimento de se submeter às exigências impostas para a obtenção
de recursos de organismos internacionais de ajuda (PAULANI; BRAGA, 2012),
tais como FMI e Banco Mundial.

E
IMPORTANT

Moratória: no caso das relações econômicas internacionais, a moratória é


uma declaração unilateral do devedor, declarando que não pagará uma dívida nos prazos
e demais condições estipuladas no contrato. Trata-se de medida extrema que em geral
bloqueia o declarante em relação às fontes de crédito internacional. Ou melhor, os fluxos
financeiros internacionais se reduzem drasticamente em relação ao país que declara a
moratória. Em 1987, o governo brasileiro (governo Sarney), na impossibilidade de honrar
seus compromissos externos, declarou a moratória e seu crédito externo foi considerado
value impaired (crédito duvidoso) ou non performing (dívida não paga no vencimento).

Por fim, observamos que o Saldo do Balanço de Pagamentos (subconta 9),


destacado inicialmente no Quadro 19, nada mais é do que o somatório da Conta
Corrente, da Conta Capital e Financeira e da conta Erros e Omissões, e deve ser
idêntico à subconta 10 – Haveres da Autoridade Monetária. A subconta pode
ser considerada como uma “conta de caixa” porque, no conceito das partidas
dobradas da contabilidade, para cada lançamento a crédito, devemos ter um
lançamento a débito.

De forma mais específica, significa dizer que se o Saldo do Balanço de


Pagamentos (subconta 9) apresentar um saldo positivo, as reservas do país devem
se elevar no mesmo montante, que será registrado sob a forma de um resultado
devedor na variação nos Haveres da Autoridade Monetária (subconta 10). De
forma inversa, se o resultado for negativo, significa que o país teve de utilizar
parte de suas reservas (haveres).

105
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

E
IMPORTANT

A Conta Capital e Financeira registra os investimentos, empréstimos,


financiamentos e demais capitais financeiros entre países. Somando o seu saldo ao saldo
da Conta Corrente e, considerando eventuais Erros e Omissões, chega-se ao Saldo do
Balanço de Pagamentos. A variação apresentada pelos Haveres da Autoridade Monetárias
demonstra seu impacto sobre o nível de Reservas Internacionais.

Os Haveres da Autoridade Monetária (subconta 9) consistem em ativos


de reserva internacional que estão disponíveis para utilização por parte do
governo para financiamento dos desequilíbrios no Balanço de Pagamentos e
para regulação do tamanho desses desequilíbrios por meio de intervenções no
mercado de câmbio. Segundo a metodologia do FMI, determinada subconta deve
ser organizada em cinco categorias:

• reservas em moeda estrangeira: moeda estrangeira ou depósitos e títulos de


alta liquidez em moeda estrangeira;

• reservas do FMI: ativos que os países membros do FMI transferiram ao FMI,


em moedas ou ativos de reserva internacional;

• direitos especiais de saque (DES): ativos de reserva emitidos pelo FMI, para
funcionar como um substituto do dólar e do ouro em transações internacionais;

• ouro: ouro em espécie, que pode ser diretamente utilizado como meio de
pagamento em transações domésticas ou internacionais;

• outros haveres: todos os outros ativos de alta liquidez em moeda estrangeira


que não se enquadram nas definições anteriores.

DICAS

Acesse a composição das reservas internacionais do Brasil. Disponível em:


<http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/n/RESERVA>. Acesso em: 2 maio 2018.

106
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

De forma geral, destaca-se que, como o Balanço de Pagamentos segue os


princípios da contabilidade, ou seja, princípio das partidas dobradas, para um
lançamento a crédito em determinada conta deve, obrigatoriamente, deve haver
um lançamento a débito na contrapartida dessa conta, fazendo com que o sistema
total seja sempre “zerado”.

Assim, o Haveres da Autoridade Monetária ganha importância, uma


vez que as transações entre residentes e não residentes saldadas via remessa
de recursos ao exterior (ou vice-versa) têm como contrapartida um lançamento
a débito (ou a crédito) na conta de Reservas Internacionais. Sendo assim, para
compreendermos na prática como funciona os referidos lançamentos, a próxima
seção apresentará a contabilidade do Balanço de Pagamentos.

2.2 A CONTABILIDADE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS


Conforme observamos na seção anterior, respeitando o princípio das
partidas dobradas, sabemos que, para cada um dos lançamentos do Balanço de
Pagamentos, deve obrigatoriamente haver outro lançamento de sinal inverso
em outra conta desse mesmo balanço. Para entendermos os vários tipos de
operações que um país pode fazer com outros países, iremos analisar um exemplo
apresentado por Paulani e Braga (2012, p. 186-194), com operações hipotéticas
realizadas em um determinado período:

A – Residente exporta mercadorias, recebendo à vista US$ 300 milhões.


B – Residente exporta mercadorias no valor de US$ 100 milhões, recebendo US$
50 milhões a prazo e tendo os US$ 50 milhões adicionais depositados em sua
conta corrente no exterior.
C – Residente importa mercadorias, pagando à vista US$ 200 milhões, e
financiando US$ 100 milhões.
D – Residente importa mercadorias no valor de US$ 100 milhões e paga fretes no
valor de US$ 10 milhões.
E – Residente paga a não residente royalties no valor de US$ 20 milhões.
F – Turistas gastam US$ 30 milhões no país.
G – Não residentes compram passagens aéreas de empresa residente no valor de
US$ 5 milhões.
H – Residente remete US$ 50 milhões de lucro ao exterior.
I – Lucros de US$ 20 milhões são reinvestidos no país.
J – Empresa de residentes operando fora do país remete ao país lucros no valor
de US$ 5 milhões.
K – Residentes pagam um total de US$ 50 milhões de juros a não residentes.
L – Empresas de residentes contratam trabalho fora do país e pagam salários de
US$ 15 milhões.
M – Organização social operada por residentes recebe ajuda do exterior para o
desenvolvimento de projetos sociais no valor de US$ 5 milhões.
N – País envia medicamentos a país vizinho abalado por terremoto no valor de
US$ 4 milhões.

107
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

O – Imigrantes no país remetem recursos a seus familiares no exterior no valor


de US$ 5 milhões.
P – Famílias deixam o país e levam patrimônio de US$ 5 milhões.
Q – Empresa não residente adquire empresa residente no valor de US$ 25
milhões.
R – Empresa do país empresta US$ 10 milhões a sua filial no exterior.
S – Não residentes investem US$ 50 milhões em derivativos no país, com margem
de 10%.
T – Residentes liquidam operações em derivativos no exterior, com perda de
US$ 10 milhões.
U – País emite e vende títulos da dívida pública no exterior no valor de US$ 25
milhões.
V – Residentes pagam amortizações de empréstimos no valor de US$ 35 milhões.

Para entendermos como determinadas operações são contabilizadas no


Balanço de Pagamentos, o quadro a seguir apresenta os lançamentos necessários
para registrar as transações econômica e financeira.

QUADRO 21 – LANÇAMENTOS CONTÁBEIS RELATIVOS ÀS OPERAÇÕES DO BALANÇO DE


PAGAMENTOS
Operação Conta(s) debitada(s) Conta(s) creditada(s)
A Haveres – 350 milhões Exportações – 350 milhões
Crédito Comercial – 50 milhões
B Exportações – 100 milhões
Moeda e Depósitos – 50 milhões
Haveres – 200 milhões
C Importações – 300 milhões
Crédito Comercial – 100 milhões
Importações – 100 milhões Haveres – 100 milhões
D
Fretes e Transportes – 10 milhões Haveres – 100 milhões
E Royalties – 20 milhões Haveres – 20 milhões
F Haveres – 30 milhões Turismo – 30 milhões
G Haveres – 5 milhões Viagens e Turismo – 5 milhões
H Lucro – 50 milhões Haveres – 50 milhões
I Lucro – 20 milhões Investimentos Diretos – 20 milhões
J Haveres – 5 milhões Lucros – 5 milhões
K Juros – 50 milhões Haveres – 50 milhões
L Salários – 15 milhões Haveres – 15 milhões
M Haveres – 5 milhões Transferências Correntes – 5 milhões
N Transferências Correntes – 4 milhões Exportações – 4 milhões
O Transferências Correntes – 6 milhões Haveres – 6 milhões
P Conta Capital – 5 milhões Haveres – 5 milhões
Q Haveres – 25 milhões Investimentos Diretos – 25 milhões
R Investimentos Diretos – 10 milhões Haveres – 10 milhões
Investimentos em Carteira – 5
S Haveres – 5 milhões
milhões

108
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

T Investimentos em Carteira – 10 milhões Haveres – 10 milhões


Investimentos em Carteira – 25
U Haveres – 25 milhões
milhões
Empréstimos e Financiamentos – 35
V Haveres – 35 milhões
milhões

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 190-191)

Conforme podemos observar no quadro a seguir para todas as operações


apresentadas no exemplo anterior, há um lançamento a débito e outro a crédito.
A partir de tais lançamentos, o Quadro 5 apresenta a construção do Balanço de
Pagamentos.

QUADRO 22 – BALANÇO DE PAGAMENTOS


Conta Corrente
1 – Balança Comercial: + 454 – 400 = + 54
1.1 Exportações: + 350 (A) + 100 (B) + 4 (N) = 454
1.2 Importações: - 300 (C) – 100 (D) = - 400
2 – Balança de Serviços: + 35 – 10 – 20 = + 5
2.1 Turismo: + 30 (F) + 5 (G) = + 35
2.2 Fretes e Transportes: - 10 (D) = - 10
2.3 Seguros: 0
2.4 Royalties: - 20 (E)
2.5 Outros: 0
3 – Balança de Rendas: - 65 -50 -15 = - 130
3.1 Lucros: - 50 (H) – 20 (I) + 5 (J) = - 65
3.2 Juros: - 50 (K)
3.3 Salários: - 15 (L)
4 – Transferências Correntes: + 5 (M) – 4 (N) – 6 (O) = - 5
5 – Saldo do Balanço de Pagamentos em Transações Correntes = + 54 + 5 -130 – 5 = - 76
Conta Capital e Financeira
6 – Conta Capital: - 5 (P)
7 – Conta Financeira: + 35 + 20 – 35 = + 20
7.1 Investimentos Diretos: + 20 (I) + 25 (Q) – 10 (R) = + 35
7.2 Investimentos em Carteira: + 5 (S) – 10 (T) + 25 (U) = + 20
7.3 Outros: - 35 + 50 – 50 = - 35
7.3.1 Empréstimos e Financiamentos: - 35 (V)
7.3.2 Crédito Comercial: - 50 (B) + 100 (C) = + 50
7.3.3 Moeda e Depósito: - 50
7.3.4 Outros: 0
8 – Erros e Omissões: 0
9 – Saldo do Balanço de Pagamentos: - 76 – 5 + 20 = - 61
10 – Haveres da Autoridade Monetária (variação): + 61
FONTE: Adaptado de Paulani e Braga (2012, p. 191-192)

109
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Como podemos verificar e analisar de acordo com o exemplo proposto e


demonstrado no Quadro 5, o país apresentou um déficit em sua conta corrente de
US$ 76 milhões decorrente, principalmente, do resultado da Balança de Rendas,
cujo déficit foi de US$ 130 milhões. Assim, apesar do superávit de US$ 54 milhões
na Balança Comercial, o resultado geral foi negativo, tendo gerado um resultado
deficitário nas Transações Correntes de US$ 5 milhões.

Como discutido na seção anterior, caso as Transações Correntes apresentem


um resultado deficitário, há a necessidade de ser financiado de alguma outra
forma, sendo uma das possibilidades, supridas pelas operações na Conta Capital
e Financeira. Nesse exemplo, o movimento de capitais contribuiu positivamente,
pois gerou um resultado positivo de US$ 15 milhões. No entanto, o valor não foi
suficiente para compensar o déficit apurado na Conta Corrente do Balanço de
Pagamentos, resultando assim em um saldo negativo de US$ 61 milhões.

Foi demonstrado que, novamente, nesse exemplo, o país foi incapaz de


gerar, com suas operações descritas na Conta Corrente, bem como na Conta
Capital e Financeira, montante necessário de divisas para honrar todos os seus
compromissos (pagamentos) dentro do período em questão. Fez com que as
reservas do país se reduzissem em um montante idêntico ao do déficit no Balanço
de Pagamentos o que, na conta Haveres da Autoridade Monetária, significa um
resultado positivo. Assim, podemos verificar que o valor apresentado na conta
Haveres da Autoridade Monetária é exatamente igual ao valor apresentado no
Saldo do Balanço de Pagamentos (com sinais inversos).

Dada a apresentação, além da análise do presente exemplo, conseguimos


discutir as estruturas e a mecânica contábil do Balanço de Pagamentos. Cabe
ainda ressaltar que os lançamentos do Balanço de Pagamentos são feitos em
moeda estrangeira, sendo o dólar a moeda de referência para as transações
internacionais. Ressaltamos que a moeda usada pelos residentes é a moeda
doméstica (PAULANI; BRAGA, 2012).

Historicamente, a economia brasileira costuma apresentar uma Balança


Comercial superavitária (exportações maiores que as importações), mas uma
Balança de Serviços e de Renda deficitárias, principalmente devido ao pagamento
de juros da dívida externa, além das remessas de lucros e pagamentos de fretes,
seguros e royalties. Assim, apresentamos o quadro a seguir, demonstrado o
Balanço de Pagamentos do Brasil a partir de 2001.

110
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

QUADRO 23 – BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL – 2001-2016

FONTE: Banco Central do Brasil – BACEN (2018a)

Mesmo que na maioria dos anos a Balança Comercial tenha sido


superavitária, o saldo tem sido superado em quase todos os anos pelo saldo
negativo da Balança de Serviços e da Balança de Rendas, o que torna a Balança
de Transações Correntes negativa. Percebe-se ainda que, em quase todos os
períodos, o Balanço de Pagamentos do Brasil tem se mostrado negativo, o que
altera significativamente o volume das reservas internacionais do país.

2.3 BALANÇO DE PAGAMENTOS E CONTAS NACIONAIS


Conforme os apontamentos de Feijó et al. (2013), o Balanço de Pagamentos
está intimamente ligado ao Sistema de Contas Nacionais (SCN), o qual discutimos
no Tópico 1 da unidade de estudo. Para analisar tal relação, iniciaremos
verificando a definição do Produto Interno Público (PIB) sob a ótica da despesa.
Assim, podemos definir o PIB sob a Equação 1:

Y = C + I + X – M (1)

111
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Sendo:

Y = Produto Interno Bruto (PIB).


C = Consumo Total (privado e público).
I = Investimento Total (privado e público).
X = Exportações de Bens e Serviços.
M = Importações de Bens e Serviços.

Já em relação à ótica da renda, o Produto Interno Bruto (PIB) é definido


pela Equação 2:

PIB = RNB + RLEE (2)

Sendo:

RNB = Renda Nacional Bruta.

RLEE = Renda Líquida Enviada ao Exterior.

Cabe ainda destacar que a Renda Líquida Enviada ao Exterior (RLEE) é


o resultado da renda do trabalho e do capital enviado ao exterior e da renda do
trabalho e do capital recebidos do exterior. Para a equação, devemos ainda inserir
as transferências unilaterais líquidas de renda recebidas do exterior, o que gera a
Equação 3:

PIB = RNB + TRU + RLEE – TUR (3)

E, portanto, compõe a Equação 4:

PIB = RDB + RLEE – TUR (4)

Sendo:

RDB = Renda Disponível Bruta.

RLEE = Renda Líquida Enviada ao Exterior.

TUR = Transferências Unilaterais Líquidas de Renda Recebida do Exterior.

Cabe destacar a Renda Disponível Bruta (RDB), que é a somatória da


Renda Nacional Bruta (RNB), sendo essa a renda disponível para consumo
e investimento por parte dos agentes residentes no país, e as Transferências
Unilaterais (TUR), que são representadas pelas transferências recebidas do setor
externo por parte dos residentes do país.

112
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

Assim, podemos entender que o saldo da Conta Corrente do Balanço de


Pagamentos é a somatória do saldo da Balança Comercial (exportações menos as
importações), do saldo da Balança de Rendas (rendas recebidas do exterior menos
as rendas enviadas para exterior) e das Transferências Correntes (transferências
recebidas do exterior menos as transferências recebidas do exterior). Concluindo,
um superávit em Conta Corrente indica que um país gasta menos que sua renda
disponível em consumo e investimentos. O contrário também é verdadeiro.

DICAS

Para demais relações entre o Sistema de Contas Nacionais (SCN) e o Balanço


de Pagamentos, recomendamos a leitura complementar de Paulani e Braga (2012) e Feijó
et al. (2013).

As análises até aqui apresentadas não pretendem ser exaustivas do ponto


de vista das relações entre o Sistema de Contas Nacionais (SCN) e o Balanço
de Pagamentos, bem como não abrangem todas as interpretações que existem
para cada uma das transações possíveis, tanto das relações internas quanto das
transações com o resto do mundo. Assim, o objetivo do estudo foi o de utilizar de
conceitos e exemplos para ilustrar suas estruturas básicas.

113
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Carta de Conjuntura – Setor Externo

A manutenção de um cenário externo favorável, a redução do risco país,


por um lado, e a queda das taxas de juros, por outro, vêm contribuindo para
manter a taxa de câmbio relativamente estável. O superávit comercial continua
crescendo, atingindo US$ 58,5 bilhões nos primeiros dez meses do ano, 51,8%
acima do mesmo período do ano passado, resultado de exportações de US$ 183,5
bilhões e importações de US$ 125,0 bilhões.

As exportações, que chegaram a cair nos primeiros meses deste ano,


voltaram a crescer, com elevação de 19,9% no acumulado até outubro. As
exportações de básicos cresceram pelo segundo mês consecutivo, se aproximando
dos níveis observados em 2014, quando começaram a declinar. As de
manufaturados, por sua vez, vêm oscilando este ano, porém em um patamar bem
acima do registrado em quase todo o ano passado. O crescimento das exportações
vem sendo impulsionado basicamente pelos preços mais altos, uma vez que as
quantidades vêm permanecendo relativamente estáveis. As importações também
têm apresentado desempenho positivo nos últimos três meses, com elevação de
9,1% no acumulado do ano, puxadas principalmente pelos bens intermediários
(apesar de uma queda em outubro, em termos dessazonalizados), combustíveis
e lubrificantes e bens de capital. Nos meses recentes, nota-se um aumento das
quantidades importadas, em que pese uma redução em outubro.

O déficit em transações correntes alcançou US$ 343 milhões em outubro,


acumulando US$ 3 bilhões no ano até outubro, ou 0,18% do PIB. Com o resultado,
a variação positiva do saldo em conta corrente foi de US$ 13,9 bilhões no
acumulado do ano, equivalente a 0,81% do PIB. No mesmo período, a balança
comercial foi de US$ 56,1 bilhões, quase US$ 20 bilhões acima do registrado em
igual período de 2016, devido, principalmente, à forte elevação das exportações.
Em compensação, os demais itens da conta corrente tiveram variação negativa
neste período: os serviços com queda de US$ 2,3 bilhões, a renda primária com
redução de US$ 3,1 bilhões, e a renda secundária com redução de US$ 0,5 bilhão.

Ao mesmo tempo, o ingresso líquido de capitais, pela conta capital e


financeira, ficou em –US$ 442 milhões no acumulado do ano, um resultado US$
10,8 bilhões abaixo do registrado em igual período do ano passado. Por um lado,
os ingressos líquidos de investimentos diretos aumentaram em US$ 9,4 bilhões
no período e os investimentos em carteira cresceram em US$ 13,1 bilhões. Em
compensação, os outros investimentos sofreram redução de US$ 27,8 bilhões.
Merece destaque também a redução do déficit em conta corrente como proporção
do PIB de 1,13% nos primeiros 10 meses de 2016 para 0,18% no mesmo período
deste ano. De acordo com as projeções do Banco Central, a variável deverá
aumentar gradualmente ao longo do próximo ano. A situação mais favorável do
balanço de pagamentos vem proporcionando um aumento da posição de reservas

114
TÓPICO 2 | BALANÇO DE PAGAMENTOS: CONCEITOS, ESTRUTURA E REGISTROS

internacionais, que passaram de US$ 372,8 bilhões em novembro do ano passado


para cerca de US$ 381 bilhões no final de novembro deste ano, no conceito de
liquidez internacional, que inclui o saldo de linhas com recompra e empréstimos
em moedas estrangeiras.

FONTE: IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Carta Conjunta. Setor Externo. 2017.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/171130_cc_37_
setor_externo.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2018.

115
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Balanço de Pagamentos é um documento em que se registram as transações


econômicas de um país com o resto do mundo (ou entre residentes e não
residentes) durante um determinado período de tempo.

• Definem-se como residentes de um país todas as pessoas, físicas ou jurídicas,


que tenham esse país como seu principal centro de interesse: pessoas que
moram permanentemente no país; todas as empresas sediadas no país,
inclusive as filiais de empresas estrangeiras; e o próprio governo. Incluem-se
ainda, na categoria, embaixadas e consulados que se encontram em outro país.
Por exclusão, temos a definição de não residentes.

• A contabilização do Balanço de Pagamentos obedece ao princípio das partidas


dobradas. As entradas de divisas são contabilizadas como crédito e as saídas
como débito.

• O Balanço de Pagamentos é composto por duas grandes contas: a Conta


Corrente, que registra o comércio de bens e serviços e a Conta Capital e
Financeira, que registra os fluxos de capital.

• Possui ainda uma conta de Erros e Omissões para registrar discrepâncias entre
as transações registradas.

• Os Haveres da Autoridade Monetária destinam-se a registrar as variações das


reservas internacionais com sinal negativo.

• Os fluxos do Balanço de Pagamentos afetam a posição internacional de


investimentos do país, ou seja, a diferença entre o total de ativos e passivos
externos detidos por residentes.

• Déficits na Conta Corrente do Balanço de Pagamentos devem ser compensados


por superávits na Conta Capital e Financeira. Caso contrário, teremos um saldo
total deficitário no Balanço de Pagamentos, que resultará na redução nas
Reservas Internacionais.

• Superávits no saldo total do Balanço de Pagamentos resultará em um aumento


nas Reservas Internacionais.

116
AUTOATIVIDADE

1 O que é Balanço de Pagamentos?

2 Por que o déficit na Conta Corrente pode implicar a dívida externa?

3 O que é e o que causa uma crise no Balanço de Pagamentos?

4 O que significa ajustar o Balanço de Pagamentos?

5 Supondo: superávit comercial de US$ 5 bilhões, déficit na Balança de


Serviços de US$ 7 bilhões, transferências unilaterais positivas de US$ 2
bilhões e superávit de US$ 6 bilhões no movimento de capitais, responda:

a) Qual é o saldo em Conta Corrente do Balanço de Pagamentos?


b) Qual é o saldo do Balanço de Pagamentos?

117
118
UNIDADE 2 TÓPICO 3

MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO

1 INTRODUÇÃO
Anteriormente, você estudou o Sistema de Contas Nacionais que,
juntamente com a matriz insumo-produto, integram a contabilidade nacional de
uma país. Neste tópico, vamos estudar a matriz de insumo-produto, que foi criada
pelo economista Wassily W. Leontief, que tem por objetivo aferir o resultado da
atividade econômica em um país.

A matriz insumo-produto é conhecida como Matriz de Relação


Intersetorial ou também como Matriz de Leontief, e mostra todas as transações
agregadas de bens intermediários e de bens finais da economia em um determinado
período de tempo (PINHO; VASCONCELOS, 2004).

Podemos dizer que a matriz insumo-produto é uma “radiografia


estruturada” da economia, pois através dela conseguimos observar todas as
transações de compra e venda realizadas entre os setores. Assim, conseguimos
ver, por exemplo, o que uma indústria de calçados vende para os demais setores
e consumidores e como determinado setor efetua suas compras.
[...] As relações que integram a CADEIA PRODUTIVA definem
as responsabilidades de cada setor, desde a extração das matérias
primas, passando pelo processamento intermediário, transformação
em produto acabado e devida comercialização no mercado final,
caracterizando, assim, uma “radiografia” do VBP – Valor Bruto da
Produção (FEIJÒ et. al., 2013, p. 111).

Ainda, a matriz insumo-produto estabelece coeficientes técnicos de


produção, ou seja, demonstra a necessidade que determinado setor I necessita do
setor J (em R$). Por exemplo, o setor de massas alimentícias produz R$ 100,00 e
compra R$ 40,00 de trigo. Seu coeficiente técnico é de

ayx = 40 = 0,4
100

O coeficiente permite realizar previsões da produção de cada setor, fixadas


algumas metas de demanda. Permite ainda que consigamos ter uma visão dos
prováveis resultados da utilização de diversas alternativas de políticas econômicas.

119
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

E
IMPORTANT

para que as autoridades incentivem a produção de bens de consumo, é


necessário estimar o que ocorre com a produção dos demais setores, conhecendo os
coeficientes técnicos.

Determinados coeficientes também são chamados de coeficientes de uso


e permitem fazer previsões da produção de cada setor, fixadas algumas metas de
demanda (PINHO; VASCONCELOS, 2004, p. 288).

2 DESAGREGAÇÃO DAS CONTAS NACIONAIS: AS MATRIZES


DE INSUMO-PRODUTO
Agora que você já estudou a definição da matriz insumo-produto,
vamos trabalhar de forma mais detalhada a sua esquematização. Inicialmente,
dividimos a economia em “n” setores de produção. Representamos por X1 o valor
da produção do setor I. Consideramos que parte da produção “n” é demanda
por vários setores da economia nacional como meio de produção (demandas
intersetoriais).

Uma forma simples para que você possa compreender a ideia da matriz
insumo-produto, bem como a sua forma de funcionamento e aplicabilidade,
é considerar uma economia com três setores econômicos, que estabelecem
transações econômicas entre si. Se Xij representa as vendas do setor i para o setor
j, podemos construir a tabela a seguir.

QUADRO 24 – COMPRAS E VENDAS SETORIAIS EM UMA ECONOMIA DE TRÊS SETORES


Compras setoriais
Setores Demanda Final Produção Bruta
Vendas Setoriais
1 2 3
1 X11 X12 X13 Y1 X1
Setores
2 X21 X22 X23 Y2 X2
3 X31 X32 X33 Y3 X3
Valor adicionado V1 V2 V3 - -
Produção bruta X1 X2 X3 - -

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 71)

120
TÓPICO 3 | MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO

Podemos observar que as vendas do setor i para o setor j são uma


proporção constante do valor da produção do setor j, e pode ser apresentada
matematicamente como:

Xij = aij Xj

Xij
Considerando que a = , podemos construir a chamada matriz de
Xj
coeficientes técnicos, representada no quadro a seguir:

QUADRO 25 – MATRIZ DE COEFICIENTES TÉCNICOS

1 2 3
1 a11 a12 a13
2 a21 a22 a23
3 a31 a23 a33
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 71)

Assim, como Xij = aijXj , temos o seguinte sistema de equações:

a11X1 + a12X2 + a13X3 + Y1 = X1


a21X1 + a22X2 + a23X3 + Y2 = X2
a31X1 + a32X2 + a33X3 + Y3 = X3

Utilizando a notação matricial, determinado sistema pode ser escrito,


conforme Paulani e Braga (2012) como:

AX + Y = X

Assim, levantamos uma questão importante: qual deveria ser a produção


bruta de cada setor para atender a uma determinada configuração da demanda
final? Para responder ao questionamento, de acordo com Paulani e Braga (2012),
podemos utilizar algebricamente:

(I – A) X = Y
X = (I – A)-1 Y

Sendo a matriz (I – A)-1 chamada matriz de Leontief e I a matriz identidade.

Nosso objetivo é, a partir do cálculo de (I – A)-1 e a partir da matriz de


coeficiente técnicos, verificarmos para cada setor qual o volume de produção
necessário para atender a uma determinada configuração da demanda.

121
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

Vejamos o exemplo a seguir, desenvolvido por Paulani & Braga (2012):

QUADRO 26 - MATRIZ DE COMPRAS E VENDAS INTERSETORIAIS

Compras setoriais
Setores Demanda Final Produção Bruta
Vendas Setoriais
1 2 3
1 45 240 15 200 500
Setores
2 90 600 210 2.000 2.900
3 0 144 0 1.808 1.952
Valor adicionado 365 1.916 1.727 4.008 -
Produção bruta 500 2.900 1.952 - 5.352

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 72)

A partir das informações descritas no quadro anterior, podemos elaborar,


para uma determinada economia, a seguinte matriz de coeficientes técnicos, que
se referem aos gastos de cada setor. Sendo assim:

X11 X12 X13 45 240 15


=a11 = a12= a13 = a11 = a12 = a13
X1 X2 X3 500 a12 2.900 1.952
X21 X22 X23 90 600 210
=a21 = a22= a23 = = a11 a12 = a13 =
X1 X2 X3 500 2.900 1.952
X31 X32 X33 0 144 0
=a31 = a32 a33 = =a11 = a12 a13 =
X1 X2 X3 500 2.900 1.952

QUADRO 27 – MATRIZ DE COEFICIENTES TÉCNICOS

1 2 3
1 0,09 0,08 0,01
2 0,18 0,21 0,11
3 0,00 0,05 0,00

FONTE: Paulani & Braga (2012, p. 72).

Assim, a partir do quadro anterior, chegamos ao seguinte sistema:



0,09X1 + 0,08X2 + 0,01X3
0,18X1 + 0,21X2 + 0,11X3
0,00X1+ 0,05X3 + 0,00X3

122
TÓPICO 3 | MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO

Entretanto, para alcançarmos o valor da Matriz Inversa final, ou seja,


o resultado final da Matriz dos coeficientes técnicos, os usos de softwares são
indispensáveis, dado a complexidade que remete a aplicação matemática.

Após isso,o resultado da Matriz apresentaria os seguintes resultados:

QUADRO 28 – RESULTADO DA MATRIZ DE COEFICIENTES TÉCNICOS


1,12233 0,11845 0,02137
(I-A)-1
0,25645 1,29649 0,14145
0,01273 0,06438 1,00702
FONTE: Paulani & Braga (2012, p. 72).

Determinados resultados resultam no seguinte sistema:

X1 = 1,12233Y1 + 0,11845Y2 + 0,02137Y3


X2 = 0,25645Y1 + 1,29649Y2 + 0,14145Y3
X3 = 0,01273Y1 + 0,06438Y3 + 1,00702Y3

O sistema construído, com base na Matriz de Leontief ou matriz insumo-


produto, fornece as informações de produção dos setores 1, 2 e 3, necessários para
atender à demanda Y1, Y2 e Y3.

Chegamos ao fim da Unidade 2 do Livro de Estudos de Contabilidade Social.


No decorrer de seus estudos, você pôde observar que a nova metodologia da Contas
Nacionais é bastante completa. Foi possível estudar diversos conceitos e definições.
Na próxima unidade, vamos estudar o funcionamento do sistema monetário.

123
UNIDADE 2 | O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS E O BALANÇO DE PAGAMENTOS

LEITURA COMPLEMENTAR

Matriz Insumo-Produto

Em 2015, o IBGE publicou a nova série do Sistema de Contas Nacionais


– referência 2010. Sua divulgação incorporou os avanços metodológicos
presentes no manual System of National Accounts 2008, SNA 2008, e foi
precedida de seminários técnicos realizados com usuários e especialistas, sendo
complementada com a disponibilização, em 2016, de relatório metodológico
sobre variados aspectos do Sistema.

Dando continuidade ao aprimoramento do Sistema de Contas Nacionais


– referência 2010, o IBGE divulga, nesta publicação, a Matriz de Insumo-Produto
2010. Os resultados proporcionam uma visão detalhada da estrutura produtiva
brasileira e permitem avaliar o grau de interligação setorial da economia e também
os impactos de variações na demanda final dos produtos mediante a identificação
dos diversos fluxos de produção de bens. A publicação apresenta resultados
para 12 atividades econômicas e 12 produtos, considerações metodológicas
sobre o modelo matemático no qual o IBGE se baseou para o cálculo da matriz
de coeficientes técnicos, bem como os procedimentos utilizados na adaptação de
sugestões teóricas à realidade brasileira.

O conjunto das informações também está disponível no portal do IBGE


na internet. Podem ser consultadas, adicionalmente, tabelas com maior nível de
detalhamento, nas seguintes versões: 20 atividades por 20 produtos e 67 atividades
por 127 produtos.
FONTE: IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Contas Nacionais. 2018.
Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/contas-
nacionais/9085-matriz-de-insumo-produto.html?=&t=sobre>. Acesso em: 17 abr. 2018.

124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você estudou que:

• A matriz insumo-produto mostra todas as transações agregadas de bens


intermediários e de bens finais da economia em um determinado período de
tempo.

• A matriz insumo-produto estabelece coeficientes técnicos de produção, ou


seja, demonstra a necessidade que determinado setor I necessita do setor J.

• O coeficiente de uso permite fazer previsões da produção de cada setor, fixadas


algumas metas de demanda.

125
AUTOATIVIDADE

1 O que é a matriz-insumo produto?

2 O que são os coeficientes técnicos de produção?

126
UNIDADE 3

SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES


ECONÔMICOS E SOCIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de:

• compreender o funcionamento e a estrutura do sistema financeiro nacional;

• compreender a importância dos índices na análise econômica;

• entender a construção dos indicadores e sua aplicabilidade na economia.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

TÓPICO 2 – ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

TÓPICO 3 – INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

127
128
UNIDADE 3
TÓPICO 1

CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

1 INTRODUÇÃO
O sistema monetário contempla um conjunto de instituições responsáveis
pela emissão de moeda no país. Os sistemas monetários são responsáveis não
somente pelo tipo de moeda que será colocado no mercado, mas também pelo
processo de fabricação e as condições para a circulação e aceitação.

NOTA

O sistema monetário é o ordenamento jurídico do dinheiro ou da moeda.

Podemos dizer que o sistema monetário de país é compreendido pela


legislação que regula o uso dos tipos de moedas adotados com base na unidade
monetária ciada por lei. Atualmente, a unidade monetária utilizada no Brasil
entrou em vigor em julho, em 1994 e recebeu o nome de Real.

Entretanto, você deve lembrar que antes do real outras moedas existiram no
Brasil, não é mesmo? Com certeza seus avós e seus pais já devem ter comentado sobre
moedas antigas que existiam no passado, como o cruzeiro, o cruzado, entre outras.

O órgão responsável pela emissão de moedas em nosso país é o Banco


Central do Brasil, embora toda a fabricação da moeda metálica e do papel-moeda
seja realizada pela Casa da Moeda do Brasil. A moeda, assim, recebe o nome de
meios de pagamento:
Em termos agregados, a quantidade de meios de pagamento, presente
em uma economia em determinado momento, está relacionada com a
quantidade de papel-moeda (moeda corrente) e com os depósitos em
vista do público nos bancos comerciais (moeda escritural) (PAULANI;
BRAGA, 2012, p. 258).

129
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Assim, podemos dizer que:

Meios de pagamento = moeda em poder do público + depósitos à vista nos


bancos comerciais.

Assim, para que você compreenda melhor a função da moeda na economia,


estudaremos a moeda corrente e a moeda escritural de forma mais detalhada.

2 MEIOS DE PAGAMENTO: MOEDA CORRENTE E MOEDA


ESCRITURAL

Vamos estudar mais alguns conceitos que o ajudarão na compreensão do


estudo das contas monetárias e financeiras. Entretanto, antes de estudarmos os
meios de pagamento, vamos recordar alguns conceitos sobre moeda. Você lembra
o que são as moedas?

Moeda: é um ativo financeiro de aceitação geral, utilizado na troca de bens


e serviços, que tem poder liberatório (capacidades de pagamento) instantâneo
(VASCONCELOS, 2011). Existem três tipos de moeda:

Moeda metálica: emitida pelo banco central e tem o objetivo de facilitar as


operações de pequeno valor e/ou como unidade de monetária fracionada (serve
de troco).

Papel-moeda emitido (pme), também chamado de moeda corrente: em


uma sociedade moderna, cabe ao governo a responsabilidade pela emissão e
aceitação do papel-moeda pela sociedade em geral.

No Brasil, como vimos anteriormente, a instituição responsável pela


produção do papel-moeda é a casa da Moeda do Brasil, e a responsabilidade
pela quantidade deste a ser emitido é o Banco Central do Brasil. O papel-moeda
indica a parcela significativa da quantidade de dinheiro em poder do público
(VASCONCELOS; GARCIA, 2008).

Você pode observar que, no conceito de papel-moeda, fizemos referência


ao público que, no caso, são os agentes econômicos (família, empresa e governos)
que você já estudou anteriormente em outras disciplinas.

Também temos os bancos comerciais, que são as instituições financeiras


legalmente constituídas e autorizadas pelo Banco Central pelo recebimento dos
depósitos de valores à vista. Entretanto, nem todas as instituições financeiras
são bancos comerciais. Alguns bancos apenas realizam investimentos e recebem
depósitos à vista como o JP Morgan, Fininvest, BTG Pactual etc.
130
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

Moedas escriturais: são criadas pelos bancos comerciais. Podemos dizer


que a criação dos bancos comercias está ligada à criação do papel-moeda, e as casas
comerciais depositavam as moedas de ouro e prata em troca de recibo de depósitos.

As casas, com passar do tempo, foram se transformando nos bancos


comerciais que conhecemos hoje e perceberam, no decorrer dos anos, que
dificilmente todos os depositantes iram requerer o dinheiro depositado ao mesmo
tempo. Assim, viram a possibilidade de empréstimo dos recursos aos outros
agentes econômicos utilizando o pagamento de juros.

NOTA

Juros é o ganho que temos quando uma quantia de dinheiro é emprestada ou


aplicada (investimento).

Vejamos como funcionava a transação. Se a casa comercial tivesse


$100.000,00 depositados em moedas de ouro, poderia emprestar até $80.000 para
outros agentes. Partia do princípio de que, dificilmente, mais do que 20% dos
depositantes poderiam requerer os valores depositados juntamente.

Ao realizar o empréstimo, considerava-se que naquele momento o


montante de moeda na economia seria $180.000, uma vez que os $80.000 foram
transformados em poder de compra, sem que os proprietários reais viessem a
perder seu direito. Assim, os bancos passariam a ter o poder de multiplicação
da moeda corrente, gerando maior liquidez (poder de compra imediatamente
disponível) na economia.

NOTA

Liquidez: Se a liquidez é a facilidade e rapidez que certos bens, serviços, direitos


etc. têm para poderem se transformar em dinheiro (serem vendidos a terceiros), então a
moeda, o dinheiro, é o objeto que tem a maior liquidez dentre todos os demais. Entretanto,
a liquidez somente acontece quando a moeda é aceita em todas as transações de compra
e venda (FEMENICK, 2005).

131
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Para que você compreenda melhor a transação, considere que João foi ao
banco X e depositou $1.000 em moeda corrente. O banco X mantém $250 do valor
(ou seja, 25%) no seu caixa e empresta $750 para Maria, que toma o empréstimo
para comprar uma máquina de costura. Alice recebe de Maria $750 e deposita no
Banco W.

O Banco W retém $200 em seu caixa e empresta $550 para Paulo, que vai
pagar sua conta no açougue do bairro. O dono do açougue, Sr. Juca, deposita o
dinheiro que recebeu no banco Alfa que, por sua vez, fica com $150 e empresta
$400 para o Pedro, que utiliza o dinheiro para o pagamento do aluguel para
Thiago, que deixa o dinheiro na sua carteira.

Assim, podemos observar que o valor inicial de $1.000, ao final de todas


as transações, totalizou $2.700, sendo que João ($1.000), Alice ($750) e Juca ($550)
possuíam depósitos à vista totalizando $2.300. Os $600 restantes de moeda
corrente estão nos bancos comerciais $250 no banco X, $200 no banco W e $150 no
banco Alfa) e não fazem parte dos meios de pagamentos, pois não estão mais de
posse dos públicos.

Assim, em consequência da negociação dos bancos, o valor da moeda foi


multiplicado por 2,7. O banco é visto como um agente multiplicador bancário,
que é a variável que determina qual o poder que o banco tem de emitir as moedas
(PAULANI; BRAGA, 2012).

De acordo com Paulani e Braga (2012), podemos afirmar que o sistema


monetário (ou sistema bancário) é responsável por produzir dois tipos de moedas:

• Papel-moeda (moeda corrente): cuja emissão é realizada pelo Banco Central


do Brasil.
• Depósitos à vista (moeda escritural): emitidos pelos bancos comerciais a partir
dos depósitos recebidos à vista.

Assim, os meios de pagamentos podem ser definidos pela seguinte equação:

MP = pmpp + dv

Sendo:

MP = Meios de pagamentos.
Pmpp = Papel-moeda em poder do público.
Dv = Depósitos à vista.

Observe o quadro a seguir. Nele é apresentado um resumo das relações


que exemplificamos anteriormente.

132
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

QUADRO 1 – RESUMOS DAS RELAÇÕES (PAPEL-MOEDA E MEIOS DE PAGAMENTO)

Papel-moeda emitido = total de moedas metálicas ou não emitidas com autorização do Banco
Central.
Papel-moeda em poder do público = papel-moeda emitido – caixa do sistema bancário.
Meios de Pagamento = papel-moeda em poder do público + depositados à vista do público nos
bancos comerciais.

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 261)

Em termos técnicos, os meios de pagamento constituem um agregado


monetário. O agregado monetário corresponde às medidas de moeda utilizadas
na política monetária.

Você encontrará nos livros de economia várias formas para conceituarmos


os meios de pagamentos. O conceito mais utilizado é o chamado M1, que é o total
de moeda que não rende juros e é de liquidez imediata (moeda com público mais
os depósitos à vista).

Os meios de pagamentos no conceito M1 também recebem o nome de


ativos ou haveres monetários. Os demais ativos financeiros que rendem juros
são reconhecidos como ativos ou haveres não monetários (VASCONCELOS;
GARCIA, 2008). Até o ano 2000, os agregados econômicos no Brasil tinham como
critério de classificação a liquidez. Eram classificados em:

M1 = Papel-moeda em poder do público + depósitos à vista em poder do público.


M2 = M1 + títulos públicos em poder do setor privado.
M3 = M2 + depósitos de poupança.
M4 = M3 + depósitos a prazo e demais títulos privados.

A partir de 2001, o sistema de classificação sofreu alteração, e o critério de


classificação passou a ser o sistema emissão e não mais a liquidez. De acordo com
Paulani e Braga (2012), a alteração aconteceu em consequência da necessidade de
um ambiente de inflação baixa.

Era desejado que fosse possível avaliar a exposição do conjunto do


sistema financeiro. Com a alteração, temos a seguinte classificação demonstrada
no quadro a seguir:

133
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO ATUAL DOS AGREGADOS MONETÁRIOS


Classificação Sistema Emissor
M1 = papel-moeda em poder do público + Consolidado monetário → passivo monetário
depósitos à vista. restrito do Banco Central e bancos criadores de
moeda escritural.
M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + Consolidado bancário menos fundos de renda
depósitos de poupança + títulos emitidos por fixa → passivo monetário restrito do Banco
instituições depositárias. Central e passivo monetário ampliado emitido
primariamente pelas instituições depositárias.
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + Consolidado bancário → passivo monetário
operações compromissadas registradas no Selic. restrito do Banco Central e passivo monetário
ampliado das instituições depositárias e fundos
de renda fixa.
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez. Consolidado bancário mais governos →
passivo monetário ampliado do Banco Central,
instituições depositárias, fundos de renda fixa
e tesouros nacionais, estaduais e municipais.

FONTE: O autor

Devemos salientar que é muito importante que você compreenda tais


conceitos, pois eles não são restritos à disciplina de Contabilidade Social.

DICAS

Para você aprofundar seus conhecimentos sobre os meios de pagamentos,


sugerimos que acesse o site do Banco Central do Brasil. Disponível em: <www.bcb.gov.br>.
Acesso em: 20 jun. 2018.

3 FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL


Vimos anteriormente que o Banco Central do Brasil é o responsável pela
emissão das moedas no Brasil. Ele também tem outras funções, como garantir
a estabilidade do sistema econômico do ponto de vista monetário. Tal função
inclui desde a preocupação com o mercado (comportamento dos preços) até a
solvabilidade do sistema bancário.

134
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

NOTA

Solvabilidade se origina da palavra Solvência que, em finanças e contabilidade,


é o estado do devedor que possui seu ativo maior do que o passivo, ou a sua capacidade
de cumprir os compromissos com os recursos que constituem seu patrimônio ou seu ativo.

Portanto, do ponto de vista econômico, uma empresa é solvente quando está em condições
de fazer frente a suas obrigações correntes e ainda apresentar uma situação patrimonial e
uma expectativa de lucros que garantam sua sobrevivência no futuro.

Na estrutura econômico-financeira da empresa deve haver uma certa coerência entre a


natureza dos investimentos e a origem dos recursos financeiros. A prudência e a lógica
aconselham que os investimentos de longo prazo sejam financiados por capitais
permanentes.

Nunca uma dívida de curto prazo deve financiar um bem imobilizado. Os capitais permanentes
não só devem financiar o ativo fixo, mas também uma parte do ativo circulante. A parte do
ativo circulante financiada com capitais permanentes constitui o chamado Capital de Giro.
Disponível em: <https://educalingo.com/pt/dic-pt/solvabilidade>. Acesso em: 20 jun. 2018.

Para que você compreenda melhor as funções do Banco Central, observe


a figura a seguir. Ela apresenta, de forma resumida, as principais funções do
Banco Central.

FIGURA 1 – FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL

FONTE: O autor

135
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Vimos que uma das funções do Banco Central é ser o responsável


pela emissão de moedas. A necessidade de controlar a emissão de moedas é
fundamental para a estruturação do sistema econômico. O Banco Central autoriza
a emissão de moeda, mas quem produz a moeda é a Casa da Moeda.

A segunda função do Banco Central é ser depositário das reservas


internacionais. O Banco Central serve de depositário de todas as divisas que
entram no país e tem a função de garantir a taxa de cambio vigente e a venda da
quantidade de divisas a cada momento.

A terceira função é que o Banco Central funcione como banco dos bancos.
Significa que o Banco Central tem a função de receber os depósitos (reservas) dos
bancos, regular, monitorar e fornecer sistemas de transferência de fundos e de
liquidações de obrigações.

Ainda, a quarta função, de ser banqueiro do governo, faz com que o Banco
Central guarde em suas origens uma estreita relação com o direito de emissão do
banco central. “O banco central atualmente continua como o principal banqueiro
do governo, pois detém suas contas mais importantes, participa ativamente do
manejo do seu fluxo de fundos e é o depositário e administrador das reservas
internacionais do país” (BRASIL, 2016, p. 20).

DICAS

Para saber mais sobre as funções do Banco Central, indicamos a leitura do


Informativo Funções do Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/conteudo/
home-ptbr/FAQs/FAQ%2011-Fun%C3%A7%C3%B5es%20do%20Banco%20Central.pdf>.
Acesso em: 20 jun. 2018.

4 CONTAS MONETÁRIAS
Uma das formas para compreendermos as operações dos bancos
comerciais e do banco Central é através dos seus balancetes que, em conjunto,
constituem as chamadas contas monetárias.

NOTA

Contas monetárias: fornecem informações para o acompanhamento dos efeitos


das políticas monetária e cambial, da evolução da dívida pública, do grau de endividamento dos
agentes econômicos, do comportamento das instituições financeiras etc. (FEIJÓ et al., 2013).

136
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

De acordo com Paulani e Braga (2012), o balancete é um instrumento


contábil em que é possível analisar, para determinada instituição, as fontes de
recursos e suas aplicações. Você se recorda dos exemplos de balancetes que
estudou em Contabilidade Geral. A lógica é a mesma: de um lado você terá contas
do ativo, que representam as suas aplicações e, de outro lado, você terá as contas
do passivo, representadas por suas fontes de recursos.

Ainda, você deve lembrar de que se trata de um instrumento contábil


e deve obedecer ao método das partidas dobradas e à exigência de equilíbrio
interno. A soma dos valores do ativo deverá ser exatamente igual à soma dos
valores do passivo.

O quadro a seguir apresenta um modelo desenvolvido por Paulani e Braga


(2012), do Balancete consolidado dos bancos comerciais. Cabe salientar que cada
um dos bancos possui um balancete e cada lançamento representa uma operação
da instituição.

Para efeito de compreensão do sistema como um todo, a análise leva em


consideração a soma de todos os lançamentos de todos os bancos comerciais do
país, não necessitando analisá-los de forma individual.

QUADRO 3 – BALANCETE CONSOLIDADO DOS BANCOS CRIADORES DE MOEDAS (COMERCIAIS)

ATIVO PASSIVO
A – Encaixes F – Recursos Monetários
1. Em moeda corrente Depósito à vista
2. Em depósitos do Banco Central
a) voluntários
b) compulsórios
B – Empréstimos G – Recursos não monetários
1. Ao setor público 1. Depósito a prazo, poupança e outros
2. Ao setor privado depósitos
C – Títulos 2. Recursos provindos do BC (redesconto)
1. Públicos 3. Passivo externo
2. Privados 4. Outras exigibilidades
5. Recursos próprios
D – Outras aplicações
E – Imobilizado

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 271)

No lado do passivo são lançadas todas as contas que representam as


fontes de recursos. No item F está lançado o saldo dos depósitos realizados nos
bancos nas contas correntes. No item G1 aparece o saldo dos depósitos a prazo
(que geram juros). O item G2 se refere ao item relacionado a empréstimos de
redescontos tomados pelos bancos comerciais.

137
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Ainda, o item G3 representa o saldo dos recursos tomados pelos bancos


comerciais do país junto a não residentes (recursos externos). No item G4 são
lançados os recursos provenientes de diversas fontes (repasse do governo e
FGTS). No item G5 são lançados os valores em disposição dos bancos comerciais
provenientes de seu próprio capital.

Já no ativo, no item A1, são lançados os valores de encaixe (parte do


dinheiro que os bancos recebem precisa ficar nessa conta). No item A2 é lançado
o saldo dos valores de encaixe voluntários e compulsórios mantidos pelos bancos
comerciais junto ao Banco Central. O item B corresponde aos empréstimos, ou
seja, ao saldo dos empréstimos concedidos ao público e ao setor privado. O
item C corresponde ao valor destinado à compra de títulos, indicando o total de
aplicações e, no item D, são lançados os valores oriundos de outras aplicações.

Para finalizar, no item E são lançados os valores dos imobilizados formados


por equipamentos, prédios das agências bancárias, equipamentos de informática
utilizados pelo público (PAULANI; BRAGA, 2012).

Veremos que agora o Banco Central também apresenta um balancete bem


semelhante ao dos Bancos Comercias, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 4 – BALANCETE CONSOLIDADO DO BANCO CENTRAL

ATIVO PASSIVO MONETÁRIO


H- Reservas Internacionais M – Base monetária (pme+dep) (pme=pmpp+cmsb)
1. pmpp
2. Encaixes totais dos bancos comerciais
a) em moeda corrente (cmsb)
b) em depósitos voluntários e compulsórios junto ao
BC (dep)
I – Créditos a instituições financeiras N – Depósitos compulsórios em espécie
(redesconto) 1. Sobre poupança
2. Outros
J – Empréstimos ao TN e a outros
PASSIVO NÃO MONETÁRIO
órgãos públicos e esferas de governo
K – Títulos públicos federais O – Títulos do BC
L – Outros P – Depósitos do governo federal
Q – Obrigações externas
R – Outros
S – Recursos Próprios

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 275)

Podemos observar que o M1 corresponde ao valor do saldo e ao papel-


moeda que é encontrado em poder do público. Começaremos a identificação das
contas pelo lado do passivo. O primeiro item M corresponde à base monetária.

138
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

Base monetária: “É constituída pela totalidade do papel-moeda emitido


mais os encaixes em depósitos voluntários e compulsórios junto ao BC (dep)”
(PAULANI; BRAGA, 2012, p. 276).

Outra maneira de representar o conceito é através de uma forma


matemática. Assim, teremos:

B= pme + dep ou B = pmpp+cmbs+dep

Dando continuidade ao lado do passivo do balancete do Banco Central, temos


o item N, que se refere ao depósito compulsório que os bancos devem fazer com o
Banco Central. O item O se refere aos títulos de emissão do próprio Banco Central.
O item P se refere aos depósitos do governo e cumpre a função do Banco Central
vista anteriormente, que é a de funcionar como banqueiro do governo. O item Q
corresponde às obrigações externas. São registrados os saldos de diferentes operações
envolvendo divisas. O Banco Central deve prestar contas para os organismos
internacionais. Os itens R e S são as últimas contas do passivo no balancete e têm
significados análogos aos itens G4 e G5 do ativo (PAULANI; BRAGA, 2012).

A junção do balancete dos bancos comerciais com o balancete do


banco Central forma o balancete consolidado do Sistema Monetário, conforme
quadro a seguir.

QUADRO 5 – BALANCETE SINTÉTICO DO SISTEMA MONETÁRIO

ATIVO PASSIVO
ATIVOS DO BC PASSIVO MONETÁRIO
H – Reservas Internacionais M – Base monetária (pme+dep) (pme=pmpp+cmsb)
J – Empréstimos ao TN e para outros 1. pmpp
órgãos públicos e esferas de governo 2. Depósitos à vista dos públicos nos bancos comerciais
K – Títulos públicos federais
L – Outros
ATIVOS DOS BANCOS
PASSIVO NÃO MONETÁRIO DO BC
COMERCIAIS
B – Empréstimos aos setores públicos P – Depósitos do governo federal
e provados Q – Obrigações externas
C – Títulos públicos e privados U – Outros
PASSIVO NÃO MONETÁRIO DOS BANCOS
COMERCIAIS
G1 – Depósitos a prazo
G3 – Obrigações externas
V – Outros

FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 281)

139
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Você pode observar que o balancete consolidado do sistema monetário


resulta da soma do balancete consolidado dos bancos comerciais com o balancete
sintético do Banco Central, contemplando a totalidade do sistema bancário (ou
sistema monetário).

Ainda, de um lado, foram realizados os lançamentos do Banco Central e, do


outro lado, o saldo das contas dos Bancos comerciais (PAULANI; BRAGA, 2012).

140
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

LEITURA COMPLEMENTAR

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS BANCOS COMERCIAIS

Gentil Corazza

Antes de analisarmos as transformações atuais dos bancos comerciais, e


até para melhor compreendê-las, faremos um breve resgate de suas origens e da
evolução de suas funções.

A origem dos bancos comerciais, bancos de troca ou bancos de depósito,


como também eram chamados, está associada às atividades dos negociantes de
moedas estrangeiras, os money managers ou money changers (CRUMP, 1981, p. 144),
os quais se viram obrigados a manter depósitos seguros e passaram, por isso, a se
chamar de banqueiros.

Eles já eram conhecidos na Grécia e na Roma Antigas. Floresceram também


na China e em cidades do Oriente Médio, como Cairo e Damasco. Passando por
um declínio durante a Idade Média, porque a concessão de empréstimos entrava
em choque com a objeção religiosa da usura, seu reflorescimento e consolidação
no Ocidente deram-se na Itália Renascentista, especialmente na cidade de Veneza,
donde passaram depois para as cidades de Amsterdam e Hamburgo.

Gaibraith afirma que a atividade bancária pertence aos italianos: "As


casas bancárias de Veneza e Gênova são as precursoras reconhecidas dos bancos
comerciais modernos regulares" (GALBRAITH, 1983, p. 20).

Vera Smith (1990, p. 24), ao estudar a evolução dos bancos na Inglaterra,


sugere que, na medida em que o Banco da Inglaterra foi concentrando em suas
mãos o monopólio da emissão monetária, os bancos de emissão se transformaram
em bancos de depósito, o que não deixa de ser uma nova forma de participar do
poder de emissão, formalmente concentrado no Banco Central. De Cecco (1987)
generaliza esse aspecto fundamental da atividade bancária ao afirmar que:

Com o surgimento do banco moderno de depósito, contudo, o privilégio


monetário do soberano começou a ser partilhado com o sistema
bancário [...]. Os bancos, principalmente pelo fato de que criam dinheiro,
concedendo empréstimos a seus clientes, começaram a competir com o
soberano em uma das mais cobiçadas e protegidas prerrogativas. Em
virtude disso], eles logo se tornaram economicamente mais importantes
que o próprio soberano" (DE CECCO, 1987, p. 2).

Ao se verem revestidos do poder de criarem dinheiro, os bancos encontraram


a pedra filosofal. A importância do aparecimento dos bancos de depósito e de
seu papel na economia é tal que determina um marco no desenvolvimento da
própria teoria monetária, pois a que precede o fenômeno dos bancos de depósito
é pouco significativa se comparada com a teoria monetária que incorpora o papel
dos bancos de depósito na economia e suas implicações para a teoria econômica.
Como ressalta ainda De Cecco:
141
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

O aparecimento dos bancos de depósito constitui uma verdadeira


revolução em dois sentidos: uma revolução técnica representada no uso
de cheques, descontos, giros, casas de compensação e transferências de
fundos via telégrafo. Representou também uma revolução na teoria
econômica, pois a teoria monetária antes dos bancos de depósito estava
preocupada com os aspectos fiscais do dinheiro, que era visto como 'as
finanças do soberano' [...]. Estudar quais são precisamente os poderes
que os bancos exercem na economia e, como os usam, constitui o
campo da moderna teoria monetária. Como restringir e fazer o melhor
uso dos poderes que os bancos exercem sobre a economia é o assunto
dos debates da moderna política monetária" (DE CECCO, 1987, p. 2).

No mesmo sentido apontado por De Cecco (1987), Chick (1994) analisa a


repercussão da evolução das práticas bancárias para a teoria da poupança e do
investimento. Através de uma descrição estilizada de sua evolução, com base no
caso inglês, ela analisa o fortalecimento do poder dos bancos em criarem dinheiro.
Nessa evolução, distingue cinco períodos.

No seu início, pequenos, numerosos e semi-isolados geograficamente, os


bancos são fundamentalmente receptores de depósito, e os débitos em conta não
são formas usuais de pagamentos.

Como, nesse estágio de desenvolvimento bancário, as poupanças ainda


determinam os depósitos, os bancos não passam de meros intermediários, sem
o poder de criarem crédito; as poupanças são, assim, uma precondição para os
novos investimentos.

No segundo, passam a usar os depósitos como meio de pagamento.


Com alguma concentração decorrente da redução do número e do aumento do
seu tamanho médio, os bancos passam a receber saldos de transações e a poder
emprestar "dinheiro que não possuem", ou seja, os bancos criam moeda a partir
dos depósitos à vista, ainda que limitados pelas restrições das reservas.

O investimento passa a prescindir da poupança prévia para depender da


expansão do crédito bancário, limitado pelo requerimento das reservas impostas
pelo Banco Central. O multiplicador bancário é uma boa descrição do processo de
criação monetária pelos bancos, nessa fase. A dimensão passiva de suas atividades
está no fato de que não atuam na busca de novos depósitos.

No terceiro, desenvolve-se o mercado de empréstimos interbancários,


permitindo aos bancos obterem reservas adicionais junto ao sistema bancário e
fazendo com que se acelere o processo multiplicador dos depósitos, mas sem
alterar a cadeia do estágio anterior.

No quarto, surge o Banco Central como emprestador de último recurso.


Podendo contar com a assistência do Bacen, os bancos se tornam mais agressivos
no atendimento da demanda por crédito e expandem o crédito além das reservas.
O Bacen controla a assistência de liquidez através da taxa de desconto e de outras
medidas operacionais.

142
TÓPICO 1 | CONTAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

O quinto estágio se caracteriza pela administração do passivo, com todas


as suas consequências teóricas e práticas, que caracterizam as atividades bancárias
na atualidade.

Essa breve descrição feita por Chick (1994) é sugestiva para realçar pelo
menos dois pontos importantes: primeiro, o papel econômico dos bancos evoluiu
de uma posição de intermediação passiva para uma ação ativa, e essa mudança
implica mudança teórica sobre a relação poupança/investimento; segundo,
justamente em um período em que eles parecem ter desenvolvido ao máximo
seu papel econômico e seu poder privado de criação monetária, são desafiados
pela concorrência de outros atores no desempenho de suas funções, de modo a
questionarem sua própria existência.
FONTE: CORAZZA, Gentil. Passado e futuro dos bancos comerciais. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.
21, n. 1, p. 101-118, 2000. Disponível em: <https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/
viewFile/1962/2341>. Acesso em: 10 maio 2018.

143
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• O sistema monetário de um país é composto por legislações que regulam o uso


dos tipos de moedas.

• O Banco Central do Brasil é o órgão responsável pela emissão das moedas no


Brasil.

• A Casa da Moeda é responsável pela fabricação da moeda no Brasil.

• Existem três tipos de moedas: papel-moeda; papel-moeda emitido e moedas


escriturais.

• Agregados monetários são as medidas das moedas utilizadas na política


monetária.

• Contas monetárias fornecem as informações para acompanhamento dos efeitos


das políticas monetária e cambial.

144
AUTOATIVIDADE

1 Qual a função das contas monetárias?

2 Qual a função do Banco Central?

145
146
UNIDADE 3
TÓPICO 2

ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

1 INTRODUÇÃO
O número-índice é uma medida que sintetiza, por meio de uma expressão
quantitativa, a variação média entre duas situações, considerando todos os
elementos de um conjunto.

As situações comparadas por um número-índice podem ser dois períodos


de tempo, por exemplo, duas regiões geográficas ou dois conjuntos de pessoas
(FEIJÓ et al. 2013).

Considerando que simplesmente não podemos adicionar as variações


individuais para que se obtenha a variação de todo um grupo, precisamos criar
formar e procedimentos que realizem a média incorporando as características
dos dados.

O cálculo da produção física da indústria é um exemplo do tipo de


problema. A produção industrial é composta de uma diversidade de produtos,
medida em diferentes unidades: metro, tonelada, unidade, milheiro, dúzia etc.

Assim, a variação da produção da indústria é uma síntese de cada um dos


produtos citados anteriormente, representada por um único número. Devido aos
fatos dos números não poderem ser adicionados diretamente, surge a necessidade
de desenvolvermos os números-índices.

Os números-índices geralmente são utilizados nos cálculos que indicam


variações relativas em quantidades, preços ou valores de um produto durante um
período de tempo. Exemplo:

a) O preço da laranja hoje em relação ao preço pago um ano atrás.


b) O consumo de água per capita no Brasil desde o ano 2000.
c) Índices de crescimento da agricultura nos últimos 10 anos.

De acordo com Feijó et al. (2013), o número-índice tem por objetivo medir
as variações no tempo, considerando determinadas operações econômicas como:

147
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

• Quantidade produzida por determinado setor econômico.


• Valor unitário dos bens e serviços.
• Valor da receita etc.

Para os autores, as operações podem ser mensuradas de três formas:


unidades monetárias (valor); unidades físicas (quantidade) e/ou valor unitário
(preço). E, podem ser representadas por:

Valor = quantidade x preço

Para que você compreenda melhor a variação, é necessário saber o que


queremos medir, se é o valor, a quantidade ou o preço. Em economia, a unidade
de informação se refere aos bens e serviços e recebem o nome de Produto. São
classificados pelo tipo de operação econômica ao qual estão associados: produção,
consumo, consumo intermediário, estoques, exportações, importação etc.

Vejamos o exemplo apresentado por Feijó et al. (2013). Consideramos o valor


da produção de uma empresa. É calculado pela soma dos produtos que produz,
assim, como de uma família, é medido pelos bens e serviços consumidos. Tais valores
são variáveis que podem ser medidas diretamente. O número-índice pode ser:

Número-índice simples: quando um objeto é averiguado, por exemplo, em


uma análise de inflação de um produto em um determinado período de tempo.

Número-índice composto: quando um grupo de artigos é avaliado em


um determinado espaço de tempo, por exemplo, o cálculo da variação de preços
da cesta básica em um ano.

2 CLASSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES E PRODUTOS


A classificação dos dados é muito importante em uma pesquisa. Assim,
podemos dizer que a classificação de atividades e produtos compreende “um
sistema de nomes e códigos numéricos que permite identificar e organizar os
produtos de acordo com um critério escolhido” (FEIJO et al., 2013, p. 243).

Internacionalmente, a classificação de operações ou de atividades


econômicas é realizada pelo Sistemas de Contas Nacionais (SCN), utilizada pelas
Nações Unidas. No Brasil, utilizamos a Classificação de Atividades Econômicas
(CNAE), desenvolvida pelo IBGE.

148
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

NOTA

A Clasificación Industrial Internacional Uniforme – CIIU/ISIC foi adotada


pelas Nações Unidas em 1948, e é usada como padrão internacional de referência no
desenvolvimento de classificações nacionais e como instrumento de harmonização na
produção e disseminação de estatísticas econômicas no nível internacional.

Desde então, foram editadas as seguintes revisões: em 1958 (revisão 1), 1968 (revisão 2),
1990 (revisão 3), 2002 (atualização 3.1). A revisão 4, discutida em 2002-2005, foi aprovada
pela Comissão de Estatística das Nações Unidas em 2006, para entrar em vigor em 2007.
Disponível em: <https://concla.ibge.gov.br/images/concla/documentacao/CNAE20_
Introducao.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

O CNAE é a classificação padrão utilizada nas estatísticas brasileiras


desde 2007. Tal classificação é utilizada por diversos órgãos, principalmente
pelo Ministério do Trabalho (para o sistema RAIS/CAGED) como para a Receita
Federal (utilizada no cadastro nacional de pessoa jurídica – CNPJ).

O CNAE classifica as atividades por tema: atividades econômicas,


produtos, natureza jurídica, despesas de acordo com a função, ocupação, posição
na ocupação, educação, saúde, meio ambiente, código de áreas e uso do tempo.

A CNAE 2.0 foi estruturada de forma hierarquizada em cinco níveis, com


21 seções, 87 divisões, 285 grupos, 673 classes e 1301 subclasses, sendo que o
quinto nível hierárquico é definido para uso da Administração Pública.

As categorias da CNAE 2.0, de seção para subclasse, são identificadas


através de um código e uma denominação especifica. Ainda, podemos observar
no exemplo a seguir, desenvolvido pelo IBGE, como a classificação é organizada.

FIGURA 2 – ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DA CNAE 2.0


Organização Hierárquica da CNAE 2.0
Número de
Nome Nível Identificação
Grupamentos
Seção Primeiro 21 Código alfabético de 1 digito
Diversão Segundo 87 Código alfabético de 2 digito
Grupo Terceiro 285 Código alfabético de 3 digito
Classe Quarto 673 Código alfabético de 4 digito + DV
Subclasse Quinto 1301 Código alfabético de 7 digito (incluindo o DV)

FONTE: Disponível em: <https://concla.ibge.gov.br/images/concla/documentacao/CNAE20_


Introducao.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

149
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

A classificação do CNAE 2.0 utiliza um sistema integrado. O tema de


codificação é integrado, a partir do segundo nível, com o código de cada nível
de grupamento mais detalhado e incorporando o anterior. Assim, o código da
subclasse (sete dígitos) incorpora o código da classe (quatro dígitos + DV) que,
por sua vez, incorpora o código do grupo (três dígitos) a que pertence, e este, o da
respectiva divisão (dois dígitos).

FIGURA 3 – ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA DA CNAE 2.0

Exemplo:
Seção A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
Divisão 01 Agricultura, pecuária, e serviços relacionados
Grupo 01.1 Produção de lavoras temporárias
Classe 01..11.3 Cultivo de cereais
Subclasse 0111-3/01 Cultivo de arroz

FONTE: Disponível em: <https://concla.ibge.gov.br/images/concla/documentacao/CNAE20_


Introducao.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

Ainda, a estruturação apresenta códigos decimais, e o dígito 9 representa


outras atividades não especificadas nas categorias anteriores. Exemplo:

Grupo 85.9 – Outras atividades de ensino.


Classe 85.99-6 – Atividades de ensino não especificadas anteriormente.
Subclasse 8599-6/99 – Outras atividades de ensino não especificadas
anteriormente.

O mesmo acontece com o dígito zero (0). Ele é utilizado ao fim de um


código e é usado nos casos em que o grupo, a classe ou a subclasse não apresenta
detalhamento algum em relação ao nível anterior. Exemplo:

Divisão 75 – Atividades veterinárias.


Grupo 75.0 – Atividades veterinárias.
Classe 75.00-1 – Atividades veterinárias.
Subclasse 7500-1/00 – Atividades veterinárias.

Observe na figura a seguir a nova classificação das secções da CNAE 2.0:

150
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

FIGURA 4 – NOVA CLASSIFICAÇÃO DAS SECÇÕES DA CNAE 2.0

Seções da CNAE
Seção Denominação
A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
B Indústria extrativas
C Indústrias de transformação
D Eletricidade e gás
E Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
F Construção
G Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas
H Transporte, armazenagem e correio
I Alojamento e alimentação
J Informação e comunicação
K Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados
L Atividades imobiliárias
M Atividades profissionais, científicas e técnicas
N Atividades administrativas e serviços complementares
O Administração pública, defesa e seguridade social
P Educação
Q Saúde humana e serviço sociais
R Artes, cultura, esporte e recreação
S Outras atividades de serviços
T Serviços domésticos
U Organismos internacionais e outras instituição extraterritoriais
FONTE: Disponível em: <https://concla.ibge.gov.br/images/concla/documentacao/CNAE20_
Introducao.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

DICAS

Você poderá buscar as diversas classificações das atividades econômicas de


forma mais detalhada no site da Comissão Nacional de Classificação (CONCLA). Disponível
em: <https://concla.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/atividades-economicas>. Acesso
em: 21 jun. 2018.

151
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

2.1 PERÍODO DE COLETA


Em relação ao período de coleta dos números-índices, é importante que
você saiba o período que a informação foi coletada. É possível realizar dois tipos
de coletas, de acordo com Feijó et al. (2013):

No mesmo dia: todos os dados são coletados em um único dia, o ponto a


ponto, pois a variação é obtida pela relação de um produto referenciado de um
dia com o produto referenciado do dia anterior.

Ao longo: quando os dados são coletados durante um período de tempo
que pode ser semanal, mensal e ou anual. O vetor de dados é obtido pela média
de dados de cada período e a comparação é realizada entre os vetores.

3 CONSTRUÇÃO DE NÚMEROS-ÍNDICES
Agora que você já estudou os conceitos e a classificação dos números-índices,
vamos estudar como podemos construir tais números a partir de alguns exemplos.

3.1 CONCEITO DE RELATIVOS


Geralmente, os autores adotam apenas uma representação por número-
índice, que é a chamada variação de percentual. Entretanto, é importante que
você saiba que existem três formas de representações:

Variação percentual +100


Multiplicador x 100
Multiplicador = (variação percentual/100) + 1

Para que você compreenda melhor as representações e sua aplicabilidade


em nosso cotidiano, vejamos o exemplo prático a seguir:

No Brasil, o preço de um produto aumentou de R$2000,00 por unidade


para R$5.000,00 por unidade entre dois períodos. Calcule a variação percentual, o
número-índice e o multiplicador que representa a variação.

5.000 , 00
Variação no preço = = 2, 5
2.000 , 00
Percentual = (2,5-1) x 100 = 1,50%
Número-índice = 2,5 x 100 = 250
Multiplicador = 2,5

152
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

Vejamos outro exemplo:

Sabemos que um determinado produto teve um aumento de preço de


367% entre dois períodos, e que seu preço inicial era R$720 por unidade. Assim,
calcule no período final.
 367 
367% -> multiplicador de    1  4 , 67
 100 
Preço final no período -> 720,00 x 4,67 = R$3,362,40

NOTA

Um número-índice maior que 100 significa que houve aumento em relação à base.

Um número-índice igual ao número 100 significa que o valor não se alterou em relação à base.

Um número-índice menor que 100 significa que o valor diminuiu em relação à base.

3.2 RELATIVOS
O conceito de relativo está associado à variação do valor, preço ou
quantidade de um único produto para uma dada operação econômica (consumo,
exportação, produção etc.). Assim, o cálculo do relativo é feito diretamente pela
razão dos valores entre o período final e inicial (FEIJÓ et al., 2013). Para calcular
a variação nos preços, usamos:

pti
Mp0i ,1 =
p0i
Sendo que:

Mp0i ,1 = multiplicador do produto i entre os períodos 0 e t.


p0i = preço do produto i no período 0.
pti = preço do produto i no período t.

De acordo com Feijó et al. (2013), com base na forma de cálculo, a variação
é expressa como um multiplicador, porém para ser considerado um número-
índice, o resultado deverá ser multiplicado por 100. Teremos:

ipti
P = i x 100
0 ,1
p0

153
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Ainda, para a variação das quantidades, como será a fórmula? Para


calcular a variação das quantidades, usaremos a seguinte fórmula:

i qti
Mq 0 ,1
= i (multiplicador)
q0
qti
Q0i ,1 = (número-índice)
q0i

Em relação ao cálculo de variação de valor, poderemos fazer uso de duas


fórmulas diferentes:

Cálculo pela razão entre o valor dos produtos nos dois períodos:

vti
Multiplicador - Mv0i ,1 = ou
v0i
i vti
Número-índice - V 0 ,t
= i x100
v0
Cálculo pelo produto do índice de preço de quantidade:

i i i
Multiplicador - Mv0 ,t = Mp0 ,t xMq0 ,t


Número-índice = V0i,t  Mp0i ,t xMq0i ,t x 100 
Agora, veremos como utilizar as fórmulas em nossos cálculos. Considere
um conjunto de informações sobre a quantidade e o preço, conforme dados
estabelecidos no quadro a seguir, por um período de quatro anos. Escolhemos
como período de referência o ano de 2012 para o cálculo dos números-índices
para valor, preço e quantidade.

QUADRO 6 – NÚMEROS-ÍNDICES

NÚMEROS-ÍNDICES
Período Preço (R$) Quantidade Valor (R$)
2012 2 2 4
2013 3 5 15
2014 9 7 63
2015 29 15 435

FONTE: Adaptado de Feijó et al. (2008)

154
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

Observe que cada elemento da série apresentada é dividido pelo número-


índice do ano escolhido como base. Por exemplo, para cálculo do preço, teremos:
3
2012 = 2 x 100 = 100
2
3
2013 = x 100 = 150
2
9
2014 = �
x 100 = 450
2
2015 = 29 �x 100 = 1.450
2
Se formos repetir o mesmo procedimento para as três variáveis (valor,
preço e quantidade), teremos os resultados apresentados no quadro a seguir:

QUADRO 7 – NÚMEROS-ÍNDICES
Números-Índices
Período Preço (R$) Quantidade Valor (R$)
2012 100 100 100
2013 150 250 375
2014 450 350 1.575
2015 1.450 750 10.785
FONTE: Adaptado de Feijó et al. (2008)

A aplicabilidade das relações faz com que você verifique as alterações


necessárias em preços ou em quantidades para manter o valor de venda inalterado.

3.3 MUDANÇA DE BASE


Os números-índices são muito importantes para os economistas no
momento em que realizamos uma análise para um longo período de tempo.
Assim, nem sempre é possível observar a evolução dos números com clareza.
Para melhorar a evolução dos números, podemos alterar o período base.

Vejamos um exemplo na prática de como ocorre tal alteração.


Consideramos que uma empresa de produtos químicos deseja comparar
as unidades adquiridas de cloro entre o período de 2010 e 2017. Em 2010, as
unidades de produtos eram registradas através de índices tendo como base
2005. Em 2010, o índice era de 260, ou seja, houve um acréscimo de 160%. No
ano de 2010, o mercado passou por transformações, sendo tomado como nova
base. Observe os dados do quadro a seguir:

155
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

QUADRO 8 – MUDANÇA DE BASE


Ano Índices (2005 = 100) índices (2010 = 100)
2005 100
... ...
2010 260
... ...
2017 108 (relação ao ano de 2010)

FONTE: Adaptado de Feijó et al. (2008)

Podemos observar que, entre os períodos de 2010 e 2017, o índice


aumentou de 100 para 108, representando um crescimento de 8% no período.
Se utilizarmos os dados de 2005, o índice de 2010 (260) deve ser aumentado na
mesma proporção.

Entretanto, como faremos a conta? Incialmente, pegaremos o índice de


2010 (ano de 2010 em relação ao ano de 2005), multiplicaremos o valor pelo índice
de 260 (ano de 2005 em relação ao ano de 2017) e dividiremos o resultado por 100.

108 x 260 = 28,080 / 100

Entre 2005 e 2017, o índice de unidades vendidas aumentou de 100 para


208,8, ou seja, apresentou um crescimento de 108,8%. Assim, podemos dizer
que um número-índice nos permite criar uma série encadeada de valores para
estudarmos mudanças em uma determinada variável. Para tanto, é preciso
escolher a variável, levantar uma série e criar o índice com a base que preferimos.

3.4 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR


Os índices de preços são números que agregam e representam os preços de
determinada cesta de produtos que é adquirida pela sociedade” (BRASIL, 2016, p.
5). Sua variação mede, portanto, a variação média dos preços dos produtos da cesta.

Acompanhamos, nos noticiários e telejornais, que em determinados setores


da economia houve uma variação de preço dos produtos tanto ao consumidor
como ao produtor.

Muitas vezes, também são noticiadas as variações de preços que ocorrem


na produção, exportação e importação. Entretanto, os índices de preços ao
consumidor têm muito destaque, ou seja, a variação que ocorre no custo de vida
da população, seja pela taxa de inflação (aumento dos preços) ou de deflação (a
diminuição de preço de alguns produtos da cesta básica, por exemplo).

Os índices mais utilizados nos cálculos das cestas de produtos ou nos


reajustes de valores estão sintetizados na figura a seguir:

156
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

FIGURA 5 - ÍNDICES DE PREÇOS PRODUZIDOS NO BRASIL

Instituto Nome do Índice de Preços Índice de Preços ao Consumidor

IPCA (Índice Nacional de Preços ao


Sim
Consumidor Amplo)
INPC (Índice Nacional de Preços ao
Sim
Consumidor)
IBGE
IPP (Índice de Preços ao Produtor) Não

SINAPI (Sistema Nacional de Pesquisa de


Não
Custos e Índice do Construção Civil) [a]
Não, mas contêm componente de
IGP-M,IGP-DI e IGP-10
preços ao consumidor (IPC)
Índice de Preços Pagos pelos Prosutores
Ibre - FGV Não
Rurais (IPP)
IPC-3i (Índice de Preços ao Consumidor
Sim
da Terceira Idade)

IPC - Fipe Sim


Fipe
Fipe - Zap Não

Dieese Cesta Básica Nacional Sim

Custo Básico (CUB) da construção civil do


Sinduscon - SP Não
estado de São Paulo
FONTE: BRASIL (2016, p. 7)

Podemos observar que nem todo índice produzido no Brasil é considerado


um índice de preço ao consumidor, mas não deixa de ser importante para as
análises de valores monetários.

E
IMPORTANT

No site do Banco do Brasil, você encontrará um folheto informativo sobre


índice de preços no Brasil. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/
FAQs/FAQ%2002-%C3%8Dndices%20de%20Pre%C3%A7os%20no%20Brasil.pdf. Acesso em:
21 jun. 2018.

157
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Os dados monetários geralmente são reajustados pela inflação. A correção


monetária, como chamamos os reajustes, tem por objetivo minimizar as distorções
causadas pela inflação na economia.

Através da correção monetária, os preços dos bens de serviços, salários,


empréstimos, financiamentos, aplicações financeiras e impostos são reajustados com
base na inflação no período anterior, medida por um índice de preços, que procura
medir a mudança que ocorre nos níveis de preços de um período para outro.

DICAS

Para você se aprofundar no estudo dos números-índices, indicamos a leitura do


Capítulo 7 do Livro Contabilidade social: a nova referência das Contas Nacionais do Brasil.

158
TÓPICO 2 | ÍNDICES DE VARIAÇÃO DE PREÇO E QUANTIDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

VARIAÇÃO DE PREÇOS E OS “NÚMEROS-ÍNDICES”

Luis Licks

São recorrentes as conversas a respeito da variação dos preços no atual


momento brasileiro. Muitas dessas conversas indicam certo descontentamento
com os “índices” divulgados, pois basta “ir ao supermercado” para encontrar
mercadorias cujo preço subiu mais do que o indicado nos noticiários como sendo
a “variação da inflação”.

Ocorre que o fenômeno inflacionário é muito complexo de ser medido em


sua totalidade, seja porque, exemplificativamente, é o resultado da desvalorização
da moeda por excesso de sua circulação, câmbio, e mesmo por choques de oferta
de determinados produtos essenciais.

Sendo assim, a variação de preços é sentida pela população (consumidores)


de acordo com a sua realidade econômica. O aumento do combustível, especial
de aeronaves, não tem impactos relevantes para a maioria da população, já o
aumento do preço do leite é logo notado.

Os chamados “números-índices” da economia surgiram para tentar


facilitar a constatação de quanto estão variando os preços no mercado e quem
é a parcela da população mais atingida. Nessa intenção é que vários órgãos
fazem as suas pesquisas, com metodologias diversas de apuração da variação.
São exemplos: o IBGE, com os seus números-índices IPCA e INPC; a Fundação
Getúlio Vargas, com o IGP e o IGP-M; a FIPE, com o seu IPC; e também o Dieese,
com seu próprio IPC.

Apenas para ficar no IPCA e no INPC, que são divulgados pelo IBGE,
pode-se constatar que o primeiro (IPCA) tende a observar o quanto variaram
os preços daqueles bens que são consumidos pelos brasileiros com rendimento
familiar de 1 a 40 salários mínimos, enquanto que o INPC é uma pesquisa para
verificar a variação dos bens mais básicos, consumidos pelas famílias que recebem
de 1 a 5 salários mínimos.

Como prova que existem “diferenças de inflação” para cada família, de


acordo com o que ela consome, basta verificar que, conforme divulgado pelo IBGE
em 12 de março de 2014, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo –
IPCA do mês de fevereiro apresentou variação de 0,69% e ficou acima da taxa de
0,55% registrada no mês de janeiro em 0,14 ponto percentual. Nos dois primeiros
meses do ano, a variação total foi de 1,24%.

159
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC apresentou variação


de 0,64% em fevereiro e ficou próximo do resultado de 0,63% de janeiro. Nos dois
primeiros meses do ano, portanto, a variação total foi de 1,27%.
FONTE: LICKS, Luis. Variação de preços e os “números-índices”. 2014. Disponível em: <https://
luisantoniolicks.wordpress.com/2014/03/15/variacao-de-precos-e-os-numeros-indices/>. Acesso
em: 21 jun. 2018.

160
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O número-índice é uma medida que sintetiza, por meio de uma expressão


quantitativa, a variação média entre duas situações, considerando todos os
elementos de um conjunto.

• O número-índice pode ser simples ou composto.

• O CNAE é a classificação padrão utilizada nas estatísticas brasileiras desde 2007.

161
AUTOATIVIDADE

1 O que é o CNAE?

2 O que é um indicador social?

162
UNIDADE 3
TÓPICO 3

INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO
Atualmente, mensurar a qualidade de vida, o desenvolvimento social,
econômico e político da sociedade tem sido fundamental, uma vez que foi
crescente a necessidade de tornar as informações mais acessíveis à população.

Diariamente, deparamo-nos com várias notícias nos telejornais, jornais


e revistas, que apresentam uma série de indicadores, que são utilizados para
mensurar a qualidade de vida, saúde e desenvolvimento econômico da sociedade.

Entretanto, compreender os índices não é uma tarefa muito simples. Saber


interpretá-los de forma que consigamos entender o panorama que tais índices
nos trazem passou a ser uma tarefa do cotidiano.

Entretanto, engana-se quem pensa que a utilização de indicadores é


recente. No início da história e da evolução dos indicadores, predominava a
exclusiva quantificação, seja de pessoas, recursos ou equipamentos. A partir
de 1920, e particularmente depois da Segunda Guerra Mundial, os indicadores
já eram utilizados para mensurar a produção de armamentos e produção de
alimentos durante o período de conflito.

Já os indicadores sociais são mais recentes, e começaram a ser desenvolvidos


na década de 20 e 30, mas foi a partir de 1960 que sua aplicabilidade passou a ser
mais constante.

O uso de indicadores também tem se destacado no campo da demografia,


saúde e meio ambiente. Com eles, é possível termos um panorama das condições
de saúde da população e trabalhar medidas de mitigação de impactos e formular
políticas públicas voltadas para a necessidade da sociedade.

163
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Ao medirmos e avaliarmos o desempenho econômico de um país ou de


determinada região, devemos considerar os impactos da atividade econômica
tanto no meio ambiente, quanto na qualidade de vida da população.

Quando nossa preocupação é mensurar a qualidade de vida, estamos


falando de desenvolvimento econômico, ou seja, trata-se de um processo de
transformação da sociedade, iniciando na comunidade local e se expandido de
forma global. O crescimento econômico é um processo mais quantitativo, cuja
preocupação está em mensurar a atividade econômica em si.

Assim, vamos estudar a relação dos indicadores sociais com as questões de


crescimento e desenvolvimento econômicos e também em relação à desigualdade
de renda e pobreza.

2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
Estudamos nas unidades anteriores que o Sistema de Contas Nacionais
tem por objetivo mensurar de forma quantitativa os agregados de uma economia,
possibilitando analisar seu desempenho em um determinado período de tempo.

Entretanto, os resultados da avaliação não fornecem as informações


necessárias quanto à preocupação e à qualidade de vida da população, pois
dizem muito pouco sobre as condições de vida da sociedade.

Sempre que nos referimos ao desenvolvimento econômico, inicialmente


surge a ideia de mensurar o produto nacional. Contudo, ao implantarmos
novas fábricas, estamos gerando novos empregos, aumentando a renda dos
consumidores e a arrecadação de impostos. Com novos impostos, outras melhorias
poderão surgir, como a construção de novas escolas, unidades de saúde, dentre
outras benfeitorias (SOUZA, 2013).

Antes de continuarmos nossos estudos sobre os indicadores de


desenvolvimento e crescimento econômico, vale lembrá-lo que crescimento e
desenvolvimento são dois conceitos diferentes.

NOTA

Crescimento econômico é o crescimento contínuo da renda per capita ao


longo do tempo.

Desenvolvimento econômico é um conceito mais qualitativo, incluindo as alterações da


composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia,
de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social (VASCONCELOS;
GARCIA, 2008).

164
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Contudo, quais são as fontes de crescimento econômico? Podemos


observar, através da disponibilidade de informações econômicas, que há uma
grande diferença de renda entre os países em desenvolvimento. Na América
Latina, por exemplo, os níveis de renda são bem semelhantes ao nível de renda
dos países norte-americanos no século passado. Outros países, como os da África
e Ásia, possuem as rendas per capitas são ainda menores.

De acordo com Vasconcelos e Garcia (2008), uma das formas de analisar as


diferenças de desenvolvimento entre os países é através da função de produção
agregada do país. Segundo os autores, o crescimento da produção e da renda
decorre de variações na quantidade e na qualidade dos insumos básicos como o
capital e a mão de obra. Assim, classificam como fontes de crescimentos:

a) Aumento da força de trabalho (quantidade de mão de obra),


derivado do crescimento demográfico e da imigração.
b) Aumento do estoque de capital, ou da capacidade produtiva.
c) Melhoria da qualidade da mão de obra, com programas de
educação, treinamento e especialização.
d) Melhoria tecnológica, que aumenta a eficiência na utilização dos
estoques de capital.
e) Eficiência organizacional, ou seja, eficiência na forma como os
insumos interagem (VASCONCELOS; GARCIA, 2008, p. 299).

Analisar somente aspectos relacionados à produção não é correto.


Precisamos considerar, nos estudos das fontes de crescimento, além do capital
físico, também o capital humano.

NOTA

Capital humano: “Valor do ganho de renda potencial incorporado nos


indivíduos e inclui habilidades inerentes à pessoa, como o talento, assim como a educação
e as habilidades adquiridas” (VASCONCELOS; GARCIA, 2008, p. 299).

Podemos dizer que atualmente, em países desenvolvidos, os trabalhadores


são muito mais produtivos do que os trabalhadores dos países em desenvolvimento,
pois trabalham com muito mais capital físico e são mais qualificados.

Você pode observar, no conceito de capital humano, que é adquirido


através da educação formal e treinamento informal. Assim, o desenvolvimento
do capital humano para países em desenvolvimento acaba sendo complexo, pois
é muito difícil acumular fatores de produção, capital humano e físico com os
baixos níveis de renda da população.

165
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Com uma renda baixa, a educação e qualificação profissional acaba não


sendo uma prioridade da população. Ainda, podemos observar que, nos países em
desenvolvimento, muitas crianças e adolescentes acabam desistindo de estudar
para poderem atuar informalmente no ambiente de trabalho, com o objetivo de
melhorar a renda das famílias.

Reduções na renda familiar aumentam evasão escolar no Brasil, aponta


Banco Mundial

O Banco Mundial indica que jovens de 15 a 25 anos, vivendo em


lares afetados por quedas nos rendimentos, têm 2,3% chances de abandonar
os estudos. Dentre os que têm 18 anos, o índice sobe para 4,5%. O problema
preocupa porque, em anos recentes, mais brasileiros viram sua renda encolher.

Segundo os números do organismo financeiro, de 2013 para 2014, o


número de domicílios que enfrentaram cortes no orçamento familiar passou de
pouco mais de 20% em 2013 para quase 30% em 2014.

É a partir dos 17 anos de idade que as consequências das quedas na renda


são mais pronunciadas – na comparação com famílias que não têm reduções
orçamentárias. Dois momentos de pico de evasão escolar foram identificados
pelo Banco Mundial – na passagem para a maioridade e, mais tarde, aos 24
anos. As estimativas foram calculadas a partir de dados do período 2005-2015.

A taxa de abandono escolar ficou poucos pontos acima de 30%


entre os jovens de 18 anos que não sofreram cortes na renda. Dentre os que
experimentaram choques orçamentários, o índice chegou quase na marca de
40%. Quando considerados os jovens de 24 anos sem queda no orçamento
familiar, a proporção de evasão foi de 35%. Contudo, a taxa ultrapassa 40%
entre os estudantes de domicílios que tiveram a renda prejudicada.
FONTE: Disponível em: <https://nacoesunidas.org/reducoes-na-renda-familiar-aumentam-evasao-
escolar-no-brasil-aponta-banco-mundial/>. Acesso em: 15 maio 2018.

Assim, o crescimento fica limitado ao tempo em que os fatores de produção


levam para ser acumulados, o que torna a educação um fator de crescimento
lento e demorado.

Quando a intenção é mensurar o desempenho econômico de um país,


é necessário trabalhar com os dados do produto per capita. Para que você
compreenda porque não utilizamos os dados do produto agregado para avaliar
as condições de vida da população, vamos usar como exemplo a China.

A China é o país mais populoso do mundo e possui o segundo maior PIB,


só perde para os EUA. Contudo, quando analisamos seu PIB per capita (o valor do
PIB dividido pela sua população), a China passa de segundo lugar para 91º lugar.

166
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Também é necessário avaliar como a renda gerada no país é distribuída


entre a população, pois se a geração de renda for substancial, porém, sua divisão
for realizada de forma desigual, certamente a qualidade de vida da população
será prejudicada. Ainda, o índice utilizado para medir a concentração de renda é
o índice de GINI.

NOTA

O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um


instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele
aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Varia de zero a
um (alguns apresentam de zero a cem).

O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor
um (ou cem) está no extremo oposto, ou seja, uma só pessoa detém toda a riqueza.

Na prática, o Índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.
No Relatório de Desenvolvimento Humano de 2004, elaborado pelo Pnud, o Brasil aparece
com Índice de 0,591, quase no final da lista de 127 países. Apenas sete nações apresentam
maior concentração de renda. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.
php?option=com_content&id=2048:catid=28&Itemid=23>. Acesso em: 2 maio 2018.

O Brasil é considerado um exemplo clássico de má distribuição de renda.


Embora o Brasil seja considerado uma das maiores economias do mundo, ele
ainda ocupa os maiores rankings de desigualdade de renda, ou seja, a maior
parte da renda se concentra nas mãos de poucos, enquanto que uma parcela
significativa da população vive em condições precárias (PAULANI; BRAGA,
2012). Um estudo realizado em 2017, pelo IBGE, destaca que 10% da população
concentra 43,4% de toda a renda recebida no Brasil.

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DE MASSA DE RENDIMENTO MENSAL REAL


DOMICILIAR PER CAPITA
PNAD - C l Distribuição da massa de rendimento mensal real domiciliar por capita
Brasil - 2016

43,4% 10%
90% da massa total
da população 56,6% da população
da massa total

FONTE: Disponível em: <http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/11/29/ibge-10-


concentram-434-de-toda-a-renda-recebida-no-brasil/>. Acesso em: 1 maio 2018.

167
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Podemos observar que a distribuição da riqueza no mundo é desequilibrada.


Mesmo com todo o discurso sobre globalização e desenvolvimento das nações,
nossas economias são caracterizadas pelo elevado grau de desperdício de recursos.

De acordo com a Oxfam (2017), as grandes cidades mostram a exclusão, a


discriminação social e as desigualdades. Atualmente, 84% da população vive em
áreas urbanas e mais de 11,4 milhões de pessoas moram em favelas.

NOTA

A Oxfam foi fundada em 1942, quando um grupo de pessoas se reuniu para


uma campanha de arrecadação de alimentos com o objetivo de diminuir a fome e amenizar
os danos causados pela Segunda Guerra Mundial. O comitê criado em Oxford, na Inglaterra,
conseguiu enviar alimentos para mulheres e crianças que passavam fome na Grécia.

DESIGULDADE ECONÔMICA E JUSTIÇA SOCIAL

Para reduzir as desigualdades, precisamos enfrentar a crescente


diferença de riqueza e renda entre os super-ricos e o restante da população.
Pesquisas realizadas pela Oxfam evidenciam a escala do problema: em 2016,
oito homens detinham a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas mais
pobres do mundo (o que equivale à metade de toda a humanidade).

No Brasil, os seis maiores bilionários possuem a riqueza equivalente


à metade mais pobre da população brasileira (103 milhões de pessoas). O
país persiste como um dos mais desiguais no mundo. Apesar dos avanços
observados nas últimas décadas, continuamos a oferecer privilégios para quem
está no topo da pirâmide e impor barreiras para pessoas que vivem em situação
de pobreza, sobretudo, negros e negras e as mulheres.

A riqueza compra poder, acesso à tomada de decisões e oportunidades.


Ao fazê-lo, permite para uma minoria privilegiada continuar desfrutando de
seus direitos em detrimento dos direitos da maioria. A desigualdade extrema
não é inevitável ou natural, ela é resultado de escolhas e decisões políticas e
de investimento, somadas a práticas político-institucionais que servem aos
interesses de poucos em detrimento da maioria das pessoas.
FONTE: Disponível em: <https://www.oxfam.org.br/o-que-fazemos/desigualdade-economica-e-
justica-fiscal>. Acesso em: 15 maio 2018.

168
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Outro fator importante em relação à qualidade de vida da população é a


questão do quanto da renda produzida é destinado ao bem-estar da população,
como saúde, educação, saneamento, moradia etc.

De acordo com Paulani e Braga (2012), nenhuma elevação do produto


agregado do pais significa uma elevação na qualidade de vida da sociedade.
Mesmo que haja um crescimento econômico e que seja fundamental para o
desenvolvimento, o último não reduz o primeiro.

Contudo, como fazemos para mensurar a qualidade de vida da população?


Existem indicadores que poderão ajudar na mensuração? Assim, podemos dizer
que os indicadores sociais e econômicos são fundamentais para que possamos
realizar o cálculo.

3 CONCEITO E CONSTRUÇÃO DE INDICADORES


Como já mencionamos anteriormente, os indicadores são fundamentais
na mensuração da qualidade de vida da população e para a formulação de
políticas sociais. Ainda, é uma ferramenta importante para o planejamento de
ações e estratégias para racionalização e utilização dos recursos.

O uso de indicadores tem se tornado cada vez mais relevante nos estudos
econômicos, pois possibilita uma melhor análise da realidade e contribui para a
transparência das informações.

NOTA

Indicadores “são variáveis definidas para medir um conceito abstrato,


relacionado a um significado social, econômico ou ambiental, e têm a intenção de orientar
decisões sobre determinado fenômeno de interesse” (SESI-PR/ORBIS, 2010, p. 11).

Podemos dizer que os indicadores possuem a função de um termômetro,


que permite medir e acompanhar as ações, e são fundamentais no processo de
avalição de objetivos, metas e resultados propostos, tanto de forma quantitativa
como qualitativa (SESI-PR/ORBIS, 2010).

Você pode observar que sempre que falamos de indicadores também nos
referimos a monitorar, mensurar, acompanhar e avaliar. Contudo, para realizar
tais ações, podemos fazer indicadores, porém nem sempre teremos as informações
prontas. Muitas vezes, precisamos inicialmente trabalhar com índices.

169
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

O índice, também chamado de indicador sintético, é a combinação de


várias variáveis. É um número que permite realizar uma combinação de valores.
Para você compreender melhor o nível de agregação das informações, observe a
figura a seguir:

FIGURA 7 – PIRÂMIDE DE INFORMAÇÃO E NÍVEL DE AGREGAÇÃO

FONTE: SESI-PR/ORBIS (2010, p. 12)

Quando realizamos a mensuração de uma condição de vida, o maior


desafio está em conseguir encontrar uma medida que se aproxime do conceito
desejado, pois nem sempre trabalhamos somente como uma variável.

Para mensurarmos a qualidade de vida, vamos trabalhar com o que chamamos


de fenômenos multifuncionais, ou seja, quando se utiliza mais de uma variável. As
informações se dividem em dados (brutos e agregados), indicadores e índices.

Dados: componente básico do trabalho com indicadores.

Indicadores: são derivados dos dados como ferramenta analítica para


estudo de mudanças na sociedade.

Índices: combinação de indicadores, usados com mais frequência em


níveis de análise mais agregada, nos âmbitos regionais e nacionais.

De acordo com Januzzi (2005), os indicadores, para serem utilizados


no processo de mensuração, monitoramento e avaliação, precisam apresentar
algumas propriedades que são descritas a seguir:

a) Confiabilidade da informação: utilização de dados de fontes confiáveis


(secundários) ou coletados com metodologia adequada (primários). É desejável
que os dados sejam rastreáveis, permitindo a identificação de sua origem.

170
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

b) Comunicabilidade: foco em aspectos práticos e claros e que contribuam para


o envolvimento dos interessados nos processos de monitoramento e avaliação.
O ideal é que o conceito do indicador seja facilmente compreendido e sua
construção e cálculo sejam simples. É desejável, também, haver um bom
entendimento do valor ideal para o indicador, oferecendo parâmetros de
comparação.
c) Disponibilidade e Periodicidade: Para que os indicadores estejam disponíveis
nas tomadas de decisões, é necessário escolhermos dados que sejam de fácil
coleta e atualização, com baixo custo, atualizados com a mesma metodologia
ao longo do tempo, permitindo a formação de bases históricas, em frequência
compatível às necessidades de sua utilização.
d) Desagregação: os indicadores devem ser capazes de atender à necessidade
de avaliação de diferentes estratos sociais ou localidades, possibilitando
ações específicas para cada grupo, seguindo seus padrões de comportamento.
Ajudarão a entender a diversidade, a estabelecer foco de ação e a garantir a
representatividade e abrangência das informações.
e) Especificidade com Sensibilidade: os indicadores não devem ser tão amplos,
nem tão específicos. Devem, também, ser capazes de captar a maioria das
variações sobre o fenômeno de interesse, inclusive mudanças de comportamento
durante a execução das atividades.

4 INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA E SOCIAIS


Agora que você já compreendeu o conceito de indicadores, vamos estudar os
indicadores de qualidade de vida. A utilização dos indicadores sociais como parte
da avaliação das condições socioeconômicas da população de um pais ou região
é muito importante no contexto do desenvolvimento e crescimento econômico.
Observamos diariamente que, no Brasil, há um crescimento econômico concentrado
e boa parte da população não se beneficia com o crescimento da economia do país.

Os dados sociais atualmente já são muito utilizados por organismos


internacionais como a ONU, Banco Mundial e OMS, para avaliação da qualidade
de vida das populações dos países. Entre os indicadores utilizados por tais
organismos, estão os relacionados à saúde (mortalidade infantil, esperança de
vida ao nascer ou expectativa de vida) e à educação.

Consideramos, por exemplo, a análise da qualidade de vida da população


partindo da análise da expectativa de vida em alguns países, conforme o quadro
a seguir.

171
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

QUADRO 9 – EXPECTATIVA DE VIDA (REFERENTE AO ANO DE 2015)

País Expectativa de vida ao nascer (anos)


Canadá 80,5 anos
Suíça 81,8 anos
Suécia 80,8 anos
Austrália 81,4 anos
Itália 81,3 anos
Japão 82,7 anos
Brasil 75,5 anos
Moçambique 48,7 anos
Angola 49,6 anos
Serra Leoa 46,2 anos
Lesoto 46 anos
República Centro-Africana 45,9 anos

FONTE: O autor

Observe que os países que apresentam o Índice de Desenvolvimento


Humano (IDH) alto apresentam maiores expectativas de vida, como o Canadá
(80,5 anos) e outros países cuja IDH é baixa, como o caso da Serra Leoa, tendo a
expectativa de vida ao nascer de apenas 42,2 anos.

A mensuração da expectativa de vida de uma população se relaciona com


outros fatores econômicos e sociais, com a concentração de renda e com a oferta
de determinados bens e serviços.

É o caso do acesso à agua potável e ao saneamento básico, que são


indicadores relacionados diretamente à saúde da população e com a esperança
de vida ao nascer (PAULANI; BRAGA, 2012).

Estudos demonstram que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo


vivem sem acesso à água limpa para beber. O problema afeta principalmente os
países mais pobres, mas está presente também em algumas grandes economias
do mundo.

Os estudos não destaca somente os países mais pobres da África, como


também os mais afetados (Angola, República Democrática do Congo e Guiné
Equatorial). Ele demonstra que a Índia também registra um alto número de
pessoas sem acesso à água limpa.

Além da saúde, a educação também revela elementos importantes para a


mensuração da qualidade de vida de um país. Analisar o desenvolvimento de um
país passa também por taxas de acesso à educação.

172
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

O índice de educação dos países é medido pela taxa de alfabetização de


adultos (com ponderação de dois-terços) e pela taxa de escolarização combinada
do primário, secundário e terciário bruto (com ponderação de três).

A taxa de alfabetização de adultos dá uma indicação da capacidade de ler


e escrever, enquanto a RGE dá uma indicação do nível de educação da creche ao
ensino de pós-graduação.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é o


órgão responsável pela mensuração do Índice de Desenvolvimento Humano, o
IDH. O Brasil, de acordo com os últimos estudos realizados pelo PNUD, está em
79º lugar em índice de desenvolvimento humano. A imagem a seguir apresenta
os rankings dos países.

FIGURA 8 – RANKING DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

FONTE: Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/em-79-lugar-


brasil-estaciona-no-ranking-de-desenvolvimento-humano-da-onu.ghtml>.
Acesso em: 22 jun. 2018.

173
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Quando voltamos nossos olhares para as regiões brasileiras, a situação


também demonstra uma desigualdade entre as regiões do Brasil. Um estudo
realizado pela Oxfam, em 2017, revela que:
Neste momento, o 1% mais rico da população mundial possui a mesma
riqueza que os outros 99%, e apenas oito bilionários possuem o mesmo
que a metade mais pobre da população no planeta. Por outro lado, a
pobreza é a realidade de mais de 700 milhões de pessoas no mundo.
Trata-se de uma situação extrema (OXFAM, 2017, p. 11).

Em relação ao Brasil, o estudo demonstra uma situação bem semelhante
e acrescenta que:

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Nossos indicadores


de desigualdade são como diferentes lentes que fotografam o mesmo
problema – o distanciamento hierarquizado de grupos sociais.
Obtivemos conquistas que merecem ser notadas, mas ainda aquém
da concretização de todos os direitos previstos constitucionalmente
(OXFAM, 2017, p. 11).

De acordo com a Oxfam (2017), a desigualdade extrema tem múltiplas


origens e traz sérias consequências negativas para a garantia de direitos e para o
desenvolvimento sustentável. Entre suas causas estruturais está a concentração
da terra, um fator de preocupação na América Latina e, em especial, no Brasil.

A concentração da terra está ligada ao êxodo rural, à captura de recursos


naturais e bens comuns, à degradação do meio ambiente e à formação de
uma poderosa elite associada a um modelo agrícola baseado no latifúndio de
monocultivo, voltado à produção de commodities para exportação e não para a
produção de alimentos.

Contudo, como é medida a desigualdade dos países? Para mensurar,
utilizamos, em geral, o Índice de Gini, que é um indicador que mede a
distribuição de renda na população e que varia de 0 a 1, sendo mais desigual
quando próximo de 1. Na imagem a seguir, podemos observar os países com
maiores desigualdades no mundo.

174
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

FIGURA 9 – EXEMPLOS DO ÍNDICE DE GINI

Alguns exemplos de Índice de Gini


Posição ranking
País Índice
mundial
1 Hungria 0,244

2 Dinamarca 0,247

3 Japão 0,249

34 Índia 0,325

67 Portugal 0,385

76 EUA 0,408

90 China 0,447

109 Argentina 0,522

112 México 0,546

118 Chile 0,546

119 Colômbia 0,576

120 Brasil 0,591


África do
121 0,593
Sul
127 Namíbia 0,707

FONTE: Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.


php?option=com_content&id=2048:catid=28&Itemid=2>. Acesso em:
22 jun. 2018.

Observe, na figura anterior, que o primeiro país que se destaca como mais
desigual é a Hungria (0,244) e que em último está a Nambia (0,707). O Brasil se
destaca em 120º com um índice de 0,591.

O indicador de Gini é calculado através de uma razão de áreas do gráfico


de Lorenzo, definindo uma expressão geométrica para demonstrar como a renda
na população se relaciona com o seu número em termos percentuais.

175
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

FIGURA 10 – CURVA DE LORENZ – TEORIAS


B
100%
90%
80%
Sociedade
% renda total acumulada
70% igualitária
60%
50%
α
40%
30%
20%
Sociedade com
10% concentração de renda C
0%
A 0% 20% 40% 60% 80% 100%
% acumulada da população
FONTE: Paulani e Braga (2012, p. 377)

Na figura, podemos observar as curvas para uma sociedade igualitária


e para uma sociedade com concentração de renda. No caso de uma sociedade
com concentração de renda, podemos verificar que a curva é apresentada com
concavidade voltada para cima, o que representa que toda a renda gerada fica
concentrada na mão de um indivíduo. Já em uma sociedade igualitária, a é renda
é representada por uma linha reta com inclinação de 45º. A área escura da figura
é a chamada área de concentração. Quanto maior a concentração, maior é a área.

O cálculo do coeficiente de Gini é simples: divide-se a área de concentração


pela área de perfeita desigualdade, ou seja, pela área do triângulo situado abaixo
da linha de perfeita igualdade:

G = Área de Concentração/Área de Perfeita Desigualdade

Se não há concentração, o numerador é zero, e o coeficiente de Gini resulta


também em zero. Se a concentração é máxima, teremos o numerador igual ao
denominador, e o coeficiente assume valor um, sendo então: 0 ≤ G ≤ 1.

De acordo com um estudo realizado pela CEPAL (2017) sobre a


concentração de renda na América Latina, depois do Brasil, os países que mais
concentram renda nas mãos do 1% mais rico são Colômbia, Estados Unidos,
Argentina e Uruguai.

176
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Na Colômbia, o 1% mais rico concentra 20,4% da renda do país, apontam


dados de 2010. Nos EUA, o topo da pirâmide concentra 20,2% da renda total,
segundo dados de 2014 e, na Argentina, 16,7%, apontam dados de 2004. No
Uruguai, o 1% mais rico concentra 14%, de acordo com informações de 2012.

DICAS

A distância que nos une – um retrato das desigualdades brasileiras. Relatório


lançado em setembro de 2017 com o objetivo de alimentar o necessário e urgente debate
público sobre as desigualdades no Brasil e as soluções existentes para reduzi-las. Disponível
em: <https://www.oxfam.org.br/publicacoes>. Acesso em: 22 jun. 2018.

177
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

A qualidade da educação básica brasileira comparada com outros países

Rodinei Vechia

Um panorama das mazelas e oportunidades a partir de uma análise


comparativa do status da educação brasileira comparada com países de primeiro
mundo.

Na década de 1970, o Brasil investia em média apenas 2% do PIB em


educação; na década de 1990, 3,7%; atualmente, 5,2%, superior à média dos países
da OCDE, que é de 4,8%. Em 2010, a Coreia do Sul investiu US$5.546 por aluno
em educação; Portugal, US$5.592; Japão, US$7.862; EUA, US$8.816; países da
OCDE, US$8893; e Brasil, US$958.

Os números sugerem que, nos países de gestão competente dos recursos


educacionais, há resultados concretos em qualificação. No Brasil, muitos aportes
nem chegam aos que mais necessitam, perdem-se pelos ralos das burocráticas e
ineficientes máquinas estatais.

Ao final do ensino médio, um brasileiro está preparado para produzir


apenas 33% de um coreano. Também na área educacional vale a lógica empresarial
de busca por resultados e eficiência.

As escolas europeias de ensino médio possuem modelos flexíveis de


ensino, que se moldam aos interesses e competências dos alunos, inclusive com
seminários profissionalizantes.

Nos Estados Unidos, o sistema educacional médio é ainda mais aberto.


Há um vasto cabedal de disciplinas e cada aluno constrói seu currículo. Já as
escolas asiáticas optam por modelos mais rigorosos, mas não menos eficientes.
Em comum, ambientes com uso intensivo de tecnologia de ponta e alunos bem
preparados.

No Brasil, o currículo do ensino médio é fechado, com quinze disciplinas


obrigatórias e estreita margem de manobra. Como não há um currículo base que
defina o que todos devem ensinar a cada ano letivo, os alunos têm dificuldades
para absorver conhecimento.

O sistema de ensino tem outros problemas estruturais, a saber: salas de aula


antiquadas; curta jornada escolar; altos índices de evasão; despreparo público na
gestão educacional; corporativismo; baixa remuneração; e déficit de ensinadores,
principalmente com formação completa (especialização, mestrado, doutorado).

178
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Tais fatores geram retroalimentação negativa, afugentam as boas cabeças


da carreira docente e jogam para a vida uma legião de jovens despreparados e
com futuro pessoal e profissional comprometidos.

Um levantamento executado pela OCDE em 32 nações no ano de 2013,


denominado Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), aponta
que, no Brasil, 20% das horas dos docentes em classe são desperdiçadas com
indisciplina, ante média mundial de 13%. Os dados foram coletados em 1070
escolas, com cerca de 14,3 mil professores e 1,1 mil diretores.

Os docentes brasileiros gastam também mais 12% das horas em sala de


aula para a resolução de afazeres administrativos. Sobra, portanto, somente 68%
da carga horária para atividades de ensino e aprendizagem.

O docente brasileiro, segundo a pesquisa, trabalha mais tempo que seus


colegas estrangeiros. Em média, gasta 25 horas semanais em classe, 6 horas a mais
em relação à média internacional.

As salas de aula e as lousas brasileiras são pouco atraentes para estudantes


e educadores. As sacrossantas casas de educação estagnaram no século passado,
assim como alguns professores e gestores, mas os alunos são do século XXI.

Fica difícil criarmos ambientes de aprendizado com professores analógicos


movidos ao giz, sendo que estamos migrando para a era digital, com alunos já
nativos digitais. O desafio é equalizar todos no século XXI.

A maioria das escolas públicas é pouco equipada: 0,6% têm laboratório


de ciências; 15% têm biblioteca e sala de informática; 14% têm somente uma
sala de aula em sua maior parte nas regiões Norte e Nordeste; e apenas 44%
têm infraestrutura básica como água e energia. Ainda, sem citarmos arremedos
de escolas públicas, que não possuem vagas para novos alunos e cujas salas de
ensino nem ao menos têm cadeiras suficientes.

Na cidade de São Paulo, somente 12,4% das escolas públicas estaduais e


municipais do ensino fundamental e médio têm bibliotecas, apesar de existir uma
lei federal desde maio de 2010 que obriga a instalação de bibliotecas em escolas
até 2020, com ao menos um livro por aluno matriculado.

Ao se sentirem desestimulados, alunos abandonam as escolas: 24%


não concluem o ensino fundamental e 49% o ensino médio. A evasão escolar
entre jovens de 15 a 17 anos beira 16%. Em muitas escolas e em seu entorno,
brotam drogas e álcool; alunos desrespeitam, ameaçam e, por vezes, até agridem
professores. No ambiente de descontrole brota o bullying, que já afeta cerca de
13% de crianças e jovens.

179
UNIDADE 3 | SISTEMA FINANCEIRO E INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

Além da evasão escolar, há um crescente déficit na formação de mão de


obra qualificada no Brasil, e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico
(Pronatec), instituído em 2011, tenta suprir mais essa lacuna de formação
qualificada ao oferecer cursos gratuitos de ensino técnico.

A educação profissional é a forma mais rápida para o ingresso no mercado


de trabalho, pois possibilita obtenção de renda e ingresso a posteriori no ensino
superior. Ocorre que há 8,7 milhões de jovens que não trabalham e nem estudam,
e a taxa de desemprego entre jovens passa de 12%, percentual muito superior à
média do mercado brasileiro de 5,4%.

Poucas pessoas se beneficiam da educação de qualidade. De um lado, há


uma minoria elitizada com acesso a instituições de ensino de alto nível e, de outro,
a maioria da população que frequenta escolas com qualidade de ensino sofrível.

Determinado contrassenso de política educacional já existia desde a


década de 1950 e permanece, em sua essência, invariável no tempo. Um problema
de ordem estrutural do Brasil que, caso se faça a lição de casa de forma correta, só
será corrigido em horizontes de décadas.

Na década de 1960, o Brasil e a Coreia do Sul eram países subdesenvolvidos,


mas em 2011, a renda per capita coreana representava o triplo da brasileira. A
Coreia praticamente erradicou o analfabetismo, enquanto 8,5% dos brasileiros
com mais de 15 anos, uma multidão de 13,2 milhões de pessoas, ainda não sabem
ler e nem escrever.

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios


(Pnad) de 2012, a taxa de analfabetismo parou de cair no Brasil após um período de
15 anos de declínio. Neste ano, infelizmente 300 mil novos analfabetos surgiram.
O país não registrava crescimento da taxa de analfabetismo desde 1997.

O analfabetismo absoluto brasileiro se concentra na população mais velha,


das regiões mais pobres, geração que não teve na juventude as oportunidades das
gerações mais jovens. O problema do analfabetismo funcional persiste, ou seja,
aquele em que as pessoas embora minimamente alfabetizadas não conseguem
entender o que leem, nem se expressam por escrito, o que não as emancipa
economicamente e socialmente.

O estupendo desenvolvimento coreano ocorreu principalmente devido a


investimentos e incentivos maciços do Estado em sistemas educacionais públicos
de ensino fundamental e médio (carga horária de mais de 40 horas semanais). As
salas de aula são adequadas ao ensino, equipadas com o que há de mais avançado
em tecnologia, os professores são muito bem preparados e remunerados.

Mais de 66% dos gastos com pesquisas são financiados pelo setor privado
por meio de incentivos fiscais. A gestão dos recursos é eficiente, ou seja, criou-se
um ciclo virtuoso que produz continuamente resultados auspiciosos.

180
TÓPICO 3 | INDICADORES ECONÔMICOS E SOCIAIS

O processo de gestão na área educacional, dentre outras medidas tomadas


pelo poder público, transformou a paupérrima Coreia do Sul da década de 1960
em um país rico 50 anos depois. No mesmo período, o subdesenvolvido Brasil
da década de 1950 surge em 2010 como um país ainda em desenvolvimento, com
educação capenga e comendo poeira dos sul-coreanos.

Estudos econômicos dão conta que cada ano de estudo escolar acrescenta
10% na produtividade de um trabalhador. Não é por acaso que na maioria dos
países europeus, assim como nos EUA, no Japão e na Coreia do Sul, há um alto
nível de escolaridade, que beira 12 anos de estudo.

No Brasil, além da baixa qualidade de ensino, o tempo médio de estudo


está em inaceitáveis 7,9 anos, segundo o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). É a pior média entre os países da América do Sul.

O último relatório do Fórum Econômico Mundial, o mais importante


conjunto mundial de empresários, economistas, presidentes de empresas e
estudiosos de economia, divulgou diversos dados de 148 países relativos aos
anos de 2012 e 2013. O Brasil ficou em 129º na qualidade da educação básica e em
136º na qualidade de educação de matemática e de ciências.

Aconteceram progressos no campo educacional brasileiro, mas muito


pouco para quem deve ser protagonista. A economia, motor de arranque
do desenvolvimento de uma nação, está cambaleante. É um país caro, com
infraestrutura ruim e produtividade sofrível.

Diversos estudos já demonstraram a relação direta entre o nível educacional


com a produtividade e o nível de renda de um país. O salto de produtividade
necessário para realinhar o Brasil com os países ricos deve vir não só por meio de
melhorias sociais, ambientais e econômicas, mas sobretudo pela capacitação de
sua força de trabalho por meio de educação de qualidade, trabalho para mais de
uma geração, infelizmente, ainda em gestação.

FONTE: VECCHIA, Rodnei. A qualidade da educação básica brasileira comparada com outros
países. 2014. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/academico/a-qualidade-
da-educacao-basica-brasileira-comparada-com-outros-paises/78861/>. Acesso em: 22 jun. 2018.

181
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Há diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico.

• Nem sempre um país que apresenta grande crescimento econômico possui


indicadores sociais altos.

• Tanto nos países em desenvolvimento como nos subdesenvolvidos, há uma


desigualdade de renda.

• A concentração de renda geralmente está em 1% da população.

• Problemas de acesso à água potável e ao saneamento básico estão presentes em


muitas nações desenvolvidas economicamente.

182
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as fontes de crescimento econômico?

2 O que são indicadores?

183
184
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