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CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Leon Frejda Szklarowsky


I CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Preliminarmente, é preciso compreender-se o significado da expressão


administração pública. Administração é vocábulo equivoco e abrange não só o Poder
Executivo como também a complexa máquina estatal, o aparelho, através do qual o Estado
pode realizar seus fins, ou, como define Cretella Júnior, é a atividade desenvolvida pelo
Estado, através de atos excutórios concretos, para a consecução direta, ininterrupta e
imediata dos interesses públicos.

As funções do Estado se harmonizam, não estão separados por fossos


intransponíveis, esotéricos, como genialmente descreve Montesquieu, porque a função
administrativa é exercida não só pelo Poder Executivo, na sua atividade própria, mas
também pelos Poderes Legislativo e Judiciário. Trata-se na verdade de vasos comunicantes.
O Estado realiza suas atividades, através de pessoas físicas.

Segundo Antonio Pagliaro e Paulo José da Costa, a expressão administração


pública, no direito penal, tem significado diverso e não necessariamente coincidente com o
do direito constitucional e do direito administrativo.

No direito penal, o conceito de administração é bastante amplo, de modo a abranger


toda a atividade funcional do Estado, inclusive a de governo.

O Código Penal, no artigo 327, conceitua funcionário público, para os efeitos


penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública, inclusive em entidade paraestatal. Observe-se que a pena é aumentada da
terça parte, se os autores dos crimes previstos neste capítulo Código Penal forem detentores
de cargo em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgãos da
administração direta, em sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.

O Capítulo I trata dos crimes praticados por funcionário público contra a


Administração em geral.

O artigo 312 do Código Penal cataloga o peculato, como sendo o crime de


apropriação por parte do funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, publico ou privado de que tenha a posse em razão do cargo, ou desviá-lo em
proveito próprio ou alheio. Comete também o crime o funcionário público, conquanto não
tendo a posse, subtrai-o ou concorre para que seja subtraído próprio ou alheio, valendo-se
da facilidade que lhe proporciona o cargo.
Não se trata de crime de apropriação indébita, dada a diferença estrutural que existe
entre um e outro crime, graças à qualidade do sujeito ativo, do título da posse que deve
estar relacionado com o cargo ou serviço e a pluralidade de condutas, nesse tipo penal.

O sujeito ativo será sempre o funcionário público. Esta qualidade comunica-se aos
co-autores, daí por que os demais autores poderão ser não funcionários públicos.

A apropriação ou o desvio, ou seja, dispor da coisa alheia como se sua fosse ou dar
à coisa destinação diversa daquela em razão do que lhe foi entregue ou confiada.

A jurisprudência tem enfrentado situações interessantes, caracterizando como


peculato a apropriação de objetos destinados a presos, praticado por carcereiro, em razão do
cargo. Também o desvio de bem público, por longo tempo em proveito próprio, porque não
há de falar em furo de uso.

O peculato culposo, não previsto pelo direito europeu, exceto o direito espanhol,
constitui-se na modalidade não intencional. O anteprojeto transforma esse dispositivo em
facilitação culposa, ao propor que pratica esse crime o funcionário que facilitar
culposamente a prática de qualquer dos crimes previstos no caput do artigo.

O artigo 313 prevê o crime de apropriação de dinheiro ou qualquer utilidade,


praticado por quem, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. Na verdade, trata-
se, segundo alguns autores, de verdadeiro peculato – estelionato O dolo é posterior, pois o
crime não se consuma no momento do recebimento, quando dele se apropria, dispondo da
coisa que se dele fosse. A tentativa é perfeitamente possível, como por exemplo, o agente
do correio é pilhado, no momento em que está violando o envelope, recebido para efetuar o
registro.

Assim, se o réu embolsa quantia recebida de particulares por erro destes, não em
razão, mas apenas no exercício do cargo, comete, segundo orientação da jurisprudência, o
crime previsto no artigo 313. Assim, também comete este delito o escrivão de Cartório de
Notas, ao receber dinheiro para pagamento da sisa, na lavratura da escritura, e apropria-se
do numerário, deixando de praticar referidos atos.

No artigo 314, o crime concretiza-se pelo extravio de livro oficial ou qualquer


documento, de que o funcionário tem a guarda, sonegação ou inutilização, total ou parcial,
se o fato não constituir crime mais grave. Trata-se assim de crime subsidiário ou
suplementar.

Chefe de turmas julgadoras de delegacia tributária que ordena a um funcionário que


consuma com as folhas do julgamento com voto em sentido contrário ao de suas
pretensões, comete esse crime, segundo noticia a jurisprudência.

No artigo 315, há que se considerar um fato delituoso que não era considerado pelo
direito anterior, ou seja, dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida
em lei.
O criminalista Paulo José da Costa entende que, sendo comum essa conduta, na
administração pública, poucos são os que pretendem que este delito subsista, visto que não
existe para o Estado qualquer dano patrimonial. O funcionário deverá ter ao seu dispor
fundos públicos, sendo sujeito passivo a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e as autarquias.

Entretanto, a Constituição veda expressamente a transposição, o remanejamento ou


a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão
para outro, sem prévia autorização legal(artigo 167, VI). Não se trata, pois, de conduta
inexpressiva.

A orientação pretoriana tem destacado que o administrador público municipal


(obviamente se aplica a qualquer administrador público) se deve ater às destinações das
verbas previstas na lei orçamentária, devidamente tituladas e eodificadas, visto que a
objetividade jurídica do delito de aplicação indevida de verbas não é só boa versação do
patrimônio público, bem como o acatamento aos plano administrativos a que se devem
jungir os governantes. Todavia, já ficou decido que a norma do artigo 315 do Código não
pune irregularidades administrativas, mas o comportamento do administrador que desvia
numerário de meta especificada em lei, requisito que não se materializa nos casos em que o
orçamento da pessoa jurídica de direito público não é aprovado por lei, mas por decreto do
Executivo.

Pelo artigo 316, a concussão materializa-se, quando o funcionário exige para si ou


para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagens indevidas. É um dos crimes mais graves contra a Administração
Pública. É, na lição da doutrina, a violência praticada contra os súditos, para satisfação de
interesse particular, ou uma forma de extorsão praticada por funcionário público, de sorte
que alguns países o configuram como extorsão agravada. Assemelha-se à concussão,
entretanto naquele há bilateralidade na conduta. Exige o funcionário, impondo, solicitando
com autoridade, em razão da função que desempenha ou vier a desempenhar.

Destarte, já decidiu o Poder Judiciário que comete o crime que lesa o serviço
público federal quem, contratado pela Previdência Social, para prestar atendimento
hospitalar ou labotarial, exige dos segurados pagamento adicional. O responsável pelo
convênio incide no crime de concussão se exigir dos segurados pagamento adicional pelos
serviços a que se obrigou. Este crime é formal e concretiza-se com a simples exigência,
independentemente de qualquer resultado, sendo irrelevante se recebeu ou não qualquer
pagamento.

Já o parágrafo único trata do excesso de exação, que se corporifica, quando o


funcionário exige imposto, taxa ou emolumento que sabe indevido, ou quando devido,
emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. Esse crime é
agravado, se o funcionário desvia em proveito próprio.

A jurisprudência tem assinalado que a legislação penal não prevê a cobrança


excessiva de custas judiciais como fato penalmente punível.
A corrupção passiva materializa-se, segundo dispõe o artigo 317, ao solicitar o
funcionário público ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem.

O crime é agravado, se houver retardamento ou omissão na prática de qualquer ato


de ofício ou se o pratica com infração de dever funcional. Não obstante, também pratica o
crime o funcionário que deixar de praticar ou retardar ato de ofício, com infração do dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem.

A jurisprudência tem-se pronunciado, no sentido de que se excluem da incriminação


pequenas doações ocasionais, recebidas por funcionários, em razão de suas funções. Em
tais casos, confirma o Poder Judiciário, não há de sua parte consciência de aceitar
retribuição por um ato funcional, que é elementar do dolo no delito, nem haveria vontade
de corromper.

Distinguem-se ainda os crimes de facilitação de contrabando ou descaminho,


previsto no artigo 318, a prevaricação, no artigo 319. Este crime perfaz-se com o
retardamento ou a omissão indevida, na prática de ato ou ofício, ou fazê-lo, contra
disposição de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Já a condescendência criminosa também é uma forma de prevaricação, menos


grave, e consiste no fato de deixar o funcionário de responsabilizar subordinado que
cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falece competência, não levar o fato
à autoridade competente.

O abandono de função, a advocacia administrativa, a violência arbitrária, a violação


de sigilo funcional, e o exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado também
constituem crimes contra a Administração.

Não se olvide a violação de proposta de concorrência, prevista atualmente pela Lei


8666, de 1993, que, no artigo 94, assim conceitua este crime: devassar o sigilo de proposta
apresentada em procedimento licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo.

O ilustre Professor Vicente Grecco, ao comentar os crimes previstos na Lei de


Licitações e Contratos Administrativos, deplora com muita razão o descalabro do
legislador, com relação à técnica legislativa, que deixa muito a desejar.

Realmente, a conceituação é defeituosa, cheia de lacunas e imprecisa, o que leva, na


prática, a tornar-se mais um lei que nasce morta.

II A IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A Lei 8429, de 2 de junho de 1992, e a legislação complementar, têm em vista a


defesa do patrimônio público e dos direitos constitucionais do administrado.

Qualquer agente público poderá vir ser o sujeito ativo.


A fonte direta encontra sua sede, na Constituição Federal, sobressaindo-se os artigos
15, inciso V, e 37, § 4º.

A Lei Maior (art. 85, V) define os crimes de responsabilidade do Presidente da


República e considera delito o ato daquela autoridade que atentar contra a probidade na
administração.

O tema é de tal relevância, que o constituinte veda a cassação de direitos políticos,


mas autoriza a perda ou a suspensão de direitos políticos, no caso de improbidade
administrativa, nos termos do § 4º do citado artigo 37.

A administração pública direta, indireta de qualquer dos poderes da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,
impessoalidade, eficiência, moralidade, publicidade e todos os demais previstos na
Constituição, advertindo o § 4º que os atos de improbidade administrativa importarão na
suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento do erário público, sem prejuízo da ação penal cabível.

A determinação da Carta Maior não deixa margem a qualquer dúvida, quanto à sua
aplicação, ficando as autoridades competentes munidas de imenso instrumental jurídico.

A improbidade não é coisa nova nem de nossos tempos, visto que esta existe, desde
que o homem povoa a Terra. Não obstante, a sociedade sempre procurou amenizar essa
mácula, combinando instrumentos legais, na área administrativa e na área penal, nem
sempre com o êxito desejado.

A doutrina tem pinçado falhas, na Lei 8429, como apregoa Marcelo Figueiredo;
entretanto, não há lei perfeita, como produto de cultura que é, devendo o operador do
direito aplicá-lo, da melhor forma, desbastando-o com o cinzel da sabedoria. Para Toshio
Mukai, esta lei é totalmente inconstitucional.

O artigo 1º demonstra, à saciedade, a elasticidade desse diploma legal, de sorte que


qualquer ato de improbidade praticado por agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer das esferas de poder, inclusive
dos Territórios, está sujeita à sua incidência.

Improbidade é desonestidade e relaciona-se com a conduta do administrador e pode


ser praticada não apenas pelo agente público, lato sensu, senão também por quem não é
servidor e infringe a moralidade pública..

A Constituição não mais se refere à administração fundacional, mercê da Emenda


19, de 1998. Isto porque a fundação está compreendida na Administração indireta e
despicienda é sua menção. E a administração pública é bastante ampla, compreendendo,
para os efeitos desta lei, também a empresa incorporada ao patrimônio público e a entidade,
para cuja criação ou custeio o Tesouro haja concorrido ou concorra com mais de 50% do
patrimônio ou da receita anual.
O artigo 2º fornece o conceito de agente, sendo todo aquele que, exercendo, mesmo
que transitoriamente, ou sem remuneração, por eleição, contratação, designação ou
qualquer outra forma de vínculo, mandato, cargo ou função nas empresas indicadas no
artigo 1º. Enfim, sua abrangência é a mais ampla possível e compreende todas as esferas de
poder. Mas também o é todo aquele que, não sendo agente, concorra ou induza para a
prática do ato de improbidade ou dele se beneficie, sob qualquer forma direta ou indireta.

A lei é precisa e determina, em cumprimento aos cânones constitucionais, o zelo


pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Contudo, essa
relação não é exaustiva.

A probidade administrativa abarca o princípio da moralidade e ocorre, quando se


praticam atos que ensejam enriquecimento ilícito, causam prejuízo ao erário ou atentam
contra os princípios da administração, definidos no artigo 37, § 4°, da CF, entre os quais
está incluída a moralidade, ao lado da legalidade, da impessoalidade e da publicidade, além
de outros que, mesmo não apontados, explicitamente, no referido preceito, acham-se
distribuídos por toda a Constituição. E, também, aplicam-se à condução dos negócios
públicos.

O ato de imoralidade, na opinião da melhor doutrina, afronta a honestidade, a boa


fé, o respeito à igualdade, as normas de conduta aceitas pelos administrados, o dever de
lealdade, a dignidade humana e outros postulados éticos e morais.

Já a improbidade traduz a má qualidade de uma administração, pela prática de atos


que implicam em enriquecimento ilícito do agente ou em prejuízo ao erário ou, ainda, em
violação aos princípios que orientam a administração pública.

Vale dizer todo ato contrário à moralidade administrativa é ato que corresponde à
improbidade, mas nem todo ato de improbidade administrativa compreende a violação da
moralidade administrativa.

E, mais, desde que se comprove a ocorrência da lesão ao patrimônio público, por


ação ou omissão dolosa ou culposa do agente ou do terceiro, dar-se-á o total ressarcimento
do dano. Nada escapa.

O agente ou terceiro beneficiário dos bens ou de valores acrescidos ao patrimônio,


que deu origem ao enriquecimento ilícito, ficará sujeito à perda desses bens.

Sem embargo da grita geral contra a lei, esta com precisão matemática fornece o
conceito de improbidade administrativa, qual seja auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades já mencionadas, elencando a lei mis doze incisos, o que demonstra
o cuidado do legislador.

Esse diploma legal também traz o entendimento do ato que causa lesão ao erário,
distinguindo daqueles que atentam contra os princípios da Administração Pública.
A Lei 8429/92 refere três espécies de atos ímprobos na administração:

a) atos que importam em enriquecimento ilícito.

b) atos que produzem prejuízo ao erário.

c) atos que atentam contra os princípios da administração pública.

A primeira espécie de atos de improbidade administrativa compreende os seguintes:

I) auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de


cargo, mandato, função ou emprego, ou atividades nas entidades mencionadas no art. 1º
desta Lei;

II) receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer
outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

III) perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição,


permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades
referidas no art. 1º por preço superior ao valor de mercado;

IV) utilizar, em obra ou serviço particular, veículo, máquinas, equipamentos ou


material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por essas entidades;

V) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para


tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer atividade ilícita, ou aceitar promessas de tal
vantagem;

VI) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer
declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço,
ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens
fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei;

VII) adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou


função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do
patrimônio ou à renda do agente público;

VIII) aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou


assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
atividade.
IX) perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de
verba pública de qualquer natureza.

X) receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para


omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado.

Xl) incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio, bens, rendas, verbas ou
valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1 desta Lei.

XII) usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do


acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei.

A segunda espécie de atos de improbidade é a das que causam prejuízo ao erário,


v.g.:

1) facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio


particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas ou valores integrantes do acervo
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei.

2) permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
art. 1º desta Lei.

3) doar a pessoa física ou jurídica, bem como ao ente despersonalizado, ainda que
de fins educativos ou assistenciais, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, sem observância das formalidades
legais e regulamentares aplicáveis à espécie.

4) permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bens integrantes do


patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, ou ainda a prestação de
serviços por parte delas, por preço inferior ao de mercado.

5) permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ou serviço por preço


superior ao de mercado.

6) realizar operação financeira sem observância das normas legais e regulamentares


ou aceitar garantias insuficientes ou inidôneas.

7) conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades


legais ou regulamentares aplicáveis à espécie.

8) frustrar a licitude do processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente.

9) ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou


regulamento.
10) agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bem como no que diz
respeito à conservação do patrimônio público.

11) liberar verba pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir
de qualquer forma para a sua aplicação irregular.

12) permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente.

13) permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,


equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer
das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidor público,
empregados ou terceiros contratados por essas entidades.

E a última espécie de atos de improbidade administrativa refere-se aos que atentam


contra os princípios da administração pública, violando os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições, destacando-se os que seguem:

a) praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele


previsto, na regra de competência.

b) retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício.

c) revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que
deve permanecer em segredo.

d) negar publicidade aos atos oficiais.

e) frustrar a licitude de concurso público.

f) deixar de prestar contas quando obrigado a fazê-lo.

g) revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva


divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de afetar o preço da
mercadoria, bem ou serviço.

A lei não 8.429/92 não define crimes. Os atos tipificados nos arts. 9°, 10 e 11 não
constituem crimes no âmbito da referida lei. Muitas dos comportamentos ali descritos são
de natureza criminal, definidos, em outras leis, como por exemplo, o Código Penal, o
Decreto-lei 201, a Lei n° 8.666/93 etc.

A sanção cominada na lei sob estudo é de natureza política ou civil,


independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação
própria.

Os atos de improbidade administrativa que importam em enriquecimento ilícito


estão sujeitos às seguintes cominações:
1) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;

2) ressarcimento integral do dano, quando houver;

3) perda da função pública;

4) suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos;

5) pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial;

6) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

Na ocorrência da prática de atos de improbidade que causem prejuízo ao erário, as


sanções são:

I) ressarcimento integral do dano, se houver;

II) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer


esta circunstância;

III) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos;

IV) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano;

V) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditício, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

Por fim, a prática de atos de improbidade, que atentam contra a moralidade e demais
princípios da administração, acarreta como sanção o (a):

1) ressarcimento integral do dano;

2) perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos;

3) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida


pelo agente;

4) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefício ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica
da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

Como tenho afirmado, as penas previstas neste diploma legal são muito graves e
não excluem as sanções penais, civis e administrativas.
Toshio Mukai novamente vê nesta lei inconstitucionalidade, na acumulação das
penas, quais sejam a suspensão dos direitos políticos e a perda da função pública.

O procedimento administrativo e o processo judicial estão regulados no capítulo V.

A lei confere a qualquer um o direito de representar à autoridade competente, para a


instauração de investigação com o objetivo de apurar a prática de ato de improbidade. A
representação deverá ser escrita ou reduzida a tremo, formal. Se não preencher os
pressupostos da lei, será rejeitada, mas isso não impede a atuação do Ministério Público.

Se houver indícios de enriquecimento ilícito, a comissão deverá representar ao


Ministério Público ou à Procuradoria do órgão, para que requeira a decretação do seqüestro
dos bens do agente ou do terceiro que haja enriquecido ilicitamente ou causado dano ao
patrimônio público.

Um dispositivo de alta relevância é o que diz respeito à proibição de transação,


acordo ou conciliação, nas ações previstas na lei, ou seja, na ação ordinária principal que
será proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica interessada, nos trinta dias da
efetivação da cautelar.

Um dispositivo de alta significação diz respeito à catalogação como crime a


representação por ato de improbidade contra terceiro ou agente público, quando o autor da
denúncia o sabe inocente.

O procedimento administrativo e o processo judicial devem ser sucessivos


objetivando a apuração de atos de improbidade e a aplicação das sanções contra os
respectivos agentes.

O procedimento administrativo servirá de base para o processo judicial visando à


aplicação das sanções, como a perda do cargo e suspensão dos direitos políticos, de
competência privativa do Poder Judiciário.

A Lei 8.429/92 permite a qualquer pessoa representar à autoridade administrativa


competente para que seja instaurada investigação destinada a apurar a prática de ato de
improbidade. A comissão designada para apurar a prática do ato de improbidade dará
conhecimento de sua instauração ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, que
poderão designar representantes para acompanharem o referido procedimento
administrativo.

A comissão poderá solicitar ao Ministério Público ou à Procuradoria do órgão o


seqüestro dos bens do agente ou de terceiro enriquecido ilicitamente ou que haja causado
dano ao erário.

Os processos de prestação de contas dos agentes públicos, de competência do


Tribunal de Contas, alicerçarão os procedimentos administrativos a que se refere a lei
8.429/92. Compete a esses Tribunais a apreciação da legalidade das despesas; verificar a
ocorrência de prejuízos aos erários, a violação à moralidade administrativa; o desvio de
recursos, em favor dos agentes ou de terceiros; a realização de aquisições ou alienações
viciosas de bens; o favorecimento de terceiros em detrimento do patrimônio público; a
omissão ou negligência do agente público; as infrações aos princípios da legalidade, da
legitimidade, da economicidade; enfim, encetar a investigação que, ao final, se revele capaz
de certificar a probidade ou improbidade do agente público. notadamente examinando a
evolução de seu patrimônio, de acordo com a competência outorgada pela Lei nº 8.730/93.
Citem-se ainda as investigações feitas no âmbito dos Tribunais de Contas acompanhadas
pelo Ministério Público que atua junto àquelas Cortes(arts. 73, § 2°, I e 130), de
conformidade ainda com a Lei 8.429/92.

Eis que a Lei 8.429/92 apresenta-se como valioso e preciso instrumento para
assegurar-se a probidade administrativa, resguardando-se, assim, a incolumidade do
patrimônio público e o respeito aos princípios da sã administração, com o ressarcimento do
erário, a punição dos culpados e seu afastamento temporário das lides político - partidárias.

Com relação à prescrição, há que se acrescentar que o prazo para ajuizamento das
ações sancionatórias é regulada pela Lei 8.429/92, de sorte que as citadas ações podem ser
propostas até cinco anos após o término do exercício de mandato, cargo em comissão ou
função de confiança.

Na hipótese do exercício de cargo efetivo ou emprego, devem as ações ser propostas


dentro do prazo prescricional previsto na lei específica para faltas disciplinares puníveis
com demissão a bem do serviço público.

O Supremo Tribunal Federal, em acórdão relatado pelo Ministro Célio Borja,


decidiu que a existência nos autos de decisões do Tribunal de Contas do Estado, que
opinaram pela rejeição das contas, versando sobra irregularidades que caracterizam
malversação de dinheiro público e improbidade, ainda não submetidos à apreciação do
Judiciário, permite manter a decisão que declarou a inexigibilidade.

Já o Superior Tribunal de Justiça, pela palavra do Ministro Pedro Accioli, decretou


que, demonstrada a improbidade administrativa do ordenador de despesa, pelo Tribunal de
Contas, é aplicável o § 5º do artigo 15 da Carta Maior, reconhecendo-se a inelegibilidade
do candidato.

O Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu que a Lei 8429 não exige que a
improbidade administrativa advenha de sentença transitada em julgado para o Ministério
Público propor a ação ordinária de perda de ação.

BIBLIOGRAFIA

1. Antonio Pagliaro e Paulo José da Costa Júnior, Malheiros Editores, São Paulo, 1997.

2. Basileu Garcia, Instituições de Direito Penal, Max Limonad, 1954, 2 volumes.

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1999.

11. Paulo José da Costa Júnior, Comentários ao Código Penal, Saraiva, 1996.

12. Paulo José da Costa Júnior, Direito Penal das Licitações, Saraiva, São Paulo, 1994.

13. Paulo Mascarenhas. Improbidade Administrativa, Editora de Direito, Leme, São Paulo,
1999.

14. Vicente Greco Filho, Dos Crimes da Lei das Licitações, Saraiva, 1994.

LEON FREJDA SZKLAROWSKY

Subprocurador - Geral da Fazenda Nacional aposentado


Advogado
Juiz de Paz e Arbitral da American Arbitration Association, de Nova York
Conselheiro e Juiz Arbitral da Câmara de Arbitragem da Associação Comercial do Distrito
Federal.
Membro da Academia Brasileira de Direito Tributário, IBAD, IAB, IASP e IADF e
SINPROFAZ.

Obras principais do autor: Execução Fiscal, Responsabilidade Tributária e Medidas


Provisórias, ensaios, artigos e pareceres sobre contratos e licitações, temas de direito
administrativo, constitucional, tributário , civil, comercial e econômico. Ainda, Hebreus,
história de um povo, Ed. Elevação, S.P., outubro 2000.

E-mail do Autor: leonfs@solar.com.br


Home-page do Autor: http://www.geocities.com/Athens/9100

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