Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Icléia Thiesen*
André Luís de Almeida Patrasso**
A
leur diffusion, des circuits et des identificação dos indivíduos coincide
moyens dont elle dispose. Pour parvenir com a formação do Estado moderno. Para
à la domination symbolique, il est governar os homens e as coisas foi neces-
sário conhecer e categorizar as massas, nomear
d’importance capitale de contrôler ces
e instituir identidades sociais, ou seja, “conhecer
moyens qui sont autant d’instruments para reconhecer” (THIESEN, 2010). Qual era o
de persuasion, de pression, d’inculcation contexto histórico dessas estratégias de controle?
de valeurs et de croyances. (...) Les Na virada do século XIX tinha ocorrido a aboli-
modalités d’émission et de contrôle efficaces ção da escravatura (1888) e logo após a proclama-
changent, entre autres, en fonction de ção da República (1889), cuja capital era a cidade
l’évolution de l’armature technologique do Rio de Janeiro. Sem qualquer participação po-
et culturelle assurant la circulation des pular, a nova instituição republicana demandava
informations et des images. outra ordenação social para melhor conduzir o
regime e a população, traduzindo-se pelas refor-
mas urbana e policial, assim como pela profissio-
(Bronislaw Baczko, 1984) nalização das práticas de controle.
Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012 83
Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso
84 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012
Informação, representação e produção de saberes sobre o crime
Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012 85
Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso
86 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012
Informação, representação e produção de saberes sobre o crime
Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012 87
Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso
88 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012
Informação, representação e produção de saberes sobre o crime
instalações para a tomada das impressões eram desordem, fazendo com que suas atribuições
mais simples e o tempo a ser utilizado era fossem ampliadas. Além da identificação de
pouco. A identificação pelas impressões digitais indivíduos detidos, o Gabinete tinha por função
acabou permitindo a descoberta da originalidade auxiliar as investigações através de perícias
e da exatidão, já que o sistema datiloscópico criminais, reportar às autoridades superiores
propiciava as melhores condições para a (chefe de polícia, ministro da Justiça) informações
polícia identificar os criminosos e combater os seguras e confiáveis com base nas estatísticas
reincidentes: eficácia e praticidade (CARRARA, criminais e aumentar o fluxo da ciência criminal
1990). na polícia.
Depois de vários trabalhos e pesquisas, Lembramos que a reincidência criminal
Juan Vucetich participou como palestrante era a principal preocupação das autoridades
do 2º Congresso Científico Latino-americano, do Estado e da polícia em relação à segurança
ocorrido em 1901 em Montevidéu, no Uruguai. pública na cidade do Rio de Janeiro. Isto fez
O evento teve como um de seus expectadores com que tal questão se tornasse fundamental
José Alves Felix Pacheco, então diretor do influenciando significativamente o trabalho
recém-criado Gabinete de Identificação do Rio executado pelo Gabinete. De acordo com Edgard
de Janeiro. Simões Corrêa (1913, p. 237),
O surgimento da datiloscopia, o ideal
de prevenção e as novas ideias policiais o reincidente deve ser conhecido da
baseadas no saber médico-jurídico estão polícia, que [por sua vez] não o deve
amplamente ligados à modernidade e à perder de vista, pelo perigo que ele
oferece à sociedade. É preciso que a
execução das reformas policiais do Rio de polícia possa vigiá-lo, segui-lo em suas
Janeiro. Na busca por combater o crime de peregrinações, reconhecê-lo debaixo
maneira científica, até mesmo antes de sua dos disfarces por que passa e restituir-
ocorrência, a polícia buscava novas formas de lhe a personalidade real e o seu estado
identificar e controlar os potenciais criminosos civil verdadeiro, a despeito de suas
contestações.
e possíveis reincidentes. Baseando-se nessas
ideias, Felix Pacheco inicia, em 1902, o processo
Em relação à obrigatoriedade da
de recolhimento de impressões digitais nas
identificação criminal de todos os indivíduos
fichas antropométricas para identificação dos
presos, Corrêa (1913, p. 237) enfatiza que
indivíduos que passavam pelo Gabinete, até que
o decreto de nº. 4.764, de 5 de fevereiro de 1903, ou ela seria obrigatória ou os seus
introduz a datiloscopia como método superior resultados seriam incompletos e falazes.
a qualquer outro na função da identificação Efetivamente, sendo o principal objetivo
de criminosos detidos. Este decreto deu nova da identificação, no que respeita à
polícia principalmente, o conhecimento
denominação ao Gabinete, agora chamado dos antecedentes daqueles que
Gabinete de Identificação e de Estatística do Rio perturbam a ordem social e, é claro,
de Janeiro. sem exceção de quem quer que seja,
não se atingiria o alvo colimado se este
ou aquele indivíduo pudesse recusar-se
3.2 A informação identificatória à identificação alegando este ou aquele
motivo.
A demanda do Estado em identificar
criminosos e controlar a sociedade foram as Em relação às investigações criminais,
principais motivações para a criação do Gabinete o surgimento da datiloscopia propiciou ao
de Identificação e de Estatística do Rio de Janeiro, Gabinete de Identificação e de Estatística um
cujo empreendimento visava tornar efetiva a papel de extrema centralidade também na
identificação criminal de todos os indivíduos que resolução de crimes. A partir de inquéritos
fossem detidos pela polícia. baseados nos estudos das impressões digitais e
O advento das impressões digitais como da análise de locais de crimes, alguns criminosos
meio possível de estabelecer a identidade de foram identificados nos arquivos do Gabinete,
criminosos tornou o Gabinete uma importante verificados como reincidentes e presos após
referência científica de combate ao crime e à cometerem outras infrações. Fatos como estes
Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012 89
Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso
90 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012
Informação, representação e produção de saberes sobre o crime
Abstract: The nineteenth century brought to light several studies and actions to fight against crime. They
gave origin to criminology, a specific knowledge that led to judicial police, identificatory photography,
the Bertillon identification system, crime records, legal medicine and crime literature. In Brazil the
acquirement of knowledge about the “dangerous classes” was part of a political project conducted
by statesmen aiming at the social control; in this scenario, the surveillance-correction function was
undertaken by various institutions. In this paper we analyze the institution that gave rise to the
systematization of the identificatory information - the Bureau of Identification and Statistics of Rio de
Janeiro, currently Instituto Felix Pacheco. The analysis of the content of primary documents such as
reports, photographs, identity cards, besides the literature produced on the subject reveals a criminal
information system whose improvement over the years led to civil identification, embedded in the
“informational intelligence”.
Keywords: Information Science – Prehistory. Informational intelligence. Document. Rio de Janeiro – The Bureau
of Identification and Statistics.
Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012 91
Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso
PATRASSO, André. O Gabinete de Identificação: ______. Jeremy Bentham et la réforme des prisons
métodos de informação criminal (1894-1907). au Brésil : l’expérience de la Maison de Correction
Subprojeto de pesquisa desenvolvido pelo de la Cour. In: Révue d’études benthamiennes
bolsista de iniciação científica. Relatório final. Rio [en ligne], 6 / 2010, mis en ligne le 01 février
de Janeiro: UNIRIO, 2010. 2010. URL: http://etudes-benthamiennes.revues.
org/76.
______. O Gabinete de Identificação e de
Estatística do Rio de Janeiro: métodos de ZULLI, André Luis Cardoso Azoubel. Corpo
informação criminal (1894-1914). Relatório de de Guardas Municipais Permanentes:
pesquisa Rio de Janeiro: UNIRIO, 2011. recrutamento, demissão e deserção (1831-1853).
Subprojeto de pesquisa desenvolvido pelo
SANTOS, Bruno Gonçalves dos. Africanos bolsista de iniciação científica (PIBIC). Rio de
livres na Casa de Correção da Corte (1831- Janeiro: UNIRIO, 2011.
92 Inf. & Soc.:Est., João Pessoa, v.22, n.3, p. 83-92, set./dez. 2012