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INFORMAÇÃO, REPRESENTAÇÃO E

memórica científica original


PRODUÇÃO DE SABERES SOBRE O CRIME:
o Gabinete de Identificação e de
Estatística do Rio de Janeiro (1903-1907)

Icléia Thiesen*
André Luís de Almeida Patrasso**

RESUMO: O século XIX produziu numerosos estudos e ações destinadas a


combater o crime, dando origem à criminologia, um saber específico
que engendrou a polícia judiciária, a fotografia identificatória, a
bertilhonagem, a estatística criminal, a medicina e a literatura do
crime. A construção de saberes sobre as “classes perigosas”, no
Brasil, fez parte de um projeto político realizado por homens de
Estado visando o controle social, onde a função de vigilância-correção
foi assegurada por diversas instituições. No presente trabalho *
Doutora em Ciência da Informação pela
analisaremos a instituição que deu origem à sistematização da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
informação de natureza identificatória - o Gabinete de Identificação e Brasil. Professora da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro,
de Estatística do Rio de Janeiro, hoje Instituto Felix Pacheco. A análise Brasil. Coordenadora do Laboratório
de conteúdo de documentos primários, como relatórios, fotografias, de História Oral, Informação e
Documentação da Universidade Federal
fichas sinaléticas, além da literatura produzida sobre o tema evidencia do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
a existência de um sistema de informação criminal que se aprimorou, E-mail: icleiathiesen@gmail.com
ao longo do tempo, para estender-se à identificação civil, no âmbito **
Bacharel e licenciado em História
do que denominamos inteligência informacional. pela Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, Brasil. Membro da
equipe do Laboratório de História
Palavras-chave: Ciência da Informação – Pré-história. Documento. Inteligência Oral, Informação e Documentação da
informacional. Gabinete de Identificação e de Estatística – Rio Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro, Brasil.
de Janeiro. E-mail: andrepatrasso@yahoo.com.br

L’impact des imaginaires sociaux sur 1 INTRODUÇÃO


les mentalités dépend largement de

A
leur diffusion, des circuits et des identificação dos indivíduos coincide
moyens dont elle dispose. Pour parvenir com a formação do Estado moderno. Para
à la domination symbolique, il est governar os homens e as coisas foi neces-
sário conhecer e categorizar as massas, nomear
d’importance capitale de contrôler ces
e instituir identidades sociais, ou seja, “conhecer
moyens qui sont autant d’instruments para reconhecer” (THIESEN, 2010). Qual era o
de persuasion, de pression, d’inculcation contexto histórico dessas estratégias de controle?
de valeurs et de croyances. (...) Les Na virada do século XIX tinha ocorrido a aboli-
modalités d’émission et de contrôle efficaces ção da escravatura (1888) e logo após a proclama-
changent, entre autres, en fonction de ção da República (1889), cuja capital era a cidade
l’évolution de l’armature technologique do Rio de Janeiro. Sem qualquer participação po-
et culturelle assurant la circulation des pular, a nova instituição republicana demandava
informations et des images. outra ordenação social para melhor conduzir o
regime e a população, traduzindo-se pelas refor-
mas urbana e policial, assim como pela profissio-
(Bronislaw Baczko, 1984) nalização das práticas de controle.

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Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso

O Gabinete de Identificação e de Estatística se a cada um o seu lugar, no momento em que a


institucionalizou em 1903 com o duplo caráter sociedade oitocentista clamava por dispositivos
policial e judiciário, definindo para si a função que respondessem à premência da ordem na
de controle e repressão na capital federal. cidade.
Estabeleceu uma rede informacional entre os No alvorecer do século XX as condições
delegados de polícia, o ministério público, as de formação do Gabinete já existiam, como
prisões e o Estado, registrando os movimentos será explicado mais adiante. Na próxima seção
criminais e identificando os indivíduos presos articularemos a literatura do campo da Ciência
pela polícia. Assim, os registros seriam utilizados da Informação com a História, destacando
tanto para fins estatísticos, quanto para assegurar os procedimentos teóricos e metodológicos
a sistematização das informações sobre os que nos permitiram identificar e desenvolver
criminosos (PATRASSO, 2011). A longa duração a problemática que norteia as ideias aqui
do Gabinete de Identificação e de Estatística pode evidenciadas. O Gabinete de Identificação e de
aquilatar sua importância para a sociedade Estatística será analisado na seção 3, segundo
brasileira. Tomou o nome de Instituto Félix seus modos de funcionamento e sua articulação
Pacheco, em 1942, em homenagem àquele que com a polícia e o judiciário.
introduziu, no Brasil, a datiloscopia nos moldes
em que era utilizada na Argentina graças a Juan
Vucetich. 2 A INFORMAÇÃO NA PRÉ-
Este artigo é fruto de pesquisas HISTÓRIA DA CIÊNCIA DA
empreendidas com a finalidade de caracterizar INFORMAÇÃO: fragmentos históricos
o papel da informação na pré-história da Ciência
da Informação1, tendo por objeto diversas A produção de saberes sobre o crime
instituições nas quais foi possível vislumbrar e o criminoso, no Brasil, tem suas raízes na
um sistema de informações a serviço do Estado, primeira metade do século XIX, no período
mesmo que de forma embrionária. em que a cidade do Rio de Janeiro, sede
A Casa de Correção da Corte instaurou, na corte do Império passa por momentos
no século XIX, a fotografia para aperfeiçoar a de conturbação social, conhecido entre os
produção de informação sobre os prisioneiros, historiadores como crise de Regência, após
além de ter se apropriado e desenvolvido outros a abdicação de D. Pedro I em favor de seu
saberes construídos a partir das técnicas de filho. As revoltas que se seguiram ao episódio,
observação, como a estatística, a antropometria, em todo o país, suscitaram providências que
a bertillonagem, práticas e discursos legitimados pudessem debelar as disputas entre grupos
pelo saber médico (Foucault, 1996). políticos que tinham como alvo a chegada ao
Estabelecemos como objetivo do presente poder. O medo das chamadas classes perigosas
trabalho discutir as representações sobre o crime toma corpo nas elites políticas, na tentativa de
e o criminoso, construídas a partir do Gabinete, evitar o caos no país, aparentemente já fora de
com base nos saberes já existentes e nos que controle.
vieram a ser formalizados, estabelecendo a É nesse contexto que começam a aparecer
união entre a ciência e a polícia, no âmbito as primeiras iniciativas em prol da identificação
das experiências realizadas em laboratório, dos revoltosos e, mais ainda, os mecanismos que
embrião da Escola de Polícia, criada em 1912. pudessem prever suas ações. O termo informação
Como veremos, a informação é o personagem frequenta as páginas dos relatórios de ministros
central que norteia as ações direcionadas a dar ao Imperador Pedro II, tendo sempre o sentido
jurídico e identificatório, tal como vemos
ocorrer também nos primórdios da história da
1 THIESEN, 2009; PATRASSO, 2011; SOARES, 2011; BRAGA, 2011;
ALVES, 2011; ZULLI, 2011; SANTOS, 2011. A pesquisa contou com o informação, cujo sentido foi dicionarizado na
apoio do CNPq e da UNIRIO. Nossos agradecimentos às duas instituições Enciclopédia de Diderot e d’Alembert um século
e aos bolsistas de iniciação científica que desenvolveram suas respectivas
problemáticas, cada qual abordando uma instituição diversa. Agradecemos,
antes.
ainda, aos que continuam as pesquisas que serão finalizadas em 2013. A partir desses achados em documentos
Ressalte-se que todos cumpriram e/ou estão cumprindo, em seus projetos, o primários do Império – relatórios, fotografias
objetivo comum de identificar e analisar a possível existência de um sistema
de informação em funcionamento. de prisioneiros, entre outros –, levantamos

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Informação, representação e produção de saberes sobre o crime

questões sobre a pré-história da Ciência da Identificar minuciosamente os


Informação, a natureza do conceito tal como era prisioneiros tornou-se vital, com vistas não
empregado nos oitocentos, para que pudéssemos apenas ao seu reconhecimento em casos de
elucidar seus significados e representações no fugas, mas especialmente prevenindo-se contra
mundo da política, mas também no imaginário a reincidência, maior desafio das autoridades
social. Verificamos o esboço de um sistema judiciais, conforme verificado nos relatórios
de informação, nesse período, razão pela qual dos diretores da Casa. Não foi por acaso que
verticalizamos a pesquisa ancorando-a em a instituição prisional foi pioneira ao instituir
diversas instituições, na busca por um modo de como regra a fotografia dos prisioneiros tão
existência comum. logo davam entrada na Casa de Correção.
A interdisciplinaridade da Ciência da Para além de seu uso pelas elites agrárias e
Informação pôde ser confirmada através da pela nobreza oficial, as imagens fotográficas
aproximação do campo com a História, seus ganharam o mundo das prisões e constituíram
métodos e abordagens. A partir de um corpus um dispositivo de controle do Estado. Ao
de documentos analisados, além da literatura procurarem compreender a concepção de
das áreas mencionadas, interrogamos as dispositivo, dispersa na obra de Foucault,
condições de produção dos documentos, sua estudiosos identificam
intencionalidade, suas formas de circulação
na sociedade. A ideia central é historicizar os os discursos, as instituições, as
disposições arquitetônicas, os
marcos institucionais do saber informacional
regulamentos, as leis, as medidas
que buscavam evidência, saindo da opacidade administrativas, os enunciados
e da invisibilidade. Isto porque os olhares científicos, as proposições filosóficas,
cruzados da Ciência da Informação e da História a moralidade, a filantropia, etc. (...).
logo revelaram o protagonismo da informação Quando conseguimos isolar ‘estratégias
de relações de força que suportam tipos
com valor de inteligência, que denominamos
de saber e vice-versa, então temos um
provisoriamente de inteligência informacional dispositivo’ (RABINOW; DREYFUS,
(THIESEN, 2011). É imprescindível conhecer apud FOUCAULT, 1995, p.134).
os elementos históricos que estão nas bases da
Ciência da Informação, para que possamos Esse verdadeiro laboratório de controle-
compreender aspectos da disciplina até então vigilância produziu técnicas de identificação
não inscritos no conhecimento gerado pelas apoiadas na medicina e na antropometria,
pesquisas da área. como a craneologia que se tornará, mais tarde,
Os estudos de Michel Foucault e de uma prática integrante da bertillonagem.
autores que com ele dialogaram nos levaram O diretor-médico da instituição elaborava
a buscar nas prisões as primeiras iniciativas estudos sobre a vida dos prisioneiros, fazia
em prol do esquema controle-vigilância, medições nos internos, buscando identificar as
instituído graças às ideias preconizadas por causas dos crimes, pois se acreditava que as
Jeremy Bentham e discutidas na corte do características físicas eram determinantes nas
Império brasileiro quando da definição das práticas criminais. Conhecedor das pesquisas
linhas mestras do Código de Processo Criminal sobre a degenerescência empreendidas por
de 1832. O panoptismo foi se inserindo nas seus contemporâneos, como Bénédicte-Auguste
instituições judiciárias, tendo tido impacto Morel, é provável que tenha testado em seu
significativo no Regulamento da Casa de atelier fotográfico a teoria da inferioridade
Correção da Corte que, aos seus moldes, racial que explicaria a degradação social,
constitui-se na primeira instituição prisional a responsável pela formação das mencionadas
estabelecer o objetivo da correção do criminoso classes perigosas.
através do trabalho (THIESEN, 2010). O “olho Conforme assinalado por Lobo, Morel
que tudo vê”, traduzido por um dispositivo cunhou essa expressão que ganhou espaço nos
arquitetônico circular, visava ordenar o espaço documentos datados de meados do século XIX,
institucional, de modo a vigiar os internos sem como os relatórios enviados a D. Pedro II, pelos
que eles vissem o guarda que os vigiasse no alto ministros da Justiça e Negócios Interiores. Lobo
de uma torre central (FOUCAULT, 1996). (2008, p. 54) explica:

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Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso

A figura bastante frequente na literatura Uma informação sobre um indivíduo,


francesa do século XIX é a de um novo sobre suas características mais ou menos
selvagem, não mais o bom selvagem permanentes, em oposição a estados de
de outros tempos, mas a do operário espírito, sentimentos ou intenções que
degenerado, preguiçoso, alcoólatra, ele poderia ter num certo momento.
libidinoso, vagabundo que dissemina Esta informação, assim como o signo que
por onde passa o germe da revolução, o ela transmite, é reflexiva e corporificada,
perigo da revolta, que Morel denomina ou seja, é transmitida pela própria
“classes perigosas”. pessoa a quem se refere, através da
expressão corporal na presença imediata
daqueles que a recebem.
O imperador mostrava interesse por essas
ideias e trocou cartas com o conde Gobineau As representações construídas sobre
que, segundo Lobo (2008, p. 195) participou o mundo das ruas e do crime suscitaram a
como diplomata da Corte do Segundo Império. formação de diversas instituições do século XIX,
As diferenças raciais começam a explicar os quando o Estado põe em prática a política de
problemas sociais que impediam o progresso ordenamento do espaço público, definindo para
do país, suscitando a identificação dos cada estrato social uma instituição afim. Além
degenerados. O corpo torna-se, então, um arquivo da Casa de Correção, o Instituto de Menores
de informações. O registro, o documento, a Artesãos, o Instituto Benjamin Constant, o
classificação compõem um circuito informacional, Hospício Pedro II, entre outras.
de natureza identificatória, que visa garantir a À luz dos estudos de Foucault, buscamos
ordem na cidade, no processo de formação da identificar regimes de verdade ou de informação
nação. E a prisão é o laboratório dessas ideias em (GONZÁLEZ DE GOMEZ, 2003, p.61) que
expansão, mais tarde materializadas no Gabinete circulavam no campo social, constituídos de
de Identificação e de Estatística. saberes e poderes instituídos, em cuja esteira
A produção de um saber sobre o estabeleceram-se formações sociais que
condenado é uma prática prevista pelo contribuíram para a política de identificação
sistema prisional, que aprimora a técnica do social dos indivíduos aprimorada ao longo do
exame, permitindo um acréscimo de poder tempo. Veremos, a seguir, a institucionalização
às instituições do Estado. Como se dava a dessa experiência identificatória, pavimentada
comunicação interinstitucional? Ao escapar por técnicas de inteligência informacional,
do encarceramento o interno passa a ser materializadas no Gabinete de Identificação e de
perseguido mediante o conhecimento de sua Estatística do Rio de Janeiro.
identidade marcada pelo olhar do fotógrafo. Os
registros produzidos no interior da instituição
são remetidos à Comissão Inspetora da Casa 3 O GABINETE DE IDENTIFICAÇÃO
de Correção, ao Chefe de Polícia, às instituições E DE ESTATÍSTICA DO RIO DE
judiciárias e à imprensa. Sabemos que o JANEIRO
documentar precede o documento, pois indica a
intencionalidade na sua produção. Verificamos A passagem do século XIX para o século
a montagem de um sistema de informações a XX é identificada pelas profundas transformações
serviço do Estado. no espaço e no cotidiano dos mais importantes
A análise de conteúdo dos documentos centros urbanos do mundo. A busca pela
relativos ao tema chamou a atenção para o seu modernidade trouxe para o interior das grandes
papel na formação do imaginário social, quando cidades um novo conjunto de procedimentos
verificamos a configuração do estigma sobre técnicos e comportamentais, cuja viabilidade
as camadas sociais menos favorecidas, como se deu através da estreita relação entre as elites
escravos, prostitutas, mendigos, alcoólatras, político-econômicas e os saberes desenvolvidos
crianças abandonadas nas ruas, integrantes das pela revolução técnico-científica então em curso
classes perigosas, como foram definidas por (SEVCENKO, 1998). No Rio de Janeiro isto
Morel. Trata-se de um conjunto de informações não foi diferente, já que a cidade promoveu
sociais, como caracterizado por Ervin Goffman significativas mudanças em seu espaço físico e
(1988, p.53): nos modos de pensar e agir de sua população,

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Informação, representação e produção de saberes sobre o crime

refletindo as aspirações políticas, econômicas, O controle das classes perigosas e o seu


sociais e culturais, configurando-se um novo monitoramento pelo espaço físico da cidade
cenário desejado. eram exercidos, basicamente, pela polícia. A
O processo de modernização do Rio de necessidade de conhecer e mapear a sociedade
Janeiro está associado às ações promovidas pelo mostrava-se cada vez mais importante e, nesse
Estado ao longo das primeiras décadas do século sentido, a tarefa de vigilância permanente
XX. A cidade encontrava-se em uma posição revelou-se indispensável (CAVALCANTE,
promissora, tendo acumulado em seu interior 1985). É preciso, pois, buscar compreender as
vastos recursos provenientes da produção mudanças operadas na atuação do Estado como
cafeeira, do comércio, das finanças e também agente de controle social, mais especificamente
da indústria, estabelecendo um dos aspectos no que se refere às instituições policiais.
essenciais do processo histórico de passagem Identificamos um processo de reestruturação
ao capitalismo (NEDER, 1997, p. 111). Por este dos regulamentos da polícia carioca, tendo por
motivo, era necessário às autoridades municipais objetivo a formulação de um modelo preventivo
encarregarem-se da transformação do espaço de combate ao crime e à desordem. As reformas
urbano carioca, visando o embelezamento e policiais no início do século XX dotaram a
a higienização da cidade, a fim de garantir o instituição de novos mecanismos que buscavam
progresso das atividades econômicas que aqui se analisar e controlar a criminalidade agora com
instalavam. respaldo científico.
O fim da escravidão e a proclamação da
república constituíram, no Rio de Janeiro, um
3.1 A institucionalização de saberes
período de profundas alterações no que diz res-
peito também à sua demografia. O adensamento As reformas policiais e a consequente
de sua população, cuja incidência recaiu, princi- criação do Gabinete de Identificação e de
palmente, sobre ex-escravos e imigrantes euro- Estatística, além de estarem inseridas em um
peus, deu origem a um processo de reordenação contexto político específico, fazem parte de uma
das relações político-sociais, tendo como lócus o conjuntura científica que pretendia determinar,
trabalhador livre. O aumento populacional da ci- através da análise minuciosa do indivíduo,
dade, entretanto, teve como consequência o cres- tendências ou inclinações à criminalidade.
cimento do número de pessoas com ocupações A formação da criminologia, no século XIX,
mal remuneradas ou até mesmo sem qualquer tinha por objetivo a produção de imagens
ocupação fixa, situando-se nas “tênues frontei- e múltiplas representações a respeito da
ras entre a legalidade e a ilegalidade”. Membros transgressão criminal, o tolerável e o intolerável
da elite, políticos e diplomatas se pronunciavam a um determinado ordenamento político-social
publicamente afirmando estar a cidade repleta (THIESEN, 2006).
de “gatunos e malfeitores de todas as espécies”, Esse movimento, que procurava analisar a
além de “gente desocupada em grande quantida- criminalidade sob a ótica da ciência, enfatizava,
de” (CARVALHO, 2008, p.16). em maior proporção, a participação do indivíduo
Essa população específica pode ser criminoso em detrimento do crime, visto neste
correlacionada às classes consideradas nocivas ou momento como um fato. Esta ênfase torna-se
potencialmente perigosas ao funcionamento da presente devido à maior penetração do saber
sociedade, conforme mencionado anteriormente. médico no campo que até então era dominado
Eram ladrões, prostitutas, malandros, desertores majoritariamente pelo direito. Objetiva-se agora
do exército, da marinha e de navios estrangeiros, a prevenção e a correção do comportamento do
ciganos, ambulantes, trapeiros, criados, criminoso que, sendo portador de uma patologia
serventes, bicheiros, jogadores, capoeiras, social, ameaça a sociedade de maneira real e
entre outros. Tais pessoas “eram as que mais também virtual.
compareciam nas estatísticas criminais da época, O avanço desses estudos contribuiu para
especialmente as referentes às contravenções do um processo de individualização do crime,
tipo desordem, vadiagem, embriaguez e jogo”, necessária à determinação da periculosidade
sendo comumente detidos pela polícia e dirigidos do indivíduo. A busca por esta determinação
à Casa de Detenção (CARVALHO, 2008). catalisou o desenvolvimento de uma ideologia

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Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso

aplicada à criação de técnicas de controle principalmente do nariz e das orelhas,


sofisticadas, que deveriam ser dirigidas a uma em fotografias judiciárias e no registro
população específica, tendo em vista a prevenção de marcas particulares como tatuagens
ou cicatrizes. A Bertillonagem (...) foi
de infrações, contravenções e crimes. Desse aplicada pela primeira vez pela polícia
modo, podemos afirmar que a formação de uma francesa, em 1882, e adotada pela polícia
ciência individualizante, atenta à potencialidade de vários países, inclusive a do Brasil, em
criminosa dos indivíduos, resultou na criação de 1894 (Carrara, 1990, p. 87).
uma doutrina baseada na identificação criminal
como mecanismo de prevenção (CARRARA, O sistema de identificação desenvolvido
1990). por Bertillon foi fundamental para o contexto
A prática da identificação criminal, da modernidade e, por mais de três décadas,
enquadrada como mecanismo de prevenção de manteve-se preponderante nas ações
crimes, suscitou o desenvolvimento de algumas institucionais da polícia de vários países,
reflexões. Em uma delas, Edgard Simões Corrêa, inclusive no Brasil. Mas, a possibilidade de
responsável pelos arquivos do Gabinete de
Identificação e de Estatística do Rio de Janeiro, semelhança entre certos indivíduos
procurou analisar a importância da identificação (...) e a própria variabilidade anatômica
no contexto policial do início do século XX do ser humano em desenvolvimento
contribuíram para que se continuasse a
assinalando que a identidade, no seu sentido perscrutar o corpo humano em busca de
jurídico e policial, é o conjunto de características um sinal físico que servisse como prova
que individualizam uma personalidade. É o que positiva de uma identidade individual
torna, portanto, o indivíduo criminoso único e (...). (CARRARA, 1990, p. 87).
inconfundível. Entretanto, para ele, o problema
da identidade em relação à criminalidade A incessante busca pelo elemento físico
carioca e natural que garantisse a individualidade de
cada pessoa parece ter sido concluída com o
apresenta-se em toda a sua amplitude surgimento de um novo sistema de identificação:
com respeito à reincidência. a datiloscopia. Trata-se de um método que se
Efetivamente só é possível afirmar que baseia na análise das papilas dérmicas presentes
um indivíduo é reincidente quando
se provar que ele é o mesmo que nas pontas dos dedos dos indivíduos. Seu
cometeu tal ou tais (...) infrações à lei principal difusor é o iugoslavo radicado na
penal anteriormente (CORREA, 1913, Argentina Juan Vucetich.
p. 237). Os princípios que nortearam Vucetich
e que deram confiabilidade à identificação
Por isso, para se chegar a um estado datiloscópica repousam em três aspectos. Pri-
em que seja possível provar a identidade meiramente, a variação de indivíduo para
daqueles indivíduos que ameaçam a ordem indivíduo dos desenhos papilares das extre-
social, a tranquilidade e a segurança pública, é midades dos dedos, não havendo em toda
necessário que mecanismos de idenficação sejam a humanidade dois que sejam iguais. Em se-
desenvolvidos e aprimorados. gundo lugar, o fato desses desenhos papilares
O aumento da reincidência criminal do permanecerem imutáveis durante toda a vida
século XIX culminou com a prática de “vasculhar de um indivíduo. Por
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fim, “apesar de diferen-
a anatomia humana em busca de um sinal tes e variáveis, essas saliências são passíveis
natural que marcasse a individualidade do de uma classificação em tipos definidos, per-
criminoso” (CARRARA, 1990, p. 86). O primeiro mitindo a classificação das fichas contendo
método a ser sistematicamente utilizado para a impressões das extremidades papilares dos
identificação de criminosos foi desenvolvido por dedos, tomadas para o fim da identificação”
Alphonse Bertillon, na segunda metade do século (CARVALHO, 1912, p. 175).
XIX, na França. Os três princípios que acabaram
tornando a datiloscopia o principal mecanismo
Seu método consistia fundamentalmente de identificação de criminosos aliam-se à
na tomada das medidas da face, simplicidade de sua execução, já que as

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Informação, representação e produção de saberes sobre o crime

instalações para a tomada das impressões eram desordem, fazendo com que suas atribuições
mais simples e o tempo a ser utilizado era fossem ampliadas. Além da identificação de
pouco. A identificação pelas impressões digitais indivíduos detidos, o Gabinete tinha por função
acabou permitindo a descoberta da originalidade auxiliar as investigações através de perícias
e da exatidão, já que o sistema datiloscópico criminais, reportar às autoridades superiores
propiciava as melhores condições para a (chefe de polícia, ministro da Justiça) informações
polícia identificar os criminosos e combater os seguras e confiáveis com base nas estatísticas
reincidentes: eficácia e praticidade (CARRARA, criminais e aumentar o fluxo da ciência criminal
1990). na polícia.
Depois de vários trabalhos e pesquisas, Lembramos que a reincidência criminal
Juan Vucetich participou como palestrante era a principal preocupação das autoridades
do 2º Congresso Científico Latino-americano, do Estado e da polícia em relação à segurança
ocorrido em 1901 em Montevidéu, no Uruguai. pública na cidade do Rio de Janeiro. Isto fez
O evento teve como um de seus expectadores com que tal questão se tornasse fundamental
José Alves Felix Pacheco, então diretor do influenciando significativamente o trabalho
recém-criado Gabinete de Identificação do Rio executado pelo Gabinete. De acordo com Edgard
de Janeiro. Simões Corrêa (1913, p. 237),
O surgimento da datiloscopia, o ideal
de prevenção e as novas ideias policiais o reincidente deve ser conhecido da
baseadas no saber médico-jurídico estão polícia, que [por sua vez] não o deve
amplamente ligados à modernidade e à perder de vista, pelo perigo que ele
oferece à sociedade. É preciso que a
execução das reformas policiais do Rio de polícia possa vigiá-lo, segui-lo em suas
Janeiro. Na busca por combater o crime de peregrinações, reconhecê-lo debaixo
maneira científica, até mesmo antes de sua dos disfarces por que passa e restituir-
ocorrência, a polícia buscava novas formas de lhe a personalidade real e o seu estado
identificar e controlar os potenciais criminosos civil verdadeiro, a despeito de suas
contestações.
e possíveis reincidentes. Baseando-se nessas
ideias, Felix Pacheco inicia, em 1902, o processo
Em relação à obrigatoriedade da
de recolhimento de impressões digitais nas
identificação criminal de todos os indivíduos
fichas antropométricas para identificação dos
presos, Corrêa (1913, p. 237) enfatiza que
indivíduos que passavam pelo Gabinete, até que
o decreto de nº. 4.764, de 5 de fevereiro de 1903, ou ela seria obrigatória ou os seus
introduz a datiloscopia como método superior resultados seriam incompletos e falazes.
a qualquer outro na função da identificação Efetivamente, sendo o principal objetivo
de criminosos detidos. Este decreto deu nova da identificação, no que respeita à
polícia principalmente, o conhecimento
denominação ao Gabinete, agora chamado dos antecedentes daqueles que
Gabinete de Identificação e de Estatística do Rio perturbam a ordem social e, é claro,
de Janeiro. sem exceção de quem quer que seja,
não se atingiria o alvo colimado se este
ou aquele indivíduo pudesse recusar-se
3.2 A informação identificatória à identificação alegando este ou aquele
motivo.
A demanda do Estado em identificar
criminosos e controlar a sociedade foram as Em relação às investigações criminais,
principais motivações para a criação do Gabinete o surgimento da datiloscopia propiciou ao
de Identificação e de Estatística do Rio de Janeiro, Gabinete de Identificação e de Estatística um
cujo empreendimento visava tornar efetiva a papel de extrema centralidade também na
identificação criminal de todos os indivíduos que resolução de crimes. A partir de inquéritos
fossem detidos pela polícia. baseados nos estudos das impressões digitais e
O advento das impressões digitais como da análise de locais de crimes, alguns criminosos
meio possível de estabelecer a identidade de foram identificados nos arquivos do Gabinete,
criminosos tornou o Gabinete uma importante verificados como reincidentes e presos após
referência científica de combate ao crime e à cometerem outras infrações. Fatos como estes

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Icléia Thiesen, André Luís de Almeida Patrasso

estão relacionados à capacidade de reunião, O aperfeiçoamento das redes


organização e utilização de dados informacionais informacionais inauguradas pela
que dotavam a instituição policial de um antropometria ficou a cargo do método
conhecimento prévio a respeito dos indivíduos datiloscópico, que tornou a identificação e
considerados como habituados a infringir a lei a classificação dos seus dados ainda mais
penal. eficazes. O aparecimento da datiloscopia
A possibilidade de armazenamento e proporcionou à polícia do Rio de Janeiro
classificação das informações reunidas pela a formação do Gabinete de Identificação e
identificação datiloscópica dotou o Gabinete de Estatística, cujos objetivos eram tornar o
de um rico banco de dados, tornando possível combate ao crime mais dinâmico e inteligente,
também a utilização de saberes estatísticos com sem que fosse necessária, a todo o momento,
a finalidade de complementar a identificação
a utilização da força repressiva. Para isso,
individual dos criminosos. De modo geral, o uso
visava-se controlar o crime antes mesmo
da estatística pelo Gabinete possuía uma dupla
da sua ocorrência a partir do conhecimento
finalidade: primeiramente, deixar registrada a
gerado a respeito de determinados criminosos
atuação da polícia (quantidade de prisões, maior
incidência geográfica em relação a determinados através da identificação (BENTHAM, 1987).
crimes etc.) e, por fim, fornecer informações Entretanto, além de aprimorar a rede
precisas, com fins de inteligência, orientando a de informações, o advento da datiloscopia
polícia no prosseguimento de ações preventivas propiciou também a possibilidade de controlar
e repressivas. as virtualidades, não somente dos criminosos,
Um outro objetivo do Gabinete era mas de toda a sociedade. Baseando-se neste
tornar-se um centro difusor da ciência criminal. pensamento, intelectuais e criminologistas do
Esta função era exercida basicamente a partir Brasil e de outros países idealizaram, a partir
de três matrizes. Primeiramente, destaca-se a das impressões digitais, uma ordem social
criação do periódico Boletim Policial, publicação baseada na identificação civil, tornando o sistema
que tinha como propósito central colocar os informacional ainda mais amplo, pois antes
funcionários da polícia em contato com o mesmo de um indivíduo cometer um crime,
dia a dia da instituição, atualizando-os sobre ele já teria sido registrado, o que facilitaria
casos, investigações, estatísticas, relatórios e significativamente o trabalho da polícia em sua
artigos policiais variados. Em segundo lugar, o busca.
estímulo à participação de diretores e chefes de Podemos concluir que a identificação,
polícia em eventos, nacionais ou internacionais, a partir de sua natureza policial, tornou
que visassem à discussão de assuntos viável o desenvolvimento de sistemas de
criminológicos. O Gabinete ficou responsável, informação, que buscavam controlar o
ainda, pela direção da Escola de Polícia. Criada curso da criminalidade no Rio de Janeiro
em 1912, tinha por intenção dotar funcionários
através de instituições como o Gabinete de
e futuros agentes das mais recentes teorias e
Identificação e de Estatística. Além disso, tendo
práticas policiais em curso na Europa e nos
como referência a mesma prática, tornou-se
Estados Unidos.
possível a criação de um ideário que acabou
A prática da identificação possui
em sua natureza o ensejo de produzir tornando obrigatória a identificação para toda
informações necessárias ao exercício de a população. Todo esse processo culminou
determinadas políticas de controle social. com um saber altamente sofisticado que se
Em relação à identificação criminal, o denominou biometria.
método antropométrico foi responsável por A pré-história da Ciência da Informação
traçar as primeiras diretrizes de uma rede é um terreno ainda pouco explorado. Se não
de informações entre a polícia e os poderes devemos considerar o passado como um bloco
judiciário e executivo, fazendo com que o monolítico, é certo que somente novas perguntas
seu idealizador, Alphonse Bertillon, seja poderão elucidar de que maneira a informação
considerado por muitos autores como o ocupou o campo social e fundou uma área do
fundador da polícia científica. conhecimento.

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Informação, representação e produção de saberes sobre o crime

INFORMATION, REPRESENTATION AND PRODUCTION OF KNOWLEDGE ABOUT CRIME:


The Bureau of Identification and Statistics of Rio de Janeiro (1903-1907)

Abstract: The nineteenth century brought to light several studies and actions to fight against crime. They
gave origin to criminology, a specific knowledge that led to judicial police, identificatory photography,
the Bertillon identification system, crime records, legal medicine and crime literature. In Brazil the
acquirement of knowledge about the “dangerous classes” was part of a political project conducted
by statesmen aiming at the social control; in this scenario, the surveillance-correction function was
undertaken by various institutions. In this paper we analyze the institution that gave rise to the
systematization of the identificatory information - the Bureau of Identification and Statistics of Rio de
Janeiro, currently Instituto Felix Pacheco. The analysis of the content of primary documents such as
reports, photographs, identity cards, besides the literature produced on the subject reveals a criminal
information system whose improvement over the years led to civil identification, embedded in the
“informational intelligence”.

Keywords: Information Science – Prehistory. Informational intelligence. Document. Rio de Janeiro – The Bureau
of Identification and Statistics.

Artigo recebido em 14/10/2012 e aceito para publicação em 30/11/2012

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