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FREITAS
2019
Copyright © 2019 – Lily Freitas
Capa: Barbara Dameto
Revisão: Margareth Antequera
Diagramação: Denilia Carneiro
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
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NA ESTRADA COM O CEO
1ª Edição
2019
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Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios ─ tangível ou intangível ─ sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
SUMÁRIO
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
LIVRO FÍSICO EM BREVE PELA EDITORA ALLBOOK.
SINOPSE
Ter que aturar um chefe exigente todos os dias não é uma tarefa fácil para
Samantha, agora aturá-lo na sua cola em uma viagem de negócios, certamente
seria um verdadeiro inferno.
No entanto, quando um bem-humorado flerte durante um drinque foge do
controle, Sam acaba sucumbindo ao desejo que sente por Zander e descobre que
seu chefe é muito mais que um CEO soberbo e ranzinza. Ele, na verdade, é uma
irresistível perdição.
A viagem deles acaba ganhando um novo rumo, levando a ambos para um
período de descobertas e muita paixão. Entretanto, Samantha percebe que ceder
ao desejo que explode incontrolavelmente a cada vez que se encontram é um
grande risco para o seu tão castigado coração.
Na Estrada com o Ceo é uma comédia romântica apimentada, com dois
protagonistas carismáticos prontos para roubarem o seu coração.
CAPÍTULO 1
Samantha
Chegar atrasada terá um preço alto, sei o quanto meu chefe é um maníaco
controlador. Ele tem um código interno na empresa, onde a hora de entrar e sair
ganhou destaque especial. Sem contar a parte de contato pessoal, ele não gosta
que os funcionários se toquem, isso se estende, é claro, a relacionamentos
pessoais, se ele imaginar que existe algo romântico entre os funcionários, uma
guerra será declarada.
Zander é absurdamente chato. O intolerante acha que todos nós devemos
seguir seu estilo de vida controlador. É irritante o quanto ele pode ser implicante
ao longo do dia quando eu me atraso.
Eu sei que ele conseguiu transformar as duas pequenas lojas de utilidades
domésticas do pai, que ficava na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, em um
império. Hoje, as lojas Kariokas, estão espalhadas pelo Brasil e oferecem uma
diversidade de produtos por um preço extremamente popular.
Todo esse sucesso foi a custa de muito trabalho, Zander faz questão de falar
em suas palestras, para empresários, o quanto teve que trabalhar
incansavelmente para conseguir em tempo recorde, assumir a dianteira das lojas
e transformá-las em um fenômeno de vendas no setor de departamento, pelo
Brasil.
Uma das coisas que ele faz questão de salientar é a questão dos horários.
Um empresário de sucesso deve ter o seu dia pautado nas horas, não se pode
perder sequer um segundo, cada minuto desperdiçado, pode representar até
milhões de reais.
Por isso, se ele já estiver no escritório, certamente irá fazer uma das suas
tradicionais cenas, reclamando do meu atraso de cinco minutos. Isso,
inevitavelmente, causará uma discussão acalorada entre nós logo pela manhã.
Que saco!
— Deus, Sam, por onde andou? Está atrasada. O senhor Saramago está uma
fera. — Cristina, a secretária assistente, sequer me deixou colocar os pés no
escritório.
— Não sei o motivo de ele estar uma fera, só estou cinco minutos atrasada.
— E você fala isso com tanta tranquilidade?
— Cris, o senhor Saramago terá que lidar com o meu atraso gostando ou
não. — respondo tentando não aparentar todo o meu estresse.
— Eu ouvi isso, senhorita Diniz. — Para o desespero da minha pobre
amiga, Zander apareceu na porta do escritório, exibindo o cabelo ainda molhado
e um olhar mortal. — Venha até a minha sala e traga uma xícara de café fresco.
— Já fiz o café, senhor Saramago, vou pegar. — Cristina se mete no
assunto tentando agradar a fera.
— Eu disse café fresco, isso significa que quero o café feito neste exato
momento. E o quero vindo diretamente das mãos da senhorita Diniz. — Zander
sorri provocativamente e fecha a porta.
— Idiota! — Praguejo irritada por ter que aturar os devaneios dele logo
cedo.
Se eu não estivesse pagando a droga do meu apartamento e meu MBA, já
estaria longe daqui. No entanto, com o mercado de trabalho tão em baixa, não
posso me dar ao luxo de perder o salário exorbitante que esse déspota me paga.
— Também ouvi isso. — Ele abre apenas uma fresta da porta e parece se
divertir da minha cara de indignação.
Sem dar mais margens a discussões, sigo para a copa e me sirvo com um
pouco de café.
Como sempre, o café está delicioso, por isso aproveito para sentar um
pouco e degustar a bebida sem pressa. Quando dá o tempo exato para se preparar
um novo café, saio da copa, com uma xícara fumegante e sigo para a sala do
tirano.
— Com licença. — Finjo docilidade ao entrar na sala dele. — Seu café,
senhor Saramago.
Mantenho um sorriso falso no rosto e observo Zander experimentar a
bebida enquanto aperta sensualmente seus lindos olhos azuis. Sei que ele tem
plena consciência que o café não foi feito agora, mas não admitirei este fato nem
sob tortura.
— Qual a minha agenda do dia? — Com displicência, ele recosta na cadeira
e desliza os olhos rapidamente pelo meu corpo.
Sei que no fundo ele sente tesão reprimido por mim, mas apesar de achá-lo
a perfeição em forma de homem, não permito que ultrapasse os flertes bem-
humorados.
— Passei a sua agenda pelo e-mail antes de chegar aqui, senhor.
— Passe a minha agenda agora, senhorita Diniz. — Zander faz um gesto
irritado para que eu me sente.
Contendo o desejo de mandá-lo se jogar pela janela, sento-me, cruzo as
pernas e faço questão de deixar a barra da saia subir para provocá-lo. Zander
gosta das minhas pernas, e como ele está me aborrecendo logo cedo, vou fazê-lo
sofrer na mesma proporção que estou sofrendo com sua tirania.
Com voz de desinteresse, começo a relatar o que ele tem programado para o
seu dia. Infelizmente ele não tem muitos compromissos, o que me fez lamentar
saber que tenho que aturá-lo rondando o escritório o dia todo.
— Bem... é só isso. — Finalizo o meu relato e encaro os brilhantes olhos
dele.
Sua barba milimetricamente feita leva a minha mente para longe. Às vezes
é complicado manter a postura profissional com um homem tão bonito por perto.
Ele exala uma sensualidade marcante, que enlouquece qualquer mulher.
— Será um dia tranquilo. — Ele tamborila os dedos pela mesa. — Que tal
irmos almoçar juntos? — Ergo a sobrancelha surpresa.
— Vai pagar meu almoço?
— Eu disse almoçarmos juntos, não pagar o seu almoço.
— Quem convida paga.
— Você recebe dinheiro para pagar o seu almoço.
— Então dispenso o convite, não vou gastar o dinheiro do meu almoço em
restaurantes bestas que servem uma miséria de comida.
— Está querendo dizer que não sei frequentar restaurantes?
— Não, senhor Saramago, estou dizendo que gosto de comer de verdade.
— Levanto-me para indicar que nossa conversa acabou. — Quer mais alguma
coisa?
— Você está chateada?
— O quê? — A pergunta dele não faz o menor sentido.
— Estou achando que você está chateada e não vejo motivos para isso.
Quem deveria estar chateado aqui sou eu, pois cheguei ao escritório e só
encontrei a Cristina com aquela cara de assustada que tanto me enerva.
— Se você fosse menos ditador, talvez ela se sentisse mais à vontade para
te dar bom dia sem receber em troca uma série de ordens.
— Não exagere, eu só exijo que ela faça com perfeição o serviço pelo qual
a contratei.
— Não vou te responder sobre isso, você me irritou além do apropriado
para um início de manhã. — Sigo para a porta apressada.
— Senhorita Diniz. — Zander me chama com sua voz grave que tanto me
excita.
— Sim. — resmungo.
— Leve a xícara de café. Eu pedi café fresco e esse é o que a Cristina fez.
— Como?! — Olho para ele indignada por ter descoberto a minha armação.
— Eu acabei de fazer o café.
— Não minta, ou deixo trabalho extra para você.
Pisando duro, vou até a mesa dele e pego a xícara querendo abrir a boca
desse imbecil para derramar o líquido de uma única vez. Contudo como sei que
não posso fazer isso, apenas viro e saio rebolando da sua sala torcendo para ele
ficar de pau duro por ver minha bunda e não poder tocá-la.
— Estúpido! — sussurro quando saio da sua sala satisfeita por tê-lo
instigado, mas sem cair na tentação de mandá-lo se foder.
Coloco a gaiola do Nap no carro e ajeito a bolsa com a roupa que comprei
para o meu irmão. Vou agradá-lo um pouquinho, pois ele está se esforçando para
passar na faculdade, o sonho dele é ser médico. No entanto, passar no vestibular
de Medicina em uma faculdade pública é quase como ganhar na loteria.
Por acompanhar o seu esforço, faço questão de agradá-lo com coisas que
gosta. Quando eu tinha a idade dele, não tinha a metade do seu compromisso
com os estudos. Tanto que fiz faculdade particular, porque a minha vida no fim
do ensino médio era namorar e ir às festas com os amigos.
Eu só fui acordar quando perdi meu pai em um assalto. Foi um choque
receber a notícia da polícia. Nunca me esqueço da dor que rasgou o meu peito
quando tive que reconhecer o corpo dele. Daquele dia em diante, soube que teria
que assumir as rédeas da família.
Foi daí que tudo mudou, eu passei a ser o pilar da casa, fui trabalhar e
estudar. Terminei a faculdade com louvor e consegui um excelente estágio
remunerado graças a ajuda de um dos professores.
O salário era bom para uma recém-formada, mas não supria as necessidades
que eu tinha naquele momento. Passei praticamente um ano me virando como
podia para pagar as minhas contas e ajudar a minha mãe. Só que um dia a
Marlene, amiga da minha mãe de muitos anos, chegou com a proposta de
emprego para ser secretária do Zander.
Naquela época não era o que eu queria, mas com o salário oferecido, foi a
minha salvação. Hoje sei que segui no caminho correto, pois trabalhando com o
Zander, consegui comprar um carro, financiar um pequeno apartamento e ainda
pagar o meu MBA.
Apesar de minha mãe ser incrível, viver com ela já não estava sendo
saudável. Chega um momento que os filhos precisam caminhar sozinhos e,
apesar de saber o quanto ela se ressentiu quando saí de casa, sei que tomei a
melhor atitude.
Consigo chegar à casa da mamãe antes do tempo estimado. Espero que a
casa não esteja cheia, ela adora uma confusão. Como é uma costureira de mão
cheia, sempre tem alguma cliente zanzando por sua casa.
— Mãe, cadê você?
Abro a gaiola do Nap e ele sai miando animado, pela sala. Minha mãe não
gosta de gato, mas tolera o Napoleon.
— Estou na cozinha, filha.
Sigo na direção da sua voz e a encontro fazendo bolo, com tinta no cabelo,
coberto com uma sacola de mercado. Minha mãe é uma figura!
— O que aconteceu com essa casa? Por que está vazia? — Beijo a sua
bochecha sorrindo.
— Seu irmão estudou até tarde, e só vai para o cursinho à tarde, achei justo
ele dormir sossegado.
— Humm, estou feliz em saber que criou juízo. — Ele faz uma careta.
“Miau”
Nap resolve aparecer na cozinha fazendo minha mãe aumentar a careta.
— Tira esse gato da cozinha, se o pelo dele cair na minha massa de bolo eu
tenho uma crise nervosa, Samantha.
— Deixa de ser implicante. — Observo a pequena mesa com um café
improvisado. — Já comeu? Trouxe muffins. — Ergo o pacote com as
guloseimas.
— Tomei só um café, estava te esperando. Aí resolvi fazer um bolo para
você levar um pouco antes de ir embora.
— Tô de dieta, mãe, a minha bunda tá grande demais. — Abro o pacote
com os muffins e sinto a boca salivar.
— E vai aumentar ainda mais com esses muffins recheados.
Ignoro o seu comentário e começo a me servir. Ela vai falando que está
preocupada com os horários excessivos de estudos do meu irmão. Até entendo a
preocupação dela, mas infelizmente é muito difícil conseguir entrar na
faculdade. Sei que para conseguir alcançar o seu objetivo, ele terá que passar por
toda essa maratona de estudos.
Meu irmão acorda e pega o final do nosso café. Ele está abatido, mas me
garante que se sente bem. Já está perto das provas de fim de ano, em breve ele se
livra de toda essa loucura e passa a ter uma vida normal.
Torço muito pelo meu irmão, ele pegou tempos difíceis depois que o papai
se foi. Ainda assim nunca foi um menino revoltado, sempre se manteve centrado
e estudioso.
— E aí, gostou? — pergunto quando ele termina de ver as roupas que
comprei.
— Se gostei? É claro que sim, você é demais. — Ele me abraça tão
apertado, que sinto meus pulmões chiarem. — Obrigado, maninha, você é a
melhor.
— Não agradeça, apenas arrase nessas provas e vá seguir seu sonho.
— Eu vou passar. — ele diz convicto e ajeita os óculos no nariz.
— Já passou. — digo feliz e me jogo na sua cama.
— E as namoradas? Como andam?
— Que namoradas, Sam? Eu lá tenho tempo para isso? — Ele começa a
dobrar a roupa e as guarda no armário.
— Tem que ter, beijar na boca faz bem.
— E você, ainda tá beijando na boca daquele otário?
Desde que viu o Alberto pela primeira vez, o Maicon não foi com a cara
dele. Meu irmão é um menino legal, se dá bem com todo mundo, mas
definitivamente não conseguiu se acertar com o meu ex.
— Não, ele é passado. — Meu irmão sorri.
— Eu gosto de você justamente porque é inteligente.
— Engraçadinho. — digo enquanto me sento. — Que horas você vai para o
cursinho?
— A aula começa às 13h30.
— Vou ajudar a mamãe com o almoço e te levo para o curso.
— Não vai passar o dia com a mãe?
— Tenho roupa pra lavar e preciso ajeitar o meu apartamento, entre outras
coisas. Se eu deixar tudo pra fazer amanhã, vou estar morta na segunda. E tudo o
que não preciso é estar esgotada e ainda aturar o Zander.
— Ele ainda é um ditador?
— Piorou com o tempo. — Meu irmão sorri.
— Ele gosta de você, por isso implica tanto contigo.
Sorrio da bobagem que ele acabou de falar. Não sei de onde ele tirou essa
ideia absurda que o Zander gosta de mim. Acho que passar tanto tempo
estudando afetou o seu juízo.
— Você está louco? Claro que o Zander não gosta de mim. — Penso por
alguns segundos antes e voltar a falar. — Acho que ele não gosta nem dele
mesmo.
— Que maldade. — Meu irmão começa a sorrir e aproveito essa sua alegria
para escapar do seu quarto.
Não gosto de conversar sobre o Zander, principalmente com a minha
família. Ele é uma espécie de tabu na minha vida, nem quando estou sozinha,
gosto de pensar naquele delicioso mal-educado.
Aturá-lo todos os dias já é o meu castigo, não mereço me lembrar nele nos
fins de semana e muito menos do quanto é cheiroso.
Droga! Cheiroso é pouco, ele é lindo, sensual e insuportavelmente atraente.
Sou louca naquele cabelo castanho encorpado, no seu corpo esguio sarado e no
sorriso debochado que tanto me irrita.
— Samantha, que cara é essa? — Olho para a minha mãe perdida. — Por
que está parada no meio do corredor com essa expressão estranha no rosto?
— Expressão estranha? A senhora tá louca?
— Não estou louca, mas deixa pra lá. Vem me ajudar no almoço, seu irmão
não pode se atrasar para o curso.
— Eu estava indo para a cozinha fazer isso agora.
Sorrio com extrema alegria atrás dela, apesar de não querer ficar na
cozinha, mas para não correr risco de ela começar a fazer perguntas, finjo que
fazer o almoço é a prioridade do meu dia.
CAPÍTULO 3
Zander
— Tem certeza que não precisa de nada? Se eu desconfiar que você está me
ocultando algo, terá problemas.
Marlene sorri da minha ameaça e segura a minha mão até levá-la aos lábios.
Ela sempre foi carinhosa, e isso me irrita profundamente. Entretanto, é
impossível impedir seus beijos e abraços, pois mesmo sendo uma mulher
pequena, tem um poder desconcertante para colocar suas vontades em prática.
Quando eu a conheci, ainda era um menino. Ela foi a primeira caixa da loja
do meu pai. Naquela época, Marlene era uma mulher atraente, muito
comunicativa, que conseguia fazer mais vendas do que meu próprio velho.
A minha mãe a odiava, pois além do meu pai admirá-la por ser a sua melhor
funcionária, ele não escondia a atração que sentia por Marlene. Só que ela nunca
cedeu às investidas do patrão e manteve-se fiel ao marido, apesar de receber
incontáveis propostas indecentes.
Quando meu pai expandiu a loja, ela se tornou Gerente e foi essencial para
o crescimento dos negócios. Marlene tornou-se membro da família, por isso não
abri mão dela ser a minha Secretária Pessoal quando voltei da minha
especialização em Harvard.
Se hoje a cadeia de lojas da minha família é um verdadeiro fenômeno do
varejo brasileiro, devo muito a essa frágil mulher que luta bravamente para
vencer o câncer.
— Só preciso que você seja feliz, se eu morrer sem saber que você se
encaminhou na vida, juro que volto dos mortos para puxar seu pé. — Sorrio da
sua ameaça.
— Você não vai morrer, será a madrinha do meu primeiro filho.
— Não acredito nisso, Zander, se você não acertar a mão, vai ficar
encalhado. — Ela olha na direção da varanda. — Você realmente acha que vai
que ter filhos com essa mulher? Por favor, meu querido, tente ser mais real e
arrume uma garota à sua altura.
— Marlene, eu não tenho tempo para ficar entre encontros buscando
alguém ideal.
— Não tem tempo para ser feliz? — Ela se ajeita na cadeira. — A vida
passa rápido, Zander, pare de colocar desculpas no trabalho para não assumir que
tem medo de se jogar no mundo dos sentimentos. Você sempre se escondeu
nesse casulo de homem de negócios, está na hora de se libertar e voar.
— Está me chamando de borboleta? — pergunto ofendido e ela sorri.
— Não. Estou querendo dizer que precisa ter uma vida de verdade. — Os
olhos dela se estreitam e me preparo para ter problemas. — Como está Sam?
Vocês ainda se amam e odeiam na mesma proporção?
Olho para a varanda e vejo Vanessa falando agitada ao telefone. Se ela
ouvir o nome da Sam, vai fazer uma cena. Ela morre de ciúmes da diaba da
minha secretária. Também não é pra menos, Samantha não é uma mulher, é uma
deusa grega vagando entre os mortais.
— Não amo Sam, muito menos a odeio, apenas quero que ela faça o serviço
à altura do salário que ganha. E não me olhe assim, você me acostumou mal com
toda a sua competência. — Marlene balança a cabeça.
— Como se ilude...
Ela não termina de falar, pois Vanessa entra na sala nervosa. Mentalmente
agradeço sua interrupção, odeio quando Marlene aborda o assunto Samantha.
— Zander precisamos ir embora. — Ela decreta como se mandasse em
mim.
— Por que eu iria embora agora? — Abro os braços sobre o encosto do sofá
e cruzo as pernas.
— Porque a Rebeca brigou com Josias e está arrasada. A pobrezinha não
para de chorar, preciso consolar a minha amiga. — Ela joga o cabelo para o lado
antes de voltar a falar. — E você podia falar para o Josias deixar de ser moleque.
Onde já se viu brigar com a Beca por causa do tamanho de uma saia? Isso é um
absurdo.
Olho para a Marlene, mas ela está encarando a Vanessa chocada. Respiro
fundo compreendendo o que a minha amiga está pensando sem ter coragem de
falar. Eu também não sei o que faço com a Vanessa, ela é tão fútil e infantil que
irrita.
A verdade é que estou com ela porque ela não me pressiona. Aceita ser a
minha namorada sem me causar maiores problemas.
Estou vivendo um momento decisivo na minha vida, se os meus planos se
concretizarem, irei expandir as atividades das lojas para o Mercosul. Isso será
uma vitória sem precedentes para a empresa. Sem contar no valor comercial que
irei conseguir para o nome da minha família entre os grandes investidores.
Por esses e outros motivos, mantenho Vanessa comigo, pois ela é jovem e
não tem o desespero para se casar. Na verdade, tudo o que ela quer no momento
é curtir as festas que posso levá-la e aproveitar os privilégios de ser a minha
namorada.
Não vou descartar a parte do sexo, ela é ótima. Sem nenhum tipo de
frescura. Isso não pode ser deixado de lado. Fora essa parte, nós não temos nada
em comum, Vanessa vive em outra realidade.
— Vanessa, se o Josias é um babaca que não sabe segurar a onda por causa
da roupa da namorada, eu não tenho nada a ver com isso. Quanto a ir encontrar a
sua amiga, vou pedir um táxi. Não tem motivos para que eu te acompanhe, odeio
choro de mulher e você deveria saber bem disso. — Ela faz um bico com a
minha resposta mal-educada.
— Você é o meu namorado, deveria me acompanhar.
— Vá com a sua “namorada”, Zander. — Marlene enfatiza a palavra
namorada enquanto disfarça um sorriso. — Depois conversamos com calma.
— Vanessa é adulta, sabe se virar, querida. — Pego o celular e disco o
número do táxi. — Quer que eu te leve até a portaria para esperar o táxi? Ele
deve chegar em 4 minutos.
O rosto da Vanessa ganha um tom escarlate, ela está se segurando para não
explodir e, para o bem dela, espero que não faça nenhum escândalo na frente da
Marlene.
— Não precisa, sei andar sozinha. — Ela pega a bolsa que está ao meu
lado. — Espero que se recupere logo, Marlene, foi bom revê-la.
— Venha sempre que quiser, querida. — Marlene, como sempre, é um poço
de educação.
— Vou acompanhá-la até a porta, meu bem. — Apoio a mão na base da sua
coluna e sigo até a porta. — Espero que consiga tranquilizar a sua amiga.
— Não finja que está com pena dela, Zander, conheço você. — Sua
reprimenda indica o quanto ficou ofendida com a minha atitude.
— Realmente não me importo em nada com a briga da sua amiga. Se ela
soubesse escolher um homem de verdade, não estaria passando por essa
situação. Ter ciúmes da roupa de uma mulher é coisa de homem inseguro e, se eu
fosse mulher, corria de um infeliz desse. — Para amenizar a cara emburrada
dela, decido ser charmoso. — Já você, meu anjo. — Beijo abaixo da sua orelha.
— Tem um bom gosto incrível para escolher um homem.
— Para Zander. — Ela bate no meu peito sorrindo. — Você também é um
cretino.
— Sou sincero, é diferente. — Seguro a nuca dela e a beijo. — Quando
acalmar sua amiga me ligue, vou mandar um táxi te pegar e você fica comigo.
— Quer que eu durma com você? — Os olhos dela brilham com
empolgação.
— Quero que você passe a noite acordada enquanto te dou prazer. — digo
baixinho e bato na sua bunda para que ela se vá. — Vai logo, o táxi já está
chegando.
Com um sorriso apaixonado no rosto ela se vai e eu fico me odiando por
fingir que me sinto tão apaixonado quanto ela. Quando eu morrer, não vou para o
céu, mas não tenho culpa se não consigo entregar meu coração.
— Zander... Zander, você está entrando por um caminho perigoso. Não é
justo enganar essa menina, ela está completamente apaixonada por você. —
Marlene fala quando volto para o apartamento dela.
— Ela é jovem, daqui a pouco encontra um cara da mesma idade e chuta a
minha bunda.
— Não acredite nisso, ela já tem 23 anos, sabe o que quer.
— Eu só queria trepar e beber na idade dela quando não estava estudando,
pode apostar que ela não sabe o que quer.
— Às vezes você não parece ser um homem de negócios, sua inocência é
vergonhosa. — Marlene fala me repreendendo.
Com esse insulto, ela muda de assunto e me faz ir para a cozinha preparar
um lanche para nós.
Eu não sei se é a idade ou frescura, mas ficar sozinho em casa passou a ser
algo que me incomoda demais.
Quando eu era garoto, meu sonho era sair de casa e me livrar do controle da
minha mãe. Por isso, assim que tive oportunidade, fui dividir um apartamento
com um amigo e nunca mais voltei.
Só que há algum tempo, eu ando meio estranho, querendo sempre alguém
por perto. Isso me faz até apelar para o meu sobrinho, apesar de ele deixar a
minha casa um caos. O moleque já tem 12 anos, mas é bagunceiro pra caralho.
O meu celular apita indicando uma mensagem de Samantha. Sei que é ela
porque o seu toque é diferente de todas as outras pessoas. Sempre digo para mim
mesmo que coloquei essa diferença apenas por motivos de negócios, mas na
verdade, não tem nada a ver com os assuntos da empresa.
Pego o celular e vejo que ela me enviou uma foto. Bem que podia ser um
nuds, eu ia adorar vê-la nua.
Para a minha irritação, ela apenas mandou uma foto engraçadinha, onde
uma mulher revira os olhos dizendo que odeia segunda-feira porque tem que
encontrar o chefe.
Samantha é corajosa, ela me insulta até no final do domingo. Graças a Deus
ela não está por perto para ver o meu largo sorriso. Se essa megera me visse tão
feliz, eu estaria perdido.
Zander - Essa sua mensagem é passiva de demissão
Respondo e aguardo o que ela vai me dizer.
Sam - Por que demissão? Estou só mostrando como me sinto quando você
me perturba na segunda. Sinceridade não mata senhor Saramago
Como é debochada!
Zander - Não perturbo você, apenas quero compromisso.
Sam - Você é um ditador!
Zander - Ditadores não pagam salário
Rapidamente revido o seu comentário.
Sam — Alguns pagam sim, e essa é a sua sorte. Se não me pagasse tão
bem, não veria mais a minha bunda
Sorrio das suas palavras, ela não sabe o quanto sou capaz de pagar por
aquela bunda.
Zander — E por que acha que te pago tão bem? Não é pelo seu rostinho,
Sam, sua bunda vale ouro.
Ela demora para responder, e começo a achar que exagerei na brincadeira.
Será que ela vai pensar que é assédio? Eu não tive essa intenção.
Sam — Por isso não deixo de comer chocolates, eles mantêm a minha
bunda grande
Zander — Bom saber disso...
Vou me lembrar de sempre trazer chocolates para você
Sam — Eu ficaria grata
Fico encarando a sua mensagem tentando encontrar algo para dizer e não
deixar morrer o nosso assunto. Não quero que ela se vá, estou vergonhosamente
morrendo de saudades dela.
Zander — O que está fazendo agora além de me insultar?
Balanço o pé ansioso por sua resposta e olho rapidamente para o corredor
desejando que a Vanessa se afogue na banheira e não saia do banho agora.
Surpreendentemente ela não me responde e manda uma foto. Baixo a
imagem na velocidade da luz e gemo quando vejo suas pernas nuas com o
maldito gato no meio.
Sam — Nap está carente hoje e eu com preguiça, estamos assistindo séries
e perturbando os meus contatos com mensagens fúteis
Ela manda um monte de bonecos sorrindo cheios de lágrimas.
Zander — Esse gato é um pilantra, está se aproveitando
Sam — Nap é carinhoso, não aproveitador
Zander — Pode apostar que ele sabe o que é bom, a cara de deboche dele
diz isso
Sam — Cara de deboche? Kkkkk você não é normal
Zander, essa é a cara de paisagem que ele faz pra tudo
Nap é um gato que não se abala em mudar de expressão, ele vive com cara
de entediado.
Solto uma gargalhada com a definição dela do maldito gato, realmente ele
sempre tem uma cara de nojo. O bicho é metido e não faz questão de ser
agradável.
Zander — Ainda bem que você sabe que seu gato não é normal, ele é
antipático
Sam — Se você fosse pai dele eu diria que te puxou, porque não conheço
ninguém tão antipático quanto você
Releio três vezes sua mensagem e me imagino fazendo todo o processo para
ter um filho com ela.
Meu corpo esquenta e isso me faz remexer no sofá para conter a onda de
fogo líquido que começa a correr para o meio do meu corpo. Essa filha da puta
acaba de me deixar excitado.
Zander — Se ele fosse nosso filho, o que ele teria puxado de você?
Ela demora a responder.
Sam — Nap é inteligente, sabe exigir o que quer até conseguir, igual a mim
Zander — E o que você quer agora Samantha?
Se ela me fizesse essa pergunta, eu diria que a queria nua, me montando
com força.
Sam — Ganhar na Mega-Sena e me livrar de você kkkkkkk não aguento
mais te servir café requentado.
Encaro a sua mensagem com a boca aberta. Não acredito que ela acaba de
assumir que me serve café requentado.
Que filha da puta!
— Que cara é essa, benzinho?
A voz melosa de Vanessa me faz erguer a cabeça surpreso. Encaro-a por
alguns segundos, até que percebo que me perdi na droga das mensagens da Sam.
— Não é nada. — Volto à atenção para o celular e respondo.
Zander — Amanhã conversaremos sobre esse assunto, você está fodida.
Sam — Estou fodida? Jura? Quem vai me foder? Você? hahaha vai
sonhando chefinho.
Respiro fundo e tento colocar a vontade de ir até a casa dela de lado.
Samantha é uma feiticeira, sabe me instigar como ninguém.
Zander — Cuidado, Sam, eu sou conhecido por fazer sonhos tornarem-se
reais. Amanhã quero encontrar você pessoalmente na copa, no primeiro horário,
para preparar o meu café.
Descarto o meu telefone e me concentro na Vanessa segurando
sensualmente uma toalha na minha frente.
— Tem algo por baixo dessa toalha?
— Claro que não, acabei de tomar banho, vim pergunta a você se íamos sair
para poder escolher a minha roupa. Do que você estava sorrindo?
— Estava sorrindo ao imaginar como vou matar o meu Gerente do Sul, mas
só vou fazer isso amanhã, agora... — Levanto e me aproximo dela. — Vou
apenas matar você.
— Me matar? — Ela arregala os olhos e me faz sorri. Vanessa é lenta
demais, não acompanha nunca meus pensamentos libidinosos.
— De prazer, querida. Vou te matar de prazer.
Seguro o seu corpo entre os braços e a carrego para o quarto na esperança
de tirar a minha conversa inesperada, com Samantha, da cabeça.
CAPÍTULO 4
Samantha
Praguejo pela milésima vez por ter perdido a linha ontem. Eu bebi mais do
que devia, acabei me sentindo sozinha e mandei a maldita foto irônica para o
Zander.
Se não bastasse importuná-lo com uma foto antiprofissional, eu assumi que
não faço os cafés frescos que ele tanto pede. Como sou imbecil, agora ele vai
encher a minha paciência por causa do café. Se bobear, o lunático até coloca
câmera na copa só para ter certeza que estou fazendo café fresco.
— Burra! — resmungo, enquanto chuto a minha bunda mentalmente.
Isso que dá deixar a carência dominar o bom senso. Tudo culpa do Alberto,
se não fosse por ele, eu teria passado uma tarde suada de sexo e nem me
lembraria do ditador do Zander.
— Bom dia, senhorita Diniz, como está? — Pulo quando ouço a voz
profunda dele. — Assustada?
Zander coloca a pasta sobre o armário de canto e sorri. Ele está se
divertindo com o meu constrangimento, isso me irrita, pois não gosto quando ele
sabe que está me pressionando.
— Bom dia. — respondo com voz de desinteresse. — Só fiquei um pouco
incomodada com as suas olheiras, mas já superei a visão. — Pego a jarra do café
e coloco na minha xícara. — Quer café, chefe?
Ele não me responde, apenas senta e cruza as pernas enquanto me olha. Ter
Zander te encarando não é algo agradável, quando ele me observa como agora,
fico me sentindo na época da escola, na frente do olhar inquisidor do professor
sabendo que acabei de colar.
É como se ele soubesse algo grave e estivesse zombando de mim por ter
ciência do meu segredo. Esse imbecil consegue ser irritantemente desagradável e
gostoso ao mesmo tempo.
Perigosamente os meus olhos deslizam por ele e admiro seu terno azul
marinho, a camisa branca e uma gravata preta que lhe dá um charme absurdo.
Seus cabelos castanhos estão jogados para trás, ainda molhados e o cheiro da sua
tradicional loção pós-barba domina o ambiente.
Vai ser gostoso assim na puta que pariu! Esse infeliz está me derretendo.
— Fez o café agora?
— Claro que sim, acabou de sair. Não está sentindo o cheiro de café fresco?
— Não. Quero um novo.
— Zander, acabou de sair.
— Faça um novo, senhorita Diniz, não teime comigo.
— Não vou perder todo esse café.
— Quem mandou fazer muito? Eu disse que queria ver você fazendo o café.
— Você é doente. — digo indignada.
— Sou o seu chefe, então pare de me contestar e faça a porra do café.
— Ignorante. — Solto um grunhido e derramo o café na pia.
Zander é um egocentrista, ele não tem um mínimo de bom senso. Acha que
o mundo gira ao redor dos seus desejos. Às vezes a minha vontade é largar tudo
e arrumar outro emprego, mas quando penso nos meus dias em um escritório
qualquer sem poder brigar com ele, desisto da ideia.
— Como foi seu fim de semana, Sam? Aproveitou muito aquele seu
namorado sem graça?
— Alberto não é sem graça, só é infantil.
— Infantil e sem graça, foi o que quis dizer. — Ele solta um sorriso
debochado.
— Nos separamos, não quero vê-lo pintado de ouro. — Coloco a cafeteira
para fazer o novo café. — Ele é um babaca que vive influenciado pela irmã. É
uma loucura o quanto ele é cordeirinho dela. Cada vez que aquela pentelha liga,
o bobo corre para fazer às suas vontades.
— Ele precisa se tratar urgentemente, isso não é normal. — Zander diz algo
sábio. — Eu amo a minha irmã, mas não aceitaria realizar seus caprichos para
deixar uma namorada como você para trás.
Não sei como ele consegue dizer palavras tão certas, deve fazer isso com as
infinitas mulheres que passam pela sua cama. E o pior é que ele fala como se eu
fosse única, algo raro que tem o maior zelo.
Sei que ele sente tesão por mim, é algo que não esconde e faz questão de
demonstrar desde que nos conhecemos. Contudo tenho ciência que não passa
disso, sou apenas mais uma na sua vida, não rola nenhum outro sentimento.
— Pois é, parece que o Alberto não pensa como você.
— Acredito que precisa ser mais criteriosa com os seus parceiros,
Samantha, você anda com a mão podre.
Não creio que ele ousou me criticar tão abertamente. Que abusado! Quem
ele pensa que é para me dizer essas coisas?
— Olha quem fala. Você troca de namorada como quem troca de roupa.
Não tem nenhuma moral para criticar a minha vida pessoal.
— Ficou nervosa? A verdade realmente costuma doer. — ele fala com
tranquilidade me irritando ainda mais.
— Que verdade, Zander? O que bebeu antes de sair de casa? Você não está
bem.
— Estou ótimo, meu fim de semana foi excelente, ao contrário do seu.
— Como sabe que o meu fim de semana não foi bom? — Olho para a
cafeteira e vejo que o café está pronto.
— Pelo excesso de maquiagem que usou para esconder o inchaço embaixo
dos seus olhos de tanto chorar.
A sua resposta certeira faz a xícara escorregar da minha mão e se espatifar
no chão.
Como ele sabe que chorei? Passei uma hora na frente do espelho me
maquiando, quase que profissionalmente, para que ninguém percebesse o quanto
meu domingo foi uma droga.
— Você se machucou? — Em segundos ele está do meu lado.
— Eu estou bem, apenas peguei a xícara de mau jeito. — Tento aparentar
calma para ele não insistir no assunto. — Vou limpar tudo.
— Deixa que faço isso, pegue outra xícara e prepare o meu café.
Antes que eu proteste, ele pega a vassoura e começa a juntar os cacos.
Zander sempre me confunde, ele é insuportável a maior parte do tempo,
mas tem horas, como agora, que se comporta como um homem doce e atencioso.
— Seu café. — Ergo a xícara quando ele termina de jogar os cacos no lixo.
— Fresquinho. — Sorrio, tentando demonstrar docilidade.
— Fresco como deveria ser a cada vez que te peço um café. — Ele se
aproxima e pega a xícara da minha mão.
Um arrepio percorre o meu corpo quando nossos dedos se tocam, observo
seus olhos e vejo que ele está atento a minha reação. Sei que ele também sentiu
algo estranho, está escrito no seu olhar.
— O café é fresco, mas não como você quer.
Ele experimenta a bebida sem tirar os olhos de mim. Odeio quando ele me
analisa como está fazendo agora, me sinto como se estivesse nua.
— Está bom? — pergunto, só para tirar a sua atenção de mim.
— Delicioso. — Ele lambe os lábios e me faz gemer internamente. Que
homem gostoso, queria que ele me lambesse toda.
— Sou ótima no café.
— Você é ótima em outras coisas também.
Agora os olhos dele correm pela copa enquanto experimenta mais um
pouco de café. Ele está pensando em algo e espero que seja algum assunto
relacionado a trabalho.
— Quase não venho aqui, agora que estou percebendo que esse lugar
precisa de uma reforma.
— Reforma? Por que reforma? Está tudo perfeito.
— Pode melhorar. — Sua atenção cai sobre mim. — Vou reformar toda a
copa e mandar comprar uma máquina automática de expresso. Essa cafeteira é
jurássica, eu não tinha pensando na possibilidade de uma máquina moderna, foi
um erro.
— Você vai comprar uma máquina mesmo? — pergunto animada. Adoro
aquelas máquinas expressas, o café é delicioso.
— Já deveria ter comprado, assim você não me passa a perna.
— Nem sempre passar a perna é ruim. — Essas palavras escorrem pela
minha boca sem que eu consiga controlar.
Merda! Acabei de dar munição para ele me provocar.
— Nisso tenho que concordar com você, passar a perna pode ser prazeroso.
Minha respiração acelera e fico sem saber o que responder. Zander sorri
zombeteiro e me irrita profundamente. Não gosto quando ele consegue me
intimidar, eu é que deveria deixá-lo desconfortável.
— Bom dia! — a voz da Cris me salva.
— Cris, bom-dia! — respondo animada além dos limites. — Acabei de
fazer um café fresquinho, quer um pouco? O nosso chefe aprovou. — Cristina
nos olha desconfiada.
— Tá tudo bem, Sam? — ela me pergunta meio confusa.
— Samantha está com dor de cotovelo. — Zander responde por mim
enquanto descarta sua xícara. — Vou deixar você contar para Cristina sua
decepção amorosa, mas te espero em dez minutos na minha sala com a minha
agenda do dia. — Ele olha para a Cris que ainda nos observa desconfiada. —
Cristina, mande um buquê de flores para a Vanessa e coloque no cartão um
agradecimento pela noite inesquecível que tivemos ontem.
— Tudo bem, senhor Saramago.
Ele sai da copa com um sorriso descarado nos lábios me deixando fervendo
de ódio.
— Imbecil. — digo quando escuto seus passos desaparecem. — Está
querendo pisar em mim só porque terminei com o Alberto. — falo furiosa. —
“Coloque um agradecimento pela noite inesquecível” — Repito a fala dele com
uma voz afetada repleta de deboche. — Ah, vai tomar no...
— Samantha! — Cristina interrompe o meu xingamento. — Ele pode estar
escondido. — Ela corre até a porta para ver se ele realmente se foi ou ficou
escondido escutando o nosso papo como adora fazer.
— Foda-se se ele estiver escondido, estou de saco cheio desse exibido.
— Caramba você tá azeda hoje, hein. O que o Alberto aprontou? — ela
pega um pouco de café.
— Ai, Cris, o Alberto é um caso perdido, vive para aquela mimada da irmã,
preciso de um homem mesmo, daqueles que me tirem o ar.
— Tipo o senhor Saramago? Ele tira o ar de qualquer uma. — Ela fala
sorrindo sem esconder o fascínio que sente pelo déspota.
— Eu lá vou querer perder o ar por um egocentrista? Você tá louca? Quero
um homem no estilo do Morales, aquele sim sabe como deixar uma mulher sem
ar. Toda vez que ele vem aqui fico igual às Cataratas do Iguaçu.
— Igual as Cataratas? — ela me pergunta sem entender a minha piada.
Literalmente Cris é uma mãe solitária que precisa de sexo e de piadas sobre o
assunto.
Ela é uma morena linda, com cabelos na altura dos ombros, quadris largos e
uma cintura fininha. É uma mulher sexy, mas anulou a vida sentimental para
cuidar das filhas depois que se separou.
— Fico molhada, Cris, viro uma cachoeira louca para dar a noite inteira
para aquele coroa gostoso.
— Ai, Sam, você é tão depravada. — Ela coloca a mão sobre o coração
chocada.
— E você uma encalhada que não trepa. Toma juízo, essa boceta daqui a
pouco tá cheia de teia de aranha. Vai esperar morrer pra terra comer?
— Credo, você não está bem. — Reviro os olhos.
— Toma seu café e vai enviar as flores para a sonsa, vou passar a agenda do
ditador e depois organizar uns arquivos.
Saio da copa com uma irritação extrema. Encontrar o Zander logo cedo
sempre é motivo para confusão, mas hoje ele me tirou do sério.
— Flores pra aquela vagabunda... — resmungo enquanto sigo para minha
mesa. — Noite inesquecível...
Odeio esse homem, mas ele não perde por esperar, um dia da caça e outro
da caçadora.
Ajeito o meu cabelo e pego o batom para retocar. Ouço a porta do banheiro
se abrir e alguém caminhar na minha direção. Quando olho para ver quem é,
vejo a insossa da Vanessa me observando.
— Como vai, Samantha? — Ela para do meu lado e me observa através do
espelho.
— Estou bem, e você?
— Estava ótima, mas aí você chegou. — Agora ela vira e cruza os braços.
— Não sei qual é a sua, mas desista do Zander, ele nunca será seu.
— O quê? — Também me viro para encará-la.
— Não se faça de inocente comigo, conheço bem as mulheres da sua laia.
Sei muito bem que anda se exibindo para o meu namorado, mas não vai
conseguir nada. Zander é um homem que necessita de uma mulher que saiba se
comportar no meio da alta sociedade, não precisa de alguém com cara de vadia
como você.
— Vadia? — Por Deus que hoje mato essa piranha.
— Esquece meu homem, garota, você não sabe com quem está se metendo.
— Dou um suspiro profundo para evitar virar do avesso a cara dessa filha da
puta.
— Vai se foder, Vanessa, a única coisa que quero do seu homem é o meu
salário em dia. Não sou mulher de perder meu tempo com um egocentrista,
quem mendiga atenção aqui é você.
Solto um beijo para ela e saio do banheiro soltando fumaça. Que biscateira
miserável, é muita audácia querer me intimidar. Até parece que vou me rebaixar
para o namorado dela. Quero que os dois se fodam, ambos se merecem.
— Vamos embora, Morales? — pergunto quando chego a mesa.
— Algum problema?
— Nenhum, só preciso de um pouco de ar. — Percebo que ele não acredita
em mim.
— Só um minuto. — Ele faz sinal para o garçom e pede a conta.
Vejo Vanessa voltar para a mesa e passar possessivamente os braços pelo
pescoço do Zander. Ela me encara e sorri com deboche. Que petulante, acredita
que está abafando. Estou contando os segundos para o meu chefinho me pedir
para enviar as flores que oficializam o fim do relacionamento deles. Terei o
maior prazer de escrever o bilhetinho de despedida dela.
— Vamos embora? — Morales me chama e desperto dos meus
pensamentos de vingança.
— Claro que sim. — Ele segura a minha mão e me levanto sorrindo.
Não vou terminar a minha noite na cama do Morales, mas vou fazer uma
boa cena para mostrar a namoradinha do Zander que tenho meu próprio homem.
— Samantha. — Ouço a voz do Zander assim que o Morales passa o braço
pela minha cintura. — Se quiser posso te levar em casa, já estou indo embora.
— Essa pergunta é séria? — Morales nem me deixa responder. — Por que
você não se preocupa com a sua namorada? A Samantha já tem companhia.
— Não falei com você, Morales, não se meta onde não é chamado. — A
ignorância do Zander é tocante.
— Você está drogado? — pergunto a ele me fingindo de preocupada.
— Eu? Claro que não! Você sabe muito bem que não sou adepto a drogas.
— ele me responde exaltado.
— Já não sei de nada, porque para você me oferecer uma carona quando
estou acompanhada, me leva a crer que não está no seu juízo perfeito.
— Pare de ironias. — Ele rosna demonstrando toda a sua irritação.
— Zander, vá cuidar da sua mulher e deixe a minha. — Morales segura o
meu queixo e dá um selinho rápido nos meus lábios acelerando o meu coração.
— Vamos embora, querida?
— Claro. — respondo com a voz instável.
Olho para o Zander e o vejo observar nossa interação chocado. Ele não
esperava ver o Morales me beijando, na verdade, nem eu esperava.
— Até segunda, senhor Saramago. — Finjo docilidade quando me afasto
dele.
Não sei se provocá-lo é um bom movimento, mas adorei o que o Morales
fez. Ao menos mostrou para a Vanessa que não estou nem aí para o namorado
dela. Certamente ela viu o beijo do Morales e agora deve estar se roendo de raiva
por eu ter dois homens disputando a minha atenção.
— Quero que me perdoe se fui muito invasivo, Samantha, mas o seu chefe
passou dos limites. — Morales fala assim que saímos do restaurante.
— Sem problemas, eu não sei o que deu nele. — Vejo um sorrio estranho
estampar o rosto do Morales.
— Eu sei bem o que deu nele, mas vamos esquecer esse incidente. — Ele
entrelaça os dedos nos meus. — Vou te levar em um lugar onde podemos dançar
e beber um pouco.
— Gosto desse plano.
— Que bom. — Ele pede um carro enquanto conversamos sobre o quanto a
noite está quente na cidade maravilhosa.
Segunda-feira de manhã
Cruzo os braços enquanto espero o café ficar pronto. Estou louca para a
obra da copa acabar, quero muito beber café moído na hora. Espero que o
arquiteto entregue a obra no tempo previsto, sinto falta de poder passar um
tempo reclusa por lá.
Minha mente corre para o meu fim de semana me fazendo sorrir, foi
incrível a noite que passei com o Morales. Ele é tão divertido, sempre disposto
para uma aventura. Terminamos a nossa noite assistindo o nascer do sol, depois
tomamos café juntos, e em seguida ele me levou em casa.
Gostei dele não me pressionar para terminamos o nosso encontro na cama.
Ele me surpreendeu quando se despediu de mim apenas me dando um beijo
casto.
Não vou negar que naquela altura do campeonato estava louca para transar
com ele. Até tinha esquecido da minha decisão de não ir para a sua cama por
motivos de trabalho. Estou começando a acreditar que não levo jeito para ser
profissional, não consigo conter o meu fogo.
— Sempre soube que você não era muito certa da cabeça, mas rir sozinha é
demais. Será que vou ter que chamar o manicômio para te pegar?
Olho para o lado e vejo o insuportável do meu chefe rindo de mim. Esse
infeliz está lindo, com um terno cinza claro, camisa social branca e gravata
vermelha listrada. Seu cabelo está milimetricamente arrumado e ainda molhado.
Sua loção pós-barba paira pelo ar me fazendo ter vontade de passar os braços
pelo seu pescoço e sentir esse cheiro maravilho bem de perto.
Ai meu Deus, é impossível resistir a tanta beleza!
— Bom-dia, senhor Saramago. — Opto por não retrucar seu desaforo. — O
café já vai sair, levo em alguns minutos na sua sala.
— Só isso? — ele ergue uma sobrancelha? — Não vai retrucar o meu
comentário irônico?
— Não estou disposta. — Pego duas xícaras para tentar me ocupar com
algo.
— Perdeu a disposição ao passar tanto tempo com o Morales? Foi difícil
ficar trocando a fralda geriátrica dele? — Zander joga a cabeça para trás e sorri
alto.
Idiota!
— Ha ha ha. — Debocho dele. — Para o seu governo, o Morales é um dos
homens mais interessantes que já conheci. É difícil pensar em qualquer outro
depois dele.
O sorriso que brincava em seu rosto desaparece completamente e é
substituído por um semblante tenso. Ele pensou que eu cairia na sua afronta e
arrumaria uma briga, mas não vou dar o gostinho de ele me ver chateada logo
cedo.
— Então vocês... — ele não termina de falar e apenas me olha.
— Nós o quê? — Incentivo-o a terminar sua pergunta.
— Bom-dia, senhor Saramago. — Cristina interrompe a nossa conversa.
— Bom-dia. — Zander responde com a voz mais grossa do que o habitual.
— Leve meu café na minha sala, senhorita Diniz. — Ele rosna o meu nome e
entra na sua sala.
— Atrapalhei algo? — Cristina pergunta confusa.
— Você me salvou de mandá-lo tomar conta da própria vida. — Pego a
xícara dele e coloco o café.
— Sam, você deveria ser mais calma, qualquer dia desses o senhor
Saramago deixa de achar graça nessas brigas de vocês e te manda embora.
— Não me importo se me demitir, estou cansada desse humor tosco dele.
— Termino de ajeitar o seu café.
— Você tem seus objetivos, não pode se deixar levar pelas provocações do
chefe. Fica fria e termina seu curso, tenho certeza que em breve você se torna
uma executiva de sucesso e me leva para trabalhar com você.
Sorrio do seu conselho, Cris é única, sabe como me conter, como ninguém.
Não foi por acaso que nos tornamos amigas assim que ela veio trabalhar comigo.
Impossível não amar essa mulher que sempre me segura quando perco a linha.
— Tudo bem, eu vou me comportar, você tem razão.
— Isso aí, garota.
Pego a xícara com o café do traste e vou para a sala dele. Que Deus me
ajude a manter a boca fechada, porque se ele me fizer perder o controle, jogo
esse imbecil pela janela.
— Com licença, senhor, seu café. — Fingindo não me importar com o seu
olhar intenso sobre mim, coloco a xícara sobre a mesa. — Deseja que eu passe
sua agenda agora?
— Tem certeza que vai continuar com essa postura indiferente?
— Não tem indiferença nenhuma aqui, senhor.
Ele aperta os olhos tentando segurar a raiva. Eu não deveria me sentir tão
feliz em irritá-lo, mas não consigo me conter e gargalho por dentro por saber que
ele está louco para me xingar.
— Quando o Morales passar por cima de você, não quero presenciar
nenhum rosto inchado no meu escritório. Você vai ter que superar sua dor de
cotovelo sorrindo enquanto trabalha.
Se eu não conhecesse bem o Zander, diria que ele está com ciúmes do meu
envolvimento com o Morales, mas como sei que esse babaca não tem
sentimentos suficientes para sentir ciúmes de alguém, abandono esse meu
pensamento insano.
— Deseja mais alguma coisa? — Ele prende os lábios irritado.
— Vocês transaram?
— Essa pergunta é séria?
— Basta responder sim ou não.
— A minha vida pessoal não está em pauta, senhor. — Ele trinca os dentes
e me preparo para a briga.
— Mande a minha agenda por e-mail.
— O.K. — Saio da sala dele prendendo a vontade de sorrir. Acho que
deixei alguém bem irritado.
CAPÍTULO 12
Zander
Minha semana não foi como programei, se não bastasse os problemas no
Sul permanecerem sem solução, Samantha decidiu me ignorar completamente.
Só agora percebi que não consigo trabalhar sem tê-la me rodeando com
todo o seu falatório e implicância. Estou quase implorando para ela parar de
drama e voltar a ser a velha Sam que tanto gosto.
Se a intenção dela era me enlouquecer, conseguiu com maestria.
E ainda tem a minha curiosidade em saber se ela transou com aquele
imbecil. Quando penso que o Morales pode ter desfrutado do corpo perfeito dela,
tenho vontade de quebrar a cara daquele filho da puta.
— Senhor Saramago, o Gaspar acaba de chegar. — Ouço a voz da
Samantha. Olho para a porta e ela está parada com aquela cara de desgosto que
tanto me enerva.
— Por que ele ainda não entrou? — Já que ela quer ser insuportável, vou
facilitar a sua vida sendo grosseiro.
Sam não responde e apenas some da minha visão. Em seguida Gaspar entra
com o rosto tenso, pelo jeito não traz boas notícias.
— O que foi, Gaspar? Por que parece que está indo para a forca?
— Senhor... é que... — Ele começa a gaguejar e me irrita.
— Fala logo, homem!
— Desculpa, senhor, mas a situação no Sul não se resolveu, eles disseram
que não encontram nada estranho nas faturas, que os preços são os de mercado.
Juro que quero me comportar com elegância, com toda calma que meu pai
sempre me ensinou a ter em momentos de crise. Infelizmente puxei o lado
passional da minha mãe, não sei reagir a notícias como essa sem fazer uma cena.
— Como os preços são de mercado se você mesmo disse que achou caro
em relação aos pagos pelas outras unidades regionais? Que porra é essa? Eu vou
demitir todos esses incompetentes. Não vai sobrar ninguém. — esbravejo como
um louco.
— Eu não sei o que fazer, todas as respostas que tento encontrar são
contraditórias, ninguém me dá uma posição definitiva. Agora o gerente vem
dizer que não acha estranho os valores, mas eles são altos, estamos tendo
despesas demais por lá.
— O Marco está cavando a própria cova, Gaspar.
— O senhor quer que eu vá lá pessoalmente? Estando presente posso ser
mais eficiente do que aqui.
Recosto na cadeira e avalio sua proposta. Sei que o Gaspar é extremamente
competente, ele trabalha na empresa desde o tempo do meu pai. Conseguiu o
cargo de Diretor Financeiro por méritos próprios. Se ele for para o Sul, tenho
certeza que encontrará uma solução.
Mas eu gosto de uma boa briga, perseguir os meus inimigos me provoca um
prazer extremo. Não posso deixar essa oportunidade passar batida. Quero
descobrir pessoalmente se alguém teve a audácia de me roubar.
Uma ideia louca começa a passar pela minha cabeça me fazendo sorrir.
Talvez não seja nada mal verificar o que acontece lá, estou precisando de uma
folga mesmo. Ir para o Sul será uma boa maneira de verificar meus negócios,
fugir da Vanessa e ter Samantha por perto fora da sua zona de conforto.
Já que vou buscar respostas para o mistério dos balanços das lojas do Rio
Grande do Sul, preciso da minha secretária pessoal por perto para me ajudar no
que for preciso. Quem sabe se passarmos esse tempo juntos, as coisas entre nós
voltem ao normal? Sinto saudades da minha Sam atrevida. Ela alegrava os meus
dias.
— Não precisa se incomodar em ir até lá, Gaspar, eu mesmo farei isso. —
Ele me olha incrédulo.
— O senhor vai para o Sul?
— Vou. — Sorrio enquanto confirmo. — E vou com disposição para
demitir metade da equipe.
— Chefe, tem certeza que quer se envolver nisso pessoalmente?
— Tenho. — Essa viagem vai me servir para diversos propósitos, não vou
abrir mão dela. — Obrigado por tentar solucionar tudo, Gaspar, pode ter certeza
que seu esforço não terá sido em vão.
— É minha obrigação, senhor.
— De qualquer maneira quero agradecer. — Levanto e estendo a mão para
ele. — Mantenha essa informação de que vou viajar em sigilo. Não quero que
ninguém saiba.
— Pode contar com a minha discrição.
— Ótimo. — Gosto do Gaspar justamente pela sua fidelidade e discrição.
— Vou aproveitar que meu pai está por aqui e vou deixá-lo tomando conta da
empresa, tente auxiliar meu velho no que ele precisar.
— Será um enorme prazer.
Gaspar responde sorrindo antes de deixar a minha sala. Ele adora o meu
pai, os dois tiveram uma longa história trabalhando juntos.
Assim que ele sai ligo para Sam e peço que ela venha a minha sala e traga a
agenda. Quero que ela providencie o quanto antes a nossa viagem. Segunda-feira
eu irei aterrissar no Rio Grande do Sul para apavorar a diretoria de lá.
— Pois não, chefe. — Ela entra toda profissional.
Não sei se me irrito por ela me tratar com tanta indiferença, ou me excito
com esse seu nariz arrebitado acompanhado desse rostinho enfezado.
— Quero que você providencie uma viagem para o Rio Grande do Sul na
segunda-feira bem cedo, mas quero um jatinho particular, não tenho interesse em
perder tempo no aeroporto.
— Você vai mesmo para o Sul? — Agora ela parece interessada no que
estou falando.
— Vou, faço questão de fazer as demissões necessárias pessoalmente.
— Zander, você acha mesmo que tem alguém superfaturando as compras?
Não consigo acreditar que sejam tão estúpidos assim. Está bem óbvio que uma
hora eles seriam desmascarados.
— Samantha, eu não acho nada, apenas sei que estamos pagando um valor
exagerado em vários produtos.
— Quanta burrice, tem gente que nem sabe roubar. — Ela faz cara de
desgosto. — Vou providenciar agora mesmo a sua viagem. Alguém vai te
acompanhar?
— Você! — digo e espero a sua atitude.
Sam abre a boca e apenas fica me encarando sem reação. Acho que ela
imaginou que o Gaspar fosse comigo, mas não vou passar um tempo fora com
ele do meu lado. Nem pensar! Prefiro uma companhia mais agradável.
— Preciso de alguém que me auxilie com a devida discrição, essa viagem
será extremante complexa, não posso abrir mão de ter você comigo. Apenas
você sabe das minhas necessidades, então já vá se preparando para passar um
tempo longe da cidade.
— Quanto tempo?
— O tempo que for necessário. — Espero ela reclamar, mas Sam apenas
olha para o chão pensativa.
— Tudo bem, eu vou ajeitar tudo. — Fico surpreso por não debater comigo.
— Deseja mais alguma coisa?
— Não. — respondo no automático, chocado com a sua aceitação.
Sem mais palavras ela sai da minha sala requebrando os quadris, me
deixando louco com a visão da sua bunda perfeita.
Agora já não sei se foi uma boa ideia tê-la convidado. Não será fácil passar
um tempo fora com ela, mas acho que precisamos disso. As coisas entre nós
andam estranhas demais, talvez nos unirmos para resolver esse problema nos
reaproxime. Sem contar que será um bom exercício para a carreira dela, sei
muito bem que Sam adora aprender.
Nessa viagem, ela vai entender que um homem de negócios precisa ser frio
e direto para alcançar os seus objetivos.
— Eu vou com você também. Não permitirei que fique sozinho com aquela
vadia.
— Se chamar a Samantha de vadia mais uma vez, teremos um grave
problema.
Esse ciúme bobo da Vanessa com relação a Sam me irrita profundamente.
— VADIA! — Vanessa grita descontrolada. — Ela é uma vadia que vive
dando em cima de você.
— Para de ser maluca. Sam nunca deu em cima de mim.
— Sam? Agora é Sam? Estão íntimos assim?
Passo a mão pelo rosto perdendo a paciência com ela. O tempo da Vanessa
na minha vida acabou. Ela já não me atrai em nada.
— Chamo Sam como quiser, e você não tem nada a ver com isso.
— Como não? Eu sou a sua namorada. — ela fala com propriedade,
acreditando que realmente tem um espaço vitalício na minha vida.
— Ex-namorada. — digo sorrindo. — Você acaba de entrar para a galeria
das minhas ex. — O rosto dela empalidece.
— O quê? Você está falando sério?
— Pegue o que conseguir das suas coisas e saia da minha casa. Depois
mando a empregada reunir o que ficou e envio para você. Se precisar de um
carro para ir embora eu peço agora.
Vejo lágrimas acumularem em seus olhos quando acabo de falar. Por isso
odeio terminar com alguém em lugar privado, esse lance de choro é
desconfortável.
— Você não pode me deixar por causa de uma secretária. Eu te amo,
Zander.
Merda! Não acredito que ela disse que me ama.
— Não estou terminando com você para ficar com ninguém, o problema é
que você perdeu o bom senso e quer uma posição na minha vida que nunca terá.
— Juro que não quero magoá-la mais do que o necessário, só que ela não está
facilitando.
— Não faça isso, Zander, eu não vou abrir mão de você. — Ela se atira em
mim e me abraça. — Eu te amo e sei que você me ama também.
— Por Deus, Vanessa, mantenha a dignidade. — Seguro-a pelos braços e a
afasto. — Se não sair daqui agora por bem, eu vou ter que carregá-la para fora.
Veja, eu não quero chegar a este ponto.
— Por favor, não me deixa.
Respiro fundo tentando conter a raiva que começa a me consumir. Odeio
gente que não tem amor próprio. Ela é uma mulher linda, pode arrumar um
homem decente em segundos, não precisar ficar se humilhando para um cretino
como eu.
— Pegue a sua bolsa e saia agora! — falo baixo, mas sem deixar de encará-
la.
As lágrimas que ela tentava conter começam a cair pelo seu rosto me
causando aflição. Preciso que ela vá embora, odeio drama.
— Você vai se arrepender por me descartar assim. — Vanessa diz enquanto
seca as lágrimas e pega a bolsa.
Fico parado no meio da sala enquanto a observo bater a porta com
violência. Eu não tinha programado terminar o nosso envolvimento assim, só
que ela passou dos limites ao xingar Samantha.
Foi melhor desse jeito, eu devia ter dado um fim no nosso relacionamento
há tempos. Acabei me acomodando e permitindo que Vanessa acreditasse que
tinha um espaço sólido na minha vida.
Com ela fora do meu caminho, vou ter paz para trabalhar nessa viagem sem
as suas ligações constantes. Será até bom passar um tempo fora, isso vai me
manter longe dela. Quando eu voltar, talvez ela já tenha me substituído por
algum babaca.
CAPÍTULO 13
Samantha
Ontem, saí com o Morales para distrair um pouco a cabeça. Estou uma
pilha de nervos em saber que passarei um tempo sozinha com o Zander. Não sei
como vou sobreviver a essa viagem com todos os sentimentos que ando nutrindo
pelo meu chefe.
E quando digo sentimentos, eles se estendem desde querer me jogar nele,
até matá-lo com requintes de crueldade. Não sei como Zander consegue me
irritar e ao mesmo tempo me fazer desejá-lo.
— Nap, hoje você vai ficar sozinho, não vou demorar. — Passo a mão pela
cabeça dele com peninha de deixá-lo.
Só que hoje ele não poderá ir à minha visita semanal a casa da mamãe. Ela
terá que cuidar dele enquanto eu estiver viajando, então vou deixá-la livre do
Nap por hoje.
Quando estou chegando na porta, escuto uma mensagem chegando. Pego o
celular e vejo que é o Zander. Fico indecisa se devo ou não abrir o aplicativo.
Não estou no meu melhor momento e, se ele me irritar, é bem capaz de não
viajar com ele.
Zander – você precisa de alguma coisa? Hoje a tarde estarei livre caso
tenha que comprar algo para a viagem. Não se preocupe com dinheiro, é tudo
por conta da empresa.
Releio a sua mensagem sem acreditar que ele está sendo tão simpático. O
que será que ele bebeu para estar esbanjando educação?
Sam – obrigada pela oferta, ainda não fiz a minha mala, mas não se
preocupe que, se faltar algo eu compro amanhã.
Tranco a porta do meu apartamento e vou para o elevador.
Zander – é só me avisar que te levo.
Essa oferta do Zander não está me cheirando bem, ele não é bonzinho
assim, tem algo por trás de toda essa oferta.
Sam – tudo bem chefe, te aviso se precisar de algo.
Zander – estou com medo desta sua obediência.
Que idiota, ele sabe ser um babaca!
Sam – vai à merda.
Ele responde com vários bonecos sorrindo, acho que meu chefe está com o
humor em alta. Uma pena que eu não esteja no clima de provocá-lo.
Jogo o telefone na bolsa e encerro a nossa conversa. Não quero me estender
no nosso papo, teremos muito tempo para brigarmos nessa viagem, prefiro não
me estressar com ele antes disso.
Fecho os olhos e deixo a água cair sobre o meu corpo dolorido. Passar o dia
tensa sem sair do escritório não foi fácil. Hoje o trabalho foi estressante além do
normal. Aturar o Zander gritando o tempo todo é um exercício intenso para a
paciência de qualquer pessoa.
Graças a Deus a raiva dele não estava direcionada a mim, eu tive sorte de
ser a única pessoa que ele teve um pouco de paciência durante o dia.
Normalmente Zander é exigente e autoritário, mas hoje ele ultrapassou
todos os limites. Apesar de saber que toda a equipe financeira fez uma merda
grande ao abafar esses aumentos absurdos, tive pena deles com todas as crises
que Zander deu durante o dia.
Saio do banho e me seco tentando não imaginar o que acontece no quarto
ao lado. Quando fiz a reserva, procurei ficar ao máximo longe dele, só que o
infeliz fez questão de mudar tudo de última hora.
Ajeito o meu cabelo em um coque frouxo e sigo para o quarto, preciso
comer algo, estou morrendo de fome.
Começo examinar as opções de comida do hotel. Necessito de algo
consistente para matar a minha fome, não quero nada de comida luxuosa. Na
verdade, tudo o que eu queria era o arroz e feijão da minha mãe. Seria um sonho
poder comer a comidinha dela agora.
Quando estou quase decidindo o que comer, o telefone do meu quarto toca.
Pondero se devo atender, não sei se quero falar com Zander agora.
— Oi! — Atendo sem resistir a curiosidade de saber o que ele deseja.
— Já jantou?
— Estava escolhendo agora.
— Vamos jantar juntos, eu preciso distrair um pouco a cabeça ou vou ficar
louco.
— Eu não tenho disposição para descer até o restaurante, meus pés estão
me mantando. — Estalo os dedos dos pés e sinto aquela sensação de prazer e
dor.
— Também não tenho disposição para descer, mas podemos dividir a
refeição no seu quarto, ou no meu, se preferir.
Calor! Sinto o meu corpo esquentar mil graus com a possibilidade de tê-lo
no meu quarto. Cada vez que preciso ficar sozinha com esse homem, é um
exercício fervoroso para o meu psicológico.
— O que você vai querer comer? — pergunto tentando distrair os meus
pensamentos.
— O que pedir, não tenho preferência.
— Zander, eu não tenho intenção de pedir nada fino como sei que você
gosta. Preciso de comida verdadeira, bem calórica. — Ele sorri do outro lado.
— Não sei o que quer dizer com comida de verdade, mas gosto da parte
calórica. Pode pedir por mim e também peça uma garrafa de vinho, sem uma
dose de álcool não vou conseguir dormir.
— Tudo bem.
— Vou para o banho agora, assim que terminar bato na sua porta.
— Certo.
Encerro a ligação e fico incerta se fiz a coisa certa ao deixá-lo jantar
comigo. Ficar perto dele nunca é uma boa ideia, resistir a tentação é sempre
difícil.
— Meu sonho é um dia conhecer o Rio. Quero muito tirar foto de braços
abertos no Cristo Redentor. — Uma das meninas da mesa fala para mim.
— Realmente a cidade do Rio tem lugares incríveis, uma pena que não
possamos andar com tranquilidade. — Experimento meu drinque enquanto
penso na minha cidade.
Estou com saudades de casa, queria muito poder dormir na minha cama na
companhia de Nap.
— Se formos justos, não podemos andar em lugar nenhum, está difícil viver
no nosso país. — Todos nós concordamos com o que Robson fala, realmente está
difícil encontrar um lugar tranquilo.
O nosso papo muda e acabo me divertindo com as histórias da turma. Eles
são animados e tem um sotaque sensacional, acho linda a maneira melódica que
eles falam. Se eu ficar mais uma semana nesta cidade, volto para o Rio me
achando uma verdadeira gaúcha.
— Sam, aquele é o seu chefe?
Volto a minha atenção para a porta do bar e vejo o Zander entrando com as
sobrancelhas juntas enquanto vasculha o lugar. Ele está com o Diretor da
Empresa de Auditoria, mas pela falta de interesse dele no que o homem está
falando, veio até aqui apenas para me infernizar.
— É o próprio. — afirmo desanimada, no exato momento que ele me
enxerga.
— Quem falou para o Sandro que viríamos para este bar? — Robson
questiona aos amigos.
— Foi mal, gente, ele me ouviu convidando um paquera para me encontrar
aqui, só que nunca imaginei que nosso chefe viria com o Leão. — a pobre
menina fala pesarosa e me faz sorrir com o apelido do Zander.
Se ele descobrir que ganhou um apelido irônico, vai rugir de verdade.
— Fiquem tranquilos, ele só vai me perturbar. — Termino meu drinque. —
Zander deve estar puto da vida por eu não o ter convidado.
— Como você aguenta trabalhar com ele? Sempre que o vejo, ele está
resmungando algo. — a pequena Soraia me pergunta.
Quando digo pequena, é porque ela é pequena mesmo, deve medir no
máximo um metro e cinquenta. Parece uma bonequinha de tão fofa que é.
— Ele paga um salário fenomenal, sem contar as horas extras. Pelo valor
que recebo, finjo que ele tem problema mental e apenas ignoro seus gritos. —
Pisco para ela e sorrio com falsidade quando meu amado chefe se aproxima. —
Nossa... senhor Saramago, que coincidência o ver por aqui.
Ele aperta os olhos demonstrando sua irritação com a minha ironia. Ambos
sabemos que não existe nenhuma coincidência, o abusado veio atentar o meu
juízo.
— Pois é, parece que este é um bar bem indicado para um happy hour.
— O lugar é ótimo, e os preços das bebidas excelentes. — Faço sinal para o
garçom me trazer outra bebida.
— Vamos juntar as mesas. — O chefe do grupo da autoria faz essa sugestão
para que todos fiquem juntos.
Sem nenhuma vergonha, Zander faz Soraia trocar de lugar e se senta ao
meu lado. Ele é tão inconveniente que chega a ser engraçado. Em certos
momentos acho que esse homem realmente tem um interesse por mim, mas na
maior parte do tempo, acredito que é apenas prazer em implicar comigo.
— Por que não me disse que viria para um bar?
— Porque não queria você me perturbando.
— Eu te perturbo? — ele me questiona com cara de inocente.
— O que você tem de bonito, tem de insuportável. — Como já estou indo
para meu terceiro drinque, não seguro a minha língua.
— Sou bonito? — O sorriso envaidecido dele é irritante.
— Você tem espelho em casa, querido. — Passo o indicador por baixo do
queixo dele só para fazer charme.
Esse simples gesto é o suficiente para calar o arrogante. Ele pede um uísque
duplo quando o garçom traz o meu drinque e passa a me ignorar.
Será que não gostou de ser chamado de bonito? Vai saber, ele não bate bem.
Só para não perder o costume de irritar o chefe, passo a dar atenção extra ao
Robson, tenho certeza que ele vai odiar me observar sendo agradável com outro
homem.
Nos próximos quarenta minutos, nós nos ignoramos com sucesso, mas
quando ele ouve o Robson se oferecer para me acompanhar até o hotel, entra na
minha conversa.
— A senhorita Diniz vai embora comigo.
— Quem falou isso? — questiono com irritação.
— Eu estou falando.
É impressionante como ele acha que pode me controlar como faz com as
suas piriguetes. Zander finge não perceber que sou uma tempestade
completamente fora de controle.
— Baby, aqui você não manda em mim, lamento te decepcionar.
— Mando quando você está bêbada.
— Não estou bêbada.
— Claro que não, só está rindo como uma hiena.
— Vai se...
— Samantha! — ele interrompe o que eu ia falar. — Não vou admitir
desaforo.
Resmungo furiosa por ele se intrometer no meu lazer, esse homem me deixa
frustrada em vários níveis.
Como não desejo provocar uma cena, levanto-me e sigo para o banheiro.
Preciso de um pouco de espaço, ou então perco a linha com esse maldito.
Essa nossa relação está cada dia mais estranha, não estamos nos
comportando com o profissionalismo, que deveria ser uma regra rígida entre nós.
Talvez esse seja o aviso para encontrar um novo rumo quando retornarmos para
o Rio.
Não nego que gosto de trabalhar com ele e ter essa liberdade de implicar e
falar desaforos quando sou provocada, mas não posso fechar os olhos para o
sentimento crescente que ando nutrindo pelo meu chefe.
Meu coração já foi castigado demais, não posso arriscar outra vez. O grande
senhor Saramago é mais que um risco, com muito pouco esforço ele pode
destroçar os meus sentimentos.
— Vamos embora. — Coloco a mão sobre o peito com o susto que ele me
dá quando saio do banheiro.
— Se quer me matar afunda logo uma faca no meu coração.
— Para de drama, odeio bêbado dramático.
— Já disse que não estou bêbada. — Desvio da sua mão que tenta segurar
meu braço.
Na verdade, estou um pouco alegre, mas não vou assumir isso nem sob
tortura.
— Então essa voz arrastada é uma tentativa de imitar o sotaque gaúcho? —
O sorriso debochado dele me irrita.
— Gosto do sotaque daqui e gosto muito mais dos gaúchos, tanto que vou
levar o Robson para o meu quarto hoje, quero ver do que ele é capaz.
Vejo um brilho intenso de raiva passar pelos olhos dele antes de sentir sua
mão se apossar possessivamente na minha cintura.
— Se ele ousar entrar no seu quarto, amanhã estará na rua. Um homem de
verdade jamais deve se aproveitar de uma dama quando ela não está no seu juízo
perfeito.
— Nossa você é um cavalheiro. — Sorrio alto demais até para os meus
ouvidos embriagados. — Se eu não soubesse que troca de namorada como troca
de roupa, até pensaria em te levar para o meu quarto.
Acho que estou muito bêbada, porque juro que ouvi um rosnado escapar do
Zander.
— Para onde está me levando? — pergunto quando ele segura a minha mão
e começa a me puxar pelo corredor.
— Embora. Por hoje sua noite de bebedeira acabou.
— Claro que não acabou. Sequer me despedi do pessoal. — Tento me
desprender dele e tropeço nos meus saltos.
Ele me segura com força e atrai o meu corpo junto ao seu.
— Eu me despedi por você.
— Você não tem autoridade para isso, está agindo como se fosse meu
namorado. — digo enquanto observo seus olhos que, normalmente são azuis,
ficarem praticamente negros de raiva.
— Sou mais que um namorado, sou o seu amigo. — Ele aproxima o rosto
do meu. — E como amigo é meu dever perceber que a noite acabou para você.
Encaro o seu rosto admirando sua boca tão perto e sinto um reboliço
intenso dentro de mim. Ele é tão lindo, tão sensual, uma pena que não possa ser
meu.
— Quero vomitar, mas só vou fazer isso no banheiro do meu quarto, me
leva daqui.
Sem mais comentários ele firma o braço ao meu redor e me apoia para
sairmos do bar. Quando ele chama o táxi e me acomoda dentro do veículo ao seu
lado, encosto a cabeça em seu ombro e fecho os olhos com força controlando a
respiração para evitar o vomito.
Dessa vez não estou fingindo uma embriaguez, eu estou é fodida mesmo. A
minha mente está rodando e tudo o que eu desejo é um banho gelado para tentar
aplacar o mal-estar que me consome.
Zander
— Já terminou?
Tento disfarçar a irritação na minha voz, não quero que ela tenha outra crise
de choro.
Sam passou vinte minutos vomitando e chorando. Ela disse algumas coisas
sem sentindo, mas pude perceber que tem algo acontecendo com ela.
Não sei quem foi o babaca que a magoou, mas ela disse tantas vezes que o
odiava, que se eu encontrasse o bastardo acabava com a raça dele.
— Terminei, mas estou tonta.
— Se enrole na toalha, eu te levo para cama. — Abro uma parte do box e
estico a tolha.
Não quero arriscar vê-la nua, não mereço esse tipo de tortura. Já basta essa
sombra tentadora do seu corpo que não consigo parar de olhar. E também não
quero que amanhã ela me acuse de aproveitar do seu momento de
vulnerabilidade. Conheço-a bem, sei como funciona sua cabeça destrambelhada.
Ela apoia a mão na porta do box e surge na minha frente segurando a
toalha.
Meu Deus, até embriagada é linda!
— Segura a porra dessa toalha, vou te pegar. — Ela sorri.
— Vai me pegar?
— Para de brincadeira. — Passo a mão por baixo das suas pernas e a
suspendo sem dificuldades. — Amanhã teremos uma conversa. — O cheiro dela
me envolve e preciso conter a vontade de afundar o rosto no seu pescoço.
— Não quero conversar.
— Você não terá escolha.
Deito seu corpo suavemente na cama e jogo imediatamente o lençol por
cima. A toalha subiu indecentemente, não é justo ver tanta pele macia sem poder
tocar.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Preciso de você dormindo comigo. — ela fala sorrindo e se aconchega
no travesseiro.
Não repondo nada, apenas observo seus olhos fechando enquanto
rapidamente cai no sono.
Samantha é meu grande tormento desde que surgiu no meu caminho. Ela
me confunde e me excita na mesma proporção. Nunca me senti tão fascinado por
uma mulher como me sinto por ela. Talvez seja por isso que tenho tanto medo de
me aproximar.
Sem resistir enrolo uma mecha do seu cabelo no dedo e brinco com os fios
sedosos. Ela é tão linda e vibrante. Sempre sorrindo e com uma resposta
desaforada na ponta da língua. Samantha é autêntica, nada nela é forçado.
Pego a sua mão e levo até os lábios, vou beijando os nós dos seus dedos
bem devagar, deixando a minha mente viajar em um mundo alternativo onde
posso me deitar ao seu lado e sentir o seu calor.
Passo um tempo considerável segurando sua mão velando o seu sono, até
que me dou por vencido e sigo para o meu quarto. Entretanto, por garantia, levo
o cartão chave dela. Se por acaso ela precisar de mim antes de amanhecer,
consigo entrar com rapidez.
Só por precaução peço que entreguem no meu quarto um analgésico.
Amanhã ela vai acordar com a cabeça estourando. Se não tomar um remédio
sequer vai conseguir abrir os olhos.
Quando finalmente me deito na cama, encaro o teto com a mente focada em
Sam. Ela está acabando comigo, cada dia está mais difícil resistir ao desejo que
sinto por ela.
Infelizmente terei que dispensar os seus serviços quando chegar ao Rio, não
posso mais sofrer cada vez que a encontro. Vou encaminhá-la para alguma filial
como Diretora de Departamento. Sei que rapidamente ela vai conseguir as
promoções necessárias para ser uma das minhas principais executivas.
Sentirei falta das nossas brigas, mas será melhor para nós dois. Não quero
magoar Sam, ela é especial, merece alguém que tenha tempo para se dedicar a
um relacionamento. A minha vida é corrida demais, ainda não posso me dar ao
luxo de pensar no meu coração.
Por enquanto, tenho que ser uma máquina de trabalho, só assim conseguirei
alcançar meus objetivos. Um dia, quem sabe, eu consiga ter um pouco de paz.
Com esse pensamento sobre um futuro de trabalho e realização, deixo meu
corpo relaxar e acabo dormindo.
CAPÍTULO 17
Zander
— Não aguento abrir os olhos. — Sam geme enquanto tenta abrir as
pálpebras.
— Por isso tem que tomar o remédio. — Seguro sua mão e coloco o
comprido sobre ela. — Isso vai te ajudar a melhorar.
— Estou tão enjoada que não sei se consigo tomar isso.
— Samantha, para de drama, toma logo essa porra.
— Não sou obrigada a tomar porra pela manhã. — Ela sorri da sua tentativa
de piada, mas particularmente não acho a mínima graça.
— Se era pra ser engraçado falhou miseravelmente, senhorita Diniz. —
Estendo o copo com a cara amarrada e tento controlar a animação do meu grande
amigo.
Ele adorou a imagem dela nua, com a boca aberta, enquanto recebe um jato
quente de porra.
Que merda! Essa maldita fodeu com a minha manhã.
— Nossa... você está tão ranzinza que nem parece que sou eu a pessoa de
ressaca.
Para evitar constrangimento, me afasto dela e vou para a pequena mesa
onde está o café da manhã. Se eu ficar olhando para aquele rosto perfeito, vou
acabar fazendo uma besteira.
— Zander, você tirou a minha roupa? — Sua voz está um pouco histérica, o
que me faz parabenizar internamente por não ter dado banho nela.
— Não tirei a sua roupa, você tomou banho sozinha e eu apenas te
entreguei a toalha. — Ela fica alguns segundos calada.
— Você me viu tomar banho?
— Não, fiquei esperando você do lado de fora e apenas te peguei para
trazer para a cama. A senhorita estava tonta e sequer conseguia andar.
— Hummm.
Ouço-a resmungar e depois o quarto fica em silêncio. Espero que ela não
comece a pensar besteira, Samantha tem a tendência de ter pensamentos loucos.
— Então você não abusou de mim? — Levo um susto quando escuto a voz
dela bem perto.
— Você acha que eu me prestaria ao papel de abusar de você bêbada? Por
favor, Samantha, gosto das minhas mulheres bem sóbrias para que possam
lembrar como sou incrível na cama. — Ela revira os olhos com a minha
autoestima exagerada.
— Não tem vergonha de se achar tanto? Duvido que você seja esse
fenômeno na cama.
— Se você fizesse meu tipo, eu te mostraria meu talento.
— Estúpido. — Ela tem a audácia de tacar uma uva em mim.
— Pelo jeito já está melhor. — Pego a água de coco que pedi especialmente
para ela e coloco na sua frente. — Beba, vai te fazer bem.
Espero a sua recusa, mas surpreendente ela bebe sem contestar. Até que ela
fica fofinha quando está no seu modo obediente.
— Que horas são?
— Já passa de nove e meia. — Samantha se engasga quando ouve a minha
resposta.
— O quê? Está falando sério?
— Por que iria mentir sobre a hora? — Abro o jornal e começo a ler.
— Zander, nós deveríamos estar na empresa.
— Vamos mais tarde, assim que você estiver recuperada. — Ela fica quieta,
o que me faz erguer os olhos para ver o que está acontecendo. — O que foi? Por
que está me olhando assim?
A maneira estranha que ela me observa é incômoda, sinto que está me
julgando por algo que fiz. Não gosto desta sensação. Não estou acostumado a ser
julgado por ninguém.
— Não é nada, só estou tentando entender porque está sendo tão cavalheiro
comigo. O certo seria você ter me acordado cedo e me passado um sermão por
beber demais durante a semana.
Relaxo ao ouvir o que ela falou, ela está apenas surpresa com a minha
atitude. Se soubesse o quanto quero protegê-la de qualquer mal, entenderia o
cuidado que tenho com seu bem-estar.
— Meu anjo, você está sob a minha proteção nesta viagem, é minha
obrigação te manter segura. — Os olhos dela brilham com a minha resposta,
acho que agradei a senhorita Diniz.
— Às vezes você é tão fofo. — Bufo com a sua resposta e decido voltar a
ser um tirano.
— Não pense muito bem de mim, estou aqui cuidando de você, mas já
anotei as horas que não trabalhou. Depois desconto do seu salário. — Bebo um
pouco de suco para evitar sorrir da sua cara de fúria.
— Que a sua mãe não me ouça, mas você é um filho da puta sem coração.
— Ela se levanta rapidamente. — Ai. — Ouço seu resmungo quando coloca a
mão na cabeça.
— Pare de ser temperamental, vá deitar um pouco, iremos para o trabalho
depois do almoço. Tenho um encontro no restaurante do hotel com um
investidor, assim que eu acabar de conversar com ele, vamos para o escritório.
Acredito que será o tempo necessário para você se recuperar. Agora vá se deitar.
Ela prende os lábios em uma linha fina e vai na direção do quarto. Se eu
pudesse me juntaria a ela naquela cama imensa, mas a vida não é justa, não
podemos ter tudo o que queremos.
Seguro a sua cabeça com força e moldo a minha boca a dele, para evitar que
um grito escape de mim com a intensidade do orgasmo que rasga o meu corpo.
Estou caindo no abismo e só consigo desejar sentir outra sensação poderosa
como esta.
Não sei como ele consegue se superar a cada vez que transamos, mas agora
tudo foi mais intenso.
Talvez seja a consequência do tempo que passamos juntos neste fim de
semana. Nós ficamos grudados, não nos separamos nem para tomar banho.
Zander anda demonstrando um lado que nunca pensei existir. Ele é um
companheiro excepcional e sempre disposto a me surpreender.
Neste domingo, durante a manhã, passeamos de barco no lago Guaíba e a
tarde batemos perna no parque Redenção enquanto tomávamos sorvete. Foi
surreal dividir esse tipo de experiência ao lado dele. Quem nos visse de longe,
jamais imaginaria que passamos o dia no escritório trocando farpas.
— É uma merda essa insatisfação que sinto ao seu lado. — A voz rouca
dele me tira do meu mundo de devaneios.
— O quê? Está insatisfeito comigo? — Sinto o meu corpo enrijecer com o
medo dele já ter cansado de mim.
Ele sorri e beija abaixo da minha orelha, depois espalha beijos pela minha
clavícula com extrema lentidão. Só que a minha cabeça já pirou e todo esse seu
carinho não significa nada enquanto eu não descobrir o significado das suas
palavras.
— Para Zander. — Seguro seu cabelo e o forço a me olhar. — Por que está
insatisfeito? — O brilho nos olhos dele não demonstra nenhuma insatisfação,
mas ainda assim quero saber o que está acontecendo.
— Porque mal acabo de te comer e quero mais. — Ele corre o indicador ao
longo do meu rosto. — Já estou planejando como te foder mais tarde e sequer saí
de você.
Solto a respiração com sua resposta e relaxo. Então não sou só eu que estou
compulsiva nessa história. Ambos estamos com um problema grave, só não sei
como iremos resolver isso quando essa viagem acabar.
— Pare de planejar, senhor Saramago.
— Você me mata quando me chama assim. — Começo a lamentar quando
ele se retira de mim. — Sempre que discutíamos no escritório e você me
chamava de senhor, eu tinha vontade de te arrastar para a minha mesa e te foder
até o prédio inteiro escutar.
— Isso soou um pouco homem das cavernas.
— Pois é. Para você ver o que faz comigo.
Ele vai ao banheiro e me deixa com a mente fervilhando. Saber que ele se
sentia atraído por mim, assim, como também me sentia por ele, é gratificante.
Isso me deixa confortável nesta relação estranha que caiu sobre nós.
— Sam, eu estive pensando em algo e quero saber sua opinião.
— O que foi? — rolo o corpo e pego o celular. Desde que estou com o
Zander, ando negligenciando minhas mensagens, certamente minha mãe está
odiando isso.
— Que tal voltarmos para casa de carro? Queria passar pelos escritórios
regionais de Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Depois de toda essa confusão
por aqui, necessito olhar de perto como anda as administrações regionais.
Encontro uma mensagem recente do meu irmão dizendo que está com
saudades. Esse menino é tão carinhoso, difícil encontrar um adolescente como
ele. Minha mãe também deixou mil mensagens reclamando que sumi.
Vejo que a Cris também me mandou mensagem para me dizer que a copa
está ficando linda. Ahhh... estou louca para voltar e ver como tudo está no
escritório.
— Sam? Está me ouvindo? — ouço a voz do Zander e ergo os olhos. —
Algum problema?
— Não, só estou olhando as minhas mensagens, parece que uma tal de dona
Noelli está chateada com minha falta de notícias. — Ele suaviza a expressão e
senta na cama.
— Responda à sua mãe, depois podemos conversar.
— Vou responder. — Ergo o lençol e cubro meus seios. Se eu os deixar à
mostra, Zander não para de olhar. — Você quer dirigir até o Rio? Tem certeza
que pretende ficar tanto tempo fora da empresa?
— Meu velho está amando ficar lá, ele sente falta do trabalho. Sem contar
que seria bom mostrar aos Gerentes Regionais que estou atento ao que anda
acontecendo nas sucursais. Tudo o que ocorreu aqui serviu de alerta. Eles
montaram um esquema de superfaturamento que foi difícil de descobrir. Isso
pode acontecer em outros escritórios.
Entendo o que ele está dizendo, realmente todo o esquema que encontramos
aqui foi de uma descrição incrível. Se o Gaspar e um dos seus homens de
confiança não tivessem notado a saída estranha de dinheiro das contas da
empresa, ninguém descobriria que as faturas que eram oficialmente apresentadas
não passavam de fraudes.
— Se você acha que é uma boa ideia não vejo problema. Estou ganhando
um extra por ter que te aturar. Então não ligo. — Dou de ombros e vejo os olhos
dele apertarem.
— Está me aturando, é?
— Te aturo desde que comecei a trabalhar para você, mas recebo bem para
isso. — Pisco meus cílios me fazendo de fofa.
— Percebi como me aturou há pouco tempo. — O meu corpo esquenta com
a sua observação.
— Há pouco tempo não foi trabalho, foi prazer, não conta. — O meu
celular começa a tocar na minha mão me dando um susto tremendo.
Olho para a tela e vejo que é número do Morales. Se eu atender, acho que o
Zander surta.
— Não vai atender? — Zander me pergunta curioso.
— Não conheço o número, deve ser essas ligações oferecendo algum
serviço. — Descarto o celular para tirar o foco da ligação. — Quando vamos
embora?
— Acho que na terça. Na segunda-feira terei uma reunião com o Jurídico
para saber quais as medidas que serão tomadas. — Ele está com os olhos em
uma linha fina mapeando o meu rosto. Certamente não acreditou na minha
desculpa para não atender a ligação.
— Então vou avisar a minha mãe que irei demorar mais que o previsto.
— Faça isso. — Ele levanta e pega uma bermuda. — Que tal sairmos hoje à
noite para bebermos em algum barzinho? — Avalio a sua sugestão, mas confesso
que estou cansada.
— Você não se sente cansado? — Essa disposição dele é irritante.
— Estou ótimo, Sam. — Faço uma careta.
— Eu não quero sair, nosso dia foi agitado e o fim de tarde mais ainda. —
digo lembrando de tudo o que acabamos de fazer.
— Evite me dar munição contra você, querida. Nós dois sabemos que não
vou esquecer a sua confissão de que acabei com você.
— Eu não disse isso, estou cansada de andar pela cidade, passamos o dia na
rua. — Agora estou chateada. — Você está se achando demais.
— Só estou me guiando por todas as vezes que ouvi você me chamar de
gostoso.
O idiota sai do quarto sorrindo e me deixa puta da vida por elevar seu ego.
Preciso controlar a minha boca na hora de gozar, não posso permitir que ele se
ache tanto.
Volto para o meu telefone e digito uma mensagem para o meu irmão
avisando que em breve estarei de volta. Em seguida respondo à Cris, e digo que
quando eu chegar faremos uma festinha para comemorar a nova copa.
Aproveito para ligar para minha mãe, estou morta de saudades dela e do
Nap. Aquele gato abusado anda me fazendo uma falta.
— Lembrou que tem mãe, dona Samantha? — Ela me atende chateada.
— Nunca esqueço da senhora, só que as coisas por aqui estão tensas. —
Não me estendo no tipo de tensão, ela não precisa saber que estou dormindo com
o meu chefe.
— As coisas se complicaram, filha? — Agora seu tom de voz está
preocupado.
— Demais mãe, passamos uma semana complicada com os problemas na
empresa.
— Eu não sei como você aguenta trabalhar nesse ramo. E ainda tem seu
chefe, que pega no seu pé.
E como pega? Pega bem até demais.
Desfaço meu pensamento libertino e me concentro na nossa conversa.
— Mãe como tá o Nap? E o meu irmão? Que saudade deles.
— Seu irmão está na mesma, só para de estudar para comer. Que Deus
abençoe esse menino, eu fico tão orgulhosa do empenho dele. — A satisfação na
voz dela quando fala do Maicon me emociona. — Já o seu gato... — Agora seu
tom de voz muda. — Que bicho abusado, passa o dia dormindo na poltrona e se
alguém tentar tirá-lo do lugar faz um escândalo terrível. Você precisa dar limites
pra esse bicho, ele é insuportável.
Sorrio com as armações de Nap, meu gato realmente é chato, mas não
assumo isso para ninguém.
— Tadinho mãe, certamente está sentindo a minha falta, Nap é sempre
tranquilo. — Minto.
— Tranquilo? — Ela desdenha de mim. — Querida, seu gato é um demônio
da Tasmânia. — Não aguento e caio na gargalhada. Minha mãe fez uma
comparação perfeita do Nap.
— Do que está rindo? — A voz do Zander me assusta.
— Meu Deus quer me matar? — Coloco a mão no coração tentando conter
as batidas desenfreadas.
— Quem quer te matar? O que está acontecendo? — Minha mãe grita me
fazendo afastar o telefone.
— Calma, mãe, é só o Zander.
— O que ele está fazendo aí? Onde você está?
— Estou no quarto dele, estamos revisando alguns papéis.
— No quarto dele? Que história é essa Samantha? O que você está
aprontando? Não me diga que... — Ela para de falar e faz um silêncio dramático.
— Samantha Diniz, você está dormindo com esse homem? Está escrito em letras
garrafais na testa dele que é louco por você, filha. Já te falei isso mil vezes.
Pior que ela falou mesmo, e eu não acreditei. Sempre achei que o Zander
gostava da minha bunda e das nossas brigas, não que realmente tivesse alguma
intenção de ficar comigo.
— Mãe, para de pirar, estou trabalhando, o senhor Saramago não pensa em
nada além de trabalhar duro.
Ele abre um sorriso largo e fecha a mão em punho erguendo o braço
indicando que está bem duro. Coloco a mão sobre os olhos e balanço a cabeça
demonstrando que estou achando ridículo o comportamento dele, mas não posso
deixar de me divertir com seu bom humor.
— Duro, ahan, sei... Olha aqui menina, não te criei para ficar de safadeza
com chefe. Você se comporta, esse homem é rico demais pra se misturar com
gente da nossa classe social, essa história de romance entre chefe e empregada só
dá certo em livro.
— Já parou de dar piti? — Estou odiando esse choque de realidade. Merda!
Por que ela não me deixa sonhar um pouco?
— Não estou dando piti, só evitando um problema futuro. — Ela suspira
fundo. — Quando você volta? Quero o seu gato fora da minha casa, estou com
pelo de felino até no meu c...
— Mãe! — interrompo antes que ela termine de xingar. Meu Deus, hoje ela
está possuída. — Não sei quando volto, eu vou ter que passar em outras filiais,
talvez só daqui a uns dez dias.
— Dez dias?! — ela volta a berrar no meu ouvido. — Vou matar esse gato
até lá, não consigo suportar a soberba dele. Esse bicho acha que sou sua
empregada, ele me olha com indiferença. — Solto uma risada alta, Nap é podre.
— Mãe, os gatos são metidos, é uma característica felina.
— Foda-se a característica dele, esse bicho é um porre, volta logo. Avisa
esse teu chefe gostoso que eu não tenho psicológico para lidar com teu felino.
Chefe gostoso? Ela realmente disse “chefe gostoso?”
— Tá bom, mãe. Vou falar com o meu chefe, mas não esqueça que estou
ganhando extra e que você receberá algo quando eu voltar.
— “Algo” não, minha filha, eu vou é cobrar a diária de acordo com o
trabalho que esse teu filho peludo me dá. — Como é mercenária. — Agora é
sério, tenta não demorar, estou com saudades, mamãe te ama.
— Eu também te amo, apesar de você ser chata.
— Menina, me respeita. — Sua voz sai com um tom de sorriso. — Não
deixe de me ligar, tchau.
— Pode deixar, tchau. — Desligo e já sinto falta dela.
— Sua mãe está sofrendo com seu bichano? — Zander pergunta curioso.
— Ela não gosta do Nap, ele solta pelo e minha mãe odeia sujeira.
— Aquele gato é terrível, o bicho só falta falar.
— Vai encrencar com meu gato também? — Já estou perdendo a paciência
com esse povo que implica com meu filhote.
— Não, até porque, ele não está com você, essa exclusividade só eu tenho.
— Ele se inclina na cama e beija minha boca. — Vamos fazer o que até a hora
do jantar? Odeio ficar parado. — Comicamente ele ergue as sobrancelhas por
várias vezes e me faz sorri como uma boba.
— Vamos assistir a algum filme, você pode escolher enquanto vou ao
banheiro.
— Ahhh. — A decepção na expressão dele é engraçada.
— Sossega, senhor Saramago. — Faço cara feia para ele e vou para o
banheiro.
CAPÍTULO 21
Zander
Se existe uma coisa que me orgulho de ter durante o trabalho é foco. Não
desvio a minha atenção por nada quando estou envolvido em um problema, mas
isso era antes de uma determinada mulher cair na minha cama.
Agora fico apenas imaginando o rosto corado da Sam, enquanto ela ofega
ao alcançar o orgasmo. A visão dela suada de prazer é tão sublime, que não
consigo pensar em mais nada.
— O que acha, senhor Saramago? — Ouço um dos advogados me fazer
uma pergunta, que não tenho a mínima noção do que devo responder.
— Bem... — Limpo a garganta e me ajeito na cadeira.
— Nas discussões que tivemos logo cedo, o senhor Saramago estava
disposto a justamente deixar todo o processo a cargo do seu escritório, Antunes.
— Samantha me socorre. — O Escritório Central não pode ficar muito tempo
sem a presença do chefe, e aqui sabemos que toda essa situação não será
resolvida rapidamente.
Olho para ela agradecendo silenciosamente por me salvar da minha
distração. É uma vergonha saber que está mais atenta do que eu.
— Posso assumir toda a dianteira sobre as investigações do grupo
envolvido na fraude? — Antunes me questiona.
— Não só pode como deve, amanhã preciso ir embora.
— Iremos resolver tudo, senhor, pode ficar tranquilo. — Antunes me fala
confiante.
— Não espero menos do que seu total comprometimento com os honorários
que me cobra. — Levanto e estendo a mão para ele. — Quero um relatório diário
no meu e-mail sobre os andamentos de toda a situação.
— Terá. — Ele dá um aperto firme na minha mão e em seguida sai da sala
com todo a sua equipe.
Finalmente encerrei o meu trabalho aqui, agora tenho que esperar o resto da
auditoria e os procedimentos jurídicos para punir o grupo que organizou o
superfaturamento, nos produtos vendidos ao nosso escritório.
— Graças a Deus tudo acabou. — Sam diz parecendo cansada. — Se
tivéssemos que passar mais uma semana naquele ritmo louco, eu pediria arrego.
— Assim como pediu ontem à noite? — Dou a volta na mesa e seguro a
mão dela para que se levante.
— Não pedi arrego, só sugeri que fossemos dormir.
— Você pediu arrego. — Beijo o pescoço dela e deslizo o nariz para sentir
o seu cheiro.
— Por que você é tão deselegante? — Ela afasta o rosto e busca os meus
olhos.
— Não sou deselegante, só estou falando a verdade. — Passo a mão pelo
seu rosto e sinto o meu peito se encher com um sentimento que não consigo
distinguir o real significado. — O que você acha de estrearmos essa mesa? Não
paro de pensar em te ver sobre ela.
— Nem pensar. — Ela tenta se afastar.
— Impossível não pensar.
Tento usar a chama poderosa que se ergue entre nós quando nos tocamos e
aprisiono sua boca em um beijo apaixonado. Hoje pela manhã perdi a conta de
quantas vezes a beijei, mas a sensação que tenho é de que estou há séculos sem
experimentar o seu sabor.
— Te quero agora, Sam. — digo enquanto viro o seu corpo para colocá-la
sobre a mesa.
— Zander... — Ela não termina de falar, pois uma batida na porta nos
interrompe.
— Merda. — Xingo e sinto Sam escapar dos meus braços.
— Você precisa se controlar. — Ela resmunga e ajeita o cabelo. — Entre.
— Sua voz sai irritada quando autoriza a entrada de quem está do outro lado da
porta.
— Com licença. — Marco aparece com a cara de cachorro sarnento que me
irrita. — O senhor queria falar comigo?
— Sente-se. — ordeno ríspido.
Ele entra na sala e olha para Samantha que acena para ele o incentivando a
se acomodar na cadeira à minha frente.
— Graças a senhorita Diniz, tomei a decisão de mantê-lo no quadro de
funcionários. — Vou direto ao assunto porque estou me sentindo frustrado
sexualmente.
Ele olha chocado para Sam e sorri. Acabo ficando incomodado com a sua
admiração por ela. Acho que estou ficando completamente fora do meu juízo
perfeito por causa dessa mulher.
— Espero não me arrepender. — Tento chamar a atenção dele.
— Claro que não se arrependerá. Eu irei mostrar que vou comandar o
escritório com mão de ferro. — Sam me fita com o olhar tenso.
— Marco... — Limpo a garganta antes de acabar com suas expectativas. —
Você ficará na empresa, mas assumirá outra função. — Ele abre os olhos
claramente surpreso. — Acredito que você entenda o meu lado, não posso te
manter como Gerente Geral quando um grande esquema de fraude aconteceu na
sua administração. Preciso mostrar aos meus funcionários que não admitirei esse
tipo de situação.
— Claro... senhor. — Ele abaixa os olhos. — Tem toda razão.
— Você irá trabalhar em uma das lojas em um cargo que não envolve
chefia. — Samantha entra na conversa. — Acredito que seja melhor do que
perder o emprego. — Ela se aproxima e coloca a mão sobre o ombro dele. —
Nós dois sabemos o quanto está difícil um emprego com os benefícios que temos
na empresa do senhor Saramago.
Olho para a mão dela descansando no ombro do Marco e me controlo para
não ordenar que interrompa esse contato. Definitivamente não estou bem.
— Obrigado por interceder por mim, Samantha, serei eternamente grato por
isso.
— Não me agradeça, apenas mostre para o nosso chefe que foi uma boa
decisão apostar mais uma vez em você. Eu estou bancando o seu emprego e não
quero me arrepender. — Ele vira o olhar para mim.
— Mais uma vez desculpa por tudo o que aconteceu, prometo não o
decepcionar novamente. — Agora fico com pena do pobre diabo, ele sempre foi
um bom funcionário, mas teve a péssima ideia de pedir um cargo para o genro.
— Chega de sentimentalismo. — Decido interromper a conversa. — Já
avisei ao RH sobre a mudança no seu cargo, você precisa apenas assinar alguns
papéis formalizando tudo. Já pode ir. — Faço sinal para ele seguir para porta.
— Com licença. — Ele se levanta e sai da sala.
Fico atento a Sam e vejo como ela observa com pesar o Marco sair. Esse
coração bobo dela ainda irá colocá-la em situações difíceis. Para ser um bom
administrador, em determinados momentos, você não pode deixar o coração
tomar a dianteira.
Acho que preciso me lembrar mais vezes disso, porque deixei Samantha
mexer com o meu coração idiota e mantive o Marco na empresa. Mas com
relação aos outros envolvidos, diretamente, não tive toda essa piedade. Todos
foram demitidos por justa causa e serão indiciados criminalmente pelos meus
advogados.
— Coitado. — Ela fala com emoção. — Me corta o coração vê-lo tão
destroçado.
— Ele colheu o que plantou. — digo tentando encerrar o seu lamento. —
No momento ele tem apenas que agradecer por ainda ter um emprego. — Ela
vira o rosto e me encara com raiva. — E só mantive o emprego dele por sua
causa, por mim estava fora.
— Como consegue ser tão insensível?
— Não sou insensível, apenas me comporto como um administrador. —
Automaticamente me defendo. — Eu não posso me importar com um único
funcionário, tenho inúmeras pessoas que dependem de mim. Preciso pensar na
empresa como um todo.
Vejo o peito dela se expandir com o que falei. Acho que agora ela entendeu
a minha postura. Apesar de lamentar a situação do Marco, eu tenho uma
quantidade absurda de pessoas que poderiam ser prejudicadas caso eu não
tivesse tomado a dianteira da situação que ocorreu aqui.
— Entendi onde quis chegar. — A voz dela está repleta de irritação. —
Acho que não sirvo para ser administradora.
— Você serve para o que quiser ser, basta ter em mente as prioridades. —
Volto a me aproximar dela. — Às vezes, precisamos pensar mais adiante, porque
o importante é o grupo como um todo.
— Você tem razão. — Sem oferecer resistência, ela me abraça. — Estou tão
cansada, Zander. — A sua voz tem uma nota de fragilidade, que aciona o meu
lado protetor.
— Por que não vai para o hotel e me espera para o almoço? Vou resolver
alguns detalhes, depois te encontro lá.
— Não, a minha obrigação é ficar o tempo todo com você. — Ela balança a
cabeça negando o meu pedido.
— A sua obrigação é estar bem para me ajudar quando eu precisar. —
Seguro o queixo dela e beijo sua boca. — Não tenho muito que fazer aqui,
apenas necessito fechar alguns detalhes antes de ir embora. Se você estiver
disposta, podemos seguir para Florianópolis ainda hoje.
— Claro que estou disposta. — Ela sorri. — Quem vai dirigir é você
mesmo, eu apenas vou apreciar a paisagem. — A minha pele se arrepia quando
ela corre a mão pelo meu peito. — E que paisagem.
Fico hipnotizado observando o exato momento em que ela morde o lábio
inferior indicando que eu sou a paisagem que ela se refere.
— Vai gostar de me ver dirigindo? — Começo a imaginar tudo o que
podemos fazer enquanto estivermos na estrada.
— Vou gostar mais se eu puder cavalgá-lo no carro. — Pegando-me
completamente de surpresa, ela acaricia o meu pau e me deixa pronto para fodê-
la sobre a mesa.
— Samantha! — Rosno o seu nome em tom de advertência.
— Vou aceitar a sua oferta de ir para o hotel, caso não precise de mim,
tenho que guardar minhas coisas para a viagem. — Sua mudança de assunto me
desanima.
— Quer ir agora? — Olho para a mesa me sentindo frustrado. — Não pode
esperar só um pouquinho?
— Nem pense nisso. — Ela ergue a mão. — Você não vai me jogar nessa
mesa, pode esquecer essa ideia absurda.
— Posso te convencer do contrário.
— Você não vai conseguir isso. — Ela pega a bolsa e coloca sobre os
ombros exibindo um sorriso diabólico em seus lindos lábios. — Prefiro te
esperar nua no quarto. Se você se comportar bem, até podemos tomar um último
banho naquela hidromassagem estupidamente deslumbrante do seu quarto.
— Nua? — Minha mente paralisa nessa parte.
— Nua e molhada. — Não me movo quando ela se aproxima e roça os
lábios nos meus. — Já estou contando os segundos para você entrar por aquele
quarto.
Não consigo dizer nada, apenas acompanho o seu requebrar até a porta.
Samantha é uma bruxa má, mas não posso negar que adoro tudo o que vem
dela. Vou correr com o meu serviço para poder voltar ao hotel. Quero tê-la nua o
quanto antes. Na verdade, eu a quero do jeito que for, desde que ela esteja dentro
dos meus braços.
Solto as nossas malas no chão e retiro os meus sapatos. Estou louco por um
banho e espero que Sam não se negue a tomar uma ducha comigo. Do jeito que
ela está empolgada com o hotel, não vai dar a mínima bola para mim.
— Oh meu Deus! — Escuto a exclamação dela e fico em alerta. — Zander
corre aqui. — Imediatamente sigo sua voz, e a encontro olhando para algo que se
parece com uma banheira.
— O que foi?
— Olha para isso. — Ela corre a mão pela bela banheira de madeira. —
Não acredito que o quarto tem um ofurô. Preciso experimentar isso já.
Observo a imensa banheira e sorrio da alegria infantil de Sam. Ela
realmente está empolgada com esse ofurô, acho que vou conseguir realizar a
minha vontade de tomar banho com ela.
— Por que não descobre como funciona enquanto eu guardo nossas coisas
no quarto?
— Tá bom. — Ela começa a investigar o ofurô com curiosidade.
Sigo para a nossa suíte e admiro a elegância do lugar. Os móveis são de
madeira maciça e a cama é imensa, do jeito que gosto.
Não é a primeira vez que me hospedo neste hotel, mas a decoração deste
quarto é bem diferente do outro que fiquei. A sensação que dá é de que estamos
em casa.
Ajeito a mala de Sam em um canto do quarto, não quero mexer nas coisas
dela sem a sua autorização. Sei bem como ela é estressadinha, de maneira
nenhuma quero aborrecê-la.
Tiro algumas peças de roupa da minha mala e coloco dentro do armário.
Separo a roupa que preciso lavar e deixo em um canto reservado.
— Zander, que lugar lindo, não quero mais ir embora. — Samantha entra no
quarto saltitante. — Tudo é tão aconchegante, estou me sentindo em casa, só
falta o Nap miando atrás de mim.
— Deus me livre aquele gato nos perseguindo, deixa ele fora das nossas
férias improvisadas.
— Não fala assim do meu gato, ele é como filho.
— Então você precisa dar mais educação para o seu filho. — Ela aperta os
olhos, claramente aborrecida com o que falei.
— Você não vai pro ofurô comigo, está de castigo.
— Como é? Eu estou de castigo? — Não sei de onde Samantha tira certas
ideias.
— Já que eu não sei educar o Nap, vou começar a treinar bons modos com
você. Talvez eu aprenda mais rápido a colocar meu gato na linha.
Sem cerimônia, ela ergue o vestido e fica nua. Meu queixo despenca
quando percebo que mais uma vez ela estava sem calcinha.
O que será que essa mulher tem contra a pobre peça do vestuário?
— Você passou a viagem toda nua? — Meus olhos se prendem nos bicos
escuros dos seus seios.
— Nua não, porque eu estava de vestido. — Ela descarta a roupa na cama.
— Vou tomar um banho e depois seguirei para o meu mergulho no ofurô.
— Vamos para o banho. — Corrijo sua fala rapidamente.
Ela não me responde e apenas me deixa sozinho com a visão celestial da
sua bunda.
Que mulher gostosa! Estou tão louco por ela que nem vou levar em
consideração o seu desaforo.
Vinte minutos depois e após uma briga excitante, nós estamos no bendito
ofurô, alheios a tudo ao nosso redor. Deslizo a mão por sua barriga e sinto nas
pontas dos meus dedos a pele dela se arrepiar.
— Segura essa mão aí, ainda não estou bem com você. — Paro a minha
mão e suspiro fundo.
Que mulher chata!
— Você vai ficar lembrando o tempo todo do que falei daquele maldito
gato?
— Ele não é maldito. — Ela se remexe e tenta se afastar, mas firmo as mãos
e a mantenho onde está. — Para de ser implicante.
Para acalmar a fera, mordo o seu ombro e vou espalhando beijos pelo seu
pescoço. Eu tenho minha própria gatinha feroz, e ela é tão chata quanto o tal de
Napoleon, mas com o bônus de ser linda e completamente minha.
— Você está tentando me distrair. — Ela se remexe quando alcanço a sua
orelha e mordo o lóbulo.
— Claro que não. — Agora minha mão já está na sua perna, deslizando
vagarosamente para a parte interna da sua coxa. — Eu só não resisto em te ver
nua e molhada na minha frente. — Percebo que ela sorri.
— Zander, você é um cafajeste, não tem nem decência de arrumar uma
mentira mais elaborada.
— Por que não paramos de falar? Estou com saudades de você. — Agora a
minha mão encontra o paraíso no meio das suas pernas.
— Como está com saudade de mim se estou aqui?
— Estou com saudade de entrar em você, faz muito tempo que não tenho o
prazer de mergulhar nessa boceta gostosa.
— Que coisa grossa. — Ela bate na minha perna.
— Você tá falando da coisa grossa que está atrás de você? — Sam solta
uma gargalhada e se move dentro dos meus braços.
— Eu poderia dizer que não tô vendo nada grosso, mas seria mentira. —
Ela passa os braços pelo meu pescoço. — Por que anda sendo tão exagerado?
Nós transamos logo cedo antes de sairmos do outro hotel. Impossível você estar
com saudades da minha pequena boceta. — Sorrio com ela falando da sua
fenomenal boceta.
— Sinto saudades assim que saio dela.
Sem querer mais conversa, mordo o lábio inferior dela e aos poucos vou
iniciando um beijo lento e sensual. Se eu deixar Samantha me provocar por mais
tempo, acabamos brigando e adeus planos de passar a tarde namorando.
Ela parece entender a minha manobra e mergulha a boca na minha exigindo
um beijo mais profundo. Passamos um tempo nos tocando, estimulando os
nossos corpos até que a excitação se torna algo doloroso.
Seguro firme a cintura de Sam e solto um profundo gemido quando ela se
ergue sobre mim e centraliza a minha ereção na sua entrada descendo
lentamente.
Estou completamente viciado nela, cada vez que possuo o seu corpo já
penso como será a próxima vez. Nunca senti esse tipo de compulsão por uma
mulher, em determinados momentos me assusto, mas vou deixar para pensar
mais profundamente sobre esse sentimento quando voltarmos para casa.
Apoio as mãos na bunda dela para ajudá-la a se mover com mais conforto.
A água perfumada que ela colocou no ofurô se espalha pelo quarto atiçando o
meu desejo.
A visão dos seus lindos seios pulando na minha frente me joga em um
estado de excitação perigoso. Se eu perder o controle antes dela, terei que ouvir
suas piadinhas. Preciso me segurar antes que meu tesão coloque tudo a perder.
Inclino o seu corpo em um ângulo onde a penetração também favoreça o
friccionar do seu clitóris. Necessito que ela alcance a sua liberação para me
deixar livre para mergulhar no meu próprio prazer.
O meu movimento surte efeito, em segundos sinto a respiração dela
acelerar. Em poucos minutos, Sam joga a cabeça para trás e deixa escapar um
som sufocado quando o orgasmo rasga o seu corpo.
Linda!
Não existe nada neste mundo que chegue perto da beleza dela quando goza.
Samantha é uma feiticeira deslumbrante, que está acabando com o meu
psicológico.
— Merda, Sam! — resmungo quando o meu corpo se estilhaça em mil
pedaços com a força do êxtase que me consome.
Assim que consigo voltar à realidade, percebo que Samantha encara o meu
rosto com uma expressão estranha. Não sei explicar o que aconteceu, mas desta
vez foi mais intenso do que todas as nossas outras transas.
Por alguns segundos nos olhamos sem dizer nada, até que sinto a mão dela
acariciar o meu cabelo e sua boca encostar na minha exigindo um beijo
profundo, rodeado de um sentimento que me assusta pra caralho.
CAPÍTULO 22
Samantha
Estou tentando manter a minha cabeça focada na reunião do Zander com o
Gerente Geral do escritório de Santa Catarina, mas está difícil, quando os
acontecimentos da noite anterior não saem da minha cabeça.
Não me considero uma mulher que se deixa levar pelo momento. Sempre
fui bem prudente com os meus parceiros, principalmente depois de tudo o que
aconteceu com o meu ex-traidor. Ontem, quando eu estava empolgada igual uma
criança com o maldito ofurô, esqueci completamente da precaução e transei com
Zander sem camisinha.
Ele não deu importância quando descobrimos que havíamos esquecido o
preservativo, apenas me disse que nunca transava sem se proteger e que confiava
integralmente em mim. Quase me derreti com a sua declaração, mas ainda assim
não pude deixar de me preocupar.
Ter esse tipo de intimidade com ele vai piorar ainda mais a nossa situação
quando voltarmos para a vida real. Eu estou completamente louca por ele, sequer
consigo conter as batidas do meu coração quando ele me olha durante o trabalho.
Se eu não frear o nosso envolvimento agora, terei um coração arruinado quando
chegarmos ao Rio.
— Samantha. — Ouço a voz dele e disperso meus pensamentos. — Você
está com algum problema?
— Oi? — Merda! Pelo olhar dele sabe que não estou bem. — Nenhum
problema, chefe. — Zander estreita os olhos deixando claro que não acreditou
em mim.
— Quero que você coordene com o pessoal do financeiro uma revisão
básica dos nossos contratos e pagamentos.
— Sem problemas. — digo exibindo um meio sorriso.
— Você terá tudo o que precisar, Samantha, as nossas contas estão
completamente organizadas e dentro das diretrizes de gastos da empresa. —
Júlio, o Gerente Geral, fala com toda a segurança. — Entendo perfeitamente que
precisam ter cautela com os escritórios depois do que aconteceu no Rio Grande
do Sul, mas aqui não temos esse problema.
— Fico satisfeito em ouvir isso, Júlio, é bom saber que o problema que
aconteceu no outro escritório foi um fato isolado.
— Problemas acontecem, senhor Saramago, faz parte dos negócios. — Ele
sorri. — Precisa de mais alguma coisa? Se tivermos acabado, quero levar a
senhorita Samantha para o setor Financeiro.
— Acabamos sim. — Zander ergue a mão e aperta a do Júlio. — Peço que
me dê alguns minutos a sós com a Samantha que preciso passar umas instruções
a ela.
— Tudo bem. — Ele sai da sala e nos deixa sozinhos.
Olho para as minhas mãos e fico esperando para saber o que Zander vai
falar. Não sei o porquê estou me comportando como uma boba, mas as emoções
que estão fervilhando dentro de mim destruíram meu lado racional.
Sinto a sua mão firme erguer o meu rosto. Quero muito fechar os olhos e
não demonstrar a fragilidade dos sentimentos que rondam o meu coração, mas
não posso fraquejar na frente dele.
— O que está acontecendo? — A sua voz é suave e olhos demonstram um
carinho que me deixa ainda mais emotiva.
Droga! Eu estou completamente fora de mim. A Samantha que eu conheço
não tem todo esse melodrama. O que está acontecendo comigo?
— Nada.
— Pare de mentir, não gosto quando faz isso.
— Não estou mentindo, Zander. — Afasto meu rosto da sua mão e levanto.
Ele não me deixa dar nenhum passo e segura a minha cintura.
— Você ainda está pensando no que aconteceu ontem? — Vejo nitidamente
o quanto está impaciente. — Nós conversamos sobre isso.
— Eu sei.
— Então por que ainda está pensando nisso?
— Zander, é complicado. — Tento mais uma vez me afastar, mas ele não
permite.
— Samantha. — Ele diz o meu nome com uma voz profunda. — Você está
agitada por que não está tomando anticoncepcional?
— O quê? Não! — respondo indignada. — Eu te disse que tomo
contraceptivo.
— Então qual o problema? Você acha que tenho alguma doença? É isso?
— Confio em você.
— Porra! Se você confia em mim e tá tomando remédio, não vejo motivos
para estar com essa cara de enterro.
— Você é tão grosseiro. — Desta vez consigo me afastar. — Não quero
falar sobre isso no trabalho, temos muito o que fazer hoje.
— Mas eu quero falar.
— Virou a mulher da história? — pergunto tentando aliviar o clima. — Não
é hora para uma DR, chefe.
— Se foi uma tentativa de piada eu não achei nenhuma graça.
— Não é piada, só não quero falar da nossa vida pessoal agora, temos que
trabalhar. Ainda precisamos passar no Paraná, se ficarmos perdendo tempo com
conversas pessoais, nunca voltaremos para casa.
— Samantha, se ficar comigo nessa viagem está te incomodando, pode
voltar agora para o Rio, você não é obrigada a ficar.
Eu não acredito que estamos brigando, muito menos que ele está ofendido.
Zander não é esse tipo de homem, nunca o vi perder o controle assim, acho que o
nosso envolvimento está mexendo com nossas cabeças.
— Chega! — Fecho os olhos para me acalmar e voltar a pensar direito. —
Não vou voltar, vamos seguir com o nosso planejamento.
— Quem decide isso sou eu, ainda sou seu chefe. — Ele quer brigar, mas
não vou entrar nessa provocação.
— Não vá por esse caminho, acredito de verdade que somos profissionais.
— Pego o tablet e sigo para porta. — Depois que terminarmos o nosso trabalho,
podemos conversar se você quiser.
Antes que ele responda bato a porta e vou para o setor Financeiro. Espero
que um tempo trabalhando acalme o meu emocional. Eu estou completamente
perdida e isso está me assustando demais. Sei que preciso ter controle dos meus
sentimentos, mas no momento, só consigo temer o fim do sonho que estou
vivendo.
O dia no escritório foi agitado, mal tive tempo de almoçar. Com tantos
questionamentos borbulhando na minha cabeça, decidi que o melhor seria
mergulhar no trabalho e bloquear qualquer pensamento insano sobre o meu
relacionamento com Zander.
No meio da tarde o pai dele ligou avisando que estavam com problema de
aumento indevido de preços com um dos fornecedores. Zander pirou e começou
a fazer uma série de ligações que até o momento não acabou.
— Não me interessa, ele tem a porra de contrato comigo!
Ouço a voz dele alterada do lado de fora do nosso quarto. Ele está
descontrolado e nem o próprio pai consegue acalmá-lo. Se ele estivesse no Rio,
certamente já teria encontrado o Diretor da empresa para tirar satisfações
pessoalmente.
Fecho a porta do quarto, estou cansada demais para ouvi-lo berrar. Pego o
celular e disco o número da minha mãe, talvez conversar com ela me acalme um
pouco.
— Alô, maninha. — A voz do meu irmão me faz sorrir.
— Que saudade de você.
— Não acho que esteja, você não me liga.
— Te mando mensagem todo dia, moleque, pare de reclamar. — Escuto a
risada dele do outro lado da linha.
— Como vai sua viagem? Está conseguindo sobreviver ao seu chefe
esquentadinho?
— Com o que ele me paga aguento tudo. — Tento despistar meu irmão. —
Cadê a mamãe?
— Tá no banho.
— Ahhh que pena, queria falar com ela.
— Vou chamá-la.
— Não precisa, Maicon, deixe-a tomar banho em paz, só liguei para saber
se estava tudo bem.
— Fora a saudade, está tudo bem.
— E o Nap? Está aprontando muito?
— Está. — Ele sorri. — Ele foi parar na cama da mamãe durante a noite,
ela surtou. Reclamou o dia todo, ameaçou levá-lo até um hotel para gatos, mas
no fim não impediu o Nap de dormir mais uma noite na cama dela.
Fico em choque com essa informação. Não acredito que minha mãe está
deixando meu gato dormir na cama. Ela sempre reclamou por eu permitir que ele
ficasse comigo, agora parece que mudou de opinião.
Meu irmão vai me contanto todas as armações do meu felino, me fazendo
acreditar que Nap sabe o que faz e está em uma missão bem-sucedida para irritar
a minha mãe.
Passamos um tempo conversando, até que a mamãe sai do banho e vem
falar comigo. Ela resmunga, ameaça nunca mais ficar com o meu gato e me
intima a voltar logo para casa. No entanto, ela interrompe seu drama quando
digo que vou comprar a bolsa que tanto deseja.
Ela adora bolsa, tem uma coleção imensa. Se você quer agradá-la, basta
prometer uma bolsa.
— Filha, eu posso comprar no cartão? Acho que não aguento esperar você
voltar.
Quando vou respondê-la, Zander abre a porta de supetão.
— Samantha... — Ele interrompe o que ia falar quando me vê ao telefone.
— Desculpa, não sabia que estava ocupada. — Ergo um dedo para ele pedindo
um minuto.
— Mãe, eu preciso desligar.
— Você está no quarto com o seu chefe de novo? — A voz dela tem um
toque de repreensão.
— Compra a sua bolsa. Tchau. — Desligo antes que o assunto renda. — O
que foi, Zander?
— Não é nada, só queria saber se você quer sair para jantar.
Ele está todo desgrenhado, com a camisa aberta, sem os sapatos e com o
cabelo bagunçado. Ninguém deveria ser tão bonito quando está desarrumado,
mas ele fica irresistível.
Todos os pensamentos contraditórios que me assolaram durante o dia
somem como mágica. A única vontade que tenho neste momento é me jogar
sobre ele e tirar a sua roupa.
Deus, eu não estou nada bem!
— Não quero jantar fora. — Descarto o celular e me levanto. — Já acabou
a conferência com seu pai?
— Por hoje sim. — ele responde com a voz cansada.
— Que bom. — Deslizo a mão pelo seu peito e sorrio. — Vamos tomar
banho? Eu estava te esperando. — Ele enruga a testa.
— Não estava com raiva de mim?
— Quando disse isso? — Retiro sua camisa e exibo seu tórax definido.
Estou de quatro por esse homem e vou me ferrar quando a nossa vida voltar
ao normal.
— E precisava dizer, depois que passou o dia todo me evitando?
— É coisa de mulher, Zander, não tente entender. — Mordo seu pescoço
querendo seduzi-lo, mas ele segura meus braços e me afasta.
— Samantha, precisamos conversar, mas vamos fazer isso no jantar.
— Não quero conversar. — Tento me aproximar dele, se começarmos a
falar, vamos brigar.
— Vai tomar seu banho, vou pedir o nosso jantar, depois nós vamos ter uma
longa conversa.
— O quê? — Olho para ele indignada. Esse imbecil está me evitando? —
Você não vai tomar banho comigo? Está me dispensando? — Ele olha para o alto
e suspira fundo.
— Se não fosse quem é, arrumaria um quarto para você passar essa fase de
bipolaridade. — Ele sorri, achando que falou algo muito engraçado, só que me
irrita ainda mais.
— Então arrume a merda do quarto, não fico mais aqui. — Dou as costas
para ele, mas sou suspensa por seu braço forte.
— Você está chata pra caralho, mas como sei do que é capaz quando fica
boazinha, vou deixá-la berrar sem que eu tome uma atitude mais drástica. — Ele
roça o nariz no meu pescoço me arrepiando inteira. — Vou pedir o jantar,
quando eu acabar, te encontro no banheiro. Contudo, saiba que vou te comer
gostoso e sem nada entre nós.
Fecho os olhos quando ele beija o meu cabelo. O gesto dele é tão terno, que
aquece o meu coração profundamente. Acho que vou entrar na TPM, essa
variação de humor não é normal.
— Posso escolher o nosso jantar? — Gentilmente ele me pergunta.
— Pode. — Fico feliz de ele não ignorar o que quero comer.
— Ótimo. — Ele me vira e beija a ponta do meu nariz. — Não ligo para o
jantar, o que desejo comer vai entrar no banheiro agora. — O safado pisca e vai
embora.
Quero ficar com raiva dele, mas acabo ficando com mais raiva de mim por
não controlar meus sentimentos. Definitivamente Zander Saramago não faz bem
para o meu emocional.
O som da respiração pesada do Zander sopra no meu pescoço arrepiando a
minha pele. O vidro do box está embaçado e a água quente que cai sobre o meu
corpo aumenta ainda mais a minha temperatura.
Estou muito perto de gozar, só preciso de um pouco mais de profundidade.
Empino a bunda buscando o ângulo perfeito, e esse movimento faz uma corrente
elétrica correr por minhas veias.
Zander se afasta inesperadamente, fazendo com que um protesto nasça no
fundo da minha garganta, mas me calo quando ele segura a bunda com força e
começa uma série de movimentos que me tira do chão.
Um tremor se espalha por mim quando o orgasmo me faz sufocar. As
minhas pernas perdem a força, o braço forte dele me mantém firme. Ele não
alivia em nenhum momento os seus movimentos, e me penetra firme, enquanto
tento colocar ar nos meus pulmões.
Sem conseguir controlar, sinto a minha vagina se contrair intensamente
enquanto ele se movimenta dentro de mim com velocidade.
Ele aperta a minha cintura acelerando suas estocadas. Em poucos segundos
ouço o gemido dele e seus movimentos, antes precisos, agora são erráticos e
lentos.
Apoio a cabeça na parede e fecho os olhos tentando acalmar minha
respiração. Eu estou fodida, quando tudo acabar ficarei em ruínas.
— Não sei o que aconteceu aqui, mas foi tão bom que precisamos repetir
mais tarde. — A voz rouca dele me causa uma sensação de prazer e pânico. —
Como você consegue ficar cada vez mais gostosa?
Com extrema delicadeza, ele roça os lábios na minha têmpora e me faz
desabar por dentro. Eu o quero tanto, que chega a doer quando penso que tudo é
uma ilusão.
— Preciso de ajuda para terminar meu banho, não confio nas minhas
próprias pernas.
— Te deixei com as pernas bambas, senhorita Diniz? — A voz dele é
repleta de diversão.
— Vai à merda, senhor Saramago.
— Olha essa boca, garota, se prepara que mais tarde vou dar uma boa
utilidade para ela.
Penso em respondê-lo, mas paraliso quando ele sai de mim. Sinto falta do
seu contato, mas essa ausência some quando ele começa a deslizar o sabonete
por meus ombros.
Fecho os olhos e aproveito para viver essa experiência única. Nem nos
meus mais loucos sonhos, eu podia imaginar que um dia meu querido chefe
estaria me dando banho.
CAPÍTULO 23
Uma semana depois
Zander
A nossa estadia em Florianópolis e Curitiba foi mais rápida do que eu
programei. As contas dos dois escritórios estavam corretas, facilitando o nosso
serviço.
Essa mudança no cronograma não me agradou, agora tenho apenas a nossa
parada em São Paulo para ter Samantha com exclusividade. Não sei como as
coisas funcionarão conosco quando voltarmos. Às vezes parece que ela está
caidinha por mim, mas em certos momentos, não tenho certeza se ela vai olhar
na minha direção quando a nossa vida voltar ao normal.
— Estou com a sensação que esqueci algo no hotel. — Ela resmunga e olha
a bolsa.
— Não mexemos muito na nossa mala, Samantha, tudo está em ordem.
— Não sei, minha intuição não me engana.
— Se esqueceu algo, compramos quando chegarmos em São Paulo.
— E se for algo pessoal? — Ela arregala os olhos. — Meu Deus, minha
bolsa de documentos.
Ela começa a procurar como doida no carro e solta resmungos engraçados.
Quando começo a achar que terei que voltar para Curitiba, ela acha a bendita
bolsa de documentos. Ainda assim não deixa de afirmar que esqueceu algo.
Depois de um tempo sem parar de falar, ela fica em silêncio e dorme. Sinto
falta do seu falatório, mas será bom poder dirigir sem ela falando mil palavras
por segundo.
Passo praticamente as próximas duas horas dirigindo pensando no que pode
acontecer entre nós quando nosso trabalho acabar. Eu estou muito envolvido por
ela. Sinto uma atração inexplicável por Samantha e isso me assusta muito.
Já tive relacionamentos demais para saber que se apegar exageradamente a
uma mulher pode ter sérias consequências, mas não consigo evitar o pensamento
de manter os nossos encontros.
O que rola entre nós é único. É uma conexão intensa, difícil de explicar.
Quando estou ao seu lado, eu me sinto livre, em casa. Parece certo estar com ela,
é como se eu tivesse atravessado um deserto e finalmente chegado ao oásis.
Não vou negar que sinto medo do sentimento potente que se move no meu
coração, mas nunca fui homem de fugir dos riscos.
— Esse carro tem piloto automático? — A voz baixa dela me assusta. —
Você não parece estar prestando atenção na estrada. Não quero morrer, sou muito
jovem. — Sorrio com o seu comentário.
— Você vai viver muito, princesa, jamais colocaria sua vida em risco. —
Estico o braço e seguro a mão dela levando-a até meus lábios.
— Estamos chegando?
— Mais uns trinta minutos e estaremos dentro da capital paulista.
— Oh, glória, quero fazer xixi.
— Posso parar em um posto.
— Não precisa, dá para aguentar. — Ela acaricia a minha mão com o
polegar. — Quero tomar café com pão e mortadela em uma daquelas padarias
paulistas.
— Você é uma mulher com gosto peculiar.
— Claro que sou, afinal, estou transando com um mala sem alça.
Viro o rosto para ela e vejo o seu sorriso travesso. Samantha gosta de me
provocar e, é a única pessoa que faz isso sem medo do que pode acontecer.
Não me lembro da última vez que andei pela rua com uma mulher apenas
para me distrair. Apesar de cansativa a viagem do Paraná até São Paulo,
Samantha se negou a ficar no hotel.
Fizemos o check-in para guardamos a nossa bagagem e rapidamente
partimos para a rua em busca de uma boa padaria para Sam comer. Ela não quis
almoçar, disse que hoje fugiria da dieta e que comeria só porcarias. Isso inclui o
jantar, pois me intimou a levá-la em uma pizzaria bem paulistana.
Agora estamos caminhando calmamente pela avenida Paulista, depois de
passear pelo MASP.
— São Paulo me assusta. — Ela fala enquanto olha um prédio imenso. —
Acho tudo tão solitário aqui. Sempre que venho à cidade, tenho a sensação que
ninguém se conhece, que todos estão apenas com pressa de fazer alguma coisa.
— Engano seu. A cidade realmente não dorme nunca, o movimento é
intenso sempre, mas não impede de as pessoas se conhecerem.
— Eu sei disso, mas estou me referindo às pessoas, todas sempre estão
correndo.
— Tempo é dinheiro, e aqui é o centro nervoso do país, por isso todos estão
sempre correndo contra o tempo.
— Dinheiro é bom, mas isso o que estamos fazendo. — Ela para de andar e
entra na minha frente. — É melhor do que qualquer dinheiro do mundo.
O sorriso dela ilumina completamente o seu rosto, causando um impacto
devastador no meu coração. Não sei quando aconteceu, mas estou apaixonado
por Samantha como nunca estive por outra mulher.
Eu a quero na minha vida, quando voltarmos ao Rio. É impossível imaginar
passar um único dia sem ter esse sorriso tão especial abrilhantando o meu
mundo.
Com medo do meu olhar demonstrar o que estou sentindo, inclino a cabeça
e encosto meus lábios aos dela. As suas mãos acariciam o meu cabelo
ternamente, despertando um desejo primitivo de cobri-la com meu corpo para
lhe proporcionar todo o prazer do mundo.
— Vamos embora? Preciso de você. — Faço esse convite sem deixar de
fitar seus olhos.
— Eu vou aonde você quiser. — Mais uma vez ela sorri, me transformando
em apenas um menino, perdidamente apaixonado.
Uma das atividades que mais gosto na vida, é o sexo. Uma boa transa é
fundamental para aliviar o estresse do dia a dia. No entanto, dividir um momento
sexual com alguém que é especial na sua vida é precioso.
Seguro a sua bunda para apoiá-la, enquanto me cavalga. Ela está com seus
lindos cabelos castanhos grudados na pele e com as bochechas coradas pelo
esforço de subir e descer sobre mim.
Sou capaz de gozar apenas com essa visão, ninguém é tão sexy quanto ela,
Samantha é naturalmente linda.
— Você é tão gostoso. — ela diz em meio a um gemido e apalpa os
próprios seios transformando esse simples ato em algo profundamente sensual.
— Quando está dentro de mim fico completamente perdida.
— Cuidado com o que fala, posso usar isso contra você em breve. — Sorrio
da cara de desgosto dela.
Antes que ela fale algum desaforo e quebre o nosso clima, puxo o seu corpo
e cubro seus lábios com os meus. Aproveito essa nova posição para assumir a
intensidade dos nossos movimentos.
Eu queria ter o controle de transar com ela sem pressa, mas quando estou
dentro do seu corpo, a ansiedade me domina constrangedoramente.
Samantha entra em sincronia comigo e, juntos, chegamos ao orgasmo
deixando escapar sons desconexos pelo quarto.
Abraço o corpo dela e tiro os fios de cabelo que estão grudados em seu
rosto. A sua respiração ainda é agitada e sopra um vento quente no meu pescoço.
Gosto desse momento que sempre passamos juntos depois do sexo. É
reconfortante senti-la próxima e carinhosa. Samantha é sempre tão atrevida e
insolente, que nos raros momentos em que fica serena, eu fico perdidamente
encantado.
Ela escorrega a mão pelo meu peito acariciando a minha pele com ternura.
Fecho os olhos assimilando o seu carinho, me sentindo, pela primeira vez na
vida, conectado verdadeiramente com uma mulher.
— Eu não queria que essa nossa viagem acabasse nunca. — Ela fala em um
sussurro.
— Tudo tem um fim. — Beijo seu rosto. — Mas de vez em quando iremos
viajar para manter esse nosso espírito aventureiro em dia.
Nunca falamos sobre o que irá acontecer quando voltarmos para o Rio, mas
se depender de mim não largo nunca mais essa mulher.
— Lá é nossa vida real, Zander.
— Assim como o que estamos vivendo é real. — Viro o corpo dela e fico
por cima. — Acostume-se comigo na sua vida, senhorita Diniz, eu quero você.
Não vou esconder completamente os meus sentimentos. No momento não
vou revelar a minha paixão, mas preciso deixar claro que a quero comigo.
O olhar surpreso dela me faz sorrir, acho que a minha garota não esperava
que eu assumisse que a quero definitivamente na minha vida.
— Deixa acontecer naturalmente, Sam. — digo essa frase clichê, em
referência a um dos pagodes cafonas que ela cantou durante a viagem.
— Gravou a música que cantei? — Ela entende o que quis dizer.
— Impossível não lembrar quando você quase me deixou surdo. — Ela
soca o meu peito sorrindo.
— Você é um merda. — Samantha me beija rapidamente. — Preciso ir ao
banheiro, não saia daqui. — Suas mãos pequenas empurram o meu peito.
— Estarei aqui me recuperando para a próxima rodada. — Pisco para ela e
admiro seu lindo traseiro requebrando até o banheiro.
Por dois anos eu admirei essa bunda cada vez que ela saía da minha sala.
Não nego que me masturbei incontáveis vezes sonhando em tomá-la de quatro,
com essa bunda linda na minha frente.
Desde que vi Samantha pela primeira vez, senti uma atração incontrolável
por ela. E tudo piorou com as nossas brigas no escritório. A cada embate, a
minha vontade era jogá-la sobre a mesa do escritório e silenciá-la com vários
orgasmos.
O som do celular dela quebra as minhas lembranças. Sam anda deixando o
aparelho desligado por muito tempo, de acordo com ela quer se desconectar um
pouco do mundo real, mas pode ser algo com a sua mãe.
Estico o braço e pego o aparelho, trinco os dentes quando vejo o nome do
Morales piscar no visor.
O que esse merda quer com a Samantha? Ele precisa saber logo que eu
estou com meu time no campo e agora ela é toda minha.
— Alô? — Aguardo o filho da puta responder.
— Esse número é da Samantha? — ele pergunta intrigado.
— É dela sim. — Se neste momento eu estivesse na frente dele, responderia
com um soco naquela cara feia. — O que você quer com ela Morales?
— Zander? É você?
— E quem mais seria? — Agora estou espumando de raiva.
— Onde está a Samantha?
— Desde quando tem o direito de perguntar por onde ela anda? Pelo que eu
saiba, não tem intimidade para isso. — Estou literalmente fervendo de ciúmes.
— O que deu em você? Está com algum problema? — A voz dele tem uma
nota de deboche que me irrita.
— Problema tem você em ficar perseguindo a Sam. — Neste momento
Samantha abre a porta do banheiro e me encara. — A partir de agora está
proibido de ligar para ela. Apague o número dela da sua agenda.
Encerro a ligação e fito Sam com raiva. Ela é uma feiticeira que acabou
com a minha vida, agora estou até fazendo cena de ciúmes, como se eu fosse um
namorado inseguro.
— Você atendeu minha ligação? — ela pergunta com uma voz acusatória.
— Atendi a ligação daquele imbecil do Morales.
— E quem te autorizou a mexer no meu celular?
— Não preciso de autorização para mandar aquele velhote para a casa do
caralho.
— Meu Deus! Você está louco.
Pulo da cama e sigo na direção dela sem me preocupar com a minha nudez.
Agora tudo o que me importa é tentar descobrir se eles tiveram algo mais íntimo.
Não consigo esquecer o dia que nos encontramos no restaurante e o Morales a
beijou na minha frente.
— Você transou com ele? — Preciso saber dessa resposta, ou vou
enlouquecer de ciúme.
— Que pergunta é essa?
— Transou ou não transou?
— Para Zander, você está descontrolado.
— Vou ficar muito mais se você não responder.
— Enquanto não se acalmar eu não digo nada.
Respiro fundo tentando controlar a porra do meu temperamento. Estou
quase espumando de raiva e me odiando profundamente por revelar o quanto
estou envolvido por ela.
Para não demonstrar ainda mais o meu ciúme, procuro pelas minhas roupas.
Preciso sair deste quarto para colocar a cabeça no lugar, se eu ficar aqui teremos
uma briga gigante.
— Aonde vai? — Samantha me questiona quando começo a abotoar a
camisa. — Zander, você está sendo infantil.
Ignoro o que ela diz e sigo em busca dos meus sapatos. Não quero ficar
perto dela, preciso me acalmar e encontrar o meu equilíbrio.
— Zander... — Ela tenta me paralisar.
— Agora não. — Esquivo do seu toque e saio do quarto.
Estou com raiva de mim por demonstrar o quanto a possibilidade de ela ter
transado com o Morales me afeta. Só de imaginar que os dois possam ter tido
alguma intimidade, sinto um desespero insano.
Não posso aceitar que aquele desgraçado tenha experimentando o corpo
perfeito da Sam. Ele não merece uma mulher tão graciosa como ela. Aquelas
mãos sujas não são dignas de tocá-la.
Quando saio do hotel, olho para o início da noite paulistana e me sinto
perdido. Começo a andar sem rumo, desejando apenas que minha cabeça volte a
raciocinar.
CAPÍTULO 24
Samantha
— Que grande merda! — Jogo o celular na cama quando mais uma ligação
para o Zander cai na caixa postal.
Não sei o que está acontecendo com o Zander, ele está completamente
descontrolado. Maldita hora que o Morales me ligou, agora terei que encontrar
uma maneira de controlar a fera.
Se eu não conhecesse bem aquele esquentadinho, diria que está com
ciúmes, mas essa é uma possibilidade nula. Na verdade, o que está acontecendo
é uma competição. Certamente ele não aceita a possibilidade de o Morales ter
tido algum envolvimento comigo.
— Que babaca!
Descarto o telefone e ligo a tevê. O que me resta no momento é esperá-lo
voltar. Não adianta eu sair por aí atrás dele, até, porque, não conheço nada em
São Paulo.
Depois de algum tempo, fico entediada com a televisão e decido ligar para a
Cris. Com a loucura das últimas semanas, mal tivemos tempo de conversar.
Ela me atende empolgada, o que também me anima e bloqueia os meus
pensamentos. Passo quase trinta minutos conversando com ela, mas ao encerrar
a ligação, volto a ficar angustiada.
Quando penso que ele nunca mais irá voltar, escuto a porta abrindo. O meu
coração acelera, não sei o que esperar da conversa que iremos ter. Só espero que
tudo termine bem. Depois do fim de tarde romântico que tivemos, eu jurei que
algo maior estava acontecendo entre nós.
Ele descarta a carteira e o celular em uma mesa próxima a porta e tira os
sapatos. Fico calada sem saber o que falar.
— Zander, quer conversar? — Não consigo segurar a ansiedade.
A iluminação do quarto é bem baixa, ainda assim me dá a visão perfeita do
seu rosto tenso. Ele está se segurando para não explodir, só não sei por quanto
tempo vai conseguir conter sua fúria.
— Quero te pedir desculpa pelo meu destempero, eu perdi a cabeça.
Sou pega de surpresa com a sua mudança de postura. Pensei que teria que
enfrentar outra briga, mas pelo jeito, ele conseguiu se acalmar.
— Eu não transei com ele.
Acho justo acabar com a curiosidade dele, já que me pediu desculpa com
tanta sinceridade. Sei o quanto esse pedido deve estar sendo difícil para ele.
— O quê?
— Você me ouviu. — Pulo da cama para me aproximar. — Não transei com
o Morales, apenas saímos juntos algumas vezes.
— Ele te beijou.
— Foi só daquela vez. — Zander me encara com intensidade.
— Está dizendo isso para me acalmar?
— Não preciso te acalmar, se eu tivesse transado com o Morales te diria
sem problemas. A vida é minha Zander, ninguém manda em mim.
Vejo o peito dele se expandir, seu rosto ainda está angustiado, mas a sua
postura relaxou um pouco.
— Eu quase morri com a imagem daquele infeliz tocando em você.
Ele estende a mão e me puxa. Em seguida esconde o rosto na curva do meu
pescoço. O seu calor me acalma e percebo o quanto precisava desse contato.
— Também não me agrada a imagem da vaca da Vanessa te tocando. —
Acabo de falar e o sinto sorrir.
— Acho que estamos com problemas. — Ele ergue a cabeça e acaricia o
meu rosto. — Promete que vai ficar longe do Morales?
O brilho intenso no seu olhar demonstra o quanto essa resposta é
importante.
— Prometo. — Ele solta uma respiração profunda.
Em um movimento inesperado, ele segura a minha nuca e cola a boca na
minha. O beijo é exigente e firme. Apesar da nossa conversa, ele ainda está
fervilhando por dentro. A maneira intensa que me segura, mostra o quanto ainda
se sente raivoso.
Sem mais palavras, ele se despe e tira a minha blusa. Caímos na cama nos
devorando e nos tocando com desespero. Tudo o que eu queria neste momento
era dizer que estou loucamente apaixonada por ele e que nenhum homem neste
mundo pode me interessar.
Mesmo sem expressar nenhuma palavra, tento demonstrar em cada toque
que ele roubou o meu coração. Espero que ele não esteja tão cego de ódio ao
ponto de não perceber o sentimento que escorre a cada respiração que exalo.
A nossa transa é bruta, muda e repleta de palavras não ditas. Em cada
movimento, sinto que ele também tenta me mostrar algo apenas com o seu
corpo. Não sei se Zander está tão apaixonado por mim quanto estou por ele, mas
se ao menos eu tivesse um pequeno sinal de que o meu sentimento é
correspondido, criaria coragem para me abrir.
Quase que ao mesmo tempo, chegamos ao orgasmo. O meu corpo parece
que vai entrar em combustão. Não existe nada mais gostoso do que sexo de
reconciliação.
— Eu não quero esse cara te ligando, mandando mensagem ou te
procurando. — A voz baixa dele é ameaçadora.
— Ele não representa nada para mim. Somos apenas amigos.
— Mas você representa para ele. Não quero ninguém cercando a minha
mulher.
Meu coração dispara com a sua declaração. Ele está se roendo de ciúmes e
isso significa que está sentindo algo mais forte por mim.
— Só quero você, Zander, não desejo mais ninguém. — Acaricio o seu
cabelo e, em seguida puxo forte e com raiva por ele ter me feito sofrer. — E na
próxima vez que tivermos um problema, converse comigo, não fuja. — Ele
fecha os olhos e quando volta a abri-los, vejo medo no seu olhar.
— Desculpa, eu tive um momento de descontrole.
— Está desculpado. — Beijo sua boca, sem querer pressioná-lo demais. —
Você jantou?
— Não. Fui andar para me acalmar, a última coisa que senti foi fome.
— Mas eu estou faminta. — Ele sorri e sai de dentro de mim arrepiando
todo o meu corpo.
— Vamos comer a sua pizza em uma pizzaria bem paulistana. Eu prometi
que te levaria.
Ele me puxa da cama e me leva para o banheiro, voltando a ser o Zander
que ganhou o meu coração. Por hora parece que acertamos nossos pontos, só não
sei o que vai acontecer quando todo esse sonho acabar.
Olho para o meu rosto no espelho e lamento por não ter tido tempo de
colocar nenhuma maquiagem. O Zander está subindo e não vou ter tempo de
ajeitar meu visual.
Sei que ele já me viu em momentos piores, tipo quando acordo, mas ainda
assim, eu me sentiria mais segura se ele me encontrasse toda produzida.
Esse fim de viagem mexeu com a minha cabeça. Estou me sentindo outra
pessoa, com uma insegurança que nunca experimentei. O medo de perder tudo o
que vivi com ele é imenso. Não sei o que será de nós agora que voltamos a nossa
rotina.
Depois que deixamos São Paulo, a minha cabeça deu um nó, a vontade que
senti foi de pedir que ele seguisse viagem para os outros escritórios.
Acho que enlouqueci de vez.
O som da campainha acelera o meu coração, estou morta de saudade dele.
Sequer parece que o vi pela manhã, a sensação que tenho é de que não o
encontro há meses.
— A porta está aberta, entra. — grito do banheiro, enquanto tento ajeitar ao
menos meu cabelo.
— Você deixa a sua porta aberta? — Escuto-o resmungar.
— Abri porque estava subindo.
— Maldição! — Ele grita e escuto o miado do Nap.
Droga! Certamente Nap o recebeu pulando na sua perna.
Esse gato é terrível.
— O que foi? — Desisto da minha produção e vou para a sala.
— Esse bichano me agrediu. — Zander olha para ele raivoso. — Ele pulou
na minha perna.
— Foi uma maneira de dizer oi. — digo tentando amenizar a situação.
— Não quero o “oi” dele. — Prendo o sorriso para não o irritar ainda mais.
— Nap, vai dormir.
“Miauuuu”
Ele parece querer dizer que não vai dormir nada e pula no sofá arranhando
o estofado enquanto olha intensamente para o Zander.
Ai meu Deus! Mais um sofá destruído.
— Esse bicho não gosta de mim.
— Mas eu gosto. — Os olhos dele voam na minha direção.
— Gosta? — Todo o meu corpo se desmancha quando ele sorri. — O
quanto você gosta?
— Agora gosto muito, principalmente porque você trouxe algo cheiroso
para o jantar. — A carinha de decepção dele é hilária.
— Caramba, você pisoteou na minha autoestima.
Sorrio da sua resposta e me atiro sobre ele em busca de um beijo. Ele passa
um braço pela minha cintura e corresponde ao beijo empolgado
— Senti sua falta. — Não consigo evitar a sinceridade.
— Não mais que eu. — A sua declaração intensa, sem deixar de mirar meus
olhos, me faz ofegar. — Nossa comida está quente, vamos comer antes de
esfriar?
— Claro.
Seguro sua mão e sigo para a cozinha. Não é a primeira vez que o tenho na
minha casa, mas é estranho agora que somos íntimos.
A cozinha parece diminuir com a sua presença. Fico agitada com o seu
olhar intenso sobre mim, isso me deixa tagarela, e começo a falar sobre a tarde
na casa da minha mãe.
Zander segue o fluxo do meu falatório e me ajuda a ajeitar a mesa. Ele
também me conta a conversa que teve com pai e confidencia que passou
rapidamente na empresa.
Fico pasma com toda a sua disposição, ele passou parte da manhã dirigindo
e ainda guardou energia para passar o resto do dia nos negócios.
Recebo a notícia que a copa ficou pronta essa tarde e que a máquina de café
está instalada. Fico alegre como uma criança e já me imagino ostentando uma
xícara de expresso fresquinho pela manhã.
— Agora acabou nossas brigas. Seu café sempre será fresquinho. — digo já
lamentando não poder mais passar a perna nele.
Sorrio ao relembrar dos nossos embates todas as manhãs, mas quando olho
para o Zander, vejo que o seu semblante está sério.
— Precisamos conversar sobre nossa situação na empresa.
A maneira como ele fala “nossa situação”, me deixa com um bolo na
garganta e isso me faz perder o interesse no fim do jantar.
— Como assim nossa situação na empresa? — Será que ele vai me
demitir?
— Não quero você como a minha secretária, acho que a Cristina merece
assumir o seu cargo, ela tem se superado como sua assistente.
O meu coração dá um murro tão grande no meu peito, que minha respiração
falha. Levanto rapidamente e escuto o som seco da cadeira caindo.
— Samantha, o que foi? — Ele me olha assustado.
— O que foi? É séria essa pergunta? — Quero desesperadamente tacar algo
nesse maldito. — Você me demite e me pergunta o que foi? —O sorriso que
brinca em seus lábios me leva a loucura. — Para de rir seu merda!
— Pelo amor de Deus mulher, se acalma e senta.
— Você não manda em mim! — esbravejo descontrolada. — Saia da minha
casa.
— Senta e me deixa terminar de falar. — ele diz com autoridade. — Você
está se descontrolando sem necessidade, sequer terminei de concluir meu
raciocínio.
— E nem vai terminar. — Tento passar por ele, mas sua mão prende meu
braço e me faz sentar em seu colo. — Me solta!
— Caramba, você é insuportável. — Com brusquidão ele segura o meu
rosto e me beija. Estou com tanta raiva que acabo mordendo sua boca. — Porra,
Sam! — Ele me olha chocado. — Pare de ser maluca.
— Não vou pedir para me soltar novamente. — Minha voz sai baixa, porém
ameaçadora.
Ele suspira e fecha os olhos, mas seu aperto não ameniza. Quero socar a
cara dele, mas uma força desconhecida parece me paralisar.
— Se passou nessa sua cabeça doida a ideia de que vou te demitir, esquece
isso, nunca vai acontecer. — Olho para ele confusa.
— Mas... — Ele coloca o indicador na minha boca, me silenciando.
— Posso terminar de falar? — Concordo e fico quieta. — Eu já estava
querendo conversar com você sobre uma promoção, mas além de estar
esperando o encerramento do seu MBA, também estava tentando me acostumar
com a ideia de não ter você me atazanando o juízo.
— Não atazano o juízo de ninguém.
— Você sabe que faz isso, principalmente com esse temperamento
explosivo e essa bunda gostosa que me deixa de pau duro toda manhã. — Em
segundos saio do meu estado de raiva para envaidecida.
— Você fica de pau duro com a minha bunda? Sempre tive essa
desconfiança.
— Fico e adoro as nossas brigas. — Sinto a mão dele alisando a minha
perna. — Mas agora que estamos juntos, acho que o melhor é deixar você seguir
a sua merecida promoção. Nunca serei forte o suficiente para resistir a você.
Essa revelação me tranquiliza e ao mesmo tempo me preocupa. Será que ele
quer me promover só por que está dormindo comigo?
Se for isso não aceito, prefiro ficar como secretária até arrumar um
emprego em outro lugar.
— Está falando isso por causa do que está rolando entre nós? — ele enruga
as sobrancelhas.
— Não! Estou falando do seu empenho na empresa. Se nós formos analisar
a sua viagem comigo, já podemos ter uma medida do quanto está capacitada para
ser uma Gerente Júnior. Eu não vou te dar um cargo de Diretoria, mas vou te
deixar livre para trilhar o seu caminho.
Um sentimento de satisfação se espalha pelo meu peito. Gostei muito do
que ele acabou de falar. Sua sinceridade ficou evidente em cada palavra.
— Vou sentir falta de te perturbar. — Já me sinto melancólica por ficar
longe dele.
— Você terá o horário fora do expediente para fazer isso.
Fico pensativa sobre o que ele falou, acho que chegou a hora de perguntar o
que realmente está acontecendo entre nós. Não quero pressioná-lo a nada, mas
preciso saber o que se passa pela sua cabeça.
— Zander, eu preciso te perguntar uma coisa.
— Manda. — Ele puxa o meu corpo para ajeitá-lo no seu colo.
— O que está acontecendo entre nós?
A sua expressão ganha um tom compenetrado e vejo um suspiro profundo
expandir seu peito. Não sei se fiz um bom movimento, mas necessito descobrir o
que posso esperar do nosso envolvimento.
— Não sei, mas quero descobrir junto com você. — Ele segura o meu
queixo. — Só sei de uma coisa...
— O quê? — pergunto em um sussurro.
— Não consigo parar de pensar em você, muito menos ficar longe. Eu te
quero malditamente, Sam.
Uma revoada de borboletas começa a fazer um movimento estranho dentro
do meu estômago.
— Faz amor comigo? — Bloqueio a parte do meu cérebro que grita para
não dizer a palavra amor.
Sei que não deveria dizer isso, mas não consigo encontrar outra palavra que
defina com exatidão o que quero ter com ele. Agora não é só sexo, é muito mais,
é um sentimento potente consumindo meu peito, e não quero definir o
significado agora.
Ele não me responde, apenas ergue o meu corpo em seus braços fortes e
segue apressado para o meu quarto. Fico na dúvida se agradeço ou não a sua
falta de palavras, mas quando ele me deita na cama e encara os meus olhos com
paixão, esqueço de todos os pensamentos.
Acordo com uma mão pesada sobre meu quadril. Um sorriso de satisfação
brinca nos meus lábios quando relembro a noite anterior.
Caramba, e que noite!
Durante a viagem nós tivemos momentos memoráveis, mas nenhum se
comparou a noite passada. Zander parecia estar fora de si. Ele me deu tantos
orgasmos, que cheguei acreditar que nunca mais seria capaz de me mover.
Sinto algo rígido cutucar minha bunda. Não acredito que esse homem está
acordado e empolgado. Ele não é desse mundo, nunca conheci ninguém com
tanta disposição.
— Bom-dia. — Ouço sua voz profunda e rouca.
— Bom-dia. — Sem pudor remexo a bunda. — Tem alguém animado, aí?
— Muito. — A mão desliza pelo meu quadril até que se instala entre
minhas pernas. — Como se sente hoje?
O meu corpo desperta com o simples toque dele. Não sei o tipo de
afrodisíaco que esse cretino utiliza, só sei que não resisto ao seu toque.
— No momento me sinto tranquila.
— Isso significa que podemos nos divertir um pouco?
— O que você entende como diversão a essa hora da manhã?
Escuto sua risada, enquanto ele pressiona o meu clitóris. Eu seria uma
mulher muito mais feliz se acordasse todas as manhãs com esse tipo de atenção.
Suas mãos hábeis fazem movimentos lentos que despertam cada célula
nervosa do meu corpo. Em pouco tempo estou molhada e recebendo
prazerosamente sua ereção.
Um gemido lento escapa pelos meus lábios. É muito bom senti-lo dentro de
mim. Sempre que nossos corpos se conectam, uma nova experiência parece cair
sobre nós.
Seus movimentos são lentos, porém profundos. Ele beija meu ombro e
aperta a minha cintura para me manter na posição. Sinto a minha respiração
chiar quando um rebuliço começa a contrair o meu baixo ventre.
Erguendo uma das minhas pernas, Zander aprofunda a penetração e
encontra o ponto certeiro que desencadeia uma sequência de espasmos na minha
boceta. O meu orgasmo é tão forte, que preciso abrir a boca em busca de ar. O
meu coração está descompassado e o meu corpo a ponto de entrar em ebulição.
— Que merda! — Escuto seu xingamento quando ele também se deixa
levar pelo êxtase.
As nossas respirações pesadas ressoam pelo quarto. Ele mantém o corpo
grudado ao meu e espalha beijos suaves pela minha nuca.
Adoro essa sua maneira carinhosa depois do prazer, ele nunca se afasta,
sempre faz questão de ficarmos juntinhos.
Droga! Não sei o que está acontecendo comigo, mas adoro esse cuidado,
amo saber que ele me quer por perto mesmo depois de estar satisfeito.
A maioria dos homens se afasta, como se nós mulheres fossemos apenas um
objeto. Já deixei de sair com muitos caras pelo simples fato deles virarem uma
pedra de gelo após o sexo.
— Com fome? — a voz dele sopra no meu ouvido arrepiando a minha pele.
— Impossível não estar. — Ele sai de mim e vira meu corpo.
— Vou preparar algo para o nosso café da manhã antes de ir para casa
trocar de roupa. Vou ter que ir ao escritório, mas se você quiser, pode ficar em
casa e voltar só na segunda-feira.
— Claro que vou para o trabalho, não existe motivo para ficar em casa.
— Você é quem sabe. — Ele beija a ponta do meu nariz e desce da cama
exibindo sua linda bunda dura para minha inveja.
Afundo a cabeça no travesseiro e sorrio da minha sorte. Depois de um
relacionamento falido com o Alberto, foi uma bênção a vida me entregar o
Zander de bandeja.
Zander
Eu estou mais que fodido. Samantha certamente está espumando de raiva e
com toda a razão. Até agora não sei o que deu em mim para ser tão enfático na
hora que disse que não estávamos nos agarrando.
Com a minha mãe nos olhando tão ameaçadoramente, eu não tive outra
escolha a não ser negar o nosso envolvimento.
Como eu e Sam já havíamos combinado que o nosso relacionamento seria
secreto, até que ela fosse para outro setor, não quis revelar toda verdade.
Ela aceitou imediatamente a minha proposta, justamente para evitar fofoca
e porque temos a tal política de não envolvimento entre funcionários. Política
essa que terei que repensar para poder ficar com ela.
Depois da sua reação ao flagra de hoje, percebi que ela não tinha analisado
às consequências do nosso acordo. Na verdade, nem eu tinha.
Graças a Deus ela não estava na minha casa ainda a pouco quando tive que
lidar com Vanessa querendo subir para falar comigo. Ela estava completamente
fora de si, porque mandei entregar cada item dela que ainda tinha na minha casa.
Na cabeça perturbada daquela louca, ainda temos chances de ficarmos juntos. Só
que agora, a minha vida gira completamente ao redor da Sam. Estou
perdidamente apaixonado por ela. Penso nessa mulher 24 horas do meu dia.
— Sam, abre a porta. Não vou sair daqui enquanto não falar com você.
Bato na porta e espero pela sua resposta. Ela vai me xingar, isso eu sei, mas
espero que ao menos me receba.
— Por mim você cria raízes aí fora. — Ela grita do outro lado depois que a
chamo pela terceira vez.
— Daqui a pouco seus vizinhos vão reclamar dessa gritaria no corredor.
— Basta você ir embora que teremos silêncio. — Como é teimosa.
— Eu não saio daqui enquanto não conversarmos. Você não me deixa falar.
Assim não dá.
— Fale com sua mãe.
— Eu trouxe flores e aqueles bombons que você gosta.
— Enfie as flores no seu...
— Samantha! — Interrompo o que ela ia dizer.
Meu Deus, que mulher boca suja!
— Por favor, apenas me deixe pedir desculpa pessoalmente. Juro que te
deixo em paz. Só preciso de um minuto com você.
Ela fica em silêncio e a minha ansiedade vai a mil. Será que agora dobrei a
fera?
— Você tem apenas um minuto. — ela diz quando abre a porta. — Nem
mais um segundo.
Respiro aliviado quando entro no seu apartamento. Agora que estou aqui
dentro só saio amanhã. Vou amansá-la de alguma maneira.
— Obrigado, por me escutar.
— Seu minuto está correndo. — Ela bate os pés no chão.
— Não vai pegar as flores?
— Você já sabe onde quero que enfie essas flores.
Seu olhar é assassino, acho que ela está se segurando para não me matar.
Onde fui parar? Tanta mulher tranquila nesse mundo e eu fui escolher uma onça
para me apaixonar. Sou um imbecil!
— Vai querer ao menos o chocolate? — Sam olha para a embalagem e fica
pensativa. Em um movimento ligeiro ela estica a mão e pega os chocolates.
— Fale. Você tem uns dez segundos.
— O que preciso falar não cabe em um minuto.
— Que bom, não estava a fim de te ouvir mesmo. — Ela abre a porta e faz
sinal para que eu saia.
— Não vou embora, você precisa se acalmar e me escutar.
— Vá falar com sua mãe.
— Deus! Como você é pé no saco.
— Sou mesmo, inclusive estou louca para acertar o seu saco e te expulsar
da minha casa.
Resmungo com a sua resposta, é complicado ter uma conversa com ela tão
irritada. Quando me preparo para retrucar, o meu celular toca. Mesmo antes de
atender, sei que é a Marlene, esse é o toque que escolhi para ela.
— Espere mais um minuto. — digo ao pegar o telefone para atender.
Assim que voltei de viagem fui visitá-la e achei-a muito fraca. Marlene me
disse que estava com um pequeno problema no pulmão, mas que não era nada
demais. Como sei que ela gosta de minimizar tudo, pedi para que a filha dela me
ligasse a qualquer hora se alguma coisa acontecesse.
— Alô. — Olho para Sam e vejo o quanto está impaciente.
— Zander, aqui é a Lu.
— Aconteceu alguma coisa? — Luciana é a filha da Marlene e, pela sua
voz, a ligação não contém boas notícias.
— Aconteceu. — A voz dela treme. — A mamãe passou mal e tivemos que
trazê-la para o hospital às pressas, mas o estado dela é crítico. Os médicos não
nos deram muitas esperanças. — Essa última parte é dita em um sussurro.
— Vocês estão no hospital onde ela se trata?
— Sim.
— Estou chegando. — Encerro a ligação e sinto minhas mãos tremerem.
Olho para Samantha e vejo a preocupação em seu olhar.
— O que foi?
— A Marlene está mal e... — Não consigo terminar de falar, porque me
recuso a acreditar que ela pode partir.
— Vou pegar a minha bolsa, irei com você.
— Não precisa.
— Eu vou, conheço Marlene há anos.
Não consigo me mover, talvez seja bom ela ir comigo. Eu sou bom em
muitas coisas, menos em perder pessoas que amo. Não sei lidar com a morte,
isso é algo que me deixa completamente apavorado.
— Vamos. — Samantha volta pulando enquanto calça os sapatos. — Você
quer que eu dirija?
— Pode ser. — Ela se aproxima e tira as flores da minha mão. Sequer havia
percebido que ainda estava segurando.
— Vai acabar tudo bem, ela vai passar por mais essa.
— Assim espero.
Saímos do apartamento apressados, espero que ao menos eu tenha tempo de
me despedir da minha querida amiga. Estou com uma sensação ruim. Espero que
seja apenas o choque da notícia que acabei de receber.
O som dos aparelhos que a mantém respirando deixa seu corpo pequeno
ainda mais frágil. Marlene se abateu ainda mais desde a última vez que a vi. A
palidez da sua pele não me deixa com muitas esperanças.
Lentamente me aproximo dela e toco a sua mão. Está gelada. Se o monitor
de batimentos cardíacos não mostrasse que ainda tem vida, acharia que já não
estava entre nós.
Sento-me na cadeira ao lado da sua cama e lamento por vê-la ter um fim tão
triste. De acordo com o que a filha me falou ainda há pouco, o médico avisou
que ela está muito perto de partir.
O meu coração se aperta ao saber que não terei mais seus conselhos.
Marlene é uma das poucas pessoas que mantenho amizade. Conheço essa mulher
desde pequeno, ela me ensinou muito do que sei hoje. Imaginar que nunca mais
vou ouvir sua voz rouca me deixa em um estado de tristeza que nunca
experimentei.
Pouco me importo com a lágrima que escorre pelo meu rosto. Não me
lembro da última vez que chorei, não sou o tipo sentimental, mas neste momento
não posso conter a dor que me rasga.
Sinto um movimento sutil na minha mão, olho para o rosto dela e vejo que
abre os olhos lentamente. Ela se remexe e tenta tirar a máscara, apesar de saber
que precisa respirar, suspendo um pouco o objeto para tentar descobrir o que ela
deseja.
— Não faça esforço, querida. — Ela começa a mover os lábios, mas não
consigo entender o que fala. Inclino um pouco o corpo para tentar escutá-la.
— Eu te amo. — A voz dela é baixa e arfante. — Tente mudar de vida... —
Marlene faz uma pausa e puxa o ar com força. — Ouça mais seu coração.
Seus olhos fecham depois de tanto esforço e ela começa a tossir. Fico
nervoso em vê-la tão angustiada e chamo por uma enfermeira. Em pouco tempo
sou retirado do quarto, enquanto duas enfermeiras começam a aplicar alguns
medicamentos no soro dela.
Vou para o corredor abatido e imediatamente Sam vem ao meu encontro.
Ela me abraça e o seu calor me faz bem. Estou feliz que ela tenha vindo comigo.
— O que aconteceu? — Luciana pergunta ao se aproximar.
— Ela acordou e me disse algumas palavras, mas depois começou a tossir e
tive que chamar a enfermeira.
— Eu não aguento mais esse sofrimento. — A fragilidade da Lu me abala.
Ela está enfrentando há bastante tempo a doença da mãe.
As duas sempre foram unidas e como é filha única, quando Marlene se for
ela não terá mais ninguém.
— Você precisa se manter forte. — Abandono Sam para poder me
aproximar dela. — Nós dois sabemos que sua mãe não aprovaria nossas
lágrimas. — Luciana concorda comigo e me abraça.
Um médico aparece no corredor e entra no quarto. Uma correria se inicia
com a entrada de outros profissionais. Começo a me preparar para o pior, pelas
diversas ordens que o médico grita, ela está nos deixando.
Não demora muito, o médico sai da sala e o seu olhar diz tudo. Faço um
pequeno sinal demonstrando que sei que ela se foi e amparo Luciana quando ela
entende o que acabou de acontecer.
Assim que ela se acalma, entramos no quarto e nos aproximamos do corpo
sem vida de Marlene. Ela está serena e agora encontrou a paz que lhe foi
roubada pela doença nos últimos anos. É uma tristeza imensurável a sua partida,
mas todos nós sabemos o quanto ela merecia esse descanso.
— Minha vida nunca mais será a mesma sem você. Tudo o que eu mais
queria era que meus filhos pudessem ter mais um pouco de tempo na sua
companhia. — Luciana beija a mão da mãe.
Sam encosta a cabeça no meu braço e funga baixinho. Aconchego-a junto a
mim e penso no que Marlene me falou sobre ouvir o meu coração.
Neste momento meu coração me diz que não posso perder tempo e que a
vida é frágil. Descanso o queixo no topo da cabeça da Samantha e aceito o grito
do meu coração dizendo que não posso deixá-la partir.
Apesar da tristeza do momento, deixo um suave sorriso escapar ao perceber
que mesmo nos últimos minutos da sua vida, Marlene não deixou de me
aconselhar. E dessa vez não vou relutar para ouvir o seu conselho. Vou levá-lo ao
pé da letra. Será minha última homenagem a ela.
CAPÍTULO 29
Zander
Passei uma noite em claro, apesar de Sam ter ficado o tempo todo comigo,
não consegui dormir. A minha cabeça parece estar desgovernada. Sempre que
fecho os olhos, a imagem frágil de Marlene na cama do hospital me faz repensar
toda a minha vida.
Nos seus últimos minutos de vida, ela conseguiu despertar algo dentro de
mim que sequer sabia que estava aprisionado. Agora, eu sei que estive meio que
adormecido ao longo da vida. Só que depois de ontem, eu estou mais que
disposto a mudar todos os meus planos.
— Você está bem? — Escuto a voz da Sam. — Seu rosto está meio pálido.
— Vou ficar bem. — Olho para ela e sinto vontade de abraçá-la, mas como
estamos no velório, sei que não posso fazer isso.
Minha mãe não tira os olhos de nós, assim como a mãe da Sam. Esse não é
o melhor lugar para assumirmos o nosso envolvimento, principalmente porque
ainda não pude conversar com ela sobre o desentendimento que tivemos no
escritório.
Não quero que pense que sinto vergonha dela ou algo do tipo. Só não quis
fugir do que tínhamos combinado sobre a nossa vida pessoal. Principalmente na
frente da minha mãe, que sempre me alertou para não me envolver com
funcionárias.
A experiência dela com o meu pai o tempo todo correndo atrás de alguma
funcionária foi traumática. A própria Marlene passou bons bocados na mão da
minha mãe com o seu ciúme extremo. Também pudera, meu pai tinha culpa no
cartório.
— Se precisar de algo só me avisar.
— Relaxa, Sam.
Ela acena e volta a se aproximar da mãe que chora sem parar ao lado da
Luciana. Noelli era uma amiga antiga da Marlene, foi por causa dessa amizade
que Samantha começou a trabalhar comigo. Devo mais esse favor a minha
amiga. Ela, além de me trazer Sam, conseguiu me mostrar antes de partir que
preciso mantê-la ao meu lado.
— Zander, eu vim assim que soube. — Levo um susto quando Vanessa se
joga sobre mim passando os braços pelo meu pescoço.
Olho para Samantha e a vejo acompanhar a cena com contrariedade. Se não
estivéssemos em um velório, certamente Vanessa já teria voando longe.
— Vanessa, me solta. — Seguro os ombros dela e tento fazê-la me largar.
— Estou aqui para te consolar, não precisa fingir que é durão comigo. —
Ela afaga o meu rosto.
Que droga! Se ela não me largar, Samantha pode perder a linha e
transformar o velório em um grande escândalo.
— Não estou fingindo ser durão. — digo baixinho. — Só quero meu
espaço.
— Tudo bem. — Ela aperta a minha mão. — De qualquer forma ficarei ao
seu lado até tudo acabar.
Era só o que faltava. Será que não posso ter sossego ao menos quando
preciso me despedir de uma grande amiga?
Sinceramente, não sei o que Vanessa pensa que está fazendo. Ela não era
para estar aqui e também não devia me ligar todos os dias. Já enviei todas as
coisas dela que estavam na minha casa, não vejo o que mais podemos ter para
conversar.
Passo os próximos trinta minutos tentando manter as mãos de Vanessa
longe de mim. Estou apreensivo temendo que Samantha perca a compostura.
Quando o corpo sai para o crematório, informo à Luciana que não irei
acompanhar a cerimônia. Ela me agradece todo o carinho que tive e, antes de ir
embora, me presenteia com um caloroso abraço que me lembra muito o da sua
mãe.
Meus pais também informam que irão embora. Já Samantha e a mãe
seguem para a cremação juntamente com Luciana.
Fico tenso com a aproximação da Vanessa, não a quero perto e muito menos
que Samantha se aborreça com a sua presença. Ontem já tivemos um problema
que foi interrompido com a trágica perda da Marlene, não desejo entrar em mais
uma situação delicada com ela.
— Filho, você comeu algo? — minha mãe pergunta enquanto beija o meu
rosto. — Estamos indo almoçar.
— Não tenho fome no momento.
— Você tem que se alimentar, Marlene não ficaria feliz se soubesse que não
quer se alimentar. — Meu pai fala como se eu fosse uma criança.
— Eu estou bem, só prefiro ir para casa. Depois peço algo para comer.
— Posso preparar algo para você. — Vanessa se oferece e me faz olhar para
ela assustado.
— Você aprendeu a cozinhar? Porque até onde sei, não sabe sequer fazer
café. — Ela me olha constrangida.
— Eu posso me virar. — responde sem graça.
— Vá com ele sim, Vanessa. Não acho bom Zander ficar sozinho neste
momento. — Minha mãe se mete na conversa.
— Claro que eu vou. — Passando o braço ao redor do meu braço, Vanessa
sorri acreditando que realmente irá comigo.
— Bem... — Decido acabar com esse circo. — Estou indo, hoje não foi um
dia fácil.
Rapidamente me despeço dos meus pais e saio com Vanessa no meu
encalço. Ela está acreditando que se enfurnará na minha casa, mas está muito
enganada.
Vou despachá-la na sua casa e ir para a minha sozinho. A única pessoa que
desejo ter ao meu lado agora é Samantha, só que infelizmente só nos veremos no
início da noite.
Até que ela possa me encontrar, quero ficar sozinha, pensando nos passos
que darei na minha vida pessoal em breve. Não vou perder mais nenhum
segundo para assumir meu relacionamento com Samantha.
— Se você não quiser comer a minha comida, eu peço algo para você.
Depois posso fazer aquela massagem que tanto gosta.
— Entra. — Abro a porta do carro contando os segundos para me livrar
dela.
Vanessa não insiste no assunto e entra no carro. Tomo o meu lugar e coloco
o veículo em movimento, mas quando olho pelo retrovisor, eu vejo Samantha
observando o meu carro se afastar.
Puta que pariu! Vou ter um novo problema com ela justamente em um
momento que só preciso de paz. Que droga!
— Onde pensa que está indo? — Vanessa se manifesta quando percebe que
não estou seguindo para o meu apartamento.
— Vou deixar você em casa.
— Não vai nada. Eu vou ficar com você. Jamais vou te deixar sozinho em
um momento tão difícil.
— Agradeço sua preocupação, mas quero ficar só.
— Zander, eu prometi a sua mãe que cuidaria de você.
Respiro fundo antes de respondê-la, não quero ser grosseiro, muito menos
causar uma discussão intensa. Hoje só preciso de paz.
— Não preciso que ninguém cuide de mim.
— Sei que está sofrendo e posso amenizar sua dor. — Ela descansa a mão
na minha coxa. — Comigo você pode se abrir, eu te conheço bem.
— Vanessa... — Faço uma pausa antes de continuar a falar. — Tenho quem
cuide de mim e ela me conhece muito mais que você. — Paro o carro na frente
do prédio dela. — O que nós tivemos acabou, siga a sua vida, porque eu já segui
com a minha faz tempo.
Viro o rosto na sua direção e vejo a sua expressão de choque. Ela não
esperava ouvir isso, na verdade eu também não esperava falar tanto.
— Você não pode ter esquecido tudo o que vivemos. Eu te amo, Zander e
sei que me ama também.
— Sai do carro. — Hoje definitivamente não é um bom dia para discussões.
— Não vou sair. — A negativa dela me irrita. — Você tá com a sua
secretária, não é? Eu vi a troca de olhares entre vocês. Sempre soube que aquela
vagabunda tinha interesse em você.
— Nunca mais chame Sam assim. — Inclino meu rosto para observar
atentamente os olhos dela. — Eu exijo que a respeite. Está me entendendo?
— Chamo aquela piranha como eu quiser. Ela roubou você de mim. —
Perco o resto da paciência.
— Sai. — Abro a porta do carro e faço um gesto de cabeça para ela sair
logo. — A partir de hoje está proibida de se aproximar de mim ou de Samantha.
— Você pode até não ficar comigo, mas com ela também não fica. —
Vanessa faz essa ameaça com muita tranquilidade.
— Está me ameaçando?
— Não. Só estou afirmando que vocês nunca ficarão juntos.
Ela sai do carro e me deixa furioso. A minha vontade é de ir atrás dela e
fazer uma ameaça muito maior, mas sei que não vale a pena. Vanessa só quer me
aborrecer, sei que ela odeia perder.
Para evitar mais confusão, arranco com o carro e vou embora. Agora
preciso só da minha casa e me acertar com Samantha. Espero que ela não esteja
muito chateada por me ver sair com Vanessa. Não quero outra briga com ela,
nesse momento tudo o que desejo é tê-la do meu lado.
Samantha
Zander - Quando estiver livre venha para a minha casa, estou te
esperando. Pode trazer seu gato se quiser.
Que cretino, estou morrendo de raiva dele. Tive que me segurar para não ir
atrás desse cretino e da sonsa da ex-namorada. Como eu odeio aquela Vanessa,
mulher antipática e insuportável.
Ela se acha melhor porque é de família tradicional, só que eu pouco me
importo com a família dela. Para mim todo o dinheiro que tem não me faz
diferença.
Ignoro a mensagem do Zander e vou tomar um banho. Hoje o dia foi
pesado, a minha mãe se sente péssima quando o assunto é morte. Depois que
perdemos meu pai de uma forma tão violenta, ela não aguenta comparecer em
nenhum sepultamento.
Apenas foi ao da Marlene porque as duas eram amigas por décadas, ainda
assim, foi um sacrifício conseguir segurar o desespero dela quando viu o corpo
da amiga no caixão.
É sempre difícil perder alguém que amamos, eu bem sei o que passei
quando tive que enterrar meu pai. Foi devastador saber que nunca mais o veria,
até hoje a dor da sua perde me acompanha.
Passo um longo tempo no banho, conversando com Nap enquanto ele pula
incansavelmente da tampa do vaso para o chão ao brincar com a sua bola. Se não
fosse esse gato atrevido, não sei se suportaria viver sozinha.
Eu gosto muito de falar, e com o Nap eu posso fazer isso sem medo. Conto
tudo para ele, falo mal de quem não gosto e tudo fica guardado. Não é por menos
que ele é meu melhor amigo.
— Nap, hoje nós iremos passar a noite assistindo séries. Vou deixar o
senhor Saramago me esperando. Ele que seja consolado por aquela vaca da
Vanessa. Estou farta dele. Acho que preciso dar um tempo de relacionamentos,
sinto que não tenho futuro nesse quesito.
“Miau”
Nap mia firme e acredito que ele concorda comigo. Por isso amo tanto meu
gato, ele sabe me entender perfeitamente.
— Vamos beliscar alguma coisa, meu bebê? — Sigo com ele para a
cozinha. — Acho que vou tomar um vinho para quebrar toda a tensão do dia e
você bebe leite. O que acha?
“Miauuuu”
Ele solta um miado agudo, parecendo entender o que estou dizendo. Tenho
um medo de um dia esse gato falar. Esse bicho é tão esperto, que não me admira
se virar algo parecido com o gato da Alice no País das Maravilhas.
Deus me livre disso acontecer! Eu nem bebi e já estou ficando doidona.
Pego o potinho dele e coloco o leite, Nap corre e começa a beber feliz da
vida. Vou até a geladeira em busca do meu vinho, mas quando estou prestes a
pegar a garrafa, a campainha toca.
Que merda!
Não acredito que aquele pentelho do Zander veio atrás de mim. Aposto que
é ele. A única pessoa que sobe sem ser anunciado é esse chato ou minha família.
Hoje não estou em um bom dia, assim como sei que ele também não está.
Espero de coração que não me perturbe, porque do jeito que estou furiosa com
ele, eu jogo esse idiota pela janela.
Sem pressa sigo para a porta, e me irrito quando ele começa a tocar a
campainha sem parar. Imbecil! A minha vontade é abrir a porta com um balde de
água para jogar em cima dele.
Espio pelo olho mágico e vejo sua expressão irritada. Até nervosinho o
filho da mãe é bonito. Como eu queria ficar com raiva eterna dele, mas só em
ver esses olhos azuis parecendo uma tempestade de verão, eu fico toda acessa.
Lamentável seu comportamento Samantha. Você já teve dias melhores
garota!
Faço uma breve reclamação mental e abro a porta. Zander não se move e
desliza os olhos pelo meu corpo. Só agora me lembro que estou de sutiã. Saí do
banheiro só com uma bermuda e não me preocupei de colocar uma blusa.
Aposto que ele vai reclamar.
— Como atende a porta assim? — Bingo! Sabia que ele ia resmungar algo.
— Estou na minha casa, atendo a porta como eu achar melhor.
— É mesmo? — Ele avança para dentro do meu apartamento e bate a porta.
— Pois pode parar de atender a porta seminua. Já imaginou se é o porteiro?
— Olha aqui. — Aponto para o olho mágico. — Isso existe justamente para
você ver quem está do outro lado.
— Pare de deboche.
— Não estou de deboche, só mostrando que abri a porta porque vi sua cara
feia. — Eu não deveria tratá-lo assim depois que perdeu uma amiga, mas estou
tão puta com ele, que segurar minha boca fica quase impossível.
— Ainda está chateada comigo? Foi por isso que não respondeu as minhas
mensagens?
— Não respondi, porque não quis. — Sigo para a cozinha já me sentindo
cansada por tê-lo aqui me perturbando.
— Posso explicar por que estava no carro com a Vanessa.
— Explica aqui pra minha mão. — Faço um gesto de abrir e fechar a mão
na cara dele.
Como odeio esse homem. Ele me deixa completamente irracional.
— Você é insuportável quando decide ser um pé no saco.
— Tá vendo o corredor que acabou de passar? — aponto para a saída da
cozinha. — Siga-o de volta e vá para a sua casa.
Abro a geladeira e pego a garrafa de vinho. Espero que ele perceba que não
quero papo e caia fora logo. Não aguento mais brigar com ele. Preciso de
espaço.
Derramo na taça uma quantidade expressiva da bebida e tomo um longo
gole. Zander apenas me observa parado, sem tirar os olhos de mim.
O meu corpo esquenta, não sei se pelo vinho, ou pelo o seu olhar intenso.
Por Deus que tento resistir a esse infeliz, mas ele parece ter domínio sobre mim.
Sem dizer uma única palavra, ele me encurrala entre a geladeira e a mesa.
Sinto o meu coração palpitar furiosamente e já começo a me derreter só em
pensar que ele vai beijar.
Assim que a sua mão aprisiona a minha nuca, eu me dou por vencida. Sou
capaz de muita coisa nessa vida, mas resistir ao maldito Zander não está nessa
lista. Eu me odeio profundamente por desejá-lo tanto, mas até o momento não
sei o que fazer para bloquear a atração que sinto por ele.
A boca dele avança sobre a minha com raiva, seu beijo está repleto de
desejo e frustração. Seguro a sua blusa e o puxo na minha direção. Quero esse
maldito grudado em mim. Quero que ele me jogue sobre essa mesa e me foda
com força. Quero tudo o que puder me dar neste momento.
“Miauuuuu”
— Porra! — Zander berra quase no mesmo instante em que escuto o miado
estridente do Nap. Quando olho para baixo, vejo meu gato endiabrado grudado
na calça dele. — Sai de cima de mim seu demônio! — Ele tenta se desprender
do Nap, que o segura com toda a força do mundo.
A cena é hilária e, por mais que eu queira ajudá-lo, não consigo parar de rir.
Nap quer acabar com a minha vida sentimental, assim fica difícil trazer algum
homem na minha casa. Ele ataca todos os meus paqueras, nunca vi um bicho tão
enciumado.
— Napoleon, chega. — Pego o danadinho e, com dificuldade, consigo tirá-
lo da perna do Zander. — Você tem que se comportar.
“Miau”
Ele esfrega o focinho no meu queixo e começa a ronronar querendo
carinho. Que gato espertinho, ficou com ciúmes do Zander.
— Esse gato é um marginal. Ele quase arranca a minha perna fora.
— Não exagere, ele estava só me protegendo. — Solto o Nap e dou um
tapinha na sua bunda para que vá para a sala.
Como é abusado, Nap olha feio para o Zander antes de ir embora. Esse gato
é terrível, se fosse meu filho humano não pareceria tanto comigo.
— Protegendo do quê? Eu não estava te matando.
— Estava me tocando sem autorização. — Finjo que não gostei do beijo
dele. — Quer um pouco de vinho?
Já que ele está aqui, não vou poder desperdiçar a sua visita. Quero alguém
comigo hoje, estou me sentindo exausta emocionalmente.
— Aceito. — Ele puxa uma cadeira e se senta. — Na verdade aceito umas
dez garrafas.
— Não quero ninguém embriagado me perturbando. — Coloco a taça na
frente dele.
— Do jeito que estou hoje, se eu beber demais vou apenas desmaiar e
dormir.
A tristeza na sua voz quebra o meu coração. O pobrezinho deve estar
sofrendo, ele sempre foi muito ligado à Marlene.
— É até difícil dizer isso, mas ela descansou, Zander. — Sento-me ao lado
dele e acaricio a sua mão. — Enfrentar todos os tratamentos que ela foi
submetida não é fácil. Ela sofria tanto com dores, com a debilitação que a
doença lhe impôs.
— Eu sei. — Ele solta um suspiro profundo. — Mas sou egoísta, queria que
ela se recuperasse e voltasse a trabalhar comigo.
— Que ótima maneira de avisar que deseja chutar a minha bunda. —
resmungo.
— Nós já conversamos sobre o seu futuro na empresa. — Zander estica a
mão e me puxa para seu colo. — Você precisa trilhar seu próprio caminho. —
Ele acaricia a minha bochecha. — E eu tô mais para apertar a sua bunda do que
chutá-la.
— Pare de tentar ser engraçadinho, estou puta da vida com você.
— Se for por causa da Vanessa nem perca seu tempo ficando chateada, eu
só dei uma carona para ela. E aproveitei para deixar bem claro que não temos
mais nada.
A confissão dele me agrada, mas ainda estou com ciúmes. Não gosto de
saber que eles ficaram sozinhos.
— Difícil é ela entender que vocês se separaram de vez.
— Agora que ela sabe que estamos juntos, vai me esquecer de vez.
— Como? — Olho para ele surpresa. — Você contou que estamos juntos?
— Mais ou menos. — Ele coça a barba. — Ela me disse que ia cuidar de
mim, que me conhecia bem. — Começo a me irrita com o rumo da conversa. —
Aí eu disse que não precisava dos cuidados dela, que tinha quem cuidasse de
mim, e essa pessoa me conhecia melhor do que qualquer um.
Uma satisfação intensa cai sobre mim. Acho que me apaixonei um pouco
mais por ele depois de ouvir isso. Queria estar na hora só para ver a cara de ódio
da aguada.
— E como ela soube que era eu? — Zander exibe um sorriso tímido que
não combina com ele.
— Ela disse ter visto as nossas trocas de olhares apaixonados. — Fico
apreensiva com o que ele fala. — Não me dei ao trabalho de desmentir o que é a
pura verdade.
Sabe aquele momento que você está caminhando poderosa em um salto
agulha e do nada despenca? Essa sou eu neste momento. Sinto o meu corpo
desabar no chão por ouvi-lo afirmar que estamos apaixonados.
— Como foi a reação dela? — decido ignorar a parte que ele fala sobre
paixão.
— Vanessa não gosta de perder, mas essa partida já foi encerrada há
tempos. — Ele contorna a renda do meu sutiã. — Sei que precisamos conversar
sobre o que aconteceu no escritório. Eu estou me sentindo muito mal pelo o que
fiz, mas preciso de você agora. — Seus olhos buscam os meus. — Só você pode
fazer a minha cabeça parar de trabalhar. Estou a ponto de explodir.
Vejo no seu olhar o quanto está aflito. Sei como ele é reservado e seguro
com as suas emoções. Para fazer um pedido desse sem nenhum pudor, é porque
está completamente desesperado.
Não respondo nada, apenas encosto a boca na dele tentando passar todo o
amor que está dentro do meu peito. Apesar das nossas desavenças, não posso
negar o que sinto por ele. A cada vez que nos encontramos, percebo o quanto o
meu coração está entregue a esse homem. Quero o Zander na minha vida, quero
que ele seja só meu e de mais ninguém.
CAPÍTULO 30
Samantha
Eu não sirvo para estar apaixonada, fico tão idiota que irrita. Às vezes tento
esconder meu sorriso bobo, mas a cada vez que o Zander me olha, viro uma
manteiga derretida.
— Do que está rindo? — ele me pergunta quando dou mais um dos meus
sorrisos idiotas.
— Nada. — Tento conter meu ânimo. — Estava só lembrando do Nap
grudado em você.
— Nem me fale desse gato, ele é terrorista.
— Credo, Zander, não fala assim dele.
— Estou mentindo, Samantha?
— Ele é um pouco determinado.
— Vamos mudar de assunto? — Ele vira o corpo na cama e apoia a cabeça
na mão. — Quero te pedir desculpas pelo o que falei na frente da minha mãe. Eu
só quis seguir à risca o que combinamos de não revelar nosso relacionamento.
Em momento nenhum tive a intenção te ofender.
Eu não estou sabendo lidar com esse Zander sincero e amoroso. Há poucas
horas ele confessou que precisava de mim, agora está me pedindo desculpas.
Será que algum alienígena tomou posse do corpo dele?
— Você me magoou de verdade. Fiquei me sentindo diminuída com o que
falou. — Vou aproveitar que ele está um doce para fazer drama.
— Eu sei que ficou chateada, o problema foi que fiquei meio que em pânico
da minha mãe achar naquele momento que realmente estávamos juntos. Ela é
bem desconfiada, você sabe disso.
— Eu sei. — Enrugo o nariz. — Sua mãe gosta de se meter onde não é
chamada.
— Ela se preocupa com os filhos, Sam.
— Você é bem crescido. Ela deveria se preocupar com os corações que
você quebra a cada envolvimento.
— Eu não quebro corações. — Ele rebate. — Sou bem sincero nos meus
relacionamentos.
— Não venha com essa conversa para o meu lado, senhor Saramago. —
Desfaço logo a onda dele. — Sou eu que aturo suas ex querendo voltar para
você.
Pela careta que ele faz, não gostou da minha observação, só que eu não vou
omitir todas as vezes que tive que livrá-lo das suas ex-namoradas.
— Isso foi antes.
— Antes do quê? — Por alguns segundos ele fica em silêncio.
— De você.
Ai cacete! Hoje ele vai me matar do coração.
— Samantha. — Ele se senta na cama e me puxa para fazer o mesmo. —
Quando você se sentir preparada, eu quero assumir para todos que estamos
juntos.
Fico em choque com a sua revelação, não sei o que falar. Hoje eu esperava
que ele fosse relembrar do passado, de tudo o que viveu com a Marlene, não
discutir a nossa relação.
— Não quero que ache que estou sendo precipitado. Eu te conheço há
muito tempo e tenho consciência dos meus sentimentos. O que sinto por você
não é novo, eu... — ele faz uma pausa e aos poucos repuxa a boca em um sorriso
discreto. — Eu me apaixonei por você desde o segundo que a Marlene te levou
ao meu escritório.
Os meus olhos enchem de lágrimas quando ouço suas palavras. Não
acredito que ele também se sentiu atraído por mim. Quando coloquei os olhos
nesse cretino, o meu coração deu pulo completamente diferente.
— Sempre achei que superaria o que sentia, mas só piorou com o tempo. —
Faço um esforço fenomenal para não começar a chorar como uma boba. —
Antes de partir a Marlene me pediu para ouvir o meu coração e sabe o que ele
me diz?
— Não. — A minha voz é apenas um sussurro.
— Ele diz que não posso te perder nunca.
Ele encosta os lábios nos meus e neste momento não contenho as lágrimas.
Que coisa linda. Nunca imaginei que ele pudesse ser romântico. Na verdade,
nunca pensei que ele pudesse se apaixonar de verdade.
— São lágrimas de felicidade? — ele pergunta quando se afasta um pouco.
— Não. — Apesar de ser um momento de puro romance, não posso perder
a oportunidade de tirar sarro dele. — São lágrimas por descobrir que você tem
coração. — A ruga sexy que se forma em sua testa é linda.
— Está de brincadeira?
— Jamais. Realmente estou surpresa por ouvir algo tão romântico. — Pulo
para o coloco dele e me sento com as pernas abertas enquanto seco as lágrimas.
— Eu gosto um pouco de você. — Nem sob tortura assumo agora que só penso
nele, só o desejo e sonho com ele até quanto estou acordada.
— Um pouco quanto? Devo me preocupar com a possibilidade de você
passar a gostar menos?
— Sempre existe essa possibilidade. — Mordo o lábio ao me esfregar nele.
— pode se esforçar para que eu goste bem mais.
— É mesmo? Como faço isso?
— Eu vou mostrar e com detalhes.
Ele sorri, e vira o meu corpo na cama sem maiores dificuldades. A boca
dele busca a minha e nos embolamos entre os lençóis dando vazão ao sentimento
que parece nos consumir. Pela primeira vez, sinto que ele está inteiramente
comigo.
Mais uma vez a Marlene foi um anjo na minha vida. Antes de partir, ela
lançou a semente para que o nosso amor pudesse germinar.
Onde quer que esteja, obrigada por tudo.
Faço esse agradecimento silencioso, antes de me concentrar inteiramente no
homem apaixonada que desliza beijos suaves ao longo do meu corpo.
Estou tão nervosa com esse almoço que não consigo relaxar. Apesar de
Gaia estar sendo um doce até o momento, não quero imaginar qual será a reação
dela quando o irmão anunciar o nosso namoro.
— Mãe, eu vou poder comer sobremesa? — Alex a questiona.
— Você sequer terminou de comer para pensar na sobremesa. — Ela o
repreende com tranquilidade.
— Falta pouco para acabar. — O menino rebate.
— Termine sua comida primeiro, rapaz. — Zander entra na conversa.
— Esse menino só pensa em doce. — Gaia resmunga.
— E quem não gosta de doce? — digo — Não posso criticar o Alex. —
Pisco para ele que me dá um sorriso arteiro.
— Agora sim o senhor acertou na namorada, tio, eu gosto da Samantha.
Fico estática com o comentário do menino e Zander solta um pigarro
também constrangido com a situação.
— Que indiscrição é essa, Alex? Onde está aprendendo a ser intrometido?
— O que eu fiz? — Ele encara a mãe confuso.
— Deixa o menino, Gaia. — Zander interrompe o puxão de orelha da irmã.
— Alex apenas adiantou o real motivo para este almoço. — Ele olha para mim e
segura a minha mão. — Eu quero contar, primeiramente a vocês dois, que nós
estamos juntos.
O menino sorri, ele parece bem feliz com a notícia. Já Gaia nos olha com
certa reserva e faz o meu coração acelerar com medo de ela ser contra o nosso
namoro.
— Bem... — Ela faz uma pausa tensa antes de falar. — Gosto muito da
Samantha, tanto que estou verdadeiramente preocupada com esse namoro.
Sinto o meu coração despencar com as palavras dela, se Gaia não aprova o
nosso relacionamento, não quero nem imaginar como vai ser com os pais dele.
— O que está querendo dizer? — A voz do Zander tem uma nota de
aborrecimento.
— Você não é bom com relacionamentos, a cada semana tem uma nova
mulher. — Sem medo, ela não poupa o irmão. — Samantha é uma ótima pessoa
e profissional exemplar. Eu como mulher, não posso me sentir feliz quando sei
que uma jovem tão querida está nas mãos de um conquistador barato.
O choque no rosto do Zander me faz querer sorrir, ele certamente não
esperava ouvir esse desaforo da irmã. Na verdade, eu também nunca imaginei
escutar algo assim vindo dela.
— Está me chamando de cafajeste?
— Estou! — Olho para o Alex e vejo que ele acompanha a troca de farpas
com um sorriso nos lábios.
— Por favor, não briguem. — Decido apaziguar a situação.
— Não estamos brigando, querida. — Gaia sorri com ternura. — Só estou
temerosa que ele machuque você.
— Jamais faria isso. — Zander rechaça imediatamente as palavras da irmã.
— Samantha é importante para mim, ela é... — Ele me olha e o a emoção
embutida na sua expressão faz o meu coração disparar. — Ela é especial demais,
Gaia.
Por alguns segundos eu me perco em seu olhar, até que me recomponho e
quando volto à atenção para Gaia. Vejo um discreto sorriso nos lábios dela.
— Bom... se é assim, seja bem-vinda à nossa família, Sam. — Ela estende a
mão e eu a seguro com força. — Estou feliz em tê-la como cunhada, mas já
aviso de antemão que terá problemas com a mamãe. Ela fez um breve
comentário essa semana que está sentindo o clima entre vocês diferente.
Acredito que saiba que minha mãe não aprova relacionamentos dentro do
ambiente de trabalho.
— Eu já percebi que ela anda desconfiada de nós.
— Isso não interfere em nada na nossa vida. — Zander rapidamente se
posiciona. — A minha mãe não manda em mim faz tempo.
— Ainda assim você deve explicações a ela. — Não posso deixar de me
preocupar com essa situação.
— Devo apenas informar que você é minha namorada. Nada além.
— Ele está certo, Samantha. — Agora é a vez de Gaia concordar com o
irmão. — Minha mãe tem cisma com esse tipo de relacionamento de vocês por
causa do meu pai. Ele era um sem-vergonha, não posso omitir que adorava se
envolver com funcionárias. Isso afetou a minha mãe profundamente.
— O que não é o meu caso. — Rapidamente Zander se defende. — Nunca
me envolvi com funcionária e sequer olhei para alguma com desrespeito. Exceto,
no caso de Samantha. — Ele prende os olhos nos meus e vejo uma explosão de
luxúria em seu olhar. — Infelizmente ela me conquistou desde que surgiu na
minha frente.
Sinto como se eu fosse um sorvete e estivesse derretendo sem controle.
— É... pelo jeito nada abala esse relacionamento. Parabéns aos enamorados.
— Gaia nos felicita.
— Agora podemos comer a sobremesa? Eu terminei de comer. — Alex
chama a nossa atenção. — Ainda estou com fome.
Não resistimos e sorrimos dele, a sua interrupção foi muito bem-humorada.
— Claro que podemos pedir, basta escolher o que deseja. — O tio dá carta
branca para ele.
— Legal!
Depois de tanto nervosismo, finalmente relaxo e me dou o direito de comer
uma sobremesa repleta de chocolate. À noite, perco cada grama de calorias com
o meu lindo namorado. Faço questão que ele durma comigo hoje. Preciso
retribuir todas essas declarações apaixonadas.
Agora que o almoço acabou, estou me sentindo leve. Ter Gaia tão aberta ao
nosso namoro é um bom início. Sei que não será tão fácil quando chegar o
momento de contar para a mãe dele, mas vou deixar para me preocupar quando o
momento chegar.
— Mais calma? — Zander leva a minha mão aos lábios.
— Estou. — Não vou mentir. — Ao menos vou poder contar com o apoio
da sua irmã.
— Não se preocupe com a minha mãe, ela vai reclamar, mas depois
esquece.
— Não teria tanta certeza.
— Relaxa, querida. — Ele beija o meu rosto no exato momento que o táxi
para na frente do prédio da empresa. — Vamos embora.
Ele me ajuda a descer e começamos a seguir para a entrada do prédio.
Apesar de termos combinado de não nos tocarmos na frente de outras pessoas,
ele mantém a mão na base da minha coluna.
Não quero provocar uma discussão quando estamos em um momento tão
bom, mas fico preocupada que alguém comece uma fofoca por causa desse
toque.
— Zander. — A voz da Vanessa interrompe nossos passos.
— O que está fazendo aqui? — Fico em estado de alerta com o medo de um
possível escândalo.
— Precisamos conversar. — Ela fixa o olhar na mão dele nas minhas
costas. — Mas tem que ser só nós dois, sem a sua amante.
Abro a boca em choque por ela ter a audácia de me chamar de amante. Eu
vou matar essa vagabunda.
— Desde quando estou comprometido com alguém para ter amante? —
Zander responde sem alterar a voz. — Se quiser falar comigo marque um
horário, no momento tenho trabalho a fazer.
— Vai trabalhar fodendo essa piranha? É por isso que não tem tempo para
mim? — Olho ao redor com medo de alguém ter ouvido.
— Presta atenção. — Ele se aproxima dela com o rosto completamente
retorcido de raiva. — Veja bem como fala da Samantha. Eu já te disse que não
admito que façam qualquer tipo de depreciação ao nome dela.
— Falo como quiser, você não manda em mim. — Sem medo ela o desafia.
— Realmente não mando. — Ele abre um discreto sorriso. — E muito
menos sou obrigado a escutar suas besteiras. Não perca mais seu tempo me
procurando.
— Não pode fugir de mim, precisamos conversar.
— Adeus, Vanessa. — Ele volta a me tocar.
— Vocês nunca vão ficar juntos... Nunca! — Ela decreta quando
começamos a nos afastar.
Olho para o Zander, esperando por sua resposta, mas ele apenas segue em
frente até que entramos no elevador. Fico em silêncio, esperando que diga algo,
mas ele não faz nenhum comentário.
Quando achegamos ao escritório, Cristina já está presente e, pela expressão
no meu rosto, percebeu que algo está acontecendo.
— Você está bem, Sam? — Cris questiona sem se importar com a presença
do chefe.
— Ela não está, mas não é nada demais. — Zander responde por mim. —
Pode trazer um pouco de água para ela? Leve ao meu escritório, por favor.
— Tudo bem, senhor. — Cristina segue para a copa.
— Vamos até a minha sala. — Sigo ao lado dele sem dizer nada, ainda
estou com as palavras da Vanessa gritando na minha mente. — Você está bem?
— Ele segura o meu rosto e vejo em seus olhos toda a sua preocupação.
— Eu vou ficar. Só fiquei um pouco assustada com a raiva dela.
— Vanessa sempre foi passional, não fique preocupada.
— Ela me pareceu bem ameaçadora. Eu não confio em mulher que se sente
traída.
— Conheço a peça, ela só quer perturbar.
— Com licença. — Cris aparece com um copo de água.
— Obrigado, Cristina. — Zander pega o copo. — Se por ventura alguém
aparecer peça para esperar, preciso de alguns minutos a sós com a Samantha.
— O.K. — Ela acena e sai da sala.
— Beba um pouco, você está tão pálida. — Pego o copo e tomo um longo
gole.
— Fiquei com medo de ela fazer um escândalo e todo mundo descobrir que
estamos juntos.
— Uma hora as pessoas terão que saber sobre nós.
— Eu sei, mas não quero que seja agora. — Ele enruga a testa. — O que
foi?
— Nada. — Ele prende os lábios demonstrando irritação. — Pare de se
preocupar com a Vanessa, ela gosta de chamar a atenção.
— Você está subestimando essa mulher. A raiva nos olhos dela e na maneira
que falou que nunca vamos ficar juntos, não me pareceu ser de alguém que
deseja apenas chamar a atenção.
— Sam, pare de ser neurótica. A Vanessa só quer me atormentar. Daqui a
pouco ela acha alguém e esquece que um dia me conheceu.
Fico pensativa. Ainda estou impressionada com a raiva embutida na voz
dela. Talvez seja até cisma, mas não confio nada nessa mulher.
— Tudo bem. — Opto por não causar uma discussão entre nós. — Vou
voltar a trabalhar para ocupar a cabeça.
— Isso mesmo. — Ele me abraça e encosta os lábios nos meus. — Hoje
tem aquele encontro no fim da tarde, não vou voltar ao escritório, você e a
Cristina podem ir embora assim que chegar o fim do expediente.
— Certo. — Gosto de saber que não vou fazer hora extra.
— Mais tarde passo na sua casa.
— Leva o jantar. — Hoje não estou com disposição para fazer nada.
— Não se preocupe. — Ele segura os meus ombros e gira o meu corpo na
direção da porta. — Agora vá trabalhar, não é porque você é gostosa que eu vou
facilitar a sua vida. — Recebo um tapa na bunda que me deixa elétrica.
— À noite eu acerto as contas com você. — Saio da sala sem dizer mais
nada, e programo o castigo que darei para esse abusado.
CAPÍTULO 31
Samantha
Eu não gosto de mentiras, mas dessa vez tive que inventar uma. Não é nada
demais, na verdade, só estou evitando uma discussão desnecessária com o
Zander.
Essa semana nós brigamos por vários motivos. Ele anda ranzinza demais
fechando os detalhes da negociação com o Enzo Parise. E por morrer de ciúmes
do homem, evita que as reuniões sejam na empresa. Nunca imaginei que ele
fosse um homem ciumento, não posso tocar no nome do bonitão, que ele vira um
leão raivoso.
Nós brigamos também por ele ficar até tarde trabalhando e me obrigando a
fazer hora extra. A Cris até gosta de ficar em alguns dias, mas não em todos,
nem ela que precisa de uma grana a mais, está aguentando.
Zander esquece que as pessoas precisam ter vida social, só ele que parece
plugado 24 horas no trabalho.
Por isso eu decidi ter meu momento de rebeldia e aproveitei o meu dia de
MBA para me divertir sozinha, sem ele falando sobre trabalho o tempo todo. O
grande problema é a minha companhia, se Zander descobre que vou tomar uma
bebida com o Morales, estarei completamente enrascada.
— Oi. — Sorrio quando me aproximo da mesa que o Morales me espera. —
Desculpa o atraso.
— Não demorou tanto. — Ele me cumprimenta com um beijo. — Como
você está?
— Cansada. — Desabo na cadeira a frente dele. — Essa semana foi tensa,
estou exausta.
— Seu chefe é um tirano.
— Não posso negar essa verdade. — Concordo.
— O que vai beber?
— Hoje está quente, quero uma caipirinha.
— Ótima pedida.
Ele ergue a mão para o garçom e faz o meu pedido. Estou me sentindo uma
criminosa por ter vindo a esse encontro sem contar ao meu namorado. Nunca
mais faço isso, não é justo mentir para ele.
— Eu estava com saudades dos nossos encontros, você é a melhor
companhia que existe para relaxar.
— Não posso negar o quão divertido são nossas baladas. — Respiro fundo
e decido contar para ele que não poderemos mais nos encontrar com tanta
frequência. — Morales, eu preciso te falar uma coisa.
— Eu também. — ele diz todo animado. — Fechei um contrato incrível na
Ásia, em poucos meses irei exportar uma grande quantidade de tecidos.
— Nossa, meus parabéns. — Fico verdadeiramente feliz.
— Isso me leva a proposta que quero fazer.
A minha bebida chega. O que interrompe momentaneamente o que ele ia
falar. Espero o garçom se afastar e tomo um pouco da caipirinha.
— Que proposta?
— Quero que venha trabalhar comigo. Preciso que assuma um cargo de
gerência no Escritório Central. Vou ficar alguns meses fora e só posso fazer isso
se eu souber que tenho alguém de extrema confiança na empresa.
Fico de queixo caído com a proposta dele. É tudo o que sempre sonhei. O
problema é que o convite veio em um momento complicado.
— Estou lisonjeada com o seu convite, é uma grande oportunidade.
— É a sua oportunidade, Samantha. — Ele fala com empolgação. — E você
ainda tem o bônus de se livrar do Saramago.
— Bem... — Solto um pigarro antes de confidenciar que estou namorando o
meu próprio chefe. — Sobre o Zander, eu preciso te contar algo.
— O que seria? — ele aperta os olhos como se já adivinhasse o que irei
contar.
— Nós estamos juntos e... — Fico sem saber o que falar.
— E ele ficaria puto se você viesse trabalhar comigo. — Ele completa o
que eu ia falar.
— Na verdade ele ficaria ensandecido.
— Entendo. — A expressão dele fica dura. — Eu já sabia que ele gostava
de você. No entanto, eu acreditava que você fosse mais esperta e não cairia nos
encantos dele.
— O que está querendo dizer? — A maneira como ele diz que não sou
esperta me ofende.
— Só estou querendo dizer que o seu namorado tem uma lista imensa de
conquistas.
— Você também tem. — Sinto-me na obrigação de defender o Zander.
— Tenho sim, não vou negar, mas nunca seria capaz de me envolver com
você como se fosse mais uma conquista. — O rumo da nossa conversa não me
agrada.
— Morales, eu não estou procurando um casamento. Sei das conquistas do
Zander, e isso me faz ter os pés no chão.
— Espero de verdade que saiba o que está fazendo. — A voz dele tem uma
nota de pesar. — Mas compreendo que não possa trabalhar comigo.
— Quem disse que não posso? — Ele me olha interrogativamente. — Se o
nosso relacionamento realmente seguir em frente, não quero permanecer na
empresa, ainda que ele me mude de cargo como já comentou que faria.
— O que está querendo dizer, Samantha? — Faço uma pausa antes de
responder.
— Você me dá um tempo para pensar?
— É claro que sim. — Ele abre um largo sorriso. — Mas e o seu...
namorado? Ele não vai gostar de saber que pode ir trabalhar comigo.
— Não posso fazer tudo o que ele quer. Preciso pensar na minha vida
profissional.
— Concordo, mas também não quero ser uma fonte de desentendimento
entre vocês. — Essa declaração dele é uma piada.
— Morales, pode parar. Você é uma fonte de briga entre nós desde que nos
conhecemos. — Ele não resiste e sorri. — Agora vamos jantar, estou morrendo
de fome.
— É você quem manda, Sam.
Ele ergue o braço e chama o garçom. Em seguida começa a me contar as
aventuras que passou na Ásia para conseguir comer algo que agradasse o seu
paladar.
Quero fazer uma surpresa para Sam nesse sábado à noite. Essa semana nós
ficamos tempo demais brigados e quero aproveitar ao máximo esse nosso
momento de entendimento.
Agora que dei o meu recado para o Morales, estou me sentindo mais
tranquilo. Acredito que ele tenha entendido que Samantha não depende dele para
nada.
Essa proposta de emprego dele é um absurdo. Ainda que ela não queira
trabalhar comigo, sou completamente capaz de arrumar um cargo para ela em
outra empresa que não seja a dele.
— Oh, meu Deus! — escuto Sam exclamar quando percebe que estamos
caminhando para o restaurante onde o Francisco trabalha. — Estamos indo
encontrar o Chico?
— Ele está reclamando que voltamos de viagem e não aparecemos.
— Você contou para ele sobre nós? — ela pergunta animada.
— Não precisei contar. Eu vim tomar um drinque e bem... — Deixo o resto
da confissão no ar.
— E o quê? Conta. — A animação dela me faz sorrir.
— Ele viu a minha cara de felicidade e soube o que aconteceu.
Assim que paramos na porta do restaurante, ela puxa o meu braço e me faz
encará-la.
— Você está realmente feliz comigo? — Os olhos dela brilham.
— E por que não estaria? — Toco o seu rosto. — Depois de dois anos de
sofrimento, tenho comigo a mulher que virou a minha vida de pernas para o ar.
— A emoção nos olhos dela faz o meu coração acelerar. — Você me faz tão
bem, não desejo mais nada nesta vida do que você. — Abaixo o rosto para beijá-
la.
O sorriso dela é um presente inestimável. Quero passar a vida colocando
essa alegria em seus lábios.
— Vem, vamos entrar. O Chico está com saudades de você.
— Eu também estou. — Ela entrelaça os dedos aos meus e me segue para
dentro do restaurante.
Francisco acena assim que nos aproximamos. Ele nos examina com atenção
e o sorriso largo indica que ele está satisfeito com o que vê. Depois de tanto
encher os ouvidos dele com minhas lamúrias sobre Sam, ele deve estar aliviado
em saber que nunca mais escutará meus lamentos.
— Que honra os receber aqui. — Chico estende a mão para Sam. — Estava
com saudades de você, garota.
— Eu também. — Chico aproveita para beijá-la.
— Pega leve. — reclamo com ele.
— Com medo da concorrência? — O sem-vergonha debocha.
— Não da sua. — Ajudo Sam a sentar.
— Vão beber o de sempre?
— O que vai querer? — pergunto enquanto me acomodo ao lado dela.
— Faz um drinque legal, Chico.
— Pode deixar. — Ele me encara exibindo um sorriso zombeteiro. — E
você, chefe, o que vai querer?
— O de sempre.
Sem esconder o sorriso implicante, ele vai pegar nossas bebidas. Esse
Francisco sabe ser um pé no saco.
Olho para Sam e vejo o brilho da felicidade estampado em seu rosto. Ela
fica ainda mais bonita quando irradia toda essa alegria. E o melhor de tudo é
saber que eu sou o pivô de toda essa satisfação.
— Feliz? — Estico a mão e enrolo uma mecha do seu cabelo no dedo.
— E como não estaria? — Ela se inclina e roça os lábios aos meus. — Eu
tenho o namorado mais lindo desse mundo.
— Posso gravar? Preciso ter isso registrado para usar quando você me
xingar.
— Se começar de bobeira te xingo agora mesmo.
A sua ameaça me faz sorrir, como essa mulher é brava. Fico louco quando
ela me afronta.
Chico volta com as nossas bebidas e conversa alguns segundos com a
Samantha. A interação entre eles me deixa contente. Francisco é um amigo
muito especial e me conhece muito bem. Saber que ele aprova o meu
relacionamento com Sam, é uma espécie de sinal que escolhi o caminho certo.
Passamos um bom tempo no bar, trocando um papo descontraído, até que a
fome aperta e decidimos jantar.
Sam está falante e mesmo na hora de escolher o que pedir, ela não para de
falar. A felicidade dela me anima, e fico contente em saber que escolhi o
programa certo para fechar o nosso sábado.
CAPÍTULO 34
Samantha
Essa semana está sendo uma verdadeira correria, Zander está atravessando
uma série de reuniões para fechar os últimos detalhes da parceria com a empresa
do Enzo Parise. Ele está todo empolgado, não para de falar sobre o assunto nem
por um segundo.
Estou muito feliz por ele, sei o quanto será importante ter os produtos
Parise nas lojas Kariokas. Os dois certamente irão lucrar muito quando
começarem as vendas dos produtos.
— Daqui a pouco a reunião do chefe vai começar, tenta não o provocar
Samantha, hoje ele está de mau humor. — Cristina chama a minha atenção.
— O que está querendo dizer? — Fico ofendida. — Eu sei me comportar.
— Nós duas sabemos que você não se comporta. Sei que o senhor Parise é
escandalosamente bonito, mas você não precisa demonstrar que acha ele
atraente.
— O que é isso? Você pegou o espírito do Zander? — Agora estou
indignada.
— Estou falando sério, não provoca a fera. — Antes que eu responda, ele
abre a porta.
— Cristina, assim que o senhor Parise chegar quero que venha até a minha
sala. Você vai ficar responsável por anotar tudo o que eu precisar.
Olho, para ele incrédula. Sou eu a responsável por acompanhar todas as
reuniões. O que esse imbecil pensa que está fazendo?
— Posso saber o motivo de ter sido excluída da reunião? — Estou fervendo
de raiva.
— Em breve você irá seguir seu caminho, quero preparar a Cristina o
quanto antes para ser a minha principal secretária. Essa reunião será um bom
teste para ela.
Fico sem argumentos com a justificativa dele. Apesar de querer muito
participar desse momento, sei que preciso abrir caminho para a Cris.
— Você tem razão. — Por fim respondo. — Cris precisa aprender o que
fazer quando eu não estiver por aqui.
— Exatamente. — Ele acena e fecha a porta.
— Estou nervosa. — Ela olha para mim apavorada.
— Relaxa, você vai tirar de letra.
— E se eu fizer alguma besteira?
— Você não vai. — Sigo para a mesa dela e seguro a sua mão. — Eu confio
em você, sei que vai impressionar o tirano do nosso chefe.
— Não fala assim dele, vai que esteja ouvindo atrás da porta? — Sorrio do
pensamento dela.
— Pode ter certeza que ele vai superar o trauma de me ouvir chamá-lo de
“tirano”.
Decido passar para ela tudo o que precisa fazer em reuniões como a que
participará. Passo dicas para anotar rapidamente o que o chefe pedir e o que deve
fazer nos momentos que as coisas esquentarem. Cris escuta tudo com atenção e
me faz perguntas pontuais.
Passamos um longo tempo conversando, até que somos interrompidas com
a presença deslumbrante de Enzo Parise e seu advogado.
O homem é um escândalo. A cada encontro que tenho com ele, fico com a
sensação que não é real. Eu não sei o que esses homens poderosos têm, mas esse
jeito seguro que eles olham ao redor, é sexy pra caramba. Quando o Zander faz
esse olhar de superioridade, eu fico excitada.
— Como vai, senhor Parise? — Cumprimento o bonitão tentando não sorrir
demais.
— Estou ótimo. — Ele repuxa os lábios com sensualidade e me faz babar.
Hoje ele veste um terno cinza, com uma gravata lilás, que só não chama
mais a atenção do que ele. Sua barba está perfeitamente aparada e a aliança
gigante na sua mão deixa bem claro que todo esse pacote de perfeição tem dona.
Como eu queria colocar uma aliança dessas na mão do Zander, só assim eu
teria um pouco de sossego com relação as atrevidas que vivem esticando os
olhos na direção dele.
— Cristina, leve o senhor Parise até o chefe.
Ela levanta atrapalhada e cumprimenta rapidamente os dois homens
enquanto caminha até a porta do Zander para anunciar seus convidados.
Essa mulher precisa acalmar os nervos, ou vai acabar levando um puxão de
orelha do chefe.
Quando os dois entram, faço sinal para ela se calmar e desejo sorte. Quero
muito que ela consiga me substituir, Cristina merece essa promoção. Certamente
esse aumento no salário será mais que bem-vindo no orçamento dela.
Como não tenho muito o que fazer, decido fuxicar as minhas redes sociais.
Quero me distrair um pouco enquanto espero a reunião acabar. Se eu ficar
imaginando o que está acontecendo lá dentro, vou ficar louca.
Estou tão distraída vendo as fotos do aniversário de uma conhecida, que
não percebo a chegada da víbora da Vanessa. Quando noto a sua presença, ela
está parada bem perto da minha mesa, com um olhar furioso.
Que mulher sem noção. Depois de tanto tempo, ela ainda cisma que tem
alguma chance com o Zander. Ele até bloqueou o número dela no celular, mas a
megera não se deu por vencida e arrumou outro número para tentar falar com
ele. Novamente foi bloqueada e, pelo jeito, agora ela decidiu que precisa
aparecer fisicamente para perturbar o nosso juízo.
— O que você quer Vanessa? Até onde sei não tem hora marcada e não é
bem-vinda aqui.
— Você está se achando a dona do pedaço, não é? Acredita realmente que
ficará com o Zander? Você está iludida a esse ponto?
Eu não acredito que estou tento esse tipo de discussão com essa mulher.
— Eu não acredito em nada querida. Agora pode ir, já deu o seu show.
— Não me dê ordens. — ela grita e me deixa apreensiva. Se essa louca
perder o controle, pode atrapalhar a reunião.
— Vanessa, você está em um ambiente de trabalho, modere sua voz.
— Eu falo como quiser. — A voz dela é aguda. — Largue o meu homem ou
eu vou acabar com você. O Zander é só meu. Jamais ficará com ele.
Fecho os olhos para tentar encontrar um pouco de paciência. Se eu não me
controlar, coloco essa louca para fora a base de tapas.
— Para de fazer escândalo, isso não vai trazer o Zander de volta. —
Levanto e dou a volta pela mesa, pronta para pegar essa infeliz e chutar o seu
traseiro. — Se quer realmente conquistá-lo, aprenda que fazer uma cena no
trabalho dele só vai afastá-lo ainda mais.
— Não me diga o que fazer sua vagabunda. — Ela avança sobre mim e só
tenho tempo de erguer os braços para tentar me defender.
Vanessa está completamente desesperada, ela perdeu todo o bom senso.
Essa mulher precisa urgentemente de uma camisa de força.
Bloqueio os ataques dela e a empurro com força, ela cambaleia para trás e
volta a avançar sobre mim. Juro por Deus que não quero machucá-la, mas se tem
uma coisa que aprendi nos meus tempos de rebeldia, é bater sem dó em vadias
como ela.
— Que merda está acontecendo aqui? — A voz do Zander soa justamente
no momento em que acerto um tapa certeiro no rosto dela. — Vanessa saia de
perto da Samantha.
Em pouco tempo tenho o Zander sobre mim e o bonitão do Enzo segurando
a Vanessa. Ela se debate um pouco, mas quando nota a presença estonteante do
homem que a segura, se joga sobre ele chorando.
Que cretina!
— Essa mulher me agrediu. — Ela diz ao Enzo. — Se vocês não
chegassem, não sei o que seria de mim.
— Eu vou depenar essa galinha. — Tento me soltar, mas Zander imprime
força na sua pegada.
— Segurança. — ele grita e um dos seguranças finalmente aparece.
Onde esse imbecil estava que não veio ao meu socorro antes?
— Leve a senhorita Vanessa embora daqui e avise ao seu responsável que a
entrada dela na empresa está expressamente proibida.
— Sim, senhor. — O homem segura a Vanessa e a arrasta para fora
enquanto ela grita que vai se vingar de mim.
Adeus discrição no meu relacionamento com o Zander. Depois desse show,
todos da empresa saberão que estamos juntos. Os boatos que começaram a se
formar, agora ganharão força.
— Quem é essa mulher? — Enzo pergunta enquanto a observa ser arrastada
pelo segurança.
— A ex-namorada louca dele. — digo com raiva. Estou possessa porque
não pude acabar com aquela vaca.
— E por que ela estava com tanta raiva de você? — Com sensualidade,
Enzo ergue as sobrancelhas e me sinto intimidada com o seu olhar inquisidor.
— Samantha é minha namorada e Vanessa não se conforma com o nosso
rompimento. — Zander responde por mim e acabo me sentindo muito feliz por
ele não se importar em revelar o nosso namoro.
— Hummm... tenham cuidado com ex-namorada, eu tive uma que me
arrumou um grande problema com a minha esposa. — Ele olha entre nós e sorri.
— Vocês formam um belo casal, estão de parabéns.
— Sabemos disso. — Zander me abraça. — Samantha é a mulher da minha
vida. — Olho para ele em choque. Será que eu ouvi direito? — Vamos retornar a
reunião, agora que o escândalo acabou.
— É claro. — Enzo concorda e quando vai passar por mim me encara. —
Onde aprendeu a bater tão bem?
— Na escola. — Ele prende os lábios tentando não sorrir.
— Que boa escola... — Com uma piscadinha discreta, ele volta para a
reunião, juntamente com o seu advogado e da Cris que apenas observaram todo
o escândalo.
— Tudo está tão bonito. — Cristina parece um peixe fora d’água, ela está
encantada com a festa.
Agora que é a secretária oficial do grande chefão, ela vai ter que se
acostumar com esses eventos. Zander sempre convida a secretária para
confraternizar nas festas de negócios da empresa.
— Realmente o evento é de uma elegância única.
— Sam, eu não sei como agir em lugares tão elegantes.
— Claro que você sabe, sua elegância é natural. Na dúvida sorria, isso
causa simpatia espontânea. — Cris sorri com o que falo. — Tá vendo, é disso
que estou falando. Sorria sempre.
— O que vai ser de mim sem você? — Ela segura a minha mão.
— Para de ser dramática, você tá parecendo com o seu chefe. Se tiver
alguma dúvida só ligar.
— E você, vai aceitar mesmo a proposta do Morales?
— Ainda não sei, tenho um amigo do Zander que me ofereceu uma vaga de
executiva na empresa dele. Semana que vem vou fazer uma entrevista e também
recebi um convite do senhor Parise para conversar com um amigo dele. Graças a
Deus tenho várias opções.
— Que bom. Sei que aonde for será um sucesso. — Ela me abraça
emocionada.
Vou sentir falta da Cris, mas sei que a nossa amizade irá sobreviver a
distância.
Aproveito para levá-la até o bar e pegar uma bebida. Minha amiga precisa
de um drinque para relaxar. No meio do caminho, acabamos sendo interrompidas
pelo Morales.
Ai meu pai eterno, Zander vai ter uma síncope se por acaso vê-lo perto de
mim. Estamos em um clima tão bom, não quero que ele se aborreça.
— Samantha, como é bom te ver. — Ele me abraça.
Eu gosto tanto dele, mas enquanto eu não colocar na cabeça do meu
adorável namorado que o Morales não é um concorrente, não posso me dar ao
luxo de deixá-lo me agarrar como está fazendo agora.
— Também estou feliz em te ver. — Tentando não o aborrecer, me afasto.
— Como você está?
— Indo... — Ele enruga a testa, percebendo o meu movimento. — Como
vai Cristina?
— Muito bem, senhor Morales. — Cris é tão formal com todo mundo. No
fundo eu deveria ser assim, mas desde que vi o Morales, nunca consegui chamá-
lo de senhor.
— Seu namorado deu um golpe de mestre, fechou uma parceria incrível.
— Ele é bom nos negócios, igual a você. — Tento ser agradável para
compensar
— Na verdade ele é mais esperto. — Ao longe avisto o Zander e percebo
que estou em apuros.
Não posso permitir que faça um escândalo na festa, hoje é um dia muito
importante para ele.
— Depois converso com você com calma, preciso levar a Cris no bar. —
Seguro na mão dela querendo escapar dele.
— Vou com vocês. — O Morales me leva ao desespero.
Encaro a Cris em busca de socorro, mas ela apenas me olha igual uma
pamonha. Que mulher lenta, não consegue nem inventar um mal súbito para me
tirar dessa furada.
Sigo para o bar com o Morales no meu encalço. Que Deus me ajude e não
permita que Zander faça um show.
— O que vão querer beber meninas? — ele pergunta quando chegamos ao
bar.
— Samantha! — A voz do Zander paralisa a minha resposta.
— Oi. — Sorrio para ele bem meiga. — Tá precisando de algo? — Finjo
que nada está acontecendo.
— Preciso que se afaste desse cretino. — Ele me puxa pela cintura. —
Morales, o que pensa que está fazendo cercando a minha mulher?
— Casaram-se? Não sabia. — Ai senhor, por que o Morales não se
comporta?
— Olha aqui seu... — Coloco a mão sobre o peito do Zander para impedi-lo
de perder alinha.
— Zander, para. — Ele me olha enraivecido, mas se cala. —Morales, faz
um pouco de companhia a Cris, ela está nervosa. É o primeiro evento dela como
a nova secretária do Zander.
— Secretária? Você não trabalha mais para ele? — Um discreto sorriso se
espalha por seu rosto. — Vai largá-lo para trabalhar comigo? — A alegria nos
olhos dele quebra meu coração. — Pensei que ele tinha te convencido a não
trabalhar na minha empresa. Depois do encontro desagradável que tive com seu
namorado, eu jurei que ele ia te arrumar outro emprego.
— Encontro? Que encontro? — Olho para o Zander e o observo afrouxar a
gravata, claramente incomodado com a confissão do Morales. — Quando
encontrou com o Morales? Por que não soube disso?
— Ele me chamou para almoçar. Tentou me intimidar para que eu me
afastasse de você. E disse que você jamais trabalharia na minha empresa.
Sinto o meu sangue ferver com essa revelação. Não posso acreditar que o
Zander se meteu na minha vida assim.
— Você foi intimidar o Morales? É isso mesmo? — Ele prende os lábios e,
antes que me responda, sei que tem culpa no cartório.
— Que papelão, Morales. Você está querendo destruir o meu namoro
fazendo fofoca? — Zander ignora minha pergunta. — Sempre soube que você
era um pilantra.
— Não fuja do que falei. — Puxo o braço dele.
— O que está acontecendo aqui? — Fecho os olhos quando ouço a voz da
mãe dele. — Vocês estão brigando em um evento? As pessoas já estão olhando.
— Por que a senhora não vai tomar conta da própria vida?
Ela coloca a mão sobre o peito se fazendo de ofendida. Que mulher
insuportável. Na hora de me falar desaforo, vem com toda autoridade, mas
quando é a minha vez, faz essa cara de vítima.
Cobra!
— Samantha, você está passando dos limites. — Recebo uma recriminação
do Zander que me irrita.
— Quem passou dos limites aqui foi você e sua mãe intrometida. — Agora
a paciência se esgota. Estou cansada dessa chata e da prepotência desse cretino.
— Pra mim já chega! Cansei de você, do seu controle, da sua autoridade e da sua
mãe. Chega!
Perco o controle das minhas emoções. Se eu tivesse bebido hoje, colocaria a
culpa na bebida por estar me sentindo como um vagão de trem saindo da linha.
Avanço pelo meio das pessoas rumo à saída. Preciso de ar puro e distância
do Zander. Se eu passar mais um minuto ao lado dele, vou acabar falando muito
mais do que já disse.
Quando chego do lado de fora do evento, paro e respiro fundo. Preciso
desacelerar, ou vou ter uma crise nervosa de tanta raiva. Como o Zander pôde
intimidar o Morales? Porra! A vida é minha, ele não pode se meter assim. Como
podemos manter um relacionamento sem confiança? Ele precisar respeitar as
minhas decisões.
— Samantha, espera. — Sinto a mão dele no meu braço. — Você ficou
maluca de vez?
— Me solta! — Tento me desprender. — Eu estou com vontade de te matar.
Você não tinha o direito de se meter na minha vida assim.
— Você não percebeu que aquele filho da puta do Morales só queria que a
gente brigasse? Ele está louco para te roubar de mim.
— Não foi ele que mentiu para mim. — Estou cansada. — Por que não me
contou sobre o encontro que teve com ele? — Ele fecha os olhos demonstrando
o quanto está irritado.
— Eu... — A fala dele é interrompida com a surpreendente aparição da
Vanessa.
— Zander! — ela grita o seu nome. — Eu te odeio tanto. — Olho na
direção dela e sinto o meu corpo gelar. — Você me desprezou, ignorou todo o
amor que sinto por você.
A pressão da mão do Zander que ainda segura meu braço aumenta, quando
ele constata que a ex está segurando uma arma.
— Eu só queria você, nada mais. — Ela está completamente descontrolada.
— Mas você preferiu essa vadia. — Agora ela vira a arma na minha direção e
nesse momento só me lembro do meu pai.
Ele morreu covardemente a tiros na mão de uma assaltante e, pelo jeito, eu
vou seguir o mesmo caminho.
Pelo descontrole da Vanessa, ela vai cometer uma loucura neste instante.
— Vanessa, solta essa arma antes que você machuque alguém. — Zander se
manifesta.
— Meu Deus! — Ouço a voz da mãe dele ao fundo. — Alguém pare essa
mulher.
— Você nunca irá ficar com ela. — Vanessa diz aos prantos. — Você é só
meu. — Ela volta a virar a arma na direção dele. — Se não for meu, não será de
mais ninguém.
Quando ouço o som do disparo, algo se libera dentro de mim e empurro o
Zander com toda a força que tenho. Ele se desequilibra e sinto uma queimação
na lateral do meu corpo. A princípio fico estática tentando entender o que
aconteceu, até que percebo que devo ter levado um tiro.
O meu corpo fraqueja e ouço mais três disparos. Olho para o Zander e o
vejo me encarar com olhos arregalados. Ele me segura e diz alguma coisa, mas a
sua voz é distante, não consigo discernir o que está querendo me dizer.
Entro em pânico e sinto a minha garganta se fechar com ideia fixa de que
vou morrer. Mergulho na escuridão e a única coisa que consigo pensar é que
finalmente encontrarei o meu pai.
CAPÍTULO 36
Zander
Sei que não posso entrar em pânico agora, mas ver Samantha caída no meu
colo com uma mancha de sangue no vestido, não está me ajudando em nada.
Por Deus que assim que todo esse pesadelo acabar, eu vou matar Vanessa
com requintes de crueldade. Ela vai conhecer a minha fúria em breve.
— Sam, olha pra mim. — Seguro o rosto dela.
— Meu Deus! Alguém chama uma ambulância. — Cristina grita quando se
abaixa ao meu lado. — Ela está respirando?
— Eu não sei. — As lágrimas que tento conter, começam a escorrer pelo
meu rosto.
— Já chamei a ambulância. — Morales se aproxima e tira o terno. —
Temos que pressionar esse ferimento. Não sabemos se o tiro foi profundo. — Ele
embola a peça de roupa e pressiona no local onde Sam levou um tiro. — Quanto
menos sangue ela perder, será melhor.
Não digo nada, apenas assinto e olho o rosto pálido da minha garota. Ela
precisa ser forte, sem ela nada faz sentido.
— Eu te amo, querida, não me deixa. — Beijo a testa dela.
Uma confusão se instala ao nosso redor, mas eu só consigo prestar a
atenção em Sam. Ela está gelada e quando checo a sua respiração, percebo que
está muito lenta.
— A ambulância chegou. — Depois de um tempo, que me pareceu
interminável, Morales me informa a chegada dos paramédicos. — Você vai
precisar se afastar um pouco. — Olho para ele com raiva, não vou me afastar
nada.
— Não vou sair de perto dela.
— Só precisa abrir espaço para os médicos verificarem o seu estado. — Ele
aperta o meu ombro. — Vai ficar tudo bem.
— Senhor, afaste-se, por favor. — Um dos socorristas pede, assim que se
aproxima.
Olho para Samantha e quero muito dizer que não vou sair daqui, mas sei
que neste momento preciso que ela seja socorrida. Com muita dificuldade, eu me
afasto e fico me sentindo impotente enquanto observo a equipe do resgate
trabalhando para conter o sangue no local do ferimento.
— Meu filho. — Minha mãe me abraça aos prantos. — Pensei que fosse te
perder. Graças a Deus você está bem.
Um arrepio percorre o meu corpo com as palavras da minha mãe. Nunca
pensei que um dia sentiria ódio dela, mas agora me envergonho de ser seu filho.
— Samantha pode morrer. Como agradece algo a Deus? Está louca?
Ela me olha um pouco confusa e depois coloca a mãos sobre o peito quando
as minhas palavras parecem fazer sentindo.
— Zander, eu me expressei mal. — Ela segura o meu braço. — Desculpa,
mas é impossível não sentir alívio. — Por alguns segundos ela para de falar e
fecha os olhos. — Samantha entrou na sua frente para te proteger, eu vi tudo,
nunca conseguirei agradecer o que fez. Tenho certeza que ela vai ficar bem. Por
sorte Vanessa é ruim de mira, acertou sua namorada uma vez só, o resto dos tiros
foram direto para a parede.
Olho para a direção onde a minha mãe aponta e vejo três marcas de tiro.
Ainda bem que aquela infeliz não sabe atirar direito.
— Cristina sabe onde a mãe dela mora? — Não entendo a sua pergunta.
— Sabe por quê? — respondo intrigado com a sua pergunta.
— Vou pessoalmente com seu pai buscar a mãe dela. Fique com a sua
namorada e me avise para qual hospital foram. O mais rápido possível encontro
com vocês.
— Tudo bem.
Os médicos erguem o corpo da Sam e a levam para a ambulância. Sigo
junto, pois ninguém vai me afastar dela. Tenho certeza que nada de mal vai
acontecer, muito em breve nos lembraremos desse episódio como um momento
ruim das nossas vidas.
Olho para o rosto adormecido de Sam e sinto o meu peito tremer com a
lembrança do medo que senti de perdê-la. Sem ela sou incompleto, preciso de
toda a sua alegria na minha vida.
— Por que você é tão louca? — pergunto enquanto corro a mão pela massa
encorpada do seu cabelo. — Eu é que deveria estar nessa cama, não você.
Ainda não acredito que essa maluca se jogou na minha frente. Ela arriscou a
própria vida para salvar a minha. Nunca vou conseguir retribuir esse gesto de
amor.
Soube que Samantha era especial desde a primeira vez que bati os olhos
nela, mas nada me preparou para descobrir o quanto ela seria essencial na minha
vida.
— Quando você estiver plenamente recuperada, vamos fugir de tudo. Quero
você só para mim. — Beijo sua testa.
A mãe dela volta, junto com o filho e tira o meu momento de privacidade. A
minha vontade era ficar com ela o tempo todo, mas sei que preciso abrir espaço
para Noelli.
— Vou para a casa de Sam cuidar do Nap. Amanhã cedo tenho que ir a
delegacia, mas assim que terminar lá, eu venho para cá te liberar. — Já estou
lamentando me afastar.
— Não se preocupe, eu não tenho pressa de ir embora, quero ficar com a
minha filha.
— Queremos. — Não posso deixar de alertar que preciso do meu espaço.
— Se precisar de mim me ligue a hora que for.
— Vá em paz, Zander, ficaremos bem. — Ela se aproxima e me abraça.
Mesmo relutante, dou um último olhar para Sam e vou embora. Preciso
cuidar do bichano dela, se ela acordar e descobrir que o deixamos sozinho, a
confusão está formada.
Respiro fundo e sorrio quando entro na minha casa. Parece que tem um
século que saí daqui. Agora tudo o que desejo é um banho quente e a minha
cama.
“Miauuuuu”
Nap pula do sofá e corre na minha direção com o rabo branco erguido.
— Ahhh meu filho, vem aqui. — Faço menção de me abaixar, mas sinto
uma pressão na lateral do meu corpo.
— Sam, pega leve. — Zander apoia a mão nas minhas costas. — Você não
pode abaixar tão rápido.
— Quero pegar o meu gato.
— Você não pode pegá-lo por enquanto. — Ele se abaixa e interrompe os
movimentos do Nap na minha perna. — Fale com a sua mãe, garoto.
Nap roça o focinho no meu rosto e ronrona sem parar. Ele também sentiu a
minha falta.
— Você sentiu falta da mamãe, filho? — Acaricio o pelo dele. — Seu papai
tomou conta de você?
“Miauuu”
Ele mia alto, como se quisesse me dizer algum segredo. Como eu queria
que ele falasse, para me contar o que Zander andou aprontando na minha
ausência.
— Ele está muito bem, até teve a honra de dormir no meu colo.
— Cuidado com esse gato, você não pode se contaminar com esse pelo
dele. Evite que esse bicho suba na cama. — Minha mãe resmunga. — Você está
em recuperação, Samantha, tem que ter cuidado com bactéria.
— Para mãe. Eu não estou morrendo. — Odeio essa mania dela em querer
me colocar limites. — Sei o que faço.
— Você sabe o que faz? — Ela me encara indignada. — Se soubesse o que
faz não tinha entrado na frente de uma arma.
Olho para ela surpresa por dizer algo tão desagradável, principalmente na
frente do Zander. Assim ela vai deixá-lo se sentindo culpado por tudo o que
aconteceu.
— Que comentário é esse? — questiono irritada.
— Você entendeu. — Ela insiste em ser desagradável. — Vem ajudar a
mamãe a preparar o jantar, Maicon.
Olho para o Zander e vejo que ele está sem graça. A minha mãe é uma sem
noção.
— Esquece a minha mãe. — Tento deixá-lo mais confortável.
— Ela tem razão, você só está enfrentando todo esse transtorno por minha
causa. Ainda não tive tempo de te agradecer pelo o que fez. — Ele segura a
minha mão. — Mas quero que prometa que nunca mais cometerá esse tipo de
loucura.
— Eu faria tudo outra vez. — Toco o rosto dele. — Eu te amo e por você
mato e morro.
Ele me encara e pela primeira vez presencio lágrimas em seus olhos. Isso
me causa emoção, porque sei que Zander é um homem muito controlado.
Nós nos abraçamos e Nap acaba sendo espremido no nosso meio. Fico feliz
demais, porque vejo que estamos nos tornando uma família.
— Casa comigo? — Ele me pega de surpresa. — Preciso de você na minha
vida, quero saber que é minha mulher, a mãe dos nossos futuros filhos. —
Quando fito os olhos dele, sinto a emoção escorrendo em seu olhar. — E quero
esse gato chato com a gente. — Ele diz erguendo o Nap. — Podemos até
arrumar a senhora Napoleon para ele.
Agora eu não aguento e solto uma risada alta. Acho que o meu namorado
perdeu completamente o juízo.
— Nap é castrado, mas sobre o pedido de casamento, eu aceito agora. — A
cara de espanto dele é cômica.
— Você mutilou o bicho?
— O quê? — Agora estou confusa.
— Samantha, não se pode tirar a sexualidade do animal.
Ai senhor, agora o Zander vai superproteger Napoleon. Eu mereço!
— Não tirei sexualidade nenhuma, ele é macho. Só evitei dele ficar pelos
telhados dos vizinhos correndo risco de ser morto. Gatos quando estão no cio são
terríveis.
— Ainda assim é uma covardia. — Ele solta o Nap, que corre para a
cozinha atrás da minha mãe. — Vai se casar mesmo comigo?
— Claro. — respondo de imediato. — Eu te amo e quase morri por você,
não posso ficar sem suas chatices, a minha vida não faria sentindo.
Tadinho, eu estou pegando pesado com ele, mas é verdade. Zander é um
porre, mas eu o amo tanto, que chega a doer meu peito.
Apesar do meu insulto, ele sorri e coloca a mão no bolso da calça. Quando
ele tira uma caixinha preta de lá, meu coração dispara. Ahhhh... esse cretino vai
me dar uma aliança.
— Comprei antes de te pegar no hospital, não sei se vai dar no seu dedo,
mas fiz uma média pelos anéis que achei na sua caixinha de joias.
— Você bisbilhotou as minhas coisas? — Finjo estar chateada.
— Foi por uma boa causa. — Ele segura a minha mão, e desliza pelo meu
dedo uma aliança linda. Acho que não vou ser capaz de manter esse treco no
meu dedo. — Ficou perfeita.
Ergo a aliança e admiro a peça no meu dedo. Só posso estar sonhando, não
acredito que acabei de ficar noiva do meu chefe insuportável.
— Você comprou a sua?
— Aqui. — Ele coloca na minha mão uma aliança idêntica a minha.
— Agora, senhor Saramago... — digo enquanto admiro a aliança no dedo
dele. — Você não me escapa.
— E quem disse que quero escapar de você? — Ele segura o meu rosto. —
Sam, eu estou louco para ser seu desde que entrou no meu escritório. Naquele
dia, eu soube que estava fodido e tinha toda razão.
O meu coração explode de tanta alegria e me sinto a mulher mais feliz
desse mundo. Ele se inclina para me beijar, mas quando me segura pela cintura,
grito de dor.
— Jesus! — Zander exclama assustado. — Me perdoa, esqueci do seu
ferimento. — Tento controlar a vontade de chorar.
— Tudo bem, às vezes até eu esqueço dele.
Com delicadeza, Zander segura o meu queixo e deposita um beijo delicado
na minha boca, fazendo com que eu me derreta com o toque macio dos seus
lábios.
— Vocês podiam deixar de se agarrarem e cuidarem do gato? — Minha
mãe aparece na sala com o Nap no colo. — Não cozinho com bicho na cozinha,
ele está me incomodando.
Ignoro o comentário dela e ergo a mão para mostrar a minha aliança.
— Estou noiva! — Estou tão feliz, que a parte de estar me recuperando de
um tiro não me incomoda em nada.
— Ohhh... — Minha mãe olha surpresa para a aliança.
“Miauuu”
Nap solta um miado estridente e pula do colo da minha mãe. Ele se embola
entre as minhas pernas miando sem parar, depois segue para fazer o mesmo com
o Zander.
Esse gato entende tudo o que falamos, ele consegue captar cada momento
que passamos.
— Meus parabéns! Isso merece um jantar especial.
— Não exagere, eu estou doente, não quero confusão, mãe. — Se eu deixar
a minha mãe solta, ela apronta.
— Você come sopa, fica tranquila.
— Sopa? — Olho para ela intrigada. — E vocês comem o quê? — Ela faz
cara de quem vai aprontar.
— Nós vamos comer lasanha. — Arregalo os olhos com a audácia dela.
— Eu quero. — Já sinto água na boca.
— Querer não é poder, minha filha, você já tem um noivo lindo, não dá
para ter tudo.
Com esse elogio ao insuportável do Zander, ela se afasta e retorna para
cozinha. O sorriso de satisfação dele me irrita.
— Estou tonta, preciso deitar. — Aproveito da minha doença para fazer
cena, assim ele para de se achar demais.
— Você se esforçou muito meu amor, não pode ficar tanto tempo em pé. —
Ele apoia o meu braço ao dele. — Vem deitar, quando se recuperar eu te ajudo a
tomar banho, depois sua mãe faz seu curativo.
— É um bom plano. — digo dengosa. — Um suco seria bom, preciso me
hidratar.
— Tudo o que você quiser, meu anjo, basta pedir.
É... acho que a minha recuperação vai demorar a acontecer. Estou gostando
desse Zander submisso, vou mantê-lo nessa linha por mais tempo.
Hoje precisei prestar depoimento. Que coisa ruim, tive que repetir infinitas
perguntas. Pensei que nunca mais ia acabar. O pior foi saber que Vanessa já está
em liberdade provisória. Aquela vaca vai responder o processo em liberdade,
porque não tem antecedentes criminais, e a justiça deste país é uma merda.
Só em pensar que posso cruzar com ela em algum momento, já sinto um
calafrio. Mas Zander me garantiu que os pais dela irão interná-la em uma clínica
para se recuperar da depressão, que eles alegam que a víbora está enfrentando.
Espero que isso a afaste de nós e esqueça que existimos.
Escuto um burburinho e sorrio porque deve ser meu irmão que voltou da
padaria. Ele me enche de carinho, e Deus sabe o quanto estou carente.
— Sam, você tem visitas. — Zander aparece na porta do meu quarto.
— Visitas? — Fico surpresa com a informação, até onde sei, apenas terei a
família dele para um rápido jantar mais tarde.
— Você vai gostar. — Ele se aproxima e me ajuda a levantar.
— Não vai me dizer quem é? — pergunto curiosa enquanto caminho pelo
corredor que dá para a sala.
— Por que tenho que falar se você já vai saber? — Ele sorri e quando entro
na sala, fico surpresa em presenciar quem me espera.
Abro um largo sorriso ao ver o Morales no centro da minha sala, junto da
Cris e do Francisco. Por algum motivo me emociono e tento controlar as
lágrimas.
— Eu não tenho palavras para dizer o quanto é bom te ver. — Morales se
aproxima e beija a minha testa antes de me abraçar. — Todos nós estávamos
preocupados com você.
— Obrigada por tudo o que fez por mim, o Zander me contou.
— Faria tudo novamente, você é uma amiga muito especial. — A maneira
como ele frisa a palavra amiga, me deixa curiosa.
— Eu fiquei tão preocupado com você. — Francisco segura a minha mão.
— Ainda bem que o Zander me contou quando você já estava vindo para casa.
— Foi só um susto, em breve irei te visitar no restaurante. Quero alguns
drinques por conta da casa. — Ele sorri.
— Você terá quantos quiser.
Sorrio me sentindo muito feliz por ele estar aqui. Francisco é muito
especial, ele é aquele tipo de pessoa que você não convive constantemente, mas
sabe que sempre vai estar ao seu lado.
— Você está corada, acho que os cuidados da sua mãe estão fazendo efeito.
— Cris se aproxima e me ajuda a seguir para o sofá. — Com todos esses mimos,
você vai se recuperar depressa. É bom que você volta a trabalhar rápido. —
Sorrio com o seu comentário, como eu gostaria de retornar a minha vida normal
o quanto antes.
— Não se preocupe, Cris. Quando você menos esperar, eu estarei entrando
naquele escritório.
— Que assim seja! — ela diz assim que me sento no sofá.
Fim
LIVRO FÍSICO EM BREVE PELA
EDITORA ALLBOOK.