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©Acta Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão
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A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos resumos e textos
completos são de exclusiva responsabilidade dos autores.
Semestral
ISSN Impresso: 1982-422X | ISSN Eletrônico: 2236-1774
1. Ciências Agrárias 2. Tecnologia de Alimentos 3. Educação
4. Meio Ambiente.
I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
II. Título.
CDU: 37.015:631:641.13
Instituto Federal de Educação, Editora Chefe
Ciência e Tecnologia do Maranhão Flávia Arruda de Sousa
Design Editorial
Luís Cláudio de Melo Brito Rocha
Tecnologia da Informação
José Maria Ramos dos Reis
Documentação e Normalização
Michelle Silva Pinto
EDITORIAL
A Acta Tecnológica é uma revista do Instituto Federal do Maranhão que publica e divulga
pesquisas realizadas em educação, em ciência e em tecnologia. O lançamento de exemplar
de uma revista científica é sempre salutar dentro do meio acadêmico, pois divulga resulta-
dos de pesquisas e desenvolvimento tecnológico nas mais variadas áreas do conhecimen-
to e assim, cumprimos nossa finalidade de promover resultados de pesquisas realizadas e
desenvolvidas dentro da academia.
Neste volume 1 referente ao ano de 2017 em especial, publicamos trabalhos nas áreas das
ciências exatas e da terra: “Análise numérica do escoamento e dos coeficientes aerodinâ-
micos em aerofólios sem e com a utilização de flaps plain”; ”Comportamento hidrodi-
nâmico de um reator uasb e análise do tempo de pico”; “Estudo numérico da convecção
natural em uma placa plana vertical via fluidodinâmica computacional”; “Otimização da
segurança em canteiros de obras utilizando veículos aéreos não tripulados (vants) com
controle de voo via arduino yun”; nas áreas das ciências agrárias e biológicas: “Protótipo
de um sistema de irrigação baseado em iot para pequenos e médios produtores rurais”;
“Percepção ambiental e proposta didática sobre a desmistificação de animais peçonhen-
tos e venenosos para os alunos do ensino médio”; “Avaliação microbiológica de frutos
de cagaita (eugenia dysenterica)”; e na área do ensino: “formação de professores da ept e
narrativas de formação: uma revisão literatura”; “O uso das tecnologias da informação e
comunicação pelos discentes e docentes do proeja do IFMA - Campus Maracanã”; e “Prá-
ticas de letramento e igualdade de gênero: a literatura (trans)formando leitores”. Todos
esses trabalhos são frutos de pesquisas nos mais diversos níveis, desde a iniciação científi-
ca até resultados de doutoramento.
Esperamos que a leitura desses artigos da Acta Tecnológica do IFMA tragam ganhos em
conhecimentos, e suscitem ideias para o desenvolvimento de novas pesquisas dentro das
nossas instituições, em especial as da nossa região. Esperamos também que possamos,
através da divulgação desses artigos, aproximar os pesquisadores das áreas afins e até dis-
tintas para que formem grupos de pesquisas para que fiquemos cada vez melhores.
Por fim a equipe editorial da Revista Acta Tecnológica espera que este número atenda às
expectativas dos leitores, trazendo artigos de qualidade técnico científica, cumprindo sua
missão de divulgação e promoção de debates sobre temas de interesse estratégico para o
desenvolvimento científico e tecnológico regional e nacional.
Agradecemos todos os autores que submeteram seus trabalhos para esta edição e os pare-
ceristas pela disponibilidade em colaborar com o crescimento do periódico.
Boa leitura!
Estudo numérico da convecção natural em uma placa plana vertical via flui-
dodinâmica computacional............................................................................. 35
William Denner Pires Fonseca, Lourival Matos de Sousa Filho e Genilson Vieira Martins
Análise do comportamento
hidrodinâmico de um reator UASB
Ana Carolina Monteiro Landgraf1;
Lucas Eduardo Ferreira da Silva2;
Aruani Leticia da Silva Tomoto3;
Eudes José Arantes4; 11
Thiago Morais de Castro 5;
1 Estudante do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; E-mail: analandgraf@alunos.utfpr.edu.br;
2 Estudante do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; E-mail: lucas.2013@alunos.utfpr.edu.br;
3 Estudante do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; E-mail: arutomoto@hotmail.com;
4 Professor do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; E-mail: eudesarantes@utfpr.edu.br;
5 Professor do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná; E-mail: engenheirothiagocastro@gmail.com;
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar os tempos de pico da modelagem hidrodinâmi-
ca e avaliar o comportamento hidrodinâmico de reator UASB, com volume útil de 21 L. O
reator foi operado com tempo de detenção hidráulica (TDH) de 20 h. O comportamento
hidrodinâmico foi avaliado utilizando ensaios de estímulo-resposta tipo pulso, com o uso
de eosina Y como traçador. A partir do ensaio hidrodinâmico, foi verificada a presença de
vários picos na concentração do traçador ao longo do tempo, o que pode ser explicado
devido à possível presença de caminhos preferenciais ou devido aos problemas na manu-
tenção da vazão. O modelo teórico que melhor se ajustou ao ensaio foi o de tanques de
mistura completa em série (N-CSTR), resultando em 4 reatores. Os tempos de pico encon-
trados por meio dos cálculos realizados foram de 8,26, 32,85 e 28,51, para os cálculos 1, 2
e 3, respectivamente. Esses resultados foram importantes para a confirmação e explicação
de possíveis anomalias.
σ2 - variância;
Fonte: Autor.
Tabela 3: Coeficientes de correlação obtidos com o ajuste dos dados experimentais aos
modelos teóricos:
Coeficiente de Correlação (r2)
TDHt (h) N-CSTR (N) Pequena dispersão (D/μL) Grande dispersão (D/μL)
20 0,755 0,663 0,721
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Os tempos de pico encontrados nos cálculos 1, 2 e 3, foram de 8,26, 32,85 e 28,51 horas, 19
respectivamente e as concentrações de eosina Y foram de 0,31 mg/L para o cálculo 1 e de
0,27 mg/L para os cálculos 2 e 3 (Tabela 4).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados obtidos neste trabalho é possível concluir que:
ESCUDIÉ, R.; CONTE, T.; STEYER, J. P.; DELDENÈS, J. P. Hydrodynamic and biokinetic
models of an anaerobic fixed-bed reactor. Process Biochemistry, 40, p. 2311-2323. 2005.
HATTORI, A. Y.; CARVALHO, K. Q. de; PASSIG, F. H.; FREIRE, F. B.; JESÚS, M. N. de. Análi-
se do comportamento hidrodinâmico de um reator UASB em escala de bancada tratando
esgoto sanitário sintético. In: SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
DA UTFPR, 16, 2011, Ponta Grossa, PR. Anais.... Ponta Grossa, PR. 2011.
LEVENSPIEL, O. Engenharia das Reações Químicas. 3 ed. São Paulo: Edgard Blücher
Ltda, 2000.
2 Bacharel em Ciência da Computação pela Faculdade de Educação São Francisco. E-mail: mdq767@gmail.com;
3 Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: placido.segundo@ifma.edu.br;
4 Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal do Maranhão - IFMA. E-mail: mysael.carvalho@ifma.edu.br;
RESUMO
Dentre as principais dificuldades no cultivo de hortaliças, podem-se citar a escassez de
água e o pH do solo. Visando proporcionar um melhor aproveitamento da terra e contri-
buir com o racionamento de água, este artigo relata o desenvolvimento de um protótipo
automatizado, baseado em IoT, capaz de simular o funcionamento de um sistema de irriga-
ção para pequenos e médios produtores rurais. O objetivo principal foi ponderar o nível de
pH do solo para averiguar, antecipadamente, se a terra é aceitável para a agricultura e, em
conjunto com sensores de umidade do solo e temperatura, descobrir a média de água ne-
cessária para irrigação, possibilitando o manejo eficiente dos recursos hídricos disponíveis.
22 ABSTRACT
Among the main difficulties in the cultivation of vegetables, we can mention the scarcity
of water and the pH of the soil. Aiming to provide a better use of the land and contribute
to water rationing, this paper reports the development of an automated prototype, based
on IoT, capable of simulating the operation of an irrigation system for small and medium
farmers. The main objective was to assess the pH level of the soil to ascertain if the soil
is acceptable for agriculture and, together with soil moisture and temperature sensors, to
discover the average water required for irrigation, allowing the efficient management of
the resources available.
Fonte: Autores
27
Fonte: Autores
Para a calibragem do sensor de umidade, o mesmo foi submerso em um copo de água, onde
foi obtida uma leitura de 98%. Logo após, foi medida a umidade com o sensor fora do copo,
onde obteve-se a leitura de 2%. Foram feitos testes em outras condições: primeiro em terra
seca, onde o sensor obteve um resultado de 2%, depois foi aferido em terra parcialmente
úmida, onde o mesmo marcou 14% e, por fim, fora inserido em terra totalmente úmida,
onde foi obtido um resultado de 92%. O resultado está na Figura 7.
28
Fonte: Autores
Fonte: Autores
29
Fonte: Autores
A seguir, são apresentados os resultados da tabulação dos dados coletados. A Tabela 1 ilus-
tra as leituras obtidas em um dado conjunto de condições variadas para a calibragem do
sensor de humidade. Na Tabela 2, é mostrada uma análise comparativa dos dados coleta-
dos pelo sensor de temperatura e pelo termômetro utilizado, cujas medições foram usadas
como valores de referência para a calibragem do sensor em questão. A Tabela 3, por sua
vez, computa os dados resultantes do medidor de pH.
Pode-se afirmar que o mecanismo implementado funcionou como esperado, uma vez que
o sistema opera quando há alguma alteração nas regras de monitoramento, fazendo com
que a bomba de água seja acionada ou uma mensagem de alerta seja enviada para o agri-
31
cultor informando sobre qualquer anomalia nas condições monitoradas.
Foi possível constatar que o sistema obteve sucesso ao detectar o nível de humidade no
solo, podendo, assim, facilitar a decisão da quantidade de água necessária para que haja a
irrigação com a utilização de recursos hídricos ideais, evitando o desperdício. Outro ponto
que o sistema foi capaz de realizar vem a ser a detecção do nível de pH do solo, que tem
como consequência o fato de o agricultor ter o conhecimento prévio a respeito do inves-
timento que irá realizar ao decidir empreender alguma plantação.
1 Mestrando em Engenharia Mecânica; Faculdade de Engenharia Mecânica; Universidade Estadual de Campinas; Departamento de
Energia; E-mail: fonsecawdp@gmail.com;
2 Professor do Curso de Engenharia Mecânica; Laboratório de Modelagem e Simulação Numérica; Universidade Estadual do Maranhão;
E-mail: filholouri@gmail.com;
3 Professor do Curso de Física; Departamento de Ensino; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - Campus
Grajaú; E-mail: gvmartins@gmail.com;
RESUMO
Este artigo apresenta uma investigação numérica da transferência de calor por convecção
natural no interior à camada limite laminar térmica e hidrodinâmica de uma placa plana
vertical isotérmica e engastada. As equações de governo foram discretizadas pelo Método
dos Volumes Finitos através do software ANSYS/FluentTM. Inicialmente, o trabalho visa
comparar o resultado obtido na simulação numérica para diferentes refinos de malha
com o modelo analítico disponível na literatura. Posteriormente, busca-se verificar como
as condições de contorno e a espessura da placa influenciam no escoamento, na troca de
calor e nos parametros adimensionais característicos para este tipo de escoamento. Os
dados numéricos foram comparados com o modelo analítico disponível na literatura e
apresentaram uma boa anuência no que diz respeito às variações nas condições de con-
torno. Observou-se que estas influenciam no campo de velocidade e, por conseguinte, na
transferência de calor.
Palavras-chave: Placa isotérmica vertical. Convecção natural. Método dos volumes finitos.
34 ABSTRACT
This paper presents a numerical investigation of heat transfer through natural convec-
tion inside the thermal and hydrodynamic laminar boundary layer of an isothermal and
crimped vertical flat plate. The equations that governs the process are discretized by the
Finite Volume Method through the ANSYS/FluentTM software. Initially the paper aims
to compare the results obtained in the numerical simulation for different mesh refining
with the analytical model available in the literature. Afterwards, it is sought to verify how
the boundary conditions and plate thickness influence at the flow, at the heat exchange
and in the characteristic dimensionless parameters for this type of flow. The numerical
data were compared with the analytical model available in the literature and showed
good consent, regarding the variations in the boundary conditions, it was noticed that
these conditions influence in the field of velocity and therefore in the transfer of heat.
Segundo Machado e Alves (2014), a con- Machado (2013) comenta, em seu trabalho,
vecção envolve dois mecanismos de trans- que problemas envolvendo convecção livre
ferência de energia, quais sejam a difusão são difíceis de serem resolvidos analitica-
ou condução, sendo esta definida, de acor- mente, pois são exigidas muitas simplifica-
do com Peterson e Ortega (1990), como a ções, por tratar-se de problemas com forte
transferência de energia devido ao movi- acoplamento entre os campos de velocida-
de e temperatura, onde estes são descritos,
mento molecular aleatório do fluido, e a
matematicamente, por equações diferen-
advecção, que é a transferência de energia
ciais não lineares, logo a obtenção de re-
devido ao movimento global do fluido.
sultados confiáveis se tornou cada vez mais
A convecção está relacionada à transferên- trabalhosa e demorada, para alguns casos,
cia de energia por calor entre uma superfí- ela é impossível.
cie e um fluido em movimento sobre ela na
Neste contexto, o presente trabalho ana-
presença de um gradiente de temperatura.
lisa numericamente a transferência de ca-
De acordo com a natureza do escoamento, lor por convecção natural à camada limite
a convecção pode ser classificada por con- laminar térmica e hidrodinâmica de uma
vecção forçada ou convecção natural. Na placa plana vertical isotérmica e engastada.
convecção forçada, o escoamento é prove- As equações governantes são discretizadas
niente de meios externos como, por exem- pelo Método dos Volumes Finitos e resolvi-
plo, um ventilador, um soprador ou uma das iterativamente, os resultados são com-
bomba (OOSTHUIZEN; NAYLOR, 1999). Já parados, quando possível, com a solução
a convecção natural ocorre quando uma analítica exposta por Ostrach (1952).
força de corpo atua sobre um fluido no O trabalho ainda busca proporcionar um
qual existem gradientes de densidade cau- embasamento teórico-numérico para a am-
sados por variações da temperatura no flui- pliação dos estudos voltados para a área de
do na presença de um campo gravitacional transferência de calor por convecção natu-
(BERGMAN et al. 2015). ral em placas planas isotérmicas.
3 MODELAGEM NUMÉRICA
A tarefa de um método numérico é resolver
uma ou mais equações diferenciais, substi-
tuindo as derivadas existentes na equação
por expressões algébricas que envolvem a
Onde, u é a componente da velocidade na
função incógnita. Com o método numéri-
direção x, v a componente da velocidade na
co adotado, volumes finitos, serão feitas as
direção y, g [m/s²] a aceleração da gravidade,
simulações do problema já mencionado.
ν [m²/s] a viscosidade cinemática do fluido,
α [m²/s] a difusividade térmica do fluido e β Como apresentado em Patankar (1980), Ma-
mica, sendo este expresso pela equação (8). o procedimento para se obter as equações
discretizadas no método dos volumes fini-
tos consiste primeiramente na divisão do
domínio do problema em volumes finitos,
formando assim, uma malha computacio-
Segundo Çengel e Ghajar (2012), as equa-
nal. Posteriormente, efetua-se a integração
ções que governam a convecção livre podem
40
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a coordenação do Laboratório de
Modelagem e Simulação Numérica da UEMA,
MSiLAB, por disponibilizarem sua estrutura
para a presente pesquisa e a Fundação de Am-
paro à Pesquisa e ao Desenvolvimento Cien-
tífico do Estado do Maranhão, FAPEMA, pela
Fonte: Autor. concessão de bolsa de iniciação científica.
GONÇALVES, Nelson Daniel Ferreira. Método dos volumes finitos em malhas não es-
truturadas. 2007. 71 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Matemática) - Universidade
do Porto, Cidade do Porto, 2007.
OSTRACH, S. An Analysis of laminar free-convection flow and heat transfer about a flat
plate paralell to the direction of the generating body force. NACA REPORT, Washington,
n. 2635, 1952.
PATANKAR, S.V. Numerical Heat Transfer and Fluid Flow. Hemisphere Publishing Co, 1980.
2 Professor do Curso de Engenharia Mecânica; Laboratório de Modelagem e Simulação Numérica; Universidade Estadual do Maranhão;
E-mail: filholouri@gmail.com;
3 Professor do Curso de Física; Departamento de Ensino; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão -Campus
Grajaú; E-mail: gvmartins@gmail.com;
RESUMO
Este trabalho apresenta o estudo numérico do escoamento e das características aerodinâ-
micas em aerofólios simétrico e assimétrico sem e com flap. Um modelo bidimensional,
permanente e viscoso é adotado no problema. As equações da conservação de massa (Con-
tinuidade) e da conservação de movimento (Navier-Stokes) são diferenciadas pelo méto-
do dos volumes finitos através do software CFD (Computational Fluid Dynamics) ANSYS/
Fluent™. Inicialmente o código numérico é validado com a comparação dos resultados
obtidos numa simulação para um aerofólio da série NACA 4 dígitos sem flap com os re-
sultados apresentados na literatura. Em seguida buscou-se averiguar como se comporta
os campos de pressão e velocidade, as linhas de corrente, os coeficientes de sustentação e
arrasto para os aerofólios simétrico (NACA 0012) e assimétrico (EPLLER 423) sem e com
flap. Por fim é verificado qual aerofólio é mais eficiente aerodinamicamente.
Para as equações acima, θ representa o ân- talhadas sobre todo o campo do escoamento,
gulo que a componente normal exterior ao foram desenvolvidos gradativamente no de-
elemento diferencial de área faz com a dire- correr do anos diversos métodos numéricos
ção positiva do escoamento. capazes de resolves tais problemas.
Tanto o Método dos Painéis quanto o Mé- função dos valores nodais. Como resultado,
todo de Vortex-Lattice, que são apresenta- obtém-se uma equação algébrica para cada
dos com detalhes em Hess e Smith (1966) volume, na qual aparecem os valores das va-
e Miranda, Elliott e Baker (1979) respecti- riáveis no nó em causa e nos nós vizinhos.
54
Desta forma tem-se que, para que a integral seja nula, qualquer volume de controle ar-
bitrário deve ser nulo em todos os pontos dentro do volume de controle, caracterizando
assim a equação diferencial da continuidade, sendo esta expressa por:
Como apresentado em Patankar (1980), Ma- Como resultado desta integração, temos a
equação geral de discretização, onde esta é
liska (2004) e Vesteeg e Malalasekera (2007)
expressa segundo Patankar (1980) por:
o procedimento para se obter as equações
discretizadas no método dos volumes finitos
consiste em integrar, no volume de controle
Sendo que, P é o ponto central da malha
finito, a equação diferencial na forma con-
computacional e os sub-índices N, S, E e W
servativa. Gonçalves (2007) comenta que o
indicam a localização dos pontos discretos,
processo de discretização torna-se mais con-
como ilustrado na figura (6).
veniente se todas as equações governantes
possuírem uma forma comum, isto é, a for- Figura 6: Ilustração da malha computacional:
ma da equação geral de transporte.
56
optou-se pelo método iterativo, devido a ra-
pidez que ocorre o processo de convergência.
realizada visando garantir resultados numé- para satisfazer a condição de não des-
lizamento.
ricos confiáveis e a figura (7) apresenta tais
resultados. Verifica-se que há uma boa con-
cordância no que diz respeito aos resultados 4 RESULTADOS E DISCURSÃO
numéricos apresentados com os dados ex- Com base na metodologia apresentada ante-
perimentais, logo pode-se afirmar que os da- riormente, nesta parte do trabalho serão apre-
dos expostos neste trabalho são confiáveis. sentados e discutidos os resultados obtidos.
57
Fonte: Autor.
Pode se observar na figura (9) que para o ângulo de 0° a sustentação produzida por esse
aerofólio é zero, como esperado devido a simetria do campo de pressão. À medida que se
aumenta o ângulo de ataque, constata-se que o gradiente de pressão se torna favorável
(∂P/∂x<0) na parte superior do perfil e adverso (∂P/∂x>0) na parte inferior, essa diferença
de pressão causa a sustentação e uma curva linear é gerada até aproximadamente 15°.
Fonte: Autor.
Pode também ser observado que quando o aerofólio se encontra a 15° (ver figura (10)),
os vórtices estão por toda parte superior do perfil. Esses vórtices fazem com que as linhas
de corrente divirjam, de modo que a velocidade diminui e como consequência a pressão
aumenta, logo a camada limite se desprende do escoamento e o aerofólio entra em estol.
Para o perfil assimétrico EPLLER 423 nota-se que mesmo com o ângulo de ataque zero é
gerado sustentação, isto é decorrência do seu camber (curvatura), o CLmáx para este aero-
fólio é de 2,1 e o estol ocorre a 12°.
58
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Entretanto, o estol ocorre a ângulos inferio-
Para os aerofólios com flap, verificou-se
que mesmo a baixos ângulos de ataque a res aos aqueles próprios para perfis sem flap
diferença de pressão entre as superfícies su- como pode ser observado na figura (13). Tal
perior e inferior é muito grande (ver figura fenômeno é fundamentado pela presença
(12)), provocando altos valores nos coefi- excessiva de vórtices em aerofólios com
cientes de sustentação. Isto é decorrência flap a baixos ângulos, como observado no
da mudança na geometria do perfil. campo de velocidade da figura (14).
59
Fonte: Autor.
Fonte: Autor.
Quanto ao arrasto, percebe-se que o aero-
Figura 14: Campo de velocidade do aerofó-
fólio simétrico possui valores menores para
lio EPPLER 423 com flap:
pequenos ângulos de ataque. Todavia, para
ângulos acima de 10° este possui coeficien-
tes maiores que aqueles apresentados pelo
perfil assimétrico.
Fonte: Autor.
60
Fonte: Autor.
5 CONCLUSÃO
Neste trabalho, foi estudado, numericamente, o escoamento e as características aerodi-
nâmicas em aerofólios sem e com a utilização de flaps, onde foi fixado um número de
Reynolds e variado o ângulo de ataque, com intuito de verificar qual aerofólio e sua dis-
ponibilidade (sem ou com flap) seria mais eficiente aerodinamicamente.
As simulações mostraram que quando analisado somente os aerofólios sem flap, o assimé-
trico possui coeficientes de sustentação superiores e coeficientes de arrasto aproximados
aos aqueles apresentados pelo perfil simétrico.
Quando avaliado os perfis com flap, verificou-se que o assimétrico da mesma forma que
quando analisado os sem flap possui melhores relações CL/CD aos do aerofólio simétrico.
No entanto, foi constatado também que o estol para os perfis com flap ocorre a ângulos
inferiores aos dos sem flaps.
Por fim observou-se que o perfil EPPLER 423 sem flap é o que possui maior eficiência, pois
este aerofólio é o que possui melhores relações CL/CD. Entretanto, este perfil entra em
estol a ângulos menores que o aerofólio simétrico estudado.
BERTIN, John J.; CUMMINGS, Russel M. Aerodynamics for Engineers. 5. ed. Nova York:
Prentice Hall, 2009. 757 p.
BRUNETTI, Franco. Mecânica dos fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2008.
FONSECA, William Denner Pires; WOLF, William Roberto. Estudo aerodinâmico de asas
finitas por modelos numéricos de linha de sustentação. In: XXIV Congresso Nacional
de Estudantes de Engenharia Mecânica, Rio Grande, R S, 2017.
GONÇALVES, Nelson Daniel Ferreira. Método dos volumes finitos em malhas não es-
truturadas. 2007. 71 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Matemática) – Universidade
do Porto, Cidade do Porto, 2007.
REIS, Max William Frasão. Análise computacional dos coeficientes de arrasto e sus-
tentação para diferentes perfis aerodinâmicos. 2015. 65 f. Monografia (Graduação em
Engenharia Mecânica) - Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2015.
WHITE, Frank. M. Mecânica dos fluidos. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. 880 p.
1 Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, Departamento de Construção Civil. E-mail: jsnascimento1@hotmail.com;
3 Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Departamento de Construção Civil. E-mail: cynthia@ifma.edu.br;
RESUMO
Ao longo dos anos, a indústria da construção civil tem passado por constantes evoluções
e transformações. Entretanto, nota-se um atraso na implantação de tecnologia de disposi-
tivos móveis para melhorias no setor. Na área de gestão de segurança, esse ponto de vista
é mais acentuado, uma vez que vários avanços tecnológicos podem ser utilizados em be-
nefício da otimização desse setor de operação da construção. Uma dessas tecnologias é a
implantação da tecnologia de veículos aéreos não tripulados (VANTs), em inglês Unman-
ned Aerial Veicheles (UAV), também conhecidos como drones. Na construção civil, seu
uso ainda é limitado, principalmente para o suporte de inspeção no setor de segurança
em canteiro de obras. O presente trabalho tem como objetivo investigar, de forma teórica,
como os drones podem ser benéficos para a otimização da segurança na construção civil,
mostrando um modelo a ser utilizado com o seu controle de voo realizado via Arduino
Yun, fornecendo gerenciadores de segurança com rapidez, tais como imagens e vídeos em
tempo real de inspeção no campo de limitação da obra, a fim de facilitar a inspeção de
segurança do local de trabalho.
64 ABSTRACT
Over the years, the construction industry has undergone constant changes and changes.
However, there is a delay in deploying mobile device technology for industry improve-
ments. In the area of safety management, this point of view is more pronounced, since
several technological advances can be used to benefit the optimization of this sector of
construction operation. One such technology is the deployment of Unmanned Aerial
Veicheles (UAV) technology, also known as drones. In civil construction, its use is still
limited, mainly for the support of inspection in the sector of security in construction site.
The present work aims to investigate in a theoretical way, how the drones can be benefi-
cial for the optimization of safety in the civil construction, showing a model to be used
with its control of flight realized through Arduino Yun, providing security managers with
speed, such as images and real-time video inspection in the field limitation of the work,
in order to facilitate safety inspection of the workplace.
66
ria a cobertura de grandes áreas. Relativa-
mente mais difícil de operar, os sistemas
de piloto automático fazem praticamente
Fonte: Adaptado por Nascimento (2017).
todo o trabalho, desde a decolagem até o
De um modo geral, todo drone possui um
pouso automático. A variedade deste tipo
sistema de comunicação, um controlador
de equipamento aumenta a cada ano, as-
de voo, hélices acopladas, dispositivos con-
sim como os sensores e câmeras que podem
troladores de velocidade dos motores, ba-
ser embarcados. No Brasil, atividades de
terias e sensores para informar o nível de
voo comercial com drones são regularmen-
inclinação do drone, pois é através des-
te monitoradas pela Agência Nacional de
sa inclinação que ele acelera ou desacele-
Aviação Civil (ANAC). De acordo com a Lei
ra cada motor, de forma individual, para
11.182/2005 (BRASIL, 2005), a operação
mantê-lo nivelado. Segundo Paula (2012),
comercial de uso de veículos aéreos não tri-
um quadricoptero tem a capacidade de rea-
pulados está pendente, permitindo apenas lizar quatro movimentos básicos (arfagem,
o uso experimental para fins de pesquisa, guinada, rolagem e altitude). Essas informa-
desenvolvimento, levantamento de merca- ções de movimentos são transmitidas para
do, treinamento de pilotos e outras deman- o controlador de voo através do sistema de
das específicas e autorizadas pela ANAC. comunicação que interpreta a informação e
Figura 1: Drone com asa rotativa comunica aos controladores de velocidade
dos motores a potência necessária que cada
um deve receber, fazendo, assim, o contro-
le de rotação correta e de forma individual
de cada motor acoplado. O conjunto destes
elementos formam a base de qualquer veí-
culo aéreo não tripulado.
De modo a suprir essa carência de forma eficiente e ágil, os recursos visuais de alta tecno-
logia, como Veículos Aéreos não Tripulados (VANTs), ou popularmente conhecidos por
68 drones, apresentariam grande potencial ainda inexplorado para a execução de tarefas de
inspeção e segurança dentro dos canteiros. A aeronave seria capaz de sobrevoar de forma
automatizada a área delimitada pelo canteiro e, assim, fornecer informações em tempo
real, de forma precisa e com um gasto de tempo reduzido quando comparado ao mesmo
processo feito de forma tradicional.
determinada área.
A etapa de estudos empíricos, por outro lado, visa à construção do artefato, que, no pre-
sente trabalho, envolve a escolha de um drone AR.Drone 2.0 parrot, que terá o seu plano
de voo automatizado via Arduino para transmissão e recepção de dados durante a inspe-
ção do canteiro. Deverão ser levantadas, inicialmente, as práticas de segurança e logística
do ambiente em construção com base nos requisitos dos gestores de segurança de obras.
Tais práticas serão colhidas por meio de documentos de checklist de segurança, entrevis-
tas e reuniões com gestores dos canteiros participantes.
GLANDO (2014). Control a Parrot AR Drone with Linino. Disponível em: <http://www.
linino.org/tutorial-01-control-a-parrot-ar-drone-with-linino/>. Acesso em: 03/08/2017.
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MELO, Roseneia Rodrigues Santos de; COSTA, Dayana B (2015). Uso de veículo aéreo
não tripulado (vant) para inspeção de logística em canteiros de obra. SIBRAGEC. São
Carlos – SP. Disponível em: <http://www.infohab.org.br/sibraelagec2015/artigos/SIBRA-
GEC-ELAGEC_2015_submission_95.pdf>. Acesso em: 15/07/2017.
MITISHITA, E.; EDUARDO, J.; GRAÇA, N. de.; CENTELHO, J.; MACHADO, A. O Uso de Ve-
ículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) em Aplicação de Mapeamento Aerofotogramé-
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-aecc81reos-nacc83o-tripulados-vants-em-aplicaccca7occ83es-de-mapeamento-aerofoto-
gramecc81trico.pdf>. Acesso em: 01/08/2017.
RoboCore: Loja virtual/Placas Arduino. [Imagem da internet]. Disponível em: < https://
www.robocore.net/loja/produtos/arduino-yun.html>. Acesso em: 04/08/2017.
1 Mestre em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail: ana_lsc@outlook.com;
73
2 Professora do Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Tocantins - UFT.
E-mail: solange@uft.edu.br;
RESUMO
Foram analisadas amostras de frutos frescos e congelados de cagaita (Eugenia dysenteri-
ca), bem como dos frutos submetidos à desidratação osmótico-solar com teor de umidade
de 22,7%. A qualidade microbiológica foi determinada por meio do Número Mais Prová-
vel de coliformes totais e termotolerantes (NMP.g–1), ausência/presença de Salmonella em
25g de amostra, segundo legislação vigente, além de Unidades Formadoras de Colônia de
bolores e leveduras (UFC.g–1). Nos frutos in natura frescos foram detectados bolores, leve-
duras e bactérias entéricas, no que concerne aos congelados, verificou-se apenas a presen-
ça de bolores e leveduras. Os frutos desidratados apresentaram resultados negativos para
Salmonella, coliform totais e termotolerantes. Conforme a Resolução RDC nº 12, de 02 de
janeiro de 2001, os frutos e o produto desidratado são adequados ao consumo.
ABSTRACT
74 Samples of fresh and frozen cagaita (Eugenia dysenterica) fruit were analyzed, as well as
fruits submitted to solar osmotic dehydration with 22,7% dampness. The microbiological
analysis included counts for total and termotolerant coliforms (MPN.g–1), Salmonella and
the determination of moulds and yeasts (CFU.g–1). The study showed contamination of
fresh fruit by enteric bacteria, moulds and yeast, while for frozen fruit were observed
moulds and yeasts. Samples of dehydrated cagaita fruit showed negative results for total
and termotolerant coliforms (MPN.g–1), Salmonella and the determination of moulds
and yeasts (CFU.g–1). All samples were considered acceptable for consumption according
Resolução RDC nº 12, January 02, 2001.
ces, geleias, licores, refrescos, sorvetes e su- final com estabilidade na cor, maior reten-
cos (ASSUMPÇÃO et al, 2013). Carneiro et ção de vitaminas, melhor qualidade na tex-
al, (2015), apontam que a conservação pós- tura, quando comparadas com os produtos
diretamente desidratados (GONÇALVES e
-colheita de frutos de cagaita, sob atmos-
BLUME 2008; BRANDÃO et al, 2003).
fera refrigerada, é em média de cinco dias,
independente do tratamento utilizado. A Os frutos desidratados são considerados ali-
partir deste período observam-se sinais de mento de umidade intermediária (15-30%),
senescência, como perda de textura, aroma com atividade de água na faixa de 0,65-0,85,
Simmons, além do teste de coloração Gram do-se cada diluição (COELHO et al, 2006).
(HE), Ágar Bismuto Sulfito (BS) e Ágar Xi- Para cada amostra suspeita, selecionou-se
A microbiota detectada em tais análises pode estar relacionada à contaminação inicial das
frutas com bactérias e fungos originários do solo (GONÇALVES et al, 2014), uma vez que
a cagaita é normalmente recolhida diretamente do mesmo, sendo, então, utilizada para
consumo ou destinada à etapas de processamento. Ressalta-se ainda que a presença de
coliformes termotolerantes indica que as frutas tiveram contato com material de origem 79
fecal, pois a E.coli não faz parte da microflora normal de frutos in natura, tendo como ha-
bitat exclusivo o intestino de animais de sangue quente (PINHEIRO et al, 2005).
No presente estudo, apesar de não terem sido detectadas bactérias do grupo coliformes
nas amostras dos frutos in natura, houve o crescimento de microrganismos nas placas de
Petri nos meios seletivos para E.coli, sendo um indicativo da presença de outros sorotipos
diarreiogênicos (PALÚ et al, 2002). Sabe-se que diversas toxinfecções alimentares estão
relacionadas com a presença de Salmonella bem como bactérias do grupo coliformes, con-
Ademais, Marques (2006) aborda que os Guimarães e Silva (2008), indicaram que o
bolores se desenvolverem em uma ampla processamento de murici-passas por meio
faixa de temperatura, demonstrando cres- desidratação osmótica seguida de secagem
cimento ótimo em temperaturas de refrige- em estufa com circulação forçada de ar, foi
Assim sendo, a ausência de mofos e leveduras demonstra que o processamento foi eficien-
81
te na eliminação da microbiota deteriorante presente nos frutos in natura e congelados,
enquanto que os resultados negativos para Salmonella e microrganismos do grupo coli-
formes mostram que o procedimento de desidratação foi realizado em condições higiê-
nico-sanitárias adequadas, e os frutos desidratados estão aptos ao consumo, segundo a
legislação vigente.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A avaliação microbiológica para as amostras de frutos in natura de cagaita evidenciaram a
presença de entorobactérias, leveduras e bolores, contudo tais resultados são considerados
satisfatórios conforme a RDC n°12 de 2 de Janeiro de 2001.
Nos frutos in natura congelados não foi detectada a presença de Salmonella, nem de mi-
crorganismos do grupo coliformes. Para as mesmas amostras, observou-se a presença de
bolores e leveduras, embora em menor número do que nos frutos frescos, o que é atribuí-
do à redução da atividade de água resultante do processo de congelamento.
Por fim, os frutos desidratados por meio da técnica osmótico solar não evidenciaram o
crescimento de nenhum dos microrganismos estabelecidos na legislação. Os resultados
indicam condições higiênico-sanitárias adequadas no processamento dos frutos, além de
demonstrar a viabilidade do processo de desidratação como método de conservação de
frutos de cagaita.
OLIVEIRA, Mara Elisa Soares. Elaboração de bebida alcoólica fermentada de cagaita (Eu-
genia dysenterica, DC) empregando leveduras livres e imobilizadas. 2010. 86f. Disser-
tação (Mestrado em Microbiologia Agrícola), Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2010.
83
PALÚ, A. P; TIBANA, A; TEIXEIRA, L. M; MIGUEL, M. A. L; PYRRHO, A. S; LOPES, H. R. Ava-
liação microbiológica de frutas e hortaliças frescas, servidas em restaurantes self-sevice pri-
vados, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Higiene Alimentar, v. 16, p. 67-74, 2002.
1 Estudante do Curso de Cozinha (PROEJA) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - Campus Maracanã;
E-mail: luzianemelos@gmail.com;
2 Professora Pesquisadora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - Campus Maracanã, Líder do Núcleo de
Pesquisa em Informática Aplicada; E-mail: cfllima@ifma.edu.br.
RESUMO
Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada em outubro de 2016, que teve
como objetivo identificar como se dá o acesso e o uso das Tecnologias da Informação e
Comunicação pelos discentes e docentes do Programa Nacional de Integração da Educa-
ção Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
(PROEJA) do IFMA (Instituto Federal do Maranhão), campus Maracanã, na opinião dos
entrevistados. A pesquisa foi exploratória e descritiva, tendo como instrumento de in-
vestigação um questionário. Como resultado desta pesquisa, tem-se um diagnóstico que
aponta para um envolvimento tecnólogo que requer mais do que apenas o conhecimento
técnico teórico, mas também necessita do desenvolvimento de habilidades e sensibilidade
nas relações sociais com pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ter contato com
a informática. O estudo também propõe melhorias sobre o acesso e o uso das TICs pelos
alunos e professores do PROEJA como instrumento educacional na referida instituição.
ABSTRACT
This article presents the results of a survey conducted in October 2016, which aimed to
identify how the access and the use of Information and Communication Technologies
by students and teachers of the National Program for the Integration of Vocational Edu-
cation and Basic Education in Youth and Adult Education Mode (PROEJA, portuguese
acronym) from IFMA (Federal Institute of Maranhão), Maracanã campus, according to
the interviewees’ opinion. The research was exploratory and descriptive, making use of a
questionnaire as a research tool. As result of this research, there is a diagnosis that points
to a technological involvement that requires more than just theoretical technical knowle-
dge, but also the development of skills and sensitivity in social relations with people who
have never had the opportunity to have contact with computer science. The study also
proposes improvements on the access and use of ICTs by PROEJA students and teachers
as an educational tool in IFMA.
O universo deste estudo foi constituído de 102 (cento e dois) discentes oriundos do curso
de Cozinha (quarenta e quatro discentes) e do curso de Agropecuária (cinquenta e oito
discentes), e de 25 (vinte e cinco) docentes que trabalham com as turmas do PROEJA. Há
uma distorção entre o número de alunos matriculados e os que responderam ao questio-
nário, que pode ser observada empiricamente, pois muitos alunos do PROEJA, apesar de
90
matriculados, não estão frequentando a sala de aula. Além disso, alguns professores en-
contravam-se afastados da instituição no período que ocorreu a pesquisa.
Ademais, destaca-se que motivar os participantes a responder ao questionário foi uma tarefa
exaustiva pois o ideal era que todos os alunos e professores do PROEJA do campus Maracanã
participassem da pesquisa. Contudo, foram usadas técnicas estatísticas que permitem que o
resultado da pesquisa seja confiável, apesar de não permitir generalizações.
Com questões abertas, foi possível perceber o nível de informação do respondente, des-
vendando aspectos desconhecidos. Em contrapartida, foram produzidas algumas respos-
tas vagas ou o entrevistado não respondeu corretamente ao questionamento. Já as ques-
tões fechadas permitem ser tratadas quantitativamente.
Contudo, observa-se, por meio da Tabela 1 que, com base na referida pesquisa e também
pelo número de matrículas, no Curso de Cozinha há um quantitativo maior de alunas
(trinta e seis) do que no Curso de Agropecuária (dezoito), representando 67% do total de
alunas entrevistadas (cinquenta e quatro).
Tabela 1: Número de discentes que participaram da pesquisa, por sexo, curso e série:
Cozinha Agropecuária
Sexo Total
1º Ano 2º Ano 3º Ano 1º Ano 2º Ano 3º Ano
Feminino 15 14 7 7 5 6 54
Masculino 7 - - 11 11 18 47
Não respondeu - 1 - - - - 1
Total Geral 102
Fonte: Autora.
tório educação para todos no Brasil 2000- sexo feminino e 40% do sexo masculino;
2015" (MEC, 2014) a participação do sexo A faixa etária dos que ministram aula no
feminino vem aumentando e em 2012 foi PROEJA, 8% responderam que estão na fai-
identificado um aumento de 10% a mais xa de 20 a 30 anos; 60% têm entre 31 e 40
de mulheres do que homens matriculados anos; 20% estão com idade entre 41 e 50
na Educação Profissional. Adicionalmente, anos; e 12% têm mais de 51 anos;
embora não seja objeto específico desta pes-
56% responderam que trabalham com o
quisa, convém mencionar que as mulheres
PROEJA há mais de 6 anos; 24% tem ex-
já são maioria no ensino superior4, possibi-
periência entre 3 e 5 anos com a referida
litando, assim, uma participação crescente
modalidade de ensino; 16% possui de 1 a
no mercado de trabalho (MEC, 2014).
2 anos de experiência; 4% ministra aula no
Já em relação à idade média dos alunos e PROEJA há menos de um ano.
alunas participantes desta pesquisa, confor-
No tocante à faixa etária dos professores,
me apresentado na Figura 1, em geral, 17%
percebe-se que, de um modo geral, 92% dos
dos entrevistados tem menos de 20 anos;
entrevistados têm mais de 30 anos, confir-
49% têm de 20 a 30 anos; 19% está na faixa
mando o que já foi comprovado em outras
de 31 a 40 anos; 9% estão com idade entre
pesquisas que o professor é um profissional
41 e 50 anos; e 6% têm mais de 51 anos.
de meia idade.
Constata-se, por meio destes resultados,
que os alunos do PROEJA do IFMA - cam- Figura 1: Faixa etária dos discentes entre-
pus Maracanã são jovens e adultos em ple- vistados:
na idade produtiva, que buscam uma nova
oportunidade de crescimento.
ram sobre suas habilidades em usar os se- lares. Já os professores usam para pesquisar,
guintes aplicativos que estão disponíveis ler e-mails, trabalhar (preparar suas aulas, fa-
nos computadores da instituição: 92% sabe zer suas pesquisas científicas, em suas aulas,
usar o Windows; 96% usa o Word; 84% usa o quando possível, dentre outras atividades).
PowerPoint. Contudo, alguns professores de-
Conforme a Figura 3, a percepção dos alu-
clararam não ter nenhum conhecimento em
nos sobre o questionamento se os profes-
informática e que necessitam de capacitação.
sores do IFMA - Maracanã (além dos pro-
3.3 Finalidades do uso das tics fessores de informática) utilizam as TICs
Nos quesitos relacionados à finalidade do (computador e outros recursos tecnológi-
uso das TICs pode-se destacar que: cos) em sala de aula é de que: 58% utilizam;
Os alunos e alunas responderam sobre o 31% utilizam às vezes; e 11% não utilizam.
que acham de usar o microcomputador e Apesar de 52% dos professores achar bom e
outras tecnologias, tais como o celular e o 40% achar ótimo usar o microcomputador e
tablet. Como foi uma questão de múltipla
outras tecnologias, tais como o celular e o ta-
escolha seguem os resultados das opções
blet em sala de aula, um ter declarado achar
mais votadas: importante para a vida pro-
regular e outro nunca ter usado, somente
fissional - 87% do total; importante para a
24% dos docentes afirmam contribuir para a
vida pessoal - 50% selecionou esta opção;
inclusão digital dos alunos do PROEJA, 60%
17% dos respondentes acham que eleva a
sua autoestima; dos respondentes diz que somente às vezes;
e 16% manifestou não contribuir.
Em relação à duração média de acesso ao
computador no dia a dia, por parte dos dis- Figura 3: A percepção dos alunos sobre se
centes, é de que: 31% não usam; 39% rara- os professores (além dos professores de in-
mente usa; 21% usa no máximo 30 minutos formática) utilizam as TICs em sala de aula:
AGRADECIMENTOS
À FAPEMA, pelo apoio financeiro. Ao IFMA, professores e alunos que dispuseram de seu
tempo para responder os questionários e dar sugestões valorosas para promover melhorias
no ensino, pesquisa e inclusão digital de todos os envolvidos do processo.
COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI). TIC Governo Eletrônico 2013: pes-
quisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação. São Paulo, 2014. Dispo-
nível em: <http://www.abradi.com.br/wp-content/uploads/2015/05/TIC_eGOV_2013_LI-
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MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing - edição compacta. 5 ed. Elsevier Editora Ltda.
2012. p. 336.
PRETTO, Nelson de Luca. Cultura digital e educação: redes já! In PRETO, N e SILVEIRA,
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poder. Salvador, Edufba, 2008. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/22qtc/pdf/pret-
to-9788523208899-06.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2015.
2 Laboratório de Pesca e Ecologia Aquática, Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão, Cidade Universitária
Paulo VI, Caixa Postal 9, São Luís/MA, Brazil, zafiraalmeida@hotmail.com
RESUMO
Animais peçonhentos e venenosos frequentemente despertam o interesse geral dos es-
tudantes, já que geralmente estão cercados de histórias populares, lendas e crendices. As
concepções errôneas que cercam esses animais são acompanhadas de um desconhecimen-
to geral sobre a biologia e formas de identificação das espécies, medidas de prevenção de
acidentes e práticas corretas de primeiros socorros. A educação ambiental, neste contexto,
tenta desconstruir visões equivocadas da natureza e construir o conhecimento científico
a partir do conhecimento popular, além de contribuir na conservação de espécies e ecos-
sistemas. O presente trabalho teve como objetivo investigar o conhecimento prévio dos
estudantes do ensino médio acerca dos mitos e verdades existentes sobre animais peço-
nhentos e venenosos e, ainda, elaborar um material didático complementar que auxilie
as práticas pedagógicas dentro e fora de sala de aula. Foram entrevistadas 258 estudantes,
que responderam a um questionário semi-estruturado, que trazia perguntas referentes
às experiências prévias dos alunos com o tema, procedimentos de manejo de animais
peçonhentos e primeiros socorros, além da definição correta de conceitos e espécies. Foi
elaborada uma proposta de material didático complementar, do tipo cartilha, para auxi-
liar o professor na transmissão de conhecimentos específicos aos alunos. As respostas às
perguntas dos questionários indicam uma carência na abordagem em sala de aula e na
propagação de conceitos e ideias erradas sobre o tema o que contribui na disseminação de
mitos e dificultam as estratégias de conservação.
ABSTRACT
Vermin and poisonous animals frequently arouse the general interest of students, since
they are generally surrounded by popular stories, legends and superstitons. The wrong
conceptions that surround these animals are accompanied by a general not know about
the biology and the ways of identifying the species, accident prevention measures and
right practices of first aid. The environmental education, in this context, tries to decons-
truct wrong views of nature and build scientific knowledge from the popular one, beyond
to contribute with ecosystems and species conservations. The present work had as objec-
tive to investigate the previous knowledge of high school students about the myths and
truths existing about vermin and poisonous animals, and still to produce a complement
educational material which helps the pedagogical practices in and out of the classroom.
We interviewed 258 students who answered a half structured questionnaire that brought
questions reported to previous experience of the students with the theme, handling pro-
cedures of vermin and poisonous animals and first aid, beyond the correct definition of
concepts and species. It was produced a proposal of a complement didactic material like
a primer to try to provide the teachers’ needs in the transmission of specific knowledge
to the students. The answers pointo to lack of this approach in the classroom and in the
spread of wrong conceptions and ideias about the theme that contribute to dissemination
of myths and difficult conservation strategies.
Figura 1: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a)
Você já viu ou tocou algum animal peçonhento/venenoso? Qual?; b)Qual a sua reação ao avistar um animal
peçonhento?
Figura 2: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se a) Você
conhece alguém que já tenha sido picado por animal peçonhento? Que animal era esse?; b) Qual o conceito
de animal peçonhento e venenoso?
Figura 3: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a)
Quais procedimentos devem ser adotados em caso de picada por animal peçonhento?; b) Qual a importância
da preservação dos animais peçonhentos?
Muitos dos procedimentos de primeiros socorros tidos como corretos por grande parte da
população advém de crenças populares, do erro de identificação das espécies de animais
e da divulgação errada de procedimentos em programas de televisão, internet e livros
didáticos antigos. O incentivo à adoção de medidas preventivas e a divulgação de proce-
dimentos adequados a serem tomados em caso de acidente, reduz o número de casos com
sequelas e representa uma economia para o serviço público (FERREIRA e SOARES, 2008).
O uso de classificações não científicas tais como “feios”, “nojentos”, “nocivos” também são
encontradas em alguns livros didáticos (SANDRIN et al., 2005) que podem, inclusive, contri-
buir para a matança indiscriminada dos animais que, aparentemente, não oferecem nenhum
tipo de utilidade ao homem.
A pergunta final do questionário pedia aos alunos que classificassem as fotos de 15 animais
nas categorias: animal não venenoso, animal venenoso e animal peçonhento. As imagens
utilizadas foram selecionadas entre espécies locais que frequentemente esses alunos pos-
suíam contato, tanto no ambiente escolar como nas suas residências. Muitas espécies não
venenosas como rato, barata e piolho de cobra foram classificadas, na maioria dos ques-
tionários, como animais peçonhentos ou venenosos (ver Figura 4). Isso se justifica, pois a
Figura 4: Frequência absoluta da classificação dos animais feita pelos estudantes do campus Codó nas catego-
rias animal não venenoso, animal venenoso e animal peçonhento.
Como detectado por vários autores (SANDRIN et al., 2005; FERREIRA e SOARES, 2008), os
livros didáticos apresentam inúmeros erros conceituais e muitos professores têm dificuldade
de acesso à literatura especializada. Portanto, a cartilha tem a proposta de auxiliar o profes-
sor na sua prática pedagógica, ajudando-o a enfrentar as dificuldades relacionadas ao tema.
O material produzido também pode ser utilizado como material para educação ambiental
em ambientes fora da escola em palestras, oficinas e discussões, já que a linguagem empre-
gada é bem acessível para os diferentes públicos.
COTTA, G. A. Animais Peçonhentos. 5ed. Belo Horizonte: Fundação Ezequiel Dias, 2014. 36p.
NUNEZ, I. B.; RAMALHO, B. L, SILVA, I. K. P. O livro didático para o ensino de ciências. Se-
lecioná-los: um desafio para os professors do ensino fundamental. In: ENCONTRO NACIO-
NAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIA, 2001, Anais… São Paulo: Atibaia, 2001.
PIZZATTO, L. O. O fascinante mundo das serpentes. Ciência Hoje, v.179, p. 71-73. 2003.
108
PUORTO, Giuseppe; FRANÇA, Francisco Oscar de Siqueira. Serpentes não peçonhentas e
aspectos clínicos dos acidentes. In: CARDOSO, João Luiz Costa; FRANÇA, Francisco Oscar
de Siqueira, WEN, Fan Hui; MÁLAQUE, Ceila Maria S. Animais Peçonhentos no Brasil:
biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 1ªed. São Paulo: Sarvier, 2003.
RESUMO
Este artigo em como objetivo de estudo o estado da arte junto ao banco de dados da Scielo
Brasil, referente às produções científicas que vem sendo realizadas com os temas forma-
ção de professores para Educação Profissional e Tecnológica-EPT e narrativas de formação
docente, tendo o objetivo de mapear e discutir como se da à constituição dos saberes do-
centes para atuação no espaço da EPT. Para tal, se estabeleceu relações e aproximações teó-
ricas a respeito da constituição profissional destes sujeitos, a partir da análise de conteúdo
das produções existentes, com ênfase nas seguintes categorias temáticas: saberes docentes,
imaginário e representações, trajetos formativos e identidade docente, tendo como base
o ano da criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia em 2008 até o
ano de 2016. Ao concluir a análise dos artigos publicados, identificou-se uma significati-
va preocupação com a formação dos professores da Educação Profissional e Tecnológica
diante das políticas públicas referentes a esta modalidade, dando ênfase as narrativas de
formação para o crescimento profissional de si e demais colegas. Percebeu-se, ainda, a
carência de publicações sobre narrativas de professores da EPT, fomentando o uso destas
narrativas para a formação e crescimento desse profissional.
ABSTRACT
110 This paper aims to study the state of the art in the database of Scielo Brazil, referring to
the scientific productions that have been carried out with the themes of teacher training
for EFA and narratives of teacher education, aiming to map and discuss how is given to
the constitution of the teaching knowledge to work in the EFA space. To this end, the-
oretical relations and approximations were established regarding the professional cons-
titution of these subjects, based on the analysis of content of the existing productions,
with emphasis on the following thematic categories: teacher knowledge, imagery and re-
presentations, formative paths and teacher identity, based on, the year of the creation of
the Federal Institutes of Education, Science and Technology in 2008 until the year 2016.
In concluding the analysis of the published articles, a significant concern was identified
with the training of teachers of Professional and Technological Education in the face of
public policies referring to this modality, emphasizing the narratives of formation for the
professional growth of oneself and other colleagues, it was also noticed the lack of publi-
cations on narratives of teachers of the EPT, fomenting the use of these narratives for the
formation and growth of this professional.
Saberes da docên- José Ângelo 2012 Educação Am- Regina Mendes 2009
cia na EPT: um Gariglio e Su- biental no ensino e Amarildo Vaz
estudo sobre o zana Burnier formal: narra-
olhar dos profes- tivas de profes-
sores sores sobre suas
experiências e
Formação do do- Olgamir Carva- 2014 expectativas
cente da EPT no lho e Francisco Experiências de Maria Alice de 2012
Brasil: um diálo- Souza humanização Amorin Garcia
go com as facul- por estudantes et al.
dades de Educa- de medicina
ção e o curso de Aspectos da Maria José 2013
Pedagogia integração Sanches Marin
ensino-serviço et al.
Fonte: dos autores.
na formação de
Já ao estabelecermos o filtro de pesquisa enfermeiros e
“Narrativas de Formação”, encontramos médicos
128 trabalhos publicados, dos quais seis Narrativas na Angela Apare- 2014
(06) direcionam-se aos docentes e sua for- formação comum cida Capozzol
mação, e nenhum especificamente em rela- de profissionais et al.
ção a narrativas de formação de professores da saúde
da EPT. Os seis (06) trabalhos encontrados Narrativas na Edna Maura 2014
sobre narrativas de formação serão os aqui formação do pro- Zuffi et al.
analisados e categorizados, visto que os de- fessor de mate-
mais são direcionados a áreas extrínsecas a mática: o caso da
esta pesquisa, conforme é possível visuali- professora Atíria
zar no Quadro 2 a seguir. Fonte: dos autores.
geometria plana, tendo como aporte teóri- e propiciou que muitos dos protago-
nistas (re) significassem seu modo
co-metodológico a pesquisa narrativa, sen-
de atuar e organizar o trabalho peda-
do feita uma breve discussão sobre o papel gógico, empenhando-se para que a
e o lugar da escrita na formação docente. liberdade de expressão no ambiente
Diante da narrativa de formação de um de ensino-aprendizagem ocorresse
protagonista da referida disciplina, traz a em suas aulas. As narrativas de for-
mação oportunizaram, entre outras
suposição de que os cursos de Licenciatura
contribuições da inserção da escrita
em Matemática exploram pouco as intera-
no contexto de formação de profes-
ções mediadas pelas atividades discursivas, sores de matemática, o incentivo ao
suposição essa confirmada a partir do de- desenvolvimento da capacidade de
poimento do participante da pesquisa. Os análise durante a investigação, elu-
cidando serem a escrita e a análise
autores Freitas e Fiorentini (2008, p.139)
elementos indissociáveis.
acreditam ainda que
De acordo com o exposto, para que nossas
[...] a dificuldade dos alunos em es-
tabelecer uma comunicação escrita
narrativas se tornem experiências formati-
compreensiva, durante a licencia- vas, segundo Larrosa (2002, p. 3), requer-se:
tura, pode ser consequência de uma [...] parar para pensar, parar para
prática que prioriza a escrita técnica olhar, parar para escutar, pensar
e formal em detrimento da escrita mais devagar, olhar mais devagar,
reflexiva, discursiva e narrativa sobre e escutar mais devagar; parar para
aquilo que se aprende e se ensina. sentir, sentir mais devagar, demo-
rar-se nos detalhes, suspender a opi-
Nesse contexto, apontam para uma ca- nião, suspender o juízo, suspender
rência da escrita discursiva nos cursos de a vontade, suspender o automatis-
formação em Matemática, tendo a forma mo da ação, cultivar a atenção e a
oral de comunicação como predominante, delicadeza, abrir os olhos e os ou-
vidos, falar sobre o que nos aconte-
forma essa que ajuda na sistematização do
ce, aprender a lentidão, escutar aos
conteúdo específico deste curso, porém que outros, cultivar a arte do encontro,
pouco contribui para exploração e proble- calar muito, ter paciência e dar-se
matização dos conceitos que estão sendo tempo e espaço.
vas só têm relevância se pararmos para re- junto a seus alunos depende desse
saber e com ele se enriquece. Assim,
fletir sobre elas, se nos deixarmos invadir
além de contribuírem para a difusão
pelo conhecimento do outro e por nosso
da prática de EA nas escolas, as tro-
próprio conhecimento, renovando-se sem-
cas de ideias permitem ao professor
pre, procurando aprendizado em cada mo- explicitar aos seus colegas um saber
mento vivido, respeitando o espaço e o que ele mesmo desenvolveu e do
tempo necessários para que possamos nos 115
qual pode resultar o estabelecimen-
apropriar de cada saber instituído. to de uma identidade profissional
docente desses professores.
A produção “Educação Ambiental no ensino
formal: narrativas de professores sobre suas ex- Mendes e Vaz (2009, p.398) dizem que “a
periências e expectativas”, de Mendes e Vaz comunicação através de narrativas não é
(2009), é baseada na dissertação de mestra- considerada na área acadêmica, que valori-
do intitulada “O Papel da Escola na Educação za mais a linguagem proposicional, à qual
Ambiental: experiências e perspectivas de profes- associa maior domínio do conhecimento
sores”, com ênfase na Educação Ambiental. que se quer transmitir”. Essa desvalorização
das narrativas docentes leva-nos a acredi-
A produção considera que os saberes do-
tar que o professor não é capaz de produzir
centes permeiam as experiências e as
conhecimento, apenas reproduzir um saber
perspectivas desses professores através da
que é do outro. Porém, após as análises rea-
composição de um repertório de conheci-
lizadas, diante das narrativas dos professo-
mentos sobre educação ambiental em espa- res da EA, os autores Mendes e Vaz (2009,
ços formais de ensino. Isso se deu a partir p.409) concluem que
da organização e observação das narrativas
Os professores geram, assim, um
de um grupo focal, formado pela oferta de
novo tipo de conhecimento a ser
uma oficina de “Formação de Líderes de Gru-
aplicado na escola: o conhecimento
pos de Discussão em Educação Ambiental”, pedagógico da Educação Ambiental,
com o objetivo de investigar o processo de que alia o conhecimento discipli-
inserção da Educação Ambiental (EA) na es- nar, o conhecimento pedagógico, as
cola e fazê-lo com base nas perspectivas dos experiências e a perspectiva profis-
No texto “Narrativas na formação comum de serviram para que se pudesse entender al-
117
profissionais de saúde” (2012), de Capozzol gumas ações da prática, bem como encon-
et al., os estudantes e docentes relatam suas trar soluções a diferentes problemas. Sobre
volvimento de tudo que foi lhes ensinado estudantes, no qual são utilizados
recursos como textos e documen-
em sala de aula. Nesse sentido, Pimenta
tários, têm início as atividades de
(2008, p.19) salienta que a
campo. Os estudantes são instigados
identidade [docente] se constrói, a perceber, nos encontros, como o
a partir da significação social da sujeito conta sua história de vida: as
profissão; da revisão constante dos palavras escolhidas, o modo como
significados sociais da profissão; da se refere a si mesmo e aos grupos/
revisão das tradições, também da coletivos de que faz parte, as ruptu-
reafirmação de práticas consagradas ras no fio narrativo que podem ex-
culturalmente e que permanecem pressar sofrimento etc.
significativas.
O artigo “Experiência de humanização por es-
Da mesma forma, reafirma a colocação de tudantes de medicina” (2012), de Garcia et
Zabalza (2004, p. 53), no sentido de que “a al., tem por objetivo analisar as percepções
formação transcende a etapa escolar e os de discentes de medicina referentes às ex-
conteúdos convencionais da formação aca- periências que possibilitaram o desenvolvi-
dêmica, constituindo um processo intima- mento de conteúdos, habilidades e compor-
mente ligado à realização pessoal e profis- tamentos voltados à humanização. Trata-se
sional dos indivíduos”. de um estudo de caráter qualitativo, com
Diante disso, é facilmente observável que base nas narrativas de vivências significa-
a exposição do aluno ao ambiente de tra- tivas de cuidado e acolhimento sessenta e
balho, nos primeiros semestres do seu cur- três (63) estudantes do segundo ano e do
so, proporciona um crescimento pessoal e quarto ano, tendo em vista a humanização
profissional significativo, possibilitando di- na atenção e formação do profissional de
ferentes visões e análises a partir do que é saúde. A análise embasou-se no conteúdo
exposto na sala de aula e o que ele vivencia simbólico das redações, enfocando aspec-
de vida que nos constituem e nos caracte- mover a formação humana e autonomia
fato diante das narrativas, pois são elas que profissional. Fartes e Santos (2011, p.379)
deixando transparecer quais os saberes que que, ao mesmo tempo em que com-
partilha problemas gerais da for-
nos são próprios.
mação docente, traz diferenciações
O artigo “Saberes, identidades, autonomia na nada desprezáveis em relação aos
cultura docente da educação profissional e tec- demais docentes de outros níveis e
nológica” (2011), de Vera Fartes e Adriana modalidades de ensino; enfrentar
Assim, podemos demarcar que o profissio- Sendo assim, conclui-se, com o texto, que
nal atuante na EPT, algumas vezes, tem o a formação do docente da EPT vai além das
saber de uma determinada área específica, barreiras acadêmicas, sendo construída to-
porém pode vir a desenvolver atividades dos os dias diante das demais formações
de docência para diferentes níveis de ensi- e das experiências vividas, muitas vezes
no, não possuindo uma formação que lhes possibilitada por meio dos poderes institu-
propicie estabelecer relações sólidas e perti- cionais e das políticas públicas da EPT. Em
nentes entre o mundo do trabalho, EPT e a relação aos saberes docentes, Tardif (2002)
formação final do aluno inserido nesse con- comenta sobre os saberes experienciais, sa-
texto. Machado (2008, p.15) salienta que beres esses que são constituídos no cotidia-
[...] para formar a força de trabalho no de trabalho dos educadores e compos-
requerida pela dinâmica tecnológi- tos pelas experiências que o sujeito possui e
ca que se dissemina mundialmente, das interações que estabelece. Se pararmos
é preciso “um outro perfil docente para pensar, podemos dizer que a profissão
capaz de desenvolver pedagogias do
docente se constrói pelos saberes. Portanto,
trabalho independente e criativo,
se pensarmos nos profissionais da EPT, de-
construir a autonomia progressiva
dos alunos e participar de projetos vemos também investigar quais seriam os
interdisciplinares” [...] As exigências saberes necessários para atuação neste es-
com relação ao perfil dos docentes paço de ensino e aprendizagem, enfatizan-
Sendo assim, a EPT tem uma cultura espe- que se apresenta em torno da EPT no Brasil
cífica de produção de saberes e, sobre esta, e da sua visibilidade desde a instituição dos
o texto “Saberes da docência na educação Institutos de Educação, Ciência e Tecnolo-
profissional e tecnológica: um estudo sobre o gia, cabe pensarmos quais saberes são acio-
olhar dos professores” (2012), de José Ânge- nados por esses profissionais e como se dará
lo Garriglio e Suzana Burnier, faz uma dis- a formação desses sujeitos especificamente
123
cussão inicial. Os autores discutem sobre diante das demandas que se apresentam.
os saberes mobilizados pelos docentes da
EPT em suas atividades educativas e sobre 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
as concepções de formação profissional
Trazer à tona as pesquisas junto ao banco
subjacentes a tais saberes, congregando au-
de dados da Scielo Pesquisas, com o intuito
tores como Gauthier (1998), Tardif (1996),
de vislumbrar o que se tem produzido sobre
Lessard (1996), Oliveira (2006) e Peterossi
a formação dos professores para a Educação
(1992). Favorecem o debate sobre a forma-
Profissional e Tecnológica e narrativas de
ção de professores para atuar nesses espaços,
formação, nos faz repensar sobre a forma-
possibilitando aos professores autonomia e
ção do profissional atuante na EPT, refletir
desenvolvimento de seus saberes para que
sobre o público-alvo desta modalidade de
possam fazer parte da estrutura educacio-
ensino, e quais os saberes necessários para
nal. Diante dessa análise, os autores Garri-
formar cidadãos conscientes. Posto que,
glio e Burnier (2012, p.227) afirmam.
uma vez que se propõe uma nova modali-
[...] tomamos como referência o dade de ensino, deve-se se pensar nas po-
modelo tipológico criado por Tardif
líticas públicas que irão conversar com os
(2002) para identificar e classificar
profissionais que atuarão neste contexto.
os saberes profissionais dos docen-
tes. Nesse modelo, busca-se compre- A análise dos trabalhos supracitados permi-
ender o pluralismo do saber da base tiu identificar uma significativa preocupa-
profissional dos professores, relacio- ção com a formação dos professores da EPT
nando-se com os lugares nos quais
diante das políticas públicas que descrevem
os próprios professores atuam, com
sobre esta modalidade. Enfatizou, também,
as organizações que os formam e/ou
nas quais trabalham, com seus ins-
a importância de se usar as narrativas de
trumentos de trabalho, as fontes de formação desses profissionais para o cres-
aquisição desse saber e seus modos cimento profissional de si e de seus pares.
de integração no trabalho docente.
Evidenciaram-se, ainda, as poucas pesqui-
Contudo, são os saberes acionados pelo sas realizadas em relação às narrativas de
professor que o constrói profissionalmente, formação dos professores da EPT, sendo
sendo esses construídos pelas experiências que, na presente pesquisa, não foi encon-
de si em meio ao contexto no qual está in- trado nenhum trabalho com esta ênfase,
Diante das categorias Narrativas de Formação e Formação Docente, foi possível identificar
que, na primeira categoria, os autores dão ênfase à importância das narrativas de forma-
ção para constituição de grupos, da valorização dos saberes, da troca de experiências, da
constituição integral do sujeito, deixando transparecer, ainda, que os saberes docentes são
estabelecidos diante das experiências vividas em seus trajetos formativos, intenso desaco-
124
modar-se e reconstruir-se, permitindo a reflexão sobre a prática profissional, com vistas à
sua transformação diante das demandas que se apresentam.
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ZABALZA,M. O Ensino Universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Art-
med, 2004.
RESUMO
Quando se fala sobre as questões de gênero no espaço educacional, a Literatura é uma
das maneiras mais acessíveis de fazer esse tema chegar ao mundo infantil e juvenil de
uma maneira eficaz e oportuna, especialmente em um país que ocupa a 5ª posição no
ranking mundial em casos de violência contra as mulheres. Este trabalho objetiva ana-
lisar a importância da leitura de obras que permitam a (res)significação das questões de
gênero na literatura infantojuvenil contemporânea, aqui exemplificada pelos contos de
fadas de Marina Colasanti. Essas narrativas permitem o diálogo com histórias reunidas da
tradição popular e associam-se aos novos discursos sociais, relacionados à igualdade de
gênero, além de ajudar na construção do senso critico dos leitores, constituindo-se como
prática de letramento. Os contos infantojuvenis da autora apresentam personagens que
(re)constroem e (re)dimensionam a representação da mulher, as quais agem de forma in-
dependente e altiva frente às conflituosas relações de afeto com o oponente masculino,
geralmente o pai, o companheiro ou até mesmo toda a sociedade. A partir da linguagem
simbólica proposta nessas obras, os enredos redimensionam papéis que indicam a assimi-
lação/transformação do passado, ao mesmo tempo em que põem às claras desequilíbrios
presentes no contexto histórico, político e social de várias épocas. Isso permite ao leitor
iniciante uma postura crítica e questionadora, uma vez que mais do que decodificar a
linguagem escrita, a produção de Colasanti incentiva a exploração dos sentidos do texto
por meio da relação entre os elementos que compõem as narrativas maravilhosas e a reali-
dade, possibilitando às crianças e jovens um aprendizado que as situações do mundo real
não oferecem. Como fundamentação teórica deste estudo apresentam-se os pressupos-
tos de Arroyo (2010), Lajolo e Zilberman (2005), Cecil Zinani (2009), Lúcia Zolin (2003,
2006), Cosson (2007) para esclarecer de que forma essas configurações literárias contri-
buem para as práticas de letramento e a construção de novos valores, contribuindo para a
consolidação de uma sociedade mais justa e democrática.
ABSTRACT
128 When talking about gender issues in the educational space, Literature is one of the most
accessible ways to make this topic reach the world of children and youth in an effective
and timely manner, especially in a country that ranks 5th in the world ranking in violen-
ce against women. This work aims to analyze the importance of reading works that allow
the (re) signification of gender issues in contemporary juvenile literature, here exempli-
fied by the fairy tales of Marina Colasanti. These narratives allow dialogue with stories
gathered from popular tradition and are associated with new social discourses related to
gender equality. The author’s children stories present characters who (re) construct and
(re) dimension the woman’s representation, who act in an active manner in the face of
conflicting affective relations with the male opponent, usually the father, the partner or
even the whole society . From the symbolic language proposed in these works, the entan-
glements re-dimension roles that indicate the assimilation / transformation of the past,
while at the same time putting clear imbalances present in the historical, political and
social context of various eras. This allows the beginning reader a critical and questioning
posture, since rather than decoding the written code, Colasanti’s production encourages
the exploration of the meanings of the text through the relation between the elements
that compose the wonderful narratives and reality, constituting as a practice of literacy,
enabling children and young people to learn what real-world situations do not offer. As
a theoretical basis of this study, we present the assumptions of Arroyo (2010), Lajolo and
Zilberman (2005), Cecil Zinani (2009), Lúcia Zolin (2003, 2006) and Cosson (2007) to cla-
rify how these literary configurations contribute to literacy practices and the construction
of new values, contributing to the consolidation of a more just and democratic society.
longo dos anos. Por essa razão, as questões não precisemos mais nos esconder
atrás de pseudônimos masculinos,
de gênero merecem ter um espaço maior de
como no século XIX, sabemos que
debates dentro e fora da escola.
os leitores abordam um livro de ma-
No passado, as mulheres ocupavam somen- neira diferente quando ele é escrito
te o espaço doméstico, não tinham direito por uma mulher ou por um homem.
periféricos. Eram submetidas aos desarran- Por essa razão, a literarura assume uma fun-
jos de uma sociedade patriarcal e misógi- ção humanizadora, pois é plena de saberes
na, que rotulava suas produções científicas, sobre o homem e o mundo, onde eu amplia
artísticas e profissionais como inferiores ou o saber da vida por meio da experiência do
sem valor algum. Especificamente, em re- outro. Na escola, a leitura literária deve ser
lação às obras de autoria feminina, muitas compartilhada, e isso se faz através de aná-
autoras usavam codinomes masculinos ou lise literária que “toma a literatura como
transvestiam suas insatifações em metáfo- um processo de comunicação” e se efetiva
ras ou alegorias, pois a crítica literária tam- quando a obra é explorada sob os mais va-
bém era essencialmente misógina. Por isso, riados aspectos.
as obras que pertenciam ao cânone literário
Essa exploração cabe ao professor, que cria
também representAavam discursos oriun-
condições para o encontro do aluno com a li-
dos da sociedade patriarcal, que durante
teratura. A esse respeito, Cosson (2006) afirma
muitas décadas dominaram as produções
Em primeiro lugar, o letramento li-
artístico-culturais.
terário é diferente dos outros tipos
A esse respeito, no ensaio Por que nos pergun- de letramento porque a literatura
tam se existimos? a escritora Marina Colasan- ocupa um lugar único em relação à
tões relacionadas a gênero, discriminação, Assim como as autoras Lygia Fagundes Tel-
igualdade, raça, etnia, entre outras temáti- les, Cecília Meirelles, Rachel de Queiroz,
Boa parte dos contos infantojuvenis da au- cassem sempre vistosas, mas lamentava por
não ter ninguém com quem compartilhar
tora destinados a leitores em formação pro-
a vida. Diante dessa falta, o jardineiro de-
põe uma (re)definição da condição femini-
cidiu “cultivar uma companheira”. No dia
na no mundo. E podem ser usados como
seguinte, trouxe um saco com duas belas
material didático que permite repensar a
mudas. Escolheu o lugar, cavou a primeira
representação dos papéis de gênero na so-
cova e com gestos sábios de amor enterrou
ciedade.
as raízes. Quando os primeiros galhos des-
pontaram, carinhosamente os podou, até
4 A MULHER RAMADA: que outros galhos brotassem mais fortes.
NOVOS TEMPOS, NOVOS
DESTINOS Durante meses, trabalhou conduzindo os
ramos de forma a preencher o desenho que
A seguir apresentaremos a análise de um
só ele sabia, retirando os espigões teimosos
dos contos da autora que permite um diá-
que escapavam à harmonia exigida. O jar-
logo com as questões de gênero e que tam-
dineiro vai trabalhando na imagem de sua
bém possililita ao docente o trabalho com amada, sempre eliminando os excessos,
a leitura a partir de práticas de letramento conforme descrição a seguir:
literário.
Aos poucos, entre suas mãos, o arbusto foi
O conto mulher ramada faz parte da cole- tomando forma, fazendo surgir dos pés
tânea infantojuvenil Antes de virar gigan- plantados no gramado duas lindas pernas,
te, publicada em 2001. A história se passa depois o ventre, os gentis braços da mulher
em um lugar longínquo, com personagens que seria sua. Por último, cuidado maior,
inominados e apresenta um único conflito a cabeça, levemente inclinada para o lado.
central, ou seja, segue a mesma estrutura e O jardineiro ainda deu os últimos retoques
sequência dos contos de fadas tradicionais, com a ponta da tesoura. Ajeitou o cabelo,
porém com novas configurações para os arredondou a curva de um joelho. Depois,
papéis sociais. afastando-se para olhar, murmurou encan-
No trecho acima, o jovem leitor percebe- tas verdes. Mas, enquanto todos os arbustos
rá o insólito, o elemento sobrenatural que se enfeitavam de flores, nem uma só gota
é típico dos contos de fadas que herdaram de vermelho brilhava no corpo da roseira.
muitas caracteríscicas dos contos folclóricos Nua, obedecia ao esforço do seu jardineiro
produzidos a partir dos saberes humanos que, temendo viesse a floração romper tan-
133
empíricos oriundos da tradição oral. Nesse ta beleza, cortava todos os botões. De tanto
trecho também é perceptível ao leitor, as- contrariar a primavera, adoeceu, porém, o
sim como no mito biblico de Adão e Eva jardineiro. E, ardendo de amor e febre na
que a mulher surgiu como obra do homem: cama, inutilmente chamou por sua amada.
nasce a Rosamulher, que se tornaria com- (COLASANTI 2001. p. 08)
panheira do solitário jardineiro. E, da mes-
Neste trecho, percebemos que todos os cui-
ma forma como no mito bíblico a mulher
dados destinados a sua amada impediam o
“recém-criada” deveria ser subordinada ao
desenvolvimento da planta. O jardineiro cor-
seu criador. Talvez fosse esse o desfecho de
tava todos os botões, sempre contrariando a
um conto de fadas clássico, mas essa ordem
natureza. Todavia, a rosa resistia às dificul-
estabelecida será subvertida como forma de
dades. Muitos dias se passaram antes que ele
diálogo com os novos paradigmas típicos
da modernidade e os novos discursos so- pudesse voltar ao jardim. Quando afinal con-
ciais presenciados no mundo real. seguiu se levantar para procurar por sua ama-
da, o jardineiro percebeu que sua ausência
Inicialmente, a personagem “Rosamulher”
havia feito a “Rosamulher” se desenvolver.
tinha a cabeça inclinada para o lado e não
para frente. O amor que o jardineiro parece Isso fez com que o jardineiro se surpreen-
sentir por sua nova companheira apresen- desse, pois a “Rosamulher”, sem os seus
ta um paradigma de dominação. Essa ima- cuidados parecia ainda mais bela: “Florida,
gem simbólica é constante, como um dos pareceu-lhe ainda mais linda” (op cit 2001.
fios condutores da narrativa colasantiana. p. 10). Perdida estava a perfeição do rosto,
Com o passar dos dias, a admiração do jar- perdida a expressão do olhar, mas do seu
dineiro pela “Rosamulher” só aumentava, amor nada se perdia. Nunca “Rosamulher”
por diversas vezes ele é descrito como fiel fora tão rosa e seu coração de jardineiro
contemplador de sua obra. soube que jamais teria coragem de podá-
Porém, mesmo com todos os cuidados de -la. Nem mesmo para mantê-la presa em
seu criador, Rosa mulher não se desenvolvia seu desenho. Então, docemente a abraçou
como as outras plantas daquele jardim. Essa descansando a cabeça no seu ombro. E es-
imagem poética dá margem a interpretações e perou, o jardineiro envolvido por aquele
reflexões referenciadas nos papeis de gênero: contato perdeu-se entre as folhagens.
seus caminhos. Sem perceber debaixo das mulher está inserida, construindo por meio
de recursos enunciativos diferenciados, a
flores o estreito abraço dos amantes. (CO-
representação da imagem feminina. A esse
LASANTI 2001. p. 10)
respeito, Lucia Zolin (2009, p. 107) ressalta
Percebemos que a tessitura narrativa de A as contribuições que essas novas representa-
mulher ramada apresenta o reconhecimen- ções trazem aos estudos culturais:
to da experiência de uma mulher que passa
No contexto da pós-modernidade – profí-
a viver de forma independente por meio de
cuo às manifestações da heterogeneidade e
uma linguagem esteticamente trabalhada
da multiplicidade, e inóspito aos discursos
e acessível à criança e ao jovem, conforme
totalizantes –, a crítica literária feminista,
exemplificado a seguir:
bem como o feminismo entendido como
Verde claro, verde escuro, canteiro de flores, pensamento social e político da diferença,
arbusto entalhado, e de novo verde claro, surge com o intuito de desestabilizar a le-
verde escuro, imenso lençol do gramado; gitimidade da representação, ideológica e
lá longe o palácio. Assim o jardineiro via tradicional, da mulher na literatura canôni-
o mundo, toda vez que levantava a cabeça ca. Após um momento inicial de denúncia
para ir ao trabalho [...]. E aos poucos, entre e problematização da misoginia que per-
suas mãos, o arbusto foi tomando forma, meia as representações femininas tradicio-
fazendo surgir dos pés plantados no grama- nais, ora presas à nobreza de sentimentos e
COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil juvenil: das origens
indo-europeias ao Brasil contemporâneo. 4. ed. rev. São Paulo: Ática, 2003.
COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
LAJOLO, Marisa. No reino do livro infantil. In: ZILBERMAN, Regina (Org.) Os preferidos do pú-
blico: os gêneros da literatura de massa. Petrópolis: Vozes, 2001. (Debates Culturais, 4). p. 52-64.
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