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Perturbações Fóbicas

Hilário, A.L. & Morgado, A.S.

O eminente psicólogo americano Stanley Hall deu-se um dia ao trabalho de nos


apresentar toda uma série dessas fobias com pomposos nomes gregos. Parece a
enumeração das dez pragas do Egipto, com a diferença de que as fobias são muito
mais numerosas.
Sigmund Freud

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS INTERCULTURAIS E TRANSDISCIPLINARES


Campus Universitário de Almada
Licenciatura de Psicologia

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Indice
 Introdução
 Resenha histórica
 Definição e caracterização da patologia (Sinais e Sintomas)
◦ Agorafobia
◦ Fobia Específica
◦ Fobia Social
 Prevalência e epidemiologia
 Diagnóstico diferencial
 Terapêutica
◦ Teorias explicativas e modelos psicoterapêuticos
 Conclusão
 Bibliografia

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Introdução
 a dimensão da perturbação é aquilo que distingue uma fobia de um medo
 um medo intenso e irracional de um ou mais objectos ou situações, sendo
que a maioria das pessoas apresentam temporariamente algum subtipo
que, por ser de grau leve, acaba por não afectar o seu dia a dia (Gleitman,
1999; Cardioli & Oliveira, 2008)
 a ansiedade, desconforto ou medo são evocados por certas situações,
lugares ou objectos externos ao indivíduo que, em geral, não são
perigosos
 leva a um comportamento de evitamento, mesmo quando o paciente
fóbico reconhece não ser essa uma atitude racional, que ajuda a manter a
própria fobia

A palavra fobia tem sua origem em Phobos, filho de Marte e Vénus.


Este é a personificação do medo, que acompanhava o seu pai nos
campos de batalha incitando os combatentes a fugir.
(Menezes, 2003)

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Resenha histórica
 desde Hipócrates ao séc. 18 que os problemas fóbicos eram
descritos ocasionalmente
 Introdução do termo fobia no início do séc. 19, significando um
medo intenso, fora de proporção quanto ao estímulo aparente que
não desaparece com explicação ou racionalização e que leva ao
evitamento do estímulo receado
 no final do séc. 19, descrição de agorafobia por Westphal
 em 1895, Freud separou as fobias comuns das fobias de coisas ou
situações
 tiveram a sua categoria de diagnóstico em 1947
 nas duas primeiras edições do Diagnostic and Statistical Manual
(DSM) as fobias encontravam-se todas agrupadas
 na terceira edição houve uma separação da agorafobia, fobia social
e fobia específica

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Sinais e Sintomas
Somáticos: Psicológicos:
 tonturas  inquietação
 desassossego  sensação de falta de ar
 palpitações  confusão
 taquicardia  angústia pânico
 formigueiros  medo de morrer
 tremores  medo de perder o controlo
 Sudorese / diaforese  sensação de irrealidade
 desconforto abdominal  falta de noção do eu
 náuseas (despersonalização)
 diarreia / obstipação
 hipertensão
 hiper-reflexia
 dores musculares devido à
tensão

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Agorafobia
 Perturbação de Pânico com Agorafobia
◦ foco do medo centrado na ocorrência de sintomas
semelhantes ao pânico, pela incapacitação ou
embaraço extremo, ou ataques de sintomas limitados

 Agorafobia sem História de Perturbação de


Pânico
◦ foco do medo centra-se no ataque de pânico
completo

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Agorafobia - Critérios no DSM-IV
 ansiedade de se encontrar em lugares ou situações nos
quais a fuga possa ser difícil ou embaraçosa ou que não
possa ter ajuda disponível no caso de ter um ataque de
pânico ou sintomas semelhantes.
 evitamento das situações ou enfrentamento com um
intenso mal-estar ou requerendo a presença de uma
pessoa de confiança
 A ansiedade ou evitamento fóbico não são melhor
explicadas por outra perturbação mental

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Agorafobia - Evolução
Perturbação de Pânico com Agorafobia
 acontece mais habitualmente durante o primeiro ano
dos ataques de pânico recorrentes, embora a relação da
Agorafobia com a evolução dos ataques de pânico possa
variar

Agorafobia sem História de Perturbação de Pânico


 persiste durante anos e está associada com considerável
deficiência

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Fobia Específica - Subtipos
 Tipo Animal – medo desencadeado por animais ou insectos
aracnofobia, apifobia
 Tipo Ambiente Natural – medo desencadeado por situações
do ambiente natural
brontofobia, acrofobia, hidrofobia
 Tipo Sangue-Injecções-Ferimentos – medo desencadeado
pela visão de sangue, ferimentos, por levar uma injecção ou
outro procedimento invasivo
hematofobia
 Tipo Situacional – medo desencadeado por situação
específica
túneis, pontes, voar ou conduzir
 Outro Tipo – medo desencadeado por outro estímulo
asfixia, vómito ou contrair doenças
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Fobia Específica - Critérios no DSM-IV
 medo acentuado e persistente que é excessivo e irracional,
desencadeado pela presença ou antecipação de um objecto
ou situação específica
 a exposição ao estímulo fóbico provoca quase sempre
invariavelmente uma resposta ansiosa imediata, que pode ter
a forma de um ataque de pânico situacional ou
situacionalmente provável
 reconhecimento de que o medo é excessivo ou irracional
 a situação fóbica é evitada ou enfrentada com intensa
ansiedade ou mal estar
 o evitamento, antecipação ansiosa ou mal estar na situação
temida interfere significativamente com as rotinas normais da
pessoa, funcionamento ocupacional, relacionamentos ou
actividades sociais ou mal estar acentuado por ter a fobia
 em sujeitos com idade inferior a dezoito anos, a duração é
pelo menos de seis meses

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Fobia Específica – Evolução
 é na infância que habitualmente ocorrem os primeiros sintomas de
Fobias Específicas ou no início da adolescência, podendo ocorrer mais
cedo nas mulheres do que nos homens.
 o medo de um estimulo está presente durante algum tempo antes de
causar mal estar ou défice para ser considerado o diagnóstico de fobia
específica
 os factores que predispõem incluem acontecimentos traumáticos,
ataques de pânico inesperados na situação temida, observar outros
expostos à situação traumática ou mostrando medo, transmissão por
informação
 os objectos ou situações temidas envolvem situações que podem
representar ameaça em alguma altura da evolução humana
 as fobias que resultam de acontecimentos traumáticos ou ataques de
pânico inesperados tendem a ter um desenvolvimento agudo
 na adolescência aumentam as probabilidades de persistência de fobia
específica ou desenvolvimento de outras no início da idade adulta, mas
não predizem o desenvolvimento de outras perturbações

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Fobia Social
Segundo Gleitman (1999), as pessoas que sofrem de fobia social, têm
medo de ser envergonhadas ou humilhadas em frente de outras
pessoas, estas tentam a todo o custo evitar situações que possam ser
alvo, evitam falar em público ou subir a um palco, porque pensam
antecipadamente que se vão sair mal, evitam comer num restaurante,
porque pensam que se podem engasgar, não vão a reuniões porque
pensam que não vão conseguir dizer nada.

Pode-se considerar a fobia como uma aprendizagem de


tentativa única que jamais sofreu actualização.
(Bandler, 1984, cit. por Ferreira, 2003)

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Fobia Social - Critérios no DSM-IV
 medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais e
de desempenho nas quais o sujeito está exposto a pessoas
desconhecidas ou à possivel observação de outras
 a exposição à situação social temida provoca quase sempre
ansiedade, que pode ter a forma de um Ataque de Pânico
situacional ou situacionalmente provável
 a pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional
 a situação fóbica é evitada ou enfrentada com intensa ansiedade ou
mal-estar
 o evitamento, antecipação ansiosa ou mal-estar na situação sociais
ou de desempenho interferem significativamente com as rotinas
normais da pessoa, funcionamento ocupacional, relacionamentos
ou actividades sociais ou mal-estar por ter a fobia
 em sujeitos com idade inferior a dezoito anos, a duração é pelo
menos de seis meses
 se um estado físico geral ou outra perturbação mental estiverem
presentes, o medo do critério A não está relacionado com ele

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Fobia Social – Evolução
 habitualmente tem início a meio da adolescência, emergindo por
vezes de uma história infantil de inibição social ou timidez
 o Início pode seguir-se a uma experiência stressante ou humilhante
ou pode ser incidioso
 a evolução da fobia social é frequentemente contínua
 a duração é muitas vezes crónica, mas a perturbação pode ter a
intensidade atenuada ou redimir durante a idade adulta e a
intensidade da deficiência pode flutuar com as exigências ou
acontecimentos de vida stressores

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Prevalência e Epidemiologia
Agorafobia:
 1% a 2% de prevalência de Perturbação de Pânico com
ou sem Agorafobia ao longo da vida; dos quais cerca de
um terço da metade tem Agorafobia (em amostras
comunitárias)
 mais diagnosticada em mulheres do que homens

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Prevalência e Epidemiologia
Fobia Específica:
 a prevalência varia de acordo com os tipos de
fobias e com o limiar utilizado para determinar o
mal estar
 a proporção entre os sexos varia entre os
diferentes tipos de Fobias Específicas

◦ Aprox. 75-90% com o Tipo Situacional, Tipo Animal e


Tipo Ambiente Natural são do sexo feminino (excepto o
medo de alturas  mulheres 55-70%)
◦ Aprox. 55-70% com o Tipo Sangue-Injeção-Ferimentos são
mulheres

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Prevalência e Epidemiologia
Fobia Social:
 a prevalência varia de 3% a 13% ao longo da vida
 pode variar de acordo com o limiar utilizado para
determinar o mal estar e com o número de tipos
de situações sociais especificamente inquiridas
◦ a maior parte dos sujeitos apresenta medo de falar em
público
◦ menos de metade tem medo de falar com estranhos ou de
se encontrarem com pessoas que não conhecem
 sem dados sobre a proporção entre os sexos

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Diagnóstico Diferencial
 foco do medo
 tipo de evitamento
 nível de interferência / incapacitação
 reconhecimento de que o medo é irracional e
excessivo
 duração
 presença ou ausência de outro estado físico

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Terapêutica
 A condição fóbica pode persistir muito além das
causas originais se terem esbatido e segundo
Millon (1969) a primeira razão para esta
persistência terá a ver com o reforço positivo e
os ganhos secundários associados com o
desempenho do comportamento fóbico

 «Enquanto alguns vêm as fobias como “hábitos”


não-adaptativos que por si mesmos constituem o
problema, outros vêm-nas como um aspecto
superficial que indicia uma patologia mais
profunda. » (Maj et al., 2004)

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Teorias explicativas e modelos
psicoterapêuticos

 Modelo Psicodinâmico
 Modelo Cognitivo-Comportamental
 Outros Modelos
 Tratamento Farmacológico

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Teorias e modelos
 Modelo Psicodinâmico

Se a fobia se desenvolve por associação


condicionada, também nela teve a sua origem, pois
que geralmente o suposto objecto fobígeno não
passa de um estimulo primitivamente neutro e
inofensivo, que foi substituir o verdadeiro motivo de
medo, o qual se encontra reprimido. Portanto, o que
causa medo a alguém não é o que aparece com o
significado de objecto da sua fobia, mas sim o
desejo ou acção que simboliza.
(Athayde, 1976)

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Teorias e modelos
 Modelo Cognitivo-Comportamental

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Teorias e modelos
 Outros Modelos

◦ Teorias biológicas
◦ Teoria da evolução
◦ Teoria Existencial

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Teorias e modelos
 Tratamento Farmacológico
◦ provavelmente, aquele a que o paciente fóbico
mais recorre
◦ inibidores selectivos de recaptação da serotonina
e os benzodiazepínicos utilizados com sucesso no
tratamento da fobia social, mas não foi verificada
eficácia no tratamento das fobias específicas
◦ D-cicloserina parece auxiliar a terapia de
exposição, parecendo acelerar os processos de
aprendizagem, contribuindo para a correcção da
psicopatologia pela extinção do medo
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Conclusão
 Causas, processos e manutenção ainda pouco
esclarecidos.
 Persistência na ausência de tratamento e ausência
de diagnóstico por não causarem tanto dano no
dia a dia.
 Os psicofármacos poderão ser muito úteis para
se conseguir uma base estável a partir da qual
poderá ser feita a psicoterapêutica
 Dificuldade no diagnóstico diferencial.
 O diagnóstico de fobia pode ser um factor de
risco para futuros quadros patológicos.
 Taxa de prevalência mais elevada para as mulheres
do que para os homens.
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Bibliografia
 Association, American Psychiatric (2006). DSM-IV-TR: Manual de Diagnóstico
e Estatística das Perturbações Mentaiss, 4ª Edição, Texto Revisto. Lisboa:
Climepsi Editores.
 Athayde, J.S. (1976). Elementos de Psicopatologia. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
 Cordioli, A.V. & Oliveira, R.R. (2008). Terapia comportamental no
tratamento de fobias específicas, In A.V. Cordioli et col. (eds.), Psicoterapias,
3ª edição (pp.449-466). Porto Alegre: Artmed.
 Gleitman,H. (1999). Psicologia.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
 Hallam, R.S. (1976). A Complex View of Simple Phobias, In H.J. Eysenck
(ed.). Case Studies in Behaviour Therapy, pp.97-119. London: Routledge &
Kegan Paul Ltd.
 Maj, M., Akiskal, H.S., López-Ibor, J.J. & Okasha, A. (2004). Phobias. West
Sussex, England: John Wiley& Sons Ltd.
 Millon, T. (1969). Modern Psychopathology, a biosocial approach to maladaptive
learning and functioning. Philadelphia: W.B. Saunders Company.
 NARSAD (2008). Disorders & Conditions. The World’s Leading Charity
Dedicated to Mental Health Research. Retirado de:
http://www.narsad.org/dc/anxiety/phobias.html

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