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Boletim do Instituto de Arqueologia Brasileira

Ano 1982 Número 9

Comissão Editorial:
Diretor: Calasans Rodrigues
Eliana Carvalho
Ondemar Dias Jr.

Desenhistas:
Eva Sellei
Ondemar F. Dias

Auxiliares:
Rosângela Menezes
Divino de Oliveira
Carmen Salvador

Autores que colaboraram neste número:

Calasans Rodrigues
Eliana Carvalho
Ondemar Dias Jr.
Laura Silva
Paulo Seda
Índice

Apresentação ................................................................................................ ......7

São Tomé das Letras: A Lenda e a Arqueologia


Calasans Rodrigues.............................................................................................9

O Sítio D. Laura – RJ – LP – 43: Uma Pesquisa De Salvamento


Num Sítio Tupiguarani.
Laura Silva.........................................................................................................17

Os Sítios com Sinalações Pesquisados Pelo IAB:


Um Guia Para Cadastramento
Eliana Carvalho
Paulo Seda..........................................................................................................23

Notícias Preliminares das Escavações na Lapa


Da Foice II – MG – RP – 8
Ondemar Dias
Eliana Carvalho........................................................................................... ........69
Apresentação

O Boletim do Instituto de Arqueologia Brasileira volta a circular, agora, em


seu número 9, relativo ao ano de 1982. O último número da série normal, o oitavo,
veio a público durante o ano de 1979. Neste intervalo de tempo o IAB publicou o
Boletim Série Especial nº 2, em 1981 e o Catálogo da Exposição sobre Arqueologia
Amazônica, 1981-2, todos com artigos de técnicos do IAB e de colegas de
instituições científicas de alto gabarito, que vieram valorizar nossa modesta
publicação. Desta forma temos garantido uma certa periodicidade, que sempre nos
esforçaremos em manter.

Desta feita, graças, sobretudo ao patrocínio do Prof. Claro Calasans


Rodrigues, Diretor-Presidente do IAB que custeou as despesas de impressão,
apresentamos 4 artigos que, naturalmente, despertarão o interesse dos leitores e
que se referem a trabalhos efetuados pela equipe do nosso departamento de
pesquisas nos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

Além dos Profs. Claro Calasans, Ondemar Dias e Eliana Carvalho, com
vasta bibliografia publicada e já por demais conhecidos dos leitores, também
colaboram neste número o Prof. Paulo Seda, responsável pelo Núcleo de
Documentação de Arte Rupestre do Departamento de Pesquisas do IAB, já
experiente profissional integrado à Equipe e que pela primeira vez assina, como co -
autor, um artigo neste veículo de divulgação e a Prof.ª Laura Silva, da primeira
turma de arqueólogos formados em nível de graduação no Rio de Janeiro, que
igualmente integra a equipe e que faz sua estreia nesta oportunidade.

Queremos agradecer à Wenner-Gren Foundation Anthropological Research


a doação de uma gravadora eletrônica de estêncil que será utilizada na elaboração
das futuras publicações do IAB o que, neste número, foi utilizada na confecção das
matrizes das páginas 10, 11 e 12.

Tornamos pública nossa gratidão a Fundação Wenner-Gren, cuja confiança


significa mais um incentivo para o prosseguimento dos nossos trabalhos.

Rio de Janeiro, setembro de 1982.


São Tomé das Letras: A Lenda e a Arqueologia
Calasans Rodrigues

Ao sul do Estado de Minas Gerais, a cerca de 50 quilômetros de Baependi,


fica situada a cidade conhecida pelo curioso topônimo de São Tomé das Letras,
verdadeiro monumento de pedra, na serra do mesmo nome, em cujo topo se ergue a
pequena localidade que tem seu nome originado da lenda de um escravo fujão.

Podemos considerar São Tomé das Letras como a cidade mais “sui generis”
do Brasil, onde o tijolo não entrou, nem há casas de palha, pois o arenito ali
abundante fornece o único material usado nas construções. Extensos paredões de
pedras sobrepostas cercam a cidade dando-lhe um aspecto de ruínas. Até os telhados
das casas são grandes placas de arenito. O cemitério, vasto retângulo de pedras, foi
feito com terra trazida da baixada.

A extração do arenito constitui a única fonte de renda de seus moradores.

Nas grutas, nos paredões e nos abrigos veem-se detritos resultantes da


deposição de óxido de ferro formando ramagens de aspecto curioso. Nos paredões e
abrigos notam-se “letras” e figuras em vermelho, em geral, bem conservadas devido
à secura do clima. A igreja, também em arenito, ostenta no retábulo e no teto
pinturas atribuídas a um tal Natividade, pintor que teria vindo na comitiva do
Príncipe D. João.

Mas, vamos à lenda:

Gabriel Francisco Junqueira, Barão de Alfenas, era senhor de muitas terras e


de grande número de escravos. Um dia, fugiu-lhe um deles serra acima. Ao cair da
tarde o escravo fujão abrigou-se em uma pequena abertura da rocha e ali adormeceu.
Apareceu-lhe então um ancião de longas barbas brancas vestido de frade. O santo
homem perguntou ao escravo por que tinha fugido. Aconselhou-o a voltar para seu
amo dizendo-lhe que nada temesse, pois nada lhe aconteceria. Entregou-lhe uma
carta para o Barão. Na manhã seguinte o escravo partiu de volta à fazenda aonde
chegou depois de uma longa caminhada serra abaixo, Chegando à fazenda entregou
a carta ao Barão que a leu. Estava cheia de conselhos cristãos e assinada Tomé. No
dia seguinte, numa caravana com o escravo à frente, o Barão subiu a serra e, já à
tardinha, chegara, ao local da aparição. Com grande surpresa ali estava uma pequena
imagem de São Tomé, tal qual a aparição que o escravo presenciara na noite
anterior. Ao lado do abrigo, encimado por umas “letras” iguais às que o Barão
recebia nas cartas da corte, o mandou erguer uma pequena capela de taipa e mais
tarde uma igreja sob a invocação do Apóstolo São Tomé. Na sacristia há um retrato
a óleo do Barão pintado pelo mesmo Natividade.

As “letras” nada mais são do que sinalações rupestres identificadas pelo Dr.
Ondemar Dias em 1968, quando, pelo IVº Ano do Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas (PRONAPA) uma equipe do IAB se dirigiu à cidade de Baependi, de
onde seguiu para o Município de São Tomé das Letras, com o propósito de fazer o
levantamento e o cadastramento das pinturas rupestres existentes.

A informação fora dada pelo autor que ali estivera anteriormente com um
grupo de excursionistas e que então integrava a equipe. Foi feito naquela
oportunidade o cadastramento dos três sítios que constam do presente trabalho e
cujas características são as seguintes:

MG-GV-10 - Toca De São Tomé

No Município de São Tomé das Letras (MG), antigo Distrito de Baependi, na


Praça fronteira à igreja há um paredão de arenito sobre o qual, à altura de 3 metros
do solo, ocorre uma pintura em vermelho de pequenas dimensões. Essas pinturas são
conhecidas sob a denominação de “letras”, daí o seu topônimo. São, em geral,
representações zoomorfas, bastante estilizadas. Ao centro, uma linha curva apresenta
traços verticais.
MG-GV-12 - Chico da Taquara

A 4 km da sede, numa altitude de cerca de 1.500 metros, num descampado,


há um abrigo de arenito com mais ou menos 8 m de extensão por 2,5 m de altura. No
teto, mais ou menos a 2,2 m de altura, vê-se um grupo de pinturas em vermelho,
muito alteradas. A pintura à direita assinala uma linha sinuosa, tendo um pouco mais
abaixo um desenho cujo contorno representa um animal de difícil identificação.
Ambos os desenhos são ligados por linhas paralelas, em preto. Três outras
sinalações são representações zoomorfas, bastante estilizadas. Em cima há um
desenho; no meio, um desenho de formato oblongo, aberto na parte superior com
linhas quebradas no seu interior.
MG-VG-11 - Toca do Leão

No mesmo município, na entrada da cidade para quem vem de Baependi, há


um pequeno abrigo de arenito, distando mais ou menos 800 metros do centro. Esse
bloco apresenta no teto duas sinalações em vermelho. A primeira é um desenho
formado de pontos e tem formato oblongo. Mais abaixo aparece outra pintura
também em vermelho em silhueta representando, provavelmente, um felino sem
cabeça.
A lenda como consta do presente trabalho foi narrada ao autor na ocasião da
sua primeira visita à localidade, em 1949, por um antigo morador que a conservou
por tradição. Àquela época, São Tomé das Letras era o terceiro Distrito de Baependi,
conservando a mesma denominação como Município independente.

Citações Bibliográficas

1- RODRIGUES, Claro Calasans. São Tomé das Letras – monumento de pedra.


Revista Shell, vol. V, nº 49, Rio de Janeiro pg. 6-18. 1949.

2- VASCONCELOS, José Smith. Arquivo Nobiliarchico Brasileiro, vol. 331. 1918.

3- BRANDÃO, Alfredo. A escrita Pré-Histórica do Brasil. Rio de Janeiro. 1937.

4- IBGE, Enciclopédia dos Municípios Brasileiros – vol. XXIV, Rio de Janeiro.


1958.

5- Breves notas a respeito das pesquisas no sul de Minas Gerais, In: PROGRAMA
NACIONAL DE PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS; PRONAPA 4. Belém, PA,
Museu Paraense Emilio Goeldi (pub. Av. 26) pg. 133-148. 1971.
O Sítio D. Laura – RJ – LP – 43: Uma Pesquisa de Salvamento Num
Sítio Tupiguarani
Laura Silva

Introdução

Este sítio foi localizado quando o Sr. Joaquim M. de Melo – proprietário de


um terreno (onde reside) situado à Rua Belo Horizonte, nº 160 – Vilar Novo –
Belford Roxo – Nova Iguaçu – ao cortar parte do barranco atrás da sua casa para
formar uma “escada”, percebeu que havia fragmentado uma parte, possivelmente
lateral, de um grande “vaso de barro”. Alguns destes cacos foram mostrados, por
curiosidade, a um amigo, o Sr. Carlos Alberto Gonçalves que, ao identificá-los como
algo importante, resolveu mostrá-los à senhora Carmem Salvador, membro deste
Instituto. Em nosso laboratório estes cacos foram observados pelo professor
Ondemar Dias Jr., que constatou tratar-se de cacos cerâmicos, com decoração,
pertencentes a uma urna, possivelmente, Tupiguarani.

Após breves comentários sobre a região do achado sentimos a necessidade de


comparecermos ao local, para a retirada (salvamento) deste material. Organizamos,
então, uma equipe e iniciamos os trabalhos que foram executados em dois dias – 20
e 28 de setembro de 1980 - de acordo com a disponibilidade de horário do
proprietário do terreno. Este sítio foi registrado sob a sigla RJ-LP-43 - Sítio D.
Laura.

Metodologia Aplicada

1- Dificuldades:

Os trabalhos, desenvolvidos em duas etapas, mereceram cuidadosa atenção e


habilidade, pois todo o material retirado encontrava-se soterrado num solo areno-
argiloso, amarelado, meio úmido, muito compacto e com impregnações de radículas.

Preocupamo-nos em não alargar muito a área de escavação, para não


estragarmos a escada feita no barranco, o que, em parte, dificultou o
andamento dos trabalhos.

2- Técnica utilizada:
Iniciamos demarcando a área do achado (Corte 1) com aproximadamente 1m
x 1m. Como se tratava de um salvamento, realizamos a escavação retirando-se,
gradativamente, toda a terra de cima e ao redor da urna, para deixá-la exposta,
juntamente com as demais tigelas, que se fizeram acompanhar e que se encontravam
sobre a urna. Foi recolhida a terra granulada que estava no seu interior.

Prosseguindo, depois, na prospecção, abrimos o Corte 2, localizado ao norte


do Corte 1 e dele separado por uma mureta de 30 cm. Teve 1,50m no sentido N/S e
1,20m no sentido L/O. O solo era de terra dura e em determinadas partes mais
friável. Observamos um som cavo, dando a impressão de espaço oco, sugerindo um
novo enterramento; porém, foram encontrados apenas raros e esparsos cacos de
cerâmica.

Aos 20 cm de profundidade a terra tornou-se muito dura, idêntica à base do


Corte 1. Aprofundamos até os 50 cm e em área restrita, porém, não ocorreu mais
material.

Cada conjunto recolhido foi devidamente identificado e embalado


separadamente, recebendo, de acordo com a ordem da retirada, a designação de
Conjunto 1, 2, 3, 4, 5, 5 A e 6.

Os conjuntos 1, 2, 3, 4 e 5 foram ensacados, por estarem fragmentados. Os


conjuntos 5 A e 6 (urna), praticamente inteiros, foram transportados sobre um pneu
(dentro da Rural) até o laboratório do IAB.

3- Documentação:

Todo o trabalho de escavação foi devidamente documentado. Foram


preenchidas as fichas de registro de sítios com todos os dados precisos (localização,
material, etc.). Todos os conjuntos foram assinalados e desenhados. Foi feita
também a documentação fotográfica, com fotos em preto e branco e dispositivos
coloridos dos conjuntos, do meio ambiente e dos trabalhos em geral.

Material

O material retirado foi reconhecido como sendo um enterramento de urna


Tupiguarani, com acompanhamento, assim descrito:

- Urna principal (conjunto 6) carenada, com decoração, corrugado-espatulado e


hiperbólica, com cerca de 70cm de altura (encontrada vazia) e retirada praticamente
inteira,embora rachada e com a borda fraturada. A urna foi coberta de terra e
recoberta por uma tigela carenada corrugada (tampa – Conjunto 5), sobre a qual
foram colocadas tigelas retangulares de fundo do plano – tipo alguidar (Conjuntos 4,
3, 2 e 1) – emborcadas. A peça 4 apresentava-se decorada (pintada). A peça 3
apresentou-se parcialmente quebrada, pelo descobridor e a peça 1 estava muito
fragmentada.

De um modo geral, o material encontrava-se em bom estado de conservação,


o que ajudará na sua reconstituição.

Conclusão

Verificamos, pelas características observadas no meio ambiente e no material


encontrado, tratar-se de uma área de ocupação indígena possivelmente da Fase
Sernanbetiba, da Tradição Tupiguarani, pois esta, no Estado do Rio de Janeiro, além
de estender-se ao longo do litoral fluminense (aproximadamente 100 km de
extensão) – da Pedra de Guaratiba até às proximidades de Cabo Frio – também foi
localizada, em parte, na Baixada Fluminense, mais precisamente, em Nova Iguaçu.

Devido às condições ambientais é provável que a área do achado tenha sido


usada apenas como local de enterramento (região mais elevada); e o vale em frente,
próximo a um córrego e mais plana, tenha sido uma área de ocupação do mesmo
grupo relacionado à urna encontrada.

Quanto ao material verificamos tratar-se de um enterramento tupiguarani,


com acompanhamento (põem, sem conter mais os restos do esqueleto),
provavelmente feminino, tendo em vista o acompanhamento de utensílios de cozinha
(tigelas tipo alguidar).

É interessante ressaltar a importância deste material, uma vez que não se teve
ainda notícia de padrões de enterramento semelhantes a este, ou seja, de uma urna
coberta por duas tampas, na nossa área de atuação.

Posteriormente, no laboratório do IAB (no Calundu) foram iniciados os


trabalhos de limpeza e restauração das peças e, futuramente, serão feitos os estudos
de identificação e análise dos mesmos.

Equipe de trabalho

- Coordenação: Ondemar Dias Jr.

- Chefia de Campo: Paulo Seda e Carmem Salvador

- Pesquisadores: Laura Silva, Eva Sellei, Rosangela Menezes, Eutália Pons, Gilda
Andrade, Cíntia Jalles, Marcelo Mazzi e Divino de Oliveira.
Bibliografia

DIAS JR., Ondemar F. et alii. Arqueologia Brasileira em 1968. Um Relatório


Preliminar sobre o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas. Belém, Mus.
Par. Emílio Goeldi, 33p., il. (Pub, Av. 12) 1969.

Os Sítios com Sinalações Pesquisados pelo Iab: Um Guia Para


Cadastramento

Eliana Carvalho
Paulo Seda

O Estado de Minas Gerais é uma das regiões mais tradicionais no tocante às


pesquisas de Arte Rupestre. Desde os tempos de Peter Wilhelm Lund, que as
pinturas e gravações, encontradas em praticamente todo o território mineiro, vêm
despertando a curiosidade e o interesse dos estudiosos. Nos últimos anos as
pesquisas vêm recebendo um grande impulso, com a proposição de tradições e
estilos para este conjunto de sinalações (Prous, Lenna e Paula 1980).

O IAB há muito pesquisando em Minas Gerais, não poderia ficar omisso em


tal esforço. As pesquisas dos dois últimos anos do Pronapa (Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas) – iniciado em 1970 -, revelaram uma série de sítios
arqueológicos com Arte Rupestre. Os dados referentes a estes sítios vêm sendo
divulgados com certa regularidade, de maneira normalmente isolada ou imprecisa
(Calasans Rodrigues 1974; Carvalho, Cheuiche e Costa 1973; Carvalho e Cheuiche
1975 e 1976; Dias Jr., Carvalho e Cheuiche 1976; Perez 1979 e Sede 1979, 81 e 82).
O presente trabalho pretende, entre outras coisas, apresentar uma visão em conjunto
de tais sítios. Objetiva ainda, sendo um trabalho basicamente de divulgação,
contribuir efetivamente no estudo global da Arte Rupestre de Minas gerais e
canalizar esforços no sentido de evitar a superposição de trabalho das diversas
equipes de arqueologia, que vêm atuando naquele Estado.

Neste sentido, elaboramos um “roteiro de dados”, dentre os que consideramos


mais relevantes, frente aos objetivos do trabalho. Este “roteiro”, numerado de 1 a 20,
é o seguinte:
1- Sigla: além da sigla com que o sítio foi registrado junto à SPHAN (Secretaria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), apresentamos o nome pelo qual o sítio
foi “batizado”;

2- Programa: São os programas de pesquisa em que os sítios estão incluídos. Estes


podem ser o PRONAPA (pertencente ao CNPq (Cons. Nac. de Des. Científico e
Tecnológico), à SPHAN e a Smithsonian Institution), o PROPEVALE, o Programa
Vale do Jequitinhonha ou o Programa Grutas Mineiras;

3- Frente: sub-divisões operacionais dentro dos programas de pesquisa (que


englobam áreas extensas), numeradas de I a VII no caso do PROPEVALE, e
referenciadas por bacias hidrográficas (Verde Grande e Mogi-Guaçu no caso do
PRONAPA. O vale do Jequitinhonha não se apresenta dividido por frentes;

4- Localização geográfica: Município e, quando possível, Distrito onde está


localizado o sítio;

5- Tipo de Sítio: abrigo, gruta ou paredão;

6- Dimensões: são as dimensões dos sítios;

7- Sinalações: tipo de sinalação, que pode ser pictografia, no caso de pintura, ou


petroglifo, quando gravação;

8- Área de Ocorrência: localização espacial das sinalações;

9- Rocha Suporte: tipo de rocha que serviu de base para a obra rupestre;

10- Representações: refere-se à temática das sinalações. São citados, da mais


freqüente para a menos freqüente.

11- Técnicas: técnicas de execução das sinalações. Igualmente citadas a partir da


predominante;

12- Tratamento: pode ser realista ou esquemático. O predominante é sempre o


primeiro a ser indicado;

13- Cor: as diversas cores com que se apresentam as sinalações. Também


apresentadas, da predominante para a menos freqüente;

14- Conservação: grau de conservação das sinalações;

15- Acessibilidade: grau de acessibilidade do sítio;

16- Material associado: refere-se à associação aos sítios, não necessariamente às


sinalações;
17- Datação: igualmente referente ao sítio;

18- Data da Pesquisa: data da prospecção que localizou o sítio;

19- Referência bibliográfica: trabalhos em que há referências ao sítio;

20- Observações: apresentamos aqui, quando possível ou necessário, um pequeno


comentário sobre os sítios e as sinalações.

É válido ressaltarmos que a maior parte destes dados foram obtidas através de
rápidas prospecções, daí, alguns apresentarem-se imprecisos ou menos incompletos.
Além dos sítios apresentados, existem ainda outros seis, que não foram relacionados,
devido aos dados encontraram-se muito incompletos: MG-CF-1, Lapa do Salitre I,
em Coração de Jesus; MG-CF-2, Lapa Pintada do Serapião, em Brasília de Minas;
MG-JF-3, Lapa dos Bichos, em Januária; MG-JF-8, Lapa da Lavagem, em Manga;
MG-CF-13, Lapa do Mamed, em Montalvânia e MG-CP-1, Gruta do Chié, em Além
Paraíba.

Os sítios foram relacionados por programa de pesquisas.

Sítios Arqueológicos com Sinalações Rupestres

I- 1- MG-SF-20, Toca do Bugre; 2- PROPEVALE; 3-I; 4- Município de


Arcos; 5- Gruta; 6 - aproximadamente ca. de 6m x 6m; 7- Pictografias; 8-
10m da boca principal, direção leste; 9- calcáreo; 10- zoomorfas; 11-
silhueta; 12- realista e esquemático; 13- vermelho; 14- regular; 15- boa;
16- cacos cerâmicos nos corredores associados à Fase Piumhi, Tradição
Una; 17- Fase Piumhi (Sítio MG-SF-5, Buracão dos Bichos) 1840+90
a.C. (SI 2369); 18- 20/72; 19- (14) (15) (24).

II- 1- MG-SF-21, Corumbá; 2- PROPEVALE; 3-I; 4- Município de Arcos; 5-


Paredão; 6- ca. De 300m (ext.) por 15m (alt.); 7- pictografia; 8- desde de
2,50m do solo até 8m de altura, numa ext. de 5m; 9- calcáreo; 10- não
figurativas, zoomorfas, antropomorfas; 11- linear, silhueta, linear-cheio;
12- esquemático; 13- vermelho, amarelo, preto; 14- boa; 15- muito fácil;
16- cerâmica da Fase Piumhi, Tradição Una; 17- Fase Piumhi (Sítio MG-
SF-5, Buracão dos Bichos) 1840+90 a.C. (SI 2369); 18-20/7/72; 19- (14)
(15) (24); 20- Paredão bastante decorado, predominando representações
não figurativas (conjunto de pontos e traços). Aparecem antropomorfos
(linear-cheio, braços para cima, cabeça sem destaque do corpo) e alguns
zoomorfos (tatu, cervídeos correndo).
III- 1- MG-BF-14, Lapa do Camelinho; 2- PROPEVALE; 3- II; 4- Município
de Gouveia; 5- 3 abrigos em paredão com ca. De 12 m de alt.; 6- ca. De
6mx8mx5m em plataforma à ca. De 6m de alt.; 7- pictografias; 8- de 30
cm do solo até 6m de alt.; 9- quartzito; 10- zoomorfas, geométricas e
antropomorfas, as maiores atingindo 1,5m e as menores 8cm; 11- maior
parte linear e algumas com preenchimento por traços; 12- realista e
esquemático; 13- vermelho e amarelo; 14- boa, mais nítidas no abrigo A;
15- fácil; 16- lítico lascado no abrigo B; 18- 29/7/72; 19- (4) (10) (14)
(15) (24); 20- 3 abrigos com representações de cervídeo, tatu, capivara
(?), cotia, peixe (esquemático), figuras ovaladas com traços no interior e
antropomorfa (?) com corpo arredondado, sem cabeça e braços para cima.

IV- 1- MG-BF-15, Riacho do Vento; 2- PROPEVALE; 3- II; 4- Município de


Gouveia; 5- Abrigo; 6- paredão com ca. De 60m(ext.) x 12m(alt.), abrigo
a 6m de alt; 7 – pictografia; 8 – 20m de ext. de 40cm a 6m de alt.; 9-
quartzito; 10- zoomorfas, geométricas, antropomorfas; 11- maioria linear-
cheio ocorre silhueta e linear; 12- esquemático; 13- vermelho, amarelo;
14- boa; 15- fácil; 18- 30/7/72; 19- (4) (10) (14) (15) (24); 20-
representações na maior parte de zoomorfos-cervídeo, peixe, tartaruga
(?).

V- 1- MG-VF-1, Lapa do Marimbondo; 2- PROPEVALE; 3- III; 4-


Município de Lassance; 5- abrigo; 6- plataforma de quartzito de
35m(ext.) x 7m(larg.); 7- pictografias; 8- maioria na porção voltada para
oeste; 9- quartzito; 10- não figurativas, zoomorfas, antropomorfas,
geométricas, cultural; 11- linear e silhueta; 12- realista e esquemático; 13-
vermelho e branco; 14- boa; 15- fácil; 18- 15/7/72; 19- (4) (5) (6) (10)
(14) (15) (24); 20- abrigo bastante decorado, predominando os
zoomorfos. Figuras bastante detalhadas (representações de carapaça,
sexo) e coloridas (um cervídeo com corpo vermelho e cabeça branca).
Nos zoomorfos, além de cervídeos, aparecem porco do mato e tatu. Os
antropomorfos são alongados (linhas finas) e têm o sexo representado
(alguns, além da representação do pênis, possuem um círculo na área da
barriga-gravidez (?)). Certas figuras parecem estar dançando e outras
terem algum adorno na cabeça. 2 conjuntos parecem retratar cenas: um
cervídeo com traços verticais e horizontais sobre o corpo (armadilha?) e
uma possível aranha na teia (?).
VI- 1- MG-GF-3, Lapa do Calionguê; 2- PROPEVALE; 3- III; 4- Coração de
Jesus; 5- abrigo; 6- 16mx3mx1m; 7- pictografias; 8- no teto; 9- calcáreo;
10- zoomorfas, não figurativas, antropomorfas; 11- silhueta e linear; 12-
esquemático; 13- branco (algumas superposições em vermelho e preto);
14- muito apagadas e prejudicadas por desenhos atuais; 15- fácil; 16-
líticos e carvão; 18- 22/7/72; 19- (4) (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20-
representações não figurativas em pontos, lagartos vistos de cima.

VII- 1- MG-MF-3, Lapa da Pintura; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4- Município de


Varzelândia; 5- abrigo; 6- 10mx5mx3m; 7- pictografias; 8- nas paredes;
9-, calcáreo; 10- zoomorfos, não figurativas, antropomorfas, geométricas,
fitomorfas, astronômica (uma); 11 - linear-cheio; 12- esquemático e
realista; 13- vermelho, amarelo, preto; 14- boa; 15- fácil; 16- ósseo,
malacológico, vegetal; 18- 14/7/73; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20-
abrigo bastante decorado, com representações bastante variadas:
antropomorfos com corpo ou cabeça arredondados, braços e pernas
terminando em cruz, com cabeça e pescoço destacados do corpo, com
sexo representado e círculo no abdômen (a exemplo da Lapa do
Marimbondo); zoomorfos, aves (possível coruja com cabeça de cor e
técnica de execução diferente do corpo), tamanduá (com bifrontalismo-
orelhas), pequeno roedor, lagarto (?), peixe ferido, tartaruga (?);
representação de folha ou fruto; círculos concêntricos, bastão de comando
(?) cruciforme; sol. Algumas superposições (cruciforme sob possível
bastão de comando, antropomorfo amarelo sob traços paralelos
vermelhos) e uma possível cena (1 cervídeo com traços paralelos verticais
e horizontais no interior do corpo-armadilha e a cabeça voltada para trás
em direção a um sol).

VIII- 1- MG-MF-4, Lapa do Mutambal; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4- Município


de Varzelândia; 5- paredão com vários abrigos; 6- ca. De 300m(ext.) x
12m(alt.), vários abrigos em um patamar a 8m de alt.; 7- pictografias; 8-
7,35mx2,50mx4,15m (Painel principal); 9- paredão calcáreo; 10-
geométricas, zoomorfas, antropomorfas; 11- maior parte em silhueta; 12-
esquemático; 13- vermelho, amarelo, preto; 14- boa; 15- fácil; 18-
14/7/73; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- representações de tatu, aves
peixe, roedor, círculo concêntrico.

IX- 1- MG-JF-1, Lapa de Rezar; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4- Município de


Januária, Distrito de Fabião; 5- gruta; 6- ca. De 1,50mx5mx2,50m; 7-
pictografias; 8- lado externo a leste; 9- calcáreo; 10- zoomorfas,
geométricas, culturais; 11- linear e silhueta; 12- esquemático e realista;
13- vermelho, preto, branco, amarelo; 14- boa; 15- difícil; 16- fragmentos
ósseos; 18- 17/7/71; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (21) (24).

X- 1- MG-JF-2, Lapa dos Bois; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4- Município de


Januária, Fabião; 5- abrigo; 7- pictografia; 8- 3m do solo,
desordenadamente, (mais nítidas no centro); 9- calcáreo; 10-
antropomorfas, policromas, geométricas; 11- silhueta; 12- esquemático;
13- roxo, vermelho, preto, amarelo; 14- algumas muito apagadas; 15-
fácil; 16- 18/7/71; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XI- 1- MG-JF-4, Lapa Pintada II; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4- Município de


Itacarambi, Distrito de São João das Missões; 5- abrigo; 6- paredão com
ca. De 300m de ext.; 7- pictografias; 8- desde 1m até 15m de alt., nas
paredes e no teto; 9- calcáreo; 10- geométricas, antropomorfas,
zoomorfas, não figurativas (geomorfas(?)); 11- silhueta; 12- esquemático;
13- vermelho, amarelo, preto; 14- boa; 15- difícil; 18- 19/7/71; 19- (5) (6)
(10) (14) (15) (24).

XII- 1 – MG-JF-6, Lapa do Cassiano; 2 – PROPEVALE; 3 – IV; 4- Município


de Januária; 5- abrigo; 6- 4,60mx2mx1,50m; 7 – pictografias; 8- 3
painéis; 9- calcáreo; 10- geométricas; 11- linear; 12- esquemático; 13-
vermelho, ocre, preto, branco; 14- algumas deterioradas; 15- fácil; 18-
18/7/73; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XIII- 1- MG-JF-7, Lapa do Capão do Porco; 2- PROPEVALE; 3- IV; 4-


Município de Januária; 5- abrigo; 6- paredão de 200mx15m, com 5
aberturas, 1 delas (a 3m de alt.) com pictografias; 7- pictografias; 8-
parede e teto na entrada; 9- calcáreo; 10- não figurativas, zoomorfas,
antropomorfas, astronômicas; 11- linear, silhueta, linear-cheio (1); 12-
esquemático; 13- amarelo, vermelho; 14- deterioradas e cobertas de
pátina acinzentada; 15- fácil; 16- cerâmica; 18- 19/7/73; 19- (5) (6) (10)
(14) (15) (24); 20- motivos bem variados, desde antropomorfos até
astronômicos. Os antropomorfos possuem 3 dedos, corpo arredondado e a
cabeça como simples segmento do corpo; Destaca-se, nos zoomorfos,
uma cobra vermelha com contorno amarelo. As figuras amarelas em
silhueta parecem ser mais antigas, pois estão sob as outras. Todas as
figuras são estilizadas.

XIV- 1- MG-CF-1, Lapa do Amarante; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- gruta com 3 aberturas; 6- 3m(larg.) x 6,50m(comp.); 7-
pictografias; 8- em 2 planos, externo e interno (quase um nicho de 6,50m
x 1,70m x 0,80m, no teto e no fundo); 9- calcáreo; 10- antropomorfas; 11-
silhueta e linear-cheio; 12- realista e esquemático; 13- vermelho e
amarelo; 14- algumas mais nítidas; 15- fácil; 16- cerâmica; 18- 26/10/70;
19- (4) (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- uma representação antropomorfa
bastante interessante: homem em vermelho, com “cabelos” e olhos pretos.

XV- 1- MG-CF-2, Gruta da Jiboia; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- gruta com 2 salões ligados por corredor; 6- 6mx12mx8m;
7- pictografias e petroglifos; 9- calcáreo; 10- astronômicas,
antropomorfas, não figurativas, zoomorfas; 11- linear-cheio, silhueta,
linear e petroglifos picoteados; 12- esquemático; 13- vermelho, amarelo,
preto, branco; 14- bastante apagadas; 15- fácil; 16- cerâmica e lítico; 18-
26/10/70; 19- (4) (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- as sinalações encontram-
se sobre a rocha polida; os petroglifos são em sua maior parte círculos
concêntricos. As representações encontram-se bastante apagadas e são de
difícil execução.

XVI- 1- MG-CF-3, Toca do Jacaré; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- paredão com nicho; 7- pictografia; 8 no nicho; 9-
calcáreo; 10- zoomorfo; 11- linear-cheio; 12- esquemático; 13- vermelho;
14- boa, na entrada do sítio existe um buraco feito por caçadores de ouro;
15- fácil; 18- 26/10/70; 19- (4) (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- uma
pintura lembrando um jacaré (lagarto?).

XVII- 1- MG-CF-4, Lapa da Liteira; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- gruta; 6- ca. de 4,50m(larg.) x 4m a 7m(prof.) x 4m a
7m(alt.); 7- pictografia; 8- em 2 planos no interior: junto ao solo e a
grande altura; 9- calcáreo; 10- zoomorfas, antropomorfas, cultural; 11-
linear-cheio, linear, silhueta; 12- realista e esquemático; 13- vermelho,
amarelo, preto; 14- coberta de fuligem; 15- fácil; 16- lítico e cerâmica da
Fase Cochá, Trad, Tupiguarani; 17- a fase Cochá é, possivelmente, a
última manifestação de uma sequência que engloba as seguintes fases:
Itapicuru – 1270 + 130 (SI-471) e a do vale do Contas (citado por
Brochado)- 1400 + 95 (SI-821); 18- 26/10/70; 19- (3) (5) (6) (10) (14)
(15) (24); 20- pinturas zoomorfas junto ao solo em vermelho cheio. Mais
acima zoomorfos, antropomorfos e geométricos em vermelho, amarelo e
preto. Alguns antropomorfos parecem estar de mãos dadas dançando.

XVIII- 1- MG-CF-6, Lapa da Betânia; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- abrigo; 6- conjunto de abrigos medindo o maior deles
10mx3mx3m; 7- pictografias e petroglifos; 8- pinturas nas paredes
laterais e teto; petroglifos na parede lateral esquerda, até o fundo, junto ao
solo, alguns em área escura; 9- calcáreo; 10- geométricas, não figurativas,
zoomorfas (pictografias); “pés”, zoomorfas, antropomorfas (petroglifos);
11- linear e picoteamento nos petroglifos; 12- na maior parte
esquemático; 13- vermelho, preto, amarelo; 14- pinturas prejudicadas por
umidade, petroglifos razoavelmente conservados, alguns blocos caídos;
15- fácil; 16- lítico, vegetais, cerâmica; 18- 20/7/71; 19- (3) (5) (6) (10)
(14) (15) (24); 20- as principais representações são os petroglifos que
ocorrem em rocha lisa, área escura, de acesso um tanto difícil e que
colocavam o executor em posição um tanto incômoda. Aparecem
círculos, tartarugas (?), cobras e sobretudo “pés”, variando o número de
dedos. Assemelha-se bastante com as características gerais apresentadas
por Prous, Lanna e Paula para a chamada “Fácies Montalvânia” (22). As
pinturas são, sobretudo, círculos.

XIX- 1- MG-CF-14, Abrigo do Cipó; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- abrigo; 6- 20mx5mx4,50m; 7- pictografias; 9- calcáreo;
10- zoomorfas, antropomorfas, não figurativas, astronômicas,
geométricas; 11- linear; 12- esquemático; 13- vermelho (antropomorfas,
zoomorfas, astronômicas), amarelo (geométricas, não figurativas,
antropomorfas), preto (não figurativas), branco (não figurativas); 14- boa;
15- fácil; 18- 23/7/74; ; 19- (3) (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XX- 1- MG-CF-15, Lapa do Gigante; 2- PROPEVALE; 3- V; 4- Município de


Montalvânia; 5- abrigos; 6- 10m(larg.) x 5m(alt.); 7- pictografias e
petroglifos; 8- petroglifos à esquerda, a 1m do solo, em cima as pinturas;
9- calcáreo; 10- petroglifos iguais da Betânia; nas pictografias, zoomorfos
e antropomorfos esquemáticos; 11- silhueta e picoteamento (petroglifos);
12- esquemático; 13- vermelho, preto, ocre; 14- boa; 15- fácil; 18-
23/7/74; 19- (3) (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XXI- 1- MG-EF-1, Lapa Pintada; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Jequitaí; 5- abrigo e gruta (distância de ca. de 20m) com pictografias
idênticas; 6- 20m(larg.) x 6m(alt.); 7- pictografias; 8- na parte baixa, a
20cm do solo, formando grupos isolados e no teto; 9- calcáreo; 10- não
figurativas, zoomorfas, geométricas, antropomorfas, astronômica (1); 11-
linear e silhueta; 12- esquemática e realista; 13- vermelho e branco (uma);
14- boa; 15- fácil; 18- 5/7/71; 19- (6) (10) (14) (15) (24); 20- variação
nos antropomorfos: uns com corpo arredondado, outros alongados, sexo
representado em ambos os casos. Os zoomorfos representam uma fauna
bastante diversificada: cervídeos, lagartos, cachorros do mato (?). Existe a
representação de uma ave, possivelmente junto ao ninho e em galho de
árvore. Os geométricos são, em sua maior parte, série de círculos e semi -
círculos, algumas vezes em sequência (túnel?).
XXII- 1- MG-EF-3, Jataí; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de Joaquim
Felício; 5- 3 abrigos em 3 paredões; 6- os 3 paredões têm ca. de 40m(ext.)
x 15m(alt.), distando ca. de 30m entre si; 7- pictografias; 8- nos 3
abrigos; 9- quartzito; 10- zoomorfas; 11- linear e silhueta; 12-
esquemático; 13- vermelho e amarelo; 14- boa; 15- fácil; 18- 21/7/72; 19-
(4) (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XXIII- 1- MG-EF-4, Pedras Altas; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Joaquim Felício; 5- abrigo; 6- 8m(comp.) x 15m(alt.); 7- pictografias; 8-
1,60m do solo; 9- quartzito; 10- zoomorfas, não figurativas, geométricas,
astronômicas (duas); 11- linear, linear-cheio, silhueta; 12- realista e
esquemático; 13- vermelho, branco, amarelo, preto; 14- boa; 15- fácil; 16-
lítico lascado e cerâmica da Tradição Tupiguarani; 18- 21/7/72; 19- (4)
(5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- sobreposição de zoomorfos e geométricos
(círculos concêntricos e desenhos lineares em 3 cores). Nos zoomorfos
aparecem cervídeos, aves, peixes, canídeos (?), onças, lebre, anta e
tamanduá (?). Alguns são bastante detalhados (chifres, orelhas, focinho,
malhas, joelhos, olho, etc...) e possuem marcas que possivelmente
representam setas (certos animais parecem feridos e como se estivessem
caindo). O sítio é bastante rico.

XXIV- 1- MG-EF-5, Sítio da Lagoa; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Jequitaí; 5- abrigos (dois com sinalações); 6- 4mx1mx2,70m; 7-
pictografias e petroglifos; 8- paredes laterais e teto; 9- calcáreo; 10- não
figurativas, fitomorfas, zoomorfas; 11- linear e linear-cheio; 12-
esquemático; 13- vermelho e amarelo; 14- boa; 15- fácil; 18- 21/7/74; 19-
(5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- aparecem petroglifos (pontos) pintados de
branco e superposições em grande quantidade.

XXV- 1- MG-EF-6, Gruta do Sol; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Jequitaí; 5- 2 grutas de pequena dimensão e comunicadas por corredor; 6-
2,50mx4mx2,50m; 7- pictografia e petroglifo; 8- em toda a gruta; 9-
calcáreo; 10- não figurativos, fitomorfas, zoomorfas, antropomorfas,
astronômicas, cultural (?), geométrica; 11- linear, linear-cheio, silhueta;
12- esquemático e realista; 13- vermelho, amarelo, preto, branco; 14- boa;
15- fácil; 18- 21/7/74; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- existem duas
áreas distintas (A e B), comunicadas por um túnel natural, todas duas
cobertas de sinalações e com solo rochoso sem indícios de habitação ou
acampamento. Na área A, a rocha apresenta-se polida e com uma
tonalidade mais escura (preparação da rocha ou ação da natureza, como
na gruta Madame Cassou, a 70km dali?). Houve o aproveitamento de
relevos e fissuras da rocha. Algumas pinturas foram feitas com dedo. A
superposição é bastante comum, parecendo ser o vermelho a cor mais
antiga e a branca a mais recente.

XXVI- 1- MG-EF-7, Abrigo do Catulé; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Joaquim Felício; 5- abrigo; 6- 5,45mx2mx4m; 7- pictografias; 8- exterior,
desde junto ao solo até 4m de altura; 9- quartzito; 10- zoomorfas e
antropomorfas; 11- linear; 12- realista e esquemático; 13- vermelho e
amarelo; 14- algumas pinturas bastante apagadas, ameaça de
desmoronamento; 15- fácil; 18- 25/7/74; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24);
20- figuras bastante realistas, à exceção de antropomorfos (rosto).
Aparecem cervídeos (1 ferido), tatu, cotia. Apresentam bifrontalismo;
sentido de movimento (nas patas) e desenho no interior do corpo.

XXVII- 1 – MG-EF-8 – Pedra do Zebu; 2 – PROPEVALE – 3– VI; 4 –


Município de Joaquim Felício; 5- Blocos superpostos; 6- 2 blocos
superpostos: o de baixo com 1,20m (comp.) e o superior com 1,30m
(comp.); 7- pictografias; 8- na porção central do bloco inferior a 20cm do
solo; 9- quartzito; 10- geométricas e manchas; 11- linear; 12-
esquemático; 13-amarelo; 14- semiapagadas, ameaçadas pelo
intemperismo; 15- fácil; 18- 27/7/74; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24); 20- 7
sinais lineares em amarelo e outros quase indistintos.

XXVIII- 1- MG-EF-9, Lapa do Salitre II; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município


de Engenheiro Navarro; 5- abrigo; 6- 8,50(prof.) x 13,30m(larg.); 7-
pictografias; 9- calcáreo; 10- geométricas e impressões palmares; 11-
linear; 12- esquemático; 14- boa; 15- fácil; 16- lítico e cerâmica; 18-
10/7/74; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XXIX- 1- MG-VG-1, Montes Claros; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Montes Claros; 5- gruta; 6- 4mx6mx12m; 7- pictografias; 8- nas paredes;
9- calcáreo; 10- não figurativas e zoomorfas; 11- linear-cheio; 12-
esquemático; 13- preto e vermelho; 14- semidestruído; 15- fácil; 18-
28/7/71; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XXX- 1- MG-VG-7, Lapa das Garças; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Montes Claros, Distrito de Santa Rosa de Lima; 5- gruta; 6- 8,50m x 1m x
7m; 7- pictografias; 8- teto; 9- calcáreo; 10- geométricas, zoomorfas,
antropomorfas; 11- linear, linear-cheio, silhueta; 12- esquemático e
realista; 14- algumas apagadas; 15- fácil; 16- ósseo e lítico; 18- 14/2/72;
19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XXXI- 1- MG-VG-9, Macaúbas I e II; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município de


Varzelândia; 5- 2 abrigos contíguos; 6- 30mx9m; 7- pictografias; 8-
painel de 8,40m x 2,50m (I) e 4m x 2m (II), a partir de 2m do solo; 9-
calcáreo; 10- antropomorfas, zoomorfas, geométricas, não figurativas; 11-
silhueta e linear; 12- realista e esquemático; 13- vermelho, amarelo, preto
e branco; 14- boa; 15- difícil; 18- 19/3/76; 19- (10) (14) (15) (24); 20- os
antropomorfos são figuras arredondadas, com os braços para cima e com
estilização semelhante às da Lapa do Dragão (22). Nos zoomorfos
aparecem lagarto, onça, macaco (?), capivara, etc.

XXXII- 1- MG-VG-10, Lapa do Vicente; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia; 5- paredão; 6- 100m x 40m; 7- pictografias; 8-
nas paredes; 9- calcáreo; 10- antropomorfas, não figurativas, zoomorfas,
geométricas; 11- silhueta, linear-cheio, linear; 12- esquemático e realista;
13- vermelho (sempre escuro), amarelo (ocre e claro), preto, branco; 14-
boa; 15- difícil; 18- 19/3/76; 19- (10) (14) (15) (24); 20- aparecem
cervídeos (sempre em silhueta) e outros animais de difícil identificação
(talvez felinos ou canídeos). Os antropomorfos são bastante variados:
figuras sem cabeça, com dedos, com mãos entrelaçadas sobre a cabeça,
com braços e pernas flexionados ou esticados, com o corpo alongado ou
arredondado. Interessantíssima é uma figura que parece ter o rosto
representado (boca, nariz, olhos). O sexo também está presente. Nota-se
na bicromia, uma maior constância do amarelo (como contorno ou como
fundo).

XXXIII- 1- MG-VG-11, Boqueirão Soberbo; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- gruta e abrigo;
6- 18mx10m x7m; 7- pictografias e petroglifos; 8- friso de 11m x1,50m
(painel principal); 9- calcáreo; 10- não figurativas, antropomorfas,
zoomorfas, geométricas, astronômicas; 11- linear-cheio, silhueta e linear;
petroglifos polidos; 12- esquemático; 13- vermelho, amarelo, preto,
branco (muita bicromia); 14- boa; 15- fácil; 16- cerâmica, lítico, ósseo,
malacológico, vegetal, enterramentos; 17- 4905+85 a.C. (SI- 2789); 18-
20/3/76; 19- (14) (15) (10) (20) (21) (23) (24); 20- antropomorfos
variados: sem cabeça, sem pernas, braços levantados e com dedos (3 em
cada mão). Um deles parece representar uma mulher grávida (círculo na
altura do abdômen) e outro, apesar da mesma característica, tem o pênis
assinalado. Dentre os zoomorfos, aparece um animal aparentemente preso
em armadilha (quelônio?), lagarto, cervídeo, lagartos (vistos de cima),
ave e anfíbio (rã). Existem ainda representações cruciformes e um
possível “osso”. Antropomorfos em miniatura. Os petroglifos são traços
retilíneos. Parecem ligar-se à Tradição São Francisco (22).

XXXIV- 1- MG-VG-12, Lapa da Bandeirinha; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Montes Claros; 5- abrigo; 6- 18mx10mx5m; 7- pictografias;
8- teto e paredes laterais; 9- calcáreo; 10- astronômicas e zoomorfas; 11-
silhueta; 12- esquemático; 13- vermelho; 14- algumas muito apagadas
cobertas por calcita; 15- fácil; 18- 20/5/77; 19- (10).

XXXV- 1- MG-VG-13, Lapa das Cabeceiras; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Montes Claros; 5- abrigo; 6- 23mx8m x 6m(alt. da boca); 7-
pictografias; 8- paredes e tetos; 9- calcáreo; 10- não figurativas,
zoomorfas, antropomorfas; 11- silhueta e linear; 12- esquemático e
realista; 13- vermelho, amarelo, preto (apenas vestígios); 14- muito ruim,
há bastante infiltração de água de chuva; 15- fácil; 16- lítico, cerâmica,
vegetais; 18- 10/4/77; 19- (10); 20- nota-se um aproveitamento das
saliências da rocha e de, algumas vezes, pequenas estalactites bem lisas.
A lapa diferencia-se um pouco das demais de Montes Claros, já que
ocorrem pinturas no teto e este, muito baixo, torna o local bastante
escuro.

XXXVI- 1- MG-VG-14, Lapa do Tião; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município


de Montes Claros; 5- abrigo; 6- 15mx2,50mx4m; 7- petroglifos e
pictografias; 8- área externa e interna – teto e paredes (petroglifos); 3m
da entrada, do lado esquerdo (pictografias); 9- calcáreo; 10- não
figurativas (petroglifos) e zoomorfas (pictografias); 11- linear; 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- boa; 15- fácil; 18- 10/4/77; 19- (10); 20-
destaca-se um peixe totalmente tracejado. Os petroglifos são traços que se
cruzam.

XXXVII- 1- MG-VG-15, Lapa D’Água; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4- Município


de Montes Claros; 5- gruta; 6- 10m acima do nível do terreno; 7-
pictografias; 8- à direita da entrada, 2m acima do chão (no teto); 9-
calcáreo; 10- 3 impressões palmares; 11- moldada positiva; 12- realista;
13- branco; 14- boa; 15- fácil; 18- 17/1/78.

XXXVIII- 1- MG-VG-17, Lapa do João Branco; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo; 6- 2m
x 8m x 2m; 7- petroglifos; 8- bloco desmoronado na entrada do abrigo; 9-
calcáreo; 10- não figurativas, antropomorfas (?), zoomorfas (?); 11-
picoteamento; 12- esquemático; 13- não pintados; 14- muito boa; 15-
fácil; 18- 14/2/82; 19- (26); 20- abrigo sem condições de habitação. Em
um bloco desmoronado na entrada do abrigo, na parte mais alta e mais
lisa deste bloco, há uma série de gravações picoteadas, que parecem
enquadrar-se dentro do esquema geral da “Fácies Montalvânia” (22). As
figuras são de difícil identificação, sendo, sobretudo, figuras em “X” e
possíveis antropomorfos.

XXXIX- 1- MG-VG-18, Lapa Nova; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4- Município


de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo; 6- 3mx5mx30m;
7- pictografias; 8- espalhadas no paredão; 9- calcáreo; 10- não
figurativas, antropomorfa (?), fitomorfa (?); 11- silhueta e linear; 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- muito ruim; 15- fácil; 16- apenas um
quebra-coco à superfície; 18- 20/2/82; 19- (26); 20- abrigo bastante
assoreado, com muita infiltração de água (inclusive lama no interior) e
solo bastante remexido por gado que ali se abriga durante as chuvas. As
pinturas estão muito apagadas, distinguindo-se, na maior parte, apenas
“manchas”.

XL- 1- MG-VG-19, Lapa do Barreirinho; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- conjunto
formado por uma grande gruta e dois abrigos; 6- ca. De 20m x 50m x
10m (gruta) e ca. De 5m x 2m x 2m (abrigos); 7- pictografias; 8- paredes
e tetos; 9- calcáreo; 10- geométricas, não figurativas, zoomorfas (apenas
na gruta); 11- silhueta, linear, linear-cheio; 12- esquemático; 13-
vermelho, amarelo (apenas nas figuras bicolores) e branco; 14- embora as
pinturas estejam bem nítidas, a rocha suporte de um dos painéis da gruta
encontra-se em adiantado estado de deterioração; 15- fácil; 16- lítico,
ósseo, enterramentos, vegetais (inclusive sabugos de milho), na gruta,
cerâmica neo-brasileira (à superfície) em um dos abrigos e um possível
artefato de plano-convexo (também à superfície) no outro; 18- 20/2/82;
19- (26); 20- gruta bastante grande, abaixo do nível do chão, com 2
grandes desmoronamentos, bem antigos, o que cria um ambiente de
penumbra na sua maior parte e de total escuridão em grande parte. Dos
três painéis localizados, dois encontram-se em área escura (sendo quem
um deles só pode realmente ser visto com luz artificial). Os motivos são
principalmente lagartos vistos de cima. Os abrigos não possuem solo
arqueológico. Um deles apresenta, basicamente linhas finas nas paredes,
que formam por vezes desenhos geométricos. O 2º tem o teto e as paredes
cobertos de pinturas, na sua maior parte bicolores, formando desenhos
complexos de difícil identificação. As pinturas da gruta e do 1º abrigo são
unicamente em vermelho e as pinturas desta e do abrigo mais decorado
parecem enquadrar-se na Tradição São Francisco (22).

XLI- 1- MG-VG-20, Lapa do Zé Preto; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4- Município


de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo com grande salão
de teto baixo no fundo; 6- ca. de 30mx5mx10m; 7- pictografias; 8- nas
paredes; 9- calcáreo; 10- goemétricos; 11- linear; 12- esquemático; 13-
vermelho; 14- ruim; 15- fácil; 16- cerâmica e lítico; 18- 28/2/82; 19- (26);
20- pinturas muito apagadas, tornando-se difícil de identificar.

XLII- 1- MG-VG-21, Lapa dos Índios; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4- Município


de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo; 6- ca. de
30mx2mx1,70m; 7- pictografias; 8- à esquerda do abrigo; 9- calcáreo; 10-
não figurativas, zoomorfas, antropomorfas; 11- esquemático; 12-
esquemático; 13- vermelho, amarelo, branco; 14- boa; 15- fácil; 16-
cerâmica; 18- 2/3/82; 19- (26); 20- as pinturas distribuem-se em dois
painéis principais e são de tamanho bem pequeno. As representações não
figurativas são, entre outros, conjuntos de pontos e traços, formando por
vezes figuras complexas. As figuras em “X” da Lapa do João branco
aparecem aqui, como pinturas. Nos zoomorfos pode-se distinguir um
mamífero e um lagarto. Algumas podem representar seres humanos.
Parecem enquadrar-se na Tradição São Francisco (22).

XLIII- 1- MG-VG-22, Lapa Santa Rita; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4- Município


de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo; 6- ca. De
40mx10mx25m; 7- pictografias; 8- à direita da lapa; 9- calcáreo; 10-
indistinguíveis, percebem-se apenas manchas; 13- vermelho; 14- muito
ruim; 15- bastante difícil; 18- 2/3/82; 20- sítio semidestruído, totalmente
tomado por desmoronamentos.

XLIV- 1- MG-VP-1, Lapa do Bico da Pedra; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Janaúba; 5- abrigo; 7- pictografias; 8- irregular; 9-
quartzito; 10- geométricas; 11- linear; 12- esquemático; 13- vermelho e
preto; 14- boa; 15- fácil; 18- 18/7/73; 19- (5) (6) (10) (14) (15) (24).

XLV- 1- MG-VP-2, Lapa do Poço do Defunto; 2- PROPEVALE; 3- VI; 4-


Município de Janaúba; 5- abrigo; 7- pictografias; 8- 3m acima do nível do
leito do rio; 9- quartzito; 10- série de traços; 11- linear; 12- esquemático;
13- vermelho; 14- boa; 15- fácil; 18- 18/7/73; 19- (5) (6) (10) (14) (15)
(24).

XLVI- 1- MG-RP-2, Gruta do Gentio I; 2- PROPEVALE; 3- VII; 4- Município


de Unaí; 5- gruta; 6- 8mx4mx3m; 7- pictografias; 8- parede lateral; 9-
calcáreo; 10- não figurativas, zoomorfas, astronômicas, antropomorfas;
11- silhueta; 12- esquemático e realista; 13- vermelho e amarelo; 14-
razoável; 15- fácil; 16- lítico lascado; 18- 13/2/73; 19- (10) (14) (15) (24)
(25).

XLVII- 1- MG-RP-3, Lapa Santa Clara; 2- PROPEVALE; 3- VII; 4-


Município de Unaí; 5- abrigo; 6- 4mx1,80x1,50m; 7- pictografias; 8- no
teto de pequeno túnel a 1,50m do solo; 9- calcáreo; 10- não figurativas,
zoomorfas, geométricas, antropomorfas; 11- linear, silhueta, linear-cheia;
12- esquemático; 13- branco; algumas em vermelho, amarelo, preto
(superpostas); 14- boa; 15- fácil; 18- 14/2/73; 19- (10) (14) (15) (24)
(25); 20- os motivos são quase que exclusivamente aves de asas abertas
(posição de vôo) associados a outros motivos possivelmente
astronômicos. Devido à cor azulada da rocha e a estas pinturas serem
feitas em branco, tem-se a impressão de que está representando o céu
noturno. Existem em superposição pinturas não figurativas.

XLVIII- 1- MG-RP-6, Gruta do Gentio II; 2- PROPEVALE; 3- VII; 4-


Município de Unaí; 5- gruta; 6- ca. de 12mx8mx3m; 7- pictografias e
petroglifos; 8- nas paredes internas e externas e no teto; 9- calcáreo; 10-
não figurativas, zoomorfas, geométricas, antropomorfas, fitomorfas (?),
astronômicas; 11- silhueta, linear, linear-cheia; 12- esquemático e
realista; 13- vermelho, preto, amarelo; 14- boa; 15- fácil; 16- corresponde
a 2 fases distintas: a das camadas mais superficiais (Fase Unaí, Tradição
Una) compostas basicamente de cerâmica, lítico, vegetal e têxtil; a das
camadas inferiores (Fase Paracatu) apresentando lítico lascado, ósseo e
malacológico. Os enterramentos ocorrem associados às duas fases; 17- 6
datações num horizonte entre 430+70 (SI 3521) e 8620+100 (SI 3520);
18- 23/7/73; 19- (1) (7) (10) (11) (12) (14) (15) (16) (18) (23) (24) (25);
20- caracterizado por figuras bem pequenas. As mesmas aves da Lapa
Santa Clara aparecem aqui em vermelho. Aparecem ainda cervídeos,
felinos, 1 lagarto e outros animais não identificáveis (1 deles associado a
uma possível armadilha). Os antropomorfos, sempre em silhueta,
possuem o corpo alongado e os braços voltados para o alto (1 deles
parece ter um propulsor nas mãos). Os geométricos são basicamente
círculos concêntricos que associados a 1 zoomorfo, parecem representar
uma armadilha. Existem ainda figuras de forma triangular feitas em
pontos (em 1 dos casos delimitados por linhas). Interessante é uma
mancha com traços, que lembra uma aranha.

XLIX- 1- MG-RP-7, Lapa do Saco grande; 2- PROPEVALE; 3- VII; 4-


Município de Unaí; 5- gruta; 6- 3mx5m; 7- pictografias; 8- tanto na parte
interna quanto na externa, em lugares mais inacessíveis; 9- calcáreo; 10-
geométricas e zoomorfas; 11- linear-cheio e linear (fino e grosso); 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- razoável; 15- difícil devido a
desmoronamentos; 18- 23/5/77; 19- (10) (25).

L- 1- MG-RP-8, Lapa da Foice I; 2- Grutas Mineiras; 3- VII; 4- Município


de Unaí; 5- abrigo (com 3 salões); 6- 25mx8m; 7- pictografias; 8- nos 3
salões (66m de ext.) e no paredão até ca. de 9m de altura; 9- calcáreo; 10-
zoomorfas, geométricas, não figurativas; 11- linear e silhueta; 12-
esquemático; 13- vermelho, preto, branco, amarelo; 14- muito apagadas;
15- fácil; 16- pode ser dividido em 2 grupos distintos: o primeiro (Fase
Unaí, Tradição Una) composto basicamente de cerâmica e restos vegetais,
e o segundo (ainda sem atribuição cultural), relacionado às camadas mais
profundas, apresentando principalmente lítico, malacológico e ósseo.
Enterramentos possivelmente associados aos dois grupos; 17- 8 datações
num horizonte entre 955+65 (SI 4488) e 7910+105 (SI 4495); 18-
23/5/77; 19- (17) (23) (25); 20- pinturas bem pequenas como no Gentio e
Santa Clara (um pássaro por exemplo, de apenas 3cm). As representações
naturalistas (aves, cervídeos, tatu) encontram-se bem próximas ao solo,
enquanto que as astronômicas e não figurativas, encontram-se bem mais
altas, tendo-se que escalar o paredão para alcançá-las.

LI- 1- MG-RP-9, Lapa da Foice II; 2- Grutas Mineiras; 3- VII; 4- Município


de Unaí; 5- abrigo; 6- 11mx3mx15m; 7- pictografias; 8- ao longo de toda
a parede do abrigo distribuído em 3 painéis; 9- calcáreo; 10- geométricas
em sua maior parte; 11- linear; 12- esquemático; 13- vermelho e preto;
14- algumas bem nítidas; 15- fácil; 18- 23/5/77; 19- (25); 20- figuras
também pequenas e em sua maior parte geométricas ou não figurativas, à
exceção de uma ave pernalta. Outras figuras podem representar
zoomorfos, mas estão bem apagadas. As geométricas são círculos e
traços. Um dos painéis possui uma quantidade de figuras geométricas
superpostas, estando as superiores bem mais nítidas.

LII- 1- MG-SJ-1, Pedra do Veado; 2- Programa Vale do Jequitinhonha; 4-


Município de Grão Mogol; 5- 3 blocos seguidos (o 1º à 50m do 2º, e este
à 80m do 3º); 7- pictografias; 9- arenito; 10- não figurativas,
astronômicas, geométricas, zoomorfas; 11- linear e silhueta; 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- ruim (ameaça de depredação); 15- fácil;
18- 22/7/73; 19- (5) (10).

LIII- MG-SJ-2, Lapa Maria das Neves; 2- Programa Vale do Jequitinhonha; 4-


Município de Grão Mogol; 5- abrigo; 6- paredão com cerca de 100m de
ext. e vários abrigos; 7- pictografia (em todos os abrigos); 8- nas paredes
e tetos; 9- calcáreo; 10- não figurativas, zoomorfas; 11- linear e silhueta;
12- esquemático; 13- vermelho, preto, amarelo; 14- boa; 15- fácil; 16-
líticos no abrigo nº4; 18- 14/7/74; 19- (5) (10).

LIV- 1- MG-SJ-3, Abrigo da Tuituberaba; 2- Programa Vale do Jequitinhonha;


4- Município de Itacambira; 5- abrigo; 6- 10mx6mx3,70m à 5m do solo;
7- pictografias; 8- principalmente na parede do fundo; 9- quartzito
metamorfizado; 10- não figurativas, zoomorfas, antropomorfas,
fitomorfas; 11- linear, silhueta, linear-cheia; 12- esquemático e realista;
13- vermelho e amarelo; 14- parcialmente erodido por intemperismo; 15-
fácil; 16- lascas de quartzo; 18- 16/7/74; 19- (5) (10); 20- os zoomorfos
são bastante detalhados (representação de carapaça-tatu, partes bem
desenhadas), apresentando bifrontalismo, alguns cervídeos feridos por
flecha. Existem ainda alguns possíveis canídeos. Há ainda um cervídeo
associado a traços verticais (armadilha?). Aparece cadeia de
antropomorfos com grande estilização à semelhança da Lapa do Dragão
(22).

LV- 1- MG-SJ-4, Sítio do Guimarães; 2- Programa Vale do Jequitinhonha; 4-


Município de Botumirim; 5- 4 paredões (um deles com uma pequena
gruta); 7- pictografias; 9- quartzito e arenito; 10- zoomorfas, não
figurativas, astronômica; 11- silhueta e linear; 12- esquemático; 13-
vermelho; 14- parcialmente apagadas; 15- fácil; 16- lítico; 18- 17/7/74;
19- (5) (10).

LVI- 1- MG-SJ-5, Pedra do Altino; 2- Programa Vale do Jequitinhonha; 4-


Município de Grão Mogol; 5- bloco; 6- 3,05mx2,50m; 7- pictografias; 9-
calcáreo; 10- não figurativas e zoomorfas; 11- linear; 12- esquemático e
realista; 13- vermelho; 14- boa; 15- boa; 18- 12/7/74; 19- (5) (10); 20-
apenas um pássaro (bem realista) e alguns traços verticais e horizontais.

LVII- 1- MG-GV-10, Toca de São Tomé; 2- PRONAPA; 3- Bacia do Rio


Grande; 4- Município de são Tomé das Letras; 5- abrigo à 1m do solo; 7-
pictografia; 8- a 3m do solo, agrupadas em 60 cm; 9- arenito; 10- não
figurativas, geométricas, zoomorfas (?), antropomorfas (?); 11- silhueta e
linear; 12- esquemático; 13- vermelho; 14- erodido (parcialmente); 15-
muito fácil; 18- 18/11/68; 19- (3) (8); 20- na maior parte traços verticais
ou horizontais e curvilíneos. Alguns podem representar animais correndo
ou memo seres humanos.

LVIII- 1- MG-GV-11, Toca do Leão; 2- PRONAPA; 3- Bacia do Rio Grande; 4-


Município de São Tomé das Letras; 5- abrigo; 7- pictografia; 8- 1,90m do
solo; 9- arenito; 10- zoomorfa e não figurativa; 11- silhueta e linear; 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- ruim; 15- fácil; 18- 18/11/68; 19- (3) (8);
20- apenas um felino (possivelmente uma onça ferida) que deu nome ao
local e uma série de pontos em vermelho.

LIX- 1- MG-GV-12, Chico Taquara; 2- PRONAPA; 3- Bacia do Rio Grande;


4- Município de São Tomé das Letras; 5- abrigo; 6- 8mx2,5mx1m; 7-
pictografias (não maiores que 60 cm); 8- agrupadas no teto a 2,20m do
solo; 9- arenito; 10- zoomorfas, não figurativas, antropomorfas; 11- linear
e silhueta; 12- esquemático; 13- vermelho; 14- ruim; 15- fácil; 18-
19/11/68; 19- (3) (8); 20- os zoomorfos são uma possível cobra e um
possível felino. Uma outra pintura pode representar um ser humano.

LX- 1- MG-GV-40, Boa Vereda de Cima; 2- PRONAPA; 3- Bacia do Rio


Grande; 4- Município de Bom Repouso; 5- paredão; 7- pictografias; 8- a
partir de 20cm do solo até 3,50m de altura; 9- gnaisse; 10- não
figurativas, geométricas, impressões palmares; 11- linear e moldada
positiva; 12- esquemático e realista; 13- vermelho; 14- muito apagadas;
15- fácil; 18- 28/8/69; 19- (9); 20- muito apagadas e por isso mesmo de
difícil identificação.

LXI- 1- MG-MU-1, Sertão de Bernardina; 2- PRONAPA; 3- Bacia do Mogi-


Guaçu; 4- Município de Borda da Mata; 5- abrigo; 6- 5mx1,50mx1,50m;
7- pictografias; 9- gnaisse; 10- não figurativas; 11- linear; 12-
esquemático; 13- vermelho; 14- razoável; 15- fácil; 18- 27/8/69; 19- (9).
Conclusão

O resultado deste trabalho representa um esforço conjunto dos autores deste,


sob o estímulo e apoio técnico do Dr. Ondemar Dias, no sentido de uma ordenação e
encaminhamento científicos de uma área da pesquisa arqueológica de importância
cada vez maior.

Os dados acumulados durante as pesquisas no Estado de Minas Gerais


refletem o desenvolvimento do caráter prioritário que a Instituição vem emprestando
através dos anos a este assunto de interpretação tão problemática. Assim, através de
uma documentação fotográfica ampla dos painéis mais importantes acompanhando
um registro mais ou menos sumário das figuras, foram feitos já a partir de 1968 os
primeiros cadastramentos de sítios rupestres na área sul mineira – bacia do Rio
Grande – e, posteriormente, na região adjacente do alto São Francisco. Estas
descobertas foram, até certo ponto, importantes, pois despertaram nossa atenção para
a existência de sinalações em áreas que não a da única e sobejamente conhecida
Lagoa Santa. Com o desenvolvimento de Programas específicos para Minas Gerais,
como o Propevale, visando inicialmente (5 anos) a prospecção e levantamento
extensivo do potencial arqueológico da bacia sanfranciscana, mais inúmeros outros
sítios do gênero foram sendo registrados.

Conscientes da necessidade de uma especialização adequada a este estudo,


vimos nos aperfeiçoando, através de cursos com técnicos estrangeiros (A. Leming-
Emperaire, P. Colombel), leituras, participação em congressos objetivando,
sobretudo, um aprimoramento no registro documental dos sítios. Em consequência,
os dados e informações sobre o tema foram se avolumando em nosso poder. Até a
conclusão da etapa inicial do Propevale (1970-75) foram cadastrados 71 sítios
rupestres, com níveis variados de documentação. A partir deste ponto, tornou-se
imperioso: 1- a sistematização dos dados até então obtidos – numa primeira fase
foram compiladas as informações em fichas apropriadas e ordenados os sítios de
acordo com as diversas regiões mineiras abrangidas por diferentes programas, a
saber: a) Programa Sul Mineiro – vales dos rios Grande, Verde e Sapucaí; b)
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – Pronapa; c) Programa de
Pesquisas Vale do São Francisco Mineiro – Propevale; d) Programa Paraíba Mineiro
e, e) Vale do Jequitinhonha – aí efetuadas algumas pesquisas esporádicas; 2- a
organização do acervo – compreendendo a compilação, arquivo e conservação do
material documental dos sítios rupestres, que consiste em: a) arquivos fotográficos
(fotos e dispositivos); b) arquivo bibliográfico das publicações especializadas no
assunto; c) plásticos reproduzindo em tamanho natural as sinalações; d)
levantamentos, desenhos e croquis; e) cópias em papel vegetal dos plásticos; f)
heliográficas dos vegetais; g) reduções; e h) mapas regionais e nacionais d e
localização geográfica dos sítios rupestres; 3- a formação de um setor especializado
– para arregimentar todos os dados e dedicarmos um espaço merecido a este estudo,
organizamos um setor especializado, ativado por pesquisadores que se interessam
particularmente por este campo; 4- um maior impulso às pesquisas nesta área,
objetivando o conhecimento do maior número possível de sítios rupestres
efetivamente documentados. Considerando este aspecto, foram avaliados os sítios
anteriormente registrados e novas jornadas de retorno à determinadas áreas foram
realizadas e ainda outras encontram-se programadas. Por outro lado, paralelamente
ao desenvolvimento da segunda etapa do Propevale (a partir de 1976), nela
incluindo-se o Programa Grutas Mineiras (escavações em sítios cobertos
selecionados), foi executada a documentação completa de oito sítios rupestres, sendo
que não excluímos a realização de prospecções nas regiões adjacentes às cavernas
escavadas (duas no Município de Unaí e três em Varzelândia, todas contendo
sinalações); 5- a divulgação dos resultados iniciais – todo o material revisto e
extraídas todas as informações nele contidas, concluímos pela necessidade de
divulgarmos o que ora publicamos.

Assim, com cautela e muito trabalho, terminamos por concluir o que


julgamos ser o primeiro passo em direção à: 1º) conferirmos a este campo igual
ênfase atribuída na Instituição às demais áreas da pesquisa arqueológica; 2º)
eliminarmos as deficiências decorrentes de falhas metodológicas, anteriormente
verificadas, através da utilização de técnicas cada vez mais consistentes; 3º)
incrementarmos as pesquisas neste campo, no sentido de alcançarmos um nível
adequado à elaboração de sínteses interpretativas, semelhantes àquelas existentes
para os demais aspectos da Arqueologia Pré-Histórica; 4º) estarmos aptos ao
intercâmbio de informações técnicas garantidamente precisas, o que já vem sendo
realizado com órgãos institucionais de Minas Gerais, tais como a CETEC, da
Secretaria do Meio Ambiente e o Setor de Arqueologia do Museu de História
Natural da UFMG; e, 5º) avaliarmos os elementos, a nosso ver, indispensáveis e , até
o momento, não disponíveis para elaborarmos um quadro teórico coerente e válido
que procure traduzir as diferentes manifestações rupestres das populações pré-
históricas de Minas Gerais: a) elemento espacial – a nosso ver, vincularemos este
elemento diretamente à obtenção de uma amostragem de sítios por regiões, a mais
completa possível. Seria o primeiro a ser considerado, pois se configurando este
elemento de maneira satisfatória, consequentemente, poderão ser mais bem
compreendidos os seguintes aspectos: 1- mecanismos adaptativos das populações
pré-históricas, tendo em vista os processos de elaboração ideológica que lhes podem
ser atribuídos; 2- padrões preferenciais de assentamento, numa abordagem múltipla
de relacionamentos culturais; 3- distribuição espacial das manifestações, através da
delimitação de possíveis fronteiras geográficas na esfera mental da criatividade
humana; portanto, podemos concluir por uma relação íntima a ser estabelecida entre
teorias interpretativas eficazes e quantidade (amostragem) dos sítios analisados; b)
elemento metodológico – estamos nos empenhando na busca de um padrão analítico
coerente, no qual estejam implícitos elementos categorizados e quantificados e que
esteja condicionado a dois princípios fundamentais à tarefa: funcionalidade dos
elementos tipológicos e adequação às limitações de caráter geográfico. Um passo
importante nesta direção consiste na disponibilidade de uma terminologia
apropriada; c) elemento cronológico – compreendemos este elemento não só como
fator determinante da dimensão temporal inerente ao traço cultural analisado, como
também um fator essencial para a definição de categorias tais como tradições, estil os
e fases que irão servir igualmente para expressar os conjuntos de motivos rupestres
associados e relacionáveis entre si; d) elemento comparativo uma visão conjuntural
que transcenda o caráter descritivo micro espacial deve configurar-se como meta do
pré-historiador. Na medida do possível, convém que semelhanças e/ou diferenças
sejam consideradas sobre unidades geográficas amplas, no intuito de serem
alcançadas respostas esclarecedoras de fenômenos culturais mais complexos. As
elucidações à questões deste tipo podem apenas ocorrer ao final de um processo no
qual tenha havido a aplicação correta de elementos mensuráveis e cuja manipulação
venha favorecer efetivamente a tarefa de abordagem comparativa; e) elemento
integrativo – queremos entender a arte rupestre integrada ao conjunto das demais
atividades humanas reconhecidas em cada sítio, evitando encará-la como fator
isolado do processo cultural. Devemos investir no sentido de evitar uma dicotomia
acentuada entre os níveis ideológico e adaptativo – associativo. É neste aspecto que
este elemento reveste-se de primordial importância, na medida em que o conceito de
tradição cultural implica fundamentalmente no emprego de noções contextuais
abrangentes; f) elemento interpretativo - a nosso ver, o único elemento cuja
indispensabilidade seria discutível ou, talvez, relegada a uma etapa final, frente às
necessidades que inicialmente se impõem. Alcançar este nível requer um
conhecimento de tal maneira profundo que habilita o pré-historiador a transitar por
searas do domínio do psiquismo humano e do consciente coletivo, do fenômeno
sociológico e das análises estruturais, esforço que poderá lhe fornecer a chave do
enigma que representa o real significado da arte rupestre do homem pré-histórico
brasileiro. Seria de todo pertinente parafrasearmos F. Hole e R. Heizer sobre o
seguinte aspecto: “The archaeologist must not only use judgement in reaching
inferences on the basis of what is present, but must also keep in mind that a great
deal more evidence has disappeared without any trace. It is this requirement – that
the prehistorian balance what is known against an indeterminate amount of
information that is not known - that makes the job of interpretation so difficult. As
A. L. Kroeber once wrote, the training of anthropology consist of learning to
discriminate between better and worse judgments and better or worse evidence”
(1966, p.195).

O presente trabalho não se propõe a ser conclusivo. A necessidade do


aprofundamento das pesquisas na maior parte dos sítios rupestres é bastante clara
para nós. Contudo, características de algumas regiões já nos parecem melhor
definidas. Assim é que, a propósito das três tradições rupestres identificadas para o
Estado (Prous, Lanna & Paula – op. Cit.), os sítios de Varzelândia parecem
enquadrar-se aos padrões postulados como diagnósticos da Tradição São Francisco,
ao passo que os da região de Unaí não se ligam a nenhuma delas. A tentativa de
integração dos dados acumulados por nós às referidas tradições mostrou-se
infrutífera para a maior parte dos sítios. Isto, em parte, pode ser atribuído à falta de
um detalhamento 100% completo das sinalações de alguns dos sítios, contudo, nossa
experiência vem demonstrando que esta impossibilidade de integração é real: são
apenas as sinalações do extremo norte mineiro que podem ser associadas com
alguma segurança, a uma das tradições propostas, no caso, a Tradição são Francisco.
Talvez, o que poderíamos supor é que as demais áreas venham a conter variações
estilísticas destas mesmas tradições; no entanto, esta é apenas uma hipótese a ser
testada com o aprofundamento das pesquisas. No estado atual de nossos estudos o
que definitivamente podemos afirmar é que existe uma grande dificuldade na busca
de relacionamentos regionais de caráter amplo.

Esperamos que com a divulgação destes dados venhamos a contribuir de


alguma maneira para uma melhor caracterização da arte rupestre de Minas Gerais.

Apêndice

Durante o mês de Julho de 1982 retornamos a região de Varzelândia, onde


foram localizados mais três sítios com sinalações.

LXII – 1- MG-VG-23, Lapa da Tiririca; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- gruta; 6- ca. de
10mx15mx3m; 7- pictografias; 8- parede do fundo e do lado esquerdo do salão de
entrada; 9- calcáreo; 10- não figurativas, geométricas, zoomorfas e antropomorfas
(?); 11- silhueta e linear; 12- esquemático; 13- vermelho; 14- muito ruim; 15- muito
fácil; 16- cerâmica. 18- 15/7/82; 20- sítio praticamente destruído: parte do sedimento
foi retirada para realizar-se um baile e posteriormente a lapa foi utilizada como
mangueira de porcos. As pinturas, muito apagadas são semelhantes às sinalações de
diversos sítios da região (Lapa dos Índios, Barreirinho, Boqueirão Soberbo, João
Branco, etc...). As figuras em “X” estão presentes.

LXIII – 1- MG-VG-24, Boqueirão Soberbo II; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Distrito de Campo Redondo; 5- abrigo; 6- ca. de
29mx2mx6m. 7- pictografias; 8- no teto de uma marquise a ca. de 4m do chão, nas
paredes ao lado e abaixo da marquise e em um pequeno nicho à direita, junto ao
chão (no teto e na parede do fundo); 9- calcáreo; 10- não figurativas, geométricas,
zoomorfas, antropomorfas (?) e cultural (?); 11- amarelo e branco; 14- muito boa;
15- fácil, contudo para chegar-se à marquise tem-se que utilizar escada ou árvores;
18- 19/7/82; 20- Pinturas muito nítidas, na sua maior parte bicrômicas (vermelho e
amarelo, sempre como fundo), bem típicas da região (inclusive com as figuras em
“X”). No nicho destaca-se um possível machado semi-lunar. Em certas pinturas,
nota-se que houve um aproveitamento dos esfoliamentos (utilizados como
contornos).

LXIV – 1- MG-VG-25, Boqueirão Soberbo III; 2- Grutas Mineiras; 3- VI; 4-


Município de Varzelândia, Campo Redondo; 5- abrigo; 6- ca. de 21mx8mx5m; 7-
pictografias; 8- parede do fundo e do lado esquerdo; 9- calcáreo; 10- não figurativas,
geométricas e antropomorfas; 11- silhueta e linear-cheio; 12- esquemático; 13-
vermelho e amarelo; 14- muito ruim; 15- fácil; 16- uma pedra apresentando sulcos
produzidos por polimento (possivelmente um polidor fixo); 18- 20/7/82; 20- pinturas
muito apagadas e vários blocos grandes desmoronados. Bem semelhante às
sinalações da região e as figuras em “X” estão presentes.

Referências Bibliográficas

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Arqueológico no Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Oswaldo Cruz. 55 p. -
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Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, IAB, 9:9-15, il. 1982.

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7- CHEUICHE MACHADO, Lilia et alii. Estudos Prévios das Práticas


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8- DIAS JR., Ondemar F. Breves Notas a respeito das Pesquisas no Sul de


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9- Nota Prévia sobre as Pesquisas Arqueológicas em Minas Gerais. In:


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10- a- Pesquisas Arqueológicas no Sudeste Brasileiro. In: BOLETIM DO


INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA. Rio de Janeiro, IAB
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10- b- Pesquisas Arqueológicas no Sudeste Brasileiro. In: BOLETIM DO


INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA. Rio de janeiro, IAB (Série
Especial 2) p. 3-22. 1981.

11- A Evolução da Cultura em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Anuário de


Divulgação Científica. Goiânia, Inst. Goiano de Pré-História e Antropologia,
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12- Pesquisas Arqueológicas em Grutas do Brasil. In: CONGRESSO


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13- Um método de Classificação para Arte Rupestre. Boletim do Instituto de


Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, IAB, 8:55-67, il. 1979.

14- DIAS JR., Ondemar F.; CARVALHO, Eliana; CHEIUCHE, Lilia. Pesquisas
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1976. Separata de Actes du XLII congrés International des Americanistes,
Paris, v. IX-A: 13-34. 1976.
15- A Arte Rupestre do Vale do São Francisco em Minas Gerais. Paris, Fondation
Singer-Polignac, 1976. Separata de Actes du XLII Congrés International des
Amercanistes, Paris, v. IX-B: 301-12.

16- DIAS JR., Ondemar F. & CARVALHO, Eliana. Dados Preliminares sobre as
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Brasileira. Rio de Janeiro, IAB, 10, 1982. No prelo.

17- Notícias Preliminares das Escavações na Lapa da Foice II: MG-RP-8.


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91. 1982.

18- PEPE, Braz F. & DIAS JR., Ondemar F. - Cerâmica Arqueológica do Norte e
Nordeste Mineiro – A Fase Cochá. Suplemento Ciência e Cultura. São Paulo,
25(6): 33. - 1973

19- PEREZ, Sonia. Práticas Funerárias nas Grutas da Região Sudeste do Brasil.
In: CONGRESSO NACIONAL DE ESPELEOLOGIA, 11, Ouro Preto, 1977.
No prelo.

20- Considerações Sobre o Sítio Boqueirão Soberbo. In: CONGRESSO


NACIONAL DE ESPELEOLOGIA, 13, Ouro Preto, 1979. No prelo.

21- PEREZ, Sonia; RODRIGUES, Calasans; SEDA, Paulo Roberto -


Escavações no Sítio Boqueirão Soberbo – Varzelândia, MG. In: JORNADA
BRASILEIRA DE ARQUEOLOGIA, 1, Rio de Janeiro, 1979. No prelo.

22- PROUS, André; LANNA, Ana Lucia; DE PAULA, Fabiano L. Estatística e


Cronologia na Arte Rupestre de Minas Gerais. Antropologia. São Leopoldo,
Inst. Anchietano de Pesquisas. 31: 121-46. 1980.

23- a- ANUÁRIO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. Arcaico do Interior.


Goiânia, Univ. Cat. Goiás, n.6, 126p. Ed. Pedro Ignacio Schmitz, Altair Sales
Barbosa, Maíra Barberi (Temas de Arqueologia Brasileira 2). 1978/9/80.

23-b- ANUÁRIO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA. Os cultivadores.


Goiânia, Univ. Cat. Goiás, n.9, 77p. Ed. Pedro Ignacio Schmitz, Altair Sales
Barbosa, Maíra Barberi (Temas de Arqueologia Brasileira 5). 1978/9/80.

24- SEDA, Paulo R. - Algumas Considerações Acerca de Arte Rupestre. In:


CONGRESSO NACIONAL DE ESPELEOLOGIA, 13, Ouro Preto, 1979.
No prelo.

25- A Arte Rupestre de Unaí, Minas Gerais. In: REUNIÃO CIENTÍFICA DA


SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA, 1, Rio de Janeiro, 1981. No prelo.
26- Novos Sítios com Sinalações no Norte de Minas Gerais. In: JORNADA
BRASILEIRA DE ARQUEOLOGIA, 4, Rio de Janeiro, 1982. No prelo.

27- HOLE, Frank & HEIZER, Robert F. - An Introduction to Prehistoric


Archeology. New York Holt, Rinehart and Winston. 1966.

Agradecimentos

Às amigas Prof.ª Gilda de Andrade e Prof.ª Rosita Moro, pela sua


participação na análise das sinalações e organização do trabalho.
Notícias Preliminares das Escavações Na Lapa da Foice II
– MG-RP-8 (*)

Ondemar Dias (*)


Eliana Carvalho (*)

Introdução
Em 1970 organizamos o Programa de Pesquisas no Vale do São Francisco
(PROPEVALE), destinado a efetuar as primeiras pesquisas arqueológicas no vale
mineiro daquele rio, até então praticamente em branco, exceto a área do seu
afluente, o rio das Velhas. Nesta primeira etapa os objetivos eram os mais
extensivos possíveis, pois procurávamos levantar os dados iniciais sobre a
potencialidade arqueológica do vale e as suas relações com as áreas vizinhas, que
também começavam a ser pesquisadas.

Entre os inúmeros sítios localizados na área dos rios Paracatu e Unaí


destacou-se a Gruta do Gentio (MG-RP-6) que pela raridade e conservação do
acervo, foi selecionada para escavação, com o objetivo de aprofundarmos o
conhecimento, numa visão mais intensiva e que poderia nos fornecer dados mais
completos para a tarefa de reconstituição do passado pré-histórico local.

As escavações se estenderam do ano de 1974 ao de 1978, sob o patrocínio da


Secretaria (então Instituto) do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN),
Center of Study of the Man, da Smithsonian Institution e da Prefeitura local. O
acervo recolhido foi de tal monta e importância que justificou plenamente todo o
investimento e veio a se constituir no elemento preponderante da análise,
proporcionando-nos as primeiras ideias sobre os processos de adaptação dos antifos
grupos humanos, de um passado situado há mais de oito mil anos, até cerca de mim
anos atrás.

À medida que avançavam os trabalhos, nós verificamos que seria necessário


ampliar o conhecimento da área para que, dispondo de elementos comparativos,
pudéssemos melhor caracterizar as reconstituições culturais, estendendo-as para
espaço maior e utilizando maior número de elementos, diminuindo a margem de erro
normal.

(*) Este trabalho foi verbalmente apresentado na Primeira Reunião Científica da Sociedade de
Arqueologia Brasileira (SAB) realizada no Rio de Janeiro em setembro de 1981, porém os originais
escritos não ficaram prontos a tempo de serem incluídos na publicação dos Anais.
(**) Diretor de Pesquisas do Instituto de Arqueologia Brasileira
(***) Coordenadora Técnica do Departamento de Pesquisas do IA
Com este intuito recomeçamos a prospecção em Unaí, sob a chefia do Prof.
Franklin Levy, o mesmo técnico que havia localizado a Gruta do Gentio. Desta feita,
em 1977, foram prospeccionados mais três sítios cobertos (Saco Grande, Foice I e
Foice II). A Lapa da Foice I, pelas suas características foi selecionada para a
escavação.

Objetivando escavar aquela Gruta e mais duas outras escolhidas em função


das suas peculiaridades, organizamos o Programa de Pesquisas em Grutas Mineiras,
que se constitui como que uma segunda etapa do PROPEVALE e o submetemos à
apreciação do órgão competente (SPHAN), tendo recebido apoio financeiro do
Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Latin
American Archeological Fund, da Smithsonian Institution.

A Lapa da Foice I foi escavada em duas jornadas, durante o ano de 1980, sendo estas
as primeiras notícias a respeito daqueles trabalhos.

Características do Sítio

A Lapa da Foice localiza-se na fazendo do Sr. Otto Versiani, a


aproximadamente 40 km da cidade de Unaí, na estrada que liga a sede do município
à cidade de Garapuava. Situa-se em um paredão calcáreo isolado (um pilar
tectônico) distante cerca de 4 km da sede da fazenda e a uns 8 km do sítio do Gentio.

A região é colinar, com aflorações de arenito nas cristas das elevações e


inúmeros maciços calcáreos, que surgem em sequência, porém isolados entre si
sobre o terreno. A 500 metros da gruta corre o ribeirão Canabrava, afluente da
margem esquerda do rio Preto que, por sua vez derrama suas águas na margem
esquerda do rio Paracatu, este último afluente da margem esquerda do rio São
Francisco.

O solo da região é enriquecido pelo calcáreo, sendo atualmente muito


procurado para o plantio do feijão, soja e cana, embora a criação de gado ainda
predomine.

A cobertura vegetal da área é a do Cerrado, mas este se intercala com zonas


florestadas, sobretudo nos vales mais úmidos. Junto à gruta, no início dos trabalhos
ainda se encontrava uma floresta de certo porte hoje derrubada.

A Lapa da Foice (MG-RP-8) é de fácil acesso e tem sua boca voltada para o norte.
No paredão aparecem três salões interligados numa única cavidade do pilar.
Denominamos cada um deles com algarismo, sendo “1” o da extremidade oeste (a
direita de quem entra) e o “3”, o do extremo leste. Os dois primeiros apresentam
uma altura de boca (no conjunto) com cerca de 20 metros de altura. A profundidade
da lapa não ultrapassa os 12 metros na área da antiga habitação, embora possua
corredores e entradas baixas mais profundas, No aspecto geral, a Lapa está no meio
termo entre o que se convencionou chamar de “caverna” e “abrigo”.

A linha zero topográfica foi por nós estabelecida numa paralela à boca da
caverna e pudemos observar que a partir daí o solo sobe suavemente, na direção
leste, até cerca de mais 85 centímetros. Desta linha até a base do campo, na boca, há
um suave declínio, que em cerca de 10 metros de extensão, já no pasto (referência de
nível) atinge a cota de menos 1,70 metros. Daí, portanto, até o fundo da caverna, há
uma suave rampa de quase 2,50 metros de altura.

Em diversos pontos da Lapa foram registradas sinalações rupestres,


pictografias, que foram documentadas devidamente. Também na Lapa da Foice II,
distante aproximadamente 300 metros a Oeste, foram localizadas e documentadas
outras pictografias. Entre as duas grutas, situadas em pilares diferentes, corre um
riacho encachoeirado.

Resta registrar que numa cavidade profunda situada no mesmo bloco da Lapa
da Foice I, a oeste do salão “1”, encontramos fonte de água permanente. Esta área,
aliás, é permanentemente inundada, estando a caverna ocupada por um lago
subterrâneo. Dalí retiramos fragmentos de cerâmica e ossos esparsos, além de
cabaças de antiguidade duvidosa.

Na parte alta do paredão ainda pudemos observar um guariba macho, com


algumas fêmeas (Alouata caraya). Dentro das cavernas, em pequenas cavidades,
habitam algumas dezenas de maitacas (Pionus maximiliani), que serviram para
animar bastante a escavação, com seus voos rasteiros e gritaria infernal. Elas
compartilham a caverna com algumas espécies nativas de abelhas, além da
“africana”, de introdução recente e desagradável.

Descrição dos Trabalhos

A caverna foi toda topografada e setorizada em quadrados de 2 metros por 2


metros. A linha zero foi dividida, a partir do “datum” estabelecido no limite do salão
“1”, extremidade oeste da abertura, de 2 em 2 metros e alfabetada, em direção leste,
de “A” até “K”.

Em sentido perpendicular foram estabelecidas as linhas numeradas de forma


que cada setor ficou identificado pelo piquete que marcava o cruzamento das linhas
(A0, A1, A2 ... B0, B1 ... EO, E1, etc).

Foi feito o levantamento topográfico, reconhecendo-se as curvas de nível de


10 em 10 centímetros, tanto para o interior da caverna como até o limite do campo
(RN). Na planta de topo foram marcadas as ocorrências de interesse, tais como
pictografias, pingadeiras, áreas entulhadas, de desmoronamento, os pontos de
insolação, os sub-relevos, as áreas perturbadas e a zona a escavar. Estabelecemos,
ainda, a área destinada ao entulho no lado externo, a guarda do material de
escavação, a área de descanso e alimentação, etc.

A escavação foi efetivada em duas jornadas de trabalho. A primeira durante o


mês de fevereiro e a segunda durante o mês de agosto de 1980. Utilizamos o nosso
sistema tradicional de escavação (para detalhes ver: Dias Junior: 1981).

Durante a primeira abordagem nosso objetivo era determinar, dentro do


possível, a ocupação espacial da gruta pelos primitivos ocupantes e também a
caracterização da sua composição estratigráfica. Neste sentido procuramos abordar a
caverna de forma extensiva, abrindo um longo corte no sentido transversal à boca e
que se estendeu da linda zero até a linha 4 (oito metros de extensão), com a
abordagem de quatro setores. Quase no fundo da gruta cortamos esta trincheira com
uma transversal de seis metros (setores H3, G3 e F3), formando um T, que deixou a
linha 4 do fundo da caverna à mostra, com sua bela estratigrafia. Neste mesmo
sentido abrimos mais dois cortes, um na parte mais funda da gruta, sobre área
parcialmente destruída por “caçadores de tesouros” (G4/H4) e o setor E2 na boca de
uma pequena caverna interior, praticamente entulhada. Abrimos, ainda, para
observações ocupacionais, um corte junto à parede oeste da gruta, englobando os
setores I2 e parte do I3. Também lateralmente à trincheira principal, dela distando
dois metros, abrimos um corte (F2), totalizando 27 metros quadrados. Todos estes
cortes foram abertos no salão “2” onde aparentemente se concentrou a ocupação
arqueológica. O salão “1” está forrado de rochas, assim como o “3” e os cortes
experimentais abertos não se mostraram produtivos.

Devemos registrar que todos os cortes foram, na prática, reduzidos à metade


da área preliminarmente estabelecida, pelas dificuldades oriundas da pouca verba
disponível e pelos desmoronamentos que tivemos que enfrentar. Desta forma
reduzimos a largura dos cortes a um metro em média, mantendo, no entanto, a
extensão inicial de 2 metros em cada setor. Em inúmeros casos começamos com
maior largura e tivemos que escalonar os cortes à medida que aprofundávamos,
frente aos problemas de desmoronamento, pela friabilidade do solo.

As escavações de agosto complementaram as de fevereiro. Nessa


oportunidade nosso objetivo foi de aprofundar a abordagem da área central da gruta
e estabelecer, com precisão, os momentos iniciais de ocupação da mesma. Foram
escavados os setores F2, F3 e G2, em toda a sua extensão e aberto um corte no salão
“1” em área de “pingadeira”, o de sigla B4 que se mostrou quase improdutivo. Nesta
etapa foram, portanto, abertos mais 8 metros quadrados da Lapa, completando o
total de 35 metros quadrados de escavação.
Dificuldades

Foram inúmeras as dificuldades encontradas das quais a maioria foi removida


ou contornada.

Vale citarmos, problemas quanto ao alojamento, acesso ao sítio (a antiga


estrada carroçável que conduzia à Lapa estava incapacitada para trânsito, tendo a
equipe que se deslocar 8km diariamente a pé, com todo o material de trabalho e
coletado, vencendo no trajeto uma colina bastante íngreme), abastecimento (em
consequência das fortes chuvas de fevereiro ficamos isolados de Unaí), até mesmo
os incômodos ataques de abelhas africanas.

Finalmente um empecilho incontornável se caracterizou quando os trabalhos


já iam muito adiantados. Em consequência da grande friabilidade do solo, as paredes
dos cortes começaram a ruir em toda a extensão não só colocando em risco a
segurança dos técnicos que atuavam dentro das trincheiras, como prejudicando,
irremediavelmente, o trabalho. Contornamos este obstáculo, quando ele se
manifestou, trabalhando em escalonamento e inclinando mais as paredes.

Primeiros Resultados

Em consequência dos métodos de escavação e do controle sistemático do


trabalho, foi possível, ainda no campo, uma série de observações que puderam, a
princípio, caracterizar o sítio como um todo. Vamos abordá-las por itens, para maior
clareza da exposição:

a) - Composição Estratigráfica

A interpretação da composição estratigráfica, assim como o acoplamento das


camadas com os níveis artificiais, ainda se encontra em andamento, mas, em
princípio, tomando por base, sobretudo, a linha 4, perpendicular à boca da gruta e à
linha G, transversal à mesma, podemos sumarizar a estratigrafia da seguinte forma:

Camada I - Geralmente pouca espessa, coloração escura, com restos


orgânicos e culturais recentes.

IA- Entulho de antigas escavações clandestinas efetuadas no fundo da


gruta. Material antigo, considerado com “rolado” ou “superficial” para
análise.

Camada II- Espessura variável. No fundo da gruta (linha 4) apresenta-se com


cerca de 20cm de espessura e na linha G, sobretudo na boca da caverna, é
espessa, atingindo até cerca de 75cm. De uma maneira geral, ela forma um
bolsão na área dianteira da caverna, aparentemente ocupando uma depressão
antiga. É de cor predominantemente clara, friável e apresenta muitos restos
culturais, caracterizando a mais recente camada ocupacional arqueológica do
sítio. Rica em restos de alimentação malacológica, com bolsões e áreas
externas de restos de carapaças e espécimes inteiros dos gêneros
“Megalobulimus”, “Thaumastus” e “Anostoma”. Muitas fogueiras e pedras
caídas do teto, coquinhos, alguns poucos ossos calcinados. Artefatos de
lascas (geralmente calcedônia e sílex) e raros artefatos de osso e evidênci as
de cestaria. Alguns fragmentos de cerâmica simples.

Camada III- Encontrada na área mais interna do sítio. Coloração


avermelhada, cerca de 15cm de espessura.

Camada IV- Igualmente restrita àquela porção da caverna. Coloração


esbranquiçada. De 10 a 20cm de espessura.

Camada V- Coloração bege - ocorre em toda a extensão da escavação, sendo


um bom marco estratigráfico.

Camada VI- Camada predominante na ocupação antiga. Coloração marrom


avermelhada. Na parte dianteira da caverna apresenta espessura superior a
75cm e caracteriza uma antiga elevação para o interior da caverna. Apresenta
algumas pedras desprendidas do teto e razoável quantidade de artefatos
culturais.

Camada VII- Cor laranja, compacta, a mais antiga camada ocupacional da


Lapa da Foice, mais espessa no fundo da caverna (espessura superior a 1m),
com restos arqueológicos, sobretudo líticos.

É importante ressaltarmos que a estratigrafia desta caverna é bastante


complexa, apresentando variações entre os setores pesquisados. Uma vez, no
entanto, compreendida a formação geral, aqui apresentada, é possível
reconstituir as diversas fases de ocupação em todo o espaço pesquisado e
estabelecer as linhas da coesão.

Pudemos observar, ainda, antigas áreas de perturbações, em partes


causadas pela queda de muitas pedras do teto em passado remoto,
destacando-se imensa estalactite que desprendeu no passado aprofundando-se
até a camada V e sobre a qual ocorre, exclusivamente, evidências da camada
II. Também houve perturbação no passado pela prática funerária e abertura de
covas.

B) - Ocorrência de Material
De uma maneira geral o material cultural ocorreu em toda a espessura do
conjunto das camadas ocupacionais do sítio. Nos níveis superiores as equipes
recolheram artefatos líticos lascados, associados a raros cacos de cerâmica (no que
tudo indica, da Fase Unaí) e mais raros, ainda, restos de cestaria e de peças ósseas.

Nas camadas inferiores, da qual, em princípio, a VI é a mais rica, os artefatos


líticos predominam, sendo que daí foram retirados excelentes raspadores laterais
alongados, plano convexos (“lesmas”).

Pudemos observar, apoiados unicamente até agora nos trabalhos de campo,


que a maior ocorrência de material se localiza na porção mais interior da gruta.

Registramos, relacionado a este fato, que a depredação ocasionada pelos


caçadores de tesouros que esburacaram o fundo da caverna atirara para fora, junto ao
entulho, rica cópia de artefatos culturais, entre eles, cerca de uma dezena de lascas
de excelente qualidade, que infelizmente, tivemos que considerar como material
rolado.

C)- Principais Estruturas

1- Alimentares – em todos os cortes abertos foram notadas interessantes


estruturas relacionadas à preparação de alimentos. Assim, nas camadas
superiores (sobretudo na II) foram muito comuns as covas de carvão
relativamente rasas, plenas de carapaças de moluscos caverniculares (dos
gêneros “Thaumastus” e “Megalobulimus”) muitos dos quais
completamente calcinados. Como elementos menos comuns, mas
ocorrendo em bom número, foram recolhidas valvas de conchas de água
doce (popularmente chamadas de “intãs”) associadas aos caramujos. Mais
raros foram os ossos (pequenos) fragmentados e calcinados documentado,
nitidamente, o predomínio da coleta sobre a caça.

Nas camadas inferiores também notamos covas e fogueiras (positivas)


com muita cinza, carvão em quantidade e ossos de pequenos animais.
Embora esta perspectiva possa mudar em função da análise do material e
interpretação dos dados no laboratório, aparentemente as camadas
inferiores foram resultantes da ocupação de um grupo de caçadores, sendo
a coleta muito importante.

2- Cerimoniais - as estruturas cerimoniais se restringiram aos


enterramentos. Estes apresentam algumas variações e embora os estudos
de laboratório ainda não tenham atingido a parte em questão, baseados
nos elementos registrados no campo podemos sumarizar a ocorrência em
alguns dados.
a) Foram localizados oito sepultamentos, com, pelo menos, um total
de 10 indivíduos;

b) Destes, os enterramentos de nº 1, 2, 3, 6, 7 e 8 eram um só


indivíduo e os de nº 4 e 5, de dois corpos, pelo menos;

c) O enterramento nº 1 é o único claramente associado à ocupação


recente da gruta (camada II), sendo os de nº 2 e 3 à ocupação
mediana e, os demais às ocupações antigas, sendo que o de nº 5,
com 2 indivíduos, repousava na base da camada VI, cerca de
2,20m. Os demais estão entre 1,30m e 1,70m de profundidade;

d) Os de nº 1, 4 (a e b) e 5 (b) eram enterramentos primários e os


demais secundários, normalmente muito fragmentados;

e) Entre os secundários, os de nº 3, 5(a), 7 e 8 estavam também


calcinados;

f) Foi registrada cova simples, com carvão, no enterramento nº 3


(secundário) e covas delimitadas por pedras nos sepultamentos de
nº 4 (a e b) – primário – 7 e 8 (secundários), sendo que as pedras
marcam claramente, a área do depósito ósseo;

g) Registramos acompanhamento funerário no sepultamento de nº 3,


que, embora com os ossos fragmentados e calcinados, apresentou
contas de colar feitas com sementes perfuradas. O de nº 5
(primário), infantil, estava acompanhado por excelente “lesma” e
nos de nº 6, 7 e 8, junto a eles, ocorreu lascas de quartzo,
calcedônia e ocre (este último somente no de nº 8).

A ocorrência de ossos humanos calcinados em fogueira


leva-nos, incialmente, à hipótese de que eles pudessem ter sido
consumidos juntamente com animais. É o caso, por exemplo, do
enterramento nº 5, onde o sepultamento primário parece ter sido
acompanhado por ossos calcinados de um indivíduo jovem, mas
enquanto não for efetuada a análise e, sobretudo, não ficar
claramente associados os ossos humanos com animais, nada
podemos concluir, de seguro, a respeito. Em princípio, no entanto,
é possível supor a existência desta prática, embora tenha ficado
evidente o uso de sepultamentos secundários onde, seguramente,
foi acesa uma fogueira, calcinando os ossos depositados
(sobretudo o enterramento de nº 7).

Temos a destacar a importância destas observações, pois


são as primeiras que possuímos para esta fase antiga de ocupação
humana naquela área de Minas Gerais, desde que os dados até
então disponíveis por nós, eram oriundos da Gruta do Gentio II,
onde os sepultamentos, em que pese seu rico ajuar fúnebre e
excelente estado de conservação, predominavam nas ocupações
mais recentes e ceramistas da caverna.

Na Lapa da Foice, ao que tudo indica, exceto o de nº 1,


todos se relacionam aos momentos antigos ou médios de ocupação
da caverna.

D)- Arte Rupestre

A documentação da arte rupestre da Lapa da Foice I e II (esta situada acerca


de 500m daquela escavada) foi tarefa do Núcleo de Documentação de Arte Rupestre,
do Departamento de Pesquisa do IAB, cujo responsável, Prof. Paulo Seda vem
desenvolvendo excelente trabalho, segundo a moderna técnica de registro.

Foram efetuadas fotografias em preto e branco e slides coloridos e copiados,


em plástico, todos os conjuntos pictográficos de ambas as cavernas, mesmo os de
difícil acesso, exceto um único painel, impossível de ser atingido com os meios que
dispúnhamos.

Serão divulgadas notas específicas sobre o tema, logo que adiantados os


estudos e iniciada a interpretação dos elementos copiados.

Conclusões
As escavações na Lapa da Foice poderão fornecer, conforme se afigurou no
campo, uma soma considerável de informações de grande importância a respeito dos
antigos períodos de ocupação daquela área do nosso país, ponto de passagem de
populações e trocas de influências culturais.

Os elementos obtidos com estes trabalhos serão comparados com os dados


advindos das escavações na Gruta do Gentio e, ainda, com os dados oriundos das
pesquisas de colegas na região central de Minas Gerais (trabalhando sob a direção
do Prof. André Prous) e de Goiás (sob a direção do Prof. Pedro Schmitz),
possibilitando a reconstituição cultural do passado, objetivo próprio da arqueologia.

Ainda não dispomos de todas as datações de C14 relativas às amostras de


carvão recolhidas ao longo do trabalho, mas utilizando aquelas já disponíveis,
podemos estabelecer algumas considerações iniciais, que serão completadas e muito
melhor organizadas, quando concluirmos as análises e as interpretações do material
recolhido, ainda agora em laboratório.

As camadas mais antigas da Lapa da Foice (VI e VII) possuem material


cultural que guardam muitas semelhanças com aqueles que diagnosticam a Fase
Parnaíba, estabelecida por Schmitz (1980), para o horizonte mais antigo de Goiás e
relacionada ao chamado “paleo-índio terminal”, dos inícios do holoceno,
aproximadamente há mais de 9.000 anos. As datações obtidas, no entanto, colocam a
camada VI da Foice entre 4255+80 (SI-4494) e 7910+105 (SI-4495), praticamente
no mesmo horizonte cronológico da camada VI da Gruta do Gentio. Desta maneira,
parece justo supormos que o material que caracteriza aquela fase durou mais tempo
em Minas gerais, chegando a período cronológico mais próximo de nós.

Sua ocupação mediana (camadas IV e V) está datada entre 2740+65 (SI-


4492) e 3100+75 (SI-4493), portanto correspondendo no tempo à ocupação mais
recente da Gruta do Gentio, em seus níveis bases. Embora que sem confirmação,
ainda, da análise de laboratório, e apoiados exclusivamente na observação de campo,
esta ocupação mediana da Foice produziu artefatos lascados dentro daquilo que
vimos denominando Fase Paracatu e que tem muitos pontos de semelhança com a
fase Serranópolis (Schmitz: op. Cit.)

As camadas mais recentes apresentam datações que variam de 955+65 (SI-


4488), para o nível 10/20 cm; 1165+65 (SI-4489), para o nível 20/30 cm, até
2605+70 (SI-4490) para o nível 40/50, todos da camada II. O material desta camada
se aproxima, pelas suas características, daquele que realmente configura a ocupação
mais recente da Gruta do Gentio, a fase Unaí, sem, no entanto, a riqueza de
ocorrência em cestaria, em fiação e tecelagem do MG-RP-6. Somente a cerâmica
daquela fase e resquícios de cestaria, além de algumas cabaças são encontradas na
Foice. Esta cerâmica se aproxima muito da fase Jataí, de Goiás (Schmitz: op. Cit.).
Ambas as fases se enquadram naquele complexo que denominamos Tradição Una e
que se estende até o litoral fluminense.

É interessante ressaltar, igualmente, que a maior parte dos enterramentos


registrados na Lapa da Foice pertencem aos períodos mediano e antigo de ocupação,
justamente aqueles que são menos representados na Lapa do Gentio. Desta forma
teríamos, caso a hipótese venha ser confirmada em laboratório, um histórico das
práticas funerárias preenchendo um extenso período cronológico, de cerca de 8.000
até 1.000 anos passados, para aquela região mineira.

O prosseguimento das pesquisas, dentro do Programa Grutas Mineiras, já


garantido para os próximos anos pelos órgãos patrocinadores é algo que se impõe,
para um alargamento das fronteiras do nosso conhecimento e um aperfeiçoamento
dos elementos agora ainda pouco conhecidos. Esperamos que todo o Programa possa
vir a ser cumprido, para que os objetivos possam ser atingidos em toda a sua
plenitude.

Citações Bibliográficas

1- DIAS JR., Ondemar F. Pesquisas Arqueológicas no Sudeste Brasileiro. In:


BOLETIM DO INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, Rio de
Janeiro, IAB (Série Especial 2), p. 3-22. 1981.

2- SHMITZ, Ignacio. A Evolução da Cultura no Centro e Nordeste do Brasil,


entre 12.000 e 4.000 anos antes do presente. São Leopoldo, Inst. Anchietano
de Pesquisas. 26p., mimeog. 1980.

Participantes das Pesquisas

As escavações na Lapa da Foice foram dirigidas por Ondemar Dias Junior e


Eliana Carvalho, como Coordenadores e Chefes de Equipe e por Paulo Roberto
Seda, como Chefe de Equipe. Participaram, ainda, com diversos encargos e graus de
responsabilidade, os seguintes pesquisadores: José A. Azevedo; Dividno de Oliveira;
Franklin Levy; Marcos Magalhães; Eva Sellei; Laura Silva; Eutália Pons e
Rosângela Menezes.

Agradecimentos

Os autores agradecem a todas as autoridades e particulares que colaboraram


para o bom êxito dos trabalhos, especialmente ao proprietário da fazenda, Sr. Othon
Versiani e às instituições patrocinadoras, que mais uma vez nos honraram com a
confiança depositada.
QUADRO DE OCORRÊNCIA DE ENTERRAMENTOS
Nº Posição Profundidade Tipo Cova Acompta. Trat. Idade Sit.
1 Fletido 50/60 cm Primário Infan. Incomp.
2 Indet. 80/90 cm Secundário Calc.? ? Incomp.
3 Indet. 80/90 cm Secundário Sim Sim Calc. Infan. Incomp.
4a Fletido 130/140 cm Primário Sim Adult. Incomp.
4b Dec. 140/150 cm Primário Sim Sim Infan. Bem
Lat. Cons.
Direito
5a Indet. 180/190 cm Secundário ? Calc. Infan. Incomp.
5b Indet. 200/210 cm Primário ? Sim Jovem Incomp.
6 Indet. 150/170 cm Secundário Sim Sim Adult. Incomp.
7 Indet. 120/140 cm Secundário Sim Sim Calc. Adult. Incomp.
8 Indet. 140/170 cm Secundário Sim Sim Calc. Adult. Incomp.
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Autorizada a reprodução desde que citados os autores e as fontes.

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Composto no Setor de Reprografia do Departamento de Pesquisas do

Instituto de Arqueologia Brasileira

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