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Norte
Michele de Sá
Campo Grande – MS
2020
É permitido fazer o download deste livro e compartilhá-
lo, desde que sem alterações, sem fins comerciais e
atribuindo o devido crédito à autora.
Apresentação
Boa leitura!
A autora
Sumário
Apresentação ......................................................... 3
Panela de barro ...................................................... 8
Aeroporto Eduardo Gomes ................................ 9
Iranduba ............................................................... 10
Mandioca .............................................................. 12
São Gabriel da Cachoeira .................................. 14
Ciclo da borracha ................................................ 15
Mucura ................................................................. 17
Manto ................................................................... 20
X-Caboquinho ..................................................... 21
Galo-da-serra ....................................................... 22
Serpente Mãe do Mundo ................................... 23
Que só .................................................................. 25
Naiá e Narciso ..................................................... 26
Canarana ............................................................... 29
Muiraquitã ............................................................ 31
Tucunaré .............................................................. 32
Iaçã ........................................................................ 34
Monte Roraima ................................................... 36
Pororoca ............................................................... 38
Guaraná ................................................................ 40
Manaos Railway ................................................... 42
Palácio da Justiça ................................................. 44
Teatro Amazonas ................................................ 46
Luar da Amazônia .............................................. 48
Boto ...................................................................... 49
Encontro das Águas ........................................... 51
Uirapuru ............................................................... 52
Réquiem das árvores .......................................... 54
Bodega do
Norte
Panela de barro
Sobe
o calor
da terra
deixando
a carne
mole.
O fogo
aumenta.
Abre-se
aos poucos
a tampa
– e chove.
8
Aeroporto Eduardo
Gomes
As tristes tartaruguinhas
olhavam o movimento:
entrando e saindo gente,
barulho a todo momento.
As tristes tartaruguinhas,
longevas do seu esperar,
fitavam as muitas estrelas
– quem dera poder voar!
9
Iranduba
Quase se afogam
as copas das árvores.
As mumbubas,
só elas queimam,
e brotam de galhos
só eles secos.
10
Não adianta fechar as cercas
nem trancar as portas.
Tudo é o rio,
o rio só,
o grande ladrão.
Só um menino nadando,
no nada, no chão iluminado
que reflete a lua, o frio
e a profundeza do céu.
11
Mandioca
12
Porém – linda é a natureza –
devido à sua beleza,
Mani renasceu raiz,
branca raiz incultiva,
forte, farta e nutritiva,
mandioca – o povo diz.
13
São Gabriel da
Cachoeira
A bela adormeceu os cachos
no leito da alvorada.
O sol lhe dá um beijo,
a lua, nada:
observa, sempre abatida,
morta de enciumada.
14
Ciclo da borracha
Casei
catei tudo com ela
cacei caminho de rio
cantei pra espantar pirilampo
cavei buraco na selva
caba e cobra matei
calei dor e pobreza
cada dia sonhei
que ela seria rainha
e me faria seu rei
15
Calado, queimando borracha,
cansado e pensando no céu
- caboclo pobre se lasca –
calor triscando nas unhas
carente de amor e juízo
cambaleando, deixei
cabana, menino na cama,
terçado passei nela e nele
e o que tinha de vida
apaguei.
16
Mucura
17
Passinhos, música alta,
põem suas caudas de báculo
a girar no sentido horário;
a mais velha se exalta,
19
Manto
20
X-Caboquinho
21
Galo-da-serra
Eis o galo-da-serra
exibindo sua cor de rei:
“Cheguei! Cheguei! Cheguei! Cheguei!”
Descia Orellana
o Amaru Mayu,
a “Serpente Mãe do Mundo”.
Cheio de si mesmo,
seu nome ao rio deu:
seu ego dourado o levava,
sua macha serpente o iludia
e para o infinito o impelia
e, quando ele não esperava,
na pasmaceira do dia,
enquanto o rei Orellana
dormia,
cansado de ser real,
zás!
23
Acabou-se a ilusão.
As icamiabas vieram.
Lançaram nas águas suas
o nome do usurpador.
Vai-te embora,
vai para o fim do mundo
e diz que Amaru Mayu,
a Serpente Mãe do Mundo,
tem senhoras, tem donas:
é o rio das Amazonas.
24
Que só
Aqui, só.
25
Naiá e Narciso
28
Canarana
(A Guimarães Rosa)
29
Ao sabor da água e do vento,
feito canarana,
o ser-não-sendo
cortado pela voadeira
e a terceira margem do rio
deixando o caboclo louco.
30
Muiraquitã
31
Tucunaré
32
Pescador, quer emoção?
Vá pegar tucunaré,
que ele nada tão veloz,
o fio enrosca seu pé
e dá, dez vezes, dez nós.
33
Iaçã
35
Monte Roraima
37
Pororoca
38
Aves caladas, vento quieto.
Os caboclos já fugiram,
o universo umedece,
emudece,
por causa de
um duelo.
39
Guaraná
40
Jurupari não podia
te ver dançar, mauezinho,
e suas garras horrendas,
terríveis, ríspidas, rudes,
cresciam de inveja,
no desejo de ser mauezinho
41
Manaos Railway
O bonde parou.
Vazio de gente.
Cheio de história,
o bonde – plenivíduo.
O bonde passou,
o bonde parou;
a cidade inteira se mexe.
O bonde – plenivíduo –
tem mais da cidade de outrora
do que a cidade de hoje
tem, de seu bonde, em memória.
43
Palácio da Justiça
Depois de apreciadas
as divergentes opiniões,
os testemunhos colhidos,
a doutrina e a jurisprudência,
depois de mil datas-vênias
e outras expressões delicadas
de “discordo das considerações
de Vossa Excelência”,
Marinildes, em sua moldura,
única mulher entre eles,
44
observa o rumo da prosa,
com seu olhar de reprovação.
E as entrevias
do que é de fato
e do que é de direito
faziam bigodes coçarem
e cenhos franzirem.
Os corações (ah, os corações!),
estes calavam-se,
que de direito
eles nada sabem.
45
Teatro Amazonas
46
Chamam os transeuntes ao espetáculo
em rapsódias, valsas, polcas, marchinhas,
samba, chorinho e boi.
Um minuto, um Minueto;
e continua a Dança das Horas,
desde a manhã de Peer Gynt
até os últimos Noturnos acordes
que despertam as almas à arte.
47
Luar da Amazônia
48
Boto
49
Bota o boto na berlinda,
vamos ver o que ele tem;
já brincou, agora pague
a merenda do neném.
50
Encontro das Águas
52
nos braços, no aconchego do amor,
para ouvir teu canto todo dia,
a vida toda, pura eufonia.
53
Réquiem das árvores
54
Sobe ao céu a escura fumaça.
Ocasião de sacrifício?
Desgraça.
Confutatis maledictis,
Flammis acribus addictis.
55
Sobre a autora