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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Campus Belo Horizonte


Faculdade de Educação

Ana Laura Fonseca Nogueira


Izabela Ervilha Ferreira Pinto
Juliana Miranda Coutinho
Laura Fernanda Bechler Moreira

ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA:


O que o professor tem a ver com isto?

Belo Horizonte
6 de dezembro de 2017
Ana Laura Fonseca Nogueira
Izabela Ervilha Ferreira Pinto
Juliana Miranda Coutinho
Laura Fernanda Bechler Moreira

ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA:


O que o professor tem a ver com isto?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Pedagogia da Faculdade do
Estado de Minas Gerais como requisito parcial
para a conclusão da graduação em Pedagogia

Orientadora: Laura Trindade Ituassu

Belo Horizonte
6 de dezembro de 2017
4

Ana Laura Fonseca Nogueira


Izabela Ervilha Ferreira Pinto
Juliana Miranda Coutinho
Laura Fernanda Bechler Moreira

Título: ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA:


O que o professor tem a ver com isto?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Pedagogia da Faculdade do
Estado de Minas Gerais como requisito parcial
para a conclusão da graduação em Pedagogia.

__________________________________________________
Laura Trindade Ituassu - Orientadora - UEMG

__________________________________________________
Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFMG

Belo Horizonte ____ de _______________ de 2017


5

AGRADECIMENTOS

Agradecemos, primeiramente, a nossa orientadora, Profa. Laura Trindade


Ituassu, pelo suporte e incentivo durante a elaboração deste trabalho. Com seu jeito
calmo de ser, conseguiu nos passar muitos ensinamentos e nos motivar a cada
reunião.

Às nossas famílias, mães, pais, irmãos, pelo incentivo, pelo amor e apoio
incondicional.

À todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para esta construção, o


nosso mais sincero obrigada!
6

“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte
do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre
têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é
o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam
são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos
pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”

Rubem Alves
7

SUMÁRIO

Lista de tabela ............................................................................................................ 8


1 Introdução .............................................................................................................. 10
2 Objetivos ................................................................................................................ 11
2.1 Objetivos geral .....................................................................................................
11
2.2 Objetivos específicos............................................................................................11

3 Referencial
Teórico .................................................................................................11
3.1. Conceituando os termos .....................................................................................
11
3.1.1 Infância............................................................................................................. 11
3.1.2 Abuso Sexual ...................................................................................................14
3.2 Um olhar Histórico............................................................................................... 17
3.3 O impacto na vida das crianças...........................................................................
22
3.4 A rede de proteção...............................................................................................
27
3.5 O papel do professor ...........................................................................................
31

4 Metodologia de Pesquisa........................................................................................
37
5 Análise de dados ....................................................................................................
39

6 Conclusão............................................................................................................... 40

7 Referências Bibliográficas ......................................................................................


41

8 Apêndice................................................................................................................. 13
8

Lista de Tabela

Tabela 1 - Definições de abuso sexual.................................................................... 16


9

RESUMO

O presente trabalho de Conclusão de Curso – TCC tem como objetivo destacar a


importância do tema Abuso Sexual Infantil, por ser um assunto de grande relevância
e pouca discussão. Utilizando a pesquisa bibliográfica como metodologia de
trabalho, investiga-se o tratamento dado à infância desde a antiguidade até os dias
atuais, além de buscar uma conceituação ampla de Abuso Sexual. Elucida-se o
papel do professor na prevenção do Abuso Sexual Infantil, uma vez que a relação
professor-aluno exige que os docentes não se distanciem desse problema e que
saibam detectar sinais e caminhos que possam ajudar seus alunos. Não se trata de
acrescentar mais uma tarefa à lista de responsabilidades do professor e, sim,
mostrar a importância que o mesmo pode ter na vida de uma criança. Destaca-se
também o impacto nas vítimas, apresentando mais uma vez a prevenção como o
melhor caminho a ser percorrido para a conscientização e diminuição de casos de
abuso. Por se tratar de um curso de Pedagogia, faz-se importante examinar qual o
poder de intervenção o professor tem em relação a este tema.

Palavras-chaves: Abuso sexual, infância, Rede de proteção, Papel do Professor.


10

1. INTRODUÇÃO

Abuso sexual é um termo que carrega consigo incerteza, silêncio e falta de


informação. Este é um tipo de violência frequente e pouco discutido. Os números
são impactantes: dados levantados pelo Ministério da Saúde em 2011 demonstram
que o abuso sexual é a segunda violência contra crianças e adolescentes mais
notificada no Brasil. Outro levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), feito com base nos dados de 2011 do Sistema de Informações de Agravo
de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan), mostrou que 70% das vítimas de
estupro no Brasil são crianças e adolescentes.  Em metade das ocorrências
envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores .

Estatísticas divulgadas pelo Disque 100, serviço nacional de denúncia de abuso e


exploração sexual contra crianças e adolescentes, que tem a função de receber,
examinar e encaminhar denúncias e reclamações relacionadas aos direitos
humanos, apontam que, dentre as denúncias de violência sexual contra crianças e
adolescentes no ano de 2015, 85% são de abuso sexual.

Crianças e adolescentes expostos a esse tipo de violência acabam apresentando


reações que influenciam diretamente suas relações familiares, sociais e escolares
com consequências devastadoras, uma vez que podem causar inúmeros transtornos
à formação da própria identidade.

Este problema abrange toda a sociedade, pois pessoas que sofreram abuso e/ou
maus tratos na infância e adolescência têm maior probabilidade de repetir,
passivamente ou ativamente, estas situações com seus filhos conforme mostra o
estudo sobre a transmissão intergeracional da violência de Widom (1989) segundo o
qual o abuso gera abuso e a violência gera violência, reproduzindo um ciclo que não
se rompe sem prevenção e tratamento eficazes.

Estes dados levam a indagação: Se o abuso sexual de crianças é um tema tão


relevante e de estatísticas tão alarmantes na sociedade brasileira, o que o professor
11

tem a ver com isto, uma vez que trabalha diretamente com a formação de crianças?
Este trabalho pretende mostrar que o professor tem um papel importante no
processo de prevenção, identificação e tratamento dos casos de abuso sexual de
crianças, alertando para a necessidade de maior valorização deste tema na
formação de professores.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Identificar as características do abuso sexual na infância, seu contexto histórico,


suas consequências, as formas de tratamento e prevenção, elucidando a
importância do professor diante deste fenômeno.

2.2 Objetivos Específicos

- Conceituar abuso sexual na infância e contextualizá-lo historicamente;


- Identificar as consequências e as formas de tratamento e prevenção;
- Destacar o papel do professor na prevenção dos casos de abuso sexual a partir
de seu trabalho em sala de aula.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Conceituando os termos Infância e Abuso sexual

3.1.1 Infância

Inicialmente, é importante clarificar que a definição de infância está ligada à ótica do


adulto e varia conforme o contexto histórico. Portanto, para pensar a infância deve-
se pesquisar o contexto familiar e escolar ao longo da história, como nos lembra
SILVEIRA, 1997, apud BREDEL MICHELE, 2000, p.3.

Esta pesquisa histórica não se apresenta tão simples como uma compilação de
dados, como alerta Sarmento:

“Os princípios construídos historicamente sobre infância, tanto esclarecem


como ocultam a realidade social e cultural das crianças sendo, portanto,
necessária a ruptura com o modelo epistemológico sobre a infância até
12

então instituído. Ele afirma ser recente o interesse histórico pela infância”.

(Sarmento, 2004 apud ANDRADE LBP,2010, p.26)

BUJES (2001, p.13) citado por Andrade (2010), confirma a visão de Sarmento,
mostrando que é de extrema importância nos darmos conta das transformações da
maneira como a infância foi vista para compreendermos a dimensão que a infância
ocupa atualmente. As maneiras de se pensar sobre o que é ser criança e a
importância que foi dada ao momento específico da infância se modificaram na
sociedade ao longo da história.

No passado, as crianças eram consideradas adultos imperfeitos, sendo esta etapa


da vida, provavelmente, de pouco interesse. Segundo Heywood (2004, p.10),
“somente em épocas comparativamente recentes veio a surgir um sentimento de
que as crianças são especiais e diferentes, e, portanto, dignas de ser estudadas por
si só.” Tamanha mudança de conceituação da infância ao longo do tempo merece
um olhar histórico mais detalhado que será desenvolvido no item 3.2.

O conceito de infância também varia em relação aos limites de idade. Pinto &
Sarmento (1997, p.15) discutem esta falta de consenso e mostram estudos e
investigações recentes que têm enfatizado a condição da criança como sujeito de
direitos desde a vida intrauterina.

Além da dificuldade de impor-se um parâmetro de idade, por tratar-se de um


conceito abordado por campos de estudo diversos, como medicina, psicologia,
pedagogia, direito, sociologia e outros, o conceito de infância é visto por ângulos
diferentes.

Na medicina, a infância se refere ao período de vida entre o nascimento e o início da


puberdade, considerando-se uma 1ª infância, entre os 0 e os 2 anos; uma 2ª infância
entre os 2 e os 6 anos; e uma 3ª infância entre os 6 e os 10 anos. (REVISTA ACTA
DE MEDICINA.Lisboa,2001)

Na área do Direito, segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada


pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1989, "criança são
todas as pessoas menores de dezoito anos de idade". Já para o Estatuto da Criança
e do Adolescente (1990), criança é considerada a pessoa até os doze anos
incompletos, enquanto entre os doze e dezoito anos, idade da maioridade civil,
13

encontra-se a adolescência. Segundo a Lei 13.257 artº2 de 2016, considera-se


primeira infância o período que abrange os primeiros 6 anos completos ou 72 meses
de vida da criança.

A sociologia considera a infância um período socialmente construído em que as


crianças vivem suas vidas. É uma forma estrutural, ou seja, uma categoria ou uma
parte da sociedade como as classes sociais ou grupos etários que são permanentes
ou seja, uma categoria que nunca desaparece, embora seus membros mudem e sua
natureza e concepção variem historicamente (Corsaro, 2011).

Sendo vista como categoria estrutural e permanente da sociedade, a infância rompe


com a ideia de fragilidade, inocência, dependência e incapacidade, dando lugar à
concepção de uma criança rica, forte, poderosa e competente, construtora de
conhecimento, identidade e cultura. (Corazza,2002, p.118).

Na área educacional, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil


(Brasília, 1998), apresenta a criança com um papel ativo e singular diante do mundo:

"as crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como


seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio". Sendo
assim, durante o processo de construção do conhecimento, "as crianças se
utilizam das mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que
possuem de terem ideias e hipóteses originais sobre aquilo que procuram
desvendar". Este conhecimento constituído pelas crianças "é fruto de um
intenso trabalho de criação, significação e ressignificação". Ainda convém
salientar que compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular das
crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil
e de seus profissionais. Embora os conhecimentos derivados da psicologia,
antropologia, sociologia, medicina, etc. possam ser de grande valia para
desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns de
ser das crianças, elas permanecem únicas em suas individualidades e
diferenças. (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998,
p.22).

Os educadores brasileiros Anísio Teixeira e Lourenço Filho (2007) foram muito


importantes na construção do modelo da escola brasileira atual. Eles definem a
infância como uma categoria geracional, social de gênero, classe, religião e etnia.

A pedagogia da infância, com a perspectiva da educação infantil pública, tem como


pressuposto básico a criança definida como um sujeito de direitos e deveres.
14

Segundo Rocha (1999) e Faria (2009), apud Barbosa (2010), a infância compreende
todos aqueles que estão entre 0 e 10 anos de vida.

HILLESHEIM e GUARESCHI (2007) analisaram as contribuições da Psicologia do


desenvolvimento para a noção de infância, revelando a visão da criança como um
sujeito natural e passível de ser modificado pelas influências do ambiente
(alimentação, cuidados de saúde, estimulação, escolarização, afeto, socialização,
acesso a recursos culturais, etc.). Estes autores mostram como coexistem, na
psicologia, abordagens que excluem a diferença e procuram catalogar e reduzir o
objeto de estudo, fragmentando o conhecimento psicológico sobre a infância.

Segundo Encarta (1993-2001) as duas questões básicas para os psicólogos infantis


são: determinar como as variáveis ambientais (o comportamento dos pais, por
exemplo) e as características biológicas (as predisposições genéticas) interagem no
comportamento e estudar como essas mudanças se relacionam e influem
mutuamente.

São portanto muitas conceituações que criam abordagens múltiplas do tema, o que
nos leva a ter que indagar sempre, diante de um estudo, de que criança está se
falando.

3.1.2 Abuso sexual

Uma vez que infância, um período do desenvolvimento aparentemente simples de


ser observado, apresenta tantas variações históricas que afetam sua conceituação,
além de ser fatiado pelos diferentes campos do conhecimento, mais ousado ainda
se faz tentar uma definição de abuso sexual na infância, um tema de recente e difícil
abordagem.

Segundo Drec, (2003) citado por Martins (2003), uma simples definição de abuso é o
ato onde um adulto, ou um menor, obriga ou persuade outro menor (do sexo
masculino ou feminino) a ter uma atividade sexual que não é adequada para a sua
idade, usufruindo de um abuso de poder.

Sanderson (2005, p.1) considera que este é um fenômeno de natureza social, tendo
em vista que é influenciado de maneira intensa pela cultura e pelo tempo histórico
15

em que ocorre, o que dificulta estabelecer uma definição aceita universalmente.


Para esta autora, o abuso trata-se de um conjunto de excessos que uma criança
pode experimentar e os divide em quatro categorias: abuso físico, abuso emocional,
negligência e abuso sexual.

Estes quatro tipos podem ser assim descritos: Os abusos físicos referem-se a danos
físicos a uma criança. Já abuso emocional se refere aos maus tratos contínuos a
uma criança com a intenção de causar efeitos adversos ao seu desenvolvimento
social. Negligência é o fracasso constante em satisfazer as necessidades físicas
e/ou psicológicas de uma criança, o qual pode resultar em deterioração séria da
saúde ou de seu desenvolvimento. O abuso sexual, propriamente dito, caracteriza-
se por forçar ou incitar uma criança ou um jovem a tomar parte em atividades
sexuais, estejam ou não cientes do que está acontecendo. As atividades podem
envolver contato físico, incluindo atos penetrantes (por exemplo estupro ou sodomia)
e atos não penetrantes.

Azevedo e Guerra (1989, p.42) citados na pesquisa de Ferreira (2002) sugerem


considerarmos como abuso sexual “todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual
ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo
por finalidade estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter uma
estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa”

Habigzang e Caminha (2004), determinam categorias de abuso sexual segundo o


contexto no qual ocorre, dividindo em abuso sexual extrafamiliar ou intrafamiliar. No
abuso sexual extrafamiliar a violência ocorre fora do ambiente familiar, envolvendo
geralmente pessoas desconhecidas. Já o abuso sexual intrafamiliar ou incesto
ocorre dentro da própria família e, algumas vezes, na própria casa da criança. Eles
alertam que esta violência, em geral, ocorre mais de uma vez, podendo se estender
por anos, e é cometida por uma pessoa próxima, que assume em alguma medida a
responsabilidade pelo cuidado da criança.

Antoni & Koller (2002) acrescentam que o abuso sexual intrafamiliar torna-se mais
prejudicial à criança vitimada porque envolve uma perda da confiança com a figura
paternal ou de cuidado que, a princípio, deveriam promover segurança, conforto e
bem-estar psicológico.
16

Kristensen et al. (2001), definem o abuso sexual de crianças e adolescentes


enfatizando as limitações do seu estágio de desenvolvimento, as expectativas
sociais dos papeis familiares e as relações de poder entre agressor e vítima.
Kendall-Tackett, Williams e Finkelhor (1993) apontam que quanto mais próximo for o
relacionamento com o agressor, e quanto mais velha for a criança (especialmente
adolescentes), maior e mais devastador será o impacto do abuso e mais difícil será
o seu tratamento. Por isso o ambiente familiar da vítima pode contribuir
significativamente para o impacto do abuso.

Compreender e enfrentar o fenômeno da violência sexual contra crianças e


adolescentes é um desafio para pesquisadores e profissionais, uma vez que requer
a articulação das dimensões conceituais com as operacionais, das qualitativas com
as quantitativas e das de pesquisa com as de intervenção.

Para compilar as várias definições de abuso sexual encontradas na literatura, segue


o quadro síntese:

Quadro 1: Definições de abuso sexual


Drec (2003) É o ato onde um adulto, ou um menor, obriga ou persuade
um menor (do sexo masculino ou feminino) a ter uma
atividade sexual.
Sanderson Abuso sexual como um fenômeno de natureza social, tendo
(2005, p.1) em vista que é influenciado de maneira intensa pela cultura
e pelo tempo histórico.
Antoni e Koller O abuso sexual intrafamiliar torna-se mais prejudicial à
criança vitimada porque envolve uma perda da confiança
  com a figura paternal
Azevedo e Abuso sexual é todo ato ou jogo sexual, relação
Guerra (1989) heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e
uma criança menor de 18 anos.
Habigzang e O abuso sexual pode ser dividido como extrafamiliar ou
Caminha intrafamiliar.
(2004)
Para O abuso sexual gera limitações no aprendizado, nas
Kristensen et expectativas sociais e na relação de poder entre a vítima e
al. (2001) o agressor.
Leal & César Entender e enfrentar o fenômeno de violência sexual é um
(1998) desafio para os profissionais
Kendall Quanto mais próximo for o relacionamento com o agressor,
e quanto mais velha for a criança (especialmente
Tackett,
adolescentes), maior e mais devastador será o impacto do
Williams e abuso.
Finkelhor
17

(1993)
Fonte: Elaborada pelas autoras

3.2 Um olhar histórico

Na antiguidade, a infância era uma etapa do desenvolvimento que não recebia


grande atenção do mundo adulto. Segundo Ariès (1981), durante parte da Idade
Média, as crianças eram consideradas meros seres biológicos, sem estatuto social
nem autonomia. Assim que pudesse realizar algumas tarefas, a criança era inserida
no mundo adulto, sem nenhuma preocupação em relação à sua formação e exposta
a todo tipo de experiência.

Nesta época da história não havia clareza em relação ao período que caracterizava
a infância e tomava-se como referência a questão física, determinando a infância
como o período que vai do nascimento dos dentes até os sete anos de idade, como
mostra Ariès, (1978):

A primeira idade é a infância que planta os dentes, e essa idade começa


quando a criança nasce e dura até os sete anos, e nessa idade aquilo que
nasce é chamado de enfant (criança), que quer dizer não-falante, pois
nessa idade a pessoa não pode falar bem nem tomar perfeitamente as
palavras, pois ainda não tem seus dentes bem ordenados nem firmes...

Segundo as pesquisas deste autor, devido às más condições sanitárias até o século
XVII, a mortalidade infantil alcançava níveis extremamente altos, por isso a criança
era vista como um ser ao qual não se podia apegar, já que a qualquer momento ela
poderia deixar de existir. Juntamente ao nível de mortalidade, o índice de natalidade
também era alto, o que ocasionava a rápida substituição das crianças. Sua perda
era vista como algo natural e que não merecia ser lamentada por muito tempo.

O tratamento dado a uma criança do sexo masculino era, em sua maioria, diferente
do tratamento recebido por uma criança do sexo feminino, pois acreditava-se que as
meninas eram produto de relações sexuais corrompidas pela enfermidade,
libertinagem ou desobediência a uma proibição (Heywood, 2004, p.13).

A ideia contemporânea de infância, como categoria social, surge com a


Modernidade e tem como principais pioneiros a escola e a família. (Masson, 1984).
18

As reformas religiosas católicas e protestantes trouxeram um novo olhar sobre a


criança e sua aprendizagem. A afetividade ganhou mais importância para as famílias
após o século XVII e foi muito importante para a construção do sentimento de
infância:

Sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças;


corresponde, na verdade, à consciência da particularidade infantil, ou seja,
aquilo que a distingue do adulto e faz com que ela seja considerada como
um adulto em potencial, dotada de capacidade de desenvolvimento.
(Kramer, 2003, p.17)

Nesse momento, o sentimento de infância corresponde a duas atitudes


contraditórias. Uma, que considera a criança ingênua, inocente e graciosa e é
traduzida pelo cuidado dos adultos, e a outra, que surge simultaneamente a
primeira, mas se contrapõe a ela, tomando a criança como um ser imperfeito e
incompleto, que necessita da moralização e da educação feita pelo adulto (Kramer,
2003).

Barbosa (2006) destaca que, junto a esse novo sentimento de infância, são
inauguradas práticas e teorias para governar a criança. Já que era predominante, na
idade média, uma visão da criança que a considerava rude, fraca de juízo e marcada
pelo pecado original, na modernidade a criança passou a ser controlada e vigiada
pelos adultos. É iniciado, neste período, o processo de “privatização” de suas
vivências, tanto na família, quanto na escola.

A afetividade nas famílias era demonstrada, principalmente, através da valorização


que a educação passou a ter. A aprendizagem das crianças, que antes se dava na
convivência das crianças com os adultos em suas tarefas cotidianas, passou a dar-
se na escola. As crianças foram separadas dos adultos e mantidas em escolas até
estarem prontas para a vida em sociedade. Além da educação voltada à criança, no
século XVIII a família passou a se interessar pela higiene e saúde da criança, o que
levou a uma considerável diminuição dos índices de mortalidade. (Ariès, 1978).

Somente depois do fim da Segunda Guerra Mundial na década de 1950, com a


criação da Organização das Nações Unidas (ONU), os países passaram a
considerar mais relevante a condição da criança e do adolescente. Na ONU - que
19

buscava manter a segurança e a paz mundial, promover os direitos humanos,


auxiliar no desenvolvimento econômico e no progresso social, proteger o meio
ambiente e prover ajuda humanitária em casos de fome, desastres naturais e
conflitos armados - foi criada uma subsidiária específica para a criança, o Fundo das
Nações Unidas para a Infância, mais conhecido como UNICEF, que busca promover
a defesa dos direitos das crianças, ajudar a dar resposta às suas necessidades e
contribuir para o seu desenvolvimento.

Em 1959 foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, e em 1989


surgiu a Convenção internacional sobre os direitos da criança, um tratado discutido
na Assembleia Geral das Nações Unidas que visa à proteção de crianças e
adolescentes de todo o mundo. Dentre os princípios da Convenção, estão o direito à
vida, à liberdade e as obrigações dos pais, da sociedade e do Estado em relação à
criança e ao adolescente. Os 193 estados signatários (Estados-membros
das Nações Unidas com a exceção da Somália e dos Estados Unidos da América)
comprometeram-se a assegurar a proteção dos menores contra agressões,
ressaltando em seu artigo 19 o combate à sevícia, exploração e violência sexual.
(BRASIL, Decreto nº 99710, de 21 de novembro de 1990).

No Brasil, as iniciativas começaram tardiamente com a criação, em 1990, do


estatuto da criança e do adolescente (ECA). Este estatuto é o marco legal e
regulatório dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

LEI N° 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990, ART. 3°: A criança e o


adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei,
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros, meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL,
1990)

Antes de 1988, o Brasil contava com o Código de Menores, documento legal para a
população menor de 18 anos que tratava especialmente de menores em situação
irregular, com vulnerabilidade social. A visão tradicional da época era de que
crianças e adolescentes eram incapazes e consideradas um problema para o Estado
e as autoridades judiciárias. Antes do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA
ser promulgado, o Estado entendia que não havia diferença entre criança e
20

adolescente. Além disso, era comum ver crianças trabalhando, algo não permitido
na atualidade. (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 9ª, Vários autores;
DP&A, 2009).

O ECA é considerado um dos melhores estatutos do mundo e tornou-se referência


internacional em legislação para a faixa etária da infância e da adolescência,
inspirando legislações semelhantes em vários países. Além disso, foi um dos
maiores responsáveis por tornar crime o abuso sexual no Brasil (ECA: Estatuto da
criança e do adolescente completa 25 anos, Carolina Cunha; Novelo Comunicação,
2015).

Lei 11.829, 2008, Art. 5° - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de


qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação
ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 2008)

Segundo Kramer (2003, pg 19), a ideia de infância surge com a sociedade capitalista
urbano-industrial, na medida em que mudava- se o papel social da criança na
comunidade. Se, na sociedade feudal a criança exercia um papel produtivo direto
como um adulto assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade
burguesa ela passa a ser alguém que necessita de cuidado, escolarização e
preparação para uma função futura. Este conceito de infância é então determinado
historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade.

Ressaltando a ideia de que a infância não recebia grande atenção do mundo adulto
na antiguidade, Masson (1984) afirma que até o século XVII, quando uma criança
fazia alusão a abusos sexuais, era frequentemente considerada fantasiosa ou
mentirosa pelas cortes judiciais.

Corazza (2002, p.81) afirma perceber um silêncio histórico, ou seja, uma ausência
de problematização sobre essa categoria. Não porque as crianças não existissem,
mas porque, do período da Antiguidade à Idade Moderna, não existia este objeto
discursivo chamado de infância, nem está figura social e cultural conhecida por
“criança”.
21

De acordo com Carter-Lourensz e Johnson-Powell (1999), inclusive, em uma obra


de Suetônio feita sobre a vida dos Césares, há relatos de que um dos imperadores
romanos, conhecido como Tibério, tinha inclinações sexuais que colocavam crianças
como objeto de prazer. Ainda se fala que ele se retirou para a ilha de Capri com
várias delas, e que as obrigava a satisfazer seus desejos através da prática de
diversos atos sexuais.

A criança do mundo atual é vista como um sujeito de direitos, situado historicamente


e que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais
e sociais supridas, caracterizando um atendimento integral e integrado da criança.
Segundo Fraboni (1998, pg. 68) a fase histórica que estamos vivendo, fortemente
marcada pela transformação tecnológico-científica e pela mudança ético-social,
cumpre todos os requisitos para efetivar a conquista da melhoria da educação da
criança, legitimando-a como figura social e sujeito de direitos enquanto sujeito social.

Atualmente, o assunto “abuso sexual infantil” é mais difundido. Isso porque, segundo
Ariès (1981), a partir do final do século XVII as crianças passaram a ter um papel
social de relevância através de instituições que asseguraram os seus direitos.
Na Declaração de Genebra de 1924, por exemplo, já se nota a preocupação em
assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes:

A criança deve ser protegida contra todas as formas de abandono,


crueldade e exploração, e não deverá ser objeto de qualquer tipo de tráfico.
A criança não deverá ser admitida ao emprego antes de uma idade mínima
adequada, e em caso algum será permitido que se dedique a uma ocupação
ou emprego que possa prejudicar a sua saúde e impedir o seu
desenvolvimento físico, mental e moral (Declaração dos Direitos da Criança,
vários autores; GDDC).

Pensando no período em que vivemos hoje, Dahlberg, Moss & Pence (2003)
apontam que a atual imagem da criança inocente representa uma visão utópica e dá
à infância a imagem de “anos dourados”. Isto leva os adultos a procurarem poupar a
criança das experiências negativas do mundo que a cerca, o que pode levar,
inclusive, a um desrespeito dos direitos da criança:
22

Esta imagem da criança gera nos adultos um desejo de protegê-la do


mundo corrupto que as cerca – violento, opressivo, comercializado e
explorador – construindo um tipo de ambiente em que a criança pequena
receba proteção, coesão e segurança. De acordo com nossa experiência,
no entanto, nós nos tornamos cada vez mais cientes de que, se
escondermos as crianças de um mundo do qual elas fazem parte, não
apenas nos iludimos, mas não levamos as crianças a sério nem as
respeitamos. (Dahlberg, Moss & Pence, 2003, p.66)

O olhar histórico sobre a infância e o abuso sexual na infância mostra que a criança,
marginalizada na antiguidade, hoje representa uma parcela da sociedade
acobertada de direitos, pelo menos em teoria. Ainda assim, segundo o Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) estima-se que no Brasil, mais de meio milhão de
pessoas são vítimas anuais de estupro, e que 70% deste total são crianças e
adolescentes.Com dados estatísticos como este, indaga-se: Nosso país tem seguido
o estatuto que ele mesmo elaborou?

3.3 O impacto na vida das crianças

O abuso sexual infantil acarreta diversas consequências na vida das crianças e de


suas famílias. As sequelas psicológicas e físicas deste abuso acompanham as
crianças para toda a vida. Prado (2004) destacou:

Os sintomas atingem todas as esferas de atividades, podendo ser


simbolicamente a concretização, ao nível do corpo e do comportamento,
daquilo que a criança ou o adolescente sofreu. Ao passar por uma
experiência de violação de seu próprio corpo, elas reagem de forma
somática independentemente de sua idade, uma vez que sensações novas
foram despertadas e não puderam ser integradas (PRADO, 2004 p. 64).

Segundo Florentino (2005), compreender estes sintomas não é tarefa fácil,


considerando que existe pouca variedade de estudos longitudinais que se
proponham a acompanhar as vítimas por um longo prazo.

Segundo Capitão e Romaro (2007), a maioria dos pesquisadores concorda que o


abuso sexual infantil é facilitador para o aparecimento de psicopatologias graves,
prejudicando a evolução psicológica, afetiva e sexual da vítima.
23

Aded e Dalcin (2006) afirmam que a ocorrência de abuso sexual na infância e


adolescência pode ocasionar maior incidência de comportamentos autodestrutivos e
tentativas de suicídio em crianças que sofreram abuso sexual. Destacam também
que a ansiedade e a tristeza na fase infantil podem levar o adulto à depressão.

Faleiros (2000) afirma que a violência sexual de crianças e adolescentes, tendo o


adulto como agressor, apresenta algumas particularidades, pois é capaz de
desorganizar as estruturas psíquicas e sociais da criança abusada. A autora afirma
também que a criança pode se confundir sobre as representações sociais dos
papeis dos adultos, corrompendo as relações afetivas, entre outras graves
consequências.

Os efeitos do abuso na infância podem se manifestar de várias maneiras, em


qualquer idade da vida. Segundo Azevedo e Guerra (1995), uma criança vítima de
abuso sexual carrega consigo consequências tanto orgânicas quanto psicológicas, e
uma das mais comuns é apresentar quadros de dificuldades de aprendizagem na
escola.

Silva (2000) apresenta os sintomas de TEPT - Transtorno de Estresse Pós –


Traumático que as crianças vítimas de abuso sexual podem sofrer: a
reexperimentação de memórias intrusivas e persistentes ligadas ao trauma;
exposições compulsivas a situações que lembram o trauma; impedimento
incessante à exposição de situações específicas, usualmente ligadas à emoção do
trauma experimentado e um entorpecimento às reações emocionais, de modo geral;
diminuição da capacidade de usar linguagem falada, substituindo a mesma por
gestos como guia para a ação; distúrbios ligados à desatenção, tais como
desconcentração, discriminação de estímulo, alterações no mecanismo da defesa
psicológica e na identidade pessoal; e, por último, alterações na identidade pessoal.

Furniss (1993) afirma que as consequências ou o grau de severidade dos efeitos do


abuso sexual variam de acordo com algumas condições de cada indivíduo, dentre
eles: a idade da criança quando a violência se deu início, a duração e quantidade de
vezes em que este abuso ocorreu, o grau de violência utilizado no momento da
situação, a diferença de idade entre a pessoa que cometeu e a que sofreu o abuso,
24

se existe algum tipo de vínculo entre o abusador e a vítima ou o acompanhamento


de ameaças (violência psicológica) caso o abuso seja revelado.

Não é possível generalizar ou delimitar perfeitamente os efeitos do abuso sexual, já


que a gravidade e a extensão das consequências dependem de particularidades da
experiência de cada vítima. Diante disto, faz-se importante pensar o assunto sob a
ótica da singularidade de cada indivíduo para não cair em um reducionismo ou
generalismo da questão.

Day et al. (2003) (apud Florentino 2005) citam algumas possíveis manifestações
psicológicas decorrentes da violência doméstica que ocorrem a curto e longo prazo.
Em seus estudos, as potenciais manifestações em curto prazo são: medo do
agressor e de pessoas do sexo do agressor; queixas sintomáticas; sintomas
psicóticos; isolamento social e sentimentos de estigmatização; quadros fóbico-
ansiosos e obsessivos-compulsivos, depressão; distúrbios do sono, aprendizagem e
alimentação; sentimento de rejeição, confusão, humilhação, vergonha e medo e
secularização excessiva, como atividades masturbatórias compulsivas.

Os danos tardios podem se manifestar através da ocorrência e da incidência de


transtornos psiquiátricos como dissociação afetiva, pensamentos invasivos, ideação
suicida e fobias mais agudas; níveis mais intensos de medo, ansiedade, depressão,
raiva, culpa, isolamento e hostilidade; sensação crônica de perigo e confusão,
cognição distorcida, imagens distorcidas do mundo e dificuldade de perceber a
realidade; pensamento ilógico; redução na compreensão de papeis mais complexos
e dificuldade para resolver problemas interpessoais; abuso de álcool e outras
drogas; disfunções sexuais; disfunções menstruais e homossexualismo/lesbianismo.

Gabel (1997 p. 67) apud Florentino (2005) descreve diversas queixas somáticas que
são habituais após a ocorrência de abusos sexuais em crianças e adolescentes, as
quais se manifestam na forma de mal-estar difuso; impressão de alterações físicas;
persistência das sensações que lhe foram impingidas; enurese e encoprese; dores
abdominais agudas; crises de falta de ar e desmaios; problemas relacionados à
alimentação como náuseas, vômitos, anorexia ou bulimia; interrupção da
menstruação mesmo quando não houve penetração vaginal.
25

Confirmando as consequências identificadas pelos diversos pesquisadores do tema,


um estudo da neurologia mostrou que o abuso sexual pode também acarretar danos
temporários e permanentes na estrutura cerebral:

Procurando observar o efeito sobre o sistema límbico de pessoas que


haviam sofrido abuso na infância, utilizou a técnica da coerência em
eletroencefalograma, um sofisticado método de análise quantitativa que
fornece evidências sobre a microestrutura do cérebro. Comparou 15
voluntários saudáveis com 15 pacientes psiquiátricos, crianças e
adolescentes, que tinham histórico confirmado de intenso abuso físico ou
sexual. Medidas de coerência mostraram que os córtex esquerdos dos
jovens do grupo controle eram mais desenvolvidos que os direitos. Já os
pacientes que haviam sofrido maus-tratos possuíam o córtex direito
claramente mais desenvolvido, embora todos fossem destros e, portanto,
tinham o córtex esquerdo dominante. A hipótese resultante foi a de que as
crianças maltratadas teriam armazenado suas memórias perturbadoras no
hemisfério direito e a ativação de tais memórias poderia ativá-lo
preferencialmente (TEICHER, 2002 apud ROMARO; CAPITÃO, 2007 p.
143).

Tendo em vista a gravidade das consequências do abuso sexual, é extremamente


necessário que a criança e sua família recebam um atendimento diferenciado.
Cohen (2000) afirma que: Considerando o quadro clínico da criança é que se pode
planejar a intervenção terapêutica. Os tratamentos podem ser individuais, familiares,
grupais ou farmacológicos e podem ser necessários para diferentes crianças ou para
a mesma, em diferentes períodos (COHEN, 2000 apud HABIGZANG e CAMINHA,
2004).

Segundo Zavaschi e Cols (1991), é necessário que o ambiente em que a criança


está inserida para ser atendida seja um local seguro em que a criança se sinta
confiante para se comunicar. O tratamento proposto por estes autores objetiva:
aliviar o trauma experienciado pela vítima; facilitar a verbalização dos sentimentos;
promover crescimento pessoal e melhores formas de comunicação; aliviar a culpa
que a criança possa sentir como resultado do abuso; prevenir condutas
autodestrutivas; prevenir subsequentes disfunções das relações emocionais e
sexuais e interromper o abuso multigeracional e as características disfuncionais
26

evidentes em muitas dessas famílias(ZAVASCHI E COLS., 1991 HABIGZANG e


CAMINHA, 2004).

As intervenções de Habigzang e Caminha (2004), são baseadas na Terapia


Cognitivo-Comportamental – TCC, no tratamento de meninas que foram vítimas de
abuso sexual através da grupoterapia e a proposta do Centro Regional de Atenção
aos Maus-tratos na Infância – CRAMI (2002), no estado de São Paulo, atuando no
atendimento multidisciplinar às vítimas de abuso e seus familiares.

Em Minas Gerais, destaca-se o Projeto de extensão Cavas (Crianças e


Adolescentes Vítimas de Abuso Sexual), idealizado pela FAFICH (Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
favorecendo o conhecimento dos serviços e programas de assistência à criança e
adolescente no Estado de Minas Gerais.
O Cavas utiliza como forma de tratamento o atendimento psicoterápico que
apresenta uma proposta preventiva: diminuir o risco de que crianças e adolescentes
abusados possam desenvolver, futuramente, quadros de condutas antissociais,
promiscuidade e uso de drogas.

A psicoterapia, de acordo com Dattilio e Freeman, (1995) tem como objetivo auxiliar
os pacientes a revelar seu pensamento irracional e disfuncional e testá-lo em
relação à realidade, visando construir técnicas mais adequadas e funcionais para
reagir diante das dificuldades desencadeadas pelo abuso sexual.

Pensando no processo de luta contra o abuso sexual infantil, se faz necessário


reforçar a importância do processo de escuta terapêutica com a intenção de diminuir
os impactos causados pelo agressor. Cogo (2011) afirma que:

O acompanhamento psicológico de crianças vítimas de abuso sexual é


essencial, e é desenvolvido de acordo com as necessidades de cada
criança, pois não é possível generalizar os efeitos do abuso sexual para
todas as crianças, uma vez que a gravidade e a quantidade das
consequências variam de caso a caso de acordo com a experiência vivida
pela vítima. Os atos de acolher e oferecer segurança e confiabilidade são os
primeiros passos para obter sucesso no tratamento físico e emocional da
vítima. É de extrema importância escutar sua história, sua vivência, sem
pré-julgamentos, interrupções ou detalhamentos desnecessários que
27

apenas possam constranger mais ainda a criança ou o adolescente.


(Cogo,2011,p 130- 139)

De acordo com Alvarez (1994):

A psicoterapia nos casos de abuso sexual deve considerar a situação de


desamparo e de angústia à qual a criança está submetida. Precisa atentar-
se para a questão da submissão e, com isso, respeitar o ritmo do indivíduo.
O processo de aprendizagem da aceitação da dor, da perda, do trauma ou
do abuso é complexo, longo, nem sempre visível e com certeza não
necessariamente verbalizado e a situação traumática deve ser esquecida
para ser lembrada. (Alvarez,1994,p.161).

Sucar (2008) acrescenta que:

A relação terapêutica colabora para o enfrentamento e elaboração da


situação por parte da criança, com a percepção da falha advinda do abuso
sexual como ambiental, aspecto fundamental quando se pensa na culpa
experimentada pela criança diante da violência sofrida (Sucar,2008,p.69-
80).

Para Norbert Elias (1990), ainda existe uma dificuldade de se falar de sexo na
família e tudo isso têm marcado a distância entre o natural e o cultural, baseadas
nas regras que limitam as ações humanas. Os séculos XIX e XX marcam o
momento em que a vida sexual foi removida para o fundo da cena, e a exclusão
prevalece mais ainda para as meninas. Há um silêncio nos assuntos sobre sexo,
uma restrição à fala, gestos e atitudes, construindo assim uma parte de sigilos ao
redor dos adolescentes.

Assim como visto, os impactos de um abuso sexual podem ser devastadores. Por
isso, faz-se necessário buscar o conhecimento sobre leis e regulamentos capazes
de proteger a criança e o adolescente vítima de abuso.

3.4 A rede de proteção

Furniss (1993, p. 3) afirma que “o que não compreendemos, não somos capazes de
tratar”. A constituição federal Art. 227 diz:
28

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 4.º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da
criança e do adolescente.

Em decorrência dos princípios constitucionais da descentralização político


administrativo e da participação popular, surgiram os Conselhos Municipais,
Estaduais e Nacionais de Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos dispostos na
política de atendimento de caráter deliberativo e controladores das ações em todos
os níveis, além da instituição de um Conselho Tutelar em cada município, com a
atribuição de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente
definidos pelo Estatuto. Se, antes do Estatuto, o Governo deliberava e controlava a
política referente à criança e ao adolescente, agora cede espaço para a participação
popular, provocando assim a exigência de uma nova adequação e de um
reordenamento em que se destaca um embate entre o velho e novo modo de ver,
pensar e agir sobre os temas da infância e da juventude.

O Conselho Tutelar constitui-se como um avanço institucional oriundo do ECA.


Vejamos sua definição:

“Art. 131- O Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não


jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelos direitos das
crianças e dos adolescentes definidos nesta lei”. (BRASIL. Lei Federal nº
8.069 de 13 de julho de 1990,2004, p. 51). É composto por cinco membros
eleitos pela comunidade, por um período de 03anos. O Conselho é
responsável pela aplicação de medidas de proteção38, e aos pais e
responsáveis, da requisição de serviços públicos, e de representações junto
ao Ministério Público e ao Juizado da Infância e da Juventude.

Uma vez tendo sido criado O Conselho Tutelar não pode ser desativado e torna-se
assim um Conselho permanente. Há apenas a renovação dos seus membros a cada
três anos. É uma instituição autônoma, porque não precisa de ordem judicial para
29

aplicar suas medidas de proteção. Por fim, é um órgão não jurisdicional, porque não
pode processar ou punir quem infrinja as determinações legais. Contudo, pode
encaminhar ao Ministério Público notícias de determinações não cumpridas.

Para Andrade (2000), o Conselho Tutelar não se define apenas como uma instância
para garantir direitos, mas também como um possível mecanismo de cobrança de
deveres do Estado e, também, dos indivíduos. Geralmente os casos de violência
sexual contra crianças e adolescentes chegam ao Sistema de Justiça, através do
Conselho Tutelar, da Delegacia de Polícia ou das Varas de Família, por diversos
motivos, sejam eles nas disputas envolvendo guarda, visita ou suspensão e
destituição do pátrio poder, abrigo na casa de passagem e nos casos de fuga etc.

Para Carvalho (1992) apud Azambuja (2006) ao Conselho Tutelar cabe receber,
dentre entre outras situações de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente, os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos praticados contra
a referida crianças, mostrando-se a urgência da sua criação e instalação em todos
os municípios “para a efetivação da política de atendimento à criança e ao
adolescente, tendo em vista assegurar-lhe os direitos básicos, em prol da formação
de sua cidadania”. (AZAMBUJA. 2006.p.4). A demanda do Conselho Tutelar, no que
se refere à violência intrafamiliar, abarca situações complexas a serem enfrentadas,
uma vez que, entre outros fatores, o agressor e a vítima pertencem, geralmente, ao
mesmo grupo familiar.

O ECA foi a grande referência para a aprovação do Plano Nacional de


Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-juvenil, em 2000, que tem como objetivo
geral estabelecer um conjunto de ações articuladas que permite a intervenção
técnico-política e financeira para o enfrentamento da violência sexual contra crianças
e adolescentes, evidenciando que a violência sexual viola o direito das crianças e
adolescentes e para enfrentar esses casos deve ter a garantia desses direitos.

As diretrizes da política de atendimento estabelecidas pelo ECA, destacam-se a


descentralização político-administrativa e existe conselhos paritários nos três níveis
de gestão, federal, estadual e municipal, que visa assegurar a participação da
sociedade nas decisões e ações do governo nesta área. De acordo com o artigo 131
do ECA, o conselho tutelar é o “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
30

encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do


adolescente”.

O Conselho tutelar tem autonomia para dispensar autorizações de qualquer outra


instituição para fazer cumprir os direitos da criança e adolescente, porem a atuação
dos conselheiros é passível de controle, que são realizados através de fiscalização
do Ministério Público, de modo que evite abusos e omissões. Entretanto, o Conselho
Tutelar não atua punitivamente, nem tem o compromisso de realizar intervenções
diretas nas condições sociais que geram o descumprimento dos direitos.

Essa função de intervenção direta cabe ao Centro de Referência Especializado em


Assistência Social (CREAS) que de acordo com o PAEFI (Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos) tem o papel de fazer atendimentos
emergenciais as famílias e pessoas que estão em situação de risco, ou que tiveram
seus direitos violados, oferecendo apoio, orientação e acompanhamento para a
superação dessas situações por meio de assistência psicológica, social e jurídica.

Pietro, Yunes, 2011, afirma que para contrapor os mecanismos de risco que a
violência sexual suscita, é preciso gerar fatores de proteção para mudar essa
situação, cabe assim, a escola atuar de forma protetiva para impedir que o abuso
continue. Ele ainda elucida que as escolas são nichos ecológicos importantes na
prevenção contra essa violência, tendo assim a necessidade de todos os
trabalhadores da escola, compreender as leis, os recursos da rede de apoio, os
sinais apresentados pelas crianças, as peculiaridades das famílias, pois para ele só
assim a cultura escolar estará preparada para proteger ativamente seus estudantes
e familiares e não apensas transmitir conteúdo.

De acordo com Miranda, Yunes, 2008, a escola é o segundo lugar mais frequentado
pela maioria das crianças depois de suas respectivas casas. É necessário trabalhar
para que esse ambiente seja um instrumento para enfrentar as disfunções na
confiança e nas relações de poder que são apresentadas nos casos de abuso
sexual.

A escola deve conceber a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, e o
apoio dos educadores aumenta a militância em defesa desses direitos, diz Inoue,
31

Ristum, 2008. Ele acrescenta que a atuação do professor na identificação da


violência sexual é essencial, principalmente nas primeiras series, pois nessa fase os
educadores permanecem cerca de quatro horas diárias com as crianças.

Além das formas de prevenção discutidas anteriormente, destaca-se a criação e a


garantia de funcionamento de Políticas Públicas de enfrentamento à Violência
Sexual infantil.

Costa (2005) afirma que:

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que regulamenta e detalha


o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, define que a Política de
Atendimento às crianças e adolescentes no Brasil deve ser
operacionalizada através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados e dos
Municípios que tenham por objetivo a Proteção integral deste segmento.
Dessa forma, o “princípio, que preside o conceito de Política de Atendimento
no artigo 88 do ECA é o princípio da rede, e, não, o da pirâmide. Rede é um
‘conjunto articulado de ações’. Não se trata, portanto, de um conjunto
verticalizado de ações” (COSTA, 2005, p.6)

Em 2002 foi aprovado o Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual


Infanto-Juvenil e publicado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do
Ministério da Justiça, no qual define como objetivo: “Estabelecer um conjunto de
ações articuladas que permita a intervenção técnico-política e financeira para o
enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.” (SEDH/DCA,
2002, p.14)

Falar do guia das fontes de prevenção primária que as escolas precisam oferecer e
que englobam ações várias ações, por parte da comunidade escolar, com o objetivo
de eliminar, ou pelo menos reduzir, os fatores sociais, culturais e ambientais que
favorecem os maus-tratos.

3.5. O papel do professor

Fagot, Hagan, Youngblade e Potter (1989) destacam a importância da capacitação


dos educadores para que sejam sensíveis aos sintomas que uma criança
32

sexualmente apresenta. Segundo os autores, é raro encontrar cursos de


capacitação e educadores para lidar com o abuso sexual, por este motivo, é uma
questão que merece estudos.

Hazzard e Rupp (1986) afirmam que, dentre os grupos de profissionais, os


educadores são os que possuem menor conjunto de informações e dados sobre o
abuso sexual, apresentando a importância e a necessidade de coletar as
informações que os educadores têm acerca do abuso sexual e desta forma, criar
formas de melhorar este repertório de informações. Não deixamos de considerar,
entretanto, que encontramos professores que estão sensibilizados com a questão e
se comprometem. Infelizmente, isso não é comum nos universos escolares, à
infraestrutura das políticas públicas proclamadas na Educação não favorece um
instrumento transformador.

Wurtele (1987) propõe encontrar soluções e intervenções para o abuso sexual e,


considera que, após o contato familiar, a escola apresenta-se como ambiente ideal
para detectar e intervir a partir dos casos de abuso sexual.

O artigo 13 do ECA orienta o que fazer em casos de suspeita e define a pena aos
profissionais envolvidos em caso de descumprimento

“Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou


adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da
respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais”. No artigo
245, o ECA estabelece multa de 3 a 20 salários de referência (aplicando-se
o dobro em caso de reincidência), se “deixar o médico, professor ou
responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação
de maus tratos contra criança ou adolescente”.

Segundo Brino 2003, é importante que os professores estejam preparados e atentos


para falar sobre sexualidade em sala de aula, e também saber identificar situações
de violência sexual, que nem sempre tal ato deixa evidencia físicas. Brino
acrescenta que o professor é a figura fundamental no rompimento do silencio sobre
a violência sexual contra crianças, e os educadores devem cumprir seu papel de
protagonista nesta prevenção, pois é alguém de confiança das crianças.
33

Pietro, 2007 e Santana, 2002 afirma que é de responsabilidade do professor


procurar conhecer a criança, observar e identificar seus problemas e queixas,
mesmo quando não se expressam verbalmente, e sempre ficarem atentos as
mudanças emocionais e comportamentais das crianças.

De acordo com a lei federal n.º 9394 de 1996 – a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) conhecida como Lei Darcy Ribeiro – fica determinado como
competência da União estabelecer, junto aos estados e municípios, diretrizes que
orientem os currículos e seus devidos saberes, de forma a garantir uma formação
básica comum a todos. Com o intuito de mostrar um comprometimento, por parte do
governo, na superação dos problemas e dificuldades em termos educacionais, foram
elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino fundamental
(Brasil, 1998), que têm como principal finalidade apresentar as linhas norteadoras
para a orientação curricular.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN (1997) propõem que o trabalho de


Orientação Educacional deve se dar de duas formas: dentro da programação, por
meio dos conteúdos já transversalizados nas diferentes áreas do currículo, ou seja,
a orientação sexual não constitui uma disciplina específica, mas uma abordagem
temática dentro das diversas disciplinas de forma que, cada professor, poderá
desenvolver uma temática sexual fazendo uma ligação com o conteúdo curricular na
sua disciplina, extra programação, sempre que surgirem questões relacionadas ao
tema. Neste caso, reunindo os alunos em grupos especialmente para tratar das
questões sexuais.

Para Ribeiro (2002) os professores e demais profissionais que lidam com crianças e
jovens têm um papel fundamental no processo de aquisição de conhecimentos e
valores por parte de seus alunos, o que implica numa necessidade de também estes
educadores terem um espaço onde possam se formar como orientadores
conscientes e capazes. Ele complementa dizendo que para que os professores
possam compreender a manifestação da sexualidade de seus educandos e educá-
los em relação a isso é preciso ter clareza tanto da abordagem histórica e cultural
sobre a construção da sexualidade humana, quanto da compreensão científica do
desenvolvimento psicossocial.
34

Já Silva (2002) diz que a Orientação Sexual leva a escola a assumir os educandos
como seres humanos integrais, sexuados, pois não há possibilidade de haver
humanidade sem sexualidade. Se de fato pretendemos oferecer educação integral
ao aluno, como um direito que lhe cabe como ser humano, temos que reconhecer e
atender as questões de sua sexualidade, que é parte da sua humanidade.

Com isso, a afirmação de Cintia Auilo (2008) nos acresce que o papel do professor
já não é o mesmo do passado, pois antigamente ele detinha todo o conhecimento e
o depositava em seus alunos. Hoje o professor é considerado um elemento
mediador do processo educativo tendo um papel que vai além da transmissão do
conhecimento, como mostram autores que tratam do tema educação. Mas qual é o
papel? LAURA I.

Para Carl Rogers, com sua abordagem Centrada na Pessoa tem como estrutura do
encontro entre o educador e o educando “o aprender a ser e o aprender a viver
juntos”. Para ele o professor deve atuar de maneira reflexiva e facilitadora no
aprendizado de seu aluno, esclarecendo seus propósitos individuais e do grupo.
Quando o clima de receptividade está estabelecido o professor se torna
progressivamente um aprendiz membro do grupo e as dificuldades de aprendizagem
podem ser superadas.

Para Vygotsky o aprendizado e o desenvolvimento caminham juntos, pois o


aprendizado impulsiona o desenvolvimento. Como para ele o desenvolvimento é um
processo de internalização de modos culturais, tudo que é aprendido pela criança
transforma seus modos de pensar e agir. O professor tem o papel importante de
mediar o desenvolvimento da criança, contribuindo para o processo de
aprendizagem que não ocorre espontaneamente, mas necessita do adulto para
inseri-lo na cultura historicamente construída.

Para Piaget, o professor deve ser o agente desafiador dos processos de


aprendizagem, permitindo que a criança construa seu próprio conhecimento. O
professor que, conhecendo os esquemas mentais do seu aprendiz, deve apresentar
problemas que levem ao desequilíbrio das suas formas de pensar, construindo
novas formas de pensar, já que a educação deve ser orientada para a autonomia.
35

Freud acrescenta que a escola deve ser capaz de educar a partir da conscientização
do aluno com relacionamento flexível e democrático, conciliando seus direitos e
deveres, sendo que o professor tem um papel de tornar o aprendizado um processo
prazeroso, levando o educando a construir um ego forte, capaz de mediar os
conflitos interiores. LAURA I.

De acordo com Christiane Sanderson (2005) o professor normalmente tem mais


contato diário com as crianças do que seus próprios pais, e diante desse privilégio,
eles devem estar atentos às mudanças de comportamento de seus alunos.

Um alto nível de estresse, agressividade, rejeição ao grupo e isolamento, são


alterações que podem ser uma alerta para o educador de que seu aluno possa estar
passando por problemas pessoais e também podem ser características de que a
criança possa estar sofrendo um abuso sexual.

Uma importante pesquisa, realizada em escolas públicas e particulares da cidade de


Salamanca, na Espanha, em 2001, por Amaia Del Campo Sánchez, mostrou que
quase metade dos educadores (46%), vinculam o abuso sexual a uma violência
física, sem conhecer e ser capaz de ligar as mudanças psicológicas frutos de um
possível abuso sexual. Tanto na Espanha, assim como no Brasil, as escolas
públicas têm grande diversidade de perfis de alunos, e diante disso, os professores
das escolas analisadas sentiam-se mais preparados para lidar com um possível
caso de abuso sexual em sua sala de aula e os professores de escolas particulares
relataram não ter conhecimento algum sobre o abuso sexual e nem conhecerem os
recursos sociais aos quais que eles podem recorrer.

Não foram encontradas pesquisas desta natureza no Brasil, mas este estudo de
Salamanca pode lançar luz sobre os tipos de dificuldades enfrentadas pelos
professores também no Brasil, uma vez que os problemas educacionais da Espanha
e do Brasil são semelhantes em muitos pontos. A criação do grupo Ibero Americano
do PISA - Programme for International Student Assessment, do qual fazem parte
Brasil e Espanha, se baseou exatamente neste argumento para organizar um grupo
de países que tem problemas semelhantes na educação, de acordo com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).
36

Diante de um possível caso de abuso sexual, Jean Von Hohendorff (2013) tem como
recomendação aos docentes instruir a criança para que, se acontecer algo de que
ela não goste, busque ajuda de algum adulto de confiança. Preparar-se para ouvir e
saber orientar as crianças é uma função do professor, como diz Christiane
Sanderson (2005): “As crianças veem os pais e os professores como a principal
fonte de conselhos de muitas áreas”

Rita Ippolito (2010) confirma a importância do papel do professor na questão da


identificação de um possível abuso sexual, enfatizando a necessidade de conquistar
a confiança do seu aluno e supor que, se ele tiver sido abusado por um adulto,
qualquer outro adulto seria um inimigo para ela.

Para esta autora, somente após a relação de confiança estar estabelecida, o


professor deve conversar com seu aluno, em um ambiente sem interferências de
outras pessoas mantendo-se calmo para não influenciar no relato da criança,
descobrindo diante da conversa se ela aprova seus pais como interlocutores. Se o
caso for realmente constatado como um abuso sexual, inicia-se o papel de
mediação do professor com a família notificando esse caso ao Conselho Tutelar.

Ela conclui, dizendo que a escuta e acolhimento dos professores é muito importante,
e que eles precisam ter uma formação para saber como lidar e a quem notificar
esses casos. Se a situação não tiver sido traumática para a criança abusada, é um
ótimo momento para a escola conscientizar as demais crianças sobre sua própria
sexualidade, permitindo que elas mesmas percebam que estão sendo abusadas e
como é possível se defender.

Diante disso, podemos ver que os professores devem ter uma postura com seus
alunos que permita formar cidadãos com conhecimento de mundo e liberdade de
pensamento.

De forma a prevenir a ocorrência do abuso sexual, é necessário que a gravidade das


consequências sejam amplamente discutidas. Por este motivo, o Ministério da
Educação criou o Guia Escolar “Identificação de Sinais de Abuso e Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes”, que foi elaborado na parceria entre a
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e o Ministério da Educação em 2011,
disponibilizado para consulta.
37

Este guia destaca três formas de prevenção das ocorrências. Na primeira forma,
nomeada por Prevenção Primária, foi sugerido a implementação de políticas sociais
básicas, nas quais se destacam atividades educativas e de caráter informativo,
dirigidas à população, principalmente à família, à Igreja, à comunidade escolar, entre
outros grupos da sociedade.

As ações que permeiam a prevenção secundária estão focadas na violência sexual,


incidindo sobre as situações de maus-tratos já existentes, para que, as crianças em
situações de risco sejam identificadas precocemente, para que se possa evitar que
os atos de violência ocorram ou se repitam. Os educadores podem utilizar este Guia
para aprender a reconhecer os sinais de abuso e exploração contra crianças e
adolescentes.

A prevenção terciária tem como meta o acompanhamento integral de crianças e


adolescentes em situação de violência sexual e do autor de violência sexual.

Este Guia Escolar destaca a importância de priorizar o encaminhamento das


crianças e dos adolescentes em situação de abuso sexual aos serviços educacional,
médico, psicológico e jurídico-social.

Outra forma de prevenção é apoiar-se em estudos que traçam o perfil comum do


agressor para que seja possível identificar contextos de risco para as crianças. Um
estudo realizado em Londrina em 2006 teve como objetivo principal conhecer as
características do abuso sexual de crianças e adolescentes de zero a 14 anos, a
partir dos casos registrados nos Conselhos Tutelares e programas de atendimento
do município, em 2006. Neste caso, conhecendo as vítimas (74,2% do sexo
feminino), e o agressor (97,3% dos agressores eram do sexo masculino), e o local
dos abusos (residência das vítimas em 52,7%) podendo assim traçar um perfil para
a sociedade para que este abuso seja prevenido. O perfil de agressor observado
neste estudo é representado por sua maioria pelo padrasto, que não apresentava
situação de vulnerabilidade associada ao agressor (uso de drogas, alcoolismo,
desemprego, etc.).

Segundo pesquisas de Habigzang, Koller, Azevedo e Machado (2005), os principais


fatores de risco associados ao abuso sexual na família são: desemprego, famílias
38

reconstituídas, abuso de álcool e drogas, dificuldades econômicas e presença de


outras formas de violência.

4. METODOLOGIA DE PESQUISA

Para Gil (1994), as pesquisas científicas são classificadas sob quatro critérios:

1. De acordo com a natureza, a pesquisa pode ser básica ou aplicada.


2. A forma de abordagem do problema pode ser quantitativa ou qualitativa
3. A perspectiva dos objetos do estudo pode ser exploratória, descritiva ou
explicativa.
4. Os procedimentos técnicos adotados podem ser pesquisa bibliográfica,
documental, experimental, levantamento, estudo de caso, ação, participante.

A pesquisa “pura”, ou básica, pode ser denominada como “fundamental” e tem como
objetivo adquirir conhecimentos para o progresso da ciência. Já a pesquisa
“aplicada” tem como finalidade buscar soluções para problemas reais, promovendo o
avanço do conhecimento na área específica. Maria Margarida de Andrade (2001).
Mas, para esta autora, a natureza da pesquisa pode também ser um resumo de
assunto:

O resumo de assunto é um tipo de pesquisa que dispensa a originalidade,


mas não o rigor científico. Trata-se de pesquisa fundamentada em trabalhos
mais avançados, publicados por autoridades no assunto, e que não se limita
à simples cópia das ideias. A análise e interpretação dos fatos e ideias, a
utilização de metodologia adequada, bem como o enfoque do tema de um
ponto de vista original são qualidades necessárias ao resumo de assunto.
(ANDRADE, Maria Margarida de, Introdução à metodologia do trabalho
científico, 2001, São Paulo).

Quanto a abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa, que, segundo


Maanen (1979, p.520) tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos
fenômenos do mundo social, reduzindo a distância entre indicador e indicado, entre
teoria e dados, entre contexto e ação. LAURA I.
39

Quanto aos objetos de estudo a pesquisa é exploratória, termo definido por Maria
Margarida de Andrade (2001) por proporcionar maiores informações sobre o assunto
facilitar a delimitação do tema e formular hipóteses para a pesquisa, podendo ser um
trabalho preliminar para outra pesquisa.

Quanto aos procedimentos técnicos, esta pesquisa é considerada bibliográfica.


Segundo Medeiros (2000):

Pesquisa bibliográfica significa o levantamento da bibliografia referente ao


assunto que se deseja estudar. A pesquisa bibliográfica apresenta quatro
etapas: identificação, localização, compilação e fichamento. (MEDEIROS,
João Bosco, Redação Científica, 2000, São Paulo)

A pesquisa bibliográfica não termina no fichamento, ela inclui todas as fases de um


trabalho científico completo, como afirma Maria Margarida de Andrade (2001):
escolha e delimitação de tema, coleta de dados, o processo de localização das
informações, anotações e fichamentos, seleção do material, plano de trabalho,
redação das partes, leitura crítica para a redação final e a organização da
bibliografia. João Bosco Medeiros (2008) classifica as fontes utilizadas na pesquisa
como primárias, secundárias e terciárias. A pesquisa utilizou fontes secundárias,
livros e outros documentos bibliográficos.

Resumindo, a metodologia desta pesquisa é:


1.Uma pesquisa básica, de resumo do assunto, quanto a natureza.
2.Uma pesquisa qualitativa, quanto a abordagem do problema.
3.Uma pesquisa exploratória, quanto aos objetos de estudo.
4.Uma pesquisa bibliográfica, quanto aos procedimentos técnicos.

5. ANÁLISE DE DADOS

Em relação à conceituação do abuso sexual, os diversos autores que trabalham o


assunto têm definições que variam conforme as áreas de conhecimento, mas não há
uma definição que abranja todas as áreas, dificultando uma visão mais ampla do
tema.
40

Nossas raízes históricas mostram a infância como uma fase desconsiderada pela
sociedade durante longos anos e somente na década de 1990 é que foi estruturado
um estatuto voltado para a sua proteção. Entretanto, ainda pode-se observar nas
relações com as crianças resquícios desta visão, quando, por exemplo, nas salas de
aula a preocupação dos professores recai no conteúdo e não em uma educação
voltada para as vivências pessoais do aluno.

No que se refere às consequências, elas são multifacetadas, logo são difíceis de


detectar e variam dentre as vítimas. Mas observar as mudanças comportamentais
nos alunos e não deixar de lado a hipótese de que este aluno possa estar sofrendo
abuso sexual é essencial, pois infelizmente, essas questões não costumam ser
levantadas no ambiente escolar, sendo encobertas por outras razões pessoais. Um
dos motivos pelos quais esse assunto não é debatido nas escolas é o fato dos
professores contarem com pouca ou nenhuma assistência por parte dos outros
profissionais presentes na instituição, diante de uma situação de abuso sexual.
Porém, se não for algo discutido e investigado, o aluno pode continuar sendo vítima
desse crime.

Em referência ao tratamento da vítima, ele é restrito, pois as consequências são


muito complexas e variáveis para se tratar com tanta objetividade. Já a prevenção
parece ser o melhor caminho, pois colabora para a proteção de todo o tipo de abuso,
inclusive o sexual. Além disso, o tratamento é demorado e o abuso precisa ser
comprovado antes de ser tratado.

Contudo, as ações de prevenção podem ser interrompidas quando a criança é


transferida de uma escola da Rede Municipal para uma escola da Rede Estadual, e
a direção da mesma não pode acompanhar mais o caso, ou seja, na prática, esses
registros ficam perdidos diante de uma mudança de Rede.

No que diz respeito ao papel do professor, é importante que ele esteja atento para
fortalecer a criança. E a melhor maneira de iniciar esse fortalecimento dentro da sala
de aula é trabalhar as competências sócio emocionais, que tem como objetivo
estimular o desenvolvimento integral da criança, engrandecendo o autocontrole, a
curiosidade e a confiança. Além disso, ter conhecimento sobre os encaminhamentos
necessários é essencial, já que o professor tem o privilégio de estar a maior parte do
41

dia com a criança, sendo muitas vezes a única figura de segurança e confiança da
vítima.

6. CONCLUSÃO

Concluindo, o abuso sexual é um tema polêmico e difícil de ser abordado por sua
complexibilidade. A maioria das pessoas se confundem com relação ao seu
conceito, já que o relacionam geralmente somente ao ato carnal. Diferentemente do
que pensam, o abuso pode estar presente em práticas sociais comumente aceitas
como forçar a beijar, cumprimentar com abraços e forçar a criança a ser tocada por
estranhos.

O abuso sexual gera consequências diversas nas vítimas, e isso varia de pessoa
para pessoa, de acordo com a maneira e época em que aconteceu o abuso. O
tratamento dos casos de abuso sexual costuma ser demorado e incerto, já que não
é sempre que se consegue apagar as sequelas geradas na vítima. Por isso, a
melhor opção é a prevenção do abuso.

A ocorrência de casos é bem alta, porém a denúncia não ocorre com tal frequência
por diferentes motivos. A vítima pode ter vergonha, medo, ou até não conseguir
reconhecer que foi realmente abusada.

O professor, por ser uma figura de destaque na vida das crianças e conseguir
acompanhá-las por um longo período de tempo, apresenta um papel essencial na
prevenção de qualquer abuso, incluindo o abuso sexual. Além disso, para muitas
crianças o professor acaba sendo a única figura de respeito e confiança, tendo
assim maior liberdade de compartilhar problemas e conflitos do âmbito pessoal com
ele.

Infelizmente, o profissional da educação não costuma ter em sua formação preparo


para lidar com o tema Abuso sexual, que permanece um tabu até mesmo no meio
acadêmico, onde deveria ser trabalhado. Se o professor fosse melhor capacitado
para lidar com esse tipo de assunto, poderia se preparar mais para cumprir o seu
42

papel diante dos casos de abuso sexual, prevenindo para que não venham a
acontecer, e encaminhando, se necessário.

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