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Belo Horizonte
6 de dezembro de 2017
Ana Laura Fonseca Nogueira
Izabela Ervilha Ferreira Pinto
Juliana Miranda Coutinho
Laura Fernanda Bechler Moreira
Belo Horizonte
6 de dezembro de 2017
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Laura Trindade Ituassu - Orientadora - UEMG
__________________________________________________
Marcelo Fonseca Gomes de Souza - UFMG
AGRADECIMENTOS
Às nossas famílias, mães, pais, irmãos, pelo incentivo, pelo amor e apoio
incondicional.
“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte
do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre
têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é
o voo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam
são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos
pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
Rubem Alves
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SUMÁRIO
3 Referencial
Teórico .................................................................................................11
3.1. Conceituando os termos .....................................................................................
11
3.1.1 Infância............................................................................................................. 11
3.1.2 Abuso Sexual ...................................................................................................14
3.2 Um olhar Histórico............................................................................................... 17
3.3 O impacto na vida das crianças...........................................................................
22
3.4 A rede de proteção...............................................................................................
27
3.5 O papel do professor ...........................................................................................
31
4 Metodologia de Pesquisa........................................................................................
37
5 Análise de dados ....................................................................................................
39
6 Conclusão............................................................................................................... 40
8 Apêndice................................................................................................................. 13
8
Lista de Tabela
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
Este problema abrange toda a sociedade, pois pessoas que sofreram abuso e/ou
maus tratos na infância e adolescência têm maior probabilidade de repetir,
passivamente ou ativamente, estas situações com seus filhos conforme mostra o
estudo sobre a transmissão intergeracional da violência de Widom (1989) segundo o
qual o abuso gera abuso e a violência gera violência, reproduzindo um ciclo que não
se rompe sem prevenção e tratamento eficazes.
tem a ver com isto, uma vez que trabalha diretamente com a formação de crianças?
Este trabalho pretende mostrar que o professor tem um papel importante no
processo de prevenção, identificação e tratamento dos casos de abuso sexual de
crianças, alertando para a necessidade de maior valorização deste tema na
formação de professores.
2. OBJETIVOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1.1 Infância
Esta pesquisa histórica não se apresenta tão simples como uma compilação de
dados, como alerta Sarmento:
então instituído. Ele afirma ser recente o interesse histórico pela infância”.
BUJES (2001, p.13) citado por Andrade (2010), confirma a visão de Sarmento,
mostrando que é de extrema importância nos darmos conta das transformações da
maneira como a infância foi vista para compreendermos a dimensão que a infância
ocupa atualmente. As maneiras de se pensar sobre o que é ser criança e a
importância que foi dada ao momento específico da infância se modificaram na
sociedade ao longo da história.
O conceito de infância também varia em relação aos limites de idade. Pinto &
Sarmento (1997, p.15) discutem esta falta de consenso e mostram estudos e
investigações recentes que têm enfatizado a condição da criança como sujeito de
direitos desde a vida intrauterina.
Segundo Rocha (1999) e Faria (2009), apud Barbosa (2010), a infância compreende
todos aqueles que estão entre 0 e 10 anos de vida.
São portanto muitas conceituações que criam abordagens múltiplas do tema, o que
nos leva a ter que indagar sempre, diante de um estudo, de que criança está se
falando.
Segundo Drec, (2003) citado por Martins (2003), uma simples definição de abuso é o
ato onde um adulto, ou um menor, obriga ou persuade outro menor (do sexo
masculino ou feminino) a ter uma atividade sexual que não é adequada para a sua
idade, usufruindo de um abuso de poder.
Sanderson (2005, p.1) considera que este é um fenômeno de natureza social, tendo
em vista que é influenciado de maneira intensa pela cultura e pelo tempo histórico
15
Estes quatro tipos podem ser assim descritos: Os abusos físicos referem-se a danos
físicos a uma criança. Já abuso emocional se refere aos maus tratos contínuos a
uma criança com a intenção de causar efeitos adversos ao seu desenvolvimento
social. Negligência é o fracasso constante em satisfazer as necessidades físicas
e/ou psicológicas de uma criança, o qual pode resultar em deterioração séria da
saúde ou de seu desenvolvimento. O abuso sexual, propriamente dito, caracteriza-
se por forçar ou incitar uma criança ou um jovem a tomar parte em atividades
sexuais, estejam ou não cientes do que está acontecendo. As atividades podem
envolver contato físico, incluindo atos penetrantes (por exemplo estupro ou sodomia)
e atos não penetrantes.
Antoni & Koller (2002) acrescentam que o abuso sexual intrafamiliar torna-se mais
prejudicial à criança vitimada porque envolve uma perda da confiança com a figura
paternal ou de cuidado que, a princípio, deveriam promover segurança, conforto e
bem-estar psicológico.
16
(1993)
Fonte: Elaborada pelas autoras
Nesta época da história não havia clareza em relação ao período que caracterizava
a infância e tomava-se como referência a questão física, determinando a infância
como o período que vai do nascimento dos dentes até os sete anos de idade, como
mostra Ariès, (1978):
Segundo as pesquisas deste autor, devido às más condições sanitárias até o século
XVII, a mortalidade infantil alcançava níveis extremamente altos, por isso a criança
era vista como um ser ao qual não se podia apegar, já que a qualquer momento ela
poderia deixar de existir. Juntamente ao nível de mortalidade, o índice de natalidade
também era alto, o que ocasionava a rápida substituição das crianças. Sua perda
era vista como algo natural e que não merecia ser lamentada por muito tempo.
O tratamento dado a uma criança do sexo masculino era, em sua maioria, diferente
do tratamento recebido por uma criança do sexo feminino, pois acreditava-se que as
meninas eram produto de relações sexuais corrompidas pela enfermidade,
libertinagem ou desobediência a uma proibição (Heywood, 2004, p.13).
Barbosa (2006) destaca que, junto a esse novo sentimento de infância, são
inauguradas práticas e teorias para governar a criança. Já que era predominante, na
idade média, uma visão da criança que a considerava rude, fraca de juízo e marcada
pelo pecado original, na modernidade a criança passou a ser controlada e vigiada
pelos adultos. É iniciado, neste período, o processo de “privatização” de suas
vivências, tanto na família, quanto na escola.
Antes de 1988, o Brasil contava com o Código de Menores, documento legal para a
população menor de 18 anos que tratava especialmente de menores em situação
irregular, com vulnerabilidade social. A visão tradicional da época era de que
crianças e adolescentes eram incapazes e consideradas um problema para o Estado
e as autoridades judiciárias. Antes do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA
ser promulgado, o Estado entendia que não havia diferença entre criança e
20
adolescente. Além disso, era comum ver crianças trabalhando, algo não permitido
na atualidade. (ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 9ª, Vários autores;
DP&A, 2009).
Segundo Kramer (2003, pg 19), a ideia de infância surge com a sociedade capitalista
urbano-industrial, na medida em que mudava- se o papel social da criança na
comunidade. Se, na sociedade feudal a criança exercia um papel produtivo direto
como um adulto assim que ultrapassava o período de alta mortalidade, na sociedade
burguesa ela passa a ser alguém que necessita de cuidado, escolarização e
preparação para uma função futura. Este conceito de infância é então determinado
historicamente pela modificação das formas de organização da sociedade.
Ressaltando a ideia de que a infância não recebia grande atenção do mundo adulto
na antiguidade, Masson (1984) afirma que até o século XVII, quando uma criança
fazia alusão a abusos sexuais, era frequentemente considerada fantasiosa ou
mentirosa pelas cortes judiciais.
Corazza (2002, p.81) afirma perceber um silêncio histórico, ou seja, uma ausência
de problematização sobre essa categoria. Não porque as crianças não existissem,
mas porque, do período da Antiguidade à Idade Moderna, não existia este objeto
discursivo chamado de infância, nem está figura social e cultural conhecida por
“criança”.
21
Atualmente, o assunto “abuso sexual infantil” é mais difundido. Isso porque, segundo
Ariès (1981), a partir do final do século XVII as crianças passaram a ter um papel
social de relevância através de instituições que asseguraram os seus direitos.
Na Declaração de Genebra de 1924, por exemplo, já se nota a preocupação em
assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes:
Pensando no período em que vivemos hoje, Dahlberg, Moss & Pence (2003)
apontam que a atual imagem da criança inocente representa uma visão utópica e dá
à infância a imagem de “anos dourados”. Isto leva os adultos a procurarem poupar a
criança das experiências negativas do mundo que a cerca, o que pode levar,
inclusive, a um desrespeito dos direitos da criança:
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O olhar histórico sobre a infância e o abuso sexual na infância mostra que a criança,
marginalizada na antiguidade, hoje representa uma parcela da sociedade
acobertada de direitos, pelo menos em teoria. Ainda assim, segundo o Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) estima-se que no Brasil, mais de meio milhão de
pessoas são vítimas anuais de estupro, e que 70% deste total são crianças e
adolescentes.Com dados estatísticos como este, indaga-se: Nosso país tem seguido
o estatuto que ele mesmo elaborou?
Day et al. (2003) (apud Florentino 2005) citam algumas possíveis manifestações
psicológicas decorrentes da violência doméstica que ocorrem a curto e longo prazo.
Em seus estudos, as potenciais manifestações em curto prazo são: medo do
agressor e de pessoas do sexo do agressor; queixas sintomáticas; sintomas
psicóticos; isolamento social e sentimentos de estigmatização; quadros fóbico-
ansiosos e obsessivos-compulsivos, depressão; distúrbios do sono, aprendizagem e
alimentação; sentimento de rejeição, confusão, humilhação, vergonha e medo e
secularização excessiva, como atividades masturbatórias compulsivas.
Gabel (1997 p. 67) apud Florentino (2005) descreve diversas queixas somáticas que
são habituais após a ocorrência de abusos sexuais em crianças e adolescentes, as
quais se manifestam na forma de mal-estar difuso; impressão de alterações físicas;
persistência das sensações que lhe foram impingidas; enurese e encoprese; dores
abdominais agudas; crises de falta de ar e desmaios; problemas relacionados à
alimentação como náuseas, vômitos, anorexia ou bulimia; interrupção da
menstruação mesmo quando não houve penetração vaginal.
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A psicoterapia, de acordo com Dattilio e Freeman, (1995) tem como objetivo auxiliar
os pacientes a revelar seu pensamento irracional e disfuncional e testá-lo em
relação à realidade, visando construir técnicas mais adequadas e funcionais para
reagir diante das dificuldades desencadeadas pelo abuso sexual.
Para Norbert Elias (1990), ainda existe uma dificuldade de se falar de sexo na
família e tudo isso têm marcado a distância entre o natural e o cultural, baseadas
nas regras que limitam as ações humanas. Os séculos XIX e XX marcam o
momento em que a vida sexual foi removida para o fundo da cena, e a exclusão
prevalece mais ainda para as meninas. Há um silêncio nos assuntos sobre sexo,
uma restrição à fala, gestos e atitudes, construindo assim uma parte de sigilos ao
redor dos adolescentes.
Assim como visto, os impactos de um abuso sexual podem ser devastadores. Por
isso, faz-se necessário buscar o conhecimento sobre leis e regulamentos capazes
de proteger a criança e o adolescente vítima de abuso.
Furniss (1993, p. 3) afirma que “o que não compreendemos, não somos capazes de
tratar”. A constituição federal Art. 227 diz:
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Uma vez tendo sido criado O Conselho Tutelar não pode ser desativado e torna-se
assim um Conselho permanente. Há apenas a renovação dos seus membros a cada
três anos. É uma instituição autônoma, porque não precisa de ordem judicial para
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aplicar suas medidas de proteção. Por fim, é um órgão não jurisdicional, porque não
pode processar ou punir quem infrinja as determinações legais. Contudo, pode
encaminhar ao Ministério Público notícias de determinações não cumpridas.
Para Andrade (2000), o Conselho Tutelar não se define apenas como uma instância
para garantir direitos, mas também como um possível mecanismo de cobrança de
deveres do Estado e, também, dos indivíduos. Geralmente os casos de violência
sexual contra crianças e adolescentes chegam ao Sistema de Justiça, através do
Conselho Tutelar, da Delegacia de Polícia ou das Varas de Família, por diversos
motivos, sejam eles nas disputas envolvendo guarda, visita ou suspensão e
destituição do pátrio poder, abrigo na casa de passagem e nos casos de fuga etc.
Para Carvalho (1992) apud Azambuja (2006) ao Conselho Tutelar cabe receber,
dentre entre outras situações de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente, os casos de suspeita ou confirmação de maus tratos praticados contra
a referida crianças, mostrando-se a urgência da sua criação e instalação em todos
os municípios “para a efetivação da política de atendimento à criança e ao
adolescente, tendo em vista assegurar-lhe os direitos básicos, em prol da formação
de sua cidadania”. (AZAMBUJA. 2006.p.4). A demanda do Conselho Tutelar, no que
se refere à violência intrafamiliar, abarca situações complexas a serem enfrentadas,
uma vez que, entre outros fatores, o agressor e a vítima pertencem, geralmente, ao
mesmo grupo familiar.
Pietro, Yunes, 2011, afirma que para contrapor os mecanismos de risco que a
violência sexual suscita, é preciso gerar fatores de proteção para mudar essa
situação, cabe assim, a escola atuar de forma protetiva para impedir que o abuso
continue. Ele ainda elucida que as escolas são nichos ecológicos importantes na
prevenção contra essa violência, tendo assim a necessidade de todos os
trabalhadores da escola, compreender as leis, os recursos da rede de apoio, os
sinais apresentados pelas crianças, as peculiaridades das famílias, pois para ele só
assim a cultura escolar estará preparada para proteger ativamente seus estudantes
e familiares e não apensas transmitir conteúdo.
De acordo com Miranda, Yunes, 2008, a escola é o segundo lugar mais frequentado
pela maioria das crianças depois de suas respectivas casas. É necessário trabalhar
para que esse ambiente seja um instrumento para enfrentar as disfunções na
confiança e nas relações de poder que são apresentadas nos casos de abuso
sexual.
A escola deve conceber a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, e o
apoio dos educadores aumenta a militância em defesa desses direitos, diz Inoue,
31
Falar do guia das fontes de prevenção primária que as escolas precisam oferecer e
que englobam ações várias ações, por parte da comunidade escolar, com o objetivo
de eliminar, ou pelo menos reduzir, os fatores sociais, culturais e ambientais que
favorecem os maus-tratos.
O artigo 13 do ECA orienta o que fazer em casos de suspeita e define a pena aos
profissionais envolvidos em caso de descumprimento
De acordo com a lei federal n.º 9394 de 1996 – a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) conhecida como Lei Darcy Ribeiro – fica determinado como
competência da União estabelecer, junto aos estados e municípios, diretrizes que
orientem os currículos e seus devidos saberes, de forma a garantir uma formação
básica comum a todos. Com o intuito de mostrar um comprometimento, por parte do
governo, na superação dos problemas e dificuldades em termos educacionais, foram
elaborados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o ensino fundamental
(Brasil, 1998), que têm como principal finalidade apresentar as linhas norteadoras
para a orientação curricular.
Para Ribeiro (2002) os professores e demais profissionais que lidam com crianças e
jovens têm um papel fundamental no processo de aquisição de conhecimentos e
valores por parte de seus alunos, o que implica numa necessidade de também estes
educadores terem um espaço onde possam se formar como orientadores
conscientes e capazes. Ele complementa dizendo que para que os professores
possam compreender a manifestação da sexualidade de seus educandos e educá-
los em relação a isso é preciso ter clareza tanto da abordagem histórica e cultural
sobre a construção da sexualidade humana, quanto da compreensão científica do
desenvolvimento psicossocial.
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Já Silva (2002) diz que a Orientação Sexual leva a escola a assumir os educandos
como seres humanos integrais, sexuados, pois não há possibilidade de haver
humanidade sem sexualidade. Se de fato pretendemos oferecer educação integral
ao aluno, como um direito que lhe cabe como ser humano, temos que reconhecer e
atender as questões de sua sexualidade, que é parte da sua humanidade.
Com isso, a afirmação de Cintia Auilo (2008) nos acresce que o papel do professor
já não é o mesmo do passado, pois antigamente ele detinha todo o conhecimento e
o depositava em seus alunos. Hoje o professor é considerado um elemento
mediador do processo educativo tendo um papel que vai além da transmissão do
conhecimento, como mostram autores que tratam do tema educação. Mas qual é o
papel? LAURA I.
Para Carl Rogers, com sua abordagem Centrada na Pessoa tem como estrutura do
encontro entre o educador e o educando “o aprender a ser e o aprender a viver
juntos”. Para ele o professor deve atuar de maneira reflexiva e facilitadora no
aprendizado de seu aluno, esclarecendo seus propósitos individuais e do grupo.
Quando o clima de receptividade está estabelecido o professor se torna
progressivamente um aprendiz membro do grupo e as dificuldades de aprendizagem
podem ser superadas.
Freud acrescenta que a escola deve ser capaz de educar a partir da conscientização
do aluno com relacionamento flexível e democrático, conciliando seus direitos e
deveres, sendo que o professor tem um papel de tornar o aprendizado um processo
prazeroso, levando o educando a construir um ego forte, capaz de mediar os
conflitos interiores. LAURA I.
Não foram encontradas pesquisas desta natureza no Brasil, mas este estudo de
Salamanca pode lançar luz sobre os tipos de dificuldades enfrentadas pelos
professores também no Brasil, uma vez que os problemas educacionais da Espanha
e do Brasil são semelhantes em muitos pontos. A criação do grupo Ibero Americano
do PISA - Programme for International Student Assessment, do qual fazem parte
Brasil e Espanha, se baseou exatamente neste argumento para organizar um grupo
de países que tem problemas semelhantes na educação, de acordo com o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP).
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Diante de um possível caso de abuso sexual, Jean Von Hohendorff (2013) tem como
recomendação aos docentes instruir a criança para que, se acontecer algo de que
ela não goste, busque ajuda de algum adulto de confiança. Preparar-se para ouvir e
saber orientar as crianças é uma função do professor, como diz Christiane
Sanderson (2005): “As crianças veem os pais e os professores como a principal
fonte de conselhos de muitas áreas”
Ela conclui, dizendo que a escuta e acolhimento dos professores é muito importante,
e que eles precisam ter uma formação para saber como lidar e a quem notificar
esses casos. Se a situação não tiver sido traumática para a criança abusada, é um
ótimo momento para a escola conscientizar as demais crianças sobre sua própria
sexualidade, permitindo que elas mesmas percebam que estão sendo abusadas e
como é possível se defender.
Diante disso, podemos ver que os professores devem ter uma postura com seus
alunos que permita formar cidadãos com conhecimento de mundo e liberdade de
pensamento.
Este guia destaca três formas de prevenção das ocorrências. Na primeira forma,
nomeada por Prevenção Primária, foi sugerido a implementação de políticas sociais
básicas, nas quais se destacam atividades educativas e de caráter informativo,
dirigidas à população, principalmente à família, à Igreja, à comunidade escolar, entre
outros grupos da sociedade.
4. METODOLOGIA DE PESQUISA
Para Gil (1994), as pesquisas científicas são classificadas sob quatro critérios:
A pesquisa “pura”, ou básica, pode ser denominada como “fundamental” e tem como
objetivo adquirir conhecimentos para o progresso da ciência. Já a pesquisa
“aplicada” tem como finalidade buscar soluções para problemas reais, promovendo o
avanço do conhecimento na área específica. Maria Margarida de Andrade (2001).
Mas, para esta autora, a natureza da pesquisa pode também ser um resumo de
assunto:
Quanto aos objetos de estudo a pesquisa é exploratória, termo definido por Maria
Margarida de Andrade (2001) por proporcionar maiores informações sobre o assunto
facilitar a delimitação do tema e formular hipóteses para a pesquisa, podendo ser um
trabalho preliminar para outra pesquisa.
5. ANÁLISE DE DADOS
Nossas raízes históricas mostram a infância como uma fase desconsiderada pela
sociedade durante longos anos e somente na década de 1990 é que foi estruturado
um estatuto voltado para a sua proteção. Entretanto, ainda pode-se observar nas
relações com as crianças resquícios desta visão, quando, por exemplo, nas salas de
aula a preocupação dos professores recai no conteúdo e não em uma educação
voltada para as vivências pessoais do aluno.
No que diz respeito ao papel do professor, é importante que ele esteja atento para
fortalecer a criança. E a melhor maneira de iniciar esse fortalecimento dentro da sala
de aula é trabalhar as competências sócio emocionais, que tem como objetivo
estimular o desenvolvimento integral da criança, engrandecendo o autocontrole, a
curiosidade e a confiança. Além disso, ter conhecimento sobre os encaminhamentos
necessários é essencial, já que o professor tem o privilégio de estar a maior parte do
41
dia com a criança, sendo muitas vezes a única figura de segurança e confiança da
vítima.
6. CONCLUSÃO
Concluindo, o abuso sexual é um tema polêmico e difícil de ser abordado por sua
complexibilidade. A maioria das pessoas se confundem com relação ao seu
conceito, já que o relacionam geralmente somente ao ato carnal. Diferentemente do
que pensam, o abuso pode estar presente em práticas sociais comumente aceitas
como forçar a beijar, cumprimentar com abraços e forçar a criança a ser tocada por
estranhos.
O abuso sexual gera consequências diversas nas vítimas, e isso varia de pessoa
para pessoa, de acordo com a maneira e época em que aconteceu o abuso. O
tratamento dos casos de abuso sexual costuma ser demorado e incerto, já que não
é sempre que se consegue apagar as sequelas geradas na vítima. Por isso, a
melhor opção é a prevenção do abuso.
A ocorrência de casos é bem alta, porém a denúncia não ocorre com tal frequência
por diferentes motivos. A vítima pode ter vergonha, medo, ou até não conseguir
reconhecer que foi realmente abusada.
O professor, por ser uma figura de destaque na vida das crianças e conseguir
acompanhá-las por um longo período de tempo, apresenta um papel essencial na
prevenção de qualquer abuso, incluindo o abuso sexual. Além disso, para muitas
crianças o professor acaba sendo a única figura de respeito e confiança, tendo
assim maior liberdade de compartilhar problemas e conflitos do âmbito pessoal com
ele.
papel diante dos casos de abuso sexual, prevenindo para que não venham a
acontecer, e encaminhando, se necessário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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43
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COHEN, Claudio, GOBBETTI, Gisele. Bioética e abuso sexual. Rev. Assoc. Med.
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HABIGZANG, Luísa Fernanda & CAMINHA, Renato Maiato. Abuso sexual contra
crianças e adolescentes: conceituação e intervenção clínica. Ed. 2. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2004.
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(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia.
Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento.