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Da classificação da epilepsia

A epilepsia não existe na CID-10 e na prática da psiquiatria forense, precisa ser


sempre pesquisada quando estamos nos avindo com delito de sangue, com
certas características inusitadas. A bem ver, a epilepsia é a mais antiga doença
da humanidade e também a única que nunca mudou de nome. Os antigos
pensavam que o diabo vinha de cima (epi, acima) e abatia o indivíduo [(lepsem,
abater), epilepsis, abater por cima]. E se o abatesse e o sacudisse ao solo,
fazendo-o contorcer-se em convulsões, a deitar escuma pela boca, seria
possessão demoníaca completa; se o diabo entrasse no corpo e tomasse a
mente do indivíduo, fazendo berzabuns, seria possessão demoníaca parcial e
se o indivíduo fosse votado ao diabo, com ele fizesse pactos, seria bruxo ou
feiticeiro. Pois bem, com o passar das centúrias e o evoluir do conhecimento
sobre a mente humana, possessão demoníaca total virou epilepsia
neurológica; possessão demoníaca parcial, virou psicose epiléptica; e o
bruxo, feiticeiro, virou personalidade psicopática, podendo ser chamada de
epilepsia condutopática ou comportamental.
Epilepsia Neurológica - Quando os sinais e sintomas clínicos são
predominantemente neurológicos, por exemplo, crises convulsivas, quando o
indivíduo cai ao solo e, aí caído, se contorce em convulsões tônico-clônicas,
deitando espuma pela boca. Esse tipo de epilepsia forma neurológica
corresponde, na velha concepção de possessão demoníaca, à possessão
completa, quando o diabo entra no corpo e sacode o indivíduo ao solo.
Psicose Epiléptica - Em vez de a crise ser convulsiva, neurológica, ocorre
transtorno no psiquismo, que se torna convulsivo, quando o indivíduo passa a
falar coisas incompreensíveis, ter atitudes estranhas etc. Corresponde à
possessão demoníaca incompleta, em que o diabo entra no corpo do indivíduo
e promove berzabuns.
Epilepsia Condutopática - O epiléptico condutopata entra em crise convulsiva
comportamental qual epiléptico neurológico entra em crise convulsiva
orgânica, só que, vai de regra, a comportamental é muito mais demorada e
não tão violenta e fulminante quanto a orgânica, como se as tensões pré-
convulsivas, antes do ataque, para ambas as formas, fossem as mesmas, mas
na forma orgânica escoam todas de uma só vez, e na condutopática, aos
poucos.
Indivíduos que padecem dessa forma de epilepsia possuem limiar de excitação
cerebral baixo, porque portam cérebro epiléptico. Recebem os fatos do mundo
pelos sentidos, nas vias nervosas periféricas, que se enlaçam aos centros
protopáticos e epicríticos sensitivos, motores e mnemoassociativos cerebrais,
que, dependendo do estímulo, duração e intensidade, engendram
hipersincronias neuronais, emitindo estímulos que chegam aos nervos que se
ligam à musculatura, assegurando a continuidade funcional altamente
complexa ou bem simples, entre a impressão, a elaboração e a expressão com
sintomatologia biopsicossocial inerente à alteração cerebral.
Reações Primitivas - Na crise condutopática pode haver diminuição da
capacidade de entendimento, mas sempre há comprometimento da esfera
conativa e do mecanismo de controle emocional, afetivo-sentimental. Esse
episódio costuma ocorrer após um fator desencadeante qualquer que, muitas
vezes, por ser banal, passa despercebido. Esse momento epiléptico é descrito
com o nome de reação primitiva, dividindo-se em três grupos:
Reação primitiva hiponoica: Há diminuição da compreensão, um estreitamento
da consciência: é um estado crepuscular, no qual as ações passam a ser
praticadas sem o concurso pleno da capacidade de entendimento;
Reação primitiva hipobúlica: Há desarranjo da atividade da esfera conativa
(tendência consciente para ação) e se caracteriza por suspensão da atividade
motora do corpo (mutismo, ausência de respostas às solicitações do exterior e
eventuais trans tornos das funções excrementícias);
Reação primitiva hipotímica: Há diminuição dos mecanismos de controle
emocional, afetivo e sentimental.

Os transtornos do comportamento de base epiléptica podem se manifestar em


atos em curto-circuito, o que, aliás é bastante comum em certos indivíduos
que padecem dessa forma de epilepsia.
Reação primitiva em curto-circuito: Trata-se de reação psíquica em que o
reagente sofre uma vivência externa, representada por algum fato marcante e
reage anormalmente.
A vivência dolorosa suscita mecanismos psíquicos primitivos, que acabam
substituindo os estágios evoluídos do psiquismo, da infância à velhice.
Consequentemente, a conduta do indivíduo será alterada.
No CID-10 F 43.2 “transtorno de ajustamento”: Estado de angústia subjetiva e
perturbação emocional, usualmente interferindo com o funcionamento do
desempenho social. Surgem em período de adaptação a mudança significativa
de vida ou a um evento estressante.
Alguns equivalentes epilépticos: tonturas, escurecimentos de vista, fortes
dores de cabeça, sensibilidade à barulho e estímulos fotoluminosos, crises de
pavor noturno, sonilóquios, briquismo, sensação de estranheza, alguns
episódios pregressos de desmaios (sem convulsões), episódios de já visto, já
vivido e jamais visto (déja vu, déjà vécu. jamais vu), escotomas cintilantes,
fibrilação da pálpebra e o próprio gosto por pimenta que, se bem acentuado,
como no Periciando, para JOÃO FRANCISCO DUARTE, ilustre professor de
Medicina Legal, é um rico equivalente epiléptico, se vier acompanhado, como
nesse caso, de outros elementos clínicos.
Estados Crepusculares
As etiologias dos estados crepusculares, de modo geral, podem ser bem
variadas: traumatismo de crânio, tumor cerebral, alcoolismo crônico,
transtorno cerebrovascular, constituição epiléptica etc.
Escola Brasileira - José Alves Garcia diz:

Os estados crepusculares consistem não na perda do conhecimento, mas no


estreitamento do campo da consciência, essencialmente em sua motivação
afetiva e ideativa, de tal sorte que a apreensão do mundo externo não é
obnulada, porém imperfeita, parcial ou falseada; conserva-se a possibilidade
de execução de atos voluntários complexos, a realização de viagens, a
condução de automóvel, agressões. O estado crepuscular costuma ser de
pequena duração, minutos, horas, excepcionalmente dias, seguidos de
amnésia lacunar correspondente à evolução do fenômeno.
9 características devem estar presentes em delitos violentos praticados por
pessoas de constituição epiléptica, em estado patológico de consciência.
a) ausência de motivos plausíveis,
b) ausência de premeditação,
c) instantaneidade da ação,
d) ferocidade de execução,
c) multiplicidade de golpes,
f) ausência de dissimulação,
g) ausência de remorso,
h) ausência de cúmplice,
i) amnésia ou reminiscências mnêmicas confusas.

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