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Canoas, n.28, abr. 2015
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Graduado em Administração (2002) e pós-graduado em Gestão de Pessoas (2006) pela Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (INIJUÍ). É Mestre em Administração (2008) pela Universidade de
Caxias do Sul (UCS). Atualmente é professor assistente da Universidade Federal do Pampa - Campus Santana do
Livramento e Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). E-mail: tiagopatias@unipampa.edu.br
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Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS (2013). Possui Pós-
Graduação em Finanças pela Universidade Luterana do Brasil (2012) e Graduação em Ciências Contábeis pela
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ (2007). E-mail:
biancabigolin@gmail.com
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Possui formação em nível de Graduação em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Santa
Maria - UFSM (1987), de Mestrado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
(2000), de Doutorado em Administração pela Universidade de São Paulo - FEA/USP com Estágio Doutoral na
Bocconi University em Milão, Itália (2007), de Pós-Doutorado em Administração pela Universidade de São
Paulo - FEA/USP (2011-2014) e de Aperfeiçoamento na Metodologia do Estudo de Caso na Harvard University
(2011-2012). Atualmente exerce as funções de Professora Adjunta do Departamento de Ciências Administrativas
da UFSM. E-mail: clandiamg@gmail.com
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Introdução
A preocupação com o meio ambiente ganha a cada momento maior relevância, pois o
desenvolvimento econômico, a urbanização e a melhoria dos padrões de vida nas cidades
levaram a um aumento da quantidade e complexidade dos resíduos gerados (RATHI, 2006).
Além de comprometimento dos recursos naturais, as gerações futuras sofrerão influências
causadas pela degradação do meio ambiente se não forem adotadas medidas que minimizem
estes prejuízos causados, em sua maioria, pelas atividades humanas e empresariais nocivas ao
ambiente (TINOCO; KRAMER, 2011).
Nacional dos Catadores (as) de Materiais Recicláveis (MNCR), que surgiu em meados de
1999 com o 1º Encontro Nacional de Catadores de Papel (FERGUTZ; DIAS; MITLIN, 2011).
O artigo está estruturado em seções, sendo que, após esta introdução, apresentam-se a
revisão de literatura e na sequência os aspectos metodológicos que envolvem o estudo. Em
seguida, são evidenciados os resultados obtidos na pesquisa e as discussões sobre os mesmos.
Por fim, são apresentadas as considerações finais do estudo e as referências bibliográficas.
- Criação de metas para eliminação dos lixões e instrumentos para planejamento nacional,
estadual e microrregional.
Reconhece-se que o Brasil possui uma legislação moderna sobre o tema, mas há muito
trabalho a ser feito, pois somente cerca de 10% dos municípios brasileiros encaminharam seus
planos de gestão de resíduos ao Governo Federal (ABRAMOVAY; SPERANZA;
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A GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS EM CAXIAS DO SUL-RS 131
PETITGAND, 2013), mesmo que a PNRS tenha estabelecido 2012 como a data final para esta
ação. Quase 40% do lixo produzido no país ainda é despejado nos contestados lixões e nos
aterros controlados (versão um pouco melhor dos lixões), e apenas 27% dos municípios
encaminham seu lixo para os aterros sanitários (CEMPRE, 2013). Diante deste cenário, o
apoio a iniciativas de coleta seletiva e reciclagem são fundamentais.
Metodologia
Considerando que o objetivo principal da pesquisa é compreender os reflexos nos
âmbitos econômico, social e ambiental do trabalho desenvolvido pelas Associações de
Recicladores presentes no município de Caxias do Sul/RS, esta pesquisa classifica-se como
exploratória, pois visa proporcionar maior familiaridade com a problemática e, assim, torná-la
mais explícita. Utiliza-se uma abordagem qualitativa, a fim de expor de forma minuciosa as
especificidades de uma dada realidade ou situação social (FOSSATI; LUCIANO, 2008).
Quanto ao método, classifica-se como um estudo de caso único, tendo em vista que
investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto real, e os limites
não são claros entre o fenômeno e o contexto (YIN, 2010).
Também foi realizada uma visita técnica em uma cooperativa de recicladores, com
vistas a conhecer a realidade, com possibilidade de interloculação com os cooperados. Os
dados qualitativos foram analisados pela técnica de análise de conteúdo, através de três fases:
a) pré-análise; b) exploração do material; e c) tratamento dos resultados, inferência e
interpretação (BARDIN, 2011). Por fim, procedeu-se a triangulação dos dados e das leituras
realizadas pelos pesquisadores.
fordismo com o do neofordismo, diferente de outras regiões onde existe uma tendência à
diversificação.
Diante de uma economia dinâmica, outro fato que se destaca para compreender esse
contexto é a crescente atração migratória, que aponta para uma migração interna do próprio
estado. A busca de trabalho tem sido um dos motivos dessa atração e pode ser correlacionada
com a informalidade.
Esses dados levam a crer que existem populações que não estão sendo beneficiadas
com esse incremento da economia caxiense. E mais: há uma tendência de esse fato agravar-se,
já que a migração não cessa. Por outro lado, percebe-se uma inserção da economia caxiense
no processo global. Como já foi dito anteriormente, se repete a relação integração global e
marginalização. Essa realidade leva as camadas da população mais pobre a buscar no trabalho
informal, na marginalidade, nos lixões, uma forma de sobreviver.
As unidades são geridas pelas suas respectivas associações e recebem cargas diárias de
resíduos sólidos, oriundos da coleta seletiva, sendo a quantidade por elas estabelecidas e
negociadas junto à CODECA. Cada uma tem o seu próprio estatuto e regimento interno, que
estabelece as normas de funcionamento e os critérios para a inclusão de novos associados. Os
recicladores são remunerados por seu trabalho de acordo com um sistema de partilha, no qual
cada associação estabelece a periodicidade dos pagamentos e os critérios para desconto, não
havendo nenhuma espécie de vínculo empregatício. O lixo é visto como oportunidade de
renda (BIRKBECK, 1978; MEDINA, 2000; ANDRADE; GUERRERO, 2001).
Tecnicamente, o trabalho nas unidades começa com o recebimento das cargas, que são
depositadas em grandes cestos nos galpões. Nesses galpões, os recicladores fazem a separação
dos resíduos utilizando bombonas plásticas para depositar cada tipo de material. O material
das bombonas é encaminhado às prensas e, após a prensagem, os fardos são pesados e
armazenados para a venda. Atualmente, todo esse material é comercializado com os
denominados “atravessadores” (aqueles que compram mercadorias por preço baixo para
revendê-las com grande lucro), que, por sua vez, repassam para as indústrias de transformação
de produtos reciclados. Todo o material selecionado é devidamente controlado para que
depois possa ser realizada a partilha. Na Figura 1 procura-se demonstrar de forma sintética o
roteiro dos resíduos e a consequente ação de cada ator.
Outro aspecto importante a ser ressaltado nesta rotina de trabalho refere-se à divisão
das tarefas. Na associação visitada, normalmente, a separação do material é feita pelas
mulheres, e os homens ficam responsáveis pelo carregamento e pela prensagem. É comum
ouvir que o trabalho de separação tem que ser feito pelas mulheres porque elas são mais
cuidadosas, e que as atividades de carregamento e prensagem, por exigirem maior força física,
devem ser realizadas pelos homens.
CODECA
- Coleta
- Entrega na Associação de
Resíduos
Associação Recicladores
- Recolhe resíduo
Um tempo depois...
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Novos Produtos
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Indústria de
Transformação
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Compradores/ Venda
Atravessadores
pessoas, que, através da separação dos materiais recicláveis oriundos dos dejetos urbanos e
industriais, conseguem recursos financeiros para uma vida digna.
reciclagem e não têm carteira assinada. Os mesmos trabalham em média de cinco a seis dias
por semana, de 8 a 9 horas por dia.
A análise dos dados indicou inúmeras situações que precisam ser aprofundadas,
porém, é possível nas questões levantadas sintetizar alguns pontos positivos:
a) Apoio dado pelo poder público, no caso a Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, no
início do projeto de criação das associações, principalmente através da CODECA e do
Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto - SAMAE;
b) Assessoria da Secretaria de Saúde, Educação e da Fundação de Assistência Social –
FAS, no momento inicial;
Foi possível detectar na entrevista com a CODECA que há uma série de medidas que
estão sendo trabalhadas que visam beneficiar as associações, porém, ainda são pouco
percebidas por elas. Entre as quais se destacam:
Os pontos que necessitam um trabalho mais detalhado, tanto do poder público, como
das próprias associações e todas as entidades parceiras envolvidas e que possam de alguma
forma colaborar são destacados a seguir:
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Considerações finais
Ressalta-se que os benefícios para o meio ambiente são evidentes. Para que as
associações continuem gerando novos postos de trabalho, faz-se necessário a ampliação do
volume diário da coleta seletiva, de maneira que todas as associações sejam supridas e que
sua produção garanta uma remuneração mínima para cada associado. Nesse caso, o que se
pretende é aumentar a produtividade do trabalho até que se atinja uma escala produtiva que
possibilite maior agregação de valor no processo de trabalho dos recicladores.
Inúmeros são os desafios, principalmente ao poder público, que deve ser o catalisador
de novas associações bem como o interlocutor com outras entidades que queiram colaborar
com essas iniciativas. Exemplificadamente, há uma grande dificuldade de venda de alguns
resíduos, podendo ser fomentada via indústrias locais, que certamente serão parceiras em
determinado nível do processo de produção.
Destaca-se que Caxias do Sul está um passo à frente da maioria dos municípios do
Brasil, buscando as metas do PNRS, já finalizando o processo de consulta pública da versão
preliminar do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, com previsão de
aprovação pela Câmara de Vereadores em 2014 e vigência a partir de 2015.
Por fim, pode-se dizer que alguns pontos ainda são de extrema relevância para a
sobrevivência das unidades de reciclagem. Um foco importante é a padronização dos
processos administrativos, de maneira que as associações possam futuramente se
autogerenciar de forma sustentável com o aumento dos recursos oriundos do beneficiamento e
principalmente da comercialização do material reciclado, visto que atualmente não existe uma
política mais incisiva para este procedimento.
Este estudo não é conclusivo, pelo contrário, faz parte de um esforço acadêmico para
aprofundar o assunto e dar visibilidade a esta iniciativa, como forma de conscientizar outras
entidades, principalmente outras prefeituras municipais, a adotarem tal prática que irá
beneficiar tanto o âmbito econômico, como o social e ambiental da sociedade.
REFERÊNCIAS
SIQUEIRA, José Ricardo Maia de. A questão social e ambiental na Revista Brasileira de
Contabilidade: uma análise dos artigos publicados no final do século XX. Revista
Contabilidade UFBA, vol. 5, n. 2, p. 44-62, 2011.
SUTTIBAK, S Samonporn; NITIVATTANANON, Vilas. Assessment of factors influencing
the performance of solid waste recycling programs. Resources, Conservation and
Recycling, v. 53, n. 1-2, p. 45–56, 2008.
TINOCO, João Eduardo Pridência; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e
gestão ambiental. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011.
TIRADO-SOTO, Magda Martina; ZAMBERLAN, Fabio Luiz. Networks of recyclable
material waste-picker’s cooperatives: an alternative for the solid waste management in the
city of Rio de Janeiro. Waste Management, v. 33, n. 4, p. 1004–1012, 2013.
VIJ, Dimpal. Urbanization and solid waste management in India: present practices and future
challenges. Procedia - Social and Behavioral Sciences, v. 37, p. 437 – 447, 2012.
WIEGO – Women in Informal Employment: Globalizing and Organizing. Enfocándonos en
las trabajadoras informales: recicladoras de basura. Cambridge. 2009. Disponível em:
<http://wiego.org/sites/wiego.org/files/resources/files/FactSheet-Recicladoras-Spanish.pdf>.
Acesso em: 05 mai. 2014.
YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.