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Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS


FACULDADE DE VETERINÁRIA
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA VETERINÁRIA
DISCIPLINA DE PATOLOGIA CLÍNICA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

Material Didático
Patologia Clínica Veterinária

Carmen Lucia Garcez Ribeiro

2009
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 2
COLHEITA, CONSERVAÇÃO E REMESSA DE MATERIAL PARA EXAMES
LABORATORIAIS

1. Introdução:
A Medicina Veterinária expande os recursos e aprimora constantemente técnicas para
realização de exames laboratoriais, tornando mais acessível, prático e econômicos o uso de
meios auxiliares de diagnóstico na rotina profissional.
O Médico Veterinário ao chegar à região onde irá desenvolver suas atividades
profissionais deve procurar informar-se sobre o serviço de apoio que poderá dispor tanto na
área de diagnósticos veterinários, quanto do(s) laboratório(s) de análises clínicas da cidade,
visitando os laboratórios.
Os laboratórios da área veterinária geralmente pertencem a instituições de ensino ou
pesquisa estaduais ou federais, sendo necessário receber informações dos serviços
disponíveis, áreas de atuação (patologia, bacteriologia, virologia, toxicologia,...), técnicas
utilizadas, tipos de amostras e conservação das mesmas para os diferentes tipos de técnicas,
meios de transporte mais rápidos e eficientes, além de conhecer e manter contato com os
profissionais dessas instituições contando com seu apoio quando necessário. Os laboratórios
de análises clínicas principalmente em cidades do interior, trabalham na sua maioria para
medicina humana, cabendo ao Veterinário informar-se do tipo de equipamentos disponíveis
para realização do hemograma, pois a maioria dos contadores são ajustados ao tamanho dos
eritrócitos humanos inviabilizando a sua utilização para a maioria das espécies domésticas,
exceto a canina. Como os eritrócitos de quase todas as espécies animais, são menores que os
humanos a cada amostra deveria ser calibrado o aparelho. Nesses casos o médico veterinário
deve solicitar a hemocitometria manual em câmara de Neubauer, e o microhematócrito(mais
preciso que a avaliação anterior).
O contato prévio com os laboratórios facilita a conduta do profissional para acessar esses
recursos, abre um canal de discussão com outros profissionais especialistas em diferentes
áreas, padroniza o tipo de recipiente, conservantes e outras variáveis em conformidade com
as normas e orientações técnicas de cada laboratório.
O exame mais confiável, realizado em laboratório extremamente adequado e
modernamente equipado, conduzido por profissionais excepcionalmente qualificados e
interpretado pelos mais conceituados especialistas não supera o erro causado por uma
técnica de coleta, tratamento ou conservação não apropriada da amostra.
É fundamental que o profissional adote algumas medidas que passarão a ser rotina,
iniciando pela preparação do paciente, passando pela coleta, manuseio, conservação e remessa
da amostra ao laboratório. O Veterinário deve, portanto padronizar a coleta de amostras
minimizando o máximo possível as variáveis que possam interferir nos resultados.
2. Variáveis relacionadas ao paciente:
Alguns fatores relacionados ao paciente podem influenciar o resultado dos exames
laboratoriais, e devem ser levados em consideração no momento da coleta da amostra, ou
quando impossível evita-los serem considerados ao interpretar os resultados, são eles:
2.1. exercício-
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O animal submetido a exercício físico pode ter seus parâmetros hematológicos totalmente
alterados. Amostras colhidas nessas condições apresentarão hematócrito elevado, sobretudo
naqueles animais que apresentarem elevada resposta esplênica. Também ocorre elevação na
contagem total de leucócitos, devido ao fluxo sangüíneo acelerado e a liberação dos
hormônios de estresse. Essas são alterações que voltam a normalidade alguns minutos ou
horas após a realização de exercício. Quando a atividade física excessiva for prolongada
poderá causar elevação de enzimas resultantes da atividade muscular (creatinaquinase-CK,
aspartato-aminotansferase-AST e lactato desidrogenase-LD).

2.2. estresse emocional-


Animais que saem do ambiente familiar e são levados para local estranho comumente ficam
estressados, determinando alterações sistêmicas. O mesmo pode ocorrer com alguns animais
quando são levados ao veterinário, nesses casos pode ocorrer liberação de epinefrina, que
determina elevação da glicose sangüínea e aumento no número de leucócitos circulantes
(leucocitose), no gato principalmente pela elevação do número de linfócitos (linfocitose) e nas
demais espécies devido a migração ou recirculação de leucócitos, principalmente neutrófilos,
do compartimento vascular marginal para o circulante (neutrofilia). Se houver liberação de
glicocorticóides endógenos ocorrerá neutrofilia pelo aumento de neutrófilos segmentados,
linfopenia e eosinopenia, o que caracteriza o que podemos denominar de “leucograma de
estresse”.
2.3. dieta-
Os animais devem ser submetidos a jejum de 8 a 10 horas prévio a coleta de amostra de
sangue, caso contrário podem apresentar taxas de glicose e colesterol elevados, interferindo
em outros testes. Animais monogástricos podem apresentar lipemia pós-prandial que
predispõe a hemólise “in vitro”, alterando resultados do eritrograma, bem como elevando
AST e LD séricas.
2.4. drogas-
O uso de algumas drogas pode interferir nos resultados de exames laboratoriais. A
tetraciclina interfere na determinação da glicose sérica, enquanto o ácido ascórbico quando
administrado ou produzido endogenamente (cão), pode influenciar os testes de glicose e
nitrato do exame químico da urina. A administração terapêutica de glicocorticóides altera a
atividade fisiológica do paciente, aumentando a contagem total e diferencial de leucócitos,
podendo em cães aumentar a atividade hepática elevando fosfatase alcalina(ALP) e alanina
aminotransferase(ALT). Já a administração de insulina diminui as concentrações séricas de
glicose, fosfato e potássio. A padronização do procedimento de colheita é indispensável e
própria de cada clínica e/ou profissional minimizando fatores externos que possam interferir
nos resultados das análises laboratoriais, mantendo o animal em ambiente tranqüilo, o menos
estressado possível, preservando as condições de jejum , quando possível e necessário,antes
de adotar qualquer medida terapêutica (salvo casos de monitoramento da eficácia
terapêutica), etc. Essas atitudes são de plena responsabilidade do Médico Veterinário, que
deve estar consciente de todas as conseqüentes alterações e repercussão de suas atitudes
no resultado final e confiabilidade dos exames laboratoriais.
3. Variáveis relacionadas à amostra:
Conforme os exames solicitados devem-se proceder à coleta do material biológico adequado.
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3.1 Amostras de sangue total
3.1.1 Amostras de sangue total contendo anticoagulante-
São usadas para confecção de esfregaços e pesquisa de hemoparasitas, além da realização do
hemograma no máximo até 24 horas após coleta, quando conservadas sob refrigeração.
Anticoagulante e indicações: Amostras de sangue total poderão ser colhidas em tubos com o
anticoagulante fornecido ou indicado pelo laboratório que executará o hemograma. Em
veterinária o anticoagulante de eleição é o etileno diamino-tetraacetato de sódio ou potássio
(EDTA), na concentração de 10 mg para 5ml de sangue, ou seja, 0,1 ml de solução de EDTA a
10%/5 ml de sangue total. São encontradas no comércio soluções aquosas de EDTA, prontas
para uso, ele interage com o cálcio sérico impedindo sua ação no processo de
coagulação,preserva a morfologia celular e seu custo é baixo. Laboratórios humanos preferem
usar heparina como anticoagulante (1 mg/5 ml de sangue ou 0,1 ml a 1%/5 ml de sangue),
porém em poucas horas poderá alterar a morfologia dos leucócitos dificultando a contagem
diferencial à nível de esfregaço, e tem preço elevado. A heparina tem ação antitrombínica e
antitromboplastínica.
Para determinação de níveis séricos de glicose deve ser utilizado plasma com EDTA e
fluoreto de sódio, pois esse último inibe a glicólise que seria efetuada pelos eritrócitos e
leucócitos “in vitro”.

3.1.2 Amostras de sangue total sem anticoagulante-


São colhidas em tubos de ensaio e deixadas em repouso por 30 a 60 minutos, para que ocorra
coagulação, retração do coágulo e separação do soro. Dessas amostras é extraído o soro que
é indicado para análises bioquímicas, e também quando é necessário a titulação ou
simplesmente a pesquisa da presença de anticorpos contra determinados agentes
infecciosos. Alguns veterinários remetem soro ao laboratório para determinação de níveis
séricos de glicose, o que não é recomendado.

3.2 Recipientes de coleta e transporte:


Amostras de sangue colhidas com seringas descartáveis ou de vidro, sempre que possível
devem ser transferidas para tubos contendo anticoagulante, quando necessário. Nesses casos
a agulha deve ser desacoplada da seringa e o sangue deve ser vertido lentamente escorrendo
pela parede do frasco, exercendo suave pressão no êmbolo da seringa e misturando com o
anticoagulante por sucessivos e suaves movimentos de inversão (10 X).

Hemólise
A hemólise "in-vivo" (patologia) é rara. Pode-se evitar a hemólise "in-vitro" através de:
• uso de agulha limpa e afiada.
• evitar pressão negativa excessiva na seringa durante a aspiração do sangue.
• permitir que o álcool aplicado no local da punção do vaso seque completamente antes de se
proceder à coleta.
•desacoplar agulha da seringa e deixar o sangue escorrer lentamente pela parede do frasco,
exercendo suave pressão no êmbolo da seringa
• agitação e manuseio delicados da amostra e do tubo, inclusive ao homogeneizar com o
anticoagulante
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• centrifugação adequada.
• remoção imediata do soro do coágulo.
• não usar material quente (recém tirado de fornos de esterilização)
• evitar umidade do material (recipiente ou tubo de armazenagem, seringa de vidro) que
entrar em contato com a amostra.

Para coleta podem ser usados tubos de auto-enchimento (à vácuo), que existem à disposição
no comércio, cuja coloração da rolha varia de acordo com o exame ao qual se destina a
amostra de sangue (Figura 1).
Deve-se ter o cuidado de não encher demais os tubos de auto-enchimento com rolha lilás ou
rocha, pois quando coletado sangue em maiores quantidades que as recomendadas teremos
formação de coágulos, que também ocorrerão quando não houver perfeita homogeneização do
sangue com o anticoagulante.
Recipientes limpos, secos, frios (não usa-los logo após retirados de fornos ou estufas),
herméticos (fechados com rolhas de borracha), geralmente aqueles frascos tipo de penicilina
são os mais econômicos para colocar amostras para hemograma.

Figura 1. Tubos comerciais para coleta de sangue

Rolhas Anticoagulante Setor Material

Vidro
EDTA Hematologia ou
plástico

Gel separador Sorologia Vidro


com ativador de e ou
coágulo bioquímica plástico

Citrato
Hematologia
de Vidro
(Coagulação)
Sódio

Siliconizado Sorologia Vidro


sem e ou
anti-coagulante bioquímica plástico

Bioquímica
Heparina
e Vidro
Sódica
Imunologia

Vidro
Fluoreto de
Bioquímica ou
sódio + EDTA
plástico
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3.3. Manuseio da amostra:
As análises químicas e bioquímicas são feitas na porção extra-celular do sangue(plasma ou
soro). O manuseio da amostra deve ser o mínimo e mais delicado possível, pois substâncias
intra-celulares podem surgir quando ocorrer hemólise (proteínas, albumina, cálcio, ALT,
AST), o que fatalmente afetará os exames.Também os parâmetros do eritrograma são
alterados em função de hemólise.
3.4. Conservação da amostra:
Sangue total com anticoagulante deve ser mantido em refrigeração por períodos máximos de
24 horas.
Soro pode ser refrigerado por algumas horas ou para preservar por períodos mais longos
deve ser congelado, evitando-se congelamentos e descongelamentos repetidos que afetam as
proteínas séricas.
Esfregaços de sangue em lâminas de vidro devem secar no ambiente, podendo ser remetidos
ao laboratório fixados, ou não, em metanol. Devem ser confeccionados dois ou três
esfregaços de cada material coletado.
3.5. Remessa da(s) amostra(s) ao laboratório
As amostras devem ser identificadas individualmente com etiquetas auto-adesivas, fita crepe
ou diretamente no vidro escrevendo com caneta tipo retro projetor. Lâminas de vidro devem
ser acondicionadas em embalagens adequadas, ou embaladas de modo que não haja atrito para
não danificar os esfregaços, sendo remetidas sem qualquer conservante.
Todo o material deve ser acompanhado de ficha de identificação, com o maior número de
informações possíveis, onde deve constar história clínica, suspeita diagnóstica, análises
requisitadas, telefone para contato, etc.
As amostras devidamente acondicionadas em caixa de isopor, contendo gelo embalado em
saco plástico (o que dificulta o contato da amostra com o gelo ou água de degelo), devem ser
encaminhadas ao laboratório o mais rápido possível, evitando os fins de semana.
Os locais recomendados para punção venosa para obtenção de amostras de sangue para
triagem diagnóstica ,como hemograma e perfil bioquímico, são veia jugular, em caninos
pequenos, felinos, eqüinos e bovinos, e veia cefálica ou jugular, em caninos de médio a grande
porte. Esses exames geralmente requerem de 5 a 12mL de sangue, dependendo do laboratório
e da complexidade dos procedimentos de triagem.

Tabela 1. LOCAIS DE COLETA DE SANGUE E AGULHAS INDICADAS EM


ANIMAIS DOMÉSTICOS
ESPÉCIE ANIMAL VEIA AGULHA
CANINOS CEFÁLICA,JUGULAR,SAFENA 25x7; 25x8; 25x9; 25x12
FELINOS CEFÁLICA,JUGULAR,SAFENA 25x7; 25x8
BOVINOS JUGULAR, COCCÍGEA 40x12; 40x16
EQÜINOS JUGULAR 40x12; 40x16
OVINOS E CAPRINOS JUGULAR 40x10; 40x12; 40x16
SUÍNOS CAVA ANTERIOR 40x12; 40x16
25x7 = 25 mm DE COMPRIMENTO E 0,7 mm DE CALIBRE
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ERITROGRAMA/ERITROGÊNESE

1. INTRODUÇÃO
Os exames hematológicos estão entre os mais práticos e econômicos, além de maior utilidade
na rotina clínica. Isto deve - se ao fato de que o tecido sangüíneo tem por função principal
manter a homeostase corpórea; deste modo, é um "espelho" do animal no momento da colheita
Juntamente com o exame de fezes e a urinálise, o hemograma forma a primeira linha de
exames, ou seja, exames de triagem clínica. Quando bem indicado e o material bem colhido e
adequadamente acondicionado, pode prestar auxílio ao clínico quer no diagnóstico, no
prognóstico como no controle terapêutico.

1.1 SANGUE:
1.1.1 Composição: O sangue é composto por uma parte líquida (55 a 60% do sangue total)
e outra celular (40 a 45 %). A parte líquida, chamada plasma "in vivo", ou "in vitro"
quando com anticoagulante, possui 90% de água, 7% de proteínas(fibrinogênio,
albumina e globulinas) ,e 3% dos mais variados solutos orgânicos, como minerais,
enzimas, hormônios, gordura, etc. Quando ocorrer coagulação do sangue, a parte
líquida é chamada soro, e não contém fibrinogênio. A parte celular é composta pelos
eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Os leucócitos são constituídos pelos
granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e os agranulócitos (linfócitos e
monócitos).

1.1.2 Funções: A principal função do sangue é o transporte, tanto de substâncias


essenciais para a vida das células ( oxigênio, gás carbônico, nutrientes, hormônios ),
quanto de produtos oriundos do metabolismo e indesejáveis para o organismo, que
são levados aos órgãos de excreção. Ao sangue também é atribuído o papel de
defesa imunológica, hemostasia e diversos outros, como o transporte de calor.
1.1.3 Volume: O volume sangüíneo normal nas espécies domésticas está em torno de 6 a
10 % do peso corporal, com grande variação entre e intra - espécies. Dentre os
pequenos animais, o cão possui aproximadamente 9 a 10 % e o gato 7 % ; por esse
motivo a anemia nos gatos é mais severa.
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Tabela 2. VOLEMIA X PESO CORPORAL EM ANIMAIS DOMÉSTICOS
Peso corporal
Animal ml de sangue/kg %
Vacas leiteiras jovens, cavalos de corrida 88 - 110 10 - 11
Cães 77 - 78 8-9
Vacas lactantes, bovinos em crescimento 66 - 77 7-8
Vacas não lactantes, ovelhas, cabras, gatos, cavalos de 62 - 66 6-7
trabalho
Suínos adultos 55 5-6
Animais de laboratório - 6-7

2. HEMATOPOIESE

2.1 HEMATOPOIESE PRÉ - NATAL:


A hematopoiese durante a vida uterina inicia-se no vitelino, fígado, baço e medula óssea
que tornam - se sucessivamente hematopoiéticamente ativos. O saco vitelino inicialmente é
colonizado por células pluripotenciais embrionárias, surgindo os primeiros eritroblastos; neste
estágio, há o início da formação vascular do embrião. As células pluripotenciais migram até o
fígado, iniciando a produção de hemácias, leucócitos e plaquetas. A hematopoise esplênica se
segue, mas na maioria das espécies é pouco representativa. A medula óssea assume
gradativamente o papel da hematopoiese, até que ao nascimento torna-se o principal sítio de
produção eritrocitária.
2.2 HEMATOPOIESE PÓS - NATAL :
A hematopoise ocorre extravascularmente na medula dos mamíferos; nas aves a
granulopoiese ocorre em sítios extravasculares e a eritropoiese ocorre intravascularmente. Não
existem megacariócitos na medula das aves e os trombócitos provavelmente são produzidos
intravascularmente por uma linhagem celular específica
A medula óssea de todos os ossos é hematopoiéticamente ativa ao nascimento e durante a
vida neonatal. Esta atividade envolve a produção vigorosa de eritrócitos e outras células
mielóides. A fase de crescimento rápido do jovem é associada à expansão do volume sangüíneo,
com grande demanda de eritrócitos na medula. Como a demanda por eritrócitos diminui na idade
adulta, a hematopoiese se restringe a medula de alguns ossos do corpo. Nos demais locais a
medula vermelha, hematopoieticamente ativa, é substituída por medula amarela. A medula
continua ativa (medula vermelha) nos ossos chatos (esterno, costelas, crânio e vértebras) e nas
epífises dos ossos longos (úmero e fêmur). Quando houver aumento da demanda eritrocitária, a
medula amarela pode ser novamente ativada; entretanto na fase senil esta medula amarela passa
a medula cinzenta, já fibrosada de difícil e vagarosa expansão.
ÓRGÃOS ENVOLVIDOS NA HEMATOPOIESE
 MEDULA: a medula óssea vermelha é composta de várias células sangüíneas e seus
precursores, células reticulares, fibras reticulares, camadas endoteliais de sinusóides e
células adiposas. As células adiposas ocupam o lugar das ilhas hematopoiéticas na substituição
da medula vermelha por medula amarela.
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 BAÇO: - armazena e elimina hemácias; - hematopoiese inicial.
 FÍGADO : - hematopoiese inicial; - depósito de vitamina B¹² e ácido fólico (fatores de
multiplicação das hemácias); - depósito de ferro na forma ferrosa (fator de maturação de
hemácias); produz os fatores de coagulação, com exceção do VII; - produz albumina,
eritropoietinogênio, α e β globulinas; - realiza o metabolismo das bilirrubinas.
 ESTÔMAGO: - produz o fator intrínseco que facilita a absorção da vitamina B¹²(
ruminantes sintetizam essa vitamina); - auxilia a absorção de ferro com a produção de ácido
clorídrico, que transforma a forma férrica em ferrosa.
 LINFONODOS: - produzem linfócitos T e B.
 MUCOSA INTESTINAL: - absorve ferro, vitamina B¹² e demais nutrientes necessários
para a hematopoiese.
 RINS: - produzem eritropoietina e eritrogenina.
 SISTEMA MONOCÍTICO FAGOCITÁRIO: - macrófagos.

3.ERITROCINÉTICA

3.1 CICLO ERITROCITÁRIO:


A eritropoiese normal envolve um mínimo de quatro mitoses: uma na fase de rubroblasto,
outra no estágio de pró-rubrócito e duas na fase de rubrócito basofílico. O rubrócito
basofílico matura-se em rubrócito policromático, que se transformará em metarrubrócito.
Ocasionalmente, o rubrócito policromático pode se dividir. A denucleação do metarrubrócito
leva a formação do reticulócito, que finalmente matura , originando o eritrócito. O processo
de eritrogênese dá origem aos eritrócitos , é conhecido como eritropoiese, e leva cerca de 7
a 8 dias para se completar. O núcleo expulso é fagocitado por macrófagos locais na medula. A
fase de proliferação, compreendida desde a célula pluripotencial até metarrubrócito, leva de
2 a 3 dias, e a fase maturativa leva ao redor de 5 dias. Mediante estímulos, principalmente
da eritropoietina, a eritropoiese pode ser reduzida para 5 dias, já havendo resposta ativa no
terceiro dia de estímulo.
3.2 REGULAÇÃO:
A célula pluripotencial na medula óssea se diferencia e origina as células unipotenciais, cada
uma restrita às séries eritróide, mielóide e megacariocítica (Fig. 2). Esta diferenciação
ocorre sob influência do microambiente vascular local e por citocinas produzidas por
macrófagos e linfócitos T ativados. A eritropoiese inicia-se com a diferenciação da célula
pluripotencial em progenitor eritróide jovem, que se transforma na unidade formadora de
colônia eritróide (chamada de UFC-E). A UFC-E divide-se, formando os precurssores
eritróides, rubroblastos no espaço extravascular da medula óssea. Os rubroblastos após
divisões e maturação, transformam-se em eritrócitos adultos(Fig. 3). A formação de
progenitores eritróides é regulada pela interleucina-3 e pelo fator estimulador de colônia
granulocítica-monocítica(FEC-GM). As UFC-E e sua progênie são sensíveis e responsivas à
eritropoietina.
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3.3 CONTROLE DA ERITROPOIESE
A eritropoietina é um hormônio glicoproteico responsável por promover a viabilidade,
proliferação e diferenciação das células progenitoras eritróides , que expressam receptores
de superfície específicos para eritropoietina.A produção de eitropoietina é estimulada pela
hipóxia tecidual, mas apesar desse sensor para oxigênio não estar bem definido, existem
evidências de que a proteína heme possa estar envolvida .
O rim é o principal órgão produtor de eritropoietina nas diversas espécies animais, sendo o
responsável exclusivo por esta função nos caninos. O fígado é o outro produtor de
eritropoietina em adultos ,e o maior local de produção em fetos de mamíferos. A produção
de eritropoietina é também atribuída a macrófagos da medula óssea, podendo ser possível
que exerçam uma pequena e limitada regulação da eritropoiese . Existem evidências de que a
proteína heme possa estar envolvida como sensor para o oxigênio. A tensão de oxigênio é
regulada pelo consumo de oxigênio pelos tecidos e a capacidade de distribuição do oxigênio
pelo sangue. Essa capacidade de distribuição do oxigênio depende da integridade do sistema
cardiovascular, do conteúdo de oxigênio do sangue arterial e da afinidade hemoglobina -
oxigênio. Baixo conteúdo de oxigênio no sangue pode resultar de parcial baixa tensão, como a
que ocorre em altas altitudes ou com defeitos cardíacos congênitos onde parte do sangue
flui para a circulação pulmonar. Baixo conteúdo de oxigênio no sangue também pode ocorrer
com pressão de oxigênio normal, tal como ocorre em anemia e metahemoglobinemia.
A eritropoietina é gerada pela ativação do eritropoietinogênio , uma α 2- globulina
produzida pelo fígado, pelo fator eritropoiético renal(FER) ou eritrogenina, ou ainda pela
ativação da pró-eritropoietina, produzida nos rins, por um fator plasmático, segundo alguns
autores.
A eritropoietina é encontrada no plasma, urina, leite e outros fluidos, incluindo líquido
amniótico. A eritropoietina estimula a eritropoiese em vários estágios, por indução da
diferenciação de células progenitoras eritróides a rubroblastos, estimulando a mitose de
células eritróides e reduzindo o tempo de maturação, bem como aumentando a liberação de
reticulócitos e hemácias jovens no sangue periférico.
Vários órgãos endócrinos influenciam a eritropoiese, principalmente através de efeitos na
síntese de eritropoietina. A hipófise media esse efeito com a produção de prolactina, TSH,
ACTH e hormônio de crescimento; a adrenal através da produção de corticosteróides; a
tireóide pela tiroxina e as gônadas pelos andrógenos e estrógenos. Somente os estrógenos,
em doses altas, possuem influência negativa na síntese de eritropoietina.
Para que ocorra a adequada multiplicação eritrocitária, há necessidade também de
substrato para possibilitar a divisão celular, principalmente material nucleico. Os de maior
importância são vitamina B12, ácido fólico, cobalto e ácido nicotínico.
Na fase de maturação eritrocitária, o RNA mensageiro ribossômico encarrega-se da
hemoglobinização citoplasmática. Neste estágio são importantes ferro na forma
ferrosa(Fe++), cobre e piridoxina (vitamina B6).

3.4 TEMPO DE VIDA E DESTRUIÇÃO ERITROCITÁRIA


Os eritrócitos de cada espécie animal possuem uma vida média intravascular característica,
espécies em que os eritrócitos duram menos de 100 dias normalmente possuem mais
reticulócitos na circulação.
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A perda de eritrócitos é continuamente balanceada por uma liberação de reticulócitos ou
células jovens da medula óssea para o sangue periférico. A destruição eritrocitária pode
ocorrer em sítios intravasculares, por mudança da permeabilidade de membrana e por
fragilidade celular, ou em sítios extravasculares, pela ação do sistema fagocítico
mononuclear (SFM). A deformabilidade é importante no tempo de vida das hemácias e
depende da manutenção de sua forma, fluidez normal interna da hemoglobina e propriedades
visco-elásticas intrínsecas da membrana. Qualquer mudança nestas características pode
ativar a destruição fagocitária por macrófagos, que ocorre primariamente no baço e fígado,
mas também pode ocorrer na medula óssea. Os macrófagos iniciam a fagocitose após
reconhecerem anticorpos IgG aderidos a antígenos de membrana em eritrócitos danificados
ou envelhecidos.

Tabela 3. TEMPO MÉDIO DE VIDA DOS ERITRÓCITOS


NOS ANIMAIS DOMÉSTICOS
ESPÉCIE VIDA MÉDIA/DIAS
Caninos 110 - 120
Suínos 65
Felinos 65 - 77
Bovinos 155 - 162
Eqüinos 140 - 150
Ovinos 70 - 130
Caprinos 125

Figura 2. Hematopoese
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Figura 3. Representação esquemática da ERITROGÊNESE

HEMOGRAMA

O hemograma é o exame realizado com uma amostra de sangue total com anticoagulante, colhida
de um paciente, com o objetivo de auxiliar o clínico na confirmação ou não de uma suspeita
diagnóstica, bem como avaliar o estado geral de um animal , avaliar a eficácia terapêutica e a
evolução de uma doença.
O hemograma é um "espelho" do estado geral do animal no momento da colheita do sangue.
Podemos comparar a análise laboratorial de uma amostra de sangue, a uma imagem parada por
um momento em um filme, onde ninguém se move nem fala, ao colhermos a amostra teremos nela
o reflexo sistêmico do que está ocorrendo naquele momento, naquele animal.
O hemograma completo divide-se em: eritrograma, leucograma e dosagem de proteínas
plasmáticas totais. Podem também ser realizados quando solicitados contagem de plaquetas,
contagem de reticulócitos e dosagem de fibrinogênio.

4.1 ERITROGRAMA
É a avaliação dos eritrócitos, ou série vermelha , e compreende:
 Contagem de eritrócitos/µl
 Dosagem de hemoglobina (g/dl)
 Medição do volume globular ou microhematócrito (%)
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 Cálculo dos índices hematimétricos: VCM (volume corpuscular ou celular médio), CHCM
(concentração de hemoglobina corpuscular média)
 Análise da morfologia dos eritrócitos

4.2 LEUCOGRAMA
É a avaliação leucocitária , ou da série branca e engloba os seguintes parâmetros:
 Contagem total de leucócitos/mm³
 Contagem diferencial de leucócitos : valores relativos % ; valores absolutos/mm³
 Avaliação da morfologia dos leucócitos

4.3 OUTRAS DETERMINAÇÕES


 Dosagem de Proteínas Plasmáticas Totais (PPT) -g/dl
 Dosagem de fibrinogênio plasmático -mg/dl
 Contagem de reticulócitos

5. ERITRÓCITOS:

Os eritrócitos são também chamados de hemácias ou glóbulos vermelhos. O termo


eritrócito vem do grego erytros, que significa vermelho.
As hemácias possuem tamanhos e vida média variável de acordo com a espécie animal. Em
condições normais, correspondem a cerca de 40% de todo o volume sangüíneo, índice mais ou
menos constante para todas as espécies, independente do tamanho do eritrócito.
Denomina-se ERITRON o conjunto de todos os eritrócitos circulantes e seus precursores
nucleados nos tecidos hematopoiéticos. Nas doenças eritrocitárias, devemos sempre
considerar o eritron e não apenas as hemácias circulantes porque estas doenças atingem o
tecido como um todo. Portanto, em muitas situações o veterinário deve além do hemograma
para avaliar o sangue circulante, fazer também uma biópsia aspirativa de medula óssea,onde
será avaliado o tecido hematopoético.
5.1 FUNÇÃO:
A função das hemácias é desempenhada pelo seu componente principal, a HEMOGLOBINA, e
consiste no transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos e de gás carbônico no
sentido inverso.
5.2 COMPOSIÇÃO:
A membrana dos eritrócitos é formada por duas camadas protéicas envolvendo uma camada
lipídica (onde se destaca o colesterol). A membrana possui carga elétrica negativa, que
diminui com o envelhecimento da célula, e com a sua exposição a antibióticos. Ela é bastante
flexível, permitindo a passagem do eritrócito pelos sinusóides estreitos do fígado e baço. A
deformabilidade é importante na vida média do eritrócito e depende da manutenção da sua
forma, da fluidez da hemoglobina e das propriedades viscoelásticas da membrana. Com o
envelhecimento da célula, a membrana perde a flexibilidade.
As mudanças nas características do eritrócito ativam a fagocitose que é feita
principalmente pelos macrófagos do fígado e baço.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 14
5.3 MORFOLOGIA DOS ERITRÓCITOS
A observação microscópica de um esfregaço de sangue corado com Giemsa, Wright, My
Grunwald-Giemsa, Leishmann ou Panóptico rápido (qualquer corante do tipo Romanowsky
usado em hematologia), permite a avaliação de características morfológicas dos
eritrócitos dentre elas a forma, tamanho e cor.
5.3.1 Tamanho dos eritrócitos: O tamanho dos eritrócitos é variável nas diferentes espécies
de animais (Tabela e Figura 4). A espécie canina é a única que tem seus eritrócitos com tamanho
similar aos dos humanos (7,5µ).

Tabela 4. Tamanho dos eritrócitos


ESPÉCIE TAMANHO (µ)
Caninos 7,0
Suínos 6,0
Felinos 5,8
Bovinos 5,5
Eqüinos 5,7
Ovinos 4,5
Caprinos 3,2

A observação microscópica de um esfregaço sangüíneo, deve mostrar ao observador uma


monocamada delgada de eritrócitos, como um tapete de células, com um padrão de tamanho
constante, uniforme, sem variação.

Figura 4.Tamanho dos eritrócitos em


esfregaço

canino felino

bovino equino

caprino ovino
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-ALTERAÇÕES NO TAMANHO DOS ERITRÓCITOS-
O termo anisocitose caracteriza a presença de eritrócitos de diferentes tamanhos num
mesmo esfregaço de sangue. Ela pode ser melhor definida de acordo com o tipo de alteração
encontrada:

 MACROCITOSE é a presença de eritrócitos de tamanho acima do normal para a espécie


(macrócitos).Acontece geralmente pela presença de reticulócitos e metarrubrócitos, ou
por deficiência dos fatores de multiplicação (vitamina B 12, ácido fólico, niacina e
cobalto). Pode acontecer fisiologicamente em cães jovens (até dois ou três meses de
idade), e em cães da raça Poodle.

 MICROCITOSE é a presença de eritrócitos com tamanho abaixo do normal (micrócitos).


Aparecem geralmente em anemias crônicas, anemias ferropriva (por deficiência de
ferro), ou por deficiência de fatores de maturação (vitamina B 6, cobre, riboflavina e
aminoácidos). Pode aparecer fisiologicamente em cães da raça Akita.

5.3.2 COR DOS ERITRÓCITOS (propriedades tintoriais)


Os eritrócitos coram-se de róseo, vermelho claro ou alaranjado, como resultado da afinidade
da hemoglobina pela eosina (corante ácido) das colorações usadas em hematologia.
Apresentando uma área central mais clara.

-ALTERAÇÕES NA COR DOS ERITRÓCITOS-


O termo usado para descrever variações na coloração característica dos eritrócitos é
policromasia ou policromatofilia (Figura 5). É caracterizada pelo aparecimento de grandes
hemácias azuladas, que possuem afinidade por corantes basofílicos. Estas células
representam os reticulócitos corados com os corantes usados em hematologia, que só são
evidenciados em seu aspecto característico, reticular, com o uso de um corante especial
(novo azul de metileno), que precipita os restos de RNA presentes no interior dos
reticulócitos. Estas células estão presentes em resposta as anemias regenerativas.

Figura 5. Alterações na cor dos eritrócitos

cor normal policromatofilia

hipercromia-esferócitos
hipocromia
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Alterações na coloração dos eritrócitos podem ser também:
 HIPOCROMIA é a diminuição da intensidade da cor (palidez) dos eritrócitos, devido à
diminuição do conteúdo de hemoglobina que aparece em casos de deficiência de ferro ou
de piridoxina (vitamina B6).

 HIPERCROMIA é o aumento da intensidade da cor dos eritrócito, devido a uma maior


concentração de hemoglobina. Como a quantidade de hemoglobina de cada eritrócito não
ultrapassa o limite fisiológico, esta alteração é apenas relativa, devido a diminuição da
área da membrana do eritrócito, que é o que acontece em casos de esferocitose.

5.3.3 FORMA DOS ERITRÓCITOS (fig. 6):


Os eritrócitos dos mamíferos são células anucleadas, redondas, em forma de disco bicôncavo
(discócito), com exceção das hemácias dos camelídeos que são ovais (ovalócitos). As
hemácias de aves e répteis são ovais e nucleadas.

Figura 6. Forma dos eritrócitos

disco biconcave-MO
disco biconcave-ME

lhama aves

-ALTERAÇÕES NA FORMA DOS ERITRÓCITOS (Figura 7)-


POIQUILOCITOSE é uma designação genérica usada para caracterizar a presença de
eritrócitos de diferentes formas num mesmo esfregaço sangüíneo. Geralmente está
relacionada com processos anêmicos. Pode-se definir melhor qual a alteração que está
ocorrendo com alguns desses outros termos:

 ESFERÓCITOS: são eritrócitos esféricos, com diâmetro reduzido , sem a área pálida
central característica. Estas células são formadas em casos de anemias auto-imunes,
quando uma porção da membrana do eritrócito, marcada por anticorpos, é fagocitada
por células do sistema mononuclear fagocítico (SMF), porém sem perda do conteúdo
hemoglobínico. Como resultado temos redução do volume globular do
eritrócito(microcitose), com teor de hemoglobina normal , o que nessa menor área
determina hipercromia. O achado destas células é diagnóstico para anemia imuno-
mediada.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 17

 ESQUISÓCITOS: este termo vem do grego schistos, que significa rachar, dividir em
pedaços. São células deformadas ou fragmentos de eritrócitos, que se formam na
passagem de eritrócitos em vasos sangüíneos irregulares (como aqueles formados em
hemangiossarcomas) ou em pequenos vasos ocluídos por fibrina (caso de coagulação
intra-vascular disseminada - CID). Também ocorrem como resultado de um defeito de
produção, da destruição acelerada de eritrócitos, em doenças renais crônicas, doenças
esplênicas e anemia ferropriva.

 EQUINÓCITOS (eritrócitos crenados): é o nome dado a presença de eritrócitos


estrelados. Seu aparecimento não tem significado clínico, pois são artefatos que
surgem conseqüência de problemas na confecção do esfregaço, tais como atraso na
secagem ou desidratação rápida do eritrócito (ele murcha e adquire esta forma), ou
excesso de EDTA.

 CODÓCITO (célula alvo): célula vermelha que possui uma área central densa de
hemoglobina separada parcial ou completamente por uma área circular clara de uma
região periférica hemoglobinisada. Resulta do aumento dos níveis de colesterol.

 ACANTÓCITOS: célula vermelha com forma irregular, com projeções de dimensão


variável na superfície, surge em conseqüência do aumento das taxas de colesterol e/ou
fosfolipídeos .

Outra alteração com relação à forma dos eritrócitos diz respeito ao aparecimento de
formas imaturas. As formas imaturas que podem aparecer ao exame do esfregaço são:

 RETICULÓCITOS: são eritrócitos jovens, que ainda não completaram a fase de


maturação. Eles recebem este nome porque quando são corados com corantes supra-
vitais (novo azul de metileno ou azul de cresil brilhante), que possuem afinidade por
material nuclear ,os restos de RNA ainda presentes no seu citoplasma precipitam,
adquirindo um aspecto reticulado. Ribossomos, mitocôndrias e outras organelas
citoplasmáticas contribuem para a formação desses precipitados apresentando-se em
forma de cordão nos reticulócitos agregados , ou em forma de pequenos grânulos nos
reticulócitos pontilhados.
Em animais normais, geralmente 1 a 2 % dos eritrócitos circulantes são reticulócitos.
Quando existe uma resposta à anemia(anemia regenerativa), Há aumento desse
percentual. A única exceção é a espécie eqüina , que não lança reticulócitos na
circulação em nenhuma circunstância, ou seja, apenas as hemácias maduras são
liberadas da medula. Os herbívoros não possuem normalmente reticulócitos circulantes,
e só raramente são encontrados, mesmo em marcadas anemias. Já os cães e gatos
respondem acentuada reticulocitose durante resposta a anemias. Esses reticulócitos
maturam em 24 a 48 horas na circulação ou no baço, onde podem ser temporariamente
seqüestrados.
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Figura 7. Alterações na forma dos eritrócitos

esquisócitos equinócitos

acantócitos
codócitos

policromatófilo reticulócito agregado

metarrubrócito

 METARRUBRÓCITOS: são o último estágio nucleado das hemácias, ou seja, a fase


anterior a de reticulócitos. Podem aparecer ocasionalmente em baixos números (1
metarrubrócito para 100 leucócitos). Também podem aparecer em maior número, em
caso de resposta intensa a anemias graves, ou na presença de problemas esplênicos. A
figura 8 mostra esquematicamente a evolução de eritroblastos até reticulócito.
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Figura 8. Formação de reticulócito

CORPÚSCULOS DE INCLUSÃO (Figura 9):

 CORPÚSCULOS DE HOWELL-JOLLY: são pontos basofílicos,quase negros,


geralmente periféricos, formados por restos nucleares que permaneceram no
citoplasma dos eritrócitos, e podem aparecer eventualmente em animais normais. Em
casos de anemias regenerativas podem aparecer em número aumentado, sendo
retirados da circulação pelo baço. Desta forma, em presença de doença esplênica,
também aparecerão em maior número.

 CORPÚSCULOS DE HEINZ: são formações de hemoglobina desnaturada e precipitada,


com formato arredondado, pequeno e refringente. Em gatos é normal o aparecimento
de corpúsculos de Heinz em até 1% das hemácias. Surgem em quantidades aumentadas,
em todas as espécies, pelo uso de drogas oxidantes, tais como fenotiazina (eqüinos são
sensíveis) e acetaminofen (felinos são muito sensíveis). Alguns alimentos, como couve e
cebola, podem provocar este tipo de inclusão em algumas espécies, principalmente cães
e gatos. Também existem citações da ocorrência de corpúsculos de Heinz em cães
esplenectomizados e após o tratamento com glicocorticóides.

 CORPÚSCULOS DE LENTZ: são inclusões de tamanho variável, algumas bastante


grandes, com coloração variando do cinza pálido até rosa forte. Representam a inclusão
do vírus causador da cinomose canina, aparecendo em aproximadamente 20% dos casos.
Seu achado é patognomônico para essa doença. Também pode ocorrer em neutrófilos e
monócitos.
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Figura 9. Corpúsculos de inclusão nos eritrócitos

corpúsculos de Howell-Jolly Corpúsculos de Lentz

Corpúsculos de Heinz

 PONTEADO BASOFÍLICO (Figura 10): são pequenos pontos basofílicos que aparecem
no interior de hemácias, geralmente em intensa eritropoiese ou em casos de
intoxicação por chumbo.
Figura 10. Ponteado basofílico

OUTRAS ALTERAÇÕES DOS ERITRÓCITOS:

Figura 11. Alterações na distribuição dos eritrócitos

Rouleaux Aglutinação
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 21
Dentre as alterações na distribuição dos eritrócitos (Figura 11) podemos encontrar:
 ROULEAUX: é o nome dado para a disposição dos eritrócitos em forma de pilha de
moedas. A intensidade destas formações tende a acompanhar a velocidade de
hemossedimentação e está associada ao aumento da concentração de fibrinogênio e a
alterações quantitativas das globulinas séricas. Desta forma, costumam aparecer em
casos de inflamação e desidratação. Em eqüinos, que possuem uma alta velocidade de
hemossedimentação, o achado de rouleaux é comum e sem significado clínico.

 AGLUTINAÇÃO: é o fenômeno no qual as hemácias ficam agrupadas, formando


grumos, que podem ser visíveis, às vezes, nas paredes do frasco que contém a amostra
de sangue (macroaglutinação), outras vezes é visível somente ao observar o esfregaço
de sangue corado no microscópio (microaglutinação). Por estar relacionada com a
presença de anticorpos anti-eritrócitos, o achado de aglutinação é um forte indício de
anemia imuno-mediada.

 HEMOPARASITAS: podem ser observados, no exame do esfregaço de sangue corado,


vários tipos de hemoparasitas, tais como:

 RIQUÉTSIAS(Figura 12): parasitas de hemácias do gênero Haemobartonella canis, em forma


de cocos, ou Haemobartonella felis , em forma de bacilos, ambas sendo formações muito
pequenas e geralmente periféricas; e, em bovinos, do gênero Anaplasma ,que são pequenos
pontos escuros (Anaplasma centrale -localização central nas hemácias, Anaplasma marginale -
localização periférica no interior das hemácias).

Figura 12. Riquétsias nos eritrócitos

Anaplasma centrale Anaplasma marginale

Haemobartonella cannis Haemobartonella felis

 PROTOZOÁRIOS(Figura 13): gênero Babesia,, que se apresenta no interior dos eritrócitos,


em forma de gotas únicas ou em dupla unidas pelos vértices, em bovinos (Babesia bovis,
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 22
Babesia bigemina), eqüinos (Babesia cabali, Nutalia equi ), e caninos (Babesia canis); do gênero
Plasmodium ,causador da malária em répteis, aves, cães, gatos, macacos e humanos; do gênero
Tripanosoma, que ser visto livre no plasma.

Figura 13. Protozoários nos eritrócitos

Babesia bovis Babesia bigemina

Babesia equi Babesia canis

Tripanossoma

 LARVAS DE HELMINTOS(Figura 14): tais como microfilárias dos gêneros Dirofilaria immitis
e Dipetalonema reconditum, encontradas no sangue de cães em regiões litorâneas.

Figura 14. Larvas de Helmintos


Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 23
5.3.4 NÚMERO DE ERITRÓCITOS: O número de eritrócitos no sangue dos animais
domésticos varia conforme a espécie, e está estreitamente relacionado com o tamanho. Assim,
animais como caprinos e ovinos que possuem eritrócitos menores que a maioria das espécies (3,2
a 4, 5 µ), chegam a possuir mais que o dobro de eritrócitos circulantes que a espécie canina
(7µ), pois o tamanho também equivale ao dobro (Tabela 5).

Tabela 5. NÚMERO DE ERITRÓCITOS EM ANIMAIS DOMÉSTICOS

ESPÉCIE Nº DE ERITRÓCITOS
X 10.000.000 /µl
CÃO 5,5 – 8,5

GATO 5,0 - 10

BOVINO 5,0 - 10

OVINO 8,0 - 16

CAPRINO 8,0 - 18

Alguns fatores fisiológicos influenciam o número de eritrócitos circulantes, entre eles podemos
destacar:
a) Idade: animais recém nascidos possuem maior número que adultos.
b) Sexo: machos possuem 5 a 10 % mais eritrócitos que fêmeas
c) Capacidade de trabalho: atividade física intensa aumenta o número de eritrócitos
circulantes, devido a ação da epinefrina .
d) Raça: em eqüinos, os Puro Sangue Inglês (PSI) , possuem maior número de eritrócitos que as
demais raças .
e) Altitude: animais que vivem em regiões de altas altitudes, onde a pressão de oxigênio é mais
baixa , possuem maior número de eritrócitos circulantes .
f) Alimentação: animais com deficiente alimentação, principalmente com carências vitamínicas
ocorrem alterações na produção de eritrócitos refletindo – se na diminuição do número de
eritrócitos.

MÉTODOS DE CONTAGEM DE ERITRÓCITOS (HEMATIMETRIA)

a) Manuais:A amostra de sangue contendo anticoagulante após homogeneizada é aspirada com a


pipeta de Thoma até a marca 0,5 , e suas paredes externas são limpas com algodão ou papel ,
sendo então preenchida com diluente ( solução fisiológica tamponada , Gower , ... ). As
extremidades da pipeta são tapadas com a ponta dos dedos do operador, e a pipeta é agitada por
inversão, sendo imediatamente desprezadas as primeiras gotas para então preencher por
capilaridade a câmara de Neubauer . São contadas as hemácias de cinco retículos da divisão
central que são escolhidos em diagonal, ou os dos vértices e um central, e o resultado é
multiplicado por 10.000 / µl ou mm³.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 24
Erros de contagem manual: diluição (preenchimento de pipeta), homogeneização, distribuição na
câmara ( o calor da lâmpada do microscópio desidrata e concentra as hemácias ).

b) Eletrônicos: (Counter ou contador eletrônico) é um método mais preciso e mais rápido. A


maioria dos contadores eletrônicos deve ser calibrado para a espécie animal, devido a diferença
de tamanho dos eritrócitos .Geralmente o laboratório calibra o aparelho para a espécie animal
que os veterinários enviam amostras com maior freqüência, e usa o método manual para as
amostras das outras espécies animais. Se for um laboratório de análises clínicas humano \, as
amostras de caninos poderão ser processadas no contador automático, e as demais a
hematimetria será manual, salvo naqueles laboratórios com equipamentos mais sofisticados ( O
aparelho apresenta erro constante de 10%).

5.4 HEMOGLOBINA

A hemoglobina é uma proteína conjugada composta por uma proteína simples, a globina,e por
um núcleo prostético tipo porfirina , chamado heme , cujo principal componente químico é o ferro
na forma ferrosa (Figura 15) . Cada molécula consiste de quatro unidades heme, cada uma dessas
associada a uma cadeia simples de globina.A fração heme é sintetizada na mitocôndria
eritrocitária , e somente é produzida até o estágio de reticulócito , pois eritrócitos maduros não
possuem organelas . A síntese da fração globina ocorre em ribossomas, no citoplasma de
eritrócitos nucleados, sendo as diferenças nas seqüências de aminoácidos quem define a variação
morfológica intra e inter espécies .

Figura 15. Estrutura da hemoglobina

A sua principal função é respiratória, transporte de oxigênio e gás carbônico.


A hemoglobina é encontrada livre no plasma só quando houver hemólise , quando o eritrócito
rompe e libera a hemoglobina que no plasma possui vida média de quatro horas , é decomposta
por oxidação, liga – se a haptoglobina sendo excretada pelos rins (hemoglobinúria), ou é
destruída no sistema mononuclear fagocítico . O excesso livre é oxidado em metahemoglobina ,
que se dissocia liberando hematina removida pelos hepatócitos após ter formado complexos ao
ligar-se a albumina .
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 25
Nos macrófagos o ferro da fração heme e os aminoácidos da fração globina são reciclados
para reutilização. A protoporfirina é degradada em biliverdina que é convertida a bilirrubina, que
liga-se a albumina plasmática para ir ao fígado onde é conjugada ao ácido glicurônico . Uma vez
liberada na bile é excretada na luz intestinal , onde é degradada a urobilinogênio (excreção via
fezes) com reabsorção parcial para a circulação geral e re-excreção biliar (ciclo entero-
hepático). Parte que escapa a excreção hepática é eliminada na urina.

5.4.1 Método de determinação da hemoglobina


O método padrão mundial é o da cianometahemoglobina, que consiste na diluição do sangue
(20 µl medidos em pipeta de Sahali) em solução contendo cianeto e ferrocianeto de potássio
(reativo de Drabkin, 4 ml) , que converte a hemoglobina em cianometahemoglobina e a leitura é
feita em espectofotômetro .A hemoglobina é expressa em g % ou g / dl , variando de 8 a 16 nas
diferentes espécies domésticas .
Alguns fatores como altas concentrações de lipídeos e leucometria global acima de 50.000 /
mm³ podem alterar os valores de hemoglobina por aumento da densidade ótica.

5.5 HEMATÓCRITO
Do grego krit (julgar), também chamado volume globular (VG), mede a percentagem ocupada
pelos eritrócitos, ou a relação entre glóbulos vermelhos e plasma. Os métodos de centrifugação
dão um volume de células sedimentadas, mensuração esta muito precisa, pois praticamente não
fica retido plasma na massa de células compactadas .
Métodos para a determinação do hematócrito:
Macro - hematócrito – O tubo de Wintrobe que possui duas escalas gravadas, é preenchido com
sangue contendo anticoagulante, devidamente homogeneizado. Em seguida é centrifugado a 5000
rpm , durante 30 minutos . A leitura é feita diretamente na escala à direita do tubo.
Micro – hematócrito – O princípio é mesmo para as duas técnicas. Através da sedimentação dos
elementos figurados do sangue obtém–se a proporção desses elementos em relação ao plasma.
Nessa técnica são usados tubos capilares de 75 mm x 1 mm, preenchidos (2 / 3) com sangue
total, por capilaridade. Após fechada a extremidade seca, em chama de bico de Bunsen , é então
centrifugado a 1200 rpm /5 minutos(centrífuga de micro-hematócrito, Figura 16). A leitura é
feita colocando o capilar sobre uma tabela de leitura específica (Figura 17), onde a extremidade
final do tubo e o menisco da superfície do plasma devem coincidir com as linhas inferior e
superior da tabela, respectivamente.

Figura 16. Centrífuga e rotor para


micro-hematócrito.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 26

Figura 17.

Informações fornecidas pelo hematócrito

Usado para:dosagem de fibrinogênio e de proteínas plasmáticas totais (PPT)

Observar a coloração do plama: cor normal -incolor (cão e gato)


-amarelo (herbívoros)
PLASMA Coloração do plasma alterada: amarelo- icterícia em cães e gatos,
Branco ou leitoso- lipemia pós-prandial, diabete, hipotireoidismo,...
Avermelhado-hemólise (artefato), anemia hemolítica (infecciosa ou auto-
Imune)

CAMADA ACINZENTADA: contém leucócitos e dá noção de quantidade conforme sua


espessura
( leucocitose , leucopenia , normoleucometria ). CAMADA
VERMELHA: contém eritrócitos e dá noção de quantidade.
Volume Globular – VG (%) ou hematócrito
Serve para visualização de microfilárias ( abaixo da capa de leucócitos ).
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5.6 OUTRAS DETERMINAÇÕES:

5.6.1 Dosagem de proteínas plasmáticas totais – PPT :


A determinação das proteínas plasmáticas totais fornece informações sobre o grau de
hidratação do animal. Existem valores considerados normais para as diferentes espécies
domésticas (Tabela 6), valores abaixo do fisiológico indicam hipoproteinemia por causa diversas,
enquanto valores elevados indicam desidratação .

Tabela 6. VALORES FISIOLÓGICOS DE PPT EM ANIMAIS


DOMÉSTICOS

ANIMAL PPT ( g/dl )


Canino / felino 6,0 – 8,0
bovino 7,0 – 8,5
ovino 6,0 – 7,5
eqüino 5,2 – 7,9

Técnica: Após ser feita a leitura do micro- hematócrito, quebra - se o tubo acima do limite
superior da camada sedimentada, despreza se a parte do tubo contendo células e pela
extremidade que não foi quebrada (parte superior do tubo) verte-se o plasma no refratômetro
(Figura 18) . A leitura é feita em escala gravada no aparelho, onde incidir o limite entre parte
clara e escura.

Figura 18. Refratômetro


Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 28
RELAÇÃO ENTRE HEMATÓCRITO E PROTEÍNAS PLASMÁTICAS

HEMATÓCRITO PPT INTERPRETAÇÃO


Aumentado Desidratação
aumentado
Normal Contração esplênica(principalmente eqüinos)
Policitemia primária ou secundária
Desidratação mascarada por hipoproteinemia
Hipoproteinemia com contração esplênica
Diminuído

Aumentado Anemia mascarada por desidratação


normal Aumento de globulinas

Normal Normal

Diminuído Elevada perda proteíca (gastrointestinal ou renal )


Produção diminuída (problema hepático)
Aumentado Anemia associada com desidratação
diminuído
Normal Elevada destruição de eritrócitos
Diminuição da eritropoiese
Perda crônica de sangue(deficiência de ferro)

Fluidoterapia
Diminuído Perda de sangue externa

5.6.2 Dosagem de fibrinogênio :


O fibrinogênio é uma das proteínas de reação de fase aguda, produzidas pelo fígado. O
estímulo inicial que aumenta a produção dessas proteínas está ligado a produção de citosinas
pelas células envolvidas no processo inflamatório (monócitos / macrófagos ). A produção de
fibrinogênio reflete a existência de um processo inflamatório, e por ser de fácil determinação é
utilizada junto com o leucograma como reflexo de inflamação. A hiperfibrinogemia é indicador
sensível de inflamação em herbívoros até mais consistente que o leucograma, enquanto em
carnívoros esta relação é inversa.
Os valores fisilógicos são apresentados na Tabela 7.
Técnica: Usa - se o método de precipitação por aquecimento do fibrinogênio. São
preenchidos 2 tubos de micro – hematócrito, após centrifugação é realizada a leitura do
primeiro, em refratômetro. O segundo é submetido ao calor (banho – maria, 56º, 5 minutos ), e
após centrifugação é determinada a concentração de PPT , também por refratometria . A
diferença entre as duas leituras expressa a taxa de fibrinogênio plasmático.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 29

Tabela 7. VALORES FISIOLÓGICOS DE FIBRINOGÊNIO

ESPÉCIE FIBRINOGÊNIO mg/dl


Canino 100 - 500
felino 50 - 300
bovino 300 - 700
eqüino 100 - 400

6.0 INTERPRETAÇÃO DO ERITROGRAMA:


Para a interpretação do eritrograma devemos analisar o número de eritrócitos, taxa
de hemoglobina, e hematócrito. Podemos ter três situações diferentes:
- Valores dentro dos fisiológicos para a espécie animal – animal normal, saudável.
- Valores de hematócrito, hemoglobina e / ou número de eritrócitos abaixo do(s)
fisiológico(s) – Anemia.
- Valores de hematócrito, hemoglobina e / ou número de eritrócitos acima do(s)
fisiológico(s) - Policitemia ou poliglobulia .

6.1 ANEMIA

Anemia é a redução dos valores, abaixo dos mínimos fisiológicos para a espécie
animal , do número de eritrócitos , taxa de hemoglobina e / ou hematócrito . Alguns
autores definem anemia como sendo simplesmente a redução da taxa de hemoglobina, isto
porque os sinais clínicos resultam da deficiente capacidade de conduzir o oxigênio.
A anemia é raramente uma doença primária, mas comumente é resultado de
um processo patológico generalizado, por si só a anemia não constitui diagnóstico. Pode –
se suspeitar de uma anemia pelos sinais clínicos característicos e história apresentada
pelo paciente. Ao ser diagnosticada a anemia pela avaliação clínica e resultados do
hemograma, sua patogenia deve ser investigada para determinar a conduta terapêutica
específica. O tratamento não deve ser direcionado para a anemia, exceto quando
necessário medidas de emergência , a causa deve ser encontrada tratada e corrigida se
possível. A anemia pode resultar de :
- perda de eritrócitos
- destruição excessiva
- produção diminuída
Sinais clínicos: resultam da reduzida capacidade do sangue em conduzir oxigênio e certos
ajustes fisiológicos destinados a aumentar a eficiência e reduzir o trabalho forçado do coração.
Sinais comuns a anemias independente da etiologia incluem dispnéia de esforço, reduzida
tolerância a exercícios, palidez de mucosas, aumento da freqüência cardíaca, às vezes sopro
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 30
sistólico , taquipnéia ,depressão....Em perdas agudas de sangue quando 1/3 do volume foi perdido
em um curto período, pode ocorrer choque seguido de morte , se não for realizada transfusão
de sangue ou fluidoterapia para corrigir a hipovolemia .Sinais clínicos resultantes de anemia por
hemólise aguda incluem icterícia , hemoglobinemia , hemoglobinúria e febre .Em perdas crônicas
de sangue , anemias hemolíticas ou anemias por depressão o nível de hemoglobina pode chegar a
50% do normal do paciente sem sinais evidentes de hipoxemia (sem sinais clínicos ).
Existem várias formas de classificação das anemia, apesar de nenhuma ser totalmente
satisfatória ,são complementares e juntas auxiliam a analisar e determinar os possíveis
mecanismos fisiopatológicos e causas prováveis, que auxiliarão o clínico no diagnóstico,
prognóstico e conduta terapêutica .

6.1.1 CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ANEMIAS:


A classificação morfológica baseia – se nos índices hematimétricos ou eritrocitários , o
Volume Corpuscular Médio (VCM) e Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
(CHCM). O exame microscópico dos eritrócitos em esfregaço sangüíneo corado confirma
essas características morfológicas. A classificação morfológica é inespecífica para a
causa , mas fornece subsídios sobre mecanismo fisiopatológico e base para seleção do
tratamento.
Os índices hematimétricos são calculados pelas seguintes fórmulas:

Hematócrito X 10
VCM=
Nº de eritrócitos
(milhões/mm³)

O VCM refere-se ao tamanho do eritrócito, ou o volume ocupado por


cada eritrócito , expresso em µ³ .
Valores de VCM que se enquadram dentro dos valores de referência para a espécie
animal, classificam a anemia como Normocítica , valores superiores Macrocítica e valores
inferiores Microcítica .

Hemoglobina X 100
CHCM =
hematócrito

O CHCM é a saturação média de hemoglobina do eritrócito , expressa em %. Existe


um grau de saturação máxima de hemoglobina considerado normal para os eritrócitos de
cada espécie animal , assim não são formados eritrócitos com maior quantidade de
hemoglobina que o fisiológico , quando o valor do CHCM estiver acima dos parâmetros
fisiológicos é sinal de que havia hemoglobina livre à nível plasmático , quer por existência
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 31
de um agente hemolítico intra – vascular , ou por erro de coleta ,conservação ou manuseio
da amostra(hemólise in vitro). Assim a anemia será classificada como Normocrômica
quando os valores se enquadrarem dentro dos fisiológicos para a espécie, Hipocrômica
quando inferiores , e quando superiores Hipercrômicas (situação esta não verdadeira
conforme explicação acima ).

6.1.2 ANEMIAS QUANTO A MASSA GLOBAL DE ERITRÓCITOS :


Anemia relativa: é aquela que resulta da expansão plasmática. Ocorrem em
gestação, neonatos e fluidoterapia.
Anemia absoluta: resulta da redução da massa eritrocitária. É a de importância
clínica Devem ser investigadas a morfologia eritrocitária, mecanismo patogênico e
resposta eritróide da medula. Embora nenhum desses exames seja conclusivo
isoladamente, se complementam , e juntos proporcionam um meio lógico de análise da
anemia .

6.1.3 CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DAS ANEMIAS :


Anemia por perda de sangue :
-hemólise aguda
procedimentos cirúrgicos ou traumas
distúrbios hemostáticos
CID – coagulação intravascular disseminada
-hemorragia crônica
parasitismo (Haemonchus , Ancylostomum ,coccídeos,...)
úlceras gastrointestinais
deficiência de vitamina K
neoplasias com sangramento cavitário
-anemia hemolítica (intravascular ou extravascular)
imunomediada
parasitárias (anaplasmose , babesiose , erliquiose ,...)
bacterianas (leptospirose , hemoglobinúria bacilar ,...)
tóxica (cobre , zinco , chumbo , plantas tóxicas , ...)
Anemia hipoproliferativa :
-deficiência nutricional
proteínas
minerais (ferro , cobre , cobalto , selênio ,)
vitaminas (A, E, B12, ác. fólico, niacina, piridoxina, tiamina)
-desordens orgânicas
-insuficiência renal com uremia
-doenças endócrinas
-anemia por doenças inflamatórias
-neoplasias
-infecções
-anemias aplásicas ou hipoplásicas
-desordens mieloproliferativas
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 32

6.1.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A RESPOSTA MEDULAR :


A eritropoiese é regulada pela eritropoietina, produzida em resposta a hipóxia tecidual. A
síntese de eritropoietina é inversamente proporcional a massa de eritrócitos circulantes e a
concentração de hemoglobina. A eritropoiese é estimulada por um acréscimo nos progenitores
eritróides, aceleração na mitose e maturação dos eritrócitos, e rápida liberação de reticulócitos
e eritrócitos jovens para a circulação.
Anemia regenerativa : são aquelas em que há resposta medular , e conseqüente liberação
de eritrócitos e seus precursores na corrente circulatória.
Os principais sinais de boa resposta medular são :
-policromasia ou policromatofilia
-presença de corpúsculas de Howell-Jolly
-presença de metarrubrócitos
-reticulocitose (quando feita a contagem de reticulócitos)
-Anemia regenerativa por perda sangüínea
-traumas ou cirurgias
-intoxicação por dicumarol
-Coagulação intravascular disseminada
-Anemia regenerativa por hemólise
-hemoparasitas
-anemia imunomediada
-reação transfusional
Anemia não regenerativa (arregenerativa ou não responsiva): caracteriza-se por
diminuição da produção de eritropoietina, inadequada resposta do tecido eritróide a
estímulo apropriado ou eritropoiese ineficaz , em processos como :
-insuficiência renal crônica
-neoplasias , leucemias , linfoma ,
-erliquiose,
-panleucopenia felina ,
-hipoandrogenismo , hipoadrenocorticismo ,
-hiperestrogenismo

6.2 POLICITEMIAS

Policitemia ou poliglobulia é o aumento do número de eritrócitos, da taxa de hemoglobina


e/ou do hematócrito. Com relação à massa eritrocitária podemos ter:
Policitemia relativa: é encontrada em animais como resultado da redução do volume
plasmático devido à desidratação, quer pela inadequada ingestão de líquidos ou pela perda
excessiva, ou quando há contração esplênica com aumento temporário da massa
eritrocitária circulante .Com a redução do volume plasmático ocorre hemoconcentração
,com aumento relativo dos parâmetros eritrocitários .
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 33
Policitemia absoluta: é aquela em que há aumento real dos parâmetros
eritrocitários (número de eritrócitos / mm³ de sangue, taxa de hemoglobina e/ou
hematócrito ) . A policitemia absoluta pode ser classificada em primária ou secundária .
-Policitemia absoluta primária:também chamada policitemia Vera , é uma doença
miloproliferativa , ou seja , uma desordem clonal da célula pluripotencial que resulta numa
expansão das células progenitoras , primariamente da linhagem eritróide .
-Policitemia absoluta secundária: não é acompanhada por aumento na contagem
leucocitária ou plaquetária, e geralmente ocorre por elevada produção de
eritropoietina . Os níveis de eritropoietina aumentam em resposta fisiológica
compensatória pelos rins a hipóxia tecidual ou como resultado de neoplasias,
independente da oxigenação dos tecidos. A policitemia absoluta secundária pode
ocorrer devido a:
Hipóxia -
-baixa tensão de oxigênio atmosférico
-hipóxia pulmonar
-doenças cardiovasculares
-meta-hemoglobinemia congênita
Eritropoietinogênese acelerada-
-neoplasias renais
-fibrossarcoma extra-renal
-cistos renais, hidronefrose
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LEUCOGRAMA

1. MIELOPOIESE
Ao nascimento, a medula óssea produz granulócitos(neutrófilos, eosinófilos,basófilos),
monócitos,eritrócitos, megacariócitos(que originam as plaquetas) e uma pequena porção de
linfócitos. A maior produção de linfócitos, entretanto, ocorre em tecidos linfóides extra-
medulares (baço, linfonodos, tonsilas, tecido linfóide associado ao intestino, etc).
O termo mielopoiese refere-se à produção das linhagens celulares não linfóides, ou seja,
das linhagens eritróide, granulocítica, monocítica e megacariocítica . (Figura 19).
Uma célula tronco pluripotencial origina as linhagens celulares linfóide e mielóide. As
células tronco são caracterizadas por sua capacidade de auto-renovação por longo tempo e
por sua habilidade de se diferenciar em múltiplas linhagens celulares. Estas linhagens
celulares individuais se desenvolverão independentemente, com exceção de neutrófilos e
monócitos, que compartilham uma célula tronco em comum (Unidade Formadora de Colônia
Granulocítica-Macrofágica UFC-GM )

.
FIGURA 19: Modelo atual da produção e diferenciação hemolinfática a partir de uma célula tronco comum. As células
progenitoras comprometidas com a mielopoese incluem os precursores UFC (unidade formadora de colônia).

As células tronco são necessárias para a produção de células sangüíneas, pois dessas
apenas os linfócitos são capazes de se multiplicar. As células tronco são capazes de repovoar
a medula óssea após severa lesão, capacidade esta que decresce com a idade do animal, ou
seja, animais velhos irão se recuperar mais lentamente de uma grave agressão a medula do
que animais mais jovens.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 35

1.1 GRANULOPOIESE
1.1.1 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS NEUTRÓFILOS:
A granulopoiese ou granulocitopoiese ocorre na medula óssea, influenciada por estímulos
como o da interleucina 3 (IL-3),considerada um fator multiespecífico, e pelo fator estimulador
de colônia granulocítico-macrofágico ou granulocítico-monocítico (FEC-GM). A célula
pluripotencial origina células progenitoras comprometidas em produzir neutrófilos e monócitos
(UFC-GM), eosinófilos (UFC-Eos) e basófilos (UFC-Bas). A UFC-GM possui duplo
comprometimento e sob influência do fator estimulador de colônia granulocítico (FEC-G) e do
fator estimulador de colônia macrofágico (FEC-M), além da IL-3, regulará a diferenciação e
maturação de neutrófilos ou monócitos.
A granulopoiese obedece a uma linha seqüencial de multiplicação que inicia no mieloblasto,
avança para pró-granulócitos até mielócitos, sob influencia de granulopoietinas (provavelmente
oriundas de macrófagos), e continua na maturação em metamielócitos, bastonetes e neutrófilos
segmentados. O último estágio capaz de sofrer mitose é o de pró-mielócito (ou pró-granulócito),
de mielócito em diante, só ocorre maturação. Metamielócitos, bastonetes e segmentados são
armazenados na medula óssea, por um período variável de tempo, enquanto as células sofrem
maturação. Após, os neutrófilos mais maduros são liberados para a circulação sangüínea. O
processo todo, desde mieloblasto até segmentado, dura entre 3,5 a 6 dias.
Para facilitar a compreensão deste sistema ordenado, podemos teoricamente, dividir a
medula em dois compartimentos:
I. Compartimento de multiplicação:
Mieloblasto → pró-mielócito (pró-granulócito) → mielócito
II. Compartimento de maturação e estoque:
Metamielócito → bastonete → neutrófilo segmentado
Os neutrófilos ôo distribuídos em um dos dois compartimentos dinâmicos na circulação,
chamados compartimento circulante e compartimento marginal. O compartimento circulante
compreende aquelas células que estão na corrente circulatória e que são retiradas do vaso no
momento da colheita de sangue para a realização de exames. O compartimento marginal consiste
naquelas células que estão aderidas ao endotélio de pequenos capilares e vênulas, ou que circulam
lentamente ao longo da superfície endotelial desses pequenos vasos. Estas células não são
contadas no hemograma, porque elas não estão circulando, portanto não fazem parte da amostra
colhida por punção venosa. A distribuição dos neutrófilos entre os dois compartimentos, em
caninos, é de aproximadamente 1:1, ou seja, para cada neutrófilo circulante, estma-se 1 no
compartimento marginal. Em felinos, a proporção é de 1:3. Mudanças nos números de células
entre os dois compartimentos podem rapidamente, sob ação de determinados estímulos, e podem
modificar muito a contagem leucocitária, especialmente em felinos.
Os neutrófilos tem uma meia-vida circulante entre 5,5 e 10 horas. Após este período,eles
marginam e migram para os tecidos. Uma vez que tenham penetrado nostecidos, os neutrófilos
não retornam à circulação(não recirculam), permanecem viáveis e ativos nos tecidos até 2 dias,
após, eles são fagocitados por macrófagos ou atravessam as mucosas e são eliminados do
organismo junto com as secreções(especialmente no lúmen intestinal).
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 36
1.1.2 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS MONÓCITOS:
Apesar da formação dos monócitos na medula, ser a partir da mesma célula-mãe dos
neutrófilos, não existe na medula compartimento de maturação ou reserva de monócitos, ou seja,
estas células são liberadas da medula logo após a sua formação. Ainda que não haja nenhuma
reserva medular de monócitos, eles podem ser formados rapidamente em condição de doença.
Em humanos, os monócitos estão distribuídos na corrente circulatória, entre os compartimentos
circulante e marginal (1:3,5), tem uma vida circulante curta (8,5 horas), após a qual deixam a
circulação e alcançam os tecidos, não retornando a circulação. Dados comparáveis não existem
na literatura veterinária, mas se supõe que sejam similares, principalmente em caninos e felinos.
A maturação dos monócitos em macrófagos é acompanhada por mudanças na sua
morfologia, ultra estrutura, receptores de membrana e metabolismo. Após a diferenciação os
macrófagos podem sobreviver, nos tecidos, por dias ou meses.

1.1.3 PRODUÇÃO E CINÉTICA DE EOSINÓFILOS:


Os eosinófilos e basófilos podem compartilhar um progenitor comum. Algumas evidências
indicam produção simultânea das duas linhagens sob influência de IL-5 e alterações similares nos
números circulantes das duas linhagens em condições como reações alérgicas.
A produção de eosinófilos na medula óssea é controlada por linfócitos-T. Os eosinófilos
recém formados são armazenados na medula óssea de maneira semelhante àquela dos
neutrófilos. À medida que os eosinófilos são liberados da medula, eles se distribuem
desigualmente entre os compartimentos marginal e circulante de eosinófilos, têm uma meia-vida
circulante entre 2 e 12 horas e depois saem da corrente circulatória. Quando migram para os
tecidos localizam-se primariamente nos sítios sub-epiteliais na pele e nos tratos respiratório,
gastrointestinal e genito-urinário. Devido a essa localização, doenças envolvendo esses tecidos
podem ser acompanhadas de intensa eosinofilia tecidual, sem eosinofilia sangüínea.
Após vários dias nos tecidos, os eosinófilos são eliminados da mesma forma que acontece
com os neutrófilos.
1.1.4 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS BASÓFILOS/MASTÓCITOS:
Se os basófilos e mastócitos surgem de um mesmo progenitor no seu desenvolvimento não
está ainda comprovado, mas a diferenciação final de cada linhagem é regulada por um diferente
conjunto de substâncias.
A célula tronco que dá origem imediata aos basófilos ainda não foi identificada e os dados
cinéticos de produção e circulação também não foram bem esclarecidos nas espécies de animais
domésticos.

1.1.5 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS LINFÓCITOS:


O sistema linfóide se desenvolve durante a gestação e os filhotes são imunológicamente
competentes ao nascimento. Os tecidos que compõe o sistema linfóide incluem a medula óssea,
timo,linfonodos, baço,tecido linfóide associado ao intestino, brônquios e sangue.O sangue contém
menos de 5% do total da população corporal de linfócitos, e serve como uma via de distribuição
de linfócitos.
A linfopoiese continuada é independente das células tronco pluripotenciais da medula
óssea e sangue, mas a maioria dos linfócitos no indivíduo adulto origina-se dos tecidos linfóides
periféricos ( aqueles outros além do timo e medula). A diferenciação inicial, em linfócitos T ou B,
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 37
ocorre em associação com o timo e medula óssea (que é bursa equivalente nos mamíferos),
respectivamente. Os linfócitos B estão envolvidos com a imunidade humoral, pela produção de
anticorpos, enquanto os linfócitos t estão envolvidos com a imunidade mediada por células,
modulando a atividade de outras células ou matando células tumorais ou células infectadas. A
linfopoiese é estimulada por exposição antigênica e é deprimida por corticóides, hormônios
sexuais e má nutrição.
A população total de linfócitos é dividida em aproximadamente 70% de linfócitos T, 20%
de linfócitos B e os 10% restantes seriam as “células nulas”, dentre as quais estão incluídos os
linfócitos killer (K) e natural killer (NK). A identificação morfológica entre linfoblastos, pró-
linfócitos e linfócitos pode ser feita, entretanto, não há diferença morfológica entre linhagens
de linfócitos (T ou B).
Os linfócitos sangüíneos são, primariamente, pequenos linfócitos T, com longa vida,
recirculantes e que retêm a capacidade de sofrer mitoses sob estimulação apropriada. Os
linfócitos de memória são considerados não circulantes. A recirculação permite que os linfócitos
tenham um aumento das oportunidades exercer vigilância imune e de encontrar antígenos,
aumenta a distribuição de linfócitos sensibilizados a outros tecidos linfóides para ampliação da
resposta imune e permite a distribuição de células efetoras a vários tecidos, quando necessário.
A recirculaçõa dos linfócitos ocorre de maneira ordenada, quando as células emigram dos
capilares e vênulas para os tecidos linfóides periféricos, dos quais são originados.
Eventualmente, os linfócitos entram nos vasos linfáticos eferentes, chegando até o ducto
torácico e, conseqüentemente, à circulação sangüínea. Se o padrão normal de recirculação dos
linfócitos é alterado, o número de linfócitos no sangue poderá mudar.

1.2 FUNÇÕES DOS LEUCÓCITOS:

1.2.1 FUNÇÕES DOS NEUTRÓFILOS:


A função primordial dos neutrófilos é a realização de fagocitose de bactérias. Os
neutrófilos estão relacionados com as reações inflamatórias secundárias à invasão bacteriana,
doenças imunomediadas e necrose tecidual inespecífica. As enzimas proteolíticas e radicais
superóxidos que destroem os microorganismos fagocitados, podem escapar e causar danos
teciduais. As principais características dos neutrófilos são:
• Aderência: para fazer a migração dos vasos até os tecidos, os neutrófilos aderem-se à
superfície endotelial, fazendo a diapedese.
• Quimiotaxia: é o movimento direcionado dos leucócitos a um alvo em particular,
principalmente bactérias. É um processo ativo.
• Fagocitose e Degranulação: a fagocitose é um processo ativo de ingestão de uma
partícula microscópica, pela extensão de pseudópodes citoplasmáticos ao redor do alvo.
Células imaturas como neutrófilos bastonetes e metamielócitos possuem pequena
capacidade fagocitária, bem menor que a do neutrófilo segmentado. Degranulação é o
processo pelo qual há o rompimento dos lisossomas (vesículas citoplasmáticas com
conteúdo enzimático) após a união com o fagossoma(vesícula que contém o material
fagocitado).
• Atividade antimicrobiana: é exercida pelo conteúdo dos lisossomas , basicamente
enzimático, usado para matar as bactérias fagocitadas.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 38

1.2.2 FUNÇÕES DOS EOSINÓFILOS:


Os eosinófilos moderam as reações que ocorrem quando os basófilos e mastócitos
teciduais degranulam. Um fator quimiotático de eosinófilos da anafilaxia (FQE-A) está presente
nos basófilos e mastócitos. Os eosinófilos contém substâncias que inativam os fatores liberados
pelos mastócitos e basófilos, tais como histamina, leucotrienos e fator ativador de plaquetas.
Quando ocorre a mobilização, ela pode ou não ser acompanhada de um aumento do número de
eosinófilos no sangue.
Os eosinófilos, desta forma, estão relacionados a reações alérgicas e inflamatórias.
Possuem ainda capacidade fagocitária(inferior àquela dos neutrófilos)e têm atividade
parasiticida.

1.2.3 FUNÇÕES DOS BASÓFILOS:


A precisa atividade dos basófilos ainda não foi determinada, embora se saiba que seus
grânulos contenham heparina, histamina, FQE-A e fator ativador de plaquetas. Eles parecem
estar envolvidos nas reações de hipersensibilidade imediata.A imunoglobulina E (IgE) se liga
rapidamente às membranas dos basófilos, tanto quanto às membranas dos mastócitos, e, no
momento em que antígenos específicos reagem com estas moléculas de IgE, ocorre a
degranulação, com a liberação dos mediadores de hipersensibilidade imediata. No momento da
estimulação, os basófilos sintetizam e liberam leucotrienos e, provavelmente, fator ativador de
plaquetas. Estes mediadores ativam plaquetas, atraem eosinófilos, causam contração da
musculatura lisa, iniciam a formação de edema e podem afetar a coagulação.

1.2.4 FUNÇÕES DOS LINFÓCITOS:


As principais funções dos linfócitos estão relacionadas com a atividade imunológica. Os
linfócitos T e sua progênie funcionam na imunidade mediada por células, a qual inclui a rejeição a
enxertos, reações enxerto-versus-hospedeiro, hipersensibilidade tardia, defesa contra
microorganismos intracelulares e defesa contra neoplasias. Os linfócitos B e sua progênie são
importantes na produção de anticorpos, tanto como linfócitos como após terem se transformado
em plasmócitos.

1.2.5 FUNÇÕES DOS MONÓCITOS:


O monócito migra para os tecidos e se transforma em um macrófago tecidual fixo ou livre,
de acordo com o tecido onde se localiza. Os macrófagos livres estão localizados nas cavidades
pleural, peritonial e sinovial além de sítios inflamatórios, e possuem a capacidade de
movimentação de um tecido para o outro. Os macrófagos fixos são encontrados em uma
variedade de tecidos, como nos sinusóides esplênicos, fígado(células de Kupfer), medula
óssea(células reticulares), linfonodos, sistema nervoso(micróglia) e trato gastro-intestinal. Esse
sistema mononuclear fagocitário(SMF) desempenha um importante papel de defesa contra os
organismos intracelulares(fungos, vírus e certas bactérias, tais como a Brucella e o
Micobacterium) e no processamento de antígenos para a apresentação aos linfócitos. Os
macrófagos desempenham um importante papel na inflamação, porque secretam diversas
substâncias biologicamente ativas, incluindo enzimas proteolíticas, interferon, interleucina-1,
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 39
componentes do sistema complemento, prostaglandinas e proteínas carreadoras. Os macrófagos
também são responsáveis pela remoção e processamento das células senescentes e debris,
filtração de bactérias e toxinas do sangue portal.
Os macrófagos teciduais retém a capacidade de divisão celular, eles existem nos tecidos
numa proporção aproximada de 50 macrófagos teciduais para 1 monócito circulante.
Pela alta capacidade fagocitária, o SMF age destruindo patógenos que não são
efetivamente controlados pelos neutrófilos, principalmente aqueles organismos intracelulares já
citados. Entretanto, a ingestão fagocitária não resulta necessariamente em morte do invasor, já
que alguns organismos podem resistir a ação dos peróxidos(como o Toxoplasma), inibir a
liberação de enzimas(como o Micobacterium) ou proteger-se quimicamente(como a Leishmania).
Os macrófagos ainda atuam na resposta imune, primeiramente processando o antígeno e
fazendo a apresentação do mesmo ao sistema imune e, depois aumentando sua citotoxicidade,
fagocitose e destruição de patógenos opsonizados.

2. RESPOSTA LEUCOCITÁRIA E INTERPRETAÇÃO DO LEUCOGRAMA:

O leucograma é o exame realizado no sangue periférico, colhido com anticoagulante, com o


objetivo de obter informações sobre o status leucocitário de um animal no “momento da
colheita”.
O leucograma compreende um exame qualitativo, composto por uma contagem global de
leucócitos/µl de sangue, e o exame diferencial das diversas linhagens de leucócitos, com valores
relativos(%) e absolutos(nº de células/µl). Inclui ainda um exame qualitativo, que nos dá
informações sobre as possíveis alterações morfológicas dos leucócitos e presença de inclusões
ou hemoparasitas, observados durante a análise microscópica do esfregaço corado.
Para a correta interpretação do leucograma, devemos avaliar os valores absolutos de cada
linhagem celular, pois os valores relativos não expressam, isoladamente, a real condição
leucocitária. Os valores relativos são obtidos no exame diferencial feito no esfregaço corado, no
qual são identificados e contados, de forma sistemática e ordenada cem ou duzentos leucócitos,
de acordo com o critério do laboratório. Os valores absolutos são obtidos multiplicando-se a
porcentagem obtida no exame diferencial pela contagem global de leucócitos e dividindo por
cem. Tomando como exemplo um canino com 65% de neutrófilos segmentados, com uma
contagem global de 10.000 leucócitos/µl ,possui 6.500 neutrófilos segmentados/µl.
Pergunta-se: - 6500 neutrófilos segmentados/µl é sempre normal? Sim.
-65% de segmentados é sempre normal? Não. Se a contagem global for de
1.000 leucócitos/µl, então 65% equivalerão a 650 segmentados/µl, o que está abaixo dos valores
fisiológicos para a espécie(neutropenia). Em uma contagem global de 50.000 leucócitos/µl, então
os mesmos 65% equivalerão a 32.500 segmentados/µl, o que está acima dos valores
fisiológicos(neutrofilia).

2.1 ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DOS LEUCÓCITOS:


(relacionadas com a leucometria global)
Quando se avalia um leucograma, o primeiro passo é verificar a contagem global de
leucócitos(leucócitos totais).
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 40
Denomina-se de normoleucometria a contagem global de leucócitos que fica entre os
valores de referência para a espécie.
Como alterações na contagem global de leucócitos, podemos ter leucocitose(valores acima
do fisiológico) e leucopenia(valores abaixo do fisiológico).

2.1.1 LEUCOCITOSE:
Leucocitose é o aumento do número de leucócitos acima dos valores de referência para a
espécie animal em questão,em decorrência do aumento de um ou mais tipos celulares. Em caninos,
as leucocitoses geralmente aparecem devido a um aumento do número de neutrófilos, enquanto
que em bovinos normalmente é observada a inversão na proporção neutrófilos e linfócitos.
Em algumas situações podemos observar o que se chama de leucocitose fisilógica. Dentre
as causas, temos:
• Medo/excitação;
• Exercício físico extenuante;
• Gestação/parto.
O aparecimento de leucocitose patológica é esperado em casos de :
• Infecções bacterianas localizadas ou generalizadas;
• Atos cirúrgicos;
• Desordens linfoproliferativas e mieloproliferativas.

2.1.2 LEUCOPENIA:
Leucopenia é a diminuição do número de leucócitos abaixo dos valores fisiológicos para a
espécie, podendo ser por diminuição de uma ou mais linhagens celulares.
Dentre as causas de leucopenia, podemos citar:
• Doenças virais(leucemia felina, panleucopenia felina, parvovirose, cinomose,...);
• Infecções bacterianas graves, que estejam cursando com toxemia ou septicemia;
• Drogas e produtos químicos tóxicos(estrógenos,quimioterápicos, anti-histamínicos);
• Neoplasia de medula óssea;
• Toxemia endógena(uremia);
• Parasitas(Toxoplasma, Erlichia);
• Transtornos físicos(irradiação, raio X);
• Deficiência de vitamina B 12 e ácido fólico.
Como o tipo celular predominante em carnívoros é o neutrófilo, geralmente as leucopenias
ocorrem por neutropenia.
Mecanismos que causam leucopenia:
A leucopenia devido a neutropenia,pode ocorrer por um dos seguintes mecanismos:

• Degeneração: o agente ou toxina compromete o compartimento de maturação,


causando um predomínio de células jovens.
• Depressão: ocorre principalmente em doenças crônicas, que comprometem o
compartimento de multiplicação, causando um predomínio de células adultas.
• Depleção ou Exaustão: causada geralmente por um consumo super-agudo de
neutrófilos, devido ao grande afluxo dessas células ao local da inflamação. É o que
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 41
ocorre na mastite bovina e na cólica eqüina, entre outras. A leucopenia, nestes casos,
geralmente é transitória, havendo uma neutrofilia responsiva em cerca de 2 a 4 dias.
• Destruição: é caracterizada por uma “pancitopenia”, ou seja, uma diminuição de todas
as linhagens celulares sangüíneas. É causada geralmente por drogas ou infecções
bacterianas graves.

2.2 RESPOSTAS LEUCOCITÁRIAS INDIVIDUALIZADAS:


A alteração no número de um determinado tipo de leucócito, é conhecida como resposta
leucocitária individualizada, e ao analisarmos um leucograma e constatarmos qual o(s) tipo(s) de
leucócito(s) com alteração quantitativa, temos uma idéia de qual tipo de processo pode estar
ocorrendo no animal avaliado.

2.2.1 ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE NEUTRÓFILOS:

NEUTROFILIA- é o termo usado para designar o aumento no número de neutrófilos acima


dos limites fisiológicos para a espécie. A neutrofilia pode aparecer em condições fisiológicas, ou
seja, aquelas que não refletem um quadro patológico em particular,é o que acontece sob ação da
epinefrina ou de corticosteróides. A neutrofilia pode ocorrer em decorrência de um processo
patológico, ou seja, reativa.
A neutrofilia pode ser:
• Fisiológica: - medo/excitação:determinada pela ação da epinefrina;
-estresse:determinada pela ação de corticóide endógeno ou exógeno.
• Reativa: - com desvio à esquerda:inflamações agudas, infecções, doenças imunomediadas
(artrite reumatóide);
- sem desvio à esquerda: hemorragia, hemólise, necrose, intoxicações,
neoplasias, inflamações crônicas.
NEUTROPENIA- é o termo que designa a diminuição da quantidade de neutrófilos
circulantes, ficando esses valores abaixo dos parâmetros fisiológicos da espécie animalanalisada.
As causas de neutropenia podem ser divididas em três grandes grupos:
• Por decréscimo da sobrevida:infecção bacteriana aguda,septicemia,toxemia,anafilaxia,
Hiperesplenismo;
• Por diminuição na produção: infecção aguda,toxicidade de drogas,radiação,leucemia
mielóide ou linfóide;
• Por granulopoiese ineficaz: vírus da leucemia felina, leucemia aguda mielóide e linfóide.

2.2.2 CLASSIFICAÇÃO DA RESPOSTA LEUCOCITÁRIA:


Os neutrófilos constituem a primeira linha de células de defesa do organismo e, em carnívoros,
são as células que aparecem em maior número em casos de inflamação. Por isso, a magnitude de
uma resposta inflamatória é avaliada pelo número de leucócitos circulantes, pelo número de
neutrófilos e pelo grau de maturação dos neutrófilos. Animais normais podem apresentar uma
pequena população de bastonetes (neutrófilos jovens) circulantes. O aumento do número de
bastonetes ou presença de células ainda mais jovens (metamielócitos, mielócitos), acima dos
valores de referência para a espécie, constitui o que se chama de desvio à esquerda (Fig. 20 ).
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Quanto maior o número de células jovens e quanto maior o seu grau de imaturidade, mais severo
é o processo inflamatório.

mielócito metamielócito neutrófilo bastonete neutrófilo segmentado neutrófilo


hipersegmentado

DE DD
Desvio a Esquerda

Desvio a
Direita
Figura 20: Esquema de Schilling para classificação da resposta leucocitária.
Neutrófilos segmentados predominam na corrente circulatória, o aumento de células a esquerda do segmentado
caracteriza um desvio a esquerda, enquanto o aumento dos neutrófilos a sua direita, é um desvio a direita.

A resposta leucocitária (neutrofílica) aos processos inflamatórios, pode ser classificada


em:
1. Desvio à esquerda regenerativo – É aquele em que o aumento de células jovens é
acompanhado pelo aumento do número de células adultas, ou seja, temos leucocitose
com desvio à esquerda, e os neutrófilos jovens estão em menor número que os maduros
(neutrófilos segmentados). É o que se espera que ocorra em infecções bacterianas
agudas e inflamações agudas.
2. Desvio à esquerda degenerativo – Ocorre quando temos o aumento de células jovens
associado a normoleucometria, com o número de células jovens sendo igual ou maior que
o de células adultas, ou quando temos desvio à esquerda em presença de leucopenia.
Ocorre em casos de septicemia, e indica um quadro grave.
3. Desvio à direita – Podemos ter situações em a observação microscópica do esfregaço
sangüíneo corado revela a presença de neutrófilos mais velhos que o padrão normal,
caracterizadas pelo aumento de lobulações nucleares. Estas células são chamadas de
“neutrófilos hipersegmentados”, e podem estar presentes em casos de uremia ou
terapia com corticóides. Por associação com a classificação anterior, e com finalidades
didáticas está situação foi chamada de “desvio à direita”, embora atualmente muitos
autores não utilizem mais essa denominação (Fig. ).

2.2.3 ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE EOSINÓFILOS:


EOSINOFILIA- é o termo que designa o aumento do número de eosinófilos na circulação.
Ocorre em casos de:
• Hipersensibilidade: parasitismo em hospedeiros sensíveis, hipersensibilidade imediata;
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 43
• Doenças eosinofílicas específicas: enterocolite eosinofílica, granuloma eosinofílico
(felinos), pneumonia eosinofílica (caninos e felinos), leucemia eosinofílica;
• Neoplasias: carcinoma, mastocitoma,doenças mieloproliferativas.
EOSINOPENIA- é a diminuição do número de eosinófilos circulantes. Pode acontecer por:
• Excesso de corticosteróide endógeno: hiperadrenocorticismo, inflamação com estresse;
• Excesso de corticosteróide exógeno: terapia com corticosteróide.

2.2.4 ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE BASÓFILOS:

BASOFILIA- como os basófilos normalmente estão presentes em números muito baixos


na circulação, a única alteração possível é o aumento do número de basófilos, acima dos níveis
considerados fisiológicos para a espécie. A basofilia pode estar presente em casos de:
dirofilariose, ancilostomose duodenal, hipersensibilidade, hipotireoidismo, leucemia basofílica
(rara).
2.2.5 ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE LINFÓCITOS:

LINFOCITOSE- é o aumento do número de linfócitos circulantes, que pode acontecer de


forma fisiológica, por ação da epinefrina, ou após vacinação (é temporária). Patológicamente,
acontece em: doença imunomediada, estimulação antigênica crônica, linfoma, leucemia viral
bovina.
LINFOPENIA OU LINFOCITOPENIA-é a diminuição da contagem linfocitaria, que é
esperada nos seguintes casos:
• Excesso de corticosteróides: endógenos ou exógenos;
• Perda de linfócitos: linfangectasia, quilotórax com drenagens repetidas;
• Linfopoiese reduzida: corticoterapia prolongada, imunodeficiência congênita;
• Estágio agudo de infecções virais.

2.2.6 ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE MONÓCITOS:


MONOCITOPENIA-é a diminuição do número de monócitos, clinicamente não é
significativa.
MONOCITOSE- é o aumento do número de monócitos, acima dos níveis fisiológicos para a
espécie animal em questão, que pode aparecer em : inflamação e necrose tecidual, aumento dos
níveis de glicocorticóides(cão), supuração em cavidades corpóreas,distúrbios granulomatosos,
leucemia monocítica ou mielomonocítica.

2.3 AÇÃO DA EPINEFRINA E DOS CORTICÓIDES SOBRE OS LEUCÓCITOS:

2.3.1 AÇÃO DOS CORTICÓIDES NA LEUCOCITOSE:


• Prolongam a meia-vida dos leucócitos;
• Retém os neutrófilos mais tempo na circulação, diminuindo a taxa de liberação para os
tecidos;
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 44
• Promovem a liberação de neutrófilos do compartimento marginal para o compartimento
circulante; promovem a liberaçõa de neutrófilos do compartimento de reserva da medula
óssea para a circulação.

2.3.2 AÇÃO DOS CORTICÓIDES NA LINFOPENIA:


• Inibem a mitose linfocitária;
• Lise de linfócitos circulantes sensíveis aos corticóides;
• Redução da liberação de histamina(afeta diretamente o número de eosinófilos
circulantes);
• Estimulação do catabolismo protéico,reduzindo a formação de anticorpos.
2.3.3 AÇÃO DA EPINEFRINA NA LEUCOCITOSE:
• Promove a liberação dos neutrófilos do compartimento marginal para o compartimento
circulante.
A epinefrina é liberada pela adrenal em situação de medo, excitação ou após exercícios muito
cansativos. Isto ocorre principalmente em animais jovens, que são fortemente manuseados ou
contidos para a colheita de sangue. Esta condição é caracterizada por um rápido aumento do
número de neutrófilos circulantes, que persiste por até 20 minutos, devido ao deslocamento dos
neutrófilos do compartimento marginal para o compartimento circulante. Outra característica
deste quadro é o concomitante aumento do número de linfócitos circulantes.
O mecanismo é devido ao efeito ß-adrenérgico da epinefrina, que libera AMP cíclico das
células endoteliais, diminuindo a aderência dos neutrófilos à parede dos vasos, com isto eles
passarão a circular.

3. ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DOS LEUCÓCITOS:

A morfologia dos leucócitos é avaliada pela observação microscópica do esfregaço de


sangue corado, feita com objetiva de imersão. Nesta análise também é feita a contagem de cem
leucócitos, onde pela morfologia das células são obtidos os números relativos (%) dos neutrófilos
segmentados, neutrófilos bastonetes,linfócitos, eosinófilos, basófilos e monócitos.
Nessa avaliação microscópica dos leucócitos podem ser encontradas algumas alterações
morfológicas, que por sua presença auxiliam no diagnóstico.

3.1 ALTERAÇÕES TÓXICAS:


Dentre as alterações morfológicas podemos citar:
- Granulações tóxicas- estímulo continuado para a granulopoiese, pela duração ou
extensão de um processo inflamatório, há diminuição dos períodos de maturação
das células precursoras, e os neutrófilos chegam ao sangue com persistência das
granulações primárias, próprias dos pró-mielócitos, que normalmente seriam
substituídas pelas granulações secundárias, tênues e características. Os
grânulos primários são ricos em enzimas, coram-se mais escuros e são
denominados granulações tóxicas.
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- Corpúsculos de Döhle- são áreas de liquefação do retículo endoplasmático na
periferia dos neutrófilos. São raros, mas de grande interesse diagnóstico, por
refletirem infecções graves e/ou sistêmicas.
- Neutrófilos hipersegmentados- os neutrófilos que predominam na corrente
circulatória possuem normalmente de 2 a 4 lobulações ou segmentações
nucleares, havendo poucos ou raros com cinco ou mais lobulações. O aumento do
número de neutrófilos com 5 ou mais lobulações na corrente circulatória, indica
uma maior permanência destas células na circulação(desvio à direita) e ocorre na
insuficiência renal crônica , neutrofilia de longa duração, terapia com corticóides
ou degeneração em amostras de sangue envelhecidas(alteração in vitro).
- Plamócitos- a presença de plasmócitos na circulação é rara, e devida
principalmente a uma exacerbação da resposta humoral ou leucemia de células
plasmocitária (mieloma múltiplo).
- Gumprecht- é a fragilidade da membrana dos linfócitos, que se rompem no
momento da confecção do esfregaço. Ocorre em pequena quantidade no sangue
de ruminantes, mas quando associada à linfocitose exacerbada pode indicar
leucemia linfóide.
- Macrófagos- a ativação de monócitos e sua transformação em macrófagos na
circulação pode indicar intensa destruição tecidual circulatória, como nas
hemoparasitoses. Também pode ocorrer como alteração in vitro em amostras
velhas.
3.2 INCLUSÕES LEUCOCITÁRIAS:
As inclusões que aparecem no interior dos leucócitos podem ser causadas por:
- Vírus- As inclusões patognomônicas do vírus da cinomose são os “corpúsculos de
Lentz”.
- Riqutsia- A Erlichia canis aparece na forma de mórula basofílica no interior dos
leucócitos, que pode ocorrer em casos de erliquiose.
- Protozoários- O Hepatozoon é um protozoário que pode aparecer no interior de
macrófagos.
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1. RINS / URINA

1. FUNÇÕES DOS RINS

Os rins são os principais órgãos envolvidos no controle da homeostase orgânica. A urina é


formada como o resultado destas atividades regulatórias.
Dentre as funções exercidas pelos rins, podemos destacar:
a. Eliminação de água ingerida além da quantidade necessária para os processos metabólicos
normais;
b. Eliminação de elementos inorgânicos, de acordo com as necessidades do corpo (Na, Cl, K);
c. Eliminação dos produtos finais não-voláteis da atividade metabólica (creatinina, uréia);
d. Retenção de substâncias necessárias para a manutenção das funções normais (glicose,
aminoácidos, proteínas plasmáticas);
e. Eliminação de substâncias tóxicas exógenas (por exemplo, medicamentos);
f. Formação e eliminação de substâncias como íons hidrogênio.

Desta forma, os rins são responsáveis pela manutenção do equilíbrio hidro-eletrolítico, do


balanço ácido-básico e da pressão osmótica orgânica, além da eliminação de substâncias tóxicas
endógenas ou exógenas.
Os rins também produzem e liberam hormônios (renina, eritropoietina) e participam do
metabolismo da vitamina D.

1.2. TÓPICOS DE FISIOLOGIA RENAL

A unidade funcional do rim é o néfron. O néfron é composto pelo glomérulo, túbulo


contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulos coletores.
Os glomérulos estão localizados exclusivamente no córtex renal. Eles são formados pela
ramificação da arteríola aferente, que forma uma rede capilar, a qual está intimamente
revestida pela cápsula de Bowman. Esta rede de vasos se une e forma a arteríola eferente, cujo
calibre (menor que o da arteríola aferente) auxilia a manutenção da pressão de filtração.
O glomérulo funciona como um filtro; seus poros permitem a passagem de água, íons e
moléculas com peso molecular inferior a 40.000 (a albumina, por exemplo, tem peso molecular de
69.000). Desta forma, em condições normais não existem quantidades significativas de proteína
na urina.
A porção tubular do néfron está localizada parte na região cortical e parte na medular. À
medida em que o ultrafiltrado plasmático formado no glomérulo circula pelos túbulos, ele é
modificado por processos de reabsorção e excreção. O produto final destas atividades e que
alcança a pelve renal, é a urina.

1.3 CONCEITOS SEMIOLÓGICOS RELATIVOS À FUNÇÃO RENAL

Poliúria: é o aumento do volume urinário. Está relacionado à polidipsia (aumento da ingestão de


água).
Polaquiúria: é o aumento da freqüência de micções, com a emissão de pequenos volumes de urina
a cada vez.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 47
Oligúria: é a redução do volume de urina.
Anúria: é a não emissão de urina.
Disúria: desconforto ou dor na micção.
Estrangúria: esforço prolongado na micção.

1.4 COLHEITA DE URINA

Na maioria das espécies, a urina pode ser obtida facilmente. Existem vários métodos para
a colheita e a utilização deles fica relacionada à sua adequação a cada caso. O material utilizado
para a colheita de urina deve ser sempre limpo e seco, de preferência estéril, especialmente se a
amostra de urina for destinada à cultura bacteriológica.

1.4.1. Micção espontânea


É a forma mais utilizada em grandes animais, devido às dificuldades de cateterização.
Deve-se evitar a contaminação da amostra de urina com material fecal, sendo adequado
também que se faça a limpeza da vulva ou do prepúcio antes da colheita.
Os primeiros jatos de urina devem ser desprezados, pois eles contêm mais contaminantes
ao exame (bactérias, muco e células).
Em grandes animais, a micção pode ser estimulada com uma massagem peri-genital ou por
toque retal. Em pequenos animais, a micção pode ser estimulada até mesmo por um passeio com o
animal.

1.4.2. Cateterização
Deve-se utilizar sonda (catéter) de tamanho e espessura adequados ao sexo e ao porte do
animal. Selecionar sempre um catéter do menor calibre possível. Quando se realizar uma
cateterização vesical, uma série de cuidados devem ser tomados:
a. Utilizar sempre material estéril, para evitar a contaminação da bexiga, tomando também
cuidados de assepsia na manipulação da sonda.
b. Evitar traumatismos na uretra ou na bexiga (aparecerá sangue na urina!). A colocação da sonda
tem que ser uma manobra suave e o tamanho da sonda a ser introduzida na uretra deve ser
suficiente para alcançar apenas o colo da bexiga. Deve-se evitar a sucção forçada de urina,
pois esta manobra também poderá lesar a mucosa vesical.
c. A utilização de lubrificantes na sonda é indicada para minimizar o trauma, mas nâo deve ser
excessiva, pois poderá alterar a amostra de urina (a amostra pode ficar turva e no exame do
sedimento visualiza-se gotículas de gordura).
d. A primeira porção de urina obtida deve ser desprezada, pois normalmente contém muitos
debris celulares acumulado durante a colocação da sonda.
A urina obtida por cateterização normalmente contém alguns eritrócitos e em cães
machos é comum o qparecimento de espermatozóides.

1.4.3. Cistocentese
Utilizada em pequenos animais, principalmente quando existir a necessidade de cultura
bacteriana.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 48
Só deve ser realizada quando a bexiga estiver com um volume de urina suficiente para que
ela possa ser delimitada à palpação, para que a punção seja realizada sem risco de lesão na
bexiga ou em outros órgãos adjacentes. A pele deve ser limpa e assepsiada. A bexiga então é
localizada e fixada manualmente. Utiliza-se uma seringa de 10 ou 20ml e agulha calibre 25x7. O
ponto de punção deve ser alguns centímetros à frente do colo da bexiga, com a agulha inclinada
caudalmente.

1.4.4. Compressão manual


Em pequenos animais, uma pressão digital moderada e contínua pode provocar o
relaxamento dos esfíncteres da uretra e, conseqüentemente, a emissão de urina. Se a bexiga
estiver muito distendida, este procedimento só deve ser realizado com muita cautela, para
evitar a ruptura do órgão.
Em grandes animais pode-se fazer a pressão através da parede do reto. Normalmente
esta técnica tem mais sucesso em fêmeas, nas quais é mais fácil desfazer a resistência da
uretra (mais curta e mais calibrosa do que a de machos).
Os cuidados que devem ser tomados para a colheita da amostra de urina são os mesmos
realizados para a micção espontânea.

1.5 ACONDICIONAMENTO E CONSERVAÇÃO

Utilizar sempre frascos de vidro ou de plástico, limpos e seco, estéreis se a amostra for
destinada à cultura bacteriológica.
A primeira urina da manhã provavelmente contém mais elementos e é mais concentrada
que a urina produzida durante o dia, que é diluída pela água ingerida pelo animal.
Entretanto, a urina que ficou retida na bexiga durante a noite apresenta maiores
alterações nos componentes celulares.
A urinálise deve ser realizada o mais brevemente possível após a colheita. Duas horas após
colhida, a urina já apresenta alterações químicas e citológicas, principalmente se a amostra foi
deixada em temperatura ambiente:
- As bactérias, se presentes, multiplicam-se rapidamente e se forem capazes de utilizar uréia,
irão elevar o pH (alcalinizar a urina, transformando uréia em amônia).
- Se a urina é alcalina, os cilindros tendem a se dissolver.
- Alguns solutos podem cristalizar, alterando o aspecto da urina.
- Células em suspensão na urina sofrem autólise.
Se a realização da análise na amostra recente for impossível, a urina pode ser armazenada
em refrigeração, mas deve ser reaquecida à temperatura ambiente antes do exame. A amostra
refrigerada apresenta aumento discreto da densidade (se esta for medida com urômetro) e
pode ocorrer precipitação de cristais.
O congelamento preserva as características químicas, mas altera o sedimento. Outro
preservativo que pode ser utilizado é o tolueno, numa quantidade suficiente para formar uma
camada na superfície. O tolueno impede a ação bacteriana. Já formalina a 40%, na proporção de
1 gota/30ml de urina garante a preservação do sedimento (células e cilindros), mas altera a
composição química da urina.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 49

2. URINÁLISE

Apesar do exame de urina trazer informações sobre a função renal, ele também fornece
dados sobre vários outros sistemas orgânicos, já que a urina é produzida como resultado de uma
filtragem do sangue − assim, alterações orgânicas que se reflitam sobre o plasma serão
detectadas na urinálise.
A urinálise compreende o exame físico, o exame químico e o exame do sedimento urinário.

2. 1 EXAME FÍSICO

É o mais simples de todos os exames realizados na urina. Inclui a observação do volume,


cor, aspecto, densidade da amostra, assim como odor e aspecto da espuma.

2.1.1. Volume
O volume de urina produzido por um animal varia na dependência de fatores como
quantidade de líquidos ingeridos, temperatura ambiental, dieta, tamanho do animal e tipo de
atividade exercida pelo animal.
Também existe variação na produção de urina de acordo com a espécie:
⇒ Caninos: 26,5 66ml/kg de peso/24 horas ⇒ Felinos: 10 - 20ml/kg/24 horas
⇒ Bovinos: 17,6 - 44ml/kg/24 horas ⇒Eqüinos: 4,4 - 7,6ml/kg/24 horas
⇒ Suínos: 4,4 - 31ml/kg/24 horas ⇒ Ovinos: 10 - 40ml/kg/24 horas

No animal normal, um alto volume urinário geralmente está associado à baixa densidade, assim
como o baixo volume está relacionado à alta densidade.
Existem casos em que pode ocorrer uma poliúria transitória, não patológica, tais como:
⇒ terapia diurética
⇒ aumento na ingestão de líquidos
⇒ fluidoterapia
⇒ uso de corticóides
Já a presença de poliúria patológica está associada a:
⇒ nefrite crônica ⇒ diabete melitus
⇒ nefrite aguda ⇒ diabete insípidus
⇒ fase diurética da nefrose tóxica ⇒ glicosúria renal primária
⇒ piometra ⇒ amiloidose renal avançada
⇒ hiperadrenocorticismo ⇒ pielonefrite generalizada
⇒ polidipsia psicogênica ⇒ algumas doenças hepáticas

A oligúria transitória pode aparecer em casos de:


⇒ redução do consumo hídrico
⇒ alta temperatura ambiental
⇒ hiperventilação (cão)
⇒ desidratação
A oligúria patológica está relacionada com:
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 50
⇒ diminuição severa da pressão arterial ⇒ fase oligúrica da nefrite aguda
⇒ febre prolongada ⇒ transtornos circulatórios (edema)
⇒ doença renal terminal
Como a colheita da urina produzida em 24 horas é pouco viável, normalmente a urina analisada
é apenas uma fração daquela produzida ao longo de um curto período. A observação do volume de
urina que consta na urinálise é, desta forma, a medida da amostra enviada ao laboratório. O
volume mínimo de urina necessário para o exame é de 10ml.

2.1.2. Cor
A cor da urina deve ser observada com a amostra colocada em um tubo de vidro,
observado contra um fundo branco. De preferência, deve-se sempre avaliar a cor em um mesmo
volume de urina, já que quanto maior a quantidade de urina colocada em um recipiente, mais
intensa parecerá a sua coloração.
A urina normal varia do amarelo-claro (ou amarelo citrino) ao âmbar-claro. A intensidade
da cor está relacionada ao volume e à densidade: quanto maior a concentração da urina (maior
densidade), maior a concentração de urocromos e mais intensa a coloração da urina e vice-versa.
A urina escura (amarelo-escura, âmbar-clara), pela concentração de urocromos, ocorre
em associação com desidratação, febre, fase oligúrica da nefrose tóxica e doença renal
terminal.
Já a urina pálida (amarelo citrino, amarelo-pálido) é observada no diabete melitus,
diabete insípidus, consumo hídrico exagerado, piometra, nefrite generalizada, pielonefrite, ou
como conseqüência de terapia com corticóides ou fluidoterapia.
Urina de cor amarelo-âmbar a amarelo-esverdeada indica a presença de pigmentos
biliares.
Amostras avermelhadas estão relacionadas à presença de hemácias (hematúria) ,
hemoglobina (hemoglobinúria) ou mioglobina (mioglobinúria).
 A diferenciação é feita após a centrifugação: a hematúria simples apresentará sobrenadante
amarelo e límpido, e no fundo do tubo um sedimento de coloração avermelhada constituido de
hemácias visualizadas no exame microscópico do sedimento.
 Na hemoglobinúria o sobrenadante permanece avermelhado e não haverá depósito de
material avermelhado no fundo do tubo, nem presença de hemácias em quantidades
superiores aos níveis considerados normais no sedimento urinário. A diferenciação entre as
duas últimas é feita pela história clínica e exame clínico, que na mioglobinúria mostrarão a
presença de lesão muscular extensa ou exercício físico intenso.
Urinas acastanhadas ou amarronzadas podem indicar a presença de hemoglobina
(convertida à hematina) ou mioglobina. Em eqüinos normais, a urina torna-se acastanhada algum
tempo após a micção, pela oxidação de pirocatequinas.
A terapia com diversas drogas podem induzir a alterações na coloração da urina.
Tranquilizantes (como a fenotiazina), fenolftaleína e sulfonamidas produzem coloração
avermelhada ou rósea, enquanto o azul de metileno confere uma coloração esverdeada.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 51
1.3. Aspecto
O aspecto da amostra de urina deve ser observado preferencialmente contra um fundo
reticulado ou em frasco graduado. A observação nítida da graduação do tubo, através da
amostra de urina caracteriza uma urina límpida.
A urina normal da maioria das espécies animais é límpida. Os eqüinos são a única exceção e
possuem uma urina normalmente mais densa e turva, devido à presença de cristais de carbonato
de cálcio e muco. Nas demais espécies, a urina é límpida logo após a micção, podendo se tornar
turva sob refrigeração, pela precipitação de cristais, principalmente em urinas concentradas.
Patologicamente a urina poderá estar pouco turva ou turva, pela presença de leucócitos,
eritrócitos, células, bactérias, muco, cristais, gordura ou espermatozóides. A causa da turvação
só poderá ser determinada com o exame microscópico do sedimento.

2.1.4. Odor
O odor da urina é característico para cada espécie, sendo aromático nos ruminantes e
aliáceo nos carnívoros. O odor normal é determinado pela presença de ácido orgânicos voláteis.
Normalmente, diz-se que o odor é sui generis, mas pode estar alterado em algumas situações
(mas não é diagnóstico):
 Amoniacal, quando existe contaminação com bactérias redutoras da uréia.
 Adocicado ou cetônico, pela presença de corpos cetônicos em vacas leiteiras com cetonúria
ou em casos de diabete melitus.
 Pútrido, em casos de necrose tecidual das vias urinárias.
Como o odor é uma medida subjetiva, que depende muito da interpretação do técnico que
realiza o exame, ocasionando resultados quase sempre normais, no nosso laboratório ele só é
apontado quando realmente existe uma alteração perceptível.

2.1.5. Aparência da espuma


A urina normal, quando agitada, produz uma pequena quantidade de espuma, que logo se
desfaz. Na presença de proteinúria, a quantidade de espuma formada é maior e demora a
desaparecer. Na presença de pigmentos biliares, a espuma pode ser amarelada, esverdeada ou
amarelo-acastanhada. Na presença de hemoglobina, a espuma é avermelhada.

2.1.6. Densidade
A densidade urinária é a medida relativa da quantidade de sólidos em suspensão. Ela indica
o grau de reabsorção tubular, ou seja, a capacidade renal de concentrar a urina.
Em animais normais, a densidade é inversamente proporcional ao volume de urina
produzido.

O exame da densidade urinária é especialmente importante se existem sinais clínicos de


doença renal, se o animal apresenta poliúria ou se existe uma suspeita de doença metabólica,
como diabete mellitus.
A densidade urinária pode ser medida com um refratômetro, que, apesar de ser
relativamente caro, necessita de uma quantidade mínima de urina para a medição e quase não
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 52
sofre interferências com a variação de temperatura. Em amostras de urina turvas, a medida
deverá ser realizada com o sobrenadante da urina após centrifugação.
Outro método de medição da densidade urinária é pelo uso do urinômetro (ou
urodensímetro). Esta técnica exige uma amostra de urina maior (pelo menos 15ml) e é
influenciada pela variação de temperatura - normalmente eles são calibrados para temperaturas
ao redor de 20oC e produzem erro se a amostra estiver com temperatura diferente (a cada 3oC
acima da temperatura de calibração do aparelho, deve-se diminuir 1 unidade de densidade e vice-
versa).
Valores normais de densidade urinária: como a densidade está relacionada ao volume de urina
produzido e este está relacionado a uma série de fatores, como ingestão de água e metabolismo
corporal, é difícil estabelecer parâmetros para um animal normal. Em um animal sadio, podem
ocorrer valores de densidade entre 1001 e 1080, ou seja, o rim deve ter a capacidade de diluir a
urina até uma densidade de 1001 e concentrá-la até 1080, de acordo com as necessidades do
organismo. De modo geral, a densidade urinária para a maioria das espécies está mais
freqüentemente situada entre 1015 a 1045. Para cães, considera-se adequados valores situados
entre 1025 e 1040, e para gatos, entre 1025 e 1045. Densidade acima de 1050 em cães e acima
de 1060, em gatos, indicam desidratação severa.
De modo geral, as causas de aumento de densidade uirinária são as mesmas causas de
oligúria, enquanto que as causas de diminiução de densidade geralmente se sobrepõem às da
poliúria.
Aumentos transitórios de densidade urinária ocorrem fisiologicamente como conseqüência
da diminuição da ingesta de água. Também, aumentos de densidade podem ocorrer em vários
processos patológicos, tais como:
⇒ desidratação ⇒ febre alta ⇒ queimaduras extensas
⇒ choque hipovolêmico (se a função renal estiver presente)
A diminuição da densidade urinária (ou seja, valores entre 1001 e 1024) ocorrem
fisiologicamente como resultado do aumento da ingestão de líquidos, ou após a administração de
corticosteróides, diuréticos ou fluidoterapia.
Outras condições incluem:
⇒insuficiência renal ⇒ fase diurética da nefrose tóxica
⇒ pielonefrite crônica ⇒ nefrite aguda
⇒ diabete insípidus ⇒ hiperadrenocorticismo
⇒ piometra ⇒ diabete melitus
Doença renal crônica: a urina normalmente tem densidade entre 1008 e 1012 (isostenúria
− mesma densidade do filtrado glomerular), acompanhada de história de poliúria.
Densidade <1030 (cães) e <1035 (gatos), em animais desidratados, é considerada
concentração inadequada − investigar provável alteração renal.
Urina hipostenúrica (entre 1001 e 1007) indica que o néfron tem a capacidade de diluir a
urina; é sugestivo de ausência de ADH ou de resistência ao ADH.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 53
2.2. EXAMES QUÍMICOS

Os testes químicos na urina são facilmente realizados de retirar (secar) o excesso de


urina, para evitar que escorra urina entre um teste e outro, o que poderia interferir nos
resultados.
utilizando-se fitas reagentes. Normalmente o tempo de reação é entre 30 e 60 segundos. Deve-
se tomar o cuidado
2.2.1. pH
O pH normal da urina depende da dieta. Animais com dieta à base de vegetais produzem
urina alcalina, enquanto que animais que consomem dietas com alto conteúdo protéico ou com
proteína animal produzem urinas ácidas.
Freqüentemente as alterações no pH indicam mais uma condição sistêmica do que uma
alteração localizada no aparelho urinário. Entretanto, não deve ser utilizado para estabelecer
alterações do pH sangüíneo.
Valores normais:eqüuinos, bovinos, ovinos e caprinos: alcalina (7,5 - 8,5)
caninos e felinos: ácida (6 - 7)
suínos: ácida ou alcalina, de acordo com a dieta
jovens em lactação: ácida
Patologicamente, o aumento da acidez pode ser resultado de :
⇒ jejum prolongado ⇒ febre
⇒ acidose (uremia, diabete) ⇒ exercício prolongado
⇒ administração de acidificantes (cloreto de amônia, cloreto de sódio, cloreto de cálcio, DL-
metionina)
Urina alcalina pode ser uma decorrência de:
⇒ retenção urinária por obstrução ⇒ cistite
⇒ alcalose metabólica ou respiratória ⇒ demora na realização da urinálise
⇒ administração de alcalinizantes (bicarbonato de sódio, lactato de sódio, citrato de sódio)

2.2.2. Proteínas
A proteinúria deve ser sempre interpretada em relação com a densidade e com outros
dados clínicos e laboratoriais. Normalmente, a quantidade de proteínas na urina é inferior a
50mg/dl, o que não é suficiente para ser detectada pelo método das fitas reagentes.
O grau de proteinúria não é proporcional à gravidade do processo, principalmente na
proteinúria renal.
Fisiologicamente, podem ser percebidos traços de proteínas na urina de animais
submetidos a exercício muscular intenso, convulsões, após ingestão excessiva de proteínas e
também nos 1os dias de vida dos recém-nascidos (devido à absorção das proteínas do colostro).
Patologicamente, pode ocorrer proteinúria renal por:
⇒ nefrite (aumento de permeabilidade do glomérulo)
⇒ pielonefrite
⇒ drogas nefrotóxicas: fenol, arsênico, chumbo, mercúrio, sulfonamidas, oxacilina, agentes de
contraste iodados para raio X, anfotericina B, aminoglicosídios
⇒ congestão renal passiva: febre, toxemia, insuficiência cardíaca congestiva, ascite
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 54
A proteinúria pós-renal acontece quando a proteína atinge a urina após esta ter passado
pelos túbulos renais, por contaminação com sangue e exsudatos:
⇒ cistite ⇒ descarga vaginal ou prepucial
⇒ prostatite ⇒ pielite
⇒ uretrite ⇒ urolitíase
Observações: hemorragia pode dar alta proteína. Hemoglobina e mioglobina dão positividade na
reação para proteínas.
Proteinúria X densidade
Como baixa densidade urinária significa maior volume de urina sendo eliminado do corpo,
uma pequena reação (+) em uma urina com densidade 1010 significa que maior quantidade de
proteína está sendo perdida do que em um caso de reação similar em uma urina com densidade
1030.
Pacientes isostenúricos ou hipostenúricos podem estar perdendo quantidades significativas de
proteínas pela urina, e devido à diluição da amostra, o teste pode ser (-) ou (traços).
Valores normais
Cão e gato: densidade ≤ 1020: negativo
densidade ≤ 1035: ≤ 30mg/dl (+)
Nunca deve ser >100mg/dl (++)

Valores Concentração de
semiquantitativos proteínas (mg/dl)
Traços ≤ 30
+ 30
++ 100
+++ 300
++++ > 2000

Como pequenas quantidades de proteínas , em algumas situações, pode ser normal, deve-se
decidir se a proteinúria é significativa ou não através de dosagens repetidas. Proteinúria
transitória pode aparecer em situações como febre, exercício prolongado ou contaminação (com
sangue ou exsudato genital) e raramente é significativa.
Quando a proteinúria for persistente, deve-se suspeitar de:
⇒ hipertensão ⇒ insuficiência cardíaca congestiva direita
⇒ inflamação do trato urinário ⇒ hemorragia do trato urinário
Proteinúria associada a um sedimento inflamatório requer a resolução da inflamação para
verificar se a proteinúria persiste. A causa mais comum de proteinúria é a infecção do trato
urinário (ITU) - cistite, uretrite.
Proteinúria associada a um sedimento não-inflamatório geralmente é devido à doença
glomerular - glomerulonefrite, amiloidose.

2.2.3. Glicose
Na urina normal, não existe glicose presente. Apesar de ser filtrada no glomérulo, a
glicose é inteiramente reabsorvida nos túbulos. Entretanto, em situações nas quais a quantidade
de glicose no sangue ultrapasse o limiar de reabsorção renal, aperecerá glicosúria.
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Artefatos:
⇒ Resultados falso-negativos: - urina com formaldeído
- urina refrigerada
- grandes quantidades de vitamina C (cão)

⇒ Resultados falso-positivos: -drogas:estreptomicina, clortetraciclina, tetraciclina,


cloranfenicol

- terapia com açúcares: lactose, pentose, maltose

Causas de glicosúria
As causas de glicosúria podem ser divididas em três grupos:
2.2.3.1. A concentração de glicose no sangue excede o limiar renal
⇒ diabete melitus
⇒ stress (em gatos)
⇒ fluidoterapia com dextrose
⇒ hiperadrenocorticismo
2.2.3.1. Alteração de função tubular renal
⇒ toxicidade precoce de aminoglicosídios e anfotericina B
⇒ insuficiência renal aguda
⇒ glicosúria renal primária
⇒ em ovinos: enterotoxemia por toxina tipo D do Clostridium perfringens
2.2.3.3. Contaminação
⇒ hemorragia do trato urinário

As causas mais comuns são hiperglicemia (normalmente por diabete melitus), disfunção do
túbulo proximal renal e hemorragia do trato urinário. Em gatos, o stress emocional por medo,
excitação ou contenção leva à liberação de epinefrina, o que provoca uma hiperglicemia
transitória, conduzindo a uma glicosúria.

Valores Concentração de
semiquantitativos glicose (mg/dl)
Traços 100
+ 250
++ 500
+++ 1000
++++ > 2000

2.2.4 Corpos Cetônicos (acetona)


Os corpos cetônicos incluem o acetoacetato, acetona e ácido β-hidroxibutírico, que são
resultado da quebra de lipídios. O aparecimento dos corpos cetônicos na urina é uma decorrência
da sua acumulação no sangue.
Em pequenos animais, a principal causa de cetonúria é o diabete melitus. Entretanto, em
filhotes, febre alta e fome podem levar à cetonúria, assim como o jejum prolongado em adultos.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 56
Em herbívoros, a situação é diferente, com cetonúria se desenvolvendo em uma série de
circunstâncias onde o metabolismo de carbohidratos é insuficiente para manter as necessidades
orgânicas de carbohidratos. A cetose dos ruminantes, que ocorre em vacas de alta produção
leiteira que são submetidas a uma alimentação deficiente, ou que sofrem anorexia, é a principal
causa da cetonúria em bovinos. Em ovinos, a cetose está relacionada a gestação, prinicpalmente
gemelar, associada à hipoglicemia.

Valores Concentração de c.
semiquantitativos cetônicos (mg/dl)
Traços 5
+ 15
++ 40
+++ 80
++++ 160

2.2.5. Pigmentos Biliares


Os pigmentos biliares (bilirrubina) são formados a partir da lise fisiológica (no sistema
reticuloendotelial) das hemácias velhas. Como a bilirrubina livre é insolúvel em água e, portanto,
não pode circular no sangue, ela liga-se à albumina, formando a bilirrubina indireta (BI) ou
bilirrubina não-conjugada. No fígado, a BI é desligada da albumina e conjugada ao ácido
glicurônico, formando a bilirrubina direta (BD) ou bilirrubina conjugada, que deixa o organismo
via excreção biliar, chegando ao intestino onde é degradada pelas bactérias da flora. A ação
bacteriana origina o urobilinogênio, que é eliminado, em grande parte, junto com as fezes, com o
nome de estercobilina. É a estercobilina que dá às fezes sua coloração característica. Uma
porção do
urobilinogênio produzido no intestino é reabsorvido pela circulação portal, sendo eliminado com a
urina.
Somente a bilirrubina conjugada (direta) é detectada na urina, já que a bilirrubina não-
conjugada (indireta), que circula ligada à albumina, não atravessa o filtro glomerular.
Pigmentos biliares não são normalmente observados na urina de gatos, porcos, vacas ou
cavalos. A urina do cão pode conter pequenas quantidades (traços), principalmente se a urina tem
densidade > 1020 − isto provavelmente está relacionado a um baixo limiar renal para a bilirrubina
direta em caninos. Em felinos, a bilirrubinúria é incomum e quando presente geralmente está
associada à doença hepática.
O baixo limiar renal para a bilirrubina do cão permite seu uso como método sensível para a
detecção precoce de alterações hepatocelulares (Fig. 1) e como indicador de obstrução biliar (a
concentração de pigmentos biliares é proporcional ao grau de obstrução biliar − Fig. 2).
Entretanto, é preciso cautela, já que reações de 1+ podem aparecer em doenças febris,
associadas com o aumento de densidade urinária. Normalmente considera-se diagnóstica uma
reação de 2+ ou 3+ com densidades entre 1020-1035.
Em bovinos, a interpretação de bilirrubinúria deve ser cuidadosa, já que + 25% dos bovinos
normais apresentam traços de bilirrubina na urina.
Em eqüinos, casos de anemia hemolítica com altos níveis de bilirrubina indireta foram
observados sem se constatar a bilirrubinúria, a não ser quando fossem doenças hemolíticas
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 57
crônicas, com o desenvolvimento de hemossiderose e necrose hepática, havendo desta forma o
aumento dos níveis de bilirrubina direta.
Observação: a exposição da urina à luz produz resultados falsamente diminuídos, pois a
bilirrubina é convertida à biliverdina, que não é detectada pelo método das fitas reagentes.

2.2.6. Urobilinogênio
Este pigmento representa uma série de substâncias que reagem positivamente com o
reativo de Ehrlich. Estes pigmentos são produzidos pela redução bacteriana dos conjugados de
bilirrubina no intestino, onde eles são parcialmente absorvidos e parcialmente eliminados nas
fezes (como estercobilina).
A presença de urobilinogênio na urina significa que o ducto biliar está aberto e indica que
há circulação entero-hepática de pigmentos biliares.
A ausência de urobilinogênio em uma única amostra não reflete necessariamente a
obstrução completa do ducto. Só deve ser considerada significativa se for observada por
diversos dias. A diminuição da atividade bacteriana sobre a bilirrubina no intestino, como
conseqüência de antibioticoterapia, ou presença de diurese associada à doença renal crônica
podem diluir o urobilinogênio para níveis inferiores à sensibilidade do teste das fitas reagentes,
que não é muito alta.
Em animais com dano hepatocelular, um defeito na re-excreção do urobilinogênio na
secreção biliar resulta num maior escape destes pigmentos para a circulação e,
consequentemente, na urina (Fig. 20). Também, o urobilinogênio urinário poderá estar aumentado
em associação com doenças hemolíticas (Fig. 22).
Observação: a exposição da urina à luz produz resultados falsamente diminuídos, pois o
urobilinogênio é convertido à urobilina, que não é detectada pelo método das fitas reagentes.

Figura 20:

Em casos de dano hepatocelular, existe uma falha


na re-excreção do urobilinogênio que foi
reabsorvido do intestino, que então pode ser
eliminado por via renal em quantidades maiores
que o normal. A eliminação de bilirrubina conjugada
na bile pelo fígado lesado torna-se pouco
eficiente, e este pigmento, acumulando-se no soro,
será eliminada na urina.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 58
Figura 21:

Em situações em que existe a obstrução do ducto


biliar, a bilirrubina conjugada produzida no fígado
não pode ser eliminada na bile, e então acumula-se
no soro, sendo eliminada na urina. Como a
bilirrubina conjugada não chega até o intestino, não
pode ser transformada em urobilinogênio, que
desaparece da urina.

Figura 22:

Em casos de hemólise aumentada, aumenta a


formação de bilirrubina livre, aumenta a conjugação
hepática e a eliminação desta última no intestino,
onde a quantidade de urobilinogênio formado
também será maior do que a normal. Desta forma, a
quantidade de urobilinogênio que será reabsorvido
pelo sistema porta também será maior e,
consequentemente, os níveis urinários de
urobilinogênio estarão aumentados.

2.2.7. Hemoglobina
As tiras reagentes utilizadas normalmente reagem positivamente com hemoglobina,
mioglobina e, em menor intensidade, com as hemácias intactas. É importante diferenciar
hematúria de hemoglobinúria, já que a hemoglobinúria é um processo sistêmico, enquanto que a
hematúria normalmente está associada a algum processo genitourinário.
Observação: hematúria, em urinas diluídas ou alcalinas, pode ser confundida com
hemoglobinúria, pois as hemácias sofrem lise; no sedimento observam-se estruturas semelhantes
a “células-fantasmas”.
Causas:
Hematúria: ⇒ pielonefrite, pielite, ureterite, cistite
⇒ trauma de bexiga, rim ou uretra
⇒ prostatite
⇒ neoplasias de rim, bexiga, próstata, pênis ou vagina
⇒ congestão renal passiva
⇒ parasitas
⇒ tóxicos (arsênico, mercúrio, cobre)
⇒ trombocitopenia
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 59
⇒ estro, pós-parto
Em cães, a causa mais comum é a ITU (infecção do trato urinário); em gatos, é a SUF
(síndrome urológica felina).
Hemoglobinúria: ⇒ hemólise excessiva
⇒ leptospirose
⇒ babesiose
⇒ anaplasmose
⇒ agentes hemolíticos químicos (cobre, mercúrio)
⇒ transfusão sangüínea incompatível
⇒ doenças hemolíticas
⇒ Clostridium haemolyticum pode causar hemoglobinúria bacilar
Mioglobinúria: ⇒ trauma muscular agudo
⇒ hipertermia
⇒ miosite

2.2.8. Nitrito
O normal é ser negativo. Na presença de bactérias que convertem nitrato a nitrito (deve
haver pelo menos 4 horas de crescimento bacteriano), poderá ser positivo. Não foi estabelecido
se é um indicador válido para uso veterinário. Se houver positividade, deve-se buscar bactérias
no exame do sedimento e/ou indicar uma cultura bacteriana.

2.3. EXAME DO SEDIMENTO

A urina produzida por indivíduos sadios normalmente contém um pequeno número de


células e outros elementos formados ao longo de todo o trato genito-urinário, tais como
cilindros, muco ou espermatozóides.
O exame microscópico da urina é de importância clínica e nunca deve ser descartado,
mesmo em amostras de urina límpidas e aparentemente normais ao exame físico.
Como o sedimento da urina se altera rapidamente após a micção, deve-se realizar a análise
tão logo seja possível, ou então deve-se tomar medidas de precaução, como por exemplo
refrigeração da amostra.

2.3.1. Técnica
Normalmente existe a necessidade de concentrar os elementos presentes na urina antes
de se realizar o exame microscópico. A interpretação adequada do exame do sedimento depende
tanto da técnica de colheita quanto da técnica de examinação.
O laboratório deve estabelecer padrões para a realização do exame. O volume de urina
utilizado deve ser sempre constante (em geral, utiliza-se 10ml). A velocidade e o tempo de
centrifugação também devem ser os mesmos para todos os exames
Utiliza-se um volume de 10ml de urina, colocada em um tubo de fundo cônico,
centrifugando-se em baixa velocidade (1000 - 1500 rpm), por um período de 5 a 10 minutos.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 60
Após a centrifugação, observa-se o aspecto, coloração e quantidade de material
sedimentado, assim como a coloração do líquido sobrenadante. Em urinas turvas, o sobrenadante
é utilizado para a medição da densidade com refratômetro.
Para a avaliação do sedimento, despreza-se o sobrenadante e ressuspende-se o depósito
com o líquido que restou nas paredes do tubo. Coloca-se uma gota deste material entre lâmina e
lamínula e então se faz a observação ao microscópio.
Observa-se primeiramente em pequeno aumento (aumento de 100x), avaliando a
quantidade de elementos e sua distribuição sob a lamínula, bem como a presença de estruturas
maiores, como cilindros, muco, cristais, agrupamentos de células e, ainda, a impregnaçào por
pigmentos biliares. Em grande aumento (400x) é feita a identificação dos tipos celulares, a
verificação da presença de bactérias e a quantificação aproximada de cada elemento em sua
média de 10 campos da lamínula, escolhidos aleatoriamente.
Como a quantificação dos elementos observados no sedimento é apenas uma aproximação,
isto deve ser levado em consideração no momento da interpretação.

2.3.2. Interpretação
O sedimento urinário pode ser dividido em orgânico (ou organizado), que compreende
todos os tipos celulares, inclusive espermatozóides, bactérias, fungos, leveduras e cilindros, e
em inorgânico (ou não-organizado), que inclui cristais, pigmentos e gotículas de gordura.
Quando se avaliar o número de elementos celulares do sedimento, deve-se levar em conta
a densidade de urina. Um grande número de elementos celulares por unidade de volume pode ser
esperado em uma urina bastante concentrada, enquanto que o mesmo número de células em uma
urina diluída pode ser um indicativo de alguma patologia.

2.3.2.1. Leucócitos
Valores normais: 0 - 3/campo de grande aumento (cga) − urina colhida por cistocentese
0 - 5/cga − cateterização
0 - 7/cga − micção espontânea
Os leucócitos aparecem na urina normal por diapedese ao longo do trato urinário.
Neutrófilos aparecem na urina como células esféricas e granulares, um pouco maiores que
as hemácias. Em urinas alcalinas, os leucócitos têm a tendência de se agruparem em grumos. A
degeneração celular é freqüente.
A presença de um número aumentado de leucócitos na urina é denominada piúria.
Causas de piúria:
⇒ Contaminação com secreções prepuciais ou vaginais − nestes casos, a obtenção de uma
amostra de urina por cistocentese elimina a contaminação com material e genital e a
inflamação uretral.
⇒ Infecção do Trato Urinário (ITU): pielite, ureterite, cistite − é a causa mais comum de piúria
persistente. Observar a presença de bactérias. Cultura para bactérias, fungos e Mycoplasma
estão indicados.
⇒ Neoplasia
⇒ Urolitíase
⇒ Nefrite intersticial aguda
⇒ Febre e exercício podem produzir piúria transitória.
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2.3.2.2. Hemácias
Valores normais: 0 - 5/cga.
Os eritrócitos se apresentam como células esféricas ou bicôncavas, que freqüentemente
se movimentam sob a lamínula. Em urina muito concentradas, podem se apresentar crenadas; em
urinas muito diluídas, freqúentemente estão “inchadas”, abalonadas, aparecendo como anéis
incolores.
Em urinas hipostenúricas (D < 1007) ou muito ácidas (pH < 5,5) ou muito alcalinas (pH > 8),
a hemólise ocorre muito rapidamente.
Causas de hematúria:
⇒ Contaminação com secreções vaginais ou prepuciais (estro, tumor venéreo transmissível em
cães) hemorragia provocada na colheita.
⇒ ITU − é a causa mais comum.
⇒ Inflamação asséptica − em felinos, síndrome urológica felina (SUF) é a causa mais comum.
⇒ Coagulopatias
⇒ Doença prostática
⇒ Trauma − exógeno, cirúrgico, cálculos
⇒ Neoplasia
⇒ Leptospirose
⇒ Infarto renal
⇒ Parasitas
⇒ Glomerulonefrite (raro)

2.3.2.3. Células Epiteliais


As células epiteliais que podem estar presentes no exame do sedimento são agrupadas em alguns
grupos:
a. Células epiteliais escamosas (ou de descamação ou de pavimentação): originárias da uretra e
trato genital.
b. Células epiteliais de transição: originárias da bexiga
c. Células de pelve: oriundas da pelve renal.
d. Células renais: são as células dos túbulos renais.
e. Células neoplásicas: observadas em alguns casos de neoplasias do trato urinário e de próstata.
As células epiteliais são vistas em pequeno número na urina de animais normais e estão
aumentadas em casos de cistite ou outro processo inflamatório ou irritativo urogenital.
A presença de grandes números de células junto com cilindros é sugestivo de degeneração
tubular ativa. Na necrose tubular aguda pode-se observar agregados de células renais.
A cateterização agressiva pode levar à descamação de células epiteliais da uretra e
bexiga.
Em neoplasias do trato urinário ou em alguns casos de neoplasias prostática podem ser
observadas células neoplásicas.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 62
2.3.2.4. Microorganismos
Bactérias, fungos, leveduras e protozoários podem ser observados na urina. As bactérias
são observadas como pequenos organismos que se movimentam (oscilam), em movimentos
brownianos.
O significado da presença de bactérias deve ser relacionado ao modo de colheita e ao
tempo pós-colheita (idade da urina). em urinas colhidas assepticamente (por cistocentese ou
cateterização) a presença de bactérias é indicativo de infecção (a mais comum é a cistite,
seguida pela pielonefrite). Infecção genital contamina a amostra colhida por micção espontânea.
A presença de bactérias em amostras de urina que tenham ficado em temperatura ambiente não
tem significado clínico.
A bacteriúria é expressa como escassa, moderada e acentuada (ou abundante).
Leveduras: a mais comum é a Candida albicans. O seu aparecimento na urina de animais
domésticos geralmente é como contaminante, já que a infecção por cândida é rara.
Fungos: aparecem hifas (formas filamentosas). São contaminantes externos comuns, que
normalmente não têm importância clínica.
Protozoários: a infecção do trato urinário por protozoários, em medicina veterinária, é
rara. O aparecimento de protozoários no sedimento urinário normalmente indica contaminação
fecal.

2.3.2.5. Cilindros
Cilindros são estruturas proteináceas formadas nos túbulos renais, principalmente no
túbulo distal, ramo ascendente da alças de Henle e túbulo coletor, que são os locais onde a urina
atinge picos de concentração e acidez, o que favorece a precipitação de proteínas. Além disso, a
matriz dos cilindros é uma mucoproteína, que é secretada pelas células tubulares destes locais.
Valores normais: 0 - 1 cilindro granuloso/cga
0 - 2 cilindros hialinos/cga
A interpretação deve ser feita em conjunto com a densidade. A presença de número
moderado de cilindros em urina diluída tem tanto significado clínico quanto números altos em
urinas concentradas.
A presença de grandes números de cilindros é sempre um indicador de lesão renal, ainda
que processos irritativos temporários e congestão renal possam resultar no aparecimento de
cilindrúria transitória.
Grandes números de cilindros também podem aparecer na urina de animais que
manifestassem diminuição de perfusão renal − neste caso, são um bom sinal, indicativo do
retorno da função renal em animais que estavam com anúria ou oligúria.
Os cilindros se dissolvem rapidamente na urina, ainda mais se a urina for manuseada muito
vigorosamente. Em urinas alcalinas, os cilindros se dissolvem.
Existem vários tipos de cilindros:
a. Cilindros Hialinos: formados de proteína e mucoproteína. Aparecem somente em urinas
ácidas. Podem ser encontrados durante diurese pós-reidratação, ou em animais com proteinúria.
É o menos significativo dos cilindros.
b. Cilindros Granulosos: contêm grânulos, finos ou grossos, que são derivados da desintegração
de células ou das proteínas do epitélio tubular. É o mais comumentemente observado, já que
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 63
várias doenças renais podem produzi-los. Podem ser observados após a reidratação de um
paciente severamente desidratado.
c. Cilindros Céreos: são indicativos de lesões crônicas. Representam cilindros granulosos
degenerados.
d. Cilindros Epiteliais: formados pela descamação das células epiteliais dos túbulos renais, ou
seja, são cilindros com células renais. Geralmente indicam doença renal severa, como intoxicação
por metais pesados (chumbo, mercúrio), hipóxia tubular ou insuficiência renal oligúrica aguda, de
qualquer causa.
e. Cilindros Eritrocitários: são indicativos de hemorragia nos túbulos renais, que pode ser
originária tanto do glomérulo quanto do túbulo. Podem estar associados a trauma renal e infarto
renal. São raros.
f. Cilindros Leucocitários: indicam a presença de um processo supurativo renal (pielonefrite,
abcesso renal).
g. Cilindros Gordurosos: estão associados à doença tubular com deposição de material lipídico
nos túbulos renais. São observados ocasionalmente em cães com diabete melitus. São o tipo mais
freqüente em gatos com doença renal.

2.3.2.6. Espermatozóides
A presença de espermatozóides indica contaminação com sêmen. São comumente
observados na urina de cães machos, colhida por cateterização. Como o sêmen é um material
proteináceo, conforme a intensidade da contaminação, o exame químico da urina vai apresentar
reação positiva para proteínas.

2.3.2.7. Parasitas
Podem ser observados ovos de alguns parasitas no exame do sedimento urinário:
⇒ Capillaria plica: parasita a bexiga de gatos, cães e raposas.
⇒ Stephanurus edentatus: parasita o rim de suínos.
⇒ Dioctophyma renale: parasita gigante do rim de caninos.
Outros ovos que não sejam destes parasitas significam contaminação fecal.

2.3.2.8. Cristais
O aparecimento de cristais na urina só tem significado clínico em alguns casos específicos,
já que a formação dos cristais depende de uma série de fatores extra-orgânicos, que devem ser
cuidadosamente avaliados na interpretação de uma cristalúria. A condição que normalmente mais
diz respeito à importância da cristalúria é a urolitíase, em que se faz uma estimativa da
composição do urólito pelo tipo de cristal que aparece no sedimento. Entretanto, mesmo nestes
casos, é necessário cautela, pois os urólitos freqüentemente são formados por um núcleo com um
tipo de mineral e as camadas externas por outros.
Uma limitação da perfeita avaliação das cristalúrias é a dificuldade na identificação do
cristal no exame do sedimento urinário, já que este processo baseia-se quase que
exclusivamente na forma do cristal, a qual é bastante variável ao longo do seu processo de
formação.
A formação de cristais depende do pH da urina, da temperatura da urina, da solubilidade e
da concentração das substâncias cristalóides. Muitas vezes, uma urina límpida logo após a
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 64
micção, torna-se turva quando deixada em repouso, pela precipitação de cristasi. Outras vezes,
amostras de urina límpida, quando refrigeradas, tornam-se turvas pela precipitação de cristas,
que voltam a se fundir quando a urina é reaquecida à temperatura ambiente.
Alguns cristais têm seu aparecimento mais ou menos restrito ao pH da urina. Assim, em
urinas alcalinas, podem estar presentes os cristais de fosfato triplo, fosfato amorfo, carbonato
de cálcio e biurato de amônia. Em urinas ácidas, poderão aparecer os cristais de ácido úrico,
ácido hipúrico e uratos amorfos, além de cristais de oxalato de cálcio.
⇒ Cristais de fosfato triplo e fosfatos amorfos não têm grande significado clínico. São
freqüentes em gatos com SUF.
⇒ Cristais de carbonato de cálcio são normais na urina de eqüinos.
⇒ Cristais de biurato de amônia (ou urato de amônia) são indicativos de hiperamonemia,
ou seja, o acúmulo de amônia no sangue, causado pela presença de shunts porto-sistêmicos, que
tanto podem ser congênitos quanto decorrentes de cirrose hepática.
⇒ Cristais de uratos amorfos, ácido úrico e ácido hipúrico são comuns na urina de cães
Dálmatas (predisposição racial).
⇒ Cristais de oxalato de cálcio aparecem em casos de nefrite tóxica aguda em cães,
principalmente, provocada pela intoxicação com etileno glicol.
⇒ O aparecimento de cristais de leucina e tirosina está associado à insuficiência hepática
aguda.
⇒ Cristais de cistina (raramente observados) indicam distúrbios no metabolismo das
proteínas.

2.3.2.9. Filamentos de muco


Geralmente indicam contaminação com material do trato genital. Na urina de eqüinos são
comuns.

2.3.2.10. Gotículas de Gordura


Aparecem como corpos redondos, refráteis, de vários tamanhos. Na maioria das vezes
representam o uso de lubrificantes no catéter. Também podem aparecer associado à obesidade,
com diabete melitus e em animais submetidos a uma dieta muito rica em gordura. Em gatos, a
lipúria é um acontecimento mais ou menos comum, e está relacionada à lipidose dos túbulos
renais.

2.3.3. Observações mais freqüentes na urinálise de algumas doenças

2.3.3.1. Doença renal aguda


⇒ densidade normal ⇒ proteinúria
⇒ cilindros ⇒ leucócitos
⇒ hemácias

2.3.3.2. Doença renal crônica


⇒ densidade baixa ⇒ pH baixo (ácido)
⇒ cilindros ausentes ou raros
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2.3.3.3. Cistite
⇒ proteinúria (pós-renal) ⇒ bacteriúria
⇒ leucocitúria ⇒ pH pode ser alcalino
⇒ hematúria discreta (nem sempre) ⇒ células aumentadas

2.3.3.4. Neoplasias
⇒ hematúria (nem sempre) ⇒ células neoplásicas

2.3.3.5. Doenças hemolíticas


⇒hemoglobinúria ⇒ urobilinogênio aumentado

2.3.3.6. Diabete melitus


⇒ glicosúria ⇒ cetonúria
⇒ densidade baixa (geralmente) ⇒ podem aparecer fungos na urina

2.3.3.7. Diabete insipidus


⇒densidade baixa (geralmente hipostenúria)

2.3.3.8. Leptospirose
⇒ pigmentos biliares aumentados ⇒ cilindrúria (normalm. cilindros granulosos)
⇒ densidade de normal à baixa ⇒ hematúria discreta
⇒ células

3. PROVAS DE FUNÇÃO RENAL

Exames bioquímicos para avaliar função renal só são indicados após a realização de um
exame clínico detalhado e após a interpretação cuidadosa da urinálise.
Os exames bioquímicos realizados com a finalidade de avaliar o funcionamento renal são as
dosagens de uréia e de creatinina.

3.1 Uréia
A uréia ou BUN (de Blood Urea Nitrogen) é formada no fígado, pela ação da arginase no
ciclo da uréia, e é o principal produto final do metabolismo protéico. Como tem um baixo peso
molecular, a uréia difunde-se pelos fluidos orgânicos e é totalmente filtrada no glomérulo. Cerca
de 25 a 40% da uréia filtrada é reabsorvida nos túbulos, dependendo da velocidade do fluxo
urinário (quanto mais veloz, menor o percentual de reabsorção). Cerca de 60% da uréia é
eliminada na urina.
Na diminuição da filtração glomerular haverá retenção da uréia, com conseqüente aumento
da sua concentração sérica. Para que exista o acúmulo de uréia no sangue, por processo renal, é
necessário que pelo menos ¾ dos néfrons estejam afuncionais.
A concentração da uréia sérica pode ser afetada por outros fatores extra-renais, como
dieta rica em proteínas, hemorragia gastro-intestinal, febre ou trauma generalizado e ainda o
uso de corticosteróides ou de tetraciclinas.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 66
O aumento dos níveis séricos de uréia podem ser agrupados em causas pré-renais, renais
ou pós-renais. A diminuição do fluxo sangüíneo renal, diminuição da pressão glomerular,
hipotensão severa, insuficiência cardíaca, desidratação levam à diminuição da pressão de
filtração renal, levando a um aumento de uréia por causas pré-renais. Quando ¾ dos néfrons
estão afuncionais, existe o aumento dos níveis da uréia por causas renais. casos de obstrução
das vias urinárias ou de ruptura de bexiga levam ao aumento da uréia sérica por problemas pós-
renais.
Os níveis séricos de uréia podem estar diminuídos por problemas na síntese (insuficiência
hepática ou dieta com restrição protéica) ou por excesso de eliminação (poliúria/polidipsia,
hiperadrenocorticismo, diabete melitus, hiper-hidratação).
Valores normais: em geral, entre 15 - 30mg/dl (cães e gatos).

3.2 Creatinina
A creatinina é formada no metabolismo da creatina e da fosfocreatina musculares. Seu
nível sérico não é afetado pela dieta do animal. A creatinina é totalmente eliminada pelo
glomérulo, não sendo reabsovida nenhuma porção a nível tubular. As causas de aumento da
creatinina sérica podem ser divididas em pré-renais, renais e pós-renais, e se equivalem àquelas
citadas para a uréia.
Normalmente os níveis de uréia aumentam antes da creatinina. Apesar disso, se não
houver condições de realizar a dosagem das duas, deve-se optar pela dosagem de creatinina,
que é afetada somente por alterações na capacidade de filtração do rim.
Valores normais: 0,5 - 1,5mg/dl (cães)
0,4 - 2,0mg/dl (gatos).

AZOTEMIA X UREMIA

A azotemia representa o aumento da concentração de substâncias nitrogenadas não-


protéicas (uréia e creatinina) no sangue. Nestas situações, caracteriza-se que o animal tem uma
doença renal, mas ainda não manifestou os sinais clínicos disso.
Quando o animal tem azotemia e manifesta sinais clínicos como: vômitos, ulcerações da
mucosa oral, diarréia, prostração, hálito urêmico, caracteriza-se o quadro de uremia.
As causas de azotemia ou de uremia dividem-se em pré-renais, renais e pós-renais, e são
aquelas citadas para uréia e creatinina.
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Patologia Clínica Veterinária – UFPel –

EXAME DE DERRAMES CAVITÁRIOS

1. INTRODUÇÃO

Os órgãos abdominais e torácicos são normalmente banhados e lubrificados por uma


pequena quantidade de fluído, que tem a função de lubrificação da membrana serosa que os
reveste ,evitando o atrito entre as vísceras e entre elas e a parede. Este líquido é
essencialmente um ultrafiltrado do sangue.
Geralmente este líquido lubrificante possui baixo teor protéico, densidade abaixo de 1015
e contém uma pequena quantidade de fibrinogênio,porém não coagula. A população
Celular é normalmente baixa, consistindo principalmente de células mesoteliais, mas podendo
ser encontrados alguns leucócitos e hemácias.
A taxa de produção deste fluído é controlada por um balanço entre a entrada de líquidos
nos compartimentos extracelulares e a sua taxa de drenagem.Tanto o aumento do influxo
quanto a diminuição da drenagem, ou uma combinação de ambos, podem conduzir à acumulação
de líquidos.
O aumento do influxo pode ser devido ao extravazamento de fluído a partir de vasos
(sangüíneos ou linfáticos) comprometidos, por alterações nas forças de Starling
microvasculares (diminuição da pressão oncólica ou aumento da pressão hidrostática) e ainda
por aumentos de permeabilidade vascular (inflamações). Menos comumente, a ruptura de um
compartimento normal de fluídos (bexiga, vesícula biliar) pode levar à acumulação de fluídos.
O comprometimento da drenagem de fluídos é geralmente decorrente de alterações no
sistema linfático.
Desta forma, o acúmulo de líquidos em qualquer cavidade é um indicador de um processo
patológico do sistema de produção e/ou remoção, ou uma acumulação a partir de uma origem
específica.

A análise do fluído encontrado em derrames cavitários, incluindo a avaliação citológica e


classificação, é um método fácil, rápido e relativamente seguro de se obter informações para
o diagnóstico, prognóstico e tratamento da doença causal.

2. TÉCNICAS DE COLHEITA

2.1 Toracocentese
As efusões pleurais são tipicamente abundantes e bilaterais, mas podem ser discretas,
unilaterais e/ou compartimentalizadas (principalmente em pequenos animais). Se o derrame não
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 68
for compartimentalizado, a toracocentese é realizada ventralmente, na altura da junção
costocondral, ao nível do sétimo e nono espaço intercostal
O animal é contido em decúbito esternal ou em estação. O local da punção deve ser
depilado, lavado e a pele desinfetada com um antisséptico.
O uso de um cateter de teflon¹, intravenoso, de calibre 18 a 20 G é preferido ao uso de
agulhas, já que é permitida a retirada da agulha logo após a perfuração da parede torácica,
diminuindo o risco de lesar acidentalmente os órgãos intratorácicos. Como alternativa, pode-se
utilizar um butterfly de mesmo calibre, já que estes apresentam uma agulha curta. Deve ser
adaptado ao cateter ou ao butterfly uma torneira de três vias, fechada para o paciente, antes
da punção. O catéter deve ser introduzido junto ao bordo cranial da costela,para evitar a
perfuração dos vasos intercostais, que se localizam junto ao bordo costal caudal. Após ter
atingido o espaço pleural, redirecionar o cateter cranial ou caudalmente, para que a sua ponta
não fique voltada diretamente para o parênquima pulmonar.
Adaptar à torneira de três vias uma seringa de 10 ou 15 ml.. Abrir a torneira, permitindo a
passagem seringa/paciente e aplicar uma pressão negativa de ±5ml., para provocar a saída de
líquido do tórax. Antes de ser retirada a seringa, a torneira deve ser fechada para o paciente.
Repetir a manobra tanto quando for necessário para obter a amostra.
A amostra de líquido obtida deverá ser acondicionada em frasco com anticoagulante² para
a realização da contagem global de células. Se houver necessidade de realizar-se algum exame
bioquímico no material, deve ser acondicionada também uma amostra sem anticoagulante.
Havendo necessidade, preparar também uma amostra, sem anticoagulante e em frasco estéril,
para ser realizada cultura microbiana.

2.2 Abdominocentese
Existem várias técnicas descritas para a realização da colheita de líquido abdominal em
pequenos animais. A linha ventral média do abdômen, 1 ou 2 cm caudal à cicatriz umbelical,
costuma ser o ponto mais indicado para a realização da punção, já que evita a gordura do
ligamento falciforme, que pode obstruir facilmente a agulha. Entretanto, muitos profissionais
preferem fazer a punção lateral a linha média em 1 ou 2 cm, evitando assim a perfuração da linha
Alba. O motivo é que a linha Alba não se retrai após a retirada da agulha, ficando um orifício
aberto pó algum tempo, podendo servir como porta de entrada e também, em casos de efusões
abdominais muito abundantes, permitir uma drenagem indesejada do líquido retido na cavidade
abdominal após a retirada da agulha. Já a musculatura abdominal se retrai rapidamente após a
retirada da agulha..
O local escolhido para a realização da punção deve ser preparado e limpo com um
antisséptico. Geralmente não é necessário o uso de tranqüilizantes nem de anestesia local, mas a
contenção do animal deve ser eficiente.
O esvaziamento prévio da bexiga é uma boa medida para prevenir uma cistocentese
acidental. É útil fazer a punção deslocando lateralmente a pelo da região, desencontrando o local
da punção da pele com o da parede após a retirada da agulha.
Com o animal em decúbito lateral ou em estação, realiza-se a punção, utilizando-se uma
agulha de calibre 20 G (25x9) ou um cateter endovenoso de teflon¹ do mesmo calibre. Se
existir uma cicatriz cirúrgica na região, a punção deve ser realizada pelo menos 1,5cm. afastada
do local, para evitar as vísceras abdominais que eventualmente possam estar aderidas à parede
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 69
na região cicatricial. Normalmente não é necessário utilizar uma seringa para aspirar os líquidos
acumulados no abdômen, mas é uma opção. Entretanto, quando se utilizar seringa, a pressão
negativa aplicada deve ser suave, pois é fácil aspirar omento ou outro conteúdo abdominal,
obstruindo a abertura da agulha e impedindo a drenagem do líquido.
Outra técnica de colheita é a que utiliza um cateter de diálise peritonial, inserido na porção
caudal do abdômen. Este é tido como o melhor método para a colheita de fluídos. A área média
ventral do abdômen é preparada para a inserção do cateter, 1 ou 2 cm caudal à cicatriz
umbelical. O paciente é mantido em decúbito dorsal e o local da punção, da pele até a fáscia e
peritônio, é infiltrado com lidocaína 1%. Uma pequena incisão é feita na pele e o catéter com
trocarte é inserido no abdômen caudal. O estilete é então removido. O cateter é posicionado
com uma orientação dorsocaudal. Deve-se tomar cuidado nomomento da inserção para não
lesionar os órgãos abdominais com o estilete do trocante, aprofundando a inciso da pele até a
linha Alba.
Para grandes animais, o local de escolha para a punção é a porção mais ventral do abdômen.
Em eqüinos, pode-se optar por puncionar o ponto médio entre a cicatriz umbelical e o apêndice
xifóide do esterno. A pele deve ser preparada conforme já citado para pequenos animais.
Utilizam-se agulhas 40x15.
O material obtido pela abdominocentese deve ser acondicionado da mesma forma como
citado para amostras de toracocentese.

3 CARACTERIZAÇÃO DAS EFUSÕES

As avaliações feitas rotineiramente para a classificação dos tipos de efusões incluem a


anotação da cor e aspecto do líquido, medida da densidade, medida da concentração de
proteínas, contagem de células nucleadas totais e contagem diferencial.

3.1 Cor e aspecto


A observação da cor e do aspecto da amostra geralmente já encaminham o clínico para
uma suspeita. Amostras incolores e límpidas normalmente representam transudatos puros,
enquanto que amostras turvas podem ser transudatos modificados ou exsudatos. O grau de
turbidez da amostra geralmente está relacionado ao número de células desta amostra – quanto
maior a turbidez, maior a celularidade. A cor avermelhada normalmente está relacionada com a
presença de maiores quantidades de hemácias.

3.2 Densidade
A densidade da amostra pode ser medida rapidamente através de um refratômetro,
servindo como uma estimativa da quantidade de sólidos em suspensão. Em amostras turvas ou
quilosas, a medida da densidade pode estar falsamente alterada. É ideal realizar a medida de
densidade do sobrenadante após centrifugação destas amostras.

3.3 Proteínas
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 70
A medida da concentração de proteínas pode ser realizada por colorimentria, utilizando-
se kits bioquímicos ou com o uso de um retratômetro, que é um método mais rápido e barato e
que produz resultados bastante confiáveis.

3.4 Contagem de células nucleadas totais (CNT)


A contagem de células nucleadas totais é realizada utilizando-se a amostra com
anticoagulante, bem homogenizada, com a mesma metodologia utilizada para a contagem de
leucócitos, em câmara de Neubauer. A utilização do hemocilômetro em preferência aos
contadores automáticos de células deve-se ao fato que este tipo de material geralmente contém
muitos debris celulares e grumos de células, que produzem resultados falsos quando realizados
em medidores automáticos.

3.5 Contagem diferencial de células


Amostras pobremente celulares devem ser concentradas por centrifugação antes da
preparação da lâmina para contagem diferencial. Somente quando a CNT for superior a 2000
cels/µl é que se torna viável a avaliação do material não concentrado.
A amostra deve ser corada com a coloração usada na rotina em hematologia, e que pode
ser desde panóptico rápido ou outras colorações tipo Romanowski, como os corantes de Glemsa
Wright ou Leishmann. Um corante supravital, tal como o Novo azul de metileno ou o Azul de
cresil brilhante também pode ser utilizado, principalmente em casos em que se deseja um maior
detalhamento das características nucleares, como em casos de suspeita de neoplasias.
Os tipos celulares mais comuns são as células mesoteliais , macrófagos e neutrófilos,
apesar de que outros tipos celulares, tais como eosinófilos, mastócitos, linfócitos e também
células neoplásticas possam ocorrer.

3.5.1 CÉLULAS MESOTELIAIS: as células mesoteliais revestem as superfícies torácica,


abdominal e visceral, e estão presentes em números variáveis na maioria das efusões. São células
grandes, redondas, com núcleo redondo ou ovalado, apresentando-se muitas vezes multinucleadas
e com citoplasma basofílico. Estas são chamadas de células mesoteliais reacionais e podem se
apresentar individualmente, em agragados ou em linha. Elas não devem ser confundidas com
células neoplásicas. As células mesoteliais tendem a hipertrofiar, proliferar e exfoliar sempre
que existe acumulação de fluído na cavidade. Após algum tempo em exposição ao líquido, estas
células sofrem modificações morfo-funcionais, passando a realizar fagocitose e a assumir um
aspecto bastante semelhante aos macrófagos. A diferenciação entre células mesotelias
transformadas e macrófagos é bastante difícil e de pouca utilidade clínica.

3.5.2 MACRÓFAGOS: são células grandes, com um núcleo único ovalado ou em forma de
rim (ainda que multinucleação e formato nuclear variável possamocorrer), citoplasma azulado e
com vacúolos, podendo apresentar material fagocitado. É um dos tipos celulares mais
freqüentemente encontrados nos derrames cavitários.

3.5.3 NEUTRÓFILOS: estão presentes em algum grau na maioria das efusões e tendem a
predominar nos derrames associados com inflamação. Citologicamente, existem duas
classificações gerais para os neutrófilos: degenerados e não-degenerados. Neutrófilos
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 71
degenerados são aqueles que sofreram degeneração hidrópica, queé uma alteração local
provocada geralmente por toxinas bacterianas, que alteram a permeabilidade damembrana
destas células. Eles são caracterizados por apresentarem núcleo inchado, frouxo,que se coraem
um padrão eosinofílico homogêneo.Neutrófilos não-degenerados são aqueles que apresentam um
padrão de cromatina nuclear fortemente agregado e basofílico, como o apresentado no sangue
periférico. Alguns destes neutrófilos podem ser hipersegmentados, o que é uma decorrência da
idade (tempo de permanência no local) da célula. A presença de neutrófilos não-degenerados
sugere que a efusão não é séptica, ainda que agentes infecciosos não bacterianos (Ehrlichia,
Toxoplasma) ou bactéruias que não produzem toxinas fortes (família dos Actinomycetos –
Nocardia, Actinomyces) yambém possam ocorrer com a presença de neutrófilos não-
degenerados.

3.5.4 LINFÓCITOS: estão presentes em pequeno número em muitas efusões e podem


ser o tipo predominante em efusões quilosas, pseudoquilosas e linfossarcomatosas. Nos dois
primeiros casos geralmente se apresentam como pequenos linfócitos, com citoplasma escasso de
cor azul-claro e núcleo redondo ou em forma de feijão.

3.5.5 EOSINÓFILOS: Podem estar presentes em algumas efusões e caracterizam-se


pelos grânulos de tamanho variável, de cor alaranjada. Podem ser vistos principalmente em
efusões provocadas por mastocitomas, parasitas cardíacos, reações alérgicas e
hipersensibilidade. Eosinofilia periférica pode ou não estar presente.

3.5.6 MASTÓCITOS: são facilmente identificados pelos seus grânulos de cor vermelho-
púrpura. Podem ser observados em pequeno número em efusões de cães e gatos com diferentes
processos inflamatórios ou em grandes números em casos de mastociforma.

3.5.7 ERITRÓCITOS: podem aparecer em efusões secundárias a hemorragias intra-


cavitárias ou como contaminantes (sangue periférico) no momento da punção. A diferenciação
entre estas duas ocorrências é importante, e existem algumas pistas a serem seguidas: a
presença de plaquetas indica contaminação recente com sangue, enquento que a presença de
eritrofagocitose indica que este sangue já está na cavidade há pelo menos algumas horas.
OBSERVAÇÃO: as causas mais comuns de derrames hemorrágicos são defeitos hemostáticos,
trauma, infecção com parasitas cardíacos e neoplasias. A diferenciação entre derrame
hemorrágico ou contaminação na colheita é de importância diagnóstica; sempre que for colhida
uma amostra de derrame cavitário francamente hemorrágica, a punção acidental de alguma
víscera abdominal (baço, principalmente), punção de um vaso calibroso ou então hemorragia intra
cavitária devem ser consideradas. Nos dois primeiros casos, geralmente o hematócrito da
amostra é igual ou superior ao do sangue periférico.Em casos de hemorragia intra cavitária
severa, sinais clínicos de perda aguda de sangue serão evidentes.

3.5.8 CÉLULAS NEOPLÁSICAS: podem ser observadas em efusões com diferentes tipos
de neoplasias. Tumores epiteliais (carcinomas e adenocarcinomas), linfossarcomas,
mastocitomas, hemangiossarcomas e mesoteliomas podem exfoliar bom número de células para
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 72
dentro da cavidade torácica ou abdominal. A identificação da célula neoplásica depende da
habilidade do observador em reconhecer os sinais celulares de malignidade.

3.6 Outros
A contagem de eritrócitos e o microhematócrito são realizados ocasionalmente, com o
propósito de avaliar a quantidade de sangue presente na amostra. A principal indicação desta
dosagem é comparar o conteúdo de eritrócitos da efusão com o do sangue de um
animal com hemotórax ou hemoabdômen.
Algumas avaliações bioquímicas podem ser indicadas em situações específicas. Neste caso,
deve ser utilizada uma fração da amostra sem anticoagulante, recém-colhida, dosadas em
paralelo com uma amostra de soro, para comparação, já que não existem, ¨valores normais¨para
dosagens bioquímicas em derrames.
Uréia e creatinina: indicadas quando se suspeita de uroperitônio.
Bilirrubina: indicadas quando se suspeita de peritonite biliar.
Colesterol e triglicerídios: indicadas em derrames quilosos ou pseudoquilosos.
Amilase e lípase: indicadas quando se suspeita de peritonite por pancreatite.

4. CLASSIFICAÇÃO DOS DERRAMES CAVITÁRIOS

A maioria das efusões abdominais e torácicas podem ser classificadas como transudatos
puros, transudatos modificados ou exsudatos. Esta classificação se baseia nos valores obtidos
para dencidade, conteúdo protéico e contagem de células nucleadas totais. Existe alguma
variação nos limites estabelecidos para cada categoria de acordo com diferentes autores. A
tabela a seguir apresenta a classificação de OLIVIER & WILLARD (1994).

TRANSUDATO PURO TRANSUDATO EXSUDATO


MODIFICADO
Densidade <1017 <1017- 1025 > 1025
Proteína < 2,5 2,5 – 5,0 > 3,0
Cel. Nucleadas <1000 500 – 10.000 > 5.000
totais/µl
Tipo celular Mononuclear Linfócitos Neutrófilos
predominante
Mesotelial Monócitos Mononuclear
Neutrófilos Mesotelial Eritrócitos
Não-degeneradas Eritrócitos
Neutrófilos
Bactérias Ausentes Ausentes Variável

A classificação das efusões ajuda a determinar o mecanismo geral da acumulação do


fluído. Ocasionalmente poderá existir alguma sobreposição nos valores desta classificação, ou
seja, a amostra poderá ter a contagem de células nucleadas totais (CNT) nos limites do
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 73
transudato e o conteúdo protéico na faixa do transudato modificado. Se existir este tipo de
discrepância, a concentração de proteínas é o critério mais importante de avaliação para separar
transudatos puros de modificados, enquanto que a celularidade é mais importante para
diferenciar transudatos modificados de exsudatos.

Em condições como neoplasias ou infecções, o exame do líquido pode ser diagnóstico, mas
em outros casos esta análise simplesmente indica um processo. História e exame clínico são
fundamentais para a obtenção do diagnóstico definitivo.

4.3 TRANSUDATOS PUROS


Transudatos são efusões incolores, transparentes, de baixa concentração protéica e baixo
conteúdo celular. Normalmente os transudatos puros têm conteúdo protéico < 1.5g/dl, mas o
valor de 2,5g/dlé utilizado como padrão porque é o limite mínimo no qual a dosagem por
refratometria e confiável.
As efusões transudativas consistem principalmente de células mesoteliais e neutrófilos
não-degenerados, e ocorrem geralmente devido à hipoalbuminemia em condições como doença
glomerular renal, insuficiência hepática avançada e enteropatia com perda de proteínas; também,
dieta deficiente em proteínas. A hipoalbuminemia resulta em diminuição da pressão osmótica,
permitindo a acumulação extra-vascular de líquidos.
Para que ocorra uma efusão transudativa devido exclusivamente à hipoalbuminemia, é
necessário que a concentração sérica de albumina esteja abaixo de 1.5 g/dl. entretanto, se
existir hipertensão, poderemos ter efusões transudativas com níveis de albumina sérica
próximos de 2,0 g/dl (a concentração normal de albumina no soro varia aproximadamente entre
2,0 – 3,6 g/bl).
Raramente, o extravasamento de linfa de baixo teor protéico a partir dos vasos linfáticos
intestinais, provocada por obstrução do fluxo linfático, pode acarretar uma efusão transudativa.
Desta forma, classificar uma efusão como transudato puro limita bastante o diagnóstico
diferencial e auxilia a chegada ao diagnóstico definitivo.

4.2 TRANSUDATOS MODIFICADOS

Transudatos modificados têm celularidade moderada e concentração de proteínas entre


2,5 e 5 g/dl. Eles variam de coloração do âmbar ao branco ou vermelho, e são freqüentemente
turvos ou moderadamente turvos Dependendo da causa da efusão, praticamente todos os tipos
celulares sangüíneos poderão estar presentes .
A maioria dos transudatos modificados ocorre como resultado do extravasamento de
linfáticos carreando linfa rica em proteína, ou de vasos sangüíneos. Este extravasamento é
causado por aumento da pressão hidrostática ou por aumento da permeabilidade vascular. Estas
condições permitem que um ultrafiltrado rico em proteínas passe para dentro da cavidade. Como
estas condições não resultam em substâncias quimiotactantes, não ocorre a migração de grandes
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 74
números de células inflamatórias para dentro do fluido. Desta maneira, desenvolve-se um fluido
rico em proteínas mas com celularidade de baixa a moderada.
A classe dos transudatios modificados é a menos específica. Este tipo de efusão pode se
desenvolver secundariamente a muitas desordens não-específicas. Trqansudatos modificados
representam um estágio de transição. Por exemplo, o início da inflamação provocada por uma
ruptura de vesícula biliar pode resultar numa efusão tipo transudato modificado, já que o fluido
acumulado dilui as células já presentes. Com o passar do tempo, suficientes células podem se
acumular até atingir o nível de exsudato.
As causas de transudatos modificados são muitas e variadas. Elas podem variar desde
causas generalizadas (por exemplo, insuficiência cardíaca congestiva) ou localizadas (por
exemplo, tumores), que causam aumento da pressão linfática ou capilar, ou aumento de
permeabilidade.
A classificação de uma efusão como transudato modificado devem incluir os seguintes
processos no diagnóstico diferencial:

*doença cardiovascular *torção de lobo pulmonar


*neoplasia *peritonite infecciosa felina (PIF)
* hérnia diafragmática *hemorragia intra-cavitária
*efusão qilosa/pseudoquilosa *ruptura de bexiga urinária
*ruptura de vesícula biliar ou de ductos
biliares

EXEMPLOS DE SITUAÇÕES QUE CURSAM COM TRANSUDATOS MODIFICADOS

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Cães com insuficiência cardíaca direita desenvolvem ascite, secundária ao aumento
da pressão intra-hepática e ao extravasamento de linfa hepática rica em proteína, formando um
transudato modificado de coloração geralmente rosada. A maioria da células encontradas
consiste numa mistura de células mesoteliais ou macrófagos, neutrófilos não-degenerados e
linfócitos. Não existe um achado citológico patognomônico de insuficiência cardíaca. Os exames
clínico, radiológico e/ou eletrocardiológico são necessários para estabelecer o diagnóstico de
insuficiência cardíaca.
Gatos com doença cardiovascular (cardiomiopatia) desenvolvem derrame torácico, com
coloração de amarelo e branco-leitoso,consistindo tipicamente de 50% de pequenos linfócitos.
Entretanto, a população de neutrófilos cresce com drenagens repetidas da efusão,
provavelmente como decorrência de inflamação produzida pela toracocentese ou como
decorrência de linfopenia que se desenvolve com a perda de linfócitos.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 75

QUILO/PSEUDOQUILO
As efusões quilosas ocorrem geralmente no tórax, e são na maioria das vezes bilaterais.
Elas podem ocorrer por muitas causas, dentre elas doença cardíaca, trauma, inflamação,
neoplasia, hérnia diafragmática, cirurgia torácica, vômito, tosse crônica, defeitos congênitos,
infecção com parasitas cardíacos, corpos estranhos, trombose do ducto torácico e ainda por
causas idiopáticas. Em cães, neoplasia e trauma são as causas mais comuns, enquanto que em
gatos a doença cardiovascular é a mais freqüente.
Estas efusões variam do amarelo ao rosado ou branco-leitoso, dependendo da dieta e do
número de eritrócitos no fluido. O tipo celular predominante são os pequenos linfócitos, mas
ocorrem casos cem que predominam neutrófilos e/ou macrófagos.
Como nem todas as efusões quilosas ou peseudoquilosas têm cor branco-leitoso ou
linfócitos como tipo celular predominante, elas são mais bem identificadas pela dosagem
simultâneas da concentração de colesterol e triglicerídios na efusão e no soro. Efusões quilosas
apresentam níveis de friglicerídios mais altos no derram do que no soro e nível de colesterol
mais baixos no derrame que no soro. Nas efusões pseudoquilosas acontece o inverso.
A maioria das efusões brancas são quilosas, mas ocasionalmente elas podem ser
pseudoquilosas; mais comumente acontecem com neoplasias ou processos inflamatórios, mas
podem estar associados com qualquer efusão crônica.

PERITONITE BILIOSA
A liberação de bile na cavidade abdominal, secundária à ruptura de vesícula ou de ductos
biliares produz peritonite. A efusão é de coloração amarelo-alaranjada. Podem ser vistos
macrófagos com pigmento fagocitado, de cor azul-esverdeado ou amarelo-esverdeado. A
concentração de bilirrubina no líquido de derrame será maior que a concentração sérica de
bilirrubina, nestes casos.

PERITONITE INFECCIOSA FELINA (PIF)


A PIF clínica ocorre em gatos de todas as idades, mas a incidência mais alta é entre gatos
de idade < 2 anos. Na PIF efusiva, o fluído pode se acumular no abdômen e/ou no tórax. A efusão
é inodora, com cor que varia do amarelo-palha ao dourado, pode conter filamentos de fibrina e
ocasionalmente pode coagular quando exposta ao ar. A cultura bacteriana é negativa. O conteúdo
protéico da efusão é alto ( > 3,5g/dl),o conteúdo celular é de baixo a moderado (2.000 –
6.000céls/µl), mas já foram reportados níveis de celularidade tão baixos quanto 500 céls/µl ou
tão altos como 25.000 céls/µl. Quando agitada, esta efusão produz espuma. Efusões com estas
características em gatos com altas concentrações séricas de globulinas (> 4,5g/dl) e lesões
oculares são adequadas para uma suspeita de PIF.
Citologicamente, a efusão típica de FIP tem um fundo eosinofílico, devido ao alto conteúdo
protéico, e o tipo celular predominante são os neutrófilos não-degenerados, com menores
números de células mesoteliais, macrófagos e, ocasionalmente, linfócitos. Estas efusões,
consistindo primariamente de neutrófilo, mas com grandes números de macrófagos, são
referidas como piogranulomatosas. Em efusões crônica, a proporção de neutrófilos diminui
enquanto que a proporção de células mononucleares aumenta.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 76
UROPERITÔNIO
O uroperitônio pode resultar da ruptura de rim, ureter, bexiga ou uretra. A medida da
concentração da uréia e da creatinina do liquido e do soro auxilia no diagnóstico. Em casos de
uroperitonio, os níveis de uréia e creatinina do derrame estarão bem mais altos do que no soro.
Como a molécula da uréia é pequena, ela difunde-se rapidamente através do peritônio e atinge a
circulação sangüinea rapidamente, equilibrando-se mais facilmente do que a creatinina, que , por
isso, é um parâmetro mais confiável.

4.4 EXSUDATOS
Os exsudatos variam em coloração do âmbar ao vermelho ou branco, são turvos ou até
mesmo grumosos. Caracterizam-se pelo alto conteúdo protéico e alta celularidade. A
concentração de proteínas dos exsudatos se sobrepõe aquela dos exsudatos modificados.
Os exsudatos ocorrem mais comumente devido à presença de quimiotaquitantes na
cavidade, como decorrência de um processo inflamatório. Desta forma, os neutrófilos são o tipo
celular predominante na maioria dos exsudatos. Se a inflamação é devido a uma infecção
bacteriana, geralmente os neutrófilos serão degenerados. Ocasionalmente, um esxudato pode se
desenvolver em decorrência da abundante exfoleação de células tumorais ou secundária a uma
efusão quilosa, casos nos quais irão predominar células neoplasicas e linfócitos, respectivamente.
Em exsudatos sépticos podem ser visualizadas bactérias intra e extra celulares, enquanto
que em exsudatos assépticos as bactérias não são visualizadas e o resultado da cultura é
negativo. A menos que exista uma razão específica em contrário, todas as amostras de
exsudatos devem ser submetidas à cultura bacteriana.
Um exsudato séptico espontâneo é fortemente indicativo de ruptura do trato digestivo.
Corpos estranhos ou abcessos podem ser encontrados ocasionalmente. Alguns exsudatos
sépticos podem ser atribuídos à contaminação por cirurgia prévia ou pela drenagem de uma
efusão inicialmente estéril. Nestes casos, geralmente a história clínica é sugestiva.
O aparecimento de um exsudato abdominal asséptico deve conduzir a uma busca por
história de trauma prévio, até mesmo semanas antes ao aparecimento da efusão. Exsudatos pós-
trauma são ocasionalmente associados com uroabdomen e ascite biliar.
EXEMPLO – PLEURITE/PERITONITE INFECCIOSA: A inflamação da cavidade pleural
ou peritonial esta associada à presença de substâncias quimiotaquitantes e vasoativas nestas
cavidades. Os quimiotaquitantes levam à proliferação de neutrófilos e macrófagos, enquanto que
as substância vasoativas permitem o extravazamento de um líquido rico em proteínas. As
infecções bacterianas são as mais comuns, mas já foram identificadas infecções
pleurais/abdominais micóticas, por protozoários e tambémpor ricketsias.

OUTRAS CAUSAS DE DERRAMES INTRACAVITÁRIOS:


NEOPLASIAS
Efusões podem aparecer secundárias a uma neoplasia. O tipo de derrame depende muito
do tipo tumoral. A maioria das efusões que acompanham tumores que não exfoleativos é do tipo
transudato modificado, enquanto que as efusões provoadas por tumores exfoleativos ou que
inflamam secundariamente são do tipo exsudato.
O diagnóstico do tipo tumoral pode ser feito, desde de que o tumor libere células
suficientes e que não exista inflamação. A presença do processo inflamatório induz à displasia
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 77
celular (alteração daforma normal, que não é neoplasia), dificultando a identificação das células
neoplasicas. Também deve ser tomado cuidado para não confundir as células mesoteliais reativas
com células neoplásicas.
Linfossarcoma, mastocitoma, mesotelioma e vários tipos de carcinomas, adenocarcinomas
e sarcomas têm sido diagnosticados por avaliação citológica das efusões.
Linfossarcoma é diagnosticado pela presença de grande número de linfoblastos (linfócitos
imaturos) do líquido de derrame. Mastocitomas intracavitários freqüentemente exfoliam grande
quantidade de células no líquido, permitindo a sua identificação. No derrame os mastócitos
tendem a ter seus grânulos agrupados em um dos pólos da célula. Geralmente os eosinófilos
estão presentes.
Raramente sarcomas são diagnosticados em efusões. Eles são identificados pela presença
de células em forma de fuso e critérios de malignidade.
Carcinomas e adenocarcinomas são eventualmente diagnosticados em derrames cavitários.
Eestes tumores de células epiteliais são identificados pelos seus critérios nucleares de
malignidade.
Como muitos tumores não esfoliam muitas células, a ausência de células neoplásicas na
efusão não exclui a possibilidade de neoplasia. Amostras interpretadas como neoplásicas ou
suspeitas de que sejam neoplasia devem ser confirmadas por um veterinário com experiência em
citopatologia, já que a diferença de células mesoteliais reacionais e células neoplásicas pode ser
muito difícil.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 78

AULAS PRÁTICAS
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 79
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 80
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 81
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 82

AULA PRÁTICA/ EXERCÍCIOS PARA INTERPRETAÇÃO DO HEMOGRAMA

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Anorexia, vômitos, poliúria


CLÍNICO 1 e polidipsia
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Insuficiência renal crônica
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0:01 FICHA N0 :_____________SEXO:_____________IDADE: 7 anos
NOME: Milly RAÇA: Cocker
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos 0 0 Eritrócitos
3
0-2% (0-260/mm ) 6-8milhões/mm3 2,52
Eosinófilos 0 0 Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 14-18 g% 5,7
Monócitos 9 1998 Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 42-56% 18
Linfócitos 1 222 VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 65-80µ3 71,4
Mielócitos - CHCM
ausentes 30-36% 31,6
Metamielócitos -
ausentes
Neutrófilos bastonetes 0 0 Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 200-500mil/mm3
Neutrófi;os segmentados 90 19.980 PPT
60-75% (6000-9750/mm3) 6-8 g% 9,0
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 22.200 100-300mg/mm3
Observações: anisocitose e policromasia discretas.
Presença de neutrófilos tóxicos e vários hipersegmentados.
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 83

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Usou anticonceptivo


CLÍNICO 2 algumas vezes, anda prostrada, emagrecimento progressivo.
Está desidratada e não bebe água.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Piometra
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0: 03 FICHA N0 :_____________SEXO: F IDADE: 5 meses
NOME: Indi RAÇA: SRD
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
0-2% (0-260/mm3) 0 0 6-8milhões/mm3 6,01
Eosinófilos Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 0 0 14-18 g% 14,2
Monócitos Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 6 2.808 42-56% 42
Linfócitos VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 2 936 65-80µ3 69,9
Mielócitos CHCM
ausentes - - 30-36% 33,8
Metamielócitos
ausentes 2 936
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 14 6552 200-500mil/mm3
Neutrófilos segmentados PPT
60-75% (6000-9750/mm3) 76 35.568 6-8 g% 10,1
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10.000-13.000 /mm3 7.500 100-300mg/mm3
Observações: Presença de policromatofilia e de metarrubrócitos
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 84

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Diarréia hemorrágica,


CLÍNICO 3 vômito espumoso, prostração intensa.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Gastroenterite viral
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0: 03 FICHA N0 :_____________SEXO: F IDADE: 5 meses
NOME: Indi RAÇA: SRD
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
3
0-2% (0-260/mm ) 0 0 6-8milhões/mm3 6,0
Eosinófilos Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 0 0 14-18 g% 14
Monócitos Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 0 0 42-56% 42
Linfócitos VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 46 3450 65-80µ3 70
Mielócitos CHCM
ausentes - - 30-36% 33,3
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 2 150 200-500mil/mm3
Neutrófilos segmentados PPT
60-75% (6000-9750/mm3) 52 3.900 6-8 g% 8,0
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10.000-13.000 /mm3 7.500 100-300mg/mm3
Observações: Presença de policromatofilia e de metarrubrócitos
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 85

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Diarréia escura,


CLÍNICO 4 abaulamento do abdômen, mucosa ocular pálida.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Gastroenterite verminótica.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0: 04 FICHA N0 :_____________SEXO: M IDADE: 4 meses
NOME: Fidel RAÇA: Dachshund
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
3
0-2% (0-260/mm ) 0 0 6-8milhões/mm3 5,5
Eosinófilos Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 17 2.244 14-18 g% 11
Monócitos Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 3 396 42-56% 33
Linfócitos VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 23 3.036 65-80µ3 60
Mielócitos CHCM
ausentes - - 30-36% 33,3
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 1 132 200-500mil/mm3
Neutrófifos segmentados PPT
60-75% (6000-9750/mm3) 56 7.392 6-8 g% 6,3
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 13.200 100-300mg/mm3
Observações: plasma levemente hemolizado
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 86

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Poliúria, polidipsia, perda


CLÍNICO 5 de pêlos simétrica na região posterior.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Hiperadrenocorticismo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0: 05 FICHA N0 :__________SEXO: F IDADE: 8 anos
NOME: Druska RAÇA: Poodle Toy
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
3
0-2% (0-260/mm ) 0 0 6-8milhões/mm3 6,78
Eosinófilos Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 0 0 14-18 g% 16,2
Monócitos Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 6 1.476 42-56% 48
Linfócitos VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 5 1.230 65-80µ3 70,8
Mielócitos CHCM
ausentes - - 30-36% 33,7
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 0 0 200-500mil/mm3
Neutrófilos segmentados PPT
60-75% (6000-9750/mm3) 89 21.894 6-8 g% 7,0
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 24.600 100-300mg/mm3
Observações: Presença de neutrófilos hipersegmentados
Veterinário Responsável :________________________________CRMV-1:________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 87

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Apresenta-se


CLÍNICO 6 marcadamente desidratado, com diarréia aguda (com 24 horas
de duração).
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Salmonelose
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE EQÜINA


EXAME N0: 06 FICHA N0 :_____SEXO: M IDADE: 12 anos NOME: Guará RAÇA: SRD
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
0-3% (0-420/mm3) 0 0 7-13milhões/mm3 10,1
Eosinófilos Hemoglobina
0-11% (0-1540/mm3) 0 0 10-18 g% 18
Monócitos Hematócrito
0-7% (0-980/mm3) 8 270 32-55% 53
Linfócitos VCM
25-70% (1750-9800/mm3) 6 203 65-80µ3 52,4
Mielócitos CHCM
ausentes - - 31-35% 33,9
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-2% (0-280/mm3) 51 1.724 100-350mil/mm3
Neutrófifos segmentados PPT
3
30-65% (2100-8100/mm ) 35 1.183 6-8,5 g% 8,7
Leucócitos Totais Fibrinogênio
7000-14000 /mm3 3.380 200-400mg/mm3 900
Observações:____________________________________________________________
________________________________________________________________________
_
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 88

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Testículos aumentados de


CLÍNICO 7 tamanho.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Brucelose.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE CANINA


EXAME N0: 07 FICHA N0 :_____SEXO: M IDADE: 2 anos NOME: Guri RAÇA: Pastor Alemão
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
0-2% (0-260/mm3) 0 0 6-8milhões/mm3 6,0
Eosinófilos Hemoglobina
5-12% (500-1560/mm3) 2 280 14-18 g% 14
Monócitos Hematócrito
3-7% (300-910/mm3) 12 1.680 42-56% 42
Linfócitos VCM
10-22% (1000-2860/mm3) 8 1.120 65-80µ3 70
Mielócitos CHCM
ausentes - - 30-36% 33,3
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-390/mm3) 2 280 200-
500mil/mm3
Neutrófi;os segmentados PPT
3
60-75% (6000-9750/mm ) 76 10.640 6-8 g% 6,4
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 14.000 100-
300mg/mm3
Observações:____________________________________________________________
________________________________________________________________________
_
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 89

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Depressão e anorexia.


CLÍNICO 8 Fluidoterapia iniciada antes da coleta da amostra de sangue.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Retículo- pericardite traumática
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE BOVINA


EXAME N0: 08 FICHA N0 :_____SEXO: F IDADE: 4 anos NOME: Mimosa RAÇA: Holandesa
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
0-1% (0-140/mm3) 0 0 6-7,7milhões/mm3 4,9
Eosinófilos Hemoglobina
1-9% (80-1260/mm3) 0 0 8-11 g% 8,8
Monócitos Hematócrito
2-5% (160-700/mm3) 5 605 30-39% 26
Linfócitos VCM
60-72% (4800-10080/mm3) 19 2.299 42,2-51,5µ3 53,1
Mielócitos CHCM
ausentes - - 24,8-30,4% 33,8
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-420/mm3) 4 484 100-800mil/mm3
Neutrófifos segmentados PPT
17-26% (1360-3640/mm3) 72 8.712 6-8 g% 7,2
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 12.100 200-600mg/mm3 1100
Observações: plasma hemolítico
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 90

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Inapetência, perda de


CLÍNICO 9 peso, fezes escurecidas e firmes. Mucosas amareladas.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Hemorragia gastrintestinal
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE EQÜINA


EXAME N0: 09 FICHA N0 :_____SEXO: F IDADE: 15 anos NOME: Lady Liss RAÇA: PSI
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
3
0-3% (0-420/mm ) 0 0 7-13milhões/mm3 5,3
Eosinófilos Hemoglobina
0-11% (0-1540/mm3) 1 163 10-18 g% 5,5
Monócitos Hematócrito
0-7% (0-980/mm3) 1 163 32-55% 17
Linfócitos VCM
25-70% (1750-9800/mm3) 25 4.075 65-80µ3 32
Mielócitos CHCM
ausentes - - 31-35% 32,3
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-2% (0-280/mm3) 3 489 100-350mil/mm3
Neutrófi;os segmentados PPT
30-65% (2100-8100/mm3) 70 11.410 6-8,5 g% 4,5
Leucócitos Totais Fibrinogênio
7000-14000 /mm3 16.300 200-400mg/mm3 200
Observações:____________________________________________________________
________________________________________________________________________
_
Veterinário Responsável :____________________________CRMV1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 91

CASO HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: Animal pariu há 4 dias,


CLÍNICO 10 apresenta linfonodos com volume aumentado e palpáveis, tem
dificuldade de levantar.
SUSPEITA DIAGNÓSTICA: Linfossarcoma
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
HOSPITAL DE CLÍNICA VETERINÁRIA
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS

HEMOGRAMA ESPÉCIE BOVINA


EXAME N0: 08 FICHA N0 :_____SEXO: F IDADE: 4 anos NOME: Mimosa RAÇA: Holandesa
PROPRIETÁRIO:______________________________________________________________________
ENDEREÇO:__________________________________________________FONE:__________________
REQUISITANTE:______________________________________________________________________

SÉRIE BRANCA % mm3 SÉRIE VERMELHA


Basófilos Eritrócitos
0-1% (0-140/mm3) 0 0 6-7,7milhões/mm3 5,59
Eosinófilos Hemoglobina
1-9% (80-1260/mm3) 1 117 8-11 g% 8,8
Monócitos Hematócrito
2-5% (160-700/mm3) 9 1050 30-39% 29
Linfócitos VCM
60-72% (4800-10080/mm3) 79 9.219 42,2-51,5µ3 51,8
Mielócitos CHCM
ausentes - - 24,8-30,4% 3038
Metamielócitos
ausentes - -
Neutrófilos bastonetes Plaquetas
0-3% (0-420/mm3) 0 0 100-800mil/mm3
Neutrófifos segmentados PPT
3
17-26% (1360-3640/mm ) 11 1.284 6-8 g% 6,1
Leucócitos Totais Fibrinogênio
10000-13000 /mm3 12.670 200-600mg/mm3 300
Observações: alguns Linfócitos com características de linfoblasto
Responsável Técnico:________________________________CRMV-1:_____________
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 92

AULA PRÁTICA/ EXERCÍCIOS PARA INTERPRETAÇÃO DA URINÁLISE:

CASO CLÍNICO Nº 1

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : Animal obeso . Apresenta anorexia, prostração e


vômitos esporádicos há aproximadamente 5 dias.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 001 ESPÉCIE : Felina FICHA Nº : 121
NOME : Tito SEXO : Macho RAÇA : SRD IDADE: 4 anos
PROPRIETÁRIO: Suzana de Souza
ENDEREÇO: Alameda do Castelo, 435 FONE: 55-4590
REQUISITANTE: .........................................................................................................................
EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO
Volume 35 ml Reação Neutra pH 7
Cor alaranjada Proteínas _
Aspecto Pouco turva Glicose _
Densidade 1040 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares +++
Colheita por micção espontânea Hemoglobina _
Urobilinogênio Traços
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :2-4/cga Impregnação por pigmentos de bilirrubina: +
Leucócitos : 1 – 3/cga Bacteriúria discreta
Células de transição : 1-2/cga
Células de pavimentação : 0-1/cga
Cristais de bilirrubina : +
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 93

CASO CLÍNICO Nº 2

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : Animal apresenta febre, sudorese abundante ,


rigidez muscular (musculatura glútea) e mialgia. Apresenta ainda oligúria.

EXAME COMUM DE URINA –


EXAME Nº : 002 ESPÉCIE : Eqüina FICHA Nº : 367
NOME : Guará SEXO : Macho RAÇA : Quarto de Milha IDADE: 5 anos
PROPRIETÁRIO:
ENDEREÇO: BR 116 Km 68 FONE: 321- 3287
REQUISITANTE: .........................................................................................................................
EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO
Volume 130 ml Reação Alcalina pH 7,5
Cor acastanhada Proteínas ++++
Aspecto turva Glicose _
Densidade 1031 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares _
Hemoglobina ++++
Urobilinogênio _
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :0-1 /cga
Leucócitos : 4-5/cga
Cilindros granulosos : 0-1/cga
Filamentos de muco
Cristais de carbonato de cálcio
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 94

CASO CLÍNICO Nº 3

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : O proprietário observou que o animal está urinando
com muito freqüência e fazendo a postura de micção por um tempo mais longo que o habitual,
mesmo quando já acabou de urinar. Também está urinando em locais incomuns, como na sua
própria caixa de dormir.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 003 ESPÉCIE : canina FICHA Nº : 233
NOME : Pipoca SEXO : Fêmea RAÇA : SRD IDADE: 3 anos
PROPRIETÁRIO: José Augusto Marques
ENDEREÇO: Afonso Pena,387 FONE: -
REQUISITANTE: .........................................................................................................................
EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO
Volume 45 ml Reação Alcalina pH 7,5
Cor avermelhada Proteínas ++
Aspecto turva Glicose +
Densidade 1036 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares _
Odor amoniacal Hemoglobina ++
Urobilinogênio Traços
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :10-12/cga Bacteriúria acentuada
Leucócitos : 30-40/cga
Células de transição : 5-6/cga
Filamentos de muco
Cristais de Fosfato triplo: +
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 95

CASO CLÍNICO Nº 4

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : O animal apresenta prostração intensa, febre


(39,6°C) e icterícia. A mucosa ocular está bastante congesta. Mostra sinais de dor à palpação
abdominal. Está desidratado. No local onde vive, tem acesso a ratos.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 004 ESPÉCIE : canina FICHA Nº : 190
NOME : Rambo SEXO : Macho RAÇA : Pastor Alemão IDADE: 4 anos
PROPRIETÁRIO: Maria Antônia Machado da Rosa
ENDEREÇO: Coronel Vicente da Fontoura,870 FONE: 466768
REQUISITANTE: .........................................................................................................................

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO


Volume 82 ml Reação Neutra pH 7
Cor âmbar Proteínas ++
Aspecto pouco turva Glicose _
Densidade 1025 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares ++++
Colheita por sondagem Hemoglobina ++
Urobilinogênio +
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :12-15/cga Cilindros leucocitários : 0-1/cga
Leucócitos : 30-35/cga Impregnação por bilirrubina:++
Células de transição : 4-6/cga
Células renais : 3-5/cga
Cilindros granulosos: 3-4/cga
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 96

CASO CLÍNICO Nº 5

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: O animal apresenta prostração e vômitos ocasionais


há aproximadamente uma semana, tendo piorado sensivelmente no último dia. A proprietária
afirma que o animal bebe muita água e urina grandes volumes de cada vez. No exame clínico
foram observadas úlceras na mucosa oral, desidratação e halitose.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 005 ESPÉCIE : canina FICHA Nº : 092
NOME : Flogui SEXO : Macho RAÇA : Pequinês IDADE: 13 anos
PROPRIETÁRIO: Clotilde Gama
ENDEREÇO: Edgar Ruas,188 FONE: 82-1582
REQUISITANTE: .........................................................................................................................

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO


Volume 90 ml Reação Ácida pH 6,5
Cor Amarelo-pálida Proteínas _
Aspecto límpida Glicose _
Densidade 1011 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares _
Hemoglobina _
Urobilinogênio _
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :0 - 1 /cga
Leucócitos : 0 - 1/cga
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 97

CASO CLÍNICO Nº 6

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : O animal vem mostrando sinais de depressão.


Segundo o proprietário, nos últimos seis meses tem comido muito mais que o habitual. Apresenta
também poliúria e polidipsia.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 006 ESPÉCIE : canina FICHA Nº : 223
NOME : Dondoca SEXO : Fêmea RAÇA : SRD IDADE: 8 anos
PROPRIETÁRIO: Carlos Rocha Cunha
ENDEREÇO: Marquês de Maricá, 305 FONE: 712760
REQUISITANTE: .........................................................................................................................

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO


Volume 110 ml Reação Ácida pH 6
Cor Amarelo-clara Proteínas _
Aspecto límpida Glicose ++++
Densidade 1028 Acetona ++
Observações: Pigm. Biliares _
Odor adocicado Hemoglobina _
Urobilinogênio Traços
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :0-2/cga
Leucócitos : 0-2/cga
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 98

CASO CLÍNICO Nº 7

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : O animal apresentava-se intensamente carrapateado


e mostrando sinais de tristeza parasitária (depressão, anorexia, mucosas pálidas, febre, pêlos
arrepiados). No hemograma verificou-se presença de anemia, plasma hemolítico e babesiose.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 007 ESPÉCIE : bovina FICHA Nº : 234
NOME : Pipoca SEXO : Fêmea RAÇA : Devon IDADE: 3 anos
PROPRIETÁRIO: José Lopes Garcia
ENDEREÇO: Estância Três CruzesFONE: - REQUISITANTE:
.........................................................................................................................

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO


Volume 120 ml Reação Alcalina pH 8
Cor acastanhada Proteínas +
Aspecto Pouco turva Glicose _
Densidade 1022 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares +
Odor amoniacal Hemoglobina +++
Urobilinogênio +
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :1-3/cga
Leucócitos : 0-2/cga
Bacteriúria discreta
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 99

CASO CLÍNICO Nº 8

BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: O animal foi castrado com 12 meses de idade. Só se
alimenta de ração balanceada seca.Não tem acesso à rua. A proprietária relatou que o animal não
urina há quase dois dias, apesar de ir até a caixa de areia e assumir a postura de micção . Foi
observado um material parecido com uma areia muito fina , branca aderida aos pêlos da região
peri-genital. Atualmente, está levemente desidratado, inapetente e prostrado.

EXAME COMUM DE URINA –


EXAME Nº : 008 ESPÉCIE : Felina FICHA Nº : 287
NOME Xampu SEXO : Macho RAÇA : Pêlo Curto Brasileiro IDADE: 2,5 anos
PROPRIETÁRIO: Ana Estela Barros
ENDEREÇO: Adolfo Pena,998 FONE: 35-2223
REQUISITANTE: .........................................................................................................................

EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO


Volume 30 ml Reação Alcalina pH 7,5
Cor avermelhada Proteínas ++
Aspecto turva Glicose _
Densidade 1035 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares _
Colheita por sondagem forçada Hemoglobina +++
Urobilinogênio Traços
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :incontáveis Bacteriúria discreta
Leucócitos : 8-12/cga
Cristais de fosfato triplo : +++
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 100

VALÔRES DE REFERÊNCIA NAS ESPÉCIES DOMÉSTICAS:

Hematológicos
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 101

Valôres de Referência Bioquímicos:


Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 102

BIBLIOGRAFIA:
BISTNER, S.I., FORD, R.B. Terapia com componentes sanguíneos, In: Manual de Procedimentos
Veterinários e Tratamento de Emergências. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996.p. 535-546.
COLES, E.H. Veterinary pathology. 4th ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1986. 486 p.
COUTO, C.G. Anemia In: NELSON, R.W., COUTO, C.G. Small Animal Internal Medicine. 2nd
ed. St. Louis: Mosby, 1998. p. 1160-1173.
CUNNINGHAM, J.G. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1993. 454 p.
DUNCAN, J.R., PRASSE, K.W., MAHAFFEY, E. Veterinary laboratory medicine. 4th ed. Iowa:
Ames, 2003. 450 p.
FELDMAN, B.F., SINK, C.A. Practical Transfusion Medicine for the Small Animal Practitioner.
In: ______. Practical Transfusion Medicine for the Small Animal Practitioner. Jackson:
Teton NewMedia, 2006, p. 1-111.
FELDMAN, B.F., ZINKL, J.G., JAIN, C.N. Schalm’s veterinary hematology. 5th ed.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.1344 p.
HARRELL, K., PARROW, J., KRISTENSEN, A. Canine transfusion reactions - Part II:
Prevention and treatment. Comp Contin Educ Pract Vet, v.19, n.2, p.193-199, 1997.
______. Canine transfusion reactions. Part I: Causes and consequences. Comp Contin Educ
Pract Vet, v.19, n.2, p.181-190, 1997.
HOSKINS, J.D. Pharmacologic Principles. In: ______. Geriatrics & Gerontology of the dos
and cat. 2nd ed., Missouri: Saunders, 2004. p.415.
HOWARD, A. et al. Transfusion practices and costs in dogs. J Am Vet Med Assoc, v.201, n.11,
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HUMPHRIES, J.E. Transfusion therapy in acquired coagulopathies. Hematol Oncol Clin North
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HUNT, E., MOORE, J.S. Use of blood and blood products. Vet Clin North Am Food Anim Pract,
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JAIN, C.N. Essential of veterinary hematology. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. 417 p.
______. Schalm’s veterinary hematology. 4th ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1986. 1221 p.
KANEKO, J.J., HARVEY, D.W., BRUSS, W.L. Clinical biochemistry of domestic animals. 5th
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LUNDBERG, G.D. Practice parameter for the use of fresh-frozen plasma, cryoprecipitate and
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MEYER, D.J., COLES, E., RICH, L.J. Veterinary laboratory medicine. Philadelphia: W.B.
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OSBORNE, C.A., FINCO, D.R. Canine and feline nephrology and urology. Baltimore:
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VILLIERS, E., BLACKWOOD, L. BSAVA : Manual of Canine and Feline Clinical Pathology.
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WILLARD, M.D., TVEDTEN, H., TURNWALD, G.H. Small animal clinical diagnosis by
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 103
laboratory methods. Philadelphia: W.B. Saunders, 1989. 380 p.

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