Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Material Didático
Patologia Clínica Veterinária
2009
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 2
COLHEITA, CONSERVAÇÃO E REMESSA DE MATERIAL PARA EXAMES
LABORATORIAIS
1. Introdução:
A Medicina Veterinária expande os recursos e aprimora constantemente técnicas para
realização de exames laboratoriais, tornando mais acessível, prático e econômicos o uso de
meios auxiliares de diagnóstico na rotina profissional.
O Médico Veterinário ao chegar à região onde irá desenvolver suas atividades
profissionais deve procurar informar-se sobre o serviço de apoio que poderá dispor tanto na
área de diagnósticos veterinários, quanto do(s) laboratório(s) de análises clínicas da cidade,
visitando os laboratórios.
Os laboratórios da área veterinária geralmente pertencem a instituições de ensino ou
pesquisa estaduais ou federais, sendo necessário receber informações dos serviços
disponíveis, áreas de atuação (patologia, bacteriologia, virologia, toxicologia,...), técnicas
utilizadas, tipos de amostras e conservação das mesmas para os diferentes tipos de técnicas,
meios de transporte mais rápidos e eficientes, além de conhecer e manter contato com os
profissionais dessas instituições contando com seu apoio quando necessário. Os laboratórios
de análises clínicas principalmente em cidades do interior, trabalham na sua maioria para
medicina humana, cabendo ao Veterinário informar-se do tipo de equipamentos disponíveis
para realização do hemograma, pois a maioria dos contadores são ajustados ao tamanho dos
eritrócitos humanos inviabilizando a sua utilização para a maioria das espécies domésticas,
exceto a canina. Como os eritrócitos de quase todas as espécies animais, são menores que os
humanos a cada amostra deveria ser calibrado o aparelho. Nesses casos o médico veterinário
deve solicitar a hemocitometria manual em câmara de Neubauer, e o microhematócrito(mais
preciso que a avaliação anterior).
O contato prévio com os laboratórios facilita a conduta do profissional para acessar esses
recursos, abre um canal de discussão com outros profissionais especialistas em diferentes
áreas, padroniza o tipo de recipiente, conservantes e outras variáveis em conformidade com
as normas e orientações técnicas de cada laboratório.
O exame mais confiável, realizado em laboratório extremamente adequado e
modernamente equipado, conduzido por profissionais excepcionalmente qualificados e
interpretado pelos mais conceituados especialistas não supera o erro causado por uma
técnica de coleta, tratamento ou conservação não apropriada da amostra.
É fundamental que o profissional adote algumas medidas que passarão a ser rotina,
iniciando pela preparação do paciente, passando pela coleta, manuseio, conservação e remessa
da amostra ao laboratório. O Veterinário deve, portanto padronizar a coleta de amostras
minimizando o máximo possível as variáveis que possam interferir nos resultados.
2. Variáveis relacionadas ao paciente:
Alguns fatores relacionados ao paciente podem influenciar o resultado dos exames
laboratoriais, e devem ser levados em consideração no momento da coleta da amostra, ou
quando impossível evita-los serem considerados ao interpretar os resultados, são eles:
2.1. exercício-
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 3
O animal submetido a exercício físico pode ter seus parâmetros hematológicos totalmente
alterados. Amostras colhidas nessas condições apresentarão hematócrito elevado, sobretudo
naqueles animais que apresentarem elevada resposta esplênica. Também ocorre elevação na
contagem total de leucócitos, devido ao fluxo sangüíneo acelerado e a liberação dos
hormônios de estresse. Essas são alterações que voltam a normalidade alguns minutos ou
horas após a realização de exercício. Quando a atividade física excessiva for prolongada
poderá causar elevação de enzimas resultantes da atividade muscular (creatinaquinase-CK,
aspartato-aminotansferase-AST e lactato desidrogenase-LD).
Hemólise
A hemólise "in-vivo" (patologia) é rara. Pode-se evitar a hemólise "in-vitro" através de:
• uso de agulha limpa e afiada.
• evitar pressão negativa excessiva na seringa durante a aspiração do sangue.
• permitir que o álcool aplicado no local da punção do vaso seque completamente antes de se
proceder à coleta.
•desacoplar agulha da seringa e deixar o sangue escorrer lentamente pela parede do frasco,
exercendo suave pressão no êmbolo da seringa
• agitação e manuseio delicados da amostra e do tubo, inclusive ao homogeneizar com o
anticoagulante
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 5
• centrifugação adequada.
• remoção imediata do soro do coágulo.
• não usar material quente (recém tirado de fornos de esterilização)
• evitar umidade do material (recipiente ou tubo de armazenagem, seringa de vidro) que
entrar em contato com a amostra.
Para coleta podem ser usados tubos de auto-enchimento (à vácuo), que existem à disposição
no comércio, cuja coloração da rolha varia de acordo com o exame ao qual se destina a
amostra de sangue (Figura 1).
Deve-se ter o cuidado de não encher demais os tubos de auto-enchimento com rolha lilás ou
rocha, pois quando coletado sangue em maiores quantidades que as recomendadas teremos
formação de coágulos, que também ocorrerão quando não houver perfeita homogeneização do
sangue com o anticoagulante.
Recipientes limpos, secos, frios (não usa-los logo após retirados de fornos ou estufas),
herméticos (fechados com rolhas de borracha), geralmente aqueles frascos tipo de penicilina
são os mais econômicos para colocar amostras para hemograma.
Vidro
EDTA Hematologia ou
plástico
Citrato
Hematologia
de Vidro
(Coagulação)
Sódio
Bioquímica
Heparina
e Vidro
Sódica
Imunologia
Vidro
Fluoreto de
Bioquímica ou
sódio + EDTA
plástico
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 6
3.3. Manuseio da amostra:
As análises químicas e bioquímicas são feitas na porção extra-celular do sangue(plasma ou
soro). O manuseio da amostra deve ser o mínimo e mais delicado possível, pois substâncias
intra-celulares podem surgir quando ocorrer hemólise (proteínas, albumina, cálcio, ALT,
AST), o que fatalmente afetará os exames.Também os parâmetros do eritrograma são
alterados em função de hemólise.
3.4. Conservação da amostra:
Sangue total com anticoagulante deve ser mantido em refrigeração por períodos máximos de
24 horas.
Soro pode ser refrigerado por algumas horas ou para preservar por períodos mais longos
deve ser congelado, evitando-se congelamentos e descongelamentos repetidos que afetam as
proteínas séricas.
Esfregaços de sangue em lâminas de vidro devem secar no ambiente, podendo ser remetidos
ao laboratório fixados, ou não, em metanol. Devem ser confeccionados dois ou três
esfregaços de cada material coletado.
3.5. Remessa da(s) amostra(s) ao laboratório
As amostras devem ser identificadas individualmente com etiquetas auto-adesivas, fita crepe
ou diretamente no vidro escrevendo com caneta tipo retro projetor. Lâminas de vidro devem
ser acondicionadas em embalagens adequadas, ou embaladas de modo que não haja atrito para
não danificar os esfregaços, sendo remetidas sem qualquer conservante.
Todo o material deve ser acompanhado de ficha de identificação, com o maior número de
informações possíveis, onde deve constar história clínica, suspeita diagnóstica, análises
requisitadas, telefone para contato, etc.
As amostras devidamente acondicionadas em caixa de isopor, contendo gelo embalado em
saco plástico (o que dificulta o contato da amostra com o gelo ou água de degelo), devem ser
encaminhadas ao laboratório o mais rápido possível, evitando os fins de semana.
Os locais recomendados para punção venosa para obtenção de amostras de sangue para
triagem diagnóstica ,como hemograma e perfil bioquímico, são veia jugular, em caninos
pequenos, felinos, eqüinos e bovinos, e veia cefálica ou jugular, em caninos de médio a grande
porte. Esses exames geralmente requerem de 5 a 12mL de sangue, dependendo do laboratório
e da complexidade dos procedimentos de triagem.
1. INTRODUÇÃO
Os exames hematológicos estão entre os mais práticos e econômicos, além de maior utilidade
na rotina clínica. Isto deve - se ao fato de que o tecido sangüíneo tem por função principal
manter a homeostase corpórea; deste modo, é um "espelho" do animal no momento da colheita
Juntamente com o exame de fezes e a urinálise, o hemograma forma a primeira linha de
exames, ou seja, exames de triagem clínica. Quando bem indicado e o material bem colhido e
adequadamente acondicionado, pode prestar auxílio ao clínico quer no diagnóstico, no
prognóstico como no controle terapêutico.
1.1 SANGUE:
1.1.1 Composição: O sangue é composto por uma parte líquida (55 a 60% do sangue total)
e outra celular (40 a 45 %). A parte líquida, chamada plasma "in vivo", ou "in vitro"
quando com anticoagulante, possui 90% de água, 7% de proteínas(fibrinogênio,
albumina e globulinas) ,e 3% dos mais variados solutos orgânicos, como minerais,
enzimas, hormônios, gordura, etc. Quando ocorrer coagulação do sangue, a parte
líquida é chamada soro, e não contém fibrinogênio. A parte celular é composta pelos
eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Os leucócitos são constituídos pelos
granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e os agranulócitos (linfócitos e
monócitos).
2. HEMATOPOIESE
3.ERITROCINÉTICA
Figura 2. Hematopoese
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 12
HEMOGRAMA
O hemograma é o exame realizado com uma amostra de sangue total com anticoagulante, colhida
de um paciente, com o objetivo de auxiliar o clínico na confirmação ou não de uma suspeita
diagnóstica, bem como avaliar o estado geral de um animal , avaliar a eficácia terapêutica e a
evolução de uma doença.
O hemograma é um "espelho" do estado geral do animal no momento da colheita do sangue.
Podemos comparar a análise laboratorial de uma amostra de sangue, a uma imagem parada por
um momento em um filme, onde ninguém se move nem fala, ao colhermos a amostra teremos nela
o reflexo sistêmico do que está ocorrendo naquele momento, naquele animal.
O hemograma completo divide-se em: eritrograma, leucograma e dosagem de proteínas
plasmáticas totais. Podem também ser realizados quando solicitados contagem de plaquetas,
contagem de reticulócitos e dosagem de fibrinogênio.
4.1 ERITROGRAMA
É a avaliação dos eritrócitos, ou série vermelha , e compreende:
Contagem de eritrócitos/µl
Dosagem de hemoglobina (g/dl)
Medição do volume globular ou microhematócrito (%)
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 13
Cálculo dos índices hematimétricos: VCM (volume corpuscular ou celular médio), CHCM
(concentração de hemoglobina corpuscular média)
Análise da morfologia dos eritrócitos
4.2 LEUCOGRAMA
É a avaliação leucocitária , ou da série branca e engloba os seguintes parâmetros:
Contagem total de leucócitos/mm³
Contagem diferencial de leucócitos : valores relativos % ; valores absolutos/mm³
Avaliação da morfologia dos leucócitos
5. ERITRÓCITOS:
canino felino
bovino equino
caprino ovino
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 15
-ALTERAÇÕES NO TAMANHO DOS ERITRÓCITOS-
O termo anisocitose caracteriza a presença de eritrócitos de diferentes tamanhos num
mesmo esfregaço de sangue. Ela pode ser melhor definida de acordo com o tipo de alteração
encontrada:
hipercromia-esferócitos
hipocromia
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 16
Alterações na coloração dos eritrócitos podem ser também:
HIPOCROMIA é a diminuição da intensidade da cor (palidez) dos eritrócitos, devido à
diminuição do conteúdo de hemoglobina que aparece em casos de deficiência de ferro ou
de piridoxina (vitamina B6).
disco biconcave-MO
disco biconcave-ME
lhama aves
ESFERÓCITOS: são eritrócitos esféricos, com diâmetro reduzido , sem a área pálida
central característica. Estas células são formadas em casos de anemias auto-imunes,
quando uma porção da membrana do eritrócito, marcada por anticorpos, é fagocitada
por células do sistema mononuclear fagocítico (SMF), porém sem perda do conteúdo
hemoglobínico. Como resultado temos redução do volume globular do
eritrócito(microcitose), com teor de hemoglobina normal , o que nessa menor área
determina hipercromia. O achado destas células é diagnóstico para anemia imuno-
mediada.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 17
ESQUISÓCITOS: este termo vem do grego schistos, que significa rachar, dividir em
pedaços. São células deformadas ou fragmentos de eritrócitos, que se formam na
passagem de eritrócitos em vasos sangüíneos irregulares (como aqueles formados em
hemangiossarcomas) ou em pequenos vasos ocluídos por fibrina (caso de coagulação
intra-vascular disseminada - CID). Também ocorrem como resultado de um defeito de
produção, da destruição acelerada de eritrócitos, em doenças renais crônicas, doenças
esplênicas e anemia ferropriva.
CODÓCITO (célula alvo): célula vermelha que possui uma área central densa de
hemoglobina separada parcial ou completamente por uma área circular clara de uma
região periférica hemoglobinisada. Resulta do aumento dos níveis de colesterol.
Outra alteração com relação à forma dos eritrócitos diz respeito ao aparecimento de
formas imaturas. As formas imaturas que podem aparecer ao exame do esfregaço são:
esquisócitos equinócitos
acantócitos
codócitos
metarrubrócito
Corpúsculos de Heinz
PONTEADO BASOFÍLICO (Figura 10): são pequenos pontos basofílicos que aparecem
no interior de hemácias, geralmente em intensa eritropoiese ou em casos de
intoxicação por chumbo.
Figura 10. Ponteado basofílico
Rouleaux Aglutinação
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 21
Dentre as alterações na distribuição dos eritrócitos (Figura 11) podemos encontrar:
ROULEAUX: é o nome dado para a disposição dos eritrócitos em forma de pilha de
moedas. A intensidade destas formações tende a acompanhar a velocidade de
hemossedimentação e está associada ao aumento da concentração de fibrinogênio e a
alterações quantitativas das globulinas séricas. Desta forma, costumam aparecer em
casos de inflamação e desidratação. Em eqüinos, que possuem uma alta velocidade de
hemossedimentação, o achado de rouleaux é comum e sem significado clínico.
Tripanossoma
LARVAS DE HELMINTOS(Figura 14): tais como microfilárias dos gêneros Dirofilaria immitis
e Dipetalonema reconditum, encontradas no sangue de cães em regiões litorâneas.
ESPÉCIE Nº DE ERITRÓCITOS
X 10.000.000 /µl
CÃO 5,5 – 8,5
GATO 5,0 - 10
BOVINO 5,0 - 10
OVINO 8,0 - 16
CAPRINO 8,0 - 18
Alguns fatores fisiológicos influenciam o número de eritrócitos circulantes, entre eles podemos
destacar:
a) Idade: animais recém nascidos possuem maior número que adultos.
b) Sexo: machos possuem 5 a 10 % mais eritrócitos que fêmeas
c) Capacidade de trabalho: atividade física intensa aumenta o número de eritrócitos
circulantes, devido a ação da epinefrina .
d) Raça: em eqüinos, os Puro Sangue Inglês (PSI) , possuem maior número de eritrócitos que as
demais raças .
e) Altitude: animais que vivem em regiões de altas altitudes, onde a pressão de oxigênio é mais
baixa , possuem maior número de eritrócitos circulantes .
f) Alimentação: animais com deficiente alimentação, principalmente com carências vitamínicas
ocorrem alterações na produção de eritrócitos refletindo – se na diminuição do número de
eritrócitos.
5.4 HEMOGLOBINA
A hemoglobina é uma proteína conjugada composta por uma proteína simples, a globina,e por
um núcleo prostético tipo porfirina , chamado heme , cujo principal componente químico é o ferro
na forma ferrosa (Figura 15) . Cada molécula consiste de quatro unidades heme, cada uma dessas
associada a uma cadeia simples de globina.A fração heme é sintetizada na mitocôndria
eritrocitária , e somente é produzida até o estágio de reticulócito , pois eritrócitos maduros não
possuem organelas . A síntese da fração globina ocorre em ribossomas, no citoplasma de
eritrócitos nucleados, sendo as diferenças nas seqüências de aminoácidos quem define a variação
morfológica intra e inter espécies .
5.5 HEMATÓCRITO
Do grego krit (julgar), também chamado volume globular (VG), mede a percentagem ocupada
pelos eritrócitos, ou a relação entre glóbulos vermelhos e plasma. Os métodos de centrifugação
dão um volume de células sedimentadas, mensuração esta muito precisa, pois praticamente não
fica retido plasma na massa de células compactadas .
Métodos para a determinação do hematócrito:
Macro - hematócrito – O tubo de Wintrobe que possui duas escalas gravadas, é preenchido com
sangue contendo anticoagulante, devidamente homogeneizado. Em seguida é centrifugado a 5000
rpm , durante 30 minutos . A leitura é feita diretamente na escala à direita do tubo.
Micro – hematócrito – O princípio é mesmo para as duas técnicas. Através da sedimentação dos
elementos figurados do sangue obtém–se a proporção desses elementos em relação ao plasma.
Nessa técnica são usados tubos capilares de 75 mm x 1 mm, preenchidos (2 / 3) com sangue
total, por capilaridade. Após fechada a extremidade seca, em chama de bico de Bunsen , é então
centrifugado a 1200 rpm /5 minutos(centrífuga de micro-hematócrito, Figura 16). A leitura é
feita colocando o capilar sobre uma tabela de leitura específica (Figura 17), onde a extremidade
final do tubo e o menisco da superfície do plasma devem coincidir com as linhas inferior e
superior da tabela, respectivamente.
Figura 17.
Técnica: Após ser feita a leitura do micro- hematócrito, quebra - se o tubo acima do limite
superior da camada sedimentada, despreza se a parte do tubo contendo células e pela
extremidade que não foi quebrada (parte superior do tubo) verte-se o plasma no refratômetro
(Figura 18) . A leitura é feita em escala gravada no aparelho, onde incidir o limite entre parte
clara e escura.
Normal Normal
Fluidoterapia
Diminuído Perda de sangue externa
6.1 ANEMIA
Anemia é a redução dos valores, abaixo dos mínimos fisiológicos para a espécie
animal , do número de eritrócitos , taxa de hemoglobina e / ou hematócrito . Alguns
autores definem anemia como sendo simplesmente a redução da taxa de hemoglobina, isto
porque os sinais clínicos resultam da deficiente capacidade de conduzir o oxigênio.
A anemia é raramente uma doença primária, mas comumente é resultado de
um processo patológico generalizado, por si só a anemia não constitui diagnóstico. Pode –
se suspeitar de uma anemia pelos sinais clínicos característicos e história apresentada
pelo paciente. Ao ser diagnosticada a anemia pela avaliação clínica e resultados do
hemograma, sua patogenia deve ser investigada para determinar a conduta terapêutica
específica. O tratamento não deve ser direcionado para a anemia, exceto quando
necessário medidas de emergência , a causa deve ser encontrada tratada e corrigida se
possível. A anemia pode resultar de :
- perda de eritrócitos
- destruição excessiva
- produção diminuída
Sinais clínicos: resultam da reduzida capacidade do sangue em conduzir oxigênio e certos
ajustes fisiológicos destinados a aumentar a eficiência e reduzir o trabalho forçado do coração.
Sinais comuns a anemias independente da etiologia incluem dispnéia de esforço, reduzida
tolerância a exercícios, palidez de mucosas, aumento da freqüência cardíaca, às vezes sopro
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 30
sistólico , taquipnéia ,depressão....Em perdas agudas de sangue quando 1/3 do volume foi perdido
em um curto período, pode ocorrer choque seguido de morte , se não for realizada transfusão
de sangue ou fluidoterapia para corrigir a hipovolemia .Sinais clínicos resultantes de anemia por
hemólise aguda incluem icterícia , hemoglobinemia , hemoglobinúria e febre .Em perdas crônicas
de sangue , anemias hemolíticas ou anemias por depressão o nível de hemoglobina pode chegar a
50% do normal do paciente sem sinais evidentes de hipoxemia (sem sinais clínicos ).
Existem várias formas de classificação das anemia, apesar de nenhuma ser totalmente
satisfatória ,são complementares e juntas auxiliam a analisar e determinar os possíveis
mecanismos fisiopatológicos e causas prováveis, que auxiliarão o clínico no diagnóstico,
prognóstico e conduta terapêutica .
Hematócrito X 10
VCM=
Nº de eritrócitos
(milhões/mm³)
Hemoglobina X 100
CHCM =
hematócrito
6.2 POLICITEMIAS
LEUCOGRAMA
1. MIELOPOIESE
Ao nascimento, a medula óssea produz granulócitos(neutrófilos, eosinófilos,basófilos),
monócitos,eritrócitos, megacariócitos(que originam as plaquetas) e uma pequena porção de
linfócitos. A maior produção de linfócitos, entretanto, ocorre em tecidos linfóides extra-
medulares (baço, linfonodos, tonsilas, tecido linfóide associado ao intestino, etc).
O termo mielopoiese refere-se à produção das linhagens celulares não linfóides, ou seja,
das linhagens eritróide, granulocítica, monocítica e megacariocítica . (Figura 19).
Uma célula tronco pluripotencial origina as linhagens celulares linfóide e mielóide. As
células tronco são caracterizadas por sua capacidade de auto-renovação por longo tempo e
por sua habilidade de se diferenciar em múltiplas linhagens celulares. Estas linhagens
celulares individuais se desenvolverão independentemente, com exceção de neutrófilos e
monócitos, que compartilham uma célula tronco em comum (Unidade Formadora de Colônia
Granulocítica-Macrofágica UFC-GM )
.
FIGURA 19: Modelo atual da produção e diferenciação hemolinfática a partir de uma célula tronco comum. As células
progenitoras comprometidas com a mielopoese incluem os precursores UFC (unidade formadora de colônia).
As células tronco são necessárias para a produção de células sangüíneas, pois dessas
apenas os linfócitos são capazes de se multiplicar. As células tronco são capazes de repovoar
a medula óssea após severa lesão, capacidade esta que decresce com a idade do animal, ou
seja, animais velhos irão se recuperar mais lentamente de uma grave agressão a medula do
que animais mais jovens.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 35
1.1 GRANULOPOIESE
1.1.1 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS NEUTRÓFILOS:
A granulopoiese ou granulocitopoiese ocorre na medula óssea, influenciada por estímulos
como o da interleucina 3 (IL-3),considerada um fator multiespecífico, e pelo fator estimulador
de colônia granulocítico-macrofágico ou granulocítico-monocítico (FEC-GM). A célula
pluripotencial origina células progenitoras comprometidas em produzir neutrófilos e monócitos
(UFC-GM), eosinófilos (UFC-Eos) e basófilos (UFC-Bas). A UFC-GM possui duplo
comprometimento e sob influência do fator estimulador de colônia granulocítico (FEC-G) e do
fator estimulador de colônia macrofágico (FEC-M), além da IL-3, regulará a diferenciação e
maturação de neutrófilos ou monócitos.
A granulopoiese obedece a uma linha seqüencial de multiplicação que inicia no mieloblasto,
avança para pró-granulócitos até mielócitos, sob influencia de granulopoietinas (provavelmente
oriundas de macrófagos), e continua na maturação em metamielócitos, bastonetes e neutrófilos
segmentados. O último estágio capaz de sofrer mitose é o de pró-mielócito (ou pró-granulócito),
de mielócito em diante, só ocorre maturação. Metamielócitos, bastonetes e segmentados são
armazenados na medula óssea, por um período variável de tempo, enquanto as células sofrem
maturação. Após, os neutrófilos mais maduros são liberados para a circulação sangüínea. O
processo todo, desde mieloblasto até segmentado, dura entre 3,5 a 6 dias.
Para facilitar a compreensão deste sistema ordenado, podemos teoricamente, dividir a
medula em dois compartimentos:
I. Compartimento de multiplicação:
Mieloblasto → pró-mielócito (pró-granulócito) → mielócito
II. Compartimento de maturação e estoque:
Metamielócito → bastonete → neutrófilo segmentado
Os neutrófilos ôo distribuídos em um dos dois compartimentos dinâmicos na circulação,
chamados compartimento circulante e compartimento marginal. O compartimento circulante
compreende aquelas células que estão na corrente circulatória e que são retiradas do vaso no
momento da colheita de sangue para a realização de exames. O compartimento marginal consiste
naquelas células que estão aderidas ao endotélio de pequenos capilares e vênulas, ou que circulam
lentamente ao longo da superfície endotelial desses pequenos vasos. Estas células não são
contadas no hemograma, porque elas não estão circulando, portanto não fazem parte da amostra
colhida por punção venosa. A distribuição dos neutrófilos entre os dois compartimentos, em
caninos, é de aproximadamente 1:1, ou seja, para cada neutrófilo circulante, estma-se 1 no
compartimento marginal. Em felinos, a proporção é de 1:3. Mudanças nos números de células
entre os dois compartimentos podem rapidamente, sob ação de determinados estímulos, e podem
modificar muito a contagem leucocitária, especialmente em felinos.
Os neutrófilos tem uma meia-vida circulante entre 5,5 e 10 horas. Após este período,eles
marginam e migram para os tecidos. Uma vez que tenham penetrado nostecidos, os neutrófilos
não retornam à circulação(não recirculam), permanecem viáveis e ativos nos tecidos até 2 dias,
após, eles são fagocitados por macrófagos ou atravessam as mucosas e são eliminados do
organismo junto com as secreções(especialmente no lúmen intestinal).
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 36
1.1.2 PRODUÇÃO E CINÉTICA DOS MONÓCITOS:
Apesar da formação dos monócitos na medula, ser a partir da mesma célula-mãe dos
neutrófilos, não existe na medula compartimento de maturação ou reserva de monócitos, ou seja,
estas células são liberadas da medula logo após a sua formação. Ainda que não haja nenhuma
reserva medular de monócitos, eles podem ser formados rapidamente em condição de doença.
Em humanos, os monócitos estão distribuídos na corrente circulatória, entre os compartimentos
circulante e marginal (1:3,5), tem uma vida circulante curta (8,5 horas), após a qual deixam a
circulação e alcançam os tecidos, não retornando a circulação. Dados comparáveis não existem
na literatura veterinária, mas se supõe que sejam similares, principalmente em caninos e felinos.
A maturação dos monócitos em macrófagos é acompanhada por mudanças na sua
morfologia, ultra estrutura, receptores de membrana e metabolismo. Após a diferenciação os
macrófagos podem sobreviver, nos tecidos, por dias ou meses.
2.1.1 LEUCOCITOSE:
Leucocitose é o aumento do número de leucócitos acima dos valores de referência para a
espécie animal em questão,em decorrência do aumento de um ou mais tipos celulares. Em caninos,
as leucocitoses geralmente aparecem devido a um aumento do número de neutrófilos, enquanto
que em bovinos normalmente é observada a inversão na proporção neutrófilos e linfócitos.
Em algumas situações podemos observar o que se chama de leucocitose fisilógica. Dentre
as causas, temos:
• Medo/excitação;
• Exercício físico extenuante;
• Gestação/parto.
O aparecimento de leucocitose patológica é esperado em casos de :
• Infecções bacterianas localizadas ou generalizadas;
• Atos cirúrgicos;
• Desordens linfoproliferativas e mieloproliferativas.
2.1.2 LEUCOPENIA:
Leucopenia é a diminuição do número de leucócitos abaixo dos valores fisiológicos para a
espécie, podendo ser por diminuição de uma ou mais linhagens celulares.
Dentre as causas de leucopenia, podemos citar:
• Doenças virais(leucemia felina, panleucopenia felina, parvovirose, cinomose,...);
• Infecções bacterianas graves, que estejam cursando com toxemia ou septicemia;
• Drogas e produtos químicos tóxicos(estrógenos,quimioterápicos, anti-histamínicos);
• Neoplasia de medula óssea;
• Toxemia endógena(uremia);
• Parasitas(Toxoplasma, Erlichia);
• Transtornos físicos(irradiação, raio X);
• Deficiência de vitamina B 12 e ácido fólico.
Como o tipo celular predominante em carnívoros é o neutrófilo, geralmente as leucopenias
ocorrem por neutropenia.
Mecanismos que causam leucopenia:
A leucopenia devido a neutropenia,pode ocorrer por um dos seguintes mecanismos:
DE DD
Desvio a Esquerda
Desvio a
Direita
Figura 20: Esquema de Schilling para classificação da resposta leucocitária.
Neutrófilos segmentados predominam na corrente circulatória, o aumento de células a esquerda do segmentado
caracteriza um desvio a esquerda, enquanto o aumento dos neutrófilos a sua direita, é um desvio a direita.
1. RINS / URINA
Na maioria das espécies, a urina pode ser obtida facilmente. Existem vários métodos para
a colheita e a utilização deles fica relacionada à sua adequação a cada caso. O material utilizado
para a colheita de urina deve ser sempre limpo e seco, de preferência estéril, especialmente se a
amostra de urina for destinada à cultura bacteriológica.
1.4.2. Cateterização
Deve-se utilizar sonda (catéter) de tamanho e espessura adequados ao sexo e ao porte do
animal. Selecionar sempre um catéter do menor calibre possível. Quando se realizar uma
cateterização vesical, uma série de cuidados devem ser tomados:
a. Utilizar sempre material estéril, para evitar a contaminação da bexiga, tomando também
cuidados de assepsia na manipulação da sonda.
b. Evitar traumatismos na uretra ou na bexiga (aparecerá sangue na urina!). A colocação da sonda
tem que ser uma manobra suave e o tamanho da sonda a ser introduzida na uretra deve ser
suficiente para alcançar apenas o colo da bexiga. Deve-se evitar a sucção forçada de urina,
pois esta manobra também poderá lesar a mucosa vesical.
c. A utilização de lubrificantes na sonda é indicada para minimizar o trauma, mas nâo deve ser
excessiva, pois poderá alterar a amostra de urina (a amostra pode ficar turva e no exame do
sedimento visualiza-se gotículas de gordura).
d. A primeira porção de urina obtida deve ser desprezada, pois normalmente contém muitos
debris celulares acumulado durante a colocação da sonda.
A urina obtida por cateterização normalmente contém alguns eritrócitos e em cães
machos é comum o qparecimento de espermatozóides.
1.4.3. Cistocentese
Utilizada em pequenos animais, principalmente quando existir a necessidade de cultura
bacteriana.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 48
Só deve ser realizada quando a bexiga estiver com um volume de urina suficiente para que
ela possa ser delimitada à palpação, para que a punção seja realizada sem risco de lesão na
bexiga ou em outros órgãos adjacentes. A pele deve ser limpa e assepsiada. A bexiga então é
localizada e fixada manualmente. Utiliza-se uma seringa de 10 ou 20ml e agulha calibre 25x7. O
ponto de punção deve ser alguns centímetros à frente do colo da bexiga, com a agulha inclinada
caudalmente.
Utilizar sempre frascos de vidro ou de plástico, limpos e seco, estéreis se a amostra for
destinada à cultura bacteriológica.
A primeira urina da manhã provavelmente contém mais elementos e é mais concentrada
que a urina produzida durante o dia, que é diluída pela água ingerida pelo animal.
Entretanto, a urina que ficou retida na bexiga durante a noite apresenta maiores
alterações nos componentes celulares.
A urinálise deve ser realizada o mais brevemente possível após a colheita. Duas horas após
colhida, a urina já apresenta alterações químicas e citológicas, principalmente se a amostra foi
deixada em temperatura ambiente:
- As bactérias, se presentes, multiplicam-se rapidamente e se forem capazes de utilizar uréia,
irão elevar o pH (alcalinizar a urina, transformando uréia em amônia).
- Se a urina é alcalina, os cilindros tendem a se dissolver.
- Alguns solutos podem cristalizar, alterando o aspecto da urina.
- Células em suspensão na urina sofrem autólise.
Se a realização da análise na amostra recente for impossível, a urina pode ser armazenada
em refrigeração, mas deve ser reaquecida à temperatura ambiente antes do exame. A amostra
refrigerada apresenta aumento discreto da densidade (se esta for medida com urômetro) e
pode ocorrer precipitação de cristais.
O congelamento preserva as características químicas, mas altera o sedimento. Outro
preservativo que pode ser utilizado é o tolueno, numa quantidade suficiente para formar uma
camada na superfície. O tolueno impede a ação bacteriana. Já formalina a 40%, na proporção de
1 gota/30ml de urina garante a preservação do sedimento (células e cilindros), mas altera a
composição química da urina.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 49
2. URINÁLISE
Apesar do exame de urina trazer informações sobre a função renal, ele também fornece
dados sobre vários outros sistemas orgânicos, já que a urina é produzida como resultado de uma
filtragem do sangue − assim, alterações orgânicas que se reflitam sobre o plasma serão
detectadas na urinálise.
A urinálise compreende o exame físico, o exame químico e o exame do sedimento urinário.
2. 1 EXAME FÍSICO
2.1.1. Volume
O volume de urina produzido por um animal varia na dependência de fatores como
quantidade de líquidos ingeridos, temperatura ambiental, dieta, tamanho do animal e tipo de
atividade exercida pelo animal.
Também existe variação na produção de urina de acordo com a espécie:
⇒ Caninos: 26,5 66ml/kg de peso/24 horas ⇒ Felinos: 10 - 20ml/kg/24 horas
⇒ Bovinos: 17,6 - 44ml/kg/24 horas ⇒Eqüinos: 4,4 - 7,6ml/kg/24 horas
⇒ Suínos: 4,4 - 31ml/kg/24 horas ⇒ Ovinos: 10 - 40ml/kg/24 horas
No animal normal, um alto volume urinário geralmente está associado à baixa densidade, assim
como o baixo volume está relacionado à alta densidade.
Existem casos em que pode ocorrer uma poliúria transitória, não patológica, tais como:
⇒ terapia diurética
⇒ aumento na ingestão de líquidos
⇒ fluidoterapia
⇒ uso de corticóides
Já a presença de poliúria patológica está associada a:
⇒ nefrite crônica ⇒ diabete melitus
⇒ nefrite aguda ⇒ diabete insípidus
⇒ fase diurética da nefrose tóxica ⇒ glicosúria renal primária
⇒ piometra ⇒ amiloidose renal avançada
⇒ hiperadrenocorticismo ⇒ pielonefrite generalizada
⇒ polidipsia psicogênica ⇒ algumas doenças hepáticas
2.1.2. Cor
A cor da urina deve ser observada com a amostra colocada em um tubo de vidro,
observado contra um fundo branco. De preferência, deve-se sempre avaliar a cor em um mesmo
volume de urina, já que quanto maior a quantidade de urina colocada em um recipiente, mais
intensa parecerá a sua coloração.
A urina normal varia do amarelo-claro (ou amarelo citrino) ao âmbar-claro. A intensidade
da cor está relacionada ao volume e à densidade: quanto maior a concentração da urina (maior
densidade), maior a concentração de urocromos e mais intensa a coloração da urina e vice-versa.
A urina escura (amarelo-escura, âmbar-clara), pela concentração de urocromos, ocorre
em associação com desidratação, febre, fase oligúrica da nefrose tóxica e doença renal
terminal.
Já a urina pálida (amarelo citrino, amarelo-pálido) é observada no diabete melitus,
diabete insípidus, consumo hídrico exagerado, piometra, nefrite generalizada, pielonefrite, ou
como conseqüência de terapia com corticóides ou fluidoterapia.
Urina de cor amarelo-âmbar a amarelo-esverdeada indica a presença de pigmentos
biliares.
Amostras avermelhadas estão relacionadas à presença de hemácias (hematúria) ,
hemoglobina (hemoglobinúria) ou mioglobina (mioglobinúria).
A diferenciação é feita após a centrifugação: a hematúria simples apresentará sobrenadante
amarelo e límpido, e no fundo do tubo um sedimento de coloração avermelhada constituido de
hemácias visualizadas no exame microscópico do sedimento.
Na hemoglobinúria o sobrenadante permanece avermelhado e não haverá depósito de
material avermelhado no fundo do tubo, nem presença de hemácias em quantidades
superiores aos níveis considerados normais no sedimento urinário. A diferenciação entre as
duas últimas é feita pela história clínica e exame clínico, que na mioglobinúria mostrarão a
presença de lesão muscular extensa ou exercício físico intenso.
Urinas acastanhadas ou amarronzadas podem indicar a presença de hemoglobina
(convertida à hematina) ou mioglobina. Em eqüinos normais, a urina torna-se acastanhada algum
tempo após a micção, pela oxidação de pirocatequinas.
A terapia com diversas drogas podem induzir a alterações na coloração da urina.
Tranquilizantes (como a fenotiazina), fenolftaleína e sulfonamidas produzem coloração
avermelhada ou rósea, enquanto o azul de metileno confere uma coloração esverdeada.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 51
1.3. Aspecto
O aspecto da amostra de urina deve ser observado preferencialmente contra um fundo
reticulado ou em frasco graduado. A observação nítida da graduação do tubo, através da
amostra de urina caracteriza uma urina límpida.
A urina normal da maioria das espécies animais é límpida. Os eqüinos são a única exceção e
possuem uma urina normalmente mais densa e turva, devido à presença de cristais de carbonato
de cálcio e muco. Nas demais espécies, a urina é límpida logo após a micção, podendo se tornar
turva sob refrigeração, pela precipitação de cristais, principalmente em urinas concentradas.
Patologicamente a urina poderá estar pouco turva ou turva, pela presença de leucócitos,
eritrócitos, células, bactérias, muco, cristais, gordura ou espermatozóides. A causa da turvação
só poderá ser determinada com o exame microscópico do sedimento.
2.1.4. Odor
O odor da urina é característico para cada espécie, sendo aromático nos ruminantes e
aliáceo nos carnívoros. O odor normal é determinado pela presença de ácido orgânicos voláteis.
Normalmente, diz-se que o odor é sui generis, mas pode estar alterado em algumas situações
(mas não é diagnóstico):
Amoniacal, quando existe contaminação com bactérias redutoras da uréia.
Adocicado ou cetônico, pela presença de corpos cetônicos em vacas leiteiras com cetonúria
ou em casos de diabete melitus.
Pútrido, em casos de necrose tecidual das vias urinárias.
Como o odor é uma medida subjetiva, que depende muito da interpretação do técnico que
realiza o exame, ocasionando resultados quase sempre normais, no nosso laboratório ele só é
apontado quando realmente existe uma alteração perceptível.
2.1.6. Densidade
A densidade urinária é a medida relativa da quantidade de sólidos em suspensão. Ela indica
o grau de reabsorção tubular, ou seja, a capacidade renal de concentrar a urina.
Em animais normais, a densidade é inversamente proporcional ao volume de urina
produzido.
2.2.2. Proteínas
A proteinúria deve ser sempre interpretada em relação com a densidade e com outros
dados clínicos e laboratoriais. Normalmente, a quantidade de proteínas na urina é inferior a
50mg/dl, o que não é suficiente para ser detectada pelo método das fitas reagentes.
O grau de proteinúria não é proporcional à gravidade do processo, principalmente na
proteinúria renal.
Fisiologicamente, podem ser percebidos traços de proteínas na urina de animais
submetidos a exercício muscular intenso, convulsões, após ingestão excessiva de proteínas e
também nos 1os dias de vida dos recém-nascidos (devido à absorção das proteínas do colostro).
Patologicamente, pode ocorrer proteinúria renal por:
⇒ nefrite (aumento de permeabilidade do glomérulo)
⇒ pielonefrite
⇒ drogas nefrotóxicas: fenol, arsênico, chumbo, mercúrio, sulfonamidas, oxacilina, agentes de
contraste iodados para raio X, anfotericina B, aminoglicosídios
⇒ congestão renal passiva: febre, toxemia, insuficiência cardíaca congestiva, ascite
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 54
A proteinúria pós-renal acontece quando a proteína atinge a urina após esta ter passado
pelos túbulos renais, por contaminação com sangue e exsudatos:
⇒ cistite ⇒ descarga vaginal ou prepucial
⇒ prostatite ⇒ pielite
⇒ uretrite ⇒ urolitíase
Observações: hemorragia pode dar alta proteína. Hemoglobina e mioglobina dão positividade na
reação para proteínas.
Proteinúria X densidade
Como baixa densidade urinária significa maior volume de urina sendo eliminado do corpo,
uma pequena reação (+) em uma urina com densidade 1010 significa que maior quantidade de
proteína está sendo perdida do que em um caso de reação similar em uma urina com densidade
1030.
Pacientes isostenúricos ou hipostenúricos podem estar perdendo quantidades significativas de
proteínas pela urina, e devido à diluição da amostra, o teste pode ser (-) ou (traços).
Valores normais
Cão e gato: densidade ≤ 1020: negativo
densidade ≤ 1035: ≤ 30mg/dl (+)
Nunca deve ser >100mg/dl (++)
Valores Concentração de
semiquantitativos proteínas (mg/dl)
Traços ≤ 30
+ 30
++ 100
+++ 300
++++ > 2000
Como pequenas quantidades de proteínas , em algumas situações, pode ser normal, deve-se
decidir se a proteinúria é significativa ou não através de dosagens repetidas. Proteinúria
transitória pode aparecer em situações como febre, exercício prolongado ou contaminação (com
sangue ou exsudato genital) e raramente é significativa.
Quando a proteinúria for persistente, deve-se suspeitar de:
⇒ hipertensão ⇒ insuficiência cardíaca congestiva direita
⇒ inflamação do trato urinário ⇒ hemorragia do trato urinário
Proteinúria associada a um sedimento inflamatório requer a resolução da inflamação para
verificar se a proteinúria persiste. A causa mais comum de proteinúria é a infecção do trato
urinário (ITU) - cistite, uretrite.
Proteinúria associada a um sedimento não-inflamatório geralmente é devido à doença
glomerular - glomerulonefrite, amiloidose.
2.2.3. Glicose
Na urina normal, não existe glicose presente. Apesar de ser filtrada no glomérulo, a
glicose é inteiramente reabsorvida nos túbulos. Entretanto, em situações nas quais a quantidade
de glicose no sangue ultrapasse o limiar de reabsorção renal, aperecerá glicosúria.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 55
Artefatos:
⇒ Resultados falso-negativos: - urina com formaldeído
- urina refrigerada
- grandes quantidades de vitamina C (cão)
Causas de glicosúria
As causas de glicosúria podem ser divididas em três grupos:
2.2.3.1. A concentração de glicose no sangue excede o limiar renal
⇒ diabete melitus
⇒ stress (em gatos)
⇒ fluidoterapia com dextrose
⇒ hiperadrenocorticismo
2.2.3.1. Alteração de função tubular renal
⇒ toxicidade precoce de aminoglicosídios e anfotericina B
⇒ insuficiência renal aguda
⇒ glicosúria renal primária
⇒ em ovinos: enterotoxemia por toxina tipo D do Clostridium perfringens
2.2.3.3. Contaminação
⇒ hemorragia do trato urinário
As causas mais comuns são hiperglicemia (normalmente por diabete melitus), disfunção do
túbulo proximal renal e hemorragia do trato urinário. Em gatos, o stress emocional por medo,
excitação ou contenção leva à liberação de epinefrina, o que provoca uma hiperglicemia
transitória, conduzindo a uma glicosúria.
Valores Concentração de
semiquantitativos glicose (mg/dl)
Traços 100
+ 250
++ 500
+++ 1000
++++ > 2000
Valores Concentração de c.
semiquantitativos cetônicos (mg/dl)
Traços 5
+ 15
++ 40
+++ 80
++++ 160
2.2.6. Urobilinogênio
Este pigmento representa uma série de substâncias que reagem positivamente com o
reativo de Ehrlich. Estes pigmentos são produzidos pela redução bacteriana dos conjugados de
bilirrubina no intestino, onde eles são parcialmente absorvidos e parcialmente eliminados nas
fezes (como estercobilina).
A presença de urobilinogênio na urina significa que o ducto biliar está aberto e indica que
há circulação entero-hepática de pigmentos biliares.
A ausência de urobilinogênio em uma única amostra não reflete necessariamente a
obstrução completa do ducto. Só deve ser considerada significativa se for observada por
diversos dias. A diminuição da atividade bacteriana sobre a bilirrubina no intestino, como
conseqüência de antibioticoterapia, ou presença de diurese associada à doença renal crônica
podem diluir o urobilinogênio para níveis inferiores à sensibilidade do teste das fitas reagentes,
que não é muito alta.
Em animais com dano hepatocelular, um defeito na re-excreção do urobilinogênio na
secreção biliar resulta num maior escape destes pigmentos para a circulação e,
consequentemente, na urina (Fig. 20). Também, o urobilinogênio urinário poderá estar aumentado
em associação com doenças hemolíticas (Fig. 22).
Observação: a exposição da urina à luz produz resultados falsamente diminuídos, pois o
urobilinogênio é convertido à urobilina, que não é detectada pelo método das fitas reagentes.
Figura 20:
Figura 22:
2.2.7. Hemoglobina
As tiras reagentes utilizadas normalmente reagem positivamente com hemoglobina,
mioglobina e, em menor intensidade, com as hemácias intactas. É importante diferenciar
hematúria de hemoglobinúria, já que a hemoglobinúria é um processo sistêmico, enquanto que a
hematúria normalmente está associada a algum processo genitourinário.
Observação: hematúria, em urinas diluídas ou alcalinas, pode ser confundida com
hemoglobinúria, pois as hemácias sofrem lise; no sedimento observam-se estruturas semelhantes
a “células-fantasmas”.
Causas:
Hematúria: ⇒ pielonefrite, pielite, ureterite, cistite
⇒ trauma de bexiga, rim ou uretra
⇒ prostatite
⇒ neoplasias de rim, bexiga, próstata, pênis ou vagina
⇒ congestão renal passiva
⇒ parasitas
⇒ tóxicos (arsênico, mercúrio, cobre)
⇒ trombocitopenia
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 59
⇒ estro, pós-parto
Em cães, a causa mais comum é a ITU (infecção do trato urinário); em gatos, é a SUF
(síndrome urológica felina).
Hemoglobinúria: ⇒ hemólise excessiva
⇒ leptospirose
⇒ babesiose
⇒ anaplasmose
⇒ agentes hemolíticos químicos (cobre, mercúrio)
⇒ transfusão sangüínea incompatível
⇒ doenças hemolíticas
⇒ Clostridium haemolyticum pode causar hemoglobinúria bacilar
Mioglobinúria: ⇒ trauma muscular agudo
⇒ hipertermia
⇒ miosite
2.2.8. Nitrito
O normal é ser negativo. Na presença de bactérias que convertem nitrato a nitrito (deve
haver pelo menos 4 horas de crescimento bacteriano), poderá ser positivo. Não foi estabelecido
se é um indicador válido para uso veterinário. Se houver positividade, deve-se buscar bactérias
no exame do sedimento e/ou indicar uma cultura bacteriana.
2.3.1. Técnica
Normalmente existe a necessidade de concentrar os elementos presentes na urina antes
de se realizar o exame microscópico. A interpretação adequada do exame do sedimento depende
tanto da técnica de colheita quanto da técnica de examinação.
O laboratório deve estabelecer padrões para a realização do exame. O volume de urina
utilizado deve ser sempre constante (em geral, utiliza-se 10ml). A velocidade e o tempo de
centrifugação também devem ser os mesmos para todos os exames
Utiliza-se um volume de 10ml de urina, colocada em um tubo de fundo cônico,
centrifugando-se em baixa velocidade (1000 - 1500 rpm), por um período de 5 a 10 minutos.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 60
Após a centrifugação, observa-se o aspecto, coloração e quantidade de material
sedimentado, assim como a coloração do líquido sobrenadante. Em urinas turvas, o sobrenadante
é utilizado para a medição da densidade com refratômetro.
Para a avaliação do sedimento, despreza-se o sobrenadante e ressuspende-se o depósito
com o líquido que restou nas paredes do tubo. Coloca-se uma gota deste material entre lâmina e
lamínula e então se faz a observação ao microscópio.
Observa-se primeiramente em pequeno aumento (aumento de 100x), avaliando a
quantidade de elementos e sua distribuição sob a lamínula, bem como a presença de estruturas
maiores, como cilindros, muco, cristais, agrupamentos de células e, ainda, a impregnaçào por
pigmentos biliares. Em grande aumento (400x) é feita a identificação dos tipos celulares, a
verificação da presença de bactérias e a quantificação aproximada de cada elemento em sua
média de 10 campos da lamínula, escolhidos aleatoriamente.
Como a quantificação dos elementos observados no sedimento é apenas uma aproximação,
isto deve ser levado em consideração no momento da interpretação.
2.3.2. Interpretação
O sedimento urinário pode ser dividido em orgânico (ou organizado), que compreende
todos os tipos celulares, inclusive espermatozóides, bactérias, fungos, leveduras e cilindros, e
em inorgânico (ou não-organizado), que inclui cristais, pigmentos e gotículas de gordura.
Quando se avaliar o número de elementos celulares do sedimento, deve-se levar em conta
a densidade de urina. Um grande número de elementos celulares por unidade de volume pode ser
esperado em uma urina bastante concentrada, enquanto que o mesmo número de células em uma
urina diluída pode ser um indicativo de alguma patologia.
2.3.2.1. Leucócitos
Valores normais: 0 - 3/campo de grande aumento (cga) − urina colhida por cistocentese
0 - 5/cga − cateterização
0 - 7/cga − micção espontânea
Os leucócitos aparecem na urina normal por diapedese ao longo do trato urinário.
Neutrófilos aparecem na urina como células esféricas e granulares, um pouco maiores que
as hemácias. Em urinas alcalinas, os leucócitos têm a tendência de se agruparem em grumos. A
degeneração celular é freqüente.
A presença de um número aumentado de leucócitos na urina é denominada piúria.
Causas de piúria:
⇒ Contaminação com secreções prepuciais ou vaginais − nestes casos, a obtenção de uma
amostra de urina por cistocentese elimina a contaminação com material e genital e a
inflamação uretral.
⇒ Infecção do Trato Urinário (ITU): pielite, ureterite, cistite − é a causa mais comum de piúria
persistente. Observar a presença de bactérias. Cultura para bactérias, fungos e Mycoplasma
estão indicados.
⇒ Neoplasia
⇒ Urolitíase
⇒ Nefrite intersticial aguda
⇒ Febre e exercício podem produzir piúria transitória.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 61
2.3.2.2. Hemácias
Valores normais: 0 - 5/cga.
Os eritrócitos se apresentam como células esféricas ou bicôncavas, que freqüentemente
se movimentam sob a lamínula. Em urina muito concentradas, podem se apresentar crenadas; em
urinas muito diluídas, freqúentemente estão “inchadas”, abalonadas, aparecendo como anéis
incolores.
Em urinas hipostenúricas (D < 1007) ou muito ácidas (pH < 5,5) ou muito alcalinas (pH > 8),
a hemólise ocorre muito rapidamente.
Causas de hematúria:
⇒ Contaminação com secreções vaginais ou prepuciais (estro, tumor venéreo transmissível em
cães) hemorragia provocada na colheita.
⇒ ITU − é a causa mais comum.
⇒ Inflamação asséptica − em felinos, síndrome urológica felina (SUF) é a causa mais comum.
⇒ Coagulopatias
⇒ Doença prostática
⇒ Trauma − exógeno, cirúrgico, cálculos
⇒ Neoplasia
⇒ Leptospirose
⇒ Infarto renal
⇒ Parasitas
⇒ Glomerulonefrite (raro)
2.3.2.5. Cilindros
Cilindros são estruturas proteináceas formadas nos túbulos renais, principalmente no
túbulo distal, ramo ascendente da alças de Henle e túbulo coletor, que são os locais onde a urina
atinge picos de concentração e acidez, o que favorece a precipitação de proteínas. Além disso, a
matriz dos cilindros é uma mucoproteína, que é secretada pelas células tubulares destes locais.
Valores normais: 0 - 1 cilindro granuloso/cga
0 - 2 cilindros hialinos/cga
A interpretação deve ser feita em conjunto com a densidade. A presença de número
moderado de cilindros em urina diluída tem tanto significado clínico quanto números altos em
urinas concentradas.
A presença de grandes números de cilindros é sempre um indicador de lesão renal, ainda
que processos irritativos temporários e congestão renal possam resultar no aparecimento de
cilindrúria transitória.
Grandes números de cilindros também podem aparecer na urina de animais que
manifestassem diminuição de perfusão renal − neste caso, são um bom sinal, indicativo do
retorno da função renal em animais que estavam com anúria ou oligúria.
Os cilindros se dissolvem rapidamente na urina, ainda mais se a urina for manuseada muito
vigorosamente. Em urinas alcalinas, os cilindros se dissolvem.
Existem vários tipos de cilindros:
a. Cilindros Hialinos: formados de proteína e mucoproteína. Aparecem somente em urinas
ácidas. Podem ser encontrados durante diurese pós-reidratação, ou em animais com proteinúria.
É o menos significativo dos cilindros.
b. Cilindros Granulosos: contêm grânulos, finos ou grossos, que são derivados da desintegração
de células ou das proteínas do epitélio tubular. É o mais comumentemente observado, já que
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 63
várias doenças renais podem produzi-los. Podem ser observados após a reidratação de um
paciente severamente desidratado.
c. Cilindros Céreos: são indicativos de lesões crônicas. Representam cilindros granulosos
degenerados.
d. Cilindros Epiteliais: formados pela descamação das células epiteliais dos túbulos renais, ou
seja, são cilindros com células renais. Geralmente indicam doença renal severa, como intoxicação
por metais pesados (chumbo, mercúrio), hipóxia tubular ou insuficiência renal oligúrica aguda, de
qualquer causa.
e. Cilindros Eritrocitários: são indicativos de hemorragia nos túbulos renais, que pode ser
originária tanto do glomérulo quanto do túbulo. Podem estar associados a trauma renal e infarto
renal. São raros.
f. Cilindros Leucocitários: indicam a presença de um processo supurativo renal (pielonefrite,
abcesso renal).
g. Cilindros Gordurosos: estão associados à doença tubular com deposição de material lipídico
nos túbulos renais. São observados ocasionalmente em cães com diabete melitus. São o tipo mais
freqüente em gatos com doença renal.
2.3.2.6. Espermatozóides
A presença de espermatozóides indica contaminação com sêmen. São comumente
observados na urina de cães machos, colhida por cateterização. Como o sêmen é um material
proteináceo, conforme a intensidade da contaminação, o exame químico da urina vai apresentar
reação positiva para proteínas.
2.3.2.7. Parasitas
Podem ser observados ovos de alguns parasitas no exame do sedimento urinário:
⇒ Capillaria plica: parasita a bexiga de gatos, cães e raposas.
⇒ Stephanurus edentatus: parasita o rim de suínos.
⇒ Dioctophyma renale: parasita gigante do rim de caninos.
Outros ovos que não sejam destes parasitas significam contaminação fecal.
2.3.2.8. Cristais
O aparecimento de cristais na urina só tem significado clínico em alguns casos específicos,
já que a formação dos cristais depende de uma série de fatores extra-orgânicos, que devem ser
cuidadosamente avaliados na interpretação de uma cristalúria. A condição que normalmente mais
diz respeito à importância da cristalúria é a urolitíase, em que se faz uma estimativa da
composição do urólito pelo tipo de cristal que aparece no sedimento. Entretanto, mesmo nestes
casos, é necessário cautela, pois os urólitos freqüentemente são formados por um núcleo com um
tipo de mineral e as camadas externas por outros.
Uma limitação da perfeita avaliação das cristalúrias é a dificuldade na identificação do
cristal no exame do sedimento urinário, já que este processo baseia-se quase que
exclusivamente na forma do cristal, a qual é bastante variável ao longo do seu processo de
formação.
A formação de cristais depende do pH da urina, da temperatura da urina, da solubilidade e
da concentração das substâncias cristalóides. Muitas vezes, uma urina límpida logo após a
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 64
micção, torna-se turva quando deixada em repouso, pela precipitação de cristasi. Outras vezes,
amostras de urina límpida, quando refrigeradas, tornam-se turvas pela precipitação de cristas,
que voltam a se fundir quando a urina é reaquecida à temperatura ambiente.
Alguns cristais têm seu aparecimento mais ou menos restrito ao pH da urina. Assim, em
urinas alcalinas, podem estar presentes os cristais de fosfato triplo, fosfato amorfo, carbonato
de cálcio e biurato de amônia. Em urinas ácidas, poderão aparecer os cristais de ácido úrico,
ácido hipúrico e uratos amorfos, além de cristais de oxalato de cálcio.
⇒ Cristais de fosfato triplo e fosfatos amorfos não têm grande significado clínico. São
freqüentes em gatos com SUF.
⇒ Cristais de carbonato de cálcio são normais na urina de eqüinos.
⇒ Cristais de biurato de amônia (ou urato de amônia) são indicativos de hiperamonemia,
ou seja, o acúmulo de amônia no sangue, causado pela presença de shunts porto-sistêmicos, que
tanto podem ser congênitos quanto decorrentes de cirrose hepática.
⇒ Cristais de uratos amorfos, ácido úrico e ácido hipúrico são comuns na urina de cães
Dálmatas (predisposição racial).
⇒ Cristais de oxalato de cálcio aparecem em casos de nefrite tóxica aguda em cães,
principalmente, provocada pela intoxicação com etileno glicol.
⇒ O aparecimento de cristais de leucina e tirosina está associado à insuficiência hepática
aguda.
⇒ Cristais de cistina (raramente observados) indicam distúrbios no metabolismo das
proteínas.
2.3.3.4. Neoplasias
⇒ hematúria (nem sempre) ⇒ células neoplásicas
2.3.3.8. Leptospirose
⇒ pigmentos biliares aumentados ⇒ cilindrúria (normalm. cilindros granulosos)
⇒ densidade de normal à baixa ⇒ hematúria discreta
⇒ células
Exames bioquímicos para avaliar função renal só são indicados após a realização de um
exame clínico detalhado e após a interpretação cuidadosa da urinálise.
Os exames bioquímicos realizados com a finalidade de avaliar o funcionamento renal são as
dosagens de uréia e de creatinina.
3.1 Uréia
A uréia ou BUN (de Blood Urea Nitrogen) é formada no fígado, pela ação da arginase no
ciclo da uréia, e é o principal produto final do metabolismo protéico. Como tem um baixo peso
molecular, a uréia difunde-se pelos fluidos orgânicos e é totalmente filtrada no glomérulo. Cerca
de 25 a 40% da uréia filtrada é reabsorvida nos túbulos, dependendo da velocidade do fluxo
urinário (quanto mais veloz, menor o percentual de reabsorção). Cerca de 60% da uréia é
eliminada na urina.
Na diminuição da filtração glomerular haverá retenção da uréia, com conseqüente aumento
da sua concentração sérica. Para que exista o acúmulo de uréia no sangue, por processo renal, é
necessário que pelo menos ¾ dos néfrons estejam afuncionais.
A concentração da uréia sérica pode ser afetada por outros fatores extra-renais, como
dieta rica em proteínas, hemorragia gastro-intestinal, febre ou trauma generalizado e ainda o
uso de corticosteróides ou de tetraciclinas.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 66
O aumento dos níveis séricos de uréia podem ser agrupados em causas pré-renais, renais
ou pós-renais. A diminuição do fluxo sangüíneo renal, diminuição da pressão glomerular,
hipotensão severa, insuficiência cardíaca, desidratação levam à diminuição da pressão de
filtração renal, levando a um aumento de uréia por causas pré-renais. Quando ¾ dos néfrons
estão afuncionais, existe o aumento dos níveis da uréia por causas renais. casos de obstrução
das vias urinárias ou de ruptura de bexiga levam ao aumento da uréia sérica por problemas pós-
renais.
Os níveis séricos de uréia podem estar diminuídos por problemas na síntese (insuficiência
hepática ou dieta com restrição protéica) ou por excesso de eliminação (poliúria/polidipsia,
hiperadrenocorticismo, diabete melitus, hiper-hidratação).
Valores normais: em geral, entre 15 - 30mg/dl (cães e gatos).
3.2 Creatinina
A creatinina é formada no metabolismo da creatina e da fosfocreatina musculares. Seu
nível sérico não é afetado pela dieta do animal. A creatinina é totalmente eliminada pelo
glomérulo, não sendo reabsovida nenhuma porção a nível tubular. As causas de aumento da
creatinina sérica podem ser divididas em pré-renais, renais e pós-renais, e se equivalem àquelas
citadas para a uréia.
Normalmente os níveis de uréia aumentam antes da creatinina. Apesar disso, se não
houver condições de realizar a dosagem das duas, deve-se optar pela dosagem de creatinina,
que é afetada somente por alterações na capacidade de filtração do rim.
Valores normais: 0,5 - 1,5mg/dl (cães)
0,4 - 2,0mg/dl (gatos).
AZOTEMIA X UREMIA
1. INTRODUÇÃO
2. TÉCNICAS DE COLHEITA
2.1 Toracocentese
As efusões pleurais são tipicamente abundantes e bilaterais, mas podem ser discretas,
unilaterais e/ou compartimentalizadas (principalmente em pequenos animais). Se o derrame não
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 68
for compartimentalizado, a toracocentese é realizada ventralmente, na altura da junção
costocondral, ao nível do sétimo e nono espaço intercostal
O animal é contido em decúbito esternal ou em estação. O local da punção deve ser
depilado, lavado e a pele desinfetada com um antisséptico.
O uso de um cateter de teflon¹, intravenoso, de calibre 18 a 20 G é preferido ao uso de
agulhas, já que é permitida a retirada da agulha logo após a perfuração da parede torácica,
diminuindo o risco de lesar acidentalmente os órgãos intratorácicos. Como alternativa, pode-se
utilizar um butterfly de mesmo calibre, já que estes apresentam uma agulha curta. Deve ser
adaptado ao cateter ou ao butterfly uma torneira de três vias, fechada para o paciente, antes
da punção. O catéter deve ser introduzido junto ao bordo cranial da costela,para evitar a
perfuração dos vasos intercostais, que se localizam junto ao bordo costal caudal. Após ter
atingido o espaço pleural, redirecionar o cateter cranial ou caudalmente, para que a sua ponta
não fique voltada diretamente para o parênquima pulmonar.
Adaptar à torneira de três vias uma seringa de 10 ou 15 ml.. Abrir a torneira, permitindo a
passagem seringa/paciente e aplicar uma pressão negativa de ±5ml., para provocar a saída de
líquido do tórax. Antes de ser retirada a seringa, a torneira deve ser fechada para o paciente.
Repetir a manobra tanto quando for necessário para obter a amostra.
A amostra de líquido obtida deverá ser acondicionada em frasco com anticoagulante² para
a realização da contagem global de células. Se houver necessidade de realizar-se algum exame
bioquímico no material, deve ser acondicionada também uma amostra sem anticoagulante.
Havendo necessidade, preparar também uma amostra, sem anticoagulante e em frasco estéril,
para ser realizada cultura microbiana.
2.2 Abdominocentese
Existem várias técnicas descritas para a realização da colheita de líquido abdominal em
pequenos animais. A linha ventral média do abdômen, 1 ou 2 cm caudal à cicatriz umbelical,
costuma ser o ponto mais indicado para a realização da punção, já que evita a gordura do
ligamento falciforme, que pode obstruir facilmente a agulha. Entretanto, muitos profissionais
preferem fazer a punção lateral a linha média em 1 ou 2 cm, evitando assim a perfuração da linha
Alba. O motivo é que a linha Alba não se retrai após a retirada da agulha, ficando um orifício
aberto pó algum tempo, podendo servir como porta de entrada e também, em casos de efusões
abdominais muito abundantes, permitir uma drenagem indesejada do líquido retido na cavidade
abdominal após a retirada da agulha. Já a musculatura abdominal se retrai rapidamente após a
retirada da agulha..
O local escolhido para a realização da punção deve ser preparado e limpo com um
antisséptico. Geralmente não é necessário o uso de tranqüilizantes nem de anestesia local, mas a
contenção do animal deve ser eficiente.
O esvaziamento prévio da bexiga é uma boa medida para prevenir uma cistocentese
acidental. É útil fazer a punção deslocando lateralmente a pelo da região, desencontrando o local
da punção da pele com o da parede após a retirada da agulha.
Com o animal em decúbito lateral ou em estação, realiza-se a punção, utilizando-se uma
agulha de calibre 20 G (25x9) ou um cateter endovenoso de teflon¹ do mesmo calibre. Se
existir uma cicatriz cirúrgica na região, a punção deve ser realizada pelo menos 1,5cm. afastada
do local, para evitar as vísceras abdominais que eventualmente possam estar aderidas à parede
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 69
na região cicatricial. Normalmente não é necessário utilizar uma seringa para aspirar os líquidos
acumulados no abdômen, mas é uma opção. Entretanto, quando se utilizar seringa, a pressão
negativa aplicada deve ser suave, pois é fácil aspirar omento ou outro conteúdo abdominal,
obstruindo a abertura da agulha e impedindo a drenagem do líquido.
Outra técnica de colheita é a que utiliza um cateter de diálise peritonial, inserido na porção
caudal do abdômen. Este é tido como o melhor método para a colheita de fluídos. A área média
ventral do abdômen é preparada para a inserção do cateter, 1 ou 2 cm caudal à cicatriz
umbelical. O paciente é mantido em decúbito dorsal e o local da punção, da pele até a fáscia e
peritônio, é infiltrado com lidocaína 1%. Uma pequena incisão é feita na pele e o catéter com
trocarte é inserido no abdômen caudal. O estilete é então removido. O cateter é posicionado
com uma orientação dorsocaudal. Deve-se tomar cuidado nomomento da inserção para não
lesionar os órgãos abdominais com o estilete do trocante, aprofundando a inciso da pele até a
linha Alba.
Para grandes animais, o local de escolha para a punção é a porção mais ventral do abdômen.
Em eqüinos, pode-se optar por puncionar o ponto médio entre a cicatriz umbelical e o apêndice
xifóide do esterno. A pele deve ser preparada conforme já citado para pequenos animais.
Utilizam-se agulhas 40x15.
O material obtido pela abdominocentese deve ser acondicionado da mesma forma como
citado para amostras de toracocentese.
3.2 Densidade
A densidade da amostra pode ser medida rapidamente através de um refratômetro,
servindo como uma estimativa da quantidade de sólidos em suspensão. Em amostras turvas ou
quilosas, a medida da densidade pode estar falsamente alterada. É ideal realizar a medida de
densidade do sobrenadante após centrifugação destas amostras.
3.3 Proteínas
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 70
A medida da concentração de proteínas pode ser realizada por colorimentria, utilizando-
se kits bioquímicos ou com o uso de um retratômetro, que é um método mais rápido e barato e
que produz resultados bastante confiáveis.
3.5.2 MACRÓFAGOS: são células grandes, com um núcleo único ovalado ou em forma de
rim (ainda que multinucleação e formato nuclear variável possamocorrer), citoplasma azulado e
com vacúolos, podendo apresentar material fagocitado. É um dos tipos celulares mais
freqüentemente encontrados nos derrames cavitários.
3.5.3 NEUTRÓFILOS: estão presentes em algum grau na maioria das efusões e tendem a
predominar nos derrames associados com inflamação. Citologicamente, existem duas
classificações gerais para os neutrófilos: degenerados e não-degenerados. Neutrófilos
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 71
degenerados são aqueles que sofreram degeneração hidrópica, queé uma alteração local
provocada geralmente por toxinas bacterianas, que alteram a permeabilidade damembrana
destas células. Eles são caracterizados por apresentarem núcleo inchado, frouxo,que se coraem
um padrão eosinofílico homogêneo.Neutrófilos não-degenerados são aqueles que apresentam um
padrão de cromatina nuclear fortemente agregado e basofílico, como o apresentado no sangue
periférico. Alguns destes neutrófilos podem ser hipersegmentados, o que é uma decorrência da
idade (tempo de permanência no local) da célula. A presença de neutrófilos não-degenerados
sugere que a efusão não é séptica, ainda que agentes infecciosos não bacterianos (Ehrlichia,
Toxoplasma) ou bactéruias que não produzem toxinas fortes (família dos Actinomycetos –
Nocardia, Actinomyces) yambém possam ocorrer com a presença de neutrófilos não-
degenerados.
3.5.6 MASTÓCITOS: são facilmente identificados pelos seus grânulos de cor vermelho-
púrpura. Podem ser observados em pequeno número em efusões de cães e gatos com diferentes
processos inflamatórios ou em grandes números em casos de mastociforma.
3.5.8 CÉLULAS NEOPLÁSICAS: podem ser observadas em efusões com diferentes tipos
de neoplasias. Tumores epiteliais (carcinomas e adenocarcinomas), linfossarcomas,
mastocitomas, hemangiossarcomas e mesoteliomas podem exfoliar bom número de células para
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 72
dentro da cavidade torácica ou abdominal. A identificação da célula neoplásica depende da
habilidade do observador em reconhecer os sinais celulares de malignidade.
3.6 Outros
A contagem de eritrócitos e o microhematócrito são realizados ocasionalmente, com o
propósito de avaliar a quantidade de sangue presente na amostra. A principal indicação desta
dosagem é comparar o conteúdo de eritrócitos da efusão com o do sangue de um
animal com hemotórax ou hemoabdômen.
Algumas avaliações bioquímicas podem ser indicadas em situações específicas. Neste caso,
deve ser utilizada uma fração da amostra sem anticoagulante, recém-colhida, dosadas em
paralelo com uma amostra de soro, para comparação, já que não existem, ¨valores normais¨para
dosagens bioquímicas em derrames.
Uréia e creatinina: indicadas quando se suspeita de uroperitônio.
Bilirrubina: indicadas quando se suspeita de peritonite biliar.
Colesterol e triglicerídios: indicadas em derrames quilosos ou pseudoquilosos.
Amilase e lípase: indicadas quando se suspeita de peritonite por pancreatite.
A maioria das efusões abdominais e torácicas podem ser classificadas como transudatos
puros, transudatos modificados ou exsudatos. Esta classificação se baseia nos valores obtidos
para dencidade, conteúdo protéico e contagem de células nucleadas totais. Existe alguma
variação nos limites estabelecidos para cada categoria de acordo com diferentes autores. A
tabela a seguir apresenta a classificação de OLIVIER & WILLARD (1994).
Em condições como neoplasias ou infecções, o exame do líquido pode ser diagnóstico, mas
em outros casos esta análise simplesmente indica um processo. História e exame clínico são
fundamentais para a obtenção do diagnóstico definitivo.
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Cães com insuficiência cardíaca direita desenvolvem ascite, secundária ao aumento
da pressão intra-hepática e ao extravasamento de linfa hepática rica em proteína, formando um
transudato modificado de coloração geralmente rosada. A maioria da células encontradas
consiste numa mistura de células mesoteliais ou macrófagos, neutrófilos não-degenerados e
linfócitos. Não existe um achado citológico patognomônico de insuficiência cardíaca. Os exames
clínico, radiológico e/ou eletrocardiológico são necessários para estabelecer o diagnóstico de
insuficiência cardíaca.
Gatos com doença cardiovascular (cardiomiopatia) desenvolvem derrame torácico, com
coloração de amarelo e branco-leitoso,consistindo tipicamente de 50% de pequenos linfócitos.
Entretanto, a população de neutrófilos cresce com drenagens repetidas da efusão,
provavelmente como decorrência de inflamação produzida pela toracocentese ou como
decorrência de linfopenia que se desenvolve com a perda de linfócitos.
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 75
QUILO/PSEUDOQUILO
As efusões quilosas ocorrem geralmente no tórax, e são na maioria das vezes bilaterais.
Elas podem ocorrer por muitas causas, dentre elas doença cardíaca, trauma, inflamação,
neoplasia, hérnia diafragmática, cirurgia torácica, vômito, tosse crônica, defeitos congênitos,
infecção com parasitas cardíacos, corpos estranhos, trombose do ducto torácico e ainda por
causas idiopáticas. Em cães, neoplasia e trauma são as causas mais comuns, enquanto que em
gatos a doença cardiovascular é a mais freqüente.
Estas efusões variam do amarelo ao rosado ou branco-leitoso, dependendo da dieta e do
número de eritrócitos no fluido. O tipo celular predominante são os pequenos linfócitos, mas
ocorrem casos cem que predominam neutrófilos e/ou macrófagos.
Como nem todas as efusões quilosas ou peseudoquilosas têm cor branco-leitoso ou
linfócitos como tipo celular predominante, elas são mais bem identificadas pela dosagem
simultâneas da concentração de colesterol e triglicerídios na efusão e no soro. Efusões quilosas
apresentam níveis de friglicerídios mais altos no derram do que no soro e nível de colesterol
mais baixos no derrame que no soro. Nas efusões pseudoquilosas acontece o inverso.
A maioria das efusões brancas são quilosas, mas ocasionalmente elas podem ser
pseudoquilosas; mais comumente acontecem com neoplasias ou processos inflamatórios, mas
podem estar associados com qualquer efusão crônica.
PERITONITE BILIOSA
A liberação de bile na cavidade abdominal, secundária à ruptura de vesícula ou de ductos
biliares produz peritonite. A efusão é de coloração amarelo-alaranjada. Podem ser vistos
macrófagos com pigmento fagocitado, de cor azul-esverdeado ou amarelo-esverdeado. A
concentração de bilirrubina no líquido de derrame será maior que a concentração sérica de
bilirrubina, nestes casos.
4.4 EXSUDATOS
Os exsudatos variam em coloração do âmbar ao vermelho ou branco, são turvos ou até
mesmo grumosos. Caracterizam-se pelo alto conteúdo protéico e alta celularidade. A
concentração de proteínas dos exsudatos se sobrepõe aquela dos exsudatos modificados.
Os exsudatos ocorrem mais comumente devido à presença de quimiotaquitantes na
cavidade, como decorrência de um processo inflamatório. Desta forma, os neutrófilos são o tipo
celular predominante na maioria dos exsudatos. Se a inflamação é devido a uma infecção
bacteriana, geralmente os neutrófilos serão degenerados. Ocasionalmente, um esxudato pode se
desenvolver em decorrência da abundante exfoleação de células tumorais ou secundária a uma
efusão quilosa, casos nos quais irão predominar células neoplasicas e linfócitos, respectivamente.
Em exsudatos sépticos podem ser visualizadas bactérias intra e extra celulares, enquanto
que em exsudatos assépticos as bactérias não são visualizadas e o resultado da cultura é
negativo. A menos que exista uma razão específica em contrário, todas as amostras de
exsudatos devem ser submetidas à cultura bacteriana.
Um exsudato séptico espontâneo é fortemente indicativo de ruptura do trato digestivo.
Corpos estranhos ou abcessos podem ser encontrados ocasionalmente. Alguns exsudatos
sépticos podem ser atribuídos à contaminação por cirurgia prévia ou pela drenagem de uma
efusão inicialmente estéril. Nestes casos, geralmente a história clínica é sugestiva.
O aparecimento de um exsudato abdominal asséptico deve conduzir a uma busca por
história de trauma prévio, até mesmo semanas antes ao aparecimento da efusão. Exsudatos pós-
trauma são ocasionalmente associados com uroabdomen e ascite biliar.
EXEMPLO – PLEURITE/PERITONITE INFECCIOSA: A inflamação da cavidade pleural
ou peritonial esta associada à presença de substâncias quimiotaquitantes e vasoativas nestas
cavidades. Os quimiotaquitantes levam à proliferação de neutrófilos e macrófagos, enquanto que
as substância vasoativas permitem o extravazamento de um líquido rico em proteínas. As
infecções bacterianas são as mais comuns, mas já foram identificadas infecções
pleurais/abdominais micóticas, por protozoários e tambémpor ricketsias.
AULAS PRÁTICAS
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 79
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 80
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 81
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 82
CASO CLÍNICO Nº 1
CASO CLÍNICO Nº 2
CASO CLÍNICO Nº 3
BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS : O proprietário observou que o animal está urinando
com muito freqüência e fazendo a postura de micção por um tempo mais longo que o habitual,
mesmo quando já acabou de urinar. Também está urinando em locais incomuns, como na sua
própria caixa de dormir.
EXAME COMUM DE URINA –
EXAME Nº : 003 ESPÉCIE : canina FICHA Nº : 233
NOME : Pipoca SEXO : Fêmea RAÇA : SRD IDADE: 3 anos
PROPRIETÁRIO: José Augusto Marques
ENDEREÇO: Afonso Pena,387 FONE: -
REQUISITANTE: .........................................................................................................................
EXAME FÍSICO EXAME QUÍMICO
Volume 45 ml Reação Alcalina pH 7,5
Cor avermelhada Proteínas ++
Aspecto turva Glicose +
Densidade 1036 Acetona _
Observações: Pigm. Biliares _
Odor amoniacal Hemoglobina ++
Urobilinogênio Traços
Nitrito _
EXAME DO SEDIMENTO
Hemácias :10-12/cga Bacteriúria acentuada
Leucócitos : 30-40/cga
Células de transição : 5-6/cga
Filamentos de muco
Cristais de Fosfato triplo: +
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 95
CASO CLÍNICO Nº 4
CASO CLÍNICO Nº 5
CASO CLÍNICO Nº 6
CASO CLÍNICO Nº 7
CASO CLÍNICO Nº 8
BREVE HISTÓRIA E SINAIS CLÍNICOS: O animal foi castrado com 12 meses de idade. Só se
alimenta de ração balanceada seca.Não tem acesso à rua. A proprietária relatou que o animal não
urina há quase dois dias, apesar de ir até a caixa de areia e assumir a postura de micção . Foi
observado um material parecido com uma areia muito fina , branca aderida aos pêlos da região
peri-genital. Atualmente, está levemente desidratado, inapetente e prostrado.
Hematológicos
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 101
BIBLIOGRAFIA:
BISTNER, S.I., FORD, R.B. Terapia com componentes sanguíneos, In: Manual de Procedimentos
Veterinários e Tratamento de Emergências. 6. ed. São Paulo: Roca, 1996.p. 535-546.
COLES, E.H. Veterinary pathology. 4th ed. Philadelphia: W.B. Saunders, 1986. 486 p.
COUTO, C.G. Anemia In: NELSON, R.W., COUTO, C.G. Small Animal Internal Medicine. 2nd
ed. St. Louis: Mosby, 1998. p. 1160-1173.
CUNNINGHAM, J.G. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1993. 454 p.
DUNCAN, J.R., PRASSE, K.W., MAHAFFEY, E. Veterinary laboratory medicine. 4th ed. Iowa:
Ames, 2003. 450 p.
FELDMAN, B.F., SINK, C.A. Practical Transfusion Medicine for the Small Animal Practitioner.
In: ______. Practical Transfusion Medicine for the Small Animal Practitioner. Jackson:
Teton NewMedia, 2006, p. 1-111.
FELDMAN, B.F., ZINKL, J.G., JAIN, C.N. Schalm’s veterinary hematology. 5th ed.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.1344 p.
HARRELL, K., PARROW, J., KRISTENSEN, A. Canine transfusion reactions - Part II:
Prevention and treatment. Comp Contin Educ Pract Vet, v.19, n.2, p.193-199, 1997.
______. Canine transfusion reactions. Part I: Causes and consequences. Comp Contin Educ
Pract Vet, v.19, n.2, p.181-190, 1997.
HOSKINS, J.D. Pharmacologic Principles. In: ______. Geriatrics & Gerontology of the dos
and cat. 2nd ed., Missouri: Saunders, 2004. p.415.
HOWARD, A. et al. Transfusion practices and costs in dogs. J Am Vet Med Assoc, v.201, n.11,
p.1697-1701, 1992.
HUMPHRIES, J.E. Transfusion therapy in acquired coagulopathies. Hematol Oncol Clin North
Am, v.8, n.6, p.1181-1196, 1994.
HUNT, E., MOORE, J.S. Use of blood and blood products. Vet Clin North Am Food Anim Pract,
v.6, n.1, p.133-147, 1990.
JAIN, C.N. Essential of veterinary hematology. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. 417 p.
______. Schalm’s veterinary hematology. 4th ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1986. 1221 p.
KANEKO, J.J., HARVEY, D.W., BRUSS, W.L. Clinical biochemistry of domestic animals. 5th
ed. San Diego: Academic Press, 1997. 932 p.
LUNDBERG, G.D. Practice parameter for the use of fresh-frozen plasma, cryoprecipitate and
platelets. J Am Med Assoc, v.271, n.10, p.777-781, 1994.
MEYER, D.J., COLES, E., RICH, L.J. Veterinary laboratory medicine. Philadelphia: W.B.
Saunders, 1992. 350 p.
MEYER, D.J., HARVEY, J.W. Veterinary laboratory medicine. 2nd ed. Philadelp Saunders,
1998. 372 p.
OSBORNE, C.A., FINCO, D.R. Canine and feline nephrology and urology. Baltimore:
Williams & Willkins, 1995. 960 p.
VILLIERS, E., BLACKWOOD, L. BSAVA : Manual of Canine and Feline Clinical Pathology.
2nd ed. Gloucester: BSAVA, 2005. 451 p.
WILLARD, M.D., TVEDTEN, H., TURNWALD, G.H. Small animal clinical diagnosis by
Patologia Clínica Veterinária – UFPel - 103
laboratory methods. Philadelphia: W.B. Saunders, 1989. 380 p.