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IMAGEM E MÍDIA

PARTE II
Conteudista
Profª. Me. DJAINE DAMIATI
O Papel da Mídia na Vida Cotidiana

A mídia é reflexível, ou seja, sensível aos seus próprios efeitos, sendo


capaz de pensar em si mesma. Ao mesmo tempo em que colhe informações
externas, consegue imediatamente reagir a elas. O conceito de reflexividade,
tal como nos é apresentado pelo teórico Anthony Giddens (1991), é na
verdade, uma característica sintomática da modernidade e estando a mídia
intrincada no modo de vida da contemporaneidade, esta não poderia
comportar-se de modo diferente.
Muitos autores influenciados pela escola canadense da teoria da
comunicação, que teve como representantes Harold Innis (1952), Marchall
McLuhan (1974) e Derrick e Kerckhove (1997) , entendem a mídia como uma
espécie de sistema nervoso do corpo social. Isto significa que ela está
preocupada em colher as perguntas que provem do corpo social, reformulá-las
em sua linguagem e tentar respondê-las valendo-se de um saber específico.
O fato é que dada a natureza social do ser humano, é impossível
dissociar a comunicação da história da humanidade. Sendo assim, a adoção
das tecnologias de comunicação, tiveram como efeito geral a transformação na
natureza da interação comunicativa tal como se apresentava, face a face.
Desde então, o agir comunicativo passou a ser mediado. Temos aqui então, a
chave para a compreensão da intrínseca relação entre indivíduos, sociedade e
mídias no mundo contemporâneo.
Atualmente, a construção do cotidiano é midiática e não interativa, uma
vez que o universo simbólico que nutre nossos conhecimentos e emoções é
ancorado na experiência de mundo que todos dispomos por meio da mídia
(imprensa, cinema, TV, rádio, redes de internet). A vida na coletividade passou
a ser regulada pela pressuposição de que os indivíduos adquirem o status da
cidadania quando aderem às formas historicamente determinadas, de seu
encontrar-se no "espaço público", onde vigem os contratos fundadores da
experiência comum. (MANINNI, 2008 p. 32)
O rótulo de "sociedade da informação" ou "sociedade da comunicação",
deve-se ao fato de que as mais importantes decisões, sejam elas do aspecto
econômico, político ou social, são transmitidas em tempo real nos circuitos de
uma relação virtual entre as pessoas permitida pelas mídias.
O fenômeno das mídias de massa e a construção de significados no
mundo contemporâneo.

A expressão mass media, oriunda da língua inglesa e que pode ser


traduzida como instrumentos (de comunicação) de massa, define um fenômeno
onde ocorre a circulação de mensagens em canais envolvendo um número
potencialmente grande de pessoas. A mídia de massa se caracteriza como
uma dupla especificação da comunicação mediada.
O "broadcasting" também conhecido como "difusão" realiza a
comunicação num regime de um para muitos. Este tipo de comunicação de
massa pressupõe tecnologias que permitem a um único meio difundir o mesmo
conteúdo para diversos destinatários possíveis. Este é o caso do rádio, da TV,
dos jornais impressos, revistas etc.. Há também a comunicação rizomática que
realiza o regime muitos para muitos. Esta modalidade está relacionada com o
uso de determinadas tecnologias que possibilitam o contato mediado com os
outros como ocorre no caso das redes postais, informáticas ou telefônicas.
Ocorre que a relevância da mídia na vida das pessoas e nas sociedades
tem se tornado crescente e preocupante, uma vez que ela vem ocupando, de
forma cada vez mais destacada, o papel de "outros significativos",
originalmente desempenhados pela família e pelo grupo de pares, pela igreja e
pela escola. Tais agências de socialização foram aos poucos substituídas pelas
mídias na tarefa de transmitir os valores culturais e os significados que
sustentam a construção de mundos de referência potencialmente partilhados
por todos. (MANINNI, 2008 p. 32)
A expressão "aldeia global" cunhada por McLuhan na segunda metade
do século XX, foi criada precisamente para indicar as transformações
produzidas pelos meios de comunicação de massa em nossa experiência de
mundo. "A humanidade descobre a cada dia, a linha de tensão que interliga o
nível micro ao nível macro na série de fenômenos conhecidos como
globalização." (Ibdem)

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A imposição de uma representação de todo o planeta como uma única
aldeia, ressoa em suas repercussões, não só no plano econômico, político e
social, mas especialmente no individual da construção de si e das relações
com os outros devido à influência da experiência midiática.

TV e cinema, a gramática da imagem em movimento


A maior parte do fluxo de informação no qual estamos envolvidos nas
sociedades contemporâneas passa pela visualidade. Da escrita às artes
plásticas, passando pelo teatro, pela mídia impressa até o cinema, a televisão
e a internet. Porém, mesmo compartilhando um sistema de signos, estes meios
diferenciam-se por seus processos e modos de organização interna.
Entre estes meios pelos quais perpassam as iconicidades imagéticas
destacamos o cinema e a televisão por revelarem vários avanços na evolução
de tecnologias que culminaram na produção de novos nexos na informação
sensorial por meio do audiovisual. Estes meios são responsáveis pela atração
de grandes massas de expectadores permitindo atrativas formas de consumo
simbólico introduzindo-os em circuitos de sentido sem o fornecimento de
argumentações necessárias para o domínio crítico. (MANINNI, 2008 p. 80)
A televisão e o cinema instauraram por meio das imagens falantes, um
marco na condição humana marcada pelo aceleramento da experiência. A TV
passou a ocupar lugar de destaque dentro das casas, mas aos poucos deixou
de ser "a invasora" para ser aceita como parte do convívio.
Ainda de acordo com Maninni (2008), o poder psicológico das imagens
deriva de sua capacidade de organizar a paixão humana pelo sentido em forma
de ícone. Porém, mesmo compartilhando alguns aspectos técnicos, o cinema e
a TV abordam a significação segundo gramáticas e retóricas absolutamente
divergentes, uma vez que atribuem um papel muito diferente à imagem:

Tendo perdido quase toda a tensão documentarista, da qual havia


inicialmente partido, o cinema institui um distanciamento da realidade
e tende a transfigurá-la esteticamente. A televisão, por sua vez,
propõe imagens que se presumem aderentes ao mundo, segundo
um regime de sentido que oscila entre o espelhamento e a
substituição da realidade. (MANINNI, 2008 p. 82)

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A imagem consegue atrair e manter mais a atenção das pessoas, de
forma mais imediata e sedutora que os demais sistemas sígnicos, pois fornece
uma síntese de informações que autoriza a rapidez da primeira interpretação
emocional.

O poder de síntese da imagem midiática

Para o filósofo Vilém Flusser (2011), as imagens são superfícies que tem
como intuito representar alguma coisa, na maior parte das vezes, esta alguma
coisa está ausente, em outro tempo e espaço. "As imagens são, portanto,
resultado do esforço de se abstrair duas das quatro dimensões espacio-
temporais, para que se conservem apenas as dimensões do plano."
(FLUSSER, 2011 p. 21)
Flusser estruturou toda uma filosofia da imagem técnica a partir da
análise do mais básico aparelho capaz de produzí-la: a câmera fotográfica. Foi
partindo desta reflexão, que o autor pôde chegar a várias interpretações sobre
o sentido das imagens técnicas ao longo da história da humanidade. Sua
relação com a escrita e a historicidade.
Na obra Filosofia da Caixa Preta (2011), o autor aponta para o fato de
que as imagens seriam derivadas da nossa capacidade da abstração ou
imaginação sendo esta última caracterizada por duas especificidades: a
primeira que permite abstrair duas dimensões dos fenômenos e a segunda
reconstruir tais dimensões abstraídas na imagem. Nas palavras de Flusser
"imaginação é a capacidade de fazer e decifrar imagens." (Ibidem)
Compreender ou decifrar as imagens, sob a perspectiva flusseriana, é
uma questão de leitura de superfície. Neste sentido é que os planos são
fundamentais neste processo, pois com um breve olhar já é possível para o
observador captar o seu significado.
Obviamente, uma análise mais completa demandaria um tempo maior e
um olhar mais cuidadoso, apenas possível ao se vaguear mais
demoradamente pela superfície, num procedimento também chamado de

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scanning. Tal procedimento permitirá que se consiga sintetizar tanto a
intencionalidade do receptor como a do emissor, uma vez que a imagem, em
si, se oferece em uma superfície interpretativa.
O processo de interpretação da imagem, ao contrário do que ocorre com
a escrita, assume um caráter cíclico, algo como o "eterno retorno", expressão
utilizada por Frederich Nietzsche e apropriada por Flusser (2011) para dar
conta do movimento interminável que a leitura da imagem pressupõe ao seu
leitor.
A leitura da imagem televisiva: quando se lê a imagem.

A Televisão modificou radicalmente a nossa organização cultural ao


levar os acontecimentos para a velocidade das imagens transmitidas e
comentadas ao vivo. Para Derrick Kerckhove (1997), tal experiência alterou o
nosso processo de cognição e reconhecimento do mundo: “nossas estratégias
de processamento de informação mudaram radicalmente”. Kerckhove explica
que quando submetidos exclusivamente à forma de pensar literária, os leitores
exploravam textos para criar e armazenar imagens, com o advento da
televisão, as pessoas foram obrigadas a “produzir generalizações a partir de
fragmentos dispersos e assim reconstituírem o objeto da visão”.(KERCKHOVE,
1997 p. 47)
Para compreendermos um texto escrito, necessitamos de regras
elaboradas para evitar a ambiguidade. Por isso é necessária a prática repetitiva
para aprender a ler e maior ainda para interpretar um texto. Ao contrário disto,
não é necessária qualquer instrução para ver televisão. A TV nos conduz a um
processo constante de reconstrução de imagens incompletas. Trata-se de um
processo dinâmico que remete às características sistema nervoso humano.
A informação na televisão é cortada em minúsculos segmentos muitas
vezes desconectados entre si. Depois o maior número de fragmentos possível
é conectado no menor tempo possível. Assim, o telespectador completa as
imagens, fazendo generalizações instantâneas a partir de algumas pistas. Para
Kerckhove (1997), isto não implica em fazer sentido, mas apenas em fazer

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imagens. Fazer sentido é algo diferente, não necessariamente essencial para
ver televisão. (Ibidem)
Comparativamente, se a experiência do texto é individual e visual, a da
TV é coletiva, visual e auditiva; se a realidade do texto é plana e sequencial, a
da TV é bidimensional e fragmentada; se o modo de pensar estruturado na
escrita é fundamentado no sentido, na profundidade do conteúdo, e se inscreve
na mente, o modo de pensar estruturado na TV é fundamentado no consumo
de imagens, na superfície da imediatez e da velocidade, e se inscreve no
corpo. Para Kerckhove (1997), a TV tem uma dimensão não apenas visual e
auditiva mas também tátil: ela “acaricia e impregna o seu significado por
debaixo da nossa pele”. (Idem p. 49)

A leitura da imagem televisiva: quando é ela que nos lê.


Os sistemas eletrônicos de informação são ambientes vivos e alteram a
nossa percepção e nossa sensibilidade, especialmente quando não estamos
prestando atenção neles. A televisão, por exemplo, estabelece uma complexa
relação com os nossos olhos e com o nosso corpo.

A imagem da TV exige que, a cada instante, 'fechemos' os espaços


da trama por meio de uma participação convulsiva e sensorial que é
profundamente cinética e tátil, porque a tatilidade é a inter-relação
dos sentidos, mais do que o contato isolado da pele e do objeto.
(MCLUHAN, 1972 p. 352).

É fácil notar como somos sensíveis ao domínio das imagens eletrônicas


e como nossos sentidos dão respostas inconscientes que são incorporadas de
forma natural. É por isso que a TV é capaz de dominar e fascinar
silenciosamente os nossos sentidos.

Basta observar um telespectador e seu espaço, em uma sala de


televisão, o contorno e a profundidade são alterados, perde-se o
domínio do olhar: história, pensamento e expressão, tudo converge
para um ponto fixo e luminoso. (SANTAELLA, 2005 p. 85)

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Imagens em movimento derivadas dos raios catódicos emitidos pela
televisão funcionam como uma espécie de scanner do espectador, realizando a
varredura de seu corpo como um todo. As mídias em geral tem o poder de
editar os ambientes. Elas selecionam o objeto, enquadrando a situação e
organizando o ambiente físico, assim como a fotografia e o cinema selecionam
e enquadram os objetos e cenários nos seus conteúdos. Porém, cada um dos
produtos midiáticos, enquadram os objetos e os ambientes de forma
diferenciada.

Assim, o enquadramento do objeto é muito claramente uma


organização da informação para nós. Assim, as mídias controlam o
lugar e o tempo da exposição ao usuário - onde essas coisas
acontecem, por exemplo, seja dentro ou fora de casa. A televisão
muda o tamanho e o uso do espaço de nossas vidas diárias.
(KERCKHOVE In DOMINGUES, 2003 p. 19).

As imagens da TV estendem nosso alcance perceptual, levando o


mundo para dentro de nossas casas em tempo real, sendo não só uma
realidade física, mas uma realidade psicológica.

O que é possível ver das janelas do mundo

Os processos midiáticos erigidos ao longo do século XX criaram novos


campos simbólicos e redefinindo a territorialidade, formatando a vida cotidiana.
É através das mídias que se constrói o imaginário das sociedades
contemporâneas por meio do seu próprio processo de reflexividade. A maneira
como organizamos o tempo e o espaço em nossas vidas, de certo modo,
depende de como as mídias os organizam.

O que significa que neles não apenas, se reproduz ideologia, mas


também se faz e refaz a cultura das maiorias, não somente se
comercializam formatos, mas recriam-se as narrativas nas quais se
entrelaça o imaginário mercantil com a memória coletiva. (BARBERO
In MORAES 2003 p. 63)

O enquadramento do indivíduo pela mídia tem início com o surgimento


da imprensa que passa a apresentar o mundo de uma forma consumível. Com
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a televisão, tal processo se intensifica e atinge um número crescente de
pessoas tornando-se uma espécie de janela para o mundo real e
transformando-se numa extensão de nossos sentidos, nos levando a conhecer
lugares e coisas impossíveis de se acessar de outra forma.
Já no cinema, podemos dizer que o que se reflete nas telas é uma
imagem maquiada do mundo, construída a partir de tendências sociais. Porém
é o próprio cinema também o criador de tendências de moda e comportamento,
capaz de dar forma e vida aos heróis e ídolos que se afiguram diferentes dos
mitos cinematográficos do século passado. Os ideais e padrões de cada época
exigem modelos condizentes com a velocidade e as inovações tecnológicas de
seu tempo.
De modo geral, o cinema tem a capacidade de projetar no imaginário
coletivo uma “construção social da realidade” (BERGER; LUCKMAN, 2002),
objetiva e subjetiva, historicamente produzida por meio das relações intra e
interpsíquicas. Assim, ele revela aos nossos olhos um pouco do percurso e da
experiência social da humanidade e ao mesmo tempo uma outra parcela de
sua própria experiência cotidiana, como sujeito histórico e reflexivo, que cria e
é criado por sua cultura.

O caminho até as imagens sintéticas

A busca pela ilusão do real como objetivo permanente da representação


tem estimulado o interesse pela automatização dos processos de criação e
reprodução da imagem ao longo evolução humana. A possibilidade de criar
mundos virtuais é uma preocupação manifestada desde o século XV entre
pintores e artistas também detentores do conhecimento científico e matemático
a exemplo de Leonardo da Vinci.
À medida que o conhecimento dos processos analíticos que permitiam a
decomposição da imagem se desenvolvia, se reforçava a busca pelo elemento
físico mínimo que a constituía. Esse trajeto em direção à decomposição da
imagem, de acordo com Derrick Kerckhove (1993, apud PARENTE, 2008),
deu-se em função do pensamento da cultura letrada.
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Para o autor, a ideia da fragmentação da imagem teve origem na
invenção do alfabeto, na redução do pensamento em sua menor partícula
representacional e deriva do ato de cortar, fragmentar, característico da cultura
ocidental e sua busca pela divisão, cuja tendência em estado atual encontra-se
na digitalização.
De acordo com Kerckhove (Ibidem), a redução de nossa experiência
sensorial a uma única linha de sentido, proporcionada pelo surgimento do
alfabeto, é análoga à redução de nossa experiência mental e orgânica a uma
única sequência de códigos gerada pela digitalização, sendo a diferença
fundamental entre as duas formas de representação a possibilidade de
retradução desse código comum fora do espaço do espírito e dos sentidos
humanos. Enquanto o livro interioriza uma imagem, o meio digital a exterioriza
nesses processos internos. (Idem, p.57).
Desse breve histórico é possível depreender que a passagem da ideia
de representação para a de simulação das imagens deu-se na evolução das
técnicas de figuração automática, mais especificamente na transição entre o
analógico e o digital.
No entanto, segundo Edmond Couchot (2008), nem o cinema e nem a
televisão conseguiram alterar o quadro espacial da representação clássica, a
perspectiva e suas imposições foto-geométricas, uma vez que estas estavam
inscritas na mesma lógica figurativa da fotografia, da gravura ou da pintura.

Da imagem à simulação na mídia

Foram os pintores cubistas que iniciaram uma mudança dessa lógica ao


inserir em seus quadros pedaços de papel, jornais, tecidos, cacos de vidro e
louça, ou seja, “fragmentos do próprio real”, dando ao quadro a imagem
fragmentada e partida do real, numa linguagem mais próxima da mão que do
olho, como se o mundo inscrevesse sua própria materialidade na tela.
(COUCHOT, 2008, p. 44).
Desde então a pintura deixou de remeter-se a uma realidade comum
fora dela, mas passou a remeter-se a sua própria realidade e substância
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presente, ainda que se mantivesse na órbita da representação. Nesse
momento há um rompimento com a morfogênese da projeção em que se
pressupunha a presença de um objeto real preexistente à imagem, num
alinhamento entre sujeito, imagem e objeto, como no exemplo do anteparo de
vidro de da Vinci10, no qual o mundo vinha projetar sua imagem ordenada.
(Ibidem).
Na imagem digital derivada das tecnologias numéricas, a lógica
figurativa e o modelo de figuração se alteram. Nesse caso, o pixel, sendo a
menor unidade da imagem digital e por isso um instrumento passível de total
controle, ao contrário do que ocorre com a imagem ótica, não tem nenhum dos
pontos da imagem corresponda ao objeto real, mas sim, aos códigos
numéricos que em si já são uma representação, caracterizando assim o que
chamamos de simulação.
O pixel é a expressão visual, materializada na tela, de um cálculo
efetuado pelo computador, conforme as instruções de um programa. Se
alguma coisa preexiste ao pixel e à imagem é o programa, isto é, linguagem e
números, e não mais o real. Eis porque a linguagem numérica não representa
mais o mundo real, ela o simula. (COUCHOT, 2008, p. 42).
Assim, observamos que a imagem digital não é projetada, mas segundo
Couchot é "ejetada" pelo real, libertando-se da representação em uma
realidade sintetizada e artificial.

Compreendendo os signos numéricos ou modelos de simulação.


Os modelos de simulação propiciam a hibridação que se dá tanto entre
as formas constituintes da imagem sempre em processo, como entre todas as
outras imagens (pintura, fotografia, cinema, televisão) uma vez que estas se
encontram numerizadas. Tal hibridação entre imagem e objeto e imagem e
sujeito dá origem à imagem interativa como resultado da ação do sujeito sobre
a mesma. Assim, tanto sujeito quanto objeto se mantêm na interface entre real
e virtual como veremos adiante. No sentido de clarear o entendimento acerca
das diferenças entre representação e simulação, assim como suas relações
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entre os processos de mediação sígnica, é de grande valia atermo-nos ao
conceito de representação trazido por Lúcia Santaella:

[...] se referir é um ato de remetimento ao mundo, representar é


apresentar algo por meio de algo materialmente distinto de acordo
com regras exatas, nas quais certas características ou estruturas do
que é representado devem ser expressas, acentuadas ou tornadas
compreensíveis pelo topo de apresentação, enquanto outras devem
ser conscientemente supridas. (SANTAELLA; NÖTH, 2004, p. 18).

André Parente nos ajuda a compreender melhor a ideia de


representação destacada por Santaella (Ibidem) no texto supracitado. Para ele
existe um processo que ocorre na mente entre o momento da percepção e a
compreensão referencial do signo percebido, pois no ato de representação
meio e sujeito unem-se por uma consciência que relaciona suporte e importe.
“[...] nenhuma relação consciência-mundo é imediata. A consciência age e o
mundo é elaborado. E entre o mundo e a consciência, interpõem-se os meios
da ação e da elaboração”. (PARENTE, 1999, p. 86).
Tal abordagem é análoga à ideia de signo constituída por Peirce, uma
vez que para ele, segundo nos mostra Santaella (2005), esta já inclui o objeto e
o interpretante, em sua constituição já está implícita a relação triádica. Nenhum
signo pode funcionar como tal sem o objeto e o interpretante. Estes termos
indicam as posições lógicas ocupadas por cada um dos elementos na semiose
onde o fundamento do signo é um primeiro, o objeto é um segundo e o
interpretante um terceiro. Semiose quer dizer ação do signo. (SANTAELLA,
2005, p. 43).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Transformação Cultural", In: MORAES, Dênis de (org.). Por Uma Outra
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máquina: a era das tecnologias do virtual. 3 ed. 3 reeimp. Rio de Janeiro:
Editora 34, 2008. (Trabalho original publicado em 1993). p. 37-48.

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Toronto Press. 1952

 KERCKHOVE,Derrick de. A pele da Cultura. Uma investigação sobre a


nova realidade eletrônica. Lisboa: Relógio D'água, 1997

 _____________________. A arquitetura da inteligência: interfaces do


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 MCLUHAN, Marshal. A galáxia de Gutemberg. São Paulo: Editora


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 MELLACI, Vanise B. As práticas e os reflexos das novas experiências


visuais, eletrônicas e digitais nas gerações contemporâneas: análise do
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 MININNI, Giuseppe. Psicologia cultural da mídia. São Paulo: Edições


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 PARENTE, André. O virtual e o hipertextual. Rio de Janeiro: Pazulin,


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 SANTAELLA, Lúcia & NÖTH, W. Imagem - Cognição, semiótica, mídia.


São Paulo: Iluminuras, 2005

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