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PRÁTICAS DE LETRAMENTO LITERÁRIO: O LEITOR E A OBRA


LITERÁRIA NA CONSTRUÇÃO DO SABER

Denize Lima MIRANDA¹, Denyse Mota SILVA²

¹ Graduanda em Letras Português e Espanhol pela Universidade Estadual do Tocantins.


E-mail: denizelmiranda@hotmail.com.
² Doutora em Letras e Literatura pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Mestrado em Letras. Especialista em
Metodologia do Ensino Superior e Língua Portuguesa. Graduada em Letras. Professora da Universidade Estadual
do Tocantins-Unitins, Campus de Araguatins-TO. Atualmente tem atuado nas áreas de Leitura, Produção textual,
Interpretação, Metodologia Científica e Orientação e Projetos de pesquisa em Letramentos.
E-mail: denyse.ms@unitins.br.l

Resumo: O presente artigo trata do letramento literário e suas implicações para o processo de
práticas de leitura e escrita nos meios sociais. A problemática abordada aqui é a questão do bai-
xo nível de letramento dos alunos que saem do fundamental II, dessa forma, objetiva-se com
esse trabalho, descrever obras que podem auxiliar no processo de letramento social desses alu-
nos. Para isso a metodologia escolhida foi bibliográfica, voltando-se para teóricos como Magda
Soares (1998, 2001), Rildo Cosson (2014) e Regina Zilberman (2003), que tratam de letramento,
linguagem literária e importância da literatura, respectivamente, a partir dos pressupostos des-
ses e de outros autores será justificada a hipótese de usar a literatura no ensino, e como as obras
podem auxiliar no desempenho dos alunos nos quesitos leitura e escrita em qualquer meio so-
cial no qual esteja inserido. Portanto, percebe-se que as habilidades de leitura e escrita são es-
senciais para o desenvolvimento do letramento dos alunos da educação básica, sendo a escola
importante nesse processo. Trabalhar a literatura é ainda uma tarefa desafiadora, assim como
o processo de letramento também, mas os dois juntos, se trabalhados da forma correta, podem
mudar essa realidade.

Palavras-chave: Práticas de Letramento. Letramento Literário. Obras Literárias.

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Resumen: El presente artículo trata del literal literal y sus implicaciones para el proceso de prác-
ticas de lectura y escritura en los medios sociales. La problemática abordada aquí es la cuestión
del bajo nivel de letramento de los alumnos que salen de lo fundamental II, de esa forma, se
objetiva con ese trabajo, describir obras que pueden auxiliar en el proceso de letra social de esos
alumnos. Para ello la metodología elegida fue la bibliográfica, volviéndose hacia teóricos como
Magda Soares (1998,2001), Rildo Cosson (2014) y Regina Zilberman (2003), que tratan de letra,
lenguaje literario e importancia de la literatura, respectivamente, a partir de los presupuestos de
estos y de otros autores, se justificará la hipótesis de usar la literatura en la enseñanza, y cómo
las obras pueden auxiliar en el desempeño de los alumnos en los requisitos de lectura y escritura
en cualquier medio social en el cual esté inserto. Por lo tanto, se percibe que las habilidades de
lectura y escritura son esenciales para el desarrollo del letramento de los alumnos de la educaci-
ón básica, siendo la escuela importante en ese proceso. Trabajar la literatura es todavía una ta-
rea desafiante, así como el proceso de letramento también, pero los dos juntos, si trabajados de
la forma correcta, pueden cambiar esa realidad.

Palabras clave: Prácticas de lectura. Lector Literario. Obras literarias.

1. INTRODUÇÃO Essa realidade preocupante justifica e


está atrelada ao objeto de estudo deste trabalho,
Objetiva-se com esse trabalho abordar as o letramento, mais especificamente letramento
obras literárias, “O Pequeno Príncipe”, de Saint- literário. O termo letramento tem sido discutido
-Exupéry; “Bisa Bia Bisa Bel” da autora Ana Maria por diversos autores e no meio acadêmico desde
Machado de forma a contribuir para o desenvol- 1980, época de seu surgimento. Essa discussão
vimento do letramento literário do aluno e sua surgiu com a necessidade de aprimorar os resul-
escrita. tados do ensino no Brasil, enquanto o número
Mostrar que apesar das condições nas de analfabetos ia diminuindo observava-se que o
quais o Brasil se encontra nos rankings e em salas número de leitores não acompanhava esse ritmo
de aula no quesito educação, segundo pesquisas e continuavam com dificuldades na escrita. Com
realizadas pela Organização para a Cooperação e isso é possível dizer que letramento é basicamen-
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pela Eco- te a competência de ler, interpretar e produzir
nomist Intelligence Unit (EIU), é possível melho- textos.
rar esse quadro através da leitura e que as obras Já as práticas de letramento literário, que
literárias só têm a contribuir para o aprendizado serão analisadas neste artigo, referem-se a algo
dos alunos. mais específico, no entanto crucial para o letra-

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mento de maneira geral. O texto literário tem na CIA


sua formação a combinação do lúdico, emocio-
nal, uma linguagem que foge de termos técnicos O termo literatura, do latim littera que
e que busca comover, ou em outros casos, traz a significa letra, tem um sentido vasto por abran-
comicidade, ou até mesmo assuntos mais sérios. ger um segmento artístico que envolve direta-
Como opção metodológica será abordada mente a língua e a linguagem. A definição mais
aqui, a metodologia bibliográfica com conceitos usada é que a literatura é a arte da palavra, com
e teorias de autores especialistas na área de le- isso, a área de atuação da literatura está inserida
tramento e literatura como Cosson (2012), Ziber- em obras que apresentam a sensibilidade, subje-
man (1989, 1990), Kleiman, Soares (1998). Além tividade e a criatividade, capazes de cativar o lei-
disso, serão sugeridas e descritas as obras: “O tor.
Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry; e “Bisa Bia Para Zilberman (2008),
Bisa Bel” da autora Ana Maria Machado, conside-
rando que são de fácil acesso, bem aceitas pelo A experiência da leitura decorre das
público infanto-juvenil e também pelos críticos propriedades da literatura enquanto
literários ao longo dos anos. forma de expressão que, utilizando-
O ensino de literatura na maioria das es- -se da linguagem verbal, incorpora
colas é concomitante à disciplina de língua por- a particularidade dessa de construir
tuguesa, gerando, às vezes, dificuldades para as um mundo coerente e compreen-
práticas de letramento literário, embora possa sível, logo, racional; esse universo,
contribuir para o ensino da própria língua, uma contudo se alimenta da fantasia do
vez que trabalha diretamente com a linguagem e autor, que alimenta da fantasia do
consequentemente, com a organização e estru- autor, que elabora suas imagens inte-
tura textual, além da pontuação, regras gramáti- riores para se comunicar com o leitor
cas de concordância entre outras, e indubitavel- (ZILBERMAN, 2008, p. 23).
mente, com a leitura.
Assim, esse artigo constitui-se de quatro Segundo a autora, a literatura pode se uti-
seções. Na primeira seção será abordado o con- lizar da linguagem verbal para expressar a cons-
ceito de literatura e sua importância para o ensi- trução do mundo. O autor se comunica com o
no. Na segunda seção será abordado o conceito leitor através da fantasia, esta por sua vez, cati-
de letramento e letramento literário, de acordo va seu receptor o que contribui para a importân-
com a ótica dos autores citados anteriormente. cia da literatura no processo de comunicação e
Assim, na terceira seção o foco será a sinopse transmissão artística.
das obras sugeridas no presente artigo. Por fim, a Os gêneros da literatura ajudaram a cons-
quarta, e última seção, ficarão a cargo das possí- truir a história da humanidade. Desde os pri-
veis práticas e contribuição da escola no proces- mórdios o ser humano sentia a necessidade de
so de letramento. marcar a sua trajetória, assim, mesmo antes da
escrita desenvolver-se, as estórias já eram conta-
2. LITERATURA: CONCEITO E IMPORTÂN- das. Dessa forma, contribuindo, através da arte

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e das lendas, para retratar os acontecimentos da cam entender os traços históricos.


época, a literatura foi, e continua sendo, funda- Nessa perspectiva, pode-se concluir que a
mental para a preservação histórica. Para tanto literatura tem muito a contribuir para o processo
Zilberman (2009) afirma: de ensino, assim como no âmbito do letramento
, essa realidade não muda. Levar o texto literário
A leitura do texto literário constitui para o aluno é levar material de qualidade, car-
uma atividade sintetizadora, permi- regado de ensinos múltiplos para ser absorvido e
tindo ao indivíduo penetrar o âmbito interpretados pelo leitor em formação.
da alteridade sem perder de vista sua Segundo Cosson (2014, p. 20). “[...] a lite-
subjetividade e história. O leitor não ratura serve tanto para ensinar a ler e a escrever
esquece suas próprias dimensões, quanto para formar culturalmente o indivíduo.”
mas expande as fronteiras do conhe- Isso porque a literatura além de carregar consigo
cido, que absorve através da imagina- uma carga de cultura muito grande, permite que
ção e decifra por meio do intelecto. o contato do aluno com suas obras forneça a ele
Por isso, trata-se também de uma ati- a prática de leitura e escrita.
vidade bastante completa, raramen- O autor (2014) ainda afirma que:
te substituída por outra, mesmo as
de ordem existencial. Essas têm seu A prática da literatura, seja pela lei-
sentido aumentado, quando contra- tura, seja pela escritura, consiste exa-
postas às vivências transmitidas pelo tamente em uma exploração das po-
texto, de modo que o leitor tende a tencialidades da linguagem, da pala-
se enriquecer graças ao seu consumo vra e da escrita, que não tem paralelo
(ZILBERMAN, 2009, p. 17). em outra atividade humana. Por essa
exploração, dizer o mundo (re) cons-
Para a autora, a leitura dos textos literá- truído pela força da palavra, que é a
rios pode contribuir para o enriquecimento no literatura, revela-se como uma práti-
conhecimento do leitor. Além de transmitir infor- ca fundamental para a construção de
mações sobre a passagem do homem e épocas um sujeito da escrita (COSSON, 2014,
distintas, a literatura cativa o leitor, levando con- p. 27).
comitantemente conhecimento e entretenimen-
to a quem consome esses textos. Assim, podemos concluir que, segundo o
As escolas literárias ocorridas em toda a autor, a literatura pode contribuir de forma fun-
história da humanidade não só se firmaram com damental para a escrita. A proposta de ensino
textos literários para os poucos que podiam lê- através da prática literária permite a exploração
-los. Cada corrente literária foi responsável por das potencialidades da linguagem como nenhu-
descrever a sociedade de cada época, algumas ma outra atividade humana, sendo possível a ex-
com sentimentalismo exacerbado ou um exage- ploração de um mundo reconstruído pela força
ro ao tratar da realidade. Atualmente servem de da palavra.
fonte de pesquisa para os historiadores que bus-

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3. LETRAMENTO E LETRAMENTO LITERÁRIO: IM- habilidades de leitura e de escrita, que devem


PLICAÇÕES PARA O ENSINO ser aplicadas a uma ampla variedade de mate-
riais de leitura e escrita” (SOARES, 2006, p.24).
Atualmente com os avanços na área de Mais uma vez, a escrita e a leitura são evidencia-
informação, houve um aumento nas discussões das no processo de letramento. Conclui-se que
sobre os mais variados assuntos. Na área da edu- letramento é o processo de múltiplas habilidades
cação as discussões foram voltadas para o papel de alguém ao apropriar-se da escrita e desenvol-
da escola na formação do leitor, para a responsa- ver a leitura.
bilidade social, formas de ensino, papel do pro- Essas múltiplas habilidades vão além da
fessor, entre outras. Quando se fala em forma- decodificação das palavras soltas no livro, na
ção do leitor, um novo termo foi empregado pe- frase ou onde quer que estejam escritas. O alfa-
los estudiosos no meio acadêmico, o letramento. betismo que se concentrava simplesmente em
O termo letramento tem origem inglesa ensinar ao aluno a escrita e leitura de frases em
da palavra literacy que indica a condição de ser determinados contextos perdeu lugar para uma
letrado. Segundo Soares (1998, p. 18), letramen- habilidade ainda mais ampla, a de ler, interpretar
to “é, pois, o resultado da ação de ensinar ou de e escrever textos em todos os meios sociais. Para
aprender a ler e escrever, o estado ou condição Kleiman (2007):
que adquire um grupo social ou um indivíduo
como consequência de ter-se apropriado da es- A diferença entre ensinar uma prática
crita”. e ensinar para que o aluno desenvol-
Diante disso, pode-se concluir que o le- va uma competência ou habilidade
tramento não é um processo de ensino utilizado não é mera questão terminológica.
apenas na sala de aula, ele tem uma forte fun- Na escola, onde se predomina uma
ção social. Sua aplicação na vida do aluno fora do concepção da leitura e da escrita
contexto escolar é evidente, uma vez que, segun- como competências, concebe-se a
do a autora, é uma condição adquirida por um atividade de ler e de escrever como
grupo social ou um indivíduo. um conjunto de habilidades progres-
Para tanto, Kleiman, também define o le- sivamente desenvolvidas até se che-
tramento como um processo social, sua definição gar a uma competência leitora e es-
para letramento é “[...] um conjunto de práticas critora ideal: a do usuário proficien-
sociais que usam a escrita, como sistema sim- te da língua escrita. Os estudos do
bólico e como tecnologia, em contextos especí- letramento, por outro lado, partem
ficos, para objetivos específicos” (2008, p. 18). de uma concepção de leitura e de es-
Com isso, a definição mais clara para letramento crita como práticas discursivas, com
segundo as autoras supracitadas é um processo múltiplas funções e inseparáveis dos
social de aquisição da linguagem escrita e seus contextos em que se desenvolvem
usos no meio social. (KLEIMAM, 2007, p. 2).
Outra definição dada por Soares sobre o
letramento é que ele é “uma multiplicidade de Dessa forma, a amplitude do termo letra-

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mento ganha destaque por contemplar as diver- o aluno para a vida.


sas situações nas quais os alunos estarão inseri-
dos. A preocupação dessa nova área do ensino é 3.1. Letramento literário e suas implica-
a de preparar o aluno para circunstâncias em que ções para o ensino
serão exigidos os diversos níveis de entendimen-
to dos processos de leitura e escrita. O processo de letramento literário é,
Soares como uma das percussoras dos numa visão geral, o processo de aquisição da lei-
estudos sobre o letramento amplia suas concep- tura e escrita através de textos literários. Como
ções sobre a área dispondo sobre a capacidade e visto no presente artigo, o processo de letra-
as habilidades que o letramento leva para a vida mento é fundamental para promover o conheci-
das pessoas. A autora enfatiza a questão social mento dos alunos. E a literatura, com todo o seu
que está envolvida nesse processo, a forma como elenco de textos, é uma valiosa e fundamental
as pessoas podem se relacionar umas com as ou- possibilidade para auxiliar nesse processo.
tras depois de aderirem ao letramento. Os bene- Diante disso, nesse artigo o foco está
fícios do letramento dispostos por Soares (2003) voltado para a ajuda que a literatura pode levar
autora são os seguintes: para o professor que busca tornar seus alunos
aptos a utilizarem a escrita nos diversos contex-
[...] a capacidade de ler ou escre- tos sociais. Os textos literários além de acessí-
ver para atingir diferentes objetivos veis e diversificados promovem entretenimento
- para informar ou informar-se, para ao mesmo tempo em que trabalham na leitura
interagir com outros, para imergir a linguagem e interpretação. Sobre isso Cosson
no imaginário, no estético, para am- (2007) afirma que:
pliar conhecimentos, para seduzir ou
induzir, para divertir-se, para orien- A prática da literatura, seja pela lei-
tar-se, para apoio à memória, para tura, seja pela escritura, consiste exa-
catarse...; habilidade de orientar-se tamente em uma exploração das po-
pelos protocolos de leitura que mar- tencialidades da linguagem, da pala-
cam o texto ou de lançar mão desses vra e da escrita, que não tem paralelo
protocolos, ao escrever, atitudes de em outra atividade humana. [...] é no
inserção efetiva no mundo da escrita, exercício da leitura e da escrita dos
tendo interesse e prazer em ler e es- textos literários que se desvela a arbi-
crever [...]. (SOARES, 2003, pp. 91-92) trariedade das regras impostas pelos
discursos padronizados da sociedade
Em síntese, apesar de o termo letramento letrada e se constrói um modo pró-
ser inserido nas discussões apenas recentemen- prio de se fazer dono da linguagem
te, já há um arsenal de informações substanciais que, sendo minha, é também de to-
para a progressão do assunto. Além disso, os es- dos (COSSON, 2007, p. 16).
tudos já mostram o quão indispensável é traba-
lhar o letramento na escola, pois ele irá preparar A literatura, como sendo a arte da pala-

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vra, é também em parte constituída pela lingua- te substituída por outra, mesmo as
gem. Apesar de ter como marcas as questões de de ordem existencial. Essas têm seu
subjetividade, sentimentalismo e permitir várias sentido aumentado, quando contra-
interpretações, a linguagem é o que de fato dá postas às vivências transmitidas pelo
vida aos textos literários. É ela quem torna uma texto, de modo que o leitor tende a
obra literária concreta, assim como os textos per- se enriquecer graças ao seu consumo
tencentes a outras tipologias textuais. Sem lin- (ZILBERMAN, 2009, p. 17).
guagem não há texto, sem texto não há literatu-
ra. Ao expandir suas fronteiras o aluno aca-
A contribuição da literatura para com a ba se envolvendo no diferente e distinto, levan-
formação do indivíduo é imensa. Além de auxiliar do a um crescimento substancial. O professor,
o professor no ensino de uma língua, a literatu- enquanto trabalha o novo com seus alunos, tem
ra também contribui para a formação cultural de uma oportunidade melhor de passar os ensina-
cada um. Segundo Cosson “[...] a literatura serve mentos, já que a aula funciona melhor quando
tanto para ensinar a ler e a escrever quanto para todos estão envolvidos, participando dela.
formar culturalmente o indivíduo.” (2014, p. 20). No entanto, para que o trabalho com o
Diante dessa contribuição da literatura, texto literário seja eficaz e possa satisfazer o pro-
o texto literário vem como forma de o aluno se cesso de ensino-aprendizagem da língua na escri-
apropriar da escrita, promovendo o letramento ta e na fala, é preciso um preparo como ressalta
literário. Esse processo de ensinamento não se Cosson (2013).
restringe a ler um texto literário de forma aleató- O aluno precisa ter contato com as obras,
ria, vai além disso. O professor ao utilizar-se dos é preciso ter um espaço de compartilhamento
gêneros da literatura aprimora a interpretação, das experiências de leitura compatível com as
associação dos valores sociais à obra, a relação condições do aluno, o professor precisa levar aos
das palavras na construção do texto e contribui alunos um repertório literário e cultural diversifi-
para a evolução individual do aluno. Zilberman cado e uma preocupação com a evolução do alu-
(2009) afirma que: no enquanto leitor.

A leitura do texto literário constitui Na prática pedagógica, o letramento


uma atividade sintetizadora, permi- literário pode ser efetivado de várias
tindo ao indivíduo penetrar o âmbito maneiras, mas há quatro caracterís-
da alteridade sem perder de vista sua ticas que lhe são fundamentais. Em
subjetividade e história. O leitor não primeiro lugar, não há letramento li-
esquece suas próprias dimensões, terário sem o contato direto do leitor
mas expande as fronteiras do conhe- com a obra [...]. Depois, o processo
cido, que absorve através da imagina- do letramento literário passa neces-
ção e decifra por meio do intelecto. sariamente pela construção de uma
Por isso, trata-se também de uma ati- comunidade de leitores, isto é, um
vidade bastante completa, raramen- espaço de compartilhamento de lei-

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turas no qual há circulação de textos seja exercida sem o abandono do prazer, mas
e respeito pelo interesse e pelo grau com o compromisso de conhecimento que todo
de dificuldade que o aluno possa ter saber exige” (2014, p.23).
em relação à leitura das obras. Tam- Alcançar o letramento literário pode ser
bém precisa ter como objetivo a am- uma tarefa difícil, mas é uma experiência gratifi-
pliação do repertório literário, caben- cante. A literatura é realmente fonte de um ins-
do ao professor acolher no espaço trumento que pode e deve ser utilizado em sala
escolar as mais diversas manifesta- de aula para contribuir para o letramento do alu-
ções culturais [...]. Finalmente, tal ob- no em geral. Assim, os estudantes sairão da esco-
jetivo é atingido quando se oferecem la com uma bagagem de conhecimento linguísti-
atividades sistematizadas e contínuas co e cultural.
direcionadas para o desenvolvimento
da competência literária (COSSON, 4. SINOPSE DAS OBRAS SELECIONADAS
2013, p. 02).
Nesta seção serão feitos os resumos das
Pôr em prática os conhecimentos adqui- obras Bisa Bia Bisa Bel, de Ana Maria Machado e
ridos sobre a literatura acaba sendo um desafio O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry.
para muitos alunos. Muitos desses alunos vêm Essas obras literárias foram selecionadas para a
de uma família que não tem o costume de ler descrição, considerando o nível de aceitação pelo
obras literárias ou fazem parte de um grupo que público leitor infanto-juvenil, número de cópias
não tem contato direto com a literatura. Essa re- vendidas, linguagem de fácil assimilação e suas
alidade parte de uma questão que envolve a lite- temáticas interessantes e atrativas aos novos lei-
ratura: ela só é vista, e em pouca escala, no am- tores.
biente escolar.
Outro desafio que o letramento literário 4.1 Bisa Bia Bisa Bel
precisa superar é que o ensino da literatura não
deve ser um ensino fechado e pautado apenas A autora Ana Maria Machado, carioca nas-
para explicar uma escola literária ou um gênero cida em 1941, tem uma grande trajetória na
textual, por exemplo. O valor artístico das obras história da literatura brasileira. Recebeu vários
não deve ser esquecido, muito pelo contrário, prêmios importantes para a literatura como o in-
esse valor deve ser considerado até mesmo para ternacional Hans Christian Andersen, 3 Jabutis, o
auxiliar na aprendizagem dos gêneros e escolas Machado de Assis da ABL em 2001 para conjun-
literárias. to da obra e também o Machado de Assis da Bi-
Em relação e respeito ao valor artístico blioteca Nacional para romance. Lecionou língua
das obras Cosson (2014), afirma que não se deve portuguesa na França e Califórnia; Literatura Bra-
abandonar o prazer que as obras podem levar a sileira e Teoria Literária na Universidade Federal
quem as consome, a leitura deve respeitar esse do Rio de Janeiro. Além do trabalho como jorna-
prazer levando em conta o compromisso com a lista e professora, ela presidiu de 2011 a 2013 a
aprendizagem. “Permita que a leitura literária Academia Brasileira de Letras.

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A obra Bisa Bia Bisa Bel foi lançada em atrás de Sérgio cujo menino de quem ela gosta-
1981 e já alcançou mais 500 mil exemplares ven- va, mas em contrapartida ele a esnobava.
didos. Recebeu os prêmios: Maioridade Crefisul, A professora Sônia encontrou o retrato,
o Bienal São Paulo como melhor livro infantil do devolvendo-o para Bel. Nesse momento, as aven-
biênio, Lista de Honra do IBBY, Selo de Ouro, Fun- turas começaram: Bel levava o retrato para suas
dação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (Me- brincadeiras e acabou perdendo a fotografia ou-
lhor livro juvenil do ano), Prêmio Jabuti, Câmara tra vez, mas dizia que ela virou uma tatuagem
Brasileira do Livro Prêmio Noroeste, Os 40 Livros invisível. Contudo sempre sozinhas as duas con-
Essenciais, Nova Escola e o Américas Award for versavam, e a Bisa contava à neta como as coisas
Children’s and Young Adult Literature, Consor- eram diferentes no seu tempo.
tium of Latin American Studies Programs (CLASP) Numa dessas aventuras, Bel sobe num
em 2003. pé de goiaba com Sérgio, e ele acaba beijando-
A linguagem usada na obra é acessível -a, logo depois a Bisa Bia foi dando muitos conse-
aos estudantes de seu público alvo. Linguagem lhos à menina, dizendo que mocinha dessa idade
leve, sem muito requinte, e de fácil entendimen- não devia pensar em namoro. Depois disso, Bel
to para os estudantes que estão iniciando na car- fica bastante gripada, retornando à escola só de-
reira de leitores. A obra trata de um conflito de pois de alguns dias. Como estava ainda gripada,
gerações, a personagem principal vive aventuras durante a aula ela espirra e seu nariz começa a
com sua bisavó imaginária e depois se encon- escorrer, servindo de chacota de todos.
tra com sua bisneta imaginária. Outro fator que Ela corre para o banheiro, chorando, en-
chama a atenção do leitor infanto-juvenil é que quanto a Bisa dizia que os meninos de sua épo-
a protagonista, Bel, está passando pelo processo ca eram mais cavalheiros e os lenços de pano e
de puberdade, fazendo com que o aluno se iden- não de papel. Na volta para Bel conversa com
tifique com a história. sua mãe sobre lenços e casamentos. Logo depois
A obra narrada pela protagonista (nar- volta a conversa com a Bisa e também com a voz
rador-personagem) trata do encontro de Isabel, que ela ouvia às vezes, as duas estavam se me-
Bel, com um retrato de sua bisavó, Beatriz, a tendo na vida de Bel.
quem ela chama de Bisa Bia, e das aventuras que Bel questionou de quem era a voz e se
ambas vão viver, quando a personagem passa a surpreendeu com a resposta, era sua bisneta
ver a bisavó. A mãe de Bel não tinha mania de ar- Beta, que havia encontrado uma foto de Bel nas
rumar a casa como as outras mães, então sem- coisas de sua mãe no futuro. Essa foto era holo-
pre que resolvia arrumar a casa Bel, ela se sur- gráfica, foi explicando Beta, dava para em três
preendia e sempre ganhava alguma recompensa. dimensões, ela explicou que na holografia Bia
Nesse dia em questão, o presente foi dife- estava com o retrato de Bia na mão e que agora
rente, durante a arrumação, a mãe de Bel encon- ela também ia morar dentro de Bia. A partir daí
tra uma caixa com um envelope cheio de fotos, as três passaram a dividir muitos momentos e ex-
em uma dessas fotos estava Beatriz ainda meni- periências, cada uma fazendo comparações com
na. Assim Bel leva o retrato emprestado por sua suas épocas.
mãe para a escola e acaba perdendo ao correr Na volta de Bel à escola, a professora Sô-

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nia devolveu o retrato dizendo que alguém o ha- tor, mas seus sonhos foram desencorajados pe-
via encontrado, e também havia dois alunos no- las “pessoas grandes”. Ele fez um desenho de um
vos e todos estavam surpreendidos com as suas elefante engolido por uma jiboia, quando mos-
histórias de viagem fora do Brasil. Com o ocorri- trou para os adultos se decepcionou porque to-
do com o retrato de Bel, a professora teve a ideia dos achavam que era o desenho de um chapéu,
de que cada aluno levasse foto dos seus bisavós, foi assim que ele resolveu pilotar avião.
pesquisando sobre o tempo deles. A professora Como não desistiu de mostrar seu de-
havia tirado foto de todos os alunos na ausência senho, sempre que encontrava alguém que lhe
de Bel, e nesse momento tirou a foto dela segu- parecia um pouco lúcida, ele mostrava sua obra,
rando o retrato da Bisa Bia, provando o que sua mas continuava não obtendo sucesso nas inter-
bisneta havia dito. pretações. Um dia, durante um voo sobre o de-
serto do Saara, seu avião sofreu uma pane e ele
4.2 O Pequeno Príncipe caiu no deserto. Na primeira noite, ele adorme-
ceu e acordou com uma voz pena e estranha de
A obra “O Pequeno Príncipe” é de Antoine um menino lhe pedindo para desenhar um car-
de Saint-Exupéry, o autor francês, piloto e ilustra- neiro.
dor. Exupéry nasceu em 1900 e faleceu em 1944 O piloto não tinha o desenho de um car-
em uma queda de avião, durante um voo de re- neiro, então lhe mostrou o seu primeiro dese-
conhecimento na guerra. Ele escreveu para jor- nho, em seguida, o menino lhe respondeu que
nais e revistas e suas principais obras, caracteri- não queria o desenho de uma jiboia engolindo
zadas por temas relacionados à guerra e aviação, um elefante, insistindo em querer um carneiro.
foram “O Aviador” e “Carta a um Refém”. As suas O piloto se surpreendeu, foi a primeira vez que
frases ficaram mundialmente famosas como “Só alguém entendeu o seu desenho. Então tentou
se vê bem com o coração. O essencial é invisível desenhar o desejado carneiro, mas nenhum de
para os olhos”, Exupéry (1943) presente na obra seus desenhos agradou o menino exigente, resol-
O Pequeno Príncipe (p.70). veu desenhar então um carneiro dentro de uma
Sua obra mais consagrada foi o Pequeno caixa, isso sim acabou por agradar o pequeno.
Príncipe. É o quarto livro mais vendido do mun- O homem insistia nas perguntas sobre a
do com mais de 140 milhões de cópias, segundo origem do menino, estranhou que uma criança
o blog Saraiva, e traduzido para mais de 80 idio- estava sozinha no meio do deserto e nem se pre-
mas. O livro tem duas adaptações para o cinema ocupava com isso. O menino só lhe dizia que seu
como filme e uma animação, e sempre atrai pú- planeta era bem pequeno, pouco maior que uma
blico de todas as idades, adultos e crianças por casa, então o piloto deduzia que o Príncipe mora-
onde passa. Sua linguagem é muito simples e va no asteroide B 612, que só apareceu uma vez
ilustrado com desenhos superinteressantes feitos 1909.
pelo próprio Exupéry e acompanhados por frases Todos os dias, o homem aprendia um
de reflexão. pouco mais sobre seu planeta, desenhando-o
No livro o autor conta a história de um sob orientação do menino para ajudar as crian-
piloto que, quando criança, sonhava em ser pin- ças que resolvessem viajar. O pequeno falou so-

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bre os Baobás, as ervas que cresciam demais e encontrou-se com a serpente. Ela lhe prometeu
eram ruins para seu reino. que sua picada os levaria de volta para o seu pla-
Em seguida, falou sobre a vaidosa flor que neta; mas ele continuou andando e encontrou
chegou sem saber de onde e em forma de se- várias rosas iguais à sua flor. Logo, encontrou
mente, sendo cultivada pelo pequeno. Era mui- uma raposa lhe pediu para cativá-la, ele assim
to bonita, mas o príncipe não confiava muito no fez, mas a despedida acabou não agradando a
que ela dizia, assim resolvendo fugir do planeta raposa. Nesse momento, a fala volta ao narrador
no voo dos pássaros que migravam, arrumando que começa a temer pela vida por que sua água
tudo no seu planeta e despedindo-se da flor. acabou.
Passou por vários planetas, o primeiro Eles caminham e encontram um poço e
era habitado por um rei que acreditava que to- beberam água, depois disso encontraram nova-
dos eram seus súditos. No segundo, era habitado mente a serpente e o pequeno príncipe contou
por um vaidoso que sempre pedia por aplausos e que seria picado por ela para retorno ao seu pla-
elogios. O terceiro era habitado por um bêbado neta. E assim aconteceu, o pequeno foi embora
que bebia para esquecer que tinha vergonha de para o seu planeta e o piloto consertou o avião,
beber. voltando para casa.
No quarto planeta, o pequeno encontrou
um homem de negócios. Esse homem estava 5. O LEITOR LITERÁRIO E A CONTRIBUI-
contando as estrelas e dizia possuí-las. O quinto ÇÃO DA ESCOLA
planeta era o menor de todos e guardava o acen-
dedor de lampiões; esse homem acendia e apa- A escola é o local onde as pessoas desco-
gava o lampião a cada instante e os dias nesse brem uma quantidade enorme de coisas, desde
planeta só duravam um minuto, nessa contagem os conteúdos curriculares de cada disciplina das
o pequeno príncipe ficou mais de um mês lá, ten- diversas áreas do conhecimento até as práticas
tando ajudar o amigo, pois acreditava que ele era de socialização, oportunizando as crianças nas
melhor que os homens dos outros planetas, mas séries iniciais fazerem amizades e descobrindo
não encontrou um jeito e partiu. o que querem ser quando crescerem. Contudo,
O sexto planeta era habitado por um ho- mais que em qualquer outro lugar, é na escola
mem que escrevia livros enormes, um geógra- que esses indivíduos entram em contato com a
fo que não conhecia o próprio planeta por que literatura.
não era um explorador, ele perguntou como era Muitos alunos chegam à escola sem ter
o planeta do príncipe e ele respondeu-lhe falan- tido nenhum contato com a literatura, talvez pela
do da flor, o geógrafo, dizendo que a flor não é idade ou porque ler obras literárias pode não fa-
eterna, trazendo preocupação ao príncipe, por zer parte da rotina das pessoas da sua casa. Com
isso deixou-a sozinha em seu planeta. O geógra- isso, o papel de apresentar esse mundo aos pe-
fo aconselhou ao príncipe que visitasse o planeta quenos fica a cargo da escola, promovendo isso
Terra, então ele partiu mesmo preocupado com de forma positiva e atrativa. O professor tem a
sua flor. oportunidade de trabalhar as questões de lin-
Ao chegar à Terra, o pequeno príncipe guagem e interpretação na leitura de um poema,

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por exemplo, sem deixar de levar prazer e diver- o conteúdo presente nas obras, sobre práticas
timento aos leitores iniciantes. e metodologias para estimular o interesse pela
Segundo Zilberman a leitura pode ser de- leitura, sobre meios de avaliar devidamente as
finida “como atividade propiciadora de experi- alunas sobre questões ligadas às obras e como
ência única com o texto literário” (ZILBERMAN, apresentar a literatura de forma prazerosa, mas
2009, p. 16). Essa experiência propiciada pela ao mesmo tempo eficiente.
leitura é o primeiro passo para que os alunos se Enquanto a escola oferece um ambiente
tornem amantes da literatura e com ela possam propício para a leitura, como uma variedade de
se inteirar de outras realidades, sendo abordas livros à disposição dos alunos e espaços de leitu-
dentro do texto. ra, eventos que promovam saraus e apresenta-
Com isso, evidencia-se a importância da ções de poesias. Essas apresentações podem ser
escola nesse processo de formação de pessoas sobre obras de autores já consagrados ou obras
críticas, engajadas e ricas socialmente. A literatu- criadas pelos próprios alunos, assim eles serão
ra permite novas possibilidades de comunicação. inseridos no mundo literário de forma mais pro-
O autor comunica-se com o leitor, e esse, por sua funda e significativa.
vez, se comunica com épocas e realidades distin- Outro aspecto importante por parte da
tas. Para Todorov (2007), ela aspira compreen- escola, enquanto instituição é o investimento e a
der a experiência humana. E ainda segundo ele contínua formação do professor dessa área, pro-
(2007): movendo a interdisciplinaridade entre os profes-
sores das diversas áreas, por exemplo, história e
Como a filosofia e as ciências huma- literatura podem dialogar e trabalhar o mesmo
nas, a literatura é pensamento e co- momento histórico-literário.,
nhecimento do mundo psíquico e so- Regina Zilberman em seu artigo “O papel
cial em que vivemos. A realidade que da literatura na escola”, falou sobre as dificul-
a literatura aspira compreender é, dades de se trabalhar a literatura na escola nas
simplesmente (mas, ao mesmo tem- décadas de 70 e 80. Segundo ela, “A literatura
po, nada é assim tão complexo) a ex- encarnava a utopia de uma escola renovada e
periência humana. Nesse sentido, po- eficiente, de que resultavam a aprendizagem do
demos dizer que Dante ou Cervantes aluno e a gratificação profissional do professor”
nos ensinam tanto sobre a condição (Zilberman, 2009, p. 13). Para a autora, essa uto-
humana quanto os maiores sociólo- pia da escola melhor e com a devida valorização
gos e psicólogos e que não há incom- salarial dos professores iria, certamente, trazer
patibilidade entre o primeiro e o se- resultados positivos na aprendizagem dos estu-
gundo saber. (TODOROV, 2007, p. 77) dantes.
Está claro que a escola exerce um papel
É evidente que a escola também preci- fundamental para a formação do leitor literário,
sa estar preparada para suprir essa demanda de mas ainda é preciso que algumas medidas e po-
ensinamentos fornecidos pela literatura. Por con- líticas sejam tomadas e implementadas para me-
seguinte, o professor precisa ter o domínio sobre lhorar o seu desempenho. Assim, a escola contri-

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bui para a literatura, a literatura contribui para o no processo de aquisição do letramento literário
letramento literário e esse por sua vez, contribui dos alunos e sendo trabalhado com maior de-
para o “letramento” em geral e principalmente dicação e motivação por parte tanto da escola
na perspectiva social, enquanto aquisição e em- como na prática docente.
poderamento da prática social. Com isso, o presente trabalho está volta-
do para a contribuição da escola no processo de
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS letramento e na vida dos alunos, especificamen-
te para a forma como a as obras literárias podem
No decorrer de todo o trabalho, foram ajudá-los durante esse processo, mesmo na pro-
abordados os conceitos de letramento, literatu- posta de uma revisão bibliográfica baseada em
ra e letramento literário, sendo feita a descrição autores ligados à área.
das obras sugeridas no processo de letramento. Dessa forma, propõe que reflitamos sobre
O objetivo foi mostrar como a literatura é capaz a importância de se ler literatura em sala de aula
de ajudar o professor na sua prática pedagógica, e de se contextualizar esta à vivência do educan-
a transformar seus alunos em bons leitores, e as- do, a fim de promovemos o letramento literário e
sim, contribuindo positivamente para os índices (re)ativarmos sentimentos que somente o conta-
nacionais e internacionais nos quesitos sobre a to com a literatura poderá proporcionar.
educação e domínio das habilidades de leitura e No ensino e no planejamento em sala
outros. de aula, as obras Bisa Bia Bisa Bel e o Pequeno
A educação no Brasil ainda tem muito Príncipe pela sua aceitação e facilidade no acesso
que melhorar, a realidade das escolas em relação podem ampliar a abordagem didática no ensino
as atividades da leitura é ainda bastante desafia- fundamental. Trabalhar a literatura é uma tarefa
dora e urgente em sua melhorias, principalmente difícil e desenvolver o processo de letramento
na intervenção dos alunos. Muitas dessas crian- também, mas os dois juntos, se trabalhados da
ças saem da escola sem conseguir desenvolver forma correta, podem mudar essa realidade.
práticas sociais de leitura e escrita, comprome-
tendo diretamente no seu desenvolvimento es- Para tanto, é possível afirmar com certe-
colar, social e nas diversas interações com a so- za o quão a literatura pode contribuir no proces-
ciedade de seu contexto e cidadania. so de letramento dos seus alunos e professores,
Sem dúvidas, dentro desse contexto so- quando aplicado de forma eficaz, motivadora e
cial e escolar, as habilidades de leitura e escrita humanizadora no seu contexto de ensino, por-
são essenciais e para isso, é preciso que cada tanto é ainda evidente que estaremos conviven-
pessoa desenvolva o seu letramento. O papel da do com contrariedades e dúvidas sobre o porquê
escola é fundamental nessa fase de aprendiza- de se ensinar literatura.
gem e descobertas, influenciando positivamente

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