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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2018.0000514011
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1008088-93.2015.8.26.0451 e código 8F72E49.
ACÓRDÃO
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO GIAQUINTO, liberado nos autos em 12/07/2018 às 15:04 .
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
FRANCISCO GIAQUINTO (Presidente), NELSON JORGE JÚNIOR E ANA DE
LOURDES COUTINHO SILVA DA FONSECA.
Francisco Giaquinto
RELATOR
Assinatura Eletrônica
fls. 204
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
VOTO Nº : 27427
APEL. Nº : 1008088-93.201568.26.0451
COMARCA: PIRACICABA
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APTE./APDO. : ITAÚ UNIBANCO S/A
APDO./APTE. : LEANDRO CESAR NOGUEROL (JUST GRAT)
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recepcionado e transferido para a conta indicada no
título, sem verificar o requerido que a empresa
beneficiária/titular da conta não era aquela que
efetivamente vendeu o veículo e aparecia na ficha de
compensação do boleto bancário - Informações do
boleto não conferiam, de modo que o banco deveria ter
recusado e não aceito o pagamento Banco réu não
demonstrou a regularidade da abertura da conta
corrente utilizada pelo fraudador para aplicação do
golpe da venda do veículo - Falha na prestação dos
serviços evidenciada Responsabilidade objetiva da
instituição financeira Fortuito interno Súmula 479
STJ Dever de indenizar pelos danos materiais
Sentença mantida - Recurso do réu negado.
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passiva, por apenas manter a conta corrente da empresa que recebeu os valores pagos pelo
autor, atuando meramente como prestador de serviços. Sustenta culpa exclusiva do autor
porque deveria ter verificado a idoneidade da empresa antes de efetivar a compra, devendo
ainda desconfiar da proposta oferecida por valor muito abaixo do preço de mercado. O
Banco não contribui para o evento danoso, por não ter emitido o boleto. O título não foi
pago em nenhuma de suas agências bancárias e não participou da relação jurídica entre o
autor e o vendedor, não podendo ser responsabilizado por eventuais prejuízos sofridos pelo
requerente.
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várias vezes até a agência do recorrido para solução do problema.
É o relatório.
VOTO.
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conseguiu localizar a vendedora. Não há dúvida de que o autor foi vítima de estelionato.
Após diversas buscas no curso do processo, apurou-se por informação do banco réu que
o preço foi direcionado para conta em nome de M&M Chinelos Ltda. ME. A conta está
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encerrada e o valor não foi recuperado.
O autor sustenta que o réu deve ser responsabilizado, porque
aceitou emitir em favor de empresa fraudulenta o boleto por meio do qual o preço foi
pago. O réu, por sua vez, argumenta que não emitiu, nem encaminhou o boleto em
questão. Assim delimitada essa controvérsia, entendo que assiste razão ao autor. Consta
no boleto de fls. 19 que é de emissão do réu. Como o réu veio a informar, o valor foi
direcionado para conta aberta em agência do réu, em nome da M&M Chinelos. Diante
dessas circunstâncias, entendo demonstrado suficientemente que se trata de boleto
emitido pelo réu, para favorecimento de cliente dele. O réu postulou julgamento
antecipado, dispensando outras provas, motivo pelo qual deixou de fazer prova de que
não se trata de boleto por ele emitido.
Sendo boleto emitido pelo réu, entendo estar presente defeito na
prestação de serviços, ao não perceber que a favorecida pelo título era empresa
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fraudulenta, que abriu conta em agência do réu para cometer fraudes. Pois a segurança
legitimamente esperada pelo consumidor em tais situações é que o banco faça uma
análise sobre a efetiva existência da pessoa jurídica que pretende abrir conta bancária
perante ele. Não tendo sido atendida essa legítima expectativa de segurança, está
presente o defeito, que atrai a responsabilidade objetiva do art. 14 caput do Código de
Defesa do Consumidor.
Ainda que não houvesse defeito, a ré responderia da mesma
forma, objetivamente, pela aplicação do § único do art. 927 do Código Civil, pelo risco da
atividade, pois, para aplicação dessa norma, nova cláusula geral de responsabilidade
civil, como salienta CLÁUDIO LUIZ BUENO DE GODOY, não se exige nem defeito,
nem ato ilícito, nem atividade perigosa, mas somente risco derivado de atividade
normalmente desenvolvida, ainda que lícita, desde que risco especial, estatisticamente
constatada a potencialidade lesiva, pois não se trata de causalidade pura
(Responsabilidade Civil pelo Risco da Atividade, Saraiva, 2009, pp. 94-101). É o que
ocorre em situações como a do presente caso, pois frequentes golpes como o em questão
em prejuízo de consumidores, a justificar a incidência dessa norma do Código Civil.
Em consequência, o réu deverá ressarcir ao autor o valor do
preço pago, resguardado direito regressivo do réu contra o estelionatário.
Mas não procede o pedido de indenização por danos morais, pois
não foram apontadas circunstâncias concretas de fato pelo autor que pudessem justificar
o acréscimo de indenização por danos extrapatrimoniais.
Em relação ao pedido de obrigação de fazer, de fornecer os dados
cadastrais da vendedora, não houve resistência injustificada do réu, pois não poderia
fornecer esses dados sem ordem judicial. Por conseguinte, esse pedido é procedente, mas
não justifica condenação do réu em sucumbência”.
O Banco Itaú S/A é parte passiva legítima, por aceitar abrir conta
corrente e emitir em favor de empresa fraudulenta o boleto pago pelo autor.
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O valor foi recepcionado e transferido para a conta indicada no título, sem verificar o
requerido que a empresa beneficiária não era aquela que efetivamente aparecia na ficha de
compensação.
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Passa-se à análise do mérito dos recursos.
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(súmula 297 do STJ), emergindo a responsabilidade objetiva do prestador de serviços que
decorre da adoção da teoria do risco do empreendimento, nos termos do art. 14 do CDC.
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regularmente e de forma lícita, serviu ela de meio para a prática de estelionato, provocando
danos ao autor, daí a responsabilidade do Banco em suportar os danos causados ao
requerente.
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A situação narrada traduz inequívoco dever de indenizar do Banco
réu, por permitir que terceiros fraudadores abrissem a conta corrente, utilizada como meio
da prática do delito, caracterizando-se, assim, o chamado fortuito interno, a ser suportado
pelo prestador de serviço, que decorre do risco do negócio.
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O tema já foi pacificado em julgamento do Recurso Especial
1.199.782/PR, de relatoria do Ministro Luis Felipe Salomão, afetado à Segunda Seção do
Superior Tribunal de Justiça, com base no art. 543-C do Código de Processo Civil:
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Estou entendendo caracterizados os danos morais.
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pela má prestação de seus serviços.
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réus, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência,
com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da
vida e às peculiaridades de cada caso” (Resps. nºs 214.381-MG; 145.358-MG e 135.202-
SP, Rel. Min. Sálvio Figueiredo Teixeira).
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Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso do réu e dá-se
provimento ao recurso adesivo do autor, para condenar o requerido a pagar indenização
por danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com correção monetária pela
tabela do TJSP do acórdão (súmula 362 do STJ) e juros de mora de 1% ao mês, da citação,
além do pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios fixados em 15%
do valor da condenação atualizada, com base no art. 85, §§2º e 11, NCPC.
FRANCISCO GIAQUINTO
RELATOR