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Porque considero Juan Manuel Fangio o melhor piloto da F1

Sua carreira na F1 começou depois que viajou em uma excursão de pilotos argentinos enviados
por Juan Domingo Perón (presidente da Argentina) para a Europa às vésperas da criação da
Fórmula 1 em 1950. “Ganhou suas corridas em uma era em que o piloto fazia uma diferença
muito maior na conquista da vitória. Era tão bom que quando mudava de equipe, ganhava da
mesma forma”, resumiu o concorrente Tony Brooks.

Um de seus companheiros de equipe foi Sir Stirling Moss, vice-campeão em 1955, e relatou o
seguinte: “Fangio foi um homem muito humilde, que jamais culpou ninguém de nada. Foi
verdadeiramente honesto. Jamais o vi realizar uma manobra desleal. Nunca mais houve no
automobilismo um embaixador do seu tamanho. Tinha uma presença tão grande, mas era
discreto, era reservado, era carismático e certa vez eu o observei na Inglaterra. Ele não falava
inglês, mas estava rodeado de tantas pessoas que o olhavam e o escutavam com tanto respeito.
Pessoas para quem ele era um herói. Eu não falo espanhol, então nos comunicávamos com um
pouquinho de italiano e com o movimento de nossas mãos. Aprendi muito dele seguindo-o de
muito perto na pista. Ficou muito bem gravada em minha mente uma situação em 1955 na
Argentina, no treino final. Restavam só 10 minutos e os pneus da minha Mercedes estavam
acabados. Fangio soube disso no boxe e foi até ao nosso chefe de equipe e lhe disse: ‘Senhor
Neubauer, de meu último jogo de pneus ao pequeno’. Ele tinha em consideração até a mulher
que limpava os banheiros. Era simplesmente um amigo que eu tinha muito respeito e cada
pessoa sentia, de imediato e sem dizer palavras, sua sincera simpatia. Com os jornalistas era
conversador, e para os fãs também sempre tinha seu tempo”. Outro colega de Fangio na
Mercedes foi Desmond Titterington, que assim lembrou dele: “Acompanhei Fangio durante três
voltas que foram de total aprendizagem. Ele pilotava e eu ia ao seu lado dentro do carro. Ele me
mostrou cinco lugares do circuito de Nürburgring onde um erro podia significar a morte, e como
não falava inglês, preferiu ser bastante gráfico: sua mão cruzando à frente de seu rosto dizia
tudo! Que experiência memorável! Foi um dos grandes momentos da minha carreira”.

“Todos os anos alguém se consagra campeão do mundo, mas é circunstancial. O verdadeiro


campeão do mundo é um só. É Juan Manuel Fangio” (Ayrton Senna).

“Vi Juan Manuel Fangio correr em Interlagos quando eu tinha 11 anos. Posso dizer que essa foi
a maior motivação à minha carreira” (Emerson Fittipaldi).

“Juan Manuel Fangio foi o homem mais agradável que eu conheci no mundo das corridas, dono
de uma enorme veia humana. Cada ocasião que eu o via na Argentina, quando ia correr um
grande prêmio, ele era tão divertido! Sua presença me causava grande interesse e sua
personalidade era muito distinta. Ele era um cavalheiro em toda sua dimensão. Senti muito sua
partida” (Niki Lauda).

“Era uma pessoa que, ainda que tenha corrido 40 anos antes, podia falar contigo e te dar uma
visão do que podia ocorrer na corrida. Eu consegui um título a menos que ele e sempre me
perguntam se não queria alcançar seu recorde. Esse nunca foi meu objetivo, teria sido
fantástico, mas não estava em meus planos” (Alain Prost).

“Não se podem comparar as épocas, ninguém pode comparar o recorde dele com o meu. São
simplesmente diferentes. Nas ocasiões em que eu tenho a oportunidade de manobrar esses
carros pelos quais Fangio correu, eu tomo um susto! Tenho que dizer que esses pilotos como
Fangio tinham que ser muito corajosos para fazer o que fizeram” (Michael Schumacher).
O talento de Senna é irrefutável e isso eu concordo, mas lista dos melhores pilotos de F1 é
subjetiva.

Agora vou dizer porque Fangio foi o melhor de todos:

01. Não falava inglês. Sua comunicação era o seu talento na pista;

02. Sabia poupar equipamento quando necessário e mesmo assim venceu 24 corridas onde era
muito comum a quebra dos carros ou na pior das circunstâncias o piloto morria devido a precária
segurança daquela época;

03. As corridas duravam cerca de 3 a 4 horas e meia devido a extensão dos circuitos serem bem
maiores do que os atuais circuitos da F1. Para efeito de comparação, o circuito de Spa-
Francorchamps tinha na época em que correu 14,11km e hoje tem 7,04km. Isso exigia um
esforço físico muito grande e também uma capacidade de concentração bem maior;

04. Venceu 5 títulos por 4 equipes diferentes. Nenhum piloto de F1 até hoje conseguiu tamanha
façanha;

05. Das 7 temporadas completas que disputou na F1 (1950,1951,1953-1957), foi campeão 5


vezes e 2 vezes foi vice-campeão. Nenhum piloto de F1 até hoje teve desempenho semelhante a
ele;

06. Em 1957, já tinha 46 anos e quatro títulos mundiais quando alinhou na pole position para o
GP da Alemanha em 4 de agosto. Não precisava mais provar nada a ninguém. Ainda assim, saiu
de Nürburgring com seu quinto título de forma antecipada, e com o lugar garantido entre os
melhores pilotos de todos os tempos. Para isso, o argentino teve de correr mais riscos do que
jamais havia se permitido ao longo de sua carreira (a morte de um copiloto na Carrera
Panamericana, antes de se aventurar na Europa, aguçou para sempre seus instintos de
autopreservação). Num circuito de 22,8 quilômetros de extensão, entre montanhas, curvas cegas
e precipícios, temido por todos os pilotos, Fangio saiu do carro, segundo o jornalista Mark
Hughes, dizendo que nunca havia pilotado de maneira igual e não repetiria mais o feito. Para
vencer as Ferrari de Peter Collins e Mike Hawthorn, a equipe Maserati, de Fangio, havia decidido
largar com meio tanque e fazer um pit stop na metade da prova — os ingleses, usando pneus
Englebert, mais duros, não precisariam parar nos boxes. Fangio não largou bem, caiu para
terceiro, mas precisou de apenas duas voltas para recuperar a liderança, e tudo ocorria
conforme o plano até a volta 12, quando fez sua parada. A partir daí, se a corrida fosse um filme
de Hollywood, os críticos de cinema diriam que o roteirista tinha pesado a mão. Tudo deu errado
nos boxes da Maserati. Quando os mecânicos finalmente liberaram o carro, ele estava a 28
segundos de distância do líder, Hawthorn, que era escoltado de perto por Collins. Ainda se
seguiram duas voltas nada impressionantes até que algo se transformou na pilotagem de
Fangio. Subitamente, “II Maestro”, como o chamavam os italianos, começou a fazer as perigosas
curvas do Nordschleife com uma marcha acima do usual. O recorde de pista caía sensivelmente.
Muito antes de os carros serem equipados com rádio, as Ferrari só puderam ser avisadas da
aproximação do argentino quando era tarde demais. Quando recebeu a bandeira quadriculada,
Fangio estava 3,6s à frente do britânico. Matematicamente, sagrou-se pentacampeão mundial.

Mais do que números absolutos, os números em porcentagem provam a maestria e a


superioridade técnica pela qual Fangio conseguiu na sua curta carreira na F1. Era muito difícil
ser superado na pista porque seu talento não era comum. Fangio não foi um piloto comum.
Estava em um nível acima dos outros pela maneira como conquistou seus resultados na F1.
Nem Jim Clark, nem Jackie Stewart, nem Ayrton Senna, nem Michael Schumacher e nem Lewis
Hamilton superaram em porcentagem o que Fangio conquistou. Veja:

01. Possui o maior percentual de títulos: 71,42%. Hamilton possui 46,15%. Schumacher possui
38,8%, Stewart possui 33,33%, Senna possui 30% e Clark possui 25%.

02. Possui o maior percentual de vitórias: 47,06%. Clark possui 34,72%, Hamilton possui
33,47%, Schumacher possui 29,64%, Stewart possui 27,27% e Senna possui 25,47%.

03. Possui o maior percentual de poles: 56,86%. Clark possui 45,83%, Senna possui 40,37%,
Hamilton possui 35,20%, Schumacher possui 22,15% e Stewart possui 17,17%.

04. Possui o maior percentual de pódios: 68,63%. Hamilton possui 60,4%, Schumacher possui
50,49%, Senna possui 49,69%, Clark possui 44,44% e Stewart possui 43,43%.

05. Possui o maior percentual de largadas na primeira fila: 94,1%. Clark possui 66,66%, Hamilton
possui 58%, Senna possui 54,06%, Stewart possui 42,42% e Schumacher possui 37,9%.

06. Possui o maior percentual de voltas mais rápidas: 45,1%. Clark possui 38,89%, Schumacher
possui 25,08%, Hamilton possui 18,8%, Stewart possui 15,15% e Senna possui 11,08%.

Aposentou-se da F1 aos 46 anos, mas seus feitos são pouco conhecidos. Naquela época não
havia a cobertura televisa que existiu a partir da década de 70.

Frases de Juan Manuel Fangio, o maestro:

“Muitos pilotos poderiam me vencer caso eu cometesse um erro, mas perderam porque me
ultrapassaram”.

“Você sempre deve se esforçar para ser o melhor, mas nunca deve pensar que já conseguiu”.

Daniel Freire
Apreciador de velocidade

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