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CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO

CASO PRÁTICO N.º 11


Aníbal andou de farmácia em farmácia, na zona centro do país, durante 5 anos, a
promover a venda dos produtos cosméticos da prestigiada marca “Beauty for ever”, da
sociedade com o mesmo nome (BFE – Beauty for ever, S.A.). A rotina era sempre a
mesma, definida por um manual de procedimentos extremamente detalhado, preparado
pela BFE. De acordo com tal manual, distribuído a cada distribuidor no início da sua
colaboração com a BFE, os distribuidores deviam limitar-se a explicar aos donos das
farmácias as maravilhas operadas por cada um dos produtos constantes do catálogo, o
quão fácil é vendê-los a senhoras descontentes com o peso da idade e o quão rentáveis
são dada a diferença entre o preço de aquisição e o preço de venda ao público. Do
manual constavam instruções específicas quanto a encomendas e pagamentos: não
podiam “aceitar” encomendas ou pagamentos, mas apenas “transmitir” internamente os
pedidos dos clientes, a processar pelo departamento operacional. Do manual constavam
ainda regras claras quanto à apresentação: fato cinzento e gravata sóbria, sapatos
engraxados, cabelo curto e penteado, “sem modernices”; não podiam usar brincos,
piercings ou outros adereços que desvirtuassem a imagem que se pretendia sóbria.
Deviam apresentar-se com um cartão de visita da empresa e não podiam usar, nos seus
contactos com os clientes, outro endereço de e-mail que não o da empresa.
Do contrato assinado por Aníbal em 2010 constava (i) um prazo de 2 anos; (ii) um
direito de exclusivo na zona centro do país, (iii) que a sua remuneração se resumiria à
comissão de 7,5% do preço de cada produto vendido pela BFE às farmácias contactadas
por Aníbal, incluindo esta comissão a compensação pela clientela criada pelo que, findo
o contrato, nada mais terá a haver da BFE; e (iv) uma obrigação de não concorrência
por um prazo de 5 anos após a cessação do contrato.
Em janeiro de 2014, Aníbal conheceu Carlota que tem a mania que é rebelde e
rapidamente fez dele “gato-sapato” e, em fevereiro, fez várias tatuagens e adotou um
penteado “radical” para demonstrar que estava à altura do desafio. Os donos das
farmácias com quem contactava diariamente começaram a olhá-lo com desconfiança.
Entretanto, Carlota convenceu Aníbal a promover junto das farmácias, juntamente com
os produtos da BFE, umas “ervas medicinais”, por si plantadas, que, segundo a mesma,
sendo misturadas com chá, produziam um efeito rejuvenescedor imediato. Alguns
farmacêuticos compraram as ervas que rapidamente demonstraram ser um sucesso entre
as senhoras de idade que, diziam, as faziam sentir mais jovens do que algum dia foram.
Descobriu-se em junho que, entre tais ervas, havia canabis com fartura...
1. Em julho de 2014, a BFE escreveu a Aníbal, pondo fim imediato ao contrato.
Aníbal, incrédulo, disse que a BFE não tinha fundamento para isso: queria
continuar a trabalhar e a receber as comissões a que tinha direito.
R: Vigora, no âmbito dos contratos comerciais, a regra geral da autonomia privada [art.
405º CC], em conjugação com as regras da interpretação negocial, segundo Menezes
Cordeiro. O numerus apertus designa que o número de actos mercantis teoricamente
possíveis é ilimitado, com as consequências seguintes:
1. As descrições legais dos contratos comerciais não são típicas
2. As descrições legais dos contratos comerciais podem ser aplicadas
analogicamente.
O princípio é o da consensualidade, tal como do direito civil [art. 219º CC],
manifestado na liberdade de língua na celebração de contratos comerciais [art. 96º].
Os contratos comerciais podem ser:
3. De organização:
1. Consórcio;
2. Associação em participação.
4. De distribuição:
1. Agência;
2. Concessão;
3. Franquia ou franchising.

Antes de mais, no caso estamos perante um tipo de contrato de distribuição:


o contrato de agência, cujo regime está regulado no DL 178/86.
No artigo 1º/1 do diploma atrás referido, retira-se elementos essenciais da noção
de agência:
a. dever de promover a celebração de contratos (sendo assim a agência uma
prestação de serviços) - prospeção de mercado, de angariação de clientes, de
negociação, etc , na qual antecede e prepara a conclusão dos contratos, mas na qual
o agente não intervém.
a. O contrato de agência não confere ao agente poderes de celebrar contratos.
Limita-se a fomentar a sua conclusão e a prepará-los exceto se lhe tiverem sido
atribuídos poderes para tal.
b. Por conta da outra parte - relação interna entre o agente e o principal que é uma
relação duradoura e surge por forca do contrato de agência.
a. O agente prossegue os interesses do principal e deve zelar pela defesa destes:
assim o diz o art. 6º.
c. de modo autónomo - ao contrario do trabalhador , juridicamente subordinado à
entidade patronal, através do contrato de trabalho
a. Nao tem horas estipuladas por ex no caso
d. estável - é um colaborador da empresa e exerce a sua atividade (podendo ser um
nao-empresário a socorrer-se de agente) e exerce a sua atividade de modo estável,
tendo em vista, nao uma operação isolada, antes um número indefinido de
operações.
a. É compatível com a fixação de prazos curtos
e. mediante retribuição (a agencia é um contrato oneroso). Pelo que entendo, que no
caso em apreço, todos os requisitos se encontram preenchidos.
f. O agente ser de uma zona ou circulo de clientes deixou de ser elemento essencial do
contrato com o DL 118/93.

Tal verifica-se pois Aníbal tem o dever de promover a venda de produtos


cosméticos da marca Beauty for ever que lhe retribui 7,5% do preço vendido de
cada produto.

Quanto a forma não é exigida nenhum forma especial mas na prática, os


contratos em causa assumem a forma escrita ou que derivem de simples adesão a
cláusulas contratuais gerais. Se o contrato, por decisão das partes for reduzido aa
escrito, fica sujeito a registo (10º/e) código de registo comercial).

Ao não puderem aceitar encomendas ou pagamentos, só podendo transmitir


internamente os pedidos dos clientes e devendo-se apresentar-se com cartão de
visita de empresa, leva-nos a crer que o contrato de agência foi celebrado com
representação- art. 2º. Assim, presume-se, com base no art. 3º/2 que o agente
estava autorizado a cobrar créditos. Ora , tal disposição é logo afastada, no caso,
quando nos dá indicações quanto aos pagamentos, aplicando-se o art. 3º/1, sendo
que a cobrança de créditos deve ser permitida por escrito por razão de
transparência e segurança.

Além disso, no contrato assinado por Aníbal, havia um direito de


exclusividade na zona do centro do país , ou seja, a outra parte, o principal, fica
impedida de contratar outro agente pois concorreria com o primeiro - art. 4º.
O prazo estipulado no contrato de dois anos (cláusula i) leva-nos para uma
das formas de cessação do contrato, presente na alínea b) do art. 24º, a caducidade
(sobrevivência de um facto extintivo). Sendo o mútuo acordo sempre possível por
forma escrita segundo o art. 25º. O art. 26º/ a) dedicado à caducidade indica que o
contrato de agência caduca findo o prazo estipulado. Assim BFE tem fundamento.
Com base no art. 27º/2 transforma-se em contrato por tempo indeterminado
se o conteúdo continuar a ser executado pelas partes, mas o mesmo poderá ser alvo
de denúncia ao abrigo do art. 28º/4 e 28º/1/c).
Mesmo que não cessasse por caducidade era previsível que cessasse por
resolução - art. 24º d) e com base no art. 30º/a) , sendo que de acordo com o art. 31º
tal resolução devia ser feita através de declaração escrita, no prazo de 1 mês após o
conhecimento de facto (o que não se verificava, pois Aníbal conheceu Carlota em
janeiro de 2014 e só em Julho BFE escreve a Aníbal). Assim, BFE só poderia ser
indemnizado com base no art. 32º/1 (não cumprimento das obrigações da outra parte)
+798º.

2. Segundo Aníbal, mesmo que o contrato ficasse sem efeito, ele teria de ser
compensado pela clientela que criou. Afinal de contas, a BFE continuaria a receber
os proveitos do seu trabalho por muitos e bons anos: as farmácias que ele “mimou”
ao longo de anos continuariam a fazer encomendas sobre encomendas...
R: Na hipótese Aníbal tem razão, o contrato de agência pode acarretar clientela para
a BFE , que se manterá após a cessação do contrato, sendo justo e necessário
compensar a quantia pelo enriquecimento proporcionado ao principal. É este o
sentido do art. 33º.
Não se considera verdadeira indemnização porque não torna indemne [sem
dano], consistindo numa mera compensação pela angariação de clientela. Não há
dano, nem sequer ilicitude, pelo que não existe uma indemnização proprio sensu.
Permite-se, todavia, a restituição do enriquecimento do principal com a
angariação de clientela, pelo agente: não constitui enriquecimento sem causa porque, na
verdade, há causa, embora a lógica seja semelhante.
Há ainda uma tutela do agente, além do restabelecimento do equilíbrio do
principal: pretende-se que o último não “descarte” o primeiro após obter o que
pretendia, a clientela. O agente é considerado, pelo RJCA, a parte mais fraca e
carece, por isso, de especial tutela. É uma indemnização cumulável com outras a
que haja direito [indemnização por denúncia ou indemnização por incumprimento].
Para que tal direito de indemnização de clientela se possa concretizar é
necessário que estejam, cumulativamente preenchidos os seguintes pressupostos
presentes no art. 33º/1:
1. O agente tenha angariado novos clientes para a outra parte ou aumentado
substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente;
2. A outra parte venha a beneficiar consideravelmente, após a cessação do
contrato, da actividade desenvolvida pelo agente;
3. O agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou
concluídos, após a cessação do contrato, com os clientes referidos na alínea a).
Cumpre analisar se estes requisitos estão preenchidos:
1. Verifica-se - Pois os clientes continuarão a fazer encomendas.
4. Verifica-se - O que sucede pelo mesmo razão acima apresentada.
5. Verifica-se - Pela cláusula iii) parte final do contrato de agência celebrado.
Estando todos os requisitos preenchidos, a indemnização é calculada
equitativamente- art. 34º, com um limite máximo: não pode exceder uma
retribuição anual, calculada nos termos médios aí referidos, ficando todavia,
possível a inconstitucionalidade deste preceito, por violação da propriedade
privada, caso o prejuízo seja muito superior.
Mas, apesar de tudo o que vimos anteriormente, o art. 3º do artigo 33º
refere que a indemnização em causa não é devida se o contrato tiver cessado por
razoes imputáveis ao agente. Ora, se admitirmos que cessou por razoes subjectivas,
Aníbal nada tem a receber.

- a norma e imperativa
- Pressupostos cumulativos
- Nao e uma verdadeira indemnização
- Ml desconta juros e publicidade no 34 - livro de indemnização de clientela
- Admite se que com convenção das partes se possa ficar o montante do 34
- Imputável ao agente ou cedeu posição contratual a terceiro ?
3. O advogado de Aníbal sustentou ainda que este deveria reclamar à BFE a
comissão contratualmente prevista por cada produto vendido por esta às
farmácias do centro do país através da loja online criada em 2013.
R: Agência não se confunde com comissão (266º ccom), o comissário é um mandatário
sem representação , embora pratique os actos no interesse e por conta do mandan, actua
em seu próprio nome, ao contrario do agente ao qual foram conferidos poderes para
celebrar negócios juridicos actua em nume do principal.
Do acordo com o art. 16º/1 o agente tem direito a uma comissão pelos
contratos que promoveu e, bem assim, pelos contratos concluídos com clientes por
si angariados, desde que concluídos antes do termo da relação de agência, ficando
cobertas as situações de contratação direta entre o principal e o cliente angariado.
Segundo número 2 do mesmo preceito o agente tem direito à comissão (que
é uma percentagem que se dá a quem intervém numa operação comercial, uma
gratificação) por atos concluídos durante a vigência do contrato se gozar de um
direito de exclusivo para uma zona territorial ou um círculo de clientes e os
mesmos tenham sido concluídos com um cliente pertencente a essa zona ou círculos
de clientes.
O direito de comissão detém um regime protetor do agente segundo o art.
18, estabelecendo algumas concretizações.
O agente tem ainda direito a outras prestações retributivas como:
1. Comissão especial relativa ao encargo de cobrança - 13º f)
6. Comissão especial pela convenção del credere - 13º f)
7. Compensação pela cláusula pôs-eficaz de não concorrência - 13º g).
Numa loja online não há intermediários, tratando se de um caso de distribuição
direta1.

4. Em agosto de 2014, a BFE reclamou um pagamento em atraso à Deolinda


Farmácia da Mouraria, Lda. Esta afirmou que já pagou a Aníbal em maio desse
ano, pelo que nada deve à BFE.
R: No contrato e agência celebrado, uma das instruções específicas era a de que o
agente não podia aceitar encomendas ou pagamentos mas somente transmitir
internamente os pedidos dos clientes (violando o art. 3º ao aceitar o pagamento). Aníbal

1 Distribuição direta surge quando a própria empresa é responsável pela  entrega de seus produtos, sem
que haja nenhum intermediário envolvido no processo de distribuição, tendo como vantagens: um
relacionamento mais direto com o cliente, minimizando os custos repassados ao cliente final, e um maior
controlo sobre a cadeia de distribuição.
violou, portanto, uma das obrigações a que estava adstrito (art. 7º/a), deturpando a ideia
do legislador que seria a de não colocar e prevenir que o agente detivesse uma posição
de empregado do principal.
Anibal, como agente, deve informar os interessados dos poderes que possui, ora
através de letreiros, ora dos documentos que o identifiquem como agente, por forma a
esclarecer se tem ou não poderes de representação e se pode efetivamente efetuar a
cobrança de créditos segundo o art. 21º. Se o incumprir, torna-se responsável por todos
os danos que venha a ocasionar.
É necessário verificar se temos ou não uma situação de representação,
conferidos por escrito:
1. Sim:
1. Então presume se que pode receber pagamentos (art. 3º/2).
2. Ilidivel
3. Se o agente tiver sido encarregado da cobrança de créditos goza do
direito de
2. Não:
1. Prestação perante terceiro:
1. 770º CC (art. 3º/3) - recebe créditos sem autorização - o
terceiro coloca-se na situação de ter efetuado uma prestação a
terceiro que nao extinguira, a sua obrigação, em face do
principal.
2. Ineficazes nos termos gerais
3. Ratifica, se o principal, segundo o 22º/2, cinco dias a contar
do conhecimento da sua celebração e do conteúdo essencial
não manifestar oposição (vs 218º cc ), protegendo-se assim o
terceiro.
4. Num caso de representação aparente - art. 23º , o contrato
seria eficaz:
1. Não existem poderes de representação mas o
representado age como se houvesse poderes de
representação;
2. O terceiro de boa fé acredita na existência dos poderes
de representação;
3. O principal contribui para fundar essa confiança.
4. Sendo aplicado o art. 3º/2 permitindo-se a cobrança
de créditos por agente não autorizado.
5. Situação de confiança para MC

Poder-se-ia invocar uma situação de representação aparente [art. 23º RJCA]:


segundo a qual o falso representado não tolera ou não conhece da situação de falsa
representação – o “representante” arroga-se procurador de outrem, sem conhecimento
do “representado”, por negligência deste, que deveria ter observado deveres de cuidado
para prevenir a situação. A tutela [responsabilidade por danos de confiança] não opera,
segundo Menezes Cordeiro, quando o “representado” devesse conhecer a falta de
procuração.
Na hipótese, diria que há elementos que indicam que ele tinha poderes de
representação (aparente) exatamente porque criou confiança a Deolinda Farmácia da
Mouraria, Lda devido à imagem com que ele se apresentou, pelo cartão de visita e
endereço de email da empresa.

5. Na sua carta de resposta, a Deolinda Farmácia da Mouraria, Lda. reclamou


ainda uma compensação pelo facto de a BFE não ter entregado os produtos por si
encomendados 4 meses antes e que Aníbal garantiu que seriam entregues no mês
seguinte.
R: 233 º - ? Discutível
O compromisso assumido pelo Anibal vincula ou não a BFE
Falar dos poderes de representação do agente

6. Entretanto, em setembro de 2014, Aníbal decidiu montar o seu próprio negócio,


aproveitando um contacto da ECB - Empresa Cosmética Brasileira, S.A. que
queria introduzir os seus produtos no mercado português, aproveitando os
contactos que Aníbal tinha nas farmácias do centro do país. Para o efeito, Aníbal
deveria comprar os produtos à ECB e depois revendê-los pelas farmácias. Usaria
para o efeito as marcas, os materiais publicitários e as amostras da ECB. Aníbal
não sabia se podia: lembra-se de uma qualquer obrigação de não concorrência no
contrato com a BFE e ligou ao seu advogado a perguntar.
R: O CONTRATO AINDA ESTA EM VIGOR EM 2014.
Estamos perante uma questão relativa ao dever de não concorrência, é após a
vigência do contesto. Enquanto o contrato se mantiver, o agente não pode exercer
atividades em concorrência com as do principal (4º), sendo que o mesmo não acontece
após o termo do contrato.
O art. 4 nao produz efeitos após a vigência do contrato.

Obrigação de segredo vs obrigação de não concorrência


- A primeira prevalece com o termo do contrato salvaguardando os
ditames da ética profissional e prevenir situações abusivas e prejudiciais.
Se fosse para a atividade do agente traduzir-se-ia num significativo
impedimento a sua atuação profissional em desrespeito do princípio de
concorrência (61 CRP).

As partes podem estipular a obrigação de não concorrência por acordo, com condições e
limites:
1. documento escrito
1. Ok
8. não pode exceder dois anos
2. Errado
9. Circunscreve se à zona ou ao círculo de clientes confiados ao agente (direito
exclusivo a favor do agente, na vigência do contrato, se circunscreve segundo o art.
4).

O limite temporal dos dois anos é o mais indicado? Igual ao adotado pelo conselho das
comunidades europeias e o mesmo do código comercial alemão.

Se o agente tiver assumido a obrigação de não concorrência, goza de direito a uma


compensação, nos termos do art. 13 g).

7. As coisas correram bem entre a ECB e Aníbal durante pouco mais de um ano.
No final de 2015, a ECB enviou uma carta a Aníbal denunciando o contrato com
uma antecedência de 10 dias. Aníbal está novamente incrédulo: fez investimentos
avultadíssimos na promoção dos produtos da ECB e na constituição de stocks, de
acordo com o plano de negócios desenhado em conjunto com a ECB.
R: O contrato celebrado entre a ECB e Aníbal foi um contrato de concessão. Concessão:
o concessionário celebra efetivamente compras para revendas, em nome e por conta
própria, mediante a remuneração que resulta do lucro. O concessionário é a face mais
visível do contrato, representando a marca em causa para uma determinada
circunscrição geográfica, normalmente.

Aplica-se o art. 28 por analogia.


28/1/b) - Estes prazos não se aplicam por serem demasiado curtos em face dos
investimentos que estes contratos envolveram.
Pre aviso - 28/4
- alínea c) - depende da jurisprudência - 12 meses, 9 meses, 6 meses,
são todos superiores ao da alínea c) do 28
Será de exigir, à luz do princípio da boa fé e da proibição do abuso de direito que o
contrato só possa ser denunciado depois de decorrido um período de tempo razoável e
não imediatamente ou pouco tempo após o início de vigência. O pré-aviso destina se a
evitar ruturas bruscas com prejuízo para o outro contratante

Requisitos
1. Declaração unilateral reptícia
10. Uma parte poe termo.
11. Contrato indeterminado no tempo

Indemnização de clientela (33º Agencia) - a indemnização pressupõe um dano (162º


CC); compensação ao agente, pela vantagem que ele criou ao principal, devido à
angariação de novos clientes que levou ao aumento de volume de negócios.

8. Carlota, quando percebeu que Aníbal não teria onde cair morto, logo o trocou
por Fausto, jovem empresário de sucesso que pretende abrir um restaurante
igualzinho aos H4 que estão já espalhados por Lisboa e não sabe que contrato deve
celebrar para o efeito.
R: Deve celebrar um contrato de franquia. No contrato de franquia o franqueador atribui
ao franqueado a possibilidade [o direito e a obrigação] de usar nomes, insígnias,
processos de fabrico e comercialização de uma determinada marca, definindo os
parâmetros através dos quais a distribuição deve ser processada.
Com origem nos EUA, dada a dimensão geográfica do país, este tipo de contrato de
distribuição surge enquanto resposta quando inviáveis os métodos de distribuição
convencionais.

O franqueador pode fiscalizar o franqueado, obtendo uma percentagem sobre as vendas


[uma “renda”, enfim: royalties].
- à aplicação analógica do RJCA ao contrato de franquia

CASO PRÁTICO N.º 12

João Baralhado (JB) é um famoso investidor da Banca Portuguesa e fundador de uma


instituição mui especial sem fins lucrativos, designada Fundação “Moi-même” (FMM).
Em Janeiro, a FMM decidiu construir um magnífico pavilhão de exposição de arte
bizantina para dar a conhecer a coleção pessoal do seu fundador tendo vindo a adjudicar
a obra a “CCC – Consórcio Constrói e Cai”. O CCC é composto pelas sociedades
Cimentos Forte, Lda., Pedra e Cal, S.A., Edifica, S.A. e pelo próprio JB. No contrato de
consórcio, entre outros aspectos, vinha estipulado o seguinte: «1 –As partes procederão,
em comum, à construção do pavilhão, ficando cada uma delas responsável pelas
seguintes tarefas: a) à Cimentos Forte, Lda., caberá a construção de toda a estrutura do
edifício, orçamentada em € 1.500.000,00; b) à Pedra e Cal, S.A. caberá a realização de
todos os trabalhos de alvenaria, orçamentados em € 1.000.000,00; c) a Edifica, S.A.
procederá à cobertura do telhado, à montagem de equipamentos, e à finalização da obra,
trabalhos orçamentados em € 500.000,00; d) ao consorciado JB caberá contribuir com
dinheiro equivalente a 10% do valor total da empreitada que constituirá um fundo de
maneio próprio do consórcio. 2 – Fica designado o consorciado JB como “Chefe do
Consórcio”. 3 – As partes conferem os necessários poderes ao Chefe do Consórcio para
em seu nome e representação realizar todos os atos materiais e jurídicos necessários ou
convenientes ao desenvolvimento do Projeto, incluindo a negociação do contrato de
empreitada, a sua celebração e eventual modificação. 4 – O preço da empreitada, no
valor global de € 3.000.000,00, será dividido do seguinte modo: 75% para as sociedades
construtores, na proporção da sua participação no empreendimento; 25% para o JB. Os
custos serão suportados na mesma proporção.» O contrato de empreitada foi outorgado
em 25 de Janeiro de 2009 pela Fundação e pelo JB, tendo sido estipulado um prazo de 6
meses para a conclusão da obra. Em caso de atraso, ficou estipulada uma cláusula penal
equivalente a € 2.500,00/dia. Para a construção da estrutura do edifício, a Cimentos
Forte, Lda. subcontratou a Moreira e Carvalho, Lda. O preço do contrato de
subempreitada nunca foi pago. Durante a obra, morreu um trabalhador da Pedra e Cal,
S.A. num acidente de trabalho grave, cuja causa parece estar associada à violação de
normas básicas de segurança.

1. Como qualifica o contrato celebrado entre Cimentos Forte, Lda., Pedra e Cal,
S.A., Edifica, S.A. e JB? Quais as partes do contrato de empreitada celebrado
entre a FMM e o CCC?
São contratos comerciais ou não? CA- são atos meramente económicos; MC- estes
contratos são objetivamente comerciais (interpretação de cariz histórico).
Consórcio- o regime consta do DL 231/81 de 28 de julho, o qual define no seu art.1º o
consórcio como sendo o contrato pelo qual duas ou mais pessoas, singulares ou
coletivas, que exerçam uma atividade económica se obrigam entre si a, de forma
concertada, realizar certa atividade ou efetuar certa contribuição com fim de prosseguir
objetivos.
Objeto- realização de um empreendimento
Forma- escrita
Consórcio externo (5º/2)
Regra geral- só produz efeitos jurídicos perante os próprios.
Quais as partes envolvidas no problema?
Partes do consórcio (Cimentos Forte, Pedra e Cal e JB?) - não se obrigam a realizar a
obra (não podem porque o terreno não é deles); obrigam-se a organizar-se (prestações
típicas de coordenação). Todos têm a obrigação de fornecer bens da mesma espécie.
JB tem o problema do 4º/2 e 20º/1.
Art. 4º/2 é imperativo? Sim – 1º argumento proibição do fundo comum; 2º argumento
4º/1 fala em norma supletiva, logo parece que o 4º/2 é exceção.
Consórcio não gera realidade com autonomia patrimonial (daí não ser possível haver
fundos próprios, para não causar problemas).
Cláusula do JB: não é válida, logo JB não é parte do consórcio, prestação atípica do JB
é de financiamento. (é nula, 294º CC). Nulidade parcial (292º CC).
JB age apenas como chefe.
Art. 15º/1 é imperativo: pretende proteger o tráfego (confiança)
Art. 5º/2: consórcio externo.
2. A sociedade Moreira e Carvalho, Lda. moveu uma ação de responsabilidade
civil contratual contra JB exigindo-lhe o pagamento dos valores acordados com
Cimentos Forte, Lda. entendendo que, tratando-se de uma subempreitada para a
realização de uma obra do CCC, os membros do consórcio seriam solidariamente
responsáveis pelas obrigações assumidas. Os familiares do trabalhador da Pedra e
Cal, S.A. que morreu na obra seguiram-lhe o exemplo. Quid juris?
Contrato de empreitada: Moreira e Carvalho Lda (devedor da obra); Cimento Forte
O devedor era só um, não seria necessário ir ao art. 19º. Não há qualquer solidariedade

3. Oito meses após o início da obra, o pavilhão não estava ainda concluído, mas o
preço da empreitada já estava todo pago. Poderia a FMM exigir à Pedra e Cal,
S.A. a totalidade do valor devido a cláusula penal?
Artigo 19º/2- retira-se deste artigo que, fixada uma cláusula penal, se presume solidária
a obrigação dele recorrer.
513 CC- parciariedade
Se o ato for comercial- 100 CCom.

Partes da empreitada: cimento forte + pedra e cal


Remissão 19º para 511º CC, antes de aplicar o 19º saber se há pluralidade, determinar as
partes.
Art 19. Não diz que há parciaridade mas também não diz que há solidariedade (em
principio não há solidariedade mas há artigos que pode haver (100º Ccom + 513º CC).
Art. 19º/2: apenas diz que mesmo nesses casos (em que provavelmente se presumiria
solidariedade) não se presume solidariedade.
Argumento literal: 19º/1 diz que não se presume haver solidariedade logo não faz
sentido o 19º/2 também dizer que não se presume provavelmente a vontade das partes
(elemento material) seria a de solidariedade – cumprimento de prazos etc.
Resultados: presunção de que as clausulas penais e multas são solidárias.

4. Estava a administração da Pedra e Cal, S.A. a discutir com a FMM o diferendo


suprarreferido, quando a FMM recebeu uma comunicação da Cimentos Forte,
Lda. solicitando o pagamento de € 1.500.000,00 devidos pela construção da
estrutura, conforme o descrito no orçamento de obra. A FMM respondeu dizendo
que já tinha pago a totalidade do empreendimento ao JP e que, sendo este Chefe
do Consórcio, só ele podia solicitar algum eventual valor em falta. Quid juris?
Regra geral: art. 770 CC- não exonera.
Regra: no consórcio, só pode receber prestações em nome de consorciados (14º/1 d)) se
tiver poderes para isso.
Exceção: ter poderes para isso (14º/1 d)). As partes não referiram poderes .
Art. 16º/1.
Deveria receber o pagamento direto da FMM e quanto ao interno 16º/1 e 2.
5. Tendo em conta a conduta da Cimentos Forte, Lda. e a forte suspeita de que a
morte do trabalhador da Pedra e Cal, S.A. se ficou a dever pela violação, pela
parte desta, dos mais elementares deveres de segurança, a Edifica, S.A. pretende
abandonar o consórcio e ainda ser ressarcido pelos danos causados à sua imagem e
bom nome, causados pelo facto de ser conhecido no mercado a sua pertença ao
CCC e, logo, a sua participação em tão nefasto empreendimento... Quid Juris?
Exoneração vs resolução
A exoneração (9º/1) é possível se um contraente estiver impossibilitado, sem culpa, de
cumprir as obrigações fundamentais criadas pelo contrato de consórcio. De qualquer
maneira, os contraentes podem regulamentar a exoneração.
A resolução do contrato está prevista no art. 10º, no qual estão enumeradas (nº2) as
condições consideradas como justa causa. No nº1 do artigo 11º estão desenvolvidos os
seguintes motivos legais: por acordo unanime dos sócios; realização do seu objeto ou
poer este se tornar impossível; decurso do prazo fixado no contrato, não havendo
prorrogação; por se ter extinguido a pluralidade dos seus membros.
MC: exoneração do artigo 9º/1 al b) estamos perante uma posição potestativa de
abandono do consórcio.

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