PITKIN, Hanna. “Representação: palavras, instituições e ideias”. Lua
Nova, 67, 2003, pp. 15-47.
O objetivo do ensaio de Hanna Pitkin está em elaborar uma análise sociopolítica
da etimologia do termo “representação” e seus impactos na ciência política. Partindo dos gregos que hoje são amplamente conhecidos pelas ferramentas de representação aplicadas na política, mas que em seu tempo não tinham a palavra, passando pelos romanos que, apesar de possuírem a palavra, não a empregavam com o significado moderno. A ideia, mesmo que metafísica, de representação como “falar por terceiros” só vai surgir na Idade Média, na literatura cristã, por volta do século XIII [PITKIN, 2003, p. 15-18]. No campo político, o uso do termo remonta a história dos cavaleiros que originaram o parlamento inglês, na “ideia de que o governante simboliza ou encarna o país como um todo”. No século XVII, a Guerra Civil e o debate que a acompanhou serviu para reforçar “representação” no ambiente político. A ideia estava associada a “carência de autoridade, poder e prestígio” [PITKIN, 2003, p.18-27]. Outro responsável pela difusão do termo e sua significação no espectro político é Hobbes, com a publicação do Leviathan, na segunda metade do século XVII, configurando a primeira obra a organizar um “exame da ideia de representação na teoria política”. Depois da obra de Hobbes a discussão a cerca de representação política só aumenta e da origem a duas questões que são o alvo da última parte do trabalho de Pitkin: “a polêmica sobre o mandato e a independência e a relação entre a representação e a democracia” [PITKIN, 2003, p.27-30]. A primeira, interligada a segunda, se preocupa com as atitudes do representante no exercício do poder: ele deve tomar as decisões que acredita ser corretas ou as que agradam seu eleitorado? Para responder a questão, a autora evoca Edmundo Burke que vai elaborar toda uma discussão acerca da independência, mas a ideia que acaba vigorando é a de representação pessoal que consiste na “representação de cada pessoa individual por meio do sufrágio universal em distritos eleitorais com base na população”. E é nesse aspecto se apoiaram os autores de um governo dito representativo, que superaria a democracia direta em vários aspectos, abrindo espaço para a segunda questão [PITKIN, 2003, p.30-36]. Teoricamente o principal fator para a escolha de um governo representativo seria sua capacidade de lidar com conflitos e alcançar um ponto de equilíbrio, mas, visto que é o sistema vigorante, não sei até que ponto ele provou essa habilidade. Os desdobramentos da discussão sobre a representação vão alcançar o poder legislativo que terá por função presar pelo bem público. A grande questão é que o governo representativo serviu para manutenção da fortuna de uma pequena parte da população que temia uma revolução das classes menos beneficiadas da sociedade e por conseguir associar-se a um rotulo democrático é que essa estrutura resistiu e resiste a maioria das críticas [PITKIN, 2003, p.36-43].
Ansara, Soraia. (2012) - Políticas de Memória X Políticas Do Esquecimento: Possibilidades de Desconstrução Da Matriz Colonial. Psicologia Política, 12 (24), 297-311.