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EM AGRICULTURA DE PRECISÃO
Fabiano Campos Poderoso1, Robson Nunes de Lima2, Amauri Oliveira3, Victor Ariel L.
Sobral4
Resumo
As Redes de Sensores sem Fio têm provocado impacto em diversas áreas. Sua utilização
em agricultura oferece grandes oportunidades para o aumento da produtividade e a
otimização da utilização de recursos. Este artigo propõe a utilização do padrão Zigbee
de redes sem fio para aplicações em agricultura de precisão. Esta proposição é feita a
partir da consideração das pesquisas atuais de redes de sensores para aplicações em
agricultura, bem como do estudo, do desenvolvimento e da experimentação com redes
sem fio Zigbee. Uma rede com seis nós sensores foi implementada com uma interface
gráfica com o usuário. Mecanismos importantes para as aplicações em agricultura são
experimentados. O mecanismo de múltiplos saltos, que permite a extensão da rede, é
avaliado em detalhes. A possibilidade de descoberta de novas rotas é investigada. Com
esses estudos, novas e relevantes informações são obtidas a respeito do comportamento
da rede. A qualidade do enlace em diversas distâncias entre dois dispositivos Zigbee é
experimentada. Por fim, uma arquitetura de rede é proposta para as aplicações em
agricultura de precisão.
Summary
Wireless Sensor Networks have been affecting many areas. There are great oportunities
to use this technology in agriculture, in order to increase productivity and also optimize
resource utilization. This paper proposes the Zigbee standard for use in precision
agriculture applications. This proposal is based on recent reseaches on wireless sensors
for agriculture as well as the study, development and experimentation with Zigbee
wireless networks. A six node system is implemented with a grafical user interface.
Important mecanisms for agricultural applications are experimented. The multihop
commmunication mecanism, which allows to extend the network, is evaluated. The
possibility of route discovery is investigated. From this interaction with Zigbee
networks, new and relevant information is obtained concerning the network behavior.
The link quality in many distances is also experimented. Ultimately, a network
architecture is proposed for precision agriculture applications.
1
Eng. Eletricista MsC. LSITEC – Nordeste. Av. Tancredo Neves, no 1632, Sala 1505, Torre Sul,
Salvador, BA, Brasil, CEP 41820-020, Tel:55 71 31131971. fabiano@lsitec.org.br
2
Prof. Adjunto, Depto. Engenharia Elétrica, Escola Politécnica/ UFBA. delima@ufba.br
3
Prof. Titular, Depto. Engenharia Elétrica, Escola Politécnica/ UFBA. amauri@ufba.br
4
Graduando em Eng. Elétrica, UFBA. victorariel@gmail.com
INTRODUÇÃO
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O monitoramento de microclimas em vinhas e a irrigação de precisão são exemplos de duas
aplicações em que as Redes de Sensores sem Fio vêm sendo utilizadas com sucesso.
O cultivo de uva para produção de vinhos é particularmente interessante para
aplicações de RSSF, dada a influência dos fatores climáticos, tanto na qualidade do vinho
produzido, quanto na proliferação de parasitas. Sensores de temperatura e umidade do ar
podem ser utilizados para se detectar condições favoráveis à presença de fungos. Sensores
de irradiação solar são importantes para se acompanhar o processo de maturação da uva.
Um estudo conduzido pela Intel considerou possíveis aplicações para RSSF em viticultura
(BURREL, et al., 2004). Este estudo demonstrou a importância da cooperação entre os
mais diversos profissionais, desde engenheiros de sistemas embarcados, até engenheiros
agrônomos. Num estágio subseqüente da pesquisa, foi implementada uma rede com 65 nós
distribuídos em uma área de 8.000 m2 para monitorar a variação espacial e temporal de
temperatura em um vinhedo (BECKWITH, et al., 2004). Os nós realizaram aquisição e
transmissão dos dados a cada cinco minutos. Este estudo inicial forneceu informações
outrora indisponíveis para os agrônomos responsáveis pelo vinhedo. As diferenças de
temperatura encontradas no campo estudado permitiram constatar com precisão quais
localidades são mais propícias a certas espécies de uvas.
Uma outra aplicação importante de RSSF em agricultura diz respeito à irrigação de
precisão (WANG, et al., 2005). Pesquisadores da Embrapa Instrumentação Agropecuária
vêm desenvolvendo um sistema que permitirá otimizar o consumo de água para irrigação
em cultura de citros (TORRE-NETO, et al., 2004). Foram distribuídos nove sensores em
60.000 m2 de terras irrigadas, os quais adquiriram e comunicaram, periodicamente, dados
de umidade do solo. Após a expansão desta unidade piloto, espera-se que os dados obtidos
permitam dividir 250.000 m2 de terras irrigadas em regiões com diferentes demandas de
irrigação, devido às diferenças em relação à textura do solo, topologia do terreno, entre
outras.
O custo da instalação de redes de sensores no campo deve ser avaliado em
relação aos benefícios obtidos com a tecnologia. Um dos aspectos a serem considerados em
relação aos custos é a utilização de um padrão de comunicação para as aplicações de redes
de sensores. Diferentemente de uma solução proprietária (não padronizada), um padrão de
comunicação não pertence à determinada organização, e equipamentos compatíveis com ele
são fabricados por diversas empresas. As principais vantagens dos padrões de redes de
comunicação bem sucedidos são:
• Independência em relação ao fabricante e competitividade de preços, uma
vez que existirão equipamentos compatíveis produzidos por diferentes
fabricantes;
• Desenvolvimento da tecnologia com conseqüente produção em larga escala
de dispositivos para o padrão, o que reduz os custos desses dispositivos de
maneira significativa.
Os padrões para redes sem fio relevantes para algumas aplicações de RSSF são
o Bluetooth, o WiFi e o Zigbee. Os padrões Bluetooth e WiFi apresentam um perfil de
consumo de potência pouco adequado para determinadas aplicações de RSSF (KARL, et
al., 2005), incluindo a agricultura. O padrão Zigbee é o mais forte candidato para as
aplicações em agricultura. O surgimento deste padrão em 2005 teve como alvo a
implementação de redes sem fio com custo, consumo de potência e complexidade baixos.
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O padrão Zigbee foi especificamente criado para a implementação de redes de sensores,
permitindo a utilização de redes com uma grande quantidade de nós sensores. A capacidade
de seus dispositivos de realizarem roteamento permite estender a região coberta pela rede,
sem aumentar as distâncias dos enlaces. O mecanismo de descoberta e estabelecimento de
rotas dentro da rede aumenta a robustez e a confiabilidade do sistema em caso de falhas de
dispositivos.
MATERIAL E MÉTODOS
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Inicialmente, optou-se pela implementação de uma rede Zigbee com seis nós
sensores. O desenvolvimento da rede levou em consideração, entre outros, os seguintes
aspectos, importantes para as aplicações em agricultura de precisão:
• Nessas aplicações, os sensores fazem medição periódica de parâmetros. No
sistema para irrigação de precisão comentado na introdução, por exemplo, a
aquisição de umidade do solo se dá a cada 15 minutos;
• A interação com o usuário (agrônomo, administrador) deve ser feita através
de uma interface gráfica “amigável”. É preciso que as informações sejam
apresentadas de modo compreensível para o usuário, que poderá não possuir
conhecimentos técnicos acerca do funcionamento da rede;
• Uma vez que os nós estejam posicionados no campo, a interface gráfica deve
permitir a construção automática da rede, o que é propiciado pela capacidade de
auto-organização desses sistemas. Também é interessante que o usuário possa
escolher a topologia da rede, quando de sua configuração.
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Uma rede com uma grande quantidade de nós sensores deve tolerar falhas em
dispositivos que façam parte de rotas importantes dentro dela. O mecanismo de descoberta
de novas rotas, apresentado na Figura 4, permite esta tolerância. Um experimento foi
elaborado para o estudo de tal mecanismo. Em primeiro lugar, certifica-se que a
comunicação entre dois dispositivos é feita por determinada rota (dispositivo
intermediário). Esta rota (dispositivo) é, então, intencionalmente removida e verifica-se a
capacidade da rede de estabelecer uma nova rota, através de novo dispositivo.
Figura 4– Mecanismo de tolerância à falta. (a) rota em funcionamento normal; (b) falha
num dispositivo e estabelecimento de uma rota alternativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sistema Desenvolvido
O padrão Zigbee especifica três tipos de dispositivos que podem compor a rede, a
seguir:
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•Roteador: capaz de realizar roteamento e permitir a associação de novos
dispositivos a ele;
•Dispositivo Final: não possui as capacidades citadas dos roteadores e
coordenadores, podendo operar num estado de consumo de energia extremamente
baixo (modo de espera).
O sistema implementado possui seis nós sensores, conforme Figura 5. Uma das
placas (coordenador) se conecta ao computador via interface serial de comunicação. Duas
placas fazem leitura de sensores externos de umidade e temperatura através do conversor
analógico-digital do microcontrolador. As três placas restantes fazem leitura do sensor de
temperatura interno ao microcontrolador. O sensor externo de temperatura utilizado foi o
LM35, fabricado pela empresa National Semiconductors, e o sensor de umidade do ar foi o
HIH 4000-004, fabricado pela empresa Honeywell.
Nesse sistema, foi desenvolvida uma interface gráfica (Figura 6a) que permite ao
usuário, através do coordenador, enviar comandos à rede e receber medições realizadas por
cada nó sensor. Ao iniciar a interface, o usuário deve primeiro escolher a topologia da rede,
dentre duas possibilidades. As topologias disponíveis são estrela e árvore (Figura 6b). Após
essa etapa, o usuário deverá criar a rede através do respectivo botão e, em seguida, os
outros dispositivos entrarão automaticamente na rede. Utilizando a caixa de texto
“quantidade de medidas”, o usuário poderá escolher o número de transmissões a ser
realizado e, após isso, poderá escolher o nó para o qual fará a requisição dos dados através
dos popups “tipo de sensor” e “sensor de temperatura”. Escolheu-se, de maneira arbitrária,
o intervalo de quatro segundos entre as medições. A interface utiliza gráficos para
apresentar os dados obtidos. Após a aquisição dos dados, novas medições podem ser
requisitadas, ou a rede pode ser dissolvida e o programa encerrado.
Foram comparadas as medições obtidas nas saídas dos sensores externos e na
interface gráfica, de modo a se verificar a exatidão dos resultados. As medições de umidade
relativa variaram de 40% U.R a 70% U.R, apresentando um erro máximo de 2% U.R.. As
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medições de temperatura variaram de 25 oC a 60 oC, com um erro máximo de 1 oC. Esses
erros são gerados no conversor analógico-digital do microcontrolador.
(a)
(b)
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Embora a topologia em árvore utilizada (Figura 6b) especifique que a transmissão
entre três dos dispositivos e o coordenador seja feita via dispositivos intermediários
(múltiplos saltos), verificou-se que, em laboratório, as transmissões são realizadas
diretamente. Isto se deve à proximidade entre os dispositivos, ou seja, os dispositivos
possuem “inteligência” suficiente para perceber a presença de vizinhos e realizar
transmissões diretas quando possível.
Múltiplos Saltos
Descoberta de Rotas
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Figura 8 – Topologias adotadas no experimento de descoberta de rotas. (a) o nó de
endereço dois é um dispositivo final; (b) o nó de endereço 2 é um roteador.
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RSSI e Pacotes Perdidos
Conforme pode ser visto na Figura 9, as placas foram posicionadas a uma altura de
0,8 m e as antenas foram voltadas uma para a outra. A tabela 1 apresenta os resultados
encontrados. A sensibilidade do transceptor utilizado é de -95 dBm e a grandeza RSSI
medida apresenta uma exatidão de ± 6 dB.
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Arquitetura Proposta
Com base nos resultados apresentados nas subseções anteriores e nas demandas
das aplicações em agricultura de precisão, a Figura 10 apresenta, de maneira simples e
didática, a arquitetura de redes de sensores sem fio Zigbee proposta para aplicações em
agricultura. Ela possui três regiões, a saber:
• A região escoadora (cor verde), onde os dispositivos coordenadores e
roteadores são responsáveis por receber as informações provenientes de toda a
rede e repassá-las ao computador;
• A região de infra-estrutura (cor azul), formada por roteadores que, além de
realizarem medições, seriam responsáveis por levar à região escoadora as
informações provenientes da região formada por dispositivos finais;
• A região exploradora (cor vermelha), formada por dispositivos finais, que
apenas adquirem dados e os encaminham através da região de infra-estrutura.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
R. Beckwith , D. Teibel, P. Bowen, “Report from the field: results from an agricultural
wireless sensor network,” 29th Annual IEEE International Conference on local Computer
Networks, LCN 2004, pp. 471- 478, 2004.
M. Frodigh, Per Johansson e Peter Larsson, “Wireless ad hoc networking: the art of
networking without a network,” Ericsson Review, n. 4, 2000.
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H. Karl e A. Willig, Protocols and Architectures for Wireless Sensor Networks, Wiley,
2005.
N. Wang et al, “Wireless sensor networks in agriculture and food industry – recent
development and future perspective,” Computer and Electronics in Agriculture, v. 50, n. 1,
p. 1-14, Janeiro de 2006.
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