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REDES DE SENSORES SEM FIO ZIGBEE PARA APLICAÇÕES

EM AGRICULTURA DE PRECISÃO

Fabiano Campos Poderoso1, Robson Nunes de Lima2, Amauri Oliveira3, Victor Ariel L.
Sobral4
Resumo

As Redes de Sensores sem Fio têm provocado impacto em diversas áreas. Sua utilização
em agricultura oferece grandes oportunidades para o aumento da produtividade e a
otimização da utilização de recursos. Este artigo propõe a utilização do padrão Zigbee
de redes sem fio para aplicações em agricultura de precisão. Esta proposição é feita a
partir da consideração das pesquisas atuais de redes de sensores para aplicações em
agricultura, bem como do estudo, do desenvolvimento e da experimentação com redes
sem fio Zigbee. Uma rede com seis nós sensores foi implementada com uma interface
gráfica com o usuário. Mecanismos importantes para as aplicações em agricultura são
experimentados. O mecanismo de múltiplos saltos, que permite a extensão da rede, é
avaliado em detalhes. A possibilidade de descoberta de novas rotas é investigada. Com
esses estudos, novas e relevantes informações são obtidas a respeito do comportamento
da rede. A qualidade do enlace em diversas distâncias entre dois dispositivos Zigbee é
experimentada. Por fim, uma arquitetura de rede é proposta para as aplicações em
agricultura de precisão.

Palavras-chave: PADRÃO; MÚLTIPLOS SALTOS; DESCOBERTA DE ROTAS.

Summary

Wireless Sensor Networks have been affecting many areas. There are great oportunities
to use this technology in agriculture, in order to increase productivity and also optimize
resource utilization. This paper proposes the Zigbee standard for use in precision
agriculture applications. This proposal is based on recent reseaches on wireless sensors
for agriculture as well as the study, development and experimentation with Zigbee
wireless networks. A six node system is implemented with a grafical user interface.
Important mecanisms for agricultural applications are experimented. The multihop
commmunication mecanism, which allows to extend the network, is evaluated. The
possibility of route discovery is investigated. From this interaction with Zigbee
networks, new and relevant information is obtained concerning the network behavior.
The link quality in many distances is also experimented. Ultimately, a network
architecture is proposed for precision agriculture applications.

Keywords: STANDARD; MULTIHOP; ROUTE DISCOVERY.

1
Eng. Eletricista MsC. LSITEC – Nordeste. Av. Tancredo Neves, no 1632, Sala 1505, Torre Sul,
Salvador, BA, Brasil, CEP 41820-020, Tel:55 71 31131971. fabiano@lsitec.org.br
2
Prof. Adjunto, Depto. Engenharia Elétrica, Escola Politécnica/ UFBA. delima@ufba.br
3
Prof. Titular, Depto. Engenharia Elétrica, Escola Politécnica/ UFBA. amauri@ufba.br
4
Graduando em Eng. Elétrica, UFBA. victorariel@gmail.com
INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa realizada no Departamento


de Engenharia Elétrica da Universidade Federal da Bahia sobre aplicações de Redes de
Sensores sem Fio (RSSF) em agricultura de precisão. Tais aplicações têm, nos últimos
anos, despertado um crescente interesse na comunidade científica. No presente trabalho,
redes sem fio foram implementadas com programas de aplicação voltados para agricultura.
Além disso, experimentos foram realizados com intuito de estudar pontos específicos do
comportamento da rede, importantes para aquelas aplicações.
As Redes de Sensores sem Fio típicas são constituídas por um grande número de
nós sensores (de centenas a milhares) de tamanho minúsculo e que possuem mobilidade
apenas eventual. Essas redes realizam sensoriamento denso (grande quantidade de nós por
unidade de área) de áreas alvo e possuem organização adhoc, a partir da qual os nós
cooperam a fim de organizar a rede (FRODIGH, et al., 2000). Diferentemente de redes sem
fio que possuem uma infra-estrutura disponível, como os sistemas de telefonia celular e
suas estações radiobase, os dispositivos que compõem uma rede sem fio adhoc deverão
estabelecer diálogos com seus vizinhos, a fim de criar e configurar a rede.
A Figura 1 apresenta a organização de uma rede de sensores típica. Podemos
distinguir inicialmente dois tipos de nós: os nós comuns que realizam a medição dos
parâmetros físicos e químicos, e os nós escoadores, para os quais as informações são
dirigidas. Os escoadores podem estar em contato direto com dispositivos computacionais,
como estações de trabalho, Personal Digital Assistants (PDA), ou podem servir como um
elemento de conexão para uma outra rede, como a Internet.

Figura 1 – Organização típica de uma rede de sensores sem fio.

As características peculiares das redes de sensores propiciam a sua utilização


em agricultura de precisão. A presença de uma grande quantidade de nós sensores
permanentemente instalados no campo possibilita a caracterização do mesmo de maneira
precisa nas dimensões espacial e temporal (CAMILLI, et al., 2007). Podem ser utilizados
sensores para parâmetros físicos e químicos do solo, bem como para parâmetros climáticos.

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O monitoramento de microclimas em vinhas e a irrigação de precisão são exemplos de duas
aplicações em que as Redes de Sensores sem Fio vêm sendo utilizadas com sucesso.
O cultivo de uva para produção de vinhos é particularmente interessante para
aplicações de RSSF, dada a influência dos fatores climáticos, tanto na qualidade do vinho
produzido, quanto na proliferação de parasitas. Sensores de temperatura e umidade do ar
podem ser utilizados para se detectar condições favoráveis à presença de fungos. Sensores
de irradiação solar são importantes para se acompanhar o processo de maturação da uva.
Um estudo conduzido pela Intel considerou possíveis aplicações para RSSF em viticultura
(BURREL, et al., 2004). Este estudo demonstrou a importância da cooperação entre os
mais diversos profissionais, desde engenheiros de sistemas embarcados, até engenheiros
agrônomos. Num estágio subseqüente da pesquisa, foi implementada uma rede com 65 nós
distribuídos em uma área de 8.000 m2 para monitorar a variação espacial e temporal de
temperatura em um vinhedo (BECKWITH, et al., 2004). Os nós realizaram aquisição e
transmissão dos dados a cada cinco minutos. Este estudo inicial forneceu informações
outrora indisponíveis para os agrônomos responsáveis pelo vinhedo. As diferenças de
temperatura encontradas no campo estudado permitiram constatar com precisão quais
localidades são mais propícias a certas espécies de uvas.
Uma outra aplicação importante de RSSF em agricultura diz respeito à irrigação de
precisão (WANG, et al., 2005). Pesquisadores da Embrapa Instrumentação Agropecuária
vêm desenvolvendo um sistema que permitirá otimizar o consumo de água para irrigação
em cultura de citros (TORRE-NETO, et al., 2004). Foram distribuídos nove sensores em
60.000 m2 de terras irrigadas, os quais adquiriram e comunicaram, periodicamente, dados
de umidade do solo. Após a expansão desta unidade piloto, espera-se que os dados obtidos
permitam dividir 250.000 m2 de terras irrigadas em regiões com diferentes demandas de
irrigação, devido às diferenças em relação à textura do solo, topologia do terreno, entre
outras.
O custo da instalação de redes de sensores no campo deve ser avaliado em
relação aos benefícios obtidos com a tecnologia. Um dos aspectos a serem considerados em
relação aos custos é a utilização de um padrão de comunicação para as aplicações de redes
de sensores. Diferentemente de uma solução proprietária (não padronizada), um padrão de
comunicação não pertence à determinada organização, e equipamentos compatíveis com ele
são fabricados por diversas empresas. As principais vantagens dos padrões de redes de
comunicação bem sucedidos são:
• Independência em relação ao fabricante e competitividade de preços, uma
vez que existirão equipamentos compatíveis produzidos por diferentes
fabricantes;
• Desenvolvimento da tecnologia com conseqüente produção em larga escala
de dispositivos para o padrão, o que reduz os custos desses dispositivos de
maneira significativa.

Os padrões para redes sem fio relevantes para algumas aplicações de RSSF são
o Bluetooth, o WiFi e o Zigbee. Os padrões Bluetooth e WiFi apresentam um perfil de
consumo de potência pouco adequado para determinadas aplicações de RSSF (KARL, et
al., 2005), incluindo a agricultura. O padrão Zigbee é o mais forte candidato para as
aplicações em agricultura. O surgimento deste padrão em 2005 teve como alvo a
implementação de redes sem fio com custo, consumo de potência e complexidade baixos.

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O padrão Zigbee foi especificamente criado para a implementação de redes de sensores,
permitindo a utilização de redes com uma grande quantidade de nós sensores. A capacidade
de seus dispositivos de realizarem roteamento permite estender a região coberta pela rede,
sem aumentar as distâncias dos enlaces. O mecanismo de descoberta e estabelecimento de
rotas dentro da rede aumenta a robustez e a confiabilidade do sistema em caso de falhas de
dispositivos.

MATERIAL E MÉTODOS

Dado que o padrão Zigbee apresenta características compatíveis com as


aplicações em agricultura, optou-se pela aquisição de um equipamento adequado para o
desenvolvimento dessas redes, a fim de se observar o comportamento do sistema quando
em funcionamento, sobretudo os aspectos relevantes para as aplicações em agricultura.
O padrão Zigbee se encontra em processo de desenvolvimento e, dessa forma,
alguns aspectos de seu comportamento ainda não estão completamente definidos, podendo
variar entre implementações diferentes. Assim, uma investigação de alguns mecanismos
importantes para as aplicações que são foco do trabalho é bastante relevante.
A ferramenta de desenvolvimento de redes Zigbee (Figura 2) adquirida é fabricada
pela empresa Silicon Laboratories. Esta ferramenta possui seis nós de rede, cada um
constituído por um microcontrolador Silicon Laboratories C8051F121, cujo software de
rede foi desenvolvido pela empresa Helicomm, e um transceptor Chipcon CC2420
compatível com o padrão IEEE 802.15.4. A programação da rede foi feita em linguagem C
padrão, acrescida de algumas diretivas específicas para microcontroladores 8051.

Figura 2 – Foto das placas de desenvolvimento utilizadas.

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Inicialmente, optou-se pela implementação de uma rede Zigbee com seis nós
sensores. O desenvolvimento da rede levou em consideração, entre outros, os seguintes
aspectos, importantes para as aplicações em agricultura de precisão:
• Nessas aplicações, os sensores fazem medição periódica de parâmetros. No
sistema para irrigação de precisão comentado na introdução, por exemplo, a
aquisição de umidade do solo se dá a cada 15 minutos;
• A interação com o usuário (agrônomo, administrador) deve ser feita através
de uma interface gráfica “amigável”. É preciso que as informações sejam
apresentadas de modo compreensível para o usuário, que poderá não possuir
conhecimentos técnicos acerca do funcionamento da rede;
• Uma vez que os nós estejam posicionados no campo, a interface gráfica deve
permitir a construção automática da rede, o que é propiciado pela capacidade de
auto-organização desses sistemas. Também é interessante que o usuário possa
escolher a topologia da rede, quando de sua configuração.

As redes Zigbee possuem dois mecanismos importantes para as aplicações em


agricultura, que são a comunicação em múltiplos saltos e a descoberta de rotas. A
comunicação de um pacote de dados entre dois dispositivos numa rede sem fio pode ser
feita através de transmissões diretas ou através de roteamento (múltiplos saltos). O
encurtamento das distâncias de transmissão obtidos através das comunicações em múltiplos
saltos (Figura 3) é responsável por uma redução no consumo de potência por parte dos
dispositivos. A redução no consumo de potência dos dispositivos é fundamental para as
aplicações em agricultura, para evitar a substituição precoce de bateria em dezenas a
centenas de nós sensores, diminuindo o custo de manutenção do sistema.
Foi desenvolvido um experimento, em campo aberto, para se estudar a
comunicação em múltiplos saltos na rede Zigbee. Neste experimento é avaliada a
comunicação entre dois dispositivos, utilizando-se um dispositivo intermediário. Procura-se
observar, em diversas configurações, se a comunicação é realizada através do dispositivo
intermediário.

Figura 3 - Duas maneiras de realizar a transmissão dos dados ao nó escoador: comunicação


direta ou comunicação via múltiplos saltos.

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Uma rede com uma grande quantidade de nós sensores deve tolerar falhas em
dispositivos que façam parte de rotas importantes dentro dela. O mecanismo de descoberta
de novas rotas, apresentado na Figura 4, permite esta tolerância. Um experimento foi
elaborado para o estudo de tal mecanismo. Em primeiro lugar, certifica-se que a
comunicação entre dois dispositivos é feita por determinada rota (dispositivo
intermediário). Esta rota (dispositivo) é, então, intencionalmente removida e verifica-se a
capacidade da rede de estabelecer uma nova rota, através de novo dispositivo.

Figura 4– Mecanismo de tolerância à falta. (a) rota em funcionamento normal; (b) falha
num dispositivo e estabelecimento de uma rota alternativa.

Além dos dois experimentos comentados nos parágrafos anteriores, foi


realizado um terceiro, que é comumente empregado no estudo e avaliação das
comunicações sem fio: o teste de potência do sinal recebida (RSSI) e pacotes perdidos. Este
teste procura avaliar a qualidade de comunicação entre os dispositivos em diversas
distâncias. Para cada distância fixa é realizada uma grande quantidade de transmissões e a
quantidade de erros é monitorada. Além disso, a potência recebida do sinal é também
obtida, para cada distância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As subseções a seguir apresentam o sistema desenvolvido e os resultados dos


testes de múltiplos saltos, descoberta de rotas, e pacotes perdidos, respectivamente. A partir
dos resultados encontrados, é proposta uma arquitetura de redes Zigbee para aplicações em
agricultura.

Sistema Desenvolvido

O padrão Zigbee especifica três tipos de dispositivos que podem compor a rede, a
seguir:

•Coordenador: responsável pela configuração e criação da rede, capaz de realizar


roteamento e permitir a associação de novos dispositivos a ele;

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•Roteador: capaz de realizar roteamento e permitir a associação de novos
dispositivos a ele;
•Dispositivo Final: não possui as capacidades citadas dos roteadores e
coordenadores, podendo operar num estado de consumo de energia extremamente
baixo (modo de espera).

O sistema implementado possui seis nós sensores, conforme Figura 5. Uma das
placas (coordenador) se conecta ao computador via interface serial de comunicação. Duas
placas fazem leitura de sensores externos de umidade e temperatura através do conversor
analógico-digital do microcontrolador. As três placas restantes fazem leitura do sensor de
temperatura interno ao microcontrolador. O sensor externo de temperatura utilizado foi o
LM35, fabricado pela empresa National Semiconductors, e o sensor de umidade do ar foi o
HIH 4000-004, fabricado pela empresa Honeywell.

Figura 5 - Configuração do sistema desenvolvido.

Nesse sistema, foi desenvolvida uma interface gráfica (Figura 6a) que permite ao
usuário, através do coordenador, enviar comandos à rede e receber medições realizadas por
cada nó sensor. Ao iniciar a interface, o usuário deve primeiro escolher a topologia da rede,
dentre duas possibilidades. As topologias disponíveis são estrela e árvore (Figura 6b). Após
essa etapa, o usuário deverá criar a rede através do respectivo botão e, em seguida, os
outros dispositivos entrarão automaticamente na rede. Utilizando a caixa de texto
“quantidade de medidas”, o usuário poderá escolher o número de transmissões a ser
realizado e, após isso, poderá escolher o nó para o qual fará a requisição dos dados através
dos popups “tipo de sensor” e “sensor de temperatura”. Escolheu-se, de maneira arbitrária,
o intervalo de quatro segundos entre as medições. A interface utiliza gráficos para
apresentar os dados obtidos. Após a aquisição dos dados, novas medições podem ser
requisitadas, ou a rede pode ser dissolvida e o programa encerrado.
Foram comparadas as medições obtidas nas saídas dos sensores externos e na
interface gráfica, de modo a se verificar a exatidão dos resultados. As medições de umidade
relativa variaram de 40% U.R a 70% U.R, apresentando um erro máximo de 2% U.R.. As

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medições de temperatura variaram de 25 oC a 60 oC, com um erro máximo de 1 oC. Esses
erros são gerados no conversor analógico-digital do microcontrolador.

(a)

(b)

Figura 6 – (a) Interface gráfica do sistema; (b) topologias possíveis.

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Embora a topologia em árvore utilizada (Figura 6b) especifique que a transmissão
entre três dos dispositivos e o coordenador seja feita via dispositivos intermediários
(múltiplos saltos), verificou-se que, em laboratório, as transmissões são realizadas
diretamente. Isto se deve à proximidade entre os dispositivos, ou seja, os dispositivos
possuem “inteligência” suficiente para perceber a presença de vizinhos e realizar
transmissões diretas quando possível.

Múltiplos Saltos

A topologia utilizada neste experimento se encontra esquematizada na


Figura 7. Para a realização da comunicação em múltiplos saltos, aumentou-se a distância
entre o coordenador e o dispositivo final, de modo a evitar transmissões diretas. O
programa de aplicação envia uma mensagem do dispositivo final para o coordenador da
rede. Este último recebe a mensagem e a indica em seus diodos emissores de luz.

Figura 7– Topologia adotada para a realização do experimento de múltiplos saltos. Os


endereços dos dispositivos estão identificados.

Com os nós em suas posições, iniciaram-se as transmissões e verificou-se que


todas foram bem sucedidas. Então, retirou-se o elemento roteador e verificou-se a falha na
transmissão das mensagens. Este experimento foi repetido inúmeras vezes, verificando-se a
repetição dos resultados. Após esta verificação, os dispositivos foram aproximados e
observou-se que a presença do roteador não é mais necessária para a comunicação do
dispositivo final com o coordenador.
A comunicação em múltiplos saltos foi realizada quando o dispositivo
final, ao entrar na rede, não tinha contato com o coordenador, tendo somente o roteador
como vizinho. Numa segunda configuração do experimento, o dispositivo final estava
próximo do coordenador ao entrar na rede, sendo deslocado para o ponto em que não tinha
contato com o mesmo posteriormente. Foi observado que a comunicação em múltiplos
saltos não ocorre neste caso. Dessa forma, é possível concluir que as conexões iniciais
entre os nós são estabelecidas quando da criação da rede e não são modificadas
automaticamente quando as posições relativas dos nós sensores mudam.

Descoberta de Rotas

De acordo com a especificação Zigbee v.1.0 o processo de descoberta de novas


rotas é iniciado a partir do dispositivo que faz requisição da transmissão, bastando para isso
que este dispositivo configure o parâmetro DiscoveRoute de sua função de transmissão com
o valor True. Seria interessante verificar o funcionamento deste procedimento na prática e,
para isso, foi utilizada a rede com topologias apresentadas nas Figuras 8(a) e 8(b).

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Figura 8 – Topologias adotadas no experimento de descoberta de rotas. (a) o nó de
endereço dois é um dispositivo final; (b) o nó de endereço 2 é um roteador.

Para que haja possibilidade de se efetuar tal experimento é preciso evitar a


comunicação direta entre o nó de endereço dois e o coordenador. Isto foi garantido
utilizando-se obstáculos metálicos.
De acordo com a Figura 8, o coordenador assume o endereço zero, o primeiro
roteador assume o endereço um e o segundo assume o endereço quatro. O último elemento
da rede a ser adicionado pode assumir o endereço dois ou cinco, conforme se filie aos
dispositivos de endereço um ou quatro, respectivamente. Supõe-se que ele assume o
endereço dois, o que não implica em perda de generalidade das conclusões obtidas. A partir
daí realizam-se transmissões do elemento dois ao coordenador e certifica-se de que todas
elas são bem sucedidas. Após isso, retira-se o elemento quatro, ou seja, é excluído da rede o
elemento que não é integrante da rota do elemento dois, e verifica-se que as transmissões
continuam bem sucedidas. Em seguida, faz-se retornar à rede o elemento quatro e agora é
retirado o elemento um. O resultado dos testes subseqüentes depende do fato do elemento
dois ser roteador Figura 8(b) ou dispositivo final Figura 8(a).
No caso de se ter um roteador, inicialmente realiza-se, com o elemento dois, uma
transmissão com o parâmetro DiscoverRoute na condição False (este é um parâmetro da
função de transmissão). A transmissão é mal sucedida e o elemento é automaticamente
excluído da rede. Caso contrário (DiscoverRoute = True), uma nova rota será estabelecida e
as transmissões serão bem sucedidas.
No caso de se ter um dispositivo final, a transmissão será bem sucedida
independentemente do parâmetro DiscoverRoute. O dispositivo mudará de endereço
(assumirá o endereço cinco), indicando que o elemento quatro adotou o dispositivo final. O
experimento de descoberta de rotas aqui descrito foi repetido inúmeras vezes, verificando-
se a repetição dos resultados.
Alguns resultados obtidos nesta subseção e na subseção anterior não estão
previstos na especificação Zigbee versão 1.0. Isto se deve, em parte, ao fato do padrão
Zigbee estar em processo de desenvolvimento. Além disso, algumas características do
comportamento da rede são deixadas a critério de quem as implementa.

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RSSI e Pacotes Perdidos

Para este experimento, o equipamento foi posicionado conforme a Figura 9, onde a


distância “d” foi variada de acordo com a tabela 1, realizando-se um total de 100
transmissões para cada posição. Não havia obstáculos entre as placas.

Figura 9 – Desenho esquemático da disposição das placas no teste de pacotes perdidos.

Conforme pode ser visto na Figura 9, as placas foram posicionadas a uma altura de
0,8 m e as antenas foram voltadas uma para a outra. A tabela 1 apresenta os resultados
encontrados. A sensibilidade do transceptor utilizado é de -95 dBm e a grandeza RSSI
medida apresenta uma exatidão de ± 6 dB.

TABELA 1 - RESULTADO DO TESTE DE RSSI E


PACOTES PERDIDOS
Distância RSSI (dBm) Pacotes Perdidos
(m) (%)
30 -64 0
60 -65 0
90 -68 0
120 -70 0
150 -77 0
180 -79 0
210 -88 20

De acordo com esses resultados, é possível obter comunicações confiáveis com o


equipamento Zigbee em distâncias de até 180 metros em campo aberto. Na distância de
210 m, vinte de um total de cem pacotes enviados foram perdidos.

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Arquitetura Proposta

Com base nos resultados apresentados nas subseções anteriores e nas demandas
das aplicações em agricultura de precisão, a Figura 10 apresenta, de maneira simples e
didática, a arquitetura de redes de sensores sem fio Zigbee proposta para aplicações em
agricultura. Ela possui três regiões, a saber:
• A região escoadora (cor verde), onde os dispositivos coordenadores e
roteadores são responsáveis por receber as informações provenientes de toda a
rede e repassá-las ao computador;
• A região de infra-estrutura (cor azul), formada por roteadores que, além de
realizarem medições, seriam responsáveis por levar à região escoadora as
informações provenientes da região formada por dispositivos finais;
• A região exploradora (cor vermelha), formada por dispositivos finais, que
apenas adquirem dados e os encaminham através da região de infra-estrutura.

Figura 10 – Arquitetura proposta.

A Figura 10 destaca a capacidade de dispositivos Zigbee encontrarem novas


rotas para seus pacotes, caso rotas anteriores sejam desfeitas. Além disso, é possível
notar a preponderância de dispositivos finais na arquitetura. Isto se deve à maior
simplicidade desses dispositivos, bem como à possibilidade de tornar o seu consumo de
energia bastante reduzido.

CONCLUSÕES

As redes de sensores têm provocado impacto em muitas áreas e, dentre elas, a


aplicação desses sistemas em agricultura é bastante promissora. O estudo e implementação
de redes Zigbee realizados nesta pesquisa permitiram apontar este padrão como um forte
candidato às aplicações de redes de sensores em agricultura.
A maior distância para comunicação confiável em campo aberto obtida com o
equipamento Zigbee foi de 180 metros. A presença de obstáculos, principalmente os
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metálicos, acarreta uma diminuição no alcance da transmissão dos dispositivos. Como
exemplo, os enlaces de comunicação em vinhas enfrentam obstáculos metálicos
correspondentes aos sistemas de sustentação das videiras. Somente o importante
mecanismo de roteamento em redes Zigbee permitirá estender a região de cobertura da rede
para além da máxima distância possível para comunicação direta.
O sistema desenvolvido em laboratório, além de possibilitar uma familiaridade na
utilização das redes Zigbee programadas para aplicações em agricultura, permitiu observar
e avaliar algumas propriedades de organização adhoc da rede. Uma vez dispostos no
campo, os nós Zigbee encontrarão seus vizinhos de maneira autônoma e criarão rotas
iniciais para comunicação dos seus dados ao coordenador. Caso estas rotas sejam
prejudicadas por falhas de dispositivos ou de enlaces, o mecanismo de descoberta de rotas
estudado permitirá manter a funcionalidade da rede.
O experimento da comunicação em múltiplos saltos revelou que quando há
mudança das posições dos nós, umas vez estabelecidas as rotas iniciais, será preciso
reiniciar a rede ou realizar o mecanismo de descoberta de rotas, uma vez que novas rotas
não são estabelecidas automaticamente.
Embora a tecnologia Zigbee ainda não se encontre completamente desenvolvida,
muitas aplicações já se tornaram viáveis do ponto de vista econômico. Dispositivos Zigbee
num único chip (SoC) já estão sendo vendidos por um valor em torno de quatro dólares.
Espera-se que esses valores sejam reduzidos ainda mais com o desenvolvimento da
tecnologia e aceitação no mercado. Além disso, alguns projetos visam implementar o
padrão e torná-lo software livre. Isto permitirá, entre outras coisas, que as características
das redes Zigbee que foram elucidadas durante a presente pesquisa sejam modificadas
conforme as necessidades das aplicações em agricultura. Como exemplo, será possível
modificar o código fonte da implementação Zigbee no intuito de tornar o estabelecimento
de novas rotas automático, no caso de modificação das posições dos nós.
A continuação da presente pesquisa prevê a cooperação com engenheiros
agrônomos para o desenvolvimento de um equipamento voltado a uma aplicação específica
em agricultura. Existe a possibilidade de desenvolvimento de um chip Zigbee específico
para essa aplicação.

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