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Mesa Coordenada Revoluções e Resistência na América Latina

A Revolução Russa e os movimentos de resistência na América Latina.


Joana A. Coutinho*

Resumo: Este texto discute a influência da Revolução Russa de 1917 nos movimentos de
resistência na América Latina. Procura refletir como a experiência da Revolução Socialista de
Outubro de 1917 reacendeu as esperanças das Revoluções na América Latina alimentou e
suscitou movimentos anticapitalistas e de resistência ao imperialismo no continente .
Palavras-chaves: revolução; movimentos revolucionários, anticapitalismo; anti-imperialismo

Abstract: This text discusses the influences of the Russian Revolution of 1917 on resistance
movements in Latin America. Seeks to reflect how the experience of the October Socialist
Revolution of 1917 rekindled the hopes of Revolutions in Latin America fed and raised anti-
capitalist and imperialist resistance movements on the continent.
Key-words: revolution; revolutionary movements;anti-capitalism;anti-imperialism.

Introdução.

Este ano comemora-se os 100 anos da Revolução Russa, inegavelmente um dos grandes
feitos da humanidade. Eric Hobsbawm a descreve como o maior legado para a humanidade,
talvez maior que a Revolução Francesa, no século XIX. Pois se “as ideias da Revolução
Francesa, como é hoje evidente, duraram mais que o bolchevismo, as consequências práticas
de 1917 foram muito maiores e mais duradouras que as de 1789” (HOBSBAWM, 1995,p.62).

John Reed (1967, p. 56), descreve de forma apaixonada os dias que abalaram o mundo: “ (...)
Enquanto isso, por todos os cantos ao redor dessa gente, a grande Rússia estava em trabalho
de parto para dar à luz um mundo novo”. A efervescência revolucionária tomava conta de toda
a Rússia: aprendia a ler e lia, política, economia, história, “porque o povo desejava saber“.
O fato é que a Revolução Russa mudou radicalmente o mundo. A sua política internacional
pode ser entendida como uma “luta secular de forças da velha ordem contra a revolução
social, tida como encarnada nos destinos da União Soviética e do comunismo internacional,
a eles aliada ou deles dependente” (HOBSBAWM, 1995, p.63). Não pode ser pensada como
uma luta nacional, embora a sua vitória proporcionou a formação de inúmeros estados-nação
(e o fim também).
No início do ano de 1917, o país está imerso numa crise econômica: todos os dias formam-
se filas intermináveis “ de gente que espera conseguir algum alimento”. Ainda, mergulhado
numa guerra, perdendo seus soldados no front. Foi na

(..) sequencia da crise que a desorganização do exército atinge seu apogeu


e se formam alianças mais fortes e mais coerentes entre os soldados, os
operários — meio em que as ideias bolcheviques avançam — e os
camponeses. (...) O exército se funde com a sociedade, que se arma (...) As

*
Professora na Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão. Coordenadora dos
grupos Observatório de Políticas Públicas e Lutas Sociais e Grupo de Estudos de Política, Lutas Sociais e
Ideologias.
manifestações também são armadas. Os fuzis despontam à frente da
multidão que se alastra pelas ruas (HOUZEL e TRAVERSO, 2009, p. 115-
116)..

A realização da Revolução Russa visava trazer a revolução do proletariado mundial. Embora,


não se realize dessa forma, e a Rússia soviética ficasse comprometida, por uma geração com
um isolamento e atraso, as opções pára seu desenvolvimento estavam determinadas. Ela
fomentou uma onda de Revoluções que
.
varreu o globo nos dois anos após Outubro e as esperanças dos aguerridos
bolcheviques não pareceram irrealistas. Movimentos estudantis
revolucionários irromperam em Pequim (1919) e Córdoba (1918) logo
espalhando-se pela América Latina e gerando líderes revolucionários
(HOBSBAWM, 1995, p.71).

O continente latino-americano viveu nestes primeiros anos do século XX, uma onda de
movimentos de resistência, de revoluções; de greves.

Revolução Mexicana:

A Revolução vitoriosa Bolchevique de 1917, encontra o México encontra-se sacudido pela


revolução contra o latifúndio e a opressão do imperialismo. Durante a Revolução

A sociedade mexicana viveu realmente crises extraordinárias e experimentou


sérias mudanças. Os movimentos camponeses e os sindicatos dos
trabalhadores tornaram-se forças importantes. E a Constituição representou
um novo respeito aos direitos a uma justiça igualitária e fraterna ( WOMACH,
2013,p. 107-108).

Participaram mais 25 mil revolucionários lutando pelos mais variados motivos: cargos,
negócios, espólios, vingança e, por terra. A insurreição nacional convocada por Madero, se
materializou com o perigo de desencadear movimentos camponeses incontroláveis
(WOMACH, 2013). O que de fato ocorre. Madero, uma vez eleito sem grandes contestações
dos EUA, avisa que as reivindicações das aldeias teriam de aguardar o “estudo da questão
agrária”. Emiliano Zapata, destaca-se como uma grande liderança

numa guerra de guerrilhas independente para recuperar as terras de suas aldeias. O


próprio menoscabo que mostravam pelas mudanças que fossem apenas políticas
fortaleceu seu compromisso com uma causa camponesa nacional e ampliou os
horizontes de sua estratégia (WOMACH, 2013, p. 123).

Estava criado o mito que embalou a luta pela Reforma Agrária, por uma sociedade justa e
fraterna por todo o continente. Vimos ressurgir nos anos 1990, o movimento de resistência
anti-imperialista e anticapitalista, os neo-zapatistas.

Pode-se verificar a influência da Revolução de Outubro as ideias de poder soviético entre as


massas populares. Em 1920 os mineiros em greve, ocuparam as minas de carvão e
organizaram Soviets1; em 1921 os operários das fábricas têxteis da cidade de Pueblo2 e
redondezas proclamaram uma “República Soviética” nacionalizaram a terra e a distribuíram

1
Os Soviets (conselhos) órgãos revolucionários que representam o proletariado urbano ou rural sem estrutura
organizativa toma a forma de democracia direta.
2
Hoje cerca de 200 mil professores estão em greve no México contra a privatização da educação.
entre os operários. A pressão do imperialismo estadunidense faria com que o México
rompesse as relações diplomáticas com a URSS em 1930 numa clara ofensiva contra-
revolucionária como denunciou o Partido Comunista do México. Restabelecida em 1936, sob
a presidência de Lázaro Cárdenas, anti-imperialista3. .

Revolução Russa no Brasil

Como relata Bandeira (2004), a Revolução de 1905 ecoou nos meios proletários do país, e o
jornal operário com o significativo nome Terra Livre4, publica carta de Kropotkin, agradecendo
a o envio de 4 libras esterlinas para os revolucionários russos. A módica quantia, nos dias
de hoje, significava uma pequena fortuna a pensar as condições precárias e os baixos salários
que estavam submetidos os trabalhadores. A jornada de trabalho, iniciava-se às 6 da manhã
com um intervalo de uma hora e terminava somente às 18h. No comércio este horário poderia
chegar até às 20h.
A carta:
Caro Camarada,
Agradeço-te bem fraternalmente — a ti e aos camaradas de São Paulo— o
envio de 4 libras esterlinas para os revolucionários russos.
Divido esta soma em duas partes iguais entre os socialistas revolucionários
e os anarquistas (apud BANDEIRA, 2004,p.34).

A Revolução despertava o interesse e a simpatia do proletariado e dos intelectuais brasileiros.


Euclides da Cunha destaca que pelo contato da Rússia com a “barbaria”, somente ela poderia
vencer e dominar os impérios tipicamente bárbaros e constituir o núcleo de resistência do bloc
ocidental contra a ameaça asiática.

A Rússia reaparece no noticiário da imprensa em 1917, com a revolução de fevereiro e com


a de outubro (novembro). Discutia-se em todos os lugares: congresso, imprensa, sindicatos e
nas ruas. Enquanto na Europa, “O fogo crepitava sob as cinzas da guerra e o proletariado se
preparava para a intervir no campo de batalha como força independente, no Brasil, de norte
a sul do país, os trabalhadores manifestavam a sua insatisfação e saíam às ruas para a luta”
(Bandeira, 2004, p.70). Eclodia a Greve de 1917, com uma amplitude maior em São Paulo,
sob a direção dos lideres sindicais anarquistas houve ecos de um levante armado dos
operários, rapidamente reprimido pelo governo. Em 1922 um grupo de operários funda o
Partido Comunista do Brasil. Figura ilustre nesse processo, foi Luís Carlos Prestes, que se
destaca entre os representantes do setor progressista dos militares. Tenente, envereda pelo
sertão do país, a organizar a libertação do país do jugo dos capitalistas, e dos latifundiários.
A Coluna Prestes, como ficou conhecida, marchou pelo sertão adentro, relembrada pelos
sertanejos como os “revoltosos”.

Revolução Boliviana

Irrompe, na Bolívia, em 1952, a revolução proletária: operários fabris, mineiros armados,


derrotaram o Estado burguês boliviano. Um país rico e atrasado, sua economia dependia
basicamente da mineração e agricultura. A derrota na guerra do Chaco5 (1932-1935) com a

3
Concedeu exílio ao Trotski.
4
Dirigido por Neno Vasco e Edgard Leuenroth,
5
A guerra entre Bolívia e Paraguai, instigada pelos interesses das empresas de petróleo (Standard Oil do lado
boliviano e Shell por parte do Paraguai), foi um desastre absoluto para a Bolívia.
humilhação da perda de territórios, causa o desprestígio do Exército, responsabilizado pelo
fracasso. É neste contexto que aumenta a organização sindical e em 1937 criam a Central
Sindical dos Trabalhadores Bolivianos, fundam o Partido Operário Revolucionário, e em 1941
o Movimento Nacionalista Revolucionário (Ayerb, 2002). Como descreve Martim (2014, s/p).

A radicalização que se seguiu à Guerra do Chaco, deu lugar aos governos do


chamado “socialismo militar” do Toro e Busch, que apesar de nacionalizar
petróleo foram incapazes de resolver qualquer dos problemas enfrentados
pelas massas.

Desse processo, destaca-se a eleição de Victor Estenssoro, da coligação Movimento


Nacionalista Revolucionário, Partido Comunista, fundado em 1950. As elites, não reconhece
os resultados das urnas e entregam o poder a uma junta militar. Esse fato, desencadeia
uma insurreição popular que em três dias derrota o exército e entrega o poder ao vencedor
das eleições. As principais medidas do novo governo:
A nacionalização das minas, ao mesmo tempo em que expropria a maior
parte do capital estrangeiro investido no país até aquele momento, elimina o
poder econômico da oligarquia mineira. Cria-se a Confederação Mineira da
Bolívia (Comibol), que concentra no Estado a gestão dos recursos minerais.
A reforma agrária acaba com o latifúndio e liquida a oligarquia rural como
classe. A democratização da propriedade da terra busca aumentar a
produtividade para atingir o auto-abastecimento e melhorar o nível do
consumo interno, estimulando a expansão da demanda de bens de consumo
manufaturados. O sufrágio universal abre espaço para a participação político-
institucional dos analfabetos, que compõem 70% da população. A liquidação
do Exército outorga amplos poderes ao novo governo para transitar pelo
caminho das reformas sem ter que transigir ante um poder armado fora do
seu controle. (AYERB, 2002,p.98).

O poder real, em abril de 1952 estava nas mãos dos trabalhadores e camponeses , e o poder
oficial não tinha força real. Situação semelhante a Rússia
após a Revolução de Fevereiro de 1917 ou Espanha, depois que os
trabalhadores derrotaram o levante fascista, em julho de 1936. Em ambos os
casos, os trabalhadores tinham o poder (na forma de sovietes na Rússia, e
os Comitês de Milícias Antifascistas, na Espanha), mas ainda havia, a seu
lado, o poder oficial (o governo provisório na Rússia e o governo republicano
na Espanha). Na Rússia, a situação foi resolvida em favor dos trabalhadores,
em menos de nove meses, com a tomada do poder pelos soviéticos, em
outubro de 1917. Na Espanha, a situação foi resolvida em favor do governo
da república, que gradualmente foi recuperando o poder real, desarmando as
milícias operárias e desmantelando qualquer elemento de poder dos
trabalhadores já para maio de 1937, que levou diretamente ao triunfo o
fascismo na guerra civil (Martim, 2002. In:
http://www.marxismo.org.br/content/bolivia-como-se-faz-e-como-se-perde-
uma-revolucao-proletaria/).

Daí em diante, repete-se o filme: as mudanças estruturais tinham chegado a um limite que
não deveria ser transposto. Controlar a desordem, definir um caminho para o
desenvolvimento, é a fórmula encontrada para sair do atraso econômico. Ao temer o avanço
da participação popular , Paz Estenssoro e Herman Siles Suazo, optam por negociar com os
EUA: reestruturam o Exército e passam a receber treinamento nos programas do Pentágono.
No século XXI, ocorre uma outra Revolução. Não sem contradições, mas que elege um
indígena presidente do país e com uma participação maior de um povo que sempre foi alijado
do poder. Não faltam mobilizações da velha oligarquia que não suportando a presença do
povo, preferem governar de costas para ele.

Revolução Cubana

Mais difícil retratar a Revolução Cubana. A que mais desperta paixões e ódios. Alimentou a
esperança de mudanças e transformações por todo continente latino-americano. A ideia de
soberania nacional, de dignidade do povo que vigora com a Revolução Cubana de 1959. Ao
derrotarem a ditadura de Fulgencio Batista, os revolucionários cubanos liderados por Che
Guevara e Fidel Castro, transformaram a história latino-americana e quiçá de todo mundo.
Um pouco da história. As lutas nacionais e anti-imperialistas sempre estiveram presentes
nesta pequena Ilha do Caribe, ocupada pelos ianques do norte. As contradições acirradas e
e os reflexos das Revoluções Russa e Mexicana são sentidos e retomados na criação da
Federação dos Estudantes Universitários, comandada por Julio Antonio Mela que mais tarde
estaria a frente da criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Cuba e do
Partido Comunista (1925). Cuba vive uma crise aguda gerada pelas contradições de seu
desenvolvimento histórico de país de gênese colonial. É patente o

Fracasso da burguesia cubana em realizar qualquer processo de


modernização capitalista: afasta-se toda proposta de reformas econômicas,
políticas e sociais. (...). A solução sempre encontrada foi o pacto entre as
elites nacionais, articuladas e subordinadas ao capital internacional, sem
jamais eliminar sua marca colonialista em que pese a suas idílicas tentativas
nacionalistas, desenvolvimentistas e de capitalismo autônomo (BARSOTTI e
FERRARI, 1998, p.138-139).

Em 1959, pondo em execução o programa da revolução: destruição do aparelho burocrático


estatal e do exército oficial; reforma agrária, rebaixamento das tarifas dos serviços públicos e
de moradia; erradicação do desemprego e analfabetismo; desenvolvimento do mercado
interno (BARSOTTI e FERRARI, 1998).

O capital dos Estados Unidos estava presente nas “ nas plantações de cana-de-açúcar, nas
usinas, nas refinarias de petróleo, no sistema telefônico e no de eletricidade” (Ayerb, 2002,p.
129). Esperava-se nos EUA que os revolucionários impusessem uma orquestração moral, já
que Cuba era considerada um grande prostibulo, com jogatina, prostituição para alimentar os
desejos dos afortunados estadunidense e que encontravam respaldo nos regimes ditatórias
em Cuba. Finada essa fase, deveria convocar as eleições. No entanto, “o esgotamento dos
efeitos das medidas iniciais de moralização e melhoria conjuntural da situação econômica dos
setores populares, assumem importância as ações de alcance estrutural. Nesse momento, a
"boa vontade" dos Estados Unidos desaparece rapidamente” (idem).

Os EUA ao verem ameaçados os seus “negócios” e ao perceberem que o processo


revolucionário escapa do seu controle, buscam de todas as formas “ brecá-lo através do corte
da compra de açúcar, pelo armamento e treinamento de contra-revolcuionários, sabotagens
efetuadas pela CIA pelo bloqueio econômico e pela imposição de isolamento político
continental e mundial a Cuba (BARSOTTI e FERRARI, 1998,p. 140). Para ilustrar a atuação
da CIA para a derrocada do processo revolucionário em Cuba, vale a pena a longa citação de
memorando da agência.
O que aconteceu depois evitou tais desenvolvimentos e deu início a uma cadeia de
eventos que levou à aliança de Cuba com a URSS. Isso não é uma decorrência da
política e ação dos EUA, mas da personalidade psicótica de Castro. É evidente,
segundo o testemunho de seus seguidores na época, que Castro chegou a Havana
num alto estado de exaltação equivalente à doença mental. Ele recebeu a adulação
das massas, não só em Havana mas também em Caracas (em pessoa) e por toda a
América Latina (por meio de relatórios). Mas dos EUA ele ouviu apenas a condenação
universal do sumário conselho de guerra e execução dos partidários de Batista na
atmosfera de um circo romano. Ele se convenceu de que os EUA nunca entenderiam
e aceitariam sua revolução e que ele poderia esperar apenas hostilidade implacável
de Washington. Essa foi a conclusão de sua própria mente desordenada, não
relacionada a qualquer fato da política ou ação dos EUA. (CIA, 1982, rolo II, doc.
0610, apud AYERB, 2002, p. 128)

O desenrolar deste intrincado novelo, conhecemos. Cuba, resistiu (resiste) ao maior embargo
da história. Mas como afirmam Barsotti e Ferrari (2002, p.140) a cada ato

Reacionário é dada uma resposta revolucionária, pelo povo cubano, que


gradativamente afasta do poder os elementos burgueses substituindo-os
pelos revolucionários. Frente às incursões políticas, econômicas e militares
norte-americanas visando descaracterizar e esvaziar o conteúdo
revolucionário de 59, impunha-se um novo processo: a revolução nacional
popular e antiimperialista aspirava ao socialismo.

A Revolução Cubana inspirou as lutas revolucionárias por emancipação em toda a América


Latina: é possível libertar-se das amarras do imperialismo, mas além é a luta anticapitalista
que alimenta a utopia de um outro mundo possível e realizável.

À guisa de conclusão

São inúmeras às influências da Revolução Russa aos movimentos de resistência ao


capitalismo e imperialismo na América Latina. Como diz Hobsbawm, a

(...) a história do Breve Século XX não pode ser entendida sem a Revolução
Russa e seus efeitos diretos e indiretos. Não menos porque se revelou a
salvadora do capitalismo liberal, tanto possibilitando ao Ocidente ganhar a
Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o
incentivo para o capitalismo se reformar, e também — paradoxalmente—
graças à aparente imunidade da União Soviética à Grande Depressão, o
incentivo a abandonar a crença na ortodoxia do livre mercado.

A esperança, a utopia é, certamente o que alimenta os homens na luta contra a opressão, a


dominação e a humilhação. Neste sentido, a Revolução Russa, deu-nos claramente os sinais
de que seja possível concretizar essa utopia. Os avanços dos primeiros anos da Revolução
são bastante significativos, a ponto de que a sua destruição enquanto projeto político foi
perseguido pelo capitalismo6.
Uma verdadeira revolução nas relações de gênero, só para citar um exemplo. Outubro ajudou
a
Estabelecer uma nova concepção de mulher, ao assegurar e revelar a
imagem da mulher como unidade de trabalho útil. Desde os primeiros passos
da Revolução de Outubro, ficou claro que a força e a energia das mulheres
são necessárias não apenas para o marido e para a família, como se

6
Não cabe neste espaço, toda a avaliação dos erros cometidos no decurso da Revolução com o ascenso
estalisnismo.
acreditava há milhares de anos, mas para a sociedade, para a coletividade
social, para o Estado (..) Não fosse Outubro, ainda seria dominante a visão
de que a mulher independente é algo temporário e que o lugar das mulheres
est[a na família à custa do marido, que ganha a vida. Outubro mudou
diversos conceitos. (...) Somente a Revolução de Outubro admitiu
publicamente, por meio de leis e do novo sistema soviético, que a mulher é
uma trabalhadora da sociedade e que deve ser reconhecida como um
cidadão ativo. A grande mudança na posição feminina na União Soviética
gerou um impulso na consolidação das mulheres na luta entre os grupos
sociais (..). (KOLLONTAI, 2017,p.214-216).

A imagem símbolo da Revolução Russa mostra uma multidão

(...) de silhuetas armadas que, na aurora de 25 de outubro (07 de novembro),


toma de assalto o Palácio de Inverno. A fumaça que as do grande portal indica
um tiro de canhã; mas os assaltantes avançam correndo, com o fuzil na mão,
dispersos; nenhum corpo jaz por terra. Durante várias décadas, essa foto
ilustrou, para milhões de homens e mulheres, o ideal de um assalto ao céu
necessário e possível (HOUZEL e TRAVERSO, 2009,p.121).

São centenas de exemplos que poderíamos elencar aqui, que mostram as influências das
Revoluções Russa e Cuba nas lutas para (de) emancipação na América Latina. Não é
possível dar o passo seguinte sem re-ver seus acertos e erros. Esse “necessário e possível
que Ernst Bloch, chamará de “utopia concreta”.

Referências

AYERBE, Luis Fernando. Estados Unidos e América Latina: a construção da


hegemonia.São Paulo: UNESP, 2002.
BANDEIRA, Luis Alberto Moniz. O ano vermelho: a revolução russa e seus reflexos
no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
BARSOTTI, Paulo e FERRARI, Terezinha. A próposito de Cuba e da revolução. In:
BARSOTTI, Paulo e PERICÁS, Luis Bernardo. América Latina: história, ideias e
revoluções. São Paulo: Xamã, 1998.

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991).São Paulo: Cia
das Letras, 1995.
HOUZEL, Rebeca e TRAVERSO, Enzo. A revolução Russa. In: LÖWY, Michael (org.)
Revoluções. São Paulo: Boitempo, 2009.
MARTIN, Jorge. Bolívia, como se faz e como se perde uma revolução proletária
http://www.marxismo.org.br/content/bolivia-como-se-faz-e-como-se-perde-uma-
revolucao-proletaria/. Visitado 01/07/2017.

REED, John. Dez dias que abalaram o mundo: a revolução comunista vista por um
americano. Rio de Janeiro: Record, 1967.
SALAMONI, Antonella. Lenin e a Revolução Russa. São Paulo: Ática, 1995.
SCHNEIDER. Graziela (org). A revolução das mulheres: emancipação feminina na
Rússia Soviética. São Paulo: Boitempo, 2917.
TRAGTENBERG, Mauricio. A revolução Russa. São Paulo: Atual, 1998.
TROTSKY. León. As lições de Outubro. Coimbra: Centelha, 1979.
WOMACH, John. A revolução Mexicana (1910-1920). In: BETHELL, Leslie (org).
Historia da America Latina de 1870 a 1930. Vol. V. São Paulo: Edusp, 2013.
ZORINA, A. A Grande Revolução Socialista de Outubro e os Países da América
Latina . In: https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/38/revolucao.htm.
Visitado 01072017.
Mesa Coordenada: Revoluções e Resistência na América Latina:

A RECEPÇÃO DA REVOLUÇÃO RUSSA NO MARANHÃO

John Kennedy Ferreira

RESUMO: Este texto discute os reflexos da Revolução Russa de 1917 nos


movimentos de resistência na América Latina. Procura refletir como a experiência da
Revolução Socialista de Outubro de 1917 reacendeu as esperanças das Revoluções
na América Latina alimentou e suscitou movimentos anticapitalistas e de resistência
ao imperialismo no continente.
Palavras Chaves: Comunismo, socialismo, sindicatos, movimentos populares e
partidos politicos
ABSTRACT: This text discusses the reflexes of the Russian Revolution of 1917 in the
resistance movements in Latin America. It seeks to reflect how the experience of the
Socialist Revolution of October 1917 rekindled the hopes of the Revolutions in Latin
America fueled and provoked anti-capitalist movements and resistance to imperialism
on the continent.
Keywords: Communism, socialism, trade unions, popular movements and political
parties

I. INTRODUÇÂO

Nos fins do século XIX e início do XX processou-se a industrialização latino americana, em


comparação com a II Revolução Industrial na Europa, esta estava 30 anos atrasada para
utilização da locomotiva, mais de 40 anos para a utilização de teares, navios a vapor,
iluminação a gás e sistema bancário. Pela proximidade com a demanda europeia por tabaco,
cana e café, Cuba beneficiou-se no meio do século de XIX de três navios a vapores que ligava
`a Espanha e Nova Orleans. O México chegou a produzir uma máquina desencaroçadora de
algodão 20 antes de Eli Whitney, essa máquina substituía 50 homens. Porem os salários
eram tão baixo que saia mais barato contratar mais de 50 trabalhadores do que comprar uma
máquina . Da mesma forma só a partir de 1845 houve a utilização de moinhos a vapor em
Buenos Aires e de bondes elétricos em 1897.

No fim desse século instalam-se frigoríficos e também fabricas de cerveja e tabacos no


Uruguai e Argentina. Esse movimento e expandido com a imigração que transformas
pequenas oficinas em fabricas e industrias.

A industrialização e mais rápida na Argentina e Uruguai e menos desenvolvida no Chile, Brasil


e México noutras localidades do continente praticamente inexistente. A base do proletariado
nesse momento e formada pela imigração estrangeiros que recebem cerca de 17 milhões de
pessoas que se somam a artesãos falidos, ex camponeses, por antigos escravos e
trabalhadores emigrados da terra. (ALBA, 1953 p 58).
A força da burguesia latina americana é pequena e as suas origens reportam a oligarquia
agrária com laços de parentescos e de interesses muito imbricados Nesse momento 80% da
população vive na terra no México e Venezuela, 47% na Argentina. No Chile e Bolívia, pouco
mais da 10% atuam nas minas e no Brasil há cerca de 13 milhões de trabalhadores, mais de
9 milhões estavam em atividade agrícolas (ALBA, idem ,p 60).

Já no início do século XX processa-se uma expansão das relações comerciais e industriais e


as cidades crescem desenvolvendo um mercado interno e novas camadas sociais. A
burguesia expande seus negócios e ganha mais importância no cenário político local, in
demarche, há um crescimento das camadas intermediarias com o surgimento de uma
pequena burguesia urbana e classes medias ligadas aos setores de serviços e a burocracia
do Estado, a classe operaria e de outras camadas trabalhadoras crescem conforme aumenta
o mercado e o consumo interno. Com isso o fim do século XIX e as primeiras décadas do
século XX, são marcados por crises políticas das antigas oligarquias que tem que rearranjar
o Estado para acomodar as novas demandas e alianças na manutenção da ordem.

Esse cenário e propositado pelo próprio desenvolvimento de uma indústria local mas também
pela expansão da ação imperialista da Inglaterra, França, Alemanha e EUA. No início do
século XX, os EUA expandem sua atuação e o cenário surgido com a I Guerra alavancam
a industrialização de substituição de importação em alguns países como Argentina, Brasil,
México, Chile e Uruguai tal fato amplia ainda mais os negócios e o emprego da classe
trabalhadora urbana. ocorre também um número alto de mobilizações e greves por total
ausência de legislação trabalhista e por necessidade de ajuste do Estado como as
manifestações em Córdoba, a Campanha civilista no Brasil entre outras, tudo isso combina
com a expansão do capitalismo e imperialismo estadunidense criando uma atmosfera
bastante instável.

Já no início do século os EUA inauguram sua política de “Big Stick”, ameaçam e agem contra
qualquer pais que se oponha ou realizem política soberana frente a Washington. A abertura
do Canal do Panamá em 1915 fortalecem a economia estadunidense e possibilitam a sua
ação dinâmica nos dois oceanos inaugurando ali a corrida para a dominação do pacifico, o
que o levou ao conflito com o o Japão em 1941.

Já no governo de Woodrow Wilson, as ações dos EUA se multiplicaram. Em 1914 e 1916


invadiram o México, em 1917 desembarcaram seus soldados em Cuba, o Haiti que conhecia
uma guerra civil, foi invadido em 1914 e teve toda a sua reserva em ouro expropriada em
1916. Impôs um tratado de transferir o direito de exploração do Haiti as empresas
estadunidenses e aqueles que se rebelaram contra a invasão, como a guerrilha camponesa
(Cacos) e os grupos ligados a liderança patriótica de Cherlemagre Peralte foram
barbaramente reprimidos. A Republica Dominicana conheceu igual sorte em 1916, tendo seu
território invadido e seu parlamento dissolvido pelas forças armadas de EUA.

No momento em que começa a I guerra é quando o capitalismo estadunidense começa a


superar os capitais ingleses e dominar as relações políticas no restante do continente
(KOVAL, idem p 18). Se de um lado o imperialismo dos EUA expandia sua ação dentro do
continente, as jovens burguesias dos principais países se beneficiaram com a guerra obtendo
aumento de seus negócios e de suas ações politicas .

A Inglaterra era até então a principal compradora de produtos agrícolas, com seu esforço de
guerra há uma enorme redução desse comércio minando a base de seu apoio interno
centrado na oligarquia e no comercio exportador - importador. As jovens burguesias suprem
várias das necessidades internas, mas porem precisavam de créditos para a compra de
maquinário e expansão de negócios e esta necessidade será satisfeita com créditos junto a
bancos estrangeiros o que gera uma relação econômica e política entre a burguesia
nascente e o setor financeiro internacional.

O crescimento da burguesia, ainda esta longe de ser o principal fator econômico dos países
latinos que continuam tendo como seu carro chefe, as oligarquias que dominam os cenários
nacionais. A guerra facilitou o incremento de uma indústria leve principalmente têxteis e de
alimentos notadamente na Argentina, Uruguai e Brasil. Como consequência da guerra, houve
o aumento de produção de petróleo na Venezuela, de estanho na Bolívia e de cobre e salitre
no Chile. Com a abertura do canal do Panamá favoreceu o comercio marítimo e ampliou o
comercio do Chile, Peru, Equador e Bolívia com os EUA e Europa. Nesse período há
ampliação das estradas de ferro e instalações portuárias, na Argentina e Uruguai surgem
grandes frigoríficos e armazéns de cereais. O mesmo pode se dizer em respeito do sistema
bancário que multiplica suas agencias em cidades mais populosas, ou seja, a burguesia se
consolida como classe política na América Latina.

O fato e que tal desenvolvimento veio acompanhado de um notável crescimento da classe


operaria que nos poucos anos de guerra passou a mais um milhão de novos trabalhadores.
Eram eles normalmente muitos pobres e recebiam salários aviltantes que mal davam para se
alimentar, morando em casebres e cortiços e com jornadas de trabalhos que variavam entre
12 e 16hs. A enorme exploração das classes trabalhadoras ocorre sem que até 1917 exista
na América Latina qualquer legislação trabalhista. A situação era tão dramática que o nível de
vida na região era de 35 anos tendo no México média de 24 anos aos operários. O jovem
movimento operário e trabalhista vinha obtendo experiência e dinamizando formas de
organizações econômicas e sindicais

II, Brasil

No fim do século XIX, a transformação do trabalho escravo em trabalho livre e o


desenvolvimento de uma pequena industrialização em cidades como Rio de Janeiro, São
Paulo, Salvador, Recife, Porto Alegre, Santos e São Luís possibilitou a construção das
primeiras associações trabalhistas que eram animadas em sua maioria por imigrantes . Desde
a independência que se difundiam ideias socialistas utópicas e entre 1860 a 1900 diversos
jornais socialistas foram publicados divulgando ideias socialistas utópicas, anarquistas e
socialistas ligadas as divulgadas pela I e depois a II Internacional destacamos o Internacional
Socialista de Salvador, vários com o nome de o Socialista em Salvador, Rio de Janeiro e
Paraisopolis (MG). Os mais conhecidos como Avanti, La Bataglia, A Lanterna, Terra Livre
todos editados em São Paulo ou A Guerra Social do Rio de Janeiro que saiu a partir de 1909,
Em São Luis foram publicados o Jornal Operário, em Codó os Jornais A Gazeta e A Luta e
em Caxias ,O Trabalho. Todos com abordagens simpáticas ao socialismo e trabalhismo. Além
desses órgãos de imprensa havia outros vários ligados as primeiras associações trabalhistas.
Já que no período entre 1890 e 1914 foram abertas 7 mil industrias no Brasil . Em 1890 na
fábrica de Madalena no Recife e quando e feita a primeira greve operaria no Brasil, também
no Recife, operário Teles Junior, apresenta a Assembleia constituinte provincial o primeiro
projeto de lei de jornada de 8 horas no Brasil . Data dessa época a constituição pelo
engenheiro sergipano Silvério Fontes da União Operaria de Santos .Houve dois congressos
socialista um no Rio de Janeiro em São Paulo em 1892. No seu Jornal A Questão Social,
Silvério Fontes, pioneiro do marxismo brasileiro, segundo Astrogildo Pereira, em 1895
proclama Karl Marx como irmão e declarara-se adepto de suas ideias e da luta de classes.
Também e dessa data 1895 a primeira comemoração do 1 de Maio em Santos ( BANDEIRA,
1967, p 15).

Nesse período a maioria das organizações trabalhistas estava sobre a hegemonia dos
anarquistas. Em 1909 e realizado o primeiro congresso da Confederação Operaria Brasileira
(COB) sub a liderança do operário gráfico Edgar Laurenroth que foi destacado dirigente
sindical brasileiro durante décadas. Em 1917 em São Paulo ocorre a primeira greve geral. O
movimento iniciou-se contra a carestia produzida pela I Guerra por aumento de salário e
redução de jornada de trabalho. A forte repressão que se seguiu provocou a morte do líder
anarquista Jose Martinez pela polícia que fez com que a greve se generalizasse em São Paulo
e região e explodisse greves de apoio em Santos, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

As constantes greves com resultados muitas vezes não satisfatórios promovia entre os
ativistas intensos debates. Nesse período são fundados vários centros de discussão, jornais
e partidos efêmeros. As manifestações contra a guerra somavam anarquistas e socialistas e
a eclosão da Revolução Russa fez com que houvesse um novo patamar de debate nos
movimentos e suas lideranças. Del Roio destaca a defesa feita por Astrogildo Pereira da
Revolução Russa de Outubro e de seu líder Vladimir Lenin ( DEL ROIO, 2007 p 74). Partem
da iniciativa do mesmo Astrogildo Pereira e de Edgard Leuenroth a iniciativa de construírem
em 9 de março de 1919 o Partido Comunista do Brasil, PCB. A ideia era constituir um partido
que apoiasse a Revolução Russa e que fosse expressão dos movimentos, sem
enquadramento disciplinar e sem finalidade política. Na verdade era uma organização
tipicamente anarquista. Conforme o movimento anarquista vai aprofundando suas
contradições com a revolução Russa, o suas lideranças se cindem e surge três anos depois
um verdadeiro partido comunista, na acepção do termo. (BANDEIRA, IDEM p159)

A construção do PCB dá-se tanto pela junção de vários grupos anarquistas como o Zumbi,
Coletivo de Rio Grande do Sul, de Cruzeiro (SP) e também de setores ligados ao instável
Partido Socialista. No Maranhão a organização partidária de agrupamentos de esquerda só
ocorrerão na década de 1930, com a fundação do PSB e do PCB, este na clandestinidade.

III. Maranhão

Conforme o pacto social construído em torno da oligarquia e escravidão cedem espaços para
novos arranjos socioeconômicos, a velha acomodação vai perdendo legitimidade e permite
que novas classes sociais e atores políticos entrem em cena. Desta forma, com o fim da
escravidão o Maranhão conhece um significativo desenvolvimento econômico organizado em
torno da industrialização têxtil.

foi o tempo da derrocada e hecatombe. E, na hecatombe, de procura de perspectivas.


A terra, de menos valia do que o escravo, estava a preço muito declinante. A
organização do trabalho decompunha-se e, sem diferenças, liberais e conservadores
estudavam a fórmula salvadora, que protegesse a sociedade brasileira da abolição do
senhoriato (...) A Abolição dos escravos resultou na abolição senhoriato. Aqueles que
sobreviveram a hecatombe social, no Maranhão, desacreditando das minas do Gurupi
e da borracha de Pinheiro, instalaram, associados a outros interesses, abrupto, um
parque industrial (CORRÊA, 1993,p 143)
O crescimento industrial dá ao Maranhão nova forma e ambiente “ Entramos para o
capítulo da história da República com 17 fábricas das quais 10 de fiação e tecelagem
de algodão, sendo 3 em Caxias, 1 em Codó e as demais em São Luís” (MEIRELES,
2001, p 260)” .

O início do século transforma a capital maranhense de uma cidade pacata em um ambiente


industrial, onde a rotina operária domina a cidade e dinamiza as relações humanas.

A impressão que se tinha, nas alturas do ano de 1906, ao chegar à capital do


Maranhão, era, sem dúvida, a de nos acharmos em uma cidade bastante industrial.
As sirenes matutinas, e nas ruas, o movimento de operários e operários que,
apressadamente de dirigiam para toda parte em roupas de trabalho denotavam um
grande número de fábricas, notadamente de tecidos e de fiação, estava em atividade
desde as primeiras horas da manhã. Aprofundando mais ainda essa observação e
buscando as origens desse intenso labos nas industrias, ver-se ia que fora o
Maranhão, no norte do Brasil o pioneiro de tecelagem e de variadíssimas industrias,
infelizmente desprezadas em grande parte, já àquela época” ( MACEDO,2001, p 68).
Desse ambiente nascem movimento políticos impulsionados por trabalhadores e operários
que ganham destaques na agitação que realizam pela redução de jornada, por aumento de
salário e assim um movimento sindical e socialista organizado em torno do jornal “ O Operário”
que realizou importante debate sobre o direito dos trabalhadores e sobre suas lutas junto a
sociedade maranhense e brasileira. “O semanário socialista O Operário poderia ser definido
aqui como co-participante das lutas sociais que, com certeza, existiam no estado do
Maranhão, a exemplo da importância que teriam no futuro as ideias e reivindicações
socialistas e comunistas durante o período getulista.’ (OLIVEIRA, 2002, p 30)

A movimentação operária e popular é fator importante nas primeiras décadas do século XX


com grande repercussão nas capitais do Sul e Sudeste, mas igualmente com capacidade
mobilizatória nacional como denota o esforço feito pelo coletivo do Jornal “O Trabalho” de
Caxias (MA) em participar do Congresso Operário no Rio de Janeiro em 1920.

O movimento dos trabalhadores, dos operários cresceu entre os anos de 1910 e 1920 com
repercussão por todo o país Um Fator importante para essa ampliação foi o debate
impulsionado sobre a Guerra, o aumento da industrialização de substituição, o aumento da
exploração do trabalho ( DULLES, 1977 KOVAL, 1982,PRADO JR 1977).

Esses fatores econômicos se somarão ao fator político que foi a primeira Greve Geral
brasileira e 1917 e fundamentalmente a Grande Revolução na Rússia que ampliou a
discussão entre os diversos grupos intelectuais favoráveis e contrários ao movimento. A
consolidação da Revolução de Outubro com a opção por um Estado Socialista aprofundou
esse debate no cenário nacional..(BANDEIRA, 2015, KOVAL, 1980, FERREIRA, 2016)

Com repercussões organizativas no movimento sindical, popular e político como pode ser
visto nos anos seguintes na construção de órgãos de imprensa, CGT, Coluna Prestes e
formação do PCB, PSB, e de outros organismos .

O Maranhão não passou ao largo dessa intensa proposta ética-humana promovida pela
Revolução Russa e o debate pode ser observados através dos debates travados nos anais
da Assembleia Legislativa, órgãos da grande imprensa e nos círculos sindicais e popular
catalogados e disposta na biblioteca estadual do Maranhão.

A mentalidade hegemônica sobre o mundo do trabalho, predominante junto as classes


dominantes pode ser resumida nas seguintes palavra de Acchiles Lisboa

o nosso operário agrícola, de facto, se não é um impaludado, hipoémico, sifilítico, ou


ulcerado em qualquer caso um organismo enfraquecido e inapto para o trabalho rural:
se não é alcoolata , ou diambista indolente vagabundo ladrão, - é sempre, na maioria
insciente que aprendeu, quando muito a rascunhar o nome e , na totalidade, o rebelde
a obrigações de qualquer natureza, que possa restringir impulsos da alma . libertada
dos deveres sociais cujo a necessidade não pode compreender inculta como é.”
(LISBOA, 1918 p12)
E a opção do mesmo Lisboa para garantir o crescimento do país e a intensificação da
produção é o “trabalho agrícola obrigatório” (LISBOA, IDEM , p 34/35).

Ao mesmo tempo em que as classes dominantes expressam seu ponto de vista, o surgimento
de um parque industrial que além de tecidos produzia chumbo, velas, cordas, charutos,
chapéus, licores, sabão e óleo expande ideias timidamente socialistas entre os trabalhadores.
Na década de 1890, são fundados em Codó os jornais “A Luta” e “A Gazeta” O Trabalho em
Caxias, em São Luís, o Jornal Operário, o objetivo desse jornal era criar o Partido Operário
do Maranhão (ALMEIDA, 2010, p, 23, OLIVEIRA, IDEM p 46).

As condições de trabalho de cerca de 15h, exercidas em sua maioria por mulheres e crianças
expressam uma série de descontentamentos entre os operários e foi este o caso da primeira
greve operária em São Luís nos de 1890 quando a fábrica Camboa, resolveu pagar menos
pelo metro do tecido produzido o que significava uma redução de salário. (VIANA, 2007. p 39)

O Constante aumento do custo de vida produzem manifestações proletárias e também


promove organização de auto ajuda como Uniões, Grémios e Associações que promovem
ajuda a invalidez, auxílio doenças ( REIS, 1992 p 72)

Na década de 1910 e 1920, surgem várias associações entre os trabalhadores em diversas


áreas como o Centro Artístico Cultural Operário Maranhense, fundado em 1900; Associação
Beneficente dos Empregados do telegrapho Nacional fundada em 1914, União Operária
Maranhense, fundada em 1918. Sendo que a partir dos anos de 1920 este movimento é muito
intensificado tanto no aspecto sindical como político. (VIANA, idem p 42)

Destaca-se nesse cenário organizativo das lutas das camadas desprivilegiadas a intensa
manifestações de camponeses na região de Codó e Dom Pedro nos fins dos anos de 1910 e
início dos anos de 1920, liderados socialista religioso Manoel Bernadino apelidado “Lenin
Maranhense” que comandou lutas contra coronéis locais e em 1925 se somou a Coluna
Preste, quando passou pelas terras maranhenses.( ALMEIDA, idem, p27)

A intenção dessa comunicação e mostrar como as ideias e a organização sindical, popular e


políticas dos trabalhadores maranhenses ganhou intensidade após a Revolução Russa.

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EL PENSAMIENTO SOCIOPOLÍTICO DE FIDEL CASTRO: APORTES A UNA
CULTURA DE RESISTENCIA Y LUCHA REVOLUCIONARIA
Dra. Olga Fernández Ríos
Instituto De Filosofía
La Habana, Cuba

RESUMEN
Desde 1959 en Cuba se desarrolla un proceso simultáneo de acciones constructivas
para el avance hacia el socialismo y de enfrentamiento a las fuerzas opuestas a ese
avance, lo que se expresa en una cultura de lucha y resistencia que ha tenido la
impronta del pensamiento socio político de Fidel Castro. Se analizan fuentes, algunas
facetas y concepciones de ese pensamiento, junto con elementos que definen la
cultura de lucha y resistencia y ejemplos de experiencias exitosas que han influido en
la radicalización del proceso revolucionario cubano y en su continuidad.
PALABRAS CLAVES

Construcción del socialismo


Lucha y ofensiva revolucionaria
Resistencia
Cultura de lucha y resistencia

INTRODUCCIÓN

Poco más de cuarenta y un años después del estallido y triunfo de la gran revolución
socialista de octubre de 1917, en Cuba se iniciaba un proceso revolucionario de
liberación nacional y construcción del socialismo. Hoy ese proceso continúa su
marcha en nuevas condiciones históricas con la convicción de que hay que preservar
y desarrollar las conquistas en materia de desarrollo económico, dignidad humana y
justicia social alcanzadas durante más de 58 años, junto con la independencia y la
soberanía nacional frente a las injerencias y agresiones del imperialismo
norteamericano.

En este trabajo nos referimos a exitosas experiencias de la Revolución Cubana que


han contribuido a su continuidad a pesar de las políticas contrarrevolucionarias
implementadas por sucesivos gobiernos de Estados Unidos. Son experiencias que
muestran la radicalización de las transformaciones revolucionarias a través de un
proceso simultáneo de acciones constructivas para el avance hacia el socialismo y de
resistencia frente a las fuerzas opuestas a ese avance, lo que se expresa en una
cultura de lucha y resistencia que ha tenido la impronta del pensamiento socio político
de Fidel Castro cuyo legado tiene especial significado para el análisis del tema de esta
mesa: "Revolución y resistencias en América Latina".
Se trata de un tema de gran actualidad y pertinencia, sobre todo para los gobiernos
progresistas que a lo largo de las últimas dos décadas se han instalado en varios
países de nuestro continente y para los movimientos sociales que han proliferado con
gran protagonismo popular. Es un tema ineludible en el diálogo de saberes que hoy
se da en América Latina en busca de sociedades más justas y equitativas que de una
u otra forma siempre reciben los embates de fuerzas retrógradas, externas e internas,
frente a las que hay que resistir para continuar.
CULTURA DE LUCHA Y RESISTENCIA: PRECISIONES CONCEPTUALES
La Revolución Cubana es un ejemplo de resistencia sistemática a las políticas
contrarrevolucionarias del imperialismo norteamericano que incluyen el bloqueo
económico, financiero y comercial, junto con guerra mediática y de pensamiento, sin
excluir disímiles formas de acciones terroristas. Como revolución socialista genuina,
la cubana es hija de la cultura y de ideas sociopolíticas humanistas y emancipatorias.
Ha sido un proceso con aciertos en la interpretación de las coyunturas y los contextos
históricos y de conjugación de los ideales con la realidad. Ha provocado profundos
cambios sociales, políticos y culturales que abarcan todo el entramado social y al
pueblo, artífice de las transformaciones revolucionarias y que a la vez es influido por
estas.
En ese contexto el pueblo ha desarrollado una cultura que integra ofensiva
revolucionaria con resistencia con el objetivo de preservar las conquistas y de
continuar avanzando en el proceso al socialismo que se construye a contracorriente
de las fuerzas conservadoras pro capitalistas.
Esa cultura se ha cimentado a partir de una tradición de pensamiento independentista,
antiimperialista y pro socialista que ha tenido su punto más integral en la obra de Fidel
Castro. Su legado socio político demuestra que la resistencia frente a las agresiones
e injerencias del imperialismo norteamericano y sus lacayos internos no puede
limitarse al rechazo defensivo, sino que debe involucrar la lucha y acción
revolucionaria a partir de los intereses de la nación y la sociedad cubana, sin admitir
imposiciones, ni condicionamientos. En otras palabras, bajo el liderazgo de Fidel, la
transformación revolucionaria a favor del socialismo ha sido el núcleo de la resistencia.
Aquí radica uno de sus aportes a la teoría y práctica de la revolución social: enfrentar
y desafiar los diversos intentos por subvertir la revolución través de una resistencia
creadora convertida en cultura de lucha y ofensiva revolucionaria frente a las
adversidades y agresiones.
Cultura de lucha y resistencia significa el despliegue de una praxis plagada de firmeza
política, radicalidad y acumulado simbólico. Se expresa en un pensamiento crítico a
la hegemonía imperialista y a los argumentos imperiales a favor del capitalismo y en
una posición política desde la perspectiva del pueblo. Es cultura de lucha y resistencia
porque transforma los mecanismos tradicionales del ejercicio de la política al lograr el
involucramiento consciente del pueblo en las acciones defensivas y constructivas que
de forma integral deben desplegar los procesos revolucionarios como el cubano.
También porque ha requerido de aprendizaje en el pueblo, lo que se convierte en una
de las fortalezas para desafiar a las fuerzas contrarrevolucionarias, superar los miedos
a hacerlo y ganar batallas relacionadas con la preservación de la soberanía nacional.
En Cuba se ha dado desde 1959 lo que recientemente algunos autores llaman “política
de las resistencias” entendida como nuevas formas del accionar político desde 1980
en el contexto de la ofensiva neoliberal y el derrumbe del campo socialista. Es un
concepto que compartimos al considerar la resistencia para sostener conquistas y
derechos adquiridos y al no limitarla a acciones defensivas, sino que es susceptible
de desarrollarse como acciones programáticas de doble poder y que generan unidad
social e identidad cultural, ética y política. Se trata entonces de una cultura
antisistémica. (González Fermín 2003). Ese es el sentido de la lucha desplegado por
Fidel Castro en Cuba desde los inicios de la Revolución Cubana y que se ha
expresado como movilización popular escalón superior de la participación popular.

No es posible en tan poco espacio abordar las diferentes facetas del pensamiento
sociopolítico de Fidel y de su obra al frente de la Revolución Cubana. Es un legado
que aún está por sistematizar de forma más integral para mostrar sus aportes al
desarrollo de la teoría marxista de la revolución socialista, especialmente en el
contexto de América Latina y El Caribe. En este trabajo se sintetizan aspectos que
muestran la dialéctica que Fidel imprimió a la lucha revolucionaria en pos de la
construcción del socialismo y a la resistencia contra las políticas imperiales y sus
intentos para revertir el proceso revolucionario.

UN LIDER FORJADO EN TIEMPO DE LUCHAS Y RESISTENCIAS

La riqueza de la concepción fidelista sobre la nueva sociedad se materializa en su


obra transformadora, en el legado político de sus acciones y concepciones, y en la
impronta que ha tenido en su época, particularmente en Cuba y en Latinoamérica,
como contribución a su creciente independencia respecto a Estados Unidos.
Pero a la vez es una concepción nacida de una larga historia de luchas revolucionarias
y de resistencia frente a políticas imperiales si se tiene en cuenta que el siglo XX
cubano nació marcado por la imposición de una neocolonía a partir de la injerencia de
Estados Unidos en la guerra de independencia contra España en momentos en que
el ejército colonial de la potencia europea había sido derrotado por las fuerzas
independentistas cubanas. Nació entonces la República de Cuba en 1902 con la
peculiaridad de tener una enmienda constitucional impuesta por Estados Unidos que
la ataba y sometía por diversas vías a ese país. Ese contexto evidencia la certeza de
la advertencia de José Martí cuando el 18 de mayo de 1895, el día antes de su muerte
en combate frente al ejército colonial español, en carta inconclusa a su amigo Manuel
Mercado, sentenció que toda su lucha se encaminaba a evitar que Estados Unidos
cayera con su fuerza brutal sobre Cuba y América Latina. Ahí está la génesis del
pensamiento antiimperialista de Fidel y de la cultura de lucha y resistencia en Cuba.
Desde el comienzo del siglo XX se levantaron voces patrióticas contra la injerencia del
mal vecino del norte y en ese marco el marxismo se fue injertando en la cultura
nacional. Más tarde, como en otros países de nuestro continente, se sintieron los
impactos de la revolución bolchevique de 1917 y se sucedieron luchas obreras y
sociales en nuestro continente. Es ese el contexto en el que nació Fidel Castro en
1926 y en el que se forjó su espíritu de rebeldía y de lucha frente a las injusticias y la
injerencia foránea.

Fue un contexto que en Cuba estuvo marcado en los años 20 y 30 del pasado siglo
por el accionar martiano y marxista de Julio Antonio Mella y Rubén Martínez Villena y
por las posiciones antiimperialistas de Antonio Guiteras. También por la impronta de
la lucha guerrillera y antiimperialista de Sandino en Nicaragua.

Fueron antecedentes históricos de gran impacto en la ulterior formación política de


Fidel Castro, perfilada desde el inicio de la Guerra Fría, entre 1945 y 1952, en una
etapa que incluye su estancia en la Universidad de La Habana en la que profundizó
acerca de la decepción popular hacia los gobiernos Auténticos y se involucró en las
filas de la Juventud Ortodoxa en la denuncia de la generalizada corrupción política y
administrativa.

En la Universidad la ira popular encontró rápida resonancia en su sensibilidad y


concepciones políticas ya permeadas de ideas martianas, a la vez que se produce su
acercamiento, primero, al “Manifiesto Comunista” y, después, a “El Capital” y a textos
de Lenin como “El Imperialismo Fase Superior del Capitalismo y “El Estado y la
Revolución”, entre otros. (Castro Ruz, Fidel 1985, p.159)

En disímiles oportunidades Fidel reconoció ambas fuentes de su formación


sociopolítica e ideológica. En una de ellas planteó que su contribución a la Revolución
Cubana "consiste en haber realizado una síntesis de las ideas de Martí y del
marxismo-leninismo, y haberla aplicado consecuentemente a nuestra lucha”. (Castro
Ruz, Fidel 1985, p 163-164). En gran medida en ello radican la autenticidad y
legitimidad de la Revolución Cubana, así como las fortalezas que han contribuido a su
continuidad histórica a pesar de las condiciones adversas en que ha tenido que
desarrollarse.

Momentos de especial importancia en su formación antiimperialista fueron en 1947 el


frustrado intento de invasión a Santo Domingo para enfrentar la dictadura de Rafael
Leónidas Trujillo, lo que le permitió constatar la demagogia izquierdista que solo
actuaba para crearse una base política para un simple desplazamiento del poder, y su
presencia en el escenario del llamado Bogotazo en 1948 donde conoció de cerca la
acción del imperialismo norteamericano (para ampliar ver Alape, Arturo, 1983). En
Colombia la muerte de Jorge Eliecer Gaitán desencadenó acontecimientos en los que
Fidel participó, constatando la acción popular frente a quienes cercenaban el
programa de aspiraciones nacionales y las negativas consecuencias que trae la
ausencia de una dirigencia capaz de transformar la protesta popular en acción
victoriosa, o sea la resistencia en actividad revolucionaria.

En el escenario cubano su rechazo al golpe de Estado del General Fulgencio Batista,


el 10 de marzo de 1952, fue colofón de esta etapa que abre un desarrollo vertiginoso
de su pensamiento político y su quehacer revolucionario. El asalto al Cuartel Moncada
el 26 de julio de 1953 lo dirigió un hombre joven que ya contaba con una posición
revolucionaria caracterizada por la honestidad política, espíritu de justicia y tendencia
a rebelarse contra la explotación, las desigualdades sociales y la corrupción en los
medios políticos.

El fallido pero heroico asalto, proyectó su liderazgo en el plano nacional. La lucha


insurreccional y armada entre 1956 y diciembre de 1958, la labor al frente del Ejército
Revolucionario 26 de julio y las transformaciones realizadas en los territorios
liberados, constituyeron factores decisivos del crecimiento ideológico y político de
Fidel Castro de forma tal que al triunfar la Revolución Cubana en enero de 1959
contaba con definidas concepciones acerca de la actividad política, su nexo con las
masas populares y su papel en las resistencia a las amenazas foráneas y a las
internas.

Una concepción revolucionaria martiana y marxista

Como ya se ha planteado, Fidel Castro reconoció que sus concepciones se formaron


a partir de la simbiosis de dos de las más importantes corrientes de pensamiento de
la segunda mitad del siglo XIX, el ideario independentista martiano, de esencia
latinoamericana, impregnado de independentismo, humanismo, valores éticos y
antiimperialismo y el legado anticapitalista del marxismo originario con los aportes de
Lenin. Ambas corrientes de pensamiento, cada una con sus especificidades y
objetivos, sentaron las bases de una cultura de resistencia y de lucha a favor de la
liberación nacional, la ruptura con el capitalismo y la construcción de un nuevo tipo
de sociedad más racional y humana.
Es precisamente en esa simbiosis donde se inserta uno de sus grandes aportes a la
teoría contemporánea sobre la construcción del socialismo: ratificar el peso que en
ese proceso tiene la independencia nacional, especialmente en las condiciones de
América Latina y El Caribe signadas por factores geopolíticos devenidos en negativos
nexos con Estados Unidos. Es un concepto que tiene en cuenta las contradicciones
externas y el antiimperialismo en los procesos hacia el socialismo. El tema se refuerza
si se tienen en cuenta los problemas enfrentados por Ho Chi Minh en Viet Nam,
Salvador Allende en Chile y Hugo Chávez Frías y Nicolás Maduro en la República
Bolivariana de Venezuela, por solo citar algunos ejemplos de momentos diferentes en
los que la dialéctica lucha-resistencia ha tenido expresiones muy dramáticas.
Para entender la concepción fidelista de la revolución como proceso de liberación
nacional y construcción del socialismo y como lucha y resistencia, debemos partir de
la forma creadora en que el líder cubano asumió el marxismo y el impacto que la praxis
revolucionaria provocó en sus concepciones. Dos intervenciones esclarecedoras que
plantean matices sobre este tema fueron realizadas por Fidel en ocasión del octavo
aniversario del triunfo de la Revolución Cubana y en la sede del Consejo de Estado
de la República Democrática Alemana, en 1967 y 1977, respectivamente. En la
primera intervención deja clara su posición anti dogmática cuando expresó que para
él
“(...) ser marxista-leninista implica, en primer lugar, tomar el marxismo en su esencia
creadora, su esencia dialéctica, sus principios fundamentales, y aplicarlos con un
criterio revolucionario (...) con un sentido dialéctico también a una realidad concreta”...
“Nosotros respetamos las interpretaciones que otros dan a sus realidades en cuanto
a la forma y modo de construir el socialismo (...) de aplicar las ideas marxistas”.
(Castro
Ruz, F. 1967, p.34)

En el discurso en Alemania subrayó factores presentes en la lógica del marxismo que


dieron nuevos cauces a su humanismo y a su actividad revolucionaria y que
impregnaron su pensamiento político a favor del cambio revolucionario como arma de
resistencia a la ignominia imperialista.
En otras intervenciones abundó en estos polémicos temas y argumentó sobre la
concepción que lo inspiró como “la unión, la hibridación de una tradición, de una
experiencia peculiar de nuestro país con las ideas esenciales del marxismo y del
leninismo” como guía para la acción transformadora en la que se hallaba inmerso.
(Castro Ruz, F. 1970)
El análisis de esas intervenciones y de su accionar político, evidencia que Fidel se
apropió del método de Marx que le permitía correlacionar teoría y práctica, lucha y
resistencia. Pero sobre todo muestra que sus concepciones se alimentan de los datos
que la historia brinda para identificar la urdimbre de interrelaciones y contradicciones
que influyen en los procesos sociales e ir a la esencia de los mismos. A la vez
reconoce que la clase obrera, sus líderes e incluso los teóricos en todas las épocas y
latitudes, son herederos de la historia precedente lo que analiza con un enfoque
profundamente dialéctico y crítico de las concepciones dogmáticas.

REVOLUCIÓN COMO CAMBIO Y SENTIDO DEL MOMENTO HISTÓRICO


A través de la experiencia cubana, Fidel construyó su concepto de Revolución el que
sintetizó el primero de mayo del año 2000:
“Revolución es sentido del momento histórico; es cambiar todo lo que debe ser
cambiado; es igualdad y libertad plenas; es ser tratado y tratar a los demás como seres
humanos; es emanciparnos por nosotros mismos y con nuestros propios esfuerzos;
es desafiar poderosas fuerzas dominantes dentro y fuera del ámbito social y nacional;
es defender valores en los que se cree al precio de cualquier sacrificio; es modestia,
desinterés, altruismo, solidaridad y heroísmo; es luchar con audacia, inteligencia y
realismo; es no mentir jamás ni violar principios éticos; es convicción profunda de que
no existe fuerza en el mundo capaz de aplastar la fuerza de la verdad y las ideas.
Revolución es unidad, es independencia, es luchar por nuestros sueños de justicia
para Cuba y para el mundo, que es la base de nuestro patriotismo, nuestro socialismo
y nuestro internacionalismo.” (Castro Ruz, F. 2000, p.2)

Como puede apreciarse es un concepto que parte del condicionamiento histórico, la


realización de cambios en sentido de proceso, la emancipación, los valores, la unidad,
independencia y justicia social. En esa concepción se ubica la resistencia en términos
de enfrentar desafíos a las "poderosas fuerzas dominantes dentro y fuera del ámbito
social y nacional". Como parte de esos desafíos ubica claramente la defensa de los
valores revolucionarios.
Esa concepción, aunque fue orgánica y sintéticamente expuesta el primero de mayo
del año 2000, puede identificarse a lo largo de su obra y aporta las claves de su
temprano distanciamiento de las interpretaciones simplistas y esquemáticas sobre la
revolución social. También aporta a una construcción conceptual de la transición
socialista. De hecho puede constatarse que revolución y construcción del socialismo
son dos conceptos que Fidel desarrolla para referirse a un mismo proceso de lucha y
resistencia, el primero para subrayar la necesidad de cambios, y el segundo para
definir la orientación socialista de los mismos. (Fernández Ríos, Olga 2016)
Pero lo más importante es que en su praxis se centró en las bases del desarrollo
estratégico del socialismo, en la reelaboración de la propia experiencia del movimiento
socialista y de la Revolución Cubana teniendo en cuenta el contexto histórico,
condicionante de las tácticas políticas que cada momento demandaba. Y es
precisamente la interrelación entre táctica y estrategia donde actúan los mecanismos
y acciones de resistencia y de transformación revolucionaria.
La fuerza de la historia como fundamento del proceso revolucionario ha sido
potenciada por Fidel en uno de los factores que han condicionado la combinación de
resistencia y lucha: la unidad del pueblo, para atraer a favor del socialismo a fuerzas
sociales diversas y para trascender en el plano nacional la confrontación de “clase
contra clase”, en condiciones de una lucha frontal con el imperialismo norteamericano.
(Roa Raúl 1982, p. 353)
Lo cierto es que en su labor como dirigente de la Revolución Cubana, Fidel desarrolló
mecanismos de resistencia a las fuerzas contrarrevolucionarias a partir de una
educación y concientización a favor de la unidad del pueblo como factor decisivo del
avance de la construcción del socialismo.
En una perspectiva más teórica el enfoque fidelista sale al paso a las visiones
teleológicas de socialismo, o a su descontextualización cuando se tiene una mirada
global o impersonal del socialismo que olvida el escenario concreto en que se
desarrolla la revolución: los marcos nacionales. Y en esos marcos cualquier proceso
de cambio tiene que enfrentar tareas destructivas de las posiciones y mecanismos pro
capitalistas y acciones constructivas de un nuevo orden socioeconómico. Es por tanto
un proceso simultáneo de resistencia contra lo retrógrado y de creación revolucionaria
a favor de un cambio civilizatorio y cultural.
Son temas de mucha vigencia para América Latina donde las contradicciones
externas llegan a convertirse, como es en el caso de Cuba, en factor presente en las
contradicciones internas.
OFENSIVA REVOLUCIONARIA COMO FORMA DE RESISTENCIA
Fidel tuvo conciencia de que la construcción del socialismo no es un camino recto o
lineal, por lo que requiere de permanente renovación y descubrimiento de los nudos
que pueden afectar su avance. El análisis de su obra y concepciones sociopolíticas
muestra que tuvo bien claro que se trata de un proceso contradictorio y plagado de
desafíos que exige una permanente tensión creativa que evite que decisiones
coyunturales arriesguen los objetivos estratégicos.
Uno de los núcleos de la correlación entre creación revolucionaria y resistencia frente
a las amenazas es el reconocimiento de las tendencias del desarrollo social y del rol
que tienen la subjetividad y la acción consciente de los seres humanos en la
elaboración de la estrategia revolucionaria y en la implementación de las tácticas que
cada momento requiere, sin reducir la realidad al ideal, sino que parte de ella para
buscar los posibles derroteros. Fidel lo reconoció utilizando el arma de la crítica para
devaluar el sistema capitalista y para rechazar las concepciones dogmáticas sobre la
nueva sociedad; y lo hizo desde una posición autocrítica a lo largo de la Revolución
Cubana.
El “sentido del momento histórico” le permitió adentrarse en importantes problemáticas
que condicionan el desenvolvimiento de la revolución social: la salida del
subdesarrollo; las vías al socialismo; la pluralidad del sujeto revolucionario; la
revolución como movimiento de masas en correlación con el tema del poder político y
la concepción de la revolución como proceso continuo.
Desde esas perspectivas resulta evidente que para Fidel la acción revolucionaria se
expresa como ofensiva para enfrentar disímiles desafíos por lo que tiene que ser
creativa, permanente y progresiva. Debe basarse en los intereses del pueblo y del
país; no puede estar condicionada por intereses y presiones foráneas. Para él la
ofensiva revolucionaria es la vía fundamental de resistencia a las acciones
imperialistas y contrarrevolucionarias; es la vía para resistir los intentos encaminados
a abortar el proceso revolucionario. Pero además debe tener al pueblo como
protagonista y aquí vale la pena una breve digresión.
El concepto “pueblo” planteado por Fidel, ha sido un hilo conductor de sus
concepciones sobre la construcción del socialismo en Cuba; su vinculación con los
trabajadores y de forma especial con los obreros, reconoce la multiplicación de
sectores sociales interesados en dar sepultura al capitalismo. Con ello Fidel se
adelantó al debate contemporáneo acerca del sujeto de la revolución social cuando
de su concepción se desprenden dos interesantes precisiones: en el capitalismo del
siglo XX y principios del XXI no solo la clase obrera tiene razones para luchar contra
el capitalismo, de ahí la conformación de un sujeto plural. Pero en su concepto ello
no desdice el hecho de que si la clase obrera no se involucra de lleno en el proceso
revolucionario, no habrá proceso revolucionario lo que se hizo evidente para Fidel en
varias ocasiones.(Miliband R. 1985, p. 44 y Borón A. s/f p.31)
Desde la perspectiva del involucramiento del pueblo y de los trabajadores en
particular, la ofensiva revolucionaria en Cuba ha sido decisiva en los escenarios más
críticos. Ha funcionado como la mejor forma para resistir agresiones o enfrentar
desajustes internos. Incluso ha influido en la renovación del consenso político a favor
de la revolución y se ha convertido en oportunidades aprovechadas para una mayor
democratización de las decisiones. Varios ejemplos que dan fe de la existencia de una
cultura política que combina lucha y resistencia son los siguientes:
-- Ante la huida del Dictador Fulgencio Batista, el primero de enero de 1959 se produjo
un intento de golpe de Estado para crear una junta de gobierno que evitara el acceso
del Ejército Rebelde al poder, y por ende usurpar el triunfo revolucionario. Resistir
aquella maniobra golpista contrarrevolucionaria requería evitarla a través de alguna
acción rápida y coherente con los objetivos de la naciente revolución, lo que se logró
a través de una audaz acción política: el llamado de Fidel ese mismo día a una huelga
general obrera. Aquella huelga se realizó exitosamente con un doble significado:
abortar la acción golpista y reafirmar el carácter popular de la revolución con
protagonismo de los trabajadores.
-- El desarrollo de la educación y la cultura como vías para generar una consciente
resistencia popular a las amenazas foráneas e internas y a la guerra de pensamiento
a que ha sido sometida la Revolución Cubana. Muchas son las acciones desplegadas
en este campo con vistas a elevar la cultura política y la formación ideológica del
pueblo, principal actor de la resistencia a los intentos imperiales contra la revolución.
Hitos en ese camino han sido la campaña de alfabetización en 1961, la preparación
organizativa y cultural para el despliegue de la participación popular a través de
canales estables y el acercamiento entre Estado y sociedad civil y las políticas de
interacción y diálogo entre dirigentes y pueblo.
- El marco sociopolítico del primer lustro de los años 60 en el que se realizó la
declaración del carácter socialista de la Revolución en abril de 1961 en medio de la
agresión militar de Estados Unidos que culminó con la invasión mercenaria por Playa
Girón y la Crisis de los misiles en octubre de 1962 cuando Cuba ratificó su soberanía
con relación al derecho a defenderse de las agresiones imperiales.
Desde entonces Fidel desarrolló una concepción política para promover la
democratización de la defensa del país como única vía para enfrentar las agresiones
armadas y terroristas fraguadas por el imperialismo norteamericano contra Cuba. La
creación de las milicias estudiantiles y de trabajadores a lo largo de todo el país, con
hombres y mujeres, se convirtió en un recurso de extraordinaria capacidad defensiva
que ha tenido variantes como por ejemplo el concepto de guerra de todo el pueblo
desplegado desde los años 80 y 90 ante la intensificación de acciones
contrarrevolucionarias.
- Las consultas y ensayos para crear el sistema de órganos del poder popular que
sucedieron al fracaso de la zafra azucarera de los 10 millones en 1970 y la
desestabilización que ese hecho provocó en los objetivos de desarrollo económico del
país.
- El proceso de reafirmación del socialismo en Cuba en los años 90 ante la crisis
económica y los impactos del derrumbe del socialismo en Europa del Este y la URSS.
En aquellas condiciones se amplió el involucramiento popular, se conformaron los
llamados parlamentos obreros y se modificó el sistema electoral con la clara intención
de ampliar las formas de democracia directa, a partir de una reforma a la Constitución
en 1992, entre otras medidas.
Entre los mecanismos políticos fomentados por Fidel se destaca la capacidad de
crítica y autocrítica que con gran altura ética fue capaz de promover reflexiones y
rectificaciones para enfrentar las amenazas externas e internas susceptibles de existir
en el complejo proceso de transición socialista. Ejemplos de gran trascendencia e
impacto social fueron la apertura de un proceso de rectificación de errores a partir de
1985 y su intervención el 17 de noviembre de 2005 en la Universidad de La Habana
en la que intercambió con estudiantes y profesores acerca de la meritoria hazaña del
pueblo que impidió que en Cuba se produjera el derrumbe del socialismo como ocurrió
en otros países, a la vez que realizó un profundo análisis de problemas endógenos de
la Revolución Cubana que podían arriesgar su continuidad.
En todos los casos han sido escenarios adversos que debieron ser enfrentados con
medidas revolucionarias y con educación política e ideológica y en esa combinación
radica la esencia.

A MODO DE CONCLUSIONES
Hoy, cuando millones de seres humanos luchan por una sociedad más justa, y cuando
en varios países el movimiento popular de obreros, campesinos, indígenas, mujeres,
activistas sociales, junto con intelectuales y académicos, retoman la crítica al
capitalismo con renovados bríos y enfrentan la ofensiva conservadora, las
concepciones de Fidel Castro contribuyen al análisis y a la transformación del injusto
orden social imperante.
El legado de Fidel es en gran medida el legado de la Revolución Cubana, y viceversa.
Es una de las armas para enfrentar las acciones contrarrevolucionarias y la guerra de
pensamiento que hoy tenemos que librar contra el imperio del norte. Esa guerra
también es cultural y ha incluido la ofensiva revolucionaria y la resistencia a la
injerencia, a la imposición de valores y patrones de conducta ajenos a la liberación
nacional y al socialismo.
Dos experiencias de la Revolución Cubana hoy pasan a un primer plano. Primero, el
pueblo no debe limitarse a resistir los embates del enemigo, sino que tiene que
aprender a combatirlos con acciones revolucionarias. Segundo, el combate no es solo
con armas de fuego, si fuera necesario usarlas, sino que es un combate cultural, una
batalla de ideas, con armas morales y con ética, con pensamiento.

Para ganarlo hay que mantener activado el principal detonante, percutor o gatillo de
las armas para esa batalla: la educación de las nuevas generaciones y de todo el
pueblo que sea capaz de reproducir en nuevas condiciones la cultura de lucha y
resistencia.

BIBLIOGRAFÍA REFERENCIADA
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Habana.
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Roa García, Raúl: 1982 El Fuego de la Semilla en el Surco, Editorial Letras Cubanas,
La Habana.
Rodríguez, Carlos R.: 1983 “Letra con Filo” 2, Editorial de Ciencias Sociales, La
Habana
SINAIS DO PRESENTE: teoremas da equação política da emancipação no século XXI

Saulo Pinto Silva

“Devemos sempre ter em mente que qualquer debate, aqui e agora, é


necessariamente um debate no território inimigo: é preciso tempo para desenvolver o
novo conteúdo. Tudo que dissermos agora pode ser tomado (recuperado) de nós –
tudo, exceto nosso silêncio. Esse silêncio, essa rejeição ao diálogo e a todas as
formas de clinch é o nosso “terror”, agourento e ameaçador como deve ser”, Slavoj
Zizek.

RESUMO

O ensaio discute os sinais emancipatórios nas ambivalências do presente.


Preliminarmente, elabora um esboço crítico sobre a ideia do socialismo como tomada
do poder político. Em seguida, insiste na hipótese que o futuro está em toda a parte
das lutas e das alternativas das subjetividades anticapitalistas que ainda insistem num
mundo pós-capitalista.

Palavras-chave: Marx. Socialismo. Estado. Emancipação.

ABSTRACT

The essay discusses the emancipatory signs in the ambivalences of the present. It
preliminarily elaborates a critical outline on the idea of socialism as taking political
power. He then insists on the hypothesis that the future lies throughout the struggles
and alternatives of the anti-capitalist subjectivities that still insist on a post-capitalist
world.

Keywords: Marx. Socialism. State. Emancipation.

1. INTRODUÇÃO: ambivalências do presente


David Harvey elabora uma equação teórica interessante para caracterizar a
universalidade conflitiva do poder autorreferente do capital, cuja constituição decisiva
estaria na conjunção dialética das “contradições fundamentais”, “contradições
mutáveis” e “contradições perigosas” (HARVEY, 2016: 23; 87; 201). A dinâmica global
do capital se assenta numa capacidade imanente de adaptação às novas demandas
e reapropriação das lutas populares na direção da expansão infinita do seu poder,
pois “seu maior objetivo não é satisfazer as demandas, mas criar sempre mais
demandas que possibilitem sua contínua reprodução expandida” (ZIZEK, 2012: 100).
Obviamente que as contradições estão estruturadas no seu complexo expansivo e o
metabolismo do seu poder não se apresenta senão como uma “causa distante”. A
ideia de uma “causa distante” não significa “ausência” de determinação, mas de uma
permanência/implicação que não atua diretamente sobre o real, mas forma o próprio
princípio de distorção da realidade:
O Real é ao mesmo tempo a Coisa a que é impossível termos acesso direto e o
obstáculo que impede esse acesso direto; a Coisa que escapa a nossa apreensão e
a tela deformadora que nos faz perder a Coisa. Em termos mais precisos, o Real é,
em última análise, a própria mudança de perspectiva do primeiro para o segundo
ponto de vista: o Real lacaniano não é apenas deformado, mas é o próprio princípio
de distorção da realidade. Esse dispositivo é estritamente homólogo ao dispositivo
freudiano da interpretação dos sonhos: para Freud, o desejo inconsciente em um
sonho não é simplesmente o núcleo que nunca aparece de modo direto, deformado
pela tradução no texto manifesto do sonho, mas o próprio princípio dessa distorção.
É assim que, para Deleuze, em uma homologia conceitual estrita, a economia exerce
o papel de determinar a estrutura social “em última instância”” a economia nesse papel
nunca é diretamente apresentada como um agente causal real, sua presença é
puramente virtual, é a “pseudocausa” social, mas, precisamente como tal, a causa
absoluta, não relacional, ausente, algo que nunca está “em seu próprio lugar” [...] a
instância sobredeterminada da “economia” também é uma causa distante, nunca uma
causa direta, isto é, ela intervém nas lacunas da causalidade social direta (ZIZEK,
2012: 32, grifos do autor).

Então, os problemas do capitalismo e seus impactos sociais não podem ser


encontrados fora de universalidade constitutiva, mas apenas no núcleo fundante de
sua reprodução imanente, embora o núcleo decisivo do capital exista como uma
“causa distante”. A ascensão do populismo de direita nas principais democracias no
século XXI expressa, grosso modo, o próprio modo manipulatório de operação do
capitalismo, deturpando, dissimulando, desviando as causas fundamentais dos danos
sociais para suas próprias consequências. Negri tenta nomear a nova etapa da
dominação do capital pela hipótese do “biocapitalismo”, que instituiu “formas de
exploração do trabalho em geral e da vida, a vida dos cidadãos, a vida da população”
(NEGRI, 2015: 59). Todavia, a arte de nomeação não consegue substituir o poder
ontológico da atuação real e concreta da generalização do estranhamento enquanto
modo de reconhecimento/desumanização universal. Aliás, “é a luta de classes tout
court, o real de nossa época” (ZIZEK, 2012: 98).
Assim, o ímpeto da etapa contemporânea do capitalismo é marcado,
necessariamente, pela expansão das fronteiras do imperialismo e das políticas de
neoliberalização, dos países inscritos na geometria da dependência da periferia aos
países do centro-global da dominação. Nesse quadro, o refugo da crítica aparece
como uma panaceia à crise do capital e da decomposição social subjacente a ela. Ao
contrário de uma aceitação/incorporação do “populaça” (HEGEL, 2010: 223) no
“andar de cima” das estruturas sociais do capitalismo, o que acompanhamos é uma
profunda dessocialização em torno da “proletarização do mundo” (BENSAÏD, 2008:
36), marcada pela constituição do “sentimento comum de insegurança” e “experiência
coletiva de precariedade” (STANDING, 2013: 17-18).
A ambivalência fundamental do presente é que o capital global produz uma forma de
coação compulsiva sobre o indivíduo imediato - que é a opressão em estado puro da
“causa distante” sobre os indivíduos -, ao mesmo tempo que empurra aos indivíduos
submetidos à coação a responsabilidade de seu “fracasso” ontologicamente
determinado. Marx diz que:
Por um lado, se esquece que, desde logo, o pressuposto do valor de troca, como o
fundamento objetivo da totalidade do sistema de produção, já encerra em si a coação
sobre o indivíduo de que seu produto imediato não é um produto para ele, mas só
devém para ele no processo social e tem de assumir essa forma universal e, todavia,
exterior; que o indivíduo só tem existência social como produtor de valor de troca e
que, portanto, já está envolvida a negação total de sua existência natural; que, por
conseguinte, está totalmente determinado pela sociedade (MARX, 2011: 190, grifos
do autor).

O problema é que a aceitação/incorporação do “populaça” é sempre não


absolutamente possível, pois o capital global, pela sua própria necessidade
autorreferente de expansão, incorpora por um complexo sistema de desincorporação
o próprio exército disponível do “populaça” disponível na vida social existente. Ao
contrário das interpretações comuns, o ressentimento e a raiva como afetos políticos
atuam como um potente fator da ação política coletiva. Há o ressentimento reacionário
anti-populacho típico da agenda do populismo de direita – que embora cresça a partir
de uma certa unidade popular ou de algum grupo estrito reprimido, volta-se
violentamente contra tal constituição preliminar -, todavia o ressentimento do
“populaça” assume uma dimensão política emancipatória, pois ataca o núcleo
axiológico da ideologia dos dominantes. Zizek apresenta o segundo aspecto da
ambivalência do presente do capitalismo de hoje:
Como podemos encontrar um caminho nessa situação confusa? Na década de 1930,
Hitler apresentou o antissemitismo como uma explicação narrativa dos problemas
vividos pelos alemães: desemprego, decadência moral, descontentamento social...
Por trás disso tudo estariam os judeus, isto é, a evocação da “conspiração judaica”
deixa tudo muito claro, porque provoca um simples “mapeamento cognitivo”. O ódio
que se tem hoje contra o multiculturalismo e a ameaça imigrante não funciona de
maneira semelhante? Coisas estranhas estão acontecendo, há colapsos financeiros
afetando nossa vida, mas são vivenciados como algo totalmente obscuro – e a
rejeição do multiculturalismo introduz uma falsa clareza na situação: são os intrusos
estrangeiros que estão perturbando nosso modo de viver... Há, portanto, uma
interconexão entre a maré anti-imigração (que está aumentando nos países ocidentais
e chegou ao auge com os assassinatos indiscriminados de Anders Behring Breivik) e
a atual crise financeira: apegar-se à identidade étnica serve como um escudo contra
o traumático fato de estarmos presos no redemoinho da abstração financeira não
transparente – o verdadeiro “corpo estranho” que não pode ser assimilado é, em última
instância, a máquina infernal autopropulsada do próprio capital (ZIZEK, 2012: 41-42).

A dialética da aceitação/incorporação do “populaça” no corpo social carrega em si


mesma a tensão de um “corpo estranho”, em que “o indivíduo só tem existência social
como produtor de valor de troca”, como salienta Marx. No espectro da ideologia dos
dominantes, “a ideia de antagonismo de classe continua a ser um conceito
rigorosamente proibido” (MÉSZÁROS, 2011: 70), senão quando absolutamente
silenciado, descartado, deslocado. É necessário que o “estranhamento” entre a
localização objetiva e o reconhecimento de si esteja atuando como mediador de uma
discordância política permanente. Em seu lugar, o particularismo da “sociedade civil”
alcança relevo em torno de uma identificação política absoluta, isto é, na “diferença”
como elemento decisivo na constituição das identidades políticas. O deslocamento
das identidades políticas ontologicamente determinadas para identidades políticas em
torno da diferença e não da igualdade, produziu aquilo que Hegel classificou com
enorme precisão de “diversidade indiferente, de modo que cada um para si vale sem
consideração ao outro” (HEGEL, 2011: 146). De uma política emancipatória produzida
em torno da classe proletária para uma política emancipatória a partir da constituição
das identidades políticas móveis, uma política emancipatória autêntica no século XXI
precisa ser reinventada/atualizada. Não apenas tomar o poder político. Não apenas
uma agenda política em torno da “luta por reconhecimento” (HONNETH, 2003: 23).
Talvez seja necessário pensar que mais do que nunca o comunismo apresenta-se
como uma alternativa necessária, embora insuficiente, na impressão das ideias
eternas de liberdade, igualdade e dignidade. A hipótese do comunismo é o trabalho
duro da política emancipatória no século XXI.

2. O QUE QUEREMOS?
Para além do tópos foucaultiano que estabelece a relação entre poder e resistência,
lei e transgressão, a linguagem da emancipação social não pode ser pensada senão
numa gramática radical que reponha o absoluto hegeliano como momento
predominante da política e que, em termos propriamente dialéticos, ultrapasse o
presente do capital reificador, posto que:
A tarefa da política emancipadora está alhures: não em elaborar uma proliferação de
estratégias de como “resistir” ao dispositivo predominante a partir de posições
subjetivas marginais, mas em pensar as modalidades de uma possível ruptura radical
no próprio dispositivo predominante. Em todo o discurso sobre os “lugares de
resistência”, tendemos a esquecer que, por mais difícil que seja imaginar isso hoje, os
mesmos dispositivos a que resistimos mudam de tempos em tempos. É por isso que,
de uma maneira profundamente hegeliana, Catherine Malabou preconiza o abandono
da posição crítica em relação à realidade como horizonte último do nosso
pensamento, independentemente de que nome seja chamada, desde a jovem “crítica
crítica” hegeliana à teoria crítica do século XX. Mas essa posição crítica não consegue
cumprir o próprio gesto: radicalizar a atitude crítico-negativa subjetiva em relação à
realidade em uma autonegação crítica ampla. Mesmo que o preço seja sermos
acusados de “regressar” à velha posição hegeliana, deveríamos adotar a posição
autenticamente hegeliana absoluta que, como aponta Malabou, envolve uma espécie
de “rendição” especulativa do Si ao Absoluto oniabrangente, mas a inscrição da
lacuna “crítica” que separa o sujeito da substância (social) contra a qual ele resiste,
nessa mesma substância, como seu próprio antagonismo ou autodistância (ZIZEK,
2012: 111-112).

O princípio da “autonegação crítica ampla” significa não simplesmente silenciar diante


das pequenas lutas, mas imaginar que há uma correlação entre a resistência finita e
a manutenção do estado de coisas do “capital permanente universal”, de tal maneira
que é possível dizer que a dialética da luta e da resistência finitas é condição
necessária para a estabilização do complexo do sistema como um todo, em que
“algumas coisas devem mudar para que tudo continue o mesmo”. A lógica do
capitalismo “antiproibitivo” zomba dos limites autoimpostos, ampliando sua esfera
para o Si como o absoluto frágil da esquizofrenia própria do capitalismo. Assim:
O capitalismo é obrigado a propor formas de engajamento compatíveis como estado
do mundo social no qual está incorporado e com as aspirações dos seus membros
que consigam expressar-se como mais força (BOLTASKI; CHIAPELLO, 2009: 199).

Entretanto, é óbvio que a sentença hegeliana que diz que devemos “agir como
sujeito finito” (ZIZEK, 2012: 115), que faz de seu engajamento o “coração antigo” do
futuro, esquadrinha a equação política da emancipação no século XXI, para além do
estatismo burocrático proletário e sua estratégia da emancipação como “tomada do
poder político”. Lenin esboçou as teses fundamentais da transição socialista do século
XX em torno da tomada do poder político através da “revolução violenta” proletária
que, fundamentalmente, realizaria a “abolição do Estado proletário, isto é, a abolição
de todo e qualquer estado” (LENIN,2007: 39). Grosso modo, toda a tradição política
socialista após a Revolução de Outubro girou sua ação e concepção em torno da
hipótese do socialismo como tomada violenta do poder político. Todavia, diante dos
impasses societários do século XXI, da complexidade do “fracasso” na tentativa de
mudar o mundo e da necessidade de retomada da emancipação como horizonte de
expectativas das subjetividades radicais, parece necessário não apenas ir além do
programa leninista, mas ao mesmo tempo enfrentar a ausência de futuro que
caracteriza decisivamente as subjetividades do capitalismo pós-moderno e “pós-
ideológico”.
A centralidade da política no ideal emancipatório de Lenin carrega em si uma série de
problemas hoje:
A noção de que os ideais da sociedade moderna representam um momento não
capitalista daquela sociedade corre paralela à ideia de que existe uma contradição
estrutural entre o modo proletário de produzir, como um momento não capitalista da
sociedade moderna, e o mercado e a propriedade privada. Esta adota o “trabalho”
como o ponto de vista da sua crítica e não tem a concepção da especificidade histórica
da riqueza e do trabalho no capitalismo. Portanto, ela implica que mesma forma de
riqueza, que no capitalismo é expropriada por uma classe de proprietários privados,
seria apropriada coletivamente e regulada conscientemente no socialismo. Pelo
mesmo motivo, ela sugere que o modo de produção no socialismo será
essencialmente o mesmo que o do capitalismo; o proletariado e seu trabalho se
realização do socialismo (POSTONE, 2014: 88).

A crítica de Postone se fundamenta na ideia de que a tomada do poder político não


resolve o problema estrutural das formas de dominação estritas da sociedade
capitalista. O proletários não são dominados apenas em função da expropriação
econômica a qual estão submetidos hierarquicamente, pois nesse modelo o
capitalismo é entendido “simplesmente como uma forma de dominação de classe”
(POSTONE, 2014: 87). Nesse sentido, “ao se apossar do Estado, a burocracia
revolucionária que dirigia o proletariado forneceu à sociedade uma nova dominação
de classe” (DEBORD, 1997: 69). Não há propriamente aqui a supressão da dominação
em estado puro, mas a constituição de uma nova modalidade de dominação política
de uma classe por outra. Postone reitera que o capitalismo é uma forma específica de
sociedade que se autodesenvolve por um complexo mecanismo de dominação
abstrata, de compulsões sociais, sobre as pessoas. A “violência sistêmica
fundamental do capitalismo”, insiste Zizek, “não é mais atribuível aos indivíduos
concretos e suas “más” intenções, mas é puramente “objetiva”, sistêmica, anônima”
(ZIZEK, 2012: 106). Por isso parece inconsistente reduzir a necessidade da
emancipação social à dimensão unilateral do controle político, quando a “sociedade
determinada pelo capital não é simplesmente uma função do mercado e da
propriedade privada; não pode ser reduzida sociologicamente à dominação da
burguesia” (POSTONE, 2014: 58). Mészáros sentencia que a “dominação do capital
sobre o trabalho é de caráter fundamentalmente econômico, não político” e que “a
dominação do capital não pode ser quebrada no nível da política” (MÉSZÁROS, 2015:
134). Assim, quando estamos falando na necessidade do controle social nas
sociedades pós-capitalistas, não podemos meramente insistir na centralidade do
controle político sobre o complexo do metabolismo social capitalista. A única violência
revolucionária consistente é aquela que altera absolutamente as coordenadas básicas
do mundo existente, o que torna sem efeito ontológico qualquer violência política
estrita. Postone elabora uma equação bastante interessante demonstrando o primado
das compulsões sociais anônimas sobre as pessoas e os impasses de uma alternativa
em termos de democracia pós-capitalista, a saber:
Claramente, considerar as organizações estatais da sociedade moderna em termos
do desenvolvimento da formação social capitalista, e não como a negação do
capitalismo, também reformula o problema da democracia pós-capitalista. Essa
análise fundamenta um modo de compulsões e coerções abstratas, historicamente
específicas do capitalismo nas formas sociais de valor e capital. O fato de as relações
sociais expressas por essas categorias não serem absolutamente idênticas ao
mercado e à propriedade privada implica que essas compulsões poderiam continuar
a existir na ausência das relações de distribuição da burguesia. Se for assim, a
questão da democracia pós-capitalista não pode ser adequadamente posta apenas
diante de uma oposição entre as concepções estatais e não estatais de política. Pelo
contrário, é preciso considerar mais uma dimensão crítica: a natureza das coerções
impostas às decisões políticas pelas formas de valor e capital. Isso quer dizer que a
abordagem que começarei a desenvolver neste livro sugere que a democracia pós-
capitalista envolve mais do que formas políticas democráticas na ausência da
propriedade privada dos meios de produção. Ela exige também a abolição das
compulsões sócias abstratas enraizadas nas formas sociais apreendidas pelas
categorias marxianas (POSTONE, 2014: 58).

Assim, por mais difícil que seja, o exame crítico do programa revolucionário da tomada
do poder político não é apenas necessário, mas indispensável se realmente
quisermos elaborar uma ultrapassagem do presente modo de vida social, para além
de toda mistificação e ideologias políticas. O erro do reformismo e do socialismo da
tomada do poder político foi justamente acreditar, de um lado, na possibilidade de
regulação do capital e da pacificação dos conflitos constitutivos do capitalismo e, de
outro, em reduzir a necessidade do controle social ao aparato burocrático do estado
político. Seremos sempre “piores” na tentativa de controlar o sistema complexo do
capital pelo seu controle político:
Dessa forma, no momento em que a burocracia quer mostrar sua superioridade no
terreno do capitalismo, ela confessa ser um parente pobre do capitalismo. Assim como
sua história efetiva está em contradição com seu direito, e sua ignorância,
grosseiramente mantida, em contradição com suas pretensões cientificas, seu projeto
de igualar-se à burguesia na produção de uma abundância mercantil é emperrado
pelo fato de tal abundância trazer em si mesma uma ideologia implícita e ter como
complemento normal uma liberdade sem limites para multiplicar falsas opções
espetaculares, pseudoliberdade que é inconciliável com a ideologia burocrática
(DEBORD, 1997: 76-77).

O problema é como realmente podemos fazer a transição social a uma sociedade pós-
capitalista sem cairmos na conhecida degeneração burocrática estalinista? Teríamos
que abandonar a posição de Marx? É erro da estratégia comunista ou um problema
da tática política medidora?
O verdadeiro objetivo da estratégia defendida por Marx é a divisão social hierárquica
do trabalho, que simplesmente não pode ser abolida. Tal como o Estado, ela pode
apenas ser transcendida por meio da reestruturação radical de todos aqueles
processos e estruturas sociais pelos quais ela necessariamente se articula.
Novamente, como podemos ver, não há nada errado com a concepção global de Marx
e com sua temporalidade histórica de longo prazo. O problema surge de sua tradução
direta no que ele denomina “divisa revolucionária” a ser inscrita na bandeira de um
movimento dado. É simplesmente impossível traduzir diretamente as perspectivas
últimas em estratégias políticas praticáveis (MÉSZÁROS, 2015: 162).

Há uma hiato, uma fissura, entre as “perspectivas últimas” e as “estratégias políticas


praticáveis” que insistem na necessidade de encontrarmos a forma de
“contrainstituição coletiva apropriada” (ZIZEK, 2012: 116). Marx esboçou sinais
possíveis do programa de transição socialista que são recuperados e interpretados
por Mészáros. A transição socialista não poderia ser movida por outra coisa senão
pela necessidade de “transformar o projeto socialista em uma realidade irreversível”,
completadas permanentemente pelas “transições dentro da transição” e o próprio
socialismo como “revoluções dentro da revolução” (MÉSZÁROS, 2015: 163). Mais do
que nunca, temos que “começar a pensar como expandir a democracia para além de
sua forma política estatal multipartidária” (ZIZEK, 2012: 91). Dito isto, a dialética de
atuação política e “negação” da política e do Estado elaboram a grandeza da tarefa
da política emancipatória autêntica, isto é:
1) instituir órgãos não estatais de controle social e crescente autoadministração que
podem cada vez mais abarcar as áreas de maior importância da atividade social no
curso da nossa “transição na transição”; e, conforme permitam as condições,
2) produzir um deslocamento consciente nos próprios órgãos estatais – em conjunção
com (1) e através das mediações globais e internamente necessárias – de modo a
tornar viável a realização das perspectivas últimas do projeto socialista (MÉSZÁROS,
2015: 164).

O exame crítico, portanto, das experiências radicais emancipatórias apresenta-se


como o único recurso seguro diante do desafio histórico de mudar o mundo para além
do modo de vida do capital. Qualquer atalho político ou menosprezo das
ambivalências do presente não apenas repetirão infernalmente o fracasso de
“revoluções sem revolução”, como bloquearão o “futuro impossível” como a esperança
subjacente a toda subjetividade radical no tempo presente. Eis o tamanho do nosso
problema e desafio históricos.

3. CONCLUSÃO: O futuro está acontecendo em toda parte


Mas, então, que fazer hoje? Como podemos pensar a equação política da
emancipação social no século XXI? Temos que lembrar que as mudanças sociais
duradouras são parte do trabalho duro de tentar mudar o mundo em sua totalidade e
não restringir qualquer alteração dentro do mesmo modelo. Zizek,
supreendentemente, diz que “a única maneira de fazer o sistema parar de funcionar é
parar de resistir” (ZIZEK, 2012: 113). Ele parte da hipótese que a resistência ao espólio
capitalista produz o efeito contrário de seu estatuto político estratégico, pois “em vez
de lutar pequenas batalhas para vencer a inércia do sistema e fazer as coisas
andarem melhor aqui e ali, devemos preparar o terreno para a grande batalha (ZIZEK,
2012: 114). Temos que quebrar o bloqueio do reformismo estratégico em direção a
uma política radical emancipatória:
[...] para passar do reformismo à mudança radical, devemos passar pelo ponto zero
de nos abstermos da resistência que só mantém o sistema vivo – em um estranho tipo
de libertação, devemos parar de nos preocupar com as preocupações dos outros e
recuar para o papel de observador passivo da dança circular autodestrutiva do
sistema. Ou, digamos, diante da atual crise financeira, que ameaça acabar com a
estabilidade do euro e de outras moedas, deveríamos parar de nos preocupar em
evitar o colapso financeiro ou manter as coisas em funcionamento. Lenin foi o modelo
dessa atitude durante a Primeira Guerra: ignorando todas as preocupações “patriotas”
com a pátria em perigo, ele observou friamente a mortal dança imperialista e
estabeleceu as fundações para o futuro processo revolucionário – suas preocupações
não eram as preocupações da maioria de seus companheiros (ZIZEK, 2012: 114).

Com efeito, nossa preocupação não poderia se fixar nas “preocupações dos outros”
em tentar resolver os problemas fundamentais de funcionamento da totalidade
orgânica do sistema do capital e suas vicissitudes. Aliás, temos que ir além da mera
resistência que funciona como uma consciência crítica sobre ele. Zizek diz que “há
uma armadilha nesse excesso de crítica” anticapitalista, pois seu ponto de vista
político objetiva apenas “democratizar o capitalismo” (ZIZEK, 2012: 91). A grande lição
que talvez tenhamos que aprender é que não basta uma política do excesso de
anticapitalismo, como sua negação finita determinada, precisamos realmente de uma
negação finita indeterminada, que não mire apenas alguns aspectos disformes do
sistema como um todo, mas que se imponha enquanto a autonegação do sistema e a
germinação dialética do “futuro”, pois “o verdadeiro teste de valor é o que permanece
no dia seguinte, ou como nossa vida cotidiana normal é modificada” (ZIZEK, 2012:
81).
A luta infinita pela supressão da opressão social deve ser o fato decisivo na tomada
de decisão sobre o que fazer. O legado de Marx é justamente o de lutar contra as
formas de exploração econômica, dominação política e humilhação social. Não se
trata do estabelecimento de outras formas de dominação social, da preponderância
de uma classe sobre outras classes, mas certamente a inscrição da eliminação da
necessidade social da existência das próprias classes sociais como o real do
capitalismo realmente existente. Esse é o significado mais autêntico da ideia da
ditadura do proletariado como a única classe capaz de eliminar o sistema de
antagonismos estruturais, autoextinguindo-se. A tarefa do trabalho duro da política
emancipatória autêntica é entender e religar a explosão da fúria global nos motins e
violências cruas que explodem pelo mundo afora como a hipótese comunista. O futuro
não está distante de nós, mesmo que sejamos absolutamente apaixonados pela
“revolução dos outros”, o futuro está em toda a parte.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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São Paulo: Boitempo, 2008.
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HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. São Paulo: Boitempo, 2016.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Ciência da lógica: (excertos). São Paulo: Barcarolla,
2011.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais.
São Paulo: Ed. 34, 2003.
LENIN, Vladimir Ilitch. O Estado e a revolução: o que ensina o marxismo sobre o
Estado e o papel do proletariado na revolução. São Paulo: Expressão popular, 2007.
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da economia política. São Paulo: Boitempo; Rio de Janeito: Ed. UFRJ, 2011.
MÉSZÁROS, István. A montanha que devemos conquistar: reflexões acerca do
Estado. São Paulo: Boitempo, 2015.
MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo:
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NEGRI, Antonio. Biocapitalismo: entre Spinoza e a constituição política do presente.
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ZIZEK, Slavoj. O ano que sonhamos perigosamente. São Paulo: Boitempo, 2012.

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