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DIDÁTICA

Professor Herbert Schützer


Professora Sheila Pereira dos Santos Silva
BLOCO 1: INTRODUÇÃO À DIDÁTICA E O PAPEL DO PROFESSOR
Neste primeiro bloco vamos conhecer os elementos fundamentais da didática e sua importância
para a formação do professor, bem como seus deveres e dilemas.

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1.1 Conceito de Pedagogia, Ensino e Didática

Ensino - definições e características

A função da didática é explicar, esclarecer e fazer compreender. O ensino individualizado fica no


passado. Conhecer as características dos alunos e, dessa forma, o processo que educadores
planejam, executam e avaliam os resultados é sistematizado pela didática.

Origens e significados de ensino e instrução

Tais conceitos, atualmente, dão outros significados para a Educação, como ensinar, do latim
insegnare, que significa marcar com um sinal; em que aquele que ensina deixa uma marca no
aluno. E instrução, do latim instruere, que significa erguer, construir, formar; entendendo a
instrução como processo e produto.

O ato de ensinar

O ato de ensinar, considerado não neutro, está situado no tempo e em um lugar. Contribui para
produzir um certo tipo de ser humano, sociedade, dando vez e voz aos valores e crenças de
grupos sociais.

Desenvolvimento de conteúdos

Ensinar implica desenvolver conteúdos a partir das propostas da didática. O professor pode
organizar-se e dar significados aos novos conhecimentos.
O planejamento permite que ele desenvolva as etapas seguintes:
 APLICAÇÃO - aplicação do novo conhecimento a situações práticas.
 GENERALIZAÇÃO - o novo conhecimento responde a outros problemas similares cotidianos.
 ASSIMILAÇÃO - as causas dos fenômenos e integração ao conhecimento prévio do aluno.
 APRESENTAÇÃO - apresentação da utilidade do novo conhecimento.
 PREPARAÇÃO - apresentação objetiva do conteúdo e uso de recursos que estimulam os
sentidos.

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Conceituando o processo educacional

A Pedagogia é a Ciência da Educação e a educação é um amplo campo de conhecimento no qual


a didática se situa.

Função da didática

Como elemento da educação, a didática exerce várias funções no processo de ensino-


aprendizagem, pois prepara o professor para realizar uma análise crítica dos elementos que
compõem a prática pedagógica e permite a compreensão do processo de ensino: seus objetivos,
conteúdos, estratégias de ensino possíveis e a avaliação da aprendizagem.

Relação entre a didática e outras disciplinas pedagógicas

A Didática se relaciona com outras disciplinas pedagógicas como ferramenta de ensino. Com
métodos e técnicas ela contribui para o desenvolvimento dos entendimentos dos sentidos da
educação (Filosofia da Educação), dos condicionantes (Sociologia da Educação) e dos aspectos
comportamentais (Psicologia da Educação) que apresenta favorecendo a aprendizagem.

1.2 Didática na formação do professor

Didática e docência

A Didática constitui-se em um dos ramos mais importantes da pedagogia, formando um


conjunto de conhecimentos que busca investigar os fundamentos, contextos e formas de
realização da instrução, sendo a imperativa para o processo ensinar/aprender.

Didática na formação docente

Os docentes precisam dominar as bases teóricas e suas articulações com o ensino real, dessa
forma poderão reavaliar sua prática educativa.
Os objetivos a serem alcançados dependem de um planejamento, cujas metas e ações tenham
a didática como ferramenta que o docente aplica dentro das possibilidades para trilhar o
caminho da aprendizagem.

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Contribuição da didática para a formação de professores

Todo bom professor necessita ser teoricamente bem fundamentado, exercer reflexões críticas
sobre a educação, planejar e atuar como mediador entre o conhecimento e o aprendiz, na
reprodução, produção e transformação do conhecimento.

Prática pedagógica

Para desenvolver a aprendizagem, é preciso que exista a situação de ensino que ocorre entre
professor e alunos, em que o professor transmite, organiza a construção e a assimilação de
conhecimentos usando diferentes recursos e instrumentos. Os valores e crenças da equipe
pedagógica e de sua localidade reforçam a atuação do professor num contexto sociocultural.

Competências do professor

Para o bom desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, o professor deve:

• Identificar os condicionamentos da prática pedagógica.


• Identificar limites do educador e maneiras de superá-los.
• Redigir um planejamento coerente.
• Desenvolver habilidades emocionais e habilidade comunicativas.
• Possibilitar relações interpessoais e a democracia.

Características da escolarização

O processo educacional requer uma série de elementos, como organização, espaços e regras.
Nesse sentido, é importante observar as seguintes condições que precisar estar ordenadas:
• Espaços definidos para educar.
• Horários rígidos.
• Seleção de conteúdos apropriados.
• Obrigatoriedade de frequência.
• Avaliação e certificação da aprendizagem.

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1.3 Os saberes docentes

Em termos gerais, podemos entender que o processo de ensino é a sequência de atividades do


professor e dos alunos que visa a assimilação de conhecimentos e o desenvolvimento de
habilidades e atitudes.
Esse processo se insere em um universo que:
• Abrange a dinâmica de relações sociais e interesses de grupos sociais específicos;
• Inclui uma prática pedagógica que é determinada pelo contexto econômico, social e cultural;
• Abrange o desempenho de papéis de professores e alunos em diversas situações.

O professor é considerado um mediador entre o aluno e as matérias que serão conhecidas. Para
isso, o professor organiza materiais, recursos, ambientes e condições para que ocorra a
atividade de aprendizagem dos alunos.
Importante destacar, todavia, que a ação do professor é condicionada por sua filosofia de vida,
por suas convicções políticas, por sua competência profissional e por suas preferências em
relação a métodos de trabalho, entre outras.
O ensino, portanto, não é uma ação neutra na qual há um conhecimento a transmitir/apreender,
mas é um processo multidimensional. O fato de ser multidimensional e acontecer em um
universo complexo, exige do professor uma multiplicidade de saberes.
Podemos dizer que os saberes do professor possuem três dimensões fundamentais: a humana,
a técnica e a político-social.
1) Dimensão humana: composta pelas relações interpessoais, grupais e pelos aspectos
subjetivos.
2) Dimensão técnica: envolve a capacidade de conduzir o processo de ensino levando o aluno
ao aprendizado por meio de uma ação sistemática e a capacidade de planejar, selecionar
conteúdos, estratégias de ensino, avaliar, ou seja, de dominar os aspectos objetivos do ensino.
3) Dimensão político-social: ligada à compreensão que o educador possui em relação a sua
cultura e à sociedade e os compromissos políticos que assume durante o ato de ensinar. Em
outras palavras, trata-se de ter consciência de como o seu trabalho educativo colabora para
formar um certo tipo de cidadão e de sociedade.

As visões reducionistas sobre o ensino costumam afirmar apenas uma dessas dimensões e negar
que elas devem caminhar juntas, ou seja, uma junção das três dimensões: a humanista, a técnica
e a político-social.

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Os saberes do professor se referem a essas dimensões no ato de ensinar. Esses saberes são
desenvolvidos durante a formação inicial e a formação continuada dos professores.
Hoje, no Brasil, temos uma Base Nacional Comum que defende que a formação de professores
no país deve se assentar em cinco eixos:
1) em sólida formação teórica;
2) na unidade teoria e prática durante o processo de formação;
3) no compromisso social e a democratização da escola;
4) no trabalho coletivo;
5) na articulação entre a formação inicial e continuada.

Aqui, vamos comentar os dois primeiros eixos.


Uma sólida formação teórica é composta por: saberes conceituais e metodológicos da área que
ele irá ensinar; saberes integradores, que são os relativos ao ensino dessa área; e saberes
pedagógicos. A cada um deles está relacionado um saber fazer, ou seja, uma relação teoria e
prática.

a) Saberes conceituais e metodológicos da área específica: significa saber o conteúdo a ser


ensinado. Mesmo sendo muito importante o professor conhecer bem o conteúdo a ensinar, ele
não pode ser apenas um repetidor de conteúdos para os alunos, como se fosse uma máquina.
Ele precisa ser capaz de analisar, fazer uma crítica fundamentada dos conteúdos dos livros de
sua área e tentar identificar quais foram as questões que fizeram o ser humano produzir aquele
conhecimento e como esse conhecimento foi produzido. Saber os métodos para produzir
conhecimento utilizados pela área do conteúdo que ensina é tão importante quanto saber o
conhecimento que foi produzido.
Quando o professor sabe as razões, os problemas que geraram a necessidade de produção de
certo conhecimento, ele se torna capaz de dizer aos alunos se esse conhecimento ainda serve
para alguma coisa nos dias de hoje. Quando o professor conhece os métodos de produção desse
conhecimento, ele se torna capaz de dizer se eles são confiáveis ou não e, também, torna-se
capaz de provocar seus alunos a construírem novos conhecimentos que podem, ou não, superar
os conhecimentos que já existem.
O importante é ensinar que a produção de conhecimento é dinâmica, e que o conhecimento é
gerado a partir de problemas que a humanidade decidiu que seriam importantes resolver e que
pode ser atualizado ou completamente reformulado pelas pessoas nos dias atuais. Muito
conhecimento foi produzido em tempos e ocasiões em que os materiais e métodos para tais

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descobertas eram limitados, e esse é um dos fatores que justificam a necessidade de sua
atualização por meio dos instrumentos dos quais dispomos hoje.
Com o objetivo de preparar os alunos para fazerem descobertas, o professor pode tentar
reconstruir com eles o caminho que fizeram as pessoas que produziram aquele conhecimento.
Quando o professor conhece o conteúdo que pretende ensinar, ele tem condições de planejar
um ensino que rompa com uma simples memorização de fatos e com uma assimilação
medianamente compreensível de conceitos e sistemas conceituais pelos alunos.
O professor deve planejar e desenvolver atividades de ensino que permitam que seus alunos
trabalhem os aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais presentes nos conteúdos
escolares de forma inter-relacionada.

b) Saberes integradores: são os saberes relacionados ao ensino dos conteúdos escolares e


provenientes das pesquisas realizadas na área de ensino do conteúdo específico.
O conteúdo escolar proposto aos alunos não pode se reduzir a uma coleção de fatos, conceitos,
leis e teorias, como tradicionalmente ocorre.
O professor de hoje tem que refletir, ser crítico e saber que nem sempre a melhor maneira de
ensinar é igual à maneira como foi ensinado. Ele precisa ter consciência de quando deve mudar
e o que deve ser feito para mudar a forma de ensinar. Para isso, é importante analisar o que
pode produzir de efeitos nos alunos quando seleciona essa ou aquela técnica de ensino, esse ou
aquele recurso didático.
O professor precisa se permitir ser criativo e renovar as práticas didáticas tradicionalmente
conhecidas. Precisa estar atento ao conhecimento que os estudantes já trazem para a escola em
razão de suas experiências de vida e saber que tudo o que se propuser a ensinar deve “dialogar”
com esses conhecimentos prévios dos alunos. Atenção: diálogo não significa sempre
concordância, pode ser que novos conhecimentos entrem em conflito com o que o aluno já sabe
e isso exigirá um trabalho mediador do professor para que ideias equivocadas sejam substituídas
por outras mais confiáveis.
A concepção construtivista, por exemplo, entende a aprendizagem dos alunos como uma
(re)construção de conhecimento a partir de seus conceitos iniciais, e que evoluem por meio de
atividades de ensino nas quais situações problemáticas de interesse dos alunos são exploradas
e o professor propõe uma organização do trabalho que resulte na produção de conhecimento
por e para eles.

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Ao planejar o ensino, o professor deve se preocupar em fornecer estímulos e oportunidades
para que o aluno construa conhecimentos, desenvolva habilidades e atitudes, tudo de maneira
integrada.
Ensinar é um ato intencional do professor com vistas a atingir objetivos de aprendizagem dos
alunos.
O professor tem uma linguagem que desenvolveu ao longo de sua formação acadêmica. Uma
das funções da escola é introduzir o aluno nessa nova linguagem, mas sem desmerecer o modo
habitual de os alunos se expressarem, porque isso não é justo com suas histórias de vida e pode
inibi-los, se forem censurados.
O aprendizado de uma nova forma de se expressar ocorrerá lentamente ao passo que o
professor der oportunidade aos estudantes de exporem suas ideias sobre os fenômenos
estudados, criar um ambiente encorajador para que eles adquiram segurança e envolvimento
com o mundo e com o linguajar da ciência.
Os alunos precisam aprender a questionar, a testar possíveis soluções, a identificar o que deu
certo e o que não deu, precisam aprender a argumentar sobre as decisões que tomaram, seja
individual ou coletivamente.

c) Saberes pedagógicos: os saberes pedagógicos são aqueles provenientes de várias áreas da


Pedagogia, integrados nos atos de ensinar, planejar, executar e avaliar a eficácia do ensino.
Algumas vezes eles são entendidos como sinônimos dos saberes integradores, mas enquanto
estes estão voltados a saber trabalhar integradamente as três dimensões dos conteúdos e
promover o desenvolvimento integral dos alunos, os saberes pedagógicos se relacionam a uma
compreensão ampla da Educação, do universo no qual se insere o seu trabalho educativo, uma
compreensão integrada dos componentes contextuais da escola. Eles abrangem o saber avaliar,
o compreender as interações professor-aluno, o identificar o caráter social do conhecimento
etc.
Entre esses saberes estão aqueles que o professor desenvolve durante sua profissionalização,
em sua atuação no ambiente escolar, no contexto em que a escola se insere e com o qual o
professor precisa saber se relacionar, porque os aspectos contextuais interferem no seu
trabalho e na aprendizagem dos alunos.
Em resumo, o professor não pode ter uma visão alienada e imaginar que basta planejar boas
aulas para que a aprendizagem de todos aconteça, é preciso ter uma visão ampla das questões
sociais e organizacionais que permeiam o seu trabalho e ter noção de que as decisões didáticas

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que toma em seu trabalho produzem consequências na vida dos alunos, na própria vida e na
vida da sociedade.

1.4 Pesquisa sobre o ato de ensinar

No vídeo indicado a seguir, é discutida a importância da aproximação entre a pesquisa e o aluno,


para transformar os saberes. Para Paulo Freire, o professor deve procurar trazer os novos
conhecimentos para a sala de aula, para dar um caráter ativo ao saber. A pesquisa ajuda a dar
ao conhecimento uma prática dinâmica. Os saberes dos alunos também devem ser
considerados, para que professores e alunos possam aprender juntos. Segundo o autor,
qualquer disciplina pode executar esse método de integração para que alunos de qualquer nível
possa fazer descobertas e se tornar sujeito do seu próprio conhecimento.

ENSINAR Exige Pesquisa: Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire. Publicado em 22 jun.


2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2NfxvONcboo>. Acesso em: 4
set. 2018.

1.5 Deveres e dilemas éticos na profissão

Competências do professor e dilemas éticos

O profissional deve ser orientado pela ética, pois é comum que enfrente alguns dilemas. Toda
pessoa pode errar, mesmo tentando ser responsável, justa e solidária. Por isso, torna-se
necessária a reflexão constante sobre a atuação cotidiana, de forma a poder redirecionar suas
ações e trajetória do ensino, procurando deixar clara sua posição política e manter o
compromisso com as regras acordadas com os educandos. Assim, diante dos dilemas, o
professor pode sempre encontrar uma saída que encaminhe a educação para seu objetivo, que
é a aprendizagem do aluno.

Dilema 1: Prevenir a violência na escola e fora dela

Criar sistemas para conter a violência (que pode ser violento) ou deixar tudo como está?

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Convencer os alunos de que a violência não compensa (a violência simbólica praticada na escola
não compensa para todos? A chacota (bullying), por exemplo, compensa para alguns alunos que
a praticam regularmente.)

Possível saída

 Negociar as regras com os alunos.

Dilema 2: Lutar contra preconceitos e discriminações sexuais, étnicas e sociais

Conformar-se e deixar como está porque é difícil mudar, ou tentar tirá-los da cabeça dos alunos?

Direcionar o tempo para cumprir o programa ou analisar as situações com os alunos?

o Possível saída

 Promover, incessantemente, a reflexão dos alunos.

Dilema 3: Participar da criação de regras de vida comum

Saber que tem o dever de ser um professor comprometido, mas não ser.

Perceber que os alunos não obedecem às regras criadas por eles: insistir ou retroceder?

o Possível saída
 Reforçar o próprio comprometimento.

Dilema 4: Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula

O professor conhece os próprios sentimentos em relação aos alunos?

Comportar-se de maneira distante ou atender às necessidades de afeto dos alunos.

o Possível saída

 Investir no próprio desenvolvimento pessoal para que consiga analisar como se


comporta com os alunos.

Dilema 5: Desenvolver o senso de responsabilidade, solidariedade e o sentimento de justiça

Correr o risco de errar na tentativa de ser justo ou evitar julgar?

o Possível saída
 Para que o professor não tenha medo de correr o risco, os direitos e deveres dos alunos
e dos professores precisam ser claros e aceitos por todos.

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Fechamento

Neste bloco tivemos a oportunidade de conhecer alguns conceitos e práticas do ensino e a


função da didática na formação do professor. Conhecemos também os dilemas éticos que ele
enfrenta no desempenho da sua função e as competências necessárias para a qualidade da
prática docente.

Referências

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.

BOURDIEU, Pierre. A reprodução. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1992.

CANDAU, Vera Maria. Didática em questão. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1984.

FREIRE. P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 22. ed. Rio de
Janeiro: 2002.

LIBÂNEO, J. C. Pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1990.

LUCKESI, C. C. O papel da didática na formação do educador. In CANDAU, Vera (org.). A


Didática em questão. Petrópolis: Vozes, 2001.

PERRENOUD, Philippe. As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed
Editora, 2014.

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