Relatório de estágio
Reclamação graciosa
Elaborado pelo aluno Micael dos Santos Batista Pereira, n.º 13887, no âmbito da unidade
curricular de “Estágio”, integrada no 6.º semestre da Licenciatura em Solicitadoria e Administração,
sob a orientação do Dr.º Armando Veiga e a supervisão da Dr.ª Adelaide da Cunha
Coimbra
2016
2
Relatório de estágio
Lista de siglas
Art. - Artigo
AT – Autoridade Tributária
CC - Código Civil
IS - Imposto de selo
3
Relatório de estágio
4
Relatório de estágio
Agradecimentos
Obrigado Mizé.
5
Relatório de estágio
Introdução
No seguimento do meu percurso académico no ISCAC, mais propriamente no curso
de Solicitadoria e Administração, é-nos imposto a realização de um estágio curricular e
consequente relatório. O estágio realizado junto da entidade acolhedora teve um período de 182
horas, do qual, sem sombras de dúvidas, extraí aquilo a que a meu ver, se pretende num estágio
deste género, que é o contacto com a realidade da profissão e como teremos no futuro de nos
manobrar para “combater” os problemas/desafios inerentes ao solicitador/agente de execução,
que como sabemos, em muito é distinto daquilo que aprendemos nas cadeiras da sala de aula.
O estágio, embora, tenha sido muito direcionado para questões de direito executivo e
direito notarial, foi sempre o direito administrativo e direito fiscal que mais me fascinou ao
longo do percurso académico. Por isso este relatório será direcionado a estas duas áreas do
direito.
O caso escolhido, por mim, trata-se de um contribuinte que não concorda com uma
notificação para liquidação em sede de IRS e que por sua vez retribui com uma reclamação
graciosa para a entidade que emitiu o ato tributário.
Como veremos, farei uma alusão como funciona toda a tramitação do procedimento
de IRS, e aprofundarei o procedimento tributário de uma forma geral e acabo com as garantias
dos contribuintes, sendo este o tema central do caso em estudo.
6
Relatório de estágio
A DSIRS esclarece ainda que as pensões em questão devem ser consideradas como
rendimento isento, embora sujeito a englobamento para efeitos de determinação da taxa a
aplicar aos restantes rendimentos.
A declaração oficiosa deu origem à liquidação n.º xxxxxx com um valor nulo a pagar.
7
Relatório de estágio
Capitulo I – O IRS
1 – Conceito de imposto
Para o caso em apreço, interessa analisar com pertinácia apenas o imposto sobre o
rendimento de pessoas singulares.
8
Relatório de estágio
Nos termos do artigo 76.º n.º 1 do CIRS, a liquidação do IRS processa-se nos termos
seguintes:
a) Tendo sido apresentada a declaração até 30 dias após o termo do prazo legal, a
liquidação tem por objeto o rendimento coletável determinado com base nos elementos
declarados, sem prejuízo do disposto no n.º 4 do artigo 65.º;
b) Não tendo sido apresentada declaração, a liquidação tem por base os elementos de
que a Autoridade Tributária e Aduaneira disponha;
c) Sendo superior ao que resulta dos elementos a que se refere a alínea anterior,
considera-se a totalidade do rendimento líquido da categoria B obtido pelo titular do rendimento
no ano mais próximo que se encontre determinado, quando não tenha sido declarada a respetiva
cessação de atividade.
Caso não seja apresentada declaração, o titular dos rendimentos é notificado por carta
registada para cumprir a obrigação em falta no prazo de 30 dias. Em todos os casos previstos
1
Art. 57.º do CIRS 1 - Os sujeitos passivos devem apresentar, anualmente, uma declaração de modelo
oficial, relativa aos rendimentos do ano anterior e a outros elementos informativos relevantes para a sua concreta
situação tributária, nomeadamente para os efeitos do artigo 89.º-A da lei geral tributária, devendo ser-lhe juntos,
fazendo dela parte integrante os anexos e outros documentos que para o efeito sejam mencionados no referido
modelo.
9
Relatório de estágio
no n.º 1 do art. 76.º do CIRS, a liquidação pode ser corrigida, se for caso disso, dentro dos
prazos e nos termos previstos nos artigos 45.º e 46.º da LGT.
Os arts. 13.º e segs. do CIRS, determina que são sujeitos passivos do IRS, por um lado,
as pessoas singulares residentes e, por outro, as pessoas singulares não residentes.
Sendo, residentes, e existindo agregado familiar o imposto é devido pelo conjunto dos
rendimentos das pessoas que constituem o agregado, o qual é constituído, no caso de agregados
familiares biparentais, pelos cônjuges não separados judicialmente de pessoas e bens e pelos
2
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, editora almedina, 9.ª edição, 2016, pp. 477 e 478
10
Relatório de estágio
seus dependentes, sendo estes os filhos, os adotados e os enteados menores e, bem assim, os
maiores em certas circunstâncias e, no caso dos agregados monoparentais, por cada um dos
cônjuges, ex-cônjuges, pai ou mãe solteiros ou adotante solteiro e seus dependentes.
O IRS incide sobre o valor anual das demais categorias elencadas no n.º 1 do art. 1.º
do CIRS, mesmo quando provenientes de atos ilícitos, que são elas:
Não analisarei com afinco e detalhe todos as categorias, pois não são objeto do caso
em estudo, focar-me-ei portanto na categoria H – Pensões.
3
José Casalta Nabais, Direito Fiscal, editora almedina, 9.ª edição, 2016, p. 487
11
Relatório de estágio
6. As taxas do imposto
As taxas do IRS podem ser classificadas como taxas gerais e taxas especiais. As taxas
gerais de IRS são progressivas por escalões de rendimento, o que significa que o rendimento
global líquido do contribuinte deve ser sujeito às taxas constantes da tabelo do artigo 68.º do
CIRS.
12
Relatório de estágio
7. Deduções à coleta
Antes de iniciar o estudo deste ponto, convém referir que são múltiplas as deduções à
coleta (art. 78.º a 88.º do CIRS), com isto, torna-se insustentável e despropositado ao tema em
estudo, abordar todas estas deduções. Logo, apenas elenco as deduções existentes, mas sem as
profundar.
Assim, aplicadas as taxas ao rendimento coletável fica apurada a coleta do IRS, valor
a que temos de abater as deduções previstas nos artigos 78.º a 88.º do CIRS, para assim fixar o
montante do imposto a pagar pelo sujeito passivo.
O n.º 1 do art. 78.º identifica os diversos tipos de deduções que têm lugar em IRS e
que são as deduções relativas a:
g) À exigência de fatura;
4
Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares Última atualização: Lei n.º 7-A/2016,
de 30/03 73
13
Relatório de estágio
De acordo com o n.º 75, a soma das deduções à coleta previstas nas alíneas c) a h) e k)
do n.º 1 não pode exceder, por agregado familiar, e, no caso de tributação conjunta, após
aplicação do divisor previsto no artigo 69.º, os seguintes limites:
Nos termos do n.º 8, os agregados com três ou mais dependentes a seu cargo, os limites
previstos no n.º 7 são majorados em 5 % por cada dependente ou afilhado civil que não seja
sujeito passivo do IRS.
8. Enquadramento prático
Maria entregou a sua declaração de IRS (ver anexo 1), sendo este o primeiro passo
para que se inicie o procedimento tributário. Fê-lo dentro dos parâmetros definidos para a sua
categoria de rendimentos prevista no CIRS. Os arts. 13.º e segs. do CIRS, determina, que Maria
é sujeito passivo de IRS e residente. Sendo, pensionista, Maria, “entra” na categoria H,
referente a pensões. Esta tem rendimentos obtidos tanto em Portugal como no Brasil. Existindo
uma convenção6 entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil destinada a
evitar a dupla tributação e a prevenir a evasão fiscal em matéria de impostos sobre o rendimento.
5
Redação da Lei n.º 7-A/2016, de 30 de março.
6
Ver in. Diário da República n.º 98/2001, Série I-A de 2001-04-27
14
Relatório de estágio
15
Relatório de estágio
16
Relatório de estágio
Crédito Publico IP) e a Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, I.P. 3) três
entidades administrativas independentes de supervisão e regulação do sistema financeiro (o
Banco de Portugal, o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários).
O Estado de Direito consagra direitos e deveres quer para os contribuintes quer para a
própria Administração Pública, onde se integra a Administração Tributária. A LGT especifica
os princípios a que a administração tributária está obrigada: “A administração tributária exerce
as suas atribuições na prossecução do interesse público, de acordo com os princípios da
legalidade, da igualdade, da proporcionalidade, da justiça, da imparcialidade e da celeridade,
no respeito pelas garantias dos contribuintes e demais obrigados tributários.”
Princípio da legalidade - Nos termos do artigo 103.º da CRP, os impostos são criados
por lei, sendo a sua liquidação e cobrança feitos nos termos também previstos na lei. O artigo
8.º da LGT acrescenta ainda que está sujeita à lei a regulamentação da: liquidação e cobrança
dos tributos, incluindo os prazos de prescrição e caducidade; regulamentação das figuras da
substituição e responsabilidade tributárias; definição das obrigações acessórias; definição das
sanções fiscais sem natureza criminal; regras de procedimento e processo tributário.
17
Relatório de estágio
máximo para decisão de 4 meses (57.º n.º 1 da LGT) ou 8 dias para prazo procedimentais (n.º
2 do artigo 57.º da LGT).
18
Relatório de estágio
4 – Legitimidade
De acordo com o art. 30.º n.º 1 e 2 do CPC “O autor é parte legítima quando tem
interesse direto em demandar; o réu é parte legítima quando tem interesse direto em
contradizer.” Sendo que “o interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da
procedência da ação e o interesse em contradizer pelo prejuízo que dessa procedência
advenha.”. Nos termos do n.º 3 do mesmo artigo “Na falta de indicação da lei em contrário,
são considerados titulares do interesse relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da
relação controvertida, tal como é configurada pelo autor.”.
A legitimidade tratada no art. 9.º do CPPT serve para intervir tanto no procedimento
tributário como nos processos judiciais tributários.7 “O procedimento tributário compreende
7
“n.º4 - Têm legitimidade no processo judicial tributário, além das entidades referidas nos números
anteriores, o Ministério Público e o representante da Fazenda Pública.”
19
Relatório de estágio
5. O procedimento administrativo
O n.º 1 do art. 1.º do CPA, define procedimento como: “a sucessão ordenada de atos
e formalidades relativos à formação, manifestação e execução da vontade dos órgãos da
Administração Pública.” Atendendo ao art. 1.º do CPA, este, propõe uma distinção ente
procedimento e processo administrativo que assenta no seguinte raciocínio: “o termo processo
fica reservado àquilo que em língua inglesa é o file e em língua francesa o dossier, isto é, o
suporte físico do procedimento, o acervo documental que lhe dá corpo”.9 O legislador
português não utilizou a distinção entre processo e procedimento que é defendida pela doutrina
italiana, para esta, nas palavras de João Caupers: “o procedimento consubstancia uma sucessão
ordenada de atos e formalidades, sendo o processo uma espécie de procedimento caracterizado
pelo litígio entre interesses antagónicos, corporizados em partes.”10
8
JORGE LOPES DE SOUSA, Código de Procedimento e de Processo Tributário, Anotado e
Comentado, Áreas Editora, 6.ª edição, 2011, pp. 113 e 114.
9
JOÃO CAUPERS, Introdução ao direito administrativo, âncora editora, 8.ª edição. 2008, p.151
10
JOÃO CAUPERS, Introdução ao direito administrativo, âncora editora, 8.ª edição. 2008, p.152
20
Relatório de estágio
21
Relatório de estágio
variados tem o efeito prático de permitir perceber em que condições podem os particulares
aceder aos tribunais, na medida em que devem estar sujeitos a impugnação contenciosa
aqueles atos do procedimento que sejam principais ou, ainda, aqueles que, estando inseridos
na tramitação procedimental, produzam efeitos jurídicos externos.”11
6 – O procedimento tributário
Tratando ainda o primeiro artigo, que o procedimento tributário segue a forma escrita,
sem prejuízo da tramitação eletrónica dos atos do procedimento tributário nos termos definidos
por portaria do Ministro das Finanças, mediante a qual será regulada a obrigatoriedade de
apresentação em suporte eletrónico de qualquer documento, designadamente requerimentos e
petições (n.º3). Sendo que os documentos emitidos e os atos praticados por meios eletrónicos
pela administração tributária possuem o mesmo valor legal dos documentos autênticos (n.º 4).
E os atos praticados eletronicamente pelo dirigente máximo do serviço são autenticados com a
11
FERNANDA PAULA OLIVEIRA E JOSÉ EDUARDO FIGUEIREDO DIAS, Noções fundamentais
de Direito Administrativo, 4.ª edição. 2015 p.203
22
Relatório de estágio
devida assinatura eletrónica avançada e certificada nos termos previstos pelo Sistema de
Certificação Eletrónica do Estrado - Infraestrutura de Chaves Públicas (n.º5).
7. O procedimento de liquidação
Podemos afirmar que temos um ato de liquidação com dupla natureza: por um lado,
tem natureza provisória porque está sujeita a revisão pela administração fiscal e a reclamação
ou impugnação pelo contribuinte, por outro, tem natureza definitiva porque, independentemente
da eventual revisão, podemos afirmar que o ato de liquidação pode ser objeto de execução pela
administração fiscal.13
12
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, editora almedina, 9.ª edição, 2016, p. 291
13
RUI DUARTE MORAIS, A Execução Fiscal, Almedina, 2.ª Edição, 2006 pp. 9-35.
23
Relatório de estágio
que estes as apresentem nos termos previstos na lei e forneçam à administração tributária os
elementos indispensáveis à verificação da sua situação tributária.
8. Enquadramento prático
Maria, de acordo com o artigo 15.º da LGT possui personalidade tributária é portanto
suscetível de ser sujeito de relações jurídicas tributárias. Ainda de acordo com o n.º1 do art. 3.º
do CPPT, se Maria tem personalidade tributária tem, de igual forma, personalidade judiciária
tributária, podendo assim ser parte em processos judiciais emergentes das relações tributárias.
O art. 9.º do CPPT “dá” a Maria o direito de intervir tanto no procedimento tributário como
nos processos judiciais tributários. Verificados os preceitos de personalidade e legitimidade,
Maria, está apta a participar no procedimento tributário dentro do disposto nos arts. 54.º da
LGT e 44.º do CPPT.
Maria, de acordo com o art. 54.º da LGT participou ativamente nos seguintes pontos
do procedimento tributário: reclamações e os recursos hierárquicos; avaliação direta ou indireta
dos rendimentos ou valores patrimoniais
24
Relatório de estágio
No que respeita às garantias administrativas ou graciosas, estas podem ser de dois tipos
diferentes, dependendo se os meios de defesa sejam não impugnatórios ou se trate de meios
impugnatórios.
1 – As garantias do contribuinte
Estas garantias são as razões ou fundamentos que o contribuinte pode invocar perante
a administração tributária com vista a questionar a conformidade de determinado ato. Garantias
estas que são constitucionalmente protegidas, atentando ao art. 268.º da CRP, este, “consagra
um conjunto de situações jurídicas de que todas as pessoas são genericamente titulares e que
se diferenciam pelo fato de dizerem respeito à atuação da administração pública, no exercício
da função administrativa, e portanto, ao âmbito das relações jurídico-administrativas.”14
Fazendo uma abordagem síntese, das seguintes garantias, uso como base o artigo 268.º
da CRP15, mas, procurarei realçar os artigos da LGT. Passo a elencar:
14
JORGE MIRANDA E RUI MEDEIRO - Constituição Portuguesa Anotada, TOMO III, artigos 202.º
a 296.º, Coimbra editora, 2007 p.598
15
JORGE MIRANDA E RUI MEDEIRO - Constituição Portuguesa Anotada, TOMO III, artigos 202.º
a 296.º, Coimbra editora, 2007 pp. 598 a 617
25
Relatório de estágio
16
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, editora almedina, 7.ª edição, 2012, p 337
17
Art.º 131.º da Lei n.º 64-B/2011, de 30 de Dezembro.
26
Relatório de estágio
Por sua vez, estes meios, são a forma que a lei coloca ao dispor do contribuinte para
que possa confrontar a administração tributária com a sua atuação e colocar em causa a validade
de um ato por não estar conforme com o ordenamento jurídico.
Este meio impugnatório administrativo está previsto nos artigos 68.º a 77.º do CPPT.
A reclamação graciosa é um meio impugnatório através do qual o contribuinte requere a
anulação total ou parcial dos atos tributários (veja-se neste sentido o acórdão do STA de 25-
11-2009, processo n.º 669/09), com fundamento de qualquer ilegalidade, valendo para tal a
atuação em desconformidade com o direito de que resulte um ato lesivo para o contribuinte.
São, portanto, suscetíveis de reclamação graciosa, apenas, os seguintes atos tributários:
27
Relatório de estágio
Como nos diz JORGE LOPES DE SOUSA «A reclamação graciosa pode ter por
fundamento qualquer ilegalidade de que enferme o ato de liquidação impugnado ou vício do
procedimento ou decisões procedimentais que precedem a decisão final (n.º1 do art. 70 e arts.
54.º e 99.º do CPPT)». Quer isto dizer que os fundamentos da reclamação graciosa são os
mesmos da impugnação judicial, ou seja, trata-se de ilegalidades enunciadas de forma não
taxativa pelo art. 99.º do CPPT. Com isto, os fundamentos da reclamação graciosa são os
constantes do art. 99.º do CPPT, pelo que constitui fundamento de reclamação qualquer
ilegalidade, designadamente:
18
Jorge Lopes de Sousa, Código de Procedimento e de Processo Tributário, Anotado e Comentado,
Áreas Editora, 6.ª edição, 2011, p. 227
28
Relatório de estágio
b) Incompetência;
c) Ausência ou vício da fundamentação legalmente exigida;
d) Preterição de outras formalidades legais.
Diz-nos o art. 70.º no seu n.º 1 que o prazo para a reclamação graciosa é, regra geral,
de 120 dias contados a partir dos fatos previstos no n.º1 do art. 120.º do CPPT.19 Existem prazos
especiais, consagrados na lei, que alarga para 2 anos o prazo para se poder reclamar, são os
casos de autoliquidação e de retenção na fonte (arts. 131.º, n.º 1, e 132.º, n.º 3, do CPPT). Os
prazos presentes no art. 70.º contam-se nos termos do art. 279.º do CC, por força do disposto
nos arts. 57.º, n.º 3 da LGT e 20.º, n.º 1, do CPPT. o caso de remessa da reclamação graciosa
pelo correio, sob registo, considera-se que a mesma foi efetuada na data respetivo registo (art.
26.º, n.º 2, do CPPT).
A reclamação graciosa, por norma, tem efeito meramente devolutivo, significando que
os efeitos da decisão reclamada não se suspendem e o contribuinte tem de pagar. A reclamação
graciosa só tem efeito suspensivo se for prestada garantia idónea, veja-se a letra da alínea f), do
art. 69.º do CPPT: “…Inexistência do efeito suspensivo, salvo quando for prestada garantia
adequada nos termos do presente Código, a requerimento do contribuinte a apresentar com a
petição, no prazo de 10 dias após a notificação para o efeito pelo órgão periférico local
competente.”.
19
Por exemplo, se somos notificados para o pagamento do IRS no prazo de 30 dias, a contagem do
prazo de 120 dias para apresentação da reclamação graciosa terá início no final destes 30 dias.
29
Relatório de estágio
O recurso hierárquico está previsto no arts. 66.º e 67.º do CPPT e art. 80.º da LGT. O
art. 66.º do CPPT estabelece que, sem prejuízo do princípio do duplo grau de decisão, as
decisões dos órgãos administração tributária são suscetíveis de recurso hierárquico a dirigir ao
mais elevado superior do autor do ato. Este recurso terá de ser interposto no prazo de trinta dias
a contra da notificação do ato.
O recurso terá de ser entregue na entidade que efetuou o ato, que deve analisar o
recurso, fazendo-o, no prazo de quinze dias, subir ao mais alto superior hierárquico, tendo ainda
que elaborar um parecer que acompanhara o recurso. A entidade que praticou o ato pode decidir
revoga-lo total ou parcialmente (art. 66.º, nr.º 4, do CPPT).
Regra geral, o recurso hierárquico tem efeito meramente devolutivo. Quando a lei,
excecionalmente, atribua efeito suspensivo ao recurso, este limita-se à parte da decisão
contestada (art. 67.º do CPPT).
Nos termos do nr. 5 do art. 66.º do CPPT, o prazo máximo de decisão do recurso é de
sessenta dias. Após este prazo, se não houver resposta, presume-se o indeferimento tácito. De
acordo com as palavras de JORGE LOPES DE SOUSA: “Fica, assim, afastada a aplicação da
30
Relatório de estágio
regra geral nesta matéria que consta do art. 175.º do CPA20, não só quanto ao prazo normal
para decisão aí fixado (30 dias), como quanto à possibilidade de elevação do prazo até 90 dias,
quando haja lugar à realização de nova instrução ou de diligencias complementares”.
Se a decisão do recurso não for favorável, o contribuinte pode recorrer aos tribunais
judiciais, exceto se já tiver impugnado judicialmente a mesma questão (art. 76.º, nr. 2 do CPPT).
3. Enquadramento prático
Maria quando recebeu notificação para liquidar (anexo II) imposto referente a IRS
percebeu que tal liquidação que lhe era pedida não preenchia os requisitos legais. Não aceitando
que era devedora, Maria, decide impugnar a decisão da administração tributária através de
reclamação graciosa (anexo III). Respeitados os 120 dias que a lei estabelece como prazo para
tal realizar tal impugnação.
A administração tributária na reposta danda dentro dos limites legais, acaba por
arquivar o processo, dando resposta favorável a Maria (anexo IV).
Imagine-nos que, não obtivesse resposta favorável, Maria teria de no prazo de 30 dias
de entregar na entidade que elaborou a resposta à reclamação graciosa, o recurso dessa decisão,
tendo essa entidade de analisar o caso e elaborar um parecer e no prazo de 15 dias levar o
recurso até ao superior hierárquico, que neste caso seria o ministério das finanças.
Maria teria de esperar até ao máximo de 60 dias, após a entrega do recurso, para obter
resposta ministério das finanças. Caso, mesmo em recurso, não obtivesse resposta favorável À
sua pretensão poderia recorrer aos tribunais judiciais.
20
Norma que agora corresponde ao atual 198.º do CPA.
31
Relatório de estágio
Conclusão
O estágio permitiu-me aprofundar matérias que até então me eram praticamente
desconhecidas, com as atividades que desenvolvi ao longo das 182 horas enriqueci bastante a
nível pessoal e profissional. Foi uma experiência enriquecedora pois apliquei na prática alguns
dos conhecimentos adquiridos ao longo da formação académica, nomeadamente, em matérias
relacionadas com o Direito do Notariado e Direito das Execuções. A entidade que me acolheu
sempre fez questão que os acompanha-se em todo o tipo de trabalhos por eles prestados, tendo
isto contribuído em muito para o enriquecimento referido supra.
32
Relatório de estágio
Referências bibliográficas
DIOGO FREITAS DO AMARAL, Curso de Direito Administrativo, Volume I,
Almedina, 4.ª edição, 2015
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, editora almedina, 7.ª edição, 2012
JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, editora almedina, 9.ª edição, 2016
33
Relatório de estágio
Jurisprudência
Supremo Tribunal Administrativo
34
Relatório de estágio
Artigos de revistas
SOFIA GONÇALVES GOMES, Contribuintes e administração fiscal: reclamação
graciosa in Revista vida económica, 13-02-2009, p. 36
35
Relatório de estágio
ANEXOS
36
Relatório de estágio
Anexo I
37
Relatório de estágio
38
Relatório de estágio
39
Relatório de estágio
40
Relatório de estágio
41
Relatório de estágio
42
Relatório de estágio
43
Relatório de estágio
Anexo II
44
Relatório de estágio
45
Relatório de estágio
Anexo III
46
Relatório de estágio
47
Relatório de estágio
48
Relatório de estágio
49
Relatório de estágio
Anexo IV
50
Relatório de estágio
51
Relatório de estágio
52
Relatório de estágio
53
Relatório de estágio
54
Relatório de estágio
Conteúdo
Introdução .................................................................................................................... 5
1 – Conceito de imposto........................................................................................... 7
7. Deduções à coleta............................................................................................... 12
4 – Legitimidade .................................................................................................... 18
55
Relatório de estágio
Conclusão ................................................................................................................... 31
Jurisprudência ............................................................................................................ 33
ANEXOS ................................................................................................................... 35