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DO PASSADO FETICHIZADO AO ESPAÇO CONTESTADO DA CIDADE:

PATRIMÔNIO URBANO ENTRE O LOCAL E O GLOBAL EM BELO


HORIZONTE-MG

FROM THE FETISHIZED PAST TO THE CONTESTED CITY SPACE:


URBAN HERITAGE BETWEEN LOCAL AND GLOBAL IN BELO
HORIZONTE-MG
Eixo Temático: Instituições e sociedade: global, nacional e local

Luiz Henrique Assis Garcia

Doutor em História Social da Cultura pela UFMG. Professor da ECI/UFMG e Coordenador do


ESTOPIM/UFMG.
lhag@ufmg.br

Rita Lages Rodrigues

Doutora em História Social da Cultura pela UFMG. Professora da EBA/UFMG e Coordenadora do


ESTOPIM/UFMG.
ritalagesrodrigues@gmail.com

Tito Flávio Rodrigues de Aguiar

Doutor em História Social da Cultura pela UFMG. Arquiteto e Urbanista pela UFMG. Professor do
DEARQ/Escola de Minas/UFOP. Pesquisador do ESTOPIM/UFMG.
titoflavioaguiar@gmail.com

Elena Lucía Rivero

Mestre em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável pela UFMG. Pesquisadora do ESTOPIM/UFMG.


elenaluciarivero@gmail.com

João Marcos Veiga

Mestre em História Social da Cultura pela UFMG. Pesquisador do ESTOPIM/UFMG.


joaomarcosveiga@gmail.com
Resumo:
Nosso objetivo é analisar o lugar do patrimônio edificado como parte destacada das estratégias de
requalificação urbana. Interessa-nos discutir de que maneira os discursos do patrimônio incorporam e
constroem representações tanto de cidade quanto da História como forma específica de compreensão da
transformação do espaço e suas apropriações pelos citadinos. Consideraremos como isto se insere numa
perspectiva da globalização, na maneira como as intervenções estandardizam o espaço urbano, ainda que
modulada em termos locais. Em Belo Horizonte, a partir da década de 1980, lugares de forte significação
social e simbólica, como a Praça da Estação, a Rua da Bahia e a Praça da Liberdade, vêm sendo alvo de
projetos executados pelo poder público em consórcio com a iniciativa privada que concebem e praticam
uma concepção cristalizada de História a ser reverenciada, uma centralidade a ser retomada, uma
experiência urbana a ser enaltecida e vivenciada, em detrimento de outras. Inicialmente analisamos os
projetos de requalificação e os discursos legitimadores construídos através das falas oficiais e dos meios
massivos de comunicação. Mostramos como projetos e políticas públicas costumam desconsiderar as
comunidades locais, impondo modelos concebidos em badalados escritórios de arquitetos do star system
globalizado. A partir da reflexão de Viñas (2003), consideramos que tais políticas não se mostram capazes
de dar voz e lugar à diversidade, no máximo convivem com ela, apesar das tentativas frustradas de varrê-la.
Num último momento, na passagem do projeto concebido ao espaço experienciado, constatamos as
fissuras das tentativas de homogeneizar a cidade. Observamos isso tanto em resistências mais organizadas
institucionalmente, como movimentos sociais e mobilizações, ou nos "contra-usos" que captamos nos
trabalhos em campo. Apontamos finalmente a necessidade de rever a forma como tais políticas construídas,
para que não se descartem outras leituras do patrimônio e da própria cidade como palco de vivência social
e política.

Palavras-chave (título em negrito): Patrimônio Cultura, Urbanismo, Belo Horizonte, Globalização.

Abstract
Our objective is to analyze the place of built heritage as a prominent part of the strategies of urban
requalification. We are interested in discussing how heritage discourses incorporate and construct
representations of both city and history as a specific form of understanding the transformation of space and
its appropriations by city dwellers. We will consider how this is part of a globalization perspective, in the way
in which the interventions standardize the urban space, even if modulated in local terms. In Belo Horizonte,
since the 1980s, places of strong social and symbolic meaning, such as Estação Square, Bahia st. and
Liberdade Square, have been the target of projects carried out by the public power in consortium with private
initiative who conceive and practice a crystallized conception of History to be reverenced, a centrality to be
retaken, an urban experience to be extolled and experienced, to the detriment of others. Initially, we analyze
the requalification projects and the legitimating discourses constructed through official statements and mass
media. We show how projects and public policies tend to disregard local communities, imposing models
designed in trendy offices of architects of the globalized star system. From the reflection of Viñas (2003), we
consider that such policies do not show themselves capable of giving voice and place to diversity, at most
living with it, despite the frustrated attempts to sweep it. At the last moment, in the passage from the project
conceived to the space experienced, we see the fissures of the attempts to homogenize the city. We observe
this both in more institutionally organized resistances such as social movements and mobilizations, or in the
"counter-uses" that we capture in fieldwork. We finally point out the need to review the way these policies are
constructed, so as not to discard other readings of the patrimony and of the city itself as a stage of social and
political experience.

Keywords (título em negrito e itálico): Built Cultural Heritage,Urbanism, Belo Horizonte,Globalization


DO PASSADO FETICHIZADO AO ESPAÇO CONTESTADO DA CIDADE:
PATRIMÔNIO URBANO ENTRE O LOCAL E O GLOBAL EM BELO
HORIZONTE-MG

O trabalho tem como objetivo analisar o lugar do patrimônio edificado como parte destacada de
estratégias de requalificação urbana. Interessa-nos discutir de que maneira os discursos do
patrimônio incorporam e constroem representações tanto de cidade quanto da História como
forma específica de compreensão da transformação do espaço e da atribuição de sentido ao
tecido urbano e suas apropriações pelos citadinos. Consideraremos como isto se insere numa
perspectiva da globalização, na maneira como as intervenções ‘traduzem’ (HALL, 2009: 58) uma
proposta que estandardiza o espaço urbano, modulando-a em termos locais, e,
concomitantemente, nas adaptações e reações cotidianas dos citadinos que transtornam as
pretensões hegemônicas do Estado e do Mercado, no que podemos considerar como "contra-
usos" (LEITE, 2007).

Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, apresenta-se como espaço privilegiado para a
observação destes aspectos nas últimas quatro décadas, marcadas por processos urbanos de
intensificação de uso e disputa pelo espaço público em lugares de forte significação social e
simbólica, como a Praça da Estação, a Rua da Bahia e a Praça da Liberdade. A partir da década
de 1980, eles vêm sendo alvo de projetos executados pelo poder público em consórcio com a
iniciativa privada que concebem e praticam uma concepção cristalizada de História a ser
reverenciada, uma centralidade a ser retomada, uma experiência urbana a ser enaltecida e
vivenciada, em detrimento de outras. Edificações, monumentos e museus que hoje se destacam
na paisagem urbana de tal cidade são depositários desse processo que pode ser interpretado
através da tríade proposta por Lefebvre (2001): o percebido (apreensão por meio dos sentidos), o
concebido (o espaço presumido pelo pensamento e ligado à produção de conhecimento) e o
vivido (a dimensão experimentada pelos sujeitos na prática da vida cotidiana). Além destas
questões, a problematização da conservação destes bens encontra ecos na discussão
contemporânea de teóricos como Salvador Viñas, pois compreendemos que a preservação dos
bens patrimonializados, assim como sua própria patrimonialização, só pode ser realizada através
de uma teoria crítica que subsidie a ação.

POSSIBILIDADE TEÓRICA: SALVADOR MUÑOZ VIÑAS E A TEORIA CONTEMPORÂNEA DA


RESTAURAÇÃO

A partir da reflexão de Salvador Muñoz Viñas (2003) sobre o objetivo dos processos de
intervenção em bens do patrimônio cultural, podemos, por extensão, considerar que para projetos
de requalificação urbana ou de revitalização serem eficazes é preciso ter em conta o caráter
simbólico ou comunicativo dos espaços da cidade, que são objetos desses projetos. E é preciso
também considerar os valores que dizem respeito aos usuários, presentes e futuros, desses
espaços. Como destaca Silvio Mendes Zancheti (2014), os valores simbólicos, que atribuem
significados aos objetos ou reforçam significados dos objetos, devem ter tanto peso nas decisões
relativas à conservação quanto valores documentais, que tomam o objeto como testemunho de
épocas passadas, e valores instrumentais, associados ao desempenho do objeto na sociedade,
como um elemento funcional.

Ao se avaliar criticamente a eficácia de processos de requalificação ou de revitalização de áreas


urbanas ou bairros é preciso refletir sobre os valores que dirigiram e dirigem as decisões de
planejamento e projeto relativas à produção dos espaços da cidade.

De forma ampla, esses valores têm sua origem em abordagens políticas e econômicas. Mas
articuladas a essas abordagens, podemos verificar a constante presença de valores culturais.
Assim, a decisão básica de construir uma nova capital para Minas Gerais foi, sem dúvida,
essencialmente tomada no balanço entre posições políticas e econômicas, como nos apontam
vários autores, como Maria Efigênia Lages de Resende (1974, p. 129) e Marshall Eakin (2001, p.
19). Esse processo, dinâmico, configurou a criação da nova cidade como um projeto de
modernização regional em bases urbanas e industriais na última década do século XIX (AGUIAR,
2006, p. 62). Mas não resta dúvida que esse projeto político foi condicionado também por
concepções de cidade, por imagens que exprimiam valores culturalmente construídos. A Paris da
reforma urbana de Haussmann seria, talvez, a mais potente dessas imagens (AGUIAR, 2006, p.
77). Por sua vez, a implantação dos espaços da cidade e as sucessivas transformações a que
esses espaços foram submetidos também podem ser compreendidas como processos marcados
pela interação entre tomadas de decisões políticas e econômicas, permeadas por valores sociais
e culturais. Nesses processos, a gestão urbana se fez evidenciando novas formas de uso dos
espaços urbanos, muitas vezes com a proscrição de práticas vistas como ultrapassadas ou
inadequadas e com o incentivo a condutas tidas como modernas (AGUIAR, 2006, p. 188).

Ao longo do tempo, o peso dos valores culturais nas decisões relativas aos processos de
transformação dos espaços da cidade nunca deixou de ser significativo, ainda que muitas vezes
não reconhecido explicitamente. Valores essencialmente simbólicos e, portanto, culturais, muitas
vezes estiveram na base de decisões técnicas ou políticas, que foram apresentadas como
moldadas pela busca de racionalidade ou de funcionalidade. Isso permanece nos dias de hoje e,
como salienta Leonardo Barci Castriota,

[...] as decisões sobre a conservação do patrimônio sempre lançaram mão,


explícita ou implicitamente, de uma articulação de valores como ponto de
referência: em última instância vai ser a atribuição de valor pela comunidade ou
pelos órgãos oficiais que leva à decisão de se conservar (ou não) um bem cultural.
(CASTRIOTA, 2009. p. 93).

Especificamente nos processos de requalificação urbana ou de revitalização de partes da cidade,


a influência de valores culturais na tomada de decisões, tanto estratégicas quanto táticas, é
significativa. Devemos considerar que esses processos são intervenções em bens do patrimônio
cultural. E precisamos reconhecer que a ênfase em decisões tomadas com base em parâmetros
que buscam evidenciar formas artísticas e vínculos com o passado marca esses processos,
ecoando premissas consagradas nas teorias clássicas do Restauro, em especial a “dúplice
polaridade estética e histórica” tão cara a Cesare Brandi (2008, p. 30). Nesse ponto, é importante
considerar, na avaliação dos processos de requalificação e revitalização, as abordagens
contemporâneas do campo da Conservação e do Restauro, que de fato criticam os critérios
preconizados nas teorias clássicas desse campo sem, contudo, descartá-las de todo. Essas
abordagens, ainda que fragmentárias, configuram o que Salvador Muñoz Viñas define como a
Teoria Contemporânea da Restauração (MUÑOZ VIÑAS, 2003). Interessa refletir sobre esses
processos a partir desse pensamento contemporâneo, que justamente busca suplantar a dúplice
polaridade estética e histórica brandiana definindo os objetos dos processos de restauração, de
forma ampla, pela aplicação de dois valores essencialmente culturais: o valor simbólico e o valor
historiográfico (MUÑOZ VIÑAS, 2003, p. 79-81).

Em sua sistematização do pensamento contemporâneo no campo da Conservação e do Restauro,


publicada em 2003, Muñoz Viñas nos aponta a existência de uma teoria em “um estado difuso”,
ao contrário das teorias clássicas, que têm seus textos canônicos (Brandi, Boito, Giovannoni,
Viollet-le-Duc, Ruskin, entre outros). Essa teoria contemporânea se apresenta dispersa em
contribuições de autores diversos, de uma forma muito fragmentária, muitas vezes marginal ou
implícita. Essa fragmentação reflete a diversidade do campo da conservação e do restauro, um
mundo heterogêneo em que convivem “estados de pensamento” variados, que se contaminam e
se articulam, tornando impossível tentar sistematizar esse pensamento de modo diacrônico.
Segundo Muñoz Viñas, a fragmentação é uma desvantagem. Mas a teoria contemporânea
apresenta instrumentos conceituais mais flexíveis que os das teorias clássicas e permite
compreender melhor os problemas que hoje se apresentam para os restauradores e as pessoas
afetadas pelos trabalhos de conservação e restauração. (MUÑOZ VIÑAS, 2003, p. 13-14).

Nessa teoria contemporânea, os objetos dos processos de conservação e de restauração são


definidos com base em dois valores fundamentais e em uma condição. A condição é estarem
expostos a um dano potencial ou apresentarem um dano real (MUÑOZ VIÑAS, 2003, p. 79).
Nesse sentido, trechos urbanos a serem requalificados ou revitalizados enquadram-se nessa
condição. Na requalificação, demandam-se ações que podem ir da reinserção de edificações ou
espaços públicos em vazios urbanos até grandes obras urbanísticas. E na revitalização, buscam-
se recuperar e reutilizar trechos urbanos degradados ou sem vida (MIRANDA, ARAÚJO, ASKAR,
2009, p. 166-168).

Os dois valores fundamentais para discernir quais são os objetos dos processos de conservação e
de restauração são: um valor simbólico, que tanto pode ser pessoal quanto social, que os sujeitos
projetam sobre esses objetos; e um valor historiográfico. O valor simbólico é culturalmente
construído. Sendo atribuído ao objeto por grupos e indivíduos, esse valor simbólico costuma ser
distinto do valor que o objeto possuía ao ser produzido. (MUÑOZ VIÑAS, 2003, p. 79). Já o valor
historiográfico ou documental diz respeito à capacidade de um determinado objeto servir como
documento para disciplinas que estudam culturas distantes, no tempo e no espaço (MUÑOZ
VIÑAS, 2003, p. 60). Portanto, pode-se afirmar que os processos de conservação e de
restauração se ocupam de objetos que simbolizam uma cultura, uma identidade, pensamentos
pessoais ou coletivos. São objetos diversos, com natureza e origem variada. A soma desses
valores e a existência de um dano, real ou potencial, definem um umbral de restaurabilidad, ou
patamar de restaurabilidade, que justifica tomar um bem cultural como objeto de restauração
(MUÑOZ VIÑAS, 2003, p. 79).

De modo bem próximo ao pensamento sistematizado por Muñoz Viñas, Silvio Mendes Zancheti,
ao discutir a aplicação da teoria contemporânea da conservação 1 à arquitetura, em especial à

1
Zancheti, talvez por trabalhar com uma tradução inglesa da obra de Muñoz Viñas, prefere usar o termo Conservação
em lugar de Restauração.
arquitetura moderna, aponta que os valores de um objeto arquitetônico são de três tipos: valores
instrumentais, relativos ao desempenho do objeto, à sua dimensão funcional, sendo que “não
existe uma função social despregada de um contexto cultural”; valores simbólicos, relativos aos
significados atribuídos aos objetos, que são, nesse caso, “signos materiais”; valores documentais,
que assinalam a passagem do tempo. (ZANCHETI, 2014, p. 3). Zancheti reconhece que,
historicamente, os valores instrumentais parecem ter peso menor nas decisões relativas à
Restauração, mas salienta a importância de levar em conta esses valores, uma vez que a
conservação dos edifícios está diretamente ligada ao uso contínuo ou a novos usos que podem
ser atribuídos a esses objetos (ZANCHETI, 2014, p. 4).

Dois pontos precisam ser enfatizados na Teoria contemporânea da Restauração. Primeiro, uma
vez que o objeto da restauração é definido pelo seu valor simbólico ou pelo seu valor documental,
o processo da restauração visa especificamente atuar sobre esse objeto de modo a resgatar sua
eficácia como símbolo. Como o valor simbólico é atribuído pelos sujeitos da restauração, ou seja,
pelas pessoas e grupos alcançados, no presente e no futuro, pela restauração, chega-se ao
segundo ponto a ser destacado: a restauração não para o objeto em si, é feita para os usuários do
objeto, para os sujeitos. E são esses sujeitos que deverão validar ou não esse processo. (MUÑOZ
VIÑAS, 2003, p. 175-176). No caso dos processos de requalificação e de revitalização de trechos
urbanos, essas intervenções devem, no quadro da Teoria contemporânea da Restauração, levar
em conta tanto a eficácia desses trechos como símbolos ou como documentos quanto o fato de
que sua validade deverá ser definida pelos seus usuários, presentes ou futuros.

Inicialmente analisamos os projetos de requalificação e os discursos legitimadores construídos


através das falas oficiais e dos meios massivos de comunicação. Nesses projetos identificamos
algumas etapas e características comuns. Consideramos que as intervenções começam antes
mesmo dos projetos e obras, principalmente enquadrando a representação do local objeto da
intervenção através de uma "retórica da perda" (GONÇALVES, 2004), instalando assim a
necessidade de uma revitalização como solução única e indiscutível para reverter esse processo
de "degradação" e "decadência" cuja percepção é naturalizada. Em suma, os projetos e suas
obras de implantação fazem tábula rasa do passado enquanto propõem enobrecer os espaços
urbanos, desconsiderando os usos estabelecidos e não reconhecendo a presença de
comunidades (JEUDY, 2005; LEITE, 2007; entre outros), o que é pontuado também por Salvador
Muñoz Viñas, ao estabelecer a importância do valor simbólico. Mostramos também como os
projetos e as políticas públicas costumam desconsiderar as comunidades locais, impondo
modelos concebidos em badalados escritórios de arquitetos do star system globalizado.
Investigamos a visão pasteurizada do passado eleito nos projetos e as tentativas de restituir “tal e
qual eram” ruas, praças e edificações integradas na paisagem, e como isso representa uma
fetichização do patrimônio e do passado mesmo, incluindo até o ‘traço’ local da História numa
perspectiva algo "disneyficada" (ZUKIN, 1999). Justamente aquilo que a História tem de distintivo
e conectado à experiência da comunidade é apagado quando se quer “enquadrar” a proposta no
modelo padronizado das requalificações urbanas. Nada desconsidera mais os valores históricos e
simbólicos do que a pasteurização dessas requalificações.

Nessa construção de representações, a imprensa cumpre um papel fundamental, enaltecendo e


promovendo por meio de infografias atraentes os projetos para o espaço, ao mesmo tempo que
antecipa e delimita os novos usos esperados. Outra etapa é a da realização das obras, momento
que tem sido pouco estudado e que constitui parte fundamental do processo de transformação e
reconfiguração desses espaços enquanto lugares socialmente construídos, tendo em vista
igualmente interrupções, retomadas e reconfigurações dos projetos originais frente às alternâncias
do poder executivo. A partir da observação e do acompanhamento dessas intervenções urbanas
identificamos, por exemplo, que o tempo de duração das obras é uma variável fundamental, pois
quando estas se alongam por um grande período, acabam destruindo toda a dinâmica que só a
experiência dos sujeitos no tempo é capaz de construir. Durante as obras o local fica interditado -
recortado e isolado da trama urbana - e os citadinos são obrigados a refazer seus trajetos na
cidade. Além disso, os pequenos comércios que dependem dessa dinâmica cotidiana têm
dificuldade de sobreviver e muitas vezes acabam fechando as portas. Como Lefebvre (2001: 19-
20) observa em relação aos antigos centros, eles “não contêm apenas monumentos, sedes de
instituições, mas também espaços apropriados para as festas, para os desfiles, passeios,
diversões [...]”, eles sobrevivem graças a um duplo papel: lugar de consumo e consumo do lugar.
Mesmo quando a intervenção na matéria urbana é realizada em curto período de tempo, as
mudanças são intensas quando há a remodelação do espaço, pois, muitas vezes, o objetivo de
requalificação vem acompanhado de tornar o espaço mais agradável para determinadas camadas
da população.

UM PASSADO FETICHIZADO E A REFORMA DA PRAÇA DA LIBERDADE

Como já discutimos em outra oportunidade, a história da política de tombamento em Belo


Horizonte precisa ser problematizada (GARCIA; RODRIGUES, 2016). Se a década de 1980 viu
florescer a política de patrimônio em âmbito municipal, na década seguinte articulou-se fortemente
a projetos de intervenção física e simbólica na região central da capital mineira, que ganharam
corpo acompanhando tendências internacionais (JAYME e TREVISAN, 2012, p. 363). Tais
intervenções, invariavelmente denominadas de “revitalizações”, praticavam uma receita já então
consagrada de transformação do espaço urbano para o consumo cultural (ZUKIN, 1999, p. 105),
especialmente das classes economicamente privilegiadas, engendrando neste intuito o que os
estudos de urbanismo denominam alternadamente “enobrecimento” ou “gentrificação” 2.

No escopo desse tipo de projeto, a valorização e recuperação do patrimônio de valor histórico e


cultural integram-se num movimento duplo: globalizado como espaço estandardizado de lazer e
consumo, e relocalizado em viés essencialista e fetichizado como afirmação da identidade e da
tradição (LEITE, 2007, p. 292), e por isso mesmo perpetua-se uma abordagem fachadista ainda
que reinserida no Carlos Fortuna (1997) denominou “conservação inovadora do elemento
tradicional” (apud LEITE, 2007, p. 65).

A Praça da Liberdade, desde a construção da Capital pensada como centro nevrálgico do poder
político, dispondo ao seu redor a sede do Governo estadual e as edificações destinadas às
Secretarias de Estado, sofreu várias intervenções ao longo dos anos, além de muitas vezes ter
sido alvo de projetos ambiciosos que mudariam definitivamente sua fisionomia, que jamais saíram
do papel3. Um marco significativo é o da virada da década de 1980 para a seguinte. A praça era
apropriada de forma intensa por diversas feiras, envolvendo parcelas bem diversas da população,
especialmente aos finais de semana. Esse uso passou a ser contestado por habitantes do
entorno, órgãos de imprensa e especialistas preocupados com os possíveis danos ao conjunto

2
Face às controvérsias em torno da tradução de gentrification, adotamos as duas formas como sinônimas. Explicações
adicionais em Leite (2007, p. 33) e em Jayme e Trevisan (2012, p. 360).
3
Para as que antecedem as relacionadas à implantação do Circuito Cultural, ver Caldeira (1998).
paisagístico da praça. Criou-se assim uma movimentação a favor de uma restauração da praça,
realizada em 1991 com aporte de recursos provenientes de um acordo de compensação por
degradação ambiental na Serra do Curral provocada pela empresa Minerações Brasileiras
Reunidas (MBR)4. O conjunto urbanístico da praça, incluindo a área do entorno, foi tombado pelo
Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-BH), reforçando o
tombamento estadual de 1977 (CALDEIRA, 1998).

Aqui chamamos a atenção para as escolhas dos reformadores daquele momento, explicitadas na
entrevista concedida pela arquiteta responsável pelo projeto, Jô Vasconcelos:

a ideia é restaurar a praça segundo o traçado projetado por Dieberger, em 1920,


recuperando a vocação cultural e cívica, de abrigar em suas alamedas os
principais movimentos nascidos da sociedade civil [...]. Tudo foi feito em cima de
fotos da época, já que praticamente não existe documentação escrita a respeito.
Outras fontes importantes de consulta foram as entrevistas com moradores
antigos de Beagá, que ainda se lembram de como era a praça na ocasião
(CALDEIRA, 1998, p. 2; p. 13)

Se já na planta original a praça trazia essa concepção de espaço cívico como entendido em seu
tempo, é difícil atribuir a esta preocupação a escolha pela década de 1920, ainda mais se
contrapusermos em porte e alcance populacional as manifestações políticas do tempo da
República Velha e do Brasil após a redemocratização, quando as lutas e formas de organização
são outras5. Além disso, o traçado inicial da Praça havia sido realizado ainda pela Comissão
Construtora no momento da construção da capital, na última década do século XX. Se o “apelo à
memória e ao registro fotográfico cumpre a função de emprestar legitimidade ao recordo”
(GARCIA; RODRIGUES, 2016, p.242), ao mesmo tempo parece uma boa forma de retirar o foco
de preferências estéticas, mercadológicas e até subjetivas que revelariam facilmente o caráter
seletivo dessa empreitada, pois a retórica dos reformadores de plantão afirma “[...] um dado
passado selecionado e interpretado de certa maneira como sendo “o” passado, o que só pode ser
feito solapando todos os outros “passados” que não se alinham ao que se pretende converter em
material de consumo no presente” (GARCIA; RODRIGUES, 2016, p.242).

A transferência das secretarias de Estado para a Cidade Administrativa projetada por Niemeyer e
consequente implantação do Circuito Cultural Praça da Liberdade6 a partir da primeira década
deste século, é outro marco notável. Desde a década anterior encontramos falas públicas
aventando esse deslocamento, alegando que os edifícios antigos não comportavam um
funcionamento adequado das secretarias, mas a proposta começou a sair do papel em 2004,
durante o governo Aécio Neves. Era evidente a intenção de fazer da praça a “vitrine” do conceito
de cidade preconizado em seu projeto político (GARCIA; RODRIGUES, 2016, p. 242), propondo
nesse gesto uma conciliação de versões do moderno já consagradas como tradição – o
urbanismo da capital planejada, a arquitetura modernista da década de 1940 - e conceitos
tomados como inovadores afinados ao discurso do planejamento estratégico globalmente

4
Ver o tom de matérias como « Praça da Liberdade: a Bela e a Feira ». Estado de Minas. 2º Caderno. 04/05/1989, p.1;
« A praça da Liberdade está de volta ». Estado de Minas.Turismo. 12/12/1991, 1p.; « Praça da Liberdade, símbolo de
Belo Horizonte é restaurada ». Jornal do Brasil, 18/12/91, 1p. .
5
Ver a pasta Movimentos Sociais de 1988 a 2013, parte B , arquivo do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB).
6
Atualmente redenominado Circuito Liberdade, mas adotaremos aqui a denominação abreviada Circuito Cultural.
difundido. Por isso mesmo a característica mais distintiva da implantação do Circuito Cultural foi o
emprego de parcerias público-privadas, com empresas de porte como Vale, Tim, EBX, Telemar e
Banco do Brasil assumindo obras de restauração e adaptação dos prédios e a gestão das
instituições.

Ao longo da década e do início da seguinte, podemos acompanhar como a implantação paulatina


do Circuito Cultural é profusa em contradições, contestações e interrupções7. Falando
propriamente das reformas e adaptações das edificações, se de um lado emergiu um discurso
oficial, replicado nos jornais, em que se celebra o retorno de um passado perdido no emprego
constante da expressão “resgate”, ou nas comemoradas “descobertas” de pinturas, painéis e
detalhes na remoção de camadas de tinta, de outro surge a contestação da modificação do
volume dos prédios, destruição de paredes e outras alterações, por parte de especialistas e
entidades. Estes reivindicavam, portanto, outros critérios de autenticidade e concepções sobre a
restauração do patrimônio edificado. Há vários embargos de obras nos prédios, resultantes de
acionamentos realizados pelo Instituto de Arquitetos Brasileiros (IAB) junto ao Ministério Público,
alegando infração da legislação de tombamento em nível federal, estadual e municipal. Oliveira
(2009) deteve-se sobre o caso do Museu das Minas e do Metal (MMM), sendo bastante enfático:

Nas propostas de reutilização das antigas edificações da Praça da Liberdade, existem sérios
questionamentos relativos aos usos e programas que estão sendo implantados e à forma
autoritária de condução do processo que está mutilando o patrimônio tombado e inviabilizando a
conservação integral da praça. As intervenções propostas para as edificações tombadas pelo
IEPHA/MG e pelo Município de Belo Horizonte, não visam restaurá-las, mas sim descaracterizam-
nas, na medida em que não respeitam seus espaços internos e suas volumetrias, suas intenções
plásticas e seus ornamentos, os sistemas construtivos e os materiais originais dessas edificações.
(OLIVEIRA, 2009, p. 5)

Ambas as perspectivas não escapam de uma percepção fetichista sobre o passado, ainda que a
primeira esteja mais propensa a transformar alguns de seus traços em índice de legitimação da
venda de um produto de consumo cultural, enquanto o segundo demonstre apego a uma visão
consagrada do patrimônio nas políticas de Estado, tendendo a vê-lo de forma cristalizada e inerte.
Não comungamos de nenhuma delas, por entendermos que o patrimônio cultural deve ser
socialmente significativo e isso implica certo grau de indeterminação sobre seus usos e
apropriações simbólicas, uma vez que a sociedade se transforma historicamente.

A perspectiva da adaptação a novos usos impôs-se e, com a instalação de museus, memoriais e


espaços de exposição, ficou patente a opção pela espetacularidade e pela aparatagem eletrônica
na construção de narrativas que identificavam as instituições nascentes à inovação tecnológica, a
uma visão da cultura como mercadoria e do público como “cliente”. Mais uma vez podemos
recorrer ao exemplo do MMM, cuja operação implicou o descarte de versões indesejadas de
passados institucionais significativos para a própria Praça da Liberdade. Primeiro, porque no
prédio da antiga Secretaria da Educação, em que foi instalado, funcionavam o Museu da Escola,

7
Um registro detalhado das propostas e primeiras repercussões da instalação do Circuito Cultural na imprensa mineira
foi realizado pela bolsista IC Aline D. Santana, sob orientação de Luiz H. Garcia em 2015. A pesquisa foi concentrada
em clippings de notícias reunidos em pastas do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH) e do MHAB. Um
levantamento completo dos projetos e plantas foi realizado pela bolsista IC Vitória Beatriz O. Silva, sob orientação de
Rita Lages Rodrigues.
junto ao Centro de Referência dos Professores do Estado, cujo desmonte em 2006 “(...) gerou
muita insatisfação junto à comunidade acadêmica que possuía uma forte relação afetiva com esse
espaço e acervo” (OLIVEIRA, 2009, p. 21)8. Além disso, parte de seu acervo foi incorporado de
um museu público, o Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, que funcionava em
outra edificação da mesma praça. Ainda que isto estivesse creditado através de legendas, só mais
recentemente o museu adotou um conteúdo explicativo mínimo para dar a saber ao público a
procedência desse acervo. Em todas as instituições do Circuito Cultural, um relativo silenciamento
é promovido quanto aos usos precedentes das edificações e maiores detalhes de sua História,
costumeiramente reduzidos a informações breves em panfletos ou totens eletrônicos
discretamente posicionados nas entradas, que passam muitas vezes ao largo dos roteiros de
visitação. É como se a História pudesse ser contada direta e infalivelmente pelos detalhes
arquitetônicos e adornos artísticos, sem necessidade de interpretação ou contextualização.

PRAÇA DA ESTAÇÃO

Concebida desde a fundação da nova capital de Minas Gerais (1897) como porta de entrada da
cidade, em vista do funcionamento da Estação Central de Trens, a Praça da Estação passou por
vários momentos, mas sempre foi um local de intensa vida urbana e uma referência no imaginário
da cidade. As transformações nos seus usos e formas de apropriação ao longo do tempo
evidenciam diversos momentos na produção do espaço urbano da capital, nesse sentido, os
projetos e conflitos em torno da praça apresentam os embates entre diversos projetos de cidade.

Os primeiros debates em torno da Praça da Estação surgem na década de 1980 em um contexto


marcado pelo conflito preservação versus progresso. O mau estado de conservação do espaço e
a perda de suas funções originais são vistas como o resultado da falta de um planejamento e a
consequência de um desenvolvimento econômico que foi na contramão de uma melhoria na
qualidade de vida das pessoas, causando a perda de áreas de lazer em função da ampliação de
vias como solução ao tráfego.

Após o tombamento da Praça de Estação em 1988 como parte de um Conjunto Arquitetônico


começam a ser desenhadas as propostas para o espaço com o objetivo de revitalizar o local.
Podemos caraterizar os primeiros projetos para o espaço como uma serie de iniciativas isoladas
destinadas, principalmente, a conversão dos antigos predios do entorno da praça em
equipamentos culturais - o primeiro seria o Centro Cultural de Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) no antigo predio da Escola de Engenharia em 1989. Embora a ausencia de um
único projeto observamos um discurso recorrente: a possibilidade de criar ali uma zona cultural
com o objetivo de revitalizar, partindo da praça e dos predios do entorno, toda a área do “baixo
centro” associada cada vez mais a uma visão de deterioração física e perda de importância
simbólica (LEMOS, 2010). Segundo Jayme e Trevisan (2012), trata-se de uma tendência
internacional e nacional de projetos de intervenção sob parâmetros urbanísticos e de afirmação do
caráter de experiência social e cultural em regiões centrais. Na época a praça era caraterizada na
impresa como um “ponto de encontro dos esquecidos e cidadãos comuns” (GOUTHIER, 1994,

8Ver ainda REIS, Sérgio Rodrigo. Museu da Escola, que funcionava na Praça da Liberdade, foi transferido para o Bairro
Gameleira. Estado de Minas, Caderno EM Cultura, 08/05/2012.
p.24) e como contraponto desse imagem era acionado um pasado no qual a Praça da Estação
desempenhava o papel de “cartão postal” da cidade.

Os projetos arquitetônicos de revitalização concretizam-se nos anos 2000 e mudam o eixo da


problemática da preservação patrimonial para a questão da revitalização do espaço público e dos
usos do local, sendo um dos objetivos do projeto a criação de uma “praça cívica e para eventos”.
As pesquisas de campo revelam que a implementação desses projetos não implicaram,
necessariamente, um processo de gentrificação nem um esvaziamento do espaço público. Houve,
a bem dizer, uma reordenação da lógica interativa dos sujeitos e coletivos, uma apropriação do
espaço mediante a construção de lugares.

A partir da eclosão de um movimento de ocupação do espaço público em 2010 denominado “Praia


da Estação”, a Praça da Estação vai exercer um lugar de destaque nos debates em torno da
mercantilização dos espaços públicos e do direito a cidade. O movimento de ocupação da praça
surgiu um mes após um decreto que proibia a realização de eventos no local a partir de uma
manifestação convocada pelas redes sociais. A ocupação local por meio dos eventos
manifestação fazem da praça um espaço de representação da festa e da luta. Suas
características permitem colocá-la em diálogo com os movimentos ocuppy a nível mundial,
principalmente pelo uso das redes sociais como forma de mobilização e também pela ausência de
partidos, sindicatos e organizações de massa tradicionais em sua atuação. Os debates e as
intervenções artísticas (FIGURA 1) reforçam um diálogo no qual a praça vai ganhando novas
camadas de sentido, transformando-a num símbolo de uma disputa mais ampla em torno do
direito à cidade.

Figura 1 Cartaz “Okupe a Cidade” na Praça da Estação.


Fonte: PRAÇA DO ESPAÇAO, 2010.

Nos debates da época já era colocada a questão dos megaeventos como um fator de
transformação do espaço urbano. Assim, durante a realização da Copa das Confederações
(2013) uma imagem da Praça da Estação, utilizada como espaço fan fest da FIFA, foi contraposta
à comemoração dos três anos da Praia da Estação (FIGURA 2).

Figura 2 “Selvageria / Democracia”Fonte: MELO, 2014, p. 102.

O contraste das imagens procura ressaltar, de um lado, um espaço aberto à multidão em festa,
imagem muitas vezes estigmatizada pelo poder público como sinônimo de “desordem”,
“selvageria”; e de outro, um espaço fechado e saturado de símbolos de consumo, um espaço
“ordenado” e celebrado como símbolo da “democracia”.

Durante a Copa do Mundo foi realizada na Praça da Estação a edição numero 7 da Ocupação: 'O
Futebol é do povo'. A ocupação é um evento que têm como principal objetivo a 'reivindicação do
uso do espaço público’. O evento manifestação vem sendo realizado em diversos locais e em
dialogo com a cidade, sempre com o objetivo de denunciar ou alertar sobre problemáticas urbanas
e como uma forma de usufruir a cidade e seus espaços públicos. No contexto da Copa essa pauta
foi ressignificada com o objetivo de 'resgatar o verdadeiro sentido popular e lúdico do futebol arte’.
Assim em sua sétima edição, a Ocupação propôs a realização de um campeonato de futebol de
rua na praça da estação. Segundo os organizadores:

Atingidas e atingidos pela Copa vão ‘resgatar o verdadeiro sentido popular e lúdico
do futebol arte, que se difunde dos campinhos de terra e nas ruas, com direito a
tropeirão dos barraqueiros do mineirão, juiz palhaço e geral na torcida! Nosso
futebol é do povo e não aceita a FIFA não! Monte sua seleção e participe! (A
OCUPAÇÃO #7, 22 Jun. 2014)
Foram penduradas várias faixas em distintos pontos da praça (FIGURA 3) que deram visibilidade
para algumas das pautas dos diversos movimentos de luta urbana e que alertaram sobre as
mudanças que o megaevento operou sobre o futebol, enquanto elemento da cultura local, material
simbolicamente.

Figura 3: O futebol é nosso. Fonte: Foto Elena Rivero

A Praça da Estação foi assim suporte e local de visibilidade dos diversos grupos que participaram
da ocupação: o Comitê Popular dos Atingidos pela Copa (COPAC), Ocupação Eliana Silva, Tarifa
Zero e Brigadas Populares, grupos que representam, de alguma maneira, as diversas pautas em
torno do direito a cidade: transporte, moradia e luta contra os despejos.

RUA DA BAHIA

A Rua da Bahia, via que faz a ligação entre as praças da Estação e da Liberdade, do centro ao
bairro de Lourdes (região sul), ancora-se no imaginário da cidade de Belo Horizonte por um
passado de centralidade social e cultural construída até a década de 1930 e reafirmada
posteriormente, seja na literatura, na imprensa ou na memória social difundida pelos citadinos.
Cumpre papel determinante neste processo a atuação da gestão patrimonial, que assume o papel
não só de preservação de edificações dignificadas por critérios específicas, mas também ao
delimitar um recorte do passado a ser propalado como subsídio histórico para intervenções
diversas no espaço público, como monumentos e projetos de articulação social. No caso da Rua
da Bahia, é possível identificar um foco de atuação do poder público municipal em ações ao longo
das décadas de 1990 e 2000, resultando, no entanto, em proposições descontínuas em distintas
administrações. A partir de nossas pesquisas, é possível constatar que a paisagem urbana atual é
fruto dessas intervenções erráticas, muitas vezes em descompasso com uma visão mais
abrangente de história urbana e mesmo da dinâmica social que atravessa a vivência cotidiana, de
caráter plural e de difícil apreensão, sobretudo por discursos totalizantes e fetichizados da cidade.

Desde a década de 1980, o centro de Belo Horizonte passou a ser alvo de propostas de
recuperação, tendo como ponto de partida um diagnóstico de deterioração física e social,
abarcando nessa linha tanto a má conservação de edificações históricas e vias quanto a poluição
visual, a insegurança e a mendicância, numa perspectiva de "referencial perdido" (LEMOS, 2010).
Ao final de tal década, torna-se simbólica a ação de tombamento do Conjunto Paisagístico e
Arquitetônico Praça da Estação pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas
Gerais (IEPHA), em 1988. Apesar da Praça da Estação ser parte da Rua da Bahia, tal via passa a
receber proposições específicas somente na década seguinte, ainda que em 1983 tenha sido
protagonista de um conflito entre interesses privados, uso social e a atuação da ainda incipiente
gestão municipal do patrimônio, culminando na demolição do Cine Metrópole, símbolo de
sociabilidade na cidade ao longo de quatro décadas (SANTA ROSA, 1993).

Em 1993 a Prefeitura de Belo Horizonte, através da Administração Centro-Sul e da então


Secretaria Municipal de Cultura apresentou o "Projeto Rua da Bahia" (Portaria 3.260 - 25/05/93),
com propostas de intervenção urbanística visando uma recuperação sociocultural da rua. Apesar
dos conceitos técnicos, a argumentação do projeto trazia um claro recorte de um período histórico
a ser enaltecido como momento áureo de tal via, cujas características deveriam nortear uma
devolução da dignidade e do "despertar para um novo tempo" (BELO HORIZONTE, 1993, p. 44).
O período tido como emblemático seria a década de 1920, lembrada pela prosa e poesia dos
modernistas mineiros que frequentavam cafés, bares e cinemas de tal via, a saber: Carlos
Drummond de Andrade, Pedro Nava e amigos. "Como sabemos, a rua adquiriu, nas primeiras
décadas da história de Belo Horizonte, uma importância singular. [...] Desta maneira, será possível
restituir a sua tradicional função social." (BELO HORIZONTE, 1993, p. 40).

A delimitação de uma "centralidade perdida", conectando preceitos de identidade e lugar (LEITE,


2004, p. 40) apresenta-se como parâmetro decisivo para diversas intervenções de valorização do
patrimônio, principalmente a partir da década de 1990. Essa articulação em busca de uma
"singularidade" de locais históricos também pode ser vista num contexto de articulação do global e
local. Assim como ocorria internacionalmente e a nível nacional em capitais como Recife e
Salvador, a retomada dessas centralidades agiria num contexto de competição entre cidades,
aptas a oferecer um consumo histórico assimilável para diferentes públicos, consumidores e
turistas. A Rua 24 horas de Curitiba, no Paraná, ascendia assim como modelo para algo
semelhante na capital mineira. A aposta em conceitos de city marketing (ARANTES, 2002), desse
modo, evidencia-se como algo tão ou mais importante que a pesquisa histórica e o envolvimento
das comunidades envolvidas, na maioria das vezes desconsiderada em empreendimentos do tipo,
como alertam autores como Zukin (2000) e Leite (2004).

Além da despoluição visual e recuperação de fachadas, o projeto de 1993 da PBH propunha


ações como estímulo à abertura de bazar de antiguidades, cinema e construção de espaços de
projeção da memória da rua, como "Caminho dos Jornalistas" e "Largo dos Poetas', assim como o
funcionamento de uma propalada rua 24 horas, articulando espaços comerciais e artísticos. Nos
anos seguintes, projetos de envolvimento comunitário (como Calendário Cultural) e intervenções
diretas na via foram articuladas de forma irregular com relação ao projeto original e ao sabor das
administrações municipais. Em 1995 foi inaugurado o Monumento em Homenagem a Rômulo
Paes, uma grande placa de metal fundido no cruzamento com a Avenida Álvares Cabral, trazendo
a frase "Minha vida é esta, subir Bahia, descer Floresta", atribuída o escritor mineiro. No ano
seguinte, é designado o Conjunto Rua da Bahia, consequência das ações de tombamento em
larga escala realizadas pelo departamento municipal de patrimônio ainda em 1994. Em 1998 é
instituído por lei o Eixo Cultural Rua da Bahia Viva e, na década seguinte, em 2003, instaladas
estátuas em bronze de Drummond e Nava no cruzamento com a rua Goiás, onde antes se
localizava o Teatro Municipal e redações de jornais.

Simbolicamente, o Conselho Consultivo do Eixo Cultural Rua da Bahia Viva, criado em 1998,
deixou de ser convocado em 2000, por falta de estrutura adequada (SCHNEIDER, 2004, p. 32) e
como resultado do esvaziamento dos debates em torno da questão e do desinteresse da gestão
municipal em ter tal via como protagonista de ações no centro da cidade. Nesse sentido, projetos
como 4 Estações (2000), Centro Vivo (2004) e Plano de Reabilitação do Hipercentro (2007)
passaram a focalizar as intervenções em caráter mais amplo na região, sem a aposta na
singularidade histórica que marcava as proposições da década anterior.

Mais de duas décadas depois analisando, a ambição do projeto inicial de "restituir a tradicional
função" da Rua Bahia frente a realidade da via atualmente - mais marcada pela concentração de
tráfego de automóveis do que pelo caráter de permanência e consumo do lugar -, seria possível
considerar fracassada tal empreitada do poder público. No entanto, há que se considera-lo
eficiente ao menos na propagação de uma imagem específica de passado, recortado pelo olhar
do patrimônio, de diagnóstico do presente e de horizontes possíveis de serem articulados para o
futuro. A cobertura da imprensa, nos diferentes momentos de pico de ações do poder público
(1993, 1998 e 2003), igualmente joga com perfil histórico, cultural e boêmio de tal via, que
mereceria um projeto de maior alcance para devolver uma efervescência social "adormecida".
Com infográficos e entrevistas com comerciantes, moradores e produtores culturais, reportagens
de jornais mineiros mostravam entusiasmo em torno da questão, trazendo informações da
administração das intervenções e relembrando os nomes tidos como centrais na história da rua,
novamente frisando a década de 1920. "Rua da Bahia aposta tudo na cultura - o projeto não se
limita ao comércio 24 horas e engloba atividades que reforçam a identidade histórica da cidade"
(CRISTIE, 1998, p. 32), trazia uma das manchetes à época da criação do Eixo Cultural Rua da
Bahia Viva. Em outro jornal da cidade era possível constatar que "BH abraça o Eixo Cultural"
(HELENA, 1998).

Se por um lado a imprensa mostrava grande empenho em abraçar iniciativas de cunho cultural e
social, em outros momentos era omissa em acompanhar os desdobramentos de sua execução,
alterações de planejamento e interrupções. Se por um lado a descontinuidade de obras no espaço
público pode ser considerada como algo recorrente e quase obrigatório na gestão das grandes
cidades brasileiras, por outro lado, sob o olhar do citadino, a paisagem urbana adquire um caráter
homogeneizado, apagando as temporalidades dos projetos e os conflitos envolvidos na
consolidação de determinada memória edificada em monumentos, esculturas e placas, assim
como a história que celebram. Esse apagamento de conflitos de certa forma perpassa passado e
presente do olhar do patrimônio.
Da história recortada pelo patrimônio na Rua da Bahia são excluídas vozes e vieses enviesados
desse passado, como a prostituição do baixo-centro, repressão policial contra as camadas mais
pobres, o cotidiano do funcionalismo público e os conflitos com o capital privado - amplamente
abordados por escritores como Drummond e Nava, porém curiosamente não inclusos quando se
fala da Rua da Bahia notória. E uma vez consolidada uma proposta de intervenção, o presente é
geralmente visto como carente de uma dinâmica social digna do local, numa confusão entre
deterioração e sociabilidade.

Além da constatação da construção de um passado fetichizado numa perspectiva de consumo


cultural para o presente, nossa pesquisa sobre o patrimônio também constata certa lacuna na
investigação do cotidiano desses lugares alvos de intervenção. Assim, é possível perceber que
pontos como a "Praça do Encontro", feita para receber poetas e debates, cumpre apenas o papel
de descanso para os passantes, que igualmente parecem desconhecer qualquer viés histórico
daquele localidade, a despeito das estátuas de Drummond e Nava distanciadas. Já a pequena
praça em torno do monumento "Minha vida é esta..." é tido como alvo preferencial de
contestações políticas e sociais por grafiteiros e pixadores (imagem X). Nessa mesma localidade,
o Museu Inimá de Paula, inaugurado em 2004 em construção histórica da via, adquire aspecto
enobrecido, com antigos usuários da via, como moradores de rua e skatistas, tornando-se
outsiders mal vistos ali. Por outro lado, um quarteirão abaixo, o Edifício Malleta, construção não
valorizada por quaisquer singularidades arquitetônicas, salta aos olhos por sua dinâmica social em
diferentes turnos do dia, abarcando usuários diversos em seus estabelecimentos comerciais.

Figura 4: Pichação próxima a Monumento em Homenagem a Rômulo Paes, Belo Horizonte, MG


Foto: João Marcos Veiga, junho 2014.
Entender a rua como campo de disputas de concepções, usos e relações plurais passa a ser
imperativo para um olhar do patrimônio sobre as cidades, uma história que se forja na diferença e
ressignificação dos próprios dispositivos de memória e no próprio perfil de uso político e social.
Tida em seu passado como via preferencial de mobilizações tanto carnavalescas quando de
protestos, a Rua da Bahia parece ter perdido tal preponderância para locais de maior visibilidade e
capacidade de aglomeração e caráter de conquista do espaço público, hoje mais notadamente as
praças da Estação e da Liberdade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os projetos de revitalização em sua grande maioria não levam em consideração que a


estruturação e a dinâmica do espaço dependem e se constituem a partir da experiência, dos usos
e da frequência das pessoas nas ruas e nas praças. Num último momento, na passagem do
projeto concebido ao espaço experienciado, constatamos as fissuras das tentativas de
homogeneizar a cidade. Observamos isso tanto em resistências mais organizadas
institucionalmente, como movimentos sociais e mobilizações, ou nos "contra-usos" que captamos
nos trabalhos em campo. Nesse sentido, em 2014, durante a Copa do Mundo no Brasil, com a
capital mineira também recebendo jogos, as praças que já pesquisávamos tornaram-se um campo
de prova que revelou a tensão "local x global" no uso da cidade, com o Estado reproduzindo a
perspectiva do capital financeiro transnacional (via FIFA) de colocar o espaço público como algo
vendável e delimitado em parâmetros comerciais a um público determinado - os turistas -
desalojando e expulsando sujeitos indesejados e impedindo a circulação dos moradores. Estes
passam a ser contraditoriamente outsiders em seus locais habituais. As praças transformaram-se
assim em territórios fatiados e sitiados. No entanto, ainda assim encontramos resistências e
manifestações por parte dos cidadãos, em contraponto a este modus operandi, que o negócio da
Copa preferia tornar invisíveis, os valores simbólico e historiográfico, tais quais propostos por
Salvador Muñoz Viñas, tornam-se um contraponto a estes valores absolutos do mercado.

Apesar de as intervenções adquirirem certo aspecto homogeinizador e presentista (HARTOG,


2014), estão ali fissuras da disputa da cidade, passíveis de um olhar problematizador do
historiador, do urbanista e de demais pesquisadores sociais. O patrimônio e a cidade, a despeito
do poder público e do mercado, seguem abertos à disputa nas diferentes arenas de conflito do
espaço público contemporâneo, como os megaeventos e os protestos políticos. Portanto,
apontamos a necessidade de rever a forma como as políticas de patrimônio e requalificação
urbana são construídas quando descartam outras leituras do patrimônio e da própria cidade como
palco de vivência social e política. Como apontam nossas pesquisas de campo, tais políticas não
se mostram capazes de dar voz e lugar à diversidade, no máximo convivem com ela, apesar das
tentativas frustradas de varrê-la.

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