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A versão original de
De Que Falamos Quando Falamos de Amor
ISBN 978-972-564-845-2
Depósito Legal: 304 667/10
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Prefácio do editor
americano
William L. Stull
Maureen P. Carroll
Universidade de Hartford
West Hartford, Connecticut
1 8 de Maio de 2009
Por que não dançam?
- Vinte e cinto.
- Aceita vinte ? - perguntou a rapariga .
- Vinte, está bem. Posso aceitar vinte - disse Max.
A rapariga olhou para o rapaz.
- Miúdos, querem uma bebida ?- disse Max. - Os co-
pos estão no caixote. Vou sentar-me. Vou sentar-me no sofá .
Sentou-se n o sofá, recostou-se, e ficou a olhar para eles.
O rapaz encontrou dois copos e serviu-os de whisky.
- Quanto é que queres disto ? - perguntou à rapariga .
Tinham apenas vinte anos, o rapaz e a rapariga, e fa ziam
anos com a diferença mais ou menos de um mês.
- Já chega - disse a rapariga . - Acho que quero água
no meu.
Ela puxou uma cadeira e sentou-se à mesa da cozinha .
- Há água naquela torneira ali - disse Max. - Abre
aquela torneira.
O rapaz deitou água nos dois whiskies. Aclarou a gargan
ta antes de também se sentar à mesa da cozinha. Depois sor
riu . Pássaros esvoaçavam por cima deles, à caça de insectos.
Max olhava para a televisão. Terminou a sua bebida. Al
cançou o interruptor do candeeiro de pé e deixou cair o cigarro
no espaço entre as almofadas do sofá. A rapariga levantou-se
para o ajudar a encontrá-lo.
- Queres mais alguma coisa, querida ? - disse o rapaz.
Ele sacou do livro de cheques. Serviu-se a si, e à rapariga,
de mais whisky.
- Oh, quero a secretária - disse a rapariga. - Quanto
é que custa a secretária ?
Max fez u m aceno com a mão perante esta pergunta dia
paratada.
- Diz-me tu um número - disse.
Olhou para eles, sentados à mesa. À luz do candeeiro ha
via alguma coisa peculiar na expressão dos seus rostos. Du-
16 RAYMOND CARVER
1 Eggnog: bebida feita com leite, açúcar, ovos e canela, que se bebe em
Reconheço que, nesse dia, agi mal com o meu pai, que talvez
lhe tenha falhado numa altura em que podia ter estado do
seu lado. No entanto, alguma coisa me diz que ele estava pa
ra lá de qualquer possibilidade de aj uda, para lá de qualquer
coisa que pudesse ter feito por ele, e que a única coisa que
transpareceu entre nós nessas escassas horas foi o facto de ele
me ter levado - forçado poderá ser mais exacto - a olhar
para o meu próprio abismo; e nada é o resultado de nada, co
mo diz Pearl Bailey, e todos o sabemos por experiência pró
pna.
Sou vendedor de livros e represento uma companhia bem
conhecida de manuais do Centro-Oeste. A minha base é em
Chicago, o meu território é o Illinois, partes do Iowa e o Wis
consin. Encontrava-me na convenção da Associação dos Edi
tores do Oeste, em Los Angeles, quando me ocorreu, de um
momento para o outro, visitar o meu pai durante umas horas
no caminho de regre sso a Chicago. Hesitei porque, desde
o seu divórcio, havia uma parte de mim que não o queria tor
nar a ver, mas, antes que pudesse mudar de ideias, encontrei
a morada do homem na minha carteira e enviei-lhe um tele
grama. Na manhã seguinte despachei as malas para Chicago
e apanhei um avião para Sacramento . O céu estava ligeira
mente nublado; era uma manhã fria e húmida de Setembro.
Levei um minuto a reconhecê-lo. Estava a uns passos dos
portões de saída quando o vi, cabelo branco, óculos, calças
de algodão, um casaco de nylon cinzento sobre uma camisa
branca aberta no colarinho . Estava a olhar para mim, e sus
peitei que o estivesse a fazer desde que eu saíra do avião.
- Pai, como estás ?
- Les.
Apertámos as mãos rapidamente e caminhámos em direc
ção ao terminal.
- Como é que está a Mary e os miúdos ?
0 CASO
por uma hora, mas se não desviasse os olhos acabaria por di
zer-lhe o que achava do seu miserável caso amoroso e o mal
que tinha feito à minha mãe.
A jukebox recomeçou a tocar a meio de um disco . A mu
lher continuava sentada ao balcão, apoiada num dos cotove
los, a olhar-se ao espelho. Havia três bebidas à frente dela,
e um dos homens, o que tinha estado a falar com ela ante
riormente, tinha-se a fastado para o outro lado do balcão .
O outro homem tinha a palma d a mão pousada n a parte in
ferior das costas dela . Eu suspirei, procurei sorrir, e voltei-me
para o meu pat.
- As coisas continuaram assim durante uns tempos -
recomeçou ele. - O Larry tinha uma agenda bastante regu
lar e eu passava a noite em casa dela sempre que podia . Dizia
à tua mãe que ia ao Elks, ou então dizia-lhe que tinha traba
lho para acabar na fábrica. Qualquer coisa, qualquer descul
pa para me ausentar durante umas horas.
- D a p r imeira vez, n a q u e l a mesma n o i t e , e s t a c i o n e i
o carro a três o u quatro quarteirões de distância e caminhei
pela rua acima e passei em frente da casa dela . Caminhei com
as mãos enfiadas no casaco e a bom ritmo e passei pela casa
dela a tentar arranj ar coragem. A luz do alpendre estava acesa
e as persianas corridas. Caminhei até ao final do quarteirão
e depois regressei, devagar, e fiz-me ao passeio até à porta
dela . Sabia que, se fosse o Larry a a brir-me a porta, a coisa
terminava por ali. Dir-lhe-ia que andava perdido, à procura
de direcções, e seguiria caminho. E nunca mais voltaria . Ti
nha o coração a pulsar-me nos ouvidos. Mesmo antes de to
car à campainha tirei a aliança do dedo e guardei-a no bolso.
Julgo que . . . j ulgo que nesse momento, nesse minuto no al
pendre mesmo antes de ela abrir a porta, foi a única vez em
que pensei no que estava a fazer à tua mãe. Nesse exacto mi
nuto antes de a Sally ter aberto a porta soube o que estava
RAYM O N D CARVER
mento, dentro do carro, ela tornou a olhar uma vez mais para
o hospital.
Em casa, ela sentou-se no sofá com as mãos enfiadas nos
bolsos do casaco. Howard fechou a porta do quarto de Scot
ty. Pôs a máquina de café a funcionar e depois foi buscar um
caixote vazio. Pensara em arrumar alguns dos pertences de
Scotty . Mas em vez disso sentou-se a o lado dela no s o fá ,
afastou o caixote para um lado e inclinou-se para a frente, o s
braços n o meio dos j oelhos. Começou a chorar. Ela puxou
-lhe a cabeça para o colo e afagou-lhe o ombro.
- Ele foi-se - disse ela . Continuou a afagar-lhe o om-
bro. O silvo da máquina de café, na cozinha, abafava o choro
dele. - Vá, vá - disse ela com ternura. - Howard, ele foi
-se. Ele foi-se e agora vamos ter de nos habituar a isso. A es
tarmos sós.
Passado pouco tempo Howard levantou-se e começou
a andar em volta da sala, sem propósito, sem meter nada
dentro do caixote, mas j untando algumas coisas no chão de
um dos lados do sofá . Ela continuou sentada com as mãos
enfiadas nos bolsos. Howard pousou o caixote e trouxe o café
para a sala de estar. Mais tarde, Ann telefonou às pessoas mais
próximas. Depois de cada chamada ser feita e haver resposta
do outro lado, Ann balbuciava algumas palavras e chorava
durante um minuto . Depois explicava o que tinha aconteci
do, calmamente, numa voz contida, e dava informações sobre
os procedimentos. Howard levou o caixote para a garagem,
onde viu a bicicleta de Scotty. Largou o caixote e sentou-se
no chão ao lado da bicicleta. Pegou nesta sem jeito, de maneira
que ficou encostada contra o seu peito. Segurou-a, o pedal de
borracha a espetar-se-lhe no peito e fazendo girar a roda contra
a perna das calças.
Ann desligou o telefone depois de falar com a irmã . Esta
va à procura do número seguinte quando o telefone tocou.
Ann atendeu ao primeiro toque.
I I4 RAYM O N D CARVER
I
D I Z ÀS M U LHERES Q U E NOS VAM O S E M B O RA ! 29
A m o r e n a c o n ti n u o u a c o r r e r , a o s s a l t o s , até c h e g a r
a uma d a s cavernas, u m a larga protuberância de pedra com
134 RAY M O N D CARVER
- Não faças isso, querido. Ele não nos fez mal nenhum
- disse Edith . - É só um cartão a mais ou a menos numa
sala cheia de cartões e de pessoas. Deixa-o j ogar com os car
tões todos que lhe apetecer. Há pessoas que estão a j ogar
com seis cartões. - Ela falou calmamente e tentou manter os
olhos nos seus cartões. Marcou um número.
- Mas essas pessoas pagaram pelos cartões - disse ele.
- Isso não me incomoda . É diferente. Aquele raio daquele ti-
po está a fazer batota, Edith.
- Jimmy, esquece o assunto, querido - disse ela . Tirou
um feij ão da palma da mão e colocou-o sobre um número. -
Deixa-o em paz. Querido, j oga com os teus cartões. Agora
confundiste-me e falhei um número. Por favor j oga com os
teus cartões.
- Não há dúvida de que isto é um j ogo de bingo do cara
ças se um gaj o puder fazer o que lhe apetecer - disse ele. -
Isto faz-me espécie. Faz.
Voltou a olhar para os seus cartões, mas soube que mais
valia desistir daquela j ogada. Bem como das j ogadas que aí
vinham. Poucos números nos seus cartões tinham um feij ão.
Já não havia maneira de dizer quantos números se tinha es
quecido de marcar. Apertou os feijões dentro da mão. Sem
esperança, deixou escorregar um feij ão para cima do número
que acabara de sair, o G-60. Alguém gritou:
- Bingo !
- Cristo - disse ele.
Eleanor disse que iriam fazer um intervalo de dez minutos
para as pessoas esticarem as pernas. O j ogo depois do inter
valo seria o j ogo da Vertigem, um dólar por cartão, o vence
dor arrecadava tudo. O prémio daquela semana, anunciou
Eleanor, eram noventa e oito dólares. Houve assobios e aplau
sos. Ele olhou para os hippies. O homem estava a mexer no
brinco da orelha e a observar a sala . A rapariga pusera-lhe
outra vez a mão na perna.
SE TU A S S I M o Q U I S ERES
e tentou rezar. Sabia que lhe traria algum alívio rezar nessa
noite se conseguisse encontrar as palavras certas. Não rezava
desde a altura em que tentara parar de beber, e nunca sequer
imaginara que rezar poderia ter algum resultado, parecera
-lhe apenas mais uma coisa que podia fazer naquelas circuns
tâncias. Sentira, naquela altura, que rezar não podia tornar
as coisas piores embora ele não acreditasse em nada, sobretu
do na sua capacidade para largar a bebida . Mas, por vezes,
sentira-se melhor depois da oração, e presumira que i s s o
é q u e importava. Nesses tempos rezava todas as noites e m
q u e se lembrava de o fazer. Quando ia para a cama bêbedo,
por exemplo; por vezes, antes de beber o primeiro copo, pela
manhã, rezava pela força para deixar de beber. Por vezes,
claro, sentia-se pior, ainda mais impotente, e nas garras de
alguma coisa perversa e horrível, depois de fazer uma oração
e dar por si a atirar-se imediatamente à bebida. Depois para
ra finalmente de beber mas não atribuíra essa decisão às suas
orações e, desde então, nunca mais pensara em rezar. Não re
zava há quatro anos. Nunca mais sentira necessidade de o
fazer. As coisas tinham estado bem desde então , as coisas
tinham melhorado desde que largara o álcool . Quatro anos
atrás, acordara uma manhã, de ressaca, mas em vez de se ser
vir de um copo de vodca e sumo de laranj a, decidiu que não
o faria. Ainda tinha vodca em casa, o que tornava a situação
mais digna de nota. Simplesmente não bebeu naquela manhã,
ou na tarde ou na noite que seguiram. Edith reparou, claro,
mas não disse nada. Ele tremeu muito. O dia seguinte e o dia
a seguir a esse foram iguais: não bebeu e manteve-se sóbrio.
Na noite do quarto dia encontrou coragem para dizer a Edith
que não bebia há vários dias. Ela limitara-se a dizer: « Eu sei,
querido. » Lembrou-se desse momento, da maneira como ela
o olhara e lhe afagara o rosto, muito parecida com a maneira
como esta noite lhe afagara o rosto. « Estou orgulhosa de ti » ,
SE TU A S S I M o Q U I S ERES
2.
Pensa que isto é uma coisa que ele gostaria de ouvir. Ela sorri
na escuridão. Stuart fica satisfeito com o que ouve. Ele afaga
-lhe o braço. As coisas vão correr bem, diz ele. Daqui em dian
te as coisas vão ser diferentes e melhores para eles . Ele foi
promovido e aumentado no emprego. Vão começar a viver o
aqui e o agora . Ele diz-lhe que se sente capaz de relaxar pela
primeira vez em anos. No escuro, ele continua a afagar-lhe
o braço . . . Ele continua a j ogar bowling e a j ogar cartas com
regularidade. Ele vai à pesca com três amigos.
Nessa noite acontecem três coisas: Dean diz que os cole
gas na escola lhe disseram que o seu pai encontrou um corpo
morto no rio. Ele quer saber o que se passa.
Stuart explica depressa, deixando de fora grande parte da
história, dizendo apenas que sim, que ele e três outros ho
mens encontraram um corpo enquanto pescavam.
- Que género de corp o ? - pergunta Dean. - Era uma
rapariga ?
- Sim, era uma rapariga . Uma mulher . Depois chamá-
mos o chefe da polícia. - Stuart olha para mim.
- O que é que ele disse ? - pergunta Dean.
- Disse que tomava conta do assunto.
- Como é que o corpo era ? Metia medo ?
- Já chega desta conversa - digo eu. - Passa o teu pra-
to por água, Dean, e depois podes ir para o quarto .
- Mas como é que o corpo era ? - insiste ele . - Quero
saber.
- Tu ouviste o que eu disse - digo eu. - Ouviste o que
eu disse, Dean ? Dean ! - Tenho vontade de o abanar. Tenho
vontade de o abanar até ele chorar.
- O bedece à tua mãe - diz-lhe Stuart em voz baixa .
- Era apenas um corpo, e não há mais nada a dizer.
Estou a levantar a mesa quando Stuart se aproxima por
trás e me toca no braço. Os dedos dele queimam. Dou um
salto, quase largo um prato no chão. ·
TANTA ÁGUA, TÃO PERTO DE CASA r8r
que não a matou. - Ela bufa . - Você sabe tão bem como
eu. Mas eles provavelmente vão pô-lo em liberdade condicio
nal e depois soltam-no.
- Ele pode não ter agido sozinho - digo. - Eles têm de
ter a certeza. Ele pode estar a proteger alguém, um irmão ou
uns amtgos.
- Eu conhecia aquela rapariga desde que era uma meni
na - continua a mulher, e os lábios tremem-lhe. - Costuma
va vir a minha casa e eu fazia-lhe bolos e deixava-a comê-los
em frente da televisão. - Desvia o olhar e começa a abanar
a cabeça enquanto as lágrimas lhe descem pelo rosto.
3.
E l e n ã o r e s p o n de u . F e c h o u a m a l a , v e s t i u o c a s a c o e
olhou para o quarto antes de ligar a luz. Depois foi para a sa
la. Ela estava à porta da pequena cozinha a segurar o bebé.
Quero o bebé, disse ele.
Estás doido ?
Não, mas quero o bebé. Mando cá alguém buscar as coi
sas dele.
Vai para o inferno! Não tocas neste bebé.
O bebé começara a chorar e ela destapou-lhe a cabeça do
cobertor.
Vá, vá, disse ela, a olhar para o bebé.
Ele aproximou-se dela.
Por amor de Deus ! , disse ela . Recuou um passo para o in-
terior da cozinha.
Quero o bebé.
Sai daqui !
Ela voltou-se e tentou segurar o bebé num canto, atrás do
fogão, quando ele avançou.
Ele debruçou-se sobre o fogão e agarrou no bebé.
Larga-o, disse ele.
Vai-te embora, vai-te embora ! , gritou ela.
O bebé tinha o rosto vermelho e chorava. No meio da
disputa, atiraram ao chão um pequeno vaso de flores que es
tava atrás do fogão.
Ele encurralou-a contra a parede, tentando fazê-la soltar o
bebé e empurrando o peso do seu corpo contra o braço dela.
Larga-o, disse ele.
Pára, disse ela, estás a magoá-lo !
Ele não disse mais nada. Não entrava qualquer luz pela
j anela da cozinha. Naquela escuridão quase total, ele abriu
-lhe os dedos crispados com uma mão e, com a outra, pegou
no bebé que chorava por baixo de um braço e trouxe-o para
junto do seu ombro.
MEU 239
Estou a dizer parvoíces ? Por muito que nos amemos, sei que
é i s s o q u e n o s aconteceria, a m i m e à Terri. Acontec e r i a
a qualquer u m de nós. Aposto o m e u braço direito. Todos j á
o provámos. Simplesmente não compreendo. Corrij am-me se
eu estiver enga n a d o . Quero compreender. Não sei n a d a ,
e sou o primeiro a admiti-lo.
- Herb, por amor de Deus - disse Terri. - Isso é depri
mente. Pode tornar-se muito deprimente. Mesmo se acredita
res que é verdade - disse ela - continua a ser deprimente.
- Ela estendeu o braço e pegou-lhe no antebraço, j unto do
pulso. - Estás a ficar bêbedo ? Querido, estás bêbedo ?
- Querida, estou só a falar - disse Herb. - Não preciso
de estar bêbedo para dizer aquilo que penso, ou preciso ?
Não estou bêbedo. Estamos s ó a conversar, certo ? - disse
Herb. Depois o seu tom de voz mudou. - Mas se quiser em
bebedar-me, embebedo-me, porra. Hoj e posso fazer o que me
apetecer.
- Querido, não te estou a criticar - disse ela. Terri er
gueu o copo.
- H o j e n ã o e s t o u d e preve n ç ã o no h o s p i t a l - d i s s e
Herb. - Hoj e posso fazer o que m e apetecer. Estou s ó cansa
do, é só isso.
- Herb, nós amamos-te - disse Laura.
Herb olhou para Laura . Durante um minuto foi como se
não a reconhecesse. Ela continuou a olhá-lo, sustendo o sorri
so. Tinha as bochechas rubras e o sol batia-lhe nos olhos, por
isso franzia-os para o conseguir ver. O rosto dele descon
traiu-se.
- Também te amo, Laura. E a ti, Nick. Vocês são os nos
sos melhores amigos - disse Herb. Pegou no copo. - Bem,
o que é que eu estava a dizer ? Ah, sim. Queria contar-vos
uma coisa que se passou há uns tempos. Parece-me que estou
a tentar provar alguma coisa, e talvez consiga se puder con-
P R I N C I PIANTES
e agitava a mesa para trás e para a frente com a força das per
nas enquanto falava.
- Espero que não seja - disse Maxine. Parou na om
breira da porta. Bea passou por ela e foi para a outra divisão.
- Deus sabe que todos os dias rezo por que haj a outra vida.
- Vou-me embora - disse ele. Deu um pontapé na ca-
deira e levantou-se d a m e s a . - Nunca m a i s me vais p ô r
a vista e m cima .
- Já me deixaste memórias suficientes, L.D. - disse Ma
xine. Encontrava-se agora na sala . Bea estava ao lado dela .
A miúda parecia incrédula e assustada. Segurava a manga do
casaco da mãe com os dedos de uma mão, o cigarro nos de
dos da outra mão.
- Meu Deus, pai, estávamos só a conversar - disse ela.
- Vá, vai-te embora, sai daqui, L.D. - disse Maxine. -
Sou eu quem paga a renda e estou a dizer-te para ires. Agora.
- Eu vou - disse ele. - Não me pressiones. Eu vou.
- Não continues com a violência, L.D. - disse Maxine .
- Nós sabemos que és forte na hora de começar a partir coi-
sas.
- Embora daqui - disse L.D. - Vou deixar este mani
cómio.
Ele foi para o quarto e tirou uma das malas do armário .
Era uma velha mala d e couro artificial c o m uma pega parti
da. Ela costumava enchê-la de camisolas ]antzen 1 e levá-la
para a universidade. Ele também tinha andado na universida
de. Tinha sido há muitos anos e tinha sido noutro lugar. Ati
rou a mala para cima da cama e começou a enchê-la com
roupa interior, calças, camisas de manga comprida, camiso
las, um velho cinto de cabedal com uma fivela de latão, todas
as suas meias e lenços. Guardou as revistas que estavam em
z a d o a o p e n s a r q u e , em a n o s v i n d o u r o s , ela p o d e r i a vir
a transformar-se numa mulher que ele desconhecia, uma figu
ra muda num casaco longo, de pé no meio de uma sala ilumi
nada com os olhos no chão.
- Maxine ! - gritou ele. - Maxine !
- Será isto o amor, L. D . ? - perguntou ela, fixando-o.
O olhar dela era terrível e profundo, e ele susteve-o durante
tanto tempo quanto lhe foi possível.
Notas
Visor
Coreto
O caso
Se tu assim o quiseres
Dummy
Empada
A calma
Meu
Distância
Principiantes
Indice