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“LIXO ELETRÔNICO”:

PRESENTE DE UM FUTURO QUE PASSOU.1

Amaury Cunha Carvalho


Administrador, Bacharel em Direito, aluno da Pós-Graduação da
Universidade Presbiteriana Mackenzie em “Direito Digital e das
Telecomunicações”.

accarvalho777@gmail.com

Resumo: Os grandes avanços tecnológicos da história do planeta sempre foram,


originariamente, voltados para a paz e o bem-estar do homem e da sociedade.
Assim foi com a promessa do uso pacífico do átomo. Assim foi com a perspectiva
de facilidade de transporte, apenas, quando da invenção do avião, como
exemplos. Assim acontece, também, com a constante evolução tecnológica de
produtos e equipamentos eletro-eletrônicos, que – em tese – visam melhor e maior
bem estar da sociedade. Atrelada aos benefícios econômicos e financeiros para
quem os desenvolve e produz, também, com o aumento de consumo pela
população e seu conseqüente descarte, surgiu como mal decorrente o lixo
eletrônico. Este artigo visa demonstrar, de forma simples e sem erudição jurídica,
que o mundo estava despreparado para as conseqüências da rápida evolução
tecnológica e que o lixo eletrônico, se não tratado adequadamente pelas nações,
se tornará seu algoz. Urge, portanto, a necessidade de rapidez legislativa e
jurídica, por parte de cada Estado, como forma de bem definir o tratamento e o
destino do lixo eletrônico.

Palavras chaves:
Lixo eletrônico, Tecnologia, Preservação, Reciclagem.

Trabalho apresentado à Profª Dra. Solange Teles da Silva, como requisito do módulo de “Impacto Ambiental e o Direito
Digital e das Telecomunicações”, do Curso de Pós Graduação em Direito Digital e das Telecomunicações da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, em dezembro de 2009.

1
Introdução

O mundo mudou, é fato. A cada ano que passa os reflexos das inovações criam
novos perfis de relação de consumo, de usuários, de produtos, de comunicação, de
interação social e, em resumo, de tudo que sofre a interferência da criação e produção de
novas tecnologias. A maré criativa e de produção é irresistível contra qualquer obstáculo e
os impactos da atualização tecnológica afetam a forma de ser, de agir e de se relacionar
das pessoas. Virtualidade e interatividade são palavras que comandam a evolução
tecnológica ao ponto de, exaustivamente e com rapidez desenfreada, provocarem a
obsolescência técnica ou de “design” de produtos antes que estes envelheçam, se
quebrem ou percam a utilidade.

Uma rápida folheada em revistas de tecnologia deixa bem claro que, antes que
qualquer usuário médio consiga explorar a potencialidade do seu “gadget”, dezenas de
outros produtos mais modernos já estão a povoar os sonhos de consumo deste usuário,
resultando em um descarte prematuro, decorrente da evolução tecnológica.

Assim, graças a uma onda de evolução tecnológica sem precedentes, os


equipamentos eletrônicos descartados se constituem no tipo de resíduo sólido que mais
cresce no planeta, ao ponto de receber a consideração da Revista Science1 que, no artigo
“The electronics revolution: from e-wonderland to e-wasteland”, conclui:
“O pequeno tamanho, a curta vida útil e altos custos de reciclagem […]
implicam que eles sejam comumente descartados sem muita
preocupação com os impactos adversos disso para o ambiente e para
a saúde pública.”

Diante da rapidez da onda tecnológica, impulsionados e interessados pelo


montante financeiro movimentado pela comercialização decorrente desta, os Estados se
vêem impotentes para administrar as conseqüências dessa evolução; não logram êxito na
implantação de instrumentos legais e políticas adequadas que permitam o controle das
conseqüências do rápido descarte do lixo eletrônico. Um tipo de lixo diferente,
desconhecido, cujas conseqüências de armazenamento impróprio ainda não foram
mensuradas na totalidade, mas que, é sabido, causam danos à fauna, flora, à espécie
humana e também ao planeta.

2
Onda Tecnológica:

Símbolo de uma sociedade em evolução, a onda tecnológica tem como


característica o surgimento das indústrias de alta tecnologia que, tanto quanto possível,
estão associadas e integradas a universidades e centros de pesquisas, daí resultando
grandes “tecnopólos”, modernas tecnologias e novos produtos. Estas características
permitiram a identificação da chamada “5ª Onda” dos Ciclos Tecnológicos da Revolução
Industrial, que demarcam a evolução industrial desde as fábricas têxteis do século XVIII
até a era dos computadores, conforme esquema abaixo2:
1785 – lª onda- 1845 – 2ª onda 1900 – 3ª onda 1950 – 4ª onda 1990 - 2020 – 5ª onda

Força hidráulica Vapor Eletricidade Petroquímicos Novas mídias


Têxteis Ferrovias Químicos Eletrônicos Redes digitais
Motor a
Ferro Aço combustão Aviação Software
interna

Os avanços tecnológicos, assim, possibilitaram o aumento progressivo da


produtividade e, conseqüentemente, uma relativa queda nos preços acarretando aumento
do consumo. Há de se considerar, ainda, que o contínuo lançamento de novos produtos
no mercado, com novas tecnologias, provoca o barateamento do modelo anterior,
viabilizando também o consumo de alta tecnologia pela camada menos favorecida da
sociedade.

Como seria de se esperar, há mais de duas décadas que o uso de equipamentos


eletro-eletrônicos – portáteis ou não – tem crescido de forma exponencial (assim como os
tipos de mídia utilizada: K7, CD, DVD, VHS, Betamax, disquetes etc.), trazendo resultados
óbvios como o acúmulo de lixo eletrônico, decorrente da rápida obsolescência, porém
surpreendendo toda a sociedade (inclusive os círculos puramente tecnológicos) que
investiu grandes esforços para a evolução da cadeia produtiva sem, contudo, investir
conhecimento, tecnologia ou recursos financeiros na captação e destinação dos resíduos
resultantes do processo ou do consumo.

Vale frisar que, segundo a Agência FAPESP3, os equipamentos eletro-eletrônicos


descartados representam o tipo de resíduo sólido que mais cresce no mundo e que um
dos grandes problemas desse lixo concentra-se nas baterias, por possuir componentes de
substâncias tóxicas, altamente poluidores.

3
Contrariando o que poderia se pensar, o impacto poluidor dos equipamentos
eletrônicos não ocorre, apenas, no momento do seu descarte; ele acontece desde a
mineração dos metais pesados usados nas baterias, passando pela cadeia produtiva na
fabricação dos componentes e produtos e, também, na hora de descartar os
equipamentos.

Como visto, o mundo não apenas mudou, como está em constante mudança. Hoje
ele é chamado de “Aldeia Global”4, não por acaso, mas por causa de uma ampla
mudança de paradigmas de comunicação e interação virtual, legado de uma onda
tecnológica que evolui a partir de si mesma e chegou para ficar.

Definição e divergências de entendimento

Lixo eletrônico (ou E-Lixo ou E-Waste) é o termo comum para identificar todo o
fluxo de resíduos decorrente do descarte de todos os tipos de equipamentos eletrônicos.
Trata-se de termo geral, pois enquadra, também, resíduos de equipamentos elétricos
como televisores, geladeiras, máquinas de lavar, secadoras, aparelhos de som e demais
equipamentos com componentes ou circuitos elétricos com potência ou fornecimento de
baterias etc.

Embora o conceito geral seja claro, sua conceituação jurídica (internacional) não o
é, posto que diferentes países manifestam diferentes entendimentos jurídicos quanto à
espécie e, conseqüentemente, com diferentes enquadramentos legais. Assim, como
exemplo, enquanto a União Européia classifica o lixo eletrônico em dez (10) categorias de
produtos, o Japão se utiliza apenas de quatro (4) categorias para enquadramento; os
Estados Unidos, chamado de “país de origem” de lixo eletrônico, por sua vez, realiza todo
o enquadramento baseando nos resíduos que se originem de produtos de “tecnologia da
informação”, “comunicação” e televisores, mas não entende que componentes eletrônicos
possam ser lixo ou resíduo, por tratar-se de materiais recicláveis e, portanto, negociáveis.

Essa disparidade e divergências de entendimentos “legais” acarretam nova


dificuldade. Visto que o lixo eletrônico não tem fronteiras e posto que o entendimento das
partes (Estados e Organizações internacionais) – conforme o interesse político e
econômico – pode ser muito diferente, surge a dificuldade para a realização e

4
implementação de acordos, tratados ou convenções internacionais que busquem a
resolução do problema.

O Problema Global

Embora os diversos países não estejam coesos quanto ao enquadramento legal do


que se refere ao lixo eletrônico, “contrario sensu”, todos são afetados – de uma forma ou
de outra – por suas conseqüências, tratando-se, assim, de problema global.

Tendo em vista que os países do primeiro mundo, grande produtores de tecnologia,


não se ocupam em dar soluções para o lixo tecnológico, nem querem armazená-lo em
seu território, o descarte é realizado por meio de exportação em navios, cuja carga é
enviada para países em desenvolvimento. São centenas de navios com toneladas de
toneladas de lixo eletrônico cruzando oceanos, originários principalmente dos Estados
Unidos e da Europa. Os destinos, bastante conhecidos para a chamada “mineração
urbana”5, são a China, Indonésia, Quênia, Paquistão e Índia, entre outros, onde o lixo é
recebido, desmontado e reciclado. Há de se registrar que embora exista demanda, no
país destino, pelos produtos usados, bem como suas peças, a atividade de desmonte e
mineração é marcada pelos baixos salários, insalubridade e, também, péssimas medidas
de proteção ambiental.

Como se não bastasse a “exportação” legalizada de lixo tecnológico, existe ainda,


despistado entre os navios regularizados, um problema maior. Trata-se da exportação
ilegal, que implica no desaparecimento de milhões de toneladas de lixo eletrônico a cada
ano, justificado, apenas, como comércio ilegal de matéria para abastecer centros de
processamentos informais de lixo tecnológico. Uma matéria do New York Times6 registra
o fato:
ROTTERDAM (Holanda) – Quando dois inspetores abriram as portas de um velho
contêiner vermelho, confrontaram-se com um cemitério de lixo eletrônico europeu –
fiação velha, medidores elétricos, placas de circuitos – juntos a restos de papelão e
plástico. “Isso deveria ir para a China, mas não vai para lugar nenhum”, disse Arno Vink,
um inspetor do Ministério do Meio-Ambiente holandês que barrou o contêiner de acordo
com as novas rígidas leis européias que restringem a exportação de todos os tipos de
lixo, de canos sujos a computadores quebrados a resíduos domésticos. Exportar lixo
ilegalmente para países pobres tornou-se um vasto e crescente negócio internacional,
com as empresas tentando minimizar os custos gerados pelas novas leis ambientais,
como as européias, que taxam o lixo ou exigem que este seja reciclado, ou ainda que
sejam descartados de maneira ambientalmente responsável.

5
Como causa provável para tais ações, a Agência Européia do Meio-Ambiente (EEA
– European Environment Agency) registra que visando despistar as legislações recentes,
que direcionam as ações empresariais para a responsabilidade com a reciclagem,
solução ainda muito cara, os produtores dos resíduos – muito provavelmente – optam por
exportar tais produtos ilegalmente, barateando os custos da “solução”.

A União Européia possui legislação específica sobre o assunto, restringindo a


utilização de determinadas substâncias tóxicas na produção e, além disso, definindo a
possibilidade de apenas três destinos para o lixo eletrônico: RECICLAGEM,
INCINERAÇÃO e EXPORTAÇÃO. Nos Estados Unidos, mesmo sem fazer parte das mais
importantes convenções associadas ao tema, cada vez mais estados estão aprovando
leis que obrigam a reciclagem de lixo eletrônico. Todos os países, assim, preocupados
com as conseqüências previsíveis, estão adotando medidas para minimizar o impacto da
alta produção de lixo tecnológico.

Apesar da solução momentânea para o grande volume produzido, fica claro que o
problema não poderá ser solucionado, perenemente, na forma de exportação (seja legal
ou ilegal). Haverá o esgotamento do formato, seja por existir maior produção do lixo que a
possibilidade de transporte, seja por uma (provável) recusa do recebimento face ao
agravamento das condições de insalubridade do país receptor ou, ainda, por uma
implantação de política internacional que regularize, monitore e proíba tal exportação.

Assim, incontestavelmente, sejam países produtores (origem) ou países receptores


(destino) do lixo eletrônico, todos estão sob ameaça ou sujeitos às conseqüências
nefastas dessa forma de lixo.

O Problema no Brasil: fatos e legislação

O Brasil, como grande consumidor de tecnologia, não está imune aos problemas
do lixo eletrônico. Segundo relatório do Greenpeace, em 2007, o país produzia 20 a 50
milhões de toneladas ao ano de sucata eletrônica, número este marcado pela imprecisão
da variação de 30 milhões e, com isto, assinalando a grande dificuldade na coleta dos
dados, o que pode esconder a verdadeira dimensão do problema.

6
O nosso país é marcado pela riqueza de negócios contraposta pela pobreza social,
assim temos passos assinalados rumo a uma “mineração urbana” como parte da solução.
Surge daí uma grande oportunidade para os projetos que incentivem a responsabilidade
sócio-ambiental e, com isso, impulsionar programas de gestão ambiental que sejam
rentáveis e, desta forma, atraia grandes negócios. A cautela deve ser quanto ao modelo
de “mineração urbana” a escolher, se o adotado pela China ou o do Japão.

A China, como já citado, adotou a “mineração urbana” informal, recebendo as


toneladas de lixo eletrônico e garimpando-os em condições e instalações precárias, bem
como de exposição sub-humana de trabalho. O Japão, entretanto, adotou o
profissionalismo, através de empresas especializadas, com mercado e logística de
atuação. Sobre as perspectivas do negócio temos o estudo7 realizado, no Japão, pela
empresa de reciclagem de metais “Yokohama Metal Co, Ltd”, apresentado os seguintes
dados:
“De uma tonelada de telefones celulares se extraem de 150 a 200 gramas de ouro, de 3
a 4 quilos de prata, de 100 a 120 quilos de cobre entre outros. Para efeitos de
comparação e dimensão, outro estudo aponta que uma tonelada de solo de uma mina de
ouro produz somente de 5 a 7 gramas do metal dourado. Segundo dados da empresa
japonesa, a tonelada dos gadgets sai em torno de US$8400 e somente o ouro extraído
desse monte vale US$10.000, sem contar os quilos de prata e cobre e dos outros
minérios. Ainda há a possibilidade de se reutilizar plásticos, silício e outros componentes.
Ou seja, um negócio bem rentável”.

Mesmo com o grande potencial financeiro projetado para os negócios com o lixo
eletrônico, não se pode esperar que as atenções e investimentos sejam direcionados para
a solução do problema sem que leis apropriadas – com sanções e incentivos – sejam
incorporadas à legislação.

No Brasil, mesmo com o constante aumento de produção/importação e consumo


de produtos eletrônicos, não se desenvolveu uma legislação nacional que estabeleça
responsabilidades para o descarte ou que defina o destino correto para a sucata
eletrônica. O único referencial vigente é a resolução 257 do CONAMA (Conselho Nacional
do Meio Ambiente) que apresenta limites para a utilização de substancias tóxicas em
pilhas e baterias, imputando aos fabricantes a responsabilidade pela implantação de
sistemas para a coleta destes materiais, bem como seu envio para reciclagem.

7
Outras leis, na esfera dos estados, delineiam os controles conforme o interesse de
cada ente, porém, apesar da tramitação de vários Projetos de Lei (PLs), nada se tem de
efetivo, além da citada resolução 257 do CONAMA.

Ilustrando o que existe em termos de legislação nacional, temos o gráfico8:

Vale registrar a recente aprovação da Lei 13.576/09, de São Paulo, em vigor desde
06/07/2009, que institui normas para a reciclagem, gerenciamento e destinação final de
lixo tecnológico. Todos os fabricantes, importadores e comerciantes desses produtos –
com atuação no Estado de São Paulo – terão que se adequar para recolher, reciclar ou
reutilizar o material descartado por consumidores e se o reaproveitamento não for
possível, esse lixo deverá ser neutralizado. Trata-se de importante iniciativa que,
certamente, gerará novos exemplos e, quem sabe, poderá agilizar o lento processo de
aprovação da política brasileira de resíduos sólidos, que se encontra em flagrante atraso
diante de um problema que cresce a cada ano e tende a crescer cada vez mais.

Propostas de Solução sob a ótica do StEP (O.N.U.): Um exemplo.

Todo o registro histórico do problema mostra que nenhum país, sozinho,


conseguirá implantar regras e legislação de controle sem o apoio de outros países, das
organizações internacionais e, também, das grandes empresas (nacionais ou
multinacionais).

8
Como exemplo do pensamento voltado para a solução do problema, por iniciativa
de várias organizações da O.N.U., foi criada a StEP – Solving the E-Waste Problem9, com
o objetivo global de resolver o problema dos resíduos eletrônicos. Esta instituição,
juntamente governos, organizações internacionais, proeminentes indústrias
internacionais, ONGs do setor científico e outros, promovem esforços visando iniciar e
facilitar abordagens para o manejo sustentável do lixo eletrônico.

De forma muito bem organizada, a existência e finalidade da instituição são


sustentadas por cinco pilares:

1) Trabalho baseado em avaliações científicas e incorporado a uma visão


abrangente dos aspectos sociais, ambientais e econômicos do lixo
eletrônico.

2) Realização de pesquisas sobre o ciclo de vida dos equipamentos


elétricos e eletrônicos e, também, de sua oferta global correspondente,
processos e fluxos de materiais.

3) As pesquisa e projetos-piloto são destinados a contribuir para a


solução de problemas de lixo eletrônico.

4) Repudiar todas as atividades ilegais relacionadas com lixo eletrônico,


incluindo as transferências ilegais e de reutilização/reciclagem de práticas
que são prejudiciais ao meio ambiente e a saúde humana.

5) Promover a segurança e eco/reutilização eficiente de energia e as


práticas de reciclagem em todo o mundo de uma forma socialmente
responsável.

Além disso, também, promove esforços e tem como alvo cinco objetivos ou
projetos:
a) Política e Legislação: Análise das abordagens já existentes para emitir
recomendações para desenvolvimentos e projetos futuros.
b) ReDesign: Esforços para apoio de projetos para melhor reutilização,
reparação, renovação e reciclagem.
c) ReCycle: Aperfeiçoar a infra-estrutura global visando estabelecer
sistema sustentável de reciclagem de e-lixo.
d) ReUse: Desenvolver sistema de reutilização de produção sustentável
em escala mundial para minimizar impactos ambientais.
e) Capacitação: Documentar todos os resultados obtidos pelas Forças-
tarefa, visando ampliação da consciência global pelo acesso ao
conhecimento.

9
Considerações Finais

Como se pode perceber, pelo volume e seriedade do projeto StEP – dentre tantos
existentes – não faltam idéias, propostas ou incentivos. Falta a vontade de agir dos
Estados para a implementação de políticas e legislações sérias para o controle e
destinação de lixo eletrônico. Temos como parâmetro legal internacional, a “Convenção
da Basiléia” - um dos três tratados que visam proteger a saúde humana e o meio-
ambiente – que foi assinada em 1989 para impedir que países ricos exportassem seu lixo
tóxico para os mais pobres. As outras duas são a “Convenção de Roterdã” sobre
substâncias químicas e a “Convenção de Estocolmo” sobre poluentes orgânicos
persistentes.

Porém, é preciso dar um passo além e esse passo é a efetiva tomada de


consciência do problema e as suas afetações. É a própria visualização do Estado no meio
do problema mundial e as conseqüências da necessária decisão de ser um participante
condutor do processo, para a regularização do problema, ou vítima deste. A
conscientização do Estado, através dos seus legisladores, deverá incentivar o
envolvimento do povo, do seu papel pelo controle no consumo e, ao final, pelo seu correto
descarte destes produtos, quando não mais os desejar. A coligação legislação-povo,
certamente, impulsionará e incentivará a ação das empresas para, não só, a fabricação
de produtos com menor impacto ambiental, como também com o seu comprometimento
em recolher e destinar à reciclagem (ou outro meio válido) os equipamentos descartados.

Recentemente a mídia destacou que a Universidade de São Paulo (USP) criou o


primeiro centro de reciclagem destinado ao lixo eletrônico. Ainda que a princípio sejam
reciclados apenas os equipamentos da própria USP, a iniciativa se demonstra bastante
promissora, posto que – em médio prazo – tenha como objetivo a abertura do centro para
toda a população. Não se pode negar que o modelo possa inspirar novos projetos e que,
assim, ganhem espaço e credibilidade entre a população.

A tecnologia tem seu lugar, veio para ficar. Seus passos rápidos assinalam ser
necessário um Estado ágil para implementar as adequações normativas que regulem as
relações e as conseqüências desta evolução. Embora o problema do lixo eletrônico seja
global, a sua solução surgirá dos bons resultados das ações locais, que inspirarão as
iniciativas governamentais nas relações internacionais sobre o tema.

10
O lixo eletrônico que sobrecarrega os containeres dos países tecnologicamente
avançados nada mais é que o rastro marcante de um futuro que chegou e passou. É a
sombra, na forma de lixo, do status tecnológico alcançado pela civilização do planeta
Terra. Civilização que, ao tratar do próprio lixo de forma responsável e com vista ao seu
reaproveitamento e não simplesmente despejando-o em qualquer lugar, estará rumando
para o status de civilização realmente avançada, não apenas tecnologicamente, mas,
sobretudo humana e socialmente consciente, pela sabedoria para administrar as
conseqüências da sua evolução, do seu comportamento, para seu próprio bem-estar e a
preservação do planeta.

1
The Electronics Revolution: From E-Wonderland to E-Wasteland. Oladele A. Ogunseitan, Julie M. Schoenung, Jean-
Daniel M. Saphores, and Andrew A. Shapiro. Science 30 October 2009

2 h
Fonte: The Economist, feb. 20' , 1999, Survey, p.8 (in http://www.cefetsp.br/edu/eso/lia/cadeiasprodutivas2.html)

3
Em: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=lixo-eletronico-outro-lado-era-tecnologia&id=
010125091030
4
O conceito relaciona-se diretamente ao termo GLOBALIZAÇÃO e está associado a uma nova visão do mundo
viabilizada pelo desenvolvimento de modernas tecnologias de informação e comunicação, bem como pela grande
facilidade e rapidez dos meios de transporte. O conceito foi criado ainda na década de 60 por Herbert Marshall McLuhan
(Sociólogo canadense, professor da Escola de Comunicações da Universidade de Toronto/Canadá) que foi o primeiro
filósofo das transformações sociais provocadas pela revolução tecnológica do computador e das telecomunicações.
Segundo seu criador, a informação transmitida eletronicamente eliminava "virtualmente" as distâncias geográficas
(profissionalmente, comercialmente, pessoalmente etc.), ampliando não apenas os poderes de organização social da
população, eliminando amplamente a sua fragmentação espacial, mas possibilitando que qualquer acontecimento numa
determinada parte do mundo tenha reflexos noutra parte do mundo, geograficamente distante. O princípio que preside a
este conceito é o de um mundo interligado, com estreitas relações econômicas, políticas e sociais, fruto da evolução das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (vulgo TIC), particularmente da World Wide Web, diminuidoras das
distâncias e das incompreensões entre as pessoas e promotor da emergência de uma consciência global
interplanetária, pelo menos em teoria. Essa profunda interligação entre todas as regiões do globo originaria uma
poderosa teia de dependências mútuas e, desse modo, promoveria a solidariedade e a luta pelos mesmos ideais, ao
nível, por exemplo da ecologia e da economia, em prol do desenvolvimento sustentável da Terra, superfície e habitat
desta "aldeia global".

5
Toneladas de cabos, celulares, monitores, torradeiras, toca-fitas, relógios são comprados às toneladas por pequenos
negócios. Desmonta-se, separa-se, queima-se esse material todo com o fim de separar metais preciosos como ouro,
prata, cobre, platina e paládio.
6
Citado em: http://www.correiointernacional.com/?p=1768

7
Em: http://lixoeletronico.org/blog/minera%C3%A7%C3%A3o-urbana-fen%C3%B4meno-e-possibilidades

8
Em: www.lixoeletronico.org

9
Em: http://www.step-initiative.org/

11
Referências

AMARO, Mariana. Info Online. Destino do lixo eletrônico é decidido. Disponível em:
http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/destino-do-lixo- eletronico-e-decidido-
17072009-43.shl . Capturado em 27/10/09

Basel Action Network: Disponível em: http://www.ban.org. Capturado em 27/10/09

DACEY, Jessica. Suíça faz lobby por melhor eliminação de lixo eletrônico.
http://www.swissinfo.ch/por/index.html?cid=6748714. Capturado em: 04/12/2009.

HP. Disponível em: http://www.hp.com/latam/br/ecosolutions/ Capturado em 27/10/09

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Lixo eletrônico: o outro lado da Era da Tecnologia.


Disponível em: www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=lixo-
eletronico-outro-lado-era-tecnologia. Capturado em 30/10/09.

LIMA, Vanessa. Brasil produz quatro mil toneladas de lixo eletrônico por hora.
Disponível em: http://www.metodista.br/rronline/ciencia-e-saude/brasil-produz-quatro-mil-
toneladas-de-lixo-eletronico-por-hora. Capturado em: 27/10/09

MATTAR, Maria Eduarda. Lixo eletrônico: um problema que não se deleta. Disponível
em: http://www.lainsignia.org/2002/marzo/cyt_008.htm

OGUNSEITAN et al. The Electronics Revolution: From E-Wonderland to E-


Wasteland. Science 30 October 2009: 670-671. DOI: 10.1126/science.1176929 -
Disponível em: http://www.sciencemag.org/cgi/content/summary/326/5953/670. Capturado
em 30/11/09.

Openinnovatio. USP cria primeiro centro publico de lixo eletrônico. Disponível em:
http://www.openinnovatio.org/2009/05/16/usp-cria-primeiro-centro-publico-de-lixo-
eletronico/ Capturado em 27/10/09.

PEDRO, Antonio Fernando Pinheiro. Comentários sobre a Resolução CONAMA Nº


257, de 30 de junho de 1999. Disponível em:
http://www.pinheiropedro.com.br/biblioteca/artigos_publicacoes/temas_ambientais/05_co
mentarios_resolucao_conama.php Capturado em 27/10/09

PEREIRA, Daniel. Lixo eletrônico - problema e soluções. Disponível em:


http://www.sermelhor.com/artigo.php?artigo=80&secao=ecologia. Capturado em 02/12/09

ROSENTHAL , Elisabeth. Europa: Contrabandeando Lixo para Países Pobres.


Disponível em: http://www.correiointernacional.com/?p=1768. Capturado em: 27/10/09

StEP – Solving the E-Waste Problem. Disponível em: http://www.step-


initiative.org/index.php. Capturado em 30/10/09.

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