Você está na página 1de 10

SIMPLES NACIONAL

REGIME ESPECIAL UNIFICADO DE ARRECADAÇÃO DE TRIBUTOS E


CONTRIBUIÇÕES DEVIDOS PELAS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE
PEQUENO PORTE
INTRODUÇÃO

A compreensão da dimensão da influência econômica social desempenhada pelas


microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP) é imprescindível para o
estabelecimento de mecanismos de combate ao desemprego e fomento do crescimento
sustentável do país. O Estado, portanto, possui incumbência de assumir uma atuação mais
incisiva na garantia de que tais empresas consigam exercer suas atividades com
desembaraço (BACELAR, 2011).
A autora também pontua que apesar das atividades do segmento constituído pelas
ME e EPP não refletirem de modo significativo nas variações do Produto Interno Bruto
(PIB) nacional, elas possibilitam a elevação da atividade econômica e o ingresso no
mercado de trabalho em esfera local, sendo fator importante no desenvolvimento e
sustentação da economia nacional, principalmente no que diz respeito à distribuição de
renda e inclusão social.
Desse modo, objetivando tais contribuições para a sociedade, foi criado em 14 de
dezembro de 2006 o Estatuto da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, a partir da Lei
Complementar Nacional n.º 123. Seu artigo primeiro determina:

Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas gerais relativas ao tratamento


diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
especialmente no que se refere:

I - à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados,


do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação,
inclusive obrigações acessórias;

II - ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive


obrigações acessórias;

III - ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas


aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao
associativismo e às regras de inclusão [...] (BRASIL, 2006).

Através do inciso I, temos a constituição do Simples Nacional, um regime


compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Ele envolve a participação de todos os entes
federados como Municípios, Estados, Distrito Federal e União.
Este trabalho, portanto, possui como intuito dissertar sobre o Simples Nacional.
Serão apresentados alguns conceitos elementares, hipóteses de incidência, base de cálculo e
alíquotas aplicadas, formas de apuração entre outros itens importantes para entendimento
desse regime especial de arrecadação de tributos.

SUJEITO ATIVO DA CONTRIBUIÇÃO

De acordo com o Art. 119 da Lei 5.172/66 - Código Tributário Nacional, sujeito
ativo da obrigação tributária é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência
para exigir o seu cumprimento. (BRASIL, 1966).
Assim, uma vez que o Simples Nacional abrange várias esferas públicas, temos a
União como sujeito ativo dos tributos federais, os Estados e o Distrito Federal como sujeito
ativo dos tributos estaduais, e os Municípios e o Distrito Federal como sujeito ativo dos
tributos municipais.
Ressalta-se que a atribuição de fiscalização do cumprimento das obrigações
principais e acessórias é da Secretaria da Receita Federal e das Secretarias de Fazenda ou
de Finanças do Estado ou Distrito Federal, conforme a localização do estabelecimento.
Tratando-se da prestação de serviços pertencentes à competência tributária municipal, a
competência também será do respectivo município, como diz o art. 33º da LC n.º123/2006. 1
Por fim, o valor não quitado apurado em procedimento de fiscalização deverá ser lançado
de ofício pela autoridade competente que praticou a fiscalização. ¹

SUJEITO PASSIVO - CONTRIBUINTES E RESPONSÁVEIS


1
Art. 33 (LC n.º123/2006). A competência para fiscalizar o cumprimento das obrigações principais e acessórias
relativas ao Simples Nacional e para verificar a ocorrência das hipóteses previstas no  art. 29 desta Lei Complementar é da
Secretaria da Receita Federal e das Secretarias de Fazenda ou de Finanças do Estado ou do Distrito Federal, segundo a
localização do estabelecimento, e, tratando-se de prestação de serviços incluídos na competência tributária municipal, a
competência será também do respectivo Município.
§ 1o As Secretarias de Fazenda ou Finanças dos Estados poderão celebrar convênio com os Municípios
de sua jurisdição para atribuir a estes a fiscalização a que se refere o caput deste artigo.
§ 1o-A.  Dispensa-se o convênio de que trata o § 1 o na hipótese de ocorrência de prestação de serviços
sujeita ao ISS por estabelecimento localizado no Município. 
[...]
§ 3o O valor não pago, apurado em procedimento de fiscalização, será exigido em lançamento de
ofício pela autoridade competente que realizou a fiscalização.
O sujeito passivo, isto é, o devedor da obrigação tributária vinculada ao Simples
Nacional, são as entidades que facultarem adesão ao regime, observando o cumprimento
das seguintes exigências (ANGELIM, 2014):
1. Enquadrar-se no conceito de Microempresa ou de Empresa de
Pequeno Porte, conforme art. 3º da LC n.º123/20062.
2. Cumprir os requisitos previstos na legislação acima;
3. Manifestar a opção pelo Simples Nacional.

NÚMERO ESTIMADO DE CONTRIBUINTES

A Receita Federal disponibiliza em seu endereço eletrônico valores estatísticos


relacionados ao regime do Simples Nacional, como índices de inadimplência, resumo da
arrecadação e quantidade de optantes. Em 2019 o número de optantes apurados até o mês
de abril era de 13.177.733 (treze milhões cento e setenta e sete mil e setecentos e trinta e
três), como evidencia a Tabela 1 abaixo.

Tabela 1 - Simples Nacional - Quantidade de Optantes por UF - Ano de 2019 (Inclusive Optantes
SIMEI)
UF JAN FEV MAR ABR
AC 16.232 18.112 18.656 19.250
AL 116.653 119.917 121.116 122.520
AM 112.334 114.720 116.214 118.135
AP 26.661 27.294 27.555 27.882
BA 693.893 709.318 716.081 724.328
CE 394.598 402.550 405.978 410.370
DF 222.897 229.499 232.552 236.016
ES 294.283 300.704 304.204 308.344
GO 421.709 435.688 440.994 447.309
MA 181.108 185.753 187.312 189.269

2
Art. 3º (LC n.º123/2006) Para os efeitos desta Lei Complementar consideram-se microempresas ou empresas de pequeno
porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , devidamente
registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que:

I - no caso da microempresa aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais); e

II - no caso da empresa de pequeno porte aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

II - no caso de empresa de pequeno porte aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00
(trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).
MG 1.387.004 1.421.221 1.436.918 1.455.438
MS 167.678 171.926 174.224 176.643
MT 206.187 213.658 216.614 219.894
PA 251.329 256.702 259.800 263.342
PB 151.482 155.515 157.287 159.404
PE 351.138 362.884 367.085 372.108
PI 112.772 115.734 116.823 118.079
PR 855.955 878.067 887.956 899.679
RJ 1.254.633 1.281.725 1.296.572 1.314.584
RN 154.395 157.736 159.660 161.845
RO 78.185 79.989 80.815 81.883
RR 20.247 20.829 21.067 21.311
RS 848.707 868.613 877.352 887.190
SC 546.011 561.908 568.684 577.172
SE 70.936 73.710 74.609 75.667
SP 3.509.293 3.600.918 3.646.600 3.702.055
TO 84.058 86.048 86.943 88.016
Total Geral 12.530.378 12.850.738 12.999.671 13.177.733
Fonte: Receita Federal do Brasil (2019)

HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA

Silva (2014) indica que, apesar da base de cálculo e as alíquotas do Simples


Nacional estarem definidas pela LC nº 123/2006, as hipóteses de incidência de cada tributo
que integra o regime permanecem com as definições constantes das respectivas legislações
tributárias federal, estadual, distrital e municipal.
Assim, devem ser observadas as hipóteses de incidência referentes aos tributos
pertencentes ao âmbito do Simples, sendo eles: Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica
(IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins);
Contribuição para o PIS/Pasep; Contribuição Patronal Previdenciária (CPP); Imposto sobre
Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza (ISS).

BASE DE CÁLCULO
A base de cálculo utilizada para aplicação das alíquotas do Simples será a receita
bruta auferida. Considera-se receita bruta, o produto da venda de bens e serviços nas
operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em
conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos
(art. 3º, II, § 1º da LC n. 123/2006).

ALÍQUOTAS

O percentual efetivo devido sobre a base de cálculo do Simples Nacional é obtido a


partir das alíquotas nominais discriminadas por tipo de receita realizada, presentes nas
tabelas dos Anexos I a V da Lei Complementar n.°123/2006. Após conhecimento da
alíquota nominal, aplica-se a fórmula abaixo, na qual RBT12 representa o valor da receita
bruta total nos 12 meses anteriores ao do período de apuração.

Alíquota Efetiva = (RBT12 x Alíquota Nominal)-Parcela a Deduzir


RBT12

FORMA DE APURAÇÃO

Para ilustrar a forma de apuração, segue situação proposta por IOB (2018), na qual
pessoa jurídica optante pelo Simples Nacional, na condição de empresa de pequeno porte,
apresentou os dados abaixo relativos ao mês de novembro/20X1:

 Receita bruta total nos 12 meses anteriores ao do período de apuração: R$3.500.000,00


 Receita bruta total do mês de novembro/20X1: R$300.00,00

Considera-se que a empresa hipotética enquadra-se no Anexo I da LC n. 123/2006,


que informa as alíquotas nominais que incidem sobre atividades de comércio, como mostra
a Tabela 2:

Tabela 2 - Alíquotas do Simples Nacional – Comércio 

Receita Bruta em 12 Meses (em R$) Alíquota Valor a Deduzir (em R$)
1a Faixa Até 180.000,00 4,00% -
2a Faixa De 180.000,01 a 360.000,00 7,30% 5.940,00
3a Faixa De 360.000,01 a 720.000,00 9,50% 13.860,00
4a Faixa De 720.000,01 a 1.800.000,00 10,70% 22.500,00
5a Faixa De 1.800.000,01 a 3.600.000,00 14,30% 87.300,00
6a Faixa De 3.600.000,01 a 4.800.000,00 19,00% 378.000,00
1. Cálculo da Alíquota Efetiva (AE):

AE = [(RBT12 x ALIQ) – PD] / RBT12


AE = [(R$3.500.000,00 x 0,1430) – R$87.300,00] / R$3.500.000,00
AE = [R$500.500,00 – R$87.300,00] / R$3.500.000,00
AE = R$413.200,00 / R$3.500.000,00
AE = 0,1181 ou 11,81%

2. Apuração do Valor devido (DAS):

DAS = RBT mensal x AE

DAS = R$300.000,00 x 0,1181


DAS = R$35.430,00

Efetuando-se a apropriação da importância devida na modalidade do Simples


Nacional pelo valor global, teríamos:

1) Pelo valor devido no mês de novembro/20X1 a título de Simples Nacional


D: Simples Nacional (Conta de Resultado) R$35.430,00
C: Simples Nacional a Recolher (Passivo Circulante)

Se a pessoa jurídica preferir, o registro contábil do montante devido pode ser feito
de modo pormenorizado, especificando as parcelas correspondentes a cada tributo no mês.
Para que seja possível, é preciso decompor o percentual devido no mês, conforme previsto
no Anexo I da LC n. 123/2006:

Tabela 3 - Partilha do Simples Nacional – Comércio

Faixas Percentual de Repartição dos Tributos


  IRPJ CSLL Cofins PIS/Pasep CPP ICMS
1a Faixa 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 41,50% 34,00%
2a Faixa 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 41,50% 34,00%
3a Faixa 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%
4a Faixa 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%
5a Faixa 5,50% 3,50% 12,74% 2,76% 42,00% 33,50%
6a Faixa 13,50% 10,00% 28,27% 6,13% 42,10% -

Tabela 4 – Valor devido no mês por tributo

Tributo englobado no Simples Nacional Percentual Valor – R$


Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) 5,50% 1.948,65
Contribuição Social sobre o Lucro (CSLL) 3,50% 1.240,05
Cofins 12,74% 4.513,78
PIS/Pasep 2,76% 977,87
Contribuição Previdenciária Patronal (CPP) 42,00% 14.880,00
ICMS 33,50% 11.869,05
Totais 100,00% 35.430,00

2) Pelo valor devido no mês de novembro/20X1 a título de Simples Nacional


pormenorizado:

D: Simples Nacional – IRPJ (Conta de Resultado) R$1.948,65


D: Simples Nacional – CSLL (Conta de Resultado) R$1.240,05
D: Simples Nacional – Cofins (Conta de Resultado) R$4.513,78
D: Simples Nacional – PIS/Pasep(Conta de Resultado) R$977,87
D: Simples Nacional – CPP (Conta de Resultado) R$14.880,00
D: Simples Nacional – ICMS (Conta de Resultado) R$11.869,05
C: Simples Nacional a Recolher (Passivo Circulante) R$35.430,00

3) Pelo pagamento do montante devido no mês de novembro/20X1:


D: Simples Nacional a Recolher (Passivo Circulante) R$35.430,00
C: Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante)

CONCLUSÃO
O presente trabalho discorreu sobre o Simples Nacional, expondo alguns conceitos
elementares, hipóteses de incidência, base de cálculo e alíquotas aplicadas, formas de
apuração e registros contábeis. O Simples é um regime compartilhado de arrecadação,
cobrança e fiscalização de tributos indicado para Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte, com aspectos positivos como a possibilidade de declaração única e simplificada de
dados fiscais e socioeconômicos.
Segundo informações extraídas do Portal do Simples, disponibilizadas pela Receita Federal
do Brasil, em 2014 existiam 9.513.065 contribuintes optantes pelo Simples Nacional. Já em
abril de 2019, como visto anteriormente, há 13.177.733 contribuintes, evidenciando um
incremento de 38.52 %. Podemos concluir que os mecanismos de

Conforme dados, extraídos dos sistemas gerenciais da Secretaria Executiva do CGSN, em


31/12/2011 existiam 5.703.000 contribuintes optantes pelo Simples Nacional (incluindo os
enquadrados na sistemática voltada para os empreendedores individuais, que representam
cerca de 1.830.000 desses contribuintes), em contrapartida dos 2.831.000 contribuintes
existentes em 31/12/2007.25

Diante dessas informações, observa-se um incremento no número de optantes de 136,81%


em 04 anos, o que leva a crer que os mecanismos de simplificação da tributação
implementados junto com a política de favorecimento e diferenciação das ME e EPP vem
alcançando seus objetivos,incentivando e fomentando a formalização dos pequenos
negócios no país.

REFERÊNCIAS

ANGELIM, Osvaldo. Sistema Tributário Nacional: Simples Nacional com as alterações da


Lei Complementar nº147/2014. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Contabilidade,
2014. Disponível em: <http://webserver.crcrj.org.br/APOSTILAS/A1015P0415.pdf>.
Acesso em 28 jun. 2019.

BACELAR, Lúcia Souza. Sistema tributário, princípio federativo e simples nacional:


regime especial unificado de arrecadação de tributos. 2011. Disponível em: <
http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4024 >. Acesso em 24 jun. 2019.

BRASIL. Lei Complementar n.º 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto


Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm>. Acesso em 28 jun.2019.

BRASIL, Receita Federal. Estatísticas de Arrecadação do Simples Nacional. Disponível


em:<http://www8.receita.fazenda.gov.br/simplesnacional/Arrecadacao/EstatisticasArrecada
cao.aspx>. Acesso em 30 jun. 2019.
IOB, Sage. Simples Nacional: Registro dos tributos devidos pelas pessoas jurídicas
optantes. Boletim IOB fascículo nº 14/2018. Manual de Procedimentos, Temática Contábil
e Balanços, São Paulo, 2018.

SILVA, Gener Otaviano. Parecer n.º 0346 de 2014. Secretaria de Estado da Fazenda de
Goiás. Disponível em:<
http://aplicacao.sefaz.go.gov.br/perguntaresposta/problema_popup.php?
cod_problema=2082>. Acesso em: 30 jun. 2019.

Você também pode gostar