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Rio de Janeiro, 04 de maio de 2009:

A “nova” interpretação constitucional

1. A difícil arte de interpretar;


2. Hermenêutica e interpretação;
3. Elementos ou métodos clássicos de interpretação
a) gramatical ou literal;
b) histórico;
c) sistemático;
d) teleológico.
4. Abertura das Constituições aos princípios e regras do pós-guerra: Dowrkin, Alexy,
Canotilho e Paulo Bonavides.

5. A sociedade aberta dos intérpretes constitucionais Peter Haberle.

6. Os princípios da nova interpretação


a) da unidade constitucional
b) da concordância prática
c) da correção funcional
d) máxima efetividade/força normativa da Constituição
e) da interpretação conforme a constituição
f) Proporcionalidade/Razoabilidade

A hermenêutica é o estudo que visa obter da lei o seu melhor significado. A ferramenta
principal da hermenêutica é a interpretação e por meio da tarefa do intérprete que se
utiliza de elementos e princípios para obter da lei o significado esperado.

3.a) Interpretação gramatical ou literal – abre a tarefa do intérprete, mas


normalmente não a fecha. Ex: art. Art. 5º LVI – este dispositivo tem uma literalidade,
mas a prova ilícita é admitida em caso de legitima defesa ou em defesa do réu.
A interpretação gramatical visa a leitura dos símbolos escritos da constituição, mas,
normalmente, apesar de ser o ponto de partida da tarefa do intérprete não é o seu ponto
de chegada, tendo em vista que muitos dispositivos possuem plúrimus significados.

3.b) Interpretação histórica - a interpretação histórica é muito importante para a


compreensão de certos institutos principalmente nas constituições jovens. Entretanto é
importante lembrar que a occasio legis, ou seja, o momento de elaboração da norma
não deve encerrar a tarefa do intérprete, pois a ratio legis, ou seja, o fundamento
racional é que deverá manter a constituição válida ao longo da produção dos seus efeitos
jurídicos.
A interpretação histórico-evolutiva deverá se destacar tendo em vista que o Poder
Constituinte Originário não pretendeu aprisionar a vontade da Constituição em 1988.

3.c) Interpretação sistemática – a analise sistemática prevê que a constituição é


formada por uma série de normas interligadas, permitindo que a tarefa do intérprete seja
realizada com mais qualidade. Por exemplo, o meio ambiente encontra proteção nos
artigos: 5º LXXIII; 129, III; 170; 186; 225, dentre outros.

3.d) Interpretação teleológica – analisa a finalidade do dispositivo e reconhece que o


direito não é um fim em si mesmo. Como exemplo desta interpretação podemos citar a
impugnação do registro de candidatura da “parceira” da Prefeita de um município do
Pará sob o argumento de que a inelegibilidade reflexa visa evitar que pessoas que
possuam laços afetivos muito próximos comandem uma unidade da federação. Outro
exemplo seria a manutenção da prisão do Presidente da Assembléia Legislativa de
Rondônia sem a possibilidade do relaxamento político presente nos artigos 27 §1º c/c 53
§2º (dispositivos que falam sobre a imunidade parlamentar).

4) Abertura das Constituições aos princípios e regras do pós-guerra: Dowrkin,


Alexy, Canotilho e Paulo Bonavides
Na visão positivista do ordenamento jurídico a lei, ou seja, a regra era a fonte formal
principal das decisões judiciais. Com o fim da 2ª Guerra Mundial e com as constituições
formadas pela dignidade da pessoa humana, os textos constitucionais se abriram para os
princípios que deixaram o papel coadjuvante que recebiam na visão positivista e
passaram ao papel de grandes protagonistas do ordenamento jurídico ao lado das regras.
As regras são normas objetivas, concretas, descritivas, aplicáveis mediante subsunção e
os princípios são normas abstratas, subjetivas, com alta carga axiológica, ética e moral
aplicados mediante ponderação. Lembramos que o encontro do Brasil com essa nova
ordem mundial que colocou o ser humano no epicentro do ordenamento jurídico ocorreu
tardiamente, tendo em vista os 21 anos de ditadura militar que antecederam a
Constituição de 1988.

5) A sociedade aberta dos intérpretes constitucionais Peter Haberle


O jurista alemão, na década de 60, destacou três pontos importantes da interpretação
constitucional, quais sejam: 1. A ampliação do círculo de intérpretes da constituição
permitindo que a tarefa de interpretar não seja exclusiva do Judiciário; 2. A
interpretação constitucional como um processo aberto e público (destaque para o papel
do amicus curiae e das audiências públicas); 3. A constituição deve estar interpenetrada
com a realidade do país para que possamos ter uma constituição real e não apenas ideal.
A mutação constitucional se torna mais forte.

6) Os princípios da nova interpretação

a) p. da unidade constitucional – de acordo com a unidade da constituição, o intérprete


deverá analisar o texto constitucional como sendo um complexo de normas formadas
por princípios e regras não colidentes entre si, inexistindo com isso verdadeiras
antinomias entre as normas da constituição.

b) p. da concordância prática – a concordância prática é um desdobramento do


princípio da unidade constitucional e determina que o intérprete quando se deparar com
eventuais conflitos de direitos fundamentais dê decisões harmoniosas não esvaziando o
núcleo do direito fundamental que sofreu restrição no caso concreto. O princípio pode
ser também denominado de harmonização.
c) p. da correção funcional – este princípio visa defender a divisão e organização da
separação de poderes e da repartição de competências no país. É muito utilizado em
sede de controle de constitucionalidade e permite ao STF corrigir eventuais disfunções
entre os poderes e entre os entes da federação.

d) p. da máxima efetividade/força normativa da Constituição – de acordo com esses


dois princípios temos a defesa da própria constituição, ou seja, todas as normais
constitucionais estariam plenamente aptas a produzir seus efeitos jurídicos essenciais,
mesmo aquelas com conteúdo programático (por exemplo, saúde e educação).

ADPF 45 – Informativo 345 – ler.

e) p. da interpretação conforme a constituição – a interpretação conforme a


constituição está relacionada ao princípio da presunção de constitucionalidade das leis,
permitindo que se uma lei der ensejo a múltiplas interpretações e se pelo menos uma das
interpretações for compatível com a constituição, que seja adotada permitindo a
manutenção da lei no ordenamento jurídico, preservando assim o trabalho legislativo.

f) p. da proporcionalidade/razoabilidade -

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