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Radiação ultravioleta emitida por lâmpadas, aparelhos de

televisão, tablets e computadores: há riscos para a população? *


Ultraviolet radiation emitted by lamps, TVs, tablets and computers: are there risks for the
population?

Ida Alzira Gomes Duarte; Mariana de Figueiredo Silva Hafner; Andrey Augusto Malvestiti
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil
Recebido em 10.04.2014.
Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 23.06.2014.
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum
Como citar este artigo: Duarte IAG, Silva MF, Malvestiti AA. Radiação ultravioleta emitida por
lâmpadas, aparelhos de televisão, tablets e computadores: há riscos para a população? An
Bras Dermatol. 2015;90(4):595-7.
Correspondência:
Ida Alzira Gomes Duarte
Rua Doutor Cesário Motta Júnior, 112 Vila Buarque
01221-020 - São Paulo - SP Brasil
E-mail: idaduarte@terra.com.br
 

Resumo
A frequente exposição do ser humano aos diversos tipos de lâmpadas utilizadas em ambientes,
assim como a outras fontes de luz (monitores de televisão, tablets e computadores), levanta
uma questão: há riscos para a população? No presente estudo, foram mensuradas as
emissões de radiação UVA e UVB pelas lâmpadas e telas dos aparelhos eletrônicos a fim de
determinar a distância segura entre a fonte emissora e o indivíduo. Como não foi detectada
radiação UVB e UVA, conclui-se que as lâmpadas e os monitores de aparelhos eletrônicos de
uso comum não emitem radiação ultravioleta que ofereça risco à população.
Palavras-chave: Luz; Raios ultravioleta; Riscos de radiação
 

A fotoproteção tem sido cada vez mais discutida. A importância dada ao tema tem aumentado
progressivamente desde a publicação dos primeiros estudos que associaram a radiação
ultravioleta (RUV) à carcinogênese e ao fotoenvelhecimento. 1,2
As primeiras pesquisas sobre a RUV emitida por fontes artificiais visavam esclarecer a relação
entre o uso de lâmpadas fluorescentes e a incidência de melanoma cutâneo. 3 Desde então, há
uma preocupação crescente com a possibilidade de risco aumentado de câncer da pele em
indivíduos expostos a lâmpadas de ambientes.
Em 1990, Diffey indicou as principais situações de risco à radiação UV proveniente de fontes
artificiais: câmaras de bronzeamento artificial, fototerapia médica e odontológica, fotoprocessos
industriais, esterilização e desinfecção, pesquisas de laboratório, armadilhas para insetos e
luzes para ambientes em geral.4
Posteriormente, surgiram pesquisas sobre radiação emitida pelas lâmpadas halógenas e sobre
exacerbação de dermatoses fotossensibilizantes após exposição às fontes artificiais. 5 Após a
demonstração de que a proximidade com a fonte emissora aumentaria o risco dessas
dermatoses, a Artificial Optical Radiation Directive, formulada pelo parlamento europeu,
recomendou que a exposição ocupacional à radiação UV fosse limitada à irradiação efetiva de
1 mW/m2 num período de 8h.6
Já foi demonstrado que todas as lâmpadas emitem radiação UV, sejam elas halógenas de
quartzo, incandescentes de filamento de tungstênio, fluorescentes tubulares ou fluorescentes
compactas (estas últimas, principalmente). 6 No entanto, os materiais plásticos usados como
difusores da luz poderiam bloquear a passagem da radiação. 7,8
Outro ponto a ser mencionado é que, atualmente, em todos os continentes, as discussões
sobre o uso racional de energia são cada vez mais frequentes e prioritárias nas pautas
governamentais. Neste cenário, as lâmpadas incandescentes de filamento de tungstênio
(comuns) estão sendo substituídas, tanto no uso doméstico quanto no comercial, pelas
fluorescentes compactas, devido ao seu baixo consumo energético. 6
Como a maioria dos indivíduos se expõe aos diversos tipos de lâmpadas utilizadas em
ambientes, assim como a outras fontes de luz, tais como monitores de televisão, tablets e
computadores, é importante determinar os níveis de radiação emitida pelos mesmos, bem
como a distância segura entre a fonte emissora e o indivíduo.
Com a finalidade de quantificar a emissão das radiações UVA e UVB por diferentes fontes de
luz utilizadas em ambiente doméstico, foram selecionadas lâmpadas de tipos e marcas mais
utilizadas no mercado brasileiro:
- Incandescentes (Philips Soft 60W, Philips Standard 100W, Osram 60W, Osram 100W)
- Fluorescentes compactas (Taschibra, Philips, Osram);
- Fluorescentes tubulares (Philips; Osram);
- Halógenas (Osram).
Foram também avaliados:
- Aparelhos de televisão (Samsung Full HD Plasma e Panasonic LED Plana);
- Aparelhos de computador (LG Microcomputador HD 500GB, LG Notebook HD 320GB e
Sony LED 1TB);
- Aparelho de tablet (Apple Ipad 2).
Foram mensuradas as emissões de radiação UVA e UVB pelas diversas lâmpadas e pelas
telas dos aparelhos eletrônicos a 5 e 20 cm de distância da fonte. Para isso, foram utilizadas 2
marcas de fotômetros:
- UVA (320-400nm; que mede de 0 a 199,9 mW/cm 2) e UVB (280-320nm; que mede de 0 a
19,99 mW/cm2), fabricados pela Solarmeter (USA);
- UVA-400C (315-400nm) e UVB (280-320nm), fabricados pela National Biological Corporation.
As medições foram realizadas após 60 segundos de funcionamento das fontes, mantendo-se
os fotômetros em posição de mensuração por 15 segundos.
No presente estudo, não houve emissão de radiação ultravioleta dentro dos espectros
considerados UVA e UVB pelas lâmpadas e pelos monitores de televisão, computador e tablet,
independentemente das variáveis: tipo, marca e distância (a 5 e a 20 cm de distância da fonte).
Os resultados de estudos prévios sobre o tema são variados.
Whillock e colaboradores, em 1990, concluíram que a emissão UV de lâmpadas fluorescentes
compactas não constituiria um risco quando estivessem a mais de 65 cm de distância. Já em
estudo recente sobre o mesmo tema, verificou-se que aquelas com duplo envelope têm uma
maior proteção. Além disso, o vidro presente no envoltório das lâmpadas confere uma maior
proteção. Assim, mesmo que as lâmpadas emitam uma pequena quantidade de UVB, esta
irradiação é totalmente bloqueada pelos vidros das mesmas. 9,10
Em estudo experimental, evidenciou-se que lâmpadas fluorescentes, halógenas de quartzo e
incandescentes de filamento de tungstênio podem emitir ondas UVB com menos de 280nm, e
que doses maiores de UVA poderiam ser emitidas por iluminações mais intensas. 7
A análise dos trabalhos publicados sobre o tema mostra que nenhum demonstrou emissão de
radiação UVA (320-400nm) detectável. Em relação à UVB, os estudos que evidenciaram
emissão detectável levaram em consideração o espectro a partir de 280nm e não a faixa UVB
290-320nm.
Trabalhos publicados tentaram mostrar a ação da radiação UV na indução de fotodermatoses,
mas os resultados são controversos, principalmente em relação ao espectro e à quantidade de
radiação UV emitida pelas lâmpadas.6
Como no presente estudo não houve emissão de radiação dentro dos espectros considerados
UVB e UVA, conclui-se que as lâmpadas e os monitores de aparelhos eletrônicos de uso
comum não emitem radiação ultravioleta que ofereça risco à população.
 

Referências
1. Silverstone H, Campbell CB, Hosking CB, Hosking CS, Lang LP, Richardson RG. Regional
studies in skin cancer. First report: North-Western Queensland. Med J Aust. 1963;50:312-5.
2. Fears TR, Scotto J, Schneiderman MA. Skin cancer, melanoma and sunlight. Am J Public
Health. 1976;66:461-4.
3. Swerdlow AJ, English JS, MacKie RM, O'Doherty CJ, Hunter JA, Clark J, et al. Fluorescent
lights, ultraviolet lamps and risk of cutaneous melanoma. BMJ. 1988;297:647-50.
4. Diffey BL. Human exposure to ultraviolet radiation. Semin Dermatol. 1990;9:2-10.
5. Rihner M, McGrath H Jr. Fluorescent light photosensitivity in patients with systemic lupus
erythematosus. Arthritis Rheum. 1992;35:949-52.
6. Eadie E1, Ferguson J, Moseley H. A preliminary investigation into the effect of exposure of
photosensitive individuals to light from compact fluorescent lamps. Br J Dermatol.
2009;160:659-64.
7. Sayre RM, Dowdy JC, Poh-Fitzpatrick M. Dermatological risk of indoor ultraviolet exposure
from contemporary lighting sources. Photochem Photobiol. 2004;80:47-51.
8. Korgavkar K, Xiong M, Weinstock MA. Compact fluorescent lamps and risk of skin cancer. J
Cutan Med Surg. 2013;17:308-12.
9. Khazova M, O'Hagan JB. Optical radiation emissions from compact fluorescent lamps. Radiat
Prot Dosimetry. 2008;131:521-5
10. Duarte I, Rotter A, Malvestiti A, Silva M. The role of glass as a barrier against the
transmission of ultraviolet radiation: an experimental study. Photodermatol Photoimmunol
Photomed. 2009;25:181-4.
 
* Trabalho realizado na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil.

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