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A Amazônia Negra
Quando se fala sobre a presença negra na Amazônia é frequente ver o espanto das pessoas.
Ainda hoje, especialmente fora da região, é comum ouvir a pergunta: “Mas, afinal, existiu escravidão
na Amazônia? ”
Podemos começar respondendo que a experiência da escravidão africana também marcou a trajetória
da parte norte da colônia portuguesa na América. Em decorrência disso, hoje a presença negra na
Amazônia é inegável, com enorme impacto na vida da região, marcando sua história, suas formas de
comer, vestir, amar, dançar, cantar, rezar, trabalhar, juntamente com todas aquelas heranças
intangíveis que as pessoas levam na pele, nos olhos e na alma.
Os Negros no Pará
Estudos recentes indicam que a Amazônia foi conectada às redes do tráfico atlântico ainda no fim do
século XVII e, até meados de 1750, estima-se a entrada de cerca de mil indivíduos na região,
provenientes, em especial, da Costa da Mina, área tradicional de comércio negreiro na África.
O tráfico era feito com forte comprometimento da coroa portuguesa e, considerando que o Grão-Pará
e o Maranhão não eram uma de suas rotas mais rentáveis, havia certa irregularidade nos
desembarques até a segunda metade do século XVIII, quando foi criada a Companhia Geral de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão.
A partir daí, coube à nova empresa a tarefa de ampliar a oferta de escravos para os proprietários
da região, em especial porque a coroa portuguesa resolveu, no mesmo período, abolir a escravidão
dos índios (1755) que eram trazidos dos altos cursos dos rios amazônicos para servir nas
propriedades no Pará e no Maranhão. No Pará, a defesa dos indígenas pelos missionários, defendendo
a liberdade dos nativos, criou as condições para a importação de escravos africanos para o Estado do
Pará.
Os índios eram trabalhadores indispensáveis e o fim de sua escravidão, somado à presença dos
escravos, não representou uma redução dessa importância.
Eles continuaram a ser empregados em diversas formas de trabalho compulsório e, inclusive,
compartilharam muitas dessas experiências com os escravos negros.
Foi somente com a criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778), visando o
estabelecimento da política pombalina de fomentar as atividades comerciais na Amazônia, que as
cifras dos cativos traficados entre a África e a Amazônia portuguesa aumentam significativamente.
Entretanto, isso não irá dar conta totalmente da carência por trabalhadores escravos na região.
Enquanto a Companhia esteve em funcionamento (1755-1778), estima-se que tenha comercializado
perto de 25 mil escravos na imensa área que hoje conhecemos como Maranhão, Pará, Amazonas e
Mato Grosso. Até meados do século XIX,
seguindo os novos fluxos do tráfico internacional,
as populações desembarcadas na Amazônia
serão procedentes, em sua maioria, da África
Central Atlântica.
Assim, no século XIX já era bastante evidente a
presença da população escrava africana nas
vastidões amazônicas, trabalhando com os índios
nas lavouras de café, tabaco, cana-de-açúcar, na
coleta de produtos da floresta, nas canoas do
comércio e também nos diversos núcleos urbanos
existentes floresta adentro. Como disse o
historiador Flávio dos Santos Gomes, há muito
tempo a floresta já estava enegrecida.
Índios do norte da província do Grão-Pará
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Estudos Amazônicos 7º ano
Como a região amazônica a ser explorada era imensa, seja para a agricultura ou pela coleta de produtos
de origem florestal necessitava-se de um maior número de força de trabalho para a região. Desta
forma a mão-de-obra na região amazônica se apresentava como uma problemática para os colonos.
Em Portugal já se utilizava a mão-de-obra escrava africana há séculos: a dos negros ou a de árabes
do norte da África. Desde o início da colonização do Grão-Pará houve a necessidade de resolver
problemas de mão-de-obra e Portugal buscou o problema com a escravidão negra africana. Na
Amazônia, o número de escravos negros não chegou a ser tão numerosos quanto em outras regiões
do Brasil. Isto devia-se ao fato de que a atividade básica da região – o extrativismo florestal – exigia
o conhecimento da floresta amazônica e os negros não a conheciam.
As nações africanas que abasteceram o tráfico na região entre o século XVIII e nas primeiras décadas
do XIX foram os bantos, o grupo Sudanês e nações do grupo Guineo-sudanês, além de outras
indicações étnicas consideradas duvidosas.
Circulando pelas ruas de Belém e Manaus estavam carregadores africanos, vendedoras de açaí,
mucamas e criados, forros negociando suas produções de tabaco, artigos de latão e cobre, oferecendo
seus serviços de sapateiro, carpinteiro e ourives, divertindo-se nas festas do Espírito Santo, de Nossa
Senhora de Nazaré ou, ainda, como membros da Irmandade do Rosário.
Escravos foram empregados na construção de fortalezas, condução de embarcações para Mato
Grosso, n a s f a z e n d a s , a r r o z , t a b a c o , m a n d i o c a , milho, na criação de gado e de cavalos na
Ilha de Marajó. Também eram artesãos, tecelões de chapéus e redes de algodão, apanhadores
de açaí, pescadores, trabalhadores do porto, dos arsenais de guerra e da Marinha, das obras públicas,
calafates, carpinteiros, p e d r e i r o s , f e r r e i r o s , v e n d e d o r e s d e tabaco, garapa e frutas. Também
estavam nas casas senhoriais servindo, ninando, zelando, cozinhando, lavando e costurando. Estavam
em todos os lugares dividindo espaços com os trabalhadores índios, o que tornava essas cidades
diferentes das outras. Foram utilizados para trabalhar na lavoura de cana- de-açúcar, e m
e n g e n h o s c o m o o E n g e n h o d o Murutucu em Belém e o Engenho do Cafezal em Barcarena.
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As ruínas do Engenho Murutucu, em Belém nas imagens acima e abaixo. O engenho possui quase trezentos anos de
história. Foi obra do arquiteto italiano Antônio Landi
A Capoeira
O negro escravo organizou seu próprio sistema de defesa. E começou usando o próprio corpo. A defesa
com o corpo gingando, com o ataque rápido e certeiro, característico do negro de Angola: era a
capoeira.
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A capoeira enquanto jogo ou luta, é de origem
africana, tendo raízes em Angola, portanto
tradição dos negros bantos.
No século XIX, no jornal O Publicador Paraense,
Diário de Notícias e a folha ilustrada A Semana
eram constantes as notícias de capoeiras no Pará.
Texto e Contexto
“Ante-ontem, às 8 horas da noite, no largo da Santana, um negro, metido à capoeira, fazia troça com
outros companheiros”
Com o término do tráfico negreiro transatlântico entre o Grão-Pará e a África (1834) não
representou a interrupção desta atividade, pois já havia todo um comércio interno entre os Estados
do Brasil e do Grão-Pará e Maranhão. Com isto, é importante notarmos que Belém não se limitava
apenas em ser um polo receptor de cativos africanos, mas também um polo exportador de escravos.
Através do porto de Belém ocorria um tráfico interprovincial de escravos a fim de abastecer as
necessidades de mão-de-obra africana para o mercado de trabalho de outros pontos da Amazônia.
No século XIX, no Brasil, ocorreu a luta para abolir
a escravidão no país. No Pará, em Belém foi
fundada a Sociedade Filantrópica Emancipadora da
Província do Grão-Pará, criada pelo médico Carlos
Seidl, em 1869. Em 1882, surgiram organizações
abolicionistas como o Clube Felipe Patroni e o Clube
Batista Campos.
Em abril de 1888, com a ascensão na Corte do
Gabinete de João Alfredo, os abolicionistas
criaram, n o G r ê m i o L i t e r á r i o , u m a
a s s o c i a ç ã o denominada Liga dos Cativos da
Imagem retrata a redenção de Benevides do trabalho
escravo. A Vida Paraense, Belém, 30/03/1884. Província do Pará. Após discussão sobre o
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estatuto, decidiram: a) que todos os membros da diretoria dariam liberdade aos seus cativos; b) que
escolheriam a data de 13 de maio para a abolição total dos escravos do Pará; c) como o dia 13 de
maio estava próximo, adiaram para o ano seguinte (1889) a extinção do cativeiro.
A colônia agrícola de Benevides torna-se importante nesse contexto, na medida em que atuava como
centro receptor de escravos fugidos, desde pelo menos 1881, três anos antes de ter sido decretada
como livre de escravos.
Texto e Contexto
Pele Negra
Texto e Contexto
(Tobias Barreto. Diário de Noticias, 02/07/1884. Citado em SALLES, Vicente. O negro na formação
da sociedade paraense. Belém: Paka-Tatu, 2004. pp. 73-74.).
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Em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, aboliu a escravidão em todo
Brasil. Recebendo a notícia, o presidente da província Miguel Almeida Pernambuco fez publicar, pela
imprensa, um edital, determinando a execução do Decreto nº 3.353 em todo o território do Pará.
Texto e Contexto
Texto e Contexto
Negros e a Cabanagem
“Emergindo dos mocambos e das senzalas ou afluindo dos quilombos ignotos, no seio das selvas e
nas praias desabitadas, os escravos acostaram-se à causa cabana, com o objetivo da reconquista da
liberdade. ”
(HURLEY, H. J. Traços cabanos. Belém: Off Gráficas do Instituto Lauro Sodré, 1936. p. 209.)
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Estudos Amazônicos 7º ano
Cabanos Negros – Foram muitos,
porém poucos nomes chegaram aos
nossos dias. As informações sobre
cada um deles também são
escassas, mas, suficientes para
figurarem no panteão dos grandes
heróis libertários de nossa terra.
Quase todos se libertaram da
escravidão, aderindo ao movimento
cabano de armas na mão. Por sua
audácia guerreira e liderança
política conquistaram chefias
militares e ao reivindicarem
abertamente que o terceiro governo
cabano abolisse formalmente o
cativeiro tornaram-se a vanguarda
programática do movimento.
Entre outros podemos citar o negro
cabano Pedro Figueiredo, nomeado
pelo segundo presidente cabano
Francisco Vinagre, comandante do
destacamento de guardas nacionais
Negros lutando durante a Cabanagem numa total inversão da hierarquia
militar, causando escândalo na
época. Este destacamento guarnecia o Arsenal de Guerra e o comandante Pedro Figueiredo, nas
palavras do historiador Domingos Rayol era “Homem da raça africana que se recomendara por seu
v a l o r e i n t r e p i d e z n o f o g o d a p r a ç a d a s Mercês”.
Em seus escritos, Rayol que foi o cronista da Cabanagem também faz referência aos negros Manuel
Barbeiro, Antônio Pereira Guimarães (o gigante Maquedum) o escravo Francisco Sipião “ que fora
capitão dos cabanos e influente nas desordens na cidade e desse rio”, Custódio Teixeira,
considerado um dos “influentes” na toma de Belém, em janeiro de 1835 e o aprendiz de sapateiro
José Manuel Pereira Feio. Outros antigos escravos também foram lembrados, especialmente o negro
Patriota, Joaquim Antônio e João do Espírito Santo, também conhecido como “ Diamante”. Todos os
três depois de terem se destacado como propagandistas das ideias revolucionárias e como
combatentes tiveram que enfrentar a repressão do terceiro governo cabano, de Eduardo Angelim,
acusados de ¨proclamarem a liberdade a seu jeito, incluindo a dos escravos em geral”. Patriota e
Joaquim Antônio foram fuzilados pelo governo cabano. Diamante penetrou na mata onde formou um
grupo que se autodenominou de “guerrilheiros”. Estes três grandes libertários, vindos da escravidão,
ousaram exigir que a revolução assumisse oficialmente a abolição do cativeiro, num momento em que
a Cabanagem retrocedia, uma vez que não se decidia a romper com o Brasil escravocrata e
latifundiário. Seus nomes ficarão na nossa memória para sempre.
Enegrecendo a floresta
No século XIX, Manaus e Belém surpreendiam os viajantes estrangeiros que por ali passavam. Suas
belezas naturais eram atrativos inquestionáveis, mas a diversidade étnico-racial de suas populações
era o tema recorrente nos relatos. Os dados mostram que existia, ao lado de uma grande maioria de
índios vivendo nas cidades, dos escravos africanos e dos chamados brancos, uma grande variedade
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de tipos mestiços que tornava a Amazônia um laboratório extraordinário para estudo dos efeitos
das “misturas raciais”.
Mas outros laços ligavam as histórias de índios e africanos relacionados com suas experiências de
solidariedade construídas a partir do duro cotidiano que muitas vezes compartilharam. As tentativas
de constituir novos espaços fora da escravidão levaram à formação de muitos
quilombos/mocambos que, eventualmente, reuniram índios e africanos no mesmo espaço. As fugas
também foram frequentes e, em vários casos, épicas, porque atravessavam amplos espaços do
território amazônico.
Escravos lançaram mão de muitas estratégias para sobreviver em um mundo adverso e se esforçaram
para manter, no limite de suas possibilidades, o controle de suas vidas. Buscaram juntar dinheiro
para alcançar alforria, formaram comunidades independentes, guardaram segredos no fundo da alma
e transmitiram a seus descendentes.
Mas a presença negra não se reduziu à escravidão. Outros homens e mulheres viveram na região
sendo professores de música, chefes de polícia, capoeiras, gráficos, lavadeiras, oleiros, carpinteiros
– uma lista sem fim. Apesar de o silêncio sobre essas histórias notáveis ainda ser persistente, não
há como negar que está sendo revertido pela força inquebrantável de todas essas experiências
históricas.
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As festas de abolição - as suas comemorações em Belém
Nesse prisma de análise, vamos perceber que as festas de comemoração do movimento de Abolição
da escravatura em Belém se apropriavam desses elementos acima explicitados.
Para que essas festas pudessem ocorrer de forma exemplar, era necessário dar um sentido a festa
e, ao mesmo tempo apagando um passado e construindo outro. No dia 13 de maio de 1888, o jornal
Diário de Notícias publica em suas páginas sob a forma de editorial:
Podemos perceber que há um discurso no qual se deseja apagar um passado que não representava a
civilização moderna. As representações da instituição escravista geralmente se reproduziam por seus
aspectos negativos. Frases tal como “negra instituição” dava ideia de como o regime era designado
palavras de significados fortes.
Festa da liberdade
Hontem por ocasião da sessão do conselho diretor da liga redentora, reuniram se varios membros da
sociedade que ahi fizeram por diversas formas comemorar o grande facto pedido da abolição,
apresentado ao parlamento pela augusta princeza imperial regente.
Durante a sessão, que foi concorridíssima, distribuíram se perto de 30 cartas a maior parte d’ellas
dadas em homenagem aos generosos sentimentos da excelsa princeza.
Muitos quarteirões e ruas foram considerados livres pelas comissões no meio de constantes applausos
e vivas.
Duas bandas de músicas tocavam a porta da casa. O honrado comerciante Domingo José Dias
declara que os vapores da cia Pará e Amazonas estão (SIC) do movimento libertador no interior da
província.
Declara mais que o commercio de Belém vai declarar não possuir mais escravos, nem servir-se de
escravos.
Calorosos aplausos e vivas cobrem a palavra do distinto cidadão.
Decidia-se mandar cunhar medalhas de ferro para comemorar o 13 de maio que vai ficar redimida a
cidade de Belém.
Em seguida, foi lido o topico da falla do trhono relativo a abolição, levantando-se vivas a
princeza, ao ministerio, a todos os trabalhadores da causa da liberdade, ao som do hyno nacional
executado pelas bandas e enquanto uma basta girandola de fogos levava as saudações ao ar livre da
Amazonia.
Depois dirigiram se todos ao palacio da presidencia para cumprimentar a primeira autoridade (...)
Para a noite foi desde logo anunciada uma passeata (...)
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Nesse sentido, concebemos a tradição das festas de redenção da cidade de Belém como uma tentativa
de transformação social apoiado numa ideologia que se afastava das tradições do império liderado
por Pedro II. Nesse ínterim, as tradições inventadas realmente necessitaram “criar” novos acessórios
ou linguagens ampliando o seu vocabulário, trabalhando a continuação histórica que é recorrente para
que as “tradições inventadas” possam estabelecer-se.
As festas de liberdade refletem bem a forma como as tradições inventadas são utilizadas com o
propósito principal de socialização e a inculcação de ideias ou sistemas de valores e até mesmos
padrões de comportamento. As tradições inventadas de festas preenchem um pequeno espaço
cedido pelas velhas tradições. Nesse sentido, podemos observar que as pessoas só tomam
consciência da sua cidadania através da assimilação de símbolos ou práticas aliada a participação de
pessoas que representam o Estado e o povo em si, contemplando a ação. Além disso, o próprio
discurso do abolicionismo colocava-se como uma “imagem” que se configurava no sentido
de perceber que a extinção do trabalho escravo no Grão-Pará e, consequentemente no Brasil se deu
sem nenhum trauma e que tal processo era uma prova de que a nação estava totalmente “redimida”
de seu passado escravista, mas que a partir desse ato de “humanidade”, o país escalava um cume
bastante difícil e alcançava o seu topo no qual a nação elevou-se sobre todos os outros países da
América e da Europa.
Processo de Recrutamento
Descimentos
Índios de Repartição
Também chamados de índios "livres" em oposição aos escravos, eram todos aqueles que aceitavam
ser descidos sem oferecer resistência armada.
Tropas de Resgate
Eram expedições armadas realizadas pelas tropas de resgates, com o objetivo de fazer uma troca
comercial entre os portugueses e as tribos consideradas aliadas. Os colonos trocavam quinquilharias
(espelhos, facões, miçangas, colares, panelas, etc.), por nativos prisioneiros de guerras intertribais,
os chamados "índios de corda".
Os índios resgatados podiam ser escravizados durante dez anos em retribuição ao seu salvador, que
os livrava da morte. No entanto, 1626, quando completaria os dez primeiros anos de presença
portuguesa na Amazônia e os primeiros escravos deveriam ser libertados, a legislação foi modificada,
estabelecendo que pudessem ser escravizados por toda vida.
Guerras Justas
Eram expedições armadas, realizadas pelas tropas de guerra. Invadiam os territórios indígenas com o
objetivo de capturar o maior número possível de índios, inclusive mulheres e crianças. De acordo com
o conjunto de leis de 1611, a guerra só era considerada justa quando:
Além dos pontos já mencionados, podemos citar como causas legítimas para a realização de uma
guerra justa a recusa à conversão, a prática de hostilidades contra os portugueses e a quebra de pactos
celebrados. O impedimento à pregação era apontado como causa justificada de guerra, para punir e
castigar aqueles que punham obstáculo à propagação da fé cristã. As hostilidades das tribos também
eram causas das guerras justas. Era então estabelecida a hostilidade, a guerra devia destruir as aldeias
inimigas, matando ou escravizando a todos a quem de algum modo resistir.
Os nativos presos eram conduzidos ao mercado de escravos da aldeia, onde também eram repartidos
entre os colonos, os religiosos e os serviços da coroa portuguesa.
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Foram incontáveis as expedições que penetraram no sertão amazônico com o objetivo de capturar
nativos forçados.
Porém, a lei de 1655, profundamente influenciada pelo padre Antônio Vieira, exímio combatente da
causa da liberdade indígena na região amazônica, estabeleceu com grande moderação sérios esforços
para acomodar, de um lado, as vantagens materiais dos colonos, e de outro, a proteção dos índios.
Apesar disso, a escravidão particular continuou a existir; em se tratando de índios prisioneiros de
guerra, ela devia, inclusive, ser vitalícia e hereditária. A escravidão dos índios resgatados, contudo,
devia durar somente cinco anos. Com essa lei a situação dos índios livres mudou, pois, a fiscalização
deles, antes atribuída a funcionários civis, foi designada aos jesuítas. A atuação dos funcionários civis
era geralmente prejudicial aos “índios livres”, pois compactuavam com os colonos que os tinham sob
guarda, fazendo os índios prestar serviços aos portugueses por prazos maiores que os estabelecidos.
Pela lei de 1655 foi organizado um tribunal que tinha como função sentenciar os índios apanhados,
prisioneiros de guerra ou resgatados. Este tribunal era composto pelo governador do Estado, ouvidor-
geral, vigário do Maranhão ou Pará, e pelos prelados de quatro ordens religiosas: carmelitas,
franciscanos, mercedários e jesuítas. Mas deve-se ressaltar que quase todos membros do tribunal
estavam comprometidos com o sistema colonial e geralmente votavam pela escravidão vitalícia e
hereditária por “guerra justa”. O Padre Antônio Vieira e o então governador, André Vidal - que apoiava
os preceitos do padre jesuíta quanto à proteção dos índios -, geralmente viam-se derrotados, em
particular, pelos mercedários e carmelitas.
O fato é que a aplicação do conceito de guerra justa variou, não só ao sabor da discussão empreendida
entre teólogos e juristas, mas também, e principalmente, devido a considerações econômicas e
políticas conjunturais. No que se refere às expedições de resgate dos “índios de corda”, a legislação
da Coroa reconhecia a legalidade da compra dos índios condenados pelas tribos ao sacrifício ritual. O
Estado português apenas tentou coibir as fraudes dos colonos e garantir que o resgate constituísse
uma prática efetivamente espontânea por parte dos vendedores indígenas.
Com a Lei de 28-4-1688, o próprio Estado tornava-se empresário dos resgates, que a partir de então
seriam feitos pela Fazenda Real: duas tropas – uma para o Pará e outra para o Maranhão – deveriam
ser anualmente enviadas ao sertão. A Fazenda Real forneceria 3000 réis para a compra de
quinquilharias necessárias ao resgate de escravos, devendo ser empregados dois mil para o Pará e mil
para o Maranhão. Cada índio escravizado seria taxado em 3000 réis, e a renda desses impostos
formaria um fundo intitulado “Tesouro dos Resgates”, para ser aplicado em benefício das missões, de
novas entradas, e de outros itens relativos à obtenção da mão-de-obra. O Estado intervinha, assim,
em seu próprio benefício, desde que sobre a venda de escravos resgatados por tropas oficiais era
possível cobrar dízimos, enquanto o apresamento por particulares, no mais das vezes clandestino,
deixava invariavelmente vazios os cofres régios.
Continuando a tratar das leis vemos, aqui mais um exemplo do posicionamento ambíguo da Coroa:
pela lei de 1663, a fiscalização sobre as reduções indígenas voltava as câmaras de Belém e São Luís,
e o cuidado das almas dos índios perdia o monopólio jesuíta, agora repartido entre as ordens. A
escravidão desenfreada não tinha agora obstáculos, já que os membros escolhidos para a Câmara
eram os mesmos interessados na escravidão. Totalmente contrária aos preceitos da lei anterior, a lei
de 1680 suprimia quase que por completo a escravidão dos índios, declarava libertos todos os
prisioneiros resgatados de tribos indígenas e ordenava que fossem agasalhados nos aldeamentos;
somente os prisioneiros de guerra permaneciam escravos. A fiscalização temporal e das almas
retornava assim ao monopólio dos jesuítas. Poucos anos mais tarde o rei voltou atrás e novamente
concedeu o direito de escravizar os índios nos casos de “guerra justa”, com a justificativa que o plano
de substituir o índio pelo escravo negro não dera certo, devido principalmente ao preço.
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Cabo das Canoas
Encarregado de dirigir as primeiras expedições de exploração da mão de obra indígena, usava esta
para a coleta das drogas do sertão, assim como a função de remeiros, sua função daria a coroa de
Portugal o entendimento de que seria preciso a criação de uma legislação que melhor controlasse o
processo de exploração das riquezas da região daí em 1611 foram implantados os sistemas de chefia:
Os Colonos Missionários
Os missionários constituam uma categoria de colonos que, além dos interesses econômicos e
materiais, tinham objetivos espirituais declarados: converter os índios à religião e a disciplina para
que aceitassem as novas condições de trabalho. Nesta época, a igreja não estava separada do estado
como agora. E os missionários das três ordens religiosas carmelitas, capuchinhos e jesuítas eram
funcionários da Coroa Portuguesa que lhes pagava o Côngrua, uma espécie de salário pelos serviços
prestados. Como os colonos leigos controlavam os dois sistemas de trabalho: os índios repartidos e
dos índios escravos, os missionários estavam descontentes e começaram a luta contra os colonos, para
tentar obter o controle da força de trabalho indígena.
O Regimento fez crescer o poder das ordens religiosas, que passaram a ter não só importância no
trabalho espiritual, mas também no político e temporal, das aldeias sob sua administração. Com o
Regimento, os episódios se precipitaram e os missionários de diversas ordens adquiriram uma
liberdade maior, uma força de contestação que o sistema não pôde suportar. Os religiosos puderam
então obter a posse exclusiva das aldeias, com a exclusão dos moradores brancos e mestiços, e, além
disso, o controle de toda a vida econômica e social das aldeias. Os missionários, portanto, passaram a
funcionar como centro e articuladores de todas as atividades nas aldeias, e como intermediários entre
as aldeias e o sistema colonial.
Incluía, afora a conversão católica dos gentios, sua incorporação ao domínio político da coroa mediante
o aprendizado da língua portuguesa, a organização das tribos em núcleos de caráter urbano
e, sobretudo, o aproveitamento racionalizado de sua força de trabalho em atividades extrativas e
agrícolas.
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Estudos Amazônicos 7º ano
As Missões Religiosas e a Ocupação do Vale Amazônico
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Foram os carmelitas, acompanhados de perto pelos inacianos e mercedários, que mais aprofundaram
a colonização nos antigos domínios espanhóis, ocupando a área atual do estado do Amazonas. As
missões jesuíticas espalharam-se pelo vale contíguo do Tapajós e, mais a oeste, pelo do Madeira,
enquanto os mercedários se estabeleceram próximo à divisa com o Pará, nos cursos do Urubu e do
Uatumã. Os carmelitas disseminaram seus aldeamentos ao longo do Solimões, do Negro e, ao norte,
do Branco, no atual estado de Roraima.
Assim distribuídas, as missões entregaram-se a diligente trabalho de exploração econômica em
suas circunscrições. A própria metrópole incentivou tal empreendimento, uma vez que perdera seu
império asiático e necessitava dar continuidade ao comércio de especiarias, de que o Amazonas se
mostrava muito rico.
Os religiosos corresponderam de imediato a essa solicitação, iniciando as primeiras atividades
extrativas de vulto. Firmou-se, dessa maneira, a exportação regular de cravo, cacau, baunilha, canela,
resinas aromáticas e plantas medicinais, toda ela sob o controle dos missionários, que dispunham do
indígena como mão-de-obra altamente produtiva.
No empenho de converter os gentios à fé católica e de ampliar o comércio de especiarias, ou "drogas
do sertão", os religiosos com frequência transferiam suas missões de um ponto a outro,
seguindo sempre a margem dos rios. Da multiplicidade desses aldeamentos surgiram dezenas de
povoados, a exemplo de Cametá, no deságue do Tocantins; Airão, Carvoeiro, Moura e Barcelos, no rio
Negro; Santarém, na foz do Tapajós; Faro, no rio Nhamundá; Borba, no rio Madeira; Tefé, São Paulo
de Olivença e Coari, no Solimões; e em continuação, no curso do Amazonas, Itacoatiara e Silves.
Os sertanistas acompanharam os missionários na intensa atividade de exploração do Amazonas. Sua
ação, em geral estimulada pelas autoridades coloniais, devia facilitar o trabalho dos provedores da
fazenda, sob a direção dos quais corriam os serviços do fisco.
Os Franciscanos
Os Franciscanos da Província de Santo Antônio chegaram a Belém em 1618, mas já estava a mais
tempo no Maranhão. Os da Província da Piedade e da Província da Conceição da Beira do Mecho
chegaram a Belém nos anos 1693 e 1706, respectivamente.
Esses missionários, até o século XVIII, administraram cerca de 20 aldeamentos indígenas distribuídos
por diversas áreas do baixo Amazonas: La do Marajó, região entre a margem esquerda do
rio Amazonas e a fronteira da Guiana Francesa, adjacência de Gurupá, distritos do Amazonas até
Nhamundá, inclusive o Xingu e Trombetas.
Os Jesuítas
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do rio Amazonas. Pela margem direita e seu sertão azul, no trecho compreendido do delta do rio até a
região do rio Madeira.
Os Carmelitas
Os Mercedários
Os mercedários espanhóis da ordem de Nossa Senhora das Mercês chegaram a Belém, com
expedição de Pedro Teixeira, em 1639, oriundo do vice-reino do Peru. Administraram uns poucos
aldeamentos no delta do Amazonas, mas atuaram, principalmente, na porção territorial que
compreende o Rio Urubu até o baixo Rio Negro.
Em consequência do contato com os portugueses, uma epidemia de varíola devastou o Alto Rio Negro
em 1740, matando grande número de índios, pois é muito provável que ela tenha se alastrado por
certas partes da região sem contato direto com os "brancos", por meio de tecidos e roupas de algodão.
Entre 1749 e 1763, epidemias recorrentes de varíola e sarampo continuaram assolando a região,
sendo que a de sarampo de 1749 foi tão terrível que passou a ser chamada "o sarampo grande".
A revolta indígena mais famosa desse período foi a de 1757, liderada pelos principais de Lamalonga
no Médio Rio Negro. Esta rebelião marca a revolta dos índios contra os missionários, pela ênfase dada
à destruição das igrejas e paramentos religiosos e o assassinato do padre carmelita.
Durante
aproximadamente 30
anos, o primeiro ministro
de Portugal, Sebastião
José de Carvalho e Melo, o
Marquês de Pombal
(1699-1782), foi muito
atuante em Portugal e em
suas colônias. Político
português, verdadeiro
dirigente de Portugal
durante o reinado de José
I, o Reformador, Pombal
nasceu em Lisboa no dia
13 de maio de 1699.
Estudou na Universidade
de Coimbra.
Em 1738, foi nomeado
embaixador em Londres e,
O Marquês de Pombal expulsando os jesuítas (pintura de Louis-Michel van Loo e cinco anos depois,
Claude-Joseph Vernet, 1766). embaixador em Viena,
cargo que exerceu até
1748. Em 1750, o rei José nomeou-o secretário de Estado (ministro) para Assuntos Exteriores.
Quando um terremoto devastador destruiu Lisboa em 1755, organizou as forças de auxílio e planejou
a reconstrução da cidade. Foi nomeado primeiro-ministro neste mesmo ano.
A partir de 1756, seu poder foi quase absoluto e realizou um programa político de acordo com os
princípios do Século das Luzes ou Iluminismo. Aboliu a escravidão, reorganizou o sistema educacional,
elaborou um novo código penal, introduziu novos colonos nos domínios coloniais portugueses e fundou
a Companhia das Índias Orientais. Além de reorganizar o Exército e fortalecer a Marinha portuguesa,
foram desenvolvidos a agricultura, o comércio e as finanças, com base nos princípios do
mercantilismo.
No entanto, suas reformas suscitaram grande oposição, em particular dos jesuítas e da aristocracia.
Quando ocorreu o atentado contra a vida do rei em 1758, conseguiu implicar os jesuítas, expulsos em
1759, e os nobres; alguns destes foram torturados até morrer. Em 1770, o rei lhe concedeu o título
de marquês.
O estabelecimento de fronteiras.
Em 1751, o Marquês de Pombal deu início a três importantes projetos que deveriam marcar o novo
governo absolutista: o projeto militar, o projeto econômico e o projeto social.
Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marquês de Pombal) recebeu a delicada missão de
demarcar as fronteiras de Portugal e Espanha, estando à frente desses projetos. Em 1751, ao pôr em
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Estudos Amazônicos 7º ano
prática o projeto militar, percorreu o território do Grão-Pará e sugeriu a sua divisão, visando uma
administração com maior controle territorial.
Decidido a defender seu direito sobre essas terras, o rei de Portugal fez vários acordos com o rei da
Espanha. O mais importante deles foi o Tratado de Madri, em 1750. Nesse acordo, Portugal foi
representado pelo diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, que defendeu a ideia de que as terras
deveriam ser de quem as conquistou. Assim, terras que hoje formam a região Amazônica (oeste do
Pará, Amazonas. Rondônia, Amapá, Roraima, Mato Grosso e Parte do Estado do Tocantins), como
áreas de outras regiões foram anexadas ao território brasileiro.
Este tratado estabeleceu ainda uma linha divisória da província do Pará e o Maranhão (Rio Gurupi), e
os limites do Pará e Amazonas.
O projeto militar do Marquês de Pombal se consolidaria, portanto, administrando todas as fronteiras,
ao norte e ao extremo oeste, reaparelhando, também antigas fortalezas já existentes ao longo do rio
Amazonas e de seus afluentes.
O grande objetivo da política de Pombal era retirar Portugal do atraso econômico e da dependência da
Inglaterra, através do desenvolvimento industrial e da intervenção do Estado na Economia. Para tanto,
Pombal empreendeu uma série de reformas, que iam desde a reorganização econômica do reino até
ao reordenamento da cultura, através de reformas na educação. Assim, o ministro tratou de impor
uma nova política para a Amazônia (política de controle econômico), principalmente, dando ao Estado
português maior autoridade e impedindo, portanto, qualquer tipo de concorrência que viesse prejudicar
os interesses da metrópole na região. Ou seja, o Projeto de Regeneração portuguesa centrava-se na
necessidade de reavaliar e modificar as relações Metrópole-Colônia, na medida em que a elite lusitana
observava o sub aproveitamento e/ou desperdícios de suas potencialidades econômicas, devido a
completa ausência de um projeto político de base científica, daí o interesse de Pombal pela Amazônia.
Pombal enviou seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado para ser governador do novo Estado
do Grão-Pará e Maranhão e aplicar sua política de transformação da colônia. Mendonça Furtado
organizou uma expedição com físicos, astrônomos, geógrafos, engenheiros, o arquiteto Landi, entre
outros. Seu interesse era conhecer a região amazônica de perto. O então governador possuía seus
objetivos específicos para a região.
A política pombalina ordenou a criação de novos fortes em toda a Amazônia, a fim de que esta se
tornasse de fato um território português. Para isto, havia a necessidade de uma organização militar
permanente na região. Um segundo grande objetivo era incentivar o povoamento na região. Sua
política incentivou a vinda de portugueses para a região e o casamento destes com índias. Em meados
do século XVIII, o marquês de Pombal fez aprovar, em 4 de abril de 1755, o alvará com força de lei,
concedendo privilégios aos portugueses que casassem com índias. O governador também procurou
reorganizar a administração regional.
Em 1751, foi criado o Estado do Grão-Pará e Maranhão. O Grão-Pará foi subdividido em duas
capitanias, à do Grão-Pará e a do Rio Negro. O novo Estado continuava a receber ordens diretamente
de Lisboa (e não da capital do Estado do Brasil, o Rio de Janeiro).
O regime do diretório
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Estudos Amazônicos 7º ano
Em resumo, o Diretório enunciava, ao longo dos 95 parágrafos, os principais objetivos a atingir:
expandir a fé cristã, abolir os costumes gentílicos, civilizar os índios, desenvolver a agricultura,
incrementar o comércio, introduzir a moeda metálica em circulação e fortalecer o Estado. O Diretório
definia as regras para a instauração do governo temporal e espiritual nas aldeias indígenas e
enumerava as medidas preconizadas: interdição das línguas nativas, obrigatoriedade do uso da língua
portuguesa, criação de escolas separadas para meninos e meninas, nomeação e pagamento de
professores, utilização de sobrenomes lusitanos, introdução de vestuário, hábitos e costumes do reino
e proibição de apelidar os indígenas de “negros”. Continha, também, disposições relativas à
distribuição de terras pelos ameríndios, intensificação de produções agrícolas (plantações de
mandioca, feijão, milho, arroz, algodão, tabaco e café), ao comércio de drogas do sertão (cacau e
salsaparrilha), às atividades da pesca e extrativas, ao pagamento de dízimos e à política de repartição
e pagamento da mão-de-obra nativa. Estipulava, ainda, as regras referentes à organização das aldeias,
atribuição do estatuto de vila ou lugar, à entrada de colonos nas povoações indígenas e aos casamentos
entre brancos e índias. Definia, finalmente, a responsabilidade dos diretores dos aldeamentos
indígenas.
No entanto, a aversão dos índios em trabalhar para os colonos fazia com que a alternativa de os
transformar em trabalhadores assalariados não parecesse a mais correta. Assim, a alternativa do
índio-colono tornava-se mais viável e, para isso, não bastava conceder-lhe apenas a liberdade. Junto
com esta, havia a necessidade de reconhecer-lhe direito à terra, no sentido de transformá-lo num
agricultor produtivo à Metrópole. Por isso, a referida lei também reconhecia serem os índios senhores
de suas terras, mesmo daquelas que estivessem em poder de particulares.
A obra de Pombal foi aprovada pelo governo metropolitano que a mandou publicar (Lisboa, 1758) e
tornar extensiva ao estado do Brasil. Em pouco tempo, concedeu o estatuto de vila a 40 aglomerados
e de lugar a 23, conferindo-lhes nomes de povoações do reino (Barcelos, Tomar, Melgaço, Santarém,
Óbidos, Porto de Mós, Chaves, Soure, Bragança, Guimarães, Viseu, etc.). O objetivo era
institucionalizar o espaço onde os índios estavam reunidos.
Uma das principais preocupações de Pombal em relação à Amazônia era de garantir sua eficaz
proteção do seu território contra investidas estrangeiras (franceses e espanhóis). No sentido de
atenuar a resistência dos índios ao serviço militar, Mendonça Furtado, encarregado do governo do
Pará e da missão de executar o projeto pombalino na Amazônia, em carta de 20 de julho de 1755,
propõe ao rei:
“Que (...) mande, por uma lei, declarar que todos os descendentes de índios estão habilitados para
todas as honras sem que aquele sangue lhes sirva de embaraço, e que os Principais, seus filhos e
filhas, e quem casar com elas, são nobres e gozarão de todos os privilégios que como tais lhe
competem”.
“Que aqueles índios que passassem a oficiais e chegassem a capitães, e daí para cima, gozarão dos
privilégios que competem aos seus postos, ainda que não sejam confirmados, pela razão de que são
uma miserável gente, e não cabe na sua possibilidade o mandar ao Reino confirmar as ditas patentes”.
A Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi criada com o objetivo de integrar a economia
do norte do Brasil ao sistema colonial. A Companhia foi criada a partir dos moldes que já existiam em
Portugal e em outros países coloniais. Este foi o grande projeto econômico de Portugal para a Colônia,
com incentivos financeiros muito superiores e com maior eficácia que aqueles aplicados na busca das
“drogas do sertão”. A Companhia deteve o monopólio do comércio da região por 20 anos e estimulou
as culturas do algodão e do arroz através da venda de maquinarias e da facilitação de créditos,
transporte e fretes. A Companhia do Grão-Pará e Maranhão fez concessões de terras através de títulos
de sesmarias (lote de terra inculto que o rei de Portugal cedia para ser cultivado pelos sesmeiros). Os
novos donos se beneficiariam com a isenção de impostos, a distribuição de instrumentos agrícolas e
outras vantagens. Além disso, assegurou o fornecimento de mão-de-obra escrava para a região.
Contudo, no que diz respeito aos índios, é preciso perceber como a política pombalina não foi nada
progressista. Pelo contrário, a implantação do Diretório e a substituição dos jesuítas por funcionários
indicados pelo Estado - que tinham como objetivos abolir o isolacionismo religioso e impulsionar os
índios à integração secular -, na realidade proporcionou os meios para justificar à desafortunada
população indígena as formas mais extremas de exploração e abuso. Isso porque os índios foram
mantidos em um sistema de exploração, mesmo que dentro de uma lei que se propunha liberal. Ao
invés de tutores e protetores, constituíram-se em carrascos dos índios, mantendo-os em troncos, em
cárceres privados e castigando-os com açoites, além de muitas outras violências.
Houve um esforço excepcional dos diretores em engajar os índios na produção de bens comerciáveis.
Assim, tentou-se organizá-los nas expedições extrativistas, na caça, pesca, produção agrícola, etc.,
mas, como o diretor retinha a sexta parte do produto das lavouras e do comércio dos índios, e sendo
certo apenas o lucro da extração das drogas do sertão, o diretor empregava os indígenas quase que
exclusivamente nessa última atividade, em detrimento das lavouras de sustento das mesmas
povoações. Os resultados esperados pelo Diretório, no que se refere à integração indígena, não foram
muito animadores. As contínuas revoltas e fugas para a floresta marcaram o período, numa
demonstração da resistência dos povos indígenas contra o esforço de integrá-los à sociedade colonial
e à economia internacional à maneira pombalina.
Outro aspecto que poderíamos citar, dentre as consequências negativas do Diretório para a população
indígena, foram as constantes epidemias que mataram uma quantidade considerável de índios.
Somente entre os anos de 1779 e 1781, morreram cerca de quinze mil índios em decorrência de
bexiga, sarampo e sarampo grande. Tais epidemias originaram-se do contato entre os brancos e os
índios nas aldeias, imprescindível no projeto pombalino. Essas perdas populacionais acabaram tendo
ressonância na produção das povoações, aumentando a demanda da mão-de-obra. Tal fator reforçou
o não cumprimento das intenções do Diretório, no sentido de iniciar os índios nas escolas públicas,
fixar-lhes turnos de trabalho e assegurar-lhes horas destinadas a seus interesses particulares, fator
somado, como já visto, à má vontade dos diretores das aldeias.
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Estudos Amazônicos 7º ano
O Diretório foi extinto no ano de 1798, encerrando a legislação pombalina referente aos índios.
Independente das leis, a problemática dos direitos dos índios no Brasil sempre movimentou
mecanismos burocráticos de grande proporção.
O fato é que mesmo quando determinadas leis defendiam os índios de forma acentuada, os colonos e
alguns religiosos não as cumpriam, e o Estado costumeiramente não tomava medidas eficazes para
garantir a efetivação das leis. A burocracia construída por Portugal para tratar de assunto tão delicado
parece não só ter sucumbido ante aos interesses imediatos dos colonizadores, como até, em certos
momentos, reforçado estes últimos.
Com a extinção do Diretório dos Índios em 1798, a Carta Régia do mesmo ano passou a regulamentar
a política indigenista. A questão da mão de obra marca a nova lei, a qual resultou na organização de
um Corpo Efetivo de Índios que agregasse obrigatoriamente a população ativa da região. Ficou a cargo
dos juízes promover o alistamento “dos homens válidos de seu distrito”. Paralelamente a esse
recrutamento, foi permitido aos particulares irem diretamente às vilas e povoações contratar
trabalhadores. Também foi considerado legal o tratamento direto entre particulares e os índios não
aldeados, regulamentada pelas câmaras através do Termo de Educação e Instrução, pelo qual era
atribuído a esses índios o estatuto da orfandade e os vinculava à jurisdição tutelar dos juízes locais.
Assim como o Diretório, a Carta Régia de 1798 recomendava que a administração das vilas e lugares
fosse feita por índios e brancos. Tal recomendação redundou no fortalecimento da presença de juízes
e vereadores índios, reforçando sua participação nas decisões das povoações. Confiando os índios
aldeados ao controle direto das câmaras, as medidas procuravam minimizar as dificuldades relativas
à obtenção de mão-de-obra pela Coroa na vigência do Diretório, associada às fugas frequentes e às
doenças, às distribuições indevidas e aos desmandos dos diretores.
As transformações no Grão-Pará
Como governador do estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1701-
1769) gerou grandes transformações na região amazônica. Ele efetuou um amplo reconhecimento do
território amazônico no decurso do qual fundou a vila de S. José de Macapá, inspecionou as fortalezas
do Pará, Pauxis e Gurupá e visitou aldeias de índios situadas às margens dos rios Amazonas, Tapajós
e Xingu. Em 1752 foi investido nas funções de plenipotenciário e principal comissário para o norte
da América Portuguesa, ficando responsável pela execução das disposições do Tratado de Madri
(1750) e do Convênio Adicional Secreto (17 de janeiro de 1751).
Durante cerca de dois anos dirigiu os preparativos da Comissão portuguesa de Demarcação de Limites
do Norte que se deveria reunir com a sua congênere espanhola, chefiada por D. José de Iturriaga, nas
margens do rio Negro. A expedição lusitana partiu de Belém em 1754, sendo composta por centenas
de elementos, contando com engenheiros militares, astrônomos e tropas de infantaria. O governador
aguardou, na aldeia carmelita de Mariuá (futura Barcelos), durante dois anos, os comissários
espanhóis que deveriam subir o rio Orinoco; no entanto, os representantes da Corte de Madri haviam
sido retidos pelos jesuítas espanhóis, não tendo comparecido à conferência acordada entre os dois
governos ibéricos.
Retornou à capital do estado no final de 1756, efetuando, no ano seguinte, uma visita à capitania de
São José do Rio Negro.
A partir da segunda metade do século XVIII, Belém se beneficiou significativamente com a política de
prestígio do Governo Mendonça Furtado e de seus sucessores, que a transformaram em uma capital
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Estudos Amazônicos 7º ano
com aparência de cidade grande. Para isto, este
governo teve a importante ajuda do arquiteto
Antônio José Landi.
Antônio José Landi (1708-1790) nasceu em
Bolonha, cidade do norte da Itália, transferindo-se
para Lisboa, sob o governo de D. José I, o Marquês
de Pombal sendo o todo-poderoso primeiro-
ministro. Inscreveu-se no grupo de cartógrafos,
cientistas e astrônomos que viria à Amazônia. Em
1753 foi a Barcelos, missão carmelita às margens
do rio Negro, centro da Comissão. Depois de anos,
radicou-se em Belém, onde morreu em 1790, após
deixar, nos templos e nos prédios que projetou, seu
senso artístico neoclássico, para a admiração da
comunidade da época e da posteridade. Foi sepultado
na Igreja de Sant’Ana.
De fato, a maior obra de Landi foi a
construção do Palácio do Governo. As suas Igreja de Sant’Ana
dimensões e sua qualidade arquitetônica
deviam demonstrar a vontade do rei em favor do Estado do Grão-Pará e Maranhão, na nova capital,
que saiu de São Luís e passou para Belém do Pará (há quem acredite que Pombal almejava transferir
a sede do reino luso para Belém). O Palácio do Governo do Grão-Pará é um dos mais belos do Brasil
colônia (em 1940 foi denominado Palácio Lauro Sodré; em 1994, foi transformado no Museu do
Estado do Pará).
Landi também trabalhou muito em igrejas. As suas
principais obras são as Igrejas de N. S. do Rosário,
de São João, Sant’Ana. Além destas realizou
reformas nas Igrejas de N. S. do Carmo, além de ter
participado nas obras finais da Catedral de N. S. das
Graças.
Na região que abrange a atual Amazônia (que compreende 60% do território brasileiro) antes da
chegada dos europeus viviam povos ameríndios que foram denominados de “índios”, termo que tem
sua origem com a conquista de Cristóvão Colombo que imaginava ter chegado às Índias, na Ásia,
quando “descobriu” o continente que mais tarde veio a se chamar América.
Neste momento, a população indígena não utilizava a escrita. Sua história, mitos e costumes eram
transmitidos oralmente. Por esta razão, para o estudo do passado indígena do Brasil, da Amazônia e
do Pará chegou até nós através de narrativas ou relatos orais, que foram transmitidos de geração a
geração. Outra forma importante, e frequentemente utilizada, para se estudar e compreender a
história dos povos ameríndios que viviam na Amazônia é o estudo dos vestígios materiais que ficaram
daqueles índios do passado longínquo. Através de pesquisas destes materiais pode-se comprovar a
presença de grupos humanos no passado da região, e, a partir de suas análises, podemos compreender
a forma de vida dos mesmos. Os estudos e análises desses vestígios são realizados por arqueólogos.
Os vestígios de materiais mais comumente analisado na região são os fragmentos de cerâmica,
instrumentos em pedra, gravuras e ossos humanos descobertos.
O período anterior à chegada dos europeus é comumente chamado de pré-colombiano (isto é, antes da
chegada de Colombo). Os povos indígenas que vivem ainda hoje na Amazônia são descendentes dos
povos pré-colombianos. As suas línguas, por exemplo, são faladas desde antes da chegada dos
europeus. Estudos recentes mostram que os índios que vivem hoje na Amazônia e no Pará estão nesta
região a mais de 12.000 anos.
Os primeiros grupos humanos eram caçadores e coletores que estavam organizados em pequenos
grupos de famílias, morando em cavernas (ou grutas), geralmente localizadas em serras. Eles eram
predominantemente nômades, pois não moravam durante muito tempo no mesmo local. Sua
alimentação dependia do que caçavam ou coletavam: animais como a paca, a cutia, o jacaré, peixes,
etc. Coletavam raízes, sementes e frutos.
Em um segundo momento viveram na região grupos humanos horticultores de raízes, por volta de
4.000 anos atrás, que começaram a se instalar na beira de rios, nas chamadas “várzeas” da região
amazônica. Formaram aldeias, morando principalmente em grandes casas. Esses grupos buscavam
sua subsistência, água e alimentação, principalmente nos rios e igarapés. A sua alimentação era
baseada na pesca (peixes, peixe-boi e tartarugas) e na caça (roedores e mamíferos terrestres).
Também começaram a plantar milho e mandioca. A agricultura se realizava em áreas pequenas, por
isso são chamados de horticultores.
Os Tupinambá
Antes da chegada dos portugueses ao Estado do Pará, habitavam em nossa região diversos grupos
indígenas. Para a área do atual território amazônico, os indígenas estavam agrupados em três grandes
troncos: Tupi-Guarani, Aruaque e Karib.
Dentre os índios Tupi-Guarani na região, os mais conhecidos são os Tupinambá.
O primeiro grupo indígena que os portugueses entraram em contato ao chegar ao Pará foram os índios
Tupinambá, cujo “morubixaba” (“principal” ou “cacique”) se chamava Guaimiaba, apelidado pelos
portugueses de Cabelo-de-Velha.
Os Tupinambá eram extremamente belicosos, isto é, guerreiros. As guerras entre os Tupinambá
tinham o objetivo de capturar prisioneiros para a execução e a antropofagia ritual. Os mortos e feridos
durante o combate eram devorados no campo de batalha ou durante a retirada; os prisioneiros seguiam
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Estudos Amazônicos 7º ano
com seus algozes, para que as mulheres também os vissem, e pudessem ser mortos. A vingança,
assim, era socializada: era necessário que todos se vingassem. A execução ritual, contudo, poderia
demorar vários meses.
Texto e Contexto
Em 1639, Pedro Teixeira registrou durante sua famosa expedição pelo rio Amazonas, a belicosidade
dos Tupinambá que encontrará na região:
“Havia 120 léguas deste sítio [o estreito de Óbidos] até os Tupinambá; esta nação é de gente mui
feroz carniceira e nunca quis conhecer sujeição; por isso vieram fugidos do Brasil rompendo por terra
e conquistando grande número de gentios até chegar ao grande rio e sítio onde hoje vivem. ”
(De Pedro Teixeira, 1639. In: PAPAVERO, Nelson et. al. O Novo Éden... Belém: Museu Paraense
Emilio Goeldi, 2002. 2ª ed. p. 153).
Matar publicamente um inimigo era o evento central da vida social Tupinambá. Levado ao terreiro,
pintado e decorado, preso pela mussurana (corda), o cativo esperava seu carrasco que, vestindo
seu manto de penas de íbis vermelha (ave pernalta), aproximam-se de sua presa, imitando uma ave
de rapina. Recebia a ibirapema (espécie de porrete), das mãos de um velho matador, desferia um golpe
concreto contra a nuca do cativo, rompia-lhe o crânio e lançava-o ao chão. De imediato, acudiam as
velhas com cabaças para recolher o sangue que se espalhava. Nada deveria ser perdido, tudo precisava
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Estudos Amazônicos 7º ano
ser consumido e todos deviam fazê-lo: as mães besuntavam seus seios de sangue, para que seus bebês
também pudessem provar do inimigo.
Texto e Contexto
Por volta de 1550, um alemão de nome Hans Staden foi aprisionado pelos Tupinambá do Rio de
Janeiro. Em seus relatos, registrou o canibalismo tupi, mas fazendo ressaltar seu caráter ritualístico,
social e guerreiro:
“Não o fazem por fome, mais por ódio e inveja, e quando combatem na guerra gritam um para o outro:
para vingar a morte dos meus amigos, estou aqui; tua carne será hoje, antes que o sol entre, meu
assado”.
O único que não comia era o matador, que iniciava um período de resguardo, no qual deveria se abster
de uma série de alimentos e atividades. A antropofagia ritual Tupinambá era seu mais forte elemento
social e cultural, que fazia da morte guerreira uma condição da vida social.
Paradoxalmente, porém, esses “carniceiros” foram antes carniça nas guerras de conquista dos
colonizadores, em suas bandeiras e suas missões. Em menos de dois séculos, os numerosos Tupi
foram varridos da costa brasileira – aqueles que não sucumbiram à violência, às epidemias e à fome
fugiram para o interior.
A bacia amazônica foi palco das culturas indígenas mais sofisticadas antes da conquista. Verificou-
se a presença de sociedades complexas na região amazônica. Começaram a se formar em um grande
número de pessoas e a ocupar extensas áreas. A expressão cultural mais importante desses grupos
indígenas da Amazônia é a cerâmica desenterrada na Ilha de Marajó na foz do Amazonas e em
Santarém, no rio Tapajós, sendo as evidências de sociedades indígenas mais avançadas existentes no
Brasil.
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Estudos Amazônicos 7º ano
A produção da cerâmica se concentrava no trabalho das mulheres das tribos, responsáveis por todo o
processo, da escolha da argila à modelagem, da queima das peças à pintura dos objetos.
Dentre as peças cerâmicas mais famosas estão as igaçabas, urnas destinadas à guarda de ossos dos
mortos em cerimônias funerárias. Há ainda as estatuetas, muitas utilizadas pelos pajés em rituais
como maracás, e as tangas de cerâmica, usadas por mulheres em cerimônias e ritos de passagem.
O principal grupo indígena que habitava a região do rio Tanga de cerâmica. Museu Paraense Emílio
Tapajós, no Estado do Pará, chamava-se Tapajó, Goeldi. Belém-PA.
habitando a região pelo menos desde o século X até o
XVII. Sua principal aldeia estava situada na foz do rio Tapajós, local atual do bairro de Aldeia, na
cidade de Santarém.
Os relatos históricos informam que os Tapajó estavam organizados em aldeias com 20 a 30 famílias,
vivendo juntas em casas coletivas. Os grupos familiares possuíam lideres (chefes), a quem deviam
obediência.
Texto e Contexto
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Estudos Amazônicos 7º ano
Vaso de Cariátide. Museu Paraense Emílio Goeldi. Vaso de Gargalo. Museu Paraense Emílio Goeldi.
Belém-PA. Belém-PA.
Sobre os Muiraquitãs:
Redes, Orucu, e pedras verdes que os Índios chamam Buraquites, as quais os estrangeiros do norte
estimam muito; e comte se diz que estas pedras se lavram neste rio dos Tapajos de hû barro verde
que se cria debaixo da agoa, e debaixo desta fazem contas redondas e compridas, vazos para beber,
assentos, pássaros, rãns, e outras figuras: e tirando o feito debaixo dagoa à o ar, se endurece o tal
barro de tal maneira q’ fica convertido em muy duríssima pedra verde, e he melhor contrato destes
Índios, e delles muy estimado.
32 | P á g i n a
Estudos Amazônicos 7º ano
Sobre a Cerâmica tapajônica:
Tem estes Índios [do Trombetas] e os Tapajos finíssimo barro, de que fazem muita e boa louça de
toda a sorte, que entre os Portugueses he de estima, e a levam a outras Províncias por contrato.
Os vasos de cariátides apresentam curiosamente pequenas figuras modeladas que sustentam uma
vasilha sobre suas cabeças. Esses vasos e os de gargalo apresentam em sua estrutura decorações com
figuras humanas ou animais, como urubus, antas, macacos e pequenos batráquios. As estatuetas, em
sua maioria, representam formas humanas, sobretudo femininas.
Os Muiraquitãs, também chamados de “Pedras das Amazonas”, eram adornos produzidos de pedras
verdes (jadeíta, amazonita) em forma de batráquio, possivelmente utilizados como protetores contra
doenças e mordedura de animais peçonhentos, assim como elemento para o aumento da fertilidade
feminina e como figura mitológica astral. Na Amazônia, os muiraquitãs foram encontrados com maior
frequência nos vales dos rios Tapajós, Trombetas e Nhamundá.
Texto Complementar
Os viajantes se encantavam, nas diversas povoações por onde passavam às margens do Amazonas,
com a complicada cerâmica feita pelos índios, uma vez que, tendo em conta aquelas pessoas por
bárbaros, era surpreendente que tivesse tanta habilidade, gosto e destreza para tão elaborada arte,
que era, além de tudo, comercializada.
33 | P á g i n a
Estudos Amazônicos 7º ano
Os vestígios arqueológicos de ocupação humana em Marajó aparecem em uma região que tem como
centro o Lago Arari, este cobrindo uma área de cerca de 400 km².
Os sítios da Fase Marajoara se encontram sobre colinas ou aterros artificiais, conhecidos localmente
como “tesos” (em inglês, mound) *, construídos paralelamente ao longo de rios e lagos.
Percebe-se que nos níveis inferiores há o enterramento secundário, com ossos muitas vezes pintados
em vermelho, podendo estar quebrados ou apenas desarticulados, ou ainda com o morto em posição
sentada, com a presença de uma tanga de cerâmica decorada.
Foram encontrados diversos objetos e vasilhas cerâmicas associadas aos enterramentos, como pratos,
vasos menores, cachimbos, fusos, estatuetas, miniaturas, instrumentos musicais, “tinteiros”, além de
adornos e das conhecidas pedras verdes (muiraquitãs).
É bastante curiosa a ocorrência de tangas cerâmicas associadas aos sepultamentos. Elas são
encontradas frequentemente no fundo da urna, sob os ossos; em casos de enterramentos sem urnas
elas também podem aparecer associadas ao esqueleto. As tangas parecem estar associadas a
esqueletos femininos, mas muitos dos esqueletos não tiveram o sexo identificado.
A Fase Marajoara apresenta um quadro em que há um grande contingente populacional, congregado
em alguma forma de organização sócio-política em um extenso território, mantendo-se assim por
centenas de anos. A construção de monumentais aterros, vários metros mais elevados do que o nível
das cheias exigiam, evidencia, por um lado, a necessidade de defesa e fortificação e por outro o fato
de que milhares de trabalhadores estiveram envolvidos em sua construção. Os padrões de
enterramento significando diferenciação social e a cerâmica policrômica indicando a existência de
uma elite de artesãos especializados, são características que, somadas às acima descritas
constituíram-se nas evidências necessárias para que se inferisse a existência de um modo de
organização cacical para a fase.
Três milhões parece um cálculo aceitável para o total de índios que viviam na Amazônia pré-
colombiana e grande parte dos índios brasileiros vive hoje na Amazônia. De acordo com o último Censo
do IBGE, vivem na Amazônia cerca de 460 mil indígenas, sendo que a maioria vive na zona rural
correspondendo a 60% deste montante. Contam-se 225 sociedades indígenas no Brasil, 162 delas
na Amazônia. A população indígena da Amazônia fala 150 línguas diferentes, divididas em 12
famílias linguísticas (o que não significa inteligibilidade mútua entre falantes de línguas de uma
mesma família). É costume dizer que a identidade brasileira é linguística, isto é, que a língua
portuguesa une o País. No entanto, até o século XVIII, o tupi-guarani sobrepujava o português dos
colonizadores, principalmente com referência às coisas do dia-a-dia.
Vida e cultura
Embora muitas tribos de índios da Amazônia possuam contato com a cultura externa, elas ainda
mantêm os principais aspectos de vida dos seus antepassados. Vivem da caça, pesca, extrativismo
vegetal e agricultura.
Uma das principais figuras nas tribos é o pajé. Espécie de curandeiro, ele é também o sábio que
conhece a cultura do povo e a transmite oralmente para os mais novos. É ele quem domina o contato
com o mundo espiritual e faz os rituais religiosos, principalmente de cura.
A medicina popular vem da sabedoria e cultura indígena. Os índios conviveram há milênios nesse
ecossistema sem a necessidade de destruí-lo, pois eles se identificavam com a natureza de tal forma
que não precisavam desmatar ou causar maiores estragos à natureza. Eles utilizavam os recursos
naturais curando as doenças com as plantas medicinais.
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Estudos Amazônicos 7º ano
Assim, a junção do homem branco com o índio (miscigenação) foi o benefício na área cultural.
As crenças religiosas desses povos ocorriam através do culto aos espíritos ou o animismo (é a visão
de mundo em que entidades não humanas - animais, plantas, objetos inanimados ou fenômenos -
possuem uma essência espiritual), e os xamãs funcionavam como uma espécie de ligação entre o nosso
mundo e o mundo espiritual. Danças e ritos de puberdade eram essenciais para dividirem clãs
totêmicos, ou seja, grupos considerados descendentes de ancestrais míticos comuns e se
diferenciavam dos outros em razão de alguns rituais.
Línguas
Os povos indígenas da Amazônia podem ser divididos em seis troncos linguísticos: Tupi, Aruaque,
Tukano, Jê, Karib e Pano.
Embora grande parte dos povos indígenas da Amazônia tenha suas terras demarcadas e protegidas
por lei, eles ainda sofrem com a presença de garimpos na região, construção de hidrelétricas e rodovias
e o avanço da agropecuária de grande porte.
Essas Terras, de acordo com a Constituição de 1988, são de uso exclusivo desses povos e protegidas
pelo Estado brasileiro e na Amazônia são maiores que aquelas existentes em outras regiões do país.
Isso acontece porque os europeus ocuparam por último as áreas no interior da Amazônia Legal,
beneficiando os índios que fugiam da escravidão das primeiras áreas ocupadas (próximas ao litoral).
Algumas tribos indígenas que vivem na Amazônia não possuem qualquer contato com outras tribos
ou culturas. Estes povos vivem da mesma forma que seus antepassados de séculos atrás. Como não
possuem contatos externos, não sabem o que há e o que se passa no mundo. Vivem da caça, pesca,
coleta de vegetais e agricultura de subsistência.
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