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CURSOS DE CAPACITAÇÃO E

FORMAÇÃO CONTINUADA

UAB/IFNMG

AD
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Cad IA N
TOR
T U
Módulo II A Tutoria no
Contexto da
EAD
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira

A Tutoria no
Contexto da EAD

Montes Claros/MG - 2012


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR REVISÃO TÉCNICA


João dos Reis Canela Admilson Eustáquio Prates
Cláudia de Jesus Maia
VICE-REITORA Josiane Santos Brant
Maria Ivete Soares de Almeida Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida
Káthia Silva Gomes
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Marcos Henrique de Oliveira
Huagner Cardoso da Silva
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
CONSELHO EDITORIAL Adão Soares dos Santos
Maria Cleonice Souto de Freitas Andréia Santos Dias
Rosivaldo Antônio Gonçalves Camilla Maria Silva Rodrigues
Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Clésio Robert Almeida Caldeira
Wanderlino Arruda Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Francielly Sousa e Silva
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Hugo Daniel Duarte Silva
Ângela Heloiza Buxton Magda Lima de Oliveira
Arlete Ribeiro Nepomuceno Marcos Aurélio de Almeida e Maia
Aurinete Barbosa Tiago Sanzio Mendonça Henriques
Carla Roselma Athayde Moraes Tatiane Fernandes Pinheiro
Luci Kikuchi Veloso Tátylla Ap. Pimenta Faria
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Vinícius Antônio Alencar Batista
Maria Lêda Clementino Marques Wendell Brito Mineiro
Ubiratan da Silva Meireles Zilmar Santos Cardoso

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes


Ficha Catalográfica:

2012
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.

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s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
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João Carlos Teatini de Souza Clímaco

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Antônio Augusto Junho Anastasia

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Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes


João dos Reis Canela

Vice-Reitora da Unimontes
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Pró-Reitor de Pós-Graduação
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Pró-Reitora de Ensino
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Pró-Reitora de Extensão
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Diretor do Centro de Educação a Distância


Jânio Marques Dias

Coordenadora de Projetos CEAD/Unimontes


Maria Ângela Lopes Dumont Macedo

Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes


Betânia Maria Araújo Passos

Coordenador Administrativo Financeiro


Fernando Guilherme Veloso Queiroz

Coordenadora de Apoio Pedagógico


Zilmar Santos Cardoso

Coordenadora do PRÓ-CEAD
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo

Coordenadora de Tutoria PRÓ-CEAD


Maria Aparecida Pereira Queiroz
Autora
Ramony Maria da Silva Reis Oliveira
Licenciada em Pedagogia, Letras Português Inglês pela Unimontes.
Especialista em Supervisão pela Unimontes, mestre em Educação pela
Universidade de Itaúna e doutoranda em Estudos Linguísticos e Língua
Portuguesa pela PUC-Minas. Atualmente, é professora do Instituto Federal do
Norte de Minas Gerais, bem como pesquisadora da Educação a Distância.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O trabalho da tutoria: papéis e ações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.2 Os modelos mais utilizados na oferta de cursos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.3 A estrutura da EAD e o papel do tutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
A interface espaço-tempo na EAD e o papel da tutoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.2 A interface espaço-tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

2.3 O tempo, o espaço e o papel do tutor na EAD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
O teletrabalho e a tutoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.2 A mediação tecno-pedagógica e os discursos do teletrabalho docente . . . . . . . . . . . 27

3.3 Teletrabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3.4 O empregado, o teletrabalho, a legislação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

3.5 Vantagens e desvantagens do teletrabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3.6 O teletrabalho e a Educação a Distância: peculiaridades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Os desafios do trabalho do tutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.2 Desafios do trabalho de tutoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.3 Dicas para o exercício da tutoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43


Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Apresentação
Prezados acadêmicos:

Este caderno foi escrito com a convicção de apresentar o trabalho da tutoria online no con-
texto da educação a distância (doravante, EAD) cujo objetivo principal é refletir sobre a impor-
tância da tutoria na construção da rede colaborativa de aprendizagem na EAD. Nesse contexto,
trago, aqui, reflexões sobre as condições de trabalho dessa categoria, buscando conhecer as ca-
racterísticas deste trabalho.
Ao compreender o tutor como uma figura importante no sucesso dos cursos a distância,
esse caderno, escrito em quatro unidades, possibilitará, acredito, discussões de suma importân-
cia para as reflexões aqui propostas, as quais perpassarão a definição das suas atribuições, a per-
cepção do espaço e tempo em EAD, o reconhecimento do teletrabalho como uma possibilidade
de expansão da modalidade a distância, bem como a apresentação de algumas pesquisas sobre
os desafios da tutoria no mundo contemporâneo, com algumas dicas para um trabalho produti-
vo e eficaz.
Ao longo desse caderno didático, vocês verificarão que inseri Links para aprofundarmos as
discussões. Não percam a oportunidade, baixem os textos, leiam-nos e voltem ao fórum da uni-
dade para apresentar suas reflexões aos colegas, ao professor e tutor!
Então, vamos lá?
Navegar é preciso...

A autora.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Unidade 1
O trabalho da tutoria: papéis e
ações

1.1 Introdução
A fusão das tecnologias da comunicação com as tecnologias da informática, aqui deno-
minadas “telemáticas” (MILL, 2006), possibilitou um avanço quase inimaginável no campo da
Educação. No caso da EAD, essas possibilidades foram ainda maiores. Os cursos são gerados
utilizando-se a mais atual tecnologia computacional (OLIVEIRA, 2009). Nesse contexto, o pa-
pel da tutoria se reconfigura e tornam-se necessárias reflexões cada vez mais profundas acer-
ca da atuação do tutor. Nesta unidade, convido a você para um estudo detalhado sobre o pa-
pel da tutoria, percebendo as relações interpessoais no ambiente virtual de aprendizagem e o
feedback em tutoria. Vamos lá?

Objetivos da Unidade

• Discutir os modelos de oferta de EAD mais utilizados nos cursos atuais;


• Localizar a figura do tutor no modelo proposto e discutir suas atribuições;
• Reconhecer as relações interpessoais no ambiente virtual de aprendizagem e feedback
em tutoria.

Tópicos da Unidade

1. 2 Os modelos mais utilizados na oferta de cursos


1. 3 A estrutura da EAD e o papel do tutor

1.2 Os modelos mais utilizados na


oferta de cursos
Conforme discutimos no Módulo I, a EAD possui modalidades de ofertas diversas. Aqui
retomamos duas delas para inserir a figura do tutor no modelo de EAD proposto. A maioria
dos cursos formatados, principalmente pelas Universidades Estaduais e Federais, utiliza o mo-
delo 2, com características pontuais do modelo 3, apresentados anteriormente (Módulo I), os
quais são também os modelos utilizados para oferta dos cursos da Universidade Aberta do
Brasil, com poucas adaptações.
Para relembrar, voltem à Unidade 2, item 2.2.1, Módulo I, Caderno didático Introdução à EAD
DICA
Para relembrar, voltem
Modelo 2 – Aprendizagem Independente: Neste modelo, os alunos podem fazer à Unidade 2, item 2.2.1,
o curso, independentemente do local onde estão, e não precisam se adequar às Módulo I, Caderno
escalas fixas de horário. Os estudantes recebem vários materiais de estudo, in- didático Introdução à
cluindo um programa de curso. A instituição coloca à disposição do aluno, moni- EAD
tor ou tutor que o acompanhará, fornecendo orientações, respostas e avaliando
seus exercícios e testes. A interação entre o monitor e o estudante é viabilizada
através de variadas tecnologias, tais como: telefone, fax, chat, correio eletrônico,
etc. Não há aulas no sentido clássico da palavra. Os alunos estudam, buscando

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UAB/Unimontes

seguir o mais fielmente possível o programa do curso e podem interagir com o


tutor, em alguns casos com outros estudantes (GONZALES, 2005, p. 53).
Modelo 3 – Aprendizagem Independente e Aula: Este modelo envolve a utiliza-
ção de material impresso e outras mídias, tais como fita de videocassete, (...), CD-
-ROM ou DVD, que possibilitam ao aluno estudar no seu próprio ambiente. Ou-
tras tecnologias que envolvem os alunos também poderão ser utilizadas, como
as descritas no modelo 2. Os alunos reúnem-se periodicamente em grupos, em
locais específicos, para receber apoio instrucional. Nas aulas discutem-se os con-
teúdos, esclarecem-se conceitos, realizam-se trabalhos, experiências em labora-
tórios, simulações e outros exercícios relacionados com a aprendizagem (GON-
ZALES, 2005, p. 53).

Esses modelos permitem ao aluno o dos? Denominado Aprendizagem Indepen-


acesso ao curso em tempos e espaços adap- dente e Aula, pois esses modelos oferecem um
tados às suas necessidades. O material im- encontro presencial semestral por disciplina
presso é enviado ao aluno, por período ou denominado Fase Presencial Intensiva, para
módulo, acompanhado de um Programa a apresentação do conteúdo e mais um en-
de Estudo apresentado na aula presencial e contro denominado Seminário Temático, por
postado no Ambiente Virtual de Aprendiza- disciplina. A interação aluno/tutor é feita pelo
gem. O tutor, por sua vez, recebe um Plano meio telemático e pelo Ambiente Virtual de
de tutoria, que é elaborado pelo professor Aprendizagem que não guarda semelhança
que escreveu o material impresso ou pelo com a secular sala de aula. Conforme relatam
professor formador da disciplina, que o aju- Dussel e Caruso (2003, p. 235), “parece quase
da a acompanhar as tarefas dos alunos e impossível pensar a sala de aula do futuro sem
avaliar as atividades solicitadas. A interação computadores, sem equipamentos de vídeo.
se dá, na maioria das vezes, por internet, po- Sem muitas outras invenções, das quais ainda
dendo, eventualmente, acontecer por outras não temos notícia, mas que nos rondam como
tecnologias da comunicação. Não há aula no fantasmas antecipatórios”.
sentido clássico da palavra. Em momentos Os tempos e espaços são percebidos
presenciais, é apresentado pelo professor de maneira diferente; o papel do professor é
formador todo o conteúdo do material im- modificado e o tutor tem, nesse contexto, a
presso. Após o encontro, os alunos intera- função de mediar o processo entre o aluno e
gem com o professor e com o tutor; as dis- o material didático na construção do conhe-
ciplinas são estudadas uma a uma, conforme cimento.
suas cargas horárias. O texto da sessão seguinte objetiva
O modelo 2, denominado aprendizagem compreender melhor a função do tutor que,
independente, tem como principal caracterís- segundo MILL (2006, p. 63), é “o trabalhador
tica a ausência de aulas presenciais. Daí, para da educação a distância, mediada por tec-
melhor caracterizar a EAD proposta pelo Sis- nologias digitais”, assim como localizá-lo na
tema Universidade Aberta do Brasil (UAB), foi estrutura organizacional da EAD e identificar
necessário pontuar o modelo 3, estão lembra- suas competências.

1.3 A estrutura da EAD e o papel


do tutor
Depois de tantas leituras e debates so- da tarefa? Há uma especificidade em seu pa-
bre a EAD, vamos falar do papel de um dos pel? Quem é reconhecido como bom tutor?
agentes mais importantes na modalidade a Como se forma um tutor? Como se avalia seu
distância? trabalho? O tutor é imprescindível na modali-
Os estudos e reflexões sobre a docência dade a distância? Para discutirmos esses ques-
online nos permitem levantar algumas ques- tionamentos, utilizaremos a análise apresenta-
tões: o que significa ser tutor? Qual é a espe- da por Maggio (2001), que se assenta em três
cificidade do seu papel? Quais são os alcances considerações fundamentais:

Hoje a modalidade a distância requer uma redefinição à luz das transforma-


ções sociais e culturais. (...) de um escritório em qualquer ponto da Argenti-
na é possível cursar uma pós-graduação em uma universidade estrangeira

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

via internet. Ao mesmo tempo, na Argentina, não se garante a escolaridade


básica para toda a população, o que dá lugar ao aumento da pobreza e da
marginalidade.
A modalidade a distância vem se redefinindo na base do impacto dos no-
vos desenvolvimentos tecnológicos. [...] as instalações de redes e de redes
de rede, as habilidades requeridas para o uso da tecnologia – imprescindí-
veis no âmbito do trabalho – [...] instalam novas formas culturais que pro-
duzem impacto nos modos de aprender e conhecer, sem que isso ocorra
especificamente por meio do sistema educativo formal. Contudo, embora
reconheçamos o valor da informação difundida nas redes, sabemos que se
tem acesso à maior parte dela mediante pagamento, que boa parte dessa
informação não passa de publicidade e, de modo fundamental, que não há
critérios construídos nem controle para discriminar a informação legítima da
que não é.
A modalidade a distância tem de ser redefinida a partir da contribuição dos
desenvolvimentos teóricos das ciências sociais em geral e da didática em
particular. Entre outros, os desenvolvimentos no campo da linguística, da
psicologia cognitiva e da antropologia social configuram novos modos de
entender o trabalho dos professores e alunos. [...] Ainda assim, as formas tra-
dicionais impregnam as práticas (MAGGIO, 2001, p. 94).

A partir dessas considerações, é impor- abandono do aluno na modalidade a distân-


tante refletir sobre a EAD. Haja vista que essa cia. Deve-se compreender o feedback como
modalidade, que tem em seu discurso o pa- um grande aliado no trabalho do tutor na
pel de democratizar o ensino, pode, talvez construção efetiva do conhecimento; às ve-
com muito mais força, separar o conectado do zes, o aluno não avança nos estudos aguar-
não conectado, o marginalizado do incluído, dando um posicionamento do seu tutor.
enfim, visibilizar as diferenças. É importante Os projetos de EAD, na sua maioria,
deixar claro o que se entende por diferença. apresentam uma adaptação dos conheci-
No contexto moderno, ela tem um sentido; na mentos do ensino tradicional presencial para
contemporaneidade, tem outro. O contempo- a formatação a distância. Ocorre um equí-
râneo visa explicitar a diferença oferecendo voco comum, nesse contexto, quando se
condições iguais para efetivá-la, e o moderno acredita que a realidade prática de um pro-
deseja obliterar a diferença. É papel do tutor jeto espelha a teoria que o fundamentou. No
estar atento, também, aos modos de partici- contato virtual com o aluno se efetivam as
pação, às particularidades de cada aluno na condições de trabalho, as relações afetivas,
participação, observando e respeitando as di- as situações de aprendizagem, bem como
ferenças e cuidando das relações interpessoais as “regras e códigos” nos quais o ensino e a
no ambiente virtual de aprendizagem. É im- aprendizagem se darão, revelando as sin-
portante assinalar que ter sempre atualizadas gularidades desse processo (PETERS, 2003,
as observações sobre participações e caracte- 2004; BELLONI 2003; MAGGIO, 2001).
rísticas de cada aluno minimiza a possibilidade É nesse cenário, nem sempre fácil de
de esse aluno desistir, ficar insatisfeito ou não prever, que aparece a figura do tutor. Re-
construir o conhecimento. tomamos aqui o questionamento: O tutor
É importante, ainda, a atenção dada ao ensina? Pela proposta dos cursos, a melhor
feedback, que deve ser construtivo e positivo, resposta seria não, não é função do tutor (es-
além de controlar a sensação de isolamento crito na maioria dos projetos) ensinar. Porém,
que surge em alguns alunos. A resposta ime- nas perspectivas mais atuais, o tutor “cria
diata, segura, cuidadosa da tutoria, propor- proposta de atividades para reflexão, apóia
ciona uma sensação de pertença a um gru- sua resolução, sugere fontes alternativas de
po. Na EAD é comum a sensação de um “Não informação, oferece explicações, favorece
lugar” (veremos melhor esse termo na Unida- os processos de compreensão, isto é, guia,
de 2. Pesquisas atuais mostram que o tempo orienta, apóia, e nisso consiste seu ensino”
de postagem e a resposta do tutor são fun- (MAGGIO, 2001, p. 97). O tutor busca a efe-
damentais para o aluno, principalmente nas tivação do aluno autônomo. Vamos ouvir a
primeiras atividades. Essa postura atenta música de Zeca Baleiro e pensamos um pou-
e de acompanhamento do tutor diminui o co mais sobre a autonomia?

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UAB/Unimontes

DICA Autonomia
Siga o Link http://
letras.terra.com.br/ Zeca Baleiro
zeca-baleiro/ para
ouvir a música de Zeca
Baleiro. É impossível nesta primavera, eu sei.
Impossível, pois longe estarei.
Mas pensando em nosso amor, amor sincero.
Ai! Se eu tivesse autonomia.
Se eu pudesse gritaria.
Não vou, não quero.
Escravizaram assim um pobre coração.
É necessário a nova abolição.
Pra trazer de volta a minha liberdade.
Se eu pudesse gritaria, amor.
Se eu pudesse brigaria, amor.
Não vou, não quero.

A busca pela autonomia do aluno direciona, em muitos aspectos, as funções da tutoria. Po-
demos defini-las, em linhas gerais, mas reconhecendo que cada projeto pode reelaborá-las para
atingir aos objetivos propostos.

Figura 1: autonomia e ►
liberdade
Fonte: http://www.
planetaeducacao.
com.br/portal/artigo.
asp?artigo=1188
Acesso: 12 de abr. 2012.

Vamos conhecer as funções do tutor?

PARA SABER MAIS • Discussões sobre os conteúdos de cada área do conhecimento;


A Capes apresenta • Elaboração de planejamentos de estudos com o aluno;
as atribuições dos • Orientações e sugestões quanto às leituras que deverão ser feitas, auxiliando-os em suas
tutores e permite a dúvidas (resolvendo ou encaminhando-os para resoluções);
adaptação destas
• Acompanhamento e avaliação da aprendizagem dos acadêmicos, bem como a elabora-
atribuições conforme
a necessidade ção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), relatórios, e outros procedimentos;
da instituição no • Indicação de recursos, bibliografias e materiais adicionais para o estudo;
atendimento ao aluno. • Proposição de formas auxiliares de estudo;
Visite o site, clicando no • Orientação aos cursistas sobre a importância da pesquisa científica;
hiperlink que se segue,
• Alimentação de um esforço positivo na superação de dificuldades;
e conheça o que está
proposto lá. • Favorecimento de troca de experiências e conhecimentos em atividades de grupos; in-
centivo de debates e produções individuais e coletivas;
• Promoção de conferências, colóquios, palestras, seminários, mesas redondas; painéis e
aulas.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

◄ Figura 2: Função Tutoria


Fonte: http://www.
moodle.ufba.br/mod/
book/print.php?id=21952
Acesso: 12 de abr. 2012.

A afirmação de que o tutor online não dor, tutor-professor, e até mesmo animador de
ensina baseia-se na crença tradicional de que rede. Entretanto, para Belloni (1999), o perfil da
o ato de ensinar pressupõe a transmissão de tutoria ainda não está completamente configu-
um conhecimento já sistematizado. Essa ideia rado, existindo dúvidas e incertezas a respeito
de tutor como acompanhante do processo de de suas funções, por exemplo, se o tutor educa
ensino e aprendizagem surgiu da interpre- ou não, entre outras.
tação do formato dos cursos em EAD. Como Garcia Aretio (2001) apresenta três tipos
não havia um docente (no sentido presen- de funções para o tutor: a função orientado-
cial), não havia um lugar (sala de aula), o ma- ra, mais centrada na área afetiva; a função
terial ganhou significado muito amplo: ob- acadêmica, mais relacionada ao aspecto cog-
jetivos bem definidos, pacotes bem escritos, noscitivo; e a função institucional, que diz
sequenciados e pautados, cujo grand finale é respeito à própria formação acadêmica do tu-
a avaliação (MAGGIO, 2001). tor, ao relacionamento entre aluno e institui-
Entretanto, com o conhecimento advin- ção e ao caráter burocrático desse processo.
do da própria experiência na oferta de cursos Para Leal (2005), o tutor é aquele que instiga
e nas pesquisas surgidas na área, outros con- a participação do acadêmico, que possibilita
ceitos foram surgindo, mais flexíveis e dinâ- a construção coletiva. De acordo com Niskier
micos. Nesse percurso da EAD, a tutoria é de (1999), o tutor tem como funções: comentar,
extrema relevância, sendo imprescindíveis ajudar e supervisionar os trabalhos, “fornecer
determinadas características que prevêem feedbacks, corrigir as avaliações, fornecer e
o apoio pedagógico consistente e contínuo, atualizar informações e servir de intermedi-
garantindo a operacionalização do curso, de ário entre a instituição e os alunos” (NISKIER,
forma a atender aos alunos nas necessidades 2000, p. 393).
individuais e coletivas. Sá (1998) considera que o tutor da EAD
Assim, o tutor tem recebido diversas de- exerce duas funções importantes: a informa-
nominações, de acordo com as concepções pe- tiva, relacionada ao esclarecimento das dúvi-
dagógicas do curso no qual ele está envolvido, das levantadas pelos alunos, e a orientadora,
tais como: orientador, articulador e facilitador que se expressa no auxílio das dificuldades e
da aprendizagem, motivador e estimulador, na promoção do estudo e na busca da auto-
potencializador, flexível, criativo, tutor-orienta- nomia (SÁ, 1998, p. 45).

15
UAB/Unimontes

Figura 3: Atendimento ►
Tutorial
Fonte: http://
paulicasantos.wordpress.
com/ilustracao/
Acesso:12 de abr. 2012.

Os tutores utilizam estratégias para moti- EAD questionada a partir da necessidade de


var o aluno, visando atingir sua autoestima, va- ressignificação das práticas. Os novos modos
lorizando seu processo de aprendizagem e seus de perceber o trabalho dos professores e alu-
ganhos pessoais ao realizar o curso. Esse incen- nos estão, de fato, bem entendidos? O tutor
tivo/estímulo é emitido por meio de mensa- tem buscado e aplicado estratégias que viabi-
gens eletrônicas, postagens ou presencialmen- lizam bons êxitos no desenvolvimento do seu
te. Já as estratégias operacionais incentivam o trabalho?
aluno a desenvolver atividades práticas, como O papel do tutor se baseia numa concep-
relatórios, seminários, utilização de ferramen- ção de participação, de educador comprome-
tas tecnológicas disponíveis no ambiente de tido com a formação dos alunos, capaz de pre-
aprendizagem. É imprescindível a presença do pará-los ou subsidiá-los para pensar, resolver
tutor estabelecendo com o aluno o vínculo en- problemas e responder rapidamente às mu-
tre o conteúdo do curso e o conteúdo tecnoló- danças contínuas. Cabe a este educador pro-
gico. Para concretização das atividades, o aluno blematizar o conhecimento e criar estratégias
precisa sentir-se familiarizado, apto para operar para que o aluno adquira habilidades e com-
no ambiente em que está inserido. petências para construir, reconstruir e colocar
Retomamos a discussão a partir das colo- em prática seu aprendizado.
cações de Maggio (2001), quando ela retrata a

Figura 4: Aproximação ►
Fonte: http://www.
planetaeducacao.
com.br/portal/artigo.
asp?artigo=1188
Acesso: 12 de abr. 2012.

16
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Conforme Oliveira, (2002, p.15): “O tutor mediador estabelece um elo com o aluno,
é aquele que aproxima o aluno dos conteú- fomentando maior abertura, ânimo e apoio,
dos do curso ministrado e do próprio ‘con- o que desencadeia mais possibilidades de
teúdo tecnológico’, necessário ao trânsito dinamizar os cursos, intensificando o envol-
autônomo em ambientes virtuais de apren- vimento de todos os atores do processo, em
dizagem”. A atividade de tutoria, especial- especial o aluno.
mente dentro do âmbito da educação, diz Aretio (2001) aponta estratégias que o
respeito ao acompanhamento próximo e à tutor deve desenvolver em sua prática para
orientação sistemática de grupos de alunos. alcançar bons resultados com seus alunos,
Segundo Barbosa et al (2004), o tutor deve tais como: planejar; organizar; apresentar in-
planejar as suas ações, visando à capacitação formações; fornecer conteúdos significativos
do aluno na busca do seu próprio conheci- e funcionais para o aluno; motivar a sua par-
mento e do domínio de um conjunto de téc- ticipação e o interesse em aprender; reforçar
nicas no que se refere à pesquisa e à constru- a autoestima; ser claro quanto aos objetivos
ção de sua autonomia. que se pretende alcançar; ativar as respostas
Na tutoria, a discussão em torno desse fomentando uma aprendizagem ativa e inte-
profissional se amplia, por ser perceptível rativa; incentivar a autonomia e avaliar o pro-
que o papel do tutor vai além da especiali- gresso do aluno.
dade. O olhar e a postura, diante das tecno- O trabalho do tutor determinará um di-
logias, tomam espaço em sua atuação. “O álogo permanente e fundamental entre o
papel do tutor, sobremodo, supera assim o curso e seus acadêmicos, desfazendo a ideia
conceito reducionista de propostas estrita- cultural da impessoalidade dos cursos a dis-
mente técnicas” (LEAL, 2005, p. 15). tância. Devido à sua característica de liga-
Nesse contexto, o tutor deverá elaborar ção constante com os acadêmicos, o tutor é
estratégias para envolver, incentivar e man- quem poderá responder com exatidão sobre
ter os tutorados nos cursos. É de suma im- o desempenho, as características, as dificul-
portância que esteja atento aos interesses dades, os desafios e o progresso de cada um
e às necessidades dos alunos. O seu papel deles.

◄ Figura 5: Aproximação
Fonte: sead.ufsc.br
Acesso: 12 de abr. 2012.

Conforme Emerenciano e Wickert (1998), que induzem a autonomia. Dessa visão, os


o processo de tutoria apresenta-se com três dois papéis se concretizam no processo de
distinções: professor, educador e tutor. O pro- tutoria.
fessor se projeta quando articula meios com Em outras palavras, tratando-se de cons-
os acadêmicos na busca de um ser crítico e trução do saber, a tutoria é marcada pelo tra-
criativo. O educador direciona aos valores balho de estruturar os componentes de estu-

17
UAB/Unimontes

do, estimulando e provocando o participante tutoria caracteriza-se por seu caráter solidá-
a construir o seu próprio saber, partindo rio e interativo, possibilitando o relaciona-
do princípio de que não há resposta feita, a mento da pessoa como um ser existente e
cada um compete criar um pronunciamento vivenciado como eu, tu, nós e outros, do que
marcadamente pessoal (EMERENCIANO; WI- decorre em conjunto de dificuldades, inclu-
CKERT, 1998, p. 27). sive para colocar-se entre os outros, como
Na tutoria, há uma dimensão de busca uma presença que se põe intencionalmen-
que perpassa a aprendizagem e caracteriza- te. O tutor deve possuir duas características
-se como uma presença. A presença é re- essenciais: domínio do conteúdo técnico-
presentada como um campo em que pode -científico e, ao mesmo tempo, habilidade
conviver passado e futuro, subsidiando pro- para estimular a busca de resposta pelo par-
jeções a serem vividas autonomamente. A ticipante.

Figura 6: Atendimento ►
a distância
Fonte: www.
educacaoadistancia.
blog.br
Acesso: 12 de abr. 2012.

O termo tutor é utilizado de forma natu- em discutir e indicar bibliografia, recomen-


ral, sem ressignificação. Deve ser superada a dar alternativas de estudo, cujo objetivo é o
ideia do tutor como aquele que ampara, pro- aprofundamento dos conhecimentos, incen-
tege, defende, dirige ou que tutela alguém. tivando os debates, as discussões e as cria-
Trabalhar como tutor vai além dessas caracte- ções coletivas que ampliam o raio de visão do
rísticas. Para o nosso entendimento, o papel educando, para que seja possível desenvolver
do tutor significa ser professor, ser educador. respostas críticas e criativas, consideradas
Ambos, expressando-se no sistema de tutoria como momentos para ampliação básica do
a distância. A orientação educativa no pro- saber, voltadas para oportunizar a análise de
cesso de tutoria considera como relevante as possibilidades de aplicação prática do que foi
necessidades dos participantes e o contexto construído.
educativo dele. Daí, o conceito de tutor vai No processo de orientação a distância, o
alargando-se e mesclando-se com o conceito atendimento realiza-se a partir da necessida-
de educador. de do aluno, através de planejamentos de ho-
Nesse viés, perceberam a importância da rários de estudos e de encontros presenciais,
tutoria num projeto bem sucedido de EAD? já determinados pelos Projetos Pedagógicos
Depois desse estudo, podemos concluir que dos cursos, os quais buscam situá-lo no con-
a tutoria é exercida em momentos diferencia- texto da aprendizagem. Os recursos tecnoló-
dos, podendo ocorrer de forma presencial ou gicos também são os intermediários do diálo-
a distância. O contato com o aluno consiste go do tutor com o participante.

18
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

◄ Figura 7: Aproximação
Fonte: http://www.
ceducc.wordpress.com
Acesso: 12 abr. 2012.

O tutor, em qualquer ambiente educa- fundamentais do tutor. Esses aspectos nos per-
cional, deve ter domínio do conhecimento do mitem verificar se a práxis correspondem às ca-
processo; dessa maneira, pode-se dizer que pacidades, aos valores priorizados e às atitudes
o tutor é um especialista. Ele deve conduzir o projetadas. As capacidades referem-se ao letra-
grupo de maneira livre, auxiliando no conteú- mento digital, competência para resolver pro-
do de trabalho, na unidade, garantindo que o blemas, interpretação de informações.
processo educativo ocorra entre os alunos. É Vale destacar que continuaremos, na Uni-
essencial que o tutor esteja plenamente cons- dade 2, o nosso estudo sobre o papel do tutor
ciente do seu papel; não basta dominar o con- na educação a distância. Para tanto, faremos
teúdo trabalhado, é essencial saber para quê e uma reflexão sobre o espaço e tempo nesta
o significado do proposto. modalidade e quais as construções identitárias
Para a concretização do acompanhamen- e subjetivas esta percepção formata nesses
to dos alunos, consideramos alguns aspectos profissionais.

Atividade da unidade 1

Leia toda a Unidade I e elabore as atribuições da tutoria. Em seguida, poste no fórum aberto
para este fim e compare com as atribuições postadas pelos seus colegas.

Referências
BARBOSA, O. S. et al. A comunicação tutor-aluno e dificuldades da prática dos tutores de
um curso de educação profissional a distância. São Paulo, 2004. Disponível em http://www.
abed.org.br/congresso 2004/. Acesso: set. 2008.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999.

DUSSEL, Inês; CARUSO, Marcelo. A invenção da sala de aula: uma genealogia das formas de en-
sinar. São Paulo: Moderna, 2003.

EMERENCIANO, Maria do Socorro J.; WICKERT, Maria L. Scarpene. Concepção integrada. Brasília,
1998. Eixo Temático I, VEA 4, Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação a distância.

GARCIA ARETIO, L. La educatión a distância: de la teoria a la práctica. Barcelona, Ariel Educací-


on, 2001.

LEAL, Regina Lúcia Barros. A importância do tutor no processo de aprendizagem a distância. Re-
vista Ibero Americana de Educación, Madri, n. 36. n. 3. jun , 2005.

19
UAB/Unimontes

MAGGIO, Mariana. O tutor na educação a distância. In: LITWIN, Edith. Educação a distância: te-
mas para um debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001.

MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tem-
pos, relações sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, 252 f. (Tese de
doutorado em Educação) FAE/UFMG.

NISKIER. Arnaldo. Educação a distância: a tecnologia da esperança. São Paulo: Loyola, 2000.

OLIVEIRA, Maria Eliane Barbosa. Educação a distância: perspectiva educacional emergente na


UEMA. Florianópolis: Insular, 2002.

OLIVEIRA, Ramony Maria da Silva Reis. Subjetividade e docência virtual. Revista Extra Classe,
Belo Horizonte, n. 2, v. 2, 2009.

PETERS, Othrs. Didática do ensino a distância. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

PETERS, Othrs. Educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SÁ, Iranita M. A. Educação a Distância: Processo Contínuo de Inclusão Social. Fortaleza, C.E.C.,
1998.

20
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Unidade 2
A interface espaço-tempo na EAD
e o papel da tutoria

2.1 Introdução
A compreensão das relações, ou mesmo das subjetividades e das identidades, perpassa, se-
gundo Hall (2001), por um entendimento do mundo sociocultural e econômico, a partir de suas
diversas representações, por meio da escrita, da imagem, do símbolo, através das telecomuni-
cações e da arte. Esses elementos dimensionarão a noção da interface espaço-tempo dentro de
uma perspectiva em que se estabelece a relação objeto/sujeito ou sujeito/objeto. Assim, são pro-
dutivas as reflexões que se seguem, pois, a partir delas, poderemos completar o estudo sobre a
tutoria em EAD e propor ações que ajudem na gerência dessas novas configurações identitárias
e subjetivas exigidas pelo teletrabalho da tutoria.

Objetivos da Unidade

• Compreender as novas identidades, subjetividades, representações e formas de gestão do


tempo e do espaço geradas pela atual velocidade com que os dados, as informações e o co-
nhecimento são produzidos, propagados e/ou acessados;
• Propor ações a serem adotadas pelo tutor para que alunos de cursos realizados a distância
efetuem uma melhor gestão do tempo;
• Abordar a centralidade do conhecimento e da educação na "sociedade técnico-informa-
cional";
• Apresentar estratégias de mediação que podem diminuir os efeitos da "distância transacio-
nal" na relação pedagógica e nos processos de aprendizagem.

Tópicos da Unidade

2.2 A interface espaço-tempo


2.3 O tempo, o espaço e o papel do tutor na EAD

2.2 A interface espaço-tempo


Para entendermos melhor a interface espaço-tempo na EAD, vamos acompanhar o raciocí-
nio de Harvey (1989) que argumenta, analisando-a como coordenadas básicas dos impactos de
globalização, quer do ponto de vista econômico, quer do ponto de vista sociocultural, dizendo:

[...] à medida que o espaço se encolhe para se tornar uma aldeia “global” de
telecomunicações e uma “espaçonave planetária” de interdependências eco-
nômicas e ecológicas – para usar apenas duas imagens familiares e cotidianas
– e à medida que os horizontes temporais se encurtam até ao ponto em que
o presente é tudo que existe, temos que aprender a lidar com um sentimento
avassalador de compreensão de nossos mundos espaciais e temporais (HAR-
VEY, 1989, p. 104).

Por outro lado, ao argumentar sobre a modernidade líquida do espaço-tempo, Bauman


(2001) insere uma abordagem diferenciada e crítica, discutindo sobre os não lugares. Ele afirma

21
UAB/Unimontes

que “um ‘não-lugar’ é um espaço destituído das expressões simbólicas de identidade, relações e
história: exemplos incluem aeroportos, autoestradas, anônimos quartos de hotel, transporte pú-
blico...” (BAUMAN, 2001, p. 120-124). Em outras palavras, entende-se “não-lugares” como “espaços
vazios” por seus múltiplos significados partilhados entre muitos usuários diferentes.

Figura 8: Aproximação ►
Fonte: http://www.
cursoseadgratis.com.
Acesso: 30 abr. 2012.

Dentro dessa visão, Bauman (2001) ar- qualquer coisa, vazios de significado”, este
gumenta: “o vazio do lugar está no olho “espaço vazio” poderia, para aquela jovem,
de quem vê e nas pernas ou roda de quem ser um ‘não lugar’. “Não que sejam sem sig-
anda. Vazios são os lugares em que não se nificado, nem se acredita que possam tê-lo,
entra e onde se sentiria perdido e vulnerá- que são vistos como vazios (melhor seria não
vel, surpreendido e um tanto atemorizado vistos).” (BAUMAN, 2001, p.120).
pela presença de humanos” (BAUMAN, 2001, Esse medo do estranho, do desconheci-
p. 123). do, a ponto de considerar um “espaço vazio”,
Para exemplificar o não lugar, Bauman reforça a ideia do contrário que, para Bau-
(2001) relata a história de uma professora man (2001), é “o sentimento reconfortante
que foi buscá-lo no aeroporto em uma de de pertencer – a impressão de fazer parte
suas viagens de conferências. Era uma jovem, de uma comunidade. [...] a ausência da dife-
filha de profissionais ricos e de alta escola- rença, para nós poderia ser o início do pen-
ridade, que se desculpou porque a ida até samento comunal” (BAUMAN, 2001, p.116).
o hotel seria difícil, demorada e teriam que Completando esse raciocínio, poderíamos
passar por avenidas movimentadas, pois era pensar, portanto, no crescimento da ideia de
o único caminho. Realmente, demoraram comunidade, na dificuldade de definir esse
duas horas para chegar ao hotel. No dia da conceito na contemporaneidade, na forma-
partida, sua guia ofereceu para conduzi-lo ção de rede, na interação, na ocupação do
de volta ao aeroporto, porém, ele recusou. “não lugar”.
Lembrando-se da dificuldade enfrentada na Na EAD, vários teóricos argumentam so-
chegada, decidiu-se por um táxi, o qual, para bre a nova percepção espaço-temporal e afir-
sua surpresa, chegou em dez minutos. mam que o tempo cronológico e o espaço fí-
O motorista passou por ruas pobres, sico estão sendo modificados, e o “não lugar”
próximo a crianças sujas, vestindo farrapos. para algumas pessoas seriam os ambientes
A informação da professora de que não havia virtuais de aprendizagem. Essa nova percep-
outra opção de percurso era verdadeira. No ção estaria também reconfigurando os mo-
seu mapa mental da cidade, não registrava delos de trabalho. As teorias clássicas sobre o
aquelas ruas feias “distritos perigosos”, pelos trabalho o dividem em dois momentos, quais
quais o motorista havia trafegado. No mapa sejam: momento de trabalho e momento de
mental da jovem rica, aquele era um espaço lazer. Esta lógica está sendo reconfigurada e
vazio da cidade, não se aproximava da sua os tempos para o trabalho e os tempos para o
experiência de cidade. De acordo com Bau- lazer estão, também, reconfigurados. Vamos
man (2001): “Os espaços vazios são, antes de saber mais sobre isso?

22
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

2.3 O tempo, o espaço e o papel


do tutor na EAD
O desenvolvimento tecnológico e as possibilidades que as telemáticas proporcionam pro-
vocam uma crise nas relações de trabalho. Dessa maneira, novos discursos sobre o tempo de tra-
balho e o tempo de lazer, o doméstico e o profissional, se misturam e isso, raramente, é percebi-
do pelos próprios trabalhadores (OLIVEIRA, 2009). No trabalho online, percebe-se uma invasão
do tempo destinado ao lazer, e o tutor, sempre que pode, dá uma “olhadinha” no e-mail, na sala
virtual, etc.. Mill (2006) alerta:

[...] emergem-se, daí, as condições adequadas para o desenvolvimento do te-


letrabalho, um contexto de possibilidades tecnológicas para flexibilizar os
limites entre os tempos de trabalho e de não-trabalho, onde o trabalhador
“dispõe-se” a abarcar uma sobrecarga de atividades e num momento em que
o capital explora novas formas de superação da crise a qual esteve submeti-
do nos últimos tempos, parecem condições para se desenvolver o que estamos
denominando de colonização de subjetividade, como evolução da coloniza-
ção dos tempos de reprodução (MILL, 2006, p. 221).

Como já vimos no módulo 1, a sala de aula, o trabalho docente e os saberes dos professores
foram reconfigurados, até mesmo a própria nomenclatura secular de professor foi expropriada.
Os tempos e espaços estão sendo percebidos de maneiras diferentes e Harvey (2001) mostra um
conceito bastante pertinente para as percepções contemporâneas de espaço e tempo: “conside-
ro importante contestar a idéia de um sentido único e objetivo de tempo e espaço, com base
no qual possamos medir a diversidade de concepções e percepções humanas” (HARVEY, 2001,
p.189). Esse pensamento é ratificado por Bauman (2001) quando afirma: “a relação entre tempo
e espaço deveria ser, de agora em diante, processual, mutável e dinâmica, não predeterminada e
estagnada” (BAUMAN, 2001, p. 131). O autor argumenta, ainda, que “a ‘conquista do espaço’ veio
significar maior espaço, e acelerar o movimento era o único meio de ampliar o espaço. Nessa cor-
rida, a expansão espacial era o nome do jogo e seu espaço, seu objetivo; o espaço era o valor, o
tempo, a ferramenta” (BAUMAN, 2001, p. 131.).

◄ Figura 9: Aproximação
Fonte: http:// www.
mundodastribo.com.br
Acesso: 30 abr. 2012.

23
UAB/Unimontes

Neste estudo, vamos considerar os conceitos contemporâneos de espaço e tempo de Bau-


man (2001), Hall (2001), Harvey (2001), incluindo, também, um conceito que ainda não estuda-
mos e apresentado por Lévy, quando argumenta que “o ciberespaço é o espaço de comunicação
aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores, marca-
do pela codificação digital” (LÉVY, 1999, p. 92).
Wertheim (2001) aprofunda esse conceito e acrescenta um componente novo.

Por não estar ontologicamente enraizado nesses fenômenos, o ciberespaço


não está sujeito às leis da física e, portanto, não está preso pelas limitações
dessas leis. Em particular, esse novo espaço não está contido em nenhum com-
plexo hiper-espacial dos físicos. Seja qual for o número de dimensões que os
físicos acrescentem às suas equações, o ciberespaço continuará fora de todas
elas. Com o ciberespaço, descobrimos um lugar além do hipertexto. (...) Meu
“movimento” [na Web] não pode ser descrito por quaisquer equações dinâmi-
cas (WERTHEIM, 2001, p. 167).

Verificamos, nesse conceito, uma leve ironia e uma dose acentuada de rebeldia. O pronome
possessivo “meu” dá à fala de Wertheim certa provocação ao conceito usual de espaço, apresenta-
do e defendido pelos físicos.
Com relação à percepção espaço temporal, podemos dizer que está “confusão” entre o real, o vir-
tual, o tempo para o trabalho, o tempo para o lazer no trabalho a distância tem modificado as rela-
ções familiares, profissionais e sociais. Isso pode ser verificado numa pesquisa feita com 15 tutores, ao
responderem à pergunta “Você realiza alguma atividade docente em casa?”. Vejamos os resultados:

TABELA 1
Você realiza alguma atividade docente em casa?

Frequência

Sim, mais frequente para EP 2

Sim, mais frequente para EAD 7

Sim, de forma proporcional entre EP e EAD 4

Sim, mas só faço isso porque quero 3

Sim, pois se não fizer isso, meu trabalho acumula 5

Não levo trabalho docente para casa 0


Fonte: Pesquisa realizada pela autora.

Dadas essas condições, verificamos que autogerir e autoregular os seus processos de


PARA SABER MAIS os tutores, de casa, trabalham com seus alunos aprendizagem; ajudar os alunos na gerência de
Cf. MOORE, Michael. em tempos e espaços que antes eram desti- tempos destinados ao estudo. Esses desafios
Teoria da Distância nados a outras atividades. Assim, podemos requerem do tutor não só uma formação sólida
Transacional. definir a EAD como a modalidade educacional e um entendimento de que esta flexibilização
Revista Brasileira de em que o redimensionamento pedagógico espaço-temporal pode trazer vantagens, como
Aprendizagem Aberta amplia os espaços e os tempos de aprendiza- também pode ser um ponto de estrangula-
e a Distância, São
Paulo, v. 1, p. 2, ago. gem, reconfigurando o conceito de ensinar e mento da relação pedagógica e, consequente-
2002. Disponível em: < de aprender. Na EAD, os papéis do aluno e do mente, afetar os processos de aprendizagem,
http://www.abed.org. tutor ganham novos contornos: o aluno ne- dependendo de como são geridos. Assim, o
br/ revistacientifica/ cessita de maior autonomia para aprender, e o tutor deve se preparar para atuar nas questões
Revista_PDF_ tutor passa a ser um mediador do processo de pedagógicas como nos problemas trazidos
Doc/2002_Teoria_
Distancia_ aprendizagem. pela sua atuação na EAD, já que está modalida-
Transacional_Michael_ Ao tutor, na condição de mediador dos de provoca estados psicológicos diversos, tais
Moore.pdf>. Acesso: 13 processos de aprendizagem, apresentam-se como: sensação de isolamento e de solidão,
maio 2012. importantes desafios, como o de promover falta de pertença, frustração. A separação espa-
de forma eficaz o ensino e a aprendizagem ço-temporal provoca um distanciamento psi-
em espaços virtuais, muitas vezes em tempo cológico e de comunicação - conhecido como
real; trabalhar, nesses ambientes, conteúdos e distância transacional, que necessita, para ser
atividades de forma significativa; buscar a for- transposto, da atuação do tutor, para que o
mação de alunos autônomos, que consigam processo de aprendizagem do aluno se efetive.

24
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Atividade da unidade 2

Visite o site http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_ Dis-


tancia_Transacional_Michael_Moore.pdf e pesquise sobre Distância Transacional. Em seguida,
volte à sala virtual e poste suas impressões no fórum aberto pelo seu professor para este estudo.
Antes, produza um texto no espaço que se segue e depois o disponibilize na sala virtual.

Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guaci-
ra Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1989.

MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tem-
pos, relações sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, 252 f. (Tese de
doutorado em Educação) FAE/UFMG.

LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

OLIVEIRA, Ramony Maria da Silva Reis. Subjetividade e docência virtual. Revista Extra Classe,
Belo Horizonte, n. 2, v. 2, 2009.

WERTHEIM, M. Uma historia do espaço de Dante à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

25
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Unidade 3
O teletrabalho e a tutoria

3.1 Introdução
As exigências da economia mundial, aliadas ao desenvolvimento de novas telemáticas, in-
troduziram novas modalidades de labor, o que leva à reflexão sobre os modelos de trabalho que
surgem como outras possibilidades, num contexto de passagem da “sociedade industrial” para a
“sociedade da informação”. A atividade clássica do trabalho que “conservava máquinas e pessoas
no interior de grandes fábricas, trabalhando em tempo integral, sob o olhar atento do emprega-
dor”, é redimensionada e o teletrabalho é analisado “como a preponderância do trabalho intelec-
tual sobre o manual, sem a presença física do empregador” (Manãs, 2004, p. 24).

Objetivos da Unidade

• Compreender a mediação tecno-pedagógica e os discursos do teletrabalho docente;


• Conhecer o teletrabalho, seus limites e suas possibilidades;
• Perceber as reconfigurações do trabalho possibiitadas pelo teletrabalho na educação.

ATENÇÃO:

Tópicos da Unidade
3.2 A mediação tecno-pedagógica e os discursos do teletrabalho docente.
3.3 O teletrabalho
3.4 O empregado, o teletrabalho, a legislação
3.5 Vantagens e desvantagens do teletrabalho
3.6 O teletrabalho e a educação a distância: peculiaridades

3.2 A mediação tecno-pedagógica


e os discursos do teletrabalho
docente
A revolução tecnológica modificou sobremaneira a nossa percepção de tempo, espaço, rela-
ções e, sobretudo, a nossa forma de agir e estar no mundo. Esse progresso, segundo Virilio,

age sobre os indivíduos trazendo perturbações (ou mudanças) comportamen-


tais e perceptivas (visuais, sociais, psicomotoras, afetivas, intelectuais, sexu-
ais...) a cada inovação, com sua coleção de prejuízos específicos, como uma es-
pécie de contaminação técnica indizível (VIRILIO, 1993, p. 180).

Belloni (2003, p. ) afirma, seguindo o mesmo raciocínio (modificação da maneira de agir no


mundo), que as mídias, “ao mediatizarem as relações humanas, acabam modelando-as, levando
o indivíduo à submissão ao sistema, desencorajando o espírito de iniciativa e a autoconfiança e
diminuindo a possibilidade de o indivíduo decidir a partir de seu próprio julgamento”.

27
UAB/Unimontes

Essa situação de contemplação, de obediência, de desencorajamento diante da tecnologia,


os discursos deslumbrados do ganho que o usuário da tecnologia tem, dá às telemáticas um pa-
pel de “novo paradigma” que deve ser analisado e discutido amplamente. Nesse ponto, Belloni
(2003) adverte:

os diferentes discursos oficiais, políticos e científicos sobre a tecnologia ten-


dem a apresentá-la como o motor do desenvolvimento ou do progresso huma-
no, atribuindo-lhe o papel de sujeito. O que corresponde de fato a uma visão
do cidadão como um indivíduo esmagado pelo peso de uma sociedade tecno-
totalitária (BELLONI, 2003, p. 61).

Inserindo o teletrabalhador docente, nesse contexto, podemos afirmar que essa modalida-
de de trabalho, mediada pelas tecnologias de informação e comunicação, tem o poder de anular
a reflexão e as telemáticas se transformam, pelos discursos dos teletrabalhadores, em uma forma
de influenciar positivamente o resultado do seu trabalho. Fidalgo e Fidalgo (2008) denunciam:

o mais complicado é constatar que os professores acabam desenvolvendo


uma visão maniqueísta do uso da tecnologia no trabalho, conceituando-a
como boa ou ruim, sem problematizar muitos aspectos importantes da sua
utilização. Aqui, entretanto, tem-se percebido uma tendência mais forte de
enxergá-la de forma domesticada, exaltando seus benefícios, mas nem sem-
pre polemizando sobre suas possibilidades de recontextualização e de utili-
zação de forma crítica e lúcida na sua experiência de trabalho. (FIDALGO; FI-
DALGO, 2008, p. 27).

As possibilidades que o teletrabalho traz de flexibilização espaço-temporal fortificam essa


alienação do próprio labor, pois intensificam o ritmo e a necessidade de produtividade e fazem
com que esses mecanismos nem ao menos sejam percebidos pela maioria dos teletrabalhadores.
Para compreendermos os discursos subjacentes à prática da docência virtual, temos de refletir
também sobre o processo de mitificação das linguagens, bem como identificá-las como míticas.

3.3 Teletrabalho
Nascido das demandas da sociedade contemporânea, o teletrabalho pode ser entendido,
conforme Nilles (apud MELLO, 1999), como a substituição do trabalho que exige a deslocação a
um local de emprego por outro qualquer tipo de trabalho apoiado nas tecnologias da informa-
ção (telecomunicações e computadores).

o teletrabalho redefine o tradicional entendimento sobre espaço de trabalho.


Atualmente, as organizações estão se focando em novos valores, tais como,
inovações, satisfação, responsabilidades, resultados e ambiente de trabalho
familiar. A alternativa de teletrabalho complementa esses princípios e oferece
flexibilidade aos patrões e empregados (FERREIRA JR, 2000, p. 3).

Assim, a forma pela qual o teletrabalho é executado

abre-se à possibilidade de mudança do controle do tempo de trabalho para o


controle dos resultados, havendo a passagem de uma cultura de ‘compra de
tempo’, proveniente da organização tradicional, para a cultura da ‘compra de
resultado’ fruto da organização informatizada”(MANÃS, 2004, p. 132).

Na literatura da área, há uma preocupação em definir o teletrabalho e diferenciá-lo de ou-


tros tipos de serviços oferecidos usando as telemáticas. Mello (1999) o define em três elementos.
O primeiro elemento é um trabalho; o segundo elemento é executado à distância e o terceiro se
dá por meio das telemáticas.
A desterritorialização do trabalho é fruto da sociedade da informação e é entendida, por al-
guns especialistas, como o “trabalho distribuído”. Mello (1999) registra que, para que o teletraba-
lho seja implantado por uma empresa/instituição, principalmente nas virtuais, devem-se obser-
var os seguintes itens:

28
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

• Tarefas de planejamento;
• Equipamentos utilizados para o teletrabalho;
• Trabalho no escritório de casa;
• Comunicações (MELLO, 1999, p. 50).

Para analisarmos os quatro itens anteriores, fez-se necessária uma citação longa e direta, na
qual Mello (1999) aborda cada um deles, detalhadamente, no Box 1 a seguir:

BOX 1
Implantação do Teletrabalho
• Tarefas de planejamento – A primeira atividade para implantar o teletrabalho é identi-
ficar as tarefas que se pode fazer enquanto ele é praticado, pois se sabe que o trabalho
fora do escritório tradicional funciona melhor para certas atividades. Neste sentido, de-
vem-se considerar as seguintes variáveis:
• Quanto à agenda de trabalho – A primeira iniciativa é escolher os dias em que se vai tra-
balhar a distância. Assim, facilita muito para todos saber-se antecipadamente se todos
vão ou não adotar continuamente o teletrabalho nos mesmos dias toda semana.
• Quando é impossível saber antecipadamente quantos dias se precisa trabalhar, pode-se
optar por começar com um dia na semana. Uma vez determinado os dias de teletrabalho,
é preciso programar seus horários e desenvolver os planos de trabalho para que estes
dias sejam produtivos.
• Quanto à flexibilidade – Para o teletrabalhador, o ideal é ter flexibilidade, ou seja, estar ao
mesmo tempo disponível para atender seus clientes, colegas e supervisores. Como é pos-
sível fazer algumas escolhas, a pessoa escolhe trabalhar no mesmo horário que o do es-
critório, começar mais cedo ou mais tarde, ou optar por outra hora de sua conveniência.
• Quanto à programação – Lembre-se de que precisa antecipar e levar para casa os mate-
riais e recursos que serão necessários para o dia de teletrabalho. Com o decorrer de sua
utilização, descobre-se que a habilidade de organizar o trabalho no seu dia de teletraba-
lho evolui à medida que se habitua à rotina.
• Equipamentos utilizados para o teletrabalho – Um telefone é imprescindível. Precisar ou
não de um computador dependerá do trabalho que se fizer, pois revisões, pesquisas, lei-
turas, planejamento, dar telefonemas, não requerem computadores. Porém, a utilização
de certos equipamentos, serviços e softwares tornam o teletrabalho mais fácil de ser exe-
cutado, tais como, voice mail e correio eletrônico, que permitem a pessoa ficar em conta-
to com o escritório sem interromper seus colegas ou a si mesmo. Uma secretária eletrôni-
ca e pager são também úteis. Nesse aspecto, sugere-se que os clientes não devem saber
que o teletrabalhador está em casa, se este for o caso.
• Trabalhando no escritório de casa – Quando a opção for teletrabalhar em casa, é impor-
tante reunir e comunicar à família esta decisão para que ela possa ser informada sobre
estas novas condições de trabalho. Nessa oportunidade, devem ser estabelecidas regras
e possíveis mudanças na organização do lar. Nesse sentido, é fundamental ter disciplina
para estabelecer o começo e fim da jornada de trabalho ao fazer uma atividade específi-
ca, como se estivesse no escritório convencional.
• Comunicações – A chave de sucesso no teletrabalho é a comunicação de trabalho. Co-
municação com todo mundo, mas especialmente entre o teletrabalhador e os colegas,
de forma espontânea. Quando se trabalha fora do escritório, não se terá tanto desta co-
municação espontânea. No começo, os colegas compensam a ausência, ligando frequen-
temente para o teletrabalhador. Mas, eventualmente, eles juntam os recados e ligam me-
nos vezes para discutir os assuntos da empresa.
• A maioria dos teletrabalhadores constata que há menos comunicação face a face porque
ela pode ser substituída em muitas ocasiões pelo telefone e por comunicações escritas,
via e-mail, por exemplo. Naturalmente, quando é o caso de primeiros contatos, negocia-
ções, ou para estudar informações visuais que não podem ser compartilhadas remota-
mente, reuniões presenciais são necessárias. Contudo, descobre-se que, com o tempo, o
número de reuniões diminui, mas as que houverem serão mais bem preparadas e mais
proveitosas, quando se pratica o Teletrabalho.
Fonte: MELLO, Álvaro. Teletrabalho: o trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999,
p.50.

29
UAB/Unimontes

Os itens apresentados por Mello (1999), quenas em casa, que exigem bastante aten-
Box 1, identificam características do teletra- ção, adolescentes com hábitos que podem de-
balho que precisam ser mais discutidas. O sarmonizar o ambiente (música alta, visita de
planejamento de tarefas sugerido, para que o muitos amigos, etc.), idosos que necessitam de
trabalho em casa seja eficiente, depende de cuidados. Todos esses pontos devem ser mui-
variáveis que, talvez, o teletrabalhador não to bem pensados para que o trabalho na resi-
consiga equacionar, tais como: crianças pe- dência do trabalhador seja produtivo.

Figura 10: Aprendendo ►


e ensinando com as
tecnologias
Fonte: www.
aprendendoeensinando
comolinux.blogspot.com.
Acesso: 31 abr.2012.

O teletrabalho na própria residência, o A lógica centenária dos colegas de traba-


qual também pode ser exercido em outros lho, da cerveja depois do horário, dos encon-
ambientes, inclusive em escritórios alterna- tros de finais de semana vai se diluindo pela
tivos que as empresas montam em polos es- falta de contatos face a face. Mesmo para os
colhidos, de acordo com a proximidade dos tutores que atendem aos alunos em labora-
funcionários, em laboratórios na sede das tórios da instituição a qual prestam o serviço,
universidades, requer do trabalhador uma ne- é difícil o contato face a face, pois os horários
gociação bastante cuidadosa sobre espaço e são definidos conforme a disponibilidade dos
tempo desse profissional, em relação à família, computadores dos laboratórios. Sakuda e Vas-
à vida social, etc.. concelos (2005) afirmam que a convivência
Os equipamentos utilizados para o tele- próxima e constante propicia condições mais
trabalho podem, dependendo do contrato, ser favoráveis à criação, ao fortalecimento e à ma-
fornecidos pelo empregador, mas, na maioria nutenção de relações de confiança do que as
das vezes, principalmente no teletrabalho vol- relações virtuais; e a confiança é um dos fato-
tado para a Educação, é de responsabilidade res fundamentais para a disseminação do co-
do trabalhador, dando-se nos laboratórios nhecimento tácito (SAKUDA; VASCONCELOS,
da empresa/instituição. Para executar as ta- 2005, p. 44). No entanto, com o desenvolvi-
refas com qualidade, o teletrabalhador deve mento cada vez mais rápido das mídias de in-
se equipar com ferramentas e máquinas que formação e comunicação, essas relações entre
têm capacidade para os softwares que, geral- os tutores, bem como entre estes e os alunos,
mente, exigem máquinas potentes, utilizados estão mais fáceis.
pelas empresas/instituições. Esses programas O teletrabalhador, ao optar por essa mo-
incluem dispositivos de controle denomina- dalidade, pode se sentir isolado socialmente
dos time sheets, que são planilhas instaladas e ainda sem sentimento de pertencimento ao
no computador de cada profissional para con- grupo de trabalho na universidade ou empre-
trolar horas, atividades e fazer o acompanha- sa. O computador é, na maioria das vezes, o
mento do teletrabalho. Outro item a pensar é meio pelo qual se dá seu contato com a sede
a manutenção e reposição desses aparelhos. do trabalho.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

3.4 O empregado, o teletrabalho, a


legislação
A percepção do teletrabalho, do ponto de senta um modelo de contrato de trabalho para
vista legal, ainda apresenta-se sem identidade o trabalho a distância. Esse contrato encontra-
própria, aproveitando a legislação trabalhis- -se disponibilizado na internet e serão trans-
ta que data de 1940, e, por sua especificidade, critos no Box 2 os itens que merecem comen-
não poderia ser legislado pela Consolidação tários, por serem importantes no contexto da
das Leis do Trabalho (CLT). O que acontece, nossa discussão. Ressaltamos que a numeração
hoje, no direito do trabalho é o uso de analo- está de acordo com o modelo de contrato pro-
gia, jurisprudência, etc. Nilles (apud MELLO, posto, do qual, já foi registrado anteriormente,
1999), considerado o pai do teletrabalho, apre- foram retirados apenas alguns itens.

BOX 2
Intens de contrato de Teletrabalho
6 Seguro
O local de trabalho alternativo designado pelo trabalhador será, para efeitos de se-
guro, o único a ser contemplado, nomeadamente no que respeita a indenizações, e não a
todas as áreas da casa.

7 Saúde e Segurança
O trabalhador deverá manter os mesmos padrões de higiene e segurança, quer tra-
balhando em casa, ou nas instalações da empresa.
O trabalhador deverá solicitar o parecer de especialistas em higiene e segurança da
empresa, para determinar e/ou avaliar as condições de higiene e segurança do seu escri-
tório doméstico.
Os teletrabalhadores deverão assinar um documento de certificação destas condi-
ções (nos termos abaixo indicados), ou concordar com uma inspeção das condições de
higiene e segurança do seu escritório doméstico.

Certificado
Eu, (nome do trabalhador), certifico que o meu escritório doméstico, usado para
teletrabalho, obedece a padrões razoáveis de segurança e higiene, inclusive de uso er-
gonómico do equipamento, e isento a empresa (nome da empresa) de qualquer respon-
sabilidade por prejuízos a minha saúde ou segurança, resultantes da minha actividade
profissional no meu escritório doméstico.
Assinatura do trabalhador e data.

11 Segurança das Informações


Os trabalhadores não podem comprometer o sigilo ou a segurança das informações
da empresa devido ao trabalho a distância ou ao acesso remoto por computador. A re-
velação, leitura ou alteração de informações por um teletrabalhador, sem autorização, é
considerada uma violação extremamente grave à política da empresa. As quebras de sigi-
lo da informação, mesmo que sejam levadas a cabo sem má fé, durante a actividade pro-
fissional exercida em teletrabalho, podem causar a revogação deste contrato e/ou acções
disciplinares.

16 Encargos Fiscais
As implicações fiscais do teletrabalhador são de sua inteira responsabilidade. Os tele-
trabalhadores deverão ser aconselhados a solicitar apoio profissional nesta área.

Fonte: NILLES, Jack M. Fazendo do Teletrabalho um Realidade. São Paulo: Futura, 1997. Apud MELLO, Álvaro.
Teletrabalho: o trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. (Adaptado)

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UAB/Unimontes

Os itens do contrato apresentado, se- têm sido constantemente descaracterizados


gundo Nilles (apud MELLO, 1999), foram es- como docentes, sendo contratado através de
critos para os teletrabalhadores de Portugal, emissão de nota fiscal ou de recibo de autôno-
mas servem de base para vários contratos mo, embora a atividade requeira uma situação
Para saber mais de trabalho a distância. de subordinação entre contratante e contrata-
Os teletrabalhadores da educação, que do” (FIDALGO; FIDALGO, 2008, p. 28).
A legislação para o
sistema de pagamento trabalham como bolsistas, não se enqua- O teletrabalhador, além de não possuir
de bolsas está no dram aos itens discutidos, pois não possuem legislação própria no Brasil, está sujeito a
sítio da Capes. Faça contratos assinados com as instituições nas condições precarizadas de trabalho e tem de
uma visita ao link quais trabalham. assumir riscos que, para o trabalhador presen-
Legislação, volte à sala
Fidalgo e Fidalgo (2008) advertem: “urge cial, já há legislação específica. O contrato em
virtual e apresente
aos seus colegas os garantirmos uma regulamentação que con- disscusão apresenta, nos itens selecionados,
pontos considerados sidere de forma diferenciada as condições de uma prova de que há um descompasso entre
por você como mais uso das tecnologias” pelos professores e tuto- legislação trabalhista, direitos adquiridos pelo
importantes. res da EAD. E acrescenta: “esses profissionais trabalhor e a Constituição Federal.

3.5 Vantagens e desvantagens do


teletrabalho
Pelas suas especificidades, o teletrabalho trabalhador, por não precisar sair de casa,
atende às exigências da globalização, da des- aumentar a produtividade (economia de tem-
territorialização proporcionada pelas telemá- po), reduzir despesas, já que o escritório é por
ticas, além de possibilitar a flexibilização do conta do profissional, os horários são flexíveis
tempo, modificar a percepção espaço-temporal à prestação de serviços, entre outros. Para a
com a desobrigação da ida ao trabalho, do en- sociedade, aponta que as vantagens são: di-
dereço fixo para se executar as tarefas. minuição da poluição; o teletrabalho possi-
A redução dos deslocamentos (que, por bilita ao trabalhador de áreas em que as con-
sua vez, reduz gastos com passagem, ves- dições geográficas ou econômicas não são
tuários, refeições, tempo), e a flexibilidade favoráveis, desenvolvimento de atividades
de horários, seriam as principais vantagens laborativas, aumento das chances de inserção
para os teletrabalhadores. Para as empresas, de deficientes no mercado de trabalho, entre
é bastante vantajoso, em virtude de o tele- outras vantagens.

3.6 O teletrabalho e a Educação a


Distância: peculiaridades
O trabalho docente a distância se organiza, conforme Belloni (2003), como um trabalho
coletivo e cooperativo, no qual todas as tarefas são divididas, sendo cada parte atribuída a um
profissional que, por sua vez, faz seu trabalho individual ou coletivamente, como é o caso dos
webdesigners, que necessitam, na maioria das vezes, de uma equipe de profissionais. No tele-
trabalho, assim entendido, não existe a possibilidade do trabalho individual, desconectado,
pois todas as ações são interdependentes.
Conforme Manãs (2004), o termo teletrabalho tem sido empregado para designar o traba-
lho que se utiliza de outros espaços de atuação, que não a empresa, o escritório, a instituição,
para execução do labor. Emerge, então, a possibilidade do trabalho a distância, podendo ser
efetuado até mesmo em telecentros, lan house, em outros locais por celular. Há uma coisa em
comum com esses novos espaços: eles precisam, para se efetivarem como tais, da tecnologia
da comunicação e da informática.
O afastamento físico do trabalhador da empresa ou da instituição modifica também o
tempo e seu controle. Esse controle do espaço e do tempo do teletrabalhador pode provocar

32
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

alterações na sua forma de labor e possibilita, ao contrário do que se pensa, maior controle de
suas atividades (Mill, 2006). PARA SABER MAIS
As percepções que podemos ter da EAD e da sociedade de controle nos fazem refletir Para conhecer o
sobre a passagem da sociedade disciplinar à sociedade de controle. Foucault (1987) analisa a termo sociedade
sociedade disciplinar, mas, sobre a sociedade de controle, poucas são as investigações. Entre disciplinar, assista ao
filme no link http://
elas, temos Deleuze e Guatarri (1997). Deleuze e Guatarri (1997) elucidam e sinalizam alguns
www.youtube.com/
pontos que poderiam demarcar a passagem de um modelo a outro. Eles apontam que as ins- watch?v=AdXz0utCLsc.
tituições escola, família, prisões, fábrica, etc. estão em crise. Afirmam que as instituições disci-
plinares estão fluidificadas por todo o campo social e que o “espaço estriado” dessas institui-
ções dá lugar ao “espaço liso” das instituições da sociedade de controle. Podemos, então, nos
remeter a Bauman (2001), que conceitua a sociedade como "líquida" e que, sem muito esforço,
pode se opor às moldagens fixas, estruturais da sociedade disciplinar. Identificando-se com as
moldagens flexíveis da sociedade de controle, esta se ramifica, serpenteia, molda-se continua-
mente.
O controle exercido pelos gestores no trabalho dos tutores virtuais apresenta característi-
cas que o exclui do Modelo Disciplinar. No caso do teletrabalho o controle se dá de forma que
não se perceba sua atuação, o que se aproxima da realidade da docência virtual nos ambientes
virtuais, que, como já vimos, apresentam ferramentas de controle absoluto do tutor. É impor-
tante ressaltar que a subordinação do trabalhador, dependendo do contrato de trabalho, não
caracteriza vínculo empregatício, apesar de ter todas as características do trabalho tradicional,
no que se referem à carga horária, aos produtos a serem entregues, etc. Estudamos contratos
de teletrabalho de alguns países e verificamos que são bastante semelhantes.
Na Europa, principalmente em Portugal, a legislação para o trabalho a distância de tuto-
ria é bem próxima da do trabalho tradicional. Em dados coletados em pesquisas na internet, Para saber mais
por não encontrarmos outras fontes, observamos, na citação longa registrada a seguir, que há O espaço estriado
maior amparo ao teletrabalhador: pode ser exemplificado
pelo tricô: “as agulhas
Sujeitámos a qualificação de trabalho electrónico a distância à existência de tricotam um espaço
um vínculo contratual, deixando fora deste âmbito o investigador que utiliza estriado, e uma das
a internet no dia-a-dia para preparação das suas pesquisas, ou o hacker que agulhas desempenha
se diverte tentando penetrar em novos sistemas. Na medida em que a pres- o papel da cadeia, e a
tação pode ser efectuada ou recebida em qualquer local, os tipos contratuais outra de trama, ainda
que podem estar em causa são tantos como os que podem existir na totali- que alternadamente”.
dade das jurisdições. Desse universo de figuras contratuais surge ainda uma (GUATTARI; DELEUZE,
maior diversidade de regimes. 1997, p. 181).
Em Portugal, e nos países que nos estão mais próximos, centramo-nos essen- “O espaço liso do
cialmente em dois tipos contratuais: contrato de trabalho e contrato de patchwork mostra
prestação de serviços. No entanto, os critérios de distinção, tal como os re- bastante bem que
gimes jurídicos, não são os mesmos de um país para outro. ‘liso’ não quer dizer
Entre nós a qualificação como trabalhador é utilizada para identificar a pes- homogêneo; ao
soa que presta uma actividade manual ou intelectual a outra pessoa, me- contrário, é um espaço
diante retribuição, ficando sujeito à autoridade e direcção desta. Se preferir- amorfo, informal [...]”
mos, podemos dizer que trabalhador é apenas aquele que tem um contrato (GUATTARI; DELEUZE,
de trabalho, prestando trabalho subordinado a outrém. Como tal podemos 1997, p. 182).
dizer que corresponderá a um trabalho electrónico a distância em sentido es-
tricto.
As outras situações, em que alguém se limita a obrigar-se a entregar a ou-
trém certo resultado da sua actividade, configurarão contratos de prestação
de serviços. Entre nós, alguns destes contratos de prestação de serviços,
quando exista uma dependência económica de uma parte relativamente à
outra, podem ser objecto de um regime especial (equiparação a contrato de
trabalho) (MELLO, 1999, p. 34).

O teletrabalho determina certas subjetividades, à medida que modifica a relação secular


trabalhador/trabalho do sistema capitalista. Fidalgo analisa a situação desse trabalho docente
e avalia:

o uso das tecnologias no trabalho docente, apesar de aparentemente surgir


como forma poupadora e dinamizadora do espaço humano, também traz
uma forte intensificação dos processos de trabalho, que nem sempre é per-
cebida pelos docentes, pois se apresenta transfigurada na possibilidade de
maior agilidade e dinamismo na execução das atividades, visto que as tecno-
logias permitem superar a lógica tradicional de tempo e de espaço (FIDALGO;
FIDALGO, 2008, p. 36).

33
UAB/Unimontes

No entanto, esse suposto ganhar tempo, permitido pelo uso das mídias, é um discurso do
qual devemos desconfiar, pois, ao mesmo tempo em que prega a facilidade que a mediação tec-
nológica permite, também explicita uma cobrança maior de saberes necessários para essas práti-
cas midiatizadas.

Atividades da unidade 3

Sabemos que a EAD notabiliza-se pelo uso intensivo das tecnologias da informação e da co-
municação, sobretudo da internet, envolvendo ambientes virtuais de aprendizagem, wikis, redes
sociais, chats, blogs, entre outros. A partir das novas reconfigurações espaço-temporais, propo-
nha uma atividade que demonstre como o uso dos ambientes virtuais na EAD pode contribuir
para a superação do modelo tradicional de educação. Depois, poste no fórum aberto para esse
fim e solicite a apreciação de seus colegas.

Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.

DELEUZE, Gilles; Guattari, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução Aurélio Guer-
ra Neto e Célia Pinto Costa. São Paulo: Editora 34, 1997.

FERREIRA JR, José C. Telecommuting: o paradigma de um novo estilo de trabalho. RAE Light, São
Paulo, v. 7, n. 3, p. 8-17, 2000.

FIDALGO, Fernando S. R.; FIDALGO, Nara L. Rocha. Trabalho docente, tecnologias e educação a
distância: novos desafios? Revista Extra Classe, Belo horizonte, n. 1, v. 1, fev. 2008.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.

MANÃS, Cristian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na


nova ordem econômica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Para-
ná, Curitiba, n. 24, p. 21-32, 2004.

MELLO, Álvaro. Teletrabalho: o trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 1999.

MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tem-
pos, relações sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, 252 f. (Tese de
doutorado em Educação) FAE/UFMG.

MILL, D.; FIDALGO, F. Estudo sobre relações de saber em educação a distância virtual. Perspecti-
va (Erexim), Florianopolis, v.22, n.1, p.227-256, 2004.

NILLES, Jack M. Fazendo do Teletrabalho um Realidade. São Paulo: Futura, 1997. Apud MELLO, Ál-
varo. Teletrabalho: o trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1999.

SAKUDA, Luiz Ojima; VASCONCELOS, Flávio de Carvalho. Teletrabalho: desafios e perspectivas.


O&S, Salvador, v.12, n 33, Abr /Jun, 2005.

VIRILIO, Paul. A imagem mental e instrumental. In: PARENTE, A. Imagem máquina: a era das tec-
nologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. p. 177-191.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Unidade 4
Os desafios do trabalho do tutor

4.1 Introdução
Em estudo realizado por Oliveira (2009), com 15 tutores, cada um representando uma gran-
de universidade de um estado do país, no qual, em Minas, foram selecionados, aleatoriamente,
um da capital e um de Montes Claros para compor a amostra, verificou-se que os tutores têm, no
cotidiano da tutoria, desafios que devem ser refletidos, já que afetam diretamente o exercício da
função, bem como a qualidade do trabalho prestado e a construção do conhecimento. Nesse es-
tudo, identificaram-se tutores que exercem o teletrabalho da própria instituição, em laboratórios
próximos a suas casas, nas residências, etc. Isso possibilitou uma gama de respostas que ilustram
bem o trabalho da tutoria. Apresentaremos as respostas aos questionamentos ”qual a sua maior
dificuldade no dia a dia do teletrabalho em educação? E quais os aspectos desagradáveis perce-
bidos no exercício desta função?”.
Apresentaremos, também, parte do estudo de Mill (2006), realizado com 150 tutores virtu-
ais, o qual traz algumas dicas àqueles que, direta ou indiretamente, pretendem desenvolver ativi-
dades na EAD.

Objetivos da Unidade

• Compreender os desafios do teletrabalho, refletindo sobre suas desvantagens;


• Apresentar dicas sobre o exercício da tutoria e coletas em pesquisa de campo.

ATENÇÃO:

Tópicos da Unidade
4.2 Desafios do trabalho de tutoria
4.3 Dicas para o exercício da tutoria

4.2 Desafios do trabalho de tutoria


Na pesquisa realizada por Oliveira (2009), os tutores apresentaram suas dificuldades e insa-
tisfações com o teletrabalho em educação. No entanto, vale lembrar, que, segundo MILL (2006),
o entusiasmo com o qual os tutores virtuais ingressam e trabalham nessa modalidade de ensino
indica a existência de aspectos agradáveis nesse tipo de trabalho docente virtual. Podemos di-
zer que existem aspectos positivos em questões como flexibilidade dos espacos e tempo de tra-
balho, mais autonomia para organizar os próprios locais e horários de realização das atividades,
possibilidades de mais tempo livre, de melhoria do letramento digital, acessibilidade à mulheres-
-mães para ingressarem no mercado de trabalho remunerado enquanto acompanham a educa-
ção e o crescimento dos filhos, entre tantos outros.
Sobre a sua maior dificuldade no dia a dia do trabalho com educação a distância, os pesqui-
sados responderam:

S2 e S6 – Manter a motivação dos aprendizes.

S3 e S9 – A interação dos alunos com as ferramentas e a auto-disciplina para


fazerem as tarefas.

35
UAB/Unimontes

S4 – Transformar a comunicação num processo de interação, numa lingua-


gem textual discursiva clara que fale ao aluno ou melhor que falar para com e
com ele... e fazer-se entender pela escrita... com um discurso que de fale aos
alunos e aos saberes...
S5 – Os mesmos problemas da educação presencial, desinteresse e falta de
compromisso dos alunos.

S7 – A falta de equipamentos e capacitação dos cursistas que tentando a su-


peração de uma série de problemas se inscrevem nesta modalidade de ensi-
no sem a menor condição de operar um computador.

S8 – Dar conta das atividades pertinentes...

S10 – A exploração do trabalho docente. Remunera-se menos e utilizamos re-


cursos tecnológicos próprios.

S11 – Não se caracteriza em dificuldade, mas em desafio, formalizar uma


aprendizagem em rede, colaborativa que motive todos os participantes e
promova o grupo como colegas de um mesmo curso.
GLOSSÁRIO S12 – Muitas vezes, como trabalho on-line, é a demora ao acesso ao servidor
Emoticons: Figuras ou até mesmo para conectar com o Núcleo EAD da instituição.
que representam
os sentimentos na S13 – Quando os alunos não estão preparados para a EAD como: falta de co-
linguagem da Internet, nhecimentos básicos de informática; despreparados para o uso do sistema
tais como: tristeza, e mídia disponível; não querem ou sabem otimizar seu tempo e o meu; for-
alegria, sorriso, raiva, çam encontros presenciais ou telefone ou material impresso; principalmente
reflexão, etc. www. quando querem que a EAD seja igual a PRESENCIAL.
wikipedia.com.
Acesso:13 jun. 2012. S14 – Comunicação com os alunos. Na educação presencial a comunicação
se dá também por meio de gestos e sinais corporais. Na educação a distân-
cia escrita é preciso que o aluno registre estes gestos, por emoticons – por
exemplo, o que raramente acontece considerando que muitos ainda não es-
tão habituados com a Internet.

S15 – As máquinas e o excesso de trabalho.

S16 – A rede baixa ou a falta de compromisso dos alunos com as datas de en-
trega dos produtos (OLIVEIRA, 2009, p. 78).

As dificuldades declaradas são as mesmas da modalidade presencial, motivação, falta


de interesse e compromisso dos alunos, excesso de atividades, etc.. Porém, apresentam difi-
culdade em lidar com a escrita (S4) já que no ensino presencial a oralidade é mais utilizada.
Apresentam, também, uma questão bastante interessante: o relacionamento com os cole-
gas, que se configura como um desafio na fala de S11. A questão da não presença é um fator
que pode ser analisado como a desumanização na EAD, a utilização de emoticons, ainda que
raramente, é uma tentativa de passar emoção, com o propósito de quebrar a frieza da EAD.
A fala do S11 “a dificuldade de formalizar uma aprendizagem em rede, colaborativa que mo-
tive todos os participantes e promova o grupo como colegas de mesmo curso”, talvez resu-
ma as dificuldades apresentadas. Soma-se a isso, a atenção que se deve à denúncia do S10:
“exploração do trabalho docente. Remunera-se menos e utilizamos recursos tecnológicos
próprios” Poucas vezes, os tutores virtuais expressaram suas angústias em relação à explora-
ção a que estão submetidos.

Sobre os aspectos desagradáveis no trabalho com a EAD, os tutores virtuais responderam:

S2, S3, S4, S6, S8, S9 – Não. É uma questão de adaptação...

S5 – A rede lenta.

S7 – A má remuneração dos tutores a distância.

S10 – A possibilidade de os alunos terem uma maior facilidade de pagar al-


guém para fazer seus trabalhos.
S11 – A descrença que ainda existe do trabalho que a EAD oferece
- Desconsiderar o papel do tutor como elemento importante (tutor conside-
rado apenas como animador, tira-dúvidas)
- Baixa remuneração

36
Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

- Pouco apoio pedagógico para o acompanhamento do aprendiz (autonomia


sendo confundida com isolamento)

S12 – Dentro da pesquisa que fiz sobre a EAD on-line, verifiquei que um dos
aspectos que muitas vezes torna-se desagradável é a linguagem escrita. De-
pendendo do que se escreve a interpretação pode ocorrer de forma não sa-
tisfatória (diferente do que se tentou pensar).

S13 – Relacionamento com determinados alunos. Como o teclado aceita tudo


que é digitado, me considero, às vezes injustiçada e incompreendida.

S14 – Muitas vezes a instituição vai inserindo alunos a mais em sua pasta e
não paga por eles.

S15, S16 – A solidão. Sinto falta de grupo de colegas (OLIVEIRA, 2009, p. 79)

Os comentários sobre essa questão são reveladores de uma prática pouco respeitada,
mal remunerada, o que leva a inferir que há necessidade de mais reflexões sobre a função. Há
um evidente e pulsante descontentamento. Os sujeitos que responderam ser uma questão de
adaptação sintetizaram bem a resposta, o que nos leva a crer que também estão insatisfeitos e
toleram a situação, provavelmente numa tentativa de minimizar problemas.

4.3 Dicas para o exercício da


tutoria
O mencionado estudo de Mill (2006) traz algumas dicas que podem ser classificadas em:
“convencer-se, organizar-se, disciplinar-se, expressar-se, compartilhar-se, dedicar-se, respon-
sabilizar-se, cuidar-se, desafiar-se”. Essas dicas foram dadas por tutores virtuais participantes
da pesquisa e foram sistematizadas pelo autor para apresentação didática ao leitor. O traves-
são (—) indica a separação entre as dicas de tutores diferentes e estão apresentadas no Box 3,
a seguir:

BOX 3
Dicas para exercício da Tutoria
Convencer-se: Em primeiro lugar, verifique se é exatamente isso o que deseja e saiba
que a dedicação precisa ser contínua no processo. É um trabalho em que você entra e não
consegue mais sair! Pense antes de entrar. — Antes de entrar no trabalho em EaD, tenha
certeza do tipo de curso em que está entrando para não acontecer equívocos. Por exem-
plo, não sabia que tinha que me dedicar muito para poder discutir os conteúdos com os
colegas. — Pediria para refletir se realmente estão dispostos a lancar-se nesta nova moda-
lidade, que traz algumas implicações. Ainda que traga seus benefícios. — EaD: ame-a ou
deixe-a!!!

Organizar-se: Seja extremamente organizado; a EaD demanda muita organização pes-


soal, do tempo e do trabalho a ser executado. — Ter muita disciplina, organização e res-
ponsabilidade, inclusive para respeitar aos seus tempos e espaços de trabalho e descan-
so. — A disciplina, o planejamento e a execução do trabalho são processos obrigatórios
para você vencer as intenções pedagógicas propostas. — Seja organizado e saiba planejar
o tempo e o cronograma das atividades. Seja também um bom digitador (prepare os de-
dos e cuidado com lesões tipo LER). — Sugiro sistematização e disciplina na comunicação
(manter contato através dos próprios conteúdos, organização de estudos, elaboração e pu-
blicação de materiais etc.). — Frequência e dedicação para não perder a sintonia com os
alunos. — Não assimilem de forma pessoal as ausências nas turmas, na maioria das vezes
não é sua responsabilidade.

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UAB/Unimontes

Disciplinar-se: Ritmo e periodicidade são as chaves para não acumular trabalho. Conecte-
-se e visite sua sala de aula todos os dias. Responda e estimule seus alunos, se possível, todos
os dias. — Acesse os cursos uma vez por dia, sempre! Isso vai fazer a diferença. — Desenvolva
a capacidade de disciplina e frequência ao acessar o curso. Parece estranho, mas assim tra-
balhará menos. É uma questão de periodicidade... Não acumulará nada e seus alunos serão
bem atendidos! — Não adie as suas tarefas. Quanto mais você adiar ou atrasar as suas tare-
fas, mais você ficará sobrecarregado e mais difícil será você recolocar a vida em dia. — Defina
bem como será a participação dos interlocutores e não deixe acumular a avaliacão (verá que
esse é um nó da coisa). — Elabore seu horário de atendimento aos educandos, é importante
para não sobrecarregar-se de tarefas.

Expressar-se: Aprenda a ter objetividade nas suas explicações e/ou orientações. — Cum-
pra os prazos e saiba se comunicar com os alunos de forma correta. Clareza na exposição de
idéias é imprescindível. — Melhore a redação (correção gramatical, ortográfica, estrutura do
texto etc.; revisite a gramática e livros de redação).

Compartilhar-se: Tenha paciência e cultive o movimento de empatia (para entender o


outro) e de simpatia também. — A sinergia com seus colegas pode fazer o educador virtu-
al sentir-se menos solitário, portanto, contribua para a inteligência coletiva e aprenda com
seus colegas também. — A partilha do conhecimento, o trabalho em equipe e a pesquisa são
condutas necessárias para alcançar bons resultados. — Organize bem seu tempo, pesquise e
aproveite experiências de outros educadores. — Tenha um bom relacionamento com colegas
de trabalho, com as tecnologias de informação e comunicação e muita leitura.

Dedicar-se: Aperfeicoamento profissional constante e disponibilidade. Para além de teorias, re-


pense sua formação didático-pedagógica... Verá que isso será ótimo também para os alunos presen-
ciais. — Dedicação é a palavra-chave. O aluno do curso a distância parece ser mais carente, precisa
de muita atenção. Precisa que você responda rapidamente aos seus questionamentos, por exemplo.

Responsabilizar-se: Não confunda EaD com trabalho fácil, pois não o é. Dá muito mais tra-
balho que o presencial. Não pense que a EaD não lhe demanda tempo porque ela demanda
e muiiiito! — Prepare-se para muito trabalho, seja organizado e delimite o tempo para esta
atividade. — Pense em educação a distância virtual com qualidade e muita seriedade, pois os
seus alunos são extremamente exigentes e interessados em aprender. Despir-se do preconcei-
to de que EaD não funciona. — EaD é uma forma séria de fazer educação e a internet maximi-
za o seu potencial. Aprenda a utilizá-la de forma eficiente.

Cuidar-se: Prepare os olhos, as mãos, pulsos e dedos, a coluna, o espírito da esposa/ma-


rido e as alterações de humor. — Desenvolva estratégias e argumentos para convencer seu
marido (ou esposa) de que trabalhar tanto é realmente necessário — Reserve um tempo para
o lazer, não deixe que o trabalho tome todo seu tempo.

Desafiar-se: Aceite o desafio! Trabalhe com dedicação e empenho. — Faça tudo que for
possível para que os alunos não desistam do curso nas primeiras duas semanas. Se conseguir
mantê-los ativos nas duas primeiras semanas, a probabilidade de este aluno concluir o curso
com êxito é muito maior. Capte o espírito da coisa e o mais desafiador, o resto acontece! —
Busque desenvolver a criatividade. EaD requer criatividade no processo de tutoria. — Crie for-
mas de aumentar a comunicação individual. O padrão que a instituição oferece pode não ser
suficiente para cativar os alunos. Use sua criatividade!!!!
Fonte: MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tempos, relações
sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, p. 244. (Tese de doutorado em Educação) FAE/UFMG.

Complementando as dicas para o trabalho com tutoria, apresentamos o Quadro 1, a seguir,


proposto por Palloff; Pratt (2004), com sugestões de técnicas instrucionais para o atendimento
aos alunos a partir de seus estilos ou preferências de aprendizagem.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

QUADRO 1
Técnicas instrucionais online que abordam estilos de aprendizagem variados
Visual-verbal: • Use apoio visual (apresentação de slides, en-
prefere ler a informação tre outros)
• Apresente por escrito um sumário do mate-
rial apresentado e os materiais como livro
textos e recursos da internet

Visual não verbal ou visual-espacial: • Use material visual (apresentação de slides,


prefere trabalhar com gráficos ou diagramas que vídeo, mapas, diagramas e gráficos)
representam a informação • Use recursos da internet como gráficos e vi-
deoconferência.

Auditivo-verbal ou verbal-linguístico: • Incentive a participação em atividades cola-


prefere ouvir o material apresentado. borativas e de grupo;
• Use arquivos de áudio com streamming e au-
dioconferência.

Tátil-cinestésico ou corporal-cinestésico: • Use simulações, laboratórios virtuais;


prefere atividades práticas e físicas. • Exija pesquisa de campo, apresentação e dis-
cussão de projetos;

Lógico-matemático: • Use estudos de caso, situações-problema, la-


prefere a razão, a lógica e os números. boratórios virtuais;
• Trabalhe com conceitos abstratos;
• Incentive a aprendizagem que tem como
base o desenvolvimento de habilidades.

Interpessoal-relacional: • Incentive a participação em atividades cola-


prefere trabalhar com os outros. borativas e de grupo;
• Use fórum de discussão, estudo de casos e si-
mulações;

Intrapessoal-relacional: • Incentive a participação em atividades cola-


prefere a reflexão e o trabalho com os outros. borativas e de grupo;
• Use fórum de discussão, estudo de casos e
simulações;
• Faça uso de atividades que requeiram o
acompanhamento individual e de grupo.

Fonte: PALLOFF; PRATT, 2004, p. 60. (Adaptação)

Conhecendo os estilos de aprendizagem A participação do tutor no processo en-


dos alunos sob sua responsabilidade, o tutor sino e aprendizagem é verificada em todos
poderá atuar diretamente na construção do os estudos apresentados, vale aqui lembrar
conhecimento pelo aluno, apresentando ati- que, para uma atuação eficaz, é necessário
vidades significativas para cada estilo. Poderá, que se observe o número de alunos por tu-
ainda, alertar o professor formador para que tores, as condições de trabalho, bem como
as propostas de trabalho sejam bastante diver- investir na formação desses profissionais. Os
sificadas de forma a atender a todos os alunos. desafios são muitos, não dá para negar, no
O ensino, a partir da proposta de Palloff e Pratt entanto, as falas mais comuns desses atores
(2004), deve ocorrer de acordo com as preferên- são de que gostam do trabalho, conseguem
cias dos alunos, assim, um aluno que tenha um ter com seus alunos relações afetivas e que-
estilo detectado pelo tutor deverá ter uma ati- rem continuar investindo na educação a
vidade condizente com isso. distância.

39
UAB/Unimontes

Atividade da unidade 4

Eleja uma lista de, no mínimo, 10 dicas para os profissionais que já estão inseridos ou irão
inserir-se no teletrabalho docente. Você poderá dividir as dicas por categorias. Com a lista pronta,
vá até o fórum, na sua sala virtual, e poste para os colegas.

Categoria Dicas

Referências
MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tem-
pos, relações sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, 252 f. (Tese de
doutorado em Educação) FAE/UFMG.

OLIVEIRA, Ramony Maria da Silva Reis. Subjetivação e isolamento: assimetria na docência virtu-
al. Itaúna, 2009, 132 f. (Dissertação de Mestrado em Educação) UIT.

PALLOFF, Rena; PRATT, Keith. O Aluno Virtual: um guia para trabalhar com estudantes on line.
Porto Alegre: Artmed, 2004.

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Resumo
O objetivo deste módulo foi apresentar o trabalho da tutorial no contexto da educação a
distância. Ao final do estudo, o pós-graduando deverá conhecer:

Na Unidade 1

• Os modelos mais utilizados na oferta de cursos


• A Estrutura da EAD e o Papel do Tutor

Na Unidade 2

• A interface espaço-tempo
• O tempo, o espaço e o papel do Tutor na EAD

Na Unidade 3

• A mediação tecno-pedagógica e os discursos do teletrabalho docente.


• O teletrabalho
• O empregado, o teletrabalho, a legislação
• Vantagens e desvantagens do teletrabalho
• O teletrabalho e a educação a distância: peculiaridades

Na Unidade 4

• Desafios do trabalho de tutoria


• Dicas para o exercício da tutoria

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Módulo II - A Tutoria no Contexto da EAD

Referências
Básicas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2003.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 1999.

DELEUZE, Gilles; Guattari, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Trad. Aurélio Guerra
Neto e Célia Pinto Costa. São Paulo: Editora 34, 1997.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva e Guaci-
ra Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

MAGGIO, Mariana. O tutor na educação a distância. In: LITWIN, Edith. Educação a distância: te-
mas para um debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed, 2001.

MANÃS, Cristian Marcello. A externalização da atividade produtiva: o impacto do teletrabalho na


nova ordem econômica. Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná.
Curitiba, n. 24, p. 21-32, 2004.

MELLO, Álvaro. Teletrabalho: o trabalho em qualquer lugar e a qualquer hora. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 1999.

MILL, Daniel. Educação a distância e trabalho docente virtual: sobre tecnologia, espaços, tem-
pos, relações sociais de sexo e coletividade na idade mídia. Belo Horizonte, 2006, 252 f. (Tese de
doutorado em Educação) FAE/UFMG.

NISKIER. Arnaldo. Educação a distância: a tecnologia da esperança. São Paulo: Loyola, 2000.

OLIVEIRA, Ramony Maria da Silva Reis. Subjetivação e isolamento: assimetria na docência virtu-
al. Itaúna, 2009. 132 f. (Dissertação de Mestrado em Educação) UTI.

PETERS, Othrs. Didática do ensino a distância. São Leopoldo: Unisinos, 2003.

PETERS, Othrs. Educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Complementares

GATTI, Bernadete. Formação continuada de professores: a questão psicossocial. Cadernos de


Pesquisa, Rio de Janeiro, n.119, 2003. 15p. http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
SO100-15742003000200010. Acesso: 12 ago. 2009.

MORAN, Jose Manuel. Contribuições para uma pedagogia da educação online. In: SILVA, Marcos.
(org.). Educação online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa. São Paulo: Loyola,
2003, p.39-73.

O’NEIL, Judy. The role of the learning coach in action learning. In: Coaching and Knowledge
transfer.Symposium. Ok, USA, 2001. 10p. http://www.ericacve.org/fulltext.asp. Acesso: 28 maio
2009.

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