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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Campus Pato Branco
Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Programa de Pós-Graduação em Letras
PPGL

Literatura comparada: "influência", "imitação", "originalidade" e


"intertextualidade"

Camila Amanda Rossoni1

Nitrini, Sandra. Literatura comparada: História, teoria e crítica. 2 ed. São Paulo:
Editora Universidade de São Paulo, 2000.

Sandra Nitrini, pontua em seu livro alguns conceitos que premeiam o estudo
de literatura comparada. Entre eles está a influência, a imitação e a intertextualidade.
Para a escritora a influência pode ter dois diferentes significados. O primeiro é o
contato: a influência está diretamente ligada com ele. Por exemplo, quando um
escritor conhece outros, lê suas obras e dessa maneira é influenciado quando escreve
as suas. A segunda forma de influência acontece quando não se identifica de onde
ela vem, a obra é mais “independente”, tem características próprias do escritor. Mas,
ainda assim, se reconhece com outras obras literárias.
O resultado final dessa influência é autônomo, ela não deve imitar a realidade,
as obras ou escritores que leu. Por esse motivo é difícil encontrar os traços de
influência. Assim, ela não pode ser confundida com a imitação. Pois está ligada a
detalhes da obra e não ao todo. Ela modifica a personalidade artística do escritor, e
assim, cria uma literatura nova, trazendo aspectos do passado e inovações para o
presente, ela traz originalidade. Desse modo ela se torna fundamental, os artistas
contemporâneos precisam ler e conhecer os do passado, para poder criar novas obras
de arte. “Apontar influências sobre um autor é certamente enfatizar antecedentes
criativos da obra de arte e considerá-la um produto humano, não um objeto vazio”.
Nitrini diferencia a imitação de influência mostrando que a primeira está ligada
a traços materiais, como por exemplo: traços da composição, procedimentos. Para
isso, ela exemplifica os quatro sentidos da imitação que Cionarescu apontou. A

1
Aluna na disciplina Sujeito, Literatura e Cinema das Culturas de Língua Inglesa do Programa de Pós-
Graduação em Letras – PPGL.
primeira delas é a mimesis: uma imitação de experiência de acordo com as vivencias
do escritor e de seu tempo, com seleção e transposição, não apenas uma reprodução
de fatos.
A segunda forma de imitação, para ele, é a volta ao passado: uma adaptação
das grandes obras “cânones”, para o cenário da contemporaneidade. Com isso,
houveram grandes discussões a respeito da cópia, pois se deu mais importância ao
objeto de imitação do que a estrutura da obra, o que fez com que se confundisse
literatura com história. Essas colocações foram prejudicais para o significado de
imitação. O terceiro sentido de imitação se dá na adaptação. Uma obra se remete
sempre a um modelo. Uma história parecida com personagens e titulo diferentes.
Já o quarto significado é utilizado pelo comparativismo. Nele é verificada a
equivalência entre imitação e influência. A distinção entre influência, imitação e
tradução se dá em cinco componentes da obra literária: o tema, a forma literária; os
recursos estilísticos, as ideias e sentimentos e a ressonância afetiva. A influência
apenas capta um ou dois aspectos desses. Quando esse número vai aumentando
podemos chamar de imitação. E quando há todos esses elementos no texto,
chamamos de tradução.
Para dar sequência em suas reflexões, Sandra Nitrini, explora o conceito de
originalidade, o qual está diretamente ligado aos conceitos de influência e imitação.
Para ela a influência não diminui a originalidade de um escritor, é preciso que ele saiba
digerir o que se tem dos “outros”, saber fazer das outras obras e escritores, novas
obras com características únicas. A criação é o contrário do plágio, então, a digestão
deve acontecer perfeitamente. É necessário, também, a mistura entre a obra e as
vivências do escritor na literatura e na vida. A originalidade vem da técnica, vem do
saber ser artista.
A crítica expõe, também, duas visões sobre originalidade. A primeira é
equivalente a criação a partir do nada, uma originalidade absoluta; a segunda é
relativa, ela tem sua própria marca e características. Essa marca própria vem da
natureza do escritor. A segunda visão é a que se encaixa melhor nos moldes da
contemporaneidade. Contudo, ao perpassar dos anos o significado de originalidade
foi se modificando, e hoje ele é quase inacessível devido à grande diversidade de arte
já produzida.
Outra questão muito importante que é tratada no texto é a intertextualidade.
Essa teoria foi criada por Julia Kristeva e é muito discutida pelos comparatistas no
estudo de fonte e influência. Alguns pontos importantes que a teoria da
intertextualidade acredita são: a presença de outros textos em todas as obras
literárias; a modificação que os textos sofrem ao serem assimilados e a unificação,
absorção de textos.
Dessa maneira, para a intertextualidade, todos os textos sofrem influência de
outros textos, propositalmente ou não, um discurso está dentro de outro. Estão
inseridos em um “novo” texto os escritos da cultura anterior e da contemporânea. Mas
ela não é um problema de fontes e influências, pois quase nunca elas são possíveis
de localizar, identificar, são praticamente inconscientes para os escritores em suas
produções literárias. A intertextualidade faz parte da escrita de quase todos os textos,
sejam de grandes escritores ou de um poema escrito por um aluno de 6º ano.
A partir desses pressupostos, Nitrini firma que a intertextualidade e a
influência são problemáticas. É muito trabalhoso identificá-las, pois existem inúmeras
questões a se preocupar como: época literária, situação econômica e política, cultura,
entre outras. E, além disso, o leitor precisa ser erudito para conseguir compreender
todos esses elementos.

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