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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ANA CAROLINA BARONI


JESSE DA SILVA LINHARES

ESTUDO DIRIGIDO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

CURITIBA
2020
ANA CAROLINA BARONI
JESSE DA SILVA LINHARES

ESTUDO DIRIGIDO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Estudo Dirigido apresentado à disciplina


de Direito Internacional Público, do 9º
período do curso de Direito da Faculdade
de Ciências Jurídicas da Universidade
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial
para a obtenção da nota do 2º bimestre.
Professora: Helena Souza Rocha.

CURITIBA
2020
SUMÁRIO

1. O que é responsabilidade internacional do Estado? Quais suas principais


características? .................................................................................................. 4
2. Quais seus elementos constitutivos? ........................................................... 4
3. Como é possível imputar a responsabilidade do Estado por ato de agente
público ou de particular? .................................................................................... 6
4. Quais circunstâncias podem afastar a responsabilização internacional do
Estado? .............................................................................................................. 7
5. Quais as consequências da responsabilização internacional do Estado? O
que são medidas de satisfação? ........................................................................ 8
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 10
1. O que é responsabilidade internacional do Estado? Quais suas
principais características?

O primeiro ponto a se entender na busca pela definição e caracterização da


responsabilidade internacional consiste em entender que gera a
responsabilização do Estado causador do dano, todo ato ilicitamente praticado
contra outro Estado. Nesse sentido, têm-se como princípio próprio do direito que
“todo ato internacionalmente ilícito de um Estado acarreta sua responsabilidade
internacional” (art. 1º).
A responsabilidade internacional do Estado é, por sua vez, o instituto jurídico
que visa a responsabilização de determinado Estado pela prática de um ato ilícito
contra o Direito Internacional, isto é, que fere direitos ou a dignidade de outro
Estado, gerando a necessária reparação pelos danos causados. Tal
responsabilização se dá aos Estados e suas relações entre si, e, também,
àqueles sujeitos à sua jurisdição, principalmente no que diz respeito a violação
dos direitos humanos, em decorrência de conduta que, de modo geral, tenha
sido praticada por órgão ou funcionário desse ente público no exercício de suas
funções e seja ilícita frente ao Direito Internacional.
A responsabilidade internacional é, portanto, um vínculo jurídico que se
forma entre o Estado que transgrediu uma norma de Direito Internacional e o
Estado que sofreu os danos, visando repará-lo, ou seja, o Estado é responsável
por toda ação ou omissão que lhe seja imputável seguindo as regras do Direito
Internacional Público – DIP, dentre as quais resulte em violação de direito alheio.
Por fim, entende-se que as principais características dessa
responsabilização internacional são o seu caráter interestatal, pois ela opera
sempre de Estado para Estado, ainda que o agente causador do dano seja um
indivíduo ou a vítima um particular seu, e sua finalidade reparatória de natureza
civil, buscando restituir o dano ao estado anteriormente constituído, por meio de
uma indenização pecuniária, que seja justa.

2. Quais seus elementos constitutivos?

A doutrina internacionalista entende que a existência do ato ilícito, a


presença da imputabilidade e a existência de um dano são os elementos
indispensáveis para configuração da responsabilidade internacional. Nesse
sentido, aborda-se a questão sob uma ótica sistemática, entendendo-se que a
responsabilidade jurídica do Estado se dá quando o ato ilícito causar dano a
direito alheio com imputação de responsabilidade ao Estado.
O ato internacionalmente ilícito é o primeiro elemento constitutivo da
responsabilidade. Significa a violação ou dano a uma norma de Direito
Internacional, que compreende tanto as ações comissivas como omissivas,
conforme preleciona o art. 3º do Projeto da Comissão de Direito Internacional
das Nações Unidas.
Art. 3º Caracterização de um ato de um Estado como
internacionalmente ilícito
A caracterização de um ato de um Estado, como
internacionalmente ilícito, é regida pelo Direito Internacional. Tal
caracterização não é afetada pela caracterização do mesmo ato
como lícito pelo direito interno.

Já a imputabilidade do nexo causal, o segundo elemento citado pela doutrina,


trata-se do nexo de causalidade que liga o ato causador do dano que viola o
Direito Internacional ao seu respectivo responsável causador do dano, ou seja,
autor direto ou indireto do fato. Tal vínculo jurídico é o que se forma entre o
Estado transgressor da norma internacional e o Estado que sofreu o dano dessa
transgressão. Depreende-se daí que a imputabilidade é o ato ou omissão que é
atribuível ao Estado.
Também a existência de um dano, ou seja, prejuízo, ao Estado é o terceiro
elemento. Este prejuízo pode ser material ou imaterial e pode ter decorrido de
um ato praticado por um Estado ou por um particular em nome do Estado.
Finalmente, embora a doutrina internacionalista entenda que o ato danoso
seja um terceiro elemento necessário para a responsabilização do Estado,
observa-se que o draft da ONU exclui essa necessidade para constituição da
responsabilidade, como observado no artigo 2º do Projeto da Comissão de
Direito Internacional das Nações Unidas sobre Responsabilidade Internacional
do Estado diz:
Art. 2º Elementos de um ato internacionalmente ilícito do Estado
Há um ato internacionalmente ilícito do Estado quando a
conduta, consistindo em uma ação ou omissão:
é atribuível ao Estado consoante o Direito Internacional; e
constitui uma violação de uma obrigação internacional do
Estado.
3. Como é possível imputar a responsabilidade do Estado por ato de
agente público ou de particular?

A imputabilidade resulta de ato ou omissão que possam ser atribuídos ao


Estado, em decorrência de seu comportamento. Portanto, nessa categoria,
encontram-se apenas atos comissivos ou omissivos de indivíduos que o
representam. A imputabilidade, por sua vez, exige nexo jurídico entre o agente
do dano e o Estado, ou seja, é preciso que o agente “tenha praticado o ato na
qualidade oficial de órgão do Estado ou com os meios que dispõe em virtude de
tal qualidade”, qualquer que seja a autoridade do Estado de onde ela provem:
constituinte, legislativa, governamental ou judiciária. Assim, entende-se que os
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, quando pratica qualquer ato que
cause danos aos estrangeiros, também geram responsabilidade internacional,
pois atuam em nome do Estado e com sua autorização.
O Poder Executivo é ainda o maior responsável pela prática de ilícitos e pela
violação do Direito Internacional tanto por meio de atividade internacional quanto
pela ação funcional de seus servidores. São exemplos de práticas:
A conclusão de contratos ou concessões, prisões ilegais ou
arbitrárias, a concessão de anistia contrária às regras do Direito
Internacional, a violação de tratados, o descumprimento de
laudos arbitrais e decisões judiciárias internacionais, a violação
da fronteira de outro Estado em tempo de paz, as injustiças
cometidas contra estrangeiros etc.

Os atos do Poder Legislativo violam o Direito Internacional em diferentes


hipóteses: quando da edição de leis contrárias ao conteúdo de tratados e normas
internacionais por parte do Parlamento, de forma a burlar aquilo que foi
previamente pactuado internacionalmente. Quando o Legislativo revoga uma lei
que serve para garantir a correta aplicação de um tratado. Também quando, em
sentido contrário, o Legislativo deixa de aprovar legislação necessária para ao
cumprimento de tratado retificado e em vigor. Por último, quando o Legislativo
deixa de revogar legislação contrária ao conteúdo de um tratado em vigor.
Os atos do Poder Judiciário, por sua vez, também podem incorrer em ilícitos
internacionais. Acontece quando a justiça do Estado julga em desacordo com a
norma internacional ratificada pelo Estado e em vigor, ou quando deixa de julgar
com base em tratado internacional que deveria conhecer. Ou seja, se trada de
hipótese em que o Estado, por meio do Poder Judiciário, recusa deliberadamente
a aplicação da justiça, deixando o estrangeiro de ter seu direito garantido. Cabe
lembrar que é dever dos magistrados e Tribunais garantir a aplicação das
normas internacionais em vigor no país.
Também os atos de indivíduos, na sua condição de particular, também são
considerados imputáveis a exemplo de ilícitos como pirataria, tráfico de
entorpecentes, e drogas, tráfico de escravos, e ainda o transporte de produtos
contrabandeados e a violação do bloqueio, em temos de guerra. Existem, porém,
atos praticados por particulares que oneram o Estado de responsabilidade
internacional. A responsabilidade nesse caso não decorre do ato do indivíduo,
mas, sim, de uma conduta negativa do Estado relativamente às obrigações que
lhe impõem o Direito Internacional.
Em suma, não é o ato do indivíduo em si que acarreta a
responsabilidade internacional do Estado, mas a conduta deste
próprio que não observou o que o Direito Internacional Público
lhe impõe em relação a pessoas ou bens em seu território.

Por fim, as lesões aos direitos de estrangeiros praticadas por particulares


não acarretam responsabilidade internacional. Sendo assim, responsabiliza-se
o autor do ato na esfera civil e criminal.

4. Quais circunstâncias podem afastar a responsabilização internacional


do Estado?

É possível afastar a responsabilidade internacional do Estado se existirem


determinadas circunstâncias, de modo a liberar o Estado da obrigação de reparar
os danos. Estas circunstâncias justificam a prática lícita de atos, por parte do
Estado ou de outro sujeito, que em condições normais teriam sido considerados
como ilícitos.
São consideradas como circunstâncias: o consentimento do Estado,
a legítima defesa, as contramedidas, a prescrição liberatória, o caso fortuito e
força maior, o estado de necessidade e a renúncia do indivíduo lesado. O
Projeto da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas sobre
Responsabilidade Internacional do Estado reserva um capítulo inteiro que vai do
art. 20 ao art. 27 para tratar as excludentes de ilicitude.
5. Quais as consequências da responsabilização internacional do
Estado? O que são medidas de satisfação?

As consequências jurídicas da responsabilização internacional do Estado se


encontram na Parte II, Capítulo I, Princípios Gerais, do Projeto da Comissão de
Direito Internacional das Nações Unidas sobre Responsabilidade Internacional
do Estado.
Art. 28. Conseqüências jurídicas de um ato internacionalmente
ilícito
A responsabilidade internacional de um Estado que, em
conformidade com as provisões da Parte Um, nasce de um fato
internacional ilícito, produz as conseqüências jurídicas que se
enunciam nesta Parte.

Art. 29. Continuidade do dever de cumprir a obrigação


As conseqüências jurídicas de um ato internacionalmente ilícito
de acordo com esta Parte não afetam a continuidade do dever
do Estado responsável de cumprir a obrigação violada.
Art. 30. Cessação ou não-repetição
O Estado responsável pelo ato internacionalmente ilícito tem a
obrigação de:
a)cessar aquele ato, se ele continua;
b)oferecer segurança e garantias apropriadas de não-repetição,
se as circunstâncias o exigirem.
Art. 31. Reparação
1. O Estado responsável tem obrigação de reparar integralmente
o prejuízo causado pelo ato internacionalmente ilícito.
2. O prejuízo compreende qualquer dano, material ou moral,
causado pelo ato internacionalmente ilícito de um Estado.
Art. 32. Irrelevância da lei interna
O Estado responsável não pode invocar as disposições de seu
direito interno como justificativa pela falha em cumprir com as
obrigações que lhe são incumbidas de acordo com esta Parte.
Art. 33. Abrangências das obrigações internacionais enunciadas
nesta Parte
1. As obrigações do Estado responsável enunciadas nesta Parte
podem existir em relação a outro Estado, a vários Estados ou à
comunidade internacional como um todo, dependendo,
particularmente, da natureza e conteúdo da obrigação
internacional e das circunstâncias da violação.
2. Esta parte não prejudica qualquer direito que a
responsabilidade internacional de um Estado possa gerar
diretamente em benefício de qualquer pessoa ou entidade
distinta de um Estado.

Como se percebe acima, as relações entre os Estados se fundam em


princípios que geram obrigações e direitos mútuos, que podem ocasionar a
responsabilidade do Estado perante outros membros da sociedade internacional.
Tal responsabilização é o que obriga o Estado que causou um dano, à sua
reparação adequada. A obrigação de reparação do dano é um dos princípios
gerais do direito internacional.
Existem três formas de reparação, colocadas pelo draft de convenção da
ONU: (a) a restituição in natura, (b) a indenização (compensação) e (c) a
satisfação, individualmente ou em combinação, conforme art. 34.
Deve-se a reparação tanto em casos de danos materiais como em danos
morais. A primeira forma de reparação é a restitutio in integrum, que nada mais
é do que restabelecer a situação anterior ao dano. Sempre que possível, o
Estado responsável deve repor as coisas no seu estado primitivo.
A reparação deve, tanto quanto possível, apagar todas as
consequências do ato ilícito e restabelecer a situação que teria,
provavelmente, existido se o dito ato não tivesse sido cometido.

Na impossibilidade de restituição, chama-se a indenização, uma das formas


mais frequentes de reparação do dano que consiste no pagamento
compensatório de todos os danos produzidos pelo Estado em decorrência do ato
ilícito.
Por fim, já nos casos em que o dano é moral ou político, a forma de reparação
passa a ter o nome de satisfação. Esta satisfação pode constituir na
apresentação de desculpas por via diplomática, no julgamento e punição dos
culpados pelos danos morais ou políticos.
Trata-se de um componente da reparação lato sensu que tem
lugar quando o ato ilícito praticado ofender a dignidade do
Estado ou de seus funcionários. As formas de satisfação são
basicamente três, normalmente cumulativas: (1) pode consistir
num pedido de desculpas, (2) na punição dos funcionários
culpados, ou ainda (3) num reconhecimento formal (até mesmo
por via judicial) do caráter ilícito do fato.
REFERÊNCIAS

Oliveira, MAZZUOLI, Valerio D. Curso de Direito Internacional Público, 12ª


edição. Grupo GEN, 11/2018, Parte II, Capítulo II, Seção V. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530983383/

Nascimento, ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, CASELLA, Paulo Borba; SILVA,


Geraldo E. D. Manual de Direito Internacional Público. Editora Saraiva, 2019,
pp. 348- 372. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553610099/

Projeto da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas sobre


Responsabilidade Internacional dos Estados (Tradução Prof. Dr. Aziz Tuffi
Saliba). Disponível em: http://tiny.cc/ruj4pz

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