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ISSN 0103-9334

Micropropagação de Epidendrum ibaguense –


efeito de reguladores de crescimento no
desenvolvimento in vitro de plântulas

105 Introdução

Atualmente, o extrativismo predatório de flores e plantas ornamentais na Amazônia,


Circular
Técnica
especialmente orquídeas, tem levado ao risco de extinção de algumas destas
espécies. A família Orchidaceae é uma das maiores dentre as angiospermas,
constituída por cerca de 700 gêneros e 35.000 espécies. Podem ser epífitas (raízes
aéreas), vivendo em árvores ou sobre pedras (nas regiões tropicais) e terrestres (nas
zonas temperadas e tropicais).

Epidendrum é um gênero botânico pertencente à família das orquídeas e inclui mais


de 1.100 espécies. O seu nome deriva do grego: epi = sobre + dendrum = árvore,
fazendo referência ao seu habitat epifítico. A espécie Epidendrum ibaguense foi
descrita em 1816 a partir de
uma planta coletada em Ibague,

Foto: Kárita Pires Santos Gouveia


cidade da Colômbia. É uma
orquídea terrestre que cresce
em grandes touceiras,
prostradas e enroscadas. Os
caules são folhosos e têm
Porto Velho, RO frequentemente muitas raízes
Março, 2009 aéreas, sendo que a longa
inflorescência sai do ápice do
caule. É encontrada do México à
América do Sul. No Brasil, esta
Autores espécie se desenvolve em
afloramentos rochosos, em
Maurício Reginaldo Alves dos Santos altitudes de 200 a 1.000 Inflorescência de uma planta de Epidendrum ibaguense.
Engenheiro Agrônomo, D.Sc. em
Biologia celular – Cultura de tecidos metros, nos estados do
vegetais, pesquisador da Embrapa Amazonas, Pará e Roraima. Apresenta grande potencial ornamental, visto que produz
Rondônia, Porto Velho, RO, flores durante o ano inteiro, com coloração vermelha ou amarela, podendo ser
mauricio@cpafro.embrapa.com.br utilizada como flor de corte, de vaso ou para paisagismo.
Maria das Graças Rodrigues Ferreira
Engenheira Agrônoma, D.Sc. em
A micropropagação apresenta-se como alternativa para a propagação eficiente de
Produção vegetal, pesquisadora da espécies de orquídea, uma vez que propicia o aproveitamento de praticamente todas
Embrapa Rondônia, Porto Velho, RO, as sementes produzidas nos frutos (cápsulas) e a regeneração de plantas adultas a
mgraca@cpafro.embrapa.com.br partir destas. Em condições naturais, uma cápsula que possui cerca de 3.000
Maguiana Gonçalves Marques
sementes dará origem a relativamente poucas plantas.
Graduanda do curso de Ciências
Biólogas da Faculdade São Lucas, O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito dos reguladores de crescimento BAP
Estagiária da Embrapa Rondônia, (benzilaminopurina) e AIB (ácido indolbutírico) no desenvolvimento in vitro de
Porto Velho, RO,
meg_bio@hotmail.com
plântulas de E. ibaguense, visando ao estabelecimento de um protocolo eficiente de
produção de mudas micropropagadas de plantas desta espécie.

Material e Métodos
O trabalho foi realizado no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais da Embrapa
Rondônia, em Porto Velho-RO, em julho de 2008. Utilizou-se, como explantes,
plântulas com 30 dias de idade, com apenas uma folha, oriundas de sementes
procedentes de uma planta de Epidendrum ibaguense cultivada no campo experimental
da Embrapa Rondônia, germinadas in vitro, em meio Knudson, sem reguladores de
crescimento, com aproximadamente 1,0 cm de altura. Foram realizados dois ensaios
2 Micropropagação de Epidendrum ibaguense – efeito de reguladores de crescimento no desenvolvimento in vitro de plântulas

experimentais, sendo que, no primeiro, os explantes 0,8


foram inoculados individualmente, em tubos de
0,78
ensaio contendo 10,0 mL de meio Knudson,

Comprimento radicular (cm)


suplementado com 0,0; 0,9; 1,8; 2,7 e 3,6 mg.L-1 de 0,76

BAP – benzilaminopurina, com quatro repetições, 0,74

sendo cada repetição composta por cinco tubos, com 0,72


um explante cada. No segundo ensaio, utilizou-se y = -0,0212x 2 + 0,0851x + 0,6737
0,7
0,0; 0,8; 1,6; 2,4 e 3,2 mg.L-1 de AIB – ácido R2 = 0,6322

indolbutírico, nas mesmas condições experimentais. 0,68

Os tubos foram mantidos em sala de crescimento, 0,66


0 0,9 1,8 2,7 3,6
sob irradiância de 35 mmol m-2s-1, temperatura de Concentrações de BAP (mg.L-1)
25+2 °C e fotoperíodo de 16 horas, em
delineamento experimental inteiramente casualizado. Fig. 2. Efeito de concentrações de BAP sobre o comprimento
radicular de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo
Após 60 dias, avaliou-se o comprimento da parte in vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
Fonte: Elaborado pelo autor.
aérea e da parte radicular, o comprimento total das
plântulas e o número de folhas, e os dados obtidos
5
foram submetidos à análise de regressão. 4,5
4

Comprimento total (cm)


3,5
Resultados e discussão 3
2,5 y = -0,1332x 2 + 0,976x + 2,5663
R2 = 0,974
2
Ensaio 1 – Efeito do BAP sobre o desenvolvimento 1,5

das plântulas 1

0,5

0
Houve maior desenvolvimento da parte aérea no 0 0,9 1,8 2,7 3,6

tratamento contendo 3,6 mg.L-1 de BAP, com média Concentrações de BAP (mg.L-1)

de 3,74 cm por plântula, seguido pelos tratamentos


com 2,7 e 1,8 mg.L-1, com comprimentos de 3,29 e Fig. 3. Efeito de concentrações de BAP sobre o comprimento
total de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo in
3,16 cm, respectivamente. No controle, observou- vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
se média de 1,81 cm de comprimento (Fig. 1). O Fonte: Elaborado pelo autor.

maior crescimento radicular foi de 0,79 cm,


observado no tratamento com 2,7 mg.L-1 de BAP, 6

que foi superior a todos os outros tratamentos (Fig. 5


2). O crescimento total das plântulas apresentou
tendência de obtenção de maiores valores com o 4
Número de folhas

aumento na concentração de BAP. O menor 3


y = -0,3175x 2 + 0,9095x + 4,0057
R2 = 0,8111
comprimento total foi observado no controle, com
média de 2,49 cm (Fig. 3). Quanto ao efeito do BAP 2

sobre o número de folhas, este valor aumentou do 1

tratamento controle para as concentrações 0,9 e


0
1,8 mg.L-1, com 4,70 e 4,85 folhas por plântula, 0 0,9 1,8 2,7 3,6

respectivamente, decrescendo em seguida (Fig. 4). Concentrações de BAP (mg.L-1)

4 Fig. 4. Efeito de concentrações de BAP sobre o número de


3,5
folhas por plântula de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo in
Comprimento da parte aérea (cm)

vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.


3 Fonte: Elaborado pelo autor.

2,5

2
y = -0,112x 2 + 0,891x + 1,8926 Em termos gerais, os resultados estão de acordo
R2 = 0,9636
1,5 com o esperado, uma vez que as citocininas
1
aceleram a divisão celular e, com isso, o número
0,5
de células e o desenvolvimento vegetal, atuando
principalmente na parte aérea. Assim, o aumento
0
0 0,9 1,8 2,7 3,6 na concentração da citocinina resultou em
Concentrações de BAP (mg.L-1) tendência ao maior crescimento total das plântulas
e maior crescimento da parte aérea. Com relação
Fig. 1. Efeito de concentrações de BAP sobre o comprimento da às raízes, é possível que a concentração mais alta
parte aérea de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo in
tenha inibido a formação de raízes. Sabe-se que as
vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
Fonte: Elaborado pelo autor. citocininas não são específicas para formação
Micropropagação de Epidendrum ibaguense – efeito de reguladores de crescimento no desenvolvimento in vitro de plântulas 3

dessas estruturas, o que estaria mais relacionado à


4,5
ação das auxinas. Quanto ao número de folhas, o 4
aumento seguido de decréscimo pode indicar 3,5
toxicidade de altas concentrações deste regulador de

Comprimento total (cm)


3
crescimento, estabelecendo uma faixa de utilização 2,5
y = -0,3638x 2 + 1,0018x + 3,3503
R2 = 0,7826
ótima do mesmo para a variável estudada. 2

1,5

Ensaio 2 – Efeito do AIB sobre o desenvolvimento 1

das plântulas
0,5

0
0 0,8 1,6 2,4 3,2

Com relação à parte aérea, o menor desenvolvimento Concentrações de AIB (mg.L-1)

foi observado no tratamento contendo 3,2 mg.L-1 de


AIB; o crescimento radicular foi maior no tratamento Fig. 7. Efeito de concentrações de AIB sobre o comprimento
contendo 1,6 mg.L-1 de AIB; e o comprimento total foi total de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo in
vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
maior na concentração de 1,6 mg.L-1 (Fig. 5, 6 e 7). Fonte: Elaborado pelo autor.

4 É interessante observar que as auxinas,


3,5 especificamente o AIB, geralmente induzem a
Comprimento da parte aérea (cm)

3 formação e o desenvolvimento de raízes, o que não


2,5 se verificou neste experimento. Conforme esperado,
2
y = -0,2254x 2 + 0,5464x + 2,9354 este regulador de crescimento não estimulou o
R2 = 0,7741
1,5
desenvolvimento da parte aérea.
1

0,5
O número de folhas foi maior no controle, sem
regulador de crescimento, seguido do tratamento
0
0 0,8 1,6 2,4 3,2 contendo a concentração mais baixa de AIB, 0,8
Concentrações de AIB (mg.L-1) mg.L-1 (Fig. 8). Como anteriormente mencionado, o
regulador de crescimento em questão não tem
Fig. 5. Efeito de concentrações de AIB sobre o comprimento da ação reconhecida nesta variável, e sim sobre
parte aérea de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de organogênese e desenvolvimento da parte
cultivo in vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
Fonte: Elaborado pelo autor. radicular.

0,9 8

0,8 7
Comprimento radicular (cm)

0,7 y = 0,6027x 2 - 2,7536x + 6,8514


6
R2 = 0,9105
0,6
Número de folhas

5
y = -0,1384x 2 + 0,4554x + 0,4149
0,5
R2 = 0,8613 4
0,4
3
0,3
2
0,2

0,1 1

0 0
0 0,8 1,6 2,4 3,2 0 0,8 1,6 2,4 3,2
Concentrações de AIB (mg.L-1) Concentrações de AIB (mg.L-1)

Fig. 6. Efeito de concentrações de AIB sobre o comprimento Fig. 8. Efeito de concentrações de AIB sobre o número de
radicular de plântulas de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo folhas por plântula de E. ibaguense, após 60 dias de cultivo in
in vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008. vitro. Porto Velho, Embrapa Rondônia, 2008.
Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte: Elaborado pelo autor.
4 Micropropagação de Epidendrum ibaguense – efeito de reguladores de crescimento no desenvolvimento in vitro de plântulas

Referências
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vegetativa de Epidendrum ibaguense Lindl. (Orchidaceae) em
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TORRES, A.C.; CALDAS, L.S.; BUSO, J.A. Cultura de tecidos e
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Embrapa-CNPH, 1998. v.1. p.183-260.

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SILVA, E.F. Multiplicação e crescimento in vitro de orquídea


Brassiocattleya Pastoral x Laeliocattleya Amber Glow. 2003.
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de Lavras, Lavras, MG. Disponível em: <http://bibtede.ufla.br/
tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=716>. Acesso em:
03 fev. 2009.

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Expediente Normalização: Daniela Maciel
Revisão de texto: Wilma Inês de França Araújo
1ª impressão (2009): 100 exemplares Editoração eletrônica: Marly de Souza Medeiros

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