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:. imprudentemente porque aí se subleva a questão do que é
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fazer uma tentativa com estes· dois toros tricotados (figu- motivos para pensar que as pessoas da pedra lascada te-
ra 3). Se num destes toros vocês praticam a manipulação nham menos ciência que nós.
que lhes expliquei, isto é, se vocês fazem aí um corte, os A psicanálise particularmente não é um progresso. É um
toros se reencontram acoplados, um no interior do ou- viés prático para se sentir melhor. Este se sentir melhor não
u·o . ..AJgo no segundo toro se revira, que está exatamente exclui o embrutecimento, tudo indica -com o índice de sus-
em contigüidade com o que resta de interior no primeiro. peita que faço pesar sobre o todo. De fato, não há todo se-
Que quer dizer reviramento? Que doravante seu interior não crivado peça por peça. A única coisa que conta é se uma
passa ao exterior. Enquanto aquilo que designei como o parte tem ou não o valor de troca. Aúnica definição do todo
primeiro fica imutável -seu exterior tal como se coloca na é que uma peça vale em toda circunstância, ~ que não quer
argola está sempre no mesmo lugar. dizer que circunstância qualificada como toda para valer seja
Ainda que estas coisas sejam muito incômodas e muito homogeneidade de valor. O todo não é senão uma noção de
inibidas de se imaginar, penso ter-lhes veiculado o que se valor, o todo é o que vale em seu gênero, o que em seu gê-
trata na oportunidade. nero vale um outro, a mesma espécie de unidade.
O que aqui se apresenta como um bastão (!rique) (figu- Avançamos aí suavemente em direção à contradição do
ra 4), não deixa de ser um toro. De onde vem esse toro- que chamo um equívoco (l'une-bévue).
bastão? O furo que eu praticavd no toro (figuras 1 e 2) pode Um equívoco é o que se troca apesar de que isso não
vale a unidade em questão. Um equívoco é um todo falso.
ser feito em qualquer lugar. Se o corto aqui, ele se revira da
mesma maneira. Se, ao invés de fechar o corte único, jun- Seu tipo, se posso dizer, é o significante. O significante-tipo,
tam-se os dois cortes, obtém-se este aspecto de bastão. quer dizer, exemplo, é o mesmo e o outro. Não há signifi-
Eis aí o que hoje - e confesso que isso não é alimento cante mais tipo que estes dois enunciados. Uma outra uni-
fádl -, eu queria lhes trazer, ou seja, dois modos de redo- dade é semelhante à outra. Tudo que sustenta a diferença
bramento do toro. Acrescentem aí um terceiro. . do mesmo e do outro, é que o mesm9 seja o mesmo mate-
Suponham um toro num outro toro. Amesma operação é rialmente (materiellement). A noção de matéria é funda-
concebível, um corte num um outro n'outro. O redobramento mental nisso que ela funda o mesmo. Tudo que não está
destes dois toros nos dará um mesmo bastão, salvo que desta fundado sobre a matéria é uma escroqueria - Material-nãa-
vez, para os dois, o interior estará no exterior. mente (Matéríel-ne-ment).
Como designar de maneira homóloga as três identifi- O material se apresenta a nós como corpo-sistente
cações distinguidas por Freud, a identificação histérica, a (corps-sistant), quero dizer, sob a subsistência do corpo,
identificação amorosa dita ao pai e a identificação que ou seja, do que é consistente, o que contém juncamente à
chamarei neutra, a que não é nem uma nem outra, a iden- forma do que se pode chamar um com6 , dito de outro
tificação a um traço particular, a um traço que chamei modo, uma unidade. Nada mais único que um significante,
qualquer, a um traço que seja apenas o mesmo? E como mas nesse sentido limitado ao que não é senão semelhante
repartir estas três inversões de toros, homogêneos em sua à outra emissão de significante. Ele retorna ao valor, à tro-
prática e que, além disso, mantêm a simetria entre um ca. Ele significa o todo, o que quer dizer - é o signo do
toro e um outro. todo, ou seja, o significado, o qual abre a possibilidade de
Eis aí a questão sobre a qual eu gostaria que vocês tives-
troca. Sublinho nesta oportunidade o que tenho dito do
sem, da próxima vez, a bondade de tomar partido. possível - haverá sempre tempo em que se cessará de es-
16 de novembro de 1976 crever, em que o significado não terá mais como fundante
o mesmo valor, a troca material. A introdução da mentira é
quando há troca, mas não a materialidade mesma.
II - O sistema tórico e a contra-psi- O que é que é o outro como tal? É esta materialidade
canálise mesma que eu dizia a pouco, ou seja, que eu destaquei do
signo arremedando o outro. Não há senão urna série de
Na última vez eu falei a vocês do toro. Resulta disso que outros, todos os mesmos enquanto unidades, entre os quais
nenhum resultado da ciência é um progresso. Contraria- um equívoco é sempre possível, ou seja, que ele não se.,,
mente ao que se imagina, a ciência dá volta e não temos perpetuará e cessará como equívoco.
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