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05/12/2017 Clínica Lacaniana: Algumas notas sobre o “acting-out”

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Clínica Lacaniana
Seu objetivo é discutir as principais questões da Clínica Psicanalítica.

Celso Rennó Lima


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TERÇA-FEIRA, 10 DE SETEMBRO DE 2013 Selecione o idioma

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Algumas notas sobre o “acting-out”

Resumo aqui alguns pontos que considero importantes para a direção do tratamento: QUEM SOU EU GOOGLE+
FOLLOWERS
1 – É um conceito especificamente analítico que acontece quando algo falha. Trata-se Celso Rennó …
de um processo de ejeção e de um retorno à análise. Adicionar aos
Pode até mesmo se referir à análise quando ainda não está no curso de seu
desenvolvimento. P.ex. quando temos um conjunto de comportamentos passionais que
Celso Rennó
se resolvem pela entrada em análise. Comportamentos estes que podemos qualificar
Lima
de prefácios que já fazem parte de um texto – o discurso do sujeito já é um discurso de Seguir 273
analisante, mesmo que o sujeito não o saiba, mas o “acting-out” só é identificado no
"só depois", no divã. Já, em contra partida, temos aqueles que nos dizem de uma saída Psicanálise de
prematura, cujo melhor exemplo nos é dado pela análise de Dora e o mea culpa de Orientação
Freud. Lacaniana, AE da
AMP de 1997 a
2000. AME
2 – O “acting-out” está inserido no mesmo nó da transferência e ele não passa de um
Autor de
de seus aspectos, já que está na dependência do suposto saber que a sustenta. Nesta "Psicanálise Caso
perspectiva Lacan nos apresenta uma oscilação interessante que pode ser assim aCaso" publicado 273 me Ver
descrita: pela Editora adicionaram tudo
a círculos
a – Transferência sem análise – quer dizer ausência ou falha do analista resultando no Scriptum em 2011
“acting-out”. O ex. maior na história da psicanálise é a relação de Freud a Fliess que Trabalha com
termina no texto “Esboço de uma psicologia científica” que nada mais é do a inscrição Clínica ARQUIVO DO
deste “acting-out”. Psicanalítica no BLOG
LifeCenter
b – Quando o “acting-out” se precipita na análise e se sustenta na referência ao ► 2017 (7)
analista. Neste caso temos a transferência. Visualizar meu
► 2016 (22)
perfil completo
► 2015 (37)

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05/12/2017 Clínica Lacaniana: Algumas notas sobre o “acting-out”
3 – O “acting-out” acaba por dar acabamento às bordas da situação analítica fazendo ► 2014 (47)
com que o analista se questione sobre tudo aquilo que escorrega para além destes ▼ 2013 (45)
limites.
► Dezembro
Ele não é um sintoma do analisante ou do analista: é um sintoma da conduta da (3)
própria análise, significando o que se passa aí como conseqüência dos sintomas dos
► Novembro
dois parceiros: ele diz a verdade. (3)

4 – O “acting-out” é uma resposta. É uma mostração endereçada, sem latência, mas ► Outubro (5)
não sem agressividade, a um outro que tem de participar. É uma resposta sem ▼ Setembro (4)
palavras que aí não aparecem para sustentar o efeito de significante surgindo apenas “Da
como um relato ou comentário, secundariamente. Ele surge como uma busca de uma transferênc
interpretação de forma forçada endereçada ao outro (com um pequeno “a”). Este ia à
interpretaç
aspecto é mais uma diferença entre o “acting-out” com a interpretação que, se basta, ão” (II)
se satisfaz por si mesma e não demanda interpretação, mesmo que saibamos que ela
Da
contém uma mensagem endereçada ao Outro com A maiúscula. (A interpretação que
transferênc
Freud jamais obteve de Fliess, pois este nunca foi analista.) ia à
O “acting-out” é uma história sem palavras, uma cena produzida pelo inconsciente a interpretaç
partir de uma rememoração que se apresenta na realidade em lugar de ser exposta ão” (I)
num sonho ou dita no terreno do jogo transferencial: trata-se de uma outra cena. Algumas
notas
5 – É uma resposta dirigida a um outro que não está, ou não está mais, em posição de sobre o
“acting-out”
analista. Em outras palavras, a um fading do analista na sua posição de interpretante.
Uma passagem, portanto, do discurso do analista a um outro em função do sintoma do ERNST KRIS
analista levando o sujeito da transferência ao “acting-out”: o sujeito não está aí
► Agosto (4)
designado e ele mostra algo: ele crê saber a quem, mas ele não sabe de onde e nem o
que: existe aí algo da ordem de um forçamento, da provocação para reabrir o que o ► Julho (5)
analista fechou. Este episódio de falta de palavras em um processo que se supõe ► Junho (5)
sustentar por elas é conseqüência do deslizamento do analista de sua posição levando
► Maio (8)
a uma situação de transferência sem analista. Isso acontece sempre que o analista
deixa seu lugar, ou seja, deixa de sustentar um espaço onde o objeto ‘a’ possa reinar ► Abril (8)
como semblante. Podemos explicitar esta situação através de três pontos:
a – quando ele escorrega para a posição de mestre,
b – quando ele, acolhendo seu próprio sintoma, fala como analisante,
c – quando, abandonando a cena analítica pela realidade do mundo, ele passa ao ato.
Em resumo, abandonando seu lugar e o discurso que lhe compete, ele produz uma
transferência selvagem e sua resposta sem palavras. Em outras palavras pode-se dizer
que o “acting-out” se produz quando o suposto saber que sustenta a transferência
deixa, por uma falha de seu discurso, surgir algo do real.

6 – O “acting-out” não é da ordem do significante, já que a falha de simbolização


anunciada pela ausência de uma interpretação apaga o efeito significante. Por isso
podemos dizer que o “acting-out” é da ordem do signo, ou seja, ele representa
qualquer coisa para qualquer um. É isso que faz enigma, portanto, sentido. O
importante é que, no “acting-out” o sujeito não fala do seu lugar, ele não se designa
como “eu” (je): ele não sabe o que diz, o que implica que ele não pode por si mesmo,
partindo de seu “acting-out”, reconhecer o sentido no qual está submerso.
Pode-se dizer que temos aqui uma referência a um significante desaparecido: neste
limite do indizível, o “acting-out” coloca em cena o que foi rejeitado, segundo o
mecanismo da Verwerfung: o simbólico do discurso impossível é posto em ato no
campo do real. Por isso a urgência de restabelecer o Outro como interpretante para
que possa se restabelecer a situação analítica. Assim diz o analisante nesta situação
específica: “Você não compreendeu nada do que lhe disse, olhe o que se passa!” Dito
de outra forma: para além da irritação desta incompreensão, existe uma passagem da
passividade do deixar dizer à atividade da mostração. O analisante torna-se ativo: ele
coloca em cena o discurso que o colocou em cena, ou seja, sua fantasia fundamental.
Assim fazendo o analisante deixa de ser aquele que apenas acompanha o jogo da
produção de seu inconsciente que aí está para ser dirigido (S1/$) ele se coloca em
posição de mestre, fora do discurso. Ele representa o que não pode dizer.

7 – Partindo do princípio que o analisante toma uma posição ativa no real de um prazer
que ameaça se repetir pode-se dizer que existe a mesma relação do “acting-out” ao
princípio do prazer que se observa no jogo da criança e o carretel, este momento de
assumir o simbólico para dominar o real. Trata-se, na linguagem freudiana do agieren:
a colocação em cena comentada de duas palavras e a mostração de sua relação ao
outro faltante. Ao constatar a perda da mãe e faltando quem lhe transmita uma
interpretação deste fato, a criança estabelece uma cena onde a bobina rejeitada pode
ser recuperada, ao mesmo tempo em que um espaço vai se construindo em torno de
duas palavras: Fort e Da.

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8 –Pode-se situar o “acting-out” entre o discurso e o sem-palavras, um ponto de meio-
dizer, um ponto de verdade: aquele onde o recalque é dito, mas onde o recalcado é
morto: a Verneinung.
Como no primeiro movimento da Verneinung, há no mecanismo do “acting-out”, recusa
e rejeição. Rejeição do dizer angustiante do Outro, arrebatando, por uma clivagem
entre o simbólico e o real, a necessidade de uma outra resposta diferente do linguajar
comum.

9 - O “acting-out” é da ordem do evitar a angústia: a angústia diante algo do real que a


falha do Outro deixou passar ao campo analítico.
Quando o analista – por falha de uma interpretação que ali deveria acontecer, por uma
passagem ao ato que o indica em posição de mestre, pelo desvelamento de um
sintoma que o designa como sujeito, por um dizer que descobre seu próprio desejo –
sai do discurso analítico – quando está fora (out) deste discurso – o analisando não
pode permanecer ali sozinho e o segue: out.

10 - A interpretação selvagem, como uma forma de desprezar o saber analítico no que


diz respeito a seus efeitos, é uma forma do discurso do mestre. O analista, neste caso,
não sustenta o lugar de suposto saber e se lança na mestria transformando a situação
em transferência sem analista: “acting-out”. Em outras palavras, quando o analista
deixa este semblante e se confronta ao real, o analisante vai pelo mesmo caminho:
sideração e angústia, onde a histerização se torna necessária e impossível pois o real
a interdita, o discurso se cala – é a angústia.

11 - O “acting-out” é o efeito do encontro com o objeto “a”: efeito de angústia que, mais
além da linguagem, impõe a motricidade, mas dentro da cena, como já assinalamos
acima.

12 – Diferentemente do “acting-out”, a passagem ao ato é o ultrapassamento da cena,


cena imposta ou organizada pelo próprio sujeito: o ultrapassamento da cena em
direção ao real; imediata. A passagem ao ato é tipicamente um salto no vazio. No caso
da jovem homossexual Freud descreve estas duas situações que são: Quando a
paciente está a passear com a mulher a quem ama, mostrando-se ao pai, temos um
“acting-out”; quando ela pula o parapeito temos uma passagem ao ato.

Postado por Celso Rennó Lima às 05:37

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