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As tensões em um plano passando por um ponto do solo (plano α) podem ser sempre
decompostas em suas componentes cisalhante (τα) e normal ao plano, (σα). Em Mecânica dos
Solos, as tensões normais de compressão são tomadas com sinal positivo.
Em um determinado ponto, as tensões normais e de cisalhamento variam conforme o plano
considerado. No caso geral, existem sempre três planos em que não ocorrem tensões de
cisalhamento. Estes planos são ortogonais entre si e recebem o nome de planos de tensões
principais. As tensões normais a estes planos recebem o nome de tensões principais; a maior das
três é chamada de tensão principal maior, σ1, a menor é denominada tensão principal menor, σ3
e a outra é chamada de tensão principal intermediária, σ2. No estado plano de tensão, leva-se
em consideração apenas as tensões σ1 e σ3, ou seja, despreza-se o efeito da tensão principal
intermediária.
Conhecendo-se os planos e as tensões principais num ponto, pode-se sempre determinar as
tensões normais e de cisalhamento em qualquer plano passando por este ponto. Este cálculo
pode ser feito, igualando-se as forças (produto tensão x área) decompostas nas direções normal
e tangencial ao plano considerado. Sendo α o ângulo do plano considerado com o plano principal
maior, obtém-se:
As tensões principais maior e menor podem ser obtidas somando-se ou diminuindo-se o valor
do raio do círculo de Mohr à coordenada de seu centro. Este procedimento resulta nas equações
apresentada adiante:
Da análise do círculo de Mohr, diversas conclusões podem ser obtidas, como as seguintes:
1) A máxima tensão de cisalhamento ocorre em planos que formam ângulos de 45o com os
planos principais (estes planos são ortogonais entre si);
2) A máxima tensão de cisalhamento é igual a τmáx = (σ1 -σ3)/2;
3) As tensões de cisalhamento em planos perpendiculares são numericamente iguais, mas de
sinal contrário;
4) Em dois planos formando o mesmo ângulo com o plano principal maior, com sentido
contrário, ocorrem tensões normais iguais e tensões de cisalhamento numericamente iguais
e de sinais opostos.
Pela definição de envoltória de ruptura dada anteriormente, pode-se dizer que para que um
estado de tensão seja possível em um determinado ponto do solo, o círculo de Mohr
representativo deste estado de tensões deve estar totalmente contido na envoltória de
resistência do solo. Particularmente, nos casos de ruptura iminente, o círculo de Mohr
tangenciará a envoltória de ruptura. A imagem abaixo apresenta uma envoltória de resistência
obtida a partir de diversos círculos de Mohr construídos para uma condição de ruptura iminente.
Conforme se pode notar, os círculos de Mohr para uma condição de ruptura tendem a tangenciar
a envoltória de ruptura do solo. Na prática, por ser o solo um material heterogêneo, a sua
envoltória de resistência é obtida a partir de um ajuste desta aos círculos de Mohr de ruptura
obtidos experimentalmente, geralmente utilizando-se o método dos mínimos quadrados.
Em face da limitação deste ensaio tem-se dois outros tipos de ensaios costumeiramente
empregados para a determinação da resistência ao cisalhamento dos solos: o ensaio de
cisalhamento direto e o ensaio de compressão triaxial.
5.1.2 CISALHAMENTO DIRETO
Para o ensaio de cisalhamento direto o solo é colocado numa caixa de cisalhamento
constituída de duas partes, conforme apresentado na figura abaixo. A parte inferior é fixa
enquanto que a parte superior pode movimentar-se, aplicando tensões cisalhantes no solo. As
pedras porosas, nas extremidades do corpo de prova, permitem a drenagem durante o ensaio.
Sobre o corpo de prova são aplicadas tensões normais que permanecem constantes até o final
do ensaio. Essas tensões devem variar para cada corpo de prova, com o intuito de poder definir
pares de tensões diferentes na ruptura.
A curva cheia é característica das areias compactas: nota-se um valor bem definido da tensão
cisalhante de ruptura, normalmente para pequenas deformações, e um aumento de volume à
medida em que o solo é cisalhado. Já a curva pontilhada é comum nas areias fofas: após atingida
uma determinada deformação axial, as deformações crescem continuamente sem acréscimos
apreciáveis de tensão cisalhante. Contrário as areias compactas, ocorre agora uma redução de
volume.
O comportamento das areias fofa e compacta é explicado da seguinte forma: no caso da areia
compacta, os grãos de solo encontram-se entrosados. Iniciadas as deformações cisalhantes os
grãos deslizarão uns por sobre os outros de forma a atingir uma posição de menor compacidade,
ocorrendo um aumento de volume. Já no caso das areias fofas, as tensões cisalhantes permitem
um maior entrosamento dos grãos, com consequente redução de volume.
Das curvas tensão/deformação dos vários corpos de prova são tomados os valores das tensões
cisalhantes de ruptura, os quais, conjugados com as tensões normais correspondentes, permitem
a definição da envoltória de resistência do solo para o intervalo de tensões ensaiado.
Algumas deficiências limitam a aplicabilidade do ensaio de cisalhamento direto. A primeira
delas é o fenômeno da ruptura progressiva, que se manifesta principalmente nos solos de ruptura
do tipo frágil. A ruptura progressiva pode se dá porque a deformação cisalhante ao longo do
plano de ruptura não é uniforme: ao iniciar o cisalhamento ocorre uma concentração de
deformações próximo às bordas da caixa de cisalhamento, que tendem a decrescer em direção
ao centro da amostra. Obviamente, as tensões em cada local serão diferentes, de forma que
quando nas regiões próximas à borda da caixa de cisalhamento forem atingidas a deformação e
a tensão de ruptura, teremos próximo ao centro da amostra tensões inferiores à de ruptura.
À medida que aumentam as deformações, a ruptura caminha em direção ao centro e uma vez
que as extremidades já passaram pela ruptura, teremos agora tensões menores que a de ruptura,
nessas extremidades. Dessa forma, o valor de resistência que se mede no ensaio é mais
conservador do que a máxima resistência que se poderia obter para o solo, porque a deformação
medida durante o ensaio não consegue representar o que realmente ocorre, mas somente uma
média das deformações que se processam na superfície de ruptura.
Tratando-se de solos de ruptura plástica, tal fato não ocorre, porque em todos os pontos da
superfície de ruptura atuam esforços iguais, independentemente de qualquer concentração de
tensões. Outro aspecto que merece ser citado refere-se ao fato de que o plano de ruptura está
determinado a priori e pode não ser na realidade o mais fraco. Por sua vez, os esforços que atuam
em outros planos que não o de ruptura, não podem ser estimados durante a realização do ensaio
senão quando no instante de ruptura. Além, disso, a área do corpo de prova diminui durante o
ensaio.
Por último, deve-se salientar a dificuldade de controle (conhecimento) das pressões neutras
antes e durante o ensaio. Embora existam pedras porosas que permitam a dissipação de pressões
neutras, não existe nenhum mecanismo que permita avaliar o desenvolvimento das pressões
neutras no corpo de prova, tal qual seria possível num ensaio de compressão triaxial. De uma
forma resumida, podemos citar as seguintes vantagens e desvantagens do ensaio de
cisalhamento direto:
A máxima diferença de tensões principais (σ1 - σ3)máx, corresponde à resistência (ou ao valor
de ruptura) à compressão do corpo de prova no ensaio considerado. Geralmente, costuma-se
definir a envoltória em função dos valores de (σ1 - σ3)máx dos diversos corpos de prova, porém
a segunda forma de representação também é utilizada, sobretudo em ensaios em que σ’3 é
variável (ensaios CU, por exemplo). De qualquer forma, convém ressaltar que os valores de
máximo não ocorrem para a mesma deformação, quando se observam as duas formas de
representação. Isso introduz na envoltória uma diferença no ângulo de atrito, resultando valores
ligeiramente maiores quando se considera a relação σ’1/σ’3. Obviamente, para o caso dos
ensaios CD, estes dois critérios irão fornecer os mesmos resultados (pede-se ao aluno que reflita
sobre esta afirmação).
Após ensaiados vários corpos de prova com diferentes tensões de confinamento, define-se a
envoltória de resistência do solo com os círculos de Mohr obtidos para a condição de ruptura,
conforme se exemplifica na figura abaixo. Evidentemente, dependendo do ensaio podem-se
traçar os círculos de Mohr em termos de tensões totais ou efetivas, podendo-se obter assim uma
envoltória referida a tensões totais (c,φ) e outra referida a tensões efetivas (c’,φ’).
Quanto maior a sensibilidade da argila (St) quanto ao amolgamento, maior será a perda de
resistência da argila, quando a argila for amolgada.
• O tipo de solo atravessado através da retirada de uma amostra deformada, a cada metro
perfurado;
• A resistência oferecida pelo solo à cravação de um amostrador padrão;
• Posição do nível d’água.
A partir do valor da resistência à penetração oferecido pelo solo (N), pode-se inferir
empiricamente diversas propriedades do solo. Este procedimento está normalizado pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT (NBR 6484).
5.2.3 RETROANÁLISES
Consiste em após a ocorrência de uma ruptura em campo, estimar os parâmetros de
resistência do solo. Para tanto é necessário o conhecimento da geometria, antes e após a ruptura,
cargas atuantes, pressões e outros elementos relevantes.
Quando um caso é bem documentado, a retroanálise nos fornece os resultados mais precisos
e mais confiáveis, pois a ocorrência de um fenômeno em verdadeira grandeza possibilita em
muito a ampliação dos conhecimentos da Mecânica dos Solos.
Vê-se desta figura, que mesmo para o caso das areias fofas, a compacidade e a
estrutura do solo desempenham um papel importante na definição do seu ângulo de
atrito interno
• Tamanho dos Grãos: Ao contrário do que se julga comumente, o tamanho das partículas,
sendo constantes as outras características, pouca influência tem na resistência da areia.
Pode-se dizer, contudo, que areias com partículas maiores apresentam valores de
resistência ao cisalhamento um pouco superiores.
• Distribuição Granulométrica: Quanto mais bem distribuídas granulometricamente as
areias, melhor o entrosamento existente e, consequentemente, maior o ângulo de atrito
da areia. No que se refere ao entrosamento, é interessante notar que o papel dos grãos
grossos é diferente do desempenhado pelos finos. Consideremos, por exemplo, que uma
areia tenha 20% de grãos grossos e 80% de grãos finos. O comportamento desta areia é
determinado principalmente pelas partículas finas, pois as partículas grossas ficam
envolvidas pela massa de partículas finas, pouco colaborando no entrosamento.
Consideremos, de outra parte, uma areia com 80% de grãos grossos e 20% de grãos finos.
Neste caso, os grãos finos tenderão a ocupar os vazios entre os grossos, aumentando o
entrosamento e consequentemente o ângulo de atrito interno.
• Formato dos Grãos: Embora o formato dos grãos de areia seja de difícil descrição, nele
estando envolvida sua esfericidade (formato médio), seu arredondamento (formato dos
cantos) e sua rugosidade, tem-se verificado que as areias constituídas de partículas
esféricas e arredondadas têm ângulos de atrito sensivelmente menores do que as areias
constituídas de grãos angulares. A maior resistência das areias de grãos angulares é
devida ao maior entrosamento entre grãos. Mesmo no estado fofo, ou para grandes
deformações, quando a resistência residual está sendo solicitada, as areias com grãos
angulares apresentam maior ângulo de atrito interno.
Da análise feita acima sobre a influência das características da areia na sua resistência ao
cisalhamento, se verifica que os fatores de maior influência são, em ordem hierárquica, a
compacidade, a distribuição granulométrica e o formato dos grãos.
O gráfico acima ilustra a obtenção de uma envoltória de ruptura para o caso de um solo
normalmente adensado, utilizando-se ensaios do tipo CD. Se o mesmo solo estiver pré-adensado,
modificam-se as características de resistência. Seja a curva de compressão de um solo deixado
consolidar desde o instante de sua deposição como representado na figura abaixo:
A amostra principia a consolidar a partir do ponto 0. Uma vez atingido o ponto A, mede-se a
sua resistência. O mesmo com referência ao ponto B. As resistências medidas são representadas
por A’ e B’ e note que estas resistências correspondem ao intervalo normalmente adensado do
solo, definindo uma envoltória cujo prolongamento passa pela origem.
Atingindo o ponto 1, a amostra é descarregada até 2. Posteriormente o recarregamento se
inicia, e atingidos os pontos C e D, mede-se novamente a resistência do solo. As resistências são
representadas por C’ e D’ e agora observa-se que estas amostras, ensaiadas no intervalo pré
adensado do solo, mostram uma resistência maior que as amostras normalmente adensadas.
Este acréscimo de resistência é responsável pela introdução do parâmetro de coesão na
envoltória de resistência do solo, de forma que para solos pré-adensados, em condições
drenadas, a envoltória característica é dada pela equação: 𝝉 = 𝒄′ + 𝝈′ 𝒕𝒂𝒏𝝓′
Ao prosseguir o recarregamento, uma vez ultrapassada a tensão correspondente ao ponto 1
(no caso, a tensão de pré-adensamento), se medirmos a resistência no ponto E, teremos um valor
E’, situado sobre o prolongamento da envoltória normalmente adensada, pois que estamos
novamente na curva de compressão virgem da amostra. É fácil se perceber que para o caso da
amostra pré-adensada, o intercepto de coesão obtido será função da razão de pré-adensamento
média do trecho ensaiado.
O acréscimo de resistência pode ser explicado pela constatação experimental de que existe
uma relação entre o decréscimo do índice de vazios e o aumento de resistência. Note que para a
mesma tensão, a amostra pré-adensada apresenta um índice de vazios menor do que a
normalmente adensada, donde o ganho de resistência mostrado. Uma explicação física para tal
fato já foi mostrada quando se discutiu as causas físicas da resistência dos solos. Por causa do
pré-adensamento resultaram contatos plastificados que permaneceram com a retirada das
cargas, gerando a parcela adicional de resistência.
6.2.2 COMPORTAMENTO DAS ARGILAS EM ENSAIOS ADENSADOS – RÁPIDOS (CU)
Nestes ensaios a primeira etapa é realizada com total dissipação das pressões neutras geradas
pela tensão confinante. Durante a fase de cisalhamento da amostra, as pressões neutras
desenvolvidas são impedidas de se dissipar, ou seja, não ocorrem variações volumétricas por
cisalhamento. O gráfico abaixo apresenta os resultados típicos obtidos a partir de um ensaio
triaxial do tipo CU, em argilas normalmente adensadas e pré-adensadas.
Conforme ilustrado neste gráfico, as argilas normalmente adensadas tendem a desenvolver
pressões neutras positivas durante o cisalhamento, o contrário ocorrendo para o caso dos solos
pré-adensados. Isto ocorre pelas diferentes tendências de variação volumétrica destes solos. No
caso dos solos normalmente adensados, estes tendem a apresentar deformações volumétricas
de compressão (há uma tendência de diminuição de volume do corpo de prova), de modo que
para se contrapor a esta tendência, excessos de pressão neutra positivos são gerados. O contrário
ocorre no caso das argilas pré-adensadas.
Durante a realização dos ensaios são conhecidas, de imediato, as tensões totais atuantes. É
possível também efetuar leituras de pressão neutra e conhecer as tensões efetivas em cada fase
do ensaio. Nota-se, como no caso drenado, que as resistências são crescentes com as tensões
normais aplicadas. Os círculos de Mohr em termos de tensões efetivas definem uma envoltória
praticamente igual à obtida em ensaios drenados, de onde é muito usual determinar a resistência
drenada nos ensaios adensados-rápidos com leitura de pressões neutras.
A utilização das tensões totais fornece, para os solos normalmente adensados saturados, uma
envoltória cujo prolongamento também intercepta a origem do diagrama σ x τ, como no caso das
tensões efetivas.
Assim é possível obter duas envoltórias a partir dos ensaios CU, que para os solos saturados
normalmente adensados têm as seguintes equações características:
𝝉 = 𝝈′ 𝒕𝒂𝒏𝝓′ - Neste caso, leva-se em consideração os valores de pressão neutra medidos
durante o ensaio.
𝝉 = 𝝈 𝒕𝒂𝒏𝝓 – Em função dos parâmetros totais.
O ângulo φ é denominado de ângulo de atrito aparente, ou ângulo de atrito em termos de
tensões totais. A relação entre φ’ e φ depende das pressões neutras despertadas no instante da
ruptura.
Com relação à figura mostrada acima é importante notar que o círculo de tensões efetivas (E)
encontra-se deslocado para a esquerda do círculo de tensões totais (T), com o valor do
deslocamento igual ao valor da pressão neutra (u), uma vez que esta é positiva nos solos
normalmente adensados. Por sua vez o raio permanece o mesmo nos dois círculos.
No caso dos solos pré-adensados, a tendência de variação de volume é no sentido de
expansão. Isto origina um aspecto interessante, pois estando a drenagem impedida, originam-se
pressões neutras negativas e consequentemente a tensão efetiva torna-se maior que a total. Os
círculos de tensões efetivas (E) situam-se agora à direita dos círculos de tensões totais (T),
resultando que os parâmetros de resistência do solo em termos de tensões totais são superiores
aos obtidos em termos de tensão efetiva. A figura abaixo ilustra círculos de Mohr obtidos em
ensaios CU realizados em amostras pré-adensadas.
Tal situação acontece em solos fortemente pré-adensados, com razões de pré adensamento da
ordem de 10, o que implica a necessidade de cuidados na adoção de parâmetros para esses solos,
em análises a longo prazo. As envoltórias obtidas em ensaios adensados rápidos sobre solos
saturados pré-adensados resultam:
𝝉 = 𝒄′ + 𝝈′ 𝒕𝒂𝒏𝝓′ - Neste caso, leva-se em consideração os valores de pressão neutra medidos
durante o ensaio.
𝝉 = 𝒄 + 𝝈 𝒕𝒂𝒏𝝓 – Em função dos parâmetros totais.
Em termos práticos, existe uma grande semelhança entre os parâmetros de resistência
obtidos em termos de tensões efetivas, quer se empreguem ensaios drenados ou do tipo CU.
Dessa forma, o ensaio mais empregado para a determinação da envoltória de resistência efetiva
do solo é o ensaio CU, com leitura de pressões neutras
6.2.3 COMPORTAMENTO DAS ARGILAS EM ENSAIOS NÃO DRENADOS OU RÁPIDOS (UU)
Em todas as fases do ensaio não drenado, a pressão gerada no corpo de prova é impedida de
dissipar. Em geral, conhecem-se a cada instante as tensões totais aplicadas, se bem que seja
possível fazer leituras de pressão neutra. Mais uma vez é fundamental conhecer o papel
desempenhado pelas pressões neutras, o que será descrito a seguir, considerando o solo
saturado.
Suponhamos que a amostra estava inicialmente adensada, em campo, sob uma tensão σo’.
Imediatamente após a amostragem, o desconfinamento do solo tenderá a provocar um aumento
de volume, quando então se contrapõe uma pressão neutra negativa igual à tensão σo (uo = -σo).
A aplicação da tensão confinante gerará acréscimos de pressão neutra no corpo de prova.
Estando a drenagem impedida e como o solo se encontra saturado, toda a tensão confinante será
suportada pela água intersticial. Tal situação significa que não houve ganho de resistência pelo
confinamento do solo, já que não houve acréscimo de tensão efetiva.
Finalmente, durante a fase de cisalhamento, novas pressões neutras são geradas. Ao ensaiar
vários corpos de prova, nota-se, de imediato, que todos os círculos de Mohr têm o mesmo raio e
fornecem uma envoltória de resistência horizontal, como a representada na figura abaixo.
7. TRAJETÓRIA DE TENSÕES
Até o momento utilizou-se o círculo de Mohr para representar o estado de tensões de ruptura
de um corpo de prova. Imagine que se quisesse representar os sucessivos estados de tensão por
que passa um corpo de prova, antes da sua ruptura. O uso de círculos de Mohr para
representação de todos os estados de tensão pelo qual passou o solo levaria inevitavelmente a
uma configuração extremamente confusa, principalmente quando as duas componentes de
tensão, σ1 e σ3, variam ao longo do ensaio.
endo assim, pode-se dizer que a utilização do círculo de Mohr para representar a evolução
dos estados de tensão num elemento do solo, durante um determinado carregamento, não é
adequada. O estudo da trajetória de tensões seguida por um corpo de prova em um ensaio é
extremamente importante, já que em um material elastoplástico, como o solo, o estado final de
tensões e deformações é dependente da trajetória de tensões adotada (possibilidade de
ocorrência de deformações plásticas ou irrecuperáveis).
O estudo da trajetória de tensões seguida pelo solo em um determinado ensaio é então
realizado utilizando-se dois parâmetros, denominados de p e q:
𝝉 = 𝒄 + 𝝈 𝒕𝒂𝒏𝝓 e
As equações podem ser utilizadas tanto para tensões totais como para tensões efetivas.
8. APLICAÇÃO DOS RESULTADOS DE ENSAIOS A CASOS PRÁTICOS
Nos itens anteriores foi apresentado o comportamento do solo sob uma variedade de
condições de ensaio, principalmente no tocante às condições de drenagem, durante as fases de
adensamento e cisalhamento do corpo de prova. É óbvio que qualquer ensaio deve procurar se
aproximar o mais possível das condições de campo.
Em particular, o processo de carregamento em campo deve ser interpretado de modo que se
estabeleçam condições críticas para o problema, as quais poderão ocorrer a curto prazo ou a
longo prazo, relativamente à construção da obra. Por exemplo, a construção de um aterro sobre
argila mole de baixa permeabilidade induzirá pressões neutras na argila, as quais, ao término da
construção, mal terão começado a se dissipar.
De um modo geral, os ensaios drenados, ou do tipo CD, são utilizados para a análise de
problemas em que a situação mais crítica ocorre a longo prazo e em casos onde a velocidade de
construção da obra é inferior à capacidade do solo de dissipar as pressões neutras geradas.
Em outras palavras, não há sentido em se realizar ensaios do tipo UU para areia ou solo
possuindo altos valores de permeabilidade (ou mesmo para o caso dos solos não saturados), pois,
para estes solos, as tensões neutras provocadas pela construção são dissipadas quase que
instantaneamente.
Os ensaios CU são utilizados em situações intermediárias, ou, em outras palavras, quando
ocorrem acréscimos de tensões rápidos em um solo que já completara o seu processo de
adensamento para a condição de campo. Os ensaios CU são utilizados normalmente na análise
de estabilidade de aterros sobre solos moles, no caso de construção em etapas, ou na análise da
estabilidade de um talude de montante de uma barragem, sob rebaixamento rápido.