VEIGA, Ana Maria. Uma virada epistêmica feminista (negra): conceitos e
debates. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 29, e0101, jan./abr. 2020.
Caio Marcelo Cabral Vilanova.
O texto propõe o resumo do artigo Uma virada epistêmica feminista
(negra): conceitos e debates da professora e historiadora Drª. Ana Maria Veiga, atualmente professora do Departamento de História e do PPGH da Universidade Federal da Paraíba. Graduada, Mestre e Doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina, com estágio doutoral na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. É editora da revista Saeculum (PPGH/UFPB) e editora de divulgação da revista Estudos Feministas (REF). Foi coordenadora de programação e de comunicação. Mundos de Mulheres e Fazendo Gênero. O artigo nos apresenta diferentes pesquisadoras a respeito da história das mulheres e do feminismo, principalmente o feminismo negro americano e seus obstáculos acadêmicos, utilizando como destaque pesquisadoras estadunidenses e brasileiras para discussão. A autora traz ao debate a partir dos conceitos de interseccionalidade e (de)colonialidade, colocando em questão similaridades e diferenças de mulheres intelectuais negras. A mesma traz para o texto vivências de protagonistas marginalizadas e debate em seu artigo a teorização acadêmica dessas experiências marginais. A historiadora já inicia o texto trazendo informações referentes à história do feminismo e seus embates durante a década de 1990. Período onde surgem “feminismos” – entende as aspas como forma que a autora entende a multiplicidade do gênero e seus subgrupos como mulheres negras, gays, pobres e outros – que causam embates políticos e sociais, estabelecido no respeito e nas diferenças buscando visibilidade para sua e outras lutas. A autora estabelece parâmetros de conceitos que estarão inseridos no debate ao longo do artigo, estes conceitos centrais são a interseccionalidade e o (de)colonialismo. Esta percorre um caminho teórico cruzando ambos os conceitos para complementar ou discorrer sobre sua ideia. O conceito de interseccionalidade se faz importante para a autora já o mesmo é cunhado dentro da temática do feminismo negro e aos poucos foi sendo absorvido e reutilizado por outros pesquisadores em outros campos. Já o (de)colonialismo a mesma aplica quando politicamente debate alcança diferentes escalas de localização não centrais, se referindo ao feminismo latino-americano, aqui ela destaca que a utilidade do conceito se aplica para as mulheres nordestinas e sertanejas, sujeitos em situação de margem, como cita a autora. Veiga reparte o artigo em subtópicos, são eles: Um conceito para o ser periférico (do feminismo negro); A vez e as vozes dos feminismos negros; Descolonizar e interseccionar feminismos localizados e; Em busca de um lugar de fala para amefricanas sertanejas. Em Um conceito para o ser periférico (do feminismo negro) a historiadora já destaca a transitoriedade de conceitos que caem em desuso e voltam a ser utilizados no meio acadêmico, colocando que a utilização de um conceito traz em si só uma possibilidade de questionamento e discussão. Sendo assim, a mesma traz à discussão a emergência do conceito de interseccionalidade, considerando logo de imediato que opressão social raramente anda sozinha esta “... busca força e aliados em elementos específicos que demarcam diferenças.” (p. 5). Veiga explicita as condições sociais que tornam determinados indivíduos na possibilidade de aplicação desse conceito, a mesma utiliza o termo “cruzamento de opressões” para identificar como o ponto em comum dos exemplos que a mesma apresenta em seu artigo. Afirmando que esse “cruzamento de opressões” ocorre de diferentes formas e categorias, como lésbicas (sexualidade), velha (geração), deficiente (capacitismo), dentre outros. Esses marcadores de diferenças demarcam o lugar da mulher e seu lugar no mundo, já que a mulher normalmente está em uma posição onde concentra em si muitas características, que podem segrega-la, ou como a autora coloca, possui muitos marcados de uma só vez para carregar. Logo em seguida a autora aplica o conceito de colonialidade de QUIJANO, onde a autora nos apresenta que existe uma pirâmide social onde sua base está estabelecida em grupos periféricos, como mulheres negras, afirmando que nesses moldes existe a necessidade existência do conservadorismo para preservar o mundo de uma utópica justiça social. No decorrer no tópico a historiadora nos apresenta a autora Sojourner Truth e seu discurso “E não sou eu uma mulher?”. Discurso que foi reivindicando pelos feminismos negros, a autora sempre coloca no plural para deixar claro o seu posicionamento quanto pluralidade do movimento feminista. Acrescenta que Truth e seu discurso foi utilizado como referencia por Angela Davis em 1981, em seu livro no livro Mulher, raça e classe. Seguindo assim Veiga chama ao debate outros nomes como Carla Akotirene, o que é uma característica forte desse artigo, onde a historiadora abre o debate para várias intelectuais referentes ao tema central. Veiga cita Akotirene e sua advertência de que o “mau uso dessa categoria de análise e a visão equivocada que surge quando ela é entendida apenas como a soma das opressões” (p. 7). A autora se refere ao termo interseccionalidade, tema que Veiga traz outras pesquisadoras para relacionar suas perspectivas. Outro subtópico é A vez e as vozes dos feminismos negros que já se inicia a partir de Truth e a sua fala que possibilita a partir da oralidade um amplo debate, principalmente na academia, colocando a potencialidade intelectual e política do tema. As mulheres negras são o proposito dessa parte do artigo onde a historiadora traz algumas vozes retiradas de trechos introdutórios de obras ou artigos de autoras negras estadunidenses e brasileiras, com o objetivo de observar de que forma se relaciona a demanda intelectual daquilo que se dispusera a discutir. Veiga se debruça sobre inúmeras pesquisadoras como referencia para essa questão e avança para outro tópico Descolonizar e interseccionar feminismos localizados. Aqui o objetivo é evidenciar sentidos da própria história como área de conhecimento, suas narrativas com perspectivas teóricas e metodológicas construídas a partir desse desafio e dos (des)encontros da historiografia com os movimentos sociais, tendo do século XX até o tempo presente como referencia. As apropriações pela historiografia de teorias originárias do que considero um extracampo da História composto, de um lado, por teorias produzidas em outros campos e disciplinas e, do outro, pelos conhecimentos e conceitos elaborados a partir da experiência de movimentos e sujeitos de resistência, com ênfase nos feminismos negros e no pensamento intelectual produzido e publicado por mulheres negras e as chamadas pejorativamente nos Estados Unidos de “mulheres de cor”. Nesse tópico a autora nos apresenta, também, o termo “colonialidade do poder” que foi formulado por Aníbal Quijano em 1989, “e traria como novidade a leitura da raça e do racismo como princípios organizadores das hierarquias do que se denomina sistema-mundo, com foco nas localidades latino- americanas” (p. 26). E também utiliza a argentina María Lugones “quem aguça a crítica, apontando em Aníbal Quijano uma falha, ao não considerar o agravante gênero na perspectiva decolonial, ao menos não como fator determinante na relação binomial colonialidade/modernidade”. (p. 26) Por fim, Em busca de um lugar de fala para amefricanas sertanejas, ultimo tópico colocado pela historiadora que discorre a construção do que denomina de “teoria em situação de margem”, buscando centralizar e incluir outros grupos de mulheres aumenta a variedade que compõe a categoria, principalmente no Brasil, onde a autora destaca as nordestinas e sertanejas. Concluindo que é necessário dar visibilidade aos confrontos teóricos “ecoando as vozes que falam por si só”, é necessário dar espaço e protagonismo aos inúmeros “sujeitos/as” que existem dentro do campo. A mesma acrescenta que “Se a interseccionalidade já foi incorporada às propostas decoloniais, o caminho inverso ainda está por se concretizar.” (p. 28). É possível agregar e não separar, a autora coloca uma necessidade de uma maior amplitude para ao se abordar o tema das mulheres negras e periféricas, mas não só elas também são possíveis se utilizar múltiplos conceitos e respeitar as individualidades que o pesquisador julgar necessário.