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Clínica Psicanalítica
Aula #4
A perversão percorre toda a obra de Freud e também está presente ao longo da obra de
Lacan. A perversão configura uma das estruturas clínicas em Psicanálise, mas também
caracteriza toda forma de desejar. Todo desejo é perverso, afinal desejamos o proibido,
lembrando que o proibido entra como a possibilidade de poder nomear o impossível,
passagem clara do Édipo de Freud para o Édipo de Lacan. Ao proibido/impossível do
desejo, Lacan diz: “(…) é por que man dar nicht, não se pode nada, que man kann, que
se vem afinal a poder. (Lacan, Seminário 10 - 19 de dezembro de 1962)
O primeiro grande momento da obra de Freud em que a perversão aparece é no "Três
ensaios sobre a teoria da sexualidade”, um trabalho profundo e revolucionário, que
apresenta algumas ideias que Freud revisita ao longo de toda sua obra, dentre essas
ideias podemos destacar: a sexualidade infantil; a sexualidade pulsional; a disposição
perversa polimorfa e a máxima: a neurose como negativo da perversão.
Para explicar brevemente essas ideias: Freud nesse texto mostra que existe um desejo
por parte da criança em relação aos seus genitores, isso desde o reposicionamento
clínico de Freud ao escrever para Fliess “não acredito mais na minha neurótica”, que
significou a mudança da proposta do trauma da histeria ser decorrente de uma abuso, via
sedução, para a ideia de uma moção pulsional na criança que monta fantasias eróticas
com seus pares e que após a subjetivação da lei acontece uma inversão de ativo e
passivo, atribuindo o desejo que partia da criança, mantendo-na na posição ativa, para o
desejo no outro, mudando assim para a posição passiva. Se podemos constatar esse
desejo erótico na criança, é possível inferir uma sexualidade presente nelas. Temos assim
a sexualidade infantil que se apresenta de forma perversa, pois é parcial, não lidando
com objetos totais e que não tem finalidade genital, até mesmo porque a criança não
tem maturidade para isso. A maturidade só ocorre depois da passagem pelo Édipo, em
que as práticas pré-genitais ficam conservadas na memória dos neuróticos e na prática
dos ditos perversos, em suas fixações pré-genitais, um sendo o negativo do outro.
A perversão aparecerá em outros momentos da obra de Freud, e que destaco aqui o
texto: Uma lembrança da infância de Leonardo da Vinci; cujo mistério do sorriso de
Monalisa é atribuído a uma imagem andrógina de um rosto, que não deixa claro a ser de
um homem ou uma mulher, assim como a apresentação de alguns rascunhos de
desenhos feitos por Leonardo em que, apesar de um exímio desenhista, diversas vezes
não conseguia desenhar um genital de mulher. Freud viu aqui uma recusa de Leonardo
em reconhecer a ausência do pênis na mulher, negar a sua castração. Nesse mesmo
sentido, Freud apresenta no trabalho sobre O fetichismo a recusa de reconhecimento na
castração numa operação de voltar o olhar para o objeto anterior a constatação da
ausência do pênis, e, na frente da vagina é colocado um sapato, um pé, ou qualquer
coisa que funcionará como ponto de fixação, uma proteção de percepção. E por fim, o
texto em que Freud traz a ideia de clivagem do eu, Spaltung.
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Nesses textos últimos textos, Freud já aborda a perversão em sua forma já estabelecida,
mas é importante destacar que também existem os textos com a o momento anterior, o
momento angustiado pré eleição, por parte do sujeito, de uma estrutura, angustia de
castração. Esse é um período de constatação da diferença do real dos corpos, quebra do
imaginário e toda a “agitação na criança" que ocorre nesse momento, assim como uma
constatação lógica:
O Pequeno Hans, tão lógico quanto Aristóteles, formula a equação Todos os seres
animados têm falo (…) proposição chamada afirmativa universal, ou seja, que ela tem
apenas o sentido de definição do real a partir do impossível. É impossível que um ser não
tenha falo (…) existem seres vivos, como a mamãe, por exemplo, que não tem o falo.
Então, é porque não existe ser vivo - angústia. (Lacan, Seminário 10 - 19 de Dezembro de
1962).
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É claro que a divisão anterior foi apresentada de forma didática, pois na prática a coisa
não aparece tão distinta assim, e mesmo na neurose a dimensão do gozo entra em cena
como um horror. E aqui aparecem duas posições distintas temporalmente nas neuroses.
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O horror do gozo, dentro da estrutura do amor. O horror antes de entrar nele e o horror
do pós gozo “sujando"o amor… respectivamente o modo histérico e obsessivo de
fantasiar. Um na entrada da cena ou na saída da cena. E suas estratégias com relação ao
saber, o saber do gozo. Que apesar da neurose ter como grande característica um “não
querer saber”, ambos sabem, mas na histeria se defende desse saber com as lacunas de
pensamento, com o corpo que adoece sem a menor explicação. O estilo de discurso
mais dramático do que detalhista. E na outra neurose temos a forma obsessiva de lidar
com o gozo e o saber, a estratégia de não parar de pensar, de produzir, de falar, de
preencher todas as lacunas onde o gozo (o seu saber sobre o gozo apareceria).
Na análise, a fantasia é montada e remontada, se reconfigurando com os objetos
“deixados” pelo analista. Na verdade, o analista no lugar de sujeito suposto saber desliza
como representante do saber, o que configuraria o discurso do mestre, caso soubesse. O
analista além de se descolar desse lugar de saber, aponta que o saber esta em outro
lugar. É nisso que o analisando vai encontrando os objetos e supondo ser o objeto causa
de seu desejo, montando sua fantasia de amor ou gozo, tantas e tantas vezes que ela
nano se mais fixa, e sim flexível. O que era uma prisão, no modo de desejar, passar a ser
uma prisão domiciliar, é la que o sujeito vai para dormir, mas também está livre para ir
onde bem quiser, além de acrescentar naquele que se fixa na fantasia de amor a
dimensão do gozo, e naquela da dimensão do gozo, a fantasia de amor.
O sujeito agora pode estar com a(o) santa(o) e a puta(o) na mesma pessoa, ou, como no
filme Central do Brasil, não precisar mais usar o outro para seu uso e abuso, mas para
sobrepor suas faltas… afinal: amar é dar aquilo que não se tem.
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A mãe
Duas ordens de realidade que vão doravante interrogar o curso de seu desejo e nesse
terreno o pai fica como rival. Essa rivalidade é reencontrada sob a forma de um traço
estrutural estereotipado da perversão: o desafio e esse leva ao outro traço estrutural, a
transgressão. O perverso não cessa de fazer desta assunção da castração a base, sem
nunca conseguir ai se engajar como parte integrante da economia de seu desejo sem
nunca assumir ai essa parte perdedora…(Idem p. 40) - a vingança de Stoller?
Uma falta não simbolizável que vai aliená-lo em uma dimensão de inesgotável
contestação psíquica, operada através da denegação, ou ainda renegação concernindo à
castração da mãe. Somente o intermediário deste significante da falta no Outro é
suscetível de descolar a figura do pai imaginário de sua referência a um objeto fálico rival
- o significante da falta no Outro S(A/) é logicamente o que irá levar a criança a
abandonar o registro do ser em beneficio do registro do ter. (Idem p. 41)
O perverso imagina a mãe toda-poderosa do lado do desejo, isto é, não carente. A
crença imaginária nessa mãe implica a neutralização do Pai Simbólico enquanto
representante da função paterna. - o pai não é suposto ter o que a mãe deseja e o
perverso sustenta o fantasma de ser o único objeto de desejo que faz a mãe gozar p. 50
Lei cega que tende a substituir à lei do pai… “o que obtura o desejo do perverso é a lei
que o sustenta: uma lei do desejo que se emprega para nunca ser referida ao desejo do
outro (…) na medida que a lei do pai é denegada como lei mediadora do desejo, a
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dinâmica desejar-te fixa-se em uma maneira arcaica. Confrontada com o fato de dever
renunciar ao objeto primordial do seu desejo, a criança prefere renunciar ao desejo como
tal. (Idem p. 42)
Máxima: não cessará de procurar demonstrar que a única lei do desejo é a sua e não a do
outro.
1- Neurose obsessiva:
2- Neurose histérica:
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O histérico tem uma afeição particular pela dimensão do semblante, na medida mesmo
em que é aí que ele pode entrar no desafio e sustentá-lo. - desafio está inscrito em uma
estratégia de reivindicação fálica. - ficar no lugar da prostituição para dizer: eu não sou
quem você está pensando. (fantasma canônico da mulher histérica)…
Desafio histérico na prova da constatação fálica: sem mim você não seria nada… eu te
coloco no desafio de me provar que você tem realmente o que é suposto a ter. (Idem p.
46)
Na histeria masculina
Lança a si próprio num desafio insustentável - a aptidão para administrar a prova de sua
virilidade, junto a uma mulher. - com a carga dele responder através de comportamentos
sintomáticos que bem conhecemos: a ejaculação precoce e a impotência.
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