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CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CURSO DE LETRAS

PROJETO INTEGRADOR

ALEF DE JESUS BARDELLI


R.A: 2397085008

LEITURA E ESCRITA:
A oralidade como elemento transformador

São Bernardo do Campo


2020
ALEF DE JESUS BARDELLI

LEITURA E ESCRITA
A oralidade como elemento transformador

Projeto de pesquisa apresentado à


Anhanguera-Uniderp, como requisito parcial
para o aproveitamento da disciplina Projeto
Integrador, da 8ª série do Curso de Letras.

Tutor a Distância: Laís Helena Nantes Barbosa

São Bernardo do Campo


2020
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3

JUSTIFICATIVA.......................................................................................................... 4

PROBLEMA ................................................................................................................ 5

OBJETIVOS ................................................................................................................ 6

METODOLOGIA ......................................................................................................... 7

CRONOGRAMA ......................................................................................................... 8

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 9
3

INTRODUÇÃO

As pessoas, especificamente na fase de pré-adolescência e adolescência,


são muito estimuladas por aqueles a sua volta quanto a motivação, participação e
envolvimento pessoal, como afirma Vigotski: “o comportamento do homem é
formado por peculiaridades e condições biológicas e sociais do seu crescimento”
(2001, p.63).
Partindo do pressuposto que o homem, desde o seu nascimento, já é um ser
social em desenvolvimento e que todas as suas manifestações acontecem porque já
existe um outro ser social á seu alcance, notamos que já ocorre interação, mesmo
sem linguagem propriamente dita, o sujeito já está se familiarizando com o ambiente
em que vive. Neste sentido, notamos que a aprendizagem segue este mesmo
padrão: não se aprende de maneira isolada, o indivíduo de um grupo social ao
conviver com outras pessoas, efetua trocas de informações e, desta forma, vai
construindo o seu conhecimento conforme seu desenvolvimento psicológico e
biológico lhe permite.
Nesta pesquisa, apontarei deficiências e interferências no processo de
aprendizagem da oralidade, em como as dificuldades surgem desde o início da vida
social, em casa com os pais e na vida escolar e como estas dificultam o
desenvolvimento fluido das funções psicológicas superiores (memória, consciência,
percepção, atenção, fala, pensamento, vontade, formação de conceitos e emoção),
causando assim um bloqueio na oralidade. Mostrarei também, a ligação de como
dificuldades com oralidade pode afetar a escrita e a leitura do indivíduo desde suas
raízes, pois, de acordo com Vigotski (1998, p.61) “as raízes do desenvolvimento se
dá de duas formas fundamentais, culturais e de comportamento, surgindo na
infância: o uso de instrumentos e a fala humana”.
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JUSTIFICATIVA

Na pesquisa a seguir, é esperado que o leitor mantenha a mente aberta, pois


mostrarei ao longo do desenvolvimento, obstáculos que os estudantes enfrentam
desde a sua infância que dificultam a oralidade, dificultando assim a participação
efetiva dos alunos em sala de aula, seja na ajuda de leitura de um texto ou em um
apresentação de seminário; e grande parte destes obstáculos são colocados pelos
próprios professores ao longo da vida estudantil do aluno.
No livro “Oralidade na Educação Básica: O que sabe e como ensinar” os
autores Robson Santos de Carvalho e Celso Ferrarezi Júnior defendem que as
crianças com ao menos três anos, já são fluentes em sua língua materna, ou seja, já
conseguem produzir textos, discursos e já se defendem por meio da oralidade. É por
isso que é tão importante falar sobre oralidade desde o início da vida, pois somos
seres falantes, falar, desde que privados de uma doença crônica ou deficiência, é da
natureza humana. O fato de uma criança falar desde pequena não faz com que ela
não precise ser sistematizada em seus aspectos mais complexos, por exemplo, a
exposição oral em público, não tendo noção de postura, de organização de
pensamentos ligados ao texto e projeção de voz, é por isso que, desde 1990, os
PCNs já enfatizam a importância e a necessidade da oralidade em sala de aula.
Partindo deste pressuposto, defenderei neste documento, a importância de
um trabalho claro e coerente da oralidade dos alunos do ensino básico ao ensino
médio, pois, trabalhar a oralidade é trabalhar a formação de identidade, a construção
de sua identidade como grupo, deixando para trás preconceitos que se tinha por não
conhecer outros sotaques, outros jargões, outros dialetos.
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PROBLEMA

Bahktin (2003) define que o discurso ocupa duas categorias: primário e


secundário. Os primários são aqueles que se formam de maneira espontânea,
decorrentes das condições comunicativas do cotidiano e são considerados como
simples. Exemplo disso são as conversas informais com familiares e amigos,
saudações, relatos do dia a dia, despedidas, etc.
Os secundários, ao contrário dos primários que são espontâneos, são
desenvolvidos pelas relações formais que não são aprendidas no dia a dia do aluno,
mas com a escrita, leitura e aumento do seu repertório linguístico. O secundário não
exclui a presença do primário, mas ocupa-se de sua estrutura básica, reelaborando
e fazendo as modificações necessárias.
Com base nesses discursos, podemos ligar as falhas na escrita e leitura,
diretamente com a oralidade, são um esquema de engrenagens que trabalham em
harmonia, do contrário, o aluno desenvolve dificuldade de falar em público,
nervosismo excessivo, desinteressa pela leitura e problemas ao compor um texto,
por exemplo. Quando o docente não está aberto á análise critica de suas didáticas
ou não tem condições para realizar mudanças devido a situações adversas no
contexto escolar, forma-se um círculo em que sua raiz está fixada em uma base de
formação docente instável, pois não gera uma segurança nem para o aluno, nem
para a instituição de ensino.
Finalizando, uma boa formação também é fundamental para que o professor
consiga analisar os documentos propostos pela escola, verificando se estão
adequados á realidade dos alunos. A formação dos professores torna-se mais
crucial em todo o processo de ensino-aprendizagem, é a principal causa para a qual
devemos nos atentar e dirigirmos o olhar, sustentado por meio de políticas que
sustentem a educação, abrindo um leque de questões que impliquem na evolução
dos docentes.
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OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

 Encontrar e discutir gaps de aprendizagem no ensino da prática oral.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Analisar as dificuldades de aprendizagem tangente á oralidade;


 Explorar o papel do docente como facilitador desta aprendizagem;
 Propor soluções para o problema e conectá-lo ao triângulo oralidade –
leitura – escrita.
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METODOLOGIA

Inicialmente, com a sustentação teórica de artigos e pesquisas científicas


anteriores, vou identificar os problemas no ensino-aprendizagem da oralidade na sua
forma mais bruta: a dificuldade do aluno de, principalmente, falar em público. A
prática oral tem sido desvalorizada cada vez mais, pude notar claros sinais de
sucateamentos da oportunidade dos alunos de falarem em sala devido aos estágios
que venho realizando até então, percebendo a falta de preparo de alguns
profissionais e instituições de ensino quanto á qualidade do que está sendo
disponibilizado nas escolas.
Após a identificação destas dificuldades, explorarei o outro lado desta
equação: o docente. Nos últimos anos durante a minha própria formação, pude
notar, novamente por experiência proporcionada pelos estágios, a falta de preparo e
atenção dos docentes. O despreparo é tão grande que alguns chegam a não se
importar quanto ao método utilizado, dando valor apenas ao resultado que a escola
atingirá no final do ano, alguns até cedendo notas para alunos que as não obtiveram.
Este papel dos professores como detentor do conhecimento precisa mudar e passar
para o papel de mediador do conhecimento: um facilitador, incentivador ou motivador
da aprendizagem, que efetivamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus
objetivos.
Identificando estes dois pontos, podemos facilmente liga-lo ao terceiro: o tripé
oralidade – leitura – escrita. Acredito que uma nova forma de ensinar pode ser mais
efetiva durante a vida escolar, uma onde o objetivo é ampliar o letramento já iniciado
na educação infantil e na família, por meio da progressiva incorporação de
estratégias de leitura, compartilhada e autônoma, em textos de diferentes
complexidades, pois um bom leitor é um escritor em potencial, sendo um escritor, é,
naturalmente, dotado da capacidade de oralizar tranquilamente, pois tem um léxico
flexível e já consegue organizar pensamentos e ordem de fala devido á padrões
notados inconscientemente durante a leitura.
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CRONOGRAMA

Atividades Agosto Setembro Outubro Novembro


1. Observar orientações x x x

2. Pesquisa bibliográfica x x x

3. Pesquisa documental x x x

4. Pesquisa de campo x x x

5. Análise do material coletado x x

6. Redação do artigo x x

7. Finalização do artigo x

8. Postagem do artigo no AVA x


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REFERÊNCIAS

BAHKTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes. 1997.

CARVALHO, ROBSON. Oralidade na Educação Básica. O que saber, como


ensinar. São Paulo: Editora Parábola, 2018.

KOCH, INGEDORE. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 1998.

VIGOTSKY, L. S.; COLE, M. A formação social da mente: o desenvolvimento


dos processos psicológicos superiores. 6. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

VIGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CURSO DE LETRAS

PROJETO INTEGRADOR

ALEF DE JESUS BARDELLI


R.A: 2397085008

LEITURA E ESCRITA:
A oralidade como elemento transformador

São Bernardo do Campo


2020
ALEF DE JESUS BARDELLI

LEITURA E ESCRITA:
A oralidade como elemento transformador

Artigo apresentado à Anhanguera-Uniderp,


como requisito parcial para o aproveitamento
da disciplina Projeto Integrador, da 8ª série do
Curso de Letras.

Tutor a Distância: Laís Helena Nantes Barbosa

São Bernardo do Campo


2020
RESUMO

O foco deste artigo é trazer reflexões sobre a realidade no que diz respeito ao ensino
da oralidade nas escolas. O artigo apresenta, inicialmente, os pressupostos teóricos
de vários pesquisadores atuantes na área, como Bahktin e Vigotski, a concepção
dos documentos oficiais, principalmente os Parâmetros Curriculares Nacionais com
relação ao ensino da oralidade. Após a exposição da teoria, o documento traz o
relato de experiências vividas durante a realização dos estágios supervisionados
praticados ao longo dos últimos dois anos. Considerando a produção discursiva em
seu todo com uma prática social, será abordada também a necessidade dos
educadores de enfatizar a linguagem oral como instrumento de construção
individual, como formadores de caráter e opiniões, possibilitando que o estudante
seja capaz de se preparar para as mais adversas realidades, principalmente, fora de
uma sala de aula. Por isso, o objetivo deste artigo é, principalmente, discutir novas
estratégias de ensino para reduzir a retração do aluno, não somente com o bloqueio
na produção de textos e leitura, mas como na oralidade na sua forma mais bruta em
sala de aula, como apresentar um seminário perante a classe, por exemplo. Como
objetivos secundários, temos de analisar e encontrar os gaps no ensino-
aprendizagem da oralidade e repará-los o mais rápido possível, colocando o docente
na linha de frente como facilitador e mediador deste conhecimento, com novas
práticas para a desinibição dos alunos, a inserção da segurança que eles podem
obter com as palavras e até mesmo entonação de voz e postura. Após a
identificação destes problemas na aprendizagem, faz-se necessária soluções e,
novamente, cabe aos professores e equipe pedagógica da escola, trabalhando em
conjunto, desenvolver uma aproximação mais humana para com a prática da
oralidade, deixando de ser apenas uma cláusula em um documento oficial, passando
para a realidade da escola e comunidade, pois transformando o aluno em um ser
falante e consequentemente pensante, o resultado é claro e serve de força motora
para o grupo em que ele está inserido. Em síntese, a pesquisa pretende contribuir
academicamente na perspectiva de que a oralidade seja vista como objeto de
pesquisa, quebrando o mito da leitura e gramática como elemento supremo no
ensino da Língua Portuguesa, proporcionando aos estudantes um ensino-
aprendizagem de qualidade, em que eles possam obter este conhecimento sem
constrangimento e aplica-lo em diferentes contextos, seguindo todas as
necessidades de um mundo globalizado, que precisa de pessoas capacitadas e
funcionais, críticas e racionais, com compreensão do uso de sua língua, com
fluência verbal, poder de convencimento e significativamente comunicativos. Sendo
assim, cabe a escola e equipe pedagógica vigente, planejar esta mudança e aos
poucos inseri-la no dia a dia da escola, ultrapassando aspectos teóricos e penetrar
no campo prático, ampliando os conhecimentos e abrindo um novo mundo de
significado aos estudantes, sendo o intermédio para a superação de obstáculos que
perpassam o ambiente escolar.

Palavras-chave: Segurança. Sala de aula. Aprendizagem. Superação. Oralidade.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

DESENVOLVIMENTO ................................................................................................ 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................................ 5
MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................... 7
RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 8

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 9

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 10
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INTRODUÇÃO

O governo federal brasileiro, na segunda metade dos anos 90, começou a


discutir os primeiros esboços dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A proposta de
forma bem resumida, procurava estabelecer um direcionamento, um referencial
pedagógico ordenado para o país. A versão final teve nítida influência no meio
acadêmico, pois trata-se de um assunto muito conhecido pela maioria dos docentes
de Língua Portuguesa. Os PCNs elencam vários gêneros que podem ser usados na
sala de aula, divididos entre adequados para trabalho com a linguagem oral (como
contos, mitos, lendas, poemas, etc) e adequados para trabalho com linguagem
escrita (como cartas, bilhetes, postais, cordéis, etc).
Cada gênero mencionado mereceria um documento próprio, porém, o
enfoque, como foi dito anteriormente, são as dificuldades no ensino-aprendizagem
da oralidade e sua ligação com a leitura e escrita. Partindo da premissa de que não
é possível analisar as relações entre a língua falada e a língua escrita centrando-se
apenas no código linguístico, podemos considerar a produção discursiva como uma
prática social, analisando os contextos, os usos e as formas de transmissão da
oralidade e da escrita na vida diária.
Para Soares (2012), o sujeito letrado é aquele que interage com diferentes
portadores de leitura e escrita, em seus diferentes gêneros e tipos e se apropriam
deles em sua vida. O contato frequente com a leitura e escrita oferece a possiblidade
de alcançar as habilidades necessárias para a formação do hábito de ler e escrever,
assim como o gosto para ouvir e recontar histórias. Foi este pensamento, de o aluno
ser capaz de passar o que aprende a diante, que me deu maior incentivo para
escrever este estudo, com o enfoque de melhorar a qualidade do ensino-
aprendizagem não apenas dos estudantes, mas também as práticas docentes
adotadas atualmente.
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DESENVOLVIMENTO

Para Gomes e Moraes (2013, p.16):

A oralidade é parte vital e orgânica da cultura popular. A criança já


entra na escola com seus ouvidos encantados por cantigas, canções de
ninar, narrativas de lendas urbanas ou rurais, fábulas, anedotas, entre
tantas outras manifestações orais da cultura popular. Mesmo aquela que
teve pouco acesso á modalidade escrita “absorve” parte da memória de sua
comunidade.

Assim, considerando-se o objetivo da escola de levar o aluno ao domínio da


oralidade e escrita da língua, é compromisso dos professores ensinarem os alunos a
ler, escrever, ouvir e falar. Entretanto, como citado acima, ao entrarem na escola, os
alunos já trazem toda uma bagagem que foi construída nos contextos informais da
vida cotidiana, de forma natural nas interações sociais.
Percebe-se, nesta citação, o que se espera da escola: a preparação do aluno
para falar em público, em situações que não são de fato, espontaneamente orais,
mas previamente planejadas para serem enunciadas oralmente, como em
entrevistas, seminários e debates, que costumam ocorrer com frequência no
ambiente escolar. Em suma, o trabalho da oralidade é preparar o aluno para as
situações onde ele precisará falar, ter voz, como o adolescente que não precisa mais
dos pais para explicar a um médico o que está sentindo ou para enfrentar a sua
primeira entrevista de emprego, por exemplo.
Desde a inclusão do eixo oral, que já estava presente nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), nota-se que a aprendizagem de características
discursivas e das estratégias de fala e escuta ocorrem por meio do uso, da interação
com o outro. Nos anos iniciais, temos como objetivo aprofundar as experiências
iniciadas na Educação Infantil e na família. O professor deve promover discussões
com intencionalidade para além da tradicional roda de conversa.
As mudanças ocorridas no comportamento humano é reflexo da
aprendizagem, sendo de forma construtiva ou até mesmo destrutiva, isto é, as
mudanças na maneira de agir, de fazer e pensar em relação as coisas, nas pessoas,
de gostar ou não gostar, de sentir-se atraído ou retraído pelas coisas e pessoas ao
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redor, são frutos de aprendizagem. Estes frutos, devem ser levados ao longo da vida
como lição para o aluno, e cabe ao docente expô-lo a esta aprendizagem. Ao longo
de toda a vida escolar o aluno pratica a leitura, a escrita e a oralidade, embora só
enxergue este aspecto quando o docente trabalha assuntos específicos, como a
produção de um texto narrativo ou apresentação oral (sem direito a uma “cola”)
perante toda a turma.
No que tange ao trabalho docente, muitos estudantes chegam ao ensino
médio e até mesmo superior, com sequelas adquiridas por professores que os
afetaram negativamente. Durante o meu tempo como estagiário, pude notar várias
situações desta natureza: professores discutindo com alunos por eles falarem muito
baixo, por falarem olhando para baixo ou até mesmo por ficarem nervosos,
chegando a se tremer. Este tipo de exposição e constrangimento perante a sala e
aos colegas, gera um tipo de retração, fazendo com que o estudante perca esta
vontade de se mostrar, de expor um seminário e até mesmo se sentir inseguro
durante a leitura compartilhada em sala (leitura onde cada um lê um parágrafo, por
exemplo). Será que esta “prática” educativa valoriza o ensino da oralidade,
possibilitando o desenvolvimento da capacidade da expressão oral?
Neste sentido, as escolas deveriam ensinar aos alunos qual o significado e a
importância da fala, expondo aos mesmos a variedade do uso da fala. É importante
que o docente dialogue, ajudando-os a se expressar, apresentando-lhes diversas
formas de comunicar o que desejam, sentem e necessitam. Essa interação deve ser
feita com bastante maturidade, tendo cuidado com a própria fala, sendo claro, sem
infantilizações e sem imitar o jeito do aluno de falar, com a consciência de que nós
somos os modelos de falantes para eles. Entretanto, não basta que os alunos falem,
apenas o falar não garante a aprendizagem necessária. É preciso o uso de atividade
que instiguem este novo conhecimento adquirido em diferentes situações.
Durante o planejamento de aulas, se faz necessário que o docente insira nas
atividades recursos que os façam por exemplo, escrever bilhetes, pedir informações,
dar recados, elaborar avisos, ou seja, possibilitar os alunos ao uso contextualizado
da linguagem oral mediante a formas comuns de se iniciar uma conversação,
fazendo pedidos, perguntas, expressões; e deve-se atentar para que todos os
alunos sejam incentivados a falar.
Mais do que ensinar os estudantes a aprender, precisamos nos atentar a
como temos ensinado nossos docentes a ensinar. Uma primeira medida para isso, é
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uma abordagem mais sistemática, uma estratégia que deve permear todas as fases
da escolarização, iniciar o trabalho pelas situações comunicativas praticadas
naturalmente, ou seja, ainda que a exposição oral seja mais comum nas séries finais
do ensino fundamental, ela pode ter lugar desde o primeiro anos, estendendo-se até
os anos finais do ensino médio.
Dito isso, as aulas precisam ser repensadas, a fim de promover e possibilitar
seu caráter socio interativo, dado principalmente pela modalidade oral, de forma que
haja de fato, o ensino do uso desse modo de interação com o mundo, fazendo com
que o aluno socialize seus pontos de vista, posicione-se nas comunidades das quais
participa, incluindo é claro, a escola, consciente das condições de produção em
cada contexto, especialmente, da adequação linguística necessária em qualquer
atividade; isso por que a língua é uma atividade constitutiva, com a qual podemos
construir sentidos, como também é uma atividade cognitiva, em que podemos
expressar nossos sentimentos, ideias, ações e representar o mundo; por fim é uma
atividade social pela qual podemos interagir com nossos semelhantes e apresenta
características essencialmente dialógicas.
Nós, professores de línguas, precisamos aprender a líder com a linguagem do
nosso aluno, evitando preconceitos linguísticos, que são, acima de tudo,
preconceitos sociais. É importante, neste processo, saber avaliar a oralidade do
aluno, explicando em que contexto deve-se usar uma linguagem formal e informal
por exemplo. Segundo Fávero et al. (2000), a partir de textos orais produzidos e
gravados pelos próprios alunos, é possível propor atividades de identificação de
tópicos e subtópicos, relacionando-os posteriormente à elaboração de textos escritos
para observar como se estruturam os parágrafos. Outra sugestão das autoras é
identificar marcas de oralidade em textos jornalísticos, percebendo os efeitos de
sentido, e em crônicas, para caracterizar a construção dos personagens. Comparar
textos orais e escritos produzidos por uma mesma pessoa e dois textos orais
produzidos por pessoas diferentes, em situações distintas de comunicação, também
são sugestões das autoras para um efetivo trabalho com a compreensão e produção
textual. Já Castilho (1998: 24) propõe a combinação de textos (como conversação
simétrica e textos teatrais; conversação assimétrica e cartas, crônicas, noticiários de
jornais e revistas; aulas e conferências, narrativas e descrições contidas em
romances e contos) para que se faça o “emparelhamento da língua falada e da
língua escrita”. Assim, pode-se perceber como se constroem esses textos e o que
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caracteriza a modalidade em cada um deles (cf. Urbano, 1999).


Marcuschi (2005) faz referência acerca do uso principal da fala nas atividades
do dia a dia, embora as instituições escolares, ainda, não lhe deem a devida
atenção, se comparada com as atividades realizadas na modalidade escrita. Assim,
o autor salienta a necessidade de se ter uma preocupação também com o lugar e o
papel da oralidade no ensino de língua, esclarecendo que:

Certamente, não se trata de ensinar a falar. Trata-se de identificar a imensa


riqueza e variedade de usos da língua. Talvez, a melhor maneira de
determinar o lugar do estudo da fala em sala de aula seja especificando os
aspectos nos quais um tal estudo tem a contribuir. (Marcuschi, 2005, p.24)

Com esta visão, o pesquisador destaca alguns aspectos centrais no estudo


de fala, entre estes a variação, argumentando que a língua falada é variada, sendo
importante ao aluno ter consciência de noções como sotaque, variante, gíria,
dialetos, entre outros. Podemos destacar também a importância de analisar os níveis
da língua, com relação às formas de realização, desde as mais espontâneas até as
mais formais, tanto na oralidade quanto na escrita, dando atenção não apenas para
o léxico, mas também com questões relacionadas á polidez, aos aspectos
interpessoais, ás relações culturais, entre outros exemplos que podem servir de
exemplos na própria sala de aula.

1.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Uma das principais funções da escola é formar o futuro cidadão, regido pelo
exercício dos direitos e deveres do indivíduo. Muitos estudiosos da linguagem, nos
últimos anos, têm discutido a importância do desenvolvimento da oralidade no
ambiente escolar, como fator de extrema importância na construção do
conhecimento. De acordo com Rangel (2010), tal fato somente é possível,
entretanto, se dois eixos centrais, ratificados pelos Parâmetros Curriculares
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Nacionais (PCN), forem abordados como objetivos para o ensino da Língua


Portuguesa: o uso e a reflexão. Por “uso” entende-se a prática de escuta, de leitura
de textos, e de produção de textos orais e escritos; e por “reflexão” a prática de
análise linguística. Para a fundamentação teórica, utilizamos a perspectiva sócio-
histórica de Bakhtin (1992), apoiando-nos, também, em Celso Sisto (2005) e
Marcuschi (1997), dentre outros.
Uma grande obra norteadora deste projeto foi O Ensino de Língua
Portuguesa, Oralidade, Escrita e Leitura, da autora Vanda Maria Elias, editora
contexto, 2011. Para contribuir com o trabalho dos docentes em sala de aula, a obre
conta com pesquisadores brasileiros que correlacionam as teorias dos textos e as do
ensino. O livro é dividido em três partes: a primeira aborda formas de trabalhar a
oralidade em sala de aula, em atividades como quadrinhos e poesia. A segunda
apresenta a escrita e sua construção na interação entre escritor e leitor, passando
de redações escolares á linguagem escrita na internet. A leitura é o foco da última
parte, como uma atividade complexa de construção de sentido. Com ajuda da autora
e dos pesquisadores da obra, pude facilmente dividir os assuntos e abordar cada um
com mais profundidade, alterando o meu foco para a escuta e fala, propondo novas
formas de desenvolver competências comunicativas na educação brasileira,
melhorando o planejamento de atividades práticas, progressivas e planejadas de
forma sistemática.
Não obstante, também devo citar Sandra Maria Andrade del-Gaudio e
Terezinha Maria Barroso Santos, que me despertaram para um olhar crítico mais
aprofundado no que tange a educação escolar:

Essa postura crítica reconhece a importância dessas duas formas


de realização do discurso nas diferentes situações comunicativas e as
coloca como objetivo de ensino de igual relevância no contexto escolar,
como forma de acesso ao letramento. [...] As duas modalidades, escrita e
oral, são realizações situadas de uma mesma língua, que se adequa a
situação de produção e a interesses comunicativos, numa relação de
continuum, e não de dicotomia (DEL-GUADIO & BARROSO, 2010).

A variação linguística deve ser abordada com os alunos através da reflexão


sobre a multivariedade da expressão oral e o fenômeno do preconceito linguístico.
Diante disso, deve-se contemplar “descrições das diferentes formas dialetais e
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reflexões dos fatores que provocam as diferenças nestes modelos de falar” (LEAL,
BRANDÃO & E LIMA, 2012, p,18).

1.2 MATERIAL E MÉTODOS

O presente documento relata o estudo da defasagem no ensino da oralidade


nas escolas, focando na identificação do que causa estes problemas com os nossos
estudantes, público alvo desta pesquisa.
Devido á pandemia na qual nos encontramos no momento (COVID-19), não
pude efetivamente ir á campo para buscar informações diretamente da fonte,
contudo, meu desenvolvimento até aqui me possibilitou a realização de quatro
estágios (Língua Portuguesa no ensino fundamental e médio e Língua Inglesa no
ensino fundamental e médio), onde pude notar que essas falhas na aprendizagem
vem de todas as áreas e matérias e que nem sempre está ligada á forma na qual o
docente leciona.
Em primeira instância, tive contato com uma escola no centro da cidade, com
alunos de classe média alta. O relacionamento foi bem difícil no começo, porém aos
poucos nós conseguimos ganhar a confiança dos alunos e descobrir um pouco mais
sobre eles. Em um segundo momento, tive a oportunidade de estagiar em uma
escola mais afastada, periférica e frequentada, em sua maioria, pros alunos de
classe média baixa. Ambas as escolas mostraram defasagens principalmente no que
tange á oralidade, pouquíssimos alunos se dispunham a ler um texto ou apresentar
um trabalho perante a classe.
Concluindo, o método que utilizei foi o de análise de dados: verifiquei o que
aprendi sobre estes gaps durante a realização dos estágios e busquei referências de
profissionais e pesquisadores na área, alinhando os conhecimentos e descobrindo,
pouco a pouco, a origem destas falhas no ensino-aprendizagem da oralidade.
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1.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando as falhas no ensino-aprendizagem do tripé oralidade, escrita e


leitura, cheguei à conclusão de que estes gaps vem de varias áreas da vida do
aluno, não resumindo-se apenas a uma didática errônea utilizada pela docente ou
preguiça do aluno: é um fator que acompanha toda sua bagagem, desde a pré-
escola até os anos finais do ensino médio.
Como citado anteriormente, este artigo é um projeto empírico, onde descrevo
minhas análises baseado no que descobri durante a realização dos estágios
aplicados, não indo em campo efetivamente durante a realização devido á pandemia
de COVID-19 na qual nos encontramos agora. Justamente devido á esta
quarentena, tive tempo de sobra para ler obras incríveis sobre a oralidade, leitura,
escrita e comportamento humano, amadurecendo ainda mais a hipótese de que as
falhas no ensino-aprendizagem ou estes gaps, vem não somente de uma didática
não aplicada nas escolas, mas também de uma função socio-interativa dos alunos
fora do ambiente escolar. Muitos alunos sentem-se retraídos, isso desde crianças,
devido á pressão em casa, com pais que discutem muito e não dão espaço para a
criança ter voz, se sentir ouvida. Neste cenário, essa criança cresce com uma falha
na oralidade, pois não está acostumada a ser ouvida, logo não está acostuma a
falar, mas sim de ser ouvidos o tempo inteiro.
A aprendizagem pode acontecer de diferentes maneiras, uma rede se
estabelece com pessoas e não precisa de tecnologia para acontecer esta interação.
A timidez, principal fator opressivo da oralidade, pode ser facilmente contornado com
ações assertivas do docente, como não pressionar o aluno a se expor de forma
errada. A exposição tem que acontecer, é assim que o aluno se vê vencedor após o
desafio, foi exposto em um momento em que estava “vulnerável” e sobreviveu para
contar a história. É mais fácil se direcionar pelo que não fazer ao tentar fazer com
que o aluno pratique a oralidade, como por exemplo, não forçar que o aluno fique na
frente da sala mesmo estando claramente desconfortável, não infantilizar ou imitar o
tom da voz, não ser autoritário, mas sim, mostrar ao aluno de que ele é
perfeitamente capaz de falar um pouco mais, um pouco mais claro de forma
incentivadora, e não como força destrutiva.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho objetivei analisar o trabalho com a oralidade e as práticas de


letramento (escrita, escuta e leitura) com alunos desde o ensino fundamental até os
anos finais do ensino médio. As atividades de ensino-aprendizagem associadas às
práticas orais são importantes para o desenvolvimento linguístico dos alunos. Não
apenas a oralização do texto escrito, mas outras propostas orais devem ser
desenvolvidas e tomadas como eixo central na prática de ensino para que outras
habilidades linguísticas sejam trabalhadas.
Uma diversidade de estratégias para o desenvolvimento da oralidade
certamente possibilitará que os alunos tenham a chance de desenvolver sua
competência linguística, o que poderá lhe permitir alcançar lugares mais prestigiados
como cidadão. Não permitir que o aluno desenvolva tal habilidade, negar o direito a
oralidade é silenciar o estudante perante a uma maré de oportunidades que ele pode
vir a ter caso seja bem articulado e com a oralidade em dia, sendo mais eloquente e
convincente em suas palavras.
Concluindo, encontrando os pontos descritos como responsáveis na
dificuldade de oralidade, podemos esperar melhoras com pesquisadores futuros,
aprimorando a metodologia do professor como facilitador do conhecimento e no
desenvolvimento da oralidade, quais as causas da timidez e como saná-la. É através
deste processo de aprimoramento, que surgirão sujeito cada vez mais críticos e que
podem debates sobre vários assuntos, não só no contexto escolar, como também na
sociedade como um todo, tornando este sujeito autoconfiante e agente
transformador da comunidade em que está inserido.
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REFERÊNCIAS

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