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Paulo insiste no acolhimento mútuo e radical que deve existir entre os seguidores de Jesus de diferentes origens
étnicas e entre diferentes práticas culturais que as integram. A questão central consiste em que “todos vocês
poderão se unir em uma só voz para louvar e glori car a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 15.6, NVT).
Mas é em Efésios onde o cenário é revelado mais completamente. Paulo declara que o propósito de Deus sempre
foi reunir no Messias todas as coisas nos céus e na terra. Perceba que esta declaração se opõe fortemente ao
pressuposto cristão ocidental de que o propósito de Deus é remover os crentes da ‘terra’ para que eles possam
viver com ele no ‘céu’ – algo que o Novo Testamento não a rma.
O povo de Jesus – todos juntos, sem diferenciação étnica ou de qualquer outra natureza – constitui o novo Templo
no qual Deus já habita pelo Espírito.
Em Efésios 3, Paulo declara que “através da igreja a multiforme sabedoria de Deus pode ser conhecida entre os
poderes e as autoridades nas regiões celestiais” (v. 10, NVI). Em outras palavras, a simples existência dessa igreja
policromática, porém unida, é o sinal ao mundo expectador e, particularmente, aos poderes espectadores deste
mundo de que Jesus é o Senhor, e não César.
A igreja é a nova família de seguidores de Jesus, aqueles que morreram com ele para suas antigas alianças
espirituais (note como Paulo diz aos coríntios: “quando eram pagãos”, isto é, o que eles não são mais) e
descobriram suas novas identidades como povo ungido, povo do Messias. A presente existência de carne e
sangue dessa família singular, extraordinária, até mesmo milagrosa, é exatamente o xis da questão: o sinal e o
antegosto do propósito de Deus para o mundo todo.
Essa família é chamada a ser um grupo de parentesco ctício que é fundamentada na adoração, que é renovada
https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/385/minando-o-racismo-uma-tarefa-da-igreja-policromatica-multietnica-e-mutuamente-solidaria 1/4
21/12/2020 Minando o racismo – Uma tarefa da igreja policromática, multiétnica e mutuamente solidária – Edição 385 | Revista Ultimato
espiritualmente, que é multiétnica, cuja liderança não restringe gêneros, que é policromática, mutuamente
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solidária, ONLINE
que olha REVISTA
para fora, que LOJA
é culturalmente criativa e socialmente responsável. A discussão sobre quem são
seus pais ou qual a cor da sua pele – não que cor de pele fosse algo muito relevante no já policromático mundo
mediterrâneo dos dias de Paulo – é um problema para nós, e não para ele. Essa família deve ser um sinal para o
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mundo de que há uma forma diferente de ser humanidade, não como uma vontade fraca e desbotada, mas como
um sinal forte e subversivo de como a nova criação de Deus é uma realidade em espera, que desa a as maneiras
de o mundo organizar a vida humana. Viver dessa maneira não é um bônus opcional para os seguidores de Jesus,
ou uma espécie de hobby extra para aqueles que querem algo diferente, além das reuniões de estudo bíblico ou
oração. Faz parte do pacote completo.
Avalio que tudo isso é evidente no Novo Testamento e no cristianismo primitivo como um todo. Ressoa
totalmente com a ênfase que o próprio Jesus deu, especialmente, a sua oração sacerdotal em João 17, um pouco
antes de ser traído. “Para que todos sejam um – para que o mundo creia”: essa foi sua oração e deveria ser a
nossa também. Pense no que ela signi ca: Jesus está sugerindo que, se nós falharmos aqui, estaremos dando aos
incrédulos razões aparentemente boas para negar que ele foi enviado por Deus. Ou, então, pense no
Pentecostes: muitas línguas, uma única mensagem. Eis o problema; não o colapso de todas as línguas numa
língua hegemônica, mas o múltiplo derramar do Espírito em todo o mundo, criando uma única família
policromática e poliglota.
Nós podemos esperar desa os em relação a esse ideal de família única e devemos almejar encará-los com atitude
sábia, decisiva, em oração, para que a contínua unidade seja garantida.
O racismo, tanto casual quanto institucional, que tanto lastimamos hoje, é apenas uma externalização de uma
falha muito mais profunda do protestantismo ocidental. No exato ponto em que a Igreja deveria ter sido uma luz
viva de unidade policromática, ela se viu tão envolvida no esquema quanto a cultura circundante.
A ‘identidade’ cristã é para ser uma pessoa ‘Messias’: ‘em Cristo’. Isso signi ca dizer que a postura básica de vida
de uma pessoa é a de quem ‘morreu’ para o passado e ressurgiu para o novo mundo: “se alguém está em Cristo”,
escreve Paulo, “é nova criação” (NVI)! Não há caminho de volta e a nova identidade é a base da comunhão eclesial
verdadeira, que deveria envergonhar o mundo. “Pois, por meio da Lei eu morri para a Lei, a m de viver para
Deus. Fui cruci cado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (NVI). Isso é o que
somos e o que nos faz genuínos irmãos e irmãs que Deus deu a todos os outros que se encaixam nessa verdade.
Segundo, a crise atual destaca a necessidade, em todas as esferas, de a liderança e os ministros na igreja se
unirem para além das barreiras tradicionais, especialmente onde a diferença étnica é visível e óbvia. É vital
conhecer um ao outro, orar juntos, ler a Palavra juntos, encontrar formas de fazer o máximo de coisas juntos,
incluindo compartilhar o louvor, alternar a vez nos púlpitos e assim por diante. A crise do momento precisa gerar
uma nova onda de esforço ecumênico urgente e genuíno, não de pequenos comitês que discutam tecnicalidades,
mas de comunidades inteiras que compartilhem uma vida em comum com os vizinhos da rua, pessoas de cujas
vidas mal sabem e com quem não parecem ter muito em comum. Entendo que isso é difícil, mas o evangelho e as
Escrituras não nos dão outra opção.
Terceiro, a liderança da igreja deve encontrar maneiras de se juntar aos líderes da comunidade – novamente, de
todos os níveis e de todos os per s – e descobrir onde estão as reais queixas a serem tratadas e onde as pessoas
estão usando-as como um disfarce para infundir outras agendas, incluindo diferentes formas de anarquia. Neste
processo haverá, naturalmente, arrependimento. Nosso arrependimento será devido ao fato de não termos
cumprido nosso chamado no evangelho, como membros do corpo do Messias, como a comunidade que deveria
atuar como um sinal para o mundo (por sua feliz reunião de diferentes classes e grupos) de que Jesus é Senhor e
que nele, e pelo seu Espírito, a nova criação de Deus já se iniciou – e a igreja é sua guarda-avançada.
Nós não vamos acertar em tudo. Vamos ainda cometer erros, assim como zemos no passado. Alguns desses
erros ainda permanecerão profundamente em nossos sistemas e culturas, mas devem ser extirpados. Mesmo
assim, nós acidentalmente ofenderemos alguém e seremos, por vezes, ofendidos também. Jesus previu isso.
Perdoe seu irmão ou irmã, ele a rmou, setenta vezes sete. Não, ele não quis que você anotasse a frequência.
Quatrocentas e noventa vezes parece um jubileu para mim. E é disso que precisamos agora: uma gloriosa anistia
de perdão mútuo; não o varrer para debaixo do tapete: precisamos é de reconhecimento lúcido do mal que
ocorreu e de arrependimento banhado a lágrimas tanto pelo mal em si como pelo ressentimento por ele
causado. E, por m, perdão. Começar de novo. Toda a ostentação de virtude no mundo não pode realizar isso.
Mas o evangelho de Jesus pode. Ele pode abrir caminho para um novo começo. Um sinal ao mundo de que o
Jesus cruci cado e ressurreto – aquele que perdoa, que renova todas as coisas, a nal – é seu verdadeiro Senhor.
• N. T. Wright, bispo anglicano de Durham, na Inglaterra, é professor visitante de universidades como Harvard
Divinity School, nos Estados Unidos, Universidade Hebraica de Jerusalém e Universidade Gregoriana em Roma. É
autor de, entre outros, Os Últimos Dias de Jesus, Surpreendido pela Esperança e mais quatro títulos publicados pela
Editora Ultimato.
Publicado originalmente no blog NTWrightPage com o título Undermining racism: re ections on the ‘black lives matter’ crisis.
Usado com permissão. Para ler o artigo na íntegra, acesse aqui.
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