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3 - A ENTREVISTA EM PREVENÇÃO

Entrevista com finalidade preventiva difere sob aspectos essenciais da


entrevista clínica comum.

Problemas mais frequentes surgidos na entrevista preventiva:

ENTREVISTA HABITUAL ENTREVISTA PREVENTIVA


1- paciente procura o terapeuta Profissional procura o paciente antes
do Período Patogênico ou aquele que
se encontra no Período Patogênico,
mas não se considera ”doente” para
procurar ajuda

2 – paciente já tem sintomas e Uso da “tática de diagnóstico


demanda uma medida de intervenção precoce” – possibilita intervenção
secundária ou terciária terapêutica antes que o Período
Patogênico produza ou tenha
produzido devastações dificilmente
irreversíveis - ineficácia adaptativa
grave

3 – paciente tem uma queixa definida Paciente não sabe porque o


e sabe porque procura o terapeuta procuraram para a entrevista

A mente humana não suporta a ignorância e o Paciente preenche o vazio de


informações com fantasias, geralmente de natureza persecutória, que criam os
maiores obstáculos à tarefa do entrevistador.
As técnicas para se lidar com a angústia desencadeada pela situação de
entrevista preventiva são:-

1) Suportivas: Medidas de clarificação e reasseguramento.

a – Clarificação:

É essencial que o esclarecimento sobre os motivos da entrevista abranja


os seguintes itens:

- intuito do entrevistador de conhecer o P para ver o que está bem com ele e
ver se é possível melhorar.

_ verificar o que não esta bem e ver o que pode ser feito para ajudar a
melhorar ou encaminhar a quem poderia dar essa ajuda.

- esclarecer alguma dúvida ou fornecer alguma informação especializada que o


sujeito queira a respeito de sua pessoa ou alguém de suas relações.

- tentar eliminar preconceitos sobre quem precisa ou o que vem a ser ajuda
psicológica.

b- Reasseguramento

São necessárias para obter a colaboração do Paciente quando a resistência a


se deixar conhecer é causada por moderada ansiedade persecutória.

Técnicas de reasseguramento úteis nessas circunstâncias são

- garantia de que tudo o que for ventilado na entrevista está sob proteção
ética do sigilo profissional.

- não há qualquer conexão informativa entre o serviço de prevenção e o resto


da instituição
- nada que for encontrado será utilizado sob qualquer forma que possa
prejudicar o paciente (cancelamento de matrícula ou perda de emprego)

- paciente é louco – leigo não tem muita noção do que é ou não loucura e
uma tendência a exagerar certas coisas que para o especialista n~~ao
costumam ser grandes.

Esse tipo de reasseguramento gera alívio do Paciente e reforço de sua


confiança no entrevistador. Pode abrir uma passagem pra alguma revelação
intima que estaria atormentando o sujeito há muito tempo – oportunidade de
reduzir-lhe a angustia e esclarecê-lo – entrevista, com efeito, psicoterápico.

2) Interpretativas: –

Usadas quando as resistências são mais sutis, mais difíceis de detectar e de


superar – requer que o entrevistador esteja bem treinado bem familiarizado
com os dinamismos inconscientes e mesmo estar sendo ou já tendo sido
analisado.

Exemplo: sinais de resistência na comunicação de P, como:- fala evasiva,


silêncios prolongados, falar de mais porem superficialmente, agressividade
verbal e até motora.

O entrevistador pode sentir (e interpretar) que na relação (transferência) o


sujeito sente-se como cobaia, sendo submetido a um experimento – ou que o
entrevistador vai tirar alguma vantagem do P, etc...

Há casos em que apesar de comparecerem os Ps se aferram à determinação


de que está tudo bem. Se a obstinação é inarredável, a entrevista deverá ser
dada por encerrada.

Feito os esclarecimentos iniciais quanto aos motivos do entrevistador pela


convocação do sujeito e tendo observado que está disposto a falar de si – pode
ser útil tentar transformar a entrevista preventiva numa espécie de entrevista
clínica habitual:- estabelecer uma situação que poderia evidenciar uma
“queixa”.

Exemplo:- dizer ao P que todos têm suas dificuldades, coisas que gostaria de
mudar e não consegue, que o atrapalham e que ele não consegue evitar.

Se conseguir desenvolver a sensibilidade de “ouvir” o P, o entrevistador


perceberá que ele dirá na sua entrevista, o essencial sobre si mesmo – se o
entrevistador sentir que já “ouviu” o suficiente, mas faltam dados da
adaptação – desenvolver o interrogatório complementar.

As evasivas que o P apresenta, nem sempre são fruto da resistência – às vezes


provém da grande falta de contato do sujeito consigo mesmo.

Pode ser necessário dirigir a entrevista e o entrevistador poderá guiar-se pelo


princípio de caminhar da periferia para o centro – do que é relativamente
menos íntimo, para o mais recôndito.

O campo da conduta humana está compreendido em quatro fatores:- A-R, Pr,


S-C, Or.

Os setores menos ansiogênicos são o da Produtividade e o Sócio Cultural e os


mais ansiogênicos são o Orgânico e o Afetivo Relacional.

Iniciar a entrevista na seguinte ordem:

a – Produtividade

- estudos ou trabalho

- motivações

- aspirações

- desempenho atual
b - Sócio Cultural

- preferências e aversões pelo ambiente social e cultural

- principais atitudes diante das estruturas e valores

- ligações com grupos ou pessoas em que a vinculação afetiva é menos


estreita que a familiar

c – Orgânico

- cuidados corporais

- alimentação

- sono

- existência de doenças, deficiências ou limitações físicas

- necessidades sexuais – se são satisfatórias, se criam conflitos – iniciar pelas


indagações a respeito das experiências sexuais da infância, brincadeiras
sexuais na adolescência, masturbação no passado e no presente,
relacionamento sexual recente e atual. Na mulher pode-se iniciar pela
menarca.

d – Afetivo Relacional

É o mais difícil e há o risco de evasivas. Uma direção da periferia para o centro


é útil, no sentido de favorecer a graduação da tensão na entrevista.

- relacionamento com os irmãos , no passado e depois no presente

- relacionamento com os pais – infância e atual

-relacionamento com a namorada (o) e esposa (marido).

Aqui é necessário prestar atenção também na comunicação não verbal:


expressão facial, gestos, ruborizações, palidez, tremores e aspectos
expressivos da comunicação verbal (tom de voz, ritmo da fala, hesitações,
titubeios, gaguejos).

A entrevista em prevenção não deve ser anotada na frente do paciente,


porque a persecutoriedade já presente devido às condições gerais que
cercam o encontro, se tornaria exacerbada. Tomar notas reforça
concretamente a impressão de estar em um interrogatório policial. É
preferível reservar cinco minutos entre uma entrevista e outra para fazer um
esboço do material .

A entrevista deve ser rápida, no máximo em duas ou três sessões.

Ao concluir a entrevista, deve-se dar um retorno ao paciente: se a adaptação


for eficaz que o paciente em questão não necessita de ajuda e se for ineficaz
ou em crise fazer a devolutiva e o devido encaminhamento.

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