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I.

Defina e distinga:

a) Autonomia privada e liberdade contratual;


b) Direito subjetivo em sentido estrito, direito potestativo e ónus jurídico;
c) Fundação fiduciária e património de oblação;
d) Objeto da relação jurídica e coisa.

II.
António, funcionário da Sociedade de Transportes S.A., aquando da entrega de umas máquinas
nas instalações da Associação Desportiva da Beira, neutralizou as câmaras de vigilância e alarme
existentes no armazém, danificando-as. Nesse mesmo dia, à noite, António entrou nas instalações
da Associação e levou todo o recheio existente no armazém, aproveitando-se do facto de ter,
naquela manhã, desativado o sistema de segurança.

a) A Sociedade de Transportes S.A. é responsável pelo furto e destruição do sistema de alarme?


E pelos danos causados nas câmaras e no alarme?
b) Suponha agora que, por causa do furto, o bom nome e imagem da Sociedade de Transportes
S.A. foi posto em causa no mercado. Pode esta reagir contra António? Quais as providências que
pode requerer?

Resolução:
a)

- Identificação e descrição do sujeito Pessoa Colectiva e regime jurídico.


- A responsabilidade das pessoas colectivas: art. 165.º e 500.º/800.º. Distinção entre
responsabilidade contratual e extra-contratual.
- Aflorar a questão da relação jurídica obrigacional complexa e os deveres laterais de boa fé, com
vista a alargar a responsabilidade contratual (art. 165.º e 800.º).
- No caso, contudo, porque está o direito de propriedade do recheio, não existiria dúvidas de que
pelo menos se trataria de responsabilidade delitual (extra-contratual por factos ilícitos) - art.
483.º.
- Identificar os pressupostos do artigo 500.º e o âmbito da actuação do funcionário da Sociedade
e respectivo âmbito de riscto (art. 500.º, n.º2). Os actos prepartórios ocorrem por ocasião das
funções exercidas pelo António, pelo que poderíamos excluir a responsabilidade da Sociedade.

b)

- definição de direitos de personalidade e a capacidade jurídica das pessoas colectivas - artigo


160.º. Em especial os limites previstos no n.º 2.
- Seria de reconhecer à sociedade do direito ao bom nome, pelo que o furto realizado pelo
António constituiria um facto ilícito violador do direito da sociedade, justificando por exemplo a
retractação pública daquele nos termos do artigo 70.º, n.º2.
- Poderia ainda ser imputada à conduta do António a obrigação de indemnização (art. 70.º, n.º2 e
483.º) quanto aos danos patrimoniais (art. 562.º e ss).
- Já quanto a possíveis danos não patrimoniais (art. 498.º), atendendo à natureza da pessoa
colectiva (art. 160.º, n.º2), seria a mesma de excluir.

III.
Carlos, de 17 anos, casado com Maria, trabalhava na Fábrica de Papel S.A. quando levou com
uma caixa cheia de papel na cabeça. Do acidente resultaram graves sequelas que afetaram o
comportamento do Carlos. Nomeadamente, começou a ter comportamentos suicidas intercalados
com agressividade e saídas noturnas todos os dias, onde gastava no mínimo 200,00€ por noite.
De um dia para o outro saiu da casa onde vivia com Maria. Em seguida comprou um
apartamento dando em troca a moradia que tinha comprado em solteiro e onde vivia com Maria.
Pouco tempo depois, decidiu vender um carro que havia comprado, também enquanto solteiro, a
um amigo, por 5.000,00€, quando o seu valor de mercado era 6.500,00€.

a) Maria pode solicitar alguma providência junto do Tribunal para evitar que o comportamento
do Carlos cause danos?
b) Qual a validade dos atos realizados pelo Carlos?

Resolução:

a)
- Identificação das incapacidades jurídicas previstas no Código Civil. Referir que o Carlos,
apesar de menor, tinha plena capacidade de exercício por se ter emancipado. Breve referência ao
regime de emancipação.
- No caso, não existiriam fundamentos para decretar qualquer incapacidade jurídica, uma vez que
não resulta do enunciado qualquer anomalia psíquica que ponha em causa a capacidade para o
Carlos se autogovernar.
- Poderia no entanto discutir-se a possibilidade por prodigalidade; no entanto os dados do
enunciado não parecem ser suficientes para fundar a possibilidade de decretamento de uma
inabilitação. Breve referência ao direito ao livre desenvolvimento da personalidade e vinculação
do direito civil à Constituição para fundar uma interpretação restritiva das incapacidades
jurídicas.
- O único meio para defesa dos interesses patrimoniais de Maria seria requerer a separação
judicial de pessoas e bens ou o divórcio.
b)
- Os gastos na vida nocturna e venda do carro seriam válidos, na medida em que não há dados
que demonstrem a incapacidade de facto do Carlos (art. 257.º). Quanto muito poder-se-ia falar do
estado de necessidade (art. 282.º), mas também aqui não há dados para invocar o instituto.

- Já quanto à permuta da casa, não obstante ser um bem próprio, verifica-se uma ilegitimidade
conjugal, por se tratar da casa de morada de família (não obstante ser um bem próprio do Carlos,
art. 1686.º-A, n.º2). Definir ilegitimidade conjugal e distinguir da incapacidade de exercícios.
Referir o regime especial de invalidade.
- Referir ainda a natureza de património conjugal como exemplo imperfeito de património
colectivo (mão comum).

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