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MARTINS, Heloisa Helena Teixeira de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago. 2004.

II – CREDENCIAIS DA AUTORIA

Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins é graduada em Ciências Sociais pela


Universidade de São Paulo (1963), possui mestrado e doutorado em Sociologia pela
Universidade de São Paulo, obtidos respectivamente nos anos de 1975 e 1986. Atualmente é
professora aposentada da Universidade de São Paulo, assessora ad hoc da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e assessora ad hoc da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Possui experiência na área de
Sociologia, com ênfase em Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes
temas: trabalho, sindicalismo, juventude, desemprego e mercado de trabalho.

III – CONCLUSÕES DA AUTORIA

O elemento central da discussão proposta por Maritns (2004) reside na avaliação da


metodologia qualitavia de pesquisa, considerando seus elementos essênciais, suas críticas,
limitações e evolução histórica. As principais conclusões deixadas pela autora em seu artigo,
apontam que pesqisa qualitativa é adequada a um conjunto de situações, problemas de
pesquisas e objetivos. E possui um conjunto de características, como por exemplo ausência da
neutralidade, objetividade relativa, flexibilidade na coleta de dados e heterodoxia da análise
dos mesmos. Ficou evidente que apesar na evolução histórica e transformação dos moldes da
pesquisa qualitativa, os elementos que a definem e possibilitam sua construção, são os
mesmos que originam as críticas em relação validade e a seu caráter científico. Segundo a
autora, o estágio atual das pesquisas sociológicas e das pesquisas qualitativas, pode ser
definido pela presença da subjetividade e da necessidade de gerar conhecimento útil aos
sujeitos, como vista a torna-los autônomos.

IV – DIGESTO

a) Resumo das principais ideias expressas pelo autor

Na construção do artigo foi possível observar quatro principais argumentos defendidos


pela autora. Foram eles: as características fundamentais da pesquisa sociológica; as principais
críticas feitas as pesquisas de natureza qualitativas; a necessidade de inserir a questão da ética

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nos estudos qualitativos e evolução histórica e transformadora as pesquisas sociológicas e
qualitativas.
Em relação à pesquisa sociológica (uma forma de pesquisa qualitativa), verifica-se a
presença de um conjunto de especificidades, tais como: ausência da neutralidade do
pesquisador, objetividade relativa, flexibilidade na coleta de dados e heterodoxia da análise
dos mesmos. Já em relação as críticas feitas as pesquisas qualitativas os principais pontos de
atenção são destinados aos elementos que acentuam o seu caráter descritivo e narrativo.
A questão da ética no processo de elaboração das pesquisas qualitativas é relevante
para garantir a construção de estudos não tendenciosos. Esse debate se faz necessário devido a
proximidade observada entre o pesquisador e pesquisado. Já a evolução histórica da pesquisa
sociológica foi reflexo dos momentos históricos vivenciados pela humanidade. Assim como
os sujeitos passaram por transformações, tanto a pesquisa sociológica, quanto a pesquisa
qualitativa, que estudando os processos sociais e os sujeitos, passaram por transformações.

b) Descrição sintetizada do conteúdo dos capítulos ou partes em que se divide a obra

Na primeira seção do artigo, a autora apresenta seu ponto de vista em relação ao


processo de realização de uma pesquisa científica. A pesquisa realizada no âmbito da
sociologia, por ser de natureza qualitativa, depara-se com um grande desafio. Definir seu
objetivo de estudo com clareza e precisão, além de promover o uso dos fundamentos da
ciência e dos princípios do método científico, com vista a superar questões como as
impressões pessoais e valores definidos fora do escopo da ciência. Dado que o método é
mesmo em todos os campos do saber, conforme observado de Florestan Fernandes (1959).
O desafio da pesquisa no âmbito da Sociologia, e por analogia das demais Ciências
Humanas, reside na questão da dificuldade em apreender o objeto de estudo (o ser humano),
suas modificações, complexidades e interações. Além da relação sinuosa entre pesquisador e
objeto. Conforme registrado por Roberto da Matta (1991) o processo de interação entre o
agente pesquisador e o sujeito pesquisado é de natureza complexa. Diferentemente do
ocorrido nas Ciências Naturais onde os objetos de estudos são, em boa medida, controláveis.
A pesquisa sociológica ou de natureza qualitativa, apresenta algumas peculiaridades
em relação a neutralidade e objetividade. Em relação a neutralidade observa-se que esse item
é inexistente para pesquisa qualitativa. Já a objetividade da pesquisa é considerada relativa,
estando condicionada aos critérios que serão definidos pelo pesquisador em relação ao
problema de pesquisa formulado.

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Como as pesquisas qualitativas são orientadas para a análise dos microprocessos, ou
seja, os estudos das ações sociais individuais e grupais, as técnicas de coletas de dados são
caracterizadas pela flexibilidade a situação que é estudada. Como consequência o pesquisar
engajado nesse tipo de trabalho científico, deve possuir competências como: criatividade,
intuição e imaginação, além de uma sólida formação técnica, para viabilizar a análise dos
dados apurados. Conforme defendido Robert Nisbet (2000) o trabalho do pesquisar envolvido
em uma pesquisa qualitativa, pode ser comparado ao trabalho artístico e classificado como
artesanal. Devido suas características singulares que variam de acordo com o problema e
objetivos de uma pesquisa.
A segunda seção do artigo apresenta as principais críticas da comunidade acadêmica à
abordagem qualitativa de pesquisa. O elemento central da pesquisa qualitativa, a presença
marcante da subjetividade, pode conduzir a estudos especulativos ou abstratos e superficiais.
Capazes de comprometer a neutralidade e a objetividade da produção do conhecimento
científico. Sendo considera por muitos, como estudos pré-científicos, dado ao elevado nível
de subjetividade.
São enumeradas e discutidas as quatro principais críticas da abordagem qualitativa de
pesquisa, são elas: a questão da representatividade, a questão da subjetividade, os problemas
relacionados ao coleta, processamento e análise de dados e questão da generalização dos
resultados.
Em relação a representatividade, é questionado a relevância dos estudos qualitativos,
feitos em sua grande maioria, com casos específicos. Considera-se a possiblidade do caso ou
dos casos selecionados para o estudo, não conseguirem ser ilustrações válidas da realidade um
sentido mais amplo.
A segunda crítica, aborda a questão da subjetividade, que é produto da interação entre
o pesquisador e o objeto de estudo. Ao mesmo tempo que essa proximidade possibilita a
realização das pesquisas qualitativas, ela coloca em debate a validade da pesquisa e o caráter
científico do conhecimento e do material produzido.
A terceira crítica reside nos problemas técnicos encontrados no momento de realizar a
coleta, o processamento e análise de dados. A primeira limitação apontada é a dificuldade
encontrada pelos pesquisadores para coletar tais informações. Após o árduo trabalho para
coletar os dados, surge a tarefa de organizar o grande e complexo volume de material obtido,
o que pode comprometer a qualidade da análise, caso o pesquisador não tenha expertise
necessária para tal tarefa.

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A quarta e última crítica está associada a primeira crítica listada. Pelo fato de existir a
possibilidade dos casos considerados para a construção da pesquisa não serem representativos
do todo, será impossível realizar a generalização, ou seja, tornar aplicável os resultados
encontrados para um conjunto maior de casos.
A terceira seção do artigo discute outra peculiaridade da pesquisa qualitativa, a
necessidade de levantar a questão da ética no processo de desenvolvimento dos estudos. Esse
quesito se torna relevante devido a expressiva proximidade e envolvimento do pesquisador
com o sujeito pesquisado. A não observância da ética, no fazer da pesquisa qualitativa, pode
conduzir a resultados tendenciosos. O indivíduo que realiza uma pesquisa dessa natureza,
deve posicionar com um pesquisar e não como um militante, que é frequentemente seduzido
por uma ideologia. Em uma situação em que o pesquisar realiza a imersão em uma realidade,
com o objetivo de produzir um estudo, o mesmo deve examinar a realidade como ela é, não
como acredita que deva ser. Nesse sentido, um dos propositivos da pesquisa qualitativa é
produzir conhecimento que emancipe os sujeitos pesquisados e os torne autônomos.
A quarta e última seção do estudo, resgata dois momentos históricos relacionados ao
desenvolvimento da pesquisa sociológica e qualitativa. Segunda a autora, em geral a pesquisa
qualitativa, está orientada para aspectos de investigação micro-sociológicos, ou seja, temas
mais pontuais e específicos. Enquanto a tradição norte-americana, para esse tipo de pesquisa
está voltado para os aspectos macro-estruturais que busca trabalhar com múltiplos casos, ou
seja, o padrão de pesquisa denominado de Survey Research.
A partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) a pesquisa sociológica ganhou um
novo delineamento. Estando mais atenta a pressupostos antes característicos de pesquisas de
natureza quantitativa. Tal ideal foi construída no âmbito na academia norte americana e
depois disseminada para Europa e América Latina. Tendo como principal instituição
representante dessa mudança de paradigma, a figura dos centros de pesquisas, como por
exemplo, Bureau of Applied Social Research da Universidade de Colúmbia.
Segunda a autora, nesse momento, a pesquisa passa a ser compreendida como um
produto a ser comercializado em um mercado. E assim passa a ter como características
basilares a neutralidade e a objetividade, questões antes difíceis de serem alcançadas por
estudos qualitativos. Se, em sua essência, o pesquisador qualitativo era comparado a um
artista, por produzir algo artesanal, nesse momento o mesmo passa que ser considerado um
profissional que gera algo mais generalista.

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O segundo momento histórico, importante para a pesquisa sociológica, foi iniciado a
partir da década de 1950, onde passou-se a criticar as características das pesquisas
sociológicas observados no pós-guerra. Criticava-se o chamado cientificismo ou de
empirismo abstrato, discutido anteriormente. Nesse segundo momento histórico, o cerne das
discussões estava firmado na retomada da essência da pesquisa qualitativa, e principalmente
na defesa do argumento de que a pesquisa qualitativa deve ser útil aos grupos sociais, e que a
solidariedade deve ser o elemento sucessor da objetividade. Assim o conhecimento fruto da
pesquisa qualitativa deve ser útil para os sujeitos. Útil no sentido de ser passível compreensão
por todos os sujeitos envolvidos.

V – MÉTODO UTILIZADO PELA AUTORIA

O artigo considerado foi elaborado com base na revisão de literatura, utilizando


autores nacionais e internacionais, especialmente de livros de metodologia científica e artigos
cientícos a respeito da pesquisa em Sociologia e metodologia qualitativa de pesquisa. O
método de abordagem utilizado foi o método dedutivo. Dado que são apresentadas premissas
gerais, acerca da metodologia qualitativa de pesquisa, para o posterior confronto com
questões particulares, nesse caso elaboração de estudos específicos.

VI – CRÍTICA DO RESENHISTA

a) Julgamento da obra do ponto de vista metodológico

A proposta do texto de Martins (2004) foi fundamentada na avalição da metodologia


qualitativa de pesquisa. O desenvolvimento do texto privilegiou essa discussão, tanto pela
exemplificação do modo como a pesquisa sociológica é desenvolvida, quanto pela aprofunda
reflexão a respeito o perfil do pesquisador qualitativo e de questões como: neutralizada e
objetividade da pesquisa, ética e utilidade da pesquisa. O texto foi construído por meio da
revisão bibliográfica e pela dissertação da autora em relação a alguns pontos específicos
relativos a pesquisa qualitativa e sociológica. Nesses pontos a autora registra sua própria
opinião ou posicionamento sobre um elemento específico do debate geral.

b) Mérito da obra

O artigo possui grande valor acadêmmico tanto para a Sociologia, quanto para as
demais Ciências Humanas, devido a reflexão profunda acerca da metodolodia qualitativa de

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pesquisa. Apesar dos argumentos e temas apresentados não serem necessarimente originais, a
maneira pela qual foram abordados e as dissertações da autora em relação a alguns pontos,
tornaram a leitura um momento avalioso para reflexão do processo de fazer pesquisa.

c) Estilo empregado

Como mencionado no texto, a pesquisa qualitativa possui o caráter descritivo e


narrativo, o artigo possui exatamente esses predicados. Além de apresentar uma linguagem
clara e acessível.

VII – QUESTIONAMENTO ELABORADO PELO RESENHISTA

Dado que a realização de uma pesquisa qualitativa está condicionada a presença da


subjetividade, qual será a forma mais adequada para conferir maior prestígio acadêmico a essa
tipo de pesquisa?

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