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Obras:
Alguma poesia (1930)
Brejo das Almas (1934)
Sentimento do Mundo (1940)
A rosa do povo (1945)
Claro enigma (1951)
Fazendeiro do Ar (1954)
Lição das coisa (1962)
Boitempo (1968)
As impurezas do branco (1974)
O corpo (1984)
Amar se aprende amando (1985)
Obras em prosa:
Fala, amendoeira e Cadeira de balanço são os seus mais famosos livros de crônicas.
Destacam-se ainda: Contos de Aprendiz.
Drummond é considerado o maior poeta brasileiro. Seus textos não se oferecem a um
tipo de leitura rápida, fácil e eufônica. Exigem uma reflexão na medida em que sempre carregam
dentro de si um significado complexo e polissêmico. Se repararmos em sua linguagem veremos
que ela se faz com poucas imagens e metáforas. É uma linguagem seca, exata, precisa. Nasce
de uma luta que o escritor trava com as palavras, tentando ajustá-las ao universo que pretende
exprimir, como em “O lutador”:
EU MUNDO
- o passado - a solidariedade social
- o amor - a perda dos valores que sustentam a
- a solidão realidade
Ora afirmando a superioridade do EU sobre o mundo, ora a do mundo sobre o EU, ora
escavando os seus próprios abismos pessoais, ora investigando a vida objetiva, o autor de A rosa
do povo fará dessa dualidade a marca de uma poesia tanto lírica, expressando o sujeito, como
social e metafísica, delimitando os objetos.
Os temas do eu:
O passado
O poeta volta-se para a sua família e a sua província com grande insistência. Era filho
de fazendeiros e naquele tempo pretérito o universo tinha um sentido histórico e individual.
Drummond recupera esse tempo. Não com a nostalgia romântica da infância. Nem com a
melancolia com que José Lins do Rego celebrara a decadência de outro grupo das elites rurais.
Mas reconquista o passado como quem procura uma explicação para si mesmo. Sendo assim,
todo o recuo temporal é em Drummond uma forma de conhecimento do presente.
Ele evoca a grandeza de uma classe morta, a estrutura patriarcalista, o autoritarismo do pai, a
doçura da mãe, os parentes os “bens e o sangue”. O passado ilumina o presente: muitas vezes
o poeta se reconhece em antigas situações familiares, no jeito dos habitantes de sua cidade natal
e no pai. Um pai estranho e ameaçador que o filho só compreenderá depois. Contudo, por mais
que as recordações esclareçam a existência atual, não são fortes o suficiente para fornecer
princípios de vida ao poeta.. Ele está sozinho e não encontra saídas.
A voragem do tempo não consegue destruir todas as coisas.
De qualquer forma, e mesmo sabendo que o passado não voltará, ele recolhe as suas
raízes, como em Confidência do Itabirano:
O amor
Educado num sistema familiar machista em que apenas as mulheres podiam exteriorizar
sua afetividade e em que os homens sufocavam o coração através da prática da brutalidade, do
silêncio ou da timidez, transparece em Drummond um profunda carência amorosa. Por outro
lado, a desconfiança e o pudor - legados do patriarcalismo - impedem que esta carência se
transforme numa entrega total. Resulta daí um tipo de poema em que o amor, antes de ser
descritora questionado. Mesmo a aparente anedota de Quadrilha revela um sentido oculto, o
amor como desencontro:
Os temas do mundo
A sociedade
Houve momentos, porém em que Drummond renunciou à ironia. Principalmente quando
chegaram ao Brasil as notícias da II Guerra. Então o poeta sentiu que a sua mão estava suja,
suja do individualismo, da escavação interior, dos mitos do passado. A descoberta se dá em
termos de assumir um compromisso. O escritor se comove da humanidade sofredora, seus
ombros suportam as dores do universo:
A destruição
Essa poesia explicitamente social acabaria cedendo a uma poesia d indagação
metafísica. Drummond investiga a realidade através de sua palavra, que desvela as aparências,
em busca de uma saída, de um sentido para a vida. Para o Eu poético, nada subsiste a não ser
sua lucidez radical. Voltada sobre si mesma, ela aponta para a grande solidão do indivíduo.
Dirigida ao mundo, a lucidez corrói todos os seus fundamentos, instaurando um universo de
perda e de ausência de significado. a metafísica de Drummond é a metafísica do nada. Não há
caminhos ou valores para José:
“E agora, José E agora José?
A festa acabou Com a chave na mão
a luz apagou quer abrir a porta,
o povo sumiu não existe porta:
a noite esfriou quer morre no mar,
e agora, José? mas o mar secou
e agora, você? quer ir para Minas,
você que é sem nome Minas não há mais.
que zomba dos outros,
você que faz versos Se você gritasse,
que ama, protesta? se você gemesse,
e agora, José? se você tocasse
a valsa vienense
Está sem mulher, se você dormisse,
está sem discurso, se você cansasse,...
está sem carinho, se você morresse...
já não pode beber, Mas você não morre,
já não pode fumar, Você é duro, José!
cuspir já não pode
a noite esfriou . Sozinho no escuro
o dia não veio, Mas você não morre,
o bonde não veio, Você é duro, José!
o riso não veio,
não veio a utopia Sozinho no escuro
e tudo acabou qual bicho-do-mato,
e tudo fugiu sem teogonia,
e tudo mofou sem parede nua
e agora, José? para se encostar
sem cavalo preto
que fuja a galope
você marcha, José!
José, para onde?