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Capítulo II- louvor das virtudes dos peixes em geral

Neste capítulo serão criticados os homens por analogia com os peixes, como está
expresso nesta passagem irónica: “Ao menos têm os peixes duas boas qualidades
de ouvintes: ouvem e não falam”. Vieira deixa bem claro que este sermão é uma
alegoria, referindo-se frequentemente aos homens. Os peixes ora serão,
metaforicamente, os índios ora os colonos.

Neste capítulo, o pregador pretende repreender os vícios dos homens, opostos às


virtudes dos peixes.

Louvor das virtudes, em geral:

- “ouvem e não falam”;


- “vós fostes os primeiros que Deus criou”;
- “e nas provisões [...] os primeiros nomeados foram os peixes”;
- “entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores”;
- “aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso
Criador e Senhor”;
- “aquela ordem, quietação e atenção com que ouvistes a palavra de Deus da boca
do seu servo António. 
- “só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam”

Síntese:

Vieira inicia a exposição com uma pergunta retórica: “Enfim, que havemos de


pregar hoje aos peixes?” e de seguida indica a estrutura do sermão: “dividirei,
peixes, o vosso Sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas
atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios” (ll. 23-24).
O resto do capítulo é abordado por Vieira com as virtudes gerais dos peixes.

Capítulo III- louvor dos peixes em particular

No capítulo III (considerado por alguns, o 1º momento da confirmação), Vieira


continua a elogiar os peixes, mas desta vez os seus louvores aos peixes são
individualizados, visam peixes em particular.
Síntese:

Todos estes elogios que o Padre António Vieira tece aos peixes são o contraponto
dos defeitos dos homens, evidenciando assim os vícios destes.
Os quatro peixes, o Santo Peixe de Tobias, a rémora, o torpedo e o quatro-olhos
possuem características que na sua totalidade se podem identificar com as
principais virtudes de Santo António.

Capítulo IV – Repreensão dos vícios dos peixes, em geral

Neste capítulo, Vieira repreende os peixes em geral, criticando neles


comportamentos condenáveis nos homens.

O pregador confirma a tese de que os homens se comem uns aos outros, dando o
exemplo dos peixes:

- «[...] é que vos comedes uns aos outros.»


- «Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos.»
- «Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos
pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos,
nem mil, para um só grande.»

O orador expõe a repreensão: dá o exemplo dos peixes que caem tão facilmente no
engodo da isca, passa em seguida para o exemplo dos homens que enganam
facilmente os indígenas e para a facilidade com que estes se deixam enganar.
Afirma que os peixes são muito cegos e ignorantes e apresenta, em contraste, o
exemplo de Santo António que nunca se deixou enganar pela vaidade do mundo e
pescou muitos da salvação.

Capítulo V- repreensão dos vícios dos peixes em particular


O polvo é traidor, enquanto que Santo António foi o maior exemplo da candura, da sinceridade
e verdade, onde nunca houve mentira.

A expressão "aparência tão modesta" traduz a aparente simplicidade e inocência do polvo, que
encobre uma terrível realidade. O orador usa a ironia. A expressão "hipocrisia tão santa"
contém em si um paradoxo: a hipocrisia nunca é santa; de novo, o orador usa a ironia: o polvo
apresenta um ar de santo, mas encobre uma cruel realidade.

O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde se
instala. No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no polvo é
um artifício para atacar os peixes desacautelados. O orador refere a lenda de Proteu para
contrapor o mito à realidade: Proteu metamorfoseava-se para se defender de quem o
perseguia; o polvo, ao contrário, usa essa qualidade para atacar.

O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, cria um engano, que
consiste em fazer-se das cores onde se encontra; depois, ataca os inocentes.

O elemento comum entre Judas e o polvo é a traição - ambos foram vítimas deste defeito. Os
elementos diferentes entre Judas e o polvo são que Judas apenas abraçou Cristo, outros o
prenderam; o polvo abraça e prende. Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo
escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição de
Judas é de grau inferior à do polvo

O sermão é todo ele feito de alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil
("peixes grandes que comem os pequenos") em vários peixes: o roncador (o
orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais
traidor que o próprio Judas).

Capítulo VI- peroração

Neste capítulo, mais conhecido por peroração ou conclusão, o pregador visa


um desfecho forte, de modo a impressionar o auditório e levá-lo a pôr em prática
os conselhos recebidos.
O Orador diz não ter atingido o fim para que Deus o criou, ter inveja dos peixes e
estar a ofender a Deus. Em contraste, encontram-se os peixes que atingem o fim
para que foram criados e não ofendem a Deus. O orador quer que os homens
imitem os peixes, isto é, guardem respeito e obediência a Deus.

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