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Neste capítulo serão criticados os homens por analogia com os peixes, como está
expresso nesta passagem irónica: “Ao menos têm os peixes duas boas qualidades
de ouvintes: ouvem e não falam”. Vieira deixa bem claro que este sermão é uma
alegoria, referindo-se frequentemente aos homens. Os peixes ora serão,
metaforicamente, os índios ora os colonos.
Síntese:
Todos estes elogios que o Padre António Vieira tece aos peixes são o contraponto
dos defeitos dos homens, evidenciando assim os vícios destes.
Os quatro peixes, o Santo Peixe de Tobias, a rémora, o torpedo e o quatro-olhos
possuem características que na sua totalidade se podem identificar com as
principais virtudes de Santo António.
O pregador confirma a tese de que os homens se comem uns aos outros, dando o
exemplo dos peixes:
O orador expõe a repreensão: dá o exemplo dos peixes que caem tão facilmente no
engodo da isca, passa em seguida para o exemplo dos homens que enganam
facilmente os indígenas e para a facilidade com que estes se deixam enganar.
Afirma que os peixes são muito cegos e ignorantes e apresenta, em contraste, o
exemplo de Santo António que nunca se deixou enganar pela vaidade do mundo e
pescou muitos da salvação.
A expressão "aparência tão modesta" traduz a aparente simplicidade e inocência do polvo, que
encobre uma terrível realidade. O orador usa a ironia. A expressão "hipocrisia tão santa"
contém em si um paradoxo: a hipocrisia nunca é santa; de novo, o orador usa a ironia: o polvo
apresenta um ar de santo, mas encobre uma cruel realidade.
O mimetismo é o que o polvo usa para enganar: faz-se da cor do local ou dos objectos onde se
instala. No camaleão, o mimetismo é um artifício de defesa contra os agressores, no polvo é
um artifício para atacar os peixes desacautelados. O orador refere a lenda de Proteu para
contrapor o mito à realidade: Proteu metamorfoseava-se para se defender de quem o
perseguia; o polvo, ao contrário, usa essa qualidade para atacar.
O polvo nunca ataca frontalmente, mas sempre à traição: primeiro, cria um engano, que
consiste em fazer-se das cores onde se encontra; depois, ataca os inocentes.
O elemento comum entre Judas e o polvo é a traição - ambos foram vítimas deste defeito. Os
elementos diferentes entre Judas e o polvo são que Judas apenas abraçou Cristo, outros o
prenderam; o polvo abraça e prende. Judas atraiçoou Cristo à luz das lanternas; o polvo
escurece-se, roubando a luz para que os outros peixes não vejam as suas cores. A traição de
Judas é de grau inferior à do polvo
O sermão é todo ele feito de alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil
("peixes grandes que comem os pequenos") em vários peixes: o roncador (o
orgulhoso), voador (o ambicioso), pegador (o parasita) e o polvo (o traidor, mais
traidor que o próprio Judas).