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DADOS

DE ODINRIGHT
Sobre a obra:

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ESBOÇOS
de
TEOLOGIA
Archibald Alexander Hodge, D. D.
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Professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de


Princeton Newjersey, EUA

PUBLICAÇÕES EVANGÉLICAS SELECIONADAS Caixa Postal 1287 01059-


970-São Paulo-SP

Título original:

F.J.C.S. - Lisboa

Primeira edição lançada no Brasil: ■ ’ ":ií

2001 :

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Linguagem atualizada:

Odayr Olivetti e Azená Valim Olivetti

Revisão:

Antonio Poccinelli

Cooperador:

José Serpa

Capa:

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■ (}\(? t.

Sérgio Menga

Impressão: " i

Imprensa da Fé •

índice
Prefácio
Teologia Cristã;
Sua Relação com Outros Ramos do Conhecimento Humano
Origem da Idéia de Deus e Prova da Sua Existência
Os Mananciais da Teologia
, A Inspiração das Escrituras
Comparação de Sistemas
Credos e Confissões
A INTELIGÊNCIA INFINITA DE DEUS
A Santíssima Trindade
98. Qual era a posição daqueles que procuravam dim
Os Decretos de Deus em Geral
Predestinação
A Criação do Mundo
Os Anjos
A Providência
A Constituição da Alma, a Vontade, a Liberdade, etc.
A Criação e o Estado Original do Homem
A Aliança das Obras
A Natureza do Pecado e o Pecado de Adão
O Pecado Original
Incapacidade
A Imputação do Pecado Original de Adão à sua Posteridade
A Aliança da Graça
A Pessoa de Cristo
O Ofício Medianeiro de Cristo
A Propiciação: sua Natureza, Necessidade, Perfeição e Extensão
A Intercessão de Cristo
O Reinado Medianeiro de Cristo
A Regeneração
A Fé
A União dos Crentes com Cristo
O Arrependimento e a Doutrina Católico-Romana das Penitências
A Justificação
A Santificação
A Perseverança dos Santos
A Morte e o Estado da Alma depois da Morte
A Ressurreição
O Segundo Advento e o Juízo Geral
O Céu e o Inferno
Os Sacramentos
O Batismo: Natureza, Propósito, Objetos, Modo, Eficácia e Necessidade
A palavra abençoar oubendizer é empregada nas Escr
índice de Autores e de Assuntos
índice

Capítulos " ' ........ . . Páginas


Prefácio

Apresentando este livro ao leitor, tenho a dizer que a concepção e a execução da


obra são devidas à experiência que tive de ser necessário tal manual de
definições e argumentações teológicas, no meu trabalho de instruir os membros
da Igreja da qual fui pastor. Os diversos capítulos foram, em primeiro lugar,
preparados e usados por mim como as bases de uma série de discursos dirigidos,
sem notas, à minha congregação nos domingos à noite, e no uso que assim fiz
delas, achei que estas preparações eram úteis além das minhas esperanças; pois a
maior parte da congregação foi induzida a entrar, com muito interesse, no estudo
até dos assuntos mais abstrusos. Tendo, pois, esta obra passado por essa prova
prática, ofereço-■a, agora, a meus colegas no ministério do evangelho para
que dela se sirvam, se quiserem, como um repertório de material digesto para o
ensino doutrinário do seu povo, seja em classes bíblicas, seja por meio de
discursos no culto público. Ofereço-a também como uma tentativa de prover
assim a uma reconhecida necessidade pública, como um resumo de estudo
teológico para uso dos estudantes de teologia em geral, e para uso dos muitos
laboriosos pregadores do evangelho a quem falta o tempo necessário ou a
oportunidade, ou outro meio essencial, para estudarem as obras custosas e
elaboradas das quais se colheram os materiais deste compêndio.

As perguntas têm sido conservadas formalmente, não com o fim de adaptar


assim o livro de qualquer modo ao ensino catequético, e sim, por ser este o modo
mais conveniente e perspícuo de apresentar um “esboço de teologia”. Esta
mesma necessidade de condensar, espero que sirva para desculpar, até certo
ponto, alguns casos de obscuridade nas definições e

alguns em que talvez haja falta de ilustrações, casos que o leitor, sem dúvida,
notará.

No Prefácio da segunda edição desta obra (em inglês), revista e aumentada, o


editor ainda diz:

O Prefácio da edição original narra, acurada e um tanto circunstanciadamente, a


maneira pela qual se originou esta obra. Desde a sua primeira publicação até
agora têm se multiplicado as provas de que ela proveu a uma
necessidade pública, e grande número de exemplares têm sido vendidos na
América do Norte e na Grã-Bretanha. Além disso, tem sido traduzida para a
língua do País de Gales e para o grego moderno, e é usada em diversos
seminários teológicos.

Desde que saiu a sua primeira edição, o autor tem estado ocupado catorze anos
no trabalho prático de instrutor teológico. Tem adquirido mais conhecimentos e
também mais experiência como professor, e estes têm sido utilizados nesta nova
e aumentada edição, que chegou ao seu tamanho atual mediante os acréscimos
feitos durante alguns anos de ensino ministrado às diversas classes do Seminário
Teológico.

Esta edição contém quase cinqüenta por cento mais matérias que a primeira. As
discussões das doutrinas que dividem os diversos ramos da Igreja, têm sido
acrescentados extratos dos principais credos, confissões e clássicos
escritores teológicos das grandes Igrejas históricas. E o apêndice contém uma
tradução do Consensus Tigurinus de Calvino, e da Fórmula Consensus Helvética
de Heidegger e Turretino, duas confissões de muito grande interesse doutrinário
para o estudante da teologia reformada, mas pouco acessíveis.

A obra é outra vez oferecida à Igreja Cristã, não como um tratado completo
sobre teologia sistemática para uso dos proficientes, e sim como um simples
manual, adaptado às necessidades dos estudantes que tomam suas primeiras
lições nesta grande ciência, e à conveniência dos muitos trabalhadores

sérios que talvez desejem refrescar a sua memória por meio de uma revisão
sumária do terreno sobre o qual passaram nos primeiros anos de seus estudos
teológicos.

-A. A. Hodge Princeton, Newjersey 06 de agosto de 1878

- l>0,: -l : •

1
Teologia Cristã;

Suas Diversas Divisões;


Sua Relação com Outros Ramos do Conhecimento Humano

1. Que é Religião? Que é Teologia, no seu sentido cristão?

Religião, no seu sentido mais geral, é a soma das relações

que o homem sustém para com Deus, e compreende as verdades, experiências,


ações e instituições que correspondem a essas relações ou que delas provêm.

Teologia, no seu sentido mais geral, é a ciência da religião.

A religião cristã é aquele conjunto de verdades, experiências, ações e instituições


que se acham determinadas pela revelação que nos é apresentada
sobrenaturalmente nas Escrituras Sagradas. Teologia cristã é a determinação,
interpretação e defesa científica dessas Escrituras, junto com a história da
maneira pela qual as verdades nelas reveladas têm sido entendidas, e os deveres
nelas impostos têm sido cumpridos, por todos os cristãos, em todos os séculos. 1

relações orgânicas determinadas por sua gênese e sua natureza íntima.

Metodologia teológica é a ciência do método teológico. Assim como cada


divisão das investigações humanas exige um modo de tratamento peculiar, e
cada subdivisão de cada divisão geral exige certas modificações especiais de
tratamento, e que lhe são próprias, assim também a metodologia teológica tem
por fim determinar cientificamente qual o verdadeiro método geral e especial,
pelo qual convém estudar as ciências teológicas. Isso inclui duas categorias
distintas: (a) os métodos próprios para a investigação original e construção das
diversas ciências, e (b) os métodos próprios para a instrução elementar nessas
ciências.

Tudo isso deve ser acompanhado de informações críticas e históricas, e de


instruções sobre o modo de tirar proveito do imenso material literário com que
essas ciências estão ilustradas. ,?uAÍ tnou msicx/.2 m 3 4

especificamente o calvinista ou agostiniano, e toma como verdadeiros os


seguintes princípios fundamentais: Io. As Escrituras inspiradas são a regra e
padrão único e infalível de todo o conhecimento religioso. 2o. Cristo e Sua obra
são o centro ao redor do qual se dispõe, em ordem, toda a teologia cristã. 3o. A
salvação trazida à luz no evangelho é sobrenatural e provém da LIVRE GRAÇA DE
DEUS. 4o. Todo conhecimento religioso tem uma finalidade prática. As ciências
teológicas, longe de terem a si mesmas como seu fim absoluto, têm o fim nobre
de fazer os homens progredirem na santidade pessoal, de habilitá-los a servir
melhor a seus semelhantes, e de PROMOVER A GLÓRIA DE DEUS.

As vantagens de agruparmos assim as ciências teológicas são óbvias e grandes.


As relações de todas as verdades são determinadas pela sua natureza, donde se
segue que sua natureza é revelada pela exibição de suas relações. Essa
exibição tenderá também a alargar o horizonte mental do estudante, a incitá-lo a
adquirir largueza de cultura, e a impedir que exalte indevidamente ou cultive
exclusivamente qualquer ramo especial, pervertendo assim esse ramo por olhá-lo
fora de suas limitações e dependências naturais.

4. Quais as perguntas fundamentais a que toda a ciência teológica se propõe a


dar respostas e que, por isso, determinam a ordem em que se seguem as diversas
divisões dessa ciência geral?

Ia. Existiria um Deus? 2a. Teria Deus falado? 3a. Que disse Deus? 4a. Como é
que os homens, no tempo passado, entenderam a Palavra de Deus e realizaram
praticamente, nas suas pessoas e instituições, as intenções de Deus? 2

e, mais ou menos diretamente, com toda a história humana. E é evidente também


que, visto que toda a verdade é um só todo, todas as verdades e deveres
revelados se acham ligados indissoluvelmente a todos os ramos do conhecimento
humano e a todas as instituições da sociedade humana. Segue-se pois, que a
ciência teológica em nenhum ponto pode ser separada da ciência em geral, e que
algum conhecimento, de todos os ramos do conhecimento humano, acha-se
compreendido necessariamente em qualquer sistema de enciclopédia teológica
como auxiliar das próprias ciências teológicas. Algumas dessas ciências
auxiliares sustêm relações especiais para com certas ciências teológicas e estão
relacionadas muito remotamente com outras. Convém, porém, atribuir-lhes
um lugar próprio e separado por constituirem, em geral, uma disciplina
preparatória e auxiliar da ciência de teologia considerada como um todo.

6. Quais as principais divisões da classificação proposta das ciências


teológicas? .

Io. Ciências auxiliares no estudo de teologia.


2o. Apologética - abrangendo as respostas às duas perguntas: existiria um Deus?
Teria Deus falado?

3o. Teologia exegética - abrangendo a determinação crítica das ipsissima verba


da revelação divina e a interpretação do seu sentido.

4o. Teologia sistemática - abrangendo o desenvolvimento em um sistema


completo e conseqüente do conteúdo inteiro dessa revelação, e sua subseqüente
elucidação e defesa.

5o. Teologia prática - abrangendo os princípios e leis revelados nas Escrituras


para direção dos cristãos: (a) na promulgação dessa revelação divina, assim
averiguada e interpretada, e (b) em levarem todos os homens ao cumprimento
prático dos deveres nela impostos e (c) na fruição das bênçãos que ela confere.

6o. Teologia histórica - abrangendo a história do desenvol-

vimento durante todos os séculos passados e entre todos os povos, dos elementos
teóricos e práticos dessa revelação: (1) na fé e (2) na vida da Igreja.

7. Quais os ramos principais do conhecimento humano, auxiliar es no estudo de


teologia?

Io. História universal, que é ramo essencial a todos os demais ramos da ciência
humana e, em particular, as histórias do Egito, da Babilônia, da Assíria, da
Grécia, de Roma e da Europa medieval e moderna, que são auxiliares
especialmente da ciência teológica. .<■.!.] vo;nta. .

2o. A arqueologia no seu sentido mais compreensivo, abrangendo a interpretação


de inscrições, monumentos, moedas e remanescentes das artes e as ilustrações
recolhidas daí e de todas as outras fontes acessíveis, da distribuição geográfica e
condições físicas, e das instituições e costumes políticos, religiosos e sociais, de
todos os povos e de todos os séculos.

3°.A etnologia - a ciência das divisões da família humana em raças e nações, e da


sua dispersão sobre a face da terra - que indaga de sua origem e afiliações, das
variedades do seu caráter físico, intelectual, moral e religioso, e também das
causas e condições que modificam essas variações.
4o. A filologia comparativa - a ciência que, tomando como ponto de partida os
grupos naturais das línguas humanas, investiga as relações e origens das línguas
e dialetos; e, remontando além das eras em que se principia a história humana,
acha aí provas da unidade de raças agora separadas, e os elementos de
civilizações já há muito extintas, e os fatos de mudanças históricas que não
deixaram outros vestígios.

5°.A ciência da religião comparativa {religiões comparadas) - o estudo crítico e


a comparação da história, das crenças, do espírito, dos princípios, das
instituições e do caráter prático de todas as religiões étnicas, investigando a luz
que elas lançam sobre (a) a natureza e a história humanas, (b) o governo moral

de Deus, e (c) a revelação sobrenatural contida nas Escrituras


Sagradas. ..vim \ -ont-.-

6o. A filosofia - a base e mestra de todas as ciências meramente humanas.


Abrange a história da origem e do desenvolvimento de todas as diversas escolas
de filosofia - as antigas, as da idade média e as modernas - o estudo crítico e
a comparação dos princípios, métodos e doutrinas, e da extensão e caráter da sua
influência respectiva sobre todas as outras ciências e instituições, especialmente
sobre as que são políticas e religiosas, e mais especialmente ainda sobre as que
são definitivamente cristãs.

7o. A psicologia - ou essa divisão da ciência experimental que descobre as leis da


ação da mente humana, como ela se manifesta sob condições normais (a) nos
fenômenos da consciência e ação individuais, e (b) nos fenômenos da vida social
e política. ■• - >:. ■ i«.

8o. A estética, ou a ciência das leis do belo em todas as suas formas de música,
retórica, arquitetura, pintura, etc., os princípios e a história de todas as diversas
divisões da arte.

9°. As ciências físicas, seus métodos gerais e especiais; sua gênese,


desenvolvimento e tendências atuais; sua relação com a filosofia, especialmente
com o Deísmo e com a religião natural, com a civilização e com a história e
doutrinas consignadas nas Escrituras.

10°. A estatística, cujo fim é dar-nos elementos completos sobre o estado atual
da raça humana no mundo, a respeito de tudo o que se pode sujeitar a
comparações - quanto ao seu número e estado físico, intelectual, religioso, social
e político de civilização, comércio, literatura, ciências, artes, etc.; elementos dos
quais estão sendo desenvolvidos gradualmente as formas imaturas da ciência
social e da economia política.
o VÍ . > . , • .

8. Que é que se abrange sob o título de Apologética?

Este ramo divide-se em dois títulos: (1) Existiria um Deus? (2) Teria Deus
falado? Ele inclui:

■ Io. A prova da existência de Deus, isto é, de uma Pessoa extra--terrena,


transcendente e ao mesmo tempo imanente; criando, conservando e governando
todas as coisas segundo o seu plano eterno. Isto envolve a discussão e refutação
de todos os sistemas antiteístas, como sejam o ateísmo, o panteísmo, o deísmo
naturalista, o materialismo, etc. ' .. - .

2o. O desenvolvimento da teologia natural, compreende a relação em que Deus


está como Governador moral para com os agentes inteligentes e responsáveis, e
as indicações da Sua vontade e propósito e, por conseguinte, dos deveres e
destinos dos homens até onde é possível descobri-los à luz da natureza.

3As provas do cristianismo, compreendendo...

(1) A discussão do uso próprio da razão nas questões religiosas.

(2) A demonstração da possibilidade a priori de uma

revelação sobrenatural. ;

(3) A necessidade e probabilidade de tal revelação, tomando-se em


consideração o caráter de Deus e o estado do gênero humano segundo no-lo
revela a luz da natureza.

(4) A prova positiva do fato real de que tal revelação foi

dada: (a) mediante os profetas do Velho Testamento (b) mediante os profetas do


Novo Testamento, e sobretudo, (c) na Pessoa e obra de Cristo. Isto envolve
naturalmente a discussão crítica de todas as provas que dizem respeito a este
ponto, tanto externas como internas, históricas, racionais, morais e espirituais,
naturais e sobrenaturais, teóricas e práticas; e a refutação de toda a crítica
histórica e racionalista que tem impugnado o fato da revelação, ou a integridade
dos escritos que a contêm. Muito daquilo que se acha mencionado aqui estará
necessariamente compreendido também sob os títulos de teologia sistemática e
teologia exegética. >

9. O que a Teologia Exegética compreende?

Quando os fatos: (1) que existe um Deus, e que (2) Deus nos tem falado - forem
estabelecidos, será necessário ainda

responder à pergunta: o que nos tem dito Deus? Teologia exe-gética é o título
geral daquela divisão da ciência teológica que tem por fim a interpretação das
Escrituras como a Palavra de Deus, deixada por escrito em linguagem humana, e
que nos foi transmitida por canais humanos; e para conseguir esse fim, o assunto
de Interpretação procura recolher e organizar todo o conhecimento que para isso
é necessariamente introdutório. Isso inclui as respostas a duas perguntas: (1)
Quais os livros que formam o cânon, e quais as palavras exatas contidas
nos registros originais dos escritores desses diversos livros? (2) Qual o sentido
dessas palavras divinas, assim averiguadas ?

As respostas a todas as perguntas preliminares à interpretação, propriamente


ditas, pertencem ao título introdução, e esta se divide em: (1) introdução geral,
que inclui toda informação preliminar à interpretação que tem relação com
a Bíblia, como um todo, ou com cada um dos Testamentos, como um todo; e (2)
introdução especial, que inclui toda a preparação necessária para a interpretação
de cada um dos livros da Bíblia, em separado. . .....

A. Introdução Geral compreende:

Io. A crítica superior /alta crítica/, ou o exame das provas que existem e de toda
espécie, em apoio da autenticidade de cada um dos livros do cânon sagrado.

2o. A crítica do texto/crítica textual, a qual, por uma comparação dos melhores
manuscritos e das versões antigas, pelas provas internas, e pela história crítica do
texto desde o seu primeiro surgimento até ao tempo presente, procura determinar
as ipsissima verba dos autógrafos originais dos escritores sagrados.
3o. A Filologia bíblica, que dá respostas às perguntas: por que foram usadas
diversas línguas nos escritos sagrados? Por que as línguas hebraica e grega?
Quais são as características especiais dos dialetos dessas línguas realmente
usados, e qual a sua relação para com as famílias de línguas a que elas
pertencem? Quais eram as características especiais dos

escritores sagrados individualmente, quanto ao dialeto, ao estilo, etc.?

4o.Arqueologia bíblica, compreendendo a geografia física e política dos países


bíblicos, durante o transcurso da história bíblica e determinando a condição
física, etnológica, social, política e religiosa do povo entre o qual se originaram
as Escrituras, junto com a descrição de seus costumes e instituições, e da relação
em que estes estavam para com os de seus antepassados e contemporâneos.

5o. Hermenêutica, ou a determinação científica dos princípios e regras de


interpretação bíblica, compreendendo (1) os princípios lógicos, gramaticais e
retóricos que determinam a interpretação da linguagem humana, em geral; (2) as
modificações desses princípios apropriadas à interpretação das formas
específicas da linguagem humana, e.g., história, poesia, profecia, parábola,
símbolo, etc., e (3) as outras modificações desses princípios apropriados à
interpretação dos escritos inspirados sobrenaturalmente.

6o. Inspiração bíblica. Depois de ter a apologética estabelecido o fato de serem


as Escrituras Sagradas o veículo de uma revelação sobrenatural, é necessário que
discutamos e determinemos a natureza e a extensão da inspiração bíblica
até onde esta é determinada pelo que as Escrituras mesmas dizem sobre este
ponto, e pelos fenômenos que elas representam.

7o. A História da Interpretação, incluindo a história das antigas e modernas


versões e escolas de interpretação, ilustrada por uma comparação crítica dos
mais importantes comentários.

B. Introdução especial, trata de cada livro da Bíblia por si e fornece sobre o


seu dialeto, autor, ocasião, desígnio e recepção, toda a informação necessária
para a sua interpretação acurada.

C. Exegese própria é a aplicação de todo o conhecimento recolhido, e de todas


as regras desenvolvidas nas precedentes divisões da introdução à interpretação
do texto sagrado, assim como este se acha nas suas conexões originais dos
Testamentos, livros, parágrafos, etc.

Seguindo as leis da gramática, o usus loquendi das palavras, a analogia das


Escrituras e a direção do Espírito Santo, a exegese procura discernir a
mentalidade do Espírito como se acha expressa nos períodos inspirados,
arranjados na ordem em que os achamos.

Há diversas divisões especiais classificadas sob o título geral de teologia


exegética que envolvem, até certo ponto, a classificação e a combinação dos
testemunhos bíblicos em tópicos e assuntos, que são a característica distintiva
de teologia sistemática. Essas divisões são:

Ia. Tipologia, que compreende a determinação científica das leis dos símbolos e
tipos bíblicos e sua interpretação, especialmente os do ritual mosaico
relacionado com a Pessoa e a obra de Cristo.

2a. Cristologia do Velho Testamento, a exposição crítica da idéia messiânica,


como vem desenvolvida no Velho Testamento. ■ • ' :
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3a. Teologia bíblica, que investiga a evolução gradual dos diversos elementos
das verdades reveladas, desde a sua primeira sugestão, através de cada fase
sucessiva, até à sua mais completa manifestação no texto sagrado; e exibe as
formas e conexões peculiares em que essas diversas verdades são
apresentadas pelos diversos escritores inspirados.

4a. O desenvolvimento dos princípios de interpretação profética, e sua aplicação


à construção de um esboço das profecias dos dois Testamentos. Notes on New
Testament Litera-ture, por Dr. J. A. Alexander.

10. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Sistemática?

Como o dá a entender o seu nome, teologia sistemática tem por fim reunir tudo
quanto as Escrituras ensinam sobre o que devemos crer e fazer, e apresentar
todos os elementos desse ensino na forma de um sistema simétrico. A mente
humana procura sempre unidade, em todos os seus conhecimentos. A

verdade de Deus é una, e o conteúdo inteiro de todas as revelações naturais e


sobrenaturais não pode deixar de constituir um só sistema completo em si, cada
parte do qual se acha relacionada orgânicamente com todas as outras partes.
O método de construção é indutivo. Tem por base os resultados da exegese. Seus
dados são passagens das Santas Escrituras, averiguadas e interpretadas. Esses
dados, quando interpretados corretamente, revelam suas próprias relações e seu
lugar no sistema do qual a Pessoa e a obra de Cristo são o centro. E, assim como
o conteúdo da revelação está em relação íntima com todos os outros ramos dos
conhecimentos humanos, a tarefa da teologia sistemática envolve,
necessariamente, a demonstração e a ilustração da harmonia que existe entre
todas as verdades reveladas e toda a ciência legítima, quer material, quer
psicológica, toda a verdadeira filosofia especulativa e toda a verdadeira filosofia
moral e filantropia prática.

A teologia sistemática compreende: A. A construção de um completo sistema de


fé e deveres, composto do conteúdo inteiro da revelação. B. A história desse
processo de construção, como ele prevaleceu na Igreja, no passado. C. polêmica.

A. A construção de um completo sistema composto do conteúdo da revelação.


Isso compreende o tratamento científico de: (a) todas as matérias de fé reveladas;
e (b) todos os deveres impostos.

No modo de arranjar os tópicos, a maior parte dos teólogos têm seguido o que o
Dr. Chalmers denomina - método sintético. Tomando como ponto de partida a
idéia e a natureza de Deus, reveladas nas Escrituras, consideram seus
propósitos eternos e seus atos temporais nas obras da criação, providência e
redenção, até a consumação final. O Dr. Chalmers prefere, porém, o que ele
chama - método analítico, e toma por ponto de partida os fatos da experiência e
da luz da natureza, e a condição atual e moralmente enferma do homem, e daí
vai

subindo até chegar à redenção e ao caráter de Deus, como nela é revelado.

Quando se segue o primeiro destes métodos, agrupam-se comumente todos os


elementos do sistema, sob os seguintes títulos:

Io. Teologia propriamente dita: compreendendo a existência, os atributos e a


personalidade triúna de Deus, juntamente com os Seus propósitos eternos e os
atos temporais de criação e providência.

2o. Antropologia (a doutrina do homem): compreendendo a criação e a natureza


do homem, seu estado original, queda e conseqüente ruína moral. Isto abrange a
psicologia bíblica e a doutrina bíblica sobre o pecado, sua natureza, origem e
modo de propagação.

3o. Soteriologia (a doutrina da salvação): que inclui o plano, a execução e a


aplicação, e os efeitos gloriosos da salvação dos homens. Isso abrange a
Cristologia (a doutrina sobre Cristo): a encarnação, a constituição da Pessoa de
Cristo, Sua vida, morte e ressurreição, juntamente com a obra própria do
Espírito Santo, os meios de graça, a Palavra de Deus e os sacramentos.

4o. Ética cristã: abrangendo os princípios, regras, motivos e auxílios dos deveres
humanos revelados na Bíblia, como são determinados (a) pelas relações naturais
que o homem tem como homem com os seus semelhantes, e (b) suas
relações sobrenaturais como homem remido.

5o. Escatologia (a ciência das últimas coisas): compreendendo a morte, o estado


intermediário da alma, o segundo advento, a ressurreição, o juízo geral, o céu e o
inferno.

6o. Eclesiologia (a ciência da Igreja): incluindo a determinação científica de tudo


quanto as Escrituras ensinam a respeito da Igreja visível e invisível, em seu
estado temporal e no eterno; a idéia da Igreja - sua verdadeira definição,
sua constituição e organização, seus oficiais e suas funções. A comparação e
crítica de todas as modificações da organização eclesiástica que tenham existido,
juntamente com sua gênese,

sua história e seus efeitos práticos. • ...... -

B. História das doutrinas: que compreende a história de cada uma destas


grandes doutrinas, a investigação de seu primeiro aparecimento e subseqüente
desenvolvimento através das controvérsias a que cada doutrina deu lugar, e as
Confissões em que se acha definida.

C. Polêmica ou teologia controversial: incluindo a defesa do verdadeiro


sistema de doutrina, tanto no seu todo como também em cada um de seus
elementos constitutivos contra as perversões dos partidos heréticos, dentro do
âmbito da Igreja geral. Isso abrange: (a) Os princípios gerais e o
verdadeiro método de controvérsias religiosas, (b) A definição do verdadeiro
status quoestionis em cada controvérsia e uma exposição das fontes de
testemunho e dos métodos defensivos e ofensivos de vindicar-se a verdade, (c) A
história das controvérsias.

11. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Prática?

Teologia prática é tanto uma arte como uma ciência. Como arte, tem por fim a
publicação eficaz do conteúdo da revelação entre todos os homens e a
perpetuação, extensão e edificação do reino terrestre de Deus. Como ciência, tem
como sua província as leis e os princípios revelados da arte acima definida. Por
isso, assim como a teologia sistemática baseia-se numa cabal exegese, ao mesmo
tempo científica e espiritual, assim também a teologia prática baseia-se nos
grandes princípios desenvolvidos pela teologia sistemática, enquanto que a
divisão de eclesiologia é terreno comum a essas duas divisões: é o produto de
uma delas e o fundamento da outra.

Inclui as seguintes divisões principais:

1a. A idéia e desígnio da Igreja e de seus atributos revelados divinamente.

2a. A determinação da Constituição divinamente prescrita da Igreja, e dos


métodos de sua administração, com a discussão

e refutação de todas as outras formas de organização eclesiástica que existiram


ou existem, sua história, e as controvérsias que têm ocasionado.

3a. A discussão da natureza e extensão da descrição que Cristo deixou à Sua


Igreja para ajustar os métodos de organização e administração eclesiástica às
mutáveis condições sociais e históricas dos homens.

4a. A determinação das condições sob as quais uma pessoa pode fazer-se
membro da Igreja, e a relação para com Cristo envolvida no fato de ser membro
dela, juntamente com os privilégios e deveres, absolutos e relativos, das diversas
classes de membros. A relação das crianças batizadas com a Igreja e os deveres
relativos dos pais e da Igreja em relação a elas.

5a. Os Oficiais da Igreja - extraordinários e ordinários; temporais e perpétuos:

(1) Sua vocação e ordenação; sua relação para com Cristo

e a Igreja. ' à u; • ’ '


(2) Suas funções: ' , ;■

(a) Como mestres, incluindo:

(i) Catequese: sua necessidade, princípios e história.

(ii) Escolas Dominicais. Os deveres dos pais e da

. Igreja quanto à educação religiosa das crianças.

■ / (iii) Retórica sagrada, homilética e elocução do

■ , púlpito.

(iv) Literatura cristã. Folhas, periódicos e livros permanentes.

■ , (b) Como diretores do culto, incluindo:

(i) Liturgias - seu uso, abuso e história.

■i.iiii (ii) Formas livres de oração.

(iii) Salmodia - inspirada e não inspirada, seu uso e história.

■ .j'f,» (iv) Música sagrada - vocal e instrumental, seu uso

e história. . .

(c) Como regentes:

(i) O ofício, qualificação, deveres e autoridade bíblica

dos presbíteros regentes. -

(ii) O ofício, qualificação, deveres, modo de eleição e ordenação, e autoridade


bíblica do ofício de bispo ou pastor, do Novo Testamento.

(iii) A Junta de presbíteros /Conselho ou Consistório: sua constituição e


funções. A teoria, regras e métodos

• . práticos de disciplina na Igreja.


(iv) O presbitério e sua constituição e funções. A teoria, regras e precedentes
práticos que regulam a ação dos tribunais eclesiásticos, no exercício do direito
constitucional de revista e inquirição em tudo o que diz respeito a processos,
queixas e apelações eclesiásticos.

; (v) O Sínodoe a Assembléia Geral-sua constituição

e funções. Os princípios e modos de proceder de Comissões, Comissionários,


Mesas Administrativas, etc.

Isso leva às funções da Igreja como um todo, e à autoridade para distinções


denominacionais, aos usos e abusos dessas distinções, e às relações em que estão
as diversas denominações, umas para com outras. ■

Io. Estatística eclesiástica, incluindo nossa própria Igreja, as outras Igrejas e o


mundo.

2o. Economia cristã, social e eclesiástica, incluindo os deveres de administração


cristã, consagração pessoal, e beneficência sistemática. A relação da Igreja com
sociedades voluntárias: associações de moços cristãos, etc.

3o. A educação do ministério, a direção, constituição e administração de


Seminários teológicos.

4o. Missões internas, incluindo a evangelização agressiva, a sustentação de


ministros entre os pobres, a extensão da Igreja e a construção de edifícios para
Igrejas.

5o. A relação da Igreja com o Estado, e a verdadeira relação do Estado com a


Igreja, e a condição real da lei comum e estatuidade em relação à propriedade
eclesiástica e à ação

dos tribunais eclesiásticos no exercício da disciplina, etc. As obrigações dos


cidadãos cristãos. A relação da Igreja com a civilização, as reformas morais, as
artes, ciências, cultura social, etc. . '■ - ■<

6o. Missões no estrangeiro, em todos os seus ramos.

Veja Lectures on TheologicalEncyclopedia and Methodology, pelo Rev. John Mc


Clintock, D. D., L. L. D., editado por J. T. Short, R. D. Biblioteca Sacra, vol.
1,1844; Theological Encyclopedia and Methodology, pelo Prof. Tholuck, editado
pelo Prof. E. A. Park.

12. Que é que se acha compreendido sob o título de Teologia Histórica?

Segundo a evolução lógica de todo o conteúdo das ciências teológicas, a


interpretação da letra das Escrituras Sagradas e a construção do sistema inteiro
das verdades e deveres relacionados que nelas são revelados, precisam preceder
à história do desenvolvimento dessa revelação na vida e fé da Igreja, assim como
a fonte precede ao rio que dela emana. No estudo, porém, das ciências
teológicas, a história as deve preceder e lançar fundamento para todas as demais.
E só a história que nos dá as Escrituras em que se acha contida essa revelação,
e também os meios pelos quais podemos averiguar, criticamente, os diversos
livros canônicos e suas ipsissima verba. A mesma fonte devemos também os
nossos métodos de interpretação e seus resultados, como estes se acham
ilustrados na imensa quantidade de literatura teológica acumulada até agora
e associada aos nossos credos e confissões, os documentos relativos às
controvérsias e, por conseguinte, os documentos que mostram como o nosso
sistema de doutrina se desenvolveu gradualmente. Na ordem de produção e
aquisição, a história vem primeiro, enquanto que na ordem de uma exposição
lógica das ciências teológicas constitutivas, ela tem a honra de abrir caminho
para a série inteira. ->•\

A teologia histórica divide-se em teologia histórica bíblica

e eclesiástica. A primeira tem por fonte, principalmente, os livros inspirados e


continua até o encerramento do cânon do Novo Testamento. A Segunda principia
onde a primeira acaba, e continua até o tempo presente.

A história bíblica subdivide-se em: Io. História do Velho Testamento, e inclui as


eras: (1) Patriarcal, (2) Mosaica e (3) Profética, juntamente com a (4) História do
povo escolhido durante o intervalo entre o Velho e o Novo Testamentos. 2o.
O Novo Testamento, incluindo (1) a vida de Cristo, (2) a fundação da Igreja
Cristã pelos apóstolos, até ao fim do primeiro século.

Para o estudo da história eclesiástica, como ciência, são necessários diversos


ramos preliminares de estudo.
Io. Algumas das ciências auxiliares já enumeradas é preciso citarmos como
exigidas específicamente nesta conexão. São: (1) geografia antiga, medieval e
moderna. (2) cronologia. (3) antigüidades de todos os povos incluídos na área
pela qual se estendeu, em qualquer tempo, a Igreja. (4) estatística -mostrando
qual a condição do mundo, em qualquer período dado. (5) o curso inteiro de
história geral.

2o. As fontes de onde se deriva a história eclesiástica devem ser investigadas


criticamente. (1) Fontes monumentais, como sejam: (a) edifícios (b) inscrições
(c) moedas, etc. (2) Fontes documentais, que são: (a) públicas, como as atas de
concílios, as breves decretais e bulas de papas; os arquivos de governo, os
credos, confissões, catecismos e liturgias de Igrejas, etc.; (b) Documentos
particulares, como literatura contemporânea de toda qualidade, brochuras,
biografias, anais, e relatórios e compilações mais modernas.

3o. A história da literatura sobre a história eclesiástica, desde Eusébio até


Neander, Schaff e Kurtz. Os métodos que têm sido e devem ser seguidos na
colocação em ordem do material da história eclesiástica.

O método que sempre foi e provavelmente sempre será seguido é uma


combinação dos dois métodos naturais: (a) o cronológico e (b) o tópico.

O Dr. Mc Clintock diz que o princípio fundamental, segundo o qual se devem


arranjar os materiais de história eclesiástica, é a distinção entre a vida da Igreja e
sua fé. As duas divisões são, pois: (1) história da vida da Igreja, ou
história eclesiástica propriamente dita, e (2) história do pensamento da Igreja, ou
história das doutrinas.

Ia. A história da vida da Igreja trata de pessoas, comunidades e eventos, e deve


ser tratada segundo os métodos ordinários de composição histórica. ■,. . ..

2a. A história do pensamento da Igreja compreende:

(1) patrística, ou a literatura dos chamados “Pais” da Igreja; e patrologia, ou a


exibição científica de sua doutrina.

Esses “Pais” da Igreja dividem-se em três grupos: (a) apostólicos, (b)


antenicenos, e (c) pós-nicenos, terminando com Gregório, o grande, entre os
latinos, 604 d.C., e com João Damasceno, entre os gregos, 754 d.C. Este estudo
envolve: (a) a discussão do próprio uso dos escritos desses Pais da Igreja, e sua
autoridade legítima nas controvérsias modernas; (b) uma história completa de
sua literatura e das edições principais de suas obras, e (c) significado, valor e
doutrina de cada um desses Pais, individualmente.

(2) Arqueologia cristã, que trata dos costumes, culto e disciplina da Igreja
Primitiva, e da história do culto, artes, arquitetura, poesia, pintura, música, etc.,
cristãos.

(3) História das doutrinas, ou a história crítica da gênese e do desenvolvimento


de cada elemento do sistema doutrinário da Igreja, ou de qualquer de seus ramos
históricos, com a história também de todas as formas heréticas de doutrina,
das quais a verdade tem sido separada, e a história das controvérsias por meio
das quais foi efetuada a eliminação. A isto acompanha naturalmente a história
crítica de toda a literatura da história das doutrinas, dos princípios aceitos, dos
métodos seguidos e do trabalho feito.

(4) Simbólica, que envolve: (a) a determinação científica da necessidade e usos


de Credos e Confissões públicos, (b) a

história das ocasiões, da gênese e recepção, autoridade e influência de cada um


dos Credos e Confissões da cristandade. (c) o estudo do conteúdo doutrinário de
cada Credo e de cada grupo de Credos separadamente, e (d) simbólica
comparativa, ou estudo comparativo de todas as Confissões da Igreja, e
a exibição sistemática de todos os pontos em que respectivamente concordam e
discrepam entre si. ' ;

(TheologicalEncyclopedia, por Mc Clintock.Notes onEccle-siastical History, por


Dr. J. A. Alexander, editado pelo Dr. S. D. Alexander.)
: ,'_V ■ V'‘ ! ... . : M ' íi1 Ví!Í< i. '

/. .....

i
1

Que éEnciclopédia Teológica? Que éMetodologia Teológica?

Enciclopédia teológica (de um termo grego que significa

o círculo inteiro da educação geral), apresenta ao estudante o círculo inteiro das


ciências especiais que têm por fim descobrir, elucidar e defender o conteúdo da
revelação contida nas Escrituras Sagradas, e procura apresentar essas ciências
nas

Qual a posição que, numa enciclopédia de ciências teológicas, é preciso dar a


outros ramos do conhecimento humano?

E evidente que, visto que a revelação sobrenatural que aprouve a Deus dar-nos
veio a nós em uma forma histórica, essa história, bem como a da Igreja Cristã, é
ligada inseparável

SffiUOTFCA ÂÜBREY ÇLARK 13

Até onde seria possível a classificação científica de todas as ciências


teológicas? E por que é desejável que se procure fazer tal classificação?

Tal classificação pode aproximar-se da perfeição só na proporção em que essas


ciências se aproximem, elas mesmas, da sua forma final e absoluta. Atualmente
toda tentativa nesse sentido só pode aproximar-se mais ou menos de um ideal
que não se pode alcançar no estado atual dos conhecimentos, nesta vida. O bom
êxito comparativo de cada tentativa separada depende também, necessariamente,
da justeza comparativa dos princípios teológicos gerais em que se baseia. É
evidente que os que tomarem a Razão, os que tomarem uma Igreja inspirada, e
os que tomarem as Escrituras inspiradas como fonte e norma de todo o
conhecimento divino hão de, necessariamente, configurar as ciências teológicas
nos diversos fundamentos em que as fizerem assentar.

4
O ponto de vista adotado neste livro é o evangélico, e
Origem da Idéia de Deus e Prova da Sua Existência

1. Qual a distinção entre uma definição nominal e uma definição real? E qual a
verdadeira definição do termo “Deus”?

Uma definição nominal explica simplesmente a significação do termo usado; e


uma definição real explica a natureza daquilo a que se aplica o termo usado.

A derivação da palavra Deus (em português e latim) e Theos (em grego) tem sido
comumente atribuída ao sânscritoDrá -dar “luz”. Mas Curtis, Cremer e outros
derivam-na de Thes em thessesthai - “implorar”. Theos é “Aquele a quem se
faz oração”.

A palavra Deus é muitas vezes usada em sentido panteísta, para significar a base
impessoal, inconsciente de toda existência, e por muitos, para designar a causa
primária desconhecida e que se não pode conhecer, do mundo existente. E por
isso que tantos especuladores, que negam real ou virtualmente a existência do
Deus da cristandade, assim mesmo repudiam indignados o nome ateístas, por
admitirem a existência de uma substância que existe por si, ou de uma causa
primária a que dão o nome Deus, denegando-lhe, porém, a posse
das propriedades pessoais que, em geral, lhe são atribuídas pelos que fazem uso
desse termo.

Mas, como questão de fato, em conseqüência da predominância de idéias cristãs


na literatura das nações civilizadas durante os últimos dezoito séculos, o termo
“Deus” é

empregado geralmente no sentido definido e permanente de um Espírito eterno,


absolutamente perfeito, livre, pessoal, que existe por si mesmo, e é distinto do
mundo que Ele criou e sobre o qual é soberano.

O homem que nega a existência de tal Ser, nega a Deus.


- V ; ... . . .

2. Como se pode construir uma “real” definição de Deus?

E evidente que Deus pode ser definido só até onde nos é conhecido, e a condição
da possibilidade de O conhecermos é o fato de que fomos criados à Sua imagem.
E preciso que toda definição de Deus pressuponha o fato de que, em
algum sentido essencial, Ele e Suas criaturas inteligentes são seres do mesmo
gênero. Deus é definido, pois, dizendo-se o Seu gênero e Suas diferenças
específicas. Quanto ao Seu gênero, é um Espírito inteligente e pessoal. Quanto a
Suas diferenças específicas, aquilo que O constitui Deus, Ele é infinito, eterno e
imutável, em Sua existência, sabedoria, poder, santidade, e todas as perfeições
em harmonia com o Seu Ser. .

3. Até onde se deve à tradição, a idéia de Deus? ' ■

E evidente que se tem chegado à idéia completa de Deus

apresentada na definição precedente, somente por meio da revelação


sobrenatural que temos nas Escrituras Sagradas. E também um fato que as três
únicas religiões teístas que em qualquer tempo têm prevalecido entre os homens
(a judaica, a maometana e a cristã) se acham ligadas historicamente com essa
mesma revelação. E em vão especular-se quanto ao resultado a que chegariam os
homens, independentemente de todos os hábitos herdados e de todas as opiniões
tradicionais, porque estamos inteiramente sem experiência ou testemunho
a respeito de qualquer espécie de conhecimentos adquiridos ou juízos formados
sob tais condições. E, além disso, é certo também que a forma que tomam as
concepções teístas, e as associações que a acompanham, são determinadas no
caso de cada comunidade, pelas tradições teológicas herdadas de seus pais.

Por outro lado, é certo que todos os homens, debaixo de todas as condições
conhecidas, e por isso, debaixo de todas as condições verdadeiramente naturais,
reconhecem espontaneamente uma existência divina que lhes é revelada, mais
ou menos claramente, na constituição e na experiência conhecidas de seus
próprios espíritos e na natureza externa. Por conseguinte, a concepção teísta não
é mais devido à autoridade, como muitas vezes se diz absurdamente, do que é
devido à crença, formada debaixo das mesmas condições de educação,
na realidade subjetiva do espírito humano, ou na realidade objetiva da matéria. A
existência do Deus automanifesto é reconhecida espontânea e universalmente, o
quê é uma prova evidente de serem claras e presentes, em toda parte, as
provas da Sua existência, e serem convincentes para todos os
homens desenvolvidos normalmente.

4. Seria INATA a idéia de Deus? Sena ela uma


verdade INTUITIVA? ' i-.c >,
As respostas dependem do sentido em que tomamos os termos respectivos. É
evidente que não há idéias “inatas” no sentido de já ter nascido criança com a
concepção do ser divino, ou qualquer outra já formada na sua mente. É
certo também que a mente humana, quando desenvolvida em condições
puramente naturais e na ausência de toda revelação sobrenatural, nunca pode
chegar a uma concepção adequada da natureza divina. Por outro lado, porém,
toda a história prova que a idéia de Deus é inata, no sentido de que as faculdades
constitucionais do espírito humano são tais que, em todas as condições naturais,
chegam ao reconhecimento, mais ou menos claro, de Deus como a causa
primária de toda existência e como o Senhor da consciência, automanifestado na
alma e no mundo. E inata por serem as provas da existência divina presentes tão
universalmente como o é a luz do dia, e por ser constitucional o processo pelo
qual se apreendem essas provas. ... .. .. ..

Se tomarmos o termo “intuição” no sentido estrito de visão direta de uma


verdade, visto à sua própria luz como verdade necessária, por um ato intelectual
que é impossível resolver em processos de pensar mais elementares, nesse caso,
a existência de Deus não é uma verdade apreendida intuitivamente pelos
homens. O processo pelo qual chegamos ao conhecimento desta verdade, quer
espontaneamente, quer por meio de um raciocínio elaborado, abrange como
elementos muitas intuições indubitáveis, mas ninguém apreende a Deus mesmo
por uma intuição direta, porque:

Io. Ainda que o reconhecimento da existência divina seja necessário, no sentido


de ser uma verdade aceita pela grande maioria dos homens que não podem
deixar de crer nela, mesmo quando querem; e embora ninguém possa deixar
de crer nela sem que faça violência à sua natureza, contudo não é uma verdade
necessária, no sentido de não se poder conceber a não existência de Deus.

2o. Porque Deus não Se nos manifesta imediata, e sim, mediatamente por meio
de Suas obras. E, no ato pelo qual a alma reconhece a Sua presença e ação, há
sempre, pelo menos implicitamente, uma inferência, uma dedução.

3o. Porque a verdadeira idéia de Deus é muito complexa, e chega-se a ela por
meio de um processo complexo, o qual, quer seja espontâneo quer não, envolve
diversos elementos que se pode analisar e descrever.

Por outro lado, é certo que Deus Se manifesta nas operações de nossas almas e
na natureza exterior de um modo análogo àquele pelo qual se nos manifestam as
almas invisíveis de nossos semelhantes, e reconhecemos a existência dEle com a
mesma certeza com que reconhecemos a dessas almas. A existência dessas
reconhecemos: (a) porque somos genericamente semelhantes aos outros, e (b)
porque seus atributos se manifestam em suas palavras e atos. E a existência de
Deus reconhecemos: (a) porque fomos criados à Sua imagem, e este fato
reconhecemos espontaneamente, (b) pela revelação que

Deus faz de Si na nossa consciência, e pelas características do mundo exterior.

“Ainda que se possa analisar o processo mental que acabamos de descrever - a


inferência teísta - esta é em si sintética. Os princípios dos quais depende acham-
se ligados entre si, de modo que o espírito os pode compreender todos em um só
ato, e inclui e aplica todos eles, necessariamente, na sua apreensão de Deus. A
vontade, a inteligência, a consciência, a razão e as idéias que elas fornecem;
causa, desígnio, bondade, infinidade, e os argumentos que têm estas idéias por
base -tudo isso junta-se nesse grande processo” - Theism, Prof. Flint, págs. 71,
72. '

5 .Se a existência de Deus é reconhecida espontaneamente por todos os homens,


em estado normal de consciência, qual a utilidade de argumentos formais para
provar essa existência? E quais são os argumentos geralmente usados?

Io. Esses argumentos são de valor como análises e verificações científicas dos
processos mentais envolvidos implicitamente no reconhecimento espontâneo
das automanifestações de Deus.

2o. São de utilidade também para indicar a legitimidade do processo contra as


críticas do ceticismo. .

3o. Confirmam e vivificam o reconhecimento espontâneo, chamando a atenção


para a extensão e variedade das provas que atestam a mesma verdade.

4o. Os diversos argumentos são convergentes antes que consecutivos. Nem todos
estabelecem os mesmos elementos da concepção teísta, mas cada um deles
estabelece independentemente seu elemento separado e assim é útil,
contribuindo: (a) como prova confirmativa de que Deus existe, e (b) como prova
complementar quanto ao que Ele é.

Constituem um todo orgânico, e são a análise e a ilustração do ato espontâneo


em virtude do qual a grande massa dos homens tem sempre reconhecido a
existência de Deus. “Se

bem que causalidade não pressupõe desígnio, nem desígnio bondade; desígnio
pressupõe causalidade, e bondade, tanto causalidade como desígnio. As provas
de inteligência são também provas de poder; e as provas de bondade o são
também de inteligência e poder. Os princípios da razão que nos obrigam a pensar
em Deus, na Suprema Inteligência Moral como um ser auto-existente, eterno,
infinito e imutável, suplementam as provas derivadas de outras fontes, e tornam
conseqüente e completa a doutrina do teísmo” - Theism, Prof. Flint, págs. 73, 74.

Os argumentos comuns serão examinados sob os seguintes títulos:

Io. Argumento Cosmológico, ou a prova da existência de Deus como causa


primária.

2o. Argumento Teleológico, ou as provas da existência de Deus fornecidas pela


ordem e adaptação que reinam no universo. .

3o. Argumento Moral, ou as provas fornecidas pela consciência moral e pela


história da raça humana.

4o. As provas fornecidas pelos fenômenos das Sagradas Escrituras e pela história
sobrenatural nela registrada.

5o. O Argumentoapriori e o testemunho que a razão dá de Deus como o Infinito


e Absoluto. .....

6. Qual é o Argumento Cosmológico?

Pode ser apresentado na forma de um silogismo, assim:

Premissa Maior- Tudo quanto principia a existir de novo, e qualquer mudança


em qualquer coisa que já existe, teve necessariamente uma causa preexistente e
adequada.

Premissa menor - O universo, em seu todo e em todas as suas partes, é um


sistema de mudanças.
! Conclusão - Logo, o universo teve necessariamente uma causa exterior a si, e a
causa última e absoluta não pode deixar de ser eterna, não causada e imutável.

Io. Quanto à premissa maior: o juízo causai é intuitivo e

absolutamente universal e necessário. Alguns especuladores, como Hume e Mill,


o têm negado teoricamente, mas tem sido empregado por eles e por todos os
demais em todos os seus raciocínios sobre a origem do mundo, como também de
tudo quanto ele contém. É um juízo inevitável, o contrário do qual nem se pode
imaginar. Alguma coisa existe agora, por conseguinte alguma coisa
necessariamente tem existido desde toda a eternidade, e aquilo que tem existido
desde toda a eternidade é a causa daquilo que existe agora.

Tem-se alegado que o juízo causai conduz apenas a uma série eterna e regressiva
de causas e efeitos. Isso, porém, é um absurdo. *

(1) 0 juízo não é que tudo teve uma causa, e sim, que tudo o que principia a
existir e toda a mudança naquilo que já existe, foi causado. Para aquilo, porém,
que é eterno e imutável, esse juízo não pede causa.

(2) Uma série eterna de causas e efeitos é absurda, porque seria simplesmente
uma série de mudanças, que é precisamente aquilo que pede uma causa, e tanto
mais imperativamente quanto mais longa é a série. Uma causa real, porém, uma
causa que satisfaça absolutamente ao juízo causai, não pode ser nem uma
mudança nem uma série de mudanças, e sim alguma coisa não causada, eterna e
imutável.

Como questão de fato, é inegável que todos os filósofos e homens de ciência,


sem nenhuma exceção, postulam estes princípios. Eles todos postulam uma
causa eterna, auto-existente e imutável do universo, quer seja um espírito
pessoal, quer átomos materiais, quer uma alma mundi inconsciente, inteligente,
em união com a matéria.

2o. Quanto à premissa menor: o fato de ser o universo, em seu todo e em todas as
suas partes, um sistema de mudanças, é ensinado por todos os princípios e lições
da ciência moderna. Todas as descobertas nos campos da geologia e da
astronomia, e todas as especulações, como sejam - a hipótese nebulosa e a da
evolução - têm esse princípio na sua própria essência.
Mas John Stuart Mill, no seuEssay on Theism, págs. 142 e 143, diz: “Há na
natureza um elemento permanente, como também um elemento variável; as
mudanças são sempre os efeitos de mudanças anteriores; as existenciais
permanentes porém, até onde as conhecemos, de modo algum são efeitos... Há
em todos os objetos outro elemento que é também permanente, a saber, a
substância ou substâncias específicas e elementares de que eles consistem, e suas
propriedades são inerentes. Não se sabe quando essas começam a existir.
Dentro do tempo a que remontam, os conhecimentos humanos não tiveram
princípio, e por conseguinte, tampouco causa; embora eles sejam as causas ou
concausas de tudo quanto sucede”. Sempre que na explicação de um fenômeno
físico se remonta à sua causa, acha-se que esta consta de uma certa
quantidade de força combinada com certas colocações... A força em si
é essencialmente uma e sempre a mesma, e dela existe na natureza uma
quantidade fixa que, se a teoria da conservação das forças é verdadeira, nunca
aumenta nem diminui. Eis, pois, nas mudanças da natureza material um
elemento permanente, que parece ter todas as características daquele mesmo que
estamos procurando. E a isso pois que, segundo parece, devemos atribuir o
caráter de Causa Primária, se há coisa que mereça essa distinção - Essay on
Theism, págs. 144, 145.

RESPONDEMOS: (1) A existência de “Energia” ou “Força”, em qualquer de


suas formas conversíveis, e separada da matéria, é absolutamente impossível
imaginar-se. Este fato é reconhecido como uma indubitável verdade científica
por Stewart e Tait (Unseen Universe, pág. 79). (2) E um fato óbvio que toda a
luz e calor do sol e das estrelas, salvo uma fração muito diminuta, sai para o
espaço e nunca volta para esses corpos. E um fato também que o movimento
visível de todos os grandes corpos do universo está sendo retardado
gradualmente por alguma coisa que se pode chamar “fricção etérea”, e que afinal
tombarão todos juntos e constituirão, por agregações sucessivas, uma só massa.
“Enfim, a degradação da energia do

universo visível procede,paripassu, com a agregação de massa. O próprio faro,


pois, de serem de tamanho finito as grandes massas do universo visível, torna
certo que esse processo não pode ter continuado desde toda a eternidade ou, em
outras palavras, o universo visível necessariamente teve princípio no tempo”.
Porque: (a) ainda há energia em quantidades finitas e não difusa; e porque (b) a
matéria do universo existe ainda em massas separadas. Assim pois, a própria lei
da correlação de energia ou força para a qual o sr. Mill apela, prova,
quando realmente aplicada, que o universo teve princípio e terá fim (Stewart e
Tait, Unseen Universe, pág.166). (3) Também o seu postulado de que a matéria
do universo, em seus últimos átomos, é eterna e imutável, não está provado e
está em contradição com a analogia científica. Clark Maxwell (em seu discurso
como presidente daBritishAssociationforAdvancement of Science, 1870,) diz: “A
igualdade exata de cada molécula com todas as demais moléculas da mesma
substância, dá-lhe, como bem o disse Sir John Herschell, o caráter essencial de
um objeto fabricado; e isso é incompatível com a idéia de ser ela eterna e auto-
existente”. (4) Como questão de fato, todas as teorias evolutivas sobre a gênese
do universo postulam necessariamente um princípio e uma neblina primordial e
luminosa. Mas essa neblina luminosa não pode ser a Primeira Causa que o nosso
juízo causai pede, porque não é eterna e imutável. Se fosse eterna, estaria
inteiramente desenvolvida; e se estivesse inteiramente desenvolvida, não poderia
desenvolver-se ainda para formar o universo. Se fosse imutável, não estaria
sujeita a mudanças; e se não é imutável, é, assim como o universo que se
desenvolve dela, um estado transitório da matéria, pedindo como todas as outras
mudanças, uma causa.

7. Qual o Argumento Teleológico?

Teleologia (telos - fim, e logos - discurso) é a ciência das causas finais, ou dos
propósitos ou desígnios, como estes se acham exibidos na natureza, na adaptação
das partes aos

inteiros, dos meios aos fins e dos órgãos aos seus usos. É chamado também
argumento baseado no Desígnio; afinal é baseado no reconhecimento das
operações de uma causa inteligente na natureza. Pode ser apresentado sob duas
formas, baseadas respectivamente nas manifestações mais gerais e
mais especiais dessa inteligência.

PRIMEIRA FORMA. Premissa maior - Ordem e harmonia universais na


operação concorrente de uma imensa multidão de elementos separados, acham
explicação só no postulado de uma causa inteligente.

Premissa menor - O universo, no seu todo e em todas as suas partes, é uma


estrutura da ordem mais complexa e simétrica.

Conclusão - Logo, a causa eterna e absoluta do universo é uma mente


inteligente.

SEGUNDA FORMA. Premissa maior - O ajustamento das partes e a adaptação


dos meios para efetuar um fim ou propósito, podem ser explicados só referindo-
os a uma inteligência e vontade que tinham em vista esse fim ou propósito.

Premissa menor - O universo está cheio de semelhantes ajustamentos de partes e


de organismos compostos de partes que concorrem para efetuar certos fins.

Conclusão - Logo, a Primeira Causa do universo não pode deixar de ser uma
mente e uma vontade inteligentes que tinham em vista esses fins.

Se estes argumentos são válidos, provam que Deus é uma Pessoa eterna e auto-
existente. Trata-se de um absurdo o postulado de uma inteligência inconsciente
ou de uma inteligência que produza efeitos sem que opere vontade alguma. Estas
frases não representam nenhuma idéia possível; e inteligência e vontade, quando
se acham juntas, constituem personalidade.

Quanto à primeira forma do argumento, é evidente que o próprio fato de ser a


ciência uma coisa possível, é prova indubitável de ser intelectual a ordem da
natureza. A ciência é

um produto do espírito humano que é absolutamente incapaz de passar além das


leis da sua constituição. As intuições da razão, os processos lógicos da análise,
inferências indutivas ou dedutivas, a imaginação, a invenção e todas as
atividades da alma é que organizam os processos científicos; e se vê que tudo
isso corresponde perfeitamente à natureza exterior. Depois de resolvidos até os
mais sutis problemas abstratos da matemática e da mecânica, tem-se achado
subseqüentemente que as soluções foram antecipadas na natureza. As leis da
natureza são as expressões de harmonias numéricas e geométricas, e exemplos
maravilhosos de uma razão superior e do belo perfeito. Contudo, essas leis,
embora sejam invariáveis nas mesmas condições, nem são eternas nem inerentes
à constituição elementar do universo. As propriedades da matéria elementar são
constantes, mas as leis que as organizam são, elas mesmas, efeitos complicados,
o resultado de ajustamentos anteriores sob as categorias de tempo, espaço,
quantidade e qualidade. A medida que se mudam esses ajustamentos, mudam-se
também as leis. E esses ajustamentos são, pois, a causa dessas leis; e
os ajustamentos não podem, por isso, deixar de ser o produto ou do acaso, o que
é absurdo, ou da inteligência, o que é certo.

Esta ordem intelectual da natureza é o primeiro postulado necessário de toda a


ciência, e é a essência de todos os processos do universo, desde o agrupamento
de átomos até à revolução dos mundos; desde a digestão de um pólipo até à ação
funcional do cérebro humano.

Quanto à segunda forma deste argumento - O princípio de desígnio pressupõe a


ordem intelectual geral do universo e suas leis, e apresenta já, antecipadamente,
a afirmação de que o caráter da Primeira Causa é manifestado mais ainda pelas
provas encontradas em toda parte, de serem essas leis gerais obrigadas a
concorrer para, por meio de ajustamentos especiais, efetuar certos fins que
evidentemente se deviam efetuar. Este princípio é ilustrado pelos ajustamentos
mútuos descobertos nas diversas providências da natureza, e

especialmente pelos organismos vegetais e animais, e as relações que envolvem


de um organismo para com outro organismo, de organismo para com o instinto, e
de organismos e classes de organismos para com outros, e as circunstâncias
físicas em que se acham colocados. Em muitos casos, a intenção
destes ajustamentos e adaptações especiais é evidente de per si e inegável, como,
e.g., o caso das diversas partes do olho para produzir a visão. Noutros casos, a
intenção é mais obscura e conjetural. Mesmo no estado atual das ciências,
podemos compreender só em parte; porém já desde o princípio, as provas de
desígnio inteligente têm sido transparentes e abundantes. Um só período num
manuscrito é prova de inteligência, mesmo se o contexto for indecifrável. No
entanto, todo passo que se dá adiante nas ciências, descobrem-se mais provas
espalhadas em área maior e com uma luz mais clara.

8. Quais são algumas das objeções feitas contra a inferência deísta tirada do
argumento de desígnio especial, e quais são as respostas?

Ia. Hume (.Dialogues on Natural Religion, Pt. 7, etc.) afirma que a nossa
convicção de que adaptação é prova de desígnio, é devida à experiência e não
pode passar além dela: e a de que o nosso juízo dos organismos naturais
implicam desígnio na sua causa é uma inferência tirada da analogia das
invenções engenhosas do homem e dos seus efeitos. Diz mais, que essa analogia
é falsa - (1) Porque já temos conhecimento prévio do inventor humano como
agente inteligente, enquanto que do autor da natureza não temos nenhum
conhecimento prévio, e é esse mesmo autor que a inferência deísta procura
verificar. (2) Todos os processos da natureza são diversos daqueles por meio dos
quais os homens executam as suas obras; e a formação do mundo e a instituição
dos processos da natureza são efeitos peculiares, inteiramente dissemelhantes
daqueles que temos experiência.
RESPONDEMOS: (1)0 argumento peca por ter como base

um falso postulado de fato. Do inventor humano, da sua alma não temos


conhecimento prévio nem conhecimento algum, a não ser o que nos dá o caráter
das obras pelas quais se manifesta a nós. E é exatamente do mesmo modo e na
mesma extensão que chegamos ao conhecimento do Autor da natureza. (2)
O argumento baseia-se num falso postulado de princípio. A analogia das
invenções do engenho humano não é a base da nossa convicção de que a ordem
e a adaptação são provas de inteligência. E juízo universal e necessário da razão
que a ordem e a adaptação só podem proceder de uma causa inteligente, ou do
acaso; e esta última suposição é absurda.

2a. Alguns cientistas, tendo adquirido o costume de considerar o universo como


uma unidade absoluta, cujos processos são todos executados por leis gerais,
invariáveis (um modo de pensar em que a teologia agostiniana se antecipou por
séculos à ciência), fazem objeção que, tomando como prova de intenção o
ajustamento das partes, em certos grupos ou sistemas especiais o teólogo natural
toma, por engano, uma parte pelo todo e um efeito incidental de uma lei
geral, resultado de condições especiais e temporais, pelo fim real da própria lei.
Dizem que mesmo se fosse inteligente a Primeira Causa do universo, os homens
cometeriam um absurdo infinito nutrindo a presunção de interpretar o Seu
propósito, por meio dos resultados especiais que eles vêem proceder da
operação de leis que já têm estado operando desde toda a eternidade, por todo o
espaço infinito e sobre um sistema infinito de partes concorrentes.

RESPONDEMOS: (1) E evidente que as relações das partes de um todo


especial, concorrendo todas para produzir um fim especial, podem ser entendidas
muito bem enquanto permaneçam inteiramente desconhecidas as relações desse
todo especial para com a totalidade do todo geral; ainda que a razão e a
revelação derramem muita luz mesmo sobre esta última parte. Um só osso de um
animal de espécie desconhecida dá testemunho inegável de adaptação especial, e
pode até, como

dizem com toda a razão os cientistas, lançar muita luz para além de si, sobre a
constituição daquele todo a que pertenceu, mas do qual não temos outro
conhecimento. (2) Confessamos que essa crítica, se bem que falhe quanto ao
argumento tirado do desígnio, tem força quanto ao modo pelo qual este
argumento tem, às vezes, sido aplicado. Os antigos teólogos naturais, muitas
vezes em grau um tanto exaltado, abstraíram organismos individuais do grande
todo dinâmico do qual são tanto produtos como partes. O Dr. Flint (Theism, pág.
159) distingue bem os fins intrínsecos, extrínsecos e supremos de
qualquer ajustamento especial. Assim, o fim intrínseco desse ajustamento
especial chamado olho, é a visão. Seus fins extrínsecos são os fins úteis para os
quais esse órgão serve para o animal que o possui, e os fins úteis para os quais o
animal serve para tudo o que está com ele, em relação imediata ou remota.
Seu fim supremo é o fim do próprio universo. “Quando afirmamos, pois, que há
causas finais no sentido de fins intrínsecos em quaisquer coisas, afirmamos só
que as coisas são unidades sistemáticas, cujas partes se acham relacionadas
definitivamente umas com outras, e coordenadas para produzirem um resultado
comum; e quando afirmamos que há em quaisquer coisas, causas finais, no
sentido de fins extrínsecos, afirmamos somente que as coisas não são sistemas
isolados e independentes, e sim, sistemas definitivamente relacionados com
outros sistemas, e ajustados de modo que são partes componentes de sistemas
superiores e meios para produzir resultados mais compreensíveis do que elas
mesmas” -Theism, pág. 163

E verdade que um homem não pode discernir o supremo fim de uma parte,
enquanto não discerne o supremo fim do todo, e que não pode discernir todos os
fins extrínsecos de qualquer sistema especial, enquanto não conhece todas as
suas relações para com todos os demais sistemas especiais. Apesar disso, porém,
assim como um homem, que não sabe nada das relações que tem uma certa
planta ou um animal para com a

flora ou a fauna de um continente, pode ter certeza absoluta quanto às funções da


raiz ou de uma garra ou unha, na economia da planta ou do animal, assim
também poderá entender perfeitamente a maneira por que todas as partes que
concorrem para produzir um todo especial são adaptadas para esse fim, sem que,
por ora, nada saiba da relação extrínseca em que está esse todo especial para
com aquilo que está fora dele.

3a. Certa classe de cientistas tem afirmado, nestes últimos tempos, que o
testemunho dado da existência de Deus, pela ordem e adaptação manifestadas
nos processos da natureza, fica muito enfraquecido, senão invalidado
absolutamente pela probabilidade de ser verdadeira a hipótese alternativa
da evolução. Há muitas teorias da evolução, mas o termo, no sentido geral,
significa o juízo de que o estado do universo como um todo e em todas as suas
partes, em qualquer momento tem sua causa no estado em que se achava o
universo, no momento anterior; que as mudanças notadas foram produzidas pela
agência de forças inerentes na natureza, e que se pode notar a operação dessas
forças, de momento para momento, sem solução de continuidade causai, durante
todo o tempo passado.

Todas as possíveis teorias da evolução, consideradas em sua relação com a


teologia, podem ser assim classificadas: (1) As que não negam nem obscurecem
o testemunho que a ordem e a adaptação observadas na natureza dão da
existência de Deus, da Sua imanência nas Suas obras, e do Seu
governo providencial sobre elas. (2) As que, embora reconheçam a Deus como a
causa original a Quem se deve referir no passado remoto a origem e os
ajustamentos primários do universo, contudo negam a Sua imanência e constante
atividade providencial nas Suas obras. (3) As que manifestam, ou virtualmente
obscurecem ou negam, o testemunho que a ordem e adaptação do universo dão
da existência e atividade de Deus, tanto como Criador como também como
Governador providencial. .*• ; -v.

Para com a primeira destas classes de teorias da evolução, o teólogo natural


sente, naturalmente, só o mais amigável interesse.

Quanto àsegunda classe, que admite que uma inteligência divina ideou e
inaugurou o universo no princípio absoluto, mas nega que qualquer agente
semelhante esteja imanente no universo dirigindo seus processos, cabe-nos dizer:
(1) Que o ponto que estamos procurando estabelecer agora é a auto-exis-tência
de uma Primeira Causa inteligente, e não o modo da Sua relação para com o
universo. Este último ponto será elucidado em diversos capítulos subseqüentes.
(2) E muito filosófico e mais de acordo com a verdadeira interpretação
do princípio científico de continuidade, o conceber-se a Primeira Causa como
imanente no universo, e como concorrendo orgânicamente com todas as causas
secundárias e não inteligentes em todos os processos que são indícios de poder
ou inteligência. Isso é reconhecido por todos os cientistas, e caracteriza a grande
maioria deles, que são deístas ortodoxos ou que referem todos os fenômenos do
universo físico à ação dinâmica da vontade divina. (3) São incontestáveis as
provas que a consciência moral do homem, a história e a revelação fornecem, em
favor da imanência e operação eficaz de Deus, em todas as Suas obras.

Quanto à terceira classe de teorias da evolução que obscurecem ou negam, quer


manifesta quer virtualmente, o testemunho que a ordem e a adaptação do
universo são de uma inteligente Causa Primária do universo, como, e.g., a teoria
de Darwin quanto à diferenciação de todos os organismos, em virtude de
variações acidentais surgindo durante um tempo ilimitado, cabe-nos dizer:

Io. Toda teoria semelhante, quando proposta para explicar o universo atual, deve
fornecer uma explicação provável de todas as classes de fatos. Mas é notório que
todas as teorias da evolução puramente natural, deixam inteiramente de
explicar os fatos seguintes: (1) A origem da vida. Não poderia existir

na suposta neblina luminosa, e não poderia ser gerada por aquilo que não tem
vida. A decisão madura da ciência de hoje (1878) é a que já se acha expressa no
axioma antigo omne vi-vum ex vivo. (2) A origem da sensação. (3) Também a
da inteligência e da vontade. (4) Também a da consciência. (5)
O estabelecimento de tipos distintos, logicamente correlatados e persistentes, em
gêneros e espécies, mantidos pela lei da hibridade. (6) A origem do homem. O
Prof. Virchow, de Berlim, no seu recente discurso perante a Sociedade Alemã de
Naturalistas e Médicos, em Munich, diz: “Saibam que me ocupo
atualmente com especialidade no estudo de Antropologia; mas sinto-me
obrigado a declarar que cada passo que temos dado para diante na província de
antropologia pré-histórica tem-nos realmente afastado mais de qualquer prova de
semelhante conexão (isto é, de ser o homem descendente de qualquer
tipo inferior)”.

2o. Mas mesmo se fosse possível provar como fato a evolução contínua, isso de
modo algum afetaria as provas que nos fornecem a ordem inteligente e as
adaptações notadas no universo. Estabeleceria somente um método ou sistema
de meios, porém em grau algum alteraria a natureza dos efeitos ou os atributos
da causa real, descoberta por meio desses efeitos. (1) Seria preciso ainda explicar
a origem das leis da abiogênese, de reprodução, de diferenciação e reprodução
sexuais, de hereditariedade, de variação das leis que, de átomos e
energia mecânica, possam desenvolver sensação, razão, consciência e vontade.
(2) Leis nunca são causas, mas sempre modos complicados de ação; o resultado
da coação de inúmeros agentes inconscientes. Em vez de serem explicações, são
elas mesmas efeitos muito complexos dos quais a razão exige uma causa
intelectual. (3) Todas as leis físicas são o resultado das propriedades originais da
matéria, operando sob a condição mútua de certos ajustamentos complicados.
Alterados os ajustamentos, alteram-se as leis. As que executam a evolução ou
antes aquelas em que é analisado o processo da evolução, é

preciso que se refiram retrospectivamente aos ajustamentos originais dos


elementos materiais da neblina luminosa. Esses ajustamentos nos quais, segundo
a hipótese da evolução, devia achar-se latente toda futura ordem e vida, tiveram
necessariamente como causa, ou o acaso ou a inteligência. Huxley, em seu
Criticisms on Origin of Species, pág. 330, baseia no acaso toda a lógica da
evolução, assim: “Tem sido demonstrado que um aparelho, muito bem adaptado
para um fim particular, pode ser o resultado de um método de tentativas e
erros, executado por agentes inconscientes; como também da aplicação direta de
meios adaptados para produzirem esse fim, por um agente inteligente”. Segundo
a teologia, cada organismo é como uma bala de carabina atirada
diretamente num alvo. Segundo Darwin, “os organismos são como
que metralhadora da qual uma bala ou poucas acertam em algum objeto, e as
outras caem longe”. A moderna explicação científica dos processos do universo,
por meio só de causas físicas à exclusão da inteligência, difere da antiga teoria já
há muito abandonada do acaso, somente nos acidentes: (a) do uso enganador das
palavras “leis da natureza”, e (b) do postulado de que o acaso, operando durante
um tempo in-definido, pode fazer uma obra de inteligência. Todavia, assim
como ninguém pode crer que qualquer soma de tempo possa explicar a forma
das facas de pedra e as pontas de seta de pedra, sem o trabalho humano; nem que
uma coleção de tipos lançados ao acaso mesmo em número ilimitado de
vezes possa cair em uma ordem tal que formem os dramas de Shakespeare ou Os
Luzíadas por Camões, assim também ninguém pode crer racionalmente que a
ordem complicada e tão evidentemente intelectual do universo proceda do acaso.
(4) Na criação artificial é o homem que escolhe; na seleção natural (natural
selection) é a natureza que escolhe. Por conseguinte, se os resultados são os
ajustamentos mais cuidadosos para efetuar um fim determinado, segue-se
que essa característica foi estampada sobre os organismos pela

natureza e que, por isso, esta foi dirigida inteligentemente: (a) ou por uma
inteligência imanente nos seus elementos, ou em seu todo organizado; (b) ou
pelo ajustamento original do seu maquinismo, ou por um Criador inteligente.

9. Exposição do argumento moral, isto é, as provas fornecidas pela


consciência moral e pela história da raça humana.

O argumento cosmológico nos conduziu a uma Causa Primária eterna e auto-


existente. O argumento deduzido da ordem e adaptação descobertas nos
processos do universo revela-nos que essa grande Causa Primária possui
inteligência e vontade, isto é, que é um espírito pessoal. O argumento moral ou
antropológico fornece dados novos para inferências, confirmando as conclusões
anteriores quanto ao fato da existência de uma Causa Primária pessoal e
inteligente; e, ao mesmo tempo, acrescentando a essa concepção os atributos de
santidade, justiça, bondade e verdade. O argumento deduzido do desígnio inclui
o argumento deduzido da causa; e o argumento deduzido da justiça e
benevolência inclui esses dons e acrescenta ainda um elemento novo que lhe é
próprio.

Este grupo de argumentos pode ser assim exposto:

10. Consciência de si é a base fundamental de todo conhecimento. Dá-nos


imediatamente o conhecimento de nós mesmos como existentes e como sujeitos
a certos atributos e agentes em certas formas de atividade. Nossas almas, com
todos os seus atributos, precisam de explicação. Não existem desde a eternidade;
tampouco podiam ser desenvolvidas de elementos materiais, porque: (1) A
consciência dá testemunho da sua unidade, simplicidade e espiritualidade. (2) As
leis da razão e o sentimento moral não podem ser explicados como o
resultado de transformadas impressões do sentido, modificadas pelas associações
divididas pela hereditariedade, segundo Mill e Spencer, porque: (a) são
universalmente as mesmas, (b) não podem ser analisadas, (c) são necessárias e
(d) soberanas sobre

todos os impulsos. Segue-se que a alma humana foi criada, e seu Criador não
pode deixar de ter atributos superiores aos da sua obra. -* - 0 ’> ; ;

2o. O homem é essencial e universalmente um ser religioso. Tem os sentimentos


de dependência absoluta e de responsabilidade moral inerentes em sua natureza;
esses sentimentos são universais e necessários. A consciência implica sempre
em responsabilidade para com um ser superior em autoridade moral e, por isso,
em caráter moral. Essa responsabilidade está implícita especialmente no
sentimento de culpa que acompanha toda violação de consciência. Deus
manifesta-Se e é reconhecido na consciência como uma vontade santa, reta, justa
e inteligente, isto é, um espírito santo e pessoal.

3o. As adaptações encontradas na natureza, até onde nos é possível examinar as


suas relações para com criaturas sensíveis, são caracteristicamente benéficas e
dão testemunho de um propósito geral de promover a felicidade e satisfazer
o sentimento do belo. Isso implica em desígnio, e desígnio de um especial
caráter estético e moral, e prova que a Causa Primária é benévola e amante do
belo.
4o. A história inteira da raça humana, até onde é conhecida, descobre uma ordem
e um propósito morais que não acham sua explicação na inteligência ou no
propósito moral dos agentes humanos que nela figuram; e essa história
descobre também uma unidade de plano que abrange tudo, todos os povos e
todos os séculos. Os fenômenos da vida social e nacional, da distribuição
etnológica, e do desenvolvimento e difusão das civilizações e religiões, podem
ser explicados unicamente pela existência de um governador e educador sábio,
reto e benévolo dos homens.

10. Como expor as objeções ao argumento moral, e também as suas respostas ?

Essas objeções baseiam-se nestes pontos: Io. A inva-riabilidade mecânica das leis
naturais, e sua inexorável falta

de atenção ao bem-estar das criaturas dotadas de consciência. 2o. Os sofrimentos


dos animais irracionais. 3o. A existência geral de males morais e físicos entre os
homens. 4o. A partilha desigual dos favores providenciais, e a ausência de
toda proporção entre a soma de felicidade concedida e o caráter moral dos que a
recebem.

Estas dificuldades que de todos provam mais ou menos a fé, são, na maior parte
dos casos, os motivos reais do ateísmo cético. John Stewart Mill, em seufjfjqy on
Nature (Three Essays on Religion) assevera que é característico da
“Natureza” infligir, sem piedade, sofrimentos e a morte; e que, se a causa da
natureza é uma vontade pessoal, deve ser um monstro de crueldade e injustiça.
Em seuEssay on Theism, Pt.2, argumenta como se fosse uma imoralidade
abominável afirmar que o autor da natureza, assim como nós a conhecemos, é
onisciente e onipotente, e ao mesmo tempo, absolutamente justo e benévolo; que
o único meio de absolvê-10 da acusação de ser cruel e injusto é negar que seja
ilimitado o Seu conhecimento ou o Seu poder, ou mesmo ambos. A conclusão
que tira das provas que cita, ele apresenta assim: “Um ser cujo poder é grande
mas limitado, e limitado de um modo que nem podemos conjecturar; cuja
inteligência é grande e talvez ilimitada, mas talvez mais limitada ainda do que é
o seu poder; que deseja a felicidade de Suas criaturas e a isso presta alguma
atenção, porém, ao mesmo tempo, parece ter outros motivos para Suas ações, e
motivos que têm para ele mais peso; e a cujo respeito é difícil crer que tenha
criado o universo só para esse fim.” Na sua Autobiography, ch.2, falando de seu
pai James Mill, ele diz: “Ouvi-o dizer que foi a leitura da Analogy por Butler que
produziu nele uma reviravolta sobre esse ponto. E essa obra, sobre a qual
continuava sempre a falar com muito respeito, o conservou, por um
tempo considerável, crente na autoridade divina do cristianismo, provando-lhe
que fossem quais fossem as dificuldades que se opunham à aceitação do Velho e
do Novo Testamentos como

livros que procederam de um ser perfeitamente sábio e bom, ou que estes livros
registram os atos de tal ser, as mesmas dificuldades ou maiores ainda se opõem à
crença de que um ser de semelhante caráter seja o Criador do universo.
Ele considerava os argumentos de Butler como concludentes contra os únicos
oponentes aos quais são dirigidos. Os que admitem a existência do Criador e
Governador onipotente, e também perfeitamente justo e benévolo de um mundo
como este, pouco podem alegar contra o cristianismo que não se possa alegar,
com pelo menos igual força, contra eles. Por conseguinte, não encontrando lugar
de descanso no deísmo, ficou em estado de perplexidade até que afinal, e sem
dúvida depois de muitas lutas, cedeu à convicção de que sobre a origem das
coisas, absolutamente nada se pode saber”.

RESPONDEMOS: Io. E certo que Deus não criou o universo com o único fim,
nem mesmo com o fim principal de promover a felicidade de Suas criaturas. A
nossa razão, a observação e as Escrituras Sagradas concorrem em revelar como
fins muito mais exaltados e mais dignos da ação divina, a manifestação da Sua
própria glória e a promoção da mais exaltada excelência de Suas criaturas
inteligentes, por meio da educação e da disciplina. E é evidente que a operação
de inexoráveis leis gerais, a miséria e os sofrimentos incidentais desta vida
podem ser os meios mais eficazes para promover esses fins.

2o. A intenção direta de todos os órgãos de que se acham providas as criaturas


dotadas de consciência é, evidentemente, a promoção do seu bem-estar; a dor e a
miséria são incidentais. Mesmo a morte súbita e violenta dos animais
irracionais promove, provavelmente, a maior soma possível de alívio no campo
dos sentido

3o. A consciência tem ensinado aos homens, em todos os séculos, que os


sofrimentos a que estamos sujeitos nesta vida são as conseqüências diretas e
merecidas dos pecados dos homens, quer como penas, quer como castigos cuja
intenção benévola é o nosso melhoramento moral.

4o. A origem do pecado é confessadamente um mistério, atenuado em parte,


porém, pela consideração de que é o resultado do abuso da dádiva melhor e mais
valiosa que nos foi concedida, a agência livre e responsável; e também pelo fato,
revelado nas Sagradas Escrituras, de que na providência divina até o pecado terá
de servir para manifestar mais plenamente as perfeições de Deus, e contribuir
para promover a excelência moral e a felicidade da criação inteligente.

5o. As desigualdades das cotas concedidas pela providência e a desproporção


entre o bem-estar e o caráter moral dos homens nesta vida resultam do fato de
não ser este mundo lugar de recompensas e castigos, e que os caracteres e
destinos diversos exigem disciplina diversa de educação; e essas desigualdades e
desproporções apontam para reajustamentos futuros, revelados na Bíblia (Sal.
73, Almeida).

6o. Nem o argumento teleológico nem o moral envolvem a asserção de


podermos, no estado atual dos nossos conhecimentos, discernir no universo
provas de uma sabedoria ou bondade que fosse infinita ou mesmo perfeita. Estes
atributos são indicados como fatos e características gerais da natureza. Mas o
nosso discernimento deles é necessariamente limitado pela imperfeição dos
nossos conhecimentos. Mesmo no juízo só da razão é infinitamente provável
que, quando tivermos adquirido conhecimentos mais adequados, veremos que
aquilo que agora nos parece anômalo e incompatível tanto com a sabedoria
perfeita como com a bondade perfeita, ilustra essas mesmas perfeições que
fomos tentados a julgar obscurecidas por certas anomalias. .

Yl. Exposição das provas bíblicas.

Sendo o homem criatura finita, culpada e moralmente corrompida, é inevitável


que as automanifestações de Deus na natureza sejam imperfeitamente
apreendidas por nós. A revelação sobrenatural que Deus manifestou, mediante
um processo histórico de intervenções especiais em sucessão

cronológica, interpretadas por uma ordem de profetas dotados sobrenaturalmente


e registradas nas Escrituras Sagradas, suplementa a luz da natureza, explica os
mistérios da Providência e dá-nos os princípios de uma verdadeira teodicéia. O
Deus que a natureza encobre, mesmo quando O revela, as Sagradas Escrituras
no-10 apresentam descoberto, em toda a perfeição da sabedoria, santidade e
amor, na Pessoa de Jesus Cristo. Quem vem a Cristo vem a Deus. A verdade do
teísmo é demonstrada na Pessoa de Jesus, e daí por diante não mais será aceita
senão por aqueles que lealmente reconheçem Sua soberania sobre a inteligência,
a consciência e a vida.
12. Exposição do princípio em que se baseiam os argumentos, a priori, a favor
da existência de Deus, o valor desse princípio, e as formas principais sob as
quais esses argumentos têm sido apresentados.

Argumentos a posteriori são os que, dos fatos da experiência, se deduzem das


causas ou dos princípios. Assim, e.g., nós, por meio dos argumentos precedentes
mediante os fatos da consciência e da natureza exterior, temos sido conduzidos
ao conhecimento de Deus como um espírito pessoal, inteligente e reto, a Causa
Primária, poderosa, sábia e benévola, e Governador moral. Argumentos a priori
são os que procedem das idéias necessárias da razão e vão às conseqüências
necessariamente deduzidas delas, ou às verdades necessárias nelas incluídas.

E certo que as intuições das verdades necessárias são as mesmas, em todos os


homens. Não são generalizações tiradas da experiência, e sim estão pressupostas
em toda a nossa experiência. Levam o cunho da universalidade e da necessidade.
Têm validade objetiva, não dependendo do estado subjetivo da consciência
pessoal, nem da natureza das coisas, mas anterior e superior a todas as coisas.
Que seria, pois, que pode ser a base, o fundamento de verdades eternas,
necessárias, universais e imutáveis, a não ser uma natureza infinita, eterna,

autoexistente, imutável, da qual seja a essência? . ,

Temos visto que a nossa razão só se pode contentar com uma causa que não teve
causa. Essa causa não pode deixar de ser eterna, autoexistente e imutável.
Temos, em nossas mentes, as idéias e intuiçÕes da infinidade e perfeição, como
também as da eternidade, autoexistência e imutabilidade. “Estas, a não ; ser que
sejam inteiramente ilusórias - suposição que não se pode conceber - devem ser
atribuíveis a algum ser. A única j questão é então: de que Ser? Deve ser dAquele
quejápro- * vamos ser a Primeira Causa de tudo, a fonte de todo o
poder, sabedoria e bondade manifestados no universo. Não podem ser atribuídos
ao universo, porque já se mostrou que este não é senão um efeito, e efeito de
uma inteligência, uma Pessoa.

Isso não pode ser de nós mesmos, nem de coisa alguma ao alcance de nossos
sentidos porque nós, e tudo o que os nossos sentidos podem alcançar, somos
finitos, contingentes e imperfeitos. Só o Autor do universo, o Pai do nosso
espírito, Aquele de quem vem toda a boa dádiva e todo o dom perfeito, pode ser
não criado, não condicionado, infinito e perfeito. Isso completa a idéia de Deus,
até onde pode alcançar a razão natural, ou esta a pode formar; e dá também
consistência à idéia. As conclusões dos argumentos aposteriori não
satisfazem nem a inteligência nem Q coração, enquanto não são ligadas
à intuição da razão sobre a infinitude e por esta suplementadas.

A concepção de um Deus que não seja infinito, um Deus que não seja ilimitado
em todas as Suas perfeições - é uma concepção autocontraditória que a
inteligência recusa-se a aceitar” - Dr. Flint, Theism, pág. 291.

Io. Anselmo, Arcebispo de Canterbury (1093-1109), em seus


tratadosMonologion eProslogion, expõe o argumento assim: temos a idéia de um
Ser infinitamente perfeito. Mas existência é um elemento necessário para a
perfeição infinita. Por isso existe um Ser infinitamente perfeito porque, de outro
modo, faltaria à perfeição infinita, como nós a concebemos, um elemento
essencial à perfeição.

2o. Descartes (1596-1650), em suas Meditationes de prima philosophia, prop. 2,


pág. 89, o expõe assim: “Não podia ter origem numa fonte finita, a idéia que
temos de um Ser infinitamente perfeito, e por conseguinte, essa idéia nos
foi comunicada necessariamente por um Ser infinitamente perfeito”. O mesmo
filósofo, em conexão com outros assuntos, diz também que essa idéia representa
uma realidade objetiva, porque: (1) é idéia muito clara, e as idéias levam a
convicção de corresponderem à verdade, na proporção da sua clareza e (2)
porque é necessária.

3o. O Dr. Samuel Clarke publicou em 1705 sua Demon-stration ofthe Being and
Attributes of God. Seu argumento é que o tempo e o espaço são infinitos e
existem necessariamente. Contudo não são substâncias. Logo, existe
necessariamente uma substância eterna e infinita da qual são propriedades.

AS PRINCIPAIS TEORIAS ANTITEÍSTAS

13. Que é ateísmo?

Ateísmo, segundo sua etimologia, significa negação da existência de Deus. O


nome foi aplicado pelos antigos gregos a Sócrates e a outros filósofos, para
indicar que eles não se conformaram com a religião popular. Foi aplicado
também, no mesmo sentido, aos cristãos primitivos. Segundo o uso estabelecido
em todas as línguas modernas, o termo significa agora a negação da existência
de um Criador pessoal e Governador moral. Se bem que a crença na existência
de um Deus pessoal seja o resultado de um reconhecimento espontâneo de Deus,
manifestando-Se na nossa consciência e nas obras da natureza, ainda assim o
ateísmo é possível como estado anormal da consciência, produzido por
especulações sofísticas ou pela indulgência de paixões pecaminosas, do mesmo
modo que o idealismo subjetivo é possível. Existe sob as seguintes formas: 1.
Prático. 2. Especulativo. O ateísmo especulativo pode ainda ser (1) Dogmático,
como no caso de

chegar-se à conclusão de que: (a) Deus não existe, ou (b) que as faculdades do
homem são incapazes de averiguar ou verificar a Sua existência (e. g., Herbert
Spencer, First Principies, pt. 1). (2) Cético, como no caso de só duvidar-se da
Sua existência e de negar-se o caráter conclusivo das provas
geralmente apresentadas a favor dessa existência. (3) Virtual, como no caso (a)
de se manterem princípios essencialmente incompatíveis com a existência de
Deus, ou com a possibilidade de adquirirmos algum conhecimento a esse
respeito, e. g., materialistas, positivistas, idealistas absolutos; (b) de se negarem
alguns dos atributos essenciais da natureza divina, como fazem os panteístas, e J.
S. Mill em seus Essays on Religion; (c) de se adotarem explicações do universo
que excluem (i) a agência de um Criador e Governador inteligente, (ii) ou o
governo moral de Deus e a liberdade moral do homem, como e. g., as teorias de
Darwin e Spencer, e os necessitarianos, em geral. Veja Ulrici, God and nature e
Review of Strauss; Strauss, em Old and New; Buchanan, Modem Atheism;
Tulloch, Theisrn; Flint, Theism. ,,

14. Que é dualismo?

O dualismo (em Filosofia, a teoria oposta ao Monismo) é a doutrina de existirem


no universo duas essências genericamente distintas: matéria e espírito. Neste
sentido, a doutrina comum do cristianismo é dualista. Todos os antigos
filósofos pagãos criam na existência eterna e independente da matéria e, por
conseguinte, todos os que entre eles eram também teístas, eram realmente
dualistas cosmológicos. A religião de Zoroastro era um dualismo mitológico, que
tinha por fim explicar a existência do mal. Segundo ela, Ormuz e Ahriman -
os princípios pessoais do bem e do mal - emanaram de uma suprema divindade
abstrata, Akerenes. Algumas das seitas dessa religião sustentavam o dualismo na
sua forma absoluta, e referiam todo o mal à hute, a matéria auto-existente.
Este princípio dominava entre as diversas seitas cristãs espúrias e

gnósticas, no segundo século da era cristã, e no sistema de Manes, no terceiro


século; e sua influência no mundo oriental manifestou- se na tendência ascética
da Igreja Cristã Primitiva. Veja J. F. Clarke, Ten Religions; Hardwicke, Christ
and other Masters; Neander’s, Church History; Pressensé, Early Years
of Christianity; Tennemann,Manual Hist. Phil.

15. Que é politeísmo ?

O politeísmo (polys e theos) distribui as perfeições e funções do Deus infinito,


entre muitos deuses limitados. Teve origem no culto da natureza, representado
nos mais antigos Vedas dos hindus e que, em tão pouco tempo e
radicalmente, substituiu o monoteísmo primitivo. No princípio, enquanto se
conservava na Caldéia e na Arábia, consistia em culto dos elementos,
especialmente das estrelas e do fogo. Depois tomou formas especiais, segundo as
tradições, o gênio e a civilização relativa dos diversos povos. Entre os selvagens
mais grosseiros degenerou-se até ao fetichismo, como na África Central
e Ocidental. Entre os gregos, tornou-se o veículo para a expressão do seu
humanitarismo mais apurado na apoteose de homens heróicos, antes que na
revelação dos deuses encarnados. Na índia, sendo aí filho de uma filosofia
panteísta, tem-se desenvolvido ao extremo o mais extravagante, tanto a
respeito do número quanto ao do caráter de seus deuses. Sempre que o
politeísmo esteve ligado a especulações, apareceu como a contra-parte exotérica
do panteísmo. Carlyle, Hero Worship; Max Müller, Compar. Myth., nos Oxford
Essays; Prof. Tyler, Theology of Greek Poets.

16. Que é deísmo?

O deísmo (de deus), se bem que etimologicamente seja o mesmo que teísmo (de
theos), tem sido distinguido desde meados do século 16 eéo nome dado ao
sistema que admite a existência de um Criador pessoal, mas nega Sua
presença diretora no mundo, Seu imediato governo moral e toda a

intervenção e revelação sobrenaturais. O movimento começou com os deístas


ingleses, Lorde Herbert de Cherbury (15811648), Hobbes (1680), Shaftesbury,
Bolingbroke (1678 -1751), Thomas Paine (1809), etc. Passou para a França,
onde veio a ser representado por Voltaire e pelos enciclopedistas. Daí
passou para a Alemanha, onde teve como representantes Lessing e Reimarus
(Wolfenbüttel Fragmentist), e, invadindo a Igreja e a teologia, foi representado
essencialmente pela antiga escola dos racionalistas naturalistas que o admitiam
com uma forma branda e inconseqüente do socinianismo, e. g., Eichhorn
(17521827), Paulus (1771-1851), Wegscheider (1771-1848). Foi representado na
América pelo falecido Theodore Parker, e ainda o é pela extrema esquerda do
partido chamado Cristãos Liberais. Na Alemanha, o mero dualismo naturalista
cedeu ao pan-teísmo, assim como este cedeu, ultimamente, ao
ateísmo materialista, e. g., Strauss. Veja Leland, View of Deistical Writers; Boyle
Lectures por Van Mildert; Farrar, CriticaiHist. of Free-thought; Dorner, Hist.
Protest. Theology, Hurst,Hist. ofRa-tionalism\Analogy, por Butler.

17. Que é idealismo?

“Idealismo é a doutrina de que, nas percepções externas, os objetos conhecidos


imediatamente são idéias. Ela tem sido mantido sob diversas formas.” Vt\zReid,
por Hamilton,

Na seguinte passagem de Lewes, pode-se ver quais são algumas das formas do
idealismo moderno, entre os alemães: “Vejo uma árvore. Os psicologistas
comuns me dizem que neste fato da vista acham-se implicadas três coisas, a
saber: uma árvore, uma imagem dessa árvore, e uma mente que apreende essa
imagem. Fichte me diz que sou eu só que existo. A árvore e sua imagem são uma
coisa, e esta é uma modificação da minha mente. Isto é idealismo subjetivo.
Schelling me diz que tanto a árvore como o meu ego (o eu) são existenciais,
igualmente reais ou ideais; mas não são nada menos do que

manifestações do absoluto, infinito ou não condicionado. Isso é idealismo


objetivo. No entanto, Hegel me diz que todas estas explicações são falsas. A
única coisa que existe (nesse fato da vista) é a idéia, a relação. Oewea árvore só
são dois termos da relação, e lhe devem sua realidade. Isso é idealismo
absoluto. Segundo esse, não há nem espírito nem matéria, nem céu nem terra,
nem Deus nem homem. A doutrina oposta ao idealismo é o realismo” -
Vocabulary of the Philosophical Sciences, por C.P Krauth, D. D., 1878.

18. Que ématerialismo? - : '

Logo que começamos a refletir, ficamos cônscios da presença de duas classes de


fenômenos, entrelaçadas em todas as suas partes e, ao mesmo tempo, sempre
distintas - formando uma dessas classes, os fenômenos chamados
pensamentos, sentimentos e vontade, e a outra os chamados extensão,
inércia, etc. Por mais que os analisemos, não podemos nunca fundir
os fenômenos de uma classe com os da outra. Os de uma classe conhecemos pela
consciência, os da outra pela sensação; e conhecemos os de uma classe tão direta
e certamente como os da outra. E não sendo possível fundir os fenômenos de
uma dessas classes com os da outra, referimos uma classe a uma substância
chamada espírito, e a outra a uma substância chamada matéria.

Os materialistas são uma classe de filósofos superficiais nos quais a consciência


moral não está muito viva, e que adquiriram o costume de dirigir sua atenção
exclusivamente aos objetos sujeitos aos nossos sentidos, e de explicar
os fenômenos físicos por meio de concepções mecânicas. Por isso caem no erro
fundamental de afirmar: (1) Que há só uma substância, ou antes, que todos os
fenômenos do universo podem achar explicação nos átomos e na energia. (2)
Que inteligência, sentimento, consciência, volição, etc., são propriedades
da matéria, ou funções de uma organização material, ou modificações de energia
conversível. Não foi a inteligência que

precedeu e produziu ordem e organização, mas são estas que, desenvolvidas por
leis inerentes na matéria, produzem inteligência. Os darwinianos alemães
chamam esse sistema o desenvolvimento mecânico causai do universo. Diz
Huxley que a vida, e por conseguinte a organização, é o resultado da “mecânica
molecular do protoplasma”.

RESPONDEMOS: Io. Esta não é nenhuma teoria recôndita, como alguns


pretendem a respeito de substância. Se os fenômenos da consciência podem ser
resolvidos em modificações de matéria e energia, isto é, em algum modo
de movimento, então todas as verdades conclusivas e necessárias são
impossíveis, o dever não obriga ninguém; a consciência é uma mentira e a
liberdade da vontade é um absurdo. Nesse caso, seriam dissolvidos o dever e a
verdade, a honra e a esperança, toda moralidade e toda religião.

2o. A teoria é parcial e sem provas. Como questão de fato, temos conhecimento
mais direto e claro da alma e de suas intuições, faculdades e poderes, do que o
homem científico tem da matéria. Que é que ele sabe da natureza real do
átomo, da energia, força, gravidade, etc.?

3o. A explicação da matéria por meio do espírito, da força e da ordem por meio
da inteligência e da vontade, é racional. Mas a explicação dos fenômenos da
inteligência, da vontade e da consciência como modificações da matéria ou
força, é absurda. A razão pode contentar-se com a primeira, mas não pode
contentar-se com a outra. Da alma humana sabe-se que é uma causa absoluta, da
matéria sabe-se que não o é - que é só veículo da energia, e que está num
processo de dispersão. Da inteligência, sabe-se que é a causa da ordem e da
organização; a respeito destas, porém, não podemos imaginar como poderiam ser
as causas da inteligência.

Tyndal (Athenoeum, de 29 de agosto de 1868) diz: “É impossível imaginar a


passagem da física do cérebro para os fatos correspondentes da consciência.
Mesmo concedendo que um pensamento definido e uma definida ação molecular
no

cérebro têm lugar simultaneamente, não possuímos o órgão intelectual, nem


segundo parece, o rudimento de tal órgão que nos habilitaria a passar por um
processo de raciocinar de um desses fenômenos para outro... Quando se afirma
que o crescimento do corpo é processo mecânico, e que quando pensamos, tem
lugar no cérebro uma ação correlativa, parece-me que se tem exposto a posição
do materialista, até onde essa posição é sustentável. Creio que o materialista
conseguirá, afinal, sustentar essa posição contra todos os ataques; porém não
creio que, na constituição atual da mente humana, possa passar além disso. Não
creio que tem o direito de dizer que seu agrupamento molecular e seus
movimentos moleculares explicam tudo. Na realidade não explicam nada”, i ;i;

19. Que épanteísmo?

Panteísmo (panthéos) é monismo absoluto, e mantém que o inteiro universo


fenomenal é a forma em constante mudança da existência da única e exclusiva
substância universal, que é Deus. Assim, pois, Deus é tudo, e tudo é Deus. Deus
é (to on) existência absoluta, da qual cada coisa finita é uma forma diferenciada
e transitória. Esta doutrina pode naturalmente tomar formas muito diversas. (1)
O panteísmo de uma só substância, de Spinoza. Este sustentava que Deus é a
única substância absoluta de tudo; que possui dois atributos -pensamentos e
extensão - dos quais, por meio de uma evolução eterna, inconsciente e
necessária, procedem respectivamente os mundos físico e intelectual. (2) O
panteísmo materialista de Strauss, Der Alte und der Neue Glaube. (3) O
panteísmo idealista de Schelling, que mantém a identidade absoluta do sujeito e
objeto; e de Hegel, que mantém a identidade absoluta do pensamento e da
existência como determinações do único Espírito absoluto.

E óbvio que o panteísmo, em todas as suas formas, necessariamente nega, ou a


personalidade moral de Deus ou a do homem, ou enfim a de ambos.
Logicamente torna as duas

impossíveis. Segundo ele, Deus só chega à consciência de si no homem: a


consciência da livre determinação pessoal de si no homem, é uma ilusão; a
responsabilidade moral é um preconceito; o sobrenatural é impossível e a
religião é uma superstição. Mesmo assim, porém, é tal a flexibilidade do sistema
que ele, sob uma forma, toma uma guisa mística e representa a Deus como a
pessoa universal que absorve o mundo em Si; e sob a forma contrária, toma uma
aparência puramente naturalista e representa o mundo como absorvendo a Deus,
e propõe-nos a raça humana em seu desenvolvimento sempre culminando como
o único objeto de reverência e culto. O mesmo Spinoza, que Pascal e Bossuet
declararam ateísta, é chamado por Jacobi e Schleiermacher de o mais fervoroso
e reverente dos místicos. A individualidade intensa das ciências físicas do
presente século tem reagido de um modo poderoso sobre o panteísmo,
substituindo o idealismo pelo materialismo, afastando Deus e elevando o
homem, como se vê na recente degradação do panteísmo para o ateísmo, nos
casos de Strauss, Feuerbach, etc.

O panteísmo mais antigo, mais persistente e mais espalhado de que temos notícia
na história do mundo, é o da índia. Como religião, tem modelado o caráter, os
costumes e a mitologia do povo, durante 4.000 anos. Como filosofia,
tem aparecido sob três formas principais: a Sanckhya, a Nyaya e a Vedanta.
Modos panteístas de pensar formavam, em escala maior ou menor, a base de
todas as formas da filosofia grega, e especialmente a da escola neoplatônica de
Plotino (205-270), Porfírio (233-305), e Jâmblico (f 333). Tornou a aparecer,
no ensino de João Scotus Erigena (nasceu em 800) e no dos neo-platônicos da
Renaissance, e. g., Giordano Bruno (f 1600). O panteísmo moderno começou
com Benedito Spinoza (16321677), e terminou com os discípulos de Schelling e
Hegel.

Além do panteísmo puro, tem havido uma variedade infinita de formas impuras
de panteísmo virtual. Isso é verdadeiro quanto a todos os sistemas que afirmam a
imper-

sonalidade do infinito e absoluto, e que resolvem todos os atributos divinos em


modos de causalidade. O mesmo é verdadeiro também quanto a todos os
sistemas que representam a preservação providencial como uma
criação contínua, negam a eficácia real das causas secundárias e afirmam que
Deus é o único agente no universo, e. g.,Edwards on Original Sin, ponto 4,
capítulo 3, e Emmons. A mesma categoria pertence, também, a doutrina
fantasiosa das emanações que era a feição principal das teosofias orientais, e o
Hylozoísmo de Averrões (f 1198) que supõe a co-eternidade da matéria e de uma
anima mundi plástica e inconsciente. Veja Hunt, Essay on Pantheism, Londres,
1866; Saisset,Modem Pan-theism, Edimburgo, 1863; Cousin, Histoire de la
Philosophie Moderne; Ritter, Hist. AncientPhilos.; Buchanan,Faith in God, etc.;
Dõllinger, Gentile andjew, Londres, 1863; Max Müller, Hist.Anc. SanscritLit.
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Os Mananciais da Teologia

Definição geral de teologia, Capítulo 1, Pergunta 1.

1. Quais as duas grandes seções em que se divide a teologia?

Ia. Teologia natural, que é a ciência que se propõe estas

duas perguntas: (1) Seria possível estabelecer, por provas satisfatórias, a


existência objetiva de Deus como um Espírito pessoal e extra-terreno? (2) Que é
que se pode averiguar legitimamente a respeito da verdadeira natureza de Deus
em si, e a respeito de Suas relações com o universo, e especialmente com o
homem, somente mediante a luz da natureza? Aqui é necessário fazer-se, com
cuidado, uma distinção entre o conhecimento a que pode chegar, por meio das
provas fornecidas nas Suas obras, a razão humana, independentemente de todas
as sugestões fornecidas pela revelação sobrenatural, e.g., a teologia de Platão e a
de Cícero; e por outro lado, o conhecimento de Deus que as faculdades humanas
podem agora deduzir dos fenômenos da natureza, sendo ajudadas, mesmo
sem reconhecerem, pela luz de uma revelação sobrenatural, e.g., a teologia dos
racionalistas modernos.

2a. Teologia revelada é a ciência que, pressuposta a teologia natural, compreende


como seu campo tudo quanto nos tem sido revelado de diversos modos
sobrenaturais a respeito de Deus e Sua relação com o universo, e especialmente
com os homens.

2. Que opiniões extremas têm sido admitidas quanto à

possibilidade e validade da teologia natural, e em distinção da teologia revelada


?

Ia. A dos deístas ou teístas naturalistas, que negam ou a possibilidade ou o fato


histórico de uma revelação sobrenatural, e mantêm que a teologia natural
descobre-nos tudo quanto é possível ou necessário que os homens saibam agora
a respeito de Deus e Suas relações conosco. Muitos racionalistas sobre-
naturalistas alemães, enquanto admitem o fato histórico de uma revelação
sobrenatural, sustentam que esta tem por fim unicamente reforçar e ilustrar as
verdades que nos são dadas na teologia natural, e que estas são, de per si,
suficientes, precisando ser reforçadas somente porque os homens não
lhes prestam bastante atenção.

Esta doutrina é refutada abaixo. Perguntas 7 a 10.

2a. Há cristãos que sustentam o extremo contrário, de não existir realmente uma
ciência de teologia natural, e que devemos as nossas primeiras informações
válidas quanto à existência de Deus a uma revelação sobrenatural. Isso é
refutado - (1) Pelo testemunho das Escrituras, Rom. 1:20-24, e 2:14,15, etc. (2)
Pelo testemunho da experiência, e.g., o conhecimento de Deus adquirido por
alguns dos filósofos pagãos, embora fosse imperfeito. (3) A validade da
inferência deísta deduzida dos fenômenos da consciência e do mundo exterior
foi vindicada no Cap. 2. (4) E evidente, de per si, que algum conhecimento do
ser de Deus já se pressupõe logicamente pelo reconhecimento de uma certa
revelação sobrenatural advinda dEle.

3. Quais as principais respostas dadas à pergunta : qual é a fonte ou norma


autoritativa do conhecimento em teologia?

Ia. A teoria de Schleiermacher e da Escola Transcendental. Ele foi pregador e


professor em Halle e em Berlim de 1796 a 1831, autor de Teologia Medianeira,
e inaugurou o movimento com seus Discursos sobre Religião, Dirigidos
aos Instruídos Entre os que a Desprezam, 1799, e A Fé Cristã sob

os Princípios da Igreja Evangélica, 1821. ]

Ele tomava a religião como uma espécie de sentimento, e | sustentava que ela se
baseia em nossa consciência constitucional 1 de Deus, a qual consiste, segundo
ele, do lado intelectual numa \ intuição de Deus, e do lado emocional, num
sentimento de i dependência absoluta. O cristianismo consiste naquela forma
■ específica dessa consciência religiosa constitucional que foi j gerada no peito
de seus discípulos pelo Deus homem, Jesus j Cristo. E assim como a consciência
humana, em geral, é gerada j em cada indivíduo pelas suas relações sociais,
assim, a cons- j ciência cristã, em geral, é gerada em comunhão com aquela
j sociedade (a Igreja) que Cristo fundou e da qual Ele é o centro j da vida. E
assim como as instituições comuns dos homens : são aquilo para o que se apela
em último recurso, em todas as questões dos conhecimentos naturais, assim
também a comum consciência cristã da Igreja é aquilo para o que devemos
apelar em todas as questões da fé cristã, a qual, na sua totalidade, e não as
Escrituras, é a regra de fé.

OBJEÇÕES: (1) Esta doutrina não condiz com a natureza do cristianismo que,
como sistema remediador, baseia-se em certos fatos históricos, os quais, é
necessário que saibamos para que se tornem eficazes, e dos quais podemos ter
conhecimento certo só por meio de uma revelação sobrenatural. Nenhuma forma
de intuição no-los pode ensinar. (2) Não condiz com a convicção uniforme dos
cristãos: de que o cristianismo é um _ sistema de fatos e princípios revelados
divinamente. (3) Não ; nos dá nenhum critério da verdade. Se essa doutrina
fosse verdadeira, todas as diversas doutrinas dos diversos partidos da Igreja
seriam, necessária e tão-somente, outras tantas 1 variações conciliáveis da
mesma verdade fundamental. (4) Não condiz com o que ensinam as Escrituras
Sagradas, que ela é a Palavra de Deus; nem com o que ensina explícitamente,
quanto à sua natureza - que ela é uma revelação, comunicando verdades
objetivas; e quanto à necessidade para a salvação das verdades assim
comunicadas.

2a. A mística doutrina da “luz interior”, ou da inspiração geral de todos os


homens, ou, ao menos, de todos os cristãos, mantida pelos Quacres. Esta
doutrina difere do racionalismo porque faz dos sentimentos, e não da razão, o
órgão das verdades religiosas, e porque toma a “luz interior” como o
testemunho que o Espírito Santo dá ao homem e com o espírito do
homem. Difere da nossa doutrina da inspiração, por ensinar a direção prática e a
iluminação do Espírito Santo no coração de todos os homens crentes, e não só no
dos fundadores oficiais e primeiros mestres da Igreja. Difere da iluminação
espiritual que, segundo cremos, experimentam todos os crentes verdadeiramente
regenerados, e só eles, porque (1) pretende chegar ao conhecimento da verdade,
independentemente da sua revelação nas Escrituras, e (2) afirma que pertence a
todos os que queiram prestar-lhe atenção e obedecer-lhe.

OBJEÇÕES: (1) Esta doutrina contradiz as Escrituras, (a) Elas nunca prometem
uma iluminação que leve os homens além do próprio ensino delas, e os torne
independentes desse ensino, (b) Ensinam que a revelação objetiva dada nelas
é absolutamente necessária à salvação (Rom: 11:11-18). (2) E refutada pela
experiência que (a) testifica que a “a luz interior” não dá nenhum critério por
meio do qual se possa determinar a verdade de qualquer doutrina; (b) testifica
que essa “luz interior” nunca levou nenhum indivíduo ou comunidade ao
conhecimento da verdade salvadora, independentemente da revelação objetiva; e
(c) testifica que essa “luz” produziu sempre uma depreciação irreverente das
Escrituras, e no transcurso do tempo, desordem e confusão.

3a. A teoria de uma Igreja inspirada, isto é, inspirada nas pessoas, ou ao menos
no ensino oficial de seus pastores e mestres principais. Esta teoria é refutada no
Cap. 5.

4a. O postulado comum de todos os racionalistas, de ser a razão a fonte e medida


de todo o nosso conhecimento de Deus. Esta teoria é considerada e refutada
abaixo. Perguntas 7 a 10.

5a. A doutrina verdadeira e protestante, de que as

Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamentos, sendo inspiradas por Deus,


são para nós a Sua Palavra, e uma regra de fé e prática infalível e de autoridade,
e a única fonte e norma autorizada da teologia cristã, à exclusão de todas as
outras fontes e normas.

4. Qual o sentido exato em que o termo “razão” é empregado por aqueles que
a contrastam com a fé como a fonte do conhecimento religioso?

O termo “razão” é empregado em sentidos diversos pelas diversas classes de


racionalistas. Alguns entendem por ela o órgão por cujo meio apreendemos
intuições superiores, as verdades necessárias e conclusivas. Tais são a
consciência íntima da existência e atributos de Deus, de Schleiermacher, e
a intuição do infinito, de Schelling e Cousin, e também os sentimentos morais de
intuição, de Newman e Parker. Outros entendem pelo termo “razão” o
entendimento, ou a faculdade lógica de observarmos, julgarmos e tirarmos
inferências dentro da esfera da experiência. Compreende, por conseguinte,
como seu fundamento e norma a massa inteira dos conhecimentos e opiniões
hodiernas. Praticamente todos os homens dão o nome respeitável de “razão” ao
seu próprio hábito e atitude de espírito, com a inteira massa organizada de
conhecimentos, opiniões e preconceitos de que seus ânimos estão
cheios. Chamam razoável aquilo que está de conformidade com esse hábito ou
essa massa de opiniões por eles aceitas.

Nesta controvérsia, porém, designamos com o termo “razão” a inteira faculdade


natural que o homem possui para, por meio dela, chegar ao conhecimento da
verdade, e incluímos nela as intuições, o entendimento, a imaginação, os afetos e
as emoções, operando em condições naturais e independentemente de auxílio
sobrenatural. . «

5. Que é Racionalismo?

“Naturalista” é quem sustenta que a natureza é uma esfera

completa em si e inteiramente independente; e nega por isso, ou a realidade do


que se chama sobrenatural, ou a possibilidade de poderem os homens chegar a
ter qualquer conhecimento do sobrenatural, se é que esse existe; nega, por
conseguinte, a necessidade ou a possibilidade, ou o fato de uma
revelação sobrenatural. O termo “racionalista” é mais geral. Inclui os naturalistas
de todos os graus e também todos os que, embora admitam o fato de uma
revelação divina, mantêm, contudo, que essa revelação, suas doutrinas, e os
documentos em que se acham contidas, devem todos ser sujeitos à razão humana
como supremo árbitro, para serem por ela avaliados e acreditados, ou rejeitados
e interpretados. Com os racíonalistas, a razão é o último fundamento e juiz da fé.

No seu sentido histórico o racionalismo, como uma forma da incredulidade que


brotou no meio da própria Igreja Cristã, e que faz uso ilegítimo da razão na
interpretação das Escrituras e suas doutrinas, tem sido ativo sempre numa ou
noutra forma, e em diversos graus, e manifestou-se, de um modo notável, numa
classe dos escolásticos medievais e nos discípulos de Socino. Sua forma
moderna e mais extrema teve origem na Alemanha em meados do século
passado. As causas a que se deve atribuir foram: (a) O estado abatido em que se
achava a religião em todos os países protestantes, (b) A influência da filosofia
formal e do dogmatismo de Wolf, discípulo de Leibnitz. (c) A influência dos
deístas ingleses, (d) A influência dos incrédulos franceses reunidos na corte
de Frederico o grande - rei da Prússia. Semler, professor em Halle, (nascido em
1725, falecido em 1751) foi o pai do racionalismo crítico. Embora pessoalmente
devoto, ele examinava arbitrariamente a canonicidade dos livros das Sagradas
Escrituras, e sem fazer caso das provas históricas, substituiu-as por suas próprias
idéias subjetivas do que convinha. Introduziu, na interpretação da Bíblia, o
princípio da “acomodação”, sustentando que, além de muitas verdades positivas,
Cristo e Seus apóstolos ensinaram também muitas coisas em

“acomodação” às idéias geralmente aceitas entre os seus contemporâneos -


Hurst, History of Rationalism.
Esta tendência, muito reforçada depois mediante a influência de Lessing e
Reimarus o Fragmentista de Wolfen-büttel, penetrou na massa da literatura
teológica alemã e culminou nos últimos anos do século 18 e nos primeiros
do século 19. Entre os seus principais representantes sobressaem os nomes de
Bretschneider, Eichhorn e Paulus na teologia bíblica, e o de Wegscheider na
teologia dogmática. Foram especialmente os dois últimos que, admitindo o fato
de ser o cristianismo uma revelação sobrenatural, ao mesmo tempo mantiveram
que é meramente uma republicação dos elementos da religião natural, e que a
“razão” é o juiz supremo quanto aos livros que se devem ter por canônicos e
também quanto ao que ensinam. Os milagres, eles rejeitaram como indignos de
crédito. As narrações de milagres, registradas nas Escrituras, eles relacionavam à
ignorância, superstição ou parcialidade dos escritores, e os milagres
relacionavam a causas naturais. A Jesus, tinham em conta de homem bom, e
o cristianismo original eles consideravam como uma espécie de socianismo
filosófico. E isso o que, na Alemanha, tem sido designado historicamente pelo
título dt Racionalismo, e mais especificamente por Rationalismus vulgaris, o
racionalismo antigo, ou do senso comum.

Depois de levantarem-se as filosofias de Fitche, Schelling e Flegel, receberam


novo impulso a especulação teológica e a interpretação bíblica. Isso deu lugar,
por um lado, a uma reação para a ortodoxia, por meio da “Teologia da
Mediação” de Schleiermacher, e por outro, a uma escola nova do
racionalismo transcendental, a base do qual é um modo panteísta de
pensar. Nega necessariamente o sobrenatural e postula como
princípio fundamental, a impossibilidade de um milagre. Essa escola, cujo
quartel-general foi a cidade de Tubingen, tem sido representada
proeminentemente por Christiano Baur, com sua teoria de Tendências; Strauss,
com sua teoria Mística', e Renan,

com sua teoria Legendária, para explicar a origem das Escrituras do Novo
Testamento, negando, ao mesmo tempo, sua base histórica de fatos.

Essa tendência, com diversos graus de força, tem-se manifestado no caráter da


opinião teológica na Inglaterra e América, principalmente na escola de
Coleridge, Maurice, Stanley, Jowett e Williams, e entre os latitudinários em
geral; na Escócia, em Tulloch; e na América, no falecido Theodoro Parker, na
escola dos cristãos liberais e na relaxação geral da fé, que se nota em toda parte.

German Rationalism, por Hagenbach, Clarke Edinburgh Library; History of


German Protestantism, por Kahnis, Clarke Ed. Lib.; Criticai History ofFree
Thought, por A. S. Farrar, New York, D. Appleton & Co.; Germany: its
Universities, Theology and Religion, por Philip Schaff, D. D. History of
Rationalism, President Hurst, C. Scribner, New York.

6. Quais as duas classes em que se pode agrupar todas as bases argumentativas


de oposição ao cristianismo histórico?

Ia. Bases apriori. Estas descansam em idéias falsas sobre a existência e natureza
de Deus e de Sua relação com o mundo. Por isso o positivista, que limita os
conhecimentos do homem a fenômenos e suas leis de coexistência e seqüência; o
deísta, que nega a imanência de Deus nas Suas obras, e nega também ou torna
remota ou obscura a Sua relação conosco como Governador moral e Pai
espiritual: o panteísta, que nega a personalidade de Deus; e o naturalista
científico, que vê na natureza somente a operação de leis físicas que são
invariáveis e automáticas: todos negam igualmente a possibilidade
e credibilidade de um milagre, resolvem a inspiração em gênio, e de um ou de
outro modo, explicam as Sagradas Escrituras de forma que não lhes fica base
histórica de fatos. Esta classe de questões já foi discutida acima, no Cap. 2.

2a. Bases históricas e críticas. Estas descansam todas nos defeitos que se alega
acharem-se nas provas históricas da

genuinidade e autenticidade dos diversos livros do “cânon sagrado”, e nas


discrepâncias e erros históricos e científicos que se diz encontrarem-se nas
Escrituras. Desta classe de questões trata-se nas seções de Introdução Bíblica e
Hermenêutica.

7. Quais os argumentos em prova de que a razão não é, em última instância, a


medida das idéias religiosas, de que estas não têm nela sua origem?

São, em geral, três: ■

Io. Apriori. A razão, por causa do estado atual do homem, que é estado de
ignorância, degradação moral e culpa, não tem as qualidades necessárias para
torná-la competente para adquirir, de per si, nem (1) certeza, nem (2)
conhecimento suficiente para o governo prático do homem, quanto à existência
de Deus, Seu caráter, Sua relação conosco, ou Seus propósitos a nosso respeito.
2o. A experiência universal: a razão, de per si, nunca conseguiu resolver esses
problemas, e sempre, quando os homens confiavam nela de um modo indevido,
levou-os, apesar de uma revelação desprezada, para o ceticismo e a confusão.

3o. Como questão de tato, tem-nos sido dado um documento infalível de uma
revelação sobrenatural, o qual, quando interpretado com o auxílio iluminador do
Espírito Santo, nos ensina conhecimentos que são necessários à salvação, e que a
“razão” de modo algum podia ter antecipado.

Para estabelecer-se este argumento é necessário que se estabeleçam, em sua


ordem e separadamente, os pontos seguintes:

Io. Uma revelação sobrenatural é necessária para o homem, no seu estado atual.

2o. Uma revelação sobrenatural é possível tanto a parte Dei quanto a parte
hominis.

3o. Por aquilo que a teologia natural nos revela, dos

atributos de Deus, de Suas relações para com os homens e de nosso estado


moral, uma revelação sobrenatural é antecedentemente provável. ,}:t • '

4o. E um fato histórico que o cristianismo é uma revelação sobrenatural.

5o. É também um fato histórico que o cânon atual do Velho e Novo Testamentos
só consta dos documentos autênticos e genuínos que atualmente existem dessa
revelação e contém todos esses documentos.

6o. Os livros de que se compõe esse cânon foram inspirados de um modo


sobrenatural, de maneira que constituem a Palavra de Deus, e uma regra infalível
e autorizada de fé e prática para os homens. « 1 *

8. Provas de que uma revelação sobrenatural é necessária para os homens no


seu estado atual.

Ia. A própria razão ensina: (1) que, como questão de fato, a natureza moral do
homem está em desordem, e (2) que suas relações para com Deus acham-se
perturbadas pela culpa e aberração.
A razão pode descobrir o fato de existir o pecado, mas nenhuma sugestão faz,
quanto ao modo de remediá-lo. Podemos determinar a priori que Deus está
resolvido a punir o pecado, porque isso, sendo matéria de justiça, descansa
na Sua natureza inalterável e necessária; mas nada podemos determinar assim
quanto à Sua disposição de prover, ou permitir que se ofereça, um remédio,
porque isso, sendo matéria da Sua graça, depende da Sua vontade.

2a Um anelo religioso espontâneo, natural e universal, por uma divina


automanifestação e intervenção da parte de Deus, e que é manifesto em toda a
história humana, prova a necessidade de uma revelação sobrenatural.

3a. A razão nunca, no caso de nenhuma comunidade histórica, conseguiu dar aos
homens certeza; satisfazer às suas necessidades e regular a sua vida. ■ -

4a. O racionalismo é forte só para atacar e destruir. Nunca mostrou-se muito apto
para construir. Não há dois racionalistas proeminentes que concordem quanto ao
que sejam os resultados positivos e certos do ensino da razão. ]

9. Provas de que uma revelação sobrenatural épossível da parte de Deus e


também quanto ao que diz respeito ao homem.

Quanto à sua possibilidade da parte de Deus - se o teísmo ! é verdadeiro - se


Deus é uma Pessoa infinita e extra-terrena, que ainda dirige a operação das leis
que Ele instituiu como Seu método, e subordinou o sistema físico aos
interesses superiores do Seu governo moral - então é evidente que limitá--10
quanto à maneira, ao caráter e à extensão de Suas auto-manifestações a Suas
criaturas, é um absurdo. Todas as pressuposições filosóficas alegadas contra a
possibilidade de uma revelação sobrenatural da parte de Deus, têm por
base princípios deístas, materialistas ou panteístas. O argumento que estabelece
o teísmo já expusemos no Cap.2.

Para provar que, da parte do homem, há uma impossibilidade de comunicar-se-


lhe verdades novas por meio de uma revelação em forma de livro, os modernos
racionalistas transcendentais têm empregado este argumento: as palavras são
sinais convencionais que têm o poder de despertar, na mente, só as idéias que,
tendo sido apreendidas anteriormente, têm sido associadas convencionalmente a
essas palavras.

RESPONDEMOS: Io. Admitimos que é necessário que as simples idéias


definitivas que não se pode analisar, sejam primeiro apreendidas por um órgão
apropriado num ato de intuição espontânea. Ninguém pode chegar a ter a idéia
de cores senão pela função de seus olhos; nem a idéia do que é : direito senão por
um ato intuitivo de seu sentido moral.

2o. A revelação cristã não contém novas idéias simples, defi-nitivas, e


impossíveis de serem analisadas. Ela pressupõe e envolve a matéria de todas as
intuições semelhantes e naturais, e desperta as intuições racionais e morais a um
exercício

mais ativo e normal pela associação com novos aspectos de nossas relações
espirituais; pela maior parte, porém, ela narra fatos objetivos e concretos, explica
a aplicação de princípios intuitivos às nossas verdadeiras relações e condições
históricas; e faz-nos saber os propósitos, exigências e promessas de Deus.

3o. Até novas idéias simples podem ser despertadas na mente humana, por meio
de uma iluminação interior, sobrenatural e espiritual, operando nas mentes
daqueles que são os objetos da experiência religiosa. A obra do Espírito Santo,
acompanhando a palavra escrita, completa a revelação. Um cristão
experimentado, sob o ensino do Espírito Santo aplicando a Palavra de Deus, tem
um conhecimento tão claro e certo da matéria compreendida na sua experiência
como é o que tem da matéria que percebe por meio de seus sentidos corporais.

10. Demonstrar, pelos dados da teologia natural, que no estado atual da


natureza humana, uma revelação sobrenatural é antecedente provável.

Como mostramos no Cap. 2, a teologia natural nos ensina que existe um Deus
pessoal que é infinito, eterno, sábio, e absolutamente justo, reto e benévolo.
Ensina-nos, também, que o homem criado à imagem divina é corrupto
moralmente e condenado judicialmente. Revela-nos que o homem precisa da
ajuda de Deus, que ele a anela e espera, e que por isso não está incapacitado para
ela, como o estão os anjos maus. Por conseguinte, todas as perfeições de Deus e
todas as misérias dos homens autorizam a esperança racional de que, em
algum tempo e de algum modo, Deus, na Sua graça, esteja disposto a intervir de
um modo sobrenatural a favor do homem e a revelar Seu caráter e Seus
propósitos mais plenamente para direção do homem.

11. Como se pode provar que, como fato histórico, o cristianismo


é realmente uma estupenda revelação sobrenatural? . .,

A este respeito, é necessário referir ao leitor os muitos e excelentes tratados


sobre as evidências do cristianismo. As obras por Paley, Chalmers, Erskine e
Alexander sobre as Evidências; Criticai History of Free Thought, por A. S.
Farrar; Evidences of Christianity, por Hopkins; Evidences of Christianity in the
Nineteenth Century, por Albert Barnes; Leading Evidences of Christianity, por
G. Wardlaw; Apologetics ofthe Christian Faith, por Hetherington; Grounds of
Christian Hope, por Leathes; Supernatural in the New Testament, por Row;
Superhuman Origin of the Bible, por Rogers; Modem Doubt and Christian Belief
por Christlieb; Historical Evidence of the Truth of the Scripture Records, por
Rawlinson; Christianianity and Morality, por Wace; Cautions for Doubters, por
Titcomb; Prize Essay on Infidelity, por Pearson; Witness of History to Christ, por
E W. Farrar.

12. Como se pode provar que o cânon aceito do Velho e do Novo Testamentos
consta só dos livros autênticos e genuínos da revelação cristã e contém todos
esses livros?

A este respeito também é preciso recomendar ao leitor os melhores tratados


sobre o cânon das Sagradas Escrituras. B. F. Westcott, sobre The Canon e
sobrelntroduction to the Study of the Gospels; When were our Gospels
composed?, por Tischendorf; Historie Ongen ofthe Bible, por E. Cone Bissell;
The Supernatural Origin of Christianity e The Beginnings of Christianity,
por Prof. George P Fisher.

13. Qual é a natureza e qual a extensão da inspiração das Escrituras Sagradas


?

Veja a seguir, no Cap. 4.

14. Qual é o ofício legítimo da razão na esfera da religião?

Io. A razão é a revelação primária que Deus fez ao homem,

e é necessariamente presuposta em toda revelação subseqüente, seja qual for sua


espécie.

2o. Por isso a razão, inclusive a natureza moral, emocional e a experiência, é


necessariamente o instrumento por meio do qual apreendemos e recebemos todas
as revelações subseqüentes. Uma revelação dirigida aos irracionais seria
tão inconseqüente como a luz para os cegos. Este éousus organicus da razão.

3o. Segue-se que nenhuma revelação subseqüente pode contradizer a razão,


operando legitimamente dentro da sua própria esfera. Porque, de outro modo, (1)
Deus Se contradiria a Si mesmo, e (2) a fé se tornar-ia impossível. Quando
cremos, assentimos que uma coisa é verdadeira; mas quando essa coisa contradiz
a razão, vemos que não é verdadeira. Por conseguinte, a razão, julgando pelas
evidências, ou interpretando os escritos de uma revelação sobrenatural, tem o
ofício de exercer ojudi-cium contradictionis. A razão tem, pois, que determinar
duas questões: (1) Seria Deus quem fala? (2) Que diz Ele? Isso, porém, exige (a)
a cooperação de todas as faculdades do saber, tanto as morais como as
puramente intelectuais; (b) um espírito humilde e dócil; (c) sinceridade perfeita e
lealdade à verdade; (d) prontidão para a prática de toda verdade conhecida, e (e)
a iluminação e a assistência do Espírito da verdade que nos é prometido.

Esta é a antiga distinção entre aquilo que é contrário à razão e aquilo que está
acima dela. E evidente que o maior absurdo que podemos cometer é alegarmos,
como objeção a uma revelação acreditada por toda espécie de provas, que
a nossa razão não pode compreender o que essa revelação ensina, ou que ela
contém elementos que parecem inconciliáveis com outras verdades. Porque: (1)
Essa objeção pressupõe que a razão humana é a mais exaltada forma de
inteligência, o que é um absurdo. (2) Não há outro ramo em que os homens
limitem a sua fé por sua capacidade de compreender. Pergunto: o
que compreendem ou entendem os cientistas quanto à natureza original dos
átomos, da inércia, da gravidade, da energia ou força, e da vida ? No entanto,
crêem em tudo isso, e não há

momento em que não se vejam obrigados a aceitar o incompreensível como uma


verdade e a reconhecer que o inexplicável é certo. ;

Toda a incredulidade especulativa tem sua origem no louco orgulho do espírito


humano, no desejo insaciável de ver tudo explicado, e, sobretudo, de ver todo o
conhecimento reduzido em aparência à unidade lógica. O senso comum e o
hábito de reduzir as opiniões à prática conduzem à saúde do corpo e do espírito,
e também, à fé religiosa. ;

15. Que é Filosofia, e qual a sua relação com a Teologia?


Filosofia, no seu sentido lato, abrange todos os conhecimentos humanos
adquiridos por meio das faculdades naturais do homem, e consiste nesses
conhecimentos interpretados e sistematizados pela razão. Ciência é palavra mais
específica, que diz respeito a algum ramo especial, reduzido perfeitamente a um
sistema. Em nossos dias, o termo ciência está sendo limitado mais e mais
definidamente ao conhecimento dos fenômenos físicos do universo. Neste
sentido, a ciência tem por alvo a determinação dos fenômenos nas suas
classificações de semelhança e dissemelhança, e suas leis ou ordem
de coexistência ou sucessão, e não indaga sobre substância, causa, propósito, etc.
A filosofia é pressuposta, pois, na ciência como o conhecimento primário e mais
geral. Indaga a respeito do âmago das leis do pensar, da intuição e da verdade
absoluta, da substância e existência real, da causa absoluta, da natureza absoluta,
da força e da vontade, da consciência e do dever.

Quanto às suas relações com a teologia, nota-se:

Io. Que os primeiros princípios da verdadeira filosofia são pressupostos em toda


a teologia, tanto natural como revelada.

2o. Que as Sagradas Escrituras, se bem que não tenham primariamente a


finalidade de ensinar filosofia, contudo pressupõem necessariamente e envolvem
os princípios fundamentais de uma filosofia verdadeira - não as
inferências deduzidas desses princípios agrupados num sistema, e sim os

próprios princípios, os que dizem respeito a substância e causa, a consciência e o


dever.

3o. A filosofia em voga em qualquer tempo reagiu e necessariamente reagirá ante


a interpretação das Escrituras e a formação de sistemas teológicos. Isso foi
verdade quanto ao Platonismo, ao Neo-Platonismo do segundo período; quanto à
filosofia aristotélica da Idade Média; aos sistemas de Descartes e Leibnitz; de
Kant, Fichte, Schelling e Hegel na Europa continental, e de Locke, Ried,
Coleridge, etc., na Inglaterra.

4o. O crente devoto, porém, que tem a certeza de ser a Bíblia a própria Palavra
de Deus, nunca pode permitir que a sua filosofia, derivada de fontes humanas,
domine a sua interpretação da Bíblia, mas procurará com espírito dócil e com o
auxílio do Espírito Santo, fazer sua filosofia harmonizar-se perfeitamente com
aquilo que é contido implicitamente na Palavra de Deus. Há de procurar, sem
falta, ter uma filosofia que seja serva genuína e natural daquilo que está
revelado nessa Palavra.

Todo o pensar humano e toda a vida humana são um. Se, pois, Deus fala com
qualquer finalidade, Sua palavra deve ser suprema; e até onde diz respeito a
qualquer ramo das opiniões e ações dos homens, deve ser aceita nesse ramo
como autoridade indiscutível e como a Lei suprema.

As diversas seções em que se divide a teologia cristã já foram enumeradas no


capítulo 1.
, A Inspiração das Escrituras

PRESSUPOSIÇÕES NECESSÁRIAS

1. Quais são as pressuposições necessárias quanto a princípios e questões de


fato, que é preciso admitir-se antes de poder afirmar a possibilidade da
inspiração ou a inspiração de qualquer livro em particular?

Ia. A existência de um Deus pessoal possuindo, em absoluta perfeição, os


atributos de poder, inteligência e excelência moral. ,:

2a. Que, em Sua relação com o universo, Ele é ao mesmo tempo imanente e
transcendente. Que está acima de tudo, e sobre tudo age livremente, de fora. Que
está dentro de tudo e age através de toda parte do interior, no exercício de todas
as Suas perfeições, e segundo as leis e modos de ação que tem estabelecido para
as Suas criaturas, sustentando-as e governando-as em todas as Suas ações.

3a. Que o governo moral de Deus sobre os homens e sobre todas as criaturas
inteligentes, governo que Ele exerce por meio da verdade e de outros motivos
dirigidos à razão delas e à vontade delas, recompensa-as e castiga-as segundo os
seus caracteres e as suas ações morais, e educa-as benevolamente para o seu
destino exaltado, em Sua comunhão e em Seu serviço.

4a. O fato de que a raça humana, em vez de progredir por via de um


desenvolvimento natural de uma condição moral inferior para uma condição
moral superior, caiu de seu estado

e relação originais e está agora perdida numa condição que envolve corrupção e
culpa, e é incapaz de salvar-se dela sem intervenção sobrenatural. ; ion v'

5a. A integridade histórica das Escrituras Sagradas, sua veracidade como


história, e a genuinidade e autenticidade dos diversos livros que a compõem.

6a. A verdade do cristianismo, no sentido em que este se acha exposto nos


documentos sagrados.

Todas essas pressuposições necessárias, a verdade das quais está envolvida na


doutrina de serem inspiradas as Sagradas Escrituras, dividem-se em duas classes
-

(Ia) As que se fundam na intuição, e as provas morais e espirituais da verdade


divina como sejam, a existência e os atributos de Deus e Suas relações com o
mundo e com os homens; o testemunho da consciência moral dos homens de que
são pecadores condenados justamente, e incapazes de salvar-se por si mesmos.

(2a) As que se fundam em questões de fato, e que dependem do testemunho


histórico e crítico quanto à verdadeira origem e ao conteúdo dos livros sagrados.

Se se duvidar de qualquer desses princípios ou fatos, deve-se procurar as suas


provas nas divisões da teologia que tratam deles especialmente, como por
exemplo, no ramo da apologética - o argumento teísta e a teologia natural, as
provas do cristianismo, a origem histórica das Escrituras, o cânon, crítica e
exegese do texto sagrado.

EXPOSIÇÃO DA DOUTRINA DA IGREJA SOBRE A INSPIRAÇÃO

2. Qual o sentido em que a Bíblia é inspirada, segundo o ensino universal da


Igreja, e até onde é que se estende essa inspiração, segundo esse mesmo ensino?

A Igreja ensina universalmente que os escritores sagrados eram de tal modo


influenciados pelo Espírito Santo que seus

escritos, em seu todo e em todas as suas partes, são a Palavra de Deus para nós -
uma revelação de autoridade, que Deus nos fez, aprovada por Ele e enviada a
nós como uma regra de fé e prática. Os escritos originais da qual eram
absolutamente infalíveis, quando interpretados no sentido em que os
autores empregavam as palavras que escreveram com autoridade divina absoluta.

3. Que quer dizer inspiração “plena”?

Uma influência divina, plena e suficiente para conseguir o seu fim. O fim
conseguido, neste caso, é a perfeita infalibilidade das Escrituras em todas as suas
partes, como documento autêntico quanto aos fatos narrados e
doutrinas ensinadas; e infalível tanto a respeito dos pensamentos expostos como
das expressões empregadas na sua exposição. De modo que, não obstante virem
a nós por meio do espírito, coração, imaginação, consciência e vontade de
homens, são ainda assim, no sentido mais restrito do termo, a Palavra
de Deus. • • ■. °

4. Que quer dizer a expressão “inspiração verbal”, e como se pode provar que
as palavras da Bíblia foram inspiradas?

Quer dizer que, fosse qual fosse a influência divina que assistia aos sagrados
escritores naquilo que escreveram, estendeu-se à expressão de seus pensamentos
em palavras, como também aos pensamentos. Sendo o efeito disso que,
nos escritos originais, a linguagem exprime com certeza infalível os
pensamentos que Deus queria manifestar, de modo que as palavras, bem como os
pensamentos, são a revelação que Deus nos fez. Que essa influência estendia-se
às palavras, torna-se evidente-

Io. Pelo próprio desígnio que a inspiração tinha em vista, que não era tornar
infalivelmente acertadas as opiniões dos homens inspirados (havia diferenças de
opinião entre Paulo e Pedro, Gál. 2:11, e às vezes os profetas não sabiam o
sentido

daquilo que escreviam), e sim, fazer com que nos documentos fosse consignada
infalivelmente a verdade. Todavia um documento consta de palavras. ,i

2o. Os homens pensam em palavras, e quanto mais defmidamente pensam, tanto


mais imediatamente se acham seus pensamentos associados com uma expressão
verbal exatamente apropriada ao pensamento. Por conseguinte, é impossível
conseguir-se ou conservar-se infalibilidade nos pensamentos independentes da
infalibilidade na sua expressão verbal.

3o. As Escrituras afirmam a sua inspiração verbal. 1 Cor. 2:13; 1 Tess. 2:13. -v.

4o. Os escritores do Novo Testamento, quando citam o Velho Testamento em


apoio de um argumento, muitas vezes baseiam o argumento nas próprias
palavras empregadas, atribuindo assim autoridade às palavras, e não só aos
pensamentos que as palavras exprimem - Mat. 22:32 e Ex. 3:6,16; Mat. 22:45 e
Sal. 100:1; Gál. 3:10 e Gên. 17:7, no original e na Vulgata.

5. Por quais meios produziu Deus, segundo o ensino da Igreja, o resultado


acima definido? ■

A doutrina da Igreja reconhece o fato de que as Escrituras são, ao mesmo tempo,


um produto da ação de Deus e dos homens. Os escritores humanos produziram,
cada um a sua parte, no exercício livre e natural de suas faculdades pessoais, nas
condições históricas em que se achavam. Deus, também, de tal modo operou
concorrentemente nesses e por esses escritores que o inteiro organismo das
Escrituras e cada parte delas é, para nós, a Sua palavra infalivelmente verdadeira,
no sentido em que foi escrita e é de autoridade absoluta.

A ação de Deus inclui os três elementos seguintes:

Io. Sua ação providencial em produzir as Escrituras. O curso inteiro da redenção


da qual a revelação e a inspiração eram funções especiais, foi uma providência
especial,

dirigindo a evolução de uma história especialmente providencial. Nesta, o


natural e o sobrenatural continuamente interpenetravam-se. Mas, como era
necessariamente o caso, o natural era a regra e o sobrenatural a exceção; sendo
este, porém, tão pouco sujeito a acidentes e tanto sujeito ao desígnio racional de
Deus, como o é o natural. Assim, Deus produziu providencialmente, a Seu
tempo, os homens expressamente destinados para ocasiões determinadas,
revestidos das faculdades, qualidades, educação e experiência da
graça necessárias para a produção dos escritos que Deus tencionava fazer
aparecer. Moisés, Davi, Isaías, Paulo ou João; gênio e caráter, natureza e dotes
da graça, lavrador, filósofo ou rei; o homem e, com ele, todos os sutis acidentes
pessoais foram preparados providencialmente no momento próprio como
as necessárias precondições instrumentais para a obra que se devia fazer.

2o. A revelação de verdades inatingíveis de outro modo. Sempre que o escritor


não possuía ou não podia por meios naturais tornar-se possuidor do
conhecimento que Deus queria comunicar, foi-lhe revelado, de uma maneira
sobrenatural, mediante palavras ou uma visão. Esta revelação era sobrenatural,
objetiva quanto a quem a recebia, e era-lhe certificada como verdade, de origem
divina por testemunho apropriado. Foi revelada dessa maneira, diretamente,
grande parte das Escrituras - as profecias sobre eventos futuros, as
doutrinas peculiares do cristianismo, as promessas e ameaças da Palavra de
Deus, etc., mas não foi revelado, de modo algum, todo o conteúdo das
Escrituras. .

3o. Inspiração. Os escritores estavam sujeitos a uma divina influência plena


chamada inspiração, que atuava sobre e mediante suas faculdades naturais, em
tudo o que escreveram, dirigindo-os na escolha do assunto e em todo o curso de
seus pensamentos e no modo de os exprimir em palavras, de maneira que, sem
interferência no livre exercício natural de suas faculdades, eles, livre e
espontaneamente, produziram

os próprios escritos que Deus queria que produzissem, e que possuem assim os
atributos de infalibilidade e autoridade, como supra definidos.

A inspiração difere, portanto, da revelação - (1) Em que a inspiração é a


constante experiência dos escritores sagrados em tudo o que escreveram, e em
que afeta a infalibilidade igual de todos os escritos que produziram; enquanto
que a revelação, como já dissemos acima, era concedida sobrenaturalmente, só
quando era necessária. (2) Em que a revelação comunica, objetivamente, ao
escritor, verdades desconhecidas; enquanto que a inspiração era uma influência
divina, operando subjetivamente sobre os sagrados escritores, sem comunicar-
lhes nada, mas dirigindo suas faculdades no seu exercício natural, de modo que
produzissem documentos autênticos e infalíveis quanto às matérias de história,
doutrina, profecia, etc. que Deus tinha o desígnio de enviar por meio deles à Sua
Igreja.

Ela difere da iluminação espiritual em que esta é um elemento essencial na obra


santificadora do Espírito Santo comum a todos os cristãos. Nunca resulta no
conhecimento dç verdades novas, e sim, somente no discernimento da beleza e
do poder espirituais das verdades já reveladas nas Sagradas Escrituras. -A<f.l-

A inspiração é uma influência especial do Espírito Santo, que foi peculiar aos
profetas e apóstolos e lhes assistia só no exercício de suas funções como mestres
divinamente acreditados. A maioria deles foi inspirada e também
iluminada espiritualmente. Alguns, como Balaão, não sendo regenerados foram
inspirados, porém estavam sem iluminação espiritual.

AS PROVAS DA DOUTRINA DA IGREJA SOBRE A INSPIRAÇÃO

6. Quais as fontes de onde se deve tirar as provas quanto à natureza e à


extensão da inspiração das Escrituras? ,, ,

Ia. As asserções das próprias Escrituras Sagradas.

2a. Os fenômenos das Escrituras quando examinados criticamente. r .


AS AFIRMAÇÕES DAS ESCRITURAS SAGRADAS QUANTO À
NATUREZA DA SUA . u,, PRÓPRIA INSPIRAÇÃO

7. Como se pode justificar a apresentação das asserções das Sagradas


Escrituras como prova da sua inspiração?

Não raciocinamos num círculo vicioso quando baseamos a verdade da inspiração


das Escrituras em suas próprias asserções. Chegamos a esta questão já crendo na
credibilidade das Escrituras como história, e na de seus escritores
como testemunhas de fatos, e na verdade do cristianismo e na deidade de Cristo.
Por conseguinte, deve ser verdade tudo quanto Cristo afirma a respeito do Velho
Testamento, tudo quanto prometeu aos apóstolos, tudo quanto estes asseveram a
respeito de uma influência divina, operando neles e por meio deles; ou a respeito
da infalibilidade e autoridade dos seus escritos. E isso mais especialmente
porque todas as suas reivindicações foram endossadas por Deus, operando com
eles por meio de sinais maravilhosos e dons do Espírito Santo. E evidente que, se
negarmos a sua inspiração e a infalibilidade e autoridade dos seus escritos, os
acusaremos de presunção fanática e de fazerem falsas representações do caráter,
o mais grosseiro, e negaremos a validade do seu testemunho sobre qualquer
ponto. Se negarmos a inspiração plena das Escrituras, ficará solapada toda a fé
cristã.

8. Como se pode, com justiça, inferir a inspiração dos apóstolos do fato de


fazerem milagres?

O milagre é um sinal divino, credenciando a pessoa a quem foi concedido esse


poder, como agente comissionado divinamente - Mat. 16:1-4; Atos 14:3; Heb.
2:4. Este

testemunho divino não só anima a crer, mas torna absolutamente obrigatório o


dever de crer. Deus nos manda crer quando vemos um sinal; mas não podia
mandar-nos crer em coisa que não fosse verdade pura comunicada de um
modo infalível. . . .

9. Como se pode mostrar que o dom da inspiração foi prometido aos


apóstolos?

Mat. 10:19; Luc. 12:12; João 14:26; 15:26; 16:13; Mat. 28:19,20; João
13:20. , ... .
10 .De que modos diversos os apóstolos reivindicaram para si, aposse do
Espírito?

Disseram:

10. Que tinham o Espírito de conformidade com a promessa de Cristo-Atos


2:33; 4:8; 13:2-4; 15:28; 21:11; 1 Tess. 1:5.

2o. Falaram como os profetas de Deus - 1 Cor. 4:1; 9:17; 2 Cor. 5:19; 1 Tess. 4:8.

3o. Falaram com autoridade plena - 1 Cor. 2:13; 1 Tess. 2:13; 1 João 4:6; Gál.
1:8,9; 2 Cor. 13:2,3,4. Colocam seus escritos na mesma categoria das Escrituras
do Velho Testa-mentja: 2 Ped. 3:16; 1 Tess. 5:27; Col. 4:16; Apoc. 2:7-Dr. I
Iodge. ,

11. Como foram confirmadas suas asserções a esse respeito?

Io. Por sua vida santa, simples, temperada e ao mesmo

tempo heróica.

2o. Pela santidade da doutrina que ensinaram e pela virtude espiritual dessa
doutrina, atestada por seus efeitos sobre comunidades e indivíduos.

3o. Pelos milagres que realizaram - Heb. 2:4; Atos 14:3; Mar. 16:20.

4o. Todos estes testemunhos nos vêm, não só comprovados pelos escritos dos
próprios apóstolos, mas também pelo

testemunho uniforme dos primeiros cristãos, seus contemporâneos e seus


sucessores imediatos.

12. Como demonstrar que os escritores do Velho Testamento ] declaravam-se


inspirados?

Io. Moisés diz-nos que escreveu, pelo menos, parte do Pentateuco por ordem
divina: Deut. 31:19-22; 34:10; Núm.

16:28,29-Davi afirma que falou por inspiração-2 Sam. 21:1.


2o. Como fato característico, os escritores do Velho Testamento não falam em
seu próprio nome, mas introduzem suas mensagens com o prefácio: “Disse o
Senhor”, “O Senhor me disse”, “O Senhor falou”, etc.: Jer. 9:13; 13:13; 30:4; Is.
8:1; 23:11; Miq. 4:4. Amós 3:1; Deut. 18:21,22; 2 Sam. 21:1; 1 Crôn. 17:3 - Dr.
Hodge.

13. Como foram confirmadas as suas asserções a esse respeito?

Io. Foram confirmadas a seus contemporâneos pelos

milagres que esses profetas realizaram, pelo cumprimento de muitas de suas


predições (Núm. 16:28-33), pela santidade de sua vida, pela perfeição moral e
espiritual de sua doutrina, e pela adaptação prática do sistema religioso que
revelaram às necessidades urgentes dos homens.

2o. São confirmadas a nós principalmente - (1) Pelo cumprimento notável de


muitas de suas predições, séculos depois de proferidas. (2) Pela evidente relação
que existia entre a religião simbólica que promulgaram e os fatos e doutrinas do
cristianismo, provando assim, um divino pré-ajustamento do tipo para o antítipo.
(3) Pelo abono de Cristo e Seus apóstolos. Í

14. Quais as fórmulas que introduzem no Novo Testamento muitas das citações
tiradas do Velho Testamento; e como provam essas formas de expressão a
inspiração das antigas Escrituras?

“O Espírito Santo diz”, Heb. 3:7; “Significando com isto o Espírito Santo” Heb.
9:8; “Diz o Senhor”, Atos 2:17 e Is.

44:2; “Diz a lei” 1 Cor. 9:9,10 e Deut. 25:4; “Diz a Escritura”, Rom. 4:3; Gál.
4:30; “Está escrito” Luc. 18:31; 21:22; João 2:17; 20:31; Rom. 4:17; “Disseste
pelo Espírito Santo por boca de Davi”, Atos 4:25 e Sal 2:1,2; “Deus determina...
um certo dia... dizendo por David”, Heb. 4:7 e Sal. 9:7, 8 ; “Davi lhe chama em
espírito, dizendo”: Mat. 22:43 e Sal. 110:1.

Assim, pois, as Escrituras do Velho Testamento são o que Deus disse, o que
falou por boca de Davi, etc. e são citadas como bases autorizadas para
argumentação conclusiva; por isso não podem deixar de ser inspiradas.

15. Como se pode provar a inspiração dos escritores do Velho Testamento


pelas declarações expressas do Novo Testamento?

Luc. 1:70; Heb. 1:1; 2 Tim. 3:16; 1 Ped. 1:10,12; 2 Ped.

1:21.

16. Qual é o argumento sobre este ponto, tirado da maneira pela qual Cristo e
Seus apóstolos, nos seus argumentos, muitas vezes citam o Velho Testamento
como autoridade suprema?

Cristo cita, constantemente, o Velho Testamento. Mat. 21:13; 22:43. Declara que
não pode falhar, João 7:23; 10:35; que a lei toda éobrigatória, Mat. 5:18; e que
era necessário que se cumprisse tudo o que a Seu respeito se acha escrito
em “Moisés”, os profetas e os Salmos”, Luc. 24:44. Os apóstolos costumam citar
o Velho Testamento do mesmo modo. “Para que se cumprisse o que se achava
escrito” é, para eles, uma fórmula característica: Mat. 1:22; 2:15; 17:23; 26:54;
João 12:38; 15:25, etc. Todos apelam para as palavras das Escrituras como
autoridade suprema. Isso, de certo modo, prova a infalibilidade das Escrituras.

OS FENÔMENOS DAS ESCRITURAS CONSIDERADOS COMO PROVAS


DA NATUREZA E EXTENSÃO DA SUA INSPIRAÇÃO

17. Que provas temos nos fenômenos das Escrituras sobre a natureza e extensão
das causas humanas que cooperaram para produzi-las?

Toda parte das Escrituras igualmente contém provas de uma origem humana. Os
escritores de todos os livros eram homens, e o processo de composição que lhes
deu origem era, caracteristicamente, processo humano. As
características pessoais do modo de pensar e sentir dos escritores
operaram espontaneamente na sua atividade literária e imprimiram caráter
distinto em seus escritos, de um modo em tudo semelhante ao efeito que o
caráter de quaisquer outros escritores produz nas suas obras. Escreveram
impelidos por impulsos humanos, em ocasiões especiais e com fins
determinados. Cada um deles enxerga o seu assunto do seu ponto individual
de vista. Recolhe o seu material de todas as fontes que lhe são acessíveis - da
experiência e observação pessoais, de antigos documentos e de testemunho
contemporâneo. Arranja seu material com referência ao fim especial que tem em
vista; e de princípios e fatos tira inferências segundo o seu próprio modo, mais
ou menos lógico, de pensar. Suas emoções e imaginações exercitam-se
espontaneamente e manifestam-se como co-fator nas suas composições. As
limitações de seu conhecimento pessoal e de seu estado mental em geral, e
os defeitos de seus hábitos de pensar e de seu estilo são tão óbvios em seus
escritos como o são outras quaisquer de suas características pessoais. Usam a
linguagem e os modismos próprios da sua nação e classe social. Adotam os usos
loquendi correntes entre o seu povo, sem tomar a responsabilidade das
idéias filosóficas que lhes deram origem.

Os hábitos e métodos mentais dos escritores eram os da sua nação e geração.


Eram orientais, em sua maioria, e por

isso seus escritos estão repletos de metáforas e símbolos. E, se bem que podemos
confiar sempre na veracidade de suas afirmações, contanto que as limitemos,
segundo a intenção dos autores, àquilo que tinham em vista como seu fim,
eles nunca visavam essa exatidão na enumeração, ou em narrações cronológicas
ou circunstanciais, que caracteriza as estatísticas das modernas nações
ocidentais. Assim como todos os homens puramente literatos, em todos os
séculos, eles descrevem a ordem e os fatos da natureza segundo parecem, e não
de conformidade científica com suas leis ou causas abstratas.

Muitos pensadores superficiais têm dito que alguns dos fatos que acabamos de
mencionar não condizem com o fato alegado de serem os escritores sagrados
dirigidos divinamente. Mas, se refletirmos, parecer-nos-á evidente que, se Deus
quiser revelar-Se a nós, não irá fazê-lo senão sob todas as limitações dos modos
humanos de pensar e falar. E se Ele inspira homens para comunicar Sua
revelação mediante escritos, é necessário servir-Se dos homens de um modo que
condiga com a natureza destes, como agentes racionais e espontâneos. E é
evidente que todas as distinções entre os diversos graus de perfeição
do conhecimento dos homens, e na elegância do dialeto e estilo humanos, nada
são quando olhados à luz das relações comuns do homem para com Deus. E
evidente que Deus podia revelar-Se tão bem por meio de um camponês como de
um filósofo; e muito melhor, se por Sua graça e meios providenciais ajustou,
previamente, as características pessoais do camponês para os fins especiais que
tinha em vista.

18. Que provas temos, nos fenômenos das Escrituras, quanto à natureza e
extensão da influência divina exercida na sua produção?

Ia. Em toda parte das Escrituras acham-se provas morais e espirituais da sua
origem divina, sendo, porém, naturalmente mais conspícuas em algumas partes
que em outras. Encontram-se reveladas nelas verdades transcendentais, uma
moralidade perfeita, uma revelação das perfeições absolutas da Deidade,

uma previsão de eventos futuros, um conhecimento perfeito e íntimo dos


segredos do coração humano, uma luz que esclarece a razão e uma autoridade
que obriga a consciência, uma compreensão de todos os motivos da experiência
e vida humanas, que não podiam vir de fonte que não fosse divina. Tudo isso é
característica de grande parte das Escrituras, e em toda a literatura tudo isso é
característico tão-somente das Escrituras. E isso, juntamente com o testemunho
do Espírito Santo, é, praticamente, o testemunho em que confia a maioria dos
verdadeiros crentes.

2a. No entanto, há outra característica das Escrituras, a qual, tomada em conexão


com o precedente, prova, incon-testavelmente, a sua origem divina, em seu todo
e em cada uma de suas partes. As Sagradas Escrituras são um organismo, isto é,
um todo composto de muitas partes diversificadas entre si em matéria, forma, e
estrutura como os diversos membros do corpo; e, ao mesmo tempo, cada parte se
acha ajustada às outras e ao todo, mediante as correlações, as mais intricadas e
delicadas, mas tendo em vista todas um fim comum.

As Escrituras são a história e a interpretação da obra da redenção. Essa é uma


obra que Deus preparou e levou a efeito por meio de muitos atos sucessivos
durante um processo histórico que durou muitos séculos. Uma
providência sobrenatural ia desenvolvendo, durante esse tempo, um sistema de
intervenções divinas, acompanhadas e interpretadas por uma ordem de profetas
instruídos e dirigidos de um modo sobrenatural. Cada um dos escritores tinha
sua própria ocasião especial e temporária de escrever; e também seus
próprios temas e auditório especiais e temporários. E, contudo, cada um
contribuiu com parte daquilo que era necessário para construir o organismo
comum, ao passo que progredia a história providencial tomando cada
documento, além de servir para o seu fim temporário, o seu lugar permanente
como membro do todo. De modo que o evangelho cumpriu a lei, o

antítipo correspondeu ao tipo e o cumprimento à predição, a história foi


interpretada pelas doutrinas e as doutrinas deram leis ao dever e à vida. Quanto
mais minuciosamente for estudado o conteúdo de cada livro à luz de seu fim
especial, tanto mais diversas e exatas se achará que são suas articulações no
sistema geral do todo, e tanto mais bem ordenada ver-se-á que é a estrutura do
todo. Isso constitui a melhor prova de desígnio que nos é possível imaginar, e no
caso das Escrituras, é prova de uma influência divina e sobrenatural
compreendendo o seu todo, e estendendo-se a todas as partes, durante dezesseis
séculos; compreendendo sessenta e seis escritos, e cerca de quarenta
cooperadores humanos. Assim, pois, a ação divina na gênese de toda parte das
Escrituras é determinada tão claramente e com a mesma certeza como o é na
gênese mais antiga dos céus e da terra.

19. Qual a objeção feita a esta doutrina, baseada na maneira livre por que as
Escrituras do Velho Testamento são citadas no Novo, e qual a resposta a essa
objeção?

Na maioria dos casos, os escritores do Novo Testamento citam os do Velho com


exatidão verbal. As vezes, citam a versão Septuaginta quando está conforme
com o hebraico; outras vezes, introduzem uma outra tradução; e outras vezes
ainda, citam a versão Septuaginta mesmo quando difere do hebraico. Em alguns
casos, comparativamente poucos, suas citações do Velho Testamento são feitas
de um modo muito livre, e em acomodação aparente do sentido literal.

Baseando seu raciocínio sobre esta última classe de citações, os intérpretes


racionalistas têm dito que é impossível que fossem inspirados plenamente, tanto
os escritores do Velho Testamento citados, como também os do Novo
Testamento fazendo as citações, porque dizem eles, se os ipsissima verba eram
infalíveis em primeiro lugar, um escritor infalível os teria transferido sem
alteração. Mas, se é verdade que um autor humano pode citar-se a si mesmo de
um modo

livre, mudando de expressão, e dando um novo jeito ao seu pensamento para


adaptá-lo, o mais perspicuamente, ao fim que tem em vista, o Espírito Santo
pode, por certo, fazer o mesmo. O mesmo Espírito, que tornara infalíveis
os escritores do Velho Testamento para escreverem só a verdade pura, naquela
forma que estava melhor adaptada ao fim que então tinham em vista, tornou
infalíveis os escritores do Novo Testamento para usarem desse material já
disponível de tal modo que, enquanto tirassem dele um sentido novo, ensinassem
só a verdade; e, além disso, a própria verdade que Deus tivera em vista desde o
princípio. E ensinaram essa verdade com autoridade divina - Veja Hermeneutical
Manual, Part 3, por Fairbairn. Cada uma dessas citações deve ser
examinada separadamente e em seus detalhes, como fez o Dr. Fairbairn.

20. Que objeção à doutrina da inspiração plenária tira-se do fato alegado de


existirem “discrepâncias” no texto das Escrituras? E como se deve responder a
esta objeção?

Objeta-se que o texto sagrado contém numerosas asserções e narrações que não
estão de acordo com outras contidas em outras partes das Escrituras, ou com
fatos bem averiguados da história ou da ciência. -

E evidente que semelhante estado de coisas, mesmo se fosse provada a sua


existência, não serviria, à vista das muitas provas apresentadas acima, para
refutar a doutrina de serem as Escrituras, até certo ponto e em certo grau, o
produto da inspiração divina. A força da objeção dependeria, essencialmente, do
número e caráter dos casos de discrepância cuja existência fosse provada; e esses
casos nada provariam contra o fato da inspiração, e diriam respeito só à sua
natureza, grau eextensão. .

E óbvio que o fato de realmente existirem semelhantes “discrepâncias” pode ser


determinado só pelo exame cuidadoso e independente de cada caso alegado. Este
exame pertence aos ramos da crítica e da exegese bíblicas. As seguintes

considerações, porém, são evidentemente bem fundadas, e são suficientes para


acalmar todas as apreensões a este respeito.

Ia. A Igreja nunca ensinou a infalibilidade verbal de nenhuma tradução das


Sagradas Escrituras,1 nem a exatidão perfeita de nenhum dos manuscritos das
Escrituras, no original hebraico e grego, que possuímos agora. E reconhecido
que, nesses exemplares, há muitas “discrepâncias” como resultado de muitas
transcrições sucessivas. E, porém, testemunho unânime dos cristãos letrados que,
ainda que essas variações dificultem a interpretação de muitos pormenores,
não envolvem a perda, nem diminuem as provas de um só fato ou doutrina
essencial do cristianismo. E é um fato consolador que os críticos cristãos,
descobrindo e conferindo exemplares das Escrituras, em manuscritos cada vez
mais antigos e exatos, estão constantemente progredindo no seu desempenho de
dar à Igreja um texto mais perfeito das Escrituras, nas línguas originais, que
nenhum outro dos que possuiam desde os tempos dos apóstolos.

2a. A Igreja afirmou sempre a infalibilidade absoluta só dos registros originais


das Escrituras, como eles saíram das mãos dos escritores inspirados. E mesmo a
respeito destes nunca afirmou que tivessem conhecimentos infinitos, mas só que
eram infalíveis quanto àquilo que tinham o desígnio de anunciar. Uma
“discrepância” pois, no sentido em que os novos críticos afirmam e a Igreja nega
sua existência, é uma palavra, frase ou passagem existindo no registro original
de qualquer parte das Escrituras, cujo fim evidente era de afirmar como verdade
alguma coisa que estava em manifesta e irreconciliável contradição com o que se
dizia em outra qualquer parte desses

mesmos registros originais, em hebraico e grego, das Escrituras, ou em


contradição com qualquer fato conhecido e indubitável. Será necessário que se
prove a existência de uma “discrepância” que, em todos os sentidos, tenha estas
características, antes que a alegação de existirem “discrepâncias” possa afetar a
doutrina da Igreja com referência à inspiração verbal e plenária das Escrituras.

3a. E certo que, à vista de tudo o que as próprias Escrituras afirmam ou


descerram quanto à natureza e extensão da influência divina que regulava e
dirigia a sua gênese, e quanto à sua autoridade sobre a consciência e vida como a
voz de Deus, a existência de “discrepâncias” no sentido supra definido,
é extremamente improvável. Os que afirmam sua existência devem apontá-las e
provar, perante juizes competentes, que todos os elementos da definição supra
encontram-se, em cada caso alegado, não só provavelmente mas sem a
possibilidade de dúvida. O onus probandi está sobre eles exclusivamente.

4a. Esta, porém, é uma tarefa que é muito difícil e até quase impossível de se
desempenhar. Porque, para sustentarem sua posição contra as muitas
probalidades que há contra ela, será necessário que os que afirmam a existência
de discrepâncias nas Escrituras, provem, em cada caso alegado, cada um dos
seguintes pontos: (1) Que a discrepância alegada existia no registro original das
Escrituras inspiradas. (2) Que a interpretação dada ao texto pelo objetor é a única
admissível, e que é aquilo mesmo que o escritor queria dizer. A dificuldade disso
se tornará evidente quando se considerar que são de uma obscuridade inerente
antigas narrações, não cronológicas e fragmentárias, com um fundo quase
impenetrável às nossas pesquisas e escritas, em circunstâncias que não
conhecemos. Este estado de coisas, que tantas vezes embaraça o intérprete e
impede o apologista de provar a perfeita harmonia das narrações, impede, com
igual força, todos os esforços engenhosos dos críticos racionalistas de provar
a existência de “discrepâncias”. Mas tudo isso eles devem fazer,

ou fica em pé a probabilidade da sua não existência. (3) É preciso que provem


também que os fatos científicos ou históricos, ou as afirmações das Escrituras,
que se alegam estar em contradição com esses fatos, sejam deveras fatos, e
que essas afirmações sejam realmente parte do texto inspirado das Escrituras
canônicas, e que o sentido em que elas se acham contraditórias com esses fatos,
seja realmente o único sentido que racionalmente podem ter. (4) Depois de
provadas - a realidade dos fatos, a genuinidade do texto que parece estar em
contradição com eles, e a legitimidade da interpretação que parece também estar
em contradição com esses fatos -será ainda necessário provar que não só parece
haver contradição e que esta parece irreconciliável no estado atual dos nossos
conhecimentos, como também provar que eles, em si, são real e essencialmente
irreconciliáveis.

5a. Finalmente, é suficiente que chamemos a atenção para o fato de que nenhum
caso de “discrepância”, no sentido acima definido desta palavra, tem sido
provado de tal modo que fosse reconhecido pela comunidade de letrados crentes.
Existem, nas Escrituras, muitas passagens difíceis de serem interpretadas, e
outras que parecem irreconciliáveis umas com as outras, mas não se tem provado
nenhuma “discrepância”. A medida que os homens progridem no conhecimento,
desaparecem algumas dificuldades e surgem outras. E é provável, no mais alto
grau, que se tivéssemos conhecimento perfeito de tudo, não
encontraríamos dificuldade alguma nas Sagradas Escrituras.

21. Explicar o sentido de passagens como 1 Coríntios 7:6, 12,14; Romanos


3:6,19; Gálatas 3:15, e mostrar sua perfeita consonância com a inspiração
plenária da Bíblia inteira.

“Como homem” ou “humanamente falando” são expressões que se encontram


freqüentemente, e seu sentido fica determinado pelo contexto. Em Romanos 3:6
significa que Paulo, por amor à clareza, servia-se da linguagem comumente

usada entre os homens; o que dizia era opinião dos judeus, não a sua própria. Em
Romanos 6:19 significa: “de um modo adaptado à compreensão humana”; e em
Gálatas 3:15, significa: “sirvo-me de uma ilustração tirada das coisas humanas”,
etc.

Em 1 Coríntios 7:6: “Eu digo isto por permissão” (segundo o original e a


vulgata, “secundum indulgentia”) “e não por mandamento”, refere-se ao
versículo 2. O matrimônio sempre era permitido, porém em certas circunstâncias
era inoportuno.

“Aqueles que estão unidos em matrimônio mando, não eu, senão o Senhor”;
“Aos mais digo eu, não o Senhor” - 1 Cor. 7:10,12. Aqui o apóstolo refere-se
àquilo que “o Senhor”, isto é, “Cristo” ensinou quando estava na terra, e
distingue entre aquilo que Cristo ensinou e o que o apóstolo ensina. E como
Paulo, nesta passagem, põe suas palavras em igualdade de autoridade com as de
Cristo, este fato mostra que Paulo reivindicava para si uma inspiração que
tornava sua palavra igual à de Cristo, em infalibilidade e autoridade.

“Julgo que também eu tenho o espírito de Deus” - 1 Cor. 7:40. “Julgo que tenho”
é, segundo o uso da língua grega, só um modo regional de dizer: eu tenho. Sobre
o uso deste verbo no grego, confira-se Gálatas 2:6 e 1 Coríntios 12:22. Paulo não
tinha nenhuma dúvida de ser instrumento do Espírito Santo - Hodge, Com. on
First Corinthians.

DECLARAÇÃO DEFECTIVA DA DOUTRINA

22.Diga qual o sentido em que os escritores teológicos empregam os termos de


“inspiração” de “superintendência”, de “elevação”, de “direção”e de
“sugestão”.

Certos escritores sobre este assunto, confundindo a distinção entre inspiração e


revelação e empregando o primeiro destes termos, no sentido de toda a
influência divina que atuava sobre os sagrados escritores, tanto para que
conhecessem a

verdade como para que a escrevessem, distinguem entre diversos graus de


inspiração para acomodar a sua teoria aos fatos do caso. Porque, em primeiro
lugar, é evidente que parte do conteúdo das Escrituras podia bem ser conhecida
dos escritores, sem nenhum auxílio sobrenatural, enquanto que outra parte não
podia ser conhecida deles; em segundo lugar, os diversos escritores fizeram uso
de suas faculdades naturais e introduziram, nos seus escritos, suas peculiaridades
individuais de pensamento, de sentimento e de estilo. • ■

Por “inspiração de superintendência”, esses escritores queriam dizer exatamente


aquilo que demos acima como a definição de inspiração. Por “inspiração de
elevação” entendem essa divina influência que exaltava as qualidades naturais
dos escritores sagrados a um grau de energia a que, de outro modo, não
poderiam chegar.

Por “inspiração de direção” entendiam essa influência divina que dirigiu os


escritores sagrados na escolha e disposição do seu material.
Por “inspiração de sugestão” entendiam essa influência divina que sugeriu a suas
mentes verdades novas e que, de outro modo, estariam fora do seu alcance.

23. Que objeções se pode fazer a essas distinções?

Ia. Essas distinções nascem da falta anterior de não se distinguir entre revelação
(que é fenômeno apresentado freqüentemente) e a inspiração (fenômeno
apresentado constantemente nas Escrituras); uma fornece o material no caso dos
escritores não poderem obtê-lo de outro modo; outra dirige os escritores a todo
instante, (1) em garantir a verdade infalível de tudo quanto escreveram (2) na
escolha e distribuição do seu material.

2a. E perigoso distinguir entre graus diferentes da inspiração, como se certas


partes das Escrituras fossem a Palavra de Deus em graus diferentes, enquanto
que, na verdade, toda ela é igual e absolutamente a infalível Palavra de Deus.

FALSAS DOUTRINAS SOBRE A INSPIRAÇÃO

24. Quais os princípios que conduzem, necessariamente, à negação de qualquer


inspiração sobrenatural?

Todos os princípios filosóficos ou modos de pensar que excluem a distinção


entre o natural e o sobrenatural necessariamente conduzem à negação da
inspiração, no sentido em que é afirmada pela Igreja. São, por exemplo, todos
os princípios panteístas, materialistas e naturalistas, e, naturalmente, os
princípios racionalistas, em todas as suas formas. - • ;t . , • .

2 5. Quais as diversas formas em que se tem sustentado a doutrina de uma


inspiração parcial ?

Ia. Afirma-se que certos livros foram inspirados plenariamente, enquanto que
outros foram escritos só com o natural auxílio providencial e gracioso de Deus.
S.T. Coleridge admitia a inspiração plenária da lei e dos profetas, dos quais não
podia passar um só i ou um til sem que fosse cumprido; mas negava isso a
respeito dos demais livros do cânon.

2a. Muitos admitem que os elementos morais e espirituais das Escrituras e as


doutrinas, até onde estas dizem respeito à natureza e aos propósitos de Deus cujo
conhecimento é inatingível de outro modo, são produtos da inspiração;
mas negam isso quanto aos elementos históricos e biográficos, e a todas as
alusões a fatos ou leis científicas.

3a. Outros admitem que a inspiração dos escritores dirigia os seus pensamentos,
mas negam que se estendia à sua expressão em palavras.

Num desses sentidos, ou em todos, diversos homens têm mantido e afirmam que
as Escrituras são só “parcialmente” inspiradas. Por conseguinte, todos negam
que “são a palavra de Deus”, como é afirmado pelas próprias Escrituras e
por todas as Igrejas históricas. Admitem só que elas “contêm a palavra de
Deus”. -

26. Qual é a doutrina da “Inspiração da Graça”?

Coleridge, em suas Confessions ofan Inquiring Spirit, Carta 7, mantém que as


Escrituras, exceto a lei e os profetas, foram produzidas por seus escritores
auxiliados pelo “grau superior daquela graça e comunhão com o Espírito que se
ensina à Igreja, em todas as circunstâncias, e a todo o membro regenerado da
Igreja de Cristo, a esperar e pedir em oração”. Esta é a doutrina de Maurice
(TheologicalEssays, pág. 339) e, virtualmente, a de Morell (Philosophy
ofReligion, pág. 186), e dos quacres. Estes admitem que há uma revelação
objetiva sobrenatural e que esta é contida nas Escrituras, as quais são muito úteis
e a regra, de autoridade, de fé e prática, no sentido de não poder ser verdadeira
uma revelação pretendida que esteja em desacordo com as Escrituras; e que estas
são juiz, em todas as controvérsias entre cristãos. Mas eles mantêm, também,
que as Escrituras são só “uma regra secundária, subordinada ao Espírito de quem
receberam toda sua excelência”, o qual Espírito ilumina a todo o homem e
lhe revela, ou pelas Escrituras, ou sem elas, se lhe forem desconhecidas, todo
esse conhecimento de Deus e da Sua vontade que lhe é necessário para sua
salvação e direção, sob a condição de prestar obediência constante a essa luz que
lhe é assim comunicada graciosamente a ele e a todos os
homens.Barclay^ Apology, Theses Theological, proposições 1, 2 e 3.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

CATÓLICO-ROMANA - Decretos do Concilio de Trento, sess. 4 “O


evangelho... primeiramente promulgado pela boca de Nosso Senhor Jesus Cristo
Filho de Deus, e depois pelos seus apóstolos...o mandou pregar a toda a criatura;
e vendo que esta verdade e disciplina se contém em livros escritos, e em
tradições (sem escritos) que, recebidas pelos apóstolos da boca de Cristo, ou
ditadas pelo Espírito Santo, dos mesmos apóstolos, como de mão em mão
chegaram até nós; (o Concilio) seguindo o exemplo dos padres

ortodoxos, com igual afeto de piedade, venera e recebe todos os Livros,


tanto do Velho como do Novo Testamento, sendo Deus o único autor de
ambos os Testamentos; e também as mesmas tradições, que pertencem tanto
à fé como aos costumes; como ditadas pela boca de Cristo, ou pelo Espírito
Santo, e por uma contínua sucessão, conservadas na igreja católica, recebe-
as e venera com igual afeto, piedade e reverência.”

Decretos dogmáticos do Concilio vaticano, 1870, Sess. 3, Cap. 2. “Ademais,


esta revelação sobrenatural, segundo a crença universal da Igreja,
declarada pelo santo Sínodo de Trento, é contida nos livros escritos e
tradições não escritas, que têm chegado até nós, tendo sido recebidas pelos
apóstolos da própria boca de Cristo, ou aos próprios apóstolos ditadas pelo
Espírito Santo, foram transmitidas como de mão em mão. E esses livros do
Velho e do Novo Testamentos devem ser recebidos como sagrados e
canônicos, na sua inteireza, com todas as suas partes, assim como se acham
enumerados no decreto do dito Concilio, e estão contidos na antiga edição
da Vulgata. Esses a igreja (católica romana) tem por sagrados e canônicos,
não porque houvessem sido compostos cuidadosamente por indústria
meramente humana, nem porque foram depois aprovados por sua
autoridade, nem somente por conterem uma revelação sem mistura alguma
de erro; e sim porque, tendo sido escritos por inspiração do Espírito Santo,
têm Deus por seu autor e foram entregues como tais à mesma Igreja.”

LUTERANAS - Fórmula Concordiae Epitome. 1: “Cremos, confessamos e


ensinamos que a única regra e norma segundo a qual todos os dogmas e
doutrinas devem ser estimados e julgados não é nenhuma outra senão
os escritos proféticos e apostólicos do Velho e do Novo Testamentos, assim
como está escrito em Sal. 119: 105 e Gál. 1:8.”

REFORMADAS - Segunda Confissão Helvética. Cap. 1. A respeito das


Escrituras Sagradas: “Cremos e confessamos que as Escrituras canônicas dos
santos profetas e

apóstolos de cada um dos Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus, e que


possuem autoridade suficiente por si só e não dos homens. Pois Deus mesmo
falou aos patriarcas, aos profetas e aos apóstolos, e continua a falar a nós, pelas
Escrituras Sagradas.”

A Confissão Belga. Art. 3. “Confessamos que esta Palavra de Deus não foi
enviada nem entregue pela vontade do homem, e sim, que os homens santos
de Deus é que falaram, inspirados pelo Espírito Santo, como diz o apóstolos
Pedro (2 Ped. 1:21). E que depois Deus, levado a isso pelo cuidado especial
que tem por nós e nossa salvação, mandou Seus servos, os profetas e
apóstolos, escreverem a Sua palavra revelada, e Ele mesmo escreveu, com
Seu próprio dedo, as duas tábuas da lei. Por isso chamamos santos,
e Escrituras divinas, a todos esses escritos.”

A Confissão de Fé, de Westminster. Cap. 1. “Por isso aprouve ao Senhor


revelar-Se e declarar essa Sua vontade à Sua Igreja, em diversos tempos e
de vários modos; e depois, para melhor conservação e propagação da
verdade e para mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a
corrupção da carne e a malícia de satanás e do mundo, fazê-la escrever toda
inteira”. A autoridade das Escrituras Sagradas, as quais devem ser cri das e
obedecidas, não depende do testemunho de nenhum homem ou igreja, mas
somente de Deus (que é a própria verdade), seu Autor; e, por isso, deve ser
recebida - por ser a Palavra de Deus.”

A Regra de Fé e Prática
AS ESCRITURAS DO VELHO E NOVO

TESTAMENTOS, TENDO SIDO DADAS POR INSPIRAÇÃO DE DEUS,


SÃO A ÚNICA REGRA, E REGRA INTEIRAMENTE SUFICIENTE, DE FÉ
E PRÁTICA, E JUIZ NAS CONTROVÉRSIAS.

1. O que se quer dizer quando se afirma que as Escrituras são a única regra
infalível de fé e prática?

Tudo quanto Deus ensina ou ordena é de autoridade soberana. Tudo quanto nos
comunica o conhecimento infalível daquilo que Ele ensina e ordena, é uma regra
infalível. As Escrituras do Velho e Novo Testamentos são os únicos meios pelos
quais Deus, durante a dispensação atual, comunica-nos o conhecimento da Sua
vontade quanto àquilo que devemos crer a Seu respeito, e diz-nos quais os
deveres que Ele de nós exige.
2. O que a igreja romana declara ser a regra infalível de fé e prática?

A teoria romana é que a regra completa de fé e prática consta das Escrituras e da


tradição, ou seja, o ensino oral de Cristo e Seus apóstolos transmitido até nós
pela igreja (católica). Afirmam que a tradição é necessária, Io. para o ensino
de verdades adicionais, não contidas nas Escrituras; 2o. para interpretar as
Escrituras, e que a igreja (católica romana) foi

designada divinamente para ser a depositária e o juiz, tanto das Escrituras como
da tradição -Decretos do Concilio de Trento, Sess. 4, e Teologia de Deus, Tom.
2, N°. 80 e 81. 'tf’ '

3. Por quais argumentos os defensores dessa teoria procuram estabelecer a


autoridade da tradição? Qual o critério de que se servem para distinguir as
tradições verdadeiras das falsas, e quais os fundamentos em que baseam a
autoridade das tradições que admitem como verdadeiras?

Io. Seus argumentos a favor das tradições são: (1) As Escrituras autorizam-nas: 2
Tess. 2:14(15); 3:6. (2) Os antigos “ss. padres” afirmavam a autoridade da
tradição e em grande parte baseavam nela a sua fé. (3) O ensino oral de Cristo e
Seus apóstolos, quando determinado claramente e conhecido, é intrinsecamente
de igual autoridade à dos seus escritos. As próprias Escrituras nos têm sido
transmitidas pelo testemunho da tradição, e o rio não pode subir mais alto do que
a sua origem. (4) A necessidade: (a) As Escrituras são de sentido obscuro, e
precisam da tradição como seu intérprete, (b) As Escrituras são incompletas
como regra de fé e prática devido haver muitas doutrinas e instituições,
reconhecidas universalmente, baseadas na tradição como suplemento às
Escrituras. (5) A analogia. Todos os Estados reconhecem tanto as leis
não escritas como leis escritas, a lei comum e a lei baseada em estatutos.

2o. O critério de que se servem para distinguir entre as tradições verdadeiras e as


falsas, é consenso católico. Os ritualistas anglicanos limitam a aplicação desta
regra aos primeiros três ou quatro séculos. Os romanistas reconhecem como
consenso de autoridade aquilo que foi determinado constitucionalmente pelos
bispos reunidos em concilio geral, ou pelo papa ex cathedra, em qualquer época.

3o. Defendem as tradições que têm por verdadeiras - (1) Com base no
testemunho histórico, e as deduzem dos apóstolos como sua origem. (2)
Baseando-se na autoridade da igreja,
expressa pelo consenso católico.

4. Por quais argumentos pode-se demonstrar a invalidade de todas as tradições


eclesiásticas, como parte de nossa regra de fé e prática?

Io. As Escrituras não atribuem, como se afirma, autoridade às tradições orais. As


tradições de que Paulo fala nas passagens citadas de 2 Tess. 2:14 (15); 3:6, foram
todas as suas instruções, orais e escritas, e comunicadas por ele a esses
mesmos tessalonicenses; não foram transmitidas. Por outro lado,
Cristo repreendeu severamente esta mesma doutrina dos católicos romanos, na
pessoa dos predecessores destes - os fariseus. Mat. 15:3; Mar. 7:7 (8).

2o. E improvável, a priori, que Deus suplementasse as Escrituras com a tradição,


como parte de nossa regra de fé. (1) Porque as Escrituras, como mostraremos
abaixo (perguntas 7-14), são certas, definidas, completas e perspícuas. (2)
Porque a tradição, por sua própria natureza, é indeterminada e está sujeita a ser
adulterada por todas as formas de erro. Além disso, como haveremos de
demonstrar abaixo (pergunta 20), a autoridade das Escrituras não se acha
baseada, em última instância, na tradição.

3o. A base inteira em que os romanistas apoiam a autoridade de suas tradições,


isto é, a história e a autoridade da igreja, é inválida. (1) Eles não têm apoio
nenhum na história. Por mais de trezentos anos, depois do tempo dos apóstolos,
eles têm pouquíssimas evidências a favor de qualquer de suas tradições, e as que
têm contradizem-se mutuamente. São, por isso, obrigados a recorrer ao
postulado absurdo de que aquilo que se ensinou no quarto século, foi ensinado
no terceiro, e por conseguinte, também no segundo e no primeiro. (2) A
igreja (católica) não é infalível, como demonstraremos abaixo (pergunta 18).

4o. Sua prática não está em conformidade com seus princípios. Os romanistas
não aceitam muitas das tradições

mais antigas e mais bem atestadas; e muitas das suas pretensas tradições são
invenções recentes e desconhecidas pelos seus predecessores.

5o. Muitas de suas tradições, como aquelas que dizem respeito ao sacerdócio, ao
sacrifício da missa, etc., estão flagrantemente em oposição direta ao ensino das
Escrituras. Não obstante, essa igreja pretensamente infalível afirma a
infalibilidade das Escrituras! Uma casa dividida contra si mesma não
subsistirá. . ... .. . . . ,

5. Que é necessário para constituir uma regra única e infalível de fé?

Inspiração plenária, e que a regra seja completa, perspícua e acessível. - . .


....

6. Que argumentos oferecem as próprias Escrituras a favor da doutrina de


serem elas a única regra infalível de fé?

Io. As Escrituras falam sempre em nome de Deus e se impõem, como


obrigatórias, à fé e à obediência.

2o. Cristo e Seus apóstolos referiam-se sempre às Escrituras escritas que,


existiam então; e anenhuma outra regra de fé, fosse qual fosse - Luc. 16:29;
10:26; João 5:39; Rom. 4:3; 2 Tim. 3:15. .

3o. Os bereanos foram elogiados por sujeitarem todas as questões, e mesmo o


ensino dos apóstolos, à prova das Escrituras - Atos 17:11; veja também Is. 8:16.

4o. Cristo repreendeu os fariseus por fazerem acréscimos às Escrituras e


pervertê-las - Mat. 15: 7-9; Mar. 7: 5-8; veja também Apoc. 22:18,19; e Deut.
4:2; 12:32; e Jos. 1:7.

7. Em que sentido é que se afirma que as Escrituras são completas

como regra de fé? ■ a

Não quer dizer que, nas Escrituras, se acham todas as revelações feitas por Deus
em qualquer tempo ao homem, e sim que o seu conteúdo é a única revelação que
Ele nos faz

agora, e que esta revelação é abundantemente suficiente para a nossa direção, em


todas as questões de fé, prática e modos de prestar-Lhe culto, e exclui a
necessidade e o direito de invenções humanas. , .

8. Como se pode provar, pelo desígnio das Escrituras, que estas

são completas? . . . .
As Escrituras professam conduzir-nos a Deus; por conseguinte, devem ensinar-
nos tudo o que é necessário para esse fim. Se, para esse fim, houvesse
necessidade de qualquer regra suplementar, como a tradição, isto seria referido
nelas. “Se não fossem completas a este respeito, seriam mentirosas”. Mas,
conquanto os sagrados escritores remetam constantemente aos escritos dos
outros, nenhum deles, nem uma só vez, fala da necessidade nem na existência de
outra regra - João 20: 31; 2Tim. 3:15-17.
-. j 7 i 'j . ‘ ., . Vi

9. Por quais outros argumentos pode-se provar este princípio?

As próprias Escrituras se apresentam como uma regra

completa para o fim a que se propõem, e assim também o verdadeiro povo


espiritual de Deus, em todos os séculos, vêem nelas essa regra completa.
Ensinam um sistema completo e conseqüente de doutrina. Fornecem todos os
tipos necessários para o governo da vida particular dos cristãos, em todas as
suas relações; para o culto público a Deus; e para a administração do reino de
Deus. E repelem todas as pretensas tradições e inovações sacerdotais. • • ;

10. Qual o sentido em que os protestantes afirmam e os romanistas negam a


clareza das Escrituras?

Os protestantes não afirmam que as doutrinas reveladas nas Escrituras estejam


ao nível das faculdades humanas para compreendê-las. Confessam que muitas
delas estão além de todo o entendimento. Nem afirmam eles que se possa
explicar todas as partes das Escrituras com certeza e perspicuidade,

porque muitas das profecias são inteiramente enigmáticas, enquanto não


explicadas pelos eventos a que se referem. Afirmam, porém, que todo artigo
essencial de fé e regra de prática é revelado claramente nelas, ou pode ser
deduzido delas com certeza. Tudo isso o cristão menos instruído pode
aprender nas Escrituras, sem dificuldade; por outro lado, é verdade também que,
com o progresso dos conhecimentos históricos e críticos, e por meio das
controvérsias, a Igreja Cristã está fazendo progresso constante na interpretação
exata das Escrituras e na compreensão, na sua integridade, do sistema
nelas ensinado.

Os protestantes afirmam e os romanistas negam que se pode, sem perigo,


conceder aos cristãos particulares e não instruídos, a licença de interpretar as
Escrituras por si.

11. Como se pode provar a perspicuidade das Escrituras pelo fato de serem
uma lei e uma mensagem?

Já vimos (pergunta 8) que as Escrituras ou são completas ou falsas, pelo desígnio


nelas mesmas professado. Provamos agora sua perspicuidade, pelo mesmo
princípio. Elas professam ser: (1) uma lei que devemos obedecer; (2) uma
revelação de verdades que devemos crer, e afirma que em ambos estes aspectos
devemos recebê-la, sob pena de morte eterna. Supor-se, pois, que não é
perspícua, tanto nos seus mandamentos como no seu ensino, é o mesmo que
acusar a Deus de tratar-nos de um modo que é ao mesmo tempo dissimulado e
cruel.

12. Quais as passagens onde é afirmada a sua perspicuidade?

Sal. 18 (19):8, 9; Sal. 118 (119): 105, 130; 2 Cor. 3:14; 2

Ped. 1:18-21; Heb. 2: 2; 2 Tim. 3:15, 17.

13. Que outros argumentos há para estabelecer este ponto?

Io. As Escrituras são dirigidas imediatamente ou a todos os homens


indistintamente, ou a todos os crentes tomados como tais - Deut. 6:4-9; Luc, 1:3;
Rom. 1:7; 1 Cor. 1:2; 2 Cor.

1:1; e 4:2; Gál. 1:2; Ef. 1:1; Fil. 1:1; Col. 1:2; Tia. 1: l;2Ped. 1:1; 1 João 2:12,14;
Judas, vers.l; Apoc. 1:3,4; 2:7. As únicas exceções são as Epístolas dirigidas a
Timóteo e Tito.

2o. Manda-se todos os cristãos, indistintamente, examinarem as Escrituras: 2


Tim. 3:15,17; Atos 17:11; João 5:39.

3o. A experiência universal. Temos provas tão claras do poder das Escrituras de
darem luz, como temos a respeito do sol. Os argumentos contra isso são um
insulto à compreensão de todos os leitores da Bíblia no mundo.

4o. A unidade essencial na fé e prática, apesar de algumas diferenças


circunstanciais em todas as comunidades cristãs, em todas as idades e nações
que aprendem sua religião diretamente nas Escrituras.

14. Qual foi a terceira qualidade mencionada como necessária para constituir
as Escrituras em regra suficiente de fé e prática?

Que fossem acessíveis. E evidente que esta é a característica proeminente das


Escrituras, em contraste com a tradição, que está entregue à custódia de uma
corporação de sacerdotes, e com qualquer outra regra pretendida. O que cabe à
Igreja fazer a esse respeito é simplesmente dar a maior circulação possível à
Palavra de Deus. .

15. Que é que se entende quando se diz que as Escrituras são o juiz e também
a regra, em questões de fé?

“Uma regra é uma norma segundo a qual se deve julgar; um juiz é quem expõe e
aplica essa regra à decisão dos casos particulares”. A doutrina protestante é :

Io. Que as Escrituras são a única regra infalível de fé e prática.

2o. (1) Negativamente: que não há corporação alguma de homens que sejam
qualificados ou estejam autorizados a interpretar as Escrituras, ou a aplicar os
seus princípios à decisão das questões particulares, no sentido de serem suas
decisões obrigatórias para outros cristãos. (2) Positivamente: que as

Escrituras são a única voz infalível na Igreja, e devera ser interpretadas à sua
própria luz e com o auxílio gracioso do Espírito Santo, prometido a todos os
cristãos (1 João 2:20,27) pelos indivíduos, cada um de per si, com a ajuda, mas
não sob a autoridade dos outros cristãos, seus irmãos. Os credos e confissões,
quanto à sua forma, são obrigatórios somente para os que os professam
voluntariamente; quanto à sua matéria, são obrigatórios somente até onde
afirmam aquilo que a Bíblia ensina, e porque a Bíblia ensina assim.

16. Qual é a doutrina católico-romana quanto à autoridade da igreja como


intérprete infalível da regra de fé e juiz autorizado de todas as controvérsias?

A doutrina da igreja católica romana é que a igreja é absolutamente infalível, em


todas as matérias de fé e prática cristãs; e a depositária e intérprete, divinamente
autorizada, da regra de fé. Seu ofício não é a comunicação de novas revelações
da parte de Deus, mas a sua inspiração a torna infalível na disseminação e
interpretação da revelação original comunicada pelos apóstolos.
Por isso a igreja determina, com autoridade divina: Io. O que sejam Escrituras
Sagradas. 2o. O que seja tradição verdadeira. 3o. Qual o sentido das Escrituras e
da tradição, e qual a aplicação dessa regra perfeita a cada questão em particular
de fé ou prática.

Dessa autoridade se acham revestidos o papa, quando faz ou diz qualquer coisa
no seu caráter oficial; e os bispos, como corporação, quando se acham reunidos
em concilio ecumênico, ou quando dão assentimento geral a um decreto do papa
ou de um concilio -Decretos do Concilio de Trento, seção 4; Teologia de Deus,
N°. 80, 81, 84,93,94,95,96. Bellarmine, Lib.3, De Eccl., cap.14, e Lib. 2, De
Concil., cap. 2.

17. Quais os argumentos que a igreja romana emprega no intuito de


estabelecer essa doutrina?

Io. As promessas de Cristo feitas, segundo dizem, aos apóstolos e seus


sucessores oficiais, tornando-os infalíveis, e suas decisões e interpretações
autorizadas - Mat. 16:18; 18:18-20; Luc. 24:48,49; João 16:13;20:23.

2o. A comissão dada à igreja (romana) como mestra do mundo - Mat. 28:19, 20;
Luc. 10:16, etc.

3o. A igreja é declarada ser “coluna e firmamento da verdade”, e que “as portas
do inferno não prevalecerão contra ela”-lTim. 3:15; Mat. 16:18.

4o. A igreja (romana) é dada o poder de ligar e desligar, e a ordem de que aquele
que não a ouvir seja tido por “um gentio ou um publicano” - Mat. 16:19; 18:15-
18.

5o. A igreja (romana) recebeu a ordem de discriminar entre a verdade e o erro, e


por isso deve ser qualificada e estar autorizada a fazer isso-2 Tess.3:6;
Rom.l6:17; 2 João,vers. 10.

6o. A necessidade. Os homens precisam e desejam um intérprete e juiz infalível,


sempre vivo, visível e contemporâneo.

7o. A analogia universal. Todas as comunidades entre os homens têm juizes


vivos, bem como a lei escrita, e esta seria de pouco valor sem aqueles.
8o. Este poder é necessário para se conseguir unidade e universalidade que todos
reconhecem como atributos essenciais da verdadeira igreja (a igreja católica
romana).

18. Quais os argumentos que demonstram não terem fundamento algum essas
pretensões da igreja romana?

Io. Uma pretensão, revestindo homens mortais de um poder de tanto peso, pode
ser estabelecida só pelas provas mais claras e decisivas; e a falta de se
apresentarem tais provas converte a pretensão em traição contra Deus e contra a
raça humana.

2o. As provas apresentadas não estabelecem essas pretensões porque, das


promessas que Cristo fez à Igreja de preservá-la da extinção e do erro, nenhuma
se estende até ao ponto de

torná-la infalível. O mais que prometeu foi que o verdadeiro povo de Deus nunca
desapareceria inteiramente da terra; nem seria jamais abandonado, mesmo se
apostatasse das coisas essenciais da fé.

3o. As provas apresentadas não estabelecem as suas pretensões, porque essas


promessas não foram feitas por Cristo aos oficiais da Igreja como tais e, sim, ao
corpo inteiro dos verdadeiros crentes. Confira-se João 20:23 com Luc. 24:33, 47-
49, e 1 João 2:20, 27.

4o. As provas apresentadas não servem para estabelecer as suas pretensões


porque a Igreja à qual foram e são feitas as promessas preciosas das Escrituras
não é uma sociedade externa e visível, a autoridade sobre a qual se ache entregue
nas mãos de uma linha perpétua de apóstolos. Isto porque - (1) a palavra Igreja
(ecclesia) é um termo coletivo, e abrange todos os chamados eficazmente ou
regenerados - Rom. 1:7; 8.28; ICor. 1:2; Jud. vers.l; 2 Tim. 1:9; Heb. 9:15; 1
Ped. 2:9; 5:10; Ef. 1:18; 2 Ped. 1:10. (2) Os atributos imputados à Igreja
provam que ela consta tão-somente do verdadeiro povo espiritual de Deus - Ef.
5:27; 1 Ped. 2:5; João 10:27; Col. 1:18, 24. (3) As Epístolas foram dirigidas à
Igreja, e nas suas saudações temos a explicação de que a expressão “à igreja” é
equivalente a “os chamados”, “os santos”, “os que servem a Deus em espírito” -
como se vê nas saudações em 1 e 2 Coríntios; Efésios; Colossenses; 1 e 2 Pedro;
Judas. Também no corpo das Epístolas os mesmos predicados são atribuídos aos
membros da verdadeira Igreja - 1 Cor. 1:30; 3:16; 6:11,19; Ef. 2:3-8 e 19-22;
ITess. 2:13; Col. 1:21; 2:10; 1 Ped. 2:9.

5o. Os apóstolos inspirados não tiveram sucessores. (1) No Novo Testamento não
há prova alguma de que os tivessem. (2) Proveu-se para a perpetuação regular
dos ofícios de presbítero e diácono (1 Tim. 3: 1-13), mas nada absolutamente se
fez para a perpetuação do apostolado. (3) Nos escritos dos primeiros séculos
nada se encontra que diga respeito à existência de apóstolos na Igreja. Tinham
deixado de existir tanto o nome

como o ofício. (4) Nenhum daqueles que se dizem sucessores dos apóstolos têm
feito ver “os sinais do apostolado” - 2 Cor. 12:12; 1 Cor. 9:1; Gál. 1:1,12; Atos
1:21,22.

6o. Esta reivindicação, quando baseada na autoridade do papa, é totalmente


antibíblica, pois as Escrituras nada sabem sobre o papa. Devido ser baseada na
autoridade do conjunto total dos bispos, expressa no seu assentimento geral, é
oposta às Escrituras pelos motivos supra expostos, e é, além disso, impraticável,
porque seu juízo universal nunca foi e nunca poderá ser reunido e enunciado
imparcialmente.

7o. Não pode haver infalibilidade onde não há consistência própria. Mas, como
questão de fato, a igreja papal não tem sido consistente consigo no seu ensino.
(1) Tem ensinado doutrinas diversas, em diversas partes e séculos. (2) Afirma
a infalibilidade das Escrituras e, ao mesmo tempo, ensina doutrinas evidente e
radicalmente irreconciliáveis com o sentido claro das mesmas Escrituras, como
por exemplo, as doutrinas sobre o sacerdócio, a missa, as penitências, as
boas obras, o culto prestado a Maria e às imagens. Por isso é que a igreja romana
esconde as Escrituras do povo.

8o. Se o sistema religioso dos romanistas é verdadeiro, então é evidente que a


religião verdadeira e espiritual deve florescer nos países da sua comunhão e todo
o resto do mundo ser um deserto moral. E notório, porém, que os fatos são
exatamente o inverso disso. Se, pois, admitimos que o sistema romano
é verdadeiro, subverteremos uma das principais provas do próprio cristianismo, a
saber, a luz auto-evidencial e a virtude prática da verdadeira religião, e o
testemunho do Espírito Santo.

19. Quais os argumentos diretos pelos quais se pode estabelecer a doutrina de


que as Escrituras são o supremo juiz nas controvérsias?
Que todos os cristãos devem estudar por si as Escrituras, e que em todas as
questões quanto à vontade revelada de Deus se deve apelar só a elas, fica
provado pelos seguintes fatos:

Io. As Escrituras são perspícuas: veja acima as perguntas 11-13. -> ,_4 •

2o. As Escrituras são dirigidas a todos os cristãos: veja pergunta 13.

3o. As Escrituras ordenam a todos os cristãos examiná-las, julgar e provar por


elas todas as doutrinas e todos os que professam ser mestres dos outros-João
5:39; Atos 17:11; Gál. 1:8; 2 Cor. 4:2; 1 Tess. 5:21; 1 João 4:1,2.

4o. O Espírito Santo, autor e intérprete das Escrituras, é prometido a todos os


cristãos. Confira-se João 20:23 com Luc. 24:47- 49; 1 João 2:20,27; Rom. 8:9; 1
Cor. 3:16,17.

5o. A religião é essencialmente uma coisa pessoal. E necessário que todo cristão
conheça e creia na verdade, explicitamente para si, sobre o fundamento direto de
suas próprias provas morais e espirituais, e não simplesmente sobre o
fundamento da autoridade de outros. A não ser assim, a fé não poderia ser o que
é, um ato moral; nem poderia “purificar o coração”. A fé deriva seu poder
santificador da verdade que ela apreende imediatamente em função das provas
experimentais que essa verdade, quando aceita, dá de si mesma -João 17:17,19;
Tia. 1:18; 1 Ped. 1:22.

20. Qual a objeção apresentada contra esta doutrina, pelos romanistas, sobre o
fundamento de ser a igreja (católica) a nossa única autoridade para crermos
que as Escrituras são a Palavra de Deus?

Sua objeção é que, desde que recebemos as Escrituras como a Palavra de Deus
só por confiarmos no testemunho autorizado da igreja romana, nossa fé nas
Escrituras não é senão outra forma de fé nessa igreja. E sendo a autoridade da
igreja o fundamento da autoridade das Escrituras, a igreja deve, naturalmente,
ser superior às Escrituras.

Isso é absurdo, e por dois motivos:

Io. O fato postulado é falso. O testemunho sobre o qual aceitamos as Escrituras


como a Palavra de Deus não é a
autoridade da igreja (católica romana), mas: (1) Deus falou pelos apóstolos e
profetas, como é evidente (a) pela natureza de sua doutrina, (b) pelos milagres
que realizaram, (c) por suas profecias, (d) por nossa experiência pessoal e pela
observação do poder da verdade. (2) Estas mesmas Escrituras que possuímos
foram escritas pelos apóstolos, etc., como fica evidente (a) por suas provas
internas, (b) pelo testemunho histórico dado por todas as testemunhas
competentes e contemporâneas, na igreja e fora dela.

20. Mesmo se o fato postulado fosse verdadeiro, isto é, se soubéssemos só pelo


testemunho autorizado da igreja, que as Escrituras são de Deus, seria absurda a
conclusão que pretendem tirar: porque a testemunha que prova a identidade ou
^ primogenitura de um príncipe não adquire, por esse motivo,

o direito de governar o reino, e nem mesmo o de interpretar a vontade do


príncipe.

21. Como se deve responder ao argumento a favor da necessidade de um juiz


visível, e que os romanistas tiram da diversidade de seitas e doutrinas entre os
protestantes?

Io. Não temos a pretensão de dizer que seja infalível o juízo particular dos
protestantes, mas só que, quando com espírito humilde e crente julgam as coisas
divinas à luz das Escrituras, chegam a ter um conhecimento competente das
j verdades essenciais.

2o. O termo protestante é simplesmente negativo, e são ; chamados assim muitos


incrédulos que protestam, tanto con- ; tra as Escrituras como contra Roma. No
entanto, entre os •] protestantes bíblicos existe, apesar de muitas diferenças
* circunstanciais, um maravilhoso grau de acordo sobre as coisas essenciais de
fé e prática, como atestam seus hinos e livros de devoção.

3o. A diversidade que realmente existe entre eles tem sua j origem na falta de
aplicarem, com fidelidade, os princípios ] protestantes pelos quais contendemos.
Os homens não tomam

seu credo simplesmente, e sem preconceitos da Bíblia.

4o. A igreja católica romana, na sua exposição autorizada feita pelo Concilio de
Trento, provou ser juiz muito indefinido. Suas decisões doutrinárias precisam de
um intérprete infalível, infinitamente mais do que precisam dele as Escrituras.

22. Como se pode mostrar que a teoria católico-romana, bem como a


protestante, impõe necessariamente ao povo a obrigação de decidir segundo o
seu juízo particular?

Acaso existe um Deus? Teria Ele Se revelado? Teria Ele estabelecido uma
Igreja? Seria essa Igreja mestra infalível? Seria verdade que o juízo particular é
guia cego? Qual de todas as pretendidas igrejas seria a verdadeira? E evidente
que todas estas questões têm de ser decididas pelo juízo particular do inquiridor
antes de lhe ser possível entregar, racional ou irracionalmente, o seu juízo
particular à direção da igreja que se blazona de ser infalível e não admite o
direito de juízo particular. Assim os romanistas se vêem obrigados a apelar
para as Escrituras para provar que elas não podem ser entendidas, e dirigem seus
argumentos ao juízo particular dos homens para provar que o juízo particular é
incompetente para nos dirigir com acerto. Seus argumentos baseiam-se, pois,
naquilo a respeito do qual querem provar, por meio de seus argumentos, que não
tem base! _ . .

23. Como se pode provar que o povo é muito mais competente para descobrir
o que seja aquilo que a Bíblia ensina do que o é para decidir, segundo os sinais
em que insistem os romanistas, qual seja a igreja verdadeira?

Os romanistas, obrigados pela necessidade, têm decidido que há certos sinais


pelos quais se pode distinguir a verdadeira igreja de todas as falsas. São (1)
Unidade (sujeitando-se todos a uma cabeça visível, o papa); (2) Santidade (3)
Catolicidade (4) Apostolicidade (envolvendo uma sucessão, ininterrupta, de
bispos canonicamente ordenados desde os apóstolos) -

Catecismo do Concilio de Trento, Parte 1, Cap. 10. Ora, a compreensão e


aplicação inteligentes destes sinais envolve uma soma imensa de instrução e
capacidade inteligente da parte do inquiridor. Ser-lhe-ia tão fácil provar-se
descendente de Noé por uma série, ininterrupta, de casamentos legítimos,
como lhe será estabelecer que a igreja romana tem direito ao último dos sinais
acima numerados. Ao mesmo tempo, ninguém pode racionalmente ceder o seu
direito de julgar por si o ensino da Bíblia enquanto não for claramente provado
esse ponto.

As Escrituras, por certo, com seu poder espiritual dando testemunho delas, não
exigem tanto do juízo particular.

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA QUANTO A INTERPRETAÇÃO DAS


ESCRITURAS,

À TRADIÇÃO E À INFALIBILIDADE DO PAPA

Io. QUANTO À INTERPRETAÇÃO DAS ESCRITURAS -Decretos do Concilio de


Trento, Sessão 4. Além disso, o mesmo sacrossanto Sínodo... determina e
declara que: esta mesma antiga e vulgata edição, que pelo uso de
tantos séculos foi aprovada na igreja (católica romana), nas lições públicas,
disputas, pregações e exposições, seja dada por autêntica - e em forma que
ninguém, com pretexto algum, se atreva ou intente rejeitá-la.

“Ademais, para refrear engenhos petulantes, determina que: ninguém,


confiado na sua prudência em matéria de fé e costumes, e edificação da
doutrina cristã, torça as Sagradas Escrituras para os seus conceitos
particulares, contra aquele sentido que abraçou, e abraça a santa
madre igreja a quem pertence julgar o verdadeiro sentido e interpretação
das Escrituras, nem se atreva a interpretar as mesmas Escrituras contra o
unânime consenso dos padres; ainda que essas interpretações nunca
venham à tona”.

Decretos dogmáticos do Concilio Vaticano, cap. 2 - “E havendo sido mal interpretadas,


por alguns, as coisas que

o santo Sínodo de Trento decretou, a bem das almas a respeito da interpretação


das Escrituras Sagradas, com o fim de refrear espíritos rebeldes, nós, renovando
o dito decreto, declaramos que este é o seu sentido: que, em matérias de fé e
costumes, pertencendo a edificação da doutrina cristã, deve-se ter aquilo como
verdadeiro sentido das Santas Escrituras que nossa santa madre igreja abraçou e
abraça, à qual pertence julgar o verdadeiro sentido das Santas Escrituras e, por
isso, a ninguém é permitido interpretar as Sagradas Escrituras de modo contrário
a esse sentido, ou ao consenso unânime dos padres”.

2o. QUANTO À TRADIÇÃO -Prof. Fidei Tridentince (1564 d.C.) 2 e 3 - “Aceito e


abraço firmemente a tradição apostólica e eclesiástica, e todas as demais
ordenações e instituições da mesma igreja. Aceito, também, as Santas Escrituras,
segundo o sentido que abraçou e abraça a santa madre igreja, a quem pertence
julgar o verdadeiro sentido e interpretação das Escrituras; e nunca hei de tomá-
las ou interpretá-las de um modo que não seja de acordo com o consenso
unânime dos padres.”

Concilio de Trento. Sessão 4 - “E vendo que esta verdade e disciplina se contém em


livros escritos, e sem escritos nas tradições que recebidas pelos apóstolos, da
boca de Cristo, ou ditadas pelo Espírito Santo aos mesmos apóstolos, como de
mão em mão, chegaram até nós”.

3o. QUANTO À AUTORIDADE ABSOLUTA DO PAPA -Decisões dogmáticas do


Concilio Vaticano, cap. 3 - “Por isso ensinamos e declaramos que por ordenação do
Senhor... o poder de jurisdição do pontífice romano é imediato, e que a ele todos,
de qualquer rito e dignidade que sejam, tanto os pastores como os fiéis, e tanto
individual como coletivamente, são, por seu dever de subordinação hierárquica e
obediência verdadeira, obrigados a sujeitar-se, não só nas matérias que
pertencem à fé e costumes, mas também nas que pertencem à disciplina e
governo da igreja, em todo o mundo... Além disso, ensinamos e declaramos mais
que ele é o supremo juiz dos fiéis, e que em todas as causas cuja decisão
pertence à igreja, pode-se

recorrer ao seu tribunal, e que ninguém pode reabrir a decisão da sé


apostólica, por não haver autoridade superior à dela, nem pode alguém
legalmente passar em revista a sua decisão. Por isso desviam-se do curso
reto os que afirmam que é legal apelar das decisões do pontífice romano
para um concilio ecumênico, como para uma autoridade superior à do
pontífice romano”.

4°.QUANTO À INFALIBILIDADE ABSOLUTA DO PAPA COMO


MESTRE DA IGREJA EM TODO O UNIVERSO -Decretos dogmáticos do
Concilio Vaticano, cap. 4 - “Aderindo, pois, fielmente à tradição recebida do
princípio da fé cristã para a glória de Deus nosso Salvador, a exaltação
da religião católico-romana e a salvação do povo cristão, aprovando o
sacrossanto concilio, ensinamos e definimos que é uma doutrina revelada
divinamente: que o pontífice romano quando fala ex-cathedra, isto é, quando
em cumprimento do ofício de pastor e doutor de todos os cristãos, em
virtude de sua autoridade apostólica, define uma doutrina que diz respeito à
fé ou costumes, e que a igreja universalmente deve crer, pelo auxílio divino
que lhe é prometido em Pedro bem-aventurado, ele é revestido da
infalibilidade com a qual o divino Salvador queria que fosse revestida Sua
Igreja, com o fim de definir doutrinas que digam respeito à fé e costumes; e
que por isso tais definições do pontífice romano são irreformáveis em
si mesmas, e não pelo consenso da igreja. Mas se alguém presumir - o que
Deus não permita - a contradizer esta nossa definição, seja anátema”.

O Cardeal Manning, no seu livro Vatican Council, diz que nesta definição há seis
pontos a serem notados:

“Io. Define o significado da frase bem conhecida loquens ex-cathedra, isto é,


falando do assento ou lugar, ou com a autori-dade do mestre supremo de
todos os cristãos e obrigando o assentimento da igreja em todo o universo.

“2o. A matéria de que trata o ensino infalível, a saber, a doutrina de fé e


costumes.

“3o. A causa eficiente da infalibilidade, isto é, o auxílio divino prometido a


Pedro, e nele, a seus sucessores.

“4o. O ato a que é ligado esse auxílio divino, que é o de definir doutrinas que
digam respeito à fé e costumes.

“5o. A limitação desta autoridade infalível ao ofício doutrinai da igreja.

“6o. O valor dogmático das decisões ex-cathedra, a saber, que são em si mesmas
irreformáveis por serem, em si mesmas, infalível e não porque a igreja, ou uma
parte ou um membro dela, lhes dê o seu assentimento”.

Decretos dogmáticos do Concilio Vaticano, cap. 4 - “Porque o Espírito Santo


não foi prometido aos sucessores de Pedro a fim de que, por Sua revelação,
anunciassem doutrinas novas; e sim, para que por Seu auxílio, pudessem guardar
inviolavelmente e explicar fielmente, a revelação ou depósito de fé transmitida
por meio dos apóstolos”.

É necessário excetuar a igreja católica romana, que declarou a tradução


chamada Vulgata de autoridade indiscutível, apesar de conter inúmeros erros
de tradução, sendo alguns deles bem graves, como por e.g. “malitia”, em
Isaías 40:2; “sacramentum”, em Efésios 5:32, e Hebreus 11:21. Nota do tradutor.
Comparação de Sistemas

Neste capítulo será apresentado um breve esboço das principais posições


contrastadas dos três sistemas rivais do pelagianismo, semipelagianismo e
agostinianismo, ou, como são chamados em suas formas mais completamente
desenvolvidas-socinianismo, arminianismo e calvinismo; e também um esboço
da história da sua origem e disseminação.

1. Qual foi, em geral, o estado das opiniões teológicas nos primeiros três
séculos ?

Durante os três primeiros séculos que decorreram depois da morte do apóstolo


João, os ânimos especulativos da Igreja ocupavam-se principalmente em
defender a verdade do cristianismo contra os incrédulos - combater as
heresias gnósticas geradas pelo fermento da filosofia oriental - e em determinar
definitivamente as questões que se desenvolveram nas controvérsias a respeito
das Pessoas da Trindade.

Não parece que se fizessem, nesses séculos, exposições definidas e conseqüentes


a respeito da natureza, da origem e das conseqüências do pecado no homem;
nem quanto à natureza e aos efeitos da graça divina; nem quanto à natureza da
obra redentora de Cristo, ou o método da sua aplicação pelo Espírito Santo ou da
sua apropriação pela fé. Como fato geral, pode-se dizer que, em conseqüência da
grande influência de Orígenes, os chamados Pais da Igreja Grega, quase
todos, adotaram uma espécie de semipelagianismo, negando a culpa

do pecado original e sustentando que o pecador tem o poder de predispor-se e


cooperar com a graça divina. E este, ainda hoje, é o caráter da antropologia
grega. Os mesmos atributos caracterizaram, também, as especulações dos mais
antigos escritores da Igreja Ocidental; mas, durante os séculos 3 e 4, manifestou-
se, entre os Pais latinos, uma tendência notável para adotarem as opiniões mais
corretas, que foram depois vindicadas, tão assinaladamente, pelo grande
Agostinho. Essa tendência pode ser notada, mais claramente, nas obras
de Tertuliano de Cartago, que morreu cerca do ano de 220, e de Hilário de
Poitiers (f 368) e Ambrósio de Milão (f 397).

2. Por que meios tem a Igreja feito progresso na clara discriminação da verdade
divina? E quais os séculos, e quais os ramos da Igreja em que as grandes
doutrinas da Trindade, da Pessoa de Cristo, do pecado e da graça, da redenção
e sua aplicação, foram definidas?

A Igreja tem sempre feito progresso, no sentido de adquirir mais claras


concepções e mais exatas definições da verdade divina, por meio de
controvérsias ativas. E aprouve à Providência que as diversas grandes seções do
sistema revelado nas Escrituras inspiradas fossem discutidas, mais completa
e mais claramente definidas, em séculos diversos e no seio de nações diversas
também.

Assim, as questões profundas envolvidas nas seções da teologia própria, e da


cristologia, foram investigadas, principalmente, por homens de origem grega, e
foram definidas autorizadamente em sínodos, reunidos na metade oriental
da Igreja geral, durante o século 4 e os que se seguiram imediatamente. Quanto à
teologia, a divindade consubstanciai de Cristo foi definida no Concilio de
Nicéia, em 325, e a personalidade e deidade do Espírito Santo, no Concilio de
Constantinopla, em 381, acrescentando os latinos a clémulaFilioque, no
Concilio de Toledo, em 589. Quanto à cristologia - o Concilio de Efeso afirmou,
em 431, a unidade pessoal do Teantropos. O Concilio

de Calcedônia afirmou, em 451, que as duas naturezas em Cristo são distintas. O


sexto Concilio de Constantinopla, em 680, afirmou que o Senhor possuiu uma
vontade humana, como também uma vontade divina. Estas decisões têm
sido aceitas pela Igreja inteira, grega e romana, luterana e reformada.

As questões a respeito do pecado e da graça, incluídos no título geral de


antropologia, foram mais completamente investigadas, em primeiro lugar, por
homens de origem latina que chegaram primeiro a conclusões definidas na
controvérsia de Agostinho com Pelágio, em meados do século 5.

As questões sobre a redenção, e o método da sua aplicação, abrangidas sob a


grande divisão da soteriologia, não foram investigadas completamente até o
tempo da Reforma, e depois pelos grandes teólogos da Alemanha e da Suíça.

Muitas questões pertencentes à grande divisão de eclesio-logia, ainda hoje


esperam sua solução completa no futuro.

3. Quais são os três grandes sistemas de teologia que têm sempre subsistido na
Igreja?
Abrangendo a revelação dada nas Escrituras - um sistema completo de verdades
- cada seção separada não pode deixar de sustentar muitas relações óbvias,
algumas lógicas outras não, com todas as outras seções, como as diversas partes
de um grande todo. O desenvolvimento imperfeito e a concepção defeituosa ou
exagerada de uma doutrina qualquer introduzirão, inevitavelmente, a confusão e
o erro no sistema inteiro. Por exemplo: opiniões pelagianas sobre o estado
natural do homem tendem sempre a dar em resultado opiniões socinianas sobre a
Pessoa e a obra de Cristo. E opiniões semipelagianas sobre o pecado e a graça
são atraídas irresistivelmente e, por sua vez, atraem opiniões arminianas sobre os
atributos divinos, a natureza da expiação e a obra do Espírito.

Há, com efeito, como poderíamos já prever, só dois sistemas completos e


autoconseqüentes de teologia cristã possíveis.,

Io. Há, de um lado, o agostinianismo, completado no

calvinismo. 2o. De outro lado há o pelagianismo, completado no socinianismo. E


3o, o arminianismo, que está entre os dois, e é um sistema de compromissos, o
semipelagianismo desenvolvido.

No uso comum, o termo socinianismo é empregado para designar esses


elementos do falso sistema que dizem respeito à Trindade e à Pessoa de Cristo.
Os termos pelagianismo e semipelagianismo são aplicados aos desvios mais
extremistas ou mais moderados feitos das verdades de que trata a Antropologia,
e o termo arminianismo é empregado para designar os erros menos extremistas
que neste sistema são ensinados na seção dtsoteriologia.

4. Quando, onde e por quem foram primeiro discriminados claramente os


princípios fundamentais das duas grandes escolas antagonistas de teologia?

As posições contrastadas dos sistemas agostiniano e pelagiano foram primeiro


desenvolvidas e definidas por meio de controvérsias mantidas pelos homens
eminentes cujos nomes trazem - Agostinho e Pelágio - durante a primeira
terça parte do século 5.

Agostinho foi bispo de Hipona, África setentrional, de 395 a 430. Pelágio, cujo
sobrenome foi Morgan, era um monge britânico. Foi ajudado nas suas
controvérsias por seus discípulos Celestio e Juliano, de Eclano, Itália.
As posições mantidas por Pelágio foram condenadas geralmente pelos
representantes da Igreja inteira desde aquele tempo até agora, e todas as
denominações (com exceção dos socinianos professos) as têm reputado como
heresias fatais. Foram condenadas pelos dois concílios reunidos em Cartago, em
407 e 416; pelo Concilio de Milevo, na Numídia, em 416; pelos papas Inocêncio
e Zósimo, e pelo concilio ecumênico de Efeso, em 431. Este repúdio apressado e
universal do pelagianismo prova que, embora fossem muito imperfeitas as idéias
dos primeiros pais sobre essa classe de questões, o sistema

ensinado por Agostinho devia ser, quanto às coisas essenciais, o mesmo que a fé
da Igreja, em sua substância, desde o princípio da era cristã.

5. Como se pode expor, em contraste, as principais doutrinas distintivas dos


sistemas agostiniano e pelagiano?

“Ia. Quanto ao pecado original:1

Agostinianismo - Pelo pecado de Adão, em quem pecaram todos os homens


juntos, vieram para o mundo o pecado e todos os demais castigos merecidos do
pecado de Adão. Por ele ficou corrompida a natureza humana, tanto física como
moralmente. Todo homem traz consigo para o mundo uma natureza já
tão corrupta que nada pode fazer senão pecar. A propagação desta qualidade da
sua natureza é pela concupiscência.

“Pelagianismo - Por sua transgressão, Adão só fez mal a si e não à sua


posteridade. Quanto ao que diz respeito à sua natureza moral, todo o homem
nasce na mesma condição em que foi criado Adão. Não há, pois, pecado
original.

“2a. Quanto ao livre-arbítrio:

‘Agostinianismo - Pelo pecado de Adão, a vontade humana perdeu inteiramente


a sua liberdade. Em seu atual estado corrompido, o homem só pode querer e
fazer o mal.

“Pelagianismo - A vontade do homem é livre. Todo homem tem o poder de


querer e fazer o bem, como também o mal. Por isso depende só de si, se for bom
ou mau.
“3a. Quanto à graça:

“Agostinianismo - Se, porém, o homem, no seu estado atual, quer e faz o bem, é
só devido à obra da graça divina. Esta é uma obra interna, secreta e maravilhosa,
operada por Deus no homem. E uma obra que precede e também acompanha.
Pela graça precedente o homem alcança a fé, e mediante esta chega a ver o que é
bom e recebe o poder de querer o bem. Para fazer

qualquer boa obra, precisa da graça cooperante. Como o homem não pode fazer
nada sem a graça, assim também nada pode fazer contra ela. E irresistível. E
como o homem não tem, por natureza, merecimento algum, Deus, dando a Sua
graça a qualquer homem, não o faz em atenção à disposição moral desse homem,
mas opera segundo a Sua própria livre vontade.

“Pelagianismo - Ainda que seja verdade que o homem, por sua livre vontade
que é um dom de Deus, tem capacidade para querer e fazer o bem, sem o auxílio
especial de Deus, contudo para que o possa fazer mais facilmente, Deus revelou
a lei, deu-lhe o ensino e exemplo de Cristo para o ajudar, e concedeu-lhe até
mesmo as operações sobrenaturais da graça. Esta, no seu sentido mais limitado
(influência graciosa) é concedida só àqueles que, empregando fielmente suas
próprias forças, merecem que o seja. Mas o homem pode resistir-lhe.

“4a. Quanto à predestinação eà redenção:

“Agostinianismo - Desde toda a eternidade, Deus fez um decreto livre e


incondicional de salvar alguns de toda a humanidade que estava corrupta e
sujeita à condenação. Àqueles que predestinou para essa salvação dá os
meios necessários para conseguirem esse fim. Sobre os outros, porém, que não
pertencem ao pequeno número* dos eleitos, cai a merecida ruína. Cristo veio ao
mundo e morreu somente a favor dos eleitos.

“Pelagianismo - O decreto divino de eleição e reprovação é fundado na


presciência de Deus. Aqueles, a quem Deus previu que guardariam os
mandamentos, predestinou para a salvação; os outros, para a condenação. A
redenção de Cristo é geral, mas só aqueles que realmente pecaram precisam da
Sua morte expiatória. Todos, porém, podem ser levados a uma perfeição e
virtude superior, por meio do ensino e exemplo de Cristo.” ; ,

6. Qual foi a origem do sistema mediano ou semipelagiano?


Enquanto a controvérsia pelagiana estava no seu auge, João

Casiano, de descendência síria, e educado na Igreja Oriental, tendo ido para


Marselha, França, com o fim de promover os interesses do monasticismo nessa
região, começou a dar publicidade a um sistema de doutrinas que ocupava
posição média entre os sistemas de Agostinho e Pelágio. Esse sistema, a cujos
advogados se deu o nome de massilianos, devido à origem do seu chefe,
chamados depois semipelagianos pelos escolásticos, é, nos seus princípios
essenciais, o mesmo que agora se chama arminianismo, uma exposição do
qual falaremos numa parte subseqüente deste capítulo. Fausto, bispo de Riez,
França, de 427 a 480, foi um dos defensores mais distintos e dos propagadores
mais bem sucedidos dessa doutrina, a qual foi aceita permanentemente pela
Igreja Oriental, e por algum tempo, disseminada largamente também na Igreja
Ocidental, até ser condenada pelos sínodos de Orange e Valence, em 529. •

7. Qual a relação do agostinianismo com o calvinismo, e do semipelagianismo


com o arminianismo?

Depois desse tempo, o agostinianismo tornou-se a ortodoxia reconhecida da


Igreja Ocidental, e o nome de nenhum outro homem, não inspirado, exerce
influência tão universal, tanto entre os papistas como entre os protestantes, como
Agostinho. Se se deve usar de algum nome humano como designação de um
sistema de verdades, divinamente reveladas, o termo agostinianismo como
oposto ao pelagianismo designa, com propriedade, todos aqueles elementos de fé
que o mundo inteiro de cristãos evangélicos mantém em comum. Por outro lado,
agostinianismo como oposto a semipelagianismo designa, com propriedade, o
sistema comumente chamado calvinismo - enquanto cassianismo seria,
propriamente, a designação histórica do sistema mediano ou semipelagiano,
comumente chamado agora arminianismo.

8. Como se achavam divididos os partidos, entre os escolásticos, com respeito a


esses grandes sistemas, e como se acham divididos na moderna igreja papal?

Depois de decorrida a idade das trevas, durante a qual permanecera entorpecida


toda a especulação ativa, o grande Tomás de Aquino, italiano por nascimento,
1124 d.C., monge da ordem dominicana, “Doctor Angelicus”, advogou
com habilidade consumada o sistema agostiniano, do modo incômodo e artificial
que caracterizava os escolásticos. João Duns Scotus, inglês por nascimento,
1265 d.C., monge da ordem franciscana, “Doctor Subtilis”, foi, naquele século,
o defensor mais hábil do sistema que se chamava então semi-pelagiano. As
controvérsias ressuscitadas assim continuaram por muitos séculos, sustentando
os dominicanos e tomistas, em geral, a eleição incondicional e a graça eficaz; e
os francis-canos e scotistas, em geral, a eleição condicional e o poder inalienável
da vontade humana de cooperar com a graça divina ou resistir-lhe. As mesmas
disputas, sob diversos nomes partidários, continuam ainda a agitar a igreja
romana desde a Reforma, se bem que o gênio de seu sistema ritual e
a predominância dos jesuítas nos seus concílios tenham feito prevalecer, em
quase toda essa igreja, o semipelagianismo.

O Concilio Ecumênico de Trento, cujas sessões começaram em 1546 d.C.,


procurou formular um credo indefinido que satisfizesse aos adeptos de ambos os
sistemas. A conseqüência foi que tanto os dominicanos como os
franciscanos disseram que suas opiniões haviam sido sancionadas por
aquele concilio. A verdade é que, enquanto as exposições gerais e indefinidas de
doutrina que se encontram nos seus cânones são, muitas vezes, agostinianas na
forma, as explicações mais detalhadas e exatas que se lhes seguem são
uniformemente semipelagianas.

A ordem dos jesuítas, fundada em 1541 d.C. por Inácio de Loyola, tem-se
identificado sempre com a teologia semi-pelagiana. Luiz Molina, jesuíta
espanhol, 1588 d.C., in-

ventor da distinção denominada scientia media, alcançou tanta fama na defesa


do semipelagianismo que os adeptos deste, na igreja papal, têm sido chamados
molinistas. Em 1638 d.C. faleceu Jansênio, bispo de Ipres, nos Países Baixos,
deixando sua grande obraAugustinus, na qual desenvolveu claramente
e estabeleceu, por extratos numerosos, o verdadeiro sistema de Agostinho. Esta
obra ocasionou controvérsias muito dilatadas, foi atacada ferozmente pelos
jesuítas, e condenada pelas bulas de Inocêncio X e Alexandre VII, em 1653 e
1656 d.C. -seguidas, em 1713 d.C., pela bula célebre unigenitus, de Clemente
XI, condenando o Comentário do Novo Testamento, por Quesnel.

Os agostinianos, na igreja romana, foram subseqüentemente chamados


jansenistas, e tinham sua sede principal na Holanda e na Bélgica, como também
em Porto Royal, perto de Paris. Tem havido, entre eles, homens muito ilustres
como Tillemont, Arnaulos, Nicole, Pascal e Quesnel. As controvérsias entre os
dominicanos e os molinistas, os jansenitas e os jesuítas têm continuado até o
nosso tempo, se bem que agora o semipelagianismo junto com o jesuitismo, que
triunfou definitivamente no Concilio Vaticano, em 1870 d.C., reina quase
universalmente na igreja católica romana.

9. Qual a posição da Igreja Luterana com relação a esses grandes sistemas?

Lutero, monge da ordem agostiniana e discípulo fervoroso de Agostinho,


ensinou um sistema de fé que concorda, no espírito e em todos os pontos
essenciais, com o espírito desenvolvido depois mais sistematicamente por
Calvino. O único ponto importante em que diferiu do consenso comum das
igrejas calvinistas, era o que diz respeito à presença literal e física da Pessoa de
Cristo em, com e sob os elementos da eucaristia. Com essas opiniões de Lutero
parece que Melanchthon concordava, quando publicou a primeira edição dos
seus Loci communes. Posteriormente, porém, modificaram-se

gradualmente suas opiniões sobre a liberdade do homem e a soberania da graça


divina. Depois da morte de Lutero, na conferência de Leipzig, em 1548,
declarou, explicitamente, que concordava com os sinergistas que afirmam que,
no ato regenerador, a vontade humana coopera com a graça divina. Por outro
lado, as opiniões de Melanchthon quanto à relação do sinal significado nos
sacramentos (ou seja, as ordenanças) com a graça, estavam muito mais em
conformidade com as que mantinham os discípulos de Zwínglio e Calvino do
que com as que ensinava sua própria igreja. Sua posição, em relação a esses dois
pontos, ofendeu muito os “velhos luteranos”, e ocasionou controvérsias
prolongadas e amargas. Afinal prevaleceu sobre seus antagonistas o partido
“velho” ou dos luteranos estritos, e fez-se de suas opiniões uma
completa exposição científica na Formula Concordiae, publicada em 1580 d.C.
Ainda que este documento notável não chegasse a ocupar posição igual à que
ocupa a Confissão de Augsburgo c sua Apologia, que são a confissão
reconhecida universalmente das igrejas luteranas, pode, com justiça, ser
considerada como a melhor testemunha ao nosso alcance a respeito daquilo que
realmente é a teologia estritamente luterana, quando desenvolvida num sistema
completo.

As características da teologia luterana quando contrastadas com as das igrejas


reformadas podem ser expostas sob os seguintes pontos:

Io. Quanto à teologia própria e à cristologia, os únicos pontos em que diferem do


calvinismo são os dois seguintes:
(1) Quanto aos atributos divinos ligados à preordenação soberana, eles mantêm
que até onde esta diz respeito às ações dos agentes morais, é limitada às ações
que são boas moral-mcnte, e que não têm relação determinante com as que
são más. Deus prevê todos os eventos, sejam quais forem; Ele preordena todas as
ações dos agentes necessários, e as boas ações dos agentes livres - mas nada
mais.

(2) Quanto à cristologia, mantêm que, em virtude da

AUBREY ÇLARK 131

união hipostática, o elemento humano da Pessoa de Cristo tem parte com o


divino em pelo menos alguns dos seus atributos. Assim, Sua alma humana tem
parte na onisciência e onipotência da Sua deidade, e Seu corpo, na sua
onipresença, e juntos têm o poder de dar vida ao verdadeiro crente que recebe
a ordenança.

2o. Quanto à antropologia, suas opiniões são idênticas às dos mais estrênuos
proponentes da teologia reformada, como, por exemplo, a imputação antecedente
e imediata do primeiro pecado de Adão; a total depravação moral de todos os
seus descendentes, por natureza e desde o nascimento; e sua incapacidade
absoluta de, por suas próprias forças, fazerem, como devem fazer, coisa alguma
das que pertencem à sua relação com Deus.

3o. Quanto aos grandes elementos centrais da soteriologia, concordam com


muita exatidão com os reformados quanto à natureza e à necessidade da obra
expiatória de Cristo; quanto à justificação forense, mediante a imputação ao
crente tanto da obediência ativa como da passiva de Cristo; quanto à natureza e
ao ofício da fé justificadora; quanto à ação somente da graça divina na
regeneração do pecador, com a qual graça a alma, morta por seus delitos, não
pode, em princípio, cooperar; quanto à eleição eterna e soberana que Deus faz
dos crentes em Cristo, não por causa de qualquer coisa neles, e sim em virtude
de Sua vontade graciosa e, por conseguinte, quanto ao fato de dever-se atribuir a
salvação de toda alma realmente salva só e unicamente à graça de Deus, e de
modo algum à vontade cooperante do homem, ou ao seu merecimento.

Ao mesmo tempo ensinam, com óbvia inconseqüência lógica, que, na divina


intenção, a graça do evangelho é absolutamente universal - que Cristo morreu
igualmente, e no mesmo sentido, por todos os homens; dá graça a
todos igualmente. Os que se perdem, perdem-se porque resistem à graça. Os que
são salvos, devem sua salvação unicamente à graça, a mesma que tem em
comum com os perdidos - a

mesmíssima graça - não em grau maior de graça ou em grau menor de pecado -


nem ao bom uso que fazem da graça recebida, e sim, simplesmente à própria
graça. Segundo eles, Deus elege soberanamente todos os que são salvos, mas
não passa soberanamente por alto nos que se perdem. Dá a mesma graça a todos,
e os destinos são diversos porque os que se perdem persistem em resistir a essa
graça.

A distinção mais importante do luteranismo diz respeito à doutrina sobre a


eucaristia. Eles mantêm a presença real e física do Senhor na Ceia do Senhor -
em, com, e sob os elementos - e que a graça significada e comunicada
pelas ordenanças é necessária à salvação, e não é comunicada ordinariamente
por nenhum outro meio. Por isso a teologia e vida eclesiástica dos luteranos
estritos concentram-se nos sacramentos. Diferem do partido altamente
sacramental da Igreja Episcopal, em rejeitarem o dogma da sucessão apostólica e
as tradições da Igreja Primitiva.

10. Em quantos grandes partidos tem estado dividido sempre o mundo


protestante, e quais são?

Todo o mundo protestante, desde os tempos da Reforma até agora, tem estado
dividido em duas grandes famílias de Igreja, classificadas respectivamente como
LUTERANAS, OU as que tomaram o seu caráter de Lutero e Melanchthon;
e REFORMADAS, ou as que receberam a impressão característica de Calvino. A
família LUTERANA de igrejas compreende todos aqueles protestantes da
Alemanha, Hungria, e das províncias bálticas da Rússia, que aderem à Confissão
de Augsburgo, juntamente com as igrejas nacionais da Dinamarca, Noruega e
Suécia, e a grande denominação desse nome na América do Norte. O número de
seus adeptos é estimado em vinte cinco milhões2 de luteranos autênticos,
enquanto que a Igreja Evangélica da Prússia, formada por uma união política dos

adeptos das duas confissões, abrange, provavelmente, mais onze milhões e meio.
Seus livros simbólicos são a Confissão de Augsburgo e sua Apologia, os artigos
de Esmalcalda, os Catecismos, grande e pequeno, de Lutero e, recebida pelo
partido estrito deles, a Fórmula Concordiae. As igrejas calvinistas ou reformadas
abrangem, segundo o uso restrito do termo, todas as igrejas protestantes que
derivam sua teologia, de Genebra; e entre elas, por causa de óbvias
condições modificadoras, as igrejas episcopais da Inglaterra, Irlanda e América
do Norte formam uma subdivisão separada; e os metodistas wesleyanos, que são
comumente classificados com os reformados por terem—se desenvolvido
historicamente daquele ramo, acham-se afastados mais ainda do que a Igreja da
Inglaterra, do tipo normal da classe geral. Num sentido geral, porém, esta classe
compreende todas aquelas igrejas da Alemanha que aceitam o Catecismo de
Heidelberg; as igrejas protestantes da Suiça, França, Holanda; as igrejas
nacionais da Inglaterra e Escócia; as independentes e batistas da Inglaterra e
América do Norte; e os diversos ramos da Igreja Presbiteriana da Inglaterra,
Irlanda e América. Compreendem cerca de oito milhões de reformados alemães;
dois milhões da Igreja Reformada da Hungria; doze milhões e meio
de episcopais; seis milhões de presbiterianos; três e meio milhões de metodistas;
quatro e meio milhões de batistas, e um milhão e meio de independentes - ao
todo, cerca de trinta e oito milhões.

As confissões principais da Igreja Reformada são as Confissões Galicana, Belga;


Segunda Helvética e a Escocesa; o Catecismo de Heidelberg; os trinta e nove
Artigos da Igreja da Inglaterra; os Cânones do Sínodo de Dort, e a Confissão
e Catecismos da Assembléia de Westminster.

11. Qual foi a origem da heresia unitária?

Na Igreja Primitiva, os dbionitas, seita judia-gnóstica-cristã, foram os únicos


representantes daqueles que, nos tempos

modernos, têm o nome de socinianos. Um partido entre eles chamava-


seelkasitas. Suas idéias, com modificações especiais, acham-se expressas nas
Homílias Clementinas, escritas cerca do ano de 150 d.C., na Síria oriental. Os
humanistas mais distintos da Igreja Primitiva foram os dois Teodotos de Roma,
ambos leigos - Artemon (f 180), e Paulo de Samosata, bispo de Antio-quia (260-
270), deposto por um concilio reunido em 269 d.C. A maioria desses admitia o
nascimento sobrenatural de Cristo, mas afirmava que era meramente homem,
honrado com uma especial influência divina. Eles admitiam uma apoteose
ou deificação relativa de Cristo, subseqüente à Sua vida e obra neste
mundo. u : ■ ,.av)

Cerinto, que viveu durante a última parte do primeiro século e a primeira parte
do segundo, sustentava que Jesus foi mero homem, nascido de Maria e José, e
que o Cristo ou Logos desceu sobre Ele, na forma de uma pomba, no Seu
batismo, e que foi, então, elevado à dignidade de Filho de Deus,
operou milagres, etc. O Logos deixou o homem Jesus na crucificação dEle.
Negou, também, a ressurreição de Jesus.

A esses sucederam os arianos, no quarto século. Durante a Idade Média, não


ficou nenhum partido, na Igreja, que negasse abertamente a divindade suprema
de Jesus. Nos tempos modernos reviveu o unitarismo, no período da Reforma,
por meio dos trabalhos de Lélio Socino, da Itália. Foi, por este, levado para a
Suíça, e alí existiu como doutrina professada por alguns hereges conspícuos, de
1525 a 1560 d.C. Os seus professores mais proeminentes foram os Socino (Lélio
e Fausto), Serveto e Ochino. Existia como igreja organizada em Rocow, Polônia,
onde os hereges eLivross acharam refúgio, de 1539 a 1658, quando os
socinianos foram expulsos da Polônia pelos jesuítas e, passando para a Holanda,
ficaram absorvidos pelas igrejas “remonstrantes” ou arminianas. Em
1609 Sehmetz, com os materiais tirados do ensino de Fausto Socino, sobrinho de
Lélio e do de J. Crellio, compôs o Catecismo Racoviano, que é a obra normal do
socianismo (veja a tradução

de Rees, 1818). Depois da sua dispersão, André Wissowatis e outros reuniram as


obras mais importantes dos seus teólogos mais ilustres sob o título dcBibliotheca
Fratrum Polonorum. Esses escritores desenvolveram o socianismo com
habilidade consumada, deram-lhe uma forma perfeita e reduziram-no a üm
sistema lógico. E puramente unitário na sua teologia, humanista na sua
cristologia,pelagiano na sua antropologia; e sua soteriologia foi desenvolvida em
perfeita coerência lógica e ética com esses elementos. Uma exposição de suas
posições características encontra-se abaixo.

Tornou a aparecer, com doutrina sustentada por alguns homens isolados, na


Inglaterra, no século 17. Durante o século 18, certo número de igrejas
presbiterianas da Inglaterra decaíram para o socianismo; e nos fins do mesmo
século, um número maior de igrejas congregacionais, no leste do estado de
Massachussetts, seguiram o seu exemplo. E essas juntas constituem a base da
denominação unitária moderna.

“Sua última forma é uma modificação do socianismo antigo, devido à pressão da


religião evangélica de uma parte, e da crítica racionalista de outra. Priestly,
Channing e J. Martineau são os exemplos das fases sucessivas do
unitarismo moderno. Priestly é exemplo do socianismo antigo, que se edificava
sobre uma filosofia sensacional; Channing é exemplo de um esforço de se
conseguir um grande desenvolvimento do elemento espiritual; e Martineau é o
da elevação de vista induzida pela filosofia de Cousin, e pela introdução da
idéia de progresso histórico nas idéias religiosas”-Forrar Crit. Hist. ofFree
Thought, Bampton Lecture, 1862.

12. Quando e em que circunstâncias teve origem o arminianismo moderno?

James Arminius, professor de teologia na Universidade de Leyden, de 1602 até a


sua morte em 1609, embora sendo ministro da Igreja Calvinista da Holanda
manteve, a princípio, secreta e depois mais abertamente, esse sistema de opinião

teológica que desde aquele tempo tem sido chamado por seu nome. Suas
opiniões difundiram-se rapidamente e foram, ao mesmo tempo, combatidas
pelos principais homens da Igreja. Cerca de um ano após a morte de Armínio,
seus discípulos constituíram-se em partido organizado e, nessa forma,
apresentaram aos Estados da Holanda e Friesland ocidental uma representação
(remonstrance), pedindo que se lhes permitisse conservar seus lugares na Igreja
sem que fossem sujeitos, pelos tribunais eclesiásticos, a exames incômodos
sobre sua ortodoxia. Pelo fato de ser a apresentação dessa remonstrance o seu
primeiro ato combinado como um partido, ficaram, depois, sendo conhecidos na
história como xemonstrantes. >- j ^

Pouco depois disso, os remonstrantes, com o fim de definir bem a sua posição,
apresentaram às autoridades cinco artigos em que exprimiam sua fé quanto à
predestinação e a graça. Essa foi a origem dos célebres “Cinco Pontos” na
controvérsia entre o calvinismo e o arminianismo. Em breve, porém,
a controvérsia estendeu-se a mais pontos; e os arminianos, por se conservarem
lógicos, viram-se obrigados a ensinar doutrinas radicalmente errôneas quanto à
natureza do pecado, ao pecado original, à imputação, à natureza da propiciação,
e à justificação pela fé. Alguns de seus autores levaram o espírito racionalista
inerente no seu sistema até aos seus resultados legítimos, num pelagianismo
quase irrestrito, e alguns foram até suspeitos de socianismo.

Não se tendo conseguido, por outros meios, impor silêncio aos inovadores, os
Estados Gerais reuniram em Dort, Holanda, um Sínodo geral, cujas sessões
ocorreram em 1618 e 1619. Constava de pastores, presbíteros regentes e
professores leológicos das igrejas da Holanda, e de deputados das igrejas da
Inglaterra, Escócia, Hesse, Bremen, Palatinado e Suíça -não se achando presente
ninguém da França, por tê-lo proibido o seu rei. Os delegados estrangeiros
presentes eram dezenove presbiterianos das igrejas reformadas do continente,
um da Escócia e quatro episcopais da Igreja da Inglaterra, entre eles,

como chefe, o bispo de Llandaff. Este Sínodo condenou unanimemente as


doutrinas dos arminianos, e nos seus Artigos confirmou a comum fé calvinista
das igrejas reformadas. Os teólogos remonstrantes mais distintos que se
sucederam a Armínio foram Episcópio, Curcelloea, Limborch, Le
Clerc, Wetstein e o ilustre jurisconsulto Grotio.

A denominação dos metodistas na Grã-Bretanha e na América é a única grande


entre os protestantes do mundo inteiro cujo credo é abertamente arminiano. Mas
o seu armi-nianismo, como este se acha exposto nas obras de Ricardo Watson,
seu escritor mais autorizado e teólogo incomparavelmente mais competente do
que Wesley, está muito menos afastado do calvinismo da Assembléia de
Westminster do que o está o sistema dos remonstrantes ulteriores, e deve
sempre ser designado pelo nome qualificado de “arminianismo evangélico”. Nas
obras de Watson a antropologia e a sote-riologia do arminianismo são, em
sentido geral, muito semelhantes às divisões correspondentes do luteranismo e
do calvinismo de Baxter, e da Escola Francesa do século 17.

13. Eis um esboço das principais posições do sistema sociniano. TEOLOGIA E


CRISTOLOGIA

Io. A unidade divina.

(1) Esta unidade é incompatível com quaisquer distinções

pessoais na deidade. . ... .

(2) Cristo é mero homem.

(3) O Espírito Santo é uma influência divina impessoal.

2o. Os atributos divinos.

(1) Não existe em Deus nenhum princípio de justiça vindicativa: nada que o
impeça de aceitar os pecadores só sob a base do seu arrependimento.

(2) E essencialmente impossível que sejam conhecidos


futuros eventos contingentes. A presciência de Deus não se estende a tais
eventos. r , ■

ANTROPOLOGIA —

Io. O homem foi criado sem caráter moral positivo. “A imagem de Deus” à qual,
diz a Bíblia, o homem foi criado, não inclui a santidade.

2o. Adão, comendo o fruto proibido, cometeu pecado e incorreu, assim, na ira de
Deus, mas, não obstante isso, retinha ainda a mesma natureza moral e as
tendências com as quais fora criado, e transmitiu-as integralmente à sua
posteridade.

3o. A culpa do pecado de Adão não é imputada à sua descendência.

4o. O homem pode, agora, cumprir todas as suas obrigações por natureza, e fazê-
lo tão bem quanto Adão antes de pecar. As circunstâncias nas quais se forma o
caráter do homem, agora são menos favoráveis do que no caso de Adão, e por
isso o homem é fraco. Mas Deus é infinitamente misericordioso, e a obrigação é
graduada pela capacidade. O homem foi criado mortal, por natureza, e teria
morrido mesmo que não tivesse pecado.

SOTERIOLOGIA

A grande finalidade da missão de Cristo foi ensinar e dar certeza quanto às


verdades a cujo respeito as conclusões da razão meramente humana são
problemáticas. Isso Ele fez tanto por sua doutrina como por seu exemplo.

Io. Cristo não desempenhou, sobre a terra, o ofício de sacerdote; fê-lo no céu,
mas em sentido muito indefinido.

2o. O ofício principal de Cristo foi profético. Ele ensinou uma lei nova. Deu o
exemplo de uma vida santa. Ensinou sobre a personalidade de Deus. E ilustrou a
doutrina de uma vida futura por Sua própria ressurreição.

3o. Sua morte foi necessária como a condição imprescindível da Sua


ressurreição. Seu desígnio foi também o de produzir assim uma impressão moral
nos pecadores, dispondo--os a arrepender-se dos seus pecados, e assegurando-
lhes a clemência de Deus. Não havia necessidade de nenhuma propiciação da
justiça divina, nem seria possível propiciá-la

por meio de sofrimentos vícários.

ESCATOLOGIA

Io. No período intermediário entre a morte e a ressurreição, a alma permanece


inconsciente.

2o. “Porque fica evidente, pelas autoridades citadas, que eles (os primeiros
socinianos) igualmente com outros mantinham, constantemente, que haveria
uma ressurreição tanto dos justos como dos injustos, e que os injustos
seriam condenados a um castigo eterno, mas que os justos seriam admitidos à
vida eterna.” B. Wissowatio.

“A doutrina sobre os tormentos eternos no inferno, a maior parte dos unitários de


hoje (1818) rejeita, por ser, na sua opinião, inteiramente inconciliável com a
bondade divina, e por não ter base nas Escrituras. Com referência ao
destino futuro dos ímpios, alguns sustentam que, depois da ressurreição, serão
aniquilados ou que sofrerão a destruição eterna, no sentido literal das palavras. A
maioria, porém, tem aceitado a doutrina da restauração universal, segundo a qual
todos os homens, por mais depravados que tenham sido seus caracteres nesta
vida, serão afinal, por meio de uma disciplina corretiva adaptada na sua
severidade à natureza de cada caso particular, levados a tornar-se bons e, por
conseqüência, felizes” -Catecismo Beacoviano, de Rees - págs. 367,
368. ECLESIOLOGIA

1°. A Igreja é simplesmente uma sociedade voluntária. Seu fim é o


aperfeiçoamento mútuo. Seu laço comum, semelhança de sentimentos e
aspirações. Sua regra é a razão humana.

2o. Os sacramentos são simplesmente ordenanças comemorativas e instrutivas.

14. Eis um esboço das posições principais do sistema arminiano.

OS ATRIBUTOS DIVINOS

Io. Admitem que a justiça vindicativa é um atributo divino; mantêm, porém, que
é cedível, que é opcional mais
do que essencial, que pertence antes à política administrativa, e que não é tanto
um princípio necessário.

2o. Admitem que Deus tem presciência de todos os eventos sem nenhuma
exceção. Inventaram a distinção expressa pelo termo Scientia Media para
explicar a presciência certa de eventos futuros cuja ocorrência, porém, não fica
determinada nem por Deus, nem por qualquer outra causa antecedente.

3o. Negam que a preordenação de Deus se estenda às volições dos agentes livres,
e mantêm que a eleição dos homens não é absoluta, e sim condicionada à fé e
obediência previstas. ANTROPOLOGIA

Io. Um caráter moral não pode ser criado, mas é determinado só por decisão
prévia de quem o possui.

2o. Tanto a liberdade como a responsabilidade envolvem, necessariamente, a


possibilidade de poder fazer o contrário.

3o. Costumam negar a imputação do primeiro pecado de Adão à sua posteridade.

4o. Os arminianos estritos negam a depravação total do homem, e só admitem


que é moralmente fraco por natureza. Armínio e Wesley eram ortodoxos, mas
menos conseqüentes.

5o. Negam que o homem tenha capacidade moral para principiar uma vida santa
ou continuar nela, por sua própria força e sem auxílio divino - mas afirmam que
todos têm o poder de cooperar com a graça comum, ou de resistir-lhe. Somente o
que distingue o santo do pecador é o seu próprio uso ou abuso da graça. .

6o. Consideram a influência graciosa de Deus como sendo influência moral e


suasória em vez de um exercício direto e eficaz da energia recriadora de Deus.

7o. Mantêm que qualquer santo pode cair da graça - em qualquer período da sua
vida terrestre.

SOTERIOLOGIA

Io. Admitem que Cristo fez um sacrifício vicário de Si como substituto dos
pecadores mas, ao mesmo tempo, negam que tenha sofrido a pena literal da lei
ou uma pena plenamente

equivalente a ela, e mantêm que os Seus sofrimentos foram por graça aceitos
como substitutos dessa pena.

2o. Mantêm que não só com respeito à suficiência e adaptação da morte de


Cristo, mas também na intenção do Pai em dar Seu Filho, e na intenção do Filho
em Se entregar, Cristo morreu, no mesmo sentido, por todos os
homens igualmente.

3o. Que a aceitação, da parte do Pai, da satisfação de Cristo em vez da execução


da pena na própria pessoa do pecador, envolve um afrouxamento da lei divina.

4o. Que, em resultado da satisfação feita por Cristo, Deus pode agora, de perfeita
conformidade com Seu caráter e com os interesses de Seu governo geral,
oferecer a salvação sob condições mais fáceis. Por conseguinte, o evangelho é
uma nova lei, exigindo fé e obediência evangélica em vez da obediência perfeita
exigida originalmente.

5o. Por conseguinte, a obra de Cristo não salva realmente a ninguém - só torna
possível a salvação de todos - tirou os obstáculos legais que exigiam - não
adquire fé para ninguém mas torna possível a salvação, sob a condição da fé.

6o. A todos os homens são concedidas influências suficientes do Espírito Santo,


oportunidades e meios de graça suficientes para serem salvos.

7o. Todos os homens podem e têm a obrigação de alcançar, nesta vida, a


perfeição evangélica. Esta, segundo as explicações que eles dão a respeito dela,
consiste em ser o cristão perfeitamente sincero, em achar-se animado por um
amor perfeito, e em fazer tudo o que de nós é exigido nesta dispen-sação do
evangelho.

8o. A respeito dos pagãos, alguns têm mantido que o evangelho é, de um ou de


outro modo, pregado virtual, senão formalmente, a todos os homens. Outros, que
no mundo futuro há três condições correspondentes às grandes classes em que se
pode dividir a raça inteira, com relação ao evangelho -o Status Credentium; o
Status Incredulorum, e o Status Ignorantium.

15. Eis um breve esboço das posições principais do sistema calvinista.


TEOLOGIA • — ••

Io. Deus é um soberano absoluto, infinitamente sábio, reto, justo, benévolo e


poderoso, determinando, desde toda eternidade, a ocorrência certa de todos os
eventos, de qualquer classe, que sejam segundo o conselho da Sua própria
vontade.

2o. A justiça vindicativa é uma perfeição essencial e imutável da natureza divina,


que exige o castigo pleno de todo e qualquer pecador, e Deus não pode afrouxar
o seu exercício nem deixar de exercê-lo.

CRISTOLOGIA • • 1

O Mediador é uma só pessoa eterna e divina, ao mesmo tempo verdadeiro Deus


e verdadeiro homem. Na unidade da Pessoa teantrópica as duas naturezas
permanecem puras e não misturadas, e cada uma retém distintos seus atributos
separados e incomunicáveis. A personalidade é a do Logos eterno e imutável. A
Sua natureza humana é impessoal. Todos os Seus atos medianeiros envolvem o
exercício concorrente das energias das duas naturezas, segundo suas diversas
propriedades, na unidade da Sua Pessoa, que é uma só. ANTROPOLOGIA

Io. Deus criou o homem por um ato imediato da Sua onipotência, e num estado
em que não havia defeito físico, intelectual ou moral, e com caráter moral
formado positivamente.

2o. A culpa do pecado público de Adão, Deus, por um ato judicial, põe à conta
imediata de cada um de seus descendentes, desde o momento em que começam a
existir, e antes de qualquer de seus atos.

3o. Os homens, por conseguinte, começam a existir num estado de condenação,


privados daquelas influências do Espírito Santo das quais depende a sua vida
moral e espiritual.

4o. Segue-se disso que principiam a ser agentes morais privados daquela retidão
original que pertencia à natureza

humana como a mesma foi criada em Adão, e já com uma tendência prévia para
o pecado; e essa tendência que neles está é da natureza do pecado, e merece
castigo.
5o. A natureza do homem, ainda depois da Queda, conserva suas faculdades
constitucionais de razão, consciência e livre vontade, e por isso o homem
continua a ser agente moral e responsável; mas, não obstante, está morto
espiritualmente, e totalmente avesso ao que é bom espiritualmente, e
é absolutamente incapaz para mudar seu coração ou cumprir, de um modo
adequado, qualquer dos deveres que nascem da sua relação com Deus.

SOTERIOLOGIA '

Io. A salvação do homem é absolutamente da graça de Deus. Deus estava livre


para, em conformidade com as perfeições infinitas da Sua natureza, salvar todos
ou muitos, ou poucos ou ninguém, segundo a Sua soberana vontade.

2o. Cristo fez-Se Mediador em virtude de um pacto eterno feito entre o Pai e o
Filho, segundo o qual tornou-Se o substituto legal de Seu povo eleito, e como tal
cumpriu, por meio da Sua obediência e sofrimentos, todas as obrigações que
para esses eleitos nasceram das Suas relações federais para com a lei -pagando
vicariamente mediante Seus sofrimentos a sua dívida penal - cumprindo
vicariamente, por Sua obediência, todas as condições pactuadas das quais
dependia sua felicidade eterna - cumprindo, assim, tudo o que a lei exigia,
satisfazendo à justiça de Deus e adquirindo a salvação eterna daqueles por quem
morreu.

3o. Por isso adquiriu, por Sua morte, as influências salvadoras do Espírito Santo
para todos aqueles por quem morreu. E o Espírito Santo aplica, infalivelmente, a
redenção adquirida por Cristo a todos os que intencionava salvar, no tempo exato
e sob aquelas mesmas condições que foram predeterminadas no pacto eterno da
graça - e isso faz pelo exercício imediato e intrinsecamente eficaz de Seu
poder, operando diretamente neles, e nas operações da sua natureza

renovada levando-os à fé, ao arrependimento e à obediência.

4o. A justificação é um ato judicial de Deus, pelo qual, imputando-nos a justiça


perfeita de Cristo na qual se acham incluídas sua obediência ativa e passiva,
começa a nos ver e nos tratar de conformidade com essa justiça, declarando
que estão satisfeitas todas as exigências penais, e que nós, graciosamente, temos
direito a todas as imunidades e recompensas condicionadas no pacto original
com Adão, sob sua obediência perfeita.
5o. Embora não seja possível alcançar absoluta perfeição moral nesta vida, e a
certeza não seja da essência da fé, é, não obstante, possível e obrigatório para
todo crente esforçar-se por chegar a ter certeza da sua própria salvação pessoal,
e esquecendo-se do que para trás fica, que se esforce por tornar-se perfeito em
tudo.

6o. Apesar do fato que entregue a si próprio todo crente cairia imediatamente, e
embora a maioria dos crentes sofra desvios temporais, todavia, por meio da
operação da Sua graça no coração, de conformidade com as provisões do
pacto eterno da graça e com o propósito de Cristo em morrer, Deus impede
infalivelmente que até o crente mais fraco apostate inteiramente ou pereça
eternamente.

Historical Presentation of Augustinianism and Pelagianism (Exposição Histórica de


Agostinianismo e Pelagianismo) por Dr. G. F. Wiggers.

A doutrina de Agostinho não nos permite concluir, de forma alguma, que os


eleitos são “poucos” ou em “pequeno número”.

Meados do século XIX.


Credos e Confissões

Embora os credos e confissões, seus usos e sua história, formem um ramo


distinto e separado de estudos, iremos considerá-los juntos neste capítulo, e nos
diversos capítulos desta obra que se seguirem serão encontradas referências
ao credo particular em que se acha definida mais claramente ou com mais
autoridade a doutrina particular que está sendo tratado.

Sobre este assunto inteiro consulte-se a notável obra histórica e crítica por Dr.
Philip Schaff - The Creeds of Christendom. No primeiro volume, o autor nos dá
a história da origem e da ocasião em que foi composto cada credo ou confissão,
e uma apreciação crítica do seu conteúdo e valor. No segundo e no terceiro
volumes, nos é dado o texto de todos os credos principais, em dois idiomas.

1. Por que são necessários credos e confissões, e como foram produzidos?

Tendo sido dadas, por inspiração de Deus, as Escrituras do Velho e do Novo


Testamentos, elas são para o homem, no seu estado atual, a única e toda-
suficiente regra de fé e prática. Essa palavra divina é, pois, a única norma de
doutrina que tem autoridade intrínseca para obrigar a consciência. Todas as
demais normas são de valor e autoridade só até onde ensinem o mesmo que
ensinam as Escrituras.

Mas, é o dever inalienável dos homens e uma necessidade

que, no uso de suas faculdades naturais e pelos meios comuns de interpretação,


chegue cada um a certas conclusões a respeito daquilo que as Escrituras
ensinam. Desde que todas as verdades concordam entre si, em todas as suas
partes, e desde que a razão humana procura sempre e instintivamente reduzir a
uma unidade e coerência lógica todos os elementos dos conhecimentos que
procura adquirir, segue-se que os homens são como que obrigados a construir,
mais ou menos formalmente, um sistema de fé com os materiais apresentados
nas Escrituras. Todos os que estudam a Bíblia fazem isso, necessariamente, no
próprio processo de compreender e coordenar o seu ensino; e pela linguagem de
que os sérios estudantes da Bíblia se servem, em suas orações e outros atos de
culto e na sua costumeira conversação religiosa, todos tornam manifesto que, de
um ou de outro modo, acharam nas Escrituras um sistema de fé tão completo
como no caso de cada um deles lhe foi possível. Se os homens recusarem o
auxílio oferecido pelas exposições de doutrina elaboradas e definidas
vagarosamente pela Igreja, cada um terá de fazer seu próprio credo, sem
auxílio e confiando só na própria sabedoria. A questão real entre a Igreja e os
impugnadores de credos humanos não é, como eles muitas vezes dizem, uma
questão entre a Palavra de Deus e os credos dos homens, mas é questão entre a
fé provada do corpo coletivo do povo de Deus e o juízo provado e a
sabedoria desassistida do objetor individual. Assim, como era de supor-se, foi de
fato assim que a Igreja procedeu, muito vagarosamente e pouco a pouco, nesta
obra de interpretar exatamente as Escrituras e de definir as grandes doutrinas que
compõem o sistema de verdades reveladas nessas mesmas Escrituras. Muitas
vezes a atenção da Igreja era chamada para o estudo de uma doutrina numa
época, e numa época subseqüente para o de outra; e à medida que assim se fazia
progresso gradual na discriminação clara das verdades evangélicas, fez a Igreja,
em diversos períodos, exposições exatas do resultado das novas aquisições e deu
assim ao mundo novos credos ou confissões

de fé com o fim de conservar a verdade, de instruir nela o povo, e de discriminá-


la e defendê-la contra as perversões dos hereges e dos ataques dos incrédulos e,
também, com o fim de ter nesses credos um laço comum de fé e regra comum
para o ensino e a disciplina.

Os credos antigos da Igreja (universal) foram compostos pelos primeiros quatro


concílios ecumênicos ou gerais, exces-são feita daquele que é chamado Credo
dos Apóstolos, formado gradualmente das confissões feitas nas ocasiões de
batismo nas igrejas ocidentais, e do Credo Atanasiano, feito particularmente, não
se sabe por quem, nem onde. A grande confissão autorizada pela igreja papal foi
produzida pelo concilio ecumênico reunido em Trento, 1545. A maioria das
principais confissões protestantes são devidas a pessoas individuais, ou a
pequenos grupos de pessoas, e.g., a Confissão de Augsburgo e a Apologia, a
Segunda Confissão Helvética, o Catecismo de Heidelberg, a antiga Confissão
Escocesa, os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, etc. Duas, porém,
das mais valiosas e mais geralmente aceitas confissões protestantes foram
produzidas por grandes e veneráveis assembléias de teólogos eruditos, a saber:
os Cânones do Sínodo Internacional de Dort, e a Confissão e os Catecismos da
Assembléia Nacional de Westminster.

2. Quais são seus usos legítimos?

Têm sido achados úteis, em todas as épocas da Igreja, para os seguintes fins: 1.
Para assinalar, conservar, e disseminar as aquisições feitas no conhecimento das
verdades cristãs por qualquer ramo da Igreja, em qualquer grande crise de
seu desenvolvimento. 2. Para discriminar a verdade das glosas de mestres falsos;
e para defini-la acuradamente na sua inteireza e em suas proporções definidas. 3.
Para servir como meios na grande obra de instrução popular.. 1

3. Qual é a base e a extensão da sua autoridade ou poder de obrigar a


consciência?
)

A matéria de todos esses credos e confissões obriga as consciências dos homens


só até onde está em conformidade com as Escrituras, e de acordo com essa
conformidade. A forma, porém, em que se acha exposta essa matéria obriga só
aqueles que subscreveram voluntariamente a confissão, e porque
a subscreveram.

Em todas as igrejas faz-se uma distinção entre as condições nas quais se


admitem membros à sua congregação e as condições nas quais os oficiais são
admitidos a seu ofício sagrado de ensinar e governar. Nenhuma igreja tem o
direito de impor a seus membros particulares uma condição que Cristo não fez
condição da salvação. A Igreja é o rebanho de Cristo. As ordenanças são os selos
do Seu pacto. Todos aqueles, pois, que professam a verdadeira religião de um
modo que mereça crédito, isto é, todos os que são presumivelmente povo de
Deus têm o direito de admissão à Igreja. Essa profissão que mereça crédito
envolve naturalmente um conhecimento competente das doutrinas fundamentais
do cristianismo, uma declaração de fé pessoal em Cristo e de dedicação ao
Seu serviço, e uma disposição de espírito e costumes de vida que condigam com
essa profissão. Por outro lado, a ninguém se pode confiar nenhum ofício numa
igreja se não professa crer na verdade e sabedoria da constituição e leis que ele
terá o dever de conservar e administrar. A não ser assim, seriam impossíveis toda
harmonia de sentimentos e toda cooperação eficaz em ação.

É um princípio de moral admitido universalmente que o animus imponentis, o


sentido em que as pessoas que impõem um juramento, uma promessa ou
obrigação o entendem, obriga a consciência das pessoas que se obrigam pelo
juramento ou pela promessa. Todos os candidatos, pois, a qualquer ofício
na Igreja Presbiteriana, ou crêem pessoalmente no “sistema de doutrinas”
ensinado nos símbolos normais dessa Igreja, no sentido em que tem sido
entendido historicamente ser a verdade de Deus, ou eles mentem solenemente
diante de

Deus e dos homens.

4. Quais os credos da Igreja Primitiva em que fica ainda a herança comum da


Igreja moderna?

Io. O Credo dos Apóstolos, assim chamado. Este credo desenvolveu-se


gradualmente da comparação e assimilação dos credos batismais das principais
igrejas da parte ocidental ou latina da Igreja Primitiva. As formas mais
completas e populares desses credos batismais eram os de Roma,
Aquileja, Milão, Ravena, Cartago e Hipo, “das quais a forma
romana, aumentando-se com acréscimos derivados de outras, pouco a pouco
tornou-se a mais geralmente aceita. Enquánto os seus diversos artigos,
considerados separadamente, são todos de origem nicena ou anti-nicena, não se
pode achar vestígios do Credo dos Apóstolos como um todo, anteriores ao
século 6”. -Creeds of Chnstendom, por Schaff, vol. 1, pág. 20.

Foi, junto com a Oração Dominical e os Dez Mandamentos, acrescentado ao seu


catecismo pelos teólogos de Westminster, “não como se fosse composto pelos
apóstolos ou devesse ser considerado Escritura canônica, e sim por ser um
sumário breve de fé cristã, de conformidade com a Palavra de Deus e recebido
antigamente nas igrejas de Cristo”. Os que formularam a Constituição da Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos retiveram-no como parte do nosso catecismo.
E também parte do catecismo da Igreja Metodista Episcopal. “E usado na
confissão batismal das igrejas inglesa, reformada, luterana, romana, metodista
episcopal e protestante episcopal.”

E como segue:

“Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo,


Seu único Filho, nosso Senhor; o qual foi concebido por obra do Espírito Santo;
nasceu da virgem, Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; foi crucificado,
morto e sepultado; desceu ao inferno (hades); ao terceiro dia ressurgiu dos
mortos; subiu ao

céu; e está sentado à mão direita de Deus Pai todo-pode-roso; donde há de vir
para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja
católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do
corpo e na vida eterna. Amém”.

2o. O CREDO NICENO, no qual está definida a verdadeira fé trinitária da Igreja, em


oposição aos erros arianos e semi-arianos. Existe em três formas, e foi
evidentemente moldado sobre formas preexistentes, de um modo semelhante
pelo qual se desenvolveu o Credo Apostólico.

(1) A forma original em que foi composto e decretado pelo concilio ecumênico
de Nicéia, 325 d.C., é a seguinte:

“Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador de todas as coisas visíveis e


invisíveis.

“E em um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, Unigênito, isto


é, da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro
Deus; gerado (não feito) de uma substância com o Pai; por quem foram feitas
todas as coisas, tanto no céu como na terra; que, por amor de nós os homens, e
pela nossa salvação, desceu do céu e encarnou, e foi feito homem; padeceu, e ao
terceiro dia ressuscitou; subiu ao céu, donde há de vir para julgar os vivos e os
mortos.

“E no Espírito Santo.

“Mas, os que dizem: “Houve tempo em que não era”; “Não era antes de ser feito
e: “Foi feito do nada”; ou: “E de substância, ou essência diversa”; ou: “O Filho
de Deus foi criado”; ou “é mutável” ou “alterável” - são condenados pela santa
igreja católica e apostólica”.

(2) O Credo Niceno-Constantinopolitano. Este consiste do Credo Niceno,


supratranscrito, mas com uma ligeira mudança no primeiro artigo, e com
acréscimo das cláusulas que definem a Pessoa e a obra do Espírito Santo, e sem
o anátema no fim. Esta nova forma do Credo Niceno é geralmente atribuída
ao Concilio de Constantinopla, convocado pelo Imperador Teodósio, em 381,
para condenar a doutrina dos macedônios,

que negaram a deidade do Espírito Santo. É certo que essas mudanças foram
feitas mais ou menos naquela época; e as diversas “cláusulas” acrescentadas já
existiam anteriormente em formulários propostos por teólogos individuais. No
entanto, não existem provas de que essas mudanças foram feitas pelo Concilio
de Constantinopla. Foram, porém, reconhecidas pelo Concilio de Calcedônia, em
431.

E nesta segunda forma que o Credo Niceno é utilizado agora na Igreja Grega.

(3) A terceira, ou forma latina deste credo, na qual é utilizado nas igrejas
romana, episcopal e luterna, difere da segunda forma supramencionada só nos
seguintes pontos:

(a) Restitui à primeira cláusula as palavras “Deus de Deus”; haviam pertencido


ao Credo Niceno original, mas tinham sido omitidas na sua forma grega niceno-
constantinopolitana.

(b) Acrescentou-se o célebre termo Filioque à cláusula que afirmava que o


Espírito procede do Pai. Este termo foi acrescentado pelo concilio provincial de
Toledo, Espanha, em 589, e foi gradativamente aceito por toda a Igreja
Ocidental, e daí por todos os protestantes, sem nenhuma ratificação ecumênica.
E rejeitado pela Igreja Grega. O texto deste credo, recebido com reverência por
todos os católicos e protestantes, é como segue:

“Creio em um só Deus, Pai onipotente, Criador dos céus e da terra, e de


todas as coisas visíveis e invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Filho
unigênito de Deus, gerado de Seu Pai antes de todos os séculos; Deus de
Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado e não feito,
de uma só substância com o Pai; por quem foram feitas todas as coisas; o
qual, por amor de nós, os homens, e pela nossa salvação, desceu do céu,
encarnou por obra do Espírito Santo, e nasceu da virgem, Maria, e foi feito
homem; foi também crucificado por amor de nós sob o poder de Pôncio
Pilatos; padeceu e foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou, segundo as
Escrituras; e subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai. E tornará a

vir com glória para julgar os vivos e os mortos; cujo reino não terá fim. E creio
no Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida, que procede do Pai e do Filho
(esta frase “Filioque” foi acrescentada ao credo de Constantinopla pelo concilio
da Igreja Ocidental reunido em Toledo, em 589), o qual, junto com o Pai e o
Filho, é adorado e glorificado, o qual falou pelos profetas. E creio numa
só Igreja Católica e Apostólica; confesso um só batismo para a remissão dos
pecados; e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo futuro. Amém”.
■.

3o. O CREDO ATANASIANO, também chamado Quicunque vult (Quem quer que),
por serem estas as suas primeiras palavras, é vulgarmente atribuído ao grande
Atanásio, bispo de Alexandria, de cerca de 328 a 373, e chefe do
partido ortodoxo da Igreja, oposto ao arquiherege Ário. Os ilustrados teólogos
modernos, porém, dão-lhe unanimemente origem menos antiga, e dizem que
veio provavelmente do Norte da África, e da escola de Agostinho. Bigham
refere-o a Virgílius Tapsensis, do fim do século quinto. Schaff diz que, na
sua forma completa, não aparece antes do século oitavo.

Este credo é aceito nas igrejas romana, grega e inglesa. Apresenta uma
exposição muito bem expressa da fé típica de todos os cristãos, fazendo-se
objeção só às “cláusulas condenatórias”, que realmente nunca deveriam fazer
parte de uma composição humana, especialmente de uma que faz distinções tão
sutis num assunto tão profundo.

E como segue:

“1. Quem quer que queira ser salvo, é-lhe necessário, primeiro que tudo, que
receba a fé católica.1 2. A qual é preciso que cada um guarde perfeita e
inviolada, ou terá com certeza que perecer para sempre 3. A fé católica, porém, é
esta: que adoremos um só Deus em trindade, e trindade em unidade. 4. Não
confundindo as Pessoas, nem

separando a substância. 5. Porque a Pessoa do Pai é uma, a do Filho outra, e a do


Espírito Santo outra. 6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma só
deidade, glória igual e majestade coeterna. 7. O que o Pai é, o Filho é, e
o Espírito Santo é. 8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é
incriado. 9. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso. 10. O
Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. 11. E, contudo, não há
três eternos, porém um só eterno. 12. Assim também não há três incriados, nem
três imensos, mas um só incriado e um só imenso. 13. Do mesmo modo, o Pai
é onipotente, o Filho é onipotente e o Espírito Santo é onipotente. 14. E,
contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. 15. Assim o Pai é Deus,
o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. 16. E, contudo, não há três
Deuses, porém um só Deus. 17. Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o
Espírito Santo é Senhor. 18. E, contudo, não há três Senhores, mas um só
Senhor. 19. Porque, assim como somos obrigados pela verdade cristã a confessar
que cada pessoa de per si é Deus e Senhor, assim também somos proibidos pela
religião católica de dizer que há três Deuses ou Senhores. 20. O Pai não foi feito
de ninguém, nem criado, nem gerado. 21. O Filho é só do Pai, não feito, nem
criado, mas gerado. 22. O Espírito Santo é do Pai e do Filho, não feito, nem
criado, nem gerado, mas procedente. 23. Por isso há um só Pai, não três Pais,
um só Filho, não três Filhos, um só Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 24.
E nesta trindade nenhum é o primeiro ou o último, maior ou menor. 25. Todavia
todas as três pessoas coeternas são coiguais entre si; de modo que, como se disse
acima, deve-se adorar tanto a unidade em trindade como a trindade em unidade.
26. Portanto, quem quiser ser salvo, deve pensar assim a respeito da Trindade.
27. Mas é necessário para a salvação eterna que também creia fielmente na
encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. 28. E, portanto, verdadeira fé que
creiamos e confessemos que o nosso Senhor Jesus Cristo é tanto homem como
Deus. 29. E Deus, gerado desde a eternidade

da substância do Pai; homem nascido no tempo, da substância de sua mãe. 30.


Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo numa alma racional e em carne
humana. 31. Igual ao Pai com respeito à Sua deidade, menos do que o Pai com
respeito à Sua humanidade. 32. O qual, embora sendo Deus e homem, não é dois
Cristos, e sim um só. 33. Um só, não por conversão da Sua deidade em carne,
mas sim por ser assumida em Deus a sua humanidade. 34. Um só, de modo
algum por confusão de substância, e sim pela unidade da Pessoa. 35. Porque,
assim como a alma racional e a carne são um só homem, assim também Deus e
o homem são um só Cristo. 36. O qual padeceu pela nossa salvação, desceu ao
inferno, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos. 37. Subiu ao céu, está assentado à
mão direita de Deus Pai onipotente, donde virá para julgar os vivos e os mortos.
38. Em cuja vinda todos os homens ressurgirão com seus corpos, e darão conta
de suas próprias obras. 39.

E os que tiverem praticado o bem entrarão na vida eterna; os que tiverem


praticado o mal irão para o fogo eterno.

40. Esta é a fé católica, e se o homem não a crer fiel e firmemente, não poderá
ser salvo.

4o. O CREDO DE CALCEDÔNIA. O Imperador Marciano convocou o quarto Concilio


ecumênico para reunir-se em Calcedônia, na Bitínia, sobre o mar Bósforo, frente
a Constantinopla, para suprimir as heresias eutiquiana e nestoriana. O concilio
foi composto de 630 bispos e esteve em sessão de 8 até 31 de outubro de 451
d.C.

A principal parte da “Definição de Fé” em que concordou esse concilio foi como
segue:

“Nós, pois, seguindo aos santos Pais, todos unanimemente, ensinamos aos
homens a confessar, um só e o mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo; o
mesmo perfeito em deidade, e perfeito, também, em
humanidade; verdadeiramente Deus, e também, verdadeiramente homem, de
uma alma racional e corpo; consubstanciai com o Pai segundo a deidade, e
consubstanciai conosco

segundo a humanidade; em tudo semelhante a nós, mas sem pecado; gerado do


Pai antes de todos os séculos, segundo a deidade, e nestes últimos dias, por nós e
pela nossa salvação, nasceu de Maria, a virgem mãe de Deus segundo a
humanidade. E um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, unigênito, existindo em
duas naturezas sem mistura, sem mudança, sem divisão, sem separação;
não sendo, de modo algum, destruída a diversidade das duas naturezas por sua
união, porém sendo conservadas as propriedades peculiares de cada natureza, e
concorrendo para (formar) uma só pessoa e uma só subsistência, não separadas
ou divididas em duas pessoas, e sim um só e o mesmo Filho, e Unigênito, Deus
o Verbo, o Senhor Jesus Cristo; assim como os profetas, desde o
princípio, declararam acerca dEle, e como o próprio Senhor Jesus Cristo nos
ensinou, e como o credo dos santos Pais nos transmitiu”.

Com esse credo completou-se o desenvolvimento da doutrina ortodoxa sobre a


Trindade de Pessoas no Deus único, e sobre a dualidade de naturezas no Cristo
único. Permanece como exposição universalmente respeitada da fé comum
da Igreja.

5. Quais os Símbolos Doutrinários da igreja de Roma?

Além dos credos supramencionados, todos os quais são de autoridade


reconhecida na igreja católica romana, seus símbolos de fé mais autorizados são:

l.° Os Cânones e Decretos do Concilio de Trento, o qual os romanistas


consideram como o vigésimo concilio ecumênico, e foi convocado pelo papa Pio
IV, para sustar o progresso da Reforma (1545-1563 d.C.). Os decretos contêm as
exposições positivas da doutrina papal. Os cânones explicam os decretos,
distribuem a matéria sob breves títulos e condenam as doutrinas opostas em cada
ponto. Se bem que o sistema de doutrina ensinado seja propositalmente
ambíguo, é evidente mas não conseqüentemente semipelagiano.

2. ° O Catecismo Romano, ou Catecismo do Concilio de Trento, que explica e


confirma os cânones do Concilio de Trento, foi composto por ordem de Pio V, e
promulgado por autoridade de Pio V, em 1566.

3. ° O Credo do Papa Pio IV, também chamado Professio Fidei Tridentinae o u


Forma Professioms Fidei Catholicae, contém um sumário das doutrinas
ensinadas nos Cânones e Decretos do Concilio de Trento, e foi promulgado
numa bula pelo papa Pio IV, em 1561. Subscrevem-no todos os mestres
e eclesiásticos católico-romanos, seja qual for seu grau, e todos os convertidos
do protestantismo.

E como segue:

“Eu, E, creio e professo com fé firme todas e cada uma das coisas contidas no
símbolo de fé usado na santa igreja católica romana; a saber, creio num só Deus
Pai, todo--poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e
invisíveis; e em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do
Pai antes de todos os séculos; Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus
de verdadeiro Deus, gerado, não feito, consubstanciai com o Pai, por quem
foram feitas todas as coisas; o qual, por amor de nós os homens e pela nossa
salvação desceu do céu, encarnou por obra do Espírito Santo, e nasceu
da Virgem Maria, e se fez homem; foi crucificado por amor de nós sob o poder
de Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado, e ao terceiro dia ressuscitou segundo
as Escrituras, e subiu ao céu, está sentado à mão direita do Pai, e tornará a vir
com glória para julgar os vivos e os mortos; cujo reino não terá fim; e no
Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida, que procede do Pai e do Filho, o
qual, junto com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado, o qual falou pelos santos
profetas; e numa só igreja santa, católica e apostólica. Confesso um só batismo
para a remissão dos pecados, e espero a ressurreição dos mortos e a vida eterna
no mundo futuro. Amém.

“Admito e abraço firmissimamente as tradições apostólicas e eclesiásticas, e


todas as outras constituições e

instituições da mesma igreja. Admito também as Santas Escrituras no sentido em


que as abraçou e abraça a santa madre igreja, a quem pertence julgar do
verdadeiro sentido e interpretação das Escrituras; e nunca hei de tomá-las ou
interpretá-las de um modo que não seja de conformidade com o unânime
consenso dos padres. Professo também que há verdadeira e propriamente
sete sacramentos na lei nova, instituídos por Jesus Cristo nosso Senhor, e
necessários para a salvação dos homens, se bem que nem todos o sejam para
todos - a saber, batismo, confirmação, eucaristia, penitência, extrema-
unção, ordem e matrimônio, e que conferem graça; e desses, batismo,
confirmação e ordem não se pode reiterar sem sacrilégio. Recebo também e
admito as cerimônias da igreja católica romana, recebidas e aprovadas na
administração solene de todos os sacramentos supramencionados. Recebo e
abraço todas e cada uma das coisas definidas e declaradas no santo Concilio de
Trento a respeito do pecado e da justificação. Professo igualmente que na
missa se oferece a Deus um sacrifício verdadeiro, próprio e propiciatório pelos
vivos e pelos mortos; e que no santíssimo sacramento da eucaristia estão
verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue, junto com a alma e a
divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, e que se faz uma conversão da
substância inteira do pão em seu corpo, e da substância inteira do vinho em seu
sangue, a qual conversão a igreja católica romana chama transubs-tanciação.
Confesso também que debaixo de cada uma das espécies separadamente se
recebe o Cristo todo e inteiro, e um verdadeiro sacramento. Sustento com
constância que há um purgatório, e que as almas detidas nele são ajudadas com o
sufrágio dos fiéis. Também que os santos, que reinam juntamente com Cristo,
devem ser honrados e invocados, que oferecem orações a Deus por nós, e que se
deve venerar suas relíquias. Afirmo firmissimamente que as imagens de Cristo, e
da mãe de Deus sempre virgem, e também as dos demais santos, deve-se ter
e conservar, e se lhes deve tributar a devida honra e

veneração. Afirmo também que o poder das indulgências foi deixado por Cristo
na igreja, e que o uso delas é sumamente saudável ao povo cristão. Reconheço a
santa igreja católica e apostólica, mãe e mestra de todas as igrejas; e prometo e
juro verdadeira obediência ao bispo romano, o sucessor de S. Pedro, príncipe dos
apóstolos e vigário de Jesus Cristo. Professo também, e recebo indubitavelmente
todas as demais coisas estatuídas, definidas e declaradas pelos santos cânones e
concílios ecumênicos, e especialmente pelo santo Concilio de Trento (e
estatuídas, definidas e declaradas pelo Concilio Ecumênico Vaticano,
especialmente as que dizem respeito à primazia e à infalibilidade do pontífice
romano.2

“E condeno, rejeito e anatematizo igualmente todas as coisas contrárias a isso, e


todas as heresias, quaisquer que sejam, condenadas, rejeitadas e anatematizadas
pela igreja. Esta verdadeira fé católico-romana, fora da qual ninguém pode ser
salvo, que professo agora livremente e abraço verdadeiramente, eu, F., prometo,
protesto e juro abraçar com toda a constância e professar a mesma toda e
inteira, com a ajuda de Deus, até ao fim da minha vida; e procurar, até onde
chegarem as minhas forças, que a mesma seja abraçada, ensinada e pregada por
todos os que estão sob minha autoridade, ou foram confiados ao meu
cuidado, em virtude do meu ofício, com a ajuda de Deus e destes santos
evangelhos de Deus - Amém”.

4.° O Santo Concilio Ecumênico Vaticano foi convocado por Pio IX; reuniu-se
na Basílica do Vaticano em 8 de dezembro de 1869, e continuou suas sessões até
ao dia 20 de outubro de 1870, depois do qual foi suspenso indefinidamente.

Os decretos desse concilio dividem-se em duas seções:

(1) “A Constituição Dogmática sobre a Fé Católica”. Esta abrange quatro


capítulos. O capítulo 1 trata de Deus como Criador; o capítulo 2, da revelação; o
capítulo 3, da fé; o capítulo

4, da fé e a razão. A estes seguem-se dezoito cânones que con- ^ denam os erros


do racionalismo e da incredulidade modernos.

(2) “Primeira Constituição Dogmática sobre a Igreja de Cristo”. Esta abrange


também quatro capítulos. O capítulo 1 tem por título: “Da instituição da
primazia apostólica em Pedro bem-aventurado”; o capítulo 2: “Da perpetuidade
da primazia de Pedro bem-aventurado nos pontífices romanos”; o capítulo 3:
“Do poder e da natureza da primazia do pontífice romano”, i A matéria nova
vem nos dois últimos capítulos, que ensinam o absolutismo papal, e a
infalibilidade papal. Estas definições já foram apresentadas em extensão
suficiente no capítulo 5 deste livro. •

Em conseqüência desse princípio de infalibilidade Papal, segue-se


necessariamente que a série inteira de bulas papais, e especialmente as que
foram dirigidas contra os jansenistas; o Decreto de Pio IX “Sobre a imaculada
conceição da bem-aventurada Virgem Maria”, promulgado a 8 de dezembro
de 18S4, e seu Syllabus de erros, de 8 de dezembro de 1864, são todos infalíveis
e irreformáveis, e são partes dos espantosos Símbolos de Fé que são de
autoridade indiscutível na igreja católica romana! . -
6 Quais são os símbolos normais de doutrina da Igreja Grega?

A Igreja Primitiva, por causas primariamente políticas e j eclesiásticas e


secundariamente doutrinárias e rituais, dividiu- ; -se em duas grandes seções - a
Igreja Oriental, ou grega, e a i Igreja Ocidental, ou latina. Essa divisão tomou
corpo no sétimo i século e foi consumada no oitavo. A Igreja Grega abrange
cerca de oitenta milhões de pessoas - a maioria dos súditos cristãos do império
turco, e as igrejas nacionais da Grécia e da Rússia. Todas as igrejas protestantes
procederam da divisão ocidental ou latina da Igreja.

A Igreja Grega arroga-se, preeminentemente, o título de “Ortodoxa” porque os


originais credos ecumênicos, definindo as doutrinas da Trindade e da Pessoa de
Cristo, foram

produzidos na divisão oriental da Igreja Primitiva e na lingua grega, e são por


isso, em sentido especial, a sua herança; e porque, sendo a sua teologia
absolutamente estacionária, contenta-se ela com a repetição literal das fórmulas
antigas.

Adere aos credos antigos e às decisões doutrinais dos sete primeiros concílios
ecumênicos, e possui alguns catecismos e confissões modernos. Os mais
importantes deles são:

Io. A “Confissão Ortodoxa da Igreja Grega Católica e Apostólica”, composta por


Pedro Mogilas, metropolitano de Kiev, na Rússia, em 1643, e aprovada por todos
os patriarcas do Oriente.

2o. Os “Decretos do Concilio de Jerusalém”, ou Confissão de Dositeo, 1672.

3o. Os Catecismos Russos, que tenham a sanção do santo Sínodo, especialmente


o Catecismo Maior, de Philaret, metropolitano de Moscou, 1820 - 1867,
aprovado unanimemente por todos os patriarcas orientais, e desde 1839
usado geralmente nas igrejas e escolas da Rússia.

Os decretos do Sínodo de Jerusalém ensinam substancialmente, posto que menos


definidamente, a mesma doutrina que o Concilio de Trento quanto às Escrituras
e à tradição, às boas obras e à fé, à justificação, aos sacramentos, ao sacrifício da
missa, ao culto dos santos e ao purgatório.
O Catecismo de Filareto aproxima-se mais do princípio evangélico da
supremacia da Bíblia em matérias de fé e vida cristãs, do que qualquer outra
exposição feita pela Igreja Oriental.

7. Quais são os símbolos normais de doutrina da Igreja Luterana?

Além dos grandes credos gerais que aceitam em comum todos os cristãos, seus
símbolos de fé são:

Io. A Confissão de Augsburgo, cujos autores comuns foram Lutero e


Melanchthon. Depois de assinada pelos príncipes e líderes protestantes, foi
apresentada ao Imperador e à Dieta

imperial, em Augsburgo, em 1530. É a mais antiga confissão protestante, a base


fundamental da teologia luterana,3 e a única norma doutrinária universalmente
aceita nas igrejas luteranas. Consta de duas grandes divisões. A primeira, que
contém vinte um artigos, apresenta uma exposição positiva das doutrinas cristãs
como os luteranos as entendem; a segunda, com sete artigos, condena os
principais erros característicos do roma-nismo. É evangélica, no sentido
agostiniano, posto que não seja tão exata na exposição como o são as confissões
calvinistas mais perfeitas, e contém naturalmente os germens das
opiniões peculiares dos luteranos quanto à necessidade dos sacramentos para a
salvação, e quanto à relação dos sinais sacramentais com a graça que significam.
Contudo, estas peculiaridades estão tão longe de serem expostas explicitamente,
que Calvino achou esta confissão tão consoante com suas idéias sobre as
verdades divinas que a subscreveu durante a sua residência em Estrasburgo.

Em 1540, dez anos depois de adotada como símbolo público da Alemanha


protestante, Melanchthon preparou e publicou uma edição em latim, na qual
fizera diversas alterações e que, por isso, ficou conhecida como a
Variata enquanto se chamava Invariata a confissão original e única autêntica. As
mudanças principais introduzidas nessa edição tendem a opiniões sinergistas ou
arminianas a respeito da graça divina de um lado, e do outro, a idéias quanto aos
sacramentos que são mais simples e mais de conformidade com a das
igrejas reformadas. Veja: History of Christian Doctrine, de Shedd, Liv. 7, cap. 2;
e, também, a exata e erudita edição ilustrada da Conf. de Augsburgo, do Dr.
Charles Krauth, D.D.

2o. AApologia (Defesa) da Confissão de Augsburgo, preparada por Melanchthon,


em 1530, e subscrita pelos teólogos

protestantes em 1537, em Esmalcalda. .....

3o. Os Catecismos Maior e Menor de Lutero, 1529 d.C., “o primeiro para uso
dos pregadores e professores, e o outro para guia dos jovens.” - ■-

4o. Os Artigos de Esmalcalda, preparados por Lutero, em

1536, e subscritos pelos teólogos evangélicos, em fevereiro de

1537, na cidade cujo nome trazem.

5o. A Formula Concordice (Forma de Acordo), preparada em 1577 por Jacob


Andrese e Martinho Chemnitz e outros, com o fim de pôr têrmo a certas
controvérsias que se haviam suscitado na Igreja Luterana, especialmente (1) a
respeito da ação relativa da graça divina e da vontade humana, na obra
da regeneração; (2) a respeito da natureza da presença do Senhor na eucaristia.
Esta Fórmula contém uma exposição mais científica e mais bem desenvolvida
da doutrina luterana do que qualquer outra que se possa achar nos seus
símbolos públicos. Sua autoridade, porém, é reconhecida só pelo
partido extremo dos luteranos, isto é, por aquele partido, na Igreja, que leva
conseqüentemente as peculiaridades da teologia luterana ao seu mais completo
desenvolvimento lógico.

Todos estes símbolos luteranos acham-se editados, acuradamente, em latim


emLibri Symbolici, pelo Dr. C. A. Hase, Eeipzig, 1836, e em Creeds of
Christendom, pelo Dr. Schaff.

8. Quais as principais Confissões das Igrejas Reformadas ou Calvinistas ?

As Confissões das Igrejas Reformadas são muito consideráveis em número, e


variam um tanto em caráter, posto que concordem substancíalmente quanto ao
sistema de doutrina que ensinam. Veja:

l.° A mais antiga confissão daquele ramo do protestantismo, que não estava
satisfeito com a tendência e com o símbolo luterano, é aConfessio Tetratpohtna -
porque os teólogos de quatro cidades do sul da Alemanha, Estrasburgo, Cons-
tuncc, Memingen e Lindau, prepararam-na e a apresentaram
L

ao imperador na mesma Dieta de Augsburgo, em 1530, em que foi apresentado o


primeiro símbolo luterano. Dos teólogos que se ocuparam em sua preparação, o
principal foi Martinho Bucer, de Estrasburgo. Consta de vinte e dois artigos,
e concorda geralmente com a Confissão de Augsburgo. Os pontos de diferença
pertencem à doutrina sobre os sacramentos. Quanto a esse assunto é zuingliana.
Em 1532, porém, essas quatro cidades adotaram a Confissão de Augsburgo, de
modo que a Confessio Tetrapolitana deixou de ser o símbolo
adotado formalmente por qualquer ramo da Igreja Luterana.

2.° As confissões reformadas de maior autoridade entre as igrejas são as


seguintes:

(1) A Segunda Confissão Helvética, preparada por Bullinger, em 1564, e


publicada em 1566, substituiu a Primeira Confissão Helvética de 1536. Foi
adotada por todas as igrejas reformadas da Suíça, com exceção da de Basiléia
(que conservou a primeira), e pelas igrejas reformadas da Polônia, da França,
da Hungria e da Escócia, e tem sido considerada sempre por todas as igrejas
reformadas como da maior autoridade.

(2) O Catecismo de Heidelberg, preparado por Ursino e Oleviano, em 1562.


Foi estabelecido pela autoridade civil como o símbolo normal de doutrina, como
também como meio de ensino religioso, para as igrejas do Palatinado - naquele
tempo um Estado alemão que incluía as duas margens do Reno. Foi aprovado
pelo Sínodo de Dort, e é símbolo normal de doutrina das igrejas reformadas
(alemãs e holandesas) da América do Norte. Era usado na Escócia para ensino
das crianças, antes da adoção dos Catecismos da Assembléia de Westminster, e
seu uso foi sancionado unanimamente pela primeira Assembléia Geral da Igreja
Presbiteriana Unida dos Estados Unidos, em 1870. Veja as Atas.

(3) Os Trinta e nove Artigos dalgreja da Inglaterra. Em 1552, Cranmer,


auxiliado por outros bispos, preparou os Quarenta e dois Artigos de Religião que
foram publicados por autoridade do Rei, em 1553. Foram revistos e reduzidos ao
número de

I rinta e nove pelo arcebispo Parker e outros bispos, e ratificados pelas duas
Casas de Convocação e publicados por autoridade do Rei, em 1563. Constituem
o Símbolo normal de doutrina tia Igrejas Protestantes Episcopais da Inglaterra,
da Irlanda, da Escócia, das Colônias e dos Estados Unidos da América do Norte.
Tem sido discutida, e sem motivo algum, a questão sobre se estes artigos são ou
não calvinistas; pois o décimo sétimo Artigo, Da Predestinação e Eleição, é
decisivo e é como segue: “A predestinação à vida é o eterno propósito
da Deidade, pelo qual (antes de lançados os fundamentos do mundo) Deus tem
decretado, por Seu conselho oculto a nós, livrar da maldição e condenação os
que elegeu em Cristo, dentre os homens, e conduzi-los por Cristo à salvação
eterna. Por isso, os que se acham dotados de um tão excelente benefício de Deus
são chamados, segundo o propósito divino, por Seu Espírito, atuando no
devido tempo: pela graça obedecem ao chamamento; são justificados livremente;
são feitos filhos de Deus por adoção; são formados à imagem de Seu unigênito
Filho, Jesus Cristo; vivem religiosamente em boas obras e, afinal, chegam, pela
misericórdia de Deus, à felicidade eterna.

“Assim como a piedosa consideração da predestinação e da nossa eleição em


Cristo está cheia de um suavíssimo, doce, e inexplicável conforto para as pessoas
devotas, e as que sentem, em si mesmas, a operação do Espírito de Cristo, que
vai mortificando as obras da carne e seus membros terrenos, e levantando os
seus pensamentos às coisas altas e celestiais, não só porque estabelece e
confirma muito a sua fé na salvação eterna que hão de gozar, por meio de Cristo,
mas também porque torna mais fervoroso o seu amor para com Deus; assim
também, para as pessoas curiosas e carnais, destituídas do Espírito de ( à-isto, o
ter, de contínuo, ante os olhos a sentença da predestinação divina é um precipício
muitíssimo perigoso, por onde o diabo as arrasta ao desespero, ou a que vivam
numa segurança de vida impuríssima, não menos perigosa do que o desespero.

“Ademais, devemos receber as promessas de Deus do modo pelo qual nos


são, geralmente, propostas nas Escrituras Sagradas; devemos seguir, em
nossas obras, a vontade divina que nos é declarada expressamente
na Palavra de Deus”.

Estes artigos, purgados do seu calvinismo e reduzidos em número a vinte e


cinco, inclusive um novo artigo político (o vigésimo terceiro), adotando como
artigo de fé o sistema político do governo dos Estados Unidos, constituem o
símbolo normal de doutrina da Igreja Metodista Episcopal da América.

(4) Os Cânones do Sínodo de Dort. Este célebre sínodo foi convocado para
reunir-se em Dort, Holanda, por autoridade dos Estados Gerais, com o fim de
pôr têrmo às controvérsias suscitadas pelos discípulos de Armínio. Suas sessões
tiveram continuidade de 13 de novembro de 1618 a 9 de maio de 1619. Constava
de pastores, presbíteros regentes e professores teológicos das igrejas da Holanda,
e deputados das igrejas da Inglaterra, da Escócia, de Hesse, de Bremen, da Suíça
e do Palatinado. Os cânones desse sínodo foram aceitos por todas as igrejas
reformadas como uma exibição exata, verdadeira e eminentemente revestida de
autoridade do sistema calvinista de teologia. Constituem, juntos com o
Catecismo de Heidel-berg, a confissão doutrinária da Igreja Reformada da
Holanda, e de sua filha, a Igreja Reformada (holandesa) da América.

(5 )A Confissão e os Catecismos da Assembléia de Westminster. Esta assembléia


de teólogos foi convocada por ato do Parlamento Amplo, votado em 12 de junho
de 1643. A convocação original abrangia dez membros da Câmara Alta, ou
dos lordes, e vinte da Câmara Baixa, ou dos comuns, como membros leigos, e
cento e vinte e um teólogos, aos quais se acrescentaram depois vinte ministros,
ficando assim representadas as diversas opiniões quanto ao governo da Igreja.
Essa corporação continuou em sessão de Io de julho de 1643 até 22 de
fevereiro de 1649. A Confissão e os Catecismos que produziram foram

imediatamente adotados pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia. Também a


Convenção Congregacional, convocada por (homwell, que se reuniu em Savoy.
Londres, em 1658, aprovou a parte doutrinai da Confissão e dos Catecismos da
Assembléia de Westminster, e incorporou, quase inteiramente, em sua própria
confissão, a Declaração de Savoy. “A diferença entre as duas confissões é tão
pequena que os independentes modernos lêm, por assim dizer, abandonado o uso
dela (a Declaração de Savoy) em suas famílias, e concordado com os
presbiterianos cm usar os Catecismos da Assembléia” - Neal, Puritans, vol. 2,
pág. 178. Essa Confissão, juntamente com os Catecismos Maior e Menor, são os
símbolos normais de doutrina de iodas as igrejas presbiterianas no mundo, de
derivação inglesa ou escocesa. E também, de todos os credos, o que é
mais estimado por todas as igrejas dos congregacionalistas, na Inglaterra e
América.

Todas as assembléias que se reuniram na Nova Inglaterra com o fim de


estabelecer a base doutrinai de suas igrejas, ou aprovaram ou adotaram,
explicitamente, essa Confissão e esses (àitecismos como exposições exatas da
sua própria fé. Fez assim

0 Sínodo que se reuniu em Cambridge, Massachusetts, em junho de 1647, e


outra vez em agosto de 1648, e preparou a Plataforma de Cambridge. Fê-lo
também o Sínodo reunido em Moston, em setembro de 1679, e em maio de
1680, e que produziu a Confissão de Boston. Também o fez o Sínodo reunido i-
in Saybrook, Connecticut em 1708, o qual produziu a Plataforma de Saybrook.

3a. Há ainda mais algumas confissões reformadas que, embora não sejam
símbolos normais de doutrina de grandes denominações de cristãos, são,
contudo, de muito interesse

1 lassico e de autoridade por causa de seus autores ou das i ircunstâncias em


que se originaram.

(1) O Consensus Tigurinus ou Consensus de Zurich, ou “O consenso mútuo dos


pastores da Igreja de Zurich e de João

Calvino, pastor da igreja de Genebra, a respeito da doutrina do sacramento.”


Constava de vinte e seis artigos, tratando exclusivamente de questões que diziam
respeito à Ceia do Senhor, e foi preparado por Calvino, em 1549, com o fim
de efetuar acordo mútuo entre todos os partidos da Igreja Reformada a respeito
das questões de que trata. Foi subscrito pelas igrejas de Zurich, Genebra, St.
Gall, Schaffhausen, Neuchatel, Basiléia e dos Grisons, e recebido
favoravelmente em todas as diversas partes da Igreja Reformada, e
fica monumento excelso da doutrina verdadeira da Igreja Reformada sobre essa
questão tão discutida. E de valor especialmente porque expõe com muita clareza
e com autoridade indubitável, as verdadeiras opiniões de Calvino sobre esta
matéria, expostas deliberadamente depois de haver deixado de fazer
esforços vãos, no intuito de conseguir a unidade do protestantismo por meio de
uma concessão às opiniões luteranas quanto à presença do Senhor na eucaristia.

No apêndice achar-se-á uma tradução exata desse documento importante.

(2) O Consensus Genevensis foi preparado por Calvino, em 1552, em nome


dos pastores de Genebra, e é uma exposição completa das idéias de Calvino
sobre a Predestinação. Tinha por fim unir todas as igrejas suíças em suas idéias a
respeito desse ponto. Fica como monumento proeminente dos princípios
fundamentais do verdadeiro calvinismo.

(3) A Formula Consensus Helvetica, elaborada em Zurich, em 1675, por João


Henrique Heidegger, de Zurich, ajudado por Francisco Turretino, de Genebra; e
Lucas Gernler, de Basiléia. Seu título é: “Forma de acordo das grejas
reformadas suíças, a respeito da doutrina da graça universal, das
doutrinas ligadas a essa, e de alguns outros pontos”. Tinha por fim unir as igrejas
suíças em condenar e excluir a forma modificada do calvinismo que naquele
século emanava da Escola Teológica de Saumur, e representada por Amyraldo,
Plaoeo, etc. Esta é a

mais científica e completa de todas as confissões reformadas. A proeminência de


seus autores4 5 e o fato de representar distin-livamente a escola mais
perfeitamente conseqüente dos calvinistas antigos a tornam de muito interesse
clássico. Foi subscrita por quase todas as igrejas suíças, mas em 1722 deixou de
ter autoridade pública como confissão.** Todas as confissões das igrejas
reformadas acham-se publicadas num só volume 11a Collectio Confessionum in
Ecclesiis Reformatis publicatarum, por Dr. H. A. Niemeyer, Leipzig, 1840, e em
Creeds of ( 'hristendom, por Dr. Schaff.

Os Atributos de Deus
1. Quais os três métodos de determinar os atributos que pertencem ao Ser
divino?

Io. O método de analisar a idéia da perfeição infinita e absoluta. Este método


procede com base no postulado de que nós, como agentes morais e inteligentes,
fomos criados à imagem de Deus. Neste processo atribuímos a Deus toda
a excelência da qual temos experiência ou idéia, em grau infinito, e em perfeição
absoluta, e negamos que ele seja de qualquer modo imperfeito ou limitado.

2o. O método de inferir suas características pelas obras dele que vemos ao redor
de nós, e da nossa experiência pelo modo como nos trata.

3o. O ensino didático das Escrituras, a elucidação que nela nos é dada do Seu
caráter, na Sua revelação sobrenatural e dispensações cheias de graça, e
sobretudo na revelação pessoal de Deus em Seu filho Jesus Cristo.

Todos estes métodos concordam entre si, suplementam-se e limitam-se


mutuamente. A idéia da perfeição absoluta e infinita, que em certo sentido nos é
inata, auxilia-nos na interpretação das Escrituras, e estas corrigem as inferências
da razão natural e põem o selo da autoridade divina em nossas opiniões sobre a
natureza divina.

2. Até onde podemos ter a certeza que a realidade objetiva corresponde com
as nossas concepções subjetivas da natureza divina?

A respeito deste ponto há duas posições extremas e opostas

que é necessário evitarmos:

Ia. A primeira posição extrema de supormos que as nossas concepções de Deus


são, quer em espécie quer em grau, adequadas para representar a realidade
objetiva de Suas perfeições. Deus é incompreensível por nós no sentido de
que (a) fica sempre uma parte imensurável da Sua natureza e da Sua excelência
da qual não temos nem podemos ter conhecimento; e (b) mesmo aquilo que
sabemos dEle, sabemos muito imperfeitamente e concebemos muito
inadequadamente. A esse respeito, a imperfeição do conhecimento que os
homens I èm de Deus é análoga em espécie, embora infinitamente maior em
grau à imperfeição do conhecimento que uma criança pode icr da vida de um
grande filósofo ou estadista, morando na mesma cidade. A criança não só sabe
que o filósofo ou estadista vive - mas sabe também, até certo ponto real,o que é
essa vida c, contudo, o seu conhecimento é muito imperfeito, tanto porque
apreende só uma parte muito pequena dessa vida, como lambém porque
compreende só muito imperfeitamente mesmo essa pequena parte.

2a. A segunda posição extrema que devemos evitar é o de supor que o nosso
conhecimento de Deus é ilusório, que nossas concepções das perfeições de Deus
não correspondem, em grau algum, à realidade objetiva. “Sir” William Hamilton,
o Sr. Mansel e outros, depois de provarem que somos obrigados a pensar em
Deus como “causa primária”, como “infinito” e “absoluto”, procedem a dar
definições destes termos abstratos, ilos quais tiram, então, a conclusão necessária
de que esses iermos envolvem contradições mútuas que a razão humana nao
pode tolerar. Em seguida, tiram a conclusão de que as nossas concepções de
Deus não podem corresponder à real existência objetiva do Ser divino. “O
pensarmos que Deus seja aquilo que pensamos que é, é blasfêmia.” A última e
mais r x i rema consagração da verdadeira religião não pode ser outra ' oisa que
um altar “ao Deus desconhecido e a quem não nos é possível conhecer” (“Sir”
William Hamilton,Discussions, pág.

22). Sustentam eles que todas as representações de Deus comunicadas nas


Escrituras, e as melhores concepções que nós, com o auxílio das Escrituras,
podemos formar dEle, de modo algum correspondem à realidade objetiva, e que
não têm por fim dar-nos conhecimento real e científico, e sim, servir-nos como
postulados reguladores “muito instrutivos para o sentimento e para a ação”, e
suficientes, praticamente, para as nossas necessidades atuais; “suficientes para
dirigir a nossa vida, mas não para satisfazer à nossa inteligência-não nos dizem o
que Deus é em Si, e sim o que Ele quer que pensemos a Seu respeito ” -Mansel,
Limits of Religious Thought, pág. 132.

Esse modo de pensar leva realmente ao ceticismo, se não ao ateísmo dogmático,


se bem que não era esse o fim que tinham em vista esses autores. (1) Baseia-se
numa definição artificial e inaplicável de certas noções abstratas mantidas
por alguns filósofos a respeito do “absoluto” e do “infinito”. Como mostraremos
logo à frente (Pergunta 6) uma definição verdadeira do absoluto e do infinito, no
sentido em que as Escrituras e os homens não sofisticados dizem que Deus é
absoluto e infinito, não envolve contradição ou absurdo algum. (2) Demonstrar-
se-á abaixo (Pergutas 3 e 5) que temos bom fundamento para o postulado
segundo o qual, como seres morais e inteligentes, fomos real e verdadeiramente
criados à imagem de Deus, e que por isso podemos conhecê-10 como
Ele realmente é. (3) Se a nossa consciência íntima e as Escrituras Sagradas nos
apresentam concepções ilusórias quanto ao que Deus é, não temos motivo algum
para confiar nelas quando nos dizem que Deus é, ou que existe. (4) Esse
princípio leva ao ceticismo absoluto. Se o nosso Criador quer que
pensemos nEle de um modo diverso da verdade, não temos motivo para confiar
em nossos instintos ou faculdades constitutivas quanto aos outros ramos do
conhecimento. (5) Esse princípio é imoral, porque faz de falsas representações
dos atributos divinos o princípio regulador da vida moral e religiosa dos homens.
(6) Os ditames mais exaltados e mais certos da razão humana

produzem necessariamente a convicção de que os princípios morais e a natureza


essencial de quaisquer atributos morais não podem deixar de ser os mesmos em
todos os mundos e em todos os seres possuidores, em qualquer sentido, de um
caráter moral. A verdade, a justiça, o amor e a benevolência não podem deixar
de ser no Criador aquilo mesmo que são na criatura, e em Deus aquilo mesmo
que são no homem.

3. Que é antropomorfismo, e quais os diversos sentidos em que se emprega essa


palavra?

Antropomorfismo é palavra empregada para designar qualquer opinião sobre a


natureza de Deus que o considere como se possuísse ou exercesse quaisquer
atributos semelhantes aos do homem. -
Os antropomorfistas antigos sustentavam que Deus tem partes e órgãos corporais
como os nossos, e que devem ser tomadas em sentido literal todas as passagens
das Escrituras que falam em Seus olhos, mãos etc.

Os panteístas, “Sir” W. Hamilton, e alguns outros filósofos, dizem que todas as


nossas concepções de Deus como um Espírito pessoal, etc., são
antropomorfísticas - isto é, são modos de conceber que não estão em
conformidade com a verdade objetiva, e sim são determinados necessariamente
pelas condições subjetivas dos modos humanos de pensar.

Segue-se, pois, que é necessário tomar-se a palavra em dois sentidos:

Io. No bom sentido, no qual, desde que o homem foi criado à imagem de Deus
como um espírito racional e livre, é bíblico, racional, e está de acordo com a
verdade objetiva, que pensemos em Deus como possuindo, em perfeição
absoluta quanto à espécie, e em perfeição absoluta quanto ao grau, e sem
nenhuma limitação, todos os atributos essenciais que pertencem aos nossos
espíritos. Quando dizemos que Deus sabe, quer e sente, que Ele é justo,
verdadeiro e misericordioso, o sentido dessas afirmações é que Lhe atribuímos
atributos da

mesma espécie que os atributos que têm esses nomes e que pertencem aos
homens, mas, em Deus, em perfeição absoluta e sem limites.

2o. A palavra é empregada em mau sentido quando utilizada para designar um


modo de pensar em Deus como se houvesse nEle qualquer imperfeição ou
limitação. Pensar em Deus, por exemplo, como se tivesse mãos ou pés, ou
experimentasse em Si as perturbações das paixões humanas, ou de qualquer
outro modo semelhante, seria um antropomorfismo falso e indigno dEle.

4. Como devemos entender as passagens das Escrituras que atribuem a Deus


membros corporais e as fraquezas próprias da paixão humana?

As passagens a que se faz referência são aquelas em que se fala no rosto ou face
de Deus, como em Ex. 33:11 e 20; em Seus olhos, 2 Crôn. 16:9; em Suas
narinas, 2 Sam. 22:9; em Seus braços ou pés, Is. 52:10; Sal.18:9. E as passagens
que falam dEle arrepender-Se, entristecer-Se e estar cansado, como Gên,
6:6, 7;Jer. 15:6; Sal. 95:10; em enfurecer-Se, como Deut. 29:20, etc. Estas
expressões devem entender-se como metáforas. Representam só analogicamente
a verdade a respeito de Deus, e como nos parece, de nosso ponto de vista. Que
Deus não pode ser material demonstraremos adiante, na pergunta 20.

Quando o texto diz que Ele Se arrepende, Se entristece, que é zeloso, que está
irado, etc., só quer dizer que Se comporta para com os homens como um homem
se comportaria quando agitado por essas paixões. Essas metáforas encontram-
se, principalmente, no Velho Testamento, e ali, nas passagens muito retóricas dos
livros poéticos e proféticos.

5. Quais as provas de que não só são necessárias, mas também são válidas, as
concepções antropomórficas de Deus, tomada essa palavra no seu bom sentido?

O fato fundamental em que se baseia toda a ciência, toda a

teologia e toda a religião é que Deus fez o homem alma viva, à Sua própria
imagem. A não ser assim, o homem não poderia compreender mais das obras de
Deus do que da Sua natureza, e todas as relações de pensamentos e sentimentos
entre eles seriam impossíveis. Que o homem tem o direito de pensar em Deus
como a fonte original e totalmente perfeita das qualidades morais e racionais que
nEle se acham, provam os seguintes fatos:

Io. E determinado assim pelas leis necessárias da nossa natureza. (1) E matéria
da nossa consciência íntima. Se cremos em Deus, é-nosforçoso crer nEle como
espírito pessoal, racional e reto. (2) Mesmo nas adulterações aviltantes da
mitologia pagã as concepções que se fazem de Deus são
universalmente semelhantes a essa. - : • - ‘

2o. Não há outro modo possível de conhecermos a Deus. Haveremos sempre de


fazer a nossa escolha entre o princípio que sustentamos e o ateísmo absoluto.

3o. O mesmo é determinado também pelas leis necessárias de nossa natureza


moral. A natureza moral do homem, inata e indestrutível, inclui o sentimento de
sujeição a uma vontade reta superior à nossa, e de responsabilidade perante
um Governador moral. Mas isso seria um absurdo se o Governador moral não
fosse, no nosso sentido das palavras, um espírito pessoal inteligente e reto. *

4o. O argumento mais durável e satisfatório para estabelecer o fato da existência


de Deus, é o argumento a posteriori baseado nas provas de “desígnio” que
vemos nas obras de Deus. E se este argumento é válido para estabelecer o fato da
existência de Deus, é válido também para provar que Ele possui e
exerce inteligência, intenção benévola e a faculdade de escolher, ou seja, que Ele
é, em nosso sentido dos termos, um espírito pessoal e inteligente.

5o. As Escrituras atribuem caracteristicamente esses mesmos atributos a Deus, e


em toda parte propugnam Sua existência. : - savtn > <>

6o. Deus, manifestado na Pessoa de Jesus Cristo, que é a imagem expressa da


Pessoa do Pai, exibiu em todas as situações esses mesmos atributos, e também o
fez de tal modo que demonstrou sempre ser Deus tão verdadeiramente como
era homem.

6. Qual é o sentido dos termos “infinito” e “absoluto”, e qual o sentido em que


eles são aplicados à natureza de Deus e a cada um dos Seus
atributos? •• •• •"

A definição que Hamilton e Mansel dão de infinito é: “aquilo que está livre de
toda limitação possível; aquilo que é tamanho que não se pode conceber um
maior, e que, por conseguinte, não pode receber atributos adicionais, ou
um modo de existência adicional que não possuísse já, desde toda a eternidade”;
e sua definição do absoluto é: “aquilo que existe de per si, não tendo nenhuma
relação necessária para com outros seres”. Baseados nestas definições,
argumentam (1) que aquilo que é infinito e absoluto deve incluir em si a soma
total de todas as coisas, o bem e o mal, o atual e o possível; porque, se estivesse
excluído dele alguma coisa real ou possível, não seria mais infinito e absoluto e
sim, finito e relativo; (2) que não pode ser objeto de conhecimentos, porque
aquilo que é conhecido fica, por isso mesmo, limitado, porque fica definido; e é
também estabelecida assim uma relação entre o conhecido e a pessoa que o
conhece; (3) que não pode ser pessoa, porque a consciência pessoal implica
limitação e mudança; (4) que não pode conhecer outras coisas, porque o
conhecer implica relação, como já foi dito - Discussions por Hamilton, Art.
1; Limits ofReligious Thought, por Mansel, Lectures 1, 2 e 3.

Todos estes devaneios lógicos nascem do fato de tomarem esses filósofos, como
ponto de partida, a premissa falsa de um abstrato “infinito” e “absoluto” e
substituindo isso pela Pessoa verdadeiramente infinita e absoluta revelada nas
Escrituras e na consciência humana como a causa primária de todas as coisas, o
Governador moral e Redentor dos homens.
“Infinito” quer dizer o que não tem limites. Quando dizemos que Deus é infinito
no Seu Ser, conhecimento, ou poder, queremos dizer que Sua essência e as
propriedades ativas desta não têm limitações que envolvam imperfeições
de qualquer espécie que seja. Ele transcende todas as limitações do tempo e do
espaço, e conhece todas as coisas de um modo absolutamente perfeito. Pode
fazer tudo quanto quer por intermédio de meios ou sem eles, e com facilidade e
sucesso perfeitos. Quando os homens dizem que Deus é infinito na Sua justiça,
bondade ou verdade, isso significa que na Sua natureza inexaurível e imutável
possui esses atributos em perfeição absoluta.

“Absoluto”, quando aplicado a Deus, quer dizer que Ele é uma Pessoa eterna e
auto-existente, que existia antes de todos os demais seres, e que é a causa
inteligente e voluntária de tudo quanto mais existiu, existe agora, ou em qualquer
tempo há de existir em todo o universo, etc., e que por isso Ele não mantém
relação necessária com nada que existia fora dEle. Tudo quanto existe está
condicionado a Deus, assim como o círculo está condicionado a seu centro; mas
Deus, seja quanto à Sua existência, seja quanto a qualquer dos modos dela, não
está condicionado a nenhuma das Suas criaturas, nem à criação como um todo.
Deus é o que é porque é, e Ele quer aquilo que quer porque “assim é do seu
agrado”. Tudo o que mais existe é o que é porque Deus queria que fosse o que é.
Toda relação que Ele sustém para com aquilo que está fora dEle foi por
Ele tomada voluntariamente.

7. Quais os diversos modos pelos quais as Escrituras revelam Deus?

Revelam Deus - Io. Por meio de Seus nomes. 2o. Por meio das obras que Lhe são
atribuídas. 3o. Por meio de Seus atributos. 4o. Por meio do culto que elas
requerem que Lhe seja prestado. 5o. Pela manifestação de Deus em Cristo.

8. Qual a etimologia e a significação dos diversos nomes dados a Deus nas


Escrituras? -

Io. JEOVÁ, do hebraicoHayah, ser. Exprime auto-existência e imutabilidade; é o


nome incomunicável de Deus que os judeus, por motivo supersticioso, nunca
pronunciam, substituindo-o, na sua leitura do Velho Testamento, no original,
pelo nomeAdonai, SENHOR. E este último nome substitui o de Jeová também
na vulgata e em diversas outras versões.

JAH, provavelmente abreviatura de Jeová, é empregado principalmente nos


Salmos. - Sal. 68:4, no original. E a última sílaba da palavra “aleluia” , louvai a
Jeová. ,

A Moisés Deus deu a conhecer Seu nome peculiar - EU SOU O QUE SOU -
Ex. 3:14, da mesma raiz que Jeová, e com a mesma significação fundamental.

2o. EL, poder, força, traduzindo Deus, e aplicado tanto a deuses falsos como ao
Deus verdadeiro - Is. 44:10.

3o. ELOIM e ELO AH, sendo os dois o mesmo nome, o último sendo a forma
singular, e o primeiro, a forma plural. E derivado àzAlah, temer, reverenciar. Na
sua forma singular é usado só nos livros poéticos e nos menos antigos. Na sua
forma plural é usado, às vezes, no sentido plural de deuses; mais
comumente, porém, como nmpluralis excellentice, aplicado a Deus. E
aplicado também a deuses falsos, mas de preferência, a Jeová como o grande
objeto de adoração.

4o. ADONAI, o Senhor pluralis excellentice aplicado exclusivamente a Deus,


exprimindo possessão e domínio absoluto, equivalente a Senhor, aplicado tantas
vezes a Cristo no Novo Testamento.

5o. SADDAI, onipotente, um pluralis excellentice. As vezes aparece só, como


em Jó 5: 17; e, às vezes, é precedido de EL, como em Gên. 17:1.

6o. ELYÔN, o EZEBAexce/so, adjetivo verbal dtâlâch-subir - Sal. 9:2;


21:7. - ■ :ui- --v; ■

7o. O termo TZEBAOTH, dos exércitos, é usado freqüentemente como epíteto


qualificativo de um dos nomes

supramencionados de Deus, como: Jeová dos Exércitos, Deus dos Exércitos,


Jeová Deus dos Exércitos - Amos 4:13; Sal. 24:10. Alguns tomam isso como o
equivalente de: Deus das batalhas. Mas o verdadeiro sentido é: “Soberano das
estrelas, dos exércitos materiais do céu, e dos anjos, seus habitantes” - Dr. J. A.
Alexander, Com. on the Psalms, 24:10, e Gesenius, Heb. Lex. í -uí; ■ .■

8o. Muitos outros epítetos são aplicados a Deus, em sentido metafórico, para
expor a relação que sustenta para conosco e os ofícios que Ele desempenha,e.g.
Rei, Legislador, Juiz. Is. 33:17; Sal. 24:8; Sal. 50:6; Rocha, Fortaleza, Redentor:
2 Sam. 22:2,3; Sal. 62:2; Pastor, Agricultor: Sal. 23:1; João 15:1; Pai: Mat. 6:9;
João 20:17, etc. -v ..<

9. Que são atributos divinos ?

Os atributos divinos são as perfeições atribuídas à essência divina nas Escrituras,


ou exercidas visivelmente por Deus, nas Suas obras da criação, da providência e
da redenção. Não são propriedades ou estados da essência divina separáveis, de
fato ou na hipotética, dessa mesma essência divina, como são separáveis da
essência da criatura as propriedades e modos de tudo o que foi criado. O
conhecimento de Deus é Sua essência conhecendo; Seu amor é Sua essência
amando; Sua vontade é Sua essência querendo; e todos estas qualidades não
são capacidades latentes de ação, nem estados que mudam, mas estados
coexistentes e eternamente imutáveis da essência divina, a qual, tanto a respeito
do estado e modo, como a respeito da existência, é “a mesma de ontem, hoje, e o
será por todos os séculos”, e “sem mudança, nem sombra de variação”.

A respeito da natureza e das operações de Deus, podemos saber tão-somente o


que Lhe aprouve revelar-nos, e em todas as nossas concepções, quer da Sua
natureza, quer dos Seus atos, haverá sempre, e necessariamente, um elemento de
incom-preensibilidade que é inseparável da infinidade. O Seu conhecimento e o
Seu poder excedem tanto à compreensão

como à Sua eternidade eimensidade-Jó 11:7-9; 26:14; Sal. 139:5,6; Is. 40:28. Os
elementos morais da Sua natureza gloriosa são a norma ou o tipo original de
nossas faculdades morais; e assim é que nos é possível compreender os
supremos princípios de verdade e justiça sobre os quais Ele opera. A verdade, a
justiça e a bondade são naturalmente os mesmos atributos, quer em Deus, quer
nos anjos, quer no homem. Ao mesmo tempo, aquilo que Deus faz, de
conformidade com esses princípios, é, muitas vezes, uma prova para a nossa fé,
e dá ocasião para O adorarmos maravilhados - Rom. 11:33-36; Is. 55:8,9.

10. Que quer dizer o termo SIMPLICIDADE, quando aplicado a Deus pelos
teólogos ?

O termo “simplicidade” é empregado, primeiro, em oposição à composição


material, quer mecânica, orgânica ou química; em segundo lugar, em sentido
metafísico, para negar a relação de substância e propriedade, de essência e
modo. No primeiro sentido da palavra, a alma humana é simples, porque não é
composta de elementos, partes ou órgãos. No segundo sentido da palavra, nossas
almas são complexas, porque há nelas distinção entre Sua essência e Suas
propriedades, e Seus modos ou estados sucessivos de existência. Sendo Deus,
porém, infinito, eterno, autoexistente desde toda a eternidade, necessariamente
sempre o mesmo sem sucessor, os teólogos sustentam que nEle a essência, as
propriedades e os modos são uma só e a mesma coisa. E sempre aquilo que é; e
Seus diversos estados de intelecção, emoção e volição não são sucessivos
e transitórios, e sim coexistentes e permanentes; e Ele é essencialmente aquilo
que é, e tão necessariamente como o é a Sua existência. O que há em Deus, quer
seja pensamento, emoção, volição, ou um ato, é Deus.

Alguns pensam em Deus como passando por diversos modos e estados


transitórios, como passam os homens, e por conseguinte supõem que as
propriedades da natureza divina

são relacionadas com a essência divina como as propriedades das coisas criadas
são relacionadas com as coisas dotadas com elas. Outros levam tão longe a idéia
de simplicidade que negam ; haver distinção alguma nos próprios atributos
divinos, e supõem que a única diferença entre eles está no modo pelo qual se
manifestam externamente, e nos efeitos produzidos. Ilustram sua idéia pelos
diversos efeitos que o mesmo raio de luz do sol produz em diversos objetos.

Para evitar estes dois extremos, os teólogos costumam dizer que os atributos
divinos diferem uns dos outros e da essência divina, Io. nãorealiter, ou assim
como uma coisa difere de outra, ou de qualquer modo que implique composição
em Deus. Nem, 2o. meramentenominaliter, como se não houvesse em Deus coisa
alguma que corresponda realmente a nossas concepções de Suas perfeições.
Mas, 3o. diz-se que diferem virtualiter, de modo que há nEle base ou motivo
adequado para todas as representações feitas nas Escrituras a respeito das
perfeições divinas, e para as concepções que por isso nós temos delas -
Turretino,Institutio Theologicce, Locus 3; Quaes. 5 e 7; e Dr. C. Hodge,
Lectures.

11. Quais os diversos princípios segundo os quais se tem procurado classificar


os atributos divinos? >4.,- ■

A imensidade do assunto e a incomensurabilidade de nossas faculdades tornam


evidente que nenhuma classificação que possamos fazer pode ser mais do que
aproximadamente exata e completa. A classificação comum tem por base
os seguintes princípios: _ ,

Io. Distinguem-se como absolutos e relativos. Um atributo absoluto é uma


propriedade da essência divina considerada em si: e.g., auto-existência,
imensidade, eternidade, inteligência. Um atributo relativo é uma propriedade da
essência divina considerada em relação à criação: e.g., onipresença, onisciência,
etc. ■M.uwotiw *

2o. Distinguem-se também como afirmativos e negativos.

Um atributo afirmativo é uma qualidade que exprime alguma perfeição positiva


da essência divina: e.g., onipresença, onipotência, etc. Um atributo negativo é
uma qualidade que nega qualquer defeito ou limitação de qualquer modo
nas perfeições divinas: e.g., imutabilidade, infinidade, incompre-ensibilidade,
etc.

3o. Distinguem-se como comunicáveis e incomunicáveis. Os atributos


comunicáveis são aqueles com os quais os atributos do espírito humano tem
alguma analogia: e.g, poder, conhecimento, vontade, bondade e retidão. Os
incomunicáveis são aqueles quanto aos quais não há na criatura nada que lhes
seja análogo: e.g., eternidade, imensidade, etc. Esta distinção, porém,
necessariamente não deve ser levada longe demais. Deus é infinito em relação ao
espaço e ao tempo; nós somos finitos em relação a um e a outro. Mas Ele não é
menos infinito quanto ao Seu conhecimento, à Sua vontade e à Sua retidão em
todos os Seus modos, e nós somos finitos em todos estes aspectos. Todos os
atributos divinos que conhecemos ou que podemos conceber são comunicáveis,
por terem suas analogias em nós; entretanto todos são igualmente
incomunicáveis, por serem todos infinitos em Deus.

4o. Os atributos de Deus distinguem-se como naturais e morais. Os naturais são


todos os que Lhe pertencem por ser Ele um Espírito infinito e racional: e.g,
eternidade, imensidade, inteligência, vontade, poder. Os morais são os
demais atributos, que Lhe pertencem por ser Ele Espírito infinito e reto: e.g.,
justiça, misericórdia, verdade.

Eu proporia, sem muita segurança, a classificação seguinte:

(1) Os atributos que qualificam igualmente todos os outros - infinidade, aquilo


que não tem limites: absolutidade,6 aquilo que não é determinado, nem quanto à
Sua existência, nem

quanto ao modo da Sua existência ou da Sua ação, por coisa alguma que haja
fora dEle próprio. Isso inclui a imutabilidade. 'tr . > : .,-1: J .

(2) Os atributos naturais: Deusé Espírito infinito, auto-existente, eterno,


imenso, simples, livre na vontade, inteligente, poderoso.

(3) Os atributos morais. Deus é Espírito infinitamente reto, verdadeiro t fiel.

(4) A glória excelsa de todas as perfeições divinas em união: a formosura da


SANTIDADE de Deus.

A UNIDADE DE DEUS - -

12. Quais os dois sentidos da palavra em que UNIDADE é um predicado de


Deus ?

Io. Deus é único: há um só Deus, com exclusão de qualquer outro.

2o. Embora haja tripla distinção pessoal na unidade da Deidade, essas três
Pessoas são numericamente uma só substância ou essência, e constituem um só
Deus indivisível.

13. Como se pode provar a proposição de que Deus é um e

indivisível? •••’ •"*

Io. Parece haver na razão uma necessidade de concebermos a Deus como um só.
Aquilo que é infinito e absoluto não pode deixar de ser um só, indivisível em
essência. Se Deus não é um só, segue-se que há mais de um Deus.

2o. A representação uniforme das Escrituras - João 10:30.

14. Como se prova pelas Escrituras que a proposição segundo a qual há um só


Deus é verdadeira?

Com passagens como as seguintes: Deut. 6:4; 1 Reis 8:60; Is. 44:6; Mar.
11:29,32; 1 Cor. 8:4; Ef. 4:6.
-
15. Que argumento se tira da harmonia da criação a favor da unidade divina?

A criação inteira entre os dois extremos, até onde chega a observação telescópica
e microscópica, é manifestamente um só sistema indivisível. Já provamos,
porém (Cap. 2), a existência de Deus, pelos fenômenos do universo; e
argumentamos agora, partindo do mesmo princípio, que, se um efeito é prova
da operação prévia de uma causa, e se evidências de intenção e desígnio provam
a existência de quem tencionava, então a singeleza e a unidade de um plano e
sua operação nesse desígnio e na sua execução provam também que quem teve o
desígnio foi UM SÓ.

16. Sobre este ponto, que argumento se tira da existência necessária de Deus?

Diz-se que a existência de Deus é necessária porque desde toda a eternidade tem
sua causa em si mesma. É a mesma em todo o tempo e no espaço inteiro. E um
absurdo pensar em Deus como não existindo em qualquer tempo e em
qualquer parte do espaço, enquanto que, com respeito a todas as
demais existências, elas dependem pura e simplesmente da vontade de Deus, e
por isso são contingentes. No entanto, a necessidade que é uniforme em todos os
tempos e em qualquer parte do espaço é evidentemente uma só e indivisível, e só
pode ser a base da existência de um só Deus.

Este argumento é lógico, e muitos distinguidos teólogos o valorizam em muito.


Parece, porém, envolver o erro de supor-se que a lógica humana pode ser a
medida da existência.

17. Que argumento se tira da perfeição infinita para provar que só pode haver
um Deus?

Deus é infinito em Seu Ser e em todas as Suas perfeições. Mas o que é infinito,
por incluir tudo, exclui tudo o mais da mesma espécie. Se houvesse dois seres
infinitos, cada um deles incluiria necessariamente o outro, e seria por este
incluído, e

seriam assim um só e o mesmo ser idêntico. É certo que a idéia da coexistência


de dois seres infinitamente perfeitos repugna tanto à razão humana como às
Escrituras. ;' J

18. Que époliteísmo? E dualismo?


Poiiteísmo, como indica a etimologia da palavra, é um termo geral que designa
todos os sistemas de religião que ensinam a existência de mais de um Deus.

Dualismo é o nome que se dá ao sistema que reconhece a existência de dois


princípios originais e independentes no universo, um bom e o outro mau, e que
atualmente esses dois princípios estão numa relação de antagonismo
incessante, esforçando-se sempre o bom princípio por opor-se ao mau princípio e
por livrar o mundo da sua intrusão maléfica.

A ESPIRITUALIDADE DE DEUS

19. Que é que se afirma, e também que é que se nega na proposição segundo a
qual Deus é Espírito?

Nada sabemos de uma substância, senão o que se manifesta por suas


propriedades. Matéria é a substância cujas propriedades se manifestam
diretamente aos nossos sentidos corporais. Espírito é a substância cujas
propriedades se manifestam a nós diretamente na autoconsciência, e só
inferencialmente por meio de palavras e outros sinais ou modos de expressão,
mediante os nossos sentidos.

Quando dizemos que Deus é Espírito, o sentido é:

Io. Negativamente, que Ele não possui partes nem paixões corporais; que não Se
compõe de elementos materiais; que não está sujeito a nenhuma das condições
que limitam a existência material; e que, por conseguinte, não pode
ser apreendido por nenhum de nossos sentidos corporais.

20. Positivamente, que Ele é um ser racional que distingue com precisão
infinita entre o verdadeiro e o falso; que é um ser moral, que distingue entre o
bom e o mau; que é agente

livre, cujas ações são determinadas só por Sua própria vontade; e, enfim, que
todas as propriedades essenciais de nossos espíritos podem também realmente
ser asseveradas a respeito dEle, e em grau infinito.

Esta grande verdade é inconciliável com a doutrina segundo a qual Deus é a


alma do mundo (anima mundi), uma força plástica, organizadora, inseparável da
matéria; e também com a doutrina gnóstica da emanação, e com todas as
formas do materialismo e do panteísmo modernos.
20. Quais as provas de que Deus é Espírito?

Ia. As Escrituras o afirmam expressamente - João 4:24.

2a. Nossa idéia das perfeições infinitas e absolutas de Deus. A matéria é


obviamente inferior ao espírito, e dela são inseparáveis muitas imperfeições e
limitações. A matéria, consistindo em átomos separados e atuando
incessantemente uns sobre os outros, não pode ser “uma”, nem “infinita”,
nem “imutável”, etc. E sente-se que a idéia de que a matéria está em união com o
espírito em Deus, como é o caso do homem, avilta a Deus e O sujeita às
limitações do tempo e do espaço.

3a. Não há em parte alguma nenhum indício de propriedades materiais no


Criador e Governador providencial do universo - enquanto que todas as provas
da existência de Deus testificam também que Ele é uma pessoa de sabedoria,
benevolência, retidão e poder supremos - isto é, que é um espírito pessoal.

A RELAÇÃO DE DEUS COM O ESPAÇO

21. Que é que se entende pela imensidade de Deus?

“Imensidade de Deus” é a frase empregada para expressar

o fato de que Deus é infinito em Sua relação com o espaço, isto é, que a inteira
essência indivisível de Deus está sempre presente concomitantemente em toda
parte do espaço inteiro e imenso.

Não se acha presente assim em virtude de alguma multiplicação infinita do Seu


Espírito, porque o Espírito é eternamente um só e individual; nem é isso
resultado de alguma difusão infinita da sua essência pelo espaço imenso, assim
como o ar está difuso sobre a superfície da terra; porque, sendo Espírito, não é
composto de partes, nem se pode estender; mas a Deidade inteira, em Sua
essência única e indivisível, está sempre presente igualmente, a todo momento
da duração eterna, em todo o espaço infinito e em cada parte dele.

22. Como difere imensidade de onipresença? ■

Imensidade é a característica de Deus em relação ao espaço

tomado em sentido abstrato. Onipresença é a característica de Deus em relação


às Suas criaturas como estas ocupam, cada qual por si, certo lugar no espaço. A
essência divina (Deus) é absolutamente imensa em Sua própria natureza; é
onipresente em relação a todas as Suas criaturas.

23. Quais os diversos modos da presença divina, e como se pode provar que
Deus está presente em toda parte quanto à Sua essência?

Podemos pensar em Deus como presente em qualquer parte ou com qualquer


criatura, de diversos modos: Io. Quanto à Sua essência; 2o. Quanto ao Seu
conhecimento; 3o. Manifestando a Sua presença a qualquer criatura inteligente;
4o. Manifestando o Seu poder de qualquer modo na criatura humana ou sobre
ela. Quanto à Sua essência e ao Seu conhecimento, a Sua presença é sempre e
em toda parte a mesma. Quanto à Sua automanifestação e ao exercício do Seu
poder, a Sua presença manifesta-se de inúmeros modos e graus diferentes.
Assim, por exemplo, está presente para a Sua Igreja de um modo diverso
daquele pelo qual o está para o mundo; está presente no inferno na manifestação
e execução da Sua justa ira, e no céu o está na manifestação e comunicação
da Sua graça, do Seu amor e da Sua glória.

24. Como provar que Deus é onipresente quanto à Sua essência?

Que Deus é onipresente quanto à Sua essência fica provado:

Io. Pelas Escrituras (1 Reis 8:27; Sal. 139:7-10; Is. 66:1; Atos 17:27,28). 2°. Pela
razão. (1) E conseqüência necessária da Sua infinidade. (2) Pelo fato de que o
Seu conhecimento é Sua essência conhecendo, e Suas ações são Sua essência
agindo. Contudo, o Seu conhecimento e o Seu poder estendem-se a todas as
coisas.

25. Como expor as diversas relações que os corpos (que são espíritos criados)
e Deus têm com o espaço?

Turretino diz: “entendemos que os corpos existem circunscntivamente no


espaço, porque, ocupando certa porção do espaço, acham-se cercados por todos
os lados pelo espaço; os espíritos criados não ocupam parte alguma do espaço,
nem são abarcados pelo espaço, e, contudo, estão no espaço definidamente,
como aqui, e não acolá; Deus, porém, está no espaço repletivamente, porque de
um modo transcendente a Sua essência enche o espaço todo. Não está incluído
em parte alguma, nem excluído de parte alguma. Inteiramente presente em toda
parte, compreende ao mesmo tempo o espaço inteiro.”

O tempo e o espaço não são nem substâncias, nem qualidades, nem


simplesmente relações. Eles constituem um gênero separado, absolutamente
distinto de todas as demais entidades, e por conseguinte impossível de
classificar. “Sabemos que o tempo e o espaço existem; sabemos também, por
provas suficientes, que Deus existe; mas não temos meios de saber como o
tempo e o espaço se acham relacionados com Deus. v A idéia de “Sir” Isaac
Newton - Deus durat semper e adest ubique, et, existendo semper et ubique,
durationem et spatium constituit 7 - é por certo uma idéia sublime; porém duvido

muito que a inteligência humana possa afirmar ditatorialmente que é uma idéia
tão verdadeira quanto sublime” -McCosh,Intuitions ofthe Mind, pág. 212.

A RELAÇÃO DE DEUS COM O TEMPO

26. Que é a eternidade?

A eternidade é duração infinita; duração despida de todos os limites, sem


princípio, sem sucessão, sem fim. Os esco-lásticos chamavam-na punctum stans,
isto é, um presente que permanece sempre e para sempre. : -

Podemos, porém, conceber a eternidade positivamente como duração estendida


infinitamente do momento atual em duas direções, para o passado e para o
futuro, chamadas impropriamente eternidade a parte ante, ou passada, e
eternidade a parte post, ou futura. A eternidade de Deus é, porém, uma só e
indivisível. Eternitas est una individua et tota simul.

27. Que é o tempo?

Tempo é duração limitada, medida pela sucessão, ou do pensamento ou do


movimento. Distingue-se em referência a nossas percepções em passado,
presente e futuro.

28. Que relação tem o tempo com a eternidade?

A eternidade, o presente sem mudança, sem princípio e sem fim, compreende o


tempo inteiro, e coexiste como um momento não dividido, junto com todas as
sucessões do tempo à medida que aparecem e passam em sua ordem.
Podemos pensar, porém, só sob as limitações do tempo e do espaço. Podemos
pensar em Deus só do modo finito de determinar primeiro e executar depois, de
prometer ou ameaçar primeiro, e cumprir depois a Sua palavra, etc. Aquele
que habita na eternidade transcende infinitamente a nossa inteligência. Is. 57:15.

29. Quando dizemos que Deus é eterno, que é que afirmamos, e que é que
negamos?

Afirmamos, Io. que, quanto à Sua existência, nunca teve princípio e nunca terá
fim; 2o. que, quanto ao modo da Sua existência, Seus pensamentos, emoções,
propósitos e atos, eles são invariáveis, unos e inseparáveis, sempre os mesmos; e
3o. Que Ele é imutável.

Negamos, Io. Que Deus teve princípio ou que terá fim; 2o. que há variação nos
Seus estados ou modos de ser; e 3o. que a Sua essência, os Seus atributos e os
Seus propósitos em qualquer tempo mudarão. - ‘

30 .Em que sentido é que se fala nos atos de Deus como passados, presentes e
futuros?

No tocante a Deus, os Seus atos nunca são passsados, presentes ou futuros, senão
somente quanto aos objetos e aos efeitos produzidos na criatura. O propósito
eficiente, compreendendo o objeto, o tempo e todas as circunstâncias, estava-
Lhe presente sempre e sem mudança; o evento, porém, sucedendo no tempo, é
assim passado, presente ou futuro para nós.

31. Em que sentido é que os eventos são futuros ou passados para Deus?

Sendo infinito o conhecimento de Deus, segue-se, Io. que todos os eventos estão
sempre igualmente presentes ao Seu conhecimento, e desde toda a eternidade
para toda a eternidade; mas, 2o. esses eventos Lhe são conhecidos como
realmente sucedem, e.g., em Sua natureza e em Suas relações e
sucessões verdadeiras. É, pois, real e verdadeira esta distinção - o conhecimento
que Deus tem dos eventos é sem princípio, fim ou sucessão; não obstante, Ele os
conhece assim como são em si, sucedendo-se no tempo como passados,
presentes ou futuros, em sua relação entre si.

■ A IMUTABILIDADE DE DEUS
32. Que é que se entende por imutabilidade de Deus?

Por Sua imutabilidade entendemos que é conseqüência da perfeição infinita de


Deus; que Ele não pode ser mudado por coisa alguma fora dEle, e que não
mudará por causa de nenhum princípio que haja nEle; que, quanto à Sua
essência, à Sua vontade e aos Seus modos de existência, Ele é sempre, de
eternidade a eternidade, o mesmo. Assim, é absolutamente imutável em Si
mesmo. E é imutável também em relação às Suas criaturas, pois no Seu
conhecimento, no Seu propósito e na Sua verdade, como nós os concebemos e
nos são revelados, não há mudança nem sombra alguma de variação. - Tia. 1:17.

33. Como se prova pelas Escrituras e pela razão que Deus é imutável?

Io. Pelas Escrituras: Mal.3:6; Sal.33:11; Is. 46:10; Tia. 1:17.

2o. Pela razão: (1) Deus é auto-existente. Como não é causado por nada e é a
causa de tudo, não pode ser mudado por nada, porém muda tudo. (2) E o Ser
absoluto. Nem a Sua existência, nem o modo dela, nem a Sua vontade,
são determinados por nenhuma relação necessária que eles sustenham com coisa
alguma fora dEle. Assim como Ele precedeu tudo e causou tudo, assim também
a Sua vontade soberana determinou livremente as relações que Ele permite que
essas coisas tenham com Ele. (3) E infinito em duração, e por isso não pode
sofrer variação ou mudança. (4) E infinito em todas as Suas perfeições, em
conhecimento, sabedoria, retidão, benevolência, vontade, poder, e por isso não
pode mudar, porque ao infinito nada se pode acrescentar e dele nada se pode
tirar. Qualquer mudança O tornaria ou menos do que infinito antes, ou menos do
que infinito depois.

34. Como conciliar com a imutabilidade de Deus a criação do

mundo e a encarnação do Filho? ■

Io. Quanto à criação. O propósito eficaz, a determinação e o poder de criar o


mundo residiram em Deus desde a eternidade, mas esse mesmo propósito eficaz
era o de produzir efeito no tempo e na ordem apropriados. O efeito foi
produzido por Deus, porém isso não implica nem sombra de mudança em Deus,
pois nada Lhe foi tirado nem acrescentado.

2o. Quanto à encarnação. O Filho divino assumiu, numa união pessoal conSigo,
uma natureza humana criada. Sua essência incriada não sofreu mudança alguma.
Sua Pessoa eterna não mudou, mas só entrou numa nova relação. A mudança
efetuada por esse evento estupendo ocorreu somente na natureza criada do
homem Jesus Cristo. '

1
Não se refere à fé da igreja católica romana. . . rom1..-!

2
Acrescentado pela “Sagrada Congregação do Concilio”, 2 de janeiro de 1887.

3
Isto parece um tanto equívoco. Os teólogos luteranos, assim como os das demais denominações protestantes, dizem que a base
fundamental (the ultimate basic) de sua teologia é a Bíblia, e não a Confissão de Augsburgo.

4
1
VejaHerzog’s Real- Encyclopedia, Bomberger’s Translation. Artigo,Helvetic ('onfessions.

5
5
Aparecerá traduzida no apêndice.

6
Neologismo usado por Odayr Olivetti para fins exclusivamente técnico--teológicos.

7
Deus dura para sempre e está presente em toda parte, e, existindo sempre e em todo lugar, constitui a
duração e o espaço. Em latim no original. Nota de Odayr Olivetti.
A INTELIGÊNCIA INFINITA DE DEUS

35. Em que aspectos o modo de conhecer de Deus difere do nosso?

O conhecimento de Deus é, Io. Sua essência conhecendo; 2o. Um só ato eterno,


totalmente compreensivo e indivisível.

(1) Não é discursivo, isto é, não procede logicamente do conhecido para o


desconhecido; e sim intuitivo, isto é, discerne tudo diretamente à sua própria luz.

(2) É independente, isto.é, não depende de modo algum das criaturas ou de


suas ações, e sim unicamente da Sua própria intuição infinita de todas as coisas
possíveis à luz da Sua própria razão, e de todas as coisas atuais e futuras à luz do
Seu próprio propósito eterno.

(3) É total e simultânaeo, não sucessivo. É um só ato indivisível de intuição,


vendo todas as coisas em si mesmas, suas relações e sucessões, como sempre
presentes.

(4) É perfeito e essencial, não relativo, isto é, Ele conhece todas as coisas
diretamente, em suas essências ocultas, enquanto nós as conhecemos só por suas
propriedades e em suas relações com os nossos sentidos.

(5) Nós conhecemos imperfeitamente o presente e im-

perfeitamente nos recordamos do passado, enquanto que do futuro nada


sabemos. Deus, porém, conhece perfeitamente todas as coisas presentes,
passadas e futuras por um olhar total, não sucessivo e totalmente compreensivo.

36. Como os teólogos definem esta perfeição divina?

Diz Turretino, Locus 3,2:12 - “A respeito do conhecimento de Deus, deve-se,


antes de tudo, tomar em consideração duas coisas, a saber, o seu modo e o seu
objeto. O modo do conhecimento divino consiste em que Deus conhece todas as
coisas perfeita, imutável, individual e distintamente, e assim distingue-se o Seu
conhecimento daquele dos homens e dos anjos. 1. Ele conhece todas as coisas
perfeitamente, porque as conhece por Si mesmo ou por Sua própria essência, e
não pelos fenômenos das coisas, como as criaturas conhecem objetos. 2. Ele
conhece todas as coisas individualmente, porque as conhece intuitivamente, por
um ato direto de cognição, e não inferencialmente, por meio de um processo de
raciocínio discursivo, ou pela comparação de uma coisa com outra. 3. Ele
conhece todas as coisas distintamente, isto é, não reúne os diversos predicados
das coisas por meio de uma concepção diferente, mas vê através de todas as
coisas por um só ato muito distinto de intuição, e nada, nem a menor coisa, Lhe
escapa. 4. Ele conhece todas as coisas imutavelmente, porque nEle não há nem
sombra de mudança, e, permanecendo Ele mesmo imutável, muda todas as
coisas, e percebe assim todas as diversas mudanças das coisas, por um só ato
imutável de cognição.

37. Como se pode classificar os objetos do conhecimento divino?

Io. Deus mesmo, em Seu próprio ser infinito. E evidente que este, transcendendo
a soma de todos os demais objetos, é o único objeto adequado de um
conhecimento realmente infinito.

2o. Todos os objetos possíveis, quer existam ou tenham

existido, quer não existam e nunca venham a existir, vistos à luz da Sua própria
razão infinita.

3o. Todas as coisas reais que já existiram, existem agora, ou virão a existir, Ele
compreende num só ato eterno e simul-tânaeo de conhecimento, como
atualidades sempre presentes a Ele, e conhecidos como tais à luz de Seu próprio
propósito soberano e eterno.

38. Qual a designação técnica do conhecimento de coisas possíveis, e qual a


base desse conhecimento?

Sua designação técnica éscientia simplicis intelligentice, isto é, conhecimento de


simples inteligência, chamado assim porque o concebemos como simplesmente
um ato da inteligência divina, sem que concorra um ato da vontade divina. Pela
mesma razão tem sido chamado scientia necessária, isto é, não voluntária,
ou não determinada pela vontade. A base desse conhecimento é o conhecimento
essencial e infmitamente perfeito que Deus tem da Sua própria onipotência.

39. Qual a designação técnica do conhecimento das coisas reais, passadas ou


presentes ou futuras, e qual a base desse conhecimento?
E chamado scientia visionis, ou seja, conhecimento de vista, e scientia libera,
quer dizer, conhecimento livre, porque neste caso entendemos que a Sua
inteligência é determinada por um ato concorrente da Sua vontade. A base desse
conhecimento é o conhecimento infinito que Deus tem do Seu propósito
eterno, todo ele - compreensivo e imutável.

40. Como se prova que o conhecimento de Deus estende-se a eventos futuros


que são contingentes?

Para nós os homens os eventos contingentes o são por dois motivos: Io. Suas
causas imediatas podem ser para nós indeterminadas, como no caso do
lançamento de dados; 2o. Suas causas imediatas podem consistir na volição de
um agente livre. Mas, para Deus, os eventos da primeira destas duas classes

não são, de modo algum, contingentes; e os da segunda Ele “preconhece” como


contingentes quanto à causa, todavia nem por isso com menor certeza de que
venham a suceder.

Que Ele preconhece todos os esses eventos é certo -

Io. Porque as Escrituras o afirmam -1 Sam. 23:11,12; Atos 2:23; 15:18; Is.
46:9,10. • ’ ^

2o. Muitas vezes Ele predisse eventos contingentes futuros, e as profecias


cumpriram-se - Mar. 14:30.

3o. Deus é infinito em todas as Suas perfeições; por isso o Seu conhecimento
deve ser (1) perfeito, e pode compreender todas as coisas futuras como também
passadas; (2) independente das criaturas. Ele conhece todas as coisas em si
mesmas à Sua própria luz, e de maneira nenhuma depende da vontade
de qualquer criatura tornar o conhecimento de Deus mais certo ou mais
completo.

41. Como se pode conciliar a certeza da presciência de Deus com a liberdade


dos agentes móveis?

Note-se, primeiro, a dificuldade que aqui se apresenta: a presciência de Deus é


certa; por conseguinte, um evento, um ato, previsto, é com certeza futuro; mas,
se é certo que é futuro, isto é, se é certo que se há de praticar o ato, como pode
ser livre o agente quando o pratica?

Para evitar esta dificuldade, alguns teólogos negam a realidade da liberdade do


homem, e outros afirmam que, sendo livre o conhecimento de Deus, Ele Se
abstém voluntariamente de conhecer aquilo que vão fazer as Suas criaturas
dotadas de liberdade.

Observamos sobre isso -

Io. Que Deus preconhece com certeza todos os eventos futuros, e que o homem é
livre, são dois fatos estabelecidos inabalavelmente sobre provas independentes.
E necessário, pois, que os aceitemos como verdades, tanto um como o
outro, quer nos seja possível conciliá-los, quer não.

2o. Embora a necessidade seja inconciliável com a

liberdade, a certeza moral não o é, como será demonstrado detalhadamente no


Cap.l5, Perg. 25. ■ :

42. Que éscientia media?

Esta é a designação técnica do conhecimento que Deus tem dos eventos


contingentes futuros, e que, segundo supõem os autores desta distinção, não
depende do propósito eterno de Deus tornando certo o evento, e sim do livre ato
da criatura previsto por Deus mediante uma intuição especial. E
chamada scientia media por supor-se que ocupa lugar intermediário entre a
scientia simplicis intelligentue e a scientia visionis. Difere da primeira em não
ter por objeto todas as coisas possíveis, e sim uma classe especial de coisas
realmente futuras. E difere da segunda em não ter sua base no propósito eterno
de Deus, e sim na ação livre das criaturas, simplesmente prevista.

.43. Por quem foi introduzida essa distinção, e com que fim?

Pelo jesuíta Luiz Molina, que nasceu em 1535 e faleceu em 1601, e foi professor
de teologia na Universidade de Évora, Portugal, em sua obra intituladaLifcm
arbitrii cum gratice donis, divinaprescientia, prcedes tinatione et reprobatione
concordia 1 Foi excogitada com o fim de explicar como Deus podia pre-
conhecer com certeza o que as Suas criaturas livres fariam na ausência de
qualquer preordenação soberana da parte dEle, determinando as suas ações;
fazendo assim a preordenação divina dos homens para a felicidade ou para a
infelicidade depender da presciência divina da fé e da obediência dos homens, e
negando que a presciência de Deus dependa da Sua preordenação soberana.

44. Quais os argumentos contra a validade dessa distinção?

Io. Os argumentos em que se baseia essa distinção são insustentáveis. Seus


defensores alegam - (1) As Escrituras-

1 Sam. 23:9-12; Mat. 11:22,23. (2) Que essa distinção é obviamente necessária
para tornar o modo da presciência de Deus conciliável com a liberdade do
homem.

Ao primeiro argumento respondemos que os eventos mencionados nas


passsagens supracitadas das Escrituras não eram futuros. Ensinam simplesmente
que Deus, conhecendo todas as causas, tanto as livres como as necessárias, sabe
o que qualquer criatura fará em quaisquer condições. Mesmo nós sabemos que
se pusermos fogo à pólvora, seguir-se-á uma explosão. Este conhecimento
pertence, pois, à primeira classe das citadas acima (Perg. 38), ou seja, ao
conhecimento de todas as coisas possíveis. Ao segundo argumento respondemos
que a presciência certa de Deus envolve tanto a certeza do futuro ato livre da
criatura como o envolve a Sua preordenação; e que a preordenação soberana de
Deus, com respeito aos atos livres dos homens, só torna certamente futuros esses
atos, e de modo algum determina que sejam praticados, a não ser pela
livre vontade da criatura agindo livremente.

2o. Essa scientia media é desnecessária, porque todos os objetos possíveis do


conhecimento, todas as coisas possíveis, e todas as coisas que realmente hão de
ser,; já foram compreendidas nas duas classes já citadas (Pergs. 38, 39).

3o. Se Deus preconhece com certeza qualquer evento futuro, então é com certeza
futuro, e Ele o preconheceu como futuro com certeza, ou porque já era certo
anteriormente, ou porque a Sua presciência o tornou certo. Se a Sua
presciência o tornou certo, então a presciência envolve a preordenação. Se já era
certo anteriormente, então gostaríamos de saber o que foi que o podia tornar
certo, se não foi o decreto de Deus determinando uma de três coisas. (1) Será
que Deus mesmo causaria o evento imediatamente? (2) Será que o causaria
por meio de alguma segunda causa necessária? (3) Será que algum agente livre o
causaria livremente? Só temos a escolha entre a preordenação de Deus e uma
fatalidade cega.

4o. Esta teoria faz o conhecimento de Deus depender dos

atos de Suas criaturas fora dEle. Isso é, ao mesmo tempo, absurdo e ímpio,
porque Deus é infinito, eterno e absoluto.

5o. As Escrituras ensinam que Deus não só preconhece, mas também preordena
os atos livres dos homens. Is. 10:5-15; Atos 2:23; 4:27,28.

45. Qual a diferença entre sabedoria e conhecimento, e em que é que consiste


a sabedoria de Deus?

Conhecimento é o simples ato da inteligência apreendendo o que uma coisa é, e


compreendendo sua natureza e suas relações ou como é.

Sabedoria pressupõe conhecimento, e é o uso prático que a inteligência,


determinada pela vontade, faz do material do conhecimento. A sabedoria de
Deus é infinita e eterna. A concepção que fazemos dela é que Ele escolhe o fim,
o mais exaltado possível - a manifestação da Sua própria glória - e que escolhe e
dirige, em todas as Suas operações, os melhores meios possíveis para conseguir
esse fim. Sua sabedoria manifesta-se-nos de um modo glorioso nos grandes
teatros da criação, da providência e da graça.

O PODER INFINITO DE DEUS

46. O que se entende pela onipotência de Deus?

Poder é a eficiência que, em virtude de uma lei essencial do pensar,


reconhecemos como inerente a uma causa em relação ao seu efeito. Deus é a
causa primária não causada, e a eficiência causai da Sua vontade é
absolutamente não limitada por coisa alguma fora das próprias perfeições
divinas.

47. Que distinção se faz entre a potestas absoluta e a potestas

ordinata de Deus? . , ,

As Escrituras e a razão ensinam-nos que a eficiência causai de Deus não está


limitada ao universo de causas secundárias e às suas propriedades ativas e às
Suas leis. A frase potestas

absoluta exprime a onipotência de Deus considerada absolutamente em si


mesma - e especificamente essa reserva infinita de poder que permanece nEle
como um livre atributo pessoal, acima e além de todas as forças da natureza e
Suas ordinárias operações providenciais sobre elas e por meio delas.
Criação, milagres, etc., são operações deste poder de Deus. A potestas ordinata,
porém, é o poder de Deus que Ele exerce no sistema estabelecido de causas
secundárias no curso ordinário da Providência, e por meio desse sistema. Os
racionalistas e os defensores do mero naturalismo, que negam os milagres e
toda interferência divina no sistema estabelecido da natureza, naturalmente
admitem só esta segunda, e negam a primeira forma do poder divino. «v1

48. Em que sentido o poder de Deus é limitado, e em que sentido não o é?

Quanto à nossa eficiência causai, estamos cônscios: Io. De que é muito limitada.
Temos poder direto só sobre o curso de nossos pensamentos e a contração de uns
poucos músculos. 2o. De que dependemos do uso de meios para produzirmos
os efeitos desejados. 3o. De que dependemos de circunstâncias exteriores que
nos limitam sempre e sempre nos impõem restrições.

O poder inerente na vontade divina, porém, pode produzir quaisquer efeitos que
Ele deseje imediatamente, e quando condescende em empregar meios, dá-lhes
livremente a eficácia que nesse caso demonstram possuir. Todas as
circunstâncias exteriores, sejam quais forem, são criação dEle, e dependem da
Sua vontade, e por isso não podem limitá-10 de nenhum modo. Deus não é
limitado de nenhum modo que seja no exercício do Seu poder. Ele não pode
cometer pecado, nem produzir contradições, porque o Seu poder é a eficiência
causai de uma essência infinitamente racional e reta. Por isso o Seu poder só é
limitado por Suas próprias perfeições.

49. A distinção que existe entre o nosso poder e a nossa vontade

seria uma perfeição ou um defeito? E ela existe em Deus?

Objeta-se que, se o nosso poder fosse igual aos nossos desígnios, e se cada
voliçâo tivesse como resultado imediato a obra desejada, não estaríamos
cônscios de nenhuma diferença entre o poder e a vontade. Admitimos que é um
defeito no homem quando seu poder não está comensurado à sua vontade, e que
este nunca é o caso com Deus. Por outro lado, porém, quando um homem está
cônscio de possuir forças que podia empregar, mas não quer empregar, está
cônscio de que isto é uma excelência, e de que a sua natureza está mais perfeita
por possuir essa reserva de forças, do que estaria se não a possuísse. Dizer-se,
pois, que o poder não se estende além da Sua vontade de exercê-lo, que não há
em Deus nada que não exerça, é o mesmo que dizer que Ele não é maior do que
a Sua criação. Os atos de um grande homem nos impressionam, principalmente
quando olhados como os indícios de forças muito maiores que ele guarda, em
reserva. Assim é com Deus também.

50. Como se pode provar que a Deus pertence a onipotência absoluta?

Io. As Escrituras o afirmam-Jer. 32:17; Mat. 19:26; Luc. 1:37; Apoc. 19:6.

2o. Esta verdade está envolvida na própria idéia de Deus, como um Ser infinito.

3o. Embora tenhamos visto apenas parte dos Seus caminhos (Jó 26:14), a nossa
experiência estendendo-se, cada vez mais, nos está revelando, constantemente,
provas novas e mais estupendas do Seu poder, que indicam sempre uma
reserva inexaurível.

A VONTADE DE DEUS

51. Que é que se entende pela vontade de Deus?

A vontade de Deus é a essência infinita e eternamente

sábia, poderosa e reta de Deus exercendo o Seu querer. Em nossa concepção dela
é aquele atributo da Deidade ao qual referimos os Seus propósitos e decretos,
como seu princípio.

52. Em que sentido se diz que a vontade de Deus é livre, e em que sentido se
diz que é necessária?

A vontade de Deus é a essência sábia, poderosa e reta de Deus exercendo o Seu


querer. Por conseguinte, Sua vontade, em todos os Seus atos, é certa e, ao
mesmo tempo, muito livremente, tanto sábia quanto reta. E evidente que a
liberdade da indiferença está alheia à natureza de Deus porque a perfeição da
sabedoria consiste em escolher, do modo mais sábio; e a perfeição da retidão
consiste em escolher do modo mais reto.
Por outro lado, porém, a vontade de Deus é, desde toda a eternidade,
independente de todas as Suas criaturas e de todos os Seus atos.

53. Que se entende pela distinção entre a vontade decretatória e a vontade


preceptiva de Deus?

Pela vontade decretatória Deus detemina eficazmente a futurição certa dos


eventos. Pela Sua vontade preceptiva, Deus como Governador moral ordena às
Suas criaturas morais que façam aquilo que Ele julga bom e sábio que elas façam
nas circunstâncias em que se achem.

Nisso não há nada que seja inconciliável. Aquilo que Ele quer como nosso dever
pode ser bem diverso daquilo que Ele quer como Seu propósito. Aquilo que Ele
permite pode estar bem longe de ser aprovado por Ele, e pode muito bem
ser pecado se o fizermos.

54. Que se entende pela distinção entre a vontade secreta e a vontade revelada
de Deus?

A vontade secreta de Deus é Sua vontade decretatória, chamada secreta porque,


embora seja às vezes revelada aos homens nas profecias e nas promessas da
Bíblia, na sua

maior parte nos fica oculta.

A vontade claramente revelada de Deus é Sua vontade preceptiva, que nos é


revelada sempre como a regra do nosso dever - Deut. 29:29.

55. Em que sentido os arminianos mantêm a distinção entre a vontade


antecedente e a vontade conseqüente de Deus, e quais as objeções contra essa
distinção?

E uma distinção inventada pelos escolásticos, e adotada pelos arminianos, na


tentativa de conciliar a vontade de Deus com a teoria deles sobre a liberdade do
homem.

Chamam ato antecedente da vontade de Deus aquilo que precede à ação da


criatura; e.g., antes de Adão pecar, Deus queria que ele fosse feliz. Chamam ato
conseqüente da vontade de Deus aquilo que se segue ao ato da criatura, e que é
a conseqüência desse ato; e.g., depois do pecado de Adão, Deus queria que ele
sofresse a pena devida ao seu pecado.

É evidente que essa distinção não representa verdadeiramente a natureza da


vontade de Deus e Sua relação com os atos de Suas criaturas. Io. Deus é eterno, e
por isso não pode haver nos Seus propósitos distinção de tempo; 2o. Deus é
eternamente onisciente e onipotente. Se, pois, Ele quer alguma coisa, quer
necessariamente desde o princípio os meios de efetuá-la, e consegue assim o fim
desejado. Se não fosse assim, Deus teria ao mesmo tempo e em relação ao
mesmo objeto, duas vontades inconciliáveis. A verdade é que Deus, por um só
ato compreensivo da Sua vontade, determinou eterna e imutavelmente que tudo
o que sucedeu com Adão, do princípio ao fim, sucedesse nessa mesma ordem e
sucessão em que cada evento ocorreu. 3o. Deus é infinitamente independente.
Aviltamos a Deus se pensarmos nEle como alguém que determina aquilo que Ele
não tem poder para efetuar, e depois muda de vontade em conseqüência dos
atos independentes das Suas criaturas.

E verdade que, em conseqüência dos limites naturais das

nossas capacidades, concebemos as diversas intenções do propósito único,


eterno e indivisível de Deus, como se sustentassem entre si uma certa relação
lógica, não temporal, como algo principal e conseqüente. Formamos, assim, a
concepção de que Deus primeiro, na ordem lógica, decretou ou determinou criar
o homem e depois permitir que ele caísse, e a seguir preparar uma redenção -
Turretino.

56. Em que sentido os arminianos mantêm a distinção entre a vontade absoluta


e a vontade condicional de Deus, e quais as objeções contra ela?

Segundo eles, a vontade absoluta de Deus é a que não depende de nenhuma


condição fora dEle,e.g., a determinação de criar o homem. Sua vontade
condicional é a que depende de alguma condição, e.g., Sua determinação de
salvar os que crêem, isto é, sob a condição da fé deles.

É evidente que essa distinção é inconciliável com a natureza de Deus como um


Ser eterno, auto-existente, independente, infinito em todas as Suas perfeições.
Avilta-0 a posição segundo a qual a Sua vontade é simplesmente
parte coordenada da criação, limitando a criatura e sendo por esta limitada. O
erro é o resultado de destacar um fragmento da vontade de Deus do propósito
único, inteiro, e absolutamente compreensivo, eterno. É evidente que, quando
considerado como eterno e um só, o propósito de Deus deve incluir tanto as
condições todas como as suas conseqüências. A vontade de Deus não depende de
nenhuma condição, mas Ele determina eternamente o evento como dependente
da sua condição, e a condição como determinando o evento.

Todos admitem que a vontade preceptiva de Deus, expressa em mandamentos,


promessas e ameaças, depende muitas vezes de condições. Se crermos, seremos
com toda a certeza salvos. Esta é a relação estabelecida imutavelmente entre a fé,
como a condição, e a salvação, como conseqüência, isto é, a fé é a condição da
salvação. Mas isso é coisa muito

diversa do que dizer que a fé que Paulo tinha foi a condição do propósito eterno
de Deus de salvá-lo; porque o mesmo propósito determinou tanto a fé, a
condição, como a salvação, a sua conseqüência. Veja algo mais no Cap. 10,
sobre os decretos.

57. Em que sentido se diz que a vontade de Deus é eterna?

E um só ato eterno, não sucessivo, totalmente compreensivo, determinando


absolutamente ou efetuar ou permitir todas as coisas, em todas as suas relações,
condições e sucessões, que sucederam, sucedem e virão a suceder.

58. Em que sentido se pode dizer que a vontade de Deus é a regra de retidão?

E evidente que, no sentido mais elevado, a respeito da vontade de Deus, não se


pode considerar essa vontade como a base fundamental de toda a retidão, como
igualmente não se pode considerar como a base fundamental de toda a
sabedoria. Porque, nesse caso, seguir-se-ia, Io. que não há diferença essencial
entre o bem e o mal propriamente ditos, mas somente uma diferença constituída
arbitrariamente pelo próprio Deus;2 e 2o. que não há nenhum sentido em que se
possa atribuir retidão a Deus; porque seria o mesmo que dizer que Ele quer como
quer. A verdade é que a Sua vontade opera conforme a Sua sabedoria
infinitamente reta vê estar correto.

Por outro lado, porém, a vontade revelada de Deus é para nós a regra absoluta e
principal da retidão, tanto quando nos manda fazer o que em si mesmo é
indiferente, e assim o torna reto, como quando nos manda fazer o que em si
mesmo e essencialmente é reto, porque é reto.
:■■ ' M: O
A JUSTIÇA ABSOLUTA DE DEUS ^

Que se entende pelas distinções de justiça absoluta e justiça relativa,


59.
rectoral, distributiva e punitiva ou vingadora de Deus?

A justiça absoluta de Deus é a infinita perfeição moral ou retidão universal do


Seu próprio Ser.

A justiça relativa de Deus é a Sua natureza infinitamente reta, considerada como


se manifesta em relação a Suas criaturas morais, como Seu Governador moral.

A justiça de Deus é chamada rectoral quando considerada como se manifesta na


administração geral do Seu governo universal pelo qual Ele cuida das Suas
criaturas e governa as suas ações. E chamada distributiva quando considerada
como se manifesta na ação de Deus pela qual Ele dá a cada criatura exatamente
aquilo que lhe é devido, como prêmio ou como pena; e é chamada punitiva ou
vingadora quando considerada como se manifesta nos atos de exigir e infligir a
pena adequada e proporcional por todo pecado, por causa do seu
demérito intrínseco.

60. Quais as diversas opiniões a respeito da justiça punitiva de Deus, isto é,


quais os diversos motivos alegados para explicar por que Deus pune o pecado?

Os socinianos negam inteiramente a justiça punitiva de Deus e sustentam que


Ele só pune o pecado pelo bem do pecador individual, e pelo bem da sociedade,
unicamente até onde esta possa estar interessada no refreamento ou
no melhoramento do pecador. Os teólogos que sustentam a teoria governamental
da propiciação (ou da expiação), sustentam que Deus não pune o pecado por
causa de qualquer princípio imutável que haja em Si mesmo e que exija a
punição dEle, mas simplesmente pelo bem do universo, com base em
certos grandes princípios imutáveis de política governamental. Reduzem assim a
justiça a uma forma de benevolência geral. Leibnitz afirmava que “a justiça é a
bondade dirigida pela

sabedoria”. Este princípio pressupõe que a felicidade é o maior bem; que a


essência da virtude consiste no desejo de promover a felicidade, e que, por
conseguinte, o único fim da justiça pode ser a prevenção da miséria. Este é o
fundamento da teoria governamental da propiciação. Veja Cap. 25. Também
Park, Atonement (Expiação).
Alguns afirmam que a necessidade de punição do pecado é somente hipotética,
isto é, que é tão-somente um resultado do decreto eterno de Deus.

A verdade é que a própria retidão eterna e essencial de Deus determina que Ele
imutavelmente castigue todo pecado com uma pena proporcional.

61. Como se prova que a benevolência desinteressada não constitui a totalidade


da virtude?

Io. Algumas manifestações de benevolência desinteressada, e.g., o amor natural


paterno, são puramente instintivas, e nada têm de caráter moral positivo.

2o. Algumas manifestações de benevolência desinteressada são positivamente


imorais, como, e.g., quando um juiz cede à sua simpatia para com um criminoso,
ou cede às instâncias dos amigos deste.

3o. Há princípios virtuosos que não se pode reduzir a benevolência


desinteressada, como, e.g., possuirmos na devida consideração prudencial o
nosso próprio bem; termos aspirações e empregarmos esforços para alcançar
excelência pessoal; termos um santo ódio ao pecado por causa do
próprio pecado, e o santo desejo de ver o pecado punido para que
fique vindicada a justiça.

4o. A idéia de dever é a idéia essencial constitutiva da virtude. Nenhuma análise


possível da idéia de benevolência dará como resultado a idéia de obrigação
moral. Esta é simples, irredutível, nítida. O dever é o gênero, e a benevolência é
uma das espécies que ele abrange.

62. Quais as provas derivadas dos princípios universais da natureza humana


que mostram que a justiça de Deus não pode deixar de ser um princípio
fundamental e imutável da Sua natureza, determinando-o a castigar o pecado
por causa do demérito intrínseco deste?

A obrigação que todo governador justo tem de castigar o pecado, o demérito


intrínseco do pecado, e o princípio de que o pecado deve ser punido, são fatos
determinantes da consciência moral. Não podem ser reduzidos a outros
princípios, quaisquer que sejam. Prova-se isso -

Io. Porque estão envolvidos na consciência do seu próprio demérito que tem todo
pecador despertado - “...fiz o que a teus olhos parece mal, para que sejas
justificado quando falares, e puro quando julgares” (Sal. 51: 4.) No seu grau
superior, este sentimento vem a ser o remorso, e este só pode ser apaziguado por
uma expiação. Por isso é que muitos assassinos não tiveram paz enquanto não se
entregaram às autoridades, sentindo então alívio imediato. E milhões de almas
têm achado paz na aplicação do sangue de Cristo a suas consciências
perturbadas.

2o. Todos os homens julgam assim os pecados dos outros. As consciências de


todos os homens bons são gratificadas quando a pena justa caiu sobre o ofensor,
e tais homens ficam irados quando ele escapa. - ^ .

3o. Esse princípio é testemunhado por todos os ritos sacrificiais comuns a todas
as religiões antigas, pelas penitências que, numa ou noutra forma, são quase
universais ainda nos tempos modernos, por todas as leis penais, e
pelos sinônimos das palavras culpa, castigo, justiça, etc., comuns a todos os
idiomas.

4o. E auto-evidente que a aplicação de um castigo injusto é um crime, não


importa quão benévolo seja o motivo que o inspirou, nem quão bom seja o
resultado que o segue. E não é menos auto-evidente que é a justiça de um castigo
merecido que torna bom o seu efeito na sociedade, e não é este efeito que torna
justo o castigo. A execução da pena capital num homem

pelo bem da sociedade será um crime, um grave erro, a não ser que essa
execução seja justificada pelo demérito do homem. Nesse caso seu demérito será
visto por toda a sociedade como o motivo real da sua execução.

63. Como se prova a mesma verdade pela natureza da lei divina?

Grotio, em sua grande obra, Defensio Fidei Catholicce de Satisfactione Christi


(Defesa da Fé Católica sobre a Satisfação Realizada por Cristo), na qual se
origina a Teoria Governamental da Propiciação, sustenta que a lei divina é
produto da vontade divina e que, por conseguinte, Deus pode abrandar essa lei
tanto nos seus elementos preceptivos como nos penais. Mas a verdade é que (a) a
pena é parte essencial da lei divina;

(b) a lei de Deus, quanto a todos os seus princípios essenciais do certo e do


errado, não é produto da vontade divina, e sim um transcrito imutável da
natureza divina; (c) logo, a lei é imutável e é necessário que se cumpra cada i
dela.

Prova-se isso - Io. Porque os princípios fundamentais têm necessariamente a sua


base imutável na natureza divina, ou (a) doutro modo a distinção entre o certo e
o errado seria puramente arbitrária - ao passo que são discernidos pelas nossas
intuições morais a serem absolutos e independentes de qualquer volição divina
ou humana; (b) doutro modo não teriam sentido as palavras quando se diz que
Deus é reto, se a retidão fosse criação arbitrária da Sua vontade; (c) porque
Deus declara que “não pode mentir”, que “não pode negar-se”.

2o. As Escrituras declaram que não é possível afrouxar a lei, que é necessário
que se cumpra - João 7:23; 10:35; Luc. 24:44; Mat. 5:25,26.

3o. As Escrituras declaram que Cristo veio cumprir a lei, e não afrouxá-la - Mat.
5:17,18; Rom. 3:31; 10;4.

64. Que argumento se pode tirar da independência e da absoluta auto-


suficiência de Deus para provar que a justiça punitiva de

Deus é atributo essencial da Sua natureza?

O conceito de que o Ser de Deus é obrigado pelas exigências exteriores da Sua


criação a seguir qualquer curso de ação é inconciliável com os Seus atributos
essenciais. Existem nEle, necessariamente, tanto o motivo dos Seus atos como os
fins que Ele tem em vista-Col. 1:16; Rom. 11:36; Ef. 1:5,6; Rom. 9 :22,23. Se
Ele castiga o pecado porque assim o determinam os princípios da Sua própria
natureza, Ele age independentemente. Mas se recorre ao castigo somente como o
meio necessário para refrear e governar as Suas criaturas, então os Seus atos
dependem dos atos delas.

65. Como se pode provar a mesma verdade pelo amor que Deus tem à
santidade e pelo ódio que tem ao pecado?

Nas Escrituras o amor que Deus tem à santidade e o ódio que tem ao pecado são
representados como essenciais e intrínsecos nEle. Ele ama a santidade por amor
dela própria, e odeia o pecado e tem a determinação de castigá-lo por causa do
seu próprio demérito intrínseco. Ele odeia o pecado nos maus todos os dias - Sal.
5:6; 7:11. “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo...” - Deut.
32:35. Ele retribui a cada um segundo as suas obras - Is. 59:18; 2 Tess. 1:6: “Se
de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam”
- Rom. 1:32: “...conhecendo a justiça de Deus que são dignos de morte os que
tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também consentem aos que
as fazem”- Deut. 7:5,6; 21:22.

66. Como se pode provar esta verdade pelo que as Escrituras ensinam a
respeito da natureza e da necessidade da propiciação de (insto?

Quanto à sua natureza as Escrituras ensinam que Cristo sofreu a pena do pecado
vicariamente como substituto do seu povo eleito, e que assim expiou a sua culpa,
reconciliou-o a Deus e remiu as suas almas dando-Se a Si mesmo como

o preço de remissão exigido em lugar deles. As Escrituras em toda parte e de


todos os modos ensinam que o desígnio da morte de Cristo foi produzir sobre o
Governador do universo moral um efeito expiador do pecado, e não produzir,
nem no coração do pecador, nem na consciência moral do universo inteligente,
uma impressão moral. Isso tudo será provado detalhadamente nos capítulos 25 e
33.

Quanto ànecessidade da propiciação as Escrituras ensinam que era absoluta.


Ensinam que era necessário que Cristo morresse ou, doutra forma, os pecadores
haveriam de perecer - Gál. 2:21; 3:21. Mas a propriedade de produzir
uma impressão moral em cada pecador pessoalmente, ou no ânimo público do
universo em geral, não pode ter como resultado uma necessidade absoluta da
parte de Deus - visto que Deus, que criou o universo e todos os seus membros
componentes, podia naturalmente, se quisesse, produzir neles impressões
morais de qualquer espécie, ou sem meios ou servindo-se de quaisquer meios
que quisesse. Uma necessidade absoluta precisa estar baseada na natureza
imutável de Deus, a qual é a base da sua vontade em todos os seus atos, e a
determina. Logo, a natureza eterna de Deus O obriga, imutavelmente, a punir
todo pecado.

Political Science -“President Theodore D. Woolsey”, vol. 1, págs. 330-335.

“A teoria de que a correção é o fim principal do castigo não resiste a exame. (1)
O estado não é instituição benévola (humane). (2) Essa teoria não faz distinção
entre os crimes. Se um assassino parecesse reformado ao fim de uma semana,
ter-se-iam conseguido os fins da sua detenção e ele deveria ser solto; enquanto
que outro ofensor muito menos culpado poderia bem ter que permanecer preso
durante meses e anos antes que se manifestasse nele a inoculação de bons
princípios. (3) Qual a espécie de correção que se deverá desejar conseguir? Seria
uma correção que dê segurança à sociedade da não repetição do crime? Nesse
caso é a sociedade, e não o

criminoso, que tira proveito do processo corretivo. Ou seria preciso que se


procure conseguir uma transformação radical, de modo que o criminoso deixe de
ser egoísta e cobiçoso, e que se despertem nele os princípios mais excelsos e
puros? Nesse caso será necessário transformar a casa de correção em igreja para
o ensino do evangelho.

“A explicação de que o Estado protege a sua própria existência, ou os habitantes


inocentes do país, infundindo em seus súditos o terror e refreando-os de
cometerem crimes pelo medo do castigo, respondemos que, se bem que este
efeito é real e importante, ainda não está provado que o estado tem o direito de
fazê-lo. E necessário pressupor o crime e que o criminoso merece castigo antes
que o senso moral aprove que lhe seja infligida uma pena. E a medida da
punição exigida pelo bem público na ocasião flutua muito, e às vezes é até
tirânica; além disso, o simples terror, se não se desperta ao mesmo tempo
o sentimento de justiça, é tanto uma fonte de ódio quanto motivo para a
obediência.

“A teoria de que o estado, infligindo castigo ao malfeitor só lhe dá o que ele


merece, é a única que parece ter fundamento sólido. Pressupõe que,
desobedecendo-se a alguma lei reta e justa, cometeu-se um mal moral, e que, de
acordo com uma particularidade que tem o apoio da nossa natureza moral,
convém que o malfeitor sofra algum mal físico ou mental, e que em todas as
formas de governo exercido sobre criaturas morais deve haver um poder capaz
de decidir quanto de castigo deve seguir-se à prática de certas e determinadas
transgressões. O estado, como Paulo diz, é realmente ministro de Deus, vingador
em ira contra aquele que procede mal (Rom. 13:4). Contudo, somente o é numa
esfera muito limitada, e para fins especiais... O Estado castiga atos, e não
pensamentos; intenções manifestando-se em atos, não sentimentos; castiga as
pessoas dentro de um certo território sobre o qual tem jurisdição, e talvez
aqueles seus súditos que cometam crime noutra parte, e mais ninguém; castiga
os atos prejudiciais à sua própria existência e à comunidade

dos seus súditos; não castiga segundo uma escala exata de merecimentos,
porque, sem uma revelação divina, não pode saber quais são os merecimentos
dos indivíduos, nem o que é a culpa relativa que os diversos atos provocam
nas diferentes pessoas.” 3

, A BONDADE ABSOLUTA DE DEUS

67. Que distinções são indicadas pelos termos benevolência, complacência,


misericórdia e graça?

A bondade infinita de Deus é uma perfeição gloriosa que carateriza


proeminentemente a Sua natureza, e que Ele, de um modo infinitamente sábio,
justo e soberano, exerce para com as Suas criaturas de vários modos segundo as
suas relações e condições.

Benevolência é a bondade de Deus considerada genericamente. Estende-se a


todas as suas criaturas, com exceção das condenadas judicialmente por causa de
seus pecados, e faz provisão para o bem-estar delas.

A complacência é a afeição aprobatória com que Deus aprecia as Suas próprias


perfeições infinitas, e toda imagem e reflexão delas nas Suas criaturas,
especialmente nos santificados da nova criação.

A misericórdia de Deus, cujas formas mais passivas são dó e compaixão, é a


bondade divina manifestada com respeito à miséria de Suas criaturas, sentindo-
as e fazendo provisão para o alívio delas, e, no caso dos pecadores impenitentes,
tratando-os com paciência longânima.

A graça de Deus é sua bondade procurando comunicar seus favores e, sobretudo,


a comunhão da Sua própria vida e felicidade, a Suas criaturas morais - as quais,
como criaturas, necessariamente não têm nenhum merecimento - e
proeminentemente Seu amor eletivo, obtendo, mediante um preço

infinito, a felicidade deles, sendo que eles merecem positivamente o castigo


divino, por serem criaturas pecaminosas.

68. Exponha a definição falsa da benevolência divina feita freqüentemente, e


demonstre a sua definição verdadeira.

Define-se muitas vezes a benevolência infinita de Deus como aquele atributo em


virtude do qual Ele comunica a todas as Suas criaturas a maior soma possível de
felicidade, isto é, a maior medida que são capazes de receber, ou a medida que
é compatível com a aquisição da maior soma de felicidade agregada ao universo
moral.

Mas isso pressupõe que Deus está limitado por alguma coisa fora de Si; que não
podia ter assegurado para as Suas criaturas maior felicidade do que a de que
realmente gozam. Pressupõe também que Deus considera a felicidade como
bem superior à excelência moral.

A verdadeira definição da benevolência divina é que é aquele atributo em virtude


do qual Deus produz no universo toda a felicidade compatível com os fins
supremos que tinha em vista na criação. Estes fins colocam-se nesta ordem: 1.
A manifestação da Sua própria glória. 2. A suprema excelência moral de Suas
criaturas. 3. A suprema felicidade de Suas criaturas racionais. .....

69. Quais as fontes do nosso conhecimento de que Deus é

benevolente? -

Ia. A razão. Benevolência é elemento essencial da perfeição moral. Deus é


infinitamente perfeito, e por isso infinitamente benévolo.

2a. A experiência e a observação. A sabedoria de Deus manifestada em idealizar,


e Seu poder manifestado em executar o Seu desígnio nas diversas esferas da
criação, da providência e da religião revelada, foram evidentemente
determinadas sempre por intenções benévolas.

3a. As asserções diretas das Escrituras - Sal. 145:8,9; 1 João 4:8.

70. Como se pode provar que Deus é bondoso e está sempre pronto a perdoar
o pecado?

Nem a razão nem a consciência podem ensinar-nos que Deus quer perdoar o
pecado. E evidentemente dever dos homens perdoar-se mutuamente as ofensas
que recebem, mas o perdão do pecado como pecado não é da nossa alçada.

Parece claro que não pode haver princípio moral que obrigue qualquer
governador soberano a perdoar o pecado como transgressão da lei. Tudo quanto
a razão e a consciência nos asseguram a esse respeito é que não pode haver
perdão do pecado sem uma propiciação. A afeição bondosa que levasse um
governador a preparar uma propiciação seria, de sua natureza essencial,
perfeitamente livre e soberana, e só poderia ser conhecida à medida que fosse
bondosamente revelada. Por isso o evangelho é boas novas, confirmadas por
sinais e maravilhas - Êx. 34:6,7; Ef. 1:7-9.

71. Quais são as diversas teorias inventadas na tentativa de conciliar a


existência do pecado com a bondade de Deus?

Ia. Alguns argumentam que a ação livre é essencial a um sistema moral, e que a
independência absoluta da vontade é essencial à ação livre; que, como objeto do
poder, dirigir a vontade de agentes livres não é superior a operar contradições; e
que por isso Deus, embora onipotente, não poderia impedir que o pecado
entrasse num sistema moral, sem que violasse a natureza desse sistema.

2a. Outros argumentam que Deus, em sua sabedoria infinita, permitiu que o
pecado entrasse por ser isso um meio necessário para promover a maior soma
possível de felicidade no universo como um todo.

Sobre essas teorias dizemos:

Io. Que a primeira tem por base uma falsa idéia das

condições da liberdade e da responsabilidade humanas (veja abaixo, Cap.15); e


mais, que limita de um modo indigno o poder de Deus, representando-O como
querendo e procurando fazer o que não consegue efetuar, e também que O
torna dependente das suas criaturas.

2o. Quanto à segunda teoria acima, devemos estar sempre lembrados de que a
glória de Deus, e não o bem supremo do universo, é o fim supremo de Deus na
criação e na providência.

3o. A permissão do pecado, em sua relação tanto com a religião como com a
bondade de Deus, é um mistério inson-dável, e todas as tentativas de solvê-lo só
servem para misturar palavras com discursos de ignorantes (Jó 38:2). E um
dos privilégios da nossa fé, porém, sabermos que, embora a nossa filosofia não o
possa compreender, é uma permissão muito sábia, reta e misericordiosa; e que
redundará na glória de Deus e no bem dos Seus escolhidos.

72. Como se pode mostrar que não há incongruência entre os atributos de


bondade e de justiça?

Bondade e justiça são aspectos diversos de uma só perfeição moral imutável,


infinitamente sábia e soberana. Deus não é às vezes misericordioso e outras
vezes justo, nem misericordioso até certo ponto e justo até certo ponto, porém
é eterna e infinitamente misericordioso e justo. Em relação à criatura, esta
perfeição infinita da Sua natureza apresenta diversos aspectos, conforme
determinado pelo juízo que a sabedoria infinita faz em cada caso individual.

Mesmo em nossa experiência achamos que, em princípio, não há nenhuma


inconseqüência nestes atributos da nossa natureza moral, apesar de que a nossa
falta de sabedoria e de conhecimento, o sentimento do nosso demérito, e uma
simpatia meramente física, muitas vezes perturbam tanto o nosso juízo como o
nosso coração quando queremos ajustar esses princípios aos casos individuais da
vida.

A VERDADE ABSOLUTA DE DEUS

73. Que é a verdade, considerada como atributo divino?

A verdade de Deus, no seu sentido mais lato, é uma perfeição que qualifica todos
os seus atributos morais e intelectuais. Seu conhecimento é infinitamente
verdadeiro em relação aos seus objetos, e Sua sabedoria não está sob a influência
nem de preconceitos nem da paixão. Sua justiça e Sua bondade, em todas as suas
operações, estão em harmonia com a norma perfeita da Sua natureza. Em todas
as manifestações que Deus faz das Suas perfeições a Suas criaturas, Ele sempre
age de conformidade com a Sua verdadeira natureza, é sempre perfeitamente
conseqüente. Em seu sentido mais especial, esse atributo de verdade qualifica
todas as relações que Deus tem com Suas criaturas racionais. E verdadeiro, fiel,
tanto para conosco quanto para conSigo; e assim está posto um fundamento
seguro para toda a fé e todo o conhecimento. E o fundamento, a base, de toda a
confiança que temos, Io. em nossos sentidos; 2o. em nossa
inteligência (•intellect) e em nossa consciência; 3o. em qualquer
revelação sobrenatural devidamente autenticada.

As duas formas em que essa perfeição se manifesta em relação a nós são: Ia. a
verdade inteira que Ele mantém em todas as Suas comunicações; 2a. sua perfeita
sinceridade ao fazer todas as Suas promessas e Sua fidelidade em cumpri-las.
74. Como se pode conciliar a verdade de Deus com o aparente

não cumprimento de algumas de Suas ameaças? -

As promessas e as ameaças de Deus às vezes são absolutas, e neste caso Ele as


cumpre no sentido exato em que foram feitas. Muitas vezes também elas são
condicionais, dependentes da obediência ou do arrependimento da criatura -
Jon. 3:4,10,11; Jer.l8:7,8. Essa condição pode ser expressa explicitamente, e
pode também ser condição implícita, por entender-se que o caso individual está
naturalmente sujeito

ao princípio geral de que o verdadeiro arrependimento e a fé livram de todas as


ameaças e alcançam todas as bênçãos prometidas. ...

75. Como se pode conciliar com a sinceridade de Deus os convites e as


exortações das Escrituras dirigidas àqueles que Deus não tenciona salvar?

Veja acima (Perg. 53), a distinção entre a vontade pre-ceptiva de Deus e a Sua
vontade decretatória. Seus convites e exortações Ele dirige de boa fé a todos os
homens: Io. porque é dever de todo homem arrepender-se e crer, e a
vontade preceptiva de Deus é que todos o façam; 2o. porque não há coisa alguma
que impeça o pecador de o fazer, senão a sua própria falta de vontade; 3o. em
todos os casos em que alguém cumprir a condição, Deus cumprirá também a Sua
promessa; 4o. Deus nunca prometeu habilitar todos a crerem; 5o. esses convites e
exortações não são dirigidos aos réprobos como tais, e sim a todos os pecadores
como tais, com o fim declarado de salvar desse modo os eleitos. ..

A SOBERANIA INFINITA DE DEUS

76. Que se entende pela soberania de Deus?

Seu direito absoluto de governar todas as Suas criaturas simplesmente segundo a


Sua própria boa vontade, e de dispor delas.

77. Como se prova que esse direito é afirmado nas Escrituras?

Dan. 4:25, 35; Apoc. 4:11; 1 Tim. 6:15; Rom. 9:15-23.

78. Em que se baseia a soberania absoluta de Deus?


Io. Em Sua superioridade, em Seu Ser e em todas as Suas perfeições em relação a
todas as Suas criaturas. . UUOJ

2o. Estas foram por Ele criadas do nada, e são agora mantidas em existência por
Seu poder, para a Sua própria

glória e segundo a Sua própria boa vontade - Rom. 11:36.

3o. Os benefícios infinitos que Ele nos concede, e a nossa dependência dEle,
bem como a nossa bem-aventurança nEle, são motivos para que nós não só
reconheçamos essa verdade gloriosa, como também nos regozijemos nela. O
Senhor reina; regozije-se a terra!

79. Haveria algum sentido em que há limites à soberania de Deus?

E evidente que, considerada em sentido abstrato, como um dos atributos de


Deus, entre outros, a Sua soberania é qualificada por todos os demais. Não pode
senão ser uma soberania infinitamente sábia, reta e misericordiosa.

Mas Deus, considerado em sentido concreto como soberano infinito, não está
limitado por coisa alguma fora dEle próprio. “Todos os moradores da terra são
por ele reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército
do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe
dizer: que fazes?” (Dan. 4:35).

A SANTIDADE INFINITA DE DEUS

80. Que se entende pela santidade de Deus?

Não se deve entender a santidade de Deus como se fosse um atributo entre


outros; antes, o vocábulo é um termo geral que representa a concepção da Sua
perfeição consumada e a Sua glória total. E a sua infinita perfeição moral
coroando a sua infinita inteligência e o Seu infinito poder. Há uma glória que
pertence a cada atributo, considerado por si só, e há uma glória que pertence a
todos eles juntos. A natureza intelectual é a base essencial da natureza moral. A
infinita perfeição moral é coroa da Deidade. A santidade é a glória total assim
coroada.

A santidade no Criador é a perfeição total de uma inteligência infinitamente reta.


A santidade na criatura não é mera
perfeição moral, e sim perfeição da natureza criada de agentes morais segundo a
sua espécie, em união e em comunhão espirituais com o Criador infinito - 1 João
1:3.

A palavra santidade, aplicada a Deus nas Escrituras, representa, Io. pureza moral
- Lev. 11:44; Sal. 145:17; 2o. majestade transcendentemente augusta e venerável
- Is. 6.3; Sal. 22:3; Apoc. 4:8.

“Santificar ao Senhor” é fazê-lO santo, quer dizer, declarar e adorar a Sua


santidade venerando a Sua majestade augusta em toda parte e em tudo aquilo em
que e por que a Sua Pessoa ou o Seu caráter é representado - Is. 8:13; 29:23; Ez.
38:23; Mat. 6:9; lPed.3:15.

1
Harmonia do livre-arbítrio com o dom da graça, a presciência divina, a predestinação e a reprovação. Em
latim no original. Nota de Odayr Olivetti.

2
Veja Charles Hodge, Systematic Theology, Cap. 5, § 9s.,pág. 405. Notado tradutor.

3
Esta citação é apresentada de forma resumida.
A Santíssima Trindade
ji. .•

1. Quais são a etimologia e a significação da palavra Trindade, e quando foi


introduzida na linguagem da Igreja? '

A palavra Trindade (Trinitas) é derivada dttres-unus, tnnus - três em um, ou o


um que é três, e os três que são um; não triplo-trinitas e não triplicitas. A palavra
não se acha nas Escrituras. Mas os termos técnicos são uma necessidade
absoluta em todas as ciências: e, neste caso, tornaram-se
especialmente essenciais por causa das perversões sutis que sofreram
as exposições simples e não técnicas da Bíblia às mãos dos incrédulos e dos
hereges. Esse termo, como definido acima, exprime bem o fato central da grande
doutrina de uma só essência subsistindo eternamente como três Pessoas, todos
os elementos da qual as Escrituras ensinam explicitamente. A palavra grega que
significa trindade foi empregada primeiro nesta conexão por Teófilo, bispo de
Antioquia, na Síria, de 168 a 183. O termo latino Trinitas foi usado primeiro
por Tertuliano, por volta do ano 220 - Eccl. Hist., Mosheim, vol. 1, pág. 121,
nota 7.

2. Qual o significado teológico do termo substantia, e qual a mudança que


ocorreu no seu uso?

Substantia, no uso atual da palavra, é equivalente à essência, à existência


independente. Assim, na Deidade, as três Pessoas são o mesmo em substância,
isto é, de uma só e mesma essência numérica, indivisível.

A palavra foi utilizada, no princípio, como equivalente à subsistentia ou modo de


existência. Neste sentido, enquanto há na Deidade uma só essência, há nela três
substantice ou Pessoas. Veja Turretino, Tomo 1, locus 3, perg. 23.

3. Que outros termos são empregados como os equivalentes de substantia, nas


definições desta doutrina?

Os termos latinosessentia e natura. Em português: essência, substância,


natureza, ser.

4. Qual é o sentido teológico da palavra subsistentia?


E empregada para designar o modo de existência que distingue qualquer coisa
individual de todas as demais coisas, ou qualquer pessoa de todas as demais
pessoas. Aplicada à doutrina da Trindade, subsistência é o modo de existência
que é peculiar a cada uma das três Pessoas divinas, e que em cada uma dElas
constitui a essência única em Pessoa distinta.

5. Qual o significado que, no Novo Testamento, tem a palavra “hypostasis”?

Esta palavra, quanto à sua etimologia, é exatamente equivalente ao termo


substância (sub-stare); vem da palavra grega que significa “estar sob” ou
“debaixo de”.

A palavra é empregada cinco vezes no Novo Testamento:

Io. Em sentido figurado, significando confiança, ou esse estado de ânimo em que


se está cônscio de que se tem uma base firme e segura: 2 Cor. 9:4; 11:17; Heb.
3:14, que vem da fé, Heb. 11:1.

2o. Em sentido literal, significando natureza essencial -Heb. 1:3. Veja Com.
onHeb., de Sampson.

6. Em que sentido a palavra é empregada pelos escritores eclesiásticos?

Até meados do século 4 esta palavra foi empregada geralmente, em conexão


com a doutrina da Trindade, em seu sentido

primário, como equivalente ao termo substância. É empregada neste sentido no


Credo publicado pelo Concilio Niceno, em 325, e também nos decretos do
Concilio de Sardica, na Ilíria, em 347. Estes concordaram em afirmar que, na
Deidade, há só uma hypostasis. Como porém, alguns, naquele tempo, tomassem
a palavra no sentido de pessoa, seu uso foi mudado, por consenso geral,
principalmente graças à influência de Atanásio e, daí por diante, seu sentido, na
linguagem teológica, é o mesmo que pessoa, em distinção da palavra grega
que significa essência. Foi transferida para a lingua portuguesa na forma de um
adjetivo, para designar a união hipostática, ou pessoal, de duas naturezas no
Deus-homem, Jesus Cristo.

7. Que é essencial à personalidade, e como se deve definir a palavra pessoa, em


conexão com a doutrina da Trindade?
A palavra latina suppositum - uma existência distinta e individual; e.g., uma
árvore ou um cavalo, em particular. Uma pessoa ésuppositum intellectuale, uma
existência distinta e individual à qual pertencem as propriedades da razão e da
livre vontade. No círculo inteiro da nossa experiência e observação da existência
pessoal entre as criaturas, a personalidade descansa sobre a distinção de essência
e parece ser inseparável desta. Cada pessoa distinta é uma alma distinta, com ou
sem corpo.

Esse modo distinto de existência que constitui a única essência divina


coordenadamente em três pessoas separadas, é um mistério infinito que não
podemos compreender e que, por isso, nos é impossível definir adequadamente,
e só podemos conhecê-lo até onde nos é revelado. Tudo o que sabemos a
respeito é que essa distinção, chamada personalidade, abrange todas essas
propriedades incomunicáveis, que pertencem eternamente ao Pai, ao Filho e ao
Espírito Santo, separadamente, e não a todos em comum; que ela é a base para
Eles Se congregarem em conselhos, para Se amarem mutuamente e

para atuarem uns sobre os outros, isto é, para interagirem, como, e.g., para o Pai
enviar o Filho, e para o Pai e o Filho enviarem o Espírito Santo, e para o uso dos
pronomes pessoais Eu, Tu, Ele, na revelação que qualquer das Pessoas faz de Si
e das outras.

Gerhard define pessoa assim: “Persona est substantia individua, intelligens,


incommunicabilis, quas non sustentatur in alia, vel ab alia”. Em relação a este
grande mistério da Trindade divina de Pessoas na unidade de essência, a
definição que Calvino oferece é melhor, por ser mais simples: “Por pessoa, pois,
entendo, uma subsistência na essência divina -uma subsistência que, embora
relacionada com as outras duas, distingue-se delas por propriedades
incomunicáveis” -Institutas, Liv. 1, Cap. 13, § 6. . .. .. .. .

8. Que outros termos têm sido empregados pelos teólogos como equivalentes
de Pessoa, nesta conexão?

Em grego, hypostasis, e prosopon - aspecto; em latim: persona, hypostasis,


subsistentia, aspectus; em inglês: person, hypostasis-, em português: pessoa,
hipóstase. .

9. Que é que se entende pelos termos: ”homoousios” (da mesma substância) e


“homoiousios” (de substância semelhante)?
No primeiro concilio ecumênico da Igreja, o qual, constando de trezentos e
dezoito bispos, foi convocado pelo imperador Constantino em Nicéia, na Bitínia,
em 325, havia três grandes partidos que mantinham outras tantas opiniões
a respeito da Trindade. ■

10. O partido ortodoxo, que mantinha a opinião, agora sustentada por todas as
igrejas cristãs, de que o Senhor Jesus, quanto à Sua natureza divina, é da mesma
substância, idêntica, ao do Pai. Esses insistiram em que se Lhe aplicasse o termo
específico “homoousios”, composto de (homos) - o mesmo, e (ousia) -
substância, para ensinar a grande verdade de que as três Pessoas da Deidade são
um só Deus, por serem

da mesma essência numérica.

2o. Os arianos, que mantinham que o Filho de Deus é a maior de todas as


criaturas, mais semelhante a Deus do que qualquer outra, o unigênito Filho de
Deus, criado antes de todos os séculos, por quem Deus criou todas as coisas, e
divino só nesse sentido. Sustentavam que o Filho era “heteroousion” - de
essência diferente, ou genericamente dissemelhante do Pai.

3o. O partido médio, chamado semiarianos, que mantinham que o Filho não é
criatura, mas negavam que fosse Deus no mesmo sentido em que é o Pai,
afirmavam que o Pai é o único Deus absoluto e auto-existente; e que, ao
mesmo tempo e desde toda a eternidade, fez proceder de Si, da Sua própria livre
vontade, uma Pessoa divina, com a mesma natureza e as mesmas propriedades
que Ele mesmo possui. Negavam, pois, que o Filho fosse da mesma substância
(homoousios) com o Pai, mas admitiam que é de uma essência realmente
semelhante e derivada do Pai (“homoiousios”, de semelhante, e
“ousia”, substância) um só, genericamente, mas não numericamente.

Naquele concilio prevaleceram as opiniões do primeiro partido, ou seja, do


partido ortodoxo, e desse tempo em diante têm sido representadas sempre pelo
termo técnico - opiniões homoousianas.

Quanto ao credo promulgado por esse concilio, veja o cap.7.

10. Quais as proposições envolvidas essencialmente na doutrina da Trindade ?

Ia. Há um só Deus, e Ele é um só, isto é, é indivisível.


2a. A única essência divina e indivisível existe, como um todo, eternamente
como Pai, como Filho e como Espírito Santo; possuindo, cada Pessoa, a essência
toda e sendo constituída em Pessoa distinta por certas
propriedades incomunicáveis, não comuns a ela e também às outras.

3a. A distinção entre as três é distinção pessoal, no sentido

de que ocasiona (1) o uso dos pronomes pessoais Eu, Tu, Ele, (2) uma
concorrência em conselho e um amor mútuo, e (3) uma ordem distinta de
operação.

4a. Havendo só uma essência divina, e sendo todos os atributos ou todas as


propriedades ativas inerentes na essência a que pertencem, e inseparáveis dela,
segue-se que todos os atributos divinos devem ser identicamente comuns a cada
uma das três Pessoas que subsistem em comum na única essência divina. Entre
as criaturas, cada pessoa distinta é uma distinta substância numérica, e possui
uma inteligência distinta, uma vontade distinta, etc. Na Deidade, porém, há só
uma substância, uma inteligência,uma vontade, etc., e, contudo, co-
existem eterna mente nessa única essência três Pessoas, cuja
inteligência, vontade, etc., é uma só. Em Cristo, pelo contrário, há dois espíritos,
duas inteligências, duas vontades, e, contudo, ao mesmo tempo, só uma
indivisível Pessoa.

5a. Sendo essas Pessoas divinas um só Deus, todos os atributos divinos são
comuns a cada uma dElas no mesmo sentido; não obstante isso, porém, revela-
se-nos nas Escrituras que existe entre Elas uma certa ordem de subsistência
e operação. (1) Dcsubsistência, de modo que o Pai nem é gerado, nem procede,
enquanto o Filho é eternamente gerado pelo Pai, e o Espírito procede
eternamente do Pai e do Filho; (2) De operação, de modo que a primeira Pessoa
envia a segunda, e opera por meio dEla, e a primeira e a segunda enviam
a terceira e operam por meio dEla.

Por isso é que se diz sempre que o Pai é a primeira Pessoa, o Filho a segunda e o
Espírito Santo a terceira.

6a. Apesar do fato de que todos os atributos divinos são igualmente comuns às
três Pessoas, e que todas as operações divinas realizadas ad extra, tais como a
criação, a providência e a redenção, são atribuídas ao único ser divino - ao Deus
único, considerado em sentido absoluto - e também em separado ao Pai, ao Filho
e ao Espírito Santo, contudo, as Escrituras atribuem algumas operações divinas
realizadas ad intra

exclusivamente a cada uma das Pessoas divinas, respectivamente, e.g., geração


ao Pai, filiação ao Filho, processão ao Espírito Santo; e há também algumas
operações realizadas ad extra que as Escrituras atribuem proeminentemente a
cada Pessoa, respectivamente, e.g., criação ao Pai, redenção ao Filho e
santificação ao Espírito Santo.

Portanto, a fim de estabelecermos esta doutrina em todas as suas partes sobre o


testemunho das Escrituras, é necessário que provemos, em sua ordem, as
seguintes proposições:

Ia. Que Deus é um só.

2a. Que Jesus de Nazaré, quanto à Sua natureza divina, era verdadeiramente
Deus e, ao mesmo tempo, Pessoa distinta do

Pai.

3a. Que o Espírito Santo é verdadeiramente Deus e, ao j mesmo tempo, Pessoa


distinta. i

4a. Que as Escrituras ensinam diretamente que há uma j Trindade de Pessoas em


uma só Deidade. j

5a. Restará reunir tudo o que as Escrituras ensinam a \ respeito das relações
necessárias e eternas que estas três Pessoas 1 divinas mantêm umas com as
outras entre si. Essas relações ! podem ser assim distribuídas: (1) A relação que a
segunda \ Pessoa mantém com a primeira, ou a geração eterna do Filho; :

(2) A relação que a terceira Pessoa mantém com a primeira e a segunda, ou a


processão eterna do Espírito Santo; e (3) Suas propriedades pessoais e a ordem
da Sua operação ad extra. ,

1. DEUS É UM SÓ E HÁ UM SÓ DEUS

As provas desta proposição, tiradas da razão e das Escrituras, foram expostas


acima, Cap. 8, sobre os atributos de Deus, perguntas 12-18.
A resposta à pergunta: como se pode conciliar com esta doutrina fundamental da
unidade divina a existência coordenada de três Pessoas distintas na Trindade,
achar-se-á abaixo na pergunta 94 deste capítulo.

2. JESUS DE NAZARÉ, QUANTO A SUA NATUREZA DIVINA, ERA


VERDADEIRAMENTE DEUS E, AO MESMO TEMPO,

PESSOA DISTINTA DO PAI

11. Quais as diversas opiniões mantidas a respeito da Pessoa

de Cristo? \ - r

A doutrina ortodoxa a respeito da Pessoa de Cristo é que Ele existia desde toda a
eternidade como o Filho coigual ao Pai, constituído da mesma essência infinita e
autoexistente que caracteriza o Pai e o Espírito Santo.

A doutrina ortodoxa a respeito da Pessoa de Cristo, como Ele Se acha


constituído agora, depois da Sua encarnação, vem exposta no Cap. 23. Uma
exposição das diversas opiniões heréticas a respeito da Sua Pessoa achar-se-á
abaixo nas perguntas 96-99, deste capítulo.

12. Até onde esperavam os judeus do tempo de Cristo que o Messias viesse
como Pessoa divina?

É certo que, quando Cristo apareceu, a grande multidão do povo judaico já não
conservava mais a expectação escritu-rística de um Salvador divino, e desejava
que só viesse um príncipe temporal, que fosse, num sentido proeminente,
o predileto do céu. Diz-se, porém, que em alguns dos escritos rabínicos acham-
se espalhados alguns indícios de que alguns dos judeus mais ilustrados e
espirituais mantinham-se ainda fiéis à fé antiga.

13. Como se pode provar pelas Escrituras a preexistência de Jesus em relação


ao Seu nascimento “de mulher”?

Io. Pelas passagens que afirmam que Ele foi o Criador do mundo - João 1:3; Col.
1:15-18.

2o. Pelas passagens que declaram expressamente que Ele estava com o Pai antes
de haver mundo; que era rico e possuía glória-João 1:1,15,30; 6:62; 8:58; 2 Cor.
8:9.

3o. Pelas passagens que declaram que “veio ao mundo”, “desceu do céu”-João
3:13,31; 13:3; 16:28; 1 Cor. 15:47.

14. Como se pode provar que o SENHOR (Jeová; Yavé), que Se manifestou como
o Deus dos judeus (o Deus da Aliança) sob a antiga economia, era a segunda
Pessoa da Trindade, que Se encarnou em Jesus de Nazaré?

Este fato não é afirmado expressamente nas Escrituras, mas pode ser
comprovado pela comparação de muitas passagens. Veja:

Io. Todos os aparecimentos divinos da economia antiga são referidos a uma só


pessoa - Cf. Gên. 18:2,3,17,18; 32:9,29; Êx. 3:14,15; 13:21; 20:1,2; 24:1,2;
25:1,21; Deut. 4:32,35,39; Nee. 9:7-38. Essa Pessoa única é chamada Jeová *
(Senhor, na tradução portuguesa de Figueiredo (SENHOR, na Versão
de Almeida), nome incomunicável de Deus, e, ao mesmo tempo, anjo, ou
enviado - Cf. Gên. 31:11,13; 48:15,16; Os. 12:2,5. Comparem também Êx.
3:14,15 com Atos 7:30-35; Êx. 13:21 com Êx. 14:19; Êx. 20:1,2 com Atos 7:38
e Sal. 62:7,11,12.

2o. Mas ninguém jamais viu a Deus Pai (João 1:18; 6:46); nem podia essa Pessoa
ser um anjo, ou outro enviado semelhante; todavia Deus o Filho foi visto (1 João
1:1,2) e enviado (João 5:36). .
Modernamente descobriu-se que o nome “Jeová” é resultado da leitura do nome por excelência de Deus (o tetragrama inefável,
impronunciável) com os sinais vocálicos doutra palavra. Os judeus, por respeito, não pronunciavam o Nome; em seu lugar liam Adonai
(Senhor) ou Elohim (Deus). E os massoretas, especialistas judeus que criaram o fabuloso sistema de sinais vocálicos e outros sinais,
porque o hebraico escrito só constava de consoantes, seguiram aquela tradição e ao Nome juntaram os sinais vocálicos de Adonai ou
de Elohim. Assim é que “Jeová” é nome inexistente no hebraico. Numa tentativa de aproximação, tem sido comum o emprego de Yavé
ou Iavé. Na seqüência, manteremos a forma “Jeová”, utilizada na edição original desta obra. Nota de Odayr Olivetti.

3o. Jeová, que era ao mesmo tempo o anjo ou o enviado da economia antiga, foi
também exposto pelos profetas como o Salvador de Israel e o Autor da nova
dispensação. Em Zac. 2:11,12 vemos que um Jeová é enviado de outro. Veja
Miq. 5:2. Em Mal. 3:1 declara-se que “o SENHOR”, “o Anjo da aliança”, virá
ao Seu próprio templo; e isto é aplicado a Jesus em Mar. 1:2. Comparem Sal.
97:7 com Heb. 1:6 e Is. 6:1-5 com João 12:41.

4o. Referindo-se a passagens do Velho Testamento, algumas passagens do Novo


parecem implicar diretamente esse fato. Compare Sal. 78:15,16,35 com 1 Cor.
10:9.

5o. A Igreja é uma só sob ambas as dispensações, e desde o princípio Jesus é o


Redentor e a Cabeça da Igreja; é, por isso, mais coerente com tudo o que nos foi
revelado a respeito dos ofícios das três Pessoas divinas na obra da redenção, que
se acate a opinião agora apresentada. Veja também João 8:56,58; Mat. 23:37; 1
Ped. 1:10,11.

15. De que forma no Velho Testamento se fizeram as primeiras indicações da


existência e da operação de uma Pessoa distinta de Deus e ao mesmo tempo
divina?

Nos livros mais antigos fala-se em um Anjo, enviado da parte de Deus,


aparecendo muitas vezes aos homens, e sendo ao mesmo tempo Deus - Gên.
16:7-13. O Anjo de Jeová aparece a Agar, fala como quem tem poder divino e é
chamado Deus -Gên. 18:2-33. Três anjos aparecem a Abraão, e um deles
é chamado Jeová, versículo 17 - Gên. 32:24-30. Um Anjo luta com Jacó e o
abençoa como Deus, e em Os. 12:3-5 esse Anjo é chamado Deus -Êx. 3:2. O
Anjo de Jeová aparece a Moisés na sarça ardente, e nos versículos seguintes esse
Anjo é chamado Jeová, e lhe são dados outros títulos divinos. Esse
Anjo conduziu os israelitas no deserto - Êx. 14:19; Is. 63:9. Jeová é representado
como salvando Seu povo mediante o Anjo da Sua Presença. Assim Mal. 3:1 -
“...de repente virá ao seu templo o SENHOR (Adon, no hebraico), a quem vós
buscais, o Anjo da

aliança, a quem vós desejais...”; aplicado a Cristo em Mar. 1:2.

16. Que provas da deidade do Messias apresenta-nos o Salmo 2?

O referido salmo declara que Ele é o Filho de Deus e que como tal Lhe será dado
o domínio do mundo inteiro e dos seus habitantes. E exorta a todos a se
submeterem a Ele e a confiar nEle, sob pena de incorrerem em Sua ira. Em
Atos 13:33, Paulo declara que este salmo refere-se a Cristo.

17. Que provas temos no Salmo 45?

Os judeus antigos entenderam que este salmo foi dirigido ao Messias, e este fato
é estabelecido em Heb. 1:8,9, Nele, portanto, Jesus é chamado Deus, e Seu trono
um trono eterno.
18. Que provas temos no Salmo 110? ■ -.

Que este salmo se refere ao Messias fica provado por Cristo (Mat. 22:43,44), e
pelo autor da Epístola aos Hebreus (Heb. 5:6; 7:17). Nele o Messias é chamado
Senhor (Adonai) de Davi, e é convidado a assentar-Se à mão direita de Jeová, até
que todos os Seus inimigos se tenham tornado escabelo de Seus pés.

19. Que provas temos em Isaías 9:6?

E evidente que esta passagem se refere ao Messias, o que é confirmado por Mat.
4:14-16. Declara explicitamente que o menino nascido é também “Deus forte,
Pai do futuro século (Figueiredo; literalmente, Pai da eternidade, ou Pai
eterno), Príncipe da paz”.

20. Que provas temos em Miquéias 5:2?

Os judeus entenderam que a referência é a Cristo, o que fica confirmado por


Mat. 2:6 e João 7:42. A passagem declara que as Suas “origens são desde os
tempos antigos, desde os dias da eternidade”, isto é, desde a eternidade.

21. Que provas temos em Malaquias 3:1,2?

É óbvio que esta passagem se refere ao Messias, o que é confirmado por Mar.
1:2.

O templo, que era lugar consagrado à presença e ao culto de Jeová, é chamado


“seu templo”. E no versículo dois Lhe é atribuída uma obra divina de juízo.
* ' f •-». > .

22. Que provas temos na maneira pela qual os escritores do Novo Testamento
aplicam a Cristo as Escrituras do Velho Testamento?

Os apóstolos muitas vezes aplicam a Cristo a linguagem do Velho Testamento,


mesmo quando é evidente que os escritores originais queriam falar em Jeová, e
não no Messias como tal.

O Salmo 102 é evidentemente uma oração dirigida ao Senhor supremo,


atribuindo-Lhe eternidade, criação, governo providencial, culto, bem como
atenção às orações e suas respostas. Mas o texto de Heb. 1:10-12 afirma que o
salmo foi dirigido a Cristo. Em Is. 45:20-25 Jeová fala e afirma a Sua soberania
suprema. Mas em Rom. 14:11 Paulo cita uma parte da declaração de Jeová a
respeito de Si, para provar que teremos todos que comparecer ante o tribunal de
Cristo. Compare também Is. 6:3 com João 12:41.

23. Qual o caráter geral do testemunho dado a respeito deste ponto pelo Novo
Teestamento?

Esta doutrina fundamental nos é apresentada em cada um dos livros e em cada


parágrafo separado do Novo Testamento, ou por afirmação direta ou por
implicação necessária, como qualquer leitor sincero poderá verificar
pessoalmente. A massa inteira deste testemunho é tamanha, e ele se acha
tão intimamente entrelaçado com todos os demais temas de cada passagem, que
aqui só tenho lugar para apresentar uma amostra geral do testemunho,
classificado sob os títulos costumeiros. ^íSUOIVÇa. AUBREY ÇLABi

24. Provas de que o Novo Testamento dá títulos divinos a Cristo:

João 1:1; 20:28; Atos 20:28; Rom. 9:5; 2 Tess. 1:12; 1 Tim.

3:16; Tito 2:13; Heb. 1:8; 1 João 5:20.

25. Provas de que o Novo Testamento atribui títulos divinos a Cristo:

Eternidade- João 1:2; 8:58; 17:5; Apoc. 1:8,17,18; 22:13.

Imutabilidade - Heb. 1:11,12 e 13:8.

Onipresença -João 3:13; Mat. 18:20; 28:20.

Onisciência- Mat. 11:27; João 2:23-25; 21:17; Apoc.

2:23. .

Onipotência-João 5:17; Heb. 1:3; Apoc. 1:8; 11:17.

26. Provas de que o Novo Testamento atribui obras divinas a Cristo:

Criação - João 1:3,10; Col. 1:16,17.

Conservação e Providência-Heb. 1:3; Col. 1:17; Mat.


28:18.

Milagres - João 5:21-26.

Juízo - 2 Cor. 5:10; Mat. 25:31,32; João 5:22.

Obras da graça, a eleição inclusive-João 1:17; 13:18; 15:19.

Santificação - Ef. 5:26.

O enviar o Espírito Santo - João 16:7,14;

O dar a vida eterna - João 10:28.

27. Provas de que o Novo Testamento ensina que se deve prestar culto
supremo a Cristo:

Mat. 28:19; João 5:22,23; 14:1; Atos 7:59,60; 1 Cor. 1:2; 2 Cor. 13:14; Fil.
2:9,10; Heb. 1:6; Apoc. 1:5,6; 5:11,14; 7:10.

28. Provas de que o Filho, sendo Deus como é, éPessoa distinta do Pai.

Este fato é ensinado tão claramente nas Escrituras, e se acha implícito tão
universalmente, que o sistema sabeliano, que o nega, nunca conseguiu muita
aceitação.

Cristo foi enviado pelo Pai, veio dEle, voltou para Ele, recebeu mandamentos
dEle, fez a Sua vontade, ama-O, é dEle amado, dirigiu-Se a Ele em oração,
empregou os pronomes Tu e Ele quando falava a Ele ou a respeito dEle. Isso
também os títulos relativos, Pai e Filho, implicam necessariamente. Veja o Novo
Testamento todo.

Ao estabelecer a doutrina da Trindade, no que diz respeito à segunda Pessoa, o


ponto principal é provar a deidade absoluta de Cristo, pois tão óbvia é a Sua
personalidade distinta que praticamente não há discussão sobre isso. Quando,
porém, se quer estabelecer a veracidade da doutrina a respeito da terceira Pessoa,
o ponto principal é que se prove a Sua personalidade distinta, por ser revelada
tão claramente a Sua divindade absoluta que a respeito dela não há controvérsia.

3. O ESPÍRITO SANTO É VERDADEIRAMENTE DEUS E, AO MESMO


TEMPO, PESSOA DISTINTA.

29. Que seitas sustentavam que o Espírito Santo é uma criatura?

A deidade do Espírito Santo é revelada tão claramente nas Escrituras que poucos
se têm atrevido a pô-la em questão. As antigas controvérsias dos ortodoxos com
os arianos, antes e depois do concilio niceno, 325 d.C., a respeito da deidade
do Filho, ocuparam de tal modo os ânimos dos dois partidos que se prestou
pouca atenção naquele tempo às questões relacionadas com o Espírito Santo.
Diz-se, porém, que Ario ensinava que, assim como o Filho é a primeira e a maior
criatura do Pai, assim também o Espírito Santo é a primeira e a maior criatura do
Filho. Veja Neander, Church Hist., vol. 1, págs. 416-420.

Diz-se que alguns dos discípulos de Macedônio, bispo de Constantinopla, 341-


360 d.C. sustentavam que o Espírito Santo não é Deus supremo. Essa opinião foi
condenada pelo Segundo Concilio Geral de Contantinopla, 381 d.C. Esse
concilio definiu e resguardou a fé ortodoxa acrescentando cláusulas defini-

das à referência simples que o credo antigo fazia ao Espírito Santo. Veja o Credo
do Concilio de Constantinopla, Cap.7.

30. Por quem o Espírito Santo foi considerado só como uma energia de Deus?

Todas aquelas seitas antigas chamadas geralmente monar-quianas e


patripassianas, ensinavam, com algumas distinções subordinadas, que na
Deidade há somente uma Pessoa, assim como uma só essência, e que essa
Pessoa, em diversas relações, é chamada Pai, Filho ou Espírito Santo. No século
16, Socino, que ensinava que Jesus Cristo era mero homem, sustentava que a
expressão Espírito Santo é empregada nas Escrituras como designativo da
energia divina quando opera de um modo particular. Essa é agora a opinião de
todos os unitários e racionalistas modernos.
■ : ! y f*. •

31. Como se pode provar que todos os atributos de personalidade são


atribuídos ao Espírito Santo nas Escrituras?

Os atributos de personalidade são os seguintes: inteligência, volição, operação


independente. Cristo emprega os pronomes Eu, Tu, Ele, quando fala da relação
do Espírito Santo para com Ele ou para com o Pai: “Eu o enviarei”. “Ele
dará testemunho de si.” “A quem o Pai enviará em meu nome.” Assim, pois, Ele
é enviado; dá testemunho; recebe do que é de Cristo e no-lo anuncia. Ensina e
conduz à verdade. Sabe, tem conhecimento, porque esquadrinha as coisas
profundas de Deus. Opera todos os dons sobrenaturais, repartindo-os entre os
homens segundo a Sua boa vontade - João 14:17,26; 15:26; 1 Cor. 2:10,41;
12:11. Ele argúi, glorifica, ajuda, intercede -João 16.7; Rom. 8:26.

32. Como se pode provar Sua personalidade pelos ofícios que as Escrituras
dizem que Ele desempenha ?

O Novo Testamento, em todo o seu ensino, mostra que o plano de redenção


envolve essencialmente a operação do

Espírito Santo em aplicar a salvação que foi a obra realizada pelo Filho e com a
qual Ele visava alcançar-nos. Ele inspirou os profetas e os apóstolos; ensina e
santifica a Igreja; escolhe os oficiais da Igreja, preparando-os pela comunicação
de dons especiais segundo a Sua boa vontade. É o advogado, e todo cristão é Seu
cliente. Traz-nos todas as graças do Cristo assunto ao céu e as torna eficazes em
nossas pessoas em cada momento da nossa vida. E óbvio que a Sua distinção
pessoal acha-se envolvida na própria natureza dessas funções que
Ele desempenha - Luc. 12:12; Atos 5:32; 15:28; 16:6; 28:25; Rom. 15:16; 1 Cor.
2:13; Heb. 2:4; 3:7; 2 Ped. 1:21. ■ -

33. Que argumento se pode deduzir da fórmula do batismo a favor da


personalidade do Espírito Santo?

Os cristãos são batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não


seria possível conciliar todas as leis da linguagem e da razão com esse suposto
ato de falar em “nome” de uma energia, ou o de associar uma energia
coordenadamente com duas pessoas distintas.

34. Como se pode provar Sua personalidade pelo que se diz do pecado contra
o Espírito Santo?

EmMat. 12:31,32; Mar. 3:28,29; eLuc. 12:10, esse pecado é chamado “blasfêmia
contra o Espírito Santo”. Ora, blasfêmia é pecado cometido contra uma pessoa, e
nessas passagens distingue-se essa blasfêmia do mesmo pecado cometido contra
as outras Pessoas da Trindade.

35. Como conciliar com a Sua personalidade expressões como “dar ” ou


“derramar ” o Espírito ?

Essas e outras expressões semelhantes são empregadas figuradamente para


indicar a nossa participação nos dons e operações do Espírito. E uma das figuras
mais naturais e comuns a de designar o dom pelo nome de quem o dá. Assim é
que se fala em “revestir-nos de Cristo”, em sermos “batizados

em Cristo”, etc. - Ef. 5:30; Rom. 13:14; Gál. 3:27. ■

36. Como se prova que os nomes de Deus são aplicados ao Espírito Santo?

Comparando-se, por exemplo, Êx. 17:7 e Sal. 95:7 com Heb. 3:7-11. Veja Atos
5:3,4.
■' • r-i >: ■ •

37. Que atributos divinos as Escrituras Lhe atribuem?

Onipresença - Sal. 139:7; 1 Cor. 12:13.

Onisciência- 1 Cor. 2:10,11.

Onipotência - Luc. 1:35; Rom. 8:11.

38. Que operações no mundo exterior as Escrituras Lhe atribuem?

A criação - Gên. 1:2; Jó 26:13; Sal. 104:30.

O poder de realizar milagres - Mat. 12:28; 1 Cor. 12:9-11.

39. Como fica estabelecida a Sua deidade suprema pelo que as Escrituras
dizem da Sua ação na obra de redenção?

Dizem as Escrituras que Ele é o agente imediato da regeneração: João 3:6; Tito
3:5; e da ressurreição de nossos corpos: Rom. 8:11. Sua ação na geração da
natureza humana de Cristo, na ressurreição dEle e na inspiração das
Escrituras foram manifestações do Seu poder divino em preparar a redenção que
agora Ele aplica.

40. Como conciliar com Sua deidade expressões como “ele não
falará de si mesmo”? • ■ •

Essa expressão e outras semelhantes devemos entender como se referindo à obra


oficial do Espírito; do mesmo modo como entendemos o que se diz de Cristo,
que “foi enviado” pelo Pai e que Lhe está subordinado. O fim que o
Espírito Santo tem em vista em Sua obra oficial nos corações dos homens não é
o de revelar as relações da Sua Pessoa com as outras Pessoas da Deidade, e sim
simplesmente o de revelar o caráter e a obra mediatárias de Cristo.

4. AS ESCRITURAS ENSINAM DIRETAMENTE QUE HÁ UMA


TRINDADE DE PESSOAS

NUMA SÓ DEIDADE Í « :

41. Como é ensinada diretamente esta trindade de Pessoas na fórmula do


batismo?

O batismo em nome de Deus implica o reconhecermos a autoridade divina de


Deus, Sua promessa de dar-nos a vida eterna e a nossa obrigação de Lhe
prestarmos culto divino e obediência. Os cristãos batizados entram assim numa
relação de pacto ou aliança com três Pessoas nomeadas distintamente em sua
ordem. A linguagem implica necessariamente que cada um desses nomes
representa uma Pessoa; e a natureza do sacramento (da ordenança) prova que
cada uma delas é divina. Veja Mat. 28:19.

42. Como é ensinada esta doutrina diretamente na fórmula da bênção


apostólica?

Veja 2 Coríntios 13:13. Temos aí nomeadas distintamente três Pessoas, e cada


uma comunicando uma bênção separada, segundo a Sua própria ordem e
maneira de operação. O amor do Pai em idealizar, a graça do Filho em alcançar,
e a comunicação do Espírito Santo em aplicar a salvação. São três nomes
pessoais distintos de ação pessoal, e cada um igualmente divino.

43. Que prova nos é dada pela narração do batismo de Cristo?

Veja Mateus 3:13-17. Aí também são apresentadas a nós

três Pessoas nomeadas distintamente e descritas como operando cada uma


segundo a Sua própria maneira: o Pai falando do céu, o Espírito descendo em
forma de pomba e pousando sobre Cristo, e Cristo reconhecido como o
Filho amado de Deus, saindo para fora da água. jivoaj

44. Veja o argumento apresentado por João 15:26 e seu contexto.

Nessa passagem também temos três Pessoas distintas mencionadas ao mesmo


tempo, e afirmada a Sua ação relativa. O Filho é a Pessoa que fala sobre o Pai e
sobre o Espírito, e que está reivindicando a respeito de Si o direito de enviar
o Espírito. O Pai é a Pessoa de quem procede o Espírito. A respeito do Espírito o
Filho diz que Ele “virá”, que “será enviado”, que “procede”, que “testificará”.

45. Que dizer sobre aprova da genuinidade de 1 João 5:7?

Não disponho de espaço para apresentar um bom resumo

dos argumentos a favor e contra a genuinidade da cláusula em disputa.


VejaHorne’s Introd., vol. 4, Parte 2, cap. 4, sec. 5.

Limito-me a dizer:

Io. Que a cláusula em disputa é como se segue: “no céu: o Pai, a Palavra, e o
Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra”.

2o. Entre os homens ilustrados e piedosos há diferença de opiniões quanto à


preponderância das evidências; as mais abalizadas inclinam-se contra a
genuinidade da cláusula.

3o. A doutrina ensinada nessa passagem é tão bíblica, e é tão íntima a conexão
gramatical e lógica da cláusula com o contexto, que, para edificação, e no estado
atual do nosso conhecimento, devemos retê-la, mas não devemos citá-la
para estabelecer doutrina.

4o. A rejeição dessa passagem de modo algum diminui a força irresistível das
provas fornecidas pelas Escrituras a favor da doutrina ortodoxa sobre a Trindade.

46. Que passagens do Velho Testamento implicam existir mais de uma Pessoa
na Deidade?

Note-se o uso do plural nas passagens seguintes: Gên. 1:26; 3:22; 11:7; Is. 6:8.
Confira-se a tripla repetição do nome de Jeová em Núm. 6:24-26 com a bênção
apostólica em 2 Cor. 13:13. Note-se também em Is. 6:3 a tripla repetição
da atribuição de santidade.

47. Que passagens do Velho Testamento falam do Filho como Pessoa distinta
do Pai e, ao mesmo tempo, como Deus?

No Salmo 45:6,7 temos o Pai dirigindo-Se ao Filho como Deus e ungindo-O.


Veja também Salmo 110:1 e Isaías 45:6,7,14.

Nas profecias fala-se do Filho sempre como uma Pessoa distinta do Pai e, ao
mesmo tempo, Ele é chamado “Deus Forte”, etc. - Is. 9:6; Jer. 23:6.

48. Que passagens do Velho Testamento falam do Espírito Santo como Pessoa
distinta do Pai e, ao mesmo tempo, como Deus?

Gên. 1;2; 6:3; Jó 26:13; Sal. 104:30; 139:7; Is. 48:16.

5. RESTA-NOS CONSIDERAR O QUE AS ESCRITURAS ENSINAM A


RESPEITO DAS RELAÇÕES ETERNAS E NECESSÁRIAS QUE AS TRÊS
PESSOAS DIVINAS SUSTENTAM ENTRE SI.
A. A RELAÇÃO QUE A SEGUNDA PESSOA MANTÉM COM A PRIMEIRA, OU A GERAÇÃO ETERNA DO FILHO.

49. Qual o uso idiomático da palavra hebraica ben (filho)?

É usada no sentido - Io. De filho. 2o. De descendente; e

aqui, no plural, “filhos de Israel”, em vez de israelitas. Também unida, no plural,


ao nome de um lugar ou nação, para denotar seus habitantes ou os cidadãos,
como “filhos de Sião”, etc. 3o. De discípulo, pupilo, adorador, como “filhos dos
profetas” (1 Reis 20:35); e “filhos de Deus” aplicado (1) a reis, Sal. 2:7; (2) aos
anjos, Gên. 6:2; Jó 38:7; (3) ao povo de Deus, Seus adoradores, Deut. 14:1; 4o.
Em combinação com substantivos, para exprimir idade, qualidade, etc., como
“filho de um ano”, em vez de: com a idade de um ano, Lev. 12:6, no hebraico
; “filhos de Belial”, em vez de malvados, Deut. 13:13; “filho da morte”, em vez
de digno de morte, 1 Sam. 20:31; “outeiro, filho da gordura” em vez de outeiro
fertilíssimo, Is. 5:1, no

hebraico. O mesmo idiotismo acha-se também no grego do Novo Testamento.


Veja Gesenius,Heb. Lex.
50. Em que sentido os homens são chamados c<filhos de Deus” nas
Escrituras?

A idéia geral expressa pela palavra “filho”, compreende -Io. semelhança e


derivação de natureza; 2o. amor paterno e filial; e 3o. estado de herdeiro.

Nesse sentido geral, todas as criaturas santas e inteligentes de Deus são


chamadas Seus filhos. O termo é aplicado em sentido eminente aos reis e
magistrados, que recebem de Deus o seu poder de regência - Sal. 82:6, e aos
cristãos, que são objetos da regeneração espiritual e da adoção - Gál. 3:26,
objetos especiais do favor divino-Mat. 5:9, e são semelhantes a Deus - Mat.
5:45. Quando aplicada a criaturas, quer sejam homens quer anjos - Jó 1:6; 38:7,
a palavra está sempre no plural. No singular é aplicada somente à segunda
Pessoa da Trindade, com a única exceção da aplicação feita a Adão em Luc.
3:38, evidentemente para denotar a sua derivação direta de Deus, sem
a intervenção de um pai humano.

51. Quais os motivos alegados pelos socinianos para a aplicação da expressão


“Filho de Deus” a Cristo nas Escrituras?

Io. Alguns socinianos dizem que o nome Filho de Deus é aplicado a Cristo
somente como um título oficial, do mesmo modo como é aplicado no plural a
reis e magistrados.

2o. Outros socinianos dizem que Cristo foi chamado Filho de Deus somente
porque Deus O fez nascer de modo sobrenatural, e não por geração natural. Em
apoio disso eles citam Lucas 1:35.

52. Que resposta se deve dar ao argumento baseado em Lucas

1:35, de que Jesus foi chamado Filho de Deus somente por causa do Seu
nascimento miraculoso? * ' '

Io. Se esse fosse o motivo fundamental pelo qual o nome

“Filho de Deus” é aplicado tantas vezes a Cristo, Ele deveria ser chamado “Filho
do Espírito”, pois foi o Espírito Santo que desceu sobre a virgem. Mas nunca é
chamado assim, nem há indício algum nas Escrituras de tal relação.
2o. Mesmo que esse tenha sido um dos motivos pelos quais Cristo é chamado
Filho de Deus, não se segue que não haja outros e mais poderosos motivos
revelados nas Escrituras para se Lhe dar esse nome. Provaremos abaixo que há.

3°. E provável que o verdadeiro motivo pelo qual o anjo disse à virgem o que
consta dessa passagem era fazer-lhe saber que, em conseqüência da geração
sobrenatural de seu filho, o menino que havia de nascer dela seria chamado o
“Filho de Deus”. Não seria um menino comum: o que havia de nascer deveria
ser considerado como relacionado de um modo peculiar com Deus, até que se
fizesse a completa revelação da Sua filiação eterna como Pessoa divina.

53. Quais os motivos alegados pelos arianos para a aplicação desse título a
Cristo?

Os arianos dizem que é chamado assim porque Deus O criou mais à Sua
semelhança do que à de qualquer outra criatura, e antes de qualquer outra
criatura.
2 ■■ ' ÍS í j" j R > L í.i Hi. ‘ - ’

54. Qual o motivo alegado por alguns trinitarianos, que quanto a este ponto
afastam-se da fé ortodoxa, para a aplicação desse título a Cristo, e em que
passagens se apoiam?

Eles afirmam que o título “Filho de Deus” não pertence a Cristo como o Logos, a
eterna segunda Pessoa da Trindade, e sim como o Theantropos (o Deus-homem).
Objetam contra a doutrina ortodoxa da filiação eterna de Cristo, alegando:

Io. Que filiação implica em derivação, e, por conseguinte, em inferioridade.

2o. Que a expressão “Filho de Deus” Lhe é aplicada em muitas passagens como
um sinônimo de “Cristo” e de outros títulos oficiais, pertencendo a Seu ofício
mediatorial e não às

Suas relações eternas dentro da Deidade. Suas referências bíblicas são Mat.
16:16; João 1:49, etc.

3o. Que no Sal. 2:7 é declarado expressamente que Cristo foi constituído “Filho
de Deus” no tempo, contrariamente à sua coexistência como tal desde a
eternidade com o Pai por necessidade da Sua natureza.
4o. Tiram o mesmo argumento de Rom. 1:4.

55. Demonstre que não tem fundamento a objeção feita contra a doutrina
ortodoxa pela representação da segunda Pessoa como inferior à primeira.

Essa objeção só parece plausível quando se força muito a analogia entre as


relações humanas de pai e filho e as relações divinas a que se aplicam os
mesmos termos. Mas essas relações humanas podem ser a melhor analogia que
nos é conhecida das relações divinas de Pai e Filho, e servir de base para
a aplicação apropriada desses termos, sem que deixe de ser verdade que as duas
realidades indicadas são necessariamente tão diversas como o material é diverso
do espiritual, o temporal do eterno e o finito do infinito. Além disso, a
objeção reside numa errônea compreensão da doutrina ortodoxa quanto aos
seguintes pontos:

Io. A doutrina da Igreja é que a Pessoa, e não a essência do Filho, é gerada do


Pai. A essência auto-existente da Deidade pertence ao Filho e ao Pai igualmente,
desde toda a eternidade.

2o. O Pai gera ao Filho por um eterno e necessário ato constitucional (não
voluntário). Assim, o Filho de modo algum depende do Pai ou Lhe é inferior, e é
isso que distingue esta doutrina do ensino da Igreja dos semi-arianos. Veja
abaixo, perg. 97. .... • . . . . , , .

56. Demonstre que não tem fundamento a objeção feita contra

a doutrina da Igreja, objeção baseada em Mateus 16:16; João 1:49,etc. ^


uoj .

Em nenhuma dessas passagens se afirma que Ele é Filho

como o Cristo, isto é,como o Mediador, mas que, sendo o Filho eterno de Deus, é
o Cristo, o Rei de Israel, etc.
' -i */

57.Prove que nem o Salmo 2 nem Romanos 1:4ensinam que Cristo foi feito filho
de Deus.

Quanto ao Salmo 2:7, o Dr. Alexander (veja Com. on Psalms), afirma que
significa simplesmente: “Tu és meu Filho, sou hoje, agora, sempre, eternamente
Teu Pai. Mesmo que relacionemos “hoje” com o princípio da relação filial,
a primeira cláusula do versículo, por sua forma de reminiscência ou de narração,
lança isso para um passado indeterminado. “O Senhor me disse”, mas quando?
Se entendermos que o disse desde a eternidade, deverá ver-se que a forma da
expressão seria perfeitamente análoga às outras formas figuradas por cujo meio
as Escrituras representam verdades realmente inefáveis na linguagem humana”.

Quanto a Romanos 1:4, diz o texto: “Declarado (horisthen-tos, de horizo) Filho


de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos
mortos”. (A versão utilizada pelo tradutor da edição de 1895 (que é a de
Figueiredo) diz: “Que foi predestinado Filho de Deus...) A palavra
horizo, empregada oito vezes no Novo Testamento, significa sempre constituir,
designar, ao passo que aqui se insiste em que significa manifestar. Seu
significado restrito é limitar, definir, e bem pode ser tomada no sentido depropor,
caracterizar, é este o sentido em que o Dr. Hodge (Com. on Rom.) informa que
o termo é tomada pela grande maioria dos comentadores, alguns dos chamados
Pais gregos inclusive. Mas, mesmo que se conceda a interpretação que os nossos
oponentes dão a essa passagem, ficarão intactas as provas indubitáveis que
muitas outras passagens dão a favor da doutrina ortodoxa. Não
seriam inconciliáveis os dois motivos pelos quais Cristo é chamado o Filho de
Deus. : , jv A.<

É muito evidente que Cristo chama-Se a Si mesmo Filho de Deus e que foi
reconhecido como tal por Seus discípulos

antes da ressurreição, e por isso esta O podia revelar ou manifestar como sendo o
Filho de Deus, mas não O podia constituir em Filho de Deus.

58. Demonstre que Atos 13:32,33 não prova que Jesus foi feito Filho de Deus.

Dessa passagem tira-se o argumento segundo o qual Jesus, por Sua ressurreição,
foi constituído em Filho de Deus como o primeiro passo na Sua exaltação
oficial. Isso não pode ser:

Io. Porque Ele foi enviado ao mundo como o Filho de Deus. .

2o. Porque a palavra anastesis, tendo suscitado (tendo dado surgimento), não
ressuscitado (a Jesus), refere-se à suscitação de Jesus no Seu nascimento, e não à
Sua ressurreição dentre os mortos. Quando a palavra é empregada para designar
a ressurreição de Jesus, é quase sempre acompanhada da frase dentre os mortos,
como no versículo 34. O versículo 32 declara que foi cumprida a promessa a que
se faz referência no versículo 23. Veja Alexander, Com. onActs.

59. Qual a resposta ortodoxa à pergunta: por que Cristo é chamado “Filho de
Deus”?

A doutrina ortodoxa é que Cristo é chamado “Filho de Deus” nas Escrituras para
indicar a Sua eterna e necessária relação pessoal como a segunda Pessoa da
Deidade com a primeira Pessoa, que é chamada Pai para indicar a
relação recíproca.

60. Como se acha exposta a doutrina nos credos niceno e atanasiano, e na


Confissão de Westminster?

Credo Niceno: “Filho de Deus, gerado de Seu Pai antes de todos os séculos;
Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus; gerado, não
feito, sendo de uma só substância com o Pai”. ;

Credo Atanasiano: “O Filho é somente do Pai, não feito,

nem criado, mas gerado”. ' t

Confissão de Westminster: “O Pai não é de ninguém - não é gerado, nem


procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo é eternamente
procedente do Pai e do Filho”. A tradução que consta no “Livro de
Confissões”, publicado pela Missão Presbiteriana do Brasil Central, principia a
parte pertinente dizendo: “O Pai não é nem gerado, nem procedente de
ninguém...” (Capítulo 2, Seção 3).

61. Que exposição e explicação comuns os escritores ortodoxos dão desta


doutrina?

A geração eterna do Filho é definida comumente como sendo um eterno ato


pessoal do Pai, no qual, por necessidade da Sua natureza, e não por querer, Ele
gera a pessoa (não a essência) do Filho, comunicando-lhe a inteira
substância indivisível da Deidade, sem divisão, alheação ou mudança, de modo
que o Filho é a imagem expressa da Pessoa do Pai, e continua eternamente, não
do ou pelo Pai, e sim no Pai, e o Pai no Filho. Veja especialmente Eleb. 1:2; João
10:38; 14:11; 17:21.0 principal apoio bíblico da doutrina acha-se em João 5:26 -
Turretino, Tom. 1. L. 3, Question29.

Os teólogos que insistem nessa definição crêem que a idéia de derivação está
necessariamente implicada na de geração; que ela é indicada pelos termos
recíprocos Pai e Filho, e por todas as representações dadas nas Escrituras quanto
à relação e ordem das Pessoas da Deidade, sendo sempre o termo Pai empregado
para representar a Deidade absolutamente considerada; e julgam que essa teoria
é necessária para manter a unidade essencial das três Pessoas. Os teólogos
antigos chamavam por isso ao Pai pegetheotetos, “fonte da Deidade”, aitia
huion, “princípio” ou “causa” do Filho, e ao Filho e ao Espírito Santo
chamavamaitiatoi, “causados” (os que dependem de outrem como seu princípio
ou sua causa). . ; -

Resguardavam ao mesmo tempo a igualdade essencial do Filho e do Espírito


Santo com o Pai, dizendo:

Io. Que a inteira essência divina, sem divisão ou mudança, e por isso todos os
atributos divinos, lhes era comunicada.

2o. Que essa comunicação era operada por um ato eterno e necessário do Pai, e
não da Sua livre vontade. Em todos os antigos credos essa identidade quanto à
essência, e subordinação quanto ao modo de subsistência e comunicação,
é expressa do modo indicado acima: “Deus de Deus; Luz de Luz”; “do Pai”;
“verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”; “gerado, não feito”; “da mesma
substância com o Pai”.

62. Demonstre como os escritores ortodoxos procuravam resguardar sua


doutrina contra toda irreverência antropomórfica.

Para resguardar sua doutrina de derivação e de geração eternas contra todas as


concepções grosseiras e antropomórficas, sustentavam cuidadosamente que a
derivação e a geração referidas eram - 1. achronôs, acrônicas, atemporais,
eternas; 2.asomatôs, não corporais, mas espirituais; 3.aoratôs, invisíveis; 4.
achôristôs, não uma transferência local, nem uma comunicação fora, e sim
dentro da Deidade; 5. apathôs, sem paixão nem mudança; 6. pantelôs
akataleptôs, totalmente incompreensíveis.

63. Que é essencial à doutrina bíblica da geração eterna do Filho?


Na exposição acima feita da doutrina ortodoxa não há nada que seja
incompatível com a verdade revelada. Mas a idéia de derivação, como envolvida
naquela da geração eterna do Filho pelo Pai, parece antes ser uma explanação de
fatos revelados do que um fato revelado. Num assunto como este, pois, é melhor
que não se fale positivamente. Tudo quanto é revelado explicitamente é, Io. que o
termo Filho é aplicado à segunda Pessoa da Trindade; 2o. que esse termo, como
o que lhe é equivalente, “unigênito”, revela alguma relação, dentro da Deidade,
da Pessoa do Filho com a do Pai; e que a designação de Pai é recíproca à de
Filho; 3o. que essa relação é tal que Pai

e Filho são o mesmo em substância, e são iguais pessoalmente; que o Pai é


primeiro e o Filho é segundo na ordem de revelação e operação, que o Filho é a
imagem expressa da Pessoa do Pai, não o Pai a da Pessoa do Filho, e que o Filho
não é do nem pelo Pai, e sim no Pai, e o Pai no Filho.

64. Como se pode mostrar que a doutrina comum não se contradiz a si


mesma?

E evidente que não há nada de incompatível na simples exposição bíblica dada


na resposta à última pergunta. Contro-versistas heterodoxos, porém, têm dito que
a doutrina ortodoxa ensina o que é manifestamente inconciliável quando diz
que o Pai comunica a inteira essência divina ao Filho sem alheá-la de Si mesmo,
e sem dividi-la ou mudá-la de outra maneira. Todo este assunto está fora do
círculo da lógica humana; mas, ao mesmo tempo, é evidente que esta doutrina
não envolve nenhuma contradição, nem mistério maior do que o que se acha
envolvido na verdade segundo a qual toda a essência de Deus acha-se presente
ao mesmo tempo, sem divisão nem difusão, em toda parte do espaço.

65. Quais os termos, além do vocábulo “Filho”, empregados para designar as


características da segunda Pessoa e Sua relação com a primeira?

A Palavra, ou o Verbo, com Deus, e que é Deus - João 1:1; A imagem do Deus
invisível - 2 Cor. 4:4; Col. 1:15; A imagem, ou impressão, do Seu ser ou
substância - Heb. 1:3; A forma de Deus - Fil. 2:6; O resplendor da Sua glória -
Heb. 1:3.

66. Que distinção alguns dos chamados “Pais da Igreja”faziam entre a


geração eterna, a antemundanal e a mundanal do Filho?
Io. Por Sua geração eterna entendiam a relação essencial do Filho para com o Pai
como Seu Filho consubstanciai e eterno. ■' -■

2o. Por Sua geração antemundanal entendiam o começo

das operações da Sua energia e a manifestação da Sua Pessoa fora do seio da


Deidade, na esfera da criação externa, etc. -Col. 1:15.

3o. Por Sua geração mundanal entendiam Seu nascimento sobrenatural em carne
- Luc. 1:35.

67. Que distinção alguns dos chamados Pais faziam entre “o logos endiathetos”
(ratio insita, a razão) e o “logosprophorikos”, (ratio prolata, a razão produzida
ou expressa)?

Os “pais” ortodoxos empregavam a frase logos endiathetos para designar o


Verbo, que consideravam como Pessoa distinta, que habita desde toda a
eternidade com o Pai. O motivo pelo qual usavam essa frase era uma analogia
que imaginavam existir entre a relação do logos (verbo ou razão) eterno com
o Pai (João 1:1), e a relação da razão do homem com a sua alma racional. Assim,
segundo eles, o logos endiathetos é a idéia refletiva de Deus mesmo
“hipostatizada”. Foram levados a filosofar assim, sobre um tema
incompreensível, pela influência que exerciam sobre eles os filósofos
platônicos daquele século, que ensinavam que há uma espécie de
trindade metafísica, e.g., que no Deus único há três princípios constitutivos, to
agathon, bondade, nous, inteligência, psuche, vitalidade. Seu fito imediato era
ilustrar a unidade essencial da Trindade e provar, contra os arianos, pela
aplicação que João faz a Cristo do epíteto logos theos, o Verbo de Deus, que Ele
é essencialmente divino.

Designavam o Verbo pela frase logos prophorikos como a razão de Deus


revelada, quando Ele procedeu do Pai na obra da criação.

Os arianos, aproveitando-se da imperfeição essencial desta representação,


embaralharam a controvérsia admitindo que a frastlogosprophorikos tinha
realmente aplicação a Cristo, porque (em Cristo) havia sido produzida por Deus
a Sua primeira e mais exaltada de todas as criaturas e a imagem do Seu
intelecto; mas, ao mesmo tempo, declararam, com alguma aparência de
verdade, que a frase logos endiathetos, quando aplicada a Cristo, ensina puro
sabelianismo, porque não indica distinção pessoal, e nada mais significa senão
unicamente o próprio intelecto do Pai.

68. Se Deus é “ens a se ipso”, auto-existente, como pode o Filho ser Deus, se
Ele é Theos ek Theou, Deus de Deus?

A objeção apresentada nesta pergunta não se aplica à exposição bíblica da


geração eterna do Filho apresentada acima (Perg. 63), e, sim, somente à teoria de
derivação envolvida na definição comum (veja Perg. 61). Os que insistem na
validade dessa definição respondem à objeção dizendo que autoexis-tência é
atributo de essência, e não de Pessoa. O Pai, como Pessoa, gera a Pessoa, não a
essência, do Filho, cuja Pessoa é constituída da mesmíssima essência auto-
existente que a do Pai. Assim o Filho é Deus a se ipso quanto à Sua essência,
e Deus de Deus quanto à Sua Pessoa.

69. Que argumento a favor da filiação eterna de Cristo pode

ser tirado da designação das Pessoas da Trindade como o Pai, o Filho e o


Espírito Santo? ■ \ / ■ - ' ; ;• v, . ;

Na bênção apostólica e na fórmula do batismo o Deus único é designado como o


Pai, o Filho e o Espírito Santo. O termo Filho, porém, não pode ser aplicado a
Cristo nesta conexão como título oficial, ou como designativo de um homem
gerado miraculosamente, porque, Io. é chamado assim como uma das três
Pessoas divinas que constituem a Deidade; 2o. o termo Filho é recíproco do de
Pai, e, por conseguinte, indica a relação da segunda Pessoa com a primeira. Haja
o que mais houver envolvido nessa relação, só pode ser necessário e eterno,
incluindo a paternidade da parte da primeira Pessoa, e filiação da parte da
segunda.

70. Que argumento se pode apresentar em apoio desta doutrina do uso da


palavra “Filho” em Mateus 11:27<? em Lucas 10:22?

É evidente que nestas duas passagens o termo Filho é empregado para designar a
natureza divina da segunda Pessoa da Trindade em Sua relação à primeira. O
Filho, como Filho, ‘ conhece o Pai e é conhecido do Pai, como Pai. É infinito
em conhecimento, e por isso conhece o Pai. É infinito em Seu Ser, ' e por isso
não pode ser conhecido por ninguém, senão pelo i Pai.
71 .Exponha o argumento de João 1:1-14.

Nesta passagem o Verbo eterno, que era Deus, descobriu-Se como tal a Seus
discípulos pela manifestação da Sua própria glória divina, “glória como do
(Filho) unigênito do Pai”. Por conseguinte, era o Filho “unigênito” como Deus, e
não como o Mediador nem como homem.

72. Exponha o argumento que se extrai da aplicação feita nas Escrituras dos
termos monogenes (unigênito) e idios (próprio) à filiação de Cristo.

Embora muitas criaturas de Deus sejam chamadas Seus filhos, a frase “Filho de
Deus”, no singular, e quando limitada pelos termos “próprio” e “unigênito”, é
aplicada unicamente a Cristo.

Este é chamado “Filho unigênito de Deus” - João 1:14,18; 3:16,18; 1 João 4:9.

Em João 5:18 Cristo chama Deus “Seu próprio Pai” (assim no grego). Em
Romanos 8:32 é chamado “Seu próprio Filho”, isto é, o próprio Filho de Deus.

O uso destes termos qualificativos mostra que Cristo é chamado Filho de Deus
num sentido diverso daquele em que outros são chamados assim. Por
conseguinte, é chamado assim como Deus, e não como homem, nem como título
oficial.

73. Que argumento é derivado de João 5:22, e contexto, e de João 10:33-37?

‘Na primeira destas passagens os termos Pai e Filho são

empregados para designar duas Pessoas iguais e divinas. Como Filho, Cristo faz
tudo o que faz o Pai, e é objeto de igual honra.

Na segunda passagem Jesus toma o título “Filho de Deus” como equivalente à


asserção de que é Deus, e os judeus O acusam por isso de blasfemar.

74. Qual a prova fornecida pelas passagens que falam da manifestação do


dom ou da missão do Filho?

Veja 1 João 3:8; Rom. 8:3; João 3:16, etc.

Dizer que o Filho foi enviado ou manifestado implica que já era Filho antes de
ser enviado ou manifestado como tal.

75. Qual o argumento baseado em Romanos 1:3,4?

O argumento é duplo: Io. Diz-se que o Filho de Deus foi feito carne; por
conseguinte, preexistia como Filho. 2o. Por Sua ressurreição foi manifestado
com poder que Ele é o Filho de Deus quanto à Sua natureza divina. E evidente
que as frases, segundo a carne, e segundo o espírito de santificação, são
antitéticas, indicando a primeira a Sua natureza humana, e a segunda a Sua
natureza divina.

76. Qual o argumento baseado em Romanos 8:3?

Aqui Deus envia o Seu Filho em semelhança da carne do pecado. E evidente,


pois, que já era Filho quando Deus O enviou, e que o fato dEle assumir a carne
não O podia constituir em Filho de Deus.

77. Qual o argumento baseado em Colossenses 1:15-21?

Nesta passagem o apóstolo fala extensamente da natureza

e da glória dAquele a quem, no versículo 13, chama “Filho muito amado” de


Deus (Figueiredo). Prova, assim, que Cristo, como Filho, é a imagem do Deus
invisível, que por Ele todas as coisas subsistem, etc.

78. Qual o argumento baseado em Hebreus 1:5-8?

Nesta passagem o autor da Epístola expõe a superioridade de Cristo como


Pessoa divina, e Lhe chama “o Filho” e “o Primogênito”. Este Filho é
introduzido na redondeza da terra e, por conseguinte, já existia como Filho
quando foi introduzido. E, como Filho, é declarado que Ele é Deus e que
Seu trono é eterno.

79. Como se pode conciliar com esta doutrina as passagens que parecem
inferir que o Filho é inferior e sujeito ao Pai?

A alegação é que tais passagens provam que Jesus, como Filho, é inferior e
sujeito ao Pai. '

Respondemos que em João 3:13 se diz que “o Filho do homem” desceu do céu, e
está no céu. Mas, por certo, Jesus, como Filho do homem, não era onipresente.
Em Atos 20:28 se diz que Deus adquiriu a Igreja pelo Seu próprio sangue; mas,
por certo, Cristo, como Deus, não derramou Seu sangue. A explicação é que é de
uso comum nas Escrituras dar à Pessoa única do Deus-homem um título que Lhe
pertence como possuidor de uma natureza, enquanto que aquilo que se afirma a
respeito dEIe só é verdade com respeito à outra natureza. E assim que nas
passagens a que se refere a pergunta acima, Jesus é chamado “Filho de Deus”
porque é o Verbo eterno, enquanto, ao mesmo tempo, nelas parece inferir
que Ele é inferior ao Pai, porque é também homem e Mediador.

B. A RELAÇÃO QUE TERCEIRA PESSOA DA DEIDADE MANTÉM


COM A PRIMEIRA E COM A SEGUNDA, OU A PRO-CESSÃO ETERNA
DO ESPÍRITO SANTO.

80. Qual a etimologia da palavra Espírito, e qual o uso dos seus equivalentes
no hebraico e no grego?

A palavra portuguesa “espírito” vem do latimspiritus, que significa sopro, hálito,


vento, ar, vida, alma. A palavra hebraica equivalente, ruach, tem uso
inteiramente análogo. Io. Seu

sentido primário é vento, ar em movimento, Gên. 8:1; daí, 2o. sopro, respiração,
Gên. 6:17; Jó 17:1; 3o. alma animal, princípio vital nos homens e nos animais, 1
Sam. 30:12; 4o. alma racional do homem, Gên. 41:8, e daí,
metaforicamente, disposição, índole, Num. 5:14; 5o. Espírito de Jeová, Gên. 1:2;
Sal. 51:11. = >

A palavra grega equivalente, pneuma, também tem o mesmo uso. Vem de pneô,
respirar, soprar. Significa, Io. hálito, Apoc. 11:11; 2o. ar em movimento, vento,
João 3:8; 3o. o princípio vital, Mat. 27:50; 4o. a alma racional, falando-se (1) das
almas de homens falecidos, Heb. 12:23; (2) dos demônios, Mat. 10:1; (3) dos
anjos, Heb. 1:14; (4) do Espírito de Deus, falando-se de Deus: (a) absolutamente,
como um atributo da Sua essência, João 4:24; e (b) como a designação pessoal
da terceira Pessoa da Trindade, que é chamada Espírito de Deus, ou do Senhor, e
Espírito Santo, e o Espírito de Cristo, ou de Jesus, ou do Filho de Deus, Atos
16:6,7; Rom. 8:9; 2 Cor. 3:17; Gál. 4:6; Fil. 1:19; 1 Ped. 1:11.

81. Por que a terceira Pessoa da Trindade é chamada Espírito?


Sendo igualmente espiritual a essência divina única e indivisível que é comum a
cada uma das Pessoas divinas, não pode ser que esse termo seja aplicado à
terceira Pessoa como Sua designação pessoal, com o fim de dar-nos a conhecer
assim que essa Pessoa é espiritual quanto à Sua essência, mas, antes, com o fim
de denotar assim o que é peculiar à Sua Pessoa, isto é, Sua relação pessoal com o
Pai e o Filho, e o modo peculiar de sua operação ad extra. Sendo empregados os
epítetos recíprocos Pai e Filho para indicar, a certos respeitos, as relações mútuas
da primeira e da segunda Pessoas, assim também os epítetos Espírito, Espírito de
Deus, Espírito do Filho, o Espírito que procede do Pai, são aplicados à terceira
Pessoa para indicar, a certos respeitos, a relação da terceira Pessoa com as outras
duas.

82. Por que Ele é chamado Espírito Santo?

Sendo a santidade um atributo da essência divina, e a glória tanto do Pai e do


Filho como do Espírito Santo, o termo Santo não pode ser aplicado à terceira
Pessoa em nenhum sentido proeminente como Sua característica pessoal. E,
por conseguinte, indicativo da natureza peculiar de Suas operações. E designado
Espírito Santo porque é o autor da santidade por todo o universo. Assim como o
Filho é também chamado Logos, ou Deus Revelador, assim também o Espírito
Santo é Deus Operador, o fito e glória de cuja obra no mundo moral é a
santidade, como no mundo físico é o belo.

83. Por que Ele é chamado Espírito de Deus?

Esta frase exprime Sua deidade, Sua relação com a Deidade como Deus, 1 Cor.
2:11; Sua íntima relação pessoal com o Pai como Seu espírito consubstacial
procedendo dEle, João 15:26; e o fato de que Ele é o Espírito divino, que,
procedendo do Pai, opera sobre as criaturas, Sal. 104:30; 1 Ped. 4:14.

84. Por que a terceira Pessoa é chamada Espírito de Cristo?

Veja Rom. 8:9; Gál. 4:6; Fil. 1:19; 1 Ped. 1:11. Sendo

idênticas em forma as frases Espírito de Deus e Espírito de Cristo, e afirmando


as Escrituras uniformemente, com uma única exceção em João 15:26, aquilo
mesmo quanto à relação com o Pai, parece evidente que é chamado Espírito de
Cristo pelos mesmos motivos pelos quais é chamado Espírito de Deus. ,

Esta frase manifesta também a relação oficial que o Espírito, em Suas operações
na obra da redenção, mantém com o Deus-homem, no fato de receber do que é
dEle e no-lo anunciar, João 16:14.

85. Que é que se entende pela frase teológica “Processão do Espírito Santo”?

Os teólogos chamam assim a relação que a terceira Pessoa

mantém com a primeira e a segunda, relação na qual, por um ato eterno e


necessário, isto é, não decorrente de uma ação da vontade do Pai e do Filho, Sua
inteira e idêntica essência divina, sem alheação, divisão ou mudança, é
comunicada ao Espírito Santo.

86. Que distinção os teólogos estabelecem entre processão e geração?

Como este assunto inteiro transcende infinitamente a medida de nossas


faculdades, apenas podemos classificar e contrastar os predicados que a
inspiração tem aplicado à relação do Espírito com o Pai e o Filho. ir.;.:

Assim diz Turretino, vol. 1, L. 3, Q. 31: Diferem -

“Io. Quanto à Sua origem; o Filho provém só do Pai, mas o Espírito procede do
Pai e do Filho ao mesmo tempo.

“2o. Quanto ao modo. O Filho provém por geração, que não só efetua
personalidade, mas também semelhança, em virtude da qual o Filho é chamado
imagem do Pai, e em conseqüência da qual recebe a propriedade de comunicar
a mesma essência à outra Pessoa; mas o Espírito, por “spiração” (espiração 1),
que só efetua personalidade, e em conseqüência da qual a Pessoa que procede
não recebe a propriedade de comunicar a outra Pessoa a mesma essência.

“3o. Quanto à ordem. O Filho é a segunda Pessoa, e o Espírito é a terceira; e,


embora ambos sejam eternos, sem princípio nem sucessão, contudo, segundo o
nosso modo de conceber as coisas, a geração precede à processão”. Os termos
técnicos utilizados para exprimir estes dois mistérios são
generatio, “geração”\processio missio, “processão”.

“Os escolásticos procuraram em vão fundar uma distinção entre geração e


espiração sobre as operações diferentes da

inteligência divina e da vontade divina. Dizem que o Filho é gerado per modum
intellectus, e que por isso é chamado Verbo de Deus. O Espírito, per modum
voluntatis, e que por isso é chamado Amor.” 2

87. Qual é a base bíblica desta doutrina?

O que dissemos acima (Perg. 53) em relação à definição teológica comum da


geração eterna do Filho, é verdade também em referência à definição comum da
processão eterna do Espírito Santo, a saber, que, para tornarem mais inteligível
o método da unidade divina em Trindade, os teólogos têm levado longe demais a
idéia de derivação e subordinação na ordem da subsistência pessoal. Este terreno
é ao mesmo tempo sagrado e misterioso. Os pontos dados nas Escrituras não
devem ser forçados, nem se deve especular sobre eles, porém devem ser aceitos
e confessados em sua nudez.

Os dados revelados por inspiração são simplesmente os seguintes: Io. O Pai, o


Filho e o Espírito Santo, três Pessoas divinas, possuem desde a eternidade a
única essência inteira, idêntica, indivisível, imutável. 2o. O Pai, a julgar do Seu
nome característico e pessoal, da ordem em que Seu nome se
encontra uniformemente nas Escrituras, do fato de que o Filho é chamado Seu e
Seu unigênito, do fato de que o Espírito é chamado Seu e procedente dEle, e da
ordem da Sua manifestação e operação ad extra, é evidentemente de
algum modo o primeiro na ordem de subsistência pessoal em relação ao Filho e
ao Espírito Santo. 3o. Pelas mesmas razões, o Filho (veja abaixo, Perg. 89), na
ordem de subsistência pessoal, é antes do Espírito. 4o. Qual seja a natureza real
destas distinções na ordem de subsistência pessoal, nos é revelada só de modo

que é evidente - (1) Que não envolve nenhuma distinção de tempo, porque todos,
o Pai, o Filho e o Espírito Santo, são igualmente eternos. (2) Não depende de
nenhuma ação voluntária, porque isto tornaria a segunda Pessoa dependente da
primeira, e a terceira da primeira e da segunda, sendo certo que todas são “iguais
em poder e glória”. (3) É uma relação tal que a segunda Pessoa é eternamente o
Filho unigênito da primeira Pessoa, e a terceira é eternamente o Espírito
da primeira e da Segunda Pessoas.

88. Qual a diferença entre as igrejas grega e latina quanto a esta doutrina? -3j<
jCr

O célebre Concilio Niceno (325 d.C.) definiu acuradamente a doutrina da


deidade do Filho, mas deixou o testemunho quanto ao Espírito Santo na forma
vaga em que estava no credo antigo, chamado apostólico: “creio no
Espírito Santo”. Todavia, tendo-se levantado a heresia de Macedônio, que
negava a deidade do Espírito Santo, o Concilio de Cons-tantinopla (381 d.C.)
completou assim o tetemunho do credo niceno: “Creio no Espírito Santo, o
Senhor, o Autor da vida, que procede do Pai”.

Suscitou-se depois uma controvérsia sobre a questão se as Escrituras ensinam ou


não que o Espírito Santo tem exatamente a mesma relação com o Filho que a que
tem com o Pai. Os latinos o afirmavam, e na terceira assembléia eclesiástica
realizada em Toledo (589 d.C.)3 acrescentaram a palavra filioque (e do Filho) à
versão latina do credo constantinopolitano, dando a seguinte redação à cláusula:
“Credimus in Spiritum Sanctum qui a Tarte filioque procedit”. A Igreja grega
opôs-se a isso com violência, e até ao dia de hoje o rejeita. Por algum

tempo contentaram-se com o compromisso: “O Espírito procedente do Pai


mediante o Filho” (Spiritum Sanctum qui a Patre per Filium procedit); mas isso
foi afinal rejeitado por ambos os partidos. O credo constantinopolitano,
conforme a emenda feita no Concilio de Toledo, é o atualmente adotado pela
igreja romana, e também por todos os protestantes. Tem o título de “credo
niceno”.

89. Como se pode provar, até onde nos é revelado, que o Espírito Santo tem
com o Filho exatamente a mesma relação que tem com o Pai?

O epíteto “Espírito” é a designação pessoal característica da terceira Pessoa.


Tudo quanto nos é revelado da Sua eterna e necessária relação pessoal com o Pai
ou com o Filho é indicado por essa palavra. Contudo é chamado Espírito do
Filho como igualmente Espírito do Pai. Possui a mesma essência, idêntica, do
Filho como do Pai. O Filho envia o Espírito e opera por meio dEle, assim como
o faz também o Pai. Onde quer que esteja o Seu Espírito, aí revelam e
manifestam o Seu poder tanto o Filho como o Pai - João 14:16,26; 15:26; 16:7.
Com a única exceção da frase “que procede do Pai” 4 (João 15:26), as Escrituras
aplicam à relação do Espírito com o Filho exatamente os mesmos predicados que
aplicam à Sua relação com o Pai.

90. Que ofício o Espírito exerce na economia da redenção?

Na economia da redenção, assim como universalmente,


em todas as operações da Deidade sobre a criatura, Deus o Filho é o Deus
revelado, Deus como Se fez conhecido, e Deus o Espírito é a Pessoa divina que
exerce a Sua energia imediatamente sobre a criatura e nela. No referido credo é

chamado, nesta relação, “o Senhor e Doador de vida”. (Veja resposta mais


detalhada no Cap.24, “O Ofício Medianeiro de Cristo”, Perg. 9).

C. AS PROPRIEDADES PECULIARES A CADA UMA DAS TRÊS PESSOAS


DA DEIDADE, E SUA ORDEM DE OPERAÇÃO “AD EXTRA”. .

91. Qual o significado teológico da palavra “propriedade” quando aplicada à


doutrina da Trindade, e quais são as propriedades pessoais de cada uma das
Pessoas da Deidade? .

Os atributos de Deus são as perfeições da essência divina, e, por isso, comuns às


três Pessoas, que são “da mesma substância”, e, por isso, iguais em poder e
glória”. Já foram discutidos no Cap. 8. No entanto, as propriedades de cada
uma das Pessoas divinas são os modos peculiares de subsistência pessoal que
fazem de cada Pessoa aquilo que ela é, e que também constituem aquela ordem
peculiar de operação que distingue cada Pessoa das outras. As propriedades
peculiares e distintivas que pertencem a cada uma das Pessoas dá-se o
nome técnico de character hypostaticus - caráter pessoal. ; ;

O quanto nos são reveladas, as propriedades pessoais do Pai são as seguintes:


“Não é gerado de ninguém, nem procede de ninguém; é o Pai do Filho, tendo-0
gerado desde a eternidade; o Espírito procede dEle, e é Seu Espírito”. Assim o
Pai é o primeiro em ordem e operação, enviando o Filho e o Espírito Santo, e
operando por meio dEles.

As propriedades pessoais do Filho são as seguintes: é o Filho, desde a


eternidade, o unigênito do Pai. O Espírito é o Espírito do Filho assim como o é
do Pai; é enviado pelo Pai, a quem revela; e, assim como o Pai, envia o Espírito
e opera por meio dEle.

As propriedades pessoais do Espírito são as seguintes: é o Espírito do Pai e do


Filho, procedendo dEles desde a eternidade; é enviado pelo Pai e pelo Filho, que
operam por meio dEle; ele opera imediatamente sobre a criatura.

92. Que espécie de subordinação os escritores antigos atribuíam à segunda e à


terceira Pessoas em relação à primeira?
Afirmavam, como mostramos acima, que a geração eterna do Filho pelo Pai, e a
processão eterna do Espírito, vindo do Pai e do Filho, envolviam em ambos os
casos derivação da essência. Ilustravam sua idéia deste ato eterno e necessário
de comunicação com o exemplo de um corpo luminoso que lança raios de luz
durante o tempo inteiro de sua existência. Assim o credo niceno define o Filho
como “Deus de Deus, Luz de Luz”. Assim como o brilho do sol é coevo com sua
existência e tem a mesma essência do sol como fonte, eles queriam por meio
desta ilustração dar expressão da sua fé na identidade e conseqüente igualdade
das Pessoas divinas quanto à Sua essência, e na subordinação relativa da
segunda à primeira e da terceira à segunda, quanto à Sua subsistência pessoal
e conseqüente ordem de operação.

93. Que é que se exprime pelo uso dos termos primeira, segunda e terceira, em
referência às Pessoas da Trindade?

Estes termos são aplicados às Pessoas da Trindade, porque- Io. As Escrituras dão
sempre Seus nomes nesta ordem. 2o. As designações pessoais de Pai, Filho e
Espírito do Pai e do Filho, indicam esta ordem de subsistência pessoal. 3o.
Seus respectivos modos de operação estão sempre nesta ordem. O Pai envia o
Filho e opera por meio dEle; e o Pai e o Filho enviam o Espírito e operam por
meio dEle. As Escrituras nunca, nem direta nem indiretamente, indicam
ordem diferente.

Quanto à relação externa da Deidade com a criatura, parece que o Pai nos é
revelado só como o vemos no Filho, que é o Logos eterno ou o Verbo divino, a
imagem expressa da Pessoa do Pai. “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho
unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” - João 1:18. E o Pai e
o Filho operam diretamente sobre a criatura somente mediante o Espírito.

“O Pai é toda a plenitude da Deidade invisível, sem forma, a quem ninguém viu
nem pode ver.”

“O Filho é toda a plenitude da Deidade manifestada.”

“O Espírito é toda a plenitude da Deidade operando imediatamente sobre a


criatura e tornando assim manifesto o Pai na imagem do Filho, e pelo poder do
Espírito.”

94. Como se pode conciliar com a unidade da Deidade a idéia de distinções


pessoais na Deidade?

Ainda que a constituição trinopessoal da Deidade esteja inteiramente além do


alcance da razão humana, como de fato está, e nos seja conhecido unicamente
por meio de uma revelação sobrenatural, como de fato é, é evidente que não
há contradição na proposição dupla segundo a qual Deus é um só e, ao mesmo
tempo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são esse Deus único. São um só num
sentido, e três num sentido inteiramente diferente. A essência eterna, auto-
existente, divina, constituindo todas essas perfeições divinas chamadas atributos
de Deus, é, no mesmo sentido e no mesmo grau, comum a todas as três Pessoas.
Nesse sentido são um só. Entretanto essa essência divina existe eternamente
como Pai e Filho e Espírito Santo, distintos por propriedades pessoais. Nesse
sentido são três. Cremos nisso, não porque o entendamos, mas porque Deus Se
nos revelou assim.

95. Como se pode conciliar a encarnação do Filho com a unidade divina?

O Filho é idêntico ao Pai e ao Espírito quanto à essência, mas distinto dEles


quanto à subsistência pessoal. Na encarnação não foi feita homem a essência
divina do Filho, porém Ele, como Pessoa divina, entrou numa relação
pessoal com a natureza humana do homem Cristo Jesus. Isto não constituiu uma
nova pessoa, mas simplesmente introduziu um novo elemento na Sua Pessoa
eterna. Foi uma união pessoal do Filho com uma alma e um corpo humanos, e
não houve

nenhuma mudança nem na essência divina, nem na relação pessoal do Filho com
o Pai e com o Espírito Santo.

OPINIÕES HERÉTICAS

96. Quais são os três grandes pontos que, juntos, constituem o mistério da
Trindade como Ela nos é revelada nas Escrituras, e cuja inconciliabilidade
aparente ocasiona a grande objeção contra esta doutrina na mente dos hereges
de todas as classes?

Os três grandes pontos são os seguintes: Io. Há absolutamente só um Deus, só


uma substância auto-existente, eterna, imutável, espiritual. 2o. Pai, Filho e
Espírito Santo são cada um igualmente este Deus único - são, cada um em
comum, constituídos da totalidade dessa essência indivisível e inalienável, tendo
a mesma e idêntica essência numérica, e os mesmos e idênticos atributos. 3o.
Não obstante isso, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas distintas,
sendo que cada uma Se distingue por Suas diversas propriedades pessoais. A
dificuldade para nós está em que, no caso dos únicos espíritos criados de que
temos qualquer conhecimento, cada pessoa é uma essência espiritual distinta, e
sua personalidade distinta está discriminada definitivamente por diferença
numérica de atributos. Não podemos conceber como três pessoas podem ter
entre si uma só inteligência e vontade.

Por conseguinte, todas as heresias sobre este ponto tiveram origem numa ou
noutra de três tendências distintas, ou na tentativa de desembaraçar a doutrina de
suas inconciliabili-dades aparentes negando ou abatendo um ou outro de
seus elementos constitutivos. Assim, Io. Uma tendência é cortar o nó da
dificuldade negando a deidade do Senhor Jesus Cristo e a personalidade do
Espírito Santo, tornando assim Deus o Pai na única Pessoa divina e possuidor
exclusivo da única substância divina. 2o. Uma segunda tendência herética é a
de negar a unidade divina e manter a existência de três Deuses, distintos tanto
em essência como em Pessoa. 3o. A terceira

tendência herética é a de levar tão longe a unidade divina que o Pai e o Filho e o
Espírito Santo tornam-Se uma essência idêntica, só se admitindo que são três
diversos nomes, aspectos ou funções da única Pessoa divina.

97. Quais as diversas opiniões mantidas por aqueles que negam a deidade de
Cristo e a deidade ou a personalidade do Espírito Santo?

Ia. A dos antroponianos,5 que afirmam que Cristo era mero homem. Na Igreja
Primitiva eram conhecidos pelos nomes de ebionitas e alogi - negadores do
Logos, enquanto que na Igreja moderna são conhecidos pelo nome de
socinianos. Veja a exposição da história e doutrina dos socinianos acima, Cap.
6, Perg. 11-13. Entre os que afirmam que Jesus era mero homem há diferença de
opinião quanto à Sua concepção, se foi sobrenatural ou não, sobre a questão de
Seus dons sobrenaturais como profeta, e sobre o grau de honra e obediência que
Lhe devemos. Alguns admitem que Ele teve uma comissão sobrenatural e
divina, e qualificações divinas e sobrenaturais superiores às de qualquer outro
profeta. Outros negam inteiramente o elemento sobrenatural, e O têm em conta
de mero homem dotado de um gênio moral e religioso
muito superior. ' •” " ' 5 '■
Toda esta classe sustenta que Deus é uma só Pessoa, como é uma só essência, e a
maior parte toma a expressão Espírito Santo somente como a designação da
energia divina manifestada nas coisas humanas. Alguns dos racionalistas
alemães, que na maior parte concordam com os socinianos, afirmam que a
expressão Espírito Santo assinala a única Pessoa divina operando no mundo da
natureza - criação e providência. Outros sustentam que assinala Deus na Igreja.

2a. Osgnósticos, em geral, afirmavam que o Deus supremo é um só, tanto em


essência como em Pessoa, e que dEle emanavam diversas ordens de seres
espirituais, sendo que nenhum deles é realmente Deus e, contudo, são divinos,
por procederem dEle mediante emanação. Chamavam-nos aeons, e destes Cristo
era o maior. A soma total desses aeons constituía, na opinião dos gnósticos, o
pan topleroma tes theotetos, a soma inteira de todas as auto-revelações ou auto-
comunicações atuais ou possíveis da Deidade inacessível, e que, segundo o
apóstolo Paulo, se haviam realizado única e plenamente em Cristo -Col. 2:9.

3a. Os primeiros trinitários nominais. “Na suâ construção da doutrina da


Trindade, o Filho não é uma subsistência na essência, mas somente uma
efluência ou energia procedendo dela; por isso não podiam afirmar logicamente
a união da natureza divina, ou da própria substância da Deidade com
a humanidade de Jesus. Uma simples energia efluente, procedendo de Deus e
entrando na humanidade de Cristo, não seria mais do que uma inspiração
imanente semelhante à dos profetas” - Shedd, Hist. Christ. Doc., Liv. 3, Cap. 5,
§ 1.

4a. Os arianos, nome proveniente de Ario, presbítero de Alexandria durante a


primeira parte do quarto século, o grande oponente de Agostinho. Afirmava que
a Deidade consiste numa só Pessoa eterna a qual, no princípio, antes de todos
os séculos, criou à Sua imagem um ser sobreangélico Qieteroousion, de essência
diversa), seu Filho unigênito, o princípio da criação de Deus, por meio de quem
também fez os mundos. A primeira e maior das criaturas assim criadas pelo
Filho foi o Espírito Santo. No cumprimento do tempo, esse Filho encarnou na
Pessoa de Jesus de Nazaré.

5a. A doutrina dos semiarianos. Este partido foi chamado assim por ocupar um
terreno intermédio entre os arianos e os ortodoxos. Sustentavam que o Deus
absoluto e auto-existente é uma só Pessoa, porém que o Filho é pessoa divina, de
uma essência gloriosa e semelhante mas não idêntica à do Pai, e
que foi gerado desde a eternidade pelo Pai no livre exercício da Sua vontade e do
Seu poder, e, por isso, é subordinado ao Pai e dEle dependente. Esta foi a idéia
disseminada primeiro por Orígenes e defendida com muita eloqüência no
Concilio Niceno por Eusébio, bispo de Cesaréia, e por Eusébio, bispo da
Nicomédia.

Parece que alguns dos semiarianos concordavam com os arianos em considerar o


Espírito Santo como a primeira e mais gloriosa criatura do Filho, mas que a
maioria deles tomava as palavras “Espírito Santo” como o nome de uma energia
de Deus ou como sinônimo da palavra “Deus”.

Neologismo técnico empregado por Odayr Olivetti em sua tradução da obra


Teologia Sistemática, de Louis Berkhof (Luz para o Caminho Publicações,
Campinas, 1990), pág. 98.

Sobre isso ver Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology, Three Volumes in One,
The Judson Press, 12a. ed., julho de 1949, pág. 342, notas, principalmente a
nota sobre “Edwards, Essay on the Trinity”. Nota de Odayr Olivetti.

Apud H. Bettenson, in Documentos da Igreja Cristã, ASTE, S. Paulo, 1967, pág. 56,
a “cláusula filioque” já fora utilizada no Concilio de Toledo realizado em
477, tornou-se cada vez mais popular no Ocidente, e foi inserida em diversas
versões do credo. Nota de Odayr Olivetti.

De certa forma abrandada pela expressão “que eu vos enviarei” (ARA),


presente na mesma passagem citada. Nota de Odayr Olivetti.

Neologismo criado por Odayr Olivetti para substituir o termo


“humanitarianos”, termo de sentido ambíguo, empregado pelo
tradutor original.
98. Qual era a posição daqueles que procuravam diminuir de suas
dificuldades a doutrina da Trindade negando a unidade divina?

Eram os triteístas, que afirmavam que há na Deidade três ousiai, essências,


consideradas numericamente, como também três hypostaseis, Pessoas.
Sustentavam que se devia entender a ousia, a essência, como que na mera
concepção de gênero, do qual a hipostasis, a pessoa, é um indivíduo ou uma
espécie; que “há três Deuses, genericamente um, porém individualmente
distintos”. João Ascusuages, de Constantinopla, e João Filopono, de Alexandria
(na segunda parte do sexto século) foram cabeças dos triteístas. .....

99. Qual era a posição daqueles que foram tão longe em sua defesa da
unidade divina, em oposição aos triteístas, que levaram à idéia de que o Pai, e o
Filho e o Espírito Santo são uma só Pessoa como também uma só essência?

Os monarquianos, assim chamados porque rejeitavam a tríada e mantinham a


mônada ou a unidade absoluta quanto às Pessoas como também à essência da
Deidade, eram de diversas classes; alguns, como, e.g., os alogi, eram
muito semelhantes aos unitários modernos, devendo estes dois termos exprimir a
mesma idéia. Outros, como Práxeas, da Ásia Menor,

de cerca de 200 d.C., Noeto, de Esmirna, de cerca de 230 d.C., e Berilo, de


Bostra, na Arábia, de cerca de 250 d.C., sustentavam que essa única Pessoa
divina encarnou no homem Cristo, e por isso se lhes deu o nome
dzpatripassianos. Sabélio, presbítero de Ptolomais, em meados do terceiro
século, adotou as idéias dos monarquianos e, em oposição à doutrina
promulgada por Orígenes e seus discípulos, afirmava que os títulos de Pai,
Filho e Espírito Santo eram tão-somente outros tantos nomes e manifestações de
um só e do mesmo Ser divino. Converteu assim a distinção real e objetiva de
Pessoas (uma Trindade de essência) numa distinção meramente subjetiva e
modal (Trindade de manifestações). “Afirmavam que só há uma única Pessoa
divina. Esta Pessoa única, entendida em Sua simplicidade e em Sua eternidade
abstratas, chama-Se Deus o Pai; mas em Sua encarnação chama-Se Deus o Filho.
As vezes era empregado um modo diverso de apreender e de expor a doutrina.
Deus, em Sua natureza e em Seu modo de ser ocultos e não revelados, chama-Se
Deus o Pai, e quando sai das profundidades da Sua essência, criando o universo
e revelando-Se e comunicando-Se a este, toma assim sobre Si uma
relação diversa e também um nome diverso, que é o de Deus o Filho, ou o
Logos.”

100. Por quais considerações se pode mostrar que a doutrina da Trindade é um


elemento fundamental do evangelho ?

Não se pode afirmar que as sutilezas das especulações teológicas sobre este
ponto sejam essenciais à fé, e sim que é essencial à salvação que se creia nas três
Pessoas em um só Deus, nos termos em que são reveladas nas
Escrituras. Considerações: Ia. O único Deus verdadeiro é Aquele que Se nos tem
revelado nas Escrituras; e a própria finalidade do evangelho é levar-nos a
conhecer esse Deus precisamente no aspecto em que Se nos revelou. Qualquer
outra concepção que fizermos de Deus apresentará ao nosso espírito e à
nossa consciência um deus falso. Neste sentido não pode haver

compromisso ou concessão sem traição. Os socinianos, os arianos e os trinitários


prestam culto a deuses diferentes.

2a. As Escrituras declaram explicitamente que o conhecimento do Deus


verdadeiro e de Jesus Cristo que Ele enviou é a vida eterna; e que é necessário
que honremos o Filho como honramos o Pai - João 5:23; 14:1; 17:3; 1 João
2:23; 5:20.

3a. No rito de iniciação na Igreja Cristã somos batizados no nome de cada uma
das três Pessoas da Trindade - Mat. 28:19.

4a. O plano inteiro da redenção é baseado sobre esta doutrina. A justificação, a


santificação, a adoção, e tudo mais que torna o evangelho a sabedoria e o poder
de Deus para a salvação, só se pode entender à luz dessa verdade fundamental.

5 a. Como fato histórico, não se pode negar que sempre que em qualquer igreja
foi abandonada ou obscurecida a doutrina da Trindade, sofreram as mesmas
conseqüências todas as demais doutrinas características do evangelho.
Os Decretos de Deus em Geral

1. Quais são os decretos de Deus?

Veja Conf de Fé, Cap. 3; Cat. Maior, pág. 12, e Breve Cat., pág. 7.

O decreto de Deus é Seu propósito soberano, eterno, imutável, santo e sábio,


abrangendo ao mesmo tempo todas as coisas que existiram, existem agora e em
qualquer tempo existirão, com suas causas, condições, sucessões e relações,
e determinando sua futurição certa. Nós, em conseqüência da limitação das
nossas faculdades, concebemos as diversas partes desse propósito único e eterno
sob aspectos diversos e em relações lógicas, e por isso o chamamos
DECRETOS.

2. Como se classificam os atos de Deus, e em que classe os teólogos colocam


os decretos?

Todos os atos divinos imagináveis podem ser classificados do modo seguinte:

Io. Ações imanentes e intrínsecas, pertencentes essencialmente à perfeição da


natureza divina, sem nenhuma referência a qualquer coisa que existe fora da
Deidade. São os atos da geração eterna e necessária, pela qual o Filho vem
do Pai, e a processão eterna e necessária, pela qual o Espírito procede do Pai e
do Filho, e todas as demais ações envolvidas na associação mútua das três
Pessoas divinas.

2o. Ações extrínsecas e transitórias, isto é, ações livres que, procedendo de Deus
e terminando na criatura, dão-se

sucessivamente no tempo, como sejam os atos de Deus na criação, na


providência e na graça.

3o. A terceira classe é semelhante à primeira, por serem imanentes e intrínsecas,


essenciais à perfeição da natureza divina e aos estados permanentes do ânimo
divino, mas ao mesmo tempo diferem das ações da primeira classe por
dizerem respeito à inteira criação dependente, exterior à Deidade. Esses atos são
os decretos eternos e imutáveis de Deus a respeito de todos os seres e eventos
exteriores em relação a Ele.
3. Quais são a natureza e a fonte essenciais das dificuldades que oprimem a
razão humana quando cogita sobre este tema?

Todas essas dificuldades têm sua origem nas relações inteiramente inescrutáveis
do eterno com o temporal, do infinito com o finito, da soberania absoluta de
Deus com a livre agência do homem, e do fato indubitável da origem do pecado
com a santidade, a bondade, a sabedoria e o poder de Deus. Não são peculiares a
nenhum sistema de teologia, e se encontram em qualquer sistema que reconheça
a existência e o governo moral de Deus e a ação livre do homem.
Causaram muita perplexidade aos filósofos pagãos da antigüidade, e os deístas
dos tempos modernos, juntamente com os socinianos, com os pelagianos e com
os arminianos, acham-nas tão insolúveis como os calvinistas. ......

4. De que ponto de vista fixo devemos partir no estudo deste assunto? -

Um Deus auto-existente, independente, todo-perfeito e imutável, existindo


sozinho desde toda a eternidade, começou a criar o universo físico e o universo
moral num vácuo absoluto, sendo levado a fazê-lo por motivos e com referência
a finalidades, e segundo idéias e planos, todos interiores a Ele e originados
unicamente por Ele. Também, se Deus governa o universo, é certo que, sendo ele
um Ser inteligente, governa-o segundo um plano; e este plano deve ser perfeito
em sua

compreensão, abrangendo todos os pormenores. Se Ele tem um plano agora, é


evidente que teve esse mesmo plano sem nenhuma alteração desde o princípio.
O decreto de Deus é, portanto, o ato de um Ser pessoal soberano, infinito,
absoluto, eterno e imutável, compreendendo um plano que inclui todas as obras,
sejam quais forem, grandes e pequenas, desde o princípio da criação até à
eternidade sem fim. Por isso tem que ser incompreensível, e não pode depender
de coisa alguma exterior a Deus mesmo, porque já estava formado antes
que existisse coisa alguma fora Deus, e por isso abrange e determina todas as
coisas exteriores e todas as suas respectivas condições, para sempre.

5. Qual a distinção entre presciência* e preordenação, e qual a posição geral


dos socinianos sobre este ponto?

Presciência é o ato da inteligência infinita de Deus, pelo qual Ele conhece desde
toda a eternidade, e sem mudança, a futurição certa de todos os eventos, de
qualquer espécie que fossem, e que em qualquer tempo houvessem de acontecer.
Preordenação é um ato da vontade infinitamente inteligente, pré-conhecedora,
reta e benévola de Deus,determinando, desde toda a eternidade, a futurição certa
de todos os eventos, de qualquer espécie que fossem, e que em qualquer
tempo houvessem de acontecer. A presciência reconhece a futurição certa dos
eventos, e a preordenação os torna com certeza futuros.

Os socinianos admitem que a presciência e a preordenação de Deus são co-


abrangentes, mas limitam uma e outra aos eventos pertencentes à criação e à
providência que Deus determinou fazer acontecer, ou por Sua própria
agência imediata, ou por meio das causas secundárias que operam sob a lei da
necessidade. Eles negam que a presciência e a

Melhor seria o termopré-conhecimento, mas mantemos “presciência” por ter


sido utilizado pelo tradutor original, e por ser de uso geral. Nota de
Odayr Olivetti.

preordenação de Deus se estendam aos atos voluntários dos agentes livres, e


dizem que tais atos são, por sua própria natureza, contingentes e só podem ser
conhecidos depois de praticados.

6. Qual é aposição dos arminianos sobre este ponto?

Os arminianos concordam com os socinianos em negar que Deus preordene os


atos voluntários de agentes livres, ou que de algum modo os predetermine de
maneira que sejam com certeza futuros. Mas diferem dos socinianos e
concordam conosco em sustentar que a presciência certa de Deus estende-se
igualmente a todos os eventos, quer sejam contingentes em sua natureza, quer
sejam produzidos por causas secundárias que operam sob a lei da necessidade.
Sustentam que Deus prevê com certeza absoluta e desde toda a eternidade a
futurição dos atos livres dos agentes morais, e que os abrange e os ajusta ao Seu
plano eterno - plano que abrange todas as coisas, as ações livres dos agentes
morais como apenas previstas, e as ações dos agentes necessários como
preordenadas absolutamente.

7. Podemos expor, sob diversos títulos, a doutrina calvinista sobre este ponto.

Io. Deus pré-conhece todos os eventos como futuros com certeza,porque os


decretou e assim os tornou futuros com certeza absoluta.
2o. Os decretos de Deus referem-se igualmente a todos os eventos futuros de
qualquer espécie que sejam, às ações livres dos agentes morais, como também às
ações dos agentes necessários, às ações pecaminosas como também às que
são moralmente boas.

3o. Algumas coisas Deus decretou eternamente fazer pessoalmente, e.g., a


criação; outras fazer acontecer por meio da ação de causas secundárias operando
sob uma lei de necessidade; e outras ainda decretou mover agentes livres
para fazê-las, ou permitir que as fizessem no uso da sua liberdade;

ao mesmo tempo, estes últimos eventos o decreto torna tão certamente futuros
como qualquer dos outros. ■

4o. Deus decretou os fins como também os meios, as causas como também os
efeitos, as condições e os instrumentos como também os eventos que deles
dependem.

5o. O decreto de Deus determina só a futurição certa dos eventos, e de modo


algum efetua ou causa um evento. Mas o próprio decreto em todos os casos
determina que o evento seja efetuado por causas operando de uma maneira
perfeitamente em harmonia com a natureza do evento que vai ser
efetuado. Assim, por exemplo, no caso dos atos livres de um agente moral, o
próprio decreto determina ao mesmo tempo - (1) Que o agente seja livre. (2) Que
os seus antecedentes e também todos os antecedentes do ato em questão sejam o
que são ou foram. (3) Que todas as condições atuais do ato sejam o que são. (4)
Que o ato seja inteiramente espontâneo e livre da parte do agente. (5) Que seja
com certeza futuro.

6o. Os propósitos de Deus, dizendo respeito a todos os eventos de qualquer


espécie, constituem uma só intenção todo-compreensiva, abrangendo todos os
eventos, os livres como livres, os necessários como necessários, bem como todas
as suas causas, condições e relações, como um só sistema indivisível de coisas,
sendo cada elo essencial à integridade do sistema todo. •

8. Quanto ao que diz respeito ao plano eterno de um Criador onisciente e


onipotente, mostre que a presciência é equivalente à preordenação. :

Deus, possuindo presciência e poder infinito, existiu só, desde a eternidade, e no


tempo, movido somente por Si, começou a criar num vácuo absoluto. Quaisquer
causas ou condições limitantes posteriormente existentes, Ele mesmo produziu
intencionalmente, com perfeita presciência de sua natureza, de suas relações e de
seus resultados. Se Deus, pois, prevendo que, se criasse certo agente livre e o
colocasse em

certas relações, esse agente agiria livremente de certo modo, mesmo assim, com
essa previsão certa, criou esse mesmo agente livre e o colocou precisamente
nessas relações, é evidente que Deus, agindo assim, predeterminaria a futurição
certa do ato previsto. É impossível que Deus, na realização de Sua obra, seja em
qualquer tempo obrigado a escolher entre dois males, porque o sistema inteiro, e
cada finalidade, cada causa particular, e cada condição, foram previstos
claramente e, por escolha deliberada, admitidos por Ele mesmo.. .

9. Que razões temos para ver os decretos de Deus como uma só intenção todo-
compreensiva?

10. Porque, como mostraremos abaixo, são um ato eterno, e ceternitas est una,
individua et tota simul. 1

2o. Porque todo evento que realmente acontece no sistema das coisas acha-se
entrelaçado com todos os demais eventos num envolvimento interminável.
Nenhum evento é isolado. A cor de uma flor e o ninho de um pássaro acham-se
relacionados com o inteiro universo material. Mesmo em nossa ignorância,
podemos ver como um fenômeno químico está em relação com uma miríade de
outros fenômenos, classificados sob os títulos de mecânica, eletricidade, luz e
vida.

3o. Deus decreta os eventos como realmente sucedem, isto é, eventos produzidos
por causas e dependentes de certas condições. O decreto que determina o evento
não pode deixar fora a causa ou a condição da qual depende o evento. Mas
a causa de um evento é o efeito de outro, e cada evento que sucede no universo é
mais ou menos imediata ou remotamente a condição de todos os demais, de
modo que um propósito eterno da parte de Deus é forçosamente um ato todo-
abrangente.

Sendo finitas as nossas mentes, e sendo-nos impossível abarcar num só ato de


compreensão inteligente um número

infinito de eventos em todas as suas relações e conexões, somos obrigados a


contemplar os eventos em grupos parciais, e concebemos o propósito de Deus
em relação a eles como atos distintos e sucessivos. Por isso as Escrituras falam
dos conselhos, propósitos e juízos de Deus no plural, e, para indicar a relação
que Deus quer que um evento tenha com outro, elas falam como se Deus Se
propusesse a fazer suceder um evento como o meio ou a condição do qual outro
depende. Isso tudo é verdade, porque esses eventos todos têm essas relações
entre si; mas, ao mesmo tempo, todos se acham incluídos, e nenhum está fora,
desse propósito único e eterno de Deus que abrange igualmente todas as causas e
todos os efeitos, todos os eventos e todas as suas condições.

Todos os erros especulativos dos homens a respeito deste ponto nascem da


tendência da mente humana de prestar atenção exclusiva só a uma parte do
propósito eterno de Deus e de considerar essa parte isolada das demais. Os
decretos de Deus não separam evento algum de suas causas ou condições, como
também não estão separados na natureza. E-nos tão impossível abranger por um
só ato compreensivo da inteligência todas as obras realizadas por Deus na
natureza como no-lo é abranger todos os Seus decretos. Somos obrigados a
estudar Suas obras parte por parte. Mas nenhum observador inteligente que
estuda a natureza julga que haja evento isolado. Assim também somos obrigados
a estudar Seus decretos parte por parte; porém nenhum teólogo inteligente deve
supor que neles há elos quebrados ou conexão imperfeita em parte alguma.

10. Como se pode provar que os decretos de Deus são eternos?

Io. Sendo Deus infinito, Ele é necessariamente eterno e imutável, desde a


eternidade infinito em sabedoria e conhecimento, e nos Seus pensamentos e
propósitos absolutamente independente de qualquer criatura. Não pode nunca
haver acréscimo à Sua sabedoria, nem surpresa para a Sua presciência, nem
resistência contra o Seu poder, e, por conseguinte, não

pode nunca haver motivo para que Ele revogasse ou revogue um decreto Seu ou
modificasse ou modifique esse propósito infinitamente sábio e reto que, pela
perfeição da Sua natureza, formou desde a eternidade.

2o. As Escrituras o afirmam - (desde toda a eternidade) Atos 15:18; (antes da


fundação do mundo) Ef. 1:4; (jáantes da criação do mundo) 1 Ped. 1:20
(Figueiredo); (desde o princípio, segundo o grego (assim Almeida) 2 Tess. 2:13,
mas, na tradução de Figueiredo, “como primícias”, 2:12; (antes dos tempos
dos séculos) 2 Tim. 1:9; (antes dos séculos) 1 Cor. 2:7; (o eterno propósito) Ef.
3:11; etc.

11. Provamos que os decretos são imutáveis. <,

Io. Lembrando que são eternos, como acabamos de

mostrar.

2o. Lembrando que Deus é eterno, absoluto, imutável e perfeito em sabedoria e


poder.

3o. E ensino das Escrituras - Sal. 33:11; Is. 46:10; etc.

12. Provamos, pela razão, que os decretos de Deus abrangem todos os


eventos.

Como mostramos acima, não há evento isolado. Por conseguinte, se um só


evento foi decretado absolutamente, todos o deviam ser. Se um deles foi deixado
indeterminado, todos os eventos futuros serão indeterminados com ele, em grau
maior ou menor.

13. Provamos o mesmo ponto pelas Escrituras.

Io. Elas afirmam que os decretos divinos abrangem completamente todo o


sistema - Ef. 1:11; Atos 17:26; Dan. 4:34,35.

2o. Afirmam o mesmo a respeito dos eventos fortuitos -Prov. 16:33; Mat.
10:29,30.

3o. Também a respeito das ações livres dos homens - Ef. 2:10,11; Fil.
2:13. - —.....™ — -

4o. Mesmo a respeito das más ações dos homens. “A este (Cristo) que vos foi
entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o
crucificastes e matastes pelas mãos dos injustos” - Atos 2:23. “Porque
verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não
só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para
fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente
determinado que se havia de fazer” -Atos 4:27,28. Veja também Atos 13;29; 1
Ped. 2:8; Jud. vers. 4; Apoc. 17:17. Quanto à história de José, compare Gên.
37:28 com Gên. 45:7,8 e 50:20. “Não fostes vós que me enviastes para cá, senão
Deus.” “Vós bem intenstastes mal contra mim, porém Deus o tomou em bem.”
Veja também Sal. 17:13,14; Is. 10:5-15; etc.

14. Como se prova a universalidade dos decretos de Deus pela providência?

Segue-se da eternidade, imutabilidade, sabedoria, presciência e poder infinitos


de Deus, que a Sua operação temporal na providência procede em tudo segundo
o Seu propósito eterno - Ef. 1:1 le Atos 15:18. Mas, tanto as Escrituras como a
razão nos ensinam que o governo providencial de Deus compreende tudo o que
está nos céus e na terra como um todo, e todos os eventos em detalhe - Prov.
16:33; Dan. 4:34,35; Mat. 10:29,30.

15. Podemos provar esta doutrina a partir da profecia.

Deus predisse nas Escrituras a ocorrência certa de muitos

eventos, sendo muitos deles as ações voluntárias de homens, e sucederam


segundo a predição. Ora, a base da profecia é a presciência, e a base da
presciência de um evento dado como futuro com certeza é o decreto de Deus que
o torna futuro. A imutabilidade eterna do decreto é a única base, tanto da
infalibilidade da presciência como da profecia. Mas, se Deus decretou certos
eventos futuros, segue-se que incluiu nesse decreto todas as causas, condições,
fatos correlatos e conseqüências. Não há

evento isolado; para que Deus torne certamente futuro um só evento, é


necessário que determine toda a concatenação das causas e efeitos que
constituem o universo.

16. Em que sentido são livres os decretos de Deus?

Os decretos de Deus são livres no sentido de que, ao decretar, Deus foi


determinado unicamente por Sua boa vontade infinitamente santa, sábia, reta e
benévola. Escolheu sempre como quis, e sempre quis de conformidade com
a perfeição da Sua natureza.
. iiüU. i. ;■

17. Em que sentido os decretos de Deus são soberanos?


São soberanos no sentido de que, enquanto determinam absolutamente tudo
quanto sucede fora de Deus, todos os seus motivos e razões estão dentro da
natureza divina, e não são sugeridos nem ocasionados por nada do que está fora
dEle, nem dependem eles de coisa alguma que haja fora dEle.

18. Que distinção há entre decretos absolutos e decretos condicionais?

Decreto absoluto é o decreto que, embora possa incluir condições, não depende
delas, isto é, torna certamente futuro o evento decretado, seja qual for, quer seja
uma necessidade mecânica, quer seja um ato voluntário, e todas as suas causas
e condições, seja qual for a sua natureza, e das quais o evento depende.

Decreto condicional é o que decreta que um evento suceda sob a condição de ser
possível suceder outro evento, mas não certo (não decretado).

Os socinianos negavam que pudessem ser previstas as ações livres dos homens
por serem intrinsecamente incertas, e por isso afirmavam que Deus não as pôde
prever. Sustentavam que Deus decretou absolutamente criar a raça humana, e
que, depois da queda de Adão, decretou salvar todos os pecadores que
se arrependessem e cressem, mas que nada decretou a respeito

de pecar e nem da salvação de homens individuais.

Os arminianos, admitindo que Deus prevê com certeza os atos de agentes livres,
como também todos os demais eventos, sustentam que Deus decretou
absolutamente criar o homem, e, prevendo que ele cairia, decretou
absolutamente preparar uma salvação para todos e salvar realmente todos os que
se arrependem e crêem, e que decretou condicionalmente a salvação de homens
individuais, sob a condição, prevista mas não decretada, da sua fé e obediência.

19. Quais as objeções à atribuição de decretos condicionais a Deus?

Os calvinistas admitem que o decreto totalmente abrangente de Deus determina


todos os eventos segundo a sua natureza inerente, as ações de agentes livres
como livres, e a operação de causas necessárias, necessariamente.
Abrange também o sistema inteiro de causas e efeitos de todo tipo, dos motivos
e condições das ações livres, como também as causas necessárias dos eventos
necessários. Deus decretou a salvação sob a condição da fé, e, ao mesmo tempo
e nesse mesmo ato, decretou a fé daqueles cuja salvação determinou efetuar.
“E aos que predestinou, a estes também chamou.” Assim o Seu decreto desde o
princípio abrangeu a agência livre dos homens e dela cuidou, como também
cuidou do proceder regular da natureza segundo as leis estabelecidas. Assim
também os Seus pactos, ou promessas condicionais, que faz no tempo, são
em todas as suas partes a execução do Seu propósito eterno, que compreendia a
promessa, e a condição nos seus diversos lugares, como meios para o fim em
vista. Mas é evidentemente impossível que se possa considerar o decreto de
Deus como baseado em condições que não sejam elas mesmas determinadas
pelo decreto.

Io. Já mostramos acima (Pergs. 3-7) que o decreto divino é eterno e totalmente
abrangente. Uma condição implica possibilidade de mudança. Ora, sendo um só
sistema o universo

inteiro, se uma parte é contingente, o todo o é também, porque, se falhasse uma


só condição, toda a concatenação de causas e efeitos ficaria desarranjada. Se o
arminiano responder que, embora Deus não preordenou os atos livres dos
homens, Ele os previu infalivelmente e proveu a esse respeito, e por isso Seus
planos não podem falhar; o calvinista dirá que, se Deus previu que certo homem,
em certas circunstâncias, agiria de um certo modo em certa conjuntura, neste
caso Deus, decretando criar esse homem e colocá-lo nessas circunstâncias e
nessa mesma conjuntura, preordenou a futurição certa desse evento, daquilo que
o homem fez, e todas as suas conseqüências. Que o decreto de Deus é imutável e
não depende de condições incertas, fica provado (1) por sua eternidade; (2) pelas
asserções diretas das Escrituras - Is. 14:24,27; 46:10; Sal. 33:11; Prov. 19:21;
Rom. 9:11; Ef. 3:11.

2o. Os arminianos admitem que a presciência de Deus é eterna e certa, e abrange


todos os eventos, os livres bem como os necessários. Mas, (1) como mostramos
no parágrafo precedente, essa presciência envolve preordenação, e (2) certeza na
presciência implica em certeza no evento; certeza implica em determinação,
determinação nos deixa a escolha entre o decreto de um Deus infinitamente
sábio, reto e benévolo, ou um destino cego. 7 • -» :• >•' •' 2 : - ;• -

3o. Um decreto condicional subverteria a soberania de Deus e, quanto à


administração de todo o Seu governo e à execução de todos os Seus planos,
torná-10-ia dependente das ações voluntárias de Suas próprias criaturas. Contudo
os decretos de Deus são soberanos - Is. 40:13,14; Dan. 4:35; Rom. 9:15-18.

4o. As Escrituras declaram que o decreto de Deus depende somente do Seu


“beneplácito” (Figueiredo: “da sua benevolência”) e “do conselho da sua
vontade”. - Ef. 1:5,11; Rom. 9:11; Mat. 11:25,26.

5o. O decreto de Deus inclui os meios e as condições - 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2;
Ef. 1:4. . .

6o. O Seu decreto determina absolutamente as ações livres

dos homens - Atos 4:27,28; Ef. 2; 10.

7o. É Deus mesmo quem opera no Seu povo a fé e a obediência, as chamadas


condições da sua salvação - Fil. 2:13; Ef. 2:8; 2 Tim. 2:25.

20. Até onde são eficazes os decretos de Deus, e até onde são permissivos?

Todos os decretos de Deus são igualmente eficazes no sentido de determinarem


infalivelmente a futurição certa do evento decretado. Os teólogos, porém,
classificam os decretos de Deus assim: Io. Eficazes, com respeito aos eventos
que Ele determinou efetuar por meio de causas necessárias, ou por Sua própria
ação imediata; 2o. Permissivos, com respeito aos eventos que Ele determinou
permitir que agentes livres efetuassem.

21. Como se pode provar que o decreto de Deus torna certo o

evento? '

Io. Pela natureza do próprio decreto, que é soberano e imutável (veja acima).

2o. Pela natureza essencial de Deus em Sua relação com Sua criação, como
soberano infinitamente sábio e poderoso.

3o. A presciência de Deus considera como certos os eventos futuros. A razão de


ser desta certeza está necessariamente, ou em Deus mesmo, ou nos próprios
eventos, e esta última suposição é o fatalismo.

4o. As Escrituras atribuem certeza de futurição aos eventos decretados. Importa


que o evento suceda assim como foi “determinado” - Luc. 18:31-33; 24:46; Atos
2:23; 13:29; 1 Cor. 11:29; Mat. 16:21.
22. Como difere esta doutrina - Que o decreto universal de Deus torna certa a
ocorrência de todos os eventos futuros - da antiga doutrina do fatasismo?

A doutrina calvinista dos decretos concorda só num ponto

com o fatalismo, e este é em sustentar que os eventos em questão são com


certeza futuros. Mas a doutrina arminiana da pres-ciência divina faz exatamente
o mesmo. Em todos os outros aspec-tos a nossa doutrina difere da doutrina pagã
do destino cego. í .. .

O fatalismo ensina que todos os eventos são determinados com certeza por uma
lei universal de causação necessária, operando cegamente e, por meio de uma
força simples e não inteligente, efetuando seus fins, irresistível e
irrespectivamente da livre vontade dos agentes livres envolvidos. Não deixa
lugar para fins ou propósitos finais, nem para motivos e escolha, meios ou
condições, mas é simplesmente uma evolução necessária.

A doutrina calvinista dos decretos, porém, postula o plano infinito e totalmente


abrangente de um Pai infinitamente sábio, reto, poderoso e benévolo, cujo plano
não é determinado por mera vontade, e sim segundo “o conselho da sua
vontade”, alcançando os melhores fins e adotando os melhores meios para
alcançar esses fins - e cujo plano não é executado só por força e sim por meio de
todo tipo de causas secundárias, tanto livres como também necessárias, sendo
cada umapré-adaptada para o seu lugar e função, e operando cada uma sem
constrangimento, segundo a sua natureza.

Há uma diferença infinita entre uma máquina e um homem, entre a operação de


motivos, inteligência, livre escolha, e as forças mecânicas que operam sobre a
matéria. E há exatamente a mesma diferença entre o sistema de decretos divinos
e a doutrina pagã do destino cego.

23. Qual a objeção que, contra esta doutrina dos decretos incondicionais, se faz
do fato admitido de serem livres os homens?
OBJEÇÃO - Presciência implica na certeza do evento. O decreto de Deus implica em que Deus o determinou como certo. Todavia o
fato de determiná-lo como certo implica, da parte de Deus, nalguma ação ou agência eficaz para produzir

ou efetuar o evento, o que é inconciliável com a agência livre dos homens.

RESPONDEMOS: é evidente que é só a execução do decreto, e não o decreto


em si mesmo, que pode impedir a livre agência dos homens. Sobre o assunto
geral do modo como Deus executa Seus decretos, veja abaixo, os capítulos sobre
a providência, a vocação eficaz e a regeneração.

Temos espaço aqui só para a seguinte exposição geral:

1 °. As Escrituras atribuem a Deus tudo quanto há de bom no homem; isso Ele


opera em nós o querer e o fazer segundo o Seu beneplácito. Todos os pecados
que os homens cometem, as Escrituras atribuem totalmente aos mesmos
homens. Contudo, o decreto permissivo de Deus realmente determina a futurição
certa do ato; porque Deus, sabendo com certeza que o homem em questão,
colocado em certas circunstâncias, agiria desse modo, colocou-o nessas mesmas
circunstâncias em que agiu assim e cometeu o pecado. No entanto, em caso
algum, nem quando opera em nós o que é bom, nem quando nos põe onde sabe
que com certeza havemos de fazer o mal, Ele nem viola nem restringe, na
execução do Seu propósito, a perfeita liberdade do agente.

2o. Temos o fato distintamente revelado que Deus decretou os atos livres de
homens, e que, ao mesmo tempo, os homens não eram menos responsáveis, nem
menos livres nos atos que praticaram - Atos 2:23; 3:18; 4;27,28; Gên. 50:20; etc.
Nunca poderemos compreender como é que o Deus infinito opera sobre o
espírito finito do homem, mas nem por isso é menor o nosso dever de o crer.

3o. Segundo a teoria da vontade, que faz a liberdade do homem consistir na


liberdade da indiferença, isto é, que em todos os casos em que a vontade faz
uma escolha, ela está em estado de equilíbrio perfeito, igualmente independente
de todos os motivos pró ou contra, e tão livre para escolher em oposição a todos
os desejos como em harmonia com eles, é evidente que neste caso a própria
essência da liberdade consistiria em

incerteza. Se esta é a verdadeira teoria da vontade, Deus não pode executar os


Seus decretos sem violar a liberdade do agente, e a presciência certa é
impossível.

Mas, como demonstramos abaixo, no Cap.15, a verdadeira teoria da vontade é


que a liberdade do agente consiste em que este, em qualquer caso, age como lhe
apraz, isto é, segundo os desejos e disposições do seu coração, segundo a
avaliação imediata que sua razão faça do caso em particular. Esses desejos e
disposições são, por sua vez, determinados pelo caráter do agente em relação a
suas circunstâncias, e esse carater e essas circunstâncias não estão, por certo,
fora da influência do Deus infinito. ■ >

24. Em que sentido é que alguns ensinam que Deus é o autor do pecado?

Muitos pensadores de tendências panteísticas,e.g., o Dr. Emmons, afirmam que,


assim como Deus é infinito em soberania, e por Seu decreto determina tudo,
assim também por Sua providência efetua tudo o que sucede, de modo que Ele é
o único agente real do universo. Ao mesmo tempo, sustentam que Deus é um
agente infinitamente santo quando efetua aquilo que, produzido por Deus, é reto,
mas produzido em nós, é pecado.

25. Como se pode demonstrar que Deus não é o autor do pecado?

A admissão do pecado na criação, por um Deus infinitamente santo, sábio e


poderoso, é um grande mistério, do qual não se pode dar nenhuma explicação.
Entretanto, que Deus não é o autor do pecado fica provado -

Io. Pela natureza do pecado, o qual, quanto à sua essência, é anomia, falta de
conformidade com a lei, e desobediência ao Legislador.

2o. Pela natureza de Deus, que, quanto à Sua essência, é santo, e na


administração do Seu reino sempre proíbe e pune o pecado.

3o. Pela natureza do homem, que é agente responsável e livre, e origina os seus
próprios atos. As Escrituras atribuem sempre à graça divina as ações moralmente
boas, e ao mau coração as ações pecaminosas dos homens.

26. Como se pode demonstrar que a doutrina dos decretos incondicionais não
representa Deus como o autor do pecado?

A dificuldade toda está no tremendo fato de existir o pecado. Se Deus o previu e,


apesar disso, criou o agente e o colocou nas circunstâncias em que previu que ele
cometeria o pecado, é evidente que o predeterminou. Se não o previu,
ou, prevendo-o, não podia impedir que o pecado entrasse, então não é infinito no
conhecimento e no poder, porém foi surpreendido e estorvado por Suas criaturas.
A doutrina dos decretos incondicionais não apresenta nenhuma
dificuldade especial. Representa Deus como decretando que o pecado resulte do
ato livre do pecador, e não de Deus levando-o ou induzindo-o a pecar mediante
qualquer forma de ação ou tentação.
27. Que objeção contra esta doutrina é derivada do uso de meios?

Esta é a forma mais comum de objeção na boca de gente ignorante e irreligiosa.


Dizem que, se um decreto imutável torna certos todos os eventos futuros, “se há
de suceder aquilo que deve suceder”, então se segue que nenhum meio
empregado por nós pode impedir que suceda, nem é necessário
que empreguemos meios para conseguir o resultado.

Segue-se daí, pois, que, sendo o uso de meios ordenados por Deus, e
instintivamente natural para o homem, tendo muitas coisas sido o efeito dos
meios empregados, e sendo evidente que muitas no futuro dependem deles, Deus
não tornou certa nenhuma dessas coisas que dependem do uso de meios da parte
dos homens. .

- j t:.”

28. Em que base se fundamenta o uso de meios?

Este uso fundamenta-se no mandamento de Deus e naquela propriedade


existente no uso de meios para conseguirmos o resultado desejado que os nossos
instintos, inteligência e experiência nos ensinam. Mas, nem a propriedade nem a
eficácia dos meios para conseguirem o resultado residem inerente e
independentemente nos próprios meios, porém foram estabelecidas
originariamente por Deus e são mantidas atualmente pelo próprio Deus; e na
operação de todos os meios Deus preside sempre e sempre dirige
providencialmente. Isso acha-se envolvido necessariamente em toda e qualquer
teoria cristã da providência, embora nunca possamos explicar a ação relativa, a
concorrência, de Deus sobre o homem, o infinito sobre o finito.

29. Como se pode demonstrar que a doutrina dos decretos não dâ fundamento
racional para desencorajar alguém no uso de meios?

Esta dificuldade (exposta acima, Perg. 27) tem sua raiz no costume de isolar uma
parte do decreto eterno de Deus do todo (Perg. 7), e no de confundir a doutrina
cristã dos decretos com a doutrina pagã do destino cego (Perg. 22). Mas,
quando Deus decretou um evento, decretou-o futuro com certeza, não como
isolado de outros eventos, ou como independente de meios ou agentes, e sim
como dependente de meios e de agentes empregando livremente esses meios. O
mesmo decreto que torna certo o evento, determina também o modo pelo
qual tenha que ser efetuado, e compreende tanto os meios como os fins. Esse ato
eterno e totalmente abrangente compreende a existência toda durante o tempo
todo, e o espaço inteiro como um só sistema, e, ao mesmo tempo, cuida do todo
em todas a suas partes e de todas as partes em todas as suas relações umas com
as outras e com o todo. Um evento, pois, pode ser certo com respeito ao decreto
e à presciência de Deus e, ao mesmo

tempo, verdadeiramente contingente na apreensão dos homens e na sua relação


com os meios de que depende.

30. Que distinção sempre devemos fazer entre as objeções contra a prova de
uma doutrina e as objeções contra uma doutrina comprovada?

É evidente que são legítimas as objeções razoáveis, quer bíblicas quer outras,
que se possa fazer contra as provas em que se baseia qualquer doutrina; e sempre
se deve dar o devido peso a essas objeções contra as provas alegadas a favor
da doutrina. Entretanto, uma vez provado que uma doutrina é ensinada nas
Escrituras, é igualmente evidente que todas as objeções feitas contra essa
doutrina não terão peso algum, enquanto não tiverem força bastante para provar
que as Escrituras Sagradas não são a Palavra de Deus. Não chegando a fazer
isso, as objeções feitas contra uma doutrina biblica-mente comprovada, se não
afetarem as provas em que ela se fundamenta (e a maioria das objeções feitas
contra a doutrina calvinista dos decretos são dessa natureza), só servirão
para ilustrar a verdade óbvia segundo a qual o intelecto finito do homem não
pode compreender plenamente as coisas parcialmente reveladas e parcialmente
escondidas na Palavra de Deus.

31. Quais são os efeitos práticos desta doutrina propriamente ditos?

Humildade, à vista da grandeza e da soberania infinitas de Deus, e da


dependência do homem. Confiança implícita na sabedoria, na retidão, na justiça,
na bondade e na imutabilidade dos propósitos de Deus, e pronta obediência aos
Seus mandamentos; devendo nós estar sempre lembrados de que os preceitos de
Deus, revelados claramente, e não os Seus decretos, são a regra do nosso dever.

Uma possível tradução seria: a eternidade é una, em seus elementos


individuais e em sua totalidade, simultaneamente. Nota de Odayr Olivetti.
Predestinação

1. Em que diversos sentidos a palavra predestinação é empregada pelos


teólogos?

Io. Como equivalente à palavra genérica decreto, incluindo todos os propósitos


eternos de Deus.

2o. Como abrangendo somente aqueles propósitos de Deus que dizem respeito
especialmente às Suas criaturas morais.

3o. Como denominativo do conselho de Deus que diz respeito somente aos
homens decaídos, incluindo a eleição soberana de alguns e a justíssima
reprovação dos demais.

4o. As vezes o seu uso é tão restrito que é aplicada somente à eleição eterna do
povo de Deus para a vida eterna.

O terceiro sentido dado acima é o uso mais apropriado. Veja Atos 4:27,28.

2. Em que sentidos as palavras proginosco (pré-conhecer) e prognosis


(presciência) são empregadas no Novo Testamento?

Proginosco é composta depro, antes, tginosco, cujo sentido primário é conhecer,


saber, e cujo sentido secundário é aprovar, e.g., 2 Tim. 2:19; João 10:14,15;
Rom. 7:15. Essa palavra encontra-se cinco vezes no Novo Testamento. Duas
vezes, em Atos 26:5 e em 2 Ped. 3:17, significa conhecimento
prévio, apreensão, simplesmente. Nos três casos restantes, Rom. 8:29; 11:2 e 1
Ped. 1:20, é empregada no sentido secundário de aprovar anteriormente. Isso se
torna evidente pelo contexto, porque é empregada para designar o motivo da
predestinação

divina de indivíduos para a vida eterna, e a respeito da qual se nos diz em outras
passagens que não é “segundo as nossas obras, mas segundo o Seu próprio
propósito e graça”, “segundo o beneplácito de sua vontade” - 2 Tim. 1:9; Rom.
9:11; Ef. 1:5.

Prognosis encontra-se somente duas vezes no Novo Testamento, em Atos 2:23 e


1 Ped. 1:2, e em ambos os casos significa evidentemente aprovação, ou escolha
prévia. O termo é explicado pela frase equivalente “decretado conselho”
ou “determinado conselho”.

3. Que sentidos têm no Novo Testamento as palavras eclego

(eleger) e eclogé (eleição)? .

Eclego encontra-se vinte e uma vezes no Novo Testamento. E empregada no


sentido de, Io. A escolha que Jesus fez dos Seus discípulos - Luc. 6:13; João
6:70. 2o. A escolha que Deus fez da nação judaica para Seu povo peculiar - Atos
13:17. 3o. A escolha de certos homens, feita por Deus ou pela Igreja, para algum
serviço especial - Atos 15:7,22. 4o. A escolha que Maria fez da melhor parte -
Luc. 10:42. 5o. Na maioria dos casos, a eleição feita por Deus de indivíduos para
a vida eterna - João 15:16; 1 Cor. 1:27,28; Ef. 1:4; Tia. 2:5.

Eclogé encontra-se sete vezes no Novo Testamento. Uma vez significa eleição
para o ofício apostólico-Atos 9:15. Uma vez o termo se refere aos que foram
escolhidos para a vida eterna - Rom. 11:7. Em todos os demais casos significa o
propósito ou ato de Deus escolhendo o Seu próprio povo para a salvação -Rom.
9:11; 11:5,28; 1 Tess. 1:4; 2 Ped. 1:10.

4. De que outras palavras mais o Espírito de Deus Se serve no Novo


Testamento para expor a verdade sobre este ponto?

Das seguintes:

Proorigein (limitar, marcar, tencionar definitivamente de antemão, preordenar),


encontra-se seis vezes no Novo Testamento. Em todos os casos significa
preordenação absoluta da parte de Deus-Atos 4:28; Rom. 8:29,30; 1 Cor. 2:7; Ef.
1:5,11.

Protithemi, encontra-se três vezes no Novo Testamento. Em Romanos 1:13


significa um propósito de Paulo, e em Romanos 3:25 e Efésios 1:9, um propósito
de Deus.

Proetomazein, encontra-se duas vezes, em Romanos 9:29 e Efésios 2:10,


significando preparar ou designar anteriormente.
5. A quem se atribui a eleição nas Escrituras?

O decreto eterno, como um todo e em todas as suas partes, é, sem dúvida, o ato
concorrente de todas as três Pessoas da Trindade em Sua perfeita unidade de
conselho e vontade.

Mas, na economia da salvação, como nos é revelada, o ato de eleição soberana é


atribuído especialmente ao Pai, como Sua parte pessoal, assim como a redenção
é atribuída ao Filho e a santificação ao Espírito Santo-João 17:6,9; 6:64,65; 1
Tess. 5:9. - ■ •

6. Como se pode expor a teoria da predestinação chamada “Teoria da Eleição


Nacional”por seus defensores?

E a teoria segundo a qual a única eleição de que falam as Escrituras, a respeito


da salvação dos homens, consiste na predestinação divina de comunidades e
nações para o conhecimento da religião verdadeira e os privilégios exteriores do
evangelho. Esta forma de eleição, que sem dúvida alguma representa um grande
fato evangélico, é ilustrada eminentemente pelo caso dos judeus. ' ^ ■ -í j ’: '

7. Como se pode expor a “Teoria do Individualismo Eclesiástico”, assim


chamada por seus defensores?

Esta teoria, advogada por Stanley Faber, pelo arcebispo Whately, e por outros,
envolve a afirmação de que Deus predetermina a relação dos homens com a
Igreja visível e com os meios de graça. Por seu nascimento, e pela
providência subseqüente, faz o quinhão de alguns cair nas circunstâncias as mais
favoráveis, e o de outros, nas menos favoráveis.

8. Em que consiste ã doutrina ãrtniniãna da. eleição?

Os arminianos admitem a presciência de Deus, mas negam a Sua preordenação


absoluta em referência à salvação de indivíduos. Sua doutrina distintiva é que
Deus não escolheu certas pessoas desde a eternidade, determinando que
fossem salvas, mas sim escolheu certos caracteres, os que fossem santos, crentes
e obedientes; ou certas classes de pessoas que tivessem semelhantes caracteres,
e.g., crentes que perseverassem até o fim.

No entanto, visto que admitem que Deus prevê desde a eternidade com certeza
absoluta quais as pessoas que haveriam de arrepender-se, crer e perseverar na fé
e na obediência até o fim, segue-se que a sua doutrina é equivalente ao
seguinte: prevendo Deus que certas e determinadas pessoas haveriam de
arrepender-se, crer e perseverar na fé e na obediência até o fim, Ele predestinou
desde a eternidade essas pessoas para a vida e para a salvação, per causa da sua
fé e perseverança assim previstas. -■

9 Quais os diversos princípios em que as teorias acima mencionadas


concordam, e quais aqueles em que diferem? .

As teorias da “Eleição Nacional” e do “Individualismo Eclesiástico” ensinam


fatos que todos admitem, a saber, que Deus predestina indivíduos, comunidades
e nações para os privilégios exteriores do evangelho e para o uso dos meios
de graça. Isso nem os arminianos nem os calvinistas negam. Mas ambas essas
teorias são viciosas e idênticas à arminiana em negarem que Deus predestina
absolutamente as ações livres dos homens e a salvação final de indivíduos. As
três teorias admitem que Deus coloca alguns em circunstâncias mais favoráveis
do que outros para a salvação, porém, ao mesmo tempo, sustentam que não é o
decreto de Deus que determina o destino final de cada homem, e sim, que Deus
o deixou dependente da livre vontade dos próprios homens. Todavia, embora
concordem estas três teorias no princípio fundamen-

tal, diferem entre si quanto ao modo pelo qual procuram harmonizar as


declarações das Escrituras com esse princípio. Diferem entre si quanto aos
objetos, aos fins e aos motivos da eleição. Quanto aos objetos da eleição de que
falam as Escrituras, as teorias calvinista, arminiana e do “Individualismo
Eclesiástico” concordam em dizer que são indivíduos. A teoria da “Eleição
Nacional” afirma que os objetos são nações ou comunidades.

Quanto ao objetivo da eleição, as teorias calvinista e arminiana dizem que é a


salvação eterna dos indivíduos eleitos. As teorias do “Individualismo
Eclesiástico” e da “Eleição Nacional” dizem que o objetivo da eleição é a
admissão ao uso dos meios de graça. Quanto ao motivo da eleição de que falam
as Escrituras, os defensores das teorias calvinista, da “Eleição Nacional” e do
“Individualismo Eclesiástico” concordam em dizer que é a boa vontade soberana
de Deus, enquanto que os arminianos dizem que os eleitos são tais por causa da
sua fé, seu arrependimento e sua perseverança previstos com certeza em cada
caso individual.

É evidente que a doutrina calvinista dos decretos inclui a eleição absoluta tanto
de comunidades e nações como de indivíduos para o uso dos meios de graça e
para os privilégios exteriores da Igreja. E evidente também que todos
os arminianos têm que admitir até esse ponto, bem como os calvinistas, o
princípio da eleição absoluta, e por isso essa admissão só não discrimina entre os
dois grandes sistemas opostos. A única questão realmente em disputa entre
os calvinistas e os arminianos, quanto à eleição, é esta: qual o motivo da
predestinação eterna de certos e determinados indivíduos para a vida eterna? São
a fé e o arrependimento previstos dos próprios indivíduos, ou é a boa vontade
soberana de Deus? É forçoso que todo cristão tome lugar de um ou do outro lado
desta questão. Se disser que o motivo é a sua fé prevista, será arminiano, sejam
quais forem as doutrinas que sustentar além dessa; se disser que o motivo da sua
eleição foi

a boa vontade soberana de Deus, será calvinista.

Esta divisão entre si, e esta concordância das suas posições com os calvinistas,
alternando com divergências, são uma ilustração muito sugestiva da dificuldade
extrema com que os defensores dos princípios arminianos têm que lutar em
suas tentativas de acomodar as palavras das Escrituras à sua doutrina.

De um ponto de vista polêmico, os calvinistas gozam da vantagem capital de


poderem dividir os seus oponentes e refutá--losseparadamente. - .

10. Quais os três pontos envolvidos na doutrina calvinista sobre este assunto?

Os calvinistas afirmam, como mostramos no capítulo anterior, que os decretos de


Deus são absolutos e dizem respeito a toda espécie de eventos, sejam quais
forem. Sustentam, por conseguinte, que, embora sejam as nações, as
comunidades e os indivíduos predestinados absolutamente a toda forma de bem
e mal que lhes sobrevêm, todavia as Escrituras ensinam também e
especificamente que há uma eleição (1) de indivíduos determinados, (2) para a
graça da salvação, (3) não baseada na fé prevista das pessoas eleitas, e sim
unicamente na boa vontade soberana de Deus.

11. E possível demonstrar a presunção da veracidade do que acima foi dito, e


que o pressuposto dessa verdade tem por base o fato de que imparciais
intérpretes incrédulos e racionalistas admitem que a letra das Escrituras só
pode ser adequadamente interpretada no sentido calvinista.

Além do pressuposto que a favor do calvinismo provém do fato mencionado no


fim da resposta à Pergunta 9, de se verem os intérpretes anticalvinistas obrigados
a recorrer a todo tipo de hipóteses diversas para desviar a força óbvia
do testemunho bíblico a favor da predestinação absoluta, citamos ainda o
pressuposto adicional que a favor da mesma doutrina provém do fato de que os
racionalistas e os incrédulos em geral,

que concordam com os arminianos na sua oposição intensa aos princípios


calvinistas, mas não se acham restringidos por nenhuma fé na inspiração divina
da Bíblia, têm, contudo, bastante franqueza para admitir que esse Livro só pode
ser logicamente interpretado no sentido calvinista. Eis, pois, o testemunho
imparcial de inimigos: Wegscheider, em suas Instituciones Theologice
Christiance Dogmaticce, Parte 3, cap. 3, § 145, a maior autoridade que há
quanto aos resultados a que chegaram os racionalistas alemães em teologia
dogmática, declara que as passagens citadas de Paulo ensinam a
doutrina calvinista, porém que esse apóstolo foi levado ao erro pelas noções
errôneas e imperfeitas do seu século, e muito especialmente pelo espírito
acanhado do particularismo judaico. Veja também Gibbon, Decline and Fali
ofthe Roman Empire, Cap. 33, Nota 31: “Talvez alguém que raciocine com mais
independência chegue a rir quando lê um comentário arminiano da Epístola aos
Romanos”. .

12. Como se pode provar pelas Escrituras que os eleitos são indivíduos, e que a
finalidade da sua eleição é a vida eterna ?

Io. As Escrituras falam deles sempre como indivíduos, e da eleição deles falam
sempre como tendo por fim a graça ou a glória - Atos 13:48; Ef. 1:4; 2 Tess.
2:13. 2o. As Escrituras distinguem explicitamente entre os eleitos e a massa em
geral da Igreja visível, e, por conseguinte, sua eleição não podia ser limitada aos
privilégios exteriores da Igreja - Rom. 9:7. 3o. Dizem as Escrituras que os nomes
dos eleitos estão escritos “nos céus” e “no livro da vida” - Heb. 12:23; Fil. 4:3.
4o. Também é dito explicitamente que as bênçãos que essa eleição torna seguras
são dadas pela graça de Deus, são salvadoras, são os elementos resultantes da
salvação e dela inseparáveis, e não pertencem a nações, e sim a indivíduos, e.g.,
“a adoção de filhos”, “para serem conformes à imagem de seu Filho”, etc. -Rom.
3:29; 8:15,29; 9:15,16; Ef. 1:5; 1 Tess. 5:9; 2 Tess. 2:13.

13. Como se pode mostrar que essa eleição não se fundamenta em obras, quer
previstas quer não?
Isto segue-se - Io. Da doutrina geral dos decretos, estabelecida no capítulo
anterior. Se os decretos de Deus referem-se a todos os eventos, de qualquer
espécie que sejam, e os determinam, segue-se que não restam mais eventos
que pudessem constituir a condição dos decretos ou de qualquer elemento neles
presente, e segue-se também que Deus decretou a fé e o arrependimento dos
eleitos como também a salvação da qual são a condição.

2o. As Escrituras declaram explicitamente que os decretos não têm por condição
obras de nenhuma espécie - Rom. 9:4-7;2Tim. 1:9; Rom. 9:11.

14. Como se pode demonstrar que as Escrituras declaram habitualmente que a


predestinação é fundada na “boa vontade” ou no “beneplácito de Deus” e no
“conselho da Sua vontade”?

Citando textos como os seguintes: Ef. 1:5-11; 2 Tim. 1:9; João 15:16,19; Mat.
11:25,26; Rom. 9:10-18.

15. Como se pode expor o argumento derivado da afirmação de que “a fé”, “o


arrependimento” e “a obediência evangélica”são frutos da eleição?

E auto-evidente que as mesmas ações não podem ser ao mesmo tempo motivos
da eleição e frutos dela resultantes. Ensinando, pois, a Bíblia que “a fé”, “o
arrependimento” e “a obediência evangélica” são frutos, não podem ser os
motivos. As Escrituras ensinam essa verdade em Ef. 1:4: “Elegeu-nos nele
mesmo antes do estabelecimento do mundo, pelo amor que nos teve, para sermos
santos e imaculados diante de seus olhos” * - 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2; Ef. 2:10.

'Esta é a versão de Figueiredo; mas não é fiel, nem segundo o grego, nem
mesmo segundo a Vulgata. A tradução fiel do grego e da Vulgata é: “Elegeu-nos
nele mesmo antes do estabelecimento do mundo, para que > >

16. Faça-se a exposição do mesmo argumento derivado do fato de serem a fé e


o arrependimento chamados dons de Deus.

Se a fé e o arrependimento são “dons de Deus”, o fato de um homem os possuir


é resultante de um ato de Deus. Se são resultantes de um ato de Deus, são
resultantes do Seu propósito eterno. Se são resultantes do Seu propósito, não
podem ser as condições de que depende esse propósito. As Escrituras afirmam
que a fé e o arrependimento são “dons de Deus” em Ef. 2:8; Atos 5:31 e 1 Cor.
4:7.

17. Como expor o argumento derivado daquilo que as Escrituras

ensinam quanto à natureza e à extensão da depravação inata e da


incapacidade? . 1

O ensino das Escrituras sobre estes pontos achar-se-á exposto e estabelecido nos
capítulos 19 e 20. Ora, se os homens nascem com uma natureza cuja tendência
universal é para o pecado, e se são sempre, enquanto não regenerados
pelo Espírito de Deus, total e inalienavelmente avessos a e incapazes de tudo o
que é bom, segue-se que a natureza humana não regenerada não é capaz, nem de
tender para a fé e o arrependimento como condições da eleição, nem de
aperfeiçoar estes dons. Se, pois, a eleição tem por condições a fé e o
arrependimento, é necessário que o homem os produza ou ajude a produzi-los
em si. Contudo, se a natureza humana não pode nem produzi-los nem ajudar a
produzi-los, segue-se, ou que ninguém pode ser eleito, ou que a fé e o
arrependimento não podem ser as condições da eleição.

18. Como expor o mesmo argumento pelo que as Escrituras ensinam sobre a
natureza e a necessidade que o homem tem da regeneração?

< <fôssemos santos e imaculados diante dele no amor”. O texto da Vulgata é:


“Elegit nos in ipso ante mundi constitutionem, ut essemus sancti
et immaculati in conspectu ejus in charitate”. Nota do tradutor. • ... .

No capítulo 24 será provado que as Escrituras ensinam: (1) que a regeneração é


ato de Deus; (2) que, com respeito ao referido ato, a alma é passiva; (3) que ela é
absolutamente necessária no caso de todos os homens vivos. Disso segue-se que,
se a regeneração em nenhum sentido é obra realizada pelo homem, e sim, em
todos os sentidos, é obra realizada unicamente por Deus, não pode ser a
condição de que dependa o propósito de Deus, mas é uma obra determinada por
esse propósito.

19. Como se prova pelas Escrituras que todos os eleitos, e SOMENTE os


eleitos, crêem?

Todos os eleitos crêem - João 10:16, 27-29; 6:37-39; 17:2,9,24. Somente os


eleitos crêem - João 10:26. E os que crêem o fazem porque são eleitos - Atos
13:48 e 2:47.
20. Qual o argumento derivado do fato de que todos os cristãos evangélicos,
seja qual for sua escola teológica, em suas orações e em seus hinos exprimem
sempre os sentimentos próprios da doutrina calvinista da eleição incondicional?

Só pode ser falsa aquela forma de doutrina que não pode ser incorporada lógica e
conseqüentemente na experiência pessoal e no culto divino. E só pode ser
verdadeira aquela forma de doutrina que todos os cristãos, de todas as opiniões
teóricas, se acham sempre impelidos a exprimir na sua comunhão com Deus.
Ora, todos os salmos, hinos e orações, quer escritos quer espontâneos, de todos
os cristãos evangélicos, incorporam os princípios e respiram o espírito do
calvinismo. Todos em suas orações pedem a Deus que faça os homens
arrepender-se e crer, chegar-se ao Salvador e aceitá-10. Mas, se Deus dá a todos
os homens graça comum e suficiente, e se a razão pela qual um homem
arrepende-se e outro não, é que um faz bom uso dessa graça e outro não, e se a
única diferença está nos homens, segue-se que devemos pedir aos homens que se
convertam a si mesmos, isto é, que se façam diferençar a si mesmos. Mas todos

concordam em pedir a Deus que os salve, e em render-Lhe graças quando o faz.

21. Como se pode mostrar, pela natureza das objeções feitas contra a doutrina
de Paulo, e pelas respostas que lhes deu, que a posição sustentada por esse
apóstolo, a respeito da eleição, é a mesma que a nossa?

A doutrina de Paulo é idêntica à calvinista, Io. porque a ensina distintamente; 2o.


porque as objeções notadas por ele, feitas contra a sua doutrina, são as mesmas
que se fazem contra a nossa (Rom. 9:6-24). O fim que o apóstolo tinha em
vista em toda esta passagem era provar o soberano direito que Deus tinha de
rejeitar os judeus como Seu povo peculiar e de chamar pelo evangelho todos os
homens indistintamente.

Ele argumenta: Io. que as antigas promessas de Deus não diziam respeito aos
descendentes naturais de Abraão, como tais, e sim à sua posteridade espiritual;
2o. que Deus é soberano absoluto na distribuição dos Seus favores.

Mas contra esta doutrina da soberania divina o apóstolo expõe duas objeções, e
dá-lhes resposta.

Ia. Deus seria injusto se, só da Sua boa vontade, manifestasse a Sua misericórdia
a alguns e rejeitasse outros (versículo 14). Esta mesma objeção é feita hoje
contra a nossa doutrina. “Ela representa o Deus santíssimo como pior do que o
diabo, mais falso, mais cruel e mais injusto.” - Methodist Doctrinal Tracts, págs.
170,171. A isso Paulo responde mediante dois argumentos: (1) Deus reclama
para Si esse direito: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” - Rom.
9:15,16. (2) Deus, em Sua providência, exerce esse direito, como no caso de
Faraó (versículos 17,18).

2a. A segunda objeção é que esta doutrina é incompatível com a liberdade e a


responsabilidade dos homens. Essa objeção é na verdade absurda contra a
doutrina de Paulo, mas é feita todos os dias pelos arminianos contra a nossa
doutrina.

Paulo, respondendo a essa objeção, não condescende em

apelar para a razão humana, e sim, afirma simplesmente (1) a soberania de Deus
como Criador, e a dependência do homem como criatura, e (2) o fato de estarem
todos os homens expostos com toda a justiça à ira, por serem pecadores
(versículos 2024). Veja a análise de Rom. 9:6-24 no Commentary on
Romans, por Hodge.

22. Como se pode discriminar acuradamente os dois elementos envolvidos na


doutrina da reprovação?

Reprovação é o aspecto que o decreto eterno de Deus apresenta relativamente


àquela parte da raça humana que será finalmente condenada por causa dos seus
pecados. :

A doutrina é, Io. negativa, porque consiste em passar por : alto essa parte e em
deixar de elegê-la para a vida eterna; e 2o. positiva, porque os homens
envolvidos são condenados à ; miséria eterna.

Quanto ao seu elemento negativo, a reprovação é simples- i mente soberana,


porque aqueles que o decreto passa por alto j não são piores do que os eleitos, e
o motivo simples pelo qual ] alguns são eleitos e outros passados por alto é a boa
vontade j soberana de Deus. j

Quanto ao seu elemento positivo, a reprovação é soberana, ] mas simplesmente


judicial, porque Deus, em todo e qualquer caso, inflige miséria somente como a
justa punição do pecado.
“O resto dos homens aprouve a Deus não contemplar e ordená-los para a desonra
e ira por causa de seus pecados” - Conf. de Fé, Cap. 3, Seção 7.

2 3. Como se pode demonstrar que as referidas posições acham- ;

-se envolvidos necessariamente na doutrina geral dos decretos e na doutrina


específica da eleição de alguns para a vida eterna?

Como já dissemos acima, a doutrina da reprovação é auto--evidentemente


elemento inseparável da doutrina dos decretos e da eleição. Se Deus elege
incondicionalmente a quem Lhe ; apraz, é evidente que também deixa entregues
a si mesmos -

incondicionalmente os que Lhe apraz. Ele tem que preordenar os que não crêem
como também os que crêem, embora estes eventos sejam resultantes de causas
bem diversas.

24. Como se prova que isso é ensinado nas Escrituras?

Pela citação de textos como os seguintes: Rom. 9:18,21; 1 Ped. 2:8; Jud. vers. 4;
Apoc. 13:8. Notem estas palavras do Senhor Jesus Cristo: “Graças te dou, ó Pai,
Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos,
e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” - Mat.
11:15,26; “Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”-João
10:26. ' ' ■■■ ■ ■

25. Como demonstrar que contra a doutrina de Paulo se fez a mesma objeção
que se faz contra a nossa?

Citando Romanos 9:19. “De que se queixa ele ainda?” Se Ele não deu
capacidade para obedecer, como pode mandar? Veja também Methodist
Doctrinal Tracts, pág. 171. ■

O apóstolo responde mostrando, Io. que Deus não tem obrigação alguma de
manifestar misericórdia para com todos, e nem mesmo para com alguns -
versículos 20,21; e, 2°., que “os vasos da ira” foram condenados por seus
próprios pecados, a fim de manifestar-se neles a justa ira de Deus, enquanto
que “os vasos de misericórdia” foram escolhidos, não por haver neles qualquer
coisa que fosse boa, e sim unicamente para manifestar-se neles a Sua graça
gloriosa - versículos 22,23.
26. Como se demonstra a identidade da doutrina de Paulo com a nossa pelas
ilustrações de que ele se serve no capítulo nove da Epístola aos Romanos?

“Não tem o oleiro poder (exousia) sobre o barro, para da mesma massa fazer um
vaso para honra e outro para desonra? - versículo 21. Aqui a força inteira da
ilustração está no fato de não haver nenhuma diferença na massa, no barro; a
massa toda é barro, e a única causa da diferença dos vasos é a vontade do

oleiro. No caso de Jacó e Esaú (9-13), o ponto ilustrado é que um dos filhos era
tão bom como o outro, que não havia neles diferença alguma, e que a diferença
posterior entre eles era devida ao “decreto de Deus segundo a eleição” -
“Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que
o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras,
mas por aquele que chama... - versículo 11, ARC.

27. Em que sentido se diz que Deus endurece os homens?

Veja Romanos 9:18 e João 12:40.

Este é, sem dúvida, um ato judicial no qual Deus, em justo castigo dos pecados
dos homens maus, não eleitos para a vida, retira deles todas as influências da Sua
graça, e os deixa entregues às tendências desenfreadas de seus corações e
às influências não contrariadas do mundo e do diabo.

28. Qual a objeção feita contra a doutrina calvinista sob o fundamento de que
é incompatível com a justiça?

Há os que afirmam que se Deus, por um decreto soberano e absoluto, passa por
alto alguns homens e não lhes concede a graça necessária para habilitá-los a
arrepender-se e a crer em Cristo, seria injusto da parte de Deus torná-los
responsáveis e puni-los por sua falta de fé. . ,

29. Como expor a idéia fundamental em que repousa necessariamente todo o


arminianismo a respeito da relação que a obra remediadora (terapêutica) de
Cristo sustenta para com a justiça de Deus, e a respeito da relação que a raça
humana sustenta para com o governo divino?

Quando se analisa o sistema arminiano penetrando até os seus princípios


fundamentais, acha-se que o referido sistema repousa sobre o postulado de que o
dom de Cristo foi dado aos homens como compensação necessária pelos males
que sobre eles trouxe o pecado de Adão. Os arminianos admitem que esse
pecado foi a causa que tornou pecadora a raça inteira, e

que todos os descendentes de Adão nascem com uma natureza tão depravada que
são moralmente incapazes de amar a Deus, e se dispõem naturalmente para o
mal. Sustentam, porém, que os homens a princípio não são responsáveis por sua
condição moral, porque nascem nessa condição anterior a toda ação pessoal. Por
isso afirmam que o homem não pode ser punido pelo pecado original, nem
poderia homem algum ser responsabilizado por qualquer ato de desobediência
que fosse resultado inevitável dessa depravação original, se Deus não houvesse
por Cristo provido um remédio, dando a todos os homens capacidade, recebida
pela graça, para fazer tudo quanto deles exige como condição da sua salvação.
Essa redenção e essa capacidade recebida pela graça para crerem e obedecerem,
Deus deve a todos os homens, e são necessárias para que eles se tornem
responsáveis e puníveis por seus pecados, visto que só assim os homens, no que
se refere a esses atos de crer, arrepender-se e obedecer, ficam habilitados
para escolher o contrário. •. • . ,

Diz o Dr. D.D.Whedon: “Somente quando se concede ao homem redentoramente


o que chamamos uma capacidade dada pela graça para fazer o bem, é que ele
pode restritamente ser responsável por fazer o mal”. Diz ele ainda que, depois
de Adão pecar, Deus tinha a escolha entre somente duas alternativas compatíveis
com a justiça: Ia. Enviar à perdição Adão e Eva antes de terem filhos; ou, 2a.
Permitir que propagassem a raça sob as incapacidades resultantes do pecado
e prover um sistema redentor para todos.

Essa corrente distingue entre a culpa e a responsabilidade moral pelo caráter e


pela corrupção moral da natureza. Ensina que somente Adão e Eva foram
culpados, e por isso responsáveis, como também corruptos, porque, tendo sido
criados moralmente livres, corromperam-se voluntariamente por seu próprio ato.
Seus descendentes, porém, estão todos poluídos moralmente e mortos
espiritualmente, porque herdaram de Adão uma natureza corrompida; mas não
são culpados nem

responsáveis pelo pecado original, nem por nenhuma de suas conseqüências,


porque o seu estado foi determinado inevitavelmente por um ato que não era seu.
No estado atual das coisas, em conseqüência do dom de Cristo, todos os homens
são responsáveis, porque todos têm a graça suficiente.
Desta doutrina segue-se: Io. Que a obra de redenção não foi uma obra da graça
infinita, e sim um simples ato de justiça em compensação pelos males que Adão
trouxe sobre a nossa natureza. 2o. Que isso é devido a todos os homens, sem
nenhuma exceção. “Rejeito”, diz João Wesley (Doctrinal Tracts, págs. 25,26), “a
asserção de que Deus com justiça me podia ter passado por alto, a mim e a todos
os homens, como asserção atrevida e precária, que não é sustentada
pelas Escrituras Sagradas.” 3o. Segue-se mais, que o auxílio do Espírito Santo,
por Sua graça, é tão necessário para tornar os homens “pecadores responsáveis”
como o é para trazê-los à salvação. 4o. Segue-se ainda que é a graça que envia os
homens para o inferno, assim como os leva para o céu, e que a ela é devida a
condenação de maior número de almas do que o de almas que por ela foram
salvas.

30. Como demonstrar que aposição dos arminianos a este respeito é


absolutamente incompatível com aquilo que as Escrituras e a Igreja Cristã
inteira ensinam sobre a natureza e a necessidade da SATISFAÇÃO dada à
justiça divina por Cristo?

No capítulo 25 será demonstrado que as Escrituras e a Igreja inteira ensinam que


para a salvação do homem era absolutamente necessário dar-se plena satisfação
ao inalienável princípio de justiça essencial à natureza divina, de modo que, se
não fosse satisfeita a justiça de Deus, Ele não poderia manifestar Sua graça a
homem algum. Mas isso seria absurdo se os homens não fossem
antecedentemente responsáveis pelos pecados pelos quais era necessário que
dessem satisfação. Qual o sentido de uma “capacidade dada pela graça e
concedida redentoramente” a respeito de pessoas que nada perderam porque

não são responsáveis por nada? Não seria uma impertinência falar, no caso delas,
em “redenção” e em “graça”?

- -i i !<'•

31. Como se prova pelas Escrituras que a salvação vem da graça?

Graça é favor livre, não merecido, isto é, concedido a quem não o merece. Se a
redenção é algo que todos os homens merecem receber, ou se é uma
compensação necessária para que sejam responsáveis, então o dom de Cristo não
pode ser uma manifestação suprema do livre favor e amor de Deus. Pode ser
somente uma manifestação da Sua retidão.
Mas as Escrituras declaram que o dom de Cristo é uma manifestação sem igual
do livre amor de Deus, e que a salvação nos vem da graça de Deus - Lam. 3:22;
João 3:16; Rom. 3:24; 11:5,6; 1 Cor. 4:7; 15:10; Ef. 1:5,6; 2:4-10, etc. E todo
cristão verdadeiro reconhece como elemento inseparável da sua experiência que
a salvação é toda da graça de Deus. Esta é também a explicação das doxologias
do céu - 1 Cor. 6:19,20; 1 Ped. 1:18,19; Apoc. 5:8-14. - ,

Se, porém, a salvação vem só da graça de Deus, é evidentemente compatível


com a Sua justiça que Ele salve todos, muitos, uns poucos, ou nenhum, como
Lhe apraz.

32. Como se prova que é absurda e anticristã a objeção segundo a qual a


eleição incondicional é incompatível com a justiça de Deus?

A justiça considera necessariamente todos os homens como igualmente sem


nenhum direito ao favor de Deus. E injusto justificar os injustos. Seria
incompatível com a retidão que um homem pecador exigisse ou que Deus
concedesse a salvação a qualquer pessoa como algo que lhe é devido. De outro
modo negar-se-ia a sentença condenatória da consciência e a cruz de Cristo
ficaria sem nenhum efeito. Se tomarmos, pois, como fundamento a própria
justiça, chegaremos à conclusão de que a salvação só pode vir da graça divina, e
que depende unicamente da vontade soberana de Deus se há de ser aplicada a

muitos, a poucos ou a ninguém. Ou a salvação de nenhum indivíduo é


compatível com a justiça ou o sacrifício de Cristo foi o pagamento de uma
dívida, e não uma graça. E a salvação de um pecador que não a merece,
evidentemente não pode tornar-se motivo pelo qual outro pecador igualmente
culpado possa exigi-la como um direito seu. .
*. .

33. Como expor e refutar a objeção de que a nossa doutrina é incompatível com
a retidão de Deus como GOVERNADOR IMPARCIAL?

Muitas vezes os arminianos dizem que a razão nos ensina a esperar que o
Criador e Governador onipotente de todos os homens seja imparcial no modo
por que trata os indivíduos -que conceda a todos as mesmas vantagens essenciais
e as mesmas condições de salvação. Dizem também que esta justa pressuposição
da razão se acha confirmada nas Escrituras, as quais declaram que “Deus não faz
acepção (ou exceção, como em 2 Crôn.l9:7 Figueiredo, presumivelmente em
edição antiga) de pessoas”-Atos 10:34; 1 Ped. 1:17. Na primeira
destas passsagens o apóstolo fala simplesmente da aplicação do evangelho aos
gentios bem como aos judeus; e na segunda afirma-se que Deus, no Seu
julgamento das obras humanas, é absolutamente imparcial. Na eleição, porém, a
questão versa sobre a graça, e não sobre o juízo feito a respeito de obras, e
as Escrituras em parte alguma dizem que Deus é imparcial na comunicação da
Sua graça. < .

Além disso, devemos sempre interpretar as pressuposições da razão e os textos


das Escrituras à luz dos fatos palpáveis da história humana e das dispensações
diárias da providência de Deus. Se é injusto em princípio que Deus seja parcial
na Sua distribuição de bens espirituais, não pode ser menos injusto que seja
parcial na Sua distribuição de bens temporais. Como matéria de fato, Ele faz as
maiores distinções possíveis entre os homens, desde o seu nascimento e
independentemente dos seus merecimentos, na distribuição, não só de bens
temporais,

mas também dos meios essenciais à salvação. Uma criança nasce para a saúde,
para honras e riquezas, para a posse de um coração e de uma consciência
suscetíveis, e para todos os melhores meios de graça, como sua herança segura e
certa. Muitas outras nascem para moléstias, para a vergonha, a pobreza, a posse
de um coração duro e de uma consciência obtusa, e para as trevas absolutas do
paganismo e da ignorância a respeito de Cristo. Se Deus não pode ser parcial
para com indivíduos, por que é que o pode ser para com nações, e como se pode
explicar o Seu proceder para com as nações pagãs e para com as crianças
das classes criminosas de países nominalmente cristãos?

O arcebispo Whately dirige a seguinte admoestação excelente a seus amigos


arminianos: “Sugiro cautela no uso que se fizer de uma série de objeções tiradas
dos atributos morais de Deus, feitas freqüentemente contra os
calvinistas. Devemos acautelar-nos muito para não empregarmos armas que
podem virar-se contra nós. E uma verdade terrível, porém inegável, que grandes
multidões, mesmo nos países evangeli-zados, nascem e são criadas em
circunstâncias que não somente tornam improvável, mas até impossível, que
obtenham qualquer conhecimento de verdades religiosas, ou adquiram o hábito
de comportamento moral, e são até criadas, desde crianças, em erros
supersticiosos e na pior depravação. Por que é que isso é permitido, nem os
calvinistas nem os arminianos podem explicar; realmente, por que é que o Todo-
poderoso não faz morrer no berço toda criança cuja malvadez e miséria, se viver,
Ele prevê, é coisa que nenhum sistema de religião, quer natural quer revelado,
nos habilita a explicar de modo satisfatório” - Essays on some of the Difficulties
of St. Paul, Ensaio 3°, sobre a eleição.

34. Como refutar a objeção tirada de textos como 1 Timóteo 2:4? : - .

Eis os seus termos: “O qual deseja (quer) que todos os homens sejam salvos, e
cheguem ao pleno conhecimento

da verdade”. ■ . .

A palavra querer tem dois sentidos - (a) desejar, (b)propor-se, ter a intenção de,
determinar-se a. Em contextos como o da passagem acima é evidente que o
sentido não pode ser que Deus tem a intenção de salvar ou que Ele Se
determinou a salvar a todos, porque (a) nem todos são salvos, e nenhuma das
intenções ou propósitos de Deus pode falhar (b) porque a afirmação é que
Eltquer que todos “venham ao conhecimento da verdade” no mesmo sentido em
que “quer que todos sejam salvos” - e, apesar disso, deixa que a imensa maioria
dos homens nasça, viva e morra nas trevas do paganismo, independentemente da
Sua participação ativa no caso deles.

Passagens como essa declaram simplesmente a benevolência essencial de Deus.


Ele não tem prazer na morte dos ímpios, e tem muito prazer na salvação dos
homens. E, ao mesmo tempo, e em perfeita consonância com a
Sua benevolência, por motivos suficientes mas que não nos são revelados, não
proveu redenção para os anjos caídos, nem graça eficaz para os não eleitos entre
os homens. As passagens dessa natureza afirmam simplesmente que, se não
fossem aqueles motivos, seria do agrado da Sua natureza benévola que todos os
homens fossem salvos.

35. Como provar que a nossa doutrina não influi no ânimo dos pecadores,
tirando-lhes o incentivo para fazerem uso de meios?

Objeta-se que, se Deus determinou desde toda a eternidade que um homem seja
convertido e seja salvo e que outro seja deixado a perecer em seus pecados, não
há mais lugar para o uso de meios. Assim é que João Wesley, na obra
Methodist Doctrinal Tracts, representa falsamente a doutrina de
Toplady, dizendo: “Há, suponhamos, vinte homens, dos quais dez foram
preordenados para que sejam salvos, façam o que fizerem, e os outros dez foram
preordenados para serem condenados, façam o que fizerem”. Isso é, porém,
uma caricatura da doutrina, tão absurda quanto perversa.

CONSIDEREMOS: '

Io. O decreto da eleição não assegura a salvação sem a fé e a santidade, e sim, a


salvação mediante a fé e a santidade, sendo decretados tanto os meios como o
fim. Os calvinistas crêem tão firmemente como os arminianos que todo o que
praticar o mal será condenado, independentemente da consideração se é eleito ou
não.

2o. A doutrina da eleição não ensina que Deus constrange os homens de um


modo incompatível com a sua liberdade. Os não eleitos Ele simplesmente deixa
fazer o que for de conformidade com os impulsos dos seus próprios
corações maus. Os eleitos Ele, no dia do Seu poder, faz com que O queiram.
Opera neles tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade. (Fil.
2:13). E certo é que Deus fazer que um homem queira não o tolhe de sua
liberdade!

3o. O decreto da eleição só torna certos o arrependimento e a fé dos eleitos.


Todavia, a certeza antecedente de um ato livre não é incompatível com a sua
liberdade, de outro modo seria impossível a presciência de um ato livre. O
decreto da eleição não produz a fé, e de modo algum tolhe a ação do agente, e
tampouco o exime da prática de obras.
•'■D • .

36. Até onde podemos estar convencidos de que somos eleitos, e em que se
baseia essa convicção?

E-nos possível alcançar nesta vida uma convicção inabalável e certa da nossa
eleição, porque aos que Deus predestina a estes também chama; e aos que
chama, a estes também justifica; e sabemos que aos que justifica, a estes também
santifica. Assim, pois, os frutos do Espírito comprovam a santificação, esta
comprova a vocação eficaz, e esta comprova a eleição. Veja 2 Ped. 1:5-10 e 1
João 2:3.

Além dessas provas fornecidas por nosso estado de graça e por nossos atos,
temos ainda o Espírito de adoção, que dá testemunho com o nosso espírito e nos
sela - Rom. 8:16,17; Ef. 4:30. - - .......
Em confirmação disso temos o exemplo de Paulo (2 Tim. 1:12) e o de muitos
cristãos.

37. Como se pode demonstrar que esta doutrina é compatível com a


benevolência de Deus? ■

A única dificuldade a este respeito está em conciliar a benevolência geral de


Deus com o fato de que Ele, sendo infinitamente bom e poderoso, tenha
admitido um sistema que envolve o pecado, a impenitência final e a
conseqüente condenação de certos homens. Entretanto a mesma
dificuldade aperta também o sistema arminiano.

Os fatos provam que não é incompatível cotti a benevolência geral de Deus


permitir que alguns sejam condenados por causa dos seus pecados. Isso é tudo
quanto quer dizer reprovação. A eleição gratuita, ou a escolha positiva de
alguns para a vida eterna, não descansa na benevolência geral de Deus, e sim no
amor especial que Ele dedica aos Seus - João 17:6,23; Rom. 9:11-13; 1 Tess.
5:9. ......

38. Como se pode demonstrar que esta doutrina é compatível com a oferta
geral do evangelho?

No evangelho, Deus oferece sinceramente a todos os que o ouvem, sem


nenhuma exceção, uma salvação suficiente para todos e exatamente adaptada a
todos, e apresenta todos os motivos para o dever, para a esperança, para o temor,
etc., que deveriam induzir todos a aceitá-la, e promete solenemente que todo
aquele que vier a Ele, seja quem for, de modo nenhum será lançado fora. E, pois,
só e unicamente a pecaminosa falta de vontade que impede qualquer pessoa que
ouve o evangelho de recebê-lo e gozá-lo.

O evangelho é para todos; a eleição é uma graça especial acrescentada àquela


oferta. Os não eleitos poderiam vir e ser salvos, se quisessem. Os eleitos vêm.
Mas o decreto da eleição não põe nenhum obstáculo no caminho de ninguém,
impedindo-o de aceitar as ofertas feitas no evangelho. Qualquer

pessoa, seja eleita ou não, será salva se aceitar essas ofertas. Os não eleitos Deus
simplesmente deixa fazer aquilo que seus próprios corações lhes determina que
façam.

Não é menor a transparente dificuldade que se encontra na tentativa de conciliar


a presciência certa de Deus da impenitência final da grande maioria daqueles a
quem Ele oferece o Seu amor e por toda forma de argumentos procura persuadir
a aceitá-10, com o fato de Lho oferecer; especialmente à vista da consideração
de que Ele prevê que os Seus oferecimentos aumentam muito e com toda a
certeza a culpa e a miséria final dos que os rejeitam. . . .

39. Como se pode conciliar a doutrina da reprovação com a santidade de


Deus?

A reprovação deixa os não eleitos nos seus pecados, e assim resulta no aumento
do pecado durante toda a eternidade. Como, pois, pode Deus, de um modo
compatível com a Sua santidade, formar um propósito cujo efeito e intenção é
deixar esses não eleitos no pecado e, assim, deixar que o seu pecado
aumente inevitavelmente?

Mas os arminianos, como também os calvinistas, reconhecem que Deus criou a


raça humana apesar de prever com toda a certeza que daria assim ocasião a
muito pecado, e criou também certos indivíduos, apesar da Sua presciência certa
de que esses mesmos indivíduos continuariam a pecar eternamente. A verdadeira
dificuldade está no problema humanamente insolúvel da permissão do mal. Por
que é que Deus, sendo infinitamente sábio, reto, misericordioso e poderoso,
permite que exista o pecado no Seu universo? Os arminianos não podem
responder a esta pergunta melhor do que os calvinistas. ■ > '

40. Qual a legítima influência prática desta doutrina sobre a experiência e a


conduta cristãs?

Devemos lembrar, Io. Que esta verdade não é incompatível

com este sistema baseado na graça de Deus, e sim, faz parte integrante dele.
Fazem parte deste sistema os princípios igualmente certos da liberdade e da
responsabilidade moral dos homens, e as ofertas livres do evangelho feitas a
todos.

2o. Que a nossa única regra de dever é a que se compõe dos mandamentos, das
ameaças e das promessas de Deus expressos claramente nas Escrituras, e não o
decreto da eleição, o qual Ele nunca revela, exceto nos seus elementos
conseqüentes de vocação eficaz, fé e vida santa.
Quando é sustentada nesses termos, a doutrina da predestinação... ,

Io. Exalta a majestade e a soberania absoluta de Deus e, ao mesmo tempo, ilustra


as riquezas da Sua graça e o Seu justo desprazer pelo pecado.

2o. Imprime em nós com mais força a verdade essencial de que a salvação é
inteiramente obra da graça de Deus, e que ninguém pode queixar-se se for
passado por alto, nem jactar-se se for salvo.

3°. Leva ao inquiridor a desesperar absolutamente de si e a aceitar cordialmente


a oferta livre de Cristo.

40. No caso do crente que tem o testemunho em si, esta doutrina o torna mais
humilde e, ao mesmo tempo, aumenta a sua confiança, chegando à esperança
certa e segura.

41. Como se pode expor a verdadeira natureza da questão

discutida pelos teólogos a respeito da ORDEM DOS DECRETOS


DIVINOS? '

Desde que cremos que o decreto de Deus é uma só intenção eterna, não pode
haver ordem de sucessão nos Seus propósitos, nem (a) no tempo, como se um
propósito realmente precedesse a outro, nem (b) na deliberação distinta, ou
opção, da parte de Deus. O todo é um só propósito. Mas, determinando
a existência do sistema inteiro, Deus compreendeu naturalmente todas as partes
do sistema, determinadas por Ele em suas diversas sucessões e relações. E como
um homem que por um

só ato da sua inteligência reconhece uma máquina complicada que lhe é familiar,
e no mesmo ato distingue acuradamente suas diversas partes e compreende a sua
unidade, as suas relações no sistema, e a intenção do todo. Por isso, a
questão quanto à ordem dos decretos não é questão quanto à ordem dos atos de
Deus ao decretar, e sim, é questão quanto à verdadeira relação que sustentam
entre si as diversas partes do sistema decretado. Isto é, que relação estabeleceu o
único propósito eterno de Deus entre criação, predestinação e redenção? Que
ensinam as Escrituras a respeito do propósito de Deus no sentido de dar Seu
Filho, e a respeito do fim e motivo da eleição? Do motivo e fim da eleição já
tratamos por extenso acima. Do desígnio que Deus tinha em vista ao darmos
Cristo, trataremos na divisão 4 do capítulo 25.

42.Qual é a teoria arminiana quanto à ordem dos decretos que se referem à raça
humana?

Io. O decreto de criar o homem. 2o. Sendo o homem falível, por ser um agente
moral e ter a sua vontade essencialmente contingente, e sendo por isso
impossível prevenir ou impedir o seu pecado, Deus, prevendo que o homem
cairia com certeza na condenação e na corrupção do pecado, decretou
preparar uma salvação gratuita para todos os homens, mediante Cristo, e
preparar meios suficientes para aplicar eficazmente essa salvação à situação de
todos. 3o. Decretou absolutamente que fossem salvos todos os que cressem em
Cristo, e que fossem reprovados por seus pecados todos os que não cressem.
4o. Prevendo que certos indivíduos haveriam de arrepender-se e crer, e que
outros haveriam de continuar impenitentes até ao fim, Deus elegeu desde toda a
eternidade para a vida eterna aqueles cuja fé previa, sob a condição da sua fé, e
reprovou aqueles que previa que continuariam impenitentes, sob a condição
dessa impenitência. .

' 43. Que idéias a esse respeito ensinaram os teólogos protestantes

franceses Cameron, Amyrant e outros?

Estes professores teológicos em Saumur, durante o segundo quarto do século 17,


ensinaram que Deus decretou -Io. Criar o homem. 2o. Permitir que ele caísse. 3o.
Preparar, na mediação de Cristo, salvação para todos. 4o. Mas, prevendo que, se
os homens fossem deixados a si mesmos, nenhum deles se arrependeria nem
creria, por isso elegeu soberanamente alguns, aos quais decretou conceder as
graças necessárias do arrependimento e da fé. . . ■ : .

44. Que é a teoria infralapsariana da predestinação?

A teoria infralapsariana (infra-lapsum) da predestinação, ou o decreto da


predestinação considerado como subseqüente, no propósito divino, ao decreto
que permitiu a queda do homem, representa este como objeto da eleição depois
de criado e decaído. A ordem dos decretos é então a seguinte: Io. O decreto de
criar o homem. 2o. O de permitir que caísse. 3o. O de eleger certos homens
dentre a raça inteira decaída e com justiça condenada, para a vida eterna, e de
passar por alto os outros, deixando-os entregues às justas conseqüências dos
seus pecados. 4o. O decreto de preparar a salvação para os eleitos. ESTA É A
TEORIA COMUM ÀS IGREJAS REFORMADAS, CONFIRMADA PELO
SÍNODO DE DORT E PELA ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER.

45. Que é a teoria supralapsariana da predestinação?

Chama-se supralapsariana (supra lapsum) a teoria das

diversas provisões do decreto divino nas suas relações lógicas, que supõe que o
supremo fim que Deus Se propôs na salvação de uns e na condenação de outros,
foi a Sua própria glória, e que, como meio para alcançar esse fim, decretou criar
o homem e permitir que caísse. Segundo esta teoria, o objeto da eleição e da
reprovação é só o homem capaz de ser criado e de cair, e não o homem criado e
decaído. A ordem dos decretos seria então esta: Io. Dentre todos os homens
possíveis Deus primeiro

decretou a salvação de uns e a condenação de outros, a fim de promover assim a


Sua própria glória. 2o. Para alcançar esse fim, decretou criar os que já havia
escolhido ou reprovado. 3o. Decretou permitir que caíssem. 4o. Decretou
preparar a salvação para os eleitos. Esta foi a teoria de Beza, sucessor de Calvino
em Genebra, e de Gomaro, o grande oponente de Armínio.

46. Como expor os diversos pontos de acordo e de diferença entre essas diversas
teorias?

Io. A teoria arminiana comparada com a calvinista:

Segundo o arminiano, o decreto da redenção precede ao da eleição, e este tem


por condição a fé prevista do indivíduo.

Segundo o calvinista, porém, o decreto da eleição precede ao da redenção, e o da


eleição depende tão-somente da boa vontade de Deus.

2o. A teoria francesa ou saumuriana (da escola de Saumur) comparada com a


teoria legítima das igrejas reformadas e com a arminiana:

A teoria da escola de Saumur está de acordo com a reformada, e difere da


arminiana porque sustenta que a eleição depende unicamente da boa vontade
soberana de Deus; difere, porém, da teoria reformada e concorda com a
arminiana em sustentar que o decreto da redenção precede ao da eleição.

3o. A teoria supralapsariana comparada com a infralap-sariana, sustentada pelas


igrejas reformadas:

Segundo a teoria supralapsariana, o decreto de eleger uns e reprovar outros


precede ao decreto de criar o homem e permitir que caísse. Segundo a teoria
infralapsariana, o decreto da eleição sucede ao decreto de criar e permitir a
Queda. A teoria supralapsariana considera como objeto da eleição ou
da reprovação, não o homem como já criado e decaído, e sim o homem como
capaz de ser criado e de cair. A teoria infralapsariana considera como único
objeto desses decretos o homem como já criado e decaído.

47. Como expor os argumentos contra a teoria supralapsariana?

Não há dúvida de que esta é a teoria mais lógica de todas. E postulada sobre o
princípio de que aquilo que se faz por último tencionava-se fazer desde o
princípio, e isso, sem dúvida nenhuma, é verdade em todas as esferas
compreendidas na experiência humana. Argumenta-se, pois, que, se o
resultado final da questão toda é a glorificação de Deus na salvação dos eleitos e
na perdição dos não eleitos, este resultado deve ter sido o propósito deliberado
de Deus desde o princípio. Mas a causa em apreço é demasiado elevada para que
se lhe apliquem a priori as regras ordinárias do juízo humano, muito menos para
que se insista nelas; a seu respeito só podemos saber aquilo que nos é
positivamente revelado.

As objeções contra a teoria supralapsariana são as seguintes...

Ia. O homem capaz de ser criado é uma nonentidade,1 coisa que não existe. Não
poderia ser amado nem eleito, a não ser que fosse considerado como já criado.

2a. A linguagem inteira das Escrituras em relação a este assunto implica em que
“os eleitos” o foram como objetos do amor eterno, não do número de homens
criáveis, capazes de ser criados, e sim do número inteiro de homens
pecadores realmente existentes-João 15:19; Rom. 11:5,7.

3a. As Escrituras declaram que os eleitos o foram para a santificação e para a


aspersão do sangue de Cristo. Segue-se, pois, que, quando foram eleitos eram
como culpados e manchados pelo pecado - 1 Ped. 1:2; Ef. 1:4-6.

4a. A predestinação inclui a reprovação. A teoria supralapsariana representa Deus


como reprovando os não eleitos

por um ato soberano, não por causa dos pecados deles? e sim para a Sua própria
glória. Isto parece incompatível com a retidão divina e também com o ensino das
Escrituras. Os nao eleitos foram preordenados por Deus para a desonr# e ira por
causa de seus pecados e para louvor de Sua gloriosa justiça. Conf. de Fé, Cap.
3, Seções 3-7; Cat. Maior, Perg. 13;BreVe Cat., Perg. 20.

48. Como se pode demonstrar que a exegese correta de Efésios 3:9,10 não dá
apoio à teoria supralapsariana?

Há os que dizem que essa passagem é uma afifmaÇao explícita da teoria


supralapsariana. Se o para que do versículo dez se referisse à cláusula
imediatamente anterior, a passagem ensinaria que Deus criou todas as coisas para
que a Sua multiforme sabedoria fosse patenteada pela Igreja aos ^njos.
E evidente, porém, que para que refere-se aos versículos 8 e 9, nos quais Paulo
declara que foi incumbido de pfegar 0 evangelho aos gentios e de esclarecer os
homens a respeit° do mistério* da redenção. Tudo isso ele foi comissionado
para fazer, para que fosse manifestada a glória de Deus, e asSim por diante. Veja
Hodge on Ephesians.

49. Como expor os argumentos contra a teoria da e$c°la de Saumur?

Io. Não é compatível com o fato de que os propósitos de Deus constituem um


só.2 3 Segundo essa teoria, Deus, num so ato determinou preparar as condições
objetivas da salvação (redenção pelo sangue de Cristo) para todos, e conceder
as condições subjetivas da salvação (graça eficaz) sorJtente a

alguns. Isso é realmente uma tentativa de reunir num só sistema o arminianismo


e o calvinismo. 2o. As Escrituras declaram que a finalidade para a qual Cristo
veio foi executar o propósito da eleição. Veio para dar a vida eterna a todos
quantos o Pai Lhe desse - João 17:2,9; 10:15. Por conseguinte, a redenção não
pode preceder à eleição. 3o. A verdadeira doutrina da propiciação (veja Cap. 25)
não é que Cristo veio para tornar possível a salvação, e sim para efetuá-la para
todos aqueles por quem Ele morreu. Para esses a propiciação alcança a
remissão dos pecados, a fé, o arrependimento e todos os frutos do Espírito. Por
isso, todos os que são remidos arrependem-se e crêem.

50. Em que sentido os luteranos ensinam que Cristo é a razão da eleição?

Ensinam que Deus elegeu Seu povo para a vida eterna por amor de Cristo, e
citam em apoio Efésios 1:4: “Como também nos elegeu nele (em Cristo) antes
da fundação do mundo”.4 E evidente que esta teoria pode ser explicada, ou
de acordo com a teoria arminiana dos decretos, ou com a francesa (de Saumur),
teorias acima expostas; isto é, que os eleitos foram escolhidos em Cristo e por
amor dEle, ou que o foram porque Deus, tendo provido por Cristo salvação para
todos, queria, elegendo certos indivíduos, que pelo menos no caso destes a morte
de Cristo Se tornasse eficaz para a salvação deles.

Esta teoria é evidentemente refutada pelos mesmos argumentos apresentados


acima contra as duas teorias que

acabamos de mencionar. Os eleitos o foram “nele”, não por amor de Cristo, e


sim porque a aliança eterna da graça inclui todos os eleitos como membros do
corpo do qual Ele é a cabeça. As Escrituras apresentam sempre o amor de Deus
como o motivo do dom de Cristo, e não a obra realizada por Cristo como
o motivo do amor de Deus - João 3:16; 1 João 4:10.

DIVERSAS EXPOSIÇÕES DAS IGREJAS

EXPOSIÇÃO LUTERANA - “O que primeiro deve-se notar acuradamente é a


diferença entre a presciência e a predestinação ou a eleição eterna de Deus.
Porque “a presciência de Deus” nada mais é do que o fato de que Deus conhecia
e sabia todas as coisas antes que existissem... Essa presciência de Deus diz
respeito aos homens bons tanto quanto aos maus, mas nem por isso é a causa do
mal, nem a do pecado, que impele os homens a cometerem crimes. Pois o
pecado tem por origem o diabo e a vontade depravada e má do homem. Nem é
essa presciência de Deus a causa pela qual os homens perecem; porque disso
eles devem culpar-se a si mesmos; mas a presciência de Deus dispõe do mal e o
limita, determinando para onde vá, e até quando tenha que durar, de modo que,
embora em si seja o mal, contribui para a salvação dos eleitos de Deus.

“Por outro lado a “predestinação”, isto é, a eleição eterna operada por Deus, diz
respeito tão-somente a Seus . filhos bons e escolhidos, e é a causa da sua
salvação. Porque lhes consegue a salvação e os dispõe para as coisas que Lhe
pertencem. A nossa salvação é baseada de tal modo sobre essa predestinação que
as portas do inferno nunca a poderão subverter. Essa predestinação operada por
Deus não se deve procurar no conselho secreto de Deus, e sim na Sua Palavra,
onde se acha revelada. A Palavra de Deus conduz-nos a Cristo; este é aquele
livro da vida em que se acham inscritos e eleitos todos os que alcançam a
salvação eterna - porque assim está escrito: “elegeu-nos em Cristo

antes do estabelecimento do mundo” (Ef.l:4). A Palavra de Deus, o “livro da


vida”, Cristo nos oferece, e este nos é aberto e desdobrado mediante a pregação
do evangelho, assim como está escrito: “aos que escolheu, também chamou”
(Rom. 8: 30). Em Cristo, pois, é que se deve procurar a eleição eterna operada
pelo Pai. Ele, em Seu conselho eterno, decretou que fossem salvos só
e unicamente aqueles que conhecessem Seu Filho Jesus Cristo e cressem nEle
verdadeiramente” - Formula Concordite, Hase Collect., págs. 617-619.

João Gerhard (1532-1637), Loci 2, 86 B - “Dizemos que todos aqueles, e


somente aqueles que Deus previa que haveriam de crer em Cristo, o Redentor,
mediante a eficácia do Espírito Santo e o ministério do evangelho, e de
perseverar na fé até ao fim da vida - somente aqueles foram por Ele, e desde a
eternidade, eleitos para a salvação”.

A DOUTRINA DAS IGREJAS REFORMADAS - Os trinta e nove artigos da


Igreja da Inglaterra. Artigo 17. Veja acima, Cap.7.

Confissão de Fé de Westminster, Cap. 3, Seção 7. -“Segundo o conselho de Sua


própria vontade, pela qual Ele concede ou recusa misericórdia, como Lhe apraz,
para a glória de Seu soberano poder sobre as Suas criaturas, para louvor de Sua
gloriosa justiça, o resto dos homens aprouve a Deus não contemplar e ordená-
los para a desonra e ira por causa de seus pecados”.

Cânones do Sínodo de Dort, Cap. 1, § 7 - “A eleição, porém, é o propósito


imutável de Deus, pelo qual, antes de se estabelecerem os fundamentos do
mundo, Ele, segundo a Sua muito livre boa vontade, e só da Sua graça, escolheu,
dentre toda a raça humana, decaída por sua própria culpa da sua integridade
primitiva, no pecado e destruição, um certo número de homens, nem
melhores nem mais dignos do que os outros, mas estando na mesma miséria
como os demais, para a salvação em Cristo, a quem constituíra desde a
eternidade como o Mediador e a Cabeça de todos os escolhidos, e o fundamento
da salvação.

§9. Esta mesma eleição não é feita em conseqüência de qualquer fé, obediência
de fé, santidade ou qualquer outra boa qualidade ou disposição previstas, como
causa ou condição antecedente no homem que haveria de ser eleito, e sim para a
fé e para a obediência da fé, e a santidade. E, verdadeiramente, a eleição é a
fonte de todo benefício salvador; e dela emanam como seu fruto e efeito a fé,
a santidade e outros dons salutares, e, afinal, a própria vida eterna. § 15. Além
disso, as Escrituras Sagradas ilustram e nos recomendam esta graça livre e eterna
da nossa eleição, mais especialmente porque testificam também que nem todos
os homens são escolhidos, mas que alguns não são, ou Deus os passou por alto
na Sua eleição eterna, aos quais Deus, verdadeiramente, da Sua boa
vontade muito livre, justa, irrepreensível e imutável, decretou viverem na
miséria comum à qual, por sua própria culpa, se haviam lançado, e não
conceder-lhes viva fé nem a graça da conversão”.

OS REMONSTRANTES * - Remonstrantia etc. Cinco artigos preparados pelos


defensores holandeses da redenção universal (1610). Art. 1- “Deus, por um
decreto imutável, antes de lançar os fundamentos do mundo, ordenou em Jesus
Cristo, Seu Filho, salvar dentre a raça humana decaída, exposta ao castigo por
causa do pecado, aqueles que, em Cristo, por causa de Cristo e por Cristo, pela
graça do Espírito Santo, cressem em Seu Filho, e que, pela mesma graça,
perseverassem até o fim na obediência da fé. E (decretou) também deixar no
pecado e expostos à ira aqueles que não são convertidos e são incrédulos,
e condená-los como estando fora de Cristo, segundo João 3:36.

Remonstrantes (queixosos), nome de uma seita calvinista holandesa, lundada


por Armínio. Em 1610 a seita recebeu esse nome porque os seus membros
enviaram uma “remonstrance” (uma representação queixosa) aos estados,
negando que desejavam causar conflito na igreja. Nota de ()dayr Olivetti.

O termo “nonentidade” traduz literalmente o inglês non entity, que


modernamente significa nulidade (algo ou alguém sem
características próprias, definidas, valiosas). No presente texto justifica-se o
uso do termo por sua derivação latina do advérbio non (não) acrescido do
particípio presente do verbo ser, sum (ens, entis, sendo, existindo, existente,
ente). Daí, algo ou alguém inexistente. Nota de Odayr Olivetti.

Não “sacramento”, como diz Figueiredo. Nota do tradutor.

Em sua “Teologia Sistemática” (Systematic Theology, Vol.2, paS- 323), Charles


Hodge argumenta dizendo que essa teoria “supõe mutabihdade nos
propósitos divinos; ou que o propósito de Deus pode dei^ar de
ser cumprido”. Nota de Odayr Olivetti. . . ... , -

É interessante comparar as seguintes versões do versículo 4 completo: ARC


(que nesta passagem segue a VA inglesa): “Como também nos elegeu nele
antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis
diante dele em caridade”. ARA: “Assim como nos escolheu nele antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em
amor...”. Figueiredo: “Assim como nos elegeu nele mesmo antes
do estabelecimento do mundo, pelo amor que nos teve, para sermos santos
e imaculados diante de seus olhos”. Nota de Odayr Olivetti. . —■
A Criação do Mundo

1. Qual a origem da doutrina da criação ex nihilo?

A prevalência, senão a concepção, da idéia de uma criação absoluta, ou de uma


criação ex nihilo, deve-se à influência da Palavra inspirada de Deus. Anterior à
revelação havia duas causas prevalentes que impediam a aceitação dessa idéia,
(a) A idéia então universalmente aceita era que o axioma ex nihilo nihilfit era
verdadeiro. A conseqüência foi que todos os teístas tanto como os ateístas
deixavam de conceber a idéia de uma criação absoluta, ou a rejeitavam como
absurda, (b) A segunda causa que exercia grande influência sobre os teístas era a
idéia de que a admissão de semelhante criação prejudicaria a teologia natural,
porque nessa hipótese seria impossível conciliar a existência do mal com as
perfeições de Deus.

2. Quais as opiniões defendidas pelos grandes teístas Platão e Aristóteles?

Platão sustentava que há dois princípios eternos e auto-existentes, Deus e a


matéria, que existem coordenadamente numa eternidade indivisível e não
sucessiva; que o tempo e o mundo presente e fenomênico que existe no tempo
são obra de Deus, que livremente molda a matéria em formas que dão imagens
de Suas próprias idéias eternas e infinitamente perfeitas. Aristóteles também
sustentava que Deus e a matéria são coordenadamente auto-existentes e eternos;
mas diferia de Platão em considerar Deus como eternamente auto-ativo em

organizar da matéria o mundo, e, por conseguinte, em considerar o universo


assim organizado como eterno, como também considerava eterna a matéria da
qual é formado. • ; >

3. Quais as opiniões defendidas a este respeito pelos gnósticos?

Alguns dos gnósticos ensinavam que o universo procede

de Deus por meio de emanação, explicada por eles como “um desenvolvimento
necessário e gradual ad extra do germe de existência que estava em Deus”,
assim como os raios de luz procedem do sol, etc. A maioria dos gnósticos
sustentava, juntamente com esta teoria de emanação, a doutrina do dualismo, isto
é, da auto-existência coordenada de dois princípios independentes, Deus e a
matéria. De Deus procederam por emanações sucessivas os ALons, o Demiurgo,
o Criador do mundo, o Jeová do Velho Testamento, e finalmente Cristo.
O universo material veio de matéria auto-existente, organizada pelo Demiurgo.
Todas as almas emanaram do mundo da luz, mas ficaram enredadas na matéria, e
daí é que vem a contenda histórica entre o bem e o mal, à qual Jesus Cristo veio
extinguir dando às almas o poder de livrar-se afinal dos laços da matéria.

4. Qual a teoria a este respeito que é comum a todos os sistemas

panteístas? •

Os panteístas identificam Deus com o universo. Deus é o Ser absoluto, do qual


as coisas são os modos especiais e transitórios. Deus é o princípio persistente e
auto-existente de todas as coisas, o qual, por uma lei inerente e auto-operativa de
desenvolvimento, está passando por ciclos incessantes de mudanças. ^ •

5 .Expor a verdadeira doutrina da criação.

A doutrina cristã a respeito da criação envolve os seguintes pontos:

Io. “No princípio”, em algum ponto de começo definido no tempo.

2o. Deus chamou à existência, do nada, todas as coisas, isto é, os princípios


originais e causas de todas as coisas. Assim, pois, tudo quanto existe, venha a
existir ou pode existir, exterior à Deidade, deve a sua existência e a sua
substância, como também a sua forma, a Deus.

3o. Esse ato criativo foi um ato de vontade livre e auto-determinada. Não foi um
ato necessário e constitucional análogo aos atos imanentes e eternos da geração
do Filho e da processão do Espírito Santo.

4o. Não foi necessário esse ato para completar a excelência e a felicidade
divinas, as quais são eternas, completas e inseparáveis da essência divina. Mas
foi executado no exercício de uma discrição absoluta e por motivos
infinitamente sábios - Dr. Charles Hodge.

Esta doutrina é essencial ao teísmo. Todas as teorias quanto à origem do mundo


opostas a esta são essencialmente panteístas ou ateístas.

6. Qual a distinção assinalada pelas expressões “creatio prima seu


immediata”, e “creatio secunda seu mediata”, e por quem foi ela introduzida?

A frase “creatio prima seu immediata” signfica o ato originário da vontade


divina pelo qual Ele trouxe ou traz à existência, do nada, os princípios e as
essências elementares de todas as coisas. A frase “creatio secunda seu mediata”
significa o ato subseqüente de Deus originando diversas formas de coisas, e
especialmente diversas espécies de seres vivos, das essências já criadas
das coisas. A Igreja Cristã sustenta ambas essas idéias. Essas frases foram
utilizadas primeiramente nas obras de certos teólogos luteranos do século
17,e.g., Gerhard, Quenstedt etc.

7. Qual a significação primária, e qual o uso bíblico da palavra hebraica


bará?

Restritamente, 1°. talhar, cortar. 2o. Formar, fazer, produzir (quer do nada, quer
de material já existente - Gên. 1:1,21,27;

2:3,4; Is. 43:1,7; 45:7,18; Sal. 51:12; Jer. 31:22; Amós 4:13. Niphal, Io. Ser
criado- Gên. 2:4; 5:2. 2o.Nascer - Sal. 102:18; Ez. 21:35. Piei, Io. Talhar,
derrubar, e.g., uma floresta - Jos. 17:15,18. 2o. Derrubar (com espada), matar -
Ez. 23:47. 3o. Formar, esculpir, demarcar - Ez. 21:24 - Gesenius,
Lexicon (presumivelmente uma edição antiga).

8. Expor prova direta da veracidade desta doutrina que temos nas Escrituras.

Io. Sendo a idéia mesma inteiramente nova e alheia a todos os modos anteriores
de pensar, só podia ser comunicada nas Escrituras por meio de termos antigos,
empregados anteriormente em sentido diverso, mas servindo-se deles de tal
modo que sugerissem um sentido novo. A palavra “bará”, porém, é a melhor das
que possui a língua hebraica para exprimir a idéia de fazer absolutamente.

2o. Essa nova idéia é sugerida inevitavelmente pelo modo em que a palavra é
utilizada pela primeira vez por Moisés na narração que faz, logo no princípio, da
gênese do céu e da terra. Como introdução geral da história da formação do
mundo e seus habitantes vem a declaração de que “No princípio - no princípio
absoluto - Deus fez o céu e a terra”. Não há aí o menor indício de qualquer
material que já existisse. No princípio Deus fez o céu e a terra; depois disso
existiu o caos, porque se diz então que “a terra era vã *e vazia”, e o Espírito de
Deus pairava sobre o abismo.
3o. Essa mesma verdade é também sugerida inevitavelmente nas diversas formas
de expressão empregadas nas Escrituras para designar a ação de Deus em Sua
obra de originar o mundo. Em caso algum se acha o menor indício de alusão
a qualquer material preexistente ou a quaisquer condições

Assim Figueiredo. Devia ser, porém: “estava em desolação, em estado


caótico”. Nota do tradutor. .. ,

precedentes de criação. Em todos os casos as Escrituras relacionam toda a ação


causai da criação só e unicamente à “Palavra”, ao mandado de Jeová - Sal. 33:6
e 148:5,6. “Pela fé é que nós entendemos que foram formados os mundos
(o universo) pela palavra de Deus, para que o visível fosse feito do invisível”
(Heb. 11:3, Figueiredo). Veja Rom. 4:17; 2 Cor. 4:6.

9. De que maneira está inferida nas Escrituras esta doutrina da criação


absoluta do mundo por Deus?

10. Em todas as passagens que ensinam que Deus é o Soberano absoluto e que
as criaturas dependem dEltabsolutamente, sendo que “nele vivemos, e nos
movemos, e existimos” - Atos 17:28; Nee. 9:6; Rom. 9:36; 1 Cor. 8:6; Col. 1:16;
Apoc. 4:11.

Ora, é evidente que, se os elementos essenciais e os princípios primordiais de


todas as coisas não são criados imediatamente por Deus do nada, mas existem
eternamente por si e independentemente dEle, segue-se então que Ele, em Seus
ofícios de Criador e Governador providencial, está condicionado e limitado pelas
propriedades e forças essenciais e preexistentes desses elementos primordiais, e
Ele nem seria o Soberano absoluto, nem as coisas feitas
dependeriam absolutamente da Sua vontade.

2o. Em todas as passagens que ensinam que o cosmos, isto é, que “todas as
coisas” tiveram princípio - Sal. 90:2; João 17:5,24.

10. Que argumentos derivados da razão, da consciência e da constituição


elementar da matéria podem ser aduzidos em prova de uma criação absoluta?

Io. Só esta doutrina condiz com o sentimento de dependência absoluta em que a


criatura está de Deus, sentimento inerente ao coração de todas as criaturas
racionais e na realidade do qual as Escrituras tanto insistem. Elas não poderiam
dizer que Ele sustenta “todas as coisas, pela palavra do seu poder” (Heb. 1:3),
nem “que nele é que vivemos, nos

movemos, e existimos” (Atos 17:28), se Ele não fosse absolutamente o Criador e


também o Formador de todas as coisas.

2o. O testemunho da consciência torna manifesto: (1) Que as nossas almas são
entidades individuais e distintas, e não partes ou partículas de Deus; (2) que não
são eternas. Segue-se, pois, que foram criadas. E uma vez que se admita a
criação ex nihilo dos espíritos dos homens, não haverá mais dificuldade especial
quanto à criação absoluta da matéria.

3o. Embora nos seja inconcebível a criação absoluta de alguma coisa do nada,
não o é mais do que o é a relação da presciência infinita de Deus, ou da Sua
preordenação, ou do Seu governo providencial, com a liberdade da ação dos
homens, e nem o é mais do que inconcebíveis são muitas outras verdades que
todos se vêem obrigados a crer.

4o. Admitida a auto-existência necessária de um Espírito pessoal infinitamente


sábio e poderoso, cuja existência, na hipótese de que Ele possui o poder de criar
absolutamente, é suficiente para explicar a existência de todos os fenômenos
do universo, não é filosófico multiplicar causas gratuitamente, como se faz na
suposição de que a matéria é eterna, auto-exis-tente e independente.

5o. Depois que o filósofo materialista analisou a matéria até aos seus átomos
finais e determinou as suas propriedades primárias e essenciais, achou neles
provas tão fortes de uma causa antecedente e poderosa, e de uma inteligência
com desígnios sábios, como as encontra nas organizações mais complexas da
natureza; pois que outra coisa seriam as propriedades fundamentais da matéria
senão os constituintes elementares das leis universais da natureza, e as condições
finais de todos os fenômenos? Se intenção ou desígnio, descoberto na
constituição do universo concluído, prova a existência de um Formador divino,
então com igual razão a mesma intenção ou desígnio, descoberto na constituição
elementar da matéria prova a existência de um Criador divino.

Segundo a afirmação de Sir John Herschel, todos os

átomos da mesma substância elementar, por serem todos iguais, parecem


“objetos fabricados”.
“Quer seja autocontraditória a concepção de uma multidão de seres existentes
desde toda a eternidade, quer não seja, essa concepção torna-se palpavelmente
absurda quando | atribuímos uma relação de igualdade quantitativa a todos
esses seres. Nesse caso, somos obrigados a olhar para além deles e ] ver alguma
causa comum, ou alguma origem comum, como ' explicação do motivo pelo qual
existe essa relação singular... > Temos chegado ao limite extremo das nossas
faculdades de I pensar quando admitimos que, por não poder ser eterna e auto-
3 existente, a matéria teve necessariamente um Criàdor” - Prof. J.Clerk-
Maxwell, artigo “Atom”, Encyclopcedia Britannica, 9a. edição.

11. Como se pode expor e refutar a objeção contra esta doutrina, baseada no
axioma: “Ex nihilo nihil fit”?

Objeta-se que é um princípio original e auto-evidente da razão que do nada nada


pode proceder. Respondemos que essa asserção é indefinida. Se quer dizer que
nenhuma coisa nova, e nenhuma mudança numa coisa já existente, podem
principiar sem uma causa adequada, admitimos que isso é verdade, mas não tem
aplicação ao caso de que estamos tratando. Nossa doutrina não é que 0 universo
começou a existir sem causa adequada, e sim que as substâncias, como também
as formas das coisas, tiveram princípio no tempo, e que sua causa existe somente
na vontade de Deus. O poder infinito inerente a um Espírito auto-existente é
precisamente a Causa à qual referimos a origem de todas as coisas. Mas se a
objeção acima quer dizer que esse Deus infinito não tem 0 poder de criar
entidades novas, respondemos que o princípio é falso e não auto-evidente; não
traz nenhum dos indícios de uma intuição válida - nem auto-evidência, nem
necessidade, nem universalidade. v

12. Como se pode expor e refutar a doutrina daqueles que

baseiam em razões morais a auto-existência da matéria? ■

Aqueles dentre os pensadores teístas que se sentiram tentados a tomar a matéria


como eterna e auto-existente, foram levados a isso pela vã esperança de explicar
assim a existência domai moral em harmonia com a santidade de Deus.

Queriam referir todos os fenômenos do pecado a um princípio essencialmente


mau, inerente à matéria, e assim justificar Deus, sustentando que Ele tinha feito
tudo quanto Lhe era possível para limitar esse mal. Ora, além da incon-seqüência
da tentativa que faz essa teoria de vindicar a santidade de Deus à custa da Sua
independência, os princípios sobre os quais ela opera são absurdos, como se
tornarão evidentes nas seguintes considerações:

Io. O mal moral é, na sua essência, um atributo do espírito. O referi-lo a uma


origem material conduz logicamente ao mais crasso materialismo.

2o. O inteiro sistema cristão de religião, e o exemplo de Cristo, estão em


oposição a esse ascetismo e “mau tratamento do corpo”, cuja conseqüência será
necessariamente a idéia de que a matéria é a base do pecado - Col. 2:16,
Figueiredo.

3o. Tendo Deus criado o universo material, disse que era muito bom - Gên. 1:31.

4o. A Segunda Pessoa da santíssima Trindade tomou um corpo real e material em


união conSigo.

5o. A criação material, por ora “sujeita à vaidade” em conseqüência do pecado


dos homens, haverá de ser renovada e tornada o templo em que habite o Deus-
homem para sempre. Veja abaixo, Cap. 39, Perg. 17.

6o. A obra realizada por Cristo para salvar Seu povo dos seus pecados não
contempla a renúncia da parte material da nossa natureza, mas os nossos corpos,
que são agora “membros de Cristo” e “templos do Espírito Santo”, serão
transformados na ressurreição à semelhança do Seu corpo glorioso. E,
contudo, nada poderia ser mais absurdo do que a idéia de que o soma

pneumatikon, traduzido “corpo espiritual”, não é coisa tão literalmente material


como o é o soma psyquikon, traduzido “corpo animar - 1 Cor. 15:44. Se a causa
do mal é essencialmente inerente à matéria, e se no passado este desenvolveu-
se sempre, apesar dos esforços feitos por Deus para limitá-lo, que motivo de
confiança pode qualquer de nós ter para o futuro?

13. Como se pode provar que nas Escrituras a obra da criação é atribuída a
Deus absolutamente, isto é, a cada uma das três Pessoas da Trindade
coordenadamente, e não a qualquer delas como Sua função pessoal e especial?

Io. ADeidadeabsolutamente- Gên. 1:1,26. 2o. AoPai-1 Cor. 8:6. 3o. Ao Filho -
João 1:3; Col. 1:16,17. 4o. Ao Espírito Santo - Gên. 1:2; Jó 26:13; Sal. 104:30
(Sempre coordenadamente).
14. Como se pode provar que nenhuma criatura pode criar absolutamente?

Io. Pela natureza da obra. E patente que uma criação absoluta ex nihilo é obra
que só pode efetuar quem disponha de poder infinito. E obra inconcebível para
nós, porque é obra de um poder infinito, e esse poder só pode pertencer
àquele Ser que, pela mesma razão, é incompreensível.

2o. As Escrituras distinguem Jeová das criaturas e dos deuses falsos, e


estabelecem a Sua soberania e os Seus direitos como o Deus verdadeiro,
afirmando que Ele é o Criador - Sal. 96:5; Is. 37:16; 40:12,13; 44:5; Jer.
10:11,12.

3o. Se fosse admitido que uma criatura pode criar (em termos absolutos), então
as obras da criação não serviriam para levar-nos ao conhecimento infalível de
que o nosso Criador é o Deus eterno e auto-existente.

15. Por que é importante que saibamos, se nos for possível alcançar este
conhecimento, qual foi o fim principal que Deus teve em vista na criação?

Esta não é pergunta de vã curiosidade. É evidente que, sendo Deus eterno,


imutável e de inteligência absolutamente perfeita, Ele invariavelmente haveria
de manter em vista o grande fim ou propósito final para o qual criou todas as
coisas no princípio, de forma que todas as Suas obras devem ser, mais direta ou
mais remotamente, meios para esse fim. Ora, nós somos constituídos de tal
modo que podemos entender um sistema somente quando entendemos o seu fim
ou o seu propósito final. Assim,e.g., podemos compreender as diversas peças de
um relógio ou de uma máquina a vapor, suas relações e funções, somente depois
de compreendermos o fim a que deve servir o relógio ou a máquina por inteiro.
E, embora Deus nos tenha ocultado muitos dos Seus propósitos
secundários, cremos que Ele nos revelou esse grande desígnio final, sem
o conhecimento do qual nunca poderíamos compreender o verdadeiro caráter da
sua administração geral. Ninguém pode negar que, se Ele revelou o propósito
final da Sua criação, deve ser para nós ponto da maior importância
sabermos qual é.

E por si mesmo evidente que nós nunca poderemos chegar a uma generalização
tão sublime como essa por nenhum processo de indução daquilo que sabemos ou
podemos saber das obras de Deus. E-nos necessário, pois, extrair todas as
nossas conclusões a esse respeito, em primeiro lugar, ao menos, daquilo que
sabemos dos atributos de Deus e do ensino explícito da Sua Palavra.

16. Qual o significado do termo TEODICÉIA, e por quem foi primeiro


explorado este ramo da teologia especulativa?

O termo teodicéia (“theos dike”) expressa uma justificação especulativa do


modo pelo qual Deus trata a raça humana, especialmente no que diz respeito à
origem do mal e ao governo moral do mundo. Foi primeiro elevado a um ramo
da ciência teológica pelo filósofo alemão Leibnitz, em sua grande obra intitulada
Teodicéia, ou a Bondade de Deus, a Liberdade do Homem

e a Origem do Mal, publicada em 1710.

17. Qual a opinião de Leibnitz a respeito do fim que Deus teve em vista na
criação, e por quem mais foi adotada?

Leibnitz sustentava que se pode resolver em benevolência toda a excelência


moral, e que o grande fim totalmente abrangente que Deus teve em vista na
criação do universo, e que tem em vista na Sua preservação e no Seu governo, é
a promoção da felicidade das Suas criaturas. Concluiu disso que Deus escolheu o
melhor sistema possível para conseguir esse fim no mais alto grau possível. Este
sistema é qualificado como otimismo.

Essa teoria foi adotada por grande número de teólogos da Nova Inglaterra,
juntamente com a teoria, também aceita por muitos, que considera a virtude
como consistindo de benevolência desinteressada.

As objeções a essa teoria são:

Ia. A virtude não consiste somente em benevolência desinteressada - Veja acima,


Cap.8, Perg. 61. E a felicidade não é o maior bem.

2a. Subordina o Criador à criatura, o maior ao menor, como o meio para


conseguir-se um fim. Quando Deus formou desde a eternidade o propósito de
criar, não existiam criaturas que devessem ser tornadas felizes ou infelizes. O
motivo para criar, pois, não poderia ter origem naquilo que não existia, e
só poderia ter origem e objeto no próprio Ser divino.

3a. As Escrituras (veja a pergunta seguinte) em parte alguma, nem direta nem
indiretamente, ensinam que alguma coisa na criatura é o fim principal de Deus,
nem propõem elas em parte alguma qualquer bem público ou pessoal da
criatura como o fim principal que deve ter em vista a criatura mesma.

18. Como se pode expor a doutrina verdadeira? Citar as exposições da


Confissão de Fé que lhe dizem respeito.

A doutrina verdadeira é que o grande fim que Deus teve

em vista na criação foi a Sua própria glória. Glória é excelência manifestada. A


excelência dos atributos de Deus é manifestada por Sua operação. Por
conseguinte, esse fim não foi o aumento, nem da Sua excelência nem da Sua
felicidade, e sim Sua manifestação ad extra.

“Ao princípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para


manifestação da glória de Seu eterno poder, sabedoria e bondade, criar ou fazer
do nada, no espaço de seis dias, e tudo muito bom, o mundo e tudo o que nele
há, quer as coisas visíveis quer as invisíveis” - Confissão de Fé, Cap.4, § 1. Ela
afirma também que a Sua glória é o fim principal que Deus tem em vista em
todos os Seus propósitos e nas obras da providência e da redenção - Cap. 3, §
3,5,7; Cap. 5, § 1; Cap. 6, § 1; Cap.33, § 2; Catecismo Maior, Pergs. 12 e 18;
Breve Cat., Perg. 7.

19. Quais são os argumentos que a razão e as Escrituras apresentam a favor


da doutrina verdadeira ?

Io. Tendo Deus formado o propósito de criar antes de existir criatura alguma, é
evidente que o motivo para criar teve necessariamente sua origem e objeto no
Criador preexistente, e não na criatura não existente. O Criador não pode
estar subordinado à criatura finita e dependente, nem pode depender dela. 1

20. Sendo Deus mesmo infinitamente mais digno do que a soma de todas as
criaturas, segue-se que a manifestação da Sua própria excelência é um fim
infinitamente mais digno e mais exaltado do que o seria a felicidade das
criaturas; seria realmente o fim mais exaltado e mais digno que nos é
possível imaginar.

3o. Nada pode exaltar tanto a criatura e tornar-se fonte da sua felicidade como o
fato de que Deus fez dela um meio de promover a Sua glória como Criador
infinito, e testemunha da Sua glória; e por isso propor Deus essa glória como “o
fim principal” da criação é o penhor mais seguro do progresso da

criatura em excelência e bem-aventurança.

4o. As Escrituras declaram explicitamente que esse é o fim principal de Deus na


criação - Prov. 16:4; Col. 1:16, e das coisas como criadas - Rom. 11:36; Apoc.
4:11.

5o. Elas ensinam que esse é também o fim principal de Deus nos seus decretos -
Ef. 1:5,6,12.

6o. Elas também ensinam sobre Seu governo e Sua direção providenciais de Suas
criaturas, por Sua graça - Rom. 9:17,22,23; Ef. 3:10.

7o. As Escrituras impõem como dever a toda criatura moral que adotem esse
mesmo fim como o seu fim pessoal em todas as coisas - 1 Cor. 10:31; 1 Ped.
4:11.

20. Qual a atitude atual da ciência geológica em relação à narração mosaica da


criação?

Os resultados modernos da ciência geológica estabelecem as seguintes


conclusões: (a) Que os materiais elementares de que o mundo é composto já
existiam por um número indefinido de séculos, (b) Que o estado em que se acha
o mundo atualmente foi produzido providencialmente por meio de uma
progressão gradual, e que, durante longos tempos, esta progressão deu-se em
condições físicas bem diversas entre si. (c) Que o mundo foi habitado
sucessivamente por muitas ordens diversas de seres organizados, sendo cada
ordem por sua vez adaptada às condições físicas em que o globo se achava
durante a permanência dessa ordem, e notando-se também em cada
ordem sucessiva, como regra geral, uma organização superior à da ordem
anterior, passando elas das formas mais elementares para as mais perfeitas e
complexas, (d) Que o homem completa a pirâmide da criação, o mais perfeito e
o último formado de todos os habitantes do mundo. A única dificuldade que
se encontra em se conciliarem estes resultados com a narração mosaica da
criação está nos pormenores, a cujo respeito é obscuro o sentido verdadeiro da
narração inspirada, e as conclusões da ciência são imaturas. Por isso é que têm
falhado
todas as tentativas, como, e.g., a que fez Hugh Miller em sua obra Testimony of
the Rocks (O Testemunho das Rochas), de acomodar à história bíblica em todos
os seus pormenores as conclusões mais ou menos certas da geologia.

Quanto à relação entre aquilo que diz a ciência a respeito da antigüidade do


homem e a cronologia bíblica, veja abaixo, Cap.16. Em geral, porém, há
concordância muito notável entre a narração mosaica e os resultados dos estudos
da geologia quanto aos seguintes pontos: a narração concorda com aquilo que a
ciência diz, ensinando - (a) A criação dos elementos num passado muito remoto,
(b) A existência intermédia do caos. (c) O passar o mundo por diversas
mudanças antes de chegar à sua atual condição física, (d) As criações
sucessivas de diversos gêneros e espécies de seres organizados - dos vegetais
antes dos animais - das formas inferiores antes das formas superiores - em
adaptação às condições cada vez melhores da terra - e do homem como o último
de todos.

Se lembrarmos quando, onde e para que fim essa narração bíblica foi escrita e a
compararmos com todas as demais cosmogonias antigas, ficaremos convencidos
de que essa concordância maravilhosa com os últimos resultados dos estudos da
ciência moderna é uma contribuição muito importante para as provas da sua
origem divina. Vê-se com certeza que, mesmo quando se lê essa narração à luz
da mais severa crítica moderna, ela é suficiente para o fim que o seu Autor
divino teve em vista, a saber, que servisse como introdução geral da história da
redenção, a qual, embora tivesse suas raízes na criação, foi em seguida levada
avante como um sistema de revelações e influências sobrenaturais.

21. Como expor os diversos princípios que sempre devemos ter em mente
quando consideramos questões que envolvem um conflito aparente entre a
ciência e a revelação? '

Io. Tanto as obras como a Palavra de Deus são revelações Suas. Por conseguinte,
as duas são igualmente verdadeiras,

igualmente sagradas, e devem ser tratadas com igual reverência. É


absolutamente impossível que haja conflito entre as duas revelações, quando
adequadamente interpretadas. Preferência da nossa parte de uma ou de outra é
traição contra o Autor e Senhor de ambas.

2o. A ciência, como interpretação das obras de Deus, é, portanto, um ramo


legítimo e obrigatório dos estudos humanos. Tem seus direitos que devem ser
respeitados, e seus deveres que ela deve observar. Todas as ciências têm o
direito de prosseguir nas suas investigações legítimas segundo os seus próprios
métodos legítimos. Não podemos exigir que o químico prossiga nas suas
pesquisas segundo os métodos do filólogo, nem do geólogo que vá procurar seus
fatos na história, quer sagrada quer profana. Contudo é também dever
dos estudantes de qualquer ciência que se conservem dentro dos seus limites, e
que reconheçam o fato de que a sua ciência é uma província apenas no imenso
império da verdade, e que, por isso, devem respeitar todas as diversas ordens de
verdades, tanto as verdades históricas e inspiradas como as científicas, e tanto as
verdades mentais e espirituais como as materiais.

3o. Da limitação das faculdades humanas segue-se como conseqüência prática


que os homens que se dedicam a um ramo especial de pesquisas adquirem
hábitos especiais de pensar, como também peculiares associações de idéias,
segundo os quais tornam-se propensos a medir e julgar todas e
quaisquer verdades. Sucede assim que o homem científico primeiro interpreta
mal e então tem ciúmes do teólogo, e este também interpeta mal e então tem
ciúme do homem científico. Isso, porém, é acanhamento, e não conhecimento
superior; é fraqueza, e não força.

4o. Sendo a ciência tão-somente uma interpretação humana das obras de Deus, é
sempre imperfeita e comete muitos erros. Os intérpretes da Bíblia são humanos
também, e por isso podem cometer erros, e nunca devem afirmar que as
suas interpretações são realmente as idéias que Deus quis revelar.

5o. Todas as ciências, em sua condição imatura, têm sido consideradas como
opostas à Palavra de Deus. No entanto, ao passo que se tornaram mais
amadurecidas, achou-se que estavam em perfeita harmonia com essa Palavra. As
vezes é a ciência que se emenda e se torna assim combinada com as idéias dos
teólogos; outras vezes são as opiniões dos teólogos que se emendam e se tornam
assim combinadas com a ciência aperfeiçoada e demonstrada, como, e.g., foi o
caso do sistema astronômico de Copérnico, sistema primeiro odiado pela
igreja, mas depois aceito universalmente por ela, e com gratidão.

6o. No caso de muitas ciências, particularmente no da geologia, ainda não


chegou o tempo para que se procure ajustar suas conclusões à revelação das
Escrituras. Assim como acontece com a história contemporânea em sua relação
com as profecias, a geologia, em sua relação com a narração mosaica da criação,
está in transitu (em transição). Suas conclusões ainda são incertas. Quando todos
os geólogos estiverem de acordo entre si, todos os fatos acessíveis da ciência
tiverem sido observados, analisados e classificados, a generalização
estiver completa, todos os seus resultados tiverem sido recolhidos e se tiverem
tornado parte indubitável e permanente da herança intelectual dos homens, ver-
se-á então exposta por si mesma a concordância entre a ciência e a revelação, e
que a ciência sustenta e ilustra a Palavra escrita de Deus, em vez de lhe
ser oposta.

7o. Há, pois, duas tendências opostas que são igualmente prejudiciais à causa da
religião, e que mostram a fraqueza da fé que caracteriza muitos dos seus amigos
professos. A primeira é a fraqueza de se aceitar imediatamente como verdade
líquida e certa qualquer conclusão hostil à Palavra de Deus, se for anunciada por
especuladores científicos; a constante confissão que assim se faz de que a luz da
revelação é inferior à luz da natureza, e a certeza das conclusões da exegese
bíblica e da teologia cristã inferior à dos resultados dos trabalhos da ciência
moderna; os constantes esforços para acomodar as

interpretações das Escrituras, como um nariz de cera, a cada [ fase nova que
tomam as interpetações correntes da natureza. ; A segunda tendência é a de ir ao
extremo oposto, de nutrir preconceitos e suspeitas contra todas as conclusões
averiguadas da ciência, com temor de serem, provavelmente, ofensas contra a
dignidade da revelação, e de atacar com impaciência . mesmo aquelas fases
passageiras da ciência imperfeita que por ; enquanto parecem inconciliáveis com
as nossas opiniões. Estando em pé sobre a rocha da verdade divina, os
cristãos nada têm que temer e podem bem esperar o resultado. A fé perfeita, bem
como o amor perfeito, lança fora o temor. Todas as coisas são nossas, quer sejam
naturais, quer sobre- I naturais, quer sejam ciência, quer revelação. Veja Isaac
Taylor, Restoration o/ite/ie/XRestauração da Fé), págs. 9,10.
Os Anjos

1. Quais os diversos sentidos em que a palavra grega aggelos (anjo,


mensageiro) é empregada nas Escrituras?

“Mensageiros comuns, Jó 1:14; Luc. 7:24; 9:52; profetas, Is. 42; 19; Mal. 3:1;
sacerdotes, Mal. 2:7; ministros do Novo Testamento, Apoc. 1:20; também
agentes impessoais, como a coluna de nuvem, Ex 14.19; a pestilência, 2 Sam.
24:16,17; os ventos, Sal. 104:4; pragas, chamadas “anjos maus” (Figueiredo),
Sal. 78:49; o espinho na carne de Paulo, chamado “anjo de satanás”, 2 Cor.l2:7.”
Também a segunda Pessoa da Trindade, chamada “o anjo da sua face”, “o anjo
do concerto”, Is 63.9; Mal. 3:1. Mas a palavra é aplicada principalmente a seres
celestes, Mat. 25:31 - Veja Kitto,Bib. Encyc.

2. Quais os designativos bíblicos dos anjos, e até onde expressam eles sua
natureza e seus ofícios?

Os anjos bons (quanto aos maus veja Perg. 15), em referência à sua natureza,
dignidade e poder, são chamados, nas Escrituras, “espíritos”, Heb. 1:14; “tronos,
dominações, principados, potestades, poderes”, Ef. 1:21; Col. 1:16; “filhos de
Deus”, Jó 1:6; Luc. 20:36; “anjos seus, magníficos em poder”, “os anjos do seu
poder”, Sal. 103:20; 2 Tess. 1:7; “santos anjos”, “anjos eleitos”, Luc. 9:26; 1
Tim. 5:21; e com referência aos ofícios que desempenham em relação a Deus e
aos homens, são chamados “anjos”, ou mensageiros, e “ministradores”,
Heb. 1:13,14. s

3. Quem eram os querubins?

Eram criaturas idealizadas, compostas de quatro partes, a saber, as de um


homem, de um boi, de um leão e de uma águia. Sua aparência predominante era
a de homem, mas o número de rostos, pés e mãos diferia segundo as
circunstâncias - Ez. 1:6 comp. com Ez. 41:18,19, e Êx. 25:20.

As mesmas criaturas idealizadas aplica-se também o designativo “seres


viventes” (ARA), traduzido por “animais” nas versões de Almeida, Revista e
Corrigida, e outras - Ez. 1:5-22; 10:15,17; Apoc. 4:6-9; 5:6-14; 6:1-7; 7:11; 14:3;
5:7; 19:4.
Os querubins eram seres simbólicos das propriedades mais elevadas da vida das
criaturas, e delas como indícios e manifestações da vida divina; e eram seres
típicos do estado do homem redimido e glorificado, ou representações
proféticas dele, como o estado em que essas propriedades seriam combinadas e
manifestadas. Foram colocados no jardim do Éden imediatamente depois da
queda de Adão, cabendo-lhes guardar o caminho da árvore da vida - Gên. 3:24.

Outra conexão, e mais comum, em que aparece o querubim é quando se fala no


trono da habitação peculiar de Deus. No mais santo lugar do tabernáculo, Êx.
25:22; Jeová era chamado o Deus que estava assentado sobre, ou entre, os
querubins, 1 Sam. 4:4; Sal. 80:1; Ez. 1:26,28; cuja glória estava sobre
os querubins. No Apoc. 4:6 fala-se nos animais (seres vivos) que estavam no
meio do trono e ao redor dEle.

Que significa tudo isso, senão o fato maravilhoso, revelado mais claramente na
história da redenção, de que a natureza humana haverá de ser exaltada à
habitação da Deidade? Em Cristo ela já foi assunta, por assim dizer, ao próprio
seio de Deus; e por ser honrada tanto assim em Cristo, haverá de, nos seus
membros, alcançar uma glória maior do que a dos anjos - Fairbairn, Typology,
Part. 2, Ch. 1, Sec. 3. „

4. Qual a etimologia da palavra serafim, e que ensinam as Escrituras a seu


respeito?

A palavra serafim significa ardente, brilhante, refulgente. Encontra-se na Bíblia


somente em Isaías 6:2,6. É provável que seja outro designativo, sob aspecto
diverso, dos seres idealizados chamados comumente querubins e seres vivos.

5. Haveria alguma prova de que os anjos são seres de diversas ordens e


hierarquias?

Que há semelhantes distinções parece evidente - Io. Pela linguagem das


Escrituras. Diz-se que Gabriel é um dos que assistem diante de Deus,
evidentemente em algum sentido proeminente - Luc. 1:19; e Miguel é chamado
“um dos primeiros príncipes” - Dan. 10:13. Note-se também os epítetos arcanjo,
tronos, dominações, potestades, principados, poderes -Ef. 1:21; Col. 1:16; Jud.,
vers. 9. 2o. Pela analogia dos anjos decaídos. Veja Mat. 9:34; Ef. 2:2. 3o. Pela
analogia da sociedade humana e da criação universal. Em todo o universo
conhecido há graduação de ordem.
6. Falariam as Escrituras em mais de um arcanjo, e este deve ser considerado
como criatura?

O referido termo é empregado somente duas vezes no Novo Testamento, e em


ambos os casos está no número singular, e vem precedido pelo artigo definido,
Ao, no grego - 1 Tess. 4:16; Jud., vers. 9. Assim, pois, o termo parece ser o título
de uma só pessoa, chamada Miguel em Judas, vers. 9, e a mesma que em Daniel
10:13; 12:1, é chamada “um dos primeiros príncipes” e “grande príncipe”, e de
quem se diz no Apocalipse 12:7 que pelejou com seus anjos contra o dragão e
seus anjos.

Muitos supõem que o arcanjo é o Filho de Deus. Outros acham que pertence à
classe mais elevada das criaturas, por ser chamado “um dos primeiros príncipes”
em Daniel 10:13, e porque nunca lhe são atribuídos atributos divinos.

7. Que ensinam as Escrituras a respeito do número e do poder

dos anjos? .. -

Io. A respeito do seu número as Escrituras só ensinam que é muito grande:


“milhões de milhões”-Dan. 7:10; “mais de doze legiões de anjos” - Mat. 26:53;
“uma multidão dos exércitos celestiais” - Luc. 2:13; “muitos milhares de anjos” -
Heb. 12:22.

2o. A respeito do seu poder as Escrituras ensinam que é muito grande, tanto
quando exercitado no mundo material como no espiritual. São chamados anjos
do poder de Jesus em 2 Tessalonicenses 1:7, e no Salmo 103:20, “magníficos
em poder”; veja também 2 Reis 19:35. Não têm, porém, o poder de criar, e assim
como os homens, só podem exercer o seu poder conectivamente com as leis
gerais da natureza, no sentido absoluto dessa palavra.

8. Em que se ocupam eles?

Io. Vêem a face de Deus no céu, adoram as perfeições divinas, estudam todas as
revelações que Deus faz de Si nas obras da providência e da redenção, e são
perfeitamente felizes na Sua presença e no Seu serviço - Mat. 18:10; Apoc. 5:11;
1 Ped. 1:12.*

2o. Deus os emprega como Seus servos na administração da Sua providência -


Gên. 28:12; Dan. 10:13: (1) A Lei foi ordenada por anjos - Atos 7:53; Gál. 3:19;
Heb. 2:2. (2) São ministros do bem, a favor do povo de Deus - Sal. 91:10-
12; Atos 12:7; Heb. 1:14. (3) São executores dos juízos de Deus contra os Seus
inimigos - 2 Reis 19:35; 1 Crôn. 21:16; Atos 12:23 - (4) No juízo final os anjos
separarão os maus dos bons, recolherão os eleitos e os elevarão para encontrar
Cristo nos ares-Mat. 13:30,39; 24:31; 1 Tess. 4:16,17.

Convém notar que a última cláusula deste versículo, traduzida por


Figueiredo: “ao qual os mesmos anjos desejam ver”, deve ser traduzida: “as
quais coisas os mesmos anjos desejam perscrutar”. Nota do tradutor.

9. Os anjos têm corpos? E como se pode explicar o seu aparecimento? • ■ ■


>0 ;•

Nas Escrituras os anjos são chamados “espíritos” (Heb. 1:14), palavra


empregada também para designar as almas dos homens quando separadas dos
corpos - Luc. 8:55. Mas não há nada no sentido dessa palavra, nem nas opiniões
dos judeus do tempo de Cristo, nem em coisa alguma do que nos dizem as
Escrituras a respeito das ocupações dos anjos, que prove que os anjos não têm
corpos de espécie nenhuma. E como se diz que o Filho de Deus tem agora um
“corpo glorioso”, um “corpo espiritual” para sempre, e como todos os remidos
hão de afinal ter corpos como o de Cristo, e os anjos são associados com os
homens remidos como membros do mesmo reino infinitamente exaltado, parece
provável que os anjos tenham sido criados com organização física não
totalmente disse-melhante desses “corpos espirituais” dos remidos. Nos tempos
bíblicos anjos apareceram e falaram aos homens sempre na forma corporal de
homens, e também à semelhança de homens comuns comeram e abrigaram-se
em casas - Gên. 18:8; 19:3.

Alguns supõem, por conseguinte, que os anjos têm corpos semelhantes aos
atuais corpos “naturais” ou animais dos homens - 1 Cor. 15:44, compostos de
carne, ossos e sangue, com cabeça e feições, pés e mãos, e que, quando um
anjo aparecia a qualquer pessoa, não havia mudança nele, e sim
ele simplesmente entrava na esfera da percepção dos sentidos dessa pessoa,
apresentando-se-lhe assim como habitualmente é.

Isso, porém, é inconciliável com os fatos narrados nas Escrituras. Segundo esta,
os anjos “apareceram” às vezes exatamente como homens comuns, outras vezes,
porém, de modos bem diversos - Núm. 22:31; Atos 12:7-10, passando através de
muros de pedra, aparecendo e desaparecendo à vontade, etc. Além disso, um dos
três homens que apareceram a Abraão em Manre, cujos pés ele lavou e que
comeram o que lhes havia preparado, era Jeová, a segunda Pessoa da Trindade,

que não tinha corpo antes de o tomar séculos depois no ventre da virgem Maria.
Se, pois, o corpo humano de uma dessas pessoas não era corpo real, não somos
autorizados a concluir, dos fatos ali registrados, que os das outras o eram - Gên.
18:4-33.

Ademais, a teoria manifesta absurda confusão de pensamentos. O corpo humano


animal, assim como o conhecemos, é uma organização física que está em
equilíbrio com certas condições físicas definidas e exatamente ajustadas, e
pode existir só nessas condições. Os animais vertebrados, dos quais o homem é a
forma superior, foram mudados sempre quando se mudaram as condições físicas
da terra, e deixam sempre de existir quando essas condições se mudam muito. A
concepção de um corpo humano vivendo na água ou no fogo seria absurda, e
mais absurda ainda parece ser a concepção de uma criatura com sangue como o
do homem, e comendo alimento, existindo indiferentemente na terra e no céu,
atravessando à vontade o espaço entre as estrelas, e como verdadeiro
cosmopolita vivendo alternada e indiferentemente em todos os mundos e em
todos os elementos, o éter, o ar e a água, e em todas as temperaturas, desde a
temperatura de milhares de graus do sol, até ao zero absoluto do vácuo entre as
estrelas.

A aparência corporal dos anjos deve, pois, ter sido alguma coisa nova que
assumiram, ou então alguma coisa preexistente e permanente, mas bastante
modificada com o fim de torná-los capazes de manifestar-se em forma humana
aos homens.

10. Qual a doutrina e a prática romanas quanto ao culto prestado aos anjos?

Diz oCatechismusRomanus, 3:2,9,10-“Porqueo Espírito Santo que diz: ao Deus


uno seja honra e glória - 1 Tim. 1:17, manda-nos também honrar a nossos pais e
aos velhos - Lev. 19:32, etc.; e dos homens santos que deram culto só ao
Deus uno se diz nas Sagradas Escrituras que adoraram - Gên. 23:7,12,

etc., isto é, veneraram suplicantemente, a reis. Se, pois, reis, por cujo ministério
Deus governa o mundo, são tratados com tanta honra, não daremos aos espíritos
angélicos uma honra tanto maior em proporção quanto esses seres felizes
excedem aos reis em dignidade; (a esses espíritos angélicos) os quais aprouve a
Deus constituir Seus ministros; de cujo ministério Se serve não só no governo da
Igreja, mas também no do resto do universo; por cuja assistência, ainda que não
os vejamos, somos libertos diariamente dos maiores perigos da alma e do corpo?
Acrescentai a isso o amor com que nos amam, e que os leva, segundo nos dizem
as Escrituras - Dan. 2:13,* a oferecer suas orações pelos países sobre os quais a
Providência os colocou, e sem dúvida também por aqueles cujos guardas
são, porque apresentam diante do trono de Deus as nossas orações e lágrimas -
Jó 3:25; 12:12; Apoc. 8:3. Por isso nosso Senhor nos ensinou no evangelho a não
escandalizar os pequeninos, porque nos céus os seus anjos incessantemente
estão vendo a face de seu Pai, que está nos céus - Mat. 18:10.

“Sua intercessão devemos, pois, invocar, porque vêem sempre a Deus, e recebem
dEle com muito boa vontade a defesa da nossa salvação. Desta sua invocação as
Sagradas Escrituras dão testemunho”-Gên. 48:15,16.

11. Que idéias têm sido sustentadas quanto a “anjos da guarda”?

“Foi opinião predileta dos santos Pais, que cada indivíduo está sob a guarda de
um anjo particular, que lhe é designado como protetor. Costumavam falar
também em dois anjos -um bom e o outro mau - que eles supunham que
acompanhavam a cada indivíduo, incitando-o o bom anjo a tudo quanto é bom e
desviando dele o mal; e incitando-o o mau anjo ao mal e desviando dele o bem
(Hermas 11:6). Os judeus,

Parece que deve ser Dan. 10:13. Nota do tradutor.

com exceção dos saduceus, criam nisso, e os muçulmanos crêem nisso ainda. Os
antigos pagãos criam nessa idéia sob uma forma modificada - pois os gregos
tinham seus demônios tutelares (bons ou maus) e os romanos seus gênios. Na
Bíblia, porém, não há nada que apóie essa idéia. As passagens que
costumam citar a seu favor (Sal. 34:7; Mat. 18:10) é certo que não significam
nada disso. A primeira simplesmente ensina que Deus Se serve do ministério dos
anjos para livrar Seu povo de aflições e perigos; e a segunda, que os filhos dos
crentes, enquanto crianças, ou os mais pequenos entre os discípulos de Cristo,
dos quais os ministros da Igreja poderiam estar inclinados a descuidar-se, são
tidos em tão alta estima em outra parte que nem os anjos julgam abaixo da sua
dignidade ministrar-lhes” - Kitto,.Bz7>. Encyclop. .
12. Quais os nomes dados a satanás, e o que significam?

Satanás, que quer dizer adversário, Luc. 10:18. O diabo,

sempre no singular no grego, que significa caluniador, difamador, Apoc. 20:2.


Abadom (em grego Apoliom), que quer dizer destruidor, Apoc. 9:11. Belzebu, o
príncipe dos demônios, do deus dos ecronitas, principal das divindades pagãs,
todas as quais os judeus tinham na conta de demônios, 2 Reis 1:2 (Baal-Zebu);
Mat. 12:24. O anjo do abismo, Apoc. 9:11. O príncipe deste mundo, João 12:31.
O príncipe destas trevas (na tradução de Figueiredo, “governadores destas
trevas”), Ef. 6:12. Leão que ruge, 1 Ped. 5:8. Pecador desde o princípio, 1 João
3:8. Acusador, Apoc. 12:10. Belial,2 Cor. 6:15. Enganador, Apoc. 20:10.
Dragão, Apoc. 12:7. Mentiroso e homicida, João 8:44. Leviatã,Is. 27:1.
Lúcifer,Is. 14:12 (Figueiredo). Serpente, Is. 27:1. Algoz (Figueiredo: algozes),
Mat. 18:34. Deus deste século (deste mundo), 2 Cor. 4:4. O que tinha o império
da morte, Heb. 2:14.

13. Como se pode provar que satanás é um ser pessoal, e não mera
personificação do mal?

Em todos os diversos livros das Escrituras Sagradas fala-se sempre


conseqüentemente em satanás como uma pessoa, e se lhe atribuem atributos
pessoais. Passagens como Mateus 4:1-11 e João 8:44 são decisivas.

' 14. Que ensinam as Escrituras a respeito da relação de satanás

com outros espíritos maus e com o nosso mundo?

Outros espíritos maus são chamados “seus anjos”, Mat. 25:41; e ele é chamado
“príncipe dos demônios”, Mat. 9:34, e príncipe das trevas e dos espíritos de
malícia espalhados por esses ares, Ef. 6:12. Isso mostra que ele é o principal
espírito do mal, o chefe.

Sua relação com o mundo é indicada pela história da Queda, 2 Cor. 11:3; Apoc.
12:9, e por expressões como “deus deste século” (mundo), 2 Cor. 4:4, e
“príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da
desobediência”, Ef. 2:2; é-nos dito que os homens maus são filhos dele, 1
João 3:10; ele cega os entendimentos dos que não crêem e conduz os cativos à
sua vontade, 2 Tim. 2:26; também aflige, inquieta, persegue e tenta o verdadeiro
povo de Deus até onde lhe é permitido para o bem final desse mesmo povo -
Luc. 22:31; 2 Cor. 12:7; 1 Tess. 2:18.

15. Quais os nomes dados nas Escrituras aos espíritos decaídos?

A palavra grega, ho diabolos, o diabo, é aplicada no original somente a Belzebu.


Outros espíritos maus são chamados daimones, demônios, Mat. 8:31; espíritos
imundos, Mar. 5:13; anjos do diabo, Mat. 25:41; principados, potestades,
príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade, Ef. 6:12; anjos
que pecaram, 2 Ped. 2:4; anjos que não guardaram o seu principado, mas
deixaram a sua própria habitação, Jud., vers. 6; espíritos de mentira, 2 Crôn.
18:21.

16. Que poder ou influência sobre os corpos e as almas dos homens lhes é
atribuído?

Assim como todos os seres finitos, satanás só pode estar num lugar a qualquer
tempo; mas, sendo-lhe atribuído tudo o que fazem os seus agentes, parece
praticamente ubíquo.

E certo que ao menos às vezes exerceram uma influência inexplicável sobre os


corpos dos homens, porém inteiramente sujeita ao domínio de Deus - Jó 2:7;
Luc. 13:16; Atos 10:38. Eles têm produzido e agravado moléstias, e excitado
apetites e paixões -1 Cor. 5:5. Em alguns casos, satanás tem poder sobre amorte-
Heb. 2:14.

Com relação às almas dos homens, satanás e seus anjos não têm poder nenhum
para mudar o coração ou coagir a vontade; sua influência é simplesmente moral,
e exercida mediante seduções enganosas, sugestão, embaimento e persuasão. As
frases descritivas da sua operação, empregadas nas Escrituras, são como as que
se seguem - “poder, e sinais e prodígios de mentira”, “o engano da injustiça”, 2
Tess. 2:9,10; “se transfigura em anjo de luz”, 2 Cor. 11:14. Quando
pode enganar, emprega “ciladas”, Ef. 6:11; “laço”, 1 Tim. 3:7; “profundezas”,
Apoc. 2:24; “cegou os entendimentos”, 2 Cor. 4:4; mantém presos à sua vontade
os que não se desprendem dos seus laços, 2 Tim. 2:26; e assim “engana todo o
mnndo”, Apoc. 12:9. Quando não pode persuadir, lança mão de
“dardos inflamados”, Ef. 6:16, e de bofetadas, 2 Cor, 12:7.

Como exemplos da sua influência em tentar os homens ao pecado, as Escrituras


citam os casos de Adão, Gên. capítulo 3; Davi, 1 Crôn. 21:1; Judas, Luc. 22:3;
Ananias e Safira, Atos 5:3; e a tentação a que se submeteu o nosso bendito
Salvador, Mat. capítulo 4.

17. Qual a prova de que os pagãos adoram demônios?

“O daimon é o objeto do seu culto, deisidaimonia é o culto, e deisídaimon é


quem presta o culto.” Paulo declarou que os “varões atenienses” eram
deisidaimonesterons, isto é, excessivamente dados ao culto dos daimones,
demônios - Atos 17:22. Davi afirma que os ídolos dos pagãos são demônios

- Sal. 106:36,37,e Paulo, que as coisas sacrificadas pelos gentios, estes as


sacrificam aos demônios, e não a Deus -1 Cor. 10:20. Moisés, falando dos
israelitas apóstatas - Deut. 32:17, diz: “Sacrifícios ofereceram aos demônios, não
a Deus; a deuses que não conheceram, novos deuses que vieram há pouco
dos quais não se estremeceram seus pais” (ARA). (Figueiredo: “...deuses novos e
recentes, que seus pais não tinham adorado.”)

18. Onde residem, e qual a verdadeira interpretação de Efésios 2:2e6:12?

Estas passagens declaram simplesmente que os espíritos maus pertencem ao


mundo invisível e espiritual, e não ao sistema do nosso mundo. As Escrituras
nada nos ensinam quanto ao lugar onde residem esses espíritos: ensinam tão-
somente que eles habitavam originalmente no céu, donde caíram, que agora têm
acesso aos habitantes do mundo, e que serão afinal lançados no lago de fogo
preparado para eles -Mat. 25:41; 2 Ped. 2:4; Apoc. 20:10.

19. Como eram chamados os que estavampossessos de espíritos maus?

“Endemoninhados”, termo traduzido assim em Mat. 4:24; “lunático”, Mat.


17:15; “um homem que tinha um espírito imundo” (Figueiredo: “possesso do
espírito imundo”), Luc. 4:33; “oprimidos do diabo”, Atos 10:38.

20. Quais os argumentos apresentados por aqueles que consideram os


endemoninhados mencionados no Novo Testamento como simplesmente doentes
ou alienados?

Que não podemos distinguir entre os efeitos da possessão demoníaca e os de


moléstias. Que os mesmíssimos sintomas, noutros casos, têm sido tratados como
moléstias, e curados.

Que, como também a feitiçaria, a suposta existência de semelhantes possessões


limita-se aos séculos de maior ignorância.

Dizem também que essa doutrina é inconciliável com os seguintes princípios


claramente revelados: Io. Que as almas dos falecidos vão imediatamente para o
céu ou para o inferno. 2o. Que os anjos decaídos já estão presos “às cadeias
da escuridão, ficando reservados para o juízo” - 2 Ped 2:4; Jud., vers. 6.

Procuram dar outro sentido às palavras de Cristo e Seus apóstolos, dizendo que,
não tendo sido parte do desígnio deles ensinar aos homens a verdadeira ciência
da natureza e das moléstias, adotaram nesses aspectos a linguagem comum
dos seus contemporâneos, e chamaram as moléstias por seus nomes populares,
sem quererem, porém, dar assim o seu apoio à teoria comum quanto à natureza
da causa produtora dessas moléstias.

21. Como se pode provar que os endemoninhados do Novo Testamento estavam


realmente possessos de espíritos maus?

As narrativas singelas de todos os evangelistas não deixam a mínima dúvida de


que Cristo é Seus apóstolos realmente criam, e queriam que outros cressem
também, que os endemoninhados estavam de fato possessos de demônios.

Distinguem entre possessão e moléstias - Mar. 1:32; Luc. 6:17,18; Os


“demônios”, e não só os “possessos” deles falavam (Mar. 5:12), e Cristo lhes
dirigia a palavra, impunha-lhes ordens e os repreendia - Mat. 8:32; 17:18; Mar.
1:25,34; 9:25. Seus desejos, pedidos e paixões distinguem-se dos dos possessos -
Mat. 8:31; Mar. 9:26, etc. O número dos que estavam numa só pessoa é
mencionado - Mar. 5:9. Saíram do “possesso” e entraram nos porcos - Luc.
8:32,33. Nunca se diz que a lua entrou num homem, atormentando-o, ou que ela
foi lançada fora de um lunático, ou que a lua deu altos gritos, etc. Peca pela base,
portanto, o argumento daqueles que querem dar outro sentido às palavras de
Cristo e seus apóstolos a esse respeito.
A Providência

1. Qual a etimologia e o uso técnico do termo “Providência”, e qual a relação


desta com o decreto eterno de Deus?

Providência, de pro e video, quer dizer, literalmente, previsão, e depois, um


arranjamento cuidadoso, preparado antecipadamente para alcançar certos fins
predeterminados. Turretino define este termo como incluindo, no seu
sentido mais lato, (a) presciência, (b) preordenação, e (c) a administração eficaz
da coisa decretada. No uso técnico e teológico, como também no uso comum da
palavra, seu sentido restringe-se ao último dos três acima citados, a saber, a
execução por Deus do Seu decreto eterno, no tempo e por meio das
causas secundárias originadas por Ele na criação. A preordenação dá o plano, e é
eterna, totalmente compreensiva e imutável. A criação dá o começo absoluto das
coisas no tempo. A providência inclui os dois grandes ramos: (a) A
preservação contínua de todas as coisas como criadas; e (b) o governo contínuo
de todas as coisas assim preservadas, de modo que se efetua tudo aquilo para o
que foram criadas. Veja Conf de Fé, Cap. 5, Cat. Maior, Perg. 18, e Breve Cat.,
Perg. 11.

2. Como se pode expor a doutrina da preservação?

Turretino,L. 6, Quaes. 4, diz: “Conservatio est, qua Deus

creaturas omnes in statu suo conservat, quod fit conservatione essentiae in


especiebus, existentiae in individuis, et virtutis in operationes”. . ,

A preservação é aquela operação contínua da energia divina em virtude da qual o


Criador mantém todas as criaturas em existência e na posse de todas essas
propriedades e qualidades inerentes de que as dotou em sua criação, e também
na posse daquelas que porventura tenham adquirido depois, em virtude dos seus
hábitos ou do seu desenvolvimento. Isto é, tanto a existência como os atributos
de toda espécie, bem como a forma e as faculdades de toda criatura individual
são mantidas constantemente em existência por Deus.

3. Que argumentos estabelecem a conclusão de que a operação constante da


energia divina é essencial para a preservação de todas as criaturas?
Io. Esta verdade parece estar envolvida na própria concepção de uma criatura em
sua relação de dependência do seu Criador. Criatura é aquilo que depende em
tudo e por tudo só da vontade do seu Criador. Sendo assim
absolutamente dependente, não pode continuar por si mesmo a sua
existência, como igualmente não a pode originar.

2o. Acha-se implícita no sentimento de dependência absoluta, que é um


elemento essencial do sentimento religioso, o qual é uma característica
invariável da natureza humana.

3o. É ensinada nas Escrituras. - “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos”-


Atos 17:28; “Todas as coisas subsistem por ele” - Col. 1:17; “Sustentando todas
as coisas, pela palavra do seu poder” - Heb. 1:3. Veja também Nee. 9:6; Sal.
41:8; 50:10,11.

4. Qual a idéia dos deístas e dos racionalistas a respeito da Preservação?

Eles consideram como meramente negativa a ação de Deus na preservação


contínua das criaturas - só não quer destruídas. Segundo esta opinião, o Criador
mantém-Se fora da Sua criação do mesmo modo como um mecânico acha-se
fora da máquina que fabricou e pôs em movimento. Consideram o

sistema de causas secundárias como dependentes da Causa Primária somente no


princípio do longo curso dos acontecimentos, num passado infinitamente
remoto. Eles sustentam que no princípio Deus criou todas as coisas, dotou-as de
suas diversas forças como causas secundárias, e ajustou-as num sistema
equilibrado, mas então as deixou operar independentemente de todo suporte ou
direção de fora, segundo a sua natureza, em suas diversas relações, assim como
um homem deixa um relógio ao qual acaba de dar corda.

5. Quais as objeções contra a opinião acima exposta?

Ia. Como mostramos acima, essa opinião é inconciliável com a relação essencial
da criatura (como um efeito) com o Criador (como uma causa). Deus é o único
ens a seipso. A única e exclusiva causa da existência da criatura é a vontade de
Deus. Enquanto Ele quiser, essa causa (visando a esse efeito) existirá. Deixando
Ele de exercer a Sua vontade (com vistas a um efeito particular), a causa não
existiria mais e, em conseqüência, o efeito deixaria também de existir.
2a. Essa opinião é antropomórfica até a um grau indigno de Deus. Envolve a
omissão anti-intelectual de apreender a diferença essencial que existe entre a
relação de Deus com a criação e a do homem com a obra de Suas mãos. O
homem mantém-se necessariamente exterior à sua obra, e mesmo quando se
acha presente, pode dirigir a sua atenção a um só ponto em qualquer tempo.
Deus, porém, é onipresente, e não somente quanto à Sua essência, senão também
quanto ao Seu conhecimento, Sua sabedoria, Seu amor, Sua retidão e Seu poder
infinitos, e com cada átomo da criação e em cada momento da duração do
tempo. A criatura está sempre interpenetrada como também abrangida no
pensamento e na vontade divinas, e é sempre o que é e está como está,
unicamente por causa de Deus.

3a. E óbvio que essa opinião afasta Deus para tão longe da criação que se torna
irreligiosa em seus efeitos práticos. E,

segundo o testemunho da história, esta tem sido sempre a influência exercida por
ela.

quanto à natureza da operação divina envolvida na preservação? '

A opinião extremo-oposta à que acabamos de expor é que j a preservação é uma


criação contínua: que as criaturas e as j causas secundárias não têm existência
real e contínua, mas são i reproduzidas do nada em cada momento sucessivo, nos
seus 1 respectivos estados, condições e ações sucessivos, pela perpétua
i emanação da vis creatrix (força criadora) de Deus. Assim, pois, ;

o estado ou ação de qualquer coisa criada num momento não tem nenhuma
relação causai com o seu estado ou ação em outro ; momento, mas a causa única,
perpétua e imediata de tudo quanto existe é Deus mesmo.

Os fundamentos desta doutrina foram lançados por Descartes (1596-1650) na


exposição de suas idéias sobre a : relação da criação com o Criador,
considerando aquela como mantida por este mediante uma criação contínua.
Essas idéias I foram levadas ao extremo máximo compatível com o teísmo 1 por
Malebranche, na doutrina das “causas ocasionais” e na de | “vermos todas as
coisas em Deus”, e foram levadas à sua ] conclusão legítima e lógica no
panteísmo absoluto por Spinoza j - Morei\,Hist. ofMod. Phil., Parte 1, Cap. 2, §
1.
Incidentalmente, o presidente Edwards ensina a mesma j doutrina em sua grande
obra Original Sin, Parte 4, Cap. 3. Diz 1 ele que nem a existência da substância,
nem a do modo, nem a * da ação de qualquer coisa criada, em qualquer
momento de tempo, tem conexão causai com a sua existência, ou com o
seu estado ou com a sua ação no momento subseqüente; e que aquilo que
chamamos “curso da natureza” não é coisa separada da operação de Deus. Ele
ilustra a sua doutrina assim: “As

imagens das coisas que vemos num espelho, enquanto conservamos os olhos
fixos nelas, parecem sempre as mesmas, e parecem conservar uma identidade
perfeita e contínua. Mas é sabido que não é assim. Os filósofos sabem muito
bem que essas imagens são renovadas constantemente pela impressão e reflexão
de novos raios de luz; de modo que a imagem produzida por raios anteriores está
sempre desaparecendo e uma nova imagem é produzida por novos raios a cada
instante, tanto no espelho como nos olhos... A imagem que existe neste momento
não foi derivada daquela que existiu no momento anterior... a existência passada
da imagem não tem influência alguma para mantê-la nem por um instante...
Assim é com os corpos como com essas imagens... sua existência atual não
é, falando em termos restritos, efeito da sua existência passada, e sim
inteiramente, a cada instante, efeito de uma nova agência ou operação de causa
poderosa da sua existência”.

7. Como se pode mostrar que essa doutrina é falsa e perigosa?

Io. Se Deus está continuamente criando de novo cada criatura em cada momento
em seus estados e ações sucessivos, e se o estado ou ato de uma criatura num
momento não tem relação causai com o seu estado ou ato no momento
posterior, é evidente que Deus é o único Agente real no universo, e causa única e
imediata de tudo quanto sucede. É evidente que isso envolve logicamente o
panteísmo, e, como fato histórico, conduz à sua adoção.

2o. É inconciliável com as nossas intuições originais e necessárias de toda


espécie de verdades, quer sejam físicas, quer intelectuais, quer morais. Nossas
intuições originais certificam-nos da existência real e permanente de substâncias
espirituais e materiais exercendo forças, e da de nossos próprios espíritos como
causas reais e autodeterminantes de ação, e, em conseqüência, como agentes
morais. Mas, se fosse verdadeira essa doutrina, então as nossas intuições
primitivas e constitucionais nos enganariam, o universo inteiro seria uma ilusão,
nossa
própria natureza uma falsidade e o ceticismo universal seria j inevitável. \

3o. Desmorona imediata e radicalmente os fundamentos da agência livre, da


responsabilidade moral, do governo moral e, por conseguinte, da religião.

8. Como expor os diversos pontos da verdadeira doutrina da preservação


providencial?

3a. As propriedades ou forças ativas têm eficácia real, e j não só aparente, como
causas secundárias, na produção dos \ efeitos que lhes são próprios; e os
fenômenos, tanto da ] consciência íntima como do mundo exterior, são
produzidos j realmente pela operação de causas secundárias, assim como ; no-lo
dizem as nossas intuições inatas e necessárias. i

4a. Mas essas substâncias criadas não são autoexistentes, : isto é, o motivo da sua
existência continuada está em Deus, e j não nas substâncias. \

5a. Continuam a existir, não meramente em virtude de j

> i

um ato negativo de Deus, o de apenas não determinar a sua j destruição, e sim


em virtude do exercício positivo e contínuo do poder divino, mantendo-as em
existência e na posse de todas as propriedades e forças de que Deus as dotou. í

6a. Assim como são inescrutáveis todos os demais modos 1 pelos quais o infinito
atua sobre o finito, assim o é também a j natureza exata da ação divina que se
manifesta na manutenção : de todas as coisas em existência e em ação. .

9. Como expor a doutrina bíblica do GOVERNO providencial de Deus?

Tendo Deus decretado absolutamente e desde a eternidade tudo o que sucede;


tendo no princípio criado do nada todas as coisas, pela palavra do Seu poder, e
continuando depois a estar presente em cada átomo da Sua criação, mantendo
todas as coisas em existência e na posse e exercício de todas as
suas propriedades, Ele TAMBÉM governa e dirige as ações de todas as criaturas
assim preservadas, de modo que, sem nunca violar as leis de suas diversas
naturezas, faz, contudo, que cada um e todos os eventos e ações sucedam
segundo o plano eterno e imutável abrangido em Seu decreto. Há desígnio na
providência. Deus escolheu Sua grande finalidade - a manifestação da Sua
própria glória - mas, para alcançar esse fim, escolheu também inumeráveis fins
subordinados; estes são fixos; e Ele determinou todos os eventos e ações nas
suas diversas relações para esses fins, e dirige continuamente e de tal modo as
ações de todas as criaturas que esses fins gerais e especiais efetuam-se
exatamente no tempo, pelos meios estabelecidos, da maneira e nas condições
que Ele determinou desde a eternidade.

Amreúno,L.6.Quaes.1, diz: “O termo providência abrange três aspectos


expressos pelos vocábulos gregos prognosin, prothesin e disikesin - o pré-
conhecimento da mente, o decreto da vontade e a administração eficaz das coisas
decretadas - o conhecimento dirigindo, a vontade ordenando e o
poder executando... Por conseguinte, pode-se considerar a providência, ou no
decreto antecedente, ou na execução subseqüente: a primeira é a destinação
eterna de todas as coisas; a segunda é o governo temporal de todas as coisas
segundo esse decreto; a primeira é um ato imanente dentro de Deus; a segunda é
um ato transitório fora de Deus. Tratamos aqui da providência, na maior parte,
no segundo sentido do termo”. Veja a Conf de Fé, Cap. 5, o Cat. Maior, Perg. 18
e o Breve Cat., Perg. 11.

10. Que prova a consideração das perfeições divinas fornece a

favor do fato de que há semelhante governo universal? ■:

Prova-se pelas seguintes considerações:

Ia. O fato estupendo de que Deus é infinito em Seu Ser, em Sua relação com o
tempo e o espaço, e em Seu poder e sabedoria, torna evidente que Lhe é possível
exercer providência universal, e que devemos atribuir à capacidade
muito limitada de nossa compreensão todas as dificuldades e contradições
aparentes que para nós parecem achar-se envolvidas em semelhante providência.

2a. A sabedoria infinita de Deus certifica que Ele tinha em vista certa finalidade
quando criou o mundo, e que não deixará de empregar os melhores meios para
alcançar esse fim em todas as suas partes.

3a. Sua bondade infinita torna certo que Ele não deixará Suas criaturas sensíveis
e inteligentes entregues aos laços de um destino mecânico e cego; nem que as
Suas criaturas religiosas sejam isoladas dEle, sendo que a sua vida mais elevada
consiste na comunhão com Ele.

4a. Sua retidão infinita garante que Ele continuará a governar, recompensar e
punir as criaturas que Ele fez sujeitas a obrigações morais.

11. Que argumento se tira da inata constituição religiosa dos homens?

Vê-se que o sentimento religioso, quando analisado, compreende (a) um


sentimento de dependência absoluta, e (b) um sentimento de responsabilidade
moral. O sentimento de dependência absoluta leva, natural e verdadeiramente,
todos os homens em todas as nações e condições à convicção da presença
imediata e do governo providencial de Deus em todo o universo e em todos os
eventos. Estar sem Deus no mundo é estar numa condição em que são negadas
as convicções elementares da natureza humana. O sentimento de
responsabilidade moral leva todos os homens a crerem num governo

moral supremo e universal, presente no mundo, protegendo os bons e


restringindo e castigando os maus. Se Deus não estivesse real e imediatamente
presente na natureza e na história da humanidade, não O poderiamos conhecer, e
tampouco Ele nos dirigiria e nos protegeria, e, em conseqüência, a obediência a
Ele não Lhe seria devida nem seria possível, e a moralidade, a religião e a
oração, todas estas igualmente não passariam de ilusões.

12. Que argumento se tira da inteligência manifestada nas operações da


natureza?

O grande argumento indutivo que prova a existência de um Deus pessoal baseia-


se nas provas claras de que há desígnio no universo. Ora, do mesmo modo que
as provas de desígnio na constituição da natureza constatam a existência de
um espírito que tem certos desígnios e os levou a efeito numa criação, assim
também as provas de desígnio nas operações da natureza constatam a existência
de um espírito que tem certos desígnios e os leva a efeito no governo
providencial.

Os elementos materiais, com suas diversas propriedades, são todos incapazes de


formar um desígnio; e, contudo, vemo-los todos ajustados de tal modo, em todas
as suas proporções e relações, que operam harmoniosamente na ordem de
certas leis gerais, e vemos que essas leis gerais são ajustadas de tal modo em
todas as suas coincidências e interferências intrincadas que, por movimentos
simples e outros complexos, regulares e outros fortuitos, produzem em toda
parte, harmoniosamente, os resultados idealizados de modo o mais sábio
e benéfico. As propriedades mecânicas e químicas dos átomos materiais; as leis
da vida vegetal e animal; os movimentos do sol, da lua e das estrelas no céu; os
raios caloríficos, luminosos e químicos do sol; os movimentos instintivos, como
também os voluntários, de tudo quanto vive na terra, estão todos agindo e
reagindo sem concerto ou desígnio possível da parte deles; e, apesar disso, estão
produzindo os resultados mais sábios e

benéficos. E, assim como o espírito que tem o desígnio não pertence a nenhum
dos elementos, é evidente que tampouco pertence à reunião de todos eles. Só
pode pertencer a um Deus pessoal, presente, totalmente sábio e todo-poderoso,
que dirige e governa todas as coisas pelo exercício presente do seu
poder inteligente nas criaturas e por intermédio delas. ;

13. Como se pode estabelecer esta doutrina mediante provas derivadas da


história do mundo?

Se a constituição da natureza humana (alma e corpo), em suas relações


elementares com a sociedade humana, prova a existência de um Criador com
certos desígnios, exatamente do mesmo modo os resultados da associação
humana, sabiamente idealizados, em geral e em casos individuais provam
a existência de um Governador providente que tem certos desígnios.

É certo que os homens, quer como indivíduos, quer como reunidos em


comunidades e nações, diferem dos elementos do mundo material em seus
modos de ação, porque agem, Io. livremente, por impulso próprio; e 2o. com
desígnio. Ao mesmo tempo, é tão limitada a esfera, tanto da previsão como do
desígnio de cada agente individual, tão grande a multiplicidade dos agentes, e
tão inumeráveis as complicações de diversas influências que atuam entre si e
sobre cada comunidade, tanto dentro de uma como também da parte de
outras comunidades, e da natureza exterior, que, afinal, quaisquer indivíduos ou
comunidades só conseguem levar a efeito os seus desígnios em escala muito
limitada, e quase se perdem de vista no resultado geral, resultado que igualmente
está além da previsão e da direção eficaz de todos. Mas quem estuda a
história geral, e se serve da chave da revelação, vê claramente os traços de um
desígnio geral em todos os grandes movimentos da história humana, e em certos
pontos até se interligando visivelmente com as ações de agentes individuais. Por
conseguinte, a providência de Deus, como um todo, compreende e
dirige as pequenas providências dos homens. • :

14. Qual o argumento bíblico, derivado das profecias, promessas e ameaças


de Deus?

Em inumeráveis casos Deus predisse nas Escrituras, com muitos pormenores e


absolutamente, a ocorrência certa de determinados eventos, e prometeu ou
ameaçou contingentemente que outros eventos aconteceriam sob certas
condições. Isso, porém, seria iludir os homens, se Deus não empregasse os meios
necessários para cumprir a Sua palavra.

Não é razoável contender, dizendo que Deus simplesmente previa os eventos e


assim os predisse, prometeu ou ameaçou porque, a respeito de muitos, a
promessa ou ameaça é condicional, sendo baseada numa condição que não
estava na relação de causa para com o evento. E Deus não podia prever um
evento como contingente de outro que não tenha com Ele a relação causai. Nesse
caso, a verdade da promessa ou ameaça certamente não pode depender de
nenhuma conexão natural entre os dois eventos, e sim, unicamente, da
determinação de Deus de fazer um seguir-se ao outro.

15. Como se prova pelas Escrituras que a providência de Deus

estende-se a todo o mundo natural? •

Jó 9:5,6; 21:7-9; 37:6; Sal. 104:14; 135:5-7; 147:8-18; 148:7,8; Atos 14:17.

16. Como se prova pelas Escrituras que a providência de Deus compreende os


animais irracionais?

Sal. 104:21-29; 146:9; Mat. 6:26; 10:29.

17. Como se prova pelas Escrituras que a providência divina se estende aos
quefazeres gerais dos homens?

1 Crôn. 16:31; Jó 12:23; Sal. 10:12-15; 47:7; 116:7; Prov. 21:1; Dan. 2:21;
4:25. •

18. Como se mostra pelas Escrituras que as circunstâncias dos indivíduos são
dirigidas por Deus?
1 Sam. 2:6; Sal. 18:30; Prov. 16:9; Is, 45:5; Luc. 1:53; Tia. 4:13-15.

19. Como se prova que os eventos por nós considerados fortuitos estão sob a
direção de Deus?

Io. Chamamos fortuito o evento cujas causas próximas, quer por serem muito
complexas, quer por serem muito sutis, escapam à nossa observação. Todos os
eventos dessa natureza, porém, como, e.g., a queda de uma folha, acham-se
ligados ao sistema geral - tanto por seus antecedentes como por
suas conseqüências.

20. As Escrituras afirmam o fato - Ex. 21:13; Jó 5:6; Sal. 75:6,7; Prov. 16:33.

20. Que distinção se tem feito entre providência geral e providência particular, e
qual é a doutrina verdadeira?

A maioria dos homens admite que Deus exerce uma providência geral diretora
sobre os quefazeres humanos, dirigindo o seu curso geral e determinando os
grandes e importantes eventos, mas considera supersticiosa e derrogatória da
sublime dignidade e grandeza de Deus a concepção segundo a qual Ele Se
importa com todos os pormenores triviais. E muitos outros, cujas idéias sobre
este ponto não são muito claras, nutrem esse mesmo sentimento, julgando
praticamente do mesmo modo todos os eventos em sua relação à providência
divina.

Mas esse sentimento e essa concepção nascem de idéias muito inadequadas e


antropomórficas sobre os atributos de Deus e Seu modo de operar, como se para
a Causa absoluta e o Governador infinito pudesse existir a mesma diferença
entre coisas pequenas e grandes que existe para nós; como se também para Ele,
assim como para nós, uma multidão de pormenores fosse mais incômoda ou
menos digna de atenção do que o é algum grande resultado. Uma providência
geral e

uma especial não podem ser dois diversos modos de operação divina. A mesma
administração providencial é necessariamente ao mesmo tempo geral e especial,
porque se estende igualmente e sem exceção a todos os eventos e a todas
as criaturas do universo. Uma providência geral é especial porque consegue
resultados gerais pela direção de todos os eventos, grandes e pequenos, que
contribuem para esses resultados; e uma providência especial é geral porque
dirige especialmente iodos os seres e todas as ações individuais em todo o
universo. Iodos os eventos acham-se de tal modo relacionados uns com os outros
como um sistema encadeado de causas, efeitos e condições, que uma
providência geral que não seja ao mesmo icmpo especial não é mais concebível
do que o é um todo que uao tenha partes ou uma corrente que não tenha elos.

21. Como se prova que o governo providencial de Deus estende-se às ações


livres dos homens?

Io. As ações livres dos homens são causas potentes com influência sobre o
sistema geral das coisas exatamente do mesmo modo como se dá com todas as
outras classes de causas, c, por conseguinte, segundo o princípio indicado na
resposta à pergunta anterior, devem estar sujeitas a Deus, ou, de outro modo, ser-
Lhe-á impossível qualquer forma de providência.

2°. As Escrituras afirmam esta verdade - Ex. 12:36; 1 Sam. 24:9-15; Sal.
33:14,15; Prov. 16:1; 19:21; 20:24; 21:1; Jer. 10:23; bil. 2:13.

22. Como se prova pelas Escrituras que a agência providencial de Deus é


exercida sobre as ações pecaminosas dos homens?

2 Sam. 16:10; Sal. 25:3; 76:10; Atos4:27,28; Rom. 11:32.

23. Que ensinam as Escrituras quanto à agência providencial de Deus nas


boas ações dos homens?

As Escrituras atribuem tudo quanto há de bom no homem a livre graça de Deus,


operando tanto providencial como

espiritualmente, e influindo tanto no corpo como na alma e nas relações externas


do indivíduo - 2 Cor. 12:9,10; Gál. 5:22-25; Ef. 2:10; Fil. 2:13; 4:13.

Devemos estar lembrados, porém, de que, embora uma causa material possa ser
analisada e decomposta na interação mútua de dois ou mais corpos, a alma
humana age espontaneamente, isto é, gera ação. E também de que a alma,
em todos os seus atos voluntários, é determinada por seus próprios desejos e
disposições predominantes.

Quando, pois, as Escrituras atribuem a Deus todas as boas ações dos homens,
isso não quer dizer, Io. que Ele as cause, nem, 2o. que Ele determine o homem a
praticá-las independentemente da livre vontade do mesmo homem; e sim
que Deus opera de tal modo sobre o homem, de dentro e espiritualmente, e por
fora, por meio de influências morais, que produz a disposição livre e boa. Ele
opera primeiro em nós o querer, e então também o fazer a Sua boa vontade.

24. Que ensinam as Escrituras sobre a relação da providência com as ações


pecaminosas dos homens?

As Escrituras ensinam:

Io. Que as ações más dos homens estão sob a direção eficaz de Deus no sentido
de que elas só são praticadas com a Sua permissão e segundo o Seu propósito -
Gên. 37:28; 45:5; 50:20. Confira 1 Sam. 6:6; Êx. 7:13; 14:17; Is. 46:4;
Atos 2:23; 3:18; 4:27,28; 2Tess. 2:11.

2o. Susta e dirige eficazmente o pecado - Gên. 50:20; Sal. 76:10; Is. 10:15.

3o. Domina-o para o bem - Gên. 50:20; Atos 3:13.

4o. Deus nem causa nem aprova o pecado. Tão-somente o permite, o dirige, o
restringe, o limita, o governa. O homem, agente livre, é a única causa
responsável e culpada dos seus próprios pecados.

Turretino expõe do modo seguinte o testemunho das Escrituras a respeito deste


assunto:

Io. Quanto ao começo do pecado. (1) Deus o permite livremente. Mas essa
permissão nem é moral, isto é, embora o permita, não o aprova nunca; nem
meramente negativa, isto é, Ele não concorda simplesmente com o resultado,
mas determina positivamente que, para certos fins sábios e santos, seja permitido
aos maus homens que ajam segundo suas naturezas más - Sal. 81:12; Atos
4:27,28. (2) Abandona os que pecam, ou tirando-lhes a graça de que abusaram,
ou não lhes dando mais. Esse abandono pode ser (a) parcial, para provar
o coração do homem - 2 Crôn. 32:31, ou (b) corretivo, ou (c) penal - Jer. 7:29;
Rom. 1:24-26. (3) Deus ordena as circunstâncias providenciais de modo que a
maldade inerente aos homens se manifeste como Ele determinou permitir que
o faça - Atos 2:23; 3:18. (4) Deus entrega os homens a satanás, (a) como
tentador - 2 Tess. 2:9-11, ou (b) como atormentador - 1 Cor. 5:5.
2o. Quanto ao progresso do pecado, Deus limita a sua intensidade, a sua duração
e a sua influência sobre outros. Isso Ele efetua tanto por influências internas
sobre o coração, como pela direção das circunstâncias externas - Sal. 76:10.

3o. Quanto ao fim ou ao resultado do pecado, Deus sempre o domina e o dirige


para o bem - Gên. 50:20; Jó 1:12; 2:6-10; Atos 3:13; 4:27,28.

25. Em que três classes gerais se pode dividir todas as teorias quanto ao
governo providencial de Deus?

Ia. As que afastam Deus de toda ação atual no universo, e afirmam a


independência completa das causas secundárias. 2a. As que mais ou menos
explicitamente negam a operação real das causas secundárias e aceitam Deus
como o único agente ativo no universo. 3a. A teoria intermédia ou cristã, que
sustenta todos os princípios que a este respeito ensinam as Escrituras, como
sejam: a eficácia real das causas secundárias, especialmente a liberdade do
homem nas suas ações e sua responsabilidade moral por elas, e, ao mesmo
tempo, a direção

universal e eficaz de Deus, pela qual, em perfeita conformidade com os atributos


da Sua natureza, e com as diversas propriedades de Suas criaturas, Ele determina
e dispõe todos os eventos e todas as ações segundo o Seu propósito soberano.

26. Como se pode expor a teoria mecânica da providência?

Esta teoria supõe que, quando Deus criou o universo, dotou todos os diversos
elementos materiais e espirituais de suas propriedades e forças respectivas, que
depois as reuniu em certas combinações e proporções, e assim os tornou
sujeitos a certas leis gerais. O mundo é assim uma máquina cujas diversas peças
o Criador calculou de tal modo qúe ela efetua agora de per si todos os propósitos
que o Criador teve em vista. Tendo-lhe dado corda, Deus deixou o mundo
entregue a si próprio. Deus é a Causa primária no sentido de ser a primeira de
uma série interminável de causas que se afastam cada vez mais da sua origem.
Alguns filósofos limitam este mecanismo rijo ao mundo físico e consideram a
vontade livre dos homens como um fator absolutamente indeterminado
compreendido no mecanismo geral do mundo. Mas a maioria dos que
adotam esta teoria mecânica nega a liberdade do homem e o considera como um
dos elementos cósmicos não essencialmente diferente dos demais.
Portanto, todas as intervenções providenciais e todos os milagres seriam
impossíveis. Supor que há necessidade de semelhantes intervenções seria supor
que houve algum defeito radical na obra criadora de Deus - que era incapaz de
precalcu-lar todas as combinações necessárias, ou então, que era incapaz de
produzir uma máquina que trabalhasse por si mesma. Diz o professor Baden
Powel: “E derrogante ao poder e à sabedoria infinitos a suposição de que a
ordem de coisas foi estabelecida tão imperfeitamente que se torna necessário de
vez em quando interrompê-la e violá-la”. E Theodore Parker diz: “Os
homens servem-se de expedientes precários; mas o Infinito não lança mão de
artifícios e subterfúgios: não há caprichos em Deus, e,

por conseqüência, não há milagres na natureza”. ■ ~>' - ■' ■ •'■1

27. Como se pode demonstrar que esta teoria éfalaz? 'r-?: »>'

Io. Está em oposição ao ensino claro da Palavra de Deus, exposto nas respostas
às perguntas 15-21. 2o. É essencialmente irreligiosa e materialista. Deixa de
reconhecer que a educação e a disciplina de agentes inteligentes e livres é o
grande fim ao qual está adaptado o universo como um sistema de meios. Separa
de Deus as almas dos homens, torna irrisória a oração, impossível a revelação, a
responsabilidade moral em preconceito, e a religião em ilusão. 3o. Baseia-se
numa idéia antropomórfica de Deus, antropomórfica e nimiamente mesquinha.
Concebe o universo simplesmente como um sistema mecânico de causas e como
se tivesse com Deus a mesma relação que uma máquina humana tem com o
seu fabricante, que está necessariamente fora da sua obra. Deixa inteiramente -
(1) De apreender a imanência do Criador na criação como espírito onipresente e
sempre ativo e diretor, como agente pessoal, que faz leis operando segundo leis
com o fim de efetuar propósitos por Ele escolhidos; (2) De apreender a
verdadeira natureza do universo em relação aos seus fins supremos como
sistema moral estabelecido com a intenção de instruir e desenvolver agentes
morais, livres e pessoais, criados à imagem de Deus.

Um sistema que envolva uma ordem estabelecida da natureza, e que proceda


com sábia adaptação dos meios para efetuar certos fins, é necessário como meio
de comunicação entre o Criador e a criação inteligente, e para efetuar a
educação moral e intelectual dessa criação. E somente assim que se
pode exercitar e manifestar os atributos divinos de sabedoria, retidão e bondade,
e é somente assim que os anjos e os homens podem compreender o caráter de
Deus e antecipar a Sua vontade, ou cooperar inteligente e voluntariamente com o
Seu plano.

Parece necessário, porém, que em conexão com um sistema geral de meios e leis
haja ocasionalmente exercícios diretos de poder, não só “no princípio, para criar
causas

secundárias e inaugurar a sua operação, mas também subseqüentemente, para dar


aos súditos do Seu governo moral a revelação da Sua personalidade livre e de
Seu interesse imediato nos afazeres deles. Em todo caso, tal ação direta e
ocasional é necessária para a educação do homem no seu estado atual.
Um milagre, embora efetuado pelo poder divino sem meios, é em si mesmo um
meio para efetuar um fim, e faz parte de um plano. Todas as leis naturais tiveram
origem na razão divina, e são expressões da vontade de levar a efeito um
propósito -Apud Duque de Argyle, em sua obra Reign of Law. A “ordem
da natureza” é tão-somente um instrumento da vontade divina, instrumento
utilizado em subordinação a esse governo moral superior em cujos interesses são
realizados os milagres. Assim, pois, “a ordem da natureza”, a providência
comum de Deus, e os milagres, em vez de estarem em conflito entre si, são
os elementos intimamente correlacionados de um só sistema universalmente
compreensivo.

28. Que classes de filósofos têm real ou virtualmente negado a eficácia das
causas secundárias?

Todos os panteístas, como é natural, consideram todas as causas secundárias


como modificações da Causa Primária, e a Deus como o único agente real no
universo. Descartes, apesar de crer em Deus e na real existência objetiva de
agentes materiais como também espirituais, não obstante, sustentava que esses
agentes eram criados de novo em cada momento sucessivo, e em todos os seus
sucessivos estados e ações, de modo que realmente fazia das causas secundárias
outras tantas modificações da Causa Primária. Daí seus discípulos deduziram a
teoria das causas ocasionais, dizendo que as mudanças ocorridas nas causas
secundárias são simplesmente as ocasiões em que a Causa Primária exercita a
Sua agência eficaz e produz o respectivo efeito. Isso levou ao panteísmo de
Spinoza. O Dr. Emmons, da Nova Inglaterra, sustentava, em conexão com uma
“teoria do exercício”, a doutrina da eficácia divina. Tudo

quanto sabemos que ocorre na alma humana é uma série de exercícios ligada a
um fio obscuro de consciência. Deus é a causa real, criando em cada momento
cada um desses exercícios em suas sucessões, tanto os maus como os bons, do
mesmo modo como um músico produz num instrumento de sopro as notas
sucessivas, à Sua vontade.

A esta classe de especulações pertence a teoria do “concurso”, que por tanto


tempo esteve em voga na Igreja.

29. Qual a doutrina representada pela frase “CONCURSUS geral e


indiferente”, e quais foram os seus defensores?

Durante muitos séculos os teólogos discutiram as questões relacionadas com o


CONCURSUS, OU seja, o influxo e a cooperação de Deus nas causas secundárias.

Os jesuítas, e com eles os socinianos e os remonstrantes, sustentam que esse


“concursus” é só “geral” e “indiferente”; isto é, que é igualmente comum a todas
as causas, incitando-as à ação, mas indiferentemente, isto é, a Causa Primária é,
por assim dizer, simplesmente um estímulo às causas secundárias, deixando
então a cada uma a iniciativa de determinar o seu modo particular de ação.
Ilustram isso referindo-se ao poder vivificador do sol, que espalha os seus raios
universal e indiferentemente sobre todos os objetos terrestres, raios que são o
princípio comum de toda vida e de todo movimento. Onde esses raios não
chegam não há vida. Ao mesmo tempo, o sol conserva-se indiferente a qualquer
forma particular de vida ou de movimento - e cada germe em particular brota
segundo a sua própria espécie sob o poder vivificador do mesmo sol.

E evidente que esta teoria admite que Deus conserva as essências e as forças
ativas de todas as coisas, mas, por omissão, nega virtualmente todo real governo
providencial. Segundo ela, Deus criou e conserva todas as coisas, e estas, por
sua vez, operam espontaneamente e sem Sua direção eficaz, conforme a sua
natureza e as suas tendências.

30. Qual a doutrina representada pela frase “CONCURSUS simultâneo e


imediato”?

Esta frase exprime um ato de Deus em que Ele coopera com a criatura no ato
dela, como concausa, na produção do ato como entidade. Nesta teoria, e na
oposição ao “CONCURSUS geral e indiferente” acima explicado, concordaram
os discípulos de Tomaz de Aquino na igreja romana e todos os teólogos
luteranos e reformados. Ainda restava, porém, como ponto difícil e
de divergência, a questão a respeito de quem é o fator determinante nessa
causalidade dual. Seria Deus quem determina a criatura em todos os casos a agir,
e a agir do modo como age e não de outro modo, ou seria a criatura que se
determina a si mesma?

31. Qual a doutrina expressa na frase “CONCURSUS prévio


e determinante”, e quais foram os seus defensores?

Em razão da questão acima pendente, os teólogos reformados ou calvinistas


sustentavam em acréscimo a doutrina do “praecursus”, ou seja, de um
“CONCURSUS prévio e determinante”, quer dizer, uma energia atuando sobre a
criatura e determinando-a em cada caso a agir, e exatamente do modo como age.
Alguns aplicaram isso unicamente às boas ações dos homens; outros, mais
logicamente, aplicaram-no a todas e quaisquer ações.

32. Como procuraram os teólogos reformados conciliar essa doutrina com a


liberdade do homem e a santidade de Deus?

Quanto à liberdade do homem, diziam - Io. Que é um mistério. 2o. Que os dois
fatos, (a) de que a ação humana é livre, e (b) de que Deus dirige eficazmente
essa ação, são claramente revelados nas Escrituras, e por isso não podem deixar
de ser conciliáveis, quer isso nos seja possível quer não. 3o. Alegavam qut
omodus operandi desseconcursus divino varia segundo a natureza da criatura em
que atua, e que está sempre em perfeita conformidade com a natureza dessa
criatura e com

os seus modos de ação. “Desde que, pois, a Providência não concorre com a
vontade humana, nem por via de coação, obrigando uma vontade que não o
queira, nem por via de determinação física, como se fosse coisa brutal e cega,
sem juízo algum, e sim racionalmente, dirigindo a vontade de uma maneira
congruente com ela, para que se possa determinar a si mesma, segue-se que,
achando-se a causa próxima da ação de cada homem no juízo da sua própria
inteligência e na escolha espontânea da sua própria vontade, a Providência
não constrange a liberdade de ninguém, mas antes a sustém” -Turretino, L. 6,
perg. 6.

“Moveri voluntarie est moveri ex se, i.e., a princípio intrínseco. “Sed illud
principium intrinsecum potest esse ab alio principio extrinseco. Etsic moveri
exse non repugnatsi, quod move-tur ex alio. Illud quod movetur ab alio dicitur
cogi, si moveatur contra inclinationem propriam; sed si moveatur ab alio quod
sibi datpropriam inclinationem, non dicitur cogi. Sic igitur Deus movendo
voluntatem non cogit ipsam, quira dat ei ejus propriam inclinationem” - Tomaz,
vol. 1, págs. 105,4, citado por Dr. Charles Hodge.

Quanto à santidade de Deus em relação às ações pecaminosas das criaturas,


esses teólogos sustentavam - Io. Que a origem do pecado está num defeito ou
numa causa secreta. 2o. Que há uma diferença entre um ato de per si como
entidade, e sua qualidade moral. Deus é a concausa eficaz daquele, mas não
desta, se se tratar de um ato mau. Citavam como ilustração disso o caso de um
instrumento musical mal afinado nas mãos de um músico perito. O músico é a
causa de cada um dos sons produzidos em sua ordem, porém o desarranjo no
instrumento é o único fator causante da desarmonia. 3°. Segue-se que a relação
da providência de Deus com as ações más dos homens é muito diversa da sua
relação com as ações boas. No caso destas, Deus não somente coopera na sua
produção, mas dá também a graça que lhes comunica a sua qualidade moral.
No caso das más ações, porém, o concursus é limitado ao ato, e a

qualidade má é derivada unicamente da criatura.

33. Expor as diversas objeções feitas contra esta teoria de CON-CURSUS.

1. E uma tentativa sem sucesso, de ultrapassar os fatos ensinados pelas


Escrituras, em sua busca de uma explanação da maneira que Deus age sobre a
criatura para efetuar Seus objetivos.

2. Esta teoria tende a negar a eficiência de causas secundárias e, portanto,


tende ao panteismo. Este perigo foi menos apreciado pelos grandes reformadores
e seus sucessores, nos séculos 16 e 17, do que, necessariamente, chegou a ser
em nossos dias. E de suma importância que sustentemos ambas as verdades
correlatas da eficiência de causas secundárias, e da providência controladora de
Deus da liberdade humana e da soberania divina, deixando então a questão de
reconciliá-las para o futuro.

34. Até onde as Escrituras nos oferecem algum ensino acerca da natureza do
governo providencial de Deus?

Nada absolutamente explicam quanto à maneira pela qual Deus exercita a Sua
agência, mas afirmam explicitamente, e em toda parte postulam, o fato de que
Ele governa todas as Suas criaturas e todas as ações delas, e também expõem
muitas das características desse governo.

Afirmam que:

Io. É universal - Sal. 22:28,29; 103:17-19; Dan. 4:34,35;

2o. É particular - Mat. 10:29-31;

3o. Compreende os pensamentos e as volições dos homens, e muitos eventos que


parecem contingentes - 2 Crôn. 16:9; Prov. 16:9,33; 19:21; 21:1.

4o. É eficaz - Jó 23:13; Sal. 33:11; Lam. 2:17.

5o. É a execução do Seu propósito eterno, compreendendo em um só sistema


inteiro todas as Suas obras, desde o princípio -Sal. 104:24; Is. 28:29; Atos
15:17,18; Ef. 1:11.

6o. Seu fim principal é a glória de Deus, e, subordi-nadamente a isso, o bem


supremo da Sua Igreja redimida - Rom. 8:28; 9:17; 11:36.

7o. As Escrituras ensinam que é impossível que a maneira pela qual Deus
executa o Seu governo providencial não seja conciliável com as Suas próprias
perfeições, porque Deus “não pode negar-se a si mesmo” - 2 Tim. 2:13.

8o. E também congruente com a natureza de toda criatura sujeita a esse governo,
porque todos os agentes livres continuam livres e igualmente responsáveis.

9o. As Escrituras ensinam também que, no caso das boas ações dos homens,
Deus dá a graça e o motivo, e coopera nos atos desde o princípio até ao fim - Fil.
2:13. E, no caso das más ações dos homens, permite-as simplesmente, restringe-
as, e domina sobre elas para a Sua própria glória e o bem supremo da criação.

35. Como se pode conciliar com o governo providencial de Deus a existência


do mal físico e do mal moral?

A origem e a permissão do mal moral são um mistério que não sabemos explicar.

Quanto ao mal físico, respondemos:


Io. Que nunca é enviado como um fim em si mesmo, mas sempre como um meio
para alcançar um bem maior.

2o. Que nas suas relações atuais com o mal moral, como corretivo e punitivo, a
existência do mal físico é justificada tanto pela razão quanto pela consciência
como perfeitamente digna de um Deus sábio, reto e misericordioso.

36. Como se pode demonstrar que a distribuição aparentemente anômala da


felicidade e da miséria neste mundo não é inconciliável com a doutrina da
providência?

Io. Cada agente moral neste mundo recebe mais bens e menos males do que
merece.

2o. A felicidade e a miséria acham-se distribuídas muito

mais igualmente neste mundo do que a princípio parece num exame superficial.

3o. Como regra geral, a virtude é recompensada e o vício é punido mesmo neste
mundo.

4o. A dispensação atual é tempo de educação, preparação e prova, e não de


recompensas e castigos - Veja Sal. 73.

PROVIDÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS E MILAGRES

37. Em que sentido se diferenciam as providências extraordinárias dos eventos


ordinários em sua relação com a direção providencial de Deus?

Eventos como o vôo de codornizes e a pesca mencionados em Números 11:31,32


e Lucas 5:6, até onde nós sabemos, diferem dos eventos que sucedem sob o
normal governo providencial de Deus somente na conjunção
divinamente prearranjada das circunstâncias. Os eventos são
extraordinários, mas não são sobrenaturais, e sua peculiaridade consiste
somente em sucederem em conjunção eminentemente aprazível com certos
outros eventos como, e.g, o aperto em que se achavam os israelitas ou os
apóstolos, com os quais eventos, porém, eles não tinham nenhuma conexão
natural.
38. Como são designados os milagres no Novo Testamento?

São chamados - (1) terata, prodígios, Atos 2:19; (2)

dunameis, obras de poder sobre-humano; e (3) semeia, sinais, João 2:18; Mat.
12:38. Essa última designação exprime o seu verdadeiro fim, que é o de serem
“sinais”, impossíveis de imitar ou falsificar, de que alguém foi comissionado e
autenticado por Deus para ser mestre religioso e ensinar sua doutrina.

39. Como se deve, pois, definir o milagre, no sentido bíblico da palavra, de


modo que fique assinalada a sua diferença específica tanto de eventos
sobrenaturais em geral, como das providências

extraordinárias definidas sob a Perg. 37? . ■ i,.^ :up

O milagre é (1) um evento-que sucede no mundo físico e que pode ser notado e
discriminado com certeza pelos sentidos corporais de testemunhas humanas (2)
de caráter tal que não possa ser referido racionalmente a nenhuma causa que não
seja a volição imediata de Deus, (3) essa volição acompanhando um mestre
religioso com o fim de autenticar a sua comissão divina e a veracidade do seu
ensino.

40. Em que termos se pode expor a objeção a priori contra a possibilidade do


milagre, por envolver essencialmente a violação das leis da natureza? Como lhe
dar resposta?

Diz-se que tanto a experiência universal como a integridade da razão humana


concordam em garantir que é absolutamente inviolável a lei da continuidade -
que todo evento possível tem sua explicação plena em causas adequadas que o
precederam, e que cada evento, por sua vez, é a causa de uma série interminável
de conseqüências subseqüentes. Nenhum evento pode ser isolado de seus
antecedentes e das respectivas conseqüências, nem de suas condições, e toda
causa opera segundo uma lei inteligível da natureza.

Tudo isso é verdade, e o é tanto em referência aos milagres como em referência a


quaisquer outros eventos.

Se por “lei da natureza” entendemos as forças físicas que produzem efeitos,


então nenhum milagre envolve a suspensão ou violação de tal lei. E da
experiência geral que as forças modificam umas as outras, e cada força adicional
combina-se com outras na produção de efeitos de outro modo impossíveis. Se
por “lei da natureza” entendemos o curso comum dos eventos observados na
natureza, então o milagre é, segundo a definição dada, uma suspensão notável
desse curso. Mas a mesma coisa é efetuada todos os dias pelos homens,
que interferem na ordem natural dos eventos que ocorrem na natureza.

Em todo evento físico há uma combinação de concausas

que o efetuam. A vontade humana não viola nenhuma lei quando opera, e não
aniquila nenhuma força; simplesmente combina em condições especiais diversas
forças naturais, e interpõe na soma das concausas uma concausa nova - a
volição humana.

Quando Eliseu “cortou um pau, e o lançou ali, e fez nadar o ferro” - 2 Reis 6:6,
não foram mudados os pesos específicos nem do ferro nem da água, nem foi
suspensa a lei da gravitação. O milagre consistiu unicamente na interposição, por
uma volição divina, de uma nova força transitória, igual à diferença dos pesos
específicos da água e do ferro, e agindo no sentido oposto ao da gravitação. Isso
é exatamente análogo à ação da vontade humana sobre objetos físicos - com esta
exceção - a vontade do homem atua sobre objetos exteriores só indiretamente,
mediante o mecanismo de seu corpo, e diretamente só sobre os seus músculos
voluntários; enquanto que a vontade de Deus opera diretamente sobre todos os
elementos do mundo que Ele criou. E poder-se-ia mostrar que aquilo que é
realmente verdade neste milagre simples, também o é nos mais complexos,
como,e.g\, a ressurreição de Lázaro, se tivéssemos conhecimento suficiente da
química e da fisiologia da vida humana.

John Stuart Mill (Essay on Theism, Parte 4) diz: “Pode-se dizer que “o poder da
volição sobre os fenômenos é também uma lei, e uma das leis da natureza de que
os homens adquiriram primeiro o conhecimento e de que primeiro se
serviram... Só não é uma exceção à lei a interferência da vontade humana no
curso da natureza quando incluímos entre as leis a relação de motivos para a
volição; e, segundo a mesma regra, a interferência da vontade divina não seria
tampouco uma exceção, porque não podemos deixar de supor que a Deidade, em
todos os Seus atos, é determinada por motivos”. A analogia alegada é boa; mas o
que ela prova é só o que tenho sustentado desde o princípio - que se poderia
provar a interferência divina no curso da natureza se tivéssemos a seu favor a
mesma espécie
de provas que temos a favor das interferências humanas”.

Isto é, o maior de todos os racionalistas filosóficos sustenta que não há motivos


a priori para que se julgue impossível o milagre. E simplesmente uma questão
de suficiência de provas. Todo cristão está perfeitamente convencido de que as
provas (históricas, morais e espirituais) a favor da crença na ressurreição de
Jesus Cristo e dos milagres associados historicamente a esse evento são
completas e suficientes.

41. Que diz a objeção contra os milagres, tirada do equilíbrio do universo, e


como responder-lhe?

É um fato que o universo físico inteiro forma um só sistema, e que, como se acha
ajustado atualmente, está num estado de equilíbrio tão delicado que a adição ou a
subtração de um só átomo em qualquer parte perturbaria esse equilíbrio no
sistema inteiro. Uma perturbação, por um minuto que fosse, ab extra - a entrada
de um agente não pertencente ao sistema das coisas, seria destrutiva para o todo.

E evidente que esta objeção teria peso, se o universo material fosse um todo
exclusivo por si só, e se não estivesse em relação constitucional com Deus.
Todavia, se Deus e a criação juntos formam um todo - um completo universo
de coisas - então a objeção é absurda. A soma das atividades de Deus é o
necessário complemento da soma das atividades de todas as Suas criaturas, e só
assim é que o equilíbrio é mantido.

Também é evidente que a vontade de Deus não está fora da soma das coisas que
constituem o universo mais do que o está a vontade do homem. E o homem está
constantemente modificando a natureza em extensas áreas, e cada momento está
fazendo a sua vontade atuar ab extra, como nova concausa, sob as leis físicas do
universo, dando-lhes novas direções e novas condições.

Demais disso, o equilíbrio do universo não é equilíbrio permanente, mas está em


mutação perpétua, especialmente em conseqüência da dissipação do calor e da
concentração da

matéria nos centros de atração.

42. "Expor e contestar a objeção segundo a qual assumir a necessidade de


interferência miraculosa seria coisa derrogatória à sabedoria e ao poder do
Criador.
Alega-se que a perícia de um artífice humano manifesta-se sempre na medida em
que a máquina construída faz o que deve fazer sem necessidade de consertos,
emendas ou direção da parte do artífice ou de outrem; que a necessidade de
intervenção ab extra, para qualquer fim, é prova de defeito da máquina, ou ao
menos de limitação da perícia do construtor. Por isso se diz que não pode haver
necessidade de milagres, senão sob a suposição de que Deus mudou Seu
propósito ou de que há algum defeito radical na criação. Disse Theodoro Parker:
“Não há caprichos em Deus e, por conseguinte, não há milagre na natureza”.

Esse argumento teria força se o desígnio dos milagres fosse o de remediar dessa
maneira qualquer defeito que porventura se houvesse descoberto no universo
físico. Contudo, com isso nenhum cristão jamais sonhou.

O desígnio do milagre é simplesmente dar a conhecer às criaturas inteligentes


que o seu Criador intervém ativamente no universo moral com o fim de restaurar
a ordem perturbada pelo pecado. O sistema moral é essencialmente diferente
do sistema físico. Este é mecânico, aquele abrange a razão, a consciência, a
VONTADE LIVRE, e a lei dos motivos. A vontade livre tornou possível o
pecado, e este tornou necessária a direta intervenção divina, ou para remir ou
para condenar.

Todos os milagres bíblicos acham-se agrupados ao redor de grandes crises


ocorridas na obra da redenção, ou da restauração da lei original e natural
perturbada pelo pecado. Por isso os milagres bíblicos, em vez de serem como
todos os “milagres” dos gentios, ou da igreja papal, ou do espiritismo moderno,
os quais são simples prodígios, exibições de poder, fazendo ostentação da sua
violação da ordem natural, são eminente-

mente curas de moléstias, atos cuja tendência e cujo espírito implicam a


restauração e a confirmação, não a violação, da lei.

O melhor sentido da palavra LEI é ordem, disposição ordenada, atribuição de


alguma função, com o fim de levar a efeito um propósito.

Segue-se que a suprema essência de toda lei é o propósito eterno de Deus. Não
ocorreu nenhuma intervenção miraculosa em conseqüência de um pensamento
posterior. Um só ato eterno de volição absolutamente inteligente abrangeu o
sistema inteiro de seres e eventos em todo o espaço e em toda a
duração, instituindo ao mesmo tempo todos os fins, meios e métodos, os
necessários e os livres, os físicos e os morais, os atos das criaturas em obediência
à lei e as intervenções do Criador impondo a lei.

43. Como se pode saber com certeza se um evento é realmente um milagre no


sentido desta palavra como foi definida acima ?

Io. Milagre, segundo a definição acima, é “um evento que sucede no mundo
físico, capaz de ser notado e discriminado com certeza pelos sentidos corporais”.
Os milagres bíblicos, particularmente os mais importantes deles, preenchem
essa condição, pois foram realizados (1) à clara luz do dia, (2) em ocasiões
diferentes, (3) em circunstâncias muito diversas, (4) na presença de muitas
testemunhas e (5) sujeitos ao exame de diversos sentidos - a vista, o ouvido, o
tato - corroborando-se mutuamente. .

2o. Segundo a mesma definição, é necessário que o milagre “acompanhe um


mestre religioso com o fim de autenticar a sua comissão divina e a veracidade do
seu ensino”. Segue-se, pois, que é necessário que todo evento semelhante, para
ser crível, seja (1) em si mesmo, de caráter racional e moralmente congruente
com a sua alegada origem divina. (2) Que o caráter do mestre religioso, cuja
comissão o evento autentica, e também o caráter da sua doutrina, sejam tais que
se torne crível o representarem eles os sentimentos e a vontade de Deus. (3) E

necessário que o mensageiro e sua mensagem estejam em harmonia, histórica e


doutrinariamente, com o organismo inteiro de revelações e intervenções divinas
que os precederam.

3o. E necessário, em terceiro lugar, que o milagre seja “de caráter tal que não
possa ser referido racionalmente a nenhuma causa que não seja a volição
imediata de Deus”.

Aqui se tem objetado que nunca podemos ter a certeza de que um evento é
realmente um milagre, mesmo que o seja, porque - (1) Nenhum ser humano
conhece todas as leis da natureza, nem sabe onde está exatamente a linha de
separação entre o natural e o sobrenatural. Aquilo que é novo e inexplicável é
relativamente sobrenatural, isto é, é incapaz de ser por nós reduzido às categorias
da natureza. (2) Os maus espíritos muitas vezes realizaram obras sobrenaturais -
e, por conseguinte, é-nos impossível determinar se em qualquer caso dado a
causa do evento é ou não uma volição direta de Deus.
RESPONDEMOS: Io. Quanto ao que diz respeito aos espíritos maus, o reino de
satanás é fácil de reconhecer por seu caráter. Nunca se deve reconhecer como
milagre um evento isolado. O homem, sua doutrina e sua relação com o
sistema de revelações e intervenções miraculosas do passado, serão em todos os
casos suficientes para se poder discriminar um verdadeiro de um falso. 2o.
Quanto ao que diz respeito à questão de determinar com certeza quais os efeitos
que transcendem as forças da natureza, temos a dizer - (1) Que há certas
classes de efeitos a cujo respeito é impossível que alguém duvide,e.g., a
ressurreição de Lázaro e a multiplicação de pães e peixes; podemos estar em
dúvida quanto aos limites exatos do sobrenatural - mas não se pode errar quanto
àquilo que tanto excede os limites do natural. (2) Esses efeitos foram
produzidos há dois mil anos, em época não científica e por indivíduos sem
instrução. (3) Foram produzidos repetidas vezes,por simples palavras, sem
emprego de outros meios, e em diversas condições físicas. (4) As obras eram
divinas em seu caráter, e as ocasiões eram

dignas delas; nos mestres religiosos e nas suas doutrinas viam-se provas
espirituais corroborativas dos milagres que realizaram, e estes ocupam lugar
apropriado no sistema inteiro da revelação de Deus.
A Constituição da Alma, a Vontade, a Liberdade, etc.

1. Em que seção geral da teologia estamos entrando agora, e quais os


principais tópicos abrangidos por ela?

A seção geral é a da ANTROPOLOGIA, e os principais tópicos nela


compreendidos são a constituição moral do homem, considerado
psicologicamente, a condição moral do homem quando foi criado, e as relações
providenciais em que ele foi introduzido na sua criação - a natureza do pecado, o
pecado de Adão, os efeitos que o seu pecado produziu sobre ele e sobre a sua
posteridade, e a condição moral e as relações legais em que, como conseqüência,
os seus descendentes são introduzidos em seu nascimento.

É óbvio que, para que se entenda bem a natureza do pecado, original e atual, da
influência da graça divina e da mudança operada na alma regenerada, é
necessário que se tenha algum conhecimento das faculdades constitucionais da
alma, e especialmente daquelas questões psicológicas e metafísicas que são
inseparáveis das discussões teológicas.

2. Que princípio geral é necessário ter sempre em mente quando se trata das
diversas faculdades da alma humana?

A alma do homem é um só agente indivisível, e não um conjunto organizado


constando de diversas partes; em conseqüência, aquilo que descrevemos como
suas diversas faculdades é, antes, a capacidade desse agente único para

desempenhar, simultânea ou sucessivamente, as diversas funções envolvidas, e


nunca devemos concebê-las como se fossem partes ou órgãos que existem
separadamente. Essas diversas funções exercidas pela alma são tão variadas
e complexas que é necessário que se faça uma análise minuciosa delas, para que
tenhamos uma idéia definida da sua natureza. Ao mesmo tempo, convém que
estejamos lembrados de que grande parte dos erros em que caíram os filósofos
em suas interpretações da constituição moral do homem, foram o resultado do
abuso desse mesmo processo de análise. Isso é verdade especialmente com
respeito à interpretação dos atos voluntários da alma humana. Na prossecução da
sua análise, o filósofo chega a reconhecer separadamente as diferenças e
as semelhanças dessas várias funções da alma, e muitas vezes não se lembra de
que essas mesmas funções nunca estão assim em operação isoladamente, e sim
concorrentemente, por ser a alma um só agente indivisível, e que, por isso, as
suas funções diversas sempre se restringem mutuamente. Assim também não é,
de fato, verdade que a inteligência raciocina, que o coração sente, a consciência
aprova ou condena e a vontade decide do mesmo modo como os diversos
membros do corpo operam juntos, e os diversos membros de um
conselho deliberam e decidem mediante ação conjunta de suas partes; porém a
verdade é que a alma, que é uma só e indivisível, racional, sensível, moral e
autodeterminante, raciocina, sente, aprova ou condena e decide.

O poder autodeterminante da vontade, como faculdade abstrata, é um absurdo


como doutrina, e seria funesto como experiência; mas o poder autodeterminante
da alma humana como um agente fatual, racional e sensível, é um fato
de consciência universal e uma doutrina fundamental da filosofia moral e da
teologia cristã. A questão real não versa sobre a liberdade da vontade, e sim
sobre a liberdade do homem em determinar-se ou em escolher. E óbvio que
somos livres se temos a liberdade de nos determinarmos como nos convém, isto
é,

segundo nos parece bem, tomando tudo em consideração.

3. Como classificar as principais faculdades da alma humana, e quais


constituem a sede da nossa natureza moral?

Io. As intelectuais. Esta classe abrange todas as faculdades que de modos


diversos concorrem para o exercício da função geral do conhecimento; são elas a
razão, a imaginação, os sentidos corporais e o sentido moral (quando
considerado como simples fonte de conhecimento dando parte ao entendimento).

2o. As emocionais. Esta classe abrange todos os sentimentos que de algum modo
acompanham o exercício das outras faculdades. ■

3o. A vontade.

Notar-se-á que as funções da consciência envolvem faculdades que pertencem


em parte à primeira classe e em parte à segunda. (Veja abaixo, Perg. 5.)

Pergunta-se muitas vezes: qual de nossas faculdades é a sede da nossa natureza


moral? Pois bem, embora haja um sentido em que todas as questões morais
concernem à relação dos estados ou atos da vontade com a lei de Deus revelada
na consciência, e nos quais, em conseqüência, a vontade e a consciência são
proeminentemente o fundamento da natureza moral do homem, não obstante é
verdade que todas as faculdades da alma humana, como acima classificadas,
estão em exercício em todas as distinções morais; por exemplo, o intelectual na
percepção e no julgamento; o emocional quando experimentamos prazer ou
desprazer; a vontade está operando quando escolhemos ou rejeitamos, e quando
agimos. Cada estado ou ato, pois, de qualquer das faculdades da alma humana,
quer diga respeito ao julgar, quer ao escolher ou recusar ou desejar a respeito de
qualquer questão puramente moral, ou do sentimento que lhe corresponda, é um
ato ou um estado moral, e assim, todas as faculdades, consideradas em suas
relações com a distinção entre o bem e o mal, são faculdades morais.

4. Que é a vontade?

O termo “vontade” é empregado muitas vezes para designar a simples faculdade


da volição, mediante a qual a alma escolhe, ou se recusa, ou se determina a agir,
designando também o exercício dessa faculdade. É empregado também em
sentido lato, e é neste que o emprego aqui, para incluir a faculdade da volição
junta com todos os estados espontâneos da alma (que Sir William Hamilton,
emLectures on Metaphys-ics, Lect. 11, chama faculdades de conação, excitativas,
procu-rantes, e que possuem, como característica comum, “uma tendência para a
realização do seu fim”), as disposições, os afetos, os desejos, que determinam o
homem no exercício da sua livre faculdade da volição. Devemos lembrar-nos,
porém, de que estes dois sentidos da palavra “vontade” são essencialmente
distintos. E necessário que se distinga essencialmente entre a vontade, como
incluindo todas as faculdades de conação (as disposições e os desejos), e a
faculdade singela da alma, cuja operação tem como resultado uma volição, isto
é, uma escolha ou um ato que está de acordo com o seu
desejo prevalecente. r >-}l w.-i- r : '

O termo “vontade” é utilizado no sentido extenso neste capítulo. O homem é


perfeitamente livre nas suas determinações,1 isto é, exerce sempre a sua volição
em conformidade com a disposição ou com o desejo da vontade que

prevalece no momento da volição. Esta é a maior de todas as liberdades, e a


única que condiz com a racionalidade e com a responsabilidade moral.

5. Como se define o termo volição?


Pela expressão “faculdade da volição” entendemos a faculdade executiva da
alma, a faculdade de escolher ou de autodecidir-se; e pelo termo “volição”
entendemos o exercício dessa faculdade em qualquer ato de escolha ou de
autodecisão.

6. Que é a consciência?

A consciência, como faculdade, compreende (a) um sentido ou uma intuição


moral, um poder de discernir entre o bem e o mal, poder que, em combinação
com o entendimento, ou seja, com a faculdade de comparar e julgar, faz o
juízo quanto a serem bons ou maus os nossos atos livres e as nossas disposições
morais, e também as disposições morais e os atos voluntários de outros agentes
livres, (b) Esta faculdade julga segundo uma lei divina do bem e do mal, e essa
lei se acha dentro de si (é uma lei para si mesma, a lei original escrita
no coração, Rom. 2:14,15), e (c) está acompanhada de emoções vivas,
agradáveis à vista do que é bom, e penosas à vista do que é mau, especialmente
quando a nossa consciência está ocupada em rever os estados ou as ações de
nossa própria alma. Esta faculdade é soberana em sua esfera, e não pode ter nada
nem ninguém superior que não seja a Palavra revelada de Deus. Veja
McCosh,Divine Government, Livro 3, Cap. 1, sec. 4.

7. Quais as verdadeiras provas pelas quais se pode determinar a qualidade


moral de qualquer ato ou estado mental?

As únicas verdadeiras provas da qualidade moral de qualquer ato ou estado são:


Ia. A Palavra inspirada de Deus, e 2a. Os juízos espontâneos, práticos e
universais dos homens.

Os juízos morais dos homens, assim como todos os nossos juízos intuitivos, são
dignos de confiança somente quando

dizem respeito a juízos categóricos e individuais. As proposições abstratas e


generalizadas que se pode derivar por abstração e por generalização desses
juízos individuais, podem ser verdadeiras ou não, mas em caso algum podem ser
aceitas como base segura para a construção de um sistema de provas sobre elas.
Muitas vezes têm sido feitas absurdas tentativas de demonstrar o caráter moral
ou amoral de algum princípio, por meio de formulários gerais representando
verdades parciais expostas imperfeitamente, e por meio de outras
considerações a priori, ou falsas, absurdas, ou irrelevantes. ■ -
8. Em que classes se dividem os afetos espontâneos da alma, e quais as
características distintivas de cada classe?

Os desejos e afetos espontâneos da alma são de duas classes distintas: Ia. Os


desejos e afetos animalescos, ou os que nascem cegamente, sem inteligência,
e.g., os apetites e os afetos instintivos. Esses não têm em si mesmos nenhuma
qualidade moral intrínseca, e só se tornam causas de ação moral
quando refreados ou satisfeitos desordenadamente. 2a. Os afetos e desejos
racionais, despertados por objetos apreendidos pelo intelecto.

9. Quais os afetos racionais e espontâneos que possuem qualidade moral, e a


que essa qualidade é inerente?

Os afetos racionais e espontâneos são intrínseca e essencialmente ou bons, ou


maus, ou moralmente indiferentes, e sua qualidade moral depende daquela dos
objetos pelos quais são atraídos. São bons ou maus ou moralmente
indiferentes conforme sejam bons ou maus ou indiferentes os seus objetos. Sua
qualidade moral, seja qual for, lhes é intrínseca. Quando são bons, todos os
homens os consideram dignos de aprovação, e quando são maus, todos os
homens os consideram dignos de condenação e de justa indignação, por causa da
sua natureza essencial de bons ou maus, e sem levar em conta, de modo algum, a
sua origem. Quando são bons, esses afetos espontâneos

determinam as volições para o bem, e quando são maus, determinam-nas para o


mal.

10. A que é que aplicamos a designação de “princípios ou disposições


permanentes” da alma? Quando é que eles possuem caráter moral, e donde
provém esse caráter?

Existem na alma, subjacentes a seus estados e afetos passageiros, certos hábitos


ou disposições permanentes, que envolvem uma tendência ou uma facilidade
para certas espécies de operações. Alguns desses hábitos ou disposições são
inatos, outros são adquiridos. Constituem o caráter do homem e são a base, o
fundamento, para todas as suas sucessivas operações dos sentimentos, afetos,
desejos, volição e ação. Até onde são bons, o homem é bom e boas são as suas
ações; e até onde são indiferentes moralmente, isto é, dizem respeito a objetos
moralmente indiferentes, as ações que deles nascem também são indiferentes
moralmente. O caráter moral dessas tendências morais inerentes à alma é
intrínseco e essencial. São as tendências finais da própria alma, e sua bondade
ou maldade é um fato final da consciência.

11. Como se demonstra que os atos do intelecto podem ter caráter moral?

Em suas operações, o intelecto está de tal modo envolvido com os afetos e


emoções morais que os seus juízos e opiniões a respeito de todas as questões
morais também têm caráter moral. O homem é responsável por seus juízos
morais, e também por suas crenças e sentimentos morais, por serem todos
determinados imediatamente pelo estado geral ou pelo caráter moral da alma.
Quem está cego para a excelência moral ou para a fealdade do pecado é
condenado por todas as consciências esclarecidas. As Escrituras pronunciam
“ai” sobre aqueles “que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem da
escuridade luz, e da luz escuridade” - Is. 5:20; e chamam ao pecado “cegueira” e
“estultícia” - 1 João 2:11;

Ef. 4:18; Apoc. 3:17; Mat. 23:17; Luc. 24:25.

12. Quais as condições essenciais da responsabilidade moral?

Para que o homem seja responsável moralmente é

necessário que ele seja um agente livre, moral e racional (veja a resposta à
pergunta antecedente). Veja: Io. E necessário que esteja de posse real da sua
razão, para distinguir a verdade da mentira. 2o. Que tenha em operação um senso
moral para distinguir o bem do mal. 3o. Que sua vontade, em suas volições ou
atos executivos, tenha capacidade real de autodecisão, isto é, seja determinada
por seus próprios afetos e desejos espontâneos. Faltando qualquer destes
requisitos, o homem está louco e não é nem livre nem responsável.

13. Será que se pode dizer que a consciência é indestrutível e infalível?

E possível tornar latente e perverter virtualmente, isto é, quanto a seus efeitos e


fenômenos, e temporariamente, a consciência, que é o órgão da lei de Deus na
alma. Por conseguinte, neste sentido fenomênico, ela não é nem
indestrutível nem infalível. No entanto, se o sentido moral for
considerado simplesmente em si mesmo, é infalível; e se pudéssemos ler
a história inteira do homem mais perverso que já existiu, veríamos que a
consciência é verdadeiramente indestrutível. OBSERVE:
Io. Quanto à sua indestrutibilidade. Nas crianças a consciência, como todas as
demais faculdades da alma, não está desenvolvida, e nos selvagens o está muito
imperfeitamente; também, depois de contrair o hábito de não prestar atenção à
voz da sua consciência e de violar a sua lei, o pecador individual em muitos
casos fica entregue judicialmente à indiferença moral; sua consciência se torna
latente temporariamente. Ao mesmo tempo, é certo que ela nunca é destruída,
porque - (1) Muitas vezes desperta com uma energia terrível no coração dos
réprobos mais endurecidos, nas

agonias do remorso. (2) Porque esse remorso ou consciência acusadora constitui


o tormento essencial das almas dos perdidos. Este é o bicho que rói e nunca
morre. Se não fora assim, o seu castigo perderia o seu caráter moral.

2o. Quanto à sua infalibilidade. No ato pelo qual a consciência julga estados ou
atos morais acha-se envolvida a ação conjunta do entendimento e do sentido
moral. O entendimento é sempre falível, especialmente quando afetos e desejos
depravados influem em sua ação. Assim, de fato, a consciência está
constantemente dando decisões errôneas, devido a um mau juízo dos fatos e
relações do caso, e esse juízo errôneo pode ser causado por uma propensão
egoística, sensual ou maligna. Daí existirem consciências enganadoras,
como também consciências latentes. Apesar disso, porém, o sentimento de que
há uma distinção entre o bem e o mal é uma lei eterna para o próprio ser moral, é
indestrutível mesmo nos corações mais depravados, e assim como não pode
ser destruído tampouco pode ser mudado. Quando despertado para agir, e não
sendo enganado quanto ao verdadeiro estado do caso em foco, sua linguagem é
sempre a mesma. Veja McCosh, Divine Government, Livro 3, Cap.2, Sec. 6, e
Dr. A. Alexander, Moral Science, Caps. 4 e 5.

14. Qual a natureza essencial da virtude?

“A virtude é uma qualidade peculiar a” certos estados da vontade, isto é,


disposições permanentes ou afetos temporários da vontade, e a “certas ações
voluntárias de um agente moral, qualidade que é percebida pela faculdade moral
de que todo homem é dotado, e a percepção da qual é acompanhada de uma
emoção que é diversa de todas as demais emoções, e é chamada moral” - Dr. A.
Alexander, Moral Science, Cap.26.

A essência da virtude é que obriga a vontade. Se uma coisa é moralmente boa,


deve ser feita. A essência do mal moral é que intrinsecamente merece
desaprovação, e o agente merece castigo.

Este ponto é de grande importância, porque é aqui que muita filosofia falsa
perverte muitas vezes a verdade, e porque esta é a única teoria, quanto ao bem
moral, que está em conformidade com a doutrina bíblica de recompensas
e castigos, e sobretudo com a da propiciação realizada por Cristo.

A idéia de virtude é que se trata de uma intuição simples e final; a tentativa de


analisá-la a destruiria. O que é bom é bom porque é bom. E sua própria razão
suprema. Tem sua norma na natureza imutável de Deus.

15. Que é que constitui um caráter virtuoso ou vicioso? -

A virtude, como definida na última resposta acima, perrence somenre à vonrade


do homem (incluindo nela rodas as faculdades conativas), e Io. A sua disposição
permanente. 2o. A seus afetos. 3o. A suas volições. Alguns desses estados e atos
da vontade não são morais, isto é, não são nem aprovados nem condenados
como virtuosos ou viciosos pela consciência. Mas virtude ou vício pertence só
aos estados morais da alma e a atos voluntários. Caráter virtuoso é, portanto,
aquele em que as disposições permanentes, os afetos e desejos temporários e as
volições da alma estão em harmonia com a lei divina.

Vicioso, porém, é o caráter em que esses estados e atos da vontade não estão em
harmonia com a lei divina.

Os atos de volição serão virtuosos ou viciosos segundo forem os afetos ou


desejos que os determinarem. Os afetos e desejos são como as disposições
permanentes, ou como o caráter. Este último é natureza da própria vontade, e é
um fato final e indissolúvel. Quer esse caráter seja inato, quer seja adquirido
pelo costume, o fato de a sua qualidade moral ser virtuosa ou viciosa permanece
o mesmo, e a responsabilidade moral que pesa sobre o agente por seu caráter não
muda.

Devemos estar lembrados de que o fato de que alguém tem uma consciência que
aprova o bem e condena o mal, e de que ele experimenta emoções mais ou
menos vivas e penosas ou agradáveis quando condena ou aprova, não torna o
caráter

virtuoso; porque neste caso os próprios demônios e as almas perdidas seriam


muito virtuosos. Mas o homem virtuoso é aquele cujo coração e cujos atos, na
linguagem das Escrituras, ou cujas disposições, afetos e volições, na linguagem
dos filósofos, estão em harmonia com a lei de Deus.

16. Quais as duas formas da teoria utilitária da virtude?

Aprimeira, e inferior, é a que sustenta que a virtude consiste

do desejo inteligente de felicidade. Diz o Dr. N. W. Taylor: “Nada é bom senão a


felicidade e os meios de adquiri-la, e nada é mau senão a miséria e seus meios”. .

A segunda e superior forma da teoria utilitária da virtude é a que a faz consistir


de benevolência desinteressada, e que afirma que todo pecado é uma forma de
egoísmo. Já se mostrou, nos capítulos 8 e 12, como se verá também no capítulo
18, que esta teoria é defeituosa e, por isso, falsa.

17. Em que sentido afirmamos que o homem é agente livre?

Respondemos explicando:

Io. Que, sendo espírito, origina ação. A matéria age só na medida em que se atua
sobre ela. O homem age por sua própria força ativa.

2o. Que, embora seja possível obrigar um homem, pelo medo, a determinar-se a
fazer e também a fazer efetivamente muitas coisas que não se determinaria a
fazer nem faria de fato se não fosse o medo, contudo, nunca poderá ser forçado
a determinar-se no sentido em que ele mesmo não queira determinar-se, à vista
de todas as circunstâncias do caso Qte never can be made to will what he does
not himself desire to will -literalmente: ele nunca poderá ser levado a querer o
que ele próprio não deseja querer).

3o. Que ele é dotado de uma razão para distinguir entre o verdadeiro e o falso; e
de uma consciência, órgão de uma lei moral inata, para distinguir entre o bem e o
mal, para que os seus desejos não somente sejam racionais, mas também retos.

H, contudo, os seus desejos não são necessariamente nem racionais nem retos,
porém se formam sob a luz da razão e da consciência, ou de conformidade com
elas ou contrários a elas, segundo as disposições permanentes e habituais do
homem, isto é, segundo o seu caráter.
18. Como se pode mostrar que este atributo da natureza humana é
inalienável?

E conceito geral que um homem está livre na sua determinação quando se


determina de conformidade com as disposições e desejos que nele prevalecem
num dado momento. Pode ser que o juízo do homem esteja enganado, que as
suas ações sejam constrangidas, mas a sua vontade énecessariamente livre
porque, se é realmente sua vontade, é como ele deseja que seja, no estado atual
do seu espírito, e tomadas em consideração todas as circunstâncias do caso.

Segue-se que as volições são livres por sua própria essência, quer o agente
determinando ou o ato determinado seja de bom senso quer não o seja, quer seja
bom quer mau.

19. Acaso não ensinam as Escrituras que o homem está escravizado à


corrupção, e que perdeu a sua liberdade?

Como acima demonstramos, o homem é sempre livre em suas volições


responsáveis, tanto quando escolhe o que é contra a lei de Deus e da consciência,
como quando escolhe de conformidade com essa lei. Contudo, no caso das
criaturas não caídas e dos homens santificados perfeitamente, o
estado permanente da vontade, os afetos e os desejos voluntários (o coração, na
linguagem bíblica) estão em harmonia com a luz da razão e com a lei interior da
consciência, e também com a lei exterior de Deus que temos na revelação
objetiva. Não há conflito de princípios dentro da alma, e a lei de Deus, em
vez de constranger a vontade por meio de seus mandamentos e ameaças, recebe
obediência espontânea. Esta é “a liberdade dos filhos de Deus”; e a lei torna-se a
“lei real” (Tia. 2:8) da

liberdade quando a lei que está no coração do súdito corresponde perfeitamente à


lei do Governador moral.

No caso dos anjos e dos homens decaídos, porém, as disposições dominantes da


vontade opõem-se à razão, à consciência e à lei de Deus; e em geral se diz que o
agente, apesar de ser livre, porque se determina como lhe apraz, está sob a
escravidão de uma natureza má, e que “é escravo do pecado” porque é impelido
por suas disposições corrompidas a escolher aquilo que vê e sente que é
prejudicial, e porque as ameaças da lei de Deus tendem a constranger a vontade
pelo medo.
As Escrituras não ensinam que o homem irregenerado não é livre em seu pecado,
porque, neste caso, ele não seria responsável. Mas o contraste entre a liberdade
dos regenerados e a escravidão dos irregenerados deve-se ao fato de que
nos regenerados os desejos e tendências habitualmente dominantes não estão em
conflito com os ditames da consciência e da lei de Deus. Os não regenerados,
considerados psicologicamente, são livres quando pecam, porque se determinam
do modo que, tudo considerado, lhes apraz; porém, considerados teologicamente
em sua relação para com a lei de Deus, aprovada pela razão e pela consciência,
pode-se dizer que estão sob a escravidão dos maus desejos e disposições de seu
próprio coração, que eles vêem que é mau e insensato, mas que, apesar disso, são
incapazes de mudar.

20. Qual a distinção entre liberdade e capacidade?

A liberdade consiste em poder um agente determinar-se como lhe apraz, por ser
a volição determinada somente pelo caráter do agente determinante. A
capacidade consiste em poder um agente mudar seu próprio estado subjetivo,
fazer-se preferir aquilo que não prefere, e agir num dado caso em oposição aos
desejos e preferências coexistentes do coração e do próprio agente.

Assim, pois, o homem é tão verdadeiramente livre depois

da Queda como o era antes dela, porque se determina como apraz ao seu mau
coração. Entretanto perdeu toda a capacidade de obedecer à lei de Deus, porque
o seu mau coração não está sujeito a essa lei, nem pode o homem mudá-lo.

21. Como definem liberdade Turretino e o presidente Edwards?

Turretino, L. 10, Qutes. 1- “Achando-se na alma só três coisas junto com sua
essência, a saber, faculdades, hábitos e atos, a vontade (arbitrium) é comumente
considerada como um ato da mente; mas aqui não significa propriamente nem
um ato nem um hábito que se possa separar do homem individual e que o
determina também no sentido de uma de pelo menos duas coisas contrárias;
porém significa uma faculdade, todavia não uma faculdade vegetativa ou sensual
e comum a nós e aos irracionais, na qual não haveria lugar nem para a virtude
nem para o vício, e sim uma faculdade racional, cuja posse certamente não nos
torna nem bons nem maus, mas por meio de cujos estados e ações somos
capazes de nos tornar ou bons ou maus.”

Quaes. 3 - “Não consistindo, pois, na indiferença a natureza essencial da


liberdade, não se pode achar em outro princípio que não seja no desejo ou
prontidão racional (lubentia rationali) em virtude da qual o homem faz aquilo
que prefere ou se determina a fazer conforme um juízo prévio da razão
(facit quod lubetpmvio rationis judicio). Segue-se que dois elementos juntos são
necessários para constituir esta liberdade. (1) Io proaireticon (o propósito), de
modo que aquilo que se faz não é determinado por um certo impulso cego e
brutal, e sim ek proaireseos, e conforme a razão previamente iluminada e
um juízo prático do intelecto. (2) Io ekousion (o espontâneo), de modo que
aquilo que se faz é determinado espontânea e livremente, e sem
constrangimento.”

O presidente Edwards, On the Will, Sec. 5, define a liberdade como “o poder,


oportunidade ou vantagem que qualquer pessoa tem para agir como lhe apraz”.

22. Quais os dois sentidos em que se emprega a palavra motivo, como


influindo sobre a vontade? E qual o sentido em que é verdade que a vontade está
sempre em conformidade com o motivo mais forte?

Io. Um motivo para agir pode ser alguma coisa que se acha fora da alma, como
sejam o valor do dinheiro, os desejos de um amigo, a sensatez ou a insensatez, a
bondade ou a malvadez de um ato considerado em si mesmo, ou os apetites ou
impulsos do corpo. Neste sentido é evidente que os homens nem sempre agem
segundo o mesmo ou o melhor motivo. Aquilo que atrai uma pessoa pode repelir
outra, ou a pessoa pode repelir a força atrativa de um motivo externo pela
força superior de alguma consideração tirada de dentro da própria alma. Assim,
pois, é verdadeiro o dito: “É o homem que faz o motivo, não o motivo que faz o
homem”.

2o. Um motivo para agir pode ser o estado de ânimo do

próprio homem, isto é, o desejo ou a aversão à vista do objeto


. / ■

exterior; ou seja, motivo no primeiro sentido. E evidente que este motivo interno
influi necessariamente na volição, e igualmente evidente é o fato de que isso de
modo algum torna o homem menos livre em sua autodeterminação, porque
o motivo interno é nada mais que o homem mesmo desejando ou recusando,
segundo a sua própria disposição ou o seu caráter.
23. Não seria possível que haja ao mesmo tempo na mente diversos desejos ou
motivos internos contrários? E, quando é este o caso, como fica determinada a
vontade?

Muitas vezes sucede que há na mente ao mesmo tempo desejos ou afetos


impelindo em sentidos contrários, e nestes casos o desejo mais forte, ou o grupo
mais forte de desejos que puxem num mesmo sentido, determina a volição.
Aquele que é o mais forte fica manifesto somente pelo resultado, e não pela
intensidade do sentimento que desperta ou move. Alguns desses motivos
internos, como, e. g., a sede de vingança, são muito vivos, e outros, como, e. g.,
o sentimento do dever, são

muito calmos, e, contudo, o motivo calmo muitas vezes manifesta-se como o


mais forte e atrai a vontade para o seu lado. Mas isso depende do caráter do
agente. É este conflito interno de princípios opostos que constituem a luta da
vida cristã. E é esta mesma experiência que ocasiona grande parte dessa
confusão de consciência que se encontra entre os homens a respeito do problema
da vontade e das condições da agência livre (ou do sujeito da ação). Muitas
vezes os homens agem em oposição a certos motivos que têm, porém nunca sem
motivos; e o motivo que afinal determina a vontade num dado caso pode bem ser
o motivo menos claramente apreendido pelo intelecto e o que se manifesta
menos vivamente nos sentimentos. Este é o caso especialmente das surpresas
súbitas e das coisas de pouca importância; pois nestes a volição é determinada
constantemente e quase automaticamente por impulsos vagos ou pela força do
costume. Não obstante, se em qualquer caso refletirmos bem em tudo o que se
passou em nossa mente na ocasião em que decidimos fazer alguma coisa,
descobriremos que determinamos fazer aquilo à luz de todas as circunstâncias
que o nosso entendimento nos apresentou a respeito do caso.

24. Se o estado mental imediatamente anterior ao ato da vontade determina com


certeza esse ato, como pode ser livre esse ato, se foi determinado assim com
certeza?

Esta objeção baseia-se unicamente na confusão das duas idéias inteiramente


distintas da liberdade da vontade, como uma faculdade abstrata, e da liberdade
do homem que exerce a vontade. O homem nunca é determinado a querer ou
a determinar-se por alguma coisa que esteja fora de si mesmo. E ele mesmo
quem dá livremente e segundo o seu próprio caráter, às circunstâncias externas
que sobre ele influem, todo o peso que possuem. Mas, por outro lado, o mero ato
de volição, considerado em abstrato, é determinado pelo estado mental, moral e
emocional do homem no momento em que se decide. Sua liberdade racional,
com efeito, não consiste em alguma

incerteza quanto ao seu ato, e sim no fato de que a sua alma inteira, como agente
indivisível, inteligente, sensitivo e moral, determina seus próprios atos como lhe
apraz.

25. Como se prova que a certeza de uma volição de modo algum é


incompatível com a liberdade do agente desse ato?

Io. Deus, Cristo e os santos na glória são todos eminentemente livres nas suas
santas volições e ações e, contudo, nada pode haver de mais certo do que o fato
de que eles, durante toda a eternidade, determinar-se-ão segundo a retidão.

2o. O homem é agente livre, contudo é certo que, desde o nascimento de uma
criança, se continuar a viver, pecará.

3o. Deus, desde a eternidade, previu como certas todas as ações livres, e as
preordenou, ou tornou-as certas. Nas profecias predisse muitas delas como
certas. E na regeneração Seu povo torna-se “feitura sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras, as quais Deus preparou (proetoimasen, preparou com
antecedência, preordenou) para que andássemos nelas”.

4o. Mesmo nós, se tivermos perfeito conhecimento do caráter de um amigo, e de


todas as circunstâncias sob as quais ele age, poderemos muitas vezes ter plena
certeza do modo como ele agirá, mesmo em nossa ausência. Esta é a base
de toda a fé humana, e, por isso, a de toda a sociedade humana.

26. Em que consiste a teoria da liberdade moral chamada “Liberdade da


Indiferença”, “Poder Autodeterminante da Vontade”, “Poder de Escolher o
Contrário”, “Liberdade de Contingência”, etc., sustentada pelos arminianos e
outros?

Esta teoria afirma que na idéia de agência livre acha-se envolvido


essencialmente o seguinte - Io. Que a vontade do homem em qualquer volição
pode decidir-se não só em oposição a todos os induzimentos externos, mas
também em oposição a todos os juízos e desejos internos, e ao inteiro
estado inferior e coexistente do próprio homem. 2o. Que em todas as suas
volições livres o homem está cônscio de que poderia ter

se decidido em sentido diametralmente oposto, sem que houvesse alteração


alguma nem nas suas circunstâncias exteriores nem no seu estado interior. 3o.
Que todas as volições livres são contingentes, isto é, incertas, antes do evento,
porque não são determinadas por coisa alguma que não seja só e unicamente a
faculdade de volição da parte do agente -Hamilton’s “Reid”, págs. 599-624.

A verdadeira teoria da certeza moral, porém, é que a alma é uma unidade; que a
vontade não se determina a si mesma, mas é o homem que, quando determina,
determina-se a si mesmo; e que sua volição é determinada com certeza
pelo estado interno, racional, moral e emocional, tomado como um todo, em que
o homem está no momento em que se determina.

Em oposição à primeira destas duas teorias e a favor da segunda, afirmamos -

Io. Que o caráter do agente determina com certeza o caráter de suas ações livres,
e que a certeza de um ato não é incompatível com a liberdade do agente que o
pratica. Veja acima, Perg. 12.

2o. Que as doutrinas cristãs da presciência (ou do pré--conhecimento), da


preordenação, da providência e da regeneração divinas provam, todas elas, que
as volições dos homens nem são incertas nem indeterminadas. Quanto às
provas bíblicas destas doutrinas, veja os respectivos capítulos.

3o. Concordamos com os defensores da primeira teoria em sustentar que em


qualquer ato livre que praticamos estamos cônscios de o podermos praticar ou
deixar de praticar segundo a nossa vontade. “Mas, ao mesmo tempo,
sustentamos que não estamos menos cônscios de que essa convicção íntima
de possuirmos o poder para não praticar o ato é condicional. Isto é, estamos
cônscios de que o ato poderia ter sido diferente se outras e diversas opiniões,
idéias ou sentimentos tivessem sido presentes em nossa mente, ou se lhes
tivéssemos dado seu peso devido. Mas o homem não pode preferir contra a sua
preferência, ou escolher contra a sua escolha. Pode ter uma

preferência numa ocasião e outra em ocasião diversa; e pode , ter em ação ao


mesmo tempo diversos sentimentos e princípios opostos e em conflito mútuo,
porém não pode ter ao mesmo tempo preferências opostas e em conflito mútuo.”
4o. A teoria do “poder autodeterminante da vontade” considera a faculdade da
vontade ou da volição como isolada das outras faculdades da alma, como um
agente independente dentro de outro agente. Mas a alma é uma unidade. Tanto
a consciência como as Escrituras ensinam que o homem é um J agente livre e
responsável. Desligando- se a faculdade de volição j das disposições e desejos
morais, as volições não teriam mais j caráter moral; e desligando-se essa
faculdade da razão, as j volições não teriam mais caráter racional. Se não forem
■ determinadas pelo estado interno do próprio homem, serão fortuitas e estarão
fora do seu domínio. O homem não poderá ser livre, se a sua vontade estiver
independente tanto da sua inteligência e da sua razão como do estado do seu
coração, e não deverá ser tido como responsável.

27. Por que o homem é responsável por suas ações externas, por suas volições e
por seus afetos e desejos? Como se prova que ele é responsável por seus afetos?

O homem é responsável por suas ações externas por serem determinadas por sua
vontade; é responsável por suas volições por serem determinadas pelos
princípios, sentimentos e desejos do próprio homem; e é responsável por seus
princípios, sentimentos e desejos por causa da sua natureza de bons ou maus,
e porque são dele e constituem o seu caráter.

As Escrituras ensinam e é o juízo universal dos homens que “o homem bom tira”
ou produz “ boas coisas do seu bom tesouro” e que “o homem mau do mau
tesouro tira coisas más”. Um ato deriva o seu caráter moral do estado do coração
do qual provém, e o homem é responsável pelo estado do seu coração, seja esse
estado inato, ou formado pela graça regene-radora, ou adquirido.

Io. Por causa da natureza obrigatória daquilo que é moralmente bom e por causa
do desmerecimento do pecado.

2o. Porque os afetos e desejos do coração do homem são ele mesmo amando ou
recusando aquilo que é bom. É opinião de todos que um homem profano ou
malévolo merece desaprovação, seja qual for a causa que o leva a ser assim.

28. Como o Dr. D. D. Whedon expõe e contrasta a posição das filosofias


arminiana e calvinista?

Diz ele: “A esta máxima segundo a qual somos responsáveis por nossas más
volições, disposições ou natureza, seja qual for o modo pelo qual as obtivemos,
contanto que as possuamos realmente, nós (os merodistas) opomos esta
outra máxima segundo a qual,para que um agente seja responsável por qualquer
ato ou estado, é necessário que tenha poder de praticar o ato contrário ou de
produzir o estado contrário. Noutras palavras, o poder é a base da
responsabilidade”. A única limitação que ele admite é o caso de uma
incapacidade produzida voluntariamente pelo próprio agente. Esta, acrescenta
ele, é uma máxima fundamental segundo a qual se deve decidir todos os
pontos em discussão entre o arminianismo e o calvinismo.

29. Como se pode mostrar que essa teoria arminiana leva a conseqüências
incompatíveis com o evangelho, e que a teoria calvinista é verdadeira?

O Dr. Whedon admite que Adão, depois da sua queda, perdeu toda a capacidade
de obedecer à lei de Deus, e que era responsável por essa incapacidade e por
todas as suas conseqüências, porque, tendo sido criado com plena
capacidade, perdeu-a por seu próprio ato livre. Admite também que cada filho de
Adão nasce com uma natureza corrompida e destituída de capacidade de
obedecer à lei de Deus. Nega, porém, que uma criança seja responsável ou
punível por essa incapacidade ou por qualquer ação pecaminosa que dela resulte,
porque veio sobre ela, sem culpa da sua parte, pelo pecado de Adão. A

título de justa compensação, porém, pelo grande infortúnio de serem pecadores


inocentes, o Dr. Whedon afirma que Deus em Cristo dá a todos os homens graça
suficiente e, por conseguinte, capacidade, advinda dessa graça, de obedecer à lei
evangélica. Se um homem fizer uso da capacidade advinda dessa graça, será
salvo e sua fé e obediência evangélica lhe serão imputadas como justiça perfeita;
se, porém, não fizer uso dessa \ capacidade advinda da graça, será condenado
como responsável por esse abuso (ou mau uso) da capacidade, e, por isso,
como responsável também por todos os seus sentimentos e ações pecaminosas, e
pela incapacidade subseqüente em que redunda esse abuso.

Respondemos que dessa teoria arminiana segue-se:

Io. Que a salvação alcançada para nós por Cristo não foi obra da graça livre, e
sim uma compensação tardia e incompleta concedida aos homens pelos males
imerecidos que em conseqüência do pecado de Adão vieram sobre eles
ao nascerem.

2o. A “graça” concedida a todos é tão necessária para tornar os pecadores


puníveis como o é para salvá-los. Assim, pois, segundo este princípio, a graça,
tornando os homens responsáveis, porque opera neles a sua capacidade, envia
para o inferno maior número de almas do que leva para o céu mediante a fé em
Cristo.

3o. Não sendo responsáveis pela culpa original, e por isso não puníveis, os que
morrem na infância vão para o céu em virtude do seu direito natural. ;

Sustentamos, pelo contrário, que todo homem, a não ser que seja um louco, é
responsável pelos seus afetos, desejos e disposições morais, seja qual for a sua
origem; e que este é um fato final da consciência, confirmado pelas Escrituras e
pelo juízo universal dos homens. Um ato deriva seu caráter moral do estado do
coração de onde origina, mas o estado do coração não adquire do ato o seu
caráter moral; pois a qualidade moral do estado do coração lhe é inerente, e
responsabilidade moral

é inseparável de qualidade moral.

Assim é -

Io. Em conseqüência da natureza essencial do bem e do mal. A essência do bem,


isto é, no sentido moralmente bom, é que deve ser - obriga a vontade. A essência
do mal - daquilo que é moralmente mau - é que não deve ser, que a vontade
é obrigada ao contrário e que o praticá-lo merece castigo.

2o. Porque os afetos e desejos morais de um homem nada mais são do que o
homem mesmo amando ou aborrecendo a bondade. E opinião de todos os
homens que um indivíduo profano ou malévolo merece reprovação, sejam quais
forem as causas que o levam a ser assim. E o caráter e não a origem
da disposição moral do coração que é a questão verdadeira. Cristo disse: “O
homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau do mau
tesouro do seu coração tira o mal” - Luc. 6:45.

Parece necessário ao tradutor advertir aqui ao leitor de que, na tradução do


inglês para o português de uma discussão como esta sobre a
vontade, encontra-se uma dificuldade peculiar, devida à falta, na língua
portuguesa, de um verbo que corresponda exatamente ao substantivo
“vontade”. No inglês, the will é a faculdade da alma que chamamos vontade;
“to will” é o verbo correspondente, do qual não temos sinônimo preciso em
português. Portanto, o tradutor vê-se obrigado a empregar o verbo
“determinar-se” (ou seu correspondente substantivo verbal,
“determinação”) como tradução de to will, embora longe esteja de ser
sinônimo do verbo inglês. Com esta explicação talvez se tornem menos
difíceis de entender certas partes deste capítulo. Nota do tradutor. .ít.:,; i
;;. ,■ j ■.
A Criação e o Estado Original do Homem

1. Como provar que a raça humana teve origem num ato direto , de criação da
parte de Deus? !

Ia. As Escrituras o afirmam explicitamente - Gên. 1:26;

2:7.

2a. Esse fato acha-se implícito no abismo imensurável que separa o homem no
seu ínfimo estado brutal da ordem mais . próxima da criação inferior, indicando
uma superioridade 1 maravilhosa quanto às qualidades em que o homem e os
ani- i mais irracionais são comparáveis, e uma diferença absoluta de espécie
quanto à natureza intelectual, moral e religiosa do homem e à sua capacidade
para um progresso irrestrito. Mesmo o Prof. Huxley, que sustenta
temerariamente uma posição extrema a respeito das relações anatômicas do
homem para '■ com os animais inferiores, admite que quando se toma
em consideração a natureza superior do homem, existe entre ele e os irracionais
mais próximos “um abismo enorme, uma divergência imensurável e
praticamente infinita” - Primeval Man, de autoria do Duque de Argyle. :

3a. Está implícito no fato revelado nas Escrituras e realizado ; na história que o
homem estava destinado a exercer domínio i universal sobre todas as outras
criaturas e sobre o sistema da natureza. Não podia, pois, ser um mero produto da
natureza, um de uma série de entes coordenados.

4a. Está implícito no fato de serem os homens chamados

“filhos de Deus” e de serem tratados como tais no sistema inteiro da providência


e da redenção. A natureza moral e religiosa do homem também dá testemunho
disso universalmente, e tanto mais quanto mais se acham esclarecidos
e desenvolvidos esses elementos da sua natureza. E essa verdade foi assinalada
proeminentemente pela união pessoal da nossa natureza com a Deidade.

E óbvio que, sendo transmitidos por descendência natural tanto as naturezas e os


hábitos intelectuais, morais, religiosos e sociais dos homens, como o é a sua
estrutura anatômica, não somente é uma arbitrariedade mas é também um
absurdo tomar em consideração apenas esta e deixar de considerar aqueles, numa
investigação científica da origem do homem, ou do seu lugar e das suas relações
na ordem da natureza.

2. Como expor o estado atual da questão da antigüidade da raça humana? .

Io. As Escrituras e todos os resultados seguros da ciência moderna ensinam


acordemente que o homem foi o último de todos os seres organizados que
apareceram na terra. Não foi introduzida nenhuma espécie nova depois da
introdução do homem.

2o. Os sistemas de cronologia bíblica geralmente aceitos foram deduzidos das


indicações prima fade que nos são conservados nos incompletos registros
históricos e genealógicos do período anterior a Abraão, contidos nos primeiros
capítulos de Gênesis. O sistema que indica o período mais curto, deduzido por
Usher do texto hebraico, põe a criação do homem numa ocasião próxima de
4.000 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, ou de 6.000 anos da época atual.
O sistema que indica o período mais longo, deduzido por Hales e outros do texto
da Septuaginta e de Josefo, põe a criação do homem numa ocasião próxima de
5.500 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, ou de 7.500 anos antes da época
atual.

A respeito desses sistemas de cronologia, o Prof. W. H.

Green, D. D., de Princeton, diz (.Pentateuch Vindicated, pág. 128) - “Não


devemos esquecer que há um elemento de incerteza numa computação de tempo
baseada em genealogias, como é o caso em tão alto grau da cronologia sagrada.
Quem nos poderá certificar de que as genealogias antediluvianas e das
gerações anteriores a Abraão não foram condensadas do mesmo modo que o
foram as de gerações posteriores a Abraão? Se Mateus omitiu alguns nomes dos
avoengos do nosso Senhor Jesus Cristo para tornar iguais os três grandes
períodos que menciona, não podia Moisés fazer o mesmo, a fim de apresentar
sete gerações de Adão até Enoque e dez de Adão até Noé? Nossa
cronologia comum é baseada na impressãopnma fade dessas genealogias. A ela
aderiremos enquanto não tivermos bons motivos para abandoná-la. Mas, se as
indicações recentemente descobertas, da antigüidade do homem, a cujo respeito
os círculos científicos se acham tão entusiasmados, demonstrarem, depois de
bem investigadas e ponderadas, tudo o que se tenha imaginado que demonstram,
qual seria o resultado? Demonstrariam simplesmente que a cronologia popular se
baseia numa interpretação errada, e que um registro parcial das
gerações anteriores a Abraão foi por engano considerado registro completo”.

3o. As pesquisas modernas têm trazido à luz uma soma imensa e sempre
crescente de provas de que a raça humana existia na terra muitos séculos antes
da data fixada para a criação do homem mesmo na cronologia deduzida do texto
da Septuaginta. As classes principais em que se pode dividir essas provas são as
seguintes:

(1) Nos monumentos egípcios têm-se descoberto pinturas etnológicas,


mostrando que todas as peculiaridades divergentes dos tipos caucasiano e
africano já se achavam desenvolvidas completamente como eles estão agora, e
isso mais de 1.900 anos antes de Cristo. Durante todo o tempo histórico
nenhuma mudança de clima ou de costumes tem produzido mudança apreciável
em qualquer variedade da

raça humana e, por isso, devemos concluir que muitos séculos e também grandes
mudanças foram necessários para produzir tão grandes variações permanentes
nos descendentes de um só casal. O duque de Argyle diz muito bem:
“Exatamente na mesma proporção em que avaliamos a nossa fé na unidade
da raça humana, devemos estar prontos a aceitar quaisquer provas da sua
antigüidade. Quanto mais antiga se provar que a raça humana é, tanto mais
possível e provável será que ela descende de um só casal” - Primeval Man, pág.
128.

(2) A filologia, ciência que estuda em grande amplitude as línguas, prova que
em tempos muito remotos deviam ter vivido juntas e ter falado a mesma língua
as nações que agora falam línguas análogas, e que as nações e suas línguas
se dividiram no transcurso dos séculos em diversos ramos. Para se
desenvolverem, porém, tantos e tão diversos dialetos devem ter sido necessários
muitos e muitos séculos.

(3) A geologia, ciência que, entre outras coisas, estuda a origem, a formação e
as transformações sucessivas do globo terrestre, tem descoberto restos de corpos
humanos e de obras de arte humana em depósitos de aluvião e cascalho,
enterrados fundo, e em cavernas e covas, junto com os restos de animais de
espécies desde há muito extintas, o que prova suficiente' mente que, depois da
criação do homem, grupos inteiros de grandes quadrúpedes foram extintos; e
também que o clima da zona temperada do norte passou por uma
transformação revolucionária, e que a geografia física de todos os
países examinados a este respeito sofreu mudanças radicais depois de criado o
homem.

3. Como se pode provar a unidade da raça humana, e que descende de um só


casal?

Até o momento em que escrevemos, Agassiz é o único naturalista de primeira


ordem que ensina que todas as diversas espécies de variedades e seres
organizados devem ter tido origem independente e ter se propagado de países
diversos.

Ele afirma, por conseguinte, que a raça humana é um gênero, e que foi criado
originariamente em diversas variedades específicas. A mesma teoria é sustentada
com muita habilidade numa obra recente que tem atraído a atenção na
Inglaterra; tem por título - The Genesis ofthe Earth and of Man.

Que o homem, genericamente diverso de todas as demais criaturas, é de uma só


espécie, prova-se -

Io. Pelas Escrituras - Atos 17:26; Rom. 5:12; 1 Cor. 15:21,22.

2o. Pela propagação de Adão, pela imputação e pela descendência, da culpa e da


corrupção. O fato de ser Cristo o Cabeça representativo do Seu povo, e de Sua
obediência e Seus sofrimentos vicários, implica essencialmente a
unidade absoluta da raça humana e sua descendência de um só casal.

3o. A natureza moral e religiosa de todas as variedades da raça humana é


especificamente idêntica.

4o. O mesmo fato é indicado geralmente pela história e pela ciência chamada
filologia comparativa.

5o. No processo de domesticação de diversos ramos da mesma espécie de


animais irracionais, e. g., pombas e cães, têm se verificado, como resultado,
diferenças maiores do que as que existem entre as diversas variedades da raça
humana.

6o. E fato admitido universalmente pelos naturalistas que a união entre animais
de espécies diversas nem sempre é fértil, e que o produto de tal união raríssimas
vezes pôde propagar-se - talvez nunca! Entre os homens, porém, por maior
que seja a diferença nas variedades a que os pais pertencem, isso em nada influi
no número de seus filhos, e estes, por sua vez, podem propagar-se
indefinidamente.

4. Como se pode mostrar que, segundo as Escrituras, a natureza humana é


composta de duas, e só duas, substâncias distintas? *

Teoria chamada “dicotomia” ou “dicotômica”, em oposição à tricotomia: ou


teoria “tricotômica”. Nota de Odayr Olivetti.

As Escrituras ensinam que o homem é composto de dois elementos, chamados


respectivamente em hebraico, grego, latim e português, bãsãr, soma, corpus,
corpo; e ruach, psychê, pneuma, pnõe, dzõe, animus, mente, ânimo, alma,
espírito. Isso é claramente revelado:

Io. Na narrativa da criação - Gên. 2:7.0 corpo foi formado da terra e, então, Deus
insuflou no homem um sopro de vida, e assim ele se tornou alma vivente.

2o. No que se diz a respeito da morte, Ecl. 12:7, e do estado da alma


imediatamente depois da morte, enquanto os corpos estão se corrompendo na
terra - 2 Cor. 5:4-8; Fil. 1:23,24; Atos 7:59.

3o. Em toda a linguagem usual das Escrituras são postulados esses dois
elementos, e não são mencionados outros.

5. Como se pode expor a teoria daqueles que dizem que a nossa natureza
compreende três elementos distintos, e sua suposta base bíblica?

Pitágoras, e depois dele Platão, e subseqüentemente os filósofos gregos e


romanos, sustentavam que o homem consiste de três elementos constitutivos: o
espírito racional, nous, pneuma, mens; a alma animal, psychê, anima', e o corpo,
soma, corpus. Assim ficou sendo de uso vulgar essa divisão, e o apóstolo Paulo
adotou-a, empregando os três termos quando queria designar em linguagem
popular o homem completo e tudo o que lhe pertence como homem. “Todo o
vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” - 1 Tess. 5:23;
Heb. 4:12; 1 Cor. 15:44. Daí alguns teólogos tiram a conclusão de que a doutrina
segundo a qual a natureza humana é composta de três elementos distintos é
revelada na Palavra de Deus.

6. Como se pode refutar a teoria acima e mostrar que os termos psychê e


pneuma são empregadas no Novo Testamento como sinônimas?

O uso que os apóstolos fizeram desses três termos prova somente que
empregaram palavras no seu sentido comum e popular para exprimir idéias
divinas. A palavra pneuma designa a alma, acentuando sua qualidade racional. A
palavra psychê designa a mesma alma, acentuando sua qualidade como o
princípio vital e animador do corpo. As duas são empregadas juntas para
designar em linguagem popular o homem por inteiro. . 1

Não pode ser doutrina do Novo Testamento qut pneuma e psychê sejam duas
coisas distintas, porque são trocadas habitualmente uma pela outra, sendo muitas
vezes empregadas indistintamente. Assim, a palavra psychê, como
também pneuma, é empregada para designar a alma como sede das faculdades
intelectuais e superiores - Mat. 10:28; 16:26; 1 Ped. 1:22. E assim também a
palavra pneuma é empregada, como igualmente a palavra psychê, para designar
a alma como o princípio animador do corpo - Tia. 2:26. Pessoas falecidas
são chamadas indistintamente psychai, Atos 2:27,31; Apoc. 6:9; 20:4;
tpneumata, Luc. 24:37,39; Heb. 12:23.

7. Que ensinam os nossos livros normais e oficiais (isto é, os nossos símbolos de


fé) quanto ao estado em que 0 homem foi criado?

A Confissão de Fé, Cap. 4, § 2,0 Catecismo Maior, Perg. 17, e o Breve


Catecismo, Perg. 10, ensinam os seguintes pontos -Io. Deus criou 0 homem à Sua
imagem; 2o. Dotou-o de alma racional e imortal, por sua vez dotada de
conhecimento, justiça, retidão e verdadeira santidade, e deu-lhe domínio sobre
as demais criaturas; 3o. O homem foi criado com a lei de Deus inscrita em seu
coração e com o poder de cumpri-la, e, ao mesmo tempo, sob a possibilidade de
transgredi-la, sendo deixado à liberdade da sua própria vontade, que era sujeita
a mudança.

A imagem de Deus dizia respeito - Io. A espécie da sua natureza; 0 homem foi
criado semelhante a Deus um espírito livre, racional e pessoal. 2o. Foi criado
semelhante a Deus

quanto à perfeição da sua natureza - no conhecimento, Col. 3:10, na retidão,


justiça e verdadeira santidade, Ef. 4:24. 3o. Foi criado semelhante a Deus quanto
ao poder, expresso em seu domínio sobre a natureza, Gên. 2:28.

8. Como se pode expor, em termos psicológicos, o verdadeiro estado da questão?


i,. .

No capítulo anterior mostramos que a volição é determinada pelo caráter moral


dos desejos e afetos que a estimulem, e destes a volição deriva seu caráter moral;
mostramos igualmente que os afetos e desejos temporários que estimulam
e motivam as volições em qualquer caso dado, vêm eles mesmos dos hábitos e
disposições permanentes e da tendência da vontade, que constituem o caráter
moral do homem. Mostramos ainda que o caráter moral dessas disposições
permanentes da vontade, e a responsabilidade do homem por elas, são um fato
final que não se pode referir a outro princípio mais fundamental ou essencial, e
que esse fato é confirmado pelo juízo universal dos homens.

Do acima exposto segue-se que a justiça e a santidade originais com as quais


Adão foi criado consistiam na conformidade perfeita em que estavam todos os
seus afetos e todas as disposições morais da sua vontade (em linguagem bíblica,
seu coração) com a lei de Deus - cujo órgão era a sua consciência clara e fiel.

Em conseqüência, não havia cisma ou cisão na natureza do homem. A vontade,


operando livremente de conformidade com as luzes da razão e da consciência,
conservava em sujeição harmoniosa todos os princípios inferiores do corpo e da
alma. Em equilíbrio perfeito morava uma alma perfeita num corpo igualmente
perfeito.

Essa justiça original era natural no sentido (1) de que era a perfeição original da
natureza do homem como havia saído das mãos do Criador. Pertencia
originariamente a essa natureza, e (2) é sempre essencial à sua perfeição quanto
à qualidade. (3)

Teria sido propagada sempre se o homem não tivesse caído, do mesmo modo
como agora a depravação inata é propagada, por descendência natural. Por outro
lado, porém, não era natural no mesmo sentido em que a razão, a consciência e a
agência livre são elementos especiais criados para constituir alguém em homem
real. Como qualidade, é essencial à perfeição da natureza humana, mas como
elemento, não é essencial à realidade dessa natureza.
9. Como se prova que Adão foi criado santo no sentido explicado acima?

Pertence à essência da natureza do homem que ele seja agente moral


responsável. Consideremos, porém:

10. Como criatura moral, o homem foi criado à imagem de Deus - Gên. 1:27.

2o. Deus declarou que todas as Suas obras, o homem inclusive, eram muito boas
- Gên. 1:31. A bondade de uma obra humana consiste essencialmente em sua
adaptação ao fim proposto por quem a fez. A “bondade” de um agente moral não
pode consistir em outra coisa que não seja a conformidade da sua vontade à lei
moral. Indiferença moral em um agente moral já é da natureza do pecado.

3o. As Escrituras declaram que o homem foi criado santo - Ecl. 7:29.

4o. Na regeneração o homem é renovado à imagem de Deus; na criação o


homem foi feito à imagem de Deus; essa imagem, nos dois casos, deve ser a
mesma, e inclui santidade -Ef. 4:24.

5o. Em 1 Coríntios 15:45, Cristo é chamado “o último Adão”, e no versículo 47


“o segundo homem”. Cristo é reconhecido por amigos e inimigos como o único
homem perfeito encontrado na história inteira do mundo, o homem exemplar da
humanidade normal. E, no entanto, a Sua natureza humana foi formada pelo
Espírito Santo, antes de ação alguma da parte dEle, e absolutamente santa.
Quando ainda estava no ventre

Criação e Estado Original de Sua mãe foi chamado “o Santo” - Luc. 1:35.

10. Em que consiste a doutrina pelagiana com respeito ao estado original do


homem?

Os pelagianos afirmam - Io. Que o homem pode com razão ser tido como
responsável só por suas volições não influenciadas; e 2o. Que se segue que é um
absurdo dizer que o homem tem um caráter moral anterior a qualquer ação moral
da sua parte; porque só é moral aquela disposição que se formou como costume
por meio da prévia ação da sua livre vontade não influenciada por nada; quer
dizer, é necessário que o homem escolha o seu caráter, ou não pode ser tido
como responsável por ele. ■ - r
Eles sustentam, pois, que quando o homem foi criado, sua vontade não somente
era livre, mas, além disso, seu estado era de equilíbrio moral, estando igualmente
disposta para a virtude e para o vício.

11. Como se pode expor e contrastar a posição dos pelagianos, a do Dr. D. D.


Whedon (arminiano) e a dos calvinistas, quanto à justiça e ao pecado inatos?

Os pelagianos afirmam: Io. Que Adão foi criado agente moral, porém sem
caráter positivamente moral; que era primeiro indiferente tanto para o bem como
para o mal e que Deus o deixara livre para formar seu caráter segundo
escolhesse, e sem que fosse influenciado por nada. 2o. Que agora todos os
homens nascem, quanto a todas as particularidades essenciais, no mesmo estado
moral em que Adão foi criado. 3o. Que o homem é mortal por natureza, e que a
mortalidade da raça humana não é conseqüência do pecado.

O Dr. D. D. Whedon (arminiano), conquanto concorde com os pelagianos


naquilo que é mais importante quanto ao estado moral em que Adão foi
introduzido originariamente por sua criação, difere deles quanto à condição
moral em que os descendentes de Adão são introduzidos por seu nascimento.

Admite que uma inclinação “criada” pode ser boa ou má, e, por isso, amável ou
odiosa, entretanto nega que no primeiro destes casos o agente possa ser com
razão recompensado ou no segundo castigado, por sua disposição, o caráter da
qual ele não determinou para si por prévias volições não influenciadas. Se Adão
tivesse formado para si um caráter santo, seria bom e digno de prêmio; e, tendo
formado para si um caráter mau, tornou-se mau e mereceu castigo. Mas os seus
descendentes são gerados com natureza corrompida sem culpa sua, e por isso são
maus e corruptos, porém não merecem castigo por causa disso.

Em oposição a esses conceitos, os que têm posição doutrinária ortodoxa afirmam


- Io. Que há disposições e inclinações permanentes que determinam as volições.
2o. Muitas dessas inclinações são boas, muitas são más, e outras muitas são
moralmente indiferentes na sua natureza essencial. 3o. Essas disposições morais
podem ser inatas bem como adquiridas, mas em qualquer dos casos o agente é
tão responsável por elas como o é por outro qualquer estado ou ato da sua
vontade. 4o. Adão foi criado com disposições santas, que o incitavam a ações
santas. Não se tornou santo, porém foi feito assim por Deus.

12. Por que é que julgamos os homens responsáveis moralmente por disposições
inatas e concriadas?

Io. As crianças nascem com disposições e tendências morais muito diversas. Não
obstante, é juízo espontâneo e universal dos homens que os que são por natureza
malévolos, cruéis e falsos não somente merecem que sejam detestados por todos,
mas também que devem ser tidos como moralmente responsáveis por suas
disposições e ações.

2o. As Escrituras ensinam, como mostraremos no Capítulo 19, sobre o “Pecado


Original”, que todos os homens nascem com uma tendência inerente para pecar,
tendência que, inerente à sua natureza, é em si mesma pecado e digna de castigo.

3o. O presidente Edwards, em sua obra On the Will, Parte 4, § 1, diz: “A essência
da virtude ou do vício das disposições do coração e dos atos da vontade não está
na sua causa, e sim na sua naturezaE até João Wesley, arminiano como era,
disse, segundo citação feita por Ricardo Watson: “A santidade não consiste no
bom uso que fizermos de nossas faculdades, e sim no bom estado dessas
faculdades, na boa disposição da nossa alma. Levem isto com vocês, e não dirão
mais que Deus não podia criar o homem com justiça e verdadeira
santidade”...“Que é santidade? Não seria essencialmente o amor? E não
poderia Deus derramar esse amor em qualquer alma sem a concordância dessa
alma anterior ao seu conhecimento ou ao seu consentimento? E se Ele o fizer,
porventura o amor mudará de natureza? Deixará de ser santidade? Esse
argumento jamais poderá ser sustentado”.

13. Como se pode provar que um estado de indiferentismo moral é em si mesmo


pecado, e que, se não fosse assim, não seria possível que o exercício de uma
faculdade volitiva assim condicionada resultasse num ato ou caráter moral?

E auto-evidente que o indiferentismo moral da parte de um agente moral à vista


de uma obrigação moral é em si mesmo pecado. A essência da moralidade é que
obriga a vontade de um agente moral. Um agente amoral pode sem
culpa conservar-se indiferente para com coisas morais. Um agente moral pode
sem culpa conservar-se indiferente para com coisas indiferentes. Mas, pela
própria natureza do caso, é um absurdo dizer que um agente moral pode
conservar-se indiferente a respeito de uma obrigação moral conhecida por ele
como sua e que, apesar disso, esse indiferentismo não é moral e sim o pré-
requisito de toda moralidade.
Além disso, uma disposição moralmente indiferente não pode resultar num ato
ou costume santo. A bondade ou maldade de um ato depende da bondade ou
maldade da disposição ou dos afetos que o incitaram. E o estado moral da

vontade (ou o coração, veja Mat. 7:17-20 e 12:33) que torna o ato bom ou mau,
não o ato que torna esse estado bom ou mau. Os motivos pelos quais o homem
faz uma coisa podem ser muito bons, e, apesar disso, por ignorância ou loucura,
pode estar em grande erro quanto à natureza dessa coisa; contudo, se todas as
disposições e desejos que prevalecem no coração em qualquer caso dado forem
bons, a volição necessariamente será moralmente boa; se forem maus, a volição
será necessariamente má; se forem indiferentes, a volição será
forçosamente indiferente também. Isso mostra o absurdo das posições
acima indicadas. Se, como dizem os pelagianos, Adão foi criado com uma
vontade igualmente disposta para o bem e para o mal, seu primeiro ato não podia
ter caráter moral de nenhuma qualidade. E, não obstante, dizem que o primeiro
ato de Adão, que não tinha caráter moral, determinou o caráter moral do próprio
homem, e o de todos os seus atos e do seu destino para todo o tempo futuro. Se
isso fosse verdade, teria sido injusto da parte de Deus, porque envolve a
imposição de uma pena terrível por um ato que em si não foi nem bom nem
mau. Como teoria é absurda, visto que faz evoluir toda moralidade daquilo que é
moralmente indiferente.

Ricardo Watson, vol. 2, pág. 16, diz muito bem: “Em Adão aquela retidão da
qual emanaram boa escolha e bons atos, ou foi criada com ele, ou emanou de
suas próprias volições. Se se afirmar a última hipótese, seguir-se-á que Adão
determinou-se para o bem antes de ter um princípio de retidão - o que é absurdo;
se se afirmar a primeira hipótese, ficará estabelecido que ele foi criado em estado
de retidão, com aptidões e disposições para o bem”.

14. Como demonstrar que a teoria pelagiana não pode basear-se na


experiência?

Essa teoria é toda construída sobre certas noções formadas apriori, e é contrária
à experiência universal. Se Adão foi criado sem caráter positivamente moral, e
se as crianças nascem assim

também, então as condições de uma agência livre, nesses supostos casos, devem
ser diversas das de uma agência livre, no caso de todos os homens e mulheres
adultos, cuja consciência é a única fonte de onde podemos recolher os
fatos necessários para deduzirmos deles alguns conhecimentos corretos a
respeito deste ponto. Todos os que têm pensado ou escrito sobre esta questão
estavam cônscios de que só pode existir liberdade sob as condições de um
caráter moral já formado. Mesmo que a teoria pelagiana fosse verdadeira,
nunca poderíamos ter certeza disso, porque nunca estivemos cientemente em tal
estado de indiferentismo. Nada mais é que uma hipótese imaginada para que os
interessados pudessem sair de uma dificuldade - dificuldade que é resultado do
fato de que o nosso poder de pensar é limitado. Veja Sir William Hamilton,
Discussions, pág. 587 etc.

15. Que distinção faziam os chamados santos Pais entre a imagem e a


semelhança de Deus em que o homem foi criado? -Gên. 1:26.

Por “imagem” de Deus os Pais entendiam os poderes naturais e constitutivos do


homem, os poderes ou faculdades intelectuais e morais, quais sejam a razão, a
consciência e a vontade livre (o livre-arbítrio). Por “semelhança” de Deus
eles entendiam a perfeição moral amadurecida e desenvolvida da natureza
humana, resultante de o homem exercer santamente as suas faculdades.

Neander, Hist. Christ. Dogmas, pág. 180, afirma que esse foi o germe da
subseqüente doutrina medieval e romana sobre o estado original do homem.

Belarmino, De Gratia et Lih. Arbítrio, 1, cap. 6, diz: “Por estes testemunhos dos
Pais, somos obrigados a concluir que a imagem e semelhança não são iguais em
todos os aspectos, e sim que a imagem diz respeito à natureza, e a semelhança
às virtudes (perfeições morais); de onde se segue que Adão, por seu pecado,
perdeu a imagem mas não a semelhança de Deus”.

16. Que ensina o Catecismo do Concilio de Trento quanto ao estado em que


Adão foi criado?

Veja abaixo, no fim deste capítulo, as doutrinas das diversas igrejas sobre este
ponto.

17. Qual é a doutrina romana a respeito dos dona naturalia e dona


supernaturalia?

Segundo essa doutrina:

Io. Deus dotou o homem, em sua criação, dzdona naturalia, isto é, de todos os
poderes e faculdades naturais e constitutivos do corpo e da alma sem pecado, em
estado de inocência perfeita.

2o. Deus ajustou devidamente esses poderes uns aos outros, pondo os inferiores
na devida subordinação aos superiores. É a esta harmonia dos poderes que se
chamavajwmria - retidão natural.

3o. Havia, porém, pela própria natureza das coisas, nos apetites e paixões
inferiores, uma tendência natural para rebelar-se contra a autoridade dos poderes
superiores da razão e da consciência. Essa tendência em si não é pecado; torna-
se pecado somente quando a vontade consente nela, e ela se manifesta em algum
ato. Isso é concupiscência: não é pecado, mas é suprimento e ocasião para o
pecado.

4o. Para impedir a desordem que seria o resultado dessa tendência natural de se
rebelarem os elementos inferiores da constituição humana contra os superiores,
Deus concedeu ao homem o dom adicional, isto é os dona supernaturalia, ou
dons extraconstitutivos. Consistem na retidão ou justiça original, que era um
dom extraordinário, acrescentado à constituição do homem, por meio do qual ele
podia conservar na devida sujeição e ordem os seus poderes naturais
devidamente ajustados. Alguns dos teólogos romanos sustentam que esses dons
sobrenaturais foram concedidos ao homem imediatamente, em sua criação, no
mesmo momento em que lhe foram dados os seus poderes naturais. A opinião
geral, porém, e mais

coerente com essa doutrina, é que lhe foram concedidos depois, como
recompensa pelo bom uso dos seus poderes naturais. Veja Mohler, Symbolism,
págs. 117,118.

5o. Tanto a justitia como os dona supernaturalia eram propriedades acidentais e


acrescentadas à natureza humana de Adão, e ele os perdeu em conseqüência da
Queda.

18. Como essa doutrina influi na teoria dos católicos romanos quanto ao pecado
original e ao caráter moral dessa concupiscência que permanece nos
regenerados?

Eles afirmam que o homem, por sua queda, perdeu somente os dons
acrescentados de “retidão original” (dona supernaturalia), enquanto que a
própria natureza humana em si, os dona naturalia, compreendendo todas as suas
faculdades constitutivas de razão, consciência, vontade livre (em que
eles incluem a “capacidade moral”) permanecem intactos. Assim, pois, o efeito
produzido pela Queda sobre a natureza moral do homem foi tão-somente
negativo. Os Reformadores o definiram como “falta da justiça original e
corrupção da natureza inteira”.

Por isso eles afirmam também que a concupiscência, ou a tendência de se


rebelarem os poderes inferiores contra os superiores, que permanece ainda nos
regenerados, sendo natural e parte constitutiva da natureza humana, não é
da natureza do pecado. Veja a exposição dada logo a seguir.

EXPOSIÇÕES PÚBLICAS E AUTORIZADAS DAS DIVERSAS IGREJAS

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Cat. do Cone. de Trento, Parte 2, cap. 2,


Perg. 19: “Em último lugar, Ele formou o homem do limo da terra, criado e
qualificado de tal modo em corpo que fosse imortal e impassível, não, porém,
em virtude da força da natureza, e sim em virtude do dom divino. Mas quanto ao
que diz respeito à alma do

homem, criou-a à Sua imagem e semelhança: dotou-a com vontade livre, e de tal
modo ajustou todos os seus apetites e atividades que estivessem sempre sujeitos
ao domínio da razão. Acrescentou então o dom admirável de justiça original; e
depois deu-lhe o domínio sobre todos os demais animais”. Também Parte 2,
Cap.2, Perg. 42, e Parte 4, Cap.12, Perg. 3.

Belarmino - Gratia Primi Hominis, 5 - “Deve-se entender, em primeiro lugar,


que o homem consta naturalmente de carne e espírito, e que por isso sua
natureza assemelha-se em parte aos animais e em parte aos anjos; e,
em conseqüência da sua carne e semelhança aos animais, tem uma certa
propensão para o bem corpóreo e sensível, ao qual é induzido por seus sentidos e
apetites; e, em conseqüência do seu espírito e semelhança aos anjos, tem uma
propensão para o bem espiritual e racional, ao qual é induzido por sua razão e
vontade. Mas, em conseqüência dessas propensões diversas e contrárias, existe
no mesmo homem um certo conflito, e, em resultado desse conflito, o homem
acha muita dificuldade em agir, enquanto uma propensão opõe-se a outra. Deve-
se entender, em segundo lugar, que a divina providência, no princípio da
criação, como remédio desta moléstia ou languidez da natureza humana, devida
à condição da sua “matéria”, acrescentou o excelente dom da justiça original, a
qual, como freio de ouro, conservasse a parte inferior em sujeição à
parte superior, e esta em sujeição a Deus; posto que a carne estivesse de tal modo
sujeita ao espírito, que não podia mover-se contra a vontade do espírito, nem
rebelar-se contra o espírito, a não ser que esse se rebelasse contra Deus; contudo,
estava no poder do espírito rebelar-se ou não rebelar-se”.

Quanto à doutrina de Belarmino sobre a atual condição moral em que nascem os


descendentes de Adão, veja adiante, no fim do Cap.19.

DOUTRINA LUTERANA - Formula Concordue (Hase), pág. 640. (Pecado


original) “é a privação daquela justiça com a qual a natureza humana foi criada
no Paraíso, ou

daquela imagem de Deus à qual o homem no princípio foi criado em verdade,


santidade e retidão.

DOUTRINA REFORMADA - Canon Dordt, 3:1 - “O homem, no princípio, foi


criado à imagem de Deus, ornado no seu espírito com o conhecimento
verdadeiro e salvador do seu Criador e das coisas espirituais, com justiça
e retidão no seu coração e vontade, e pureza em todos os seus afetos, e assim era
inteiramente santo.

Veja também: Conf. de Fé da Ass. De Westminster, Cap.

4; Cat. Maior, Perg. 17; Breve Cat., Perg. 10.

1 >OUTRIN A DOS REMONSTRANTES - Limborch, Theol. Christ., 2: 24,5 -


“Costumam dizer que a justiça original consistia na iluminação e retidão do
espírito, na santidade i- justiça da vontade, na harmonia dos sentidos e afetos,
e numa prontidão para o bem. E, com efeito, muito evidente que nossos
primeiros pais, no seu estado primitivo, estavam numa condição muito mais
perfeita do que a em que nós estamos quando nascemos. Visto que seu
espírito não era como tábua rasa e vazio de todo o conhecimento; pois Deus lhes
havia dado conhecimento verdadeiro e a sabedoria necessária para seu estado;
possuíam também capacidade para adquirir mais conhecimento mediante
a razão, a experiência e a revelação.

Sua vontade não era neutra, igualmente indiferente para o bem e o mal, mas
antes de Deus haver-lhes imposto a lei, tinham uma retidão natural, de modo que
não podiam nem desejar nem agir desordenadamente. Porque onde não há lei, aí
o uso mais livre da vontade não traz culpa -2: 24,10. Não sofre dúvida que, se o
primeiro homem não houvesse pecado, não teria morrido, porque a morte e
a pena do pecado. Mas daí não se pode inferir corretamente a imortalidade
(natural) do homem... Contudo, Deus teria conservado esta mortalidade em
imunidade perpétua da morte real, se o homem não tivesse pecado .

DOUTRINA SOCINIANA - F. Socino, Pmfectionesh Teol., cap. 3:


“Concluímos, pois, que Adão, mesmo antes de transgredir esse mandamento de
Deus, não era verdadeiramente justo e reto, porque não era nem impecável,

nem havia ainda sido sujeito a nenhuma ocasião para pecar; ao menos não é
possível afirmar que era certamente justo, porque não consta que por qualquer
motivo se houvesse abstido de pecar. No entanto, há quem diga que a justiça
original do primeiro homem consistia nisso, que possuía uma razão dominando
sobre seu apetite e seus sentidos e cobrindo-os, e que não havia divergência
entre eles. Mas isso dizem sem razão, porque o pecado cometido por Adão torna
evidente que seu apetite e seus sentidos dominaram sobre sua razão, e nem antes
disso havia perfeito acordo entre eles”.

Cathecismo Racov., Perg. 18: “Desde o princípio o homem foi criado mortal,
isto é, de modo que não só podia, em harmonia com sua natureza, morrer, como
também não podia fazer outra coisa senão morrer, se fosse deixado à sua
natureza, embora fosse possível que, em virtude de uma bênção divina especial,
fosse conservado sempre em vida”.
A Aliança das Obras

I > Juais os diversos sentidos em que a palavra aliança ou pacto im i ohi frio r
emprepada nas Escrituras?

I" Nu M iiiidn de ni)i:i ordenança natural - Jcr. 33:20.

Nu mniulo de uma promessa incondicional - Gên.

•> 11,12

<" Nu M iitnlo de uma promessa condicional - Is. 1:19,20.

■I". No sen lido de uma dispensação ou modo de administração Htb. 8:6,9.

Quanlo ao uso do termo diathêkê, traduzido às vezes por testamento e outras


vezes por aliança, no Novo Testamento, veja o (àip.22, Perg. 4.

Nas frases teológicas “aliança das obras” e “aliança da giaça”, esse termo é
empregado no terceiro sentido acima mencionado, ou seja, no sentido de uma
promessa dependente de condições.

2. Quais são os elementos essenciais de uma aliança?

1°. Partes contratantes. 2o. Condições. Estas, numa aliança leita entre iguais
(pessoas/entidades) impõem-se e se obrigam mutuamente, mas numa
constituição soberana, imposta pelo (Iriador sobre a criatura, será melhor dizer
que essas “condições” são (1) promessas da parte do Criador, cujo
cumprimento depende de (2) condições que devem ser cumpridas pela criatura.
E (3) uma pena que será infligida se as condições não forem cumpridas.

3. Como se pode mostrar que a constituição sob a qual Adão foi posto por
Deus na sua criação pode com razão ser chamada aliança?

A narrativa inspirada daquilo que se passou entre Deus e Adão apresenta


claramente todos os elementos essenciais de uma aliança como coexistentes
nessa constituição. Veja:

Io. As “partes contratantes” - (1) Deus, o Governador moral, exigindo, por


necessidade de Sua natureza e relação, conformidade absoluta à lei moral. (2)
Adão, o livre agente moral, por necessidade de sua natureza e relação, sob
a obrigação inalienável de obedecer à lei moral.

2o. As “promessas”, vida e favor - Mat. 19:16,17; Gál. 3:12.

3o. As “condições”, de que estavam suspensas as promessas, obediência perfeita;


no caso de Adão, sujeito somente à prova especial de que ele não comesse do
fruto da “árvore da ciência”.

4o. A “pena”, para o caso de não se cumprirem as condições. “No dia em que
dela comeres, certamente morrerás” - Gên. 2:16,17.

Essa constituição é chamada concerto (pacto, aliança) -Os. 6:7.

4. Como as nossas exposições oficiais definem isso?

Conf De Fé, Cap. 4 § 2; Cap. 7: § § 1 e 2; Cap. 19: § 1 .Cat. Maior, Perg. 20;
Breve Cat., Perg. 12.

5 .Por que não é absurdo chamar de “Concerto” ou de “Aliança” uma


constituição que o Criador impôs à criatura sem consultá-la a respeito?

Io. Apesar de ser uma constituição soberana imposta por Deus, não há motivo
algum para supor que Adão não se sujeitou a ela voluntariamente. Ele era uma
criatura santa, e o arranjo era muitíssimo vantajoso para ele.

2o. Chamamo-lo concerto ou aliança porque estas palavras são próprias para
exprimir uma promessa condicional feita a um agente livre.

3°. Destas palavras, principalmente o termo “aliança” i modernamente), muitas


vezes é aplicado a outras constituições soberanas e de caráter semelhante à que o
Criador impôs hin homens. Se Deus pôde fazer alianças com Noé, caído e i
nlpado, Gên. 9:11,12, e com Abraão, Gên. 17:1-21, por que n io poderia fazer
uma aliança com Adão não caído?

'■ One nomes foram dados a essa aliança, e por quê?

I" liap sido chamada aliança da natureza, porque exprime M i 'llkj,'*: • que ■'
liomcm, no seu estado natural em que acabava <J« »gi * i iadn c d>. çQdi Dao
tinha caído, sustentava para com o y M.I.JHI i i iMvrrn.ulor do umverso. Foi
ajustado ao homem

. ....... il <m n.io . min, assim como a aliança da graça ajusta-se

ui 11• ......... ui‘hi miuirsl ou caldo.

' I' ui iiiln i liiiiuada aliança legal ou judicial porque a iu»i "iMiulis nu" ci a a i
onlonnidade perfeita à lei da absoluta I" i ii iuu» moral.

3" Tem sido chamada aliança das obras, porque suas i.’mi;i iicias estendiam-se
somente àquilo que o próprio homem fosse e fizesse.

4". K tem sido chamada aliança de vida, porque a promessa anexa a obediência
era a vida.

lira lambem, essencialmente, uma aliança fundada na graça, porque, embora seja
dever de toda criatura, como tal, servir ao Criador até onde lhe é possível, não
pode ser dever do Criador conceder à criatura, como alguma coisa devida, a i
omunhão conSigo, ou a exaltação à infalibilidade no seu poder moral, ou a
felicidade eterna e inalienável.

7. Quais eram as partes dessa aliança, e como se pode provar que Adão era
nela o representante de toda a sua descendência natural?

As “partes” eram Deus e Adão, e Adão representava toda a sua posteridade


natural. Isso se torna evidente -

Io. Pelo paralelo traçado nas Escrituras entre Adão em sua relação para com os
seus descendentes, e Cristo em Sua relação

para com os Seus escolhidos - Rom. 5:12-19; 1 Cor. 15:22,47.

2o. Pelo fato de que a pena denunciada contra Adão, se desobedecesse, tem se
tornado efetiva no caso de cada um dos seus descendentes - Gên. 2:17; 3:17,18.

3o. Pela declaração bíblica de que o pecado, a morte e todo o mal penal vieram
sobre o mundo em conseqüência do pecado de Adão - Rom. 5:12; 1 Cor. 15:22.
Veja o Cap. 21, sobre “A Imputação do Pecado de Adão”.
8. Qual foi a promessa anexa à aliança?

A “promessa ”foi “vida” -

Io. Porque se acha implícita necessariamente na pena que consistia na “morte”,


que foi proferida expressamente. Se desobediência trouxe morte, é evidente que
obediência teria trazido vida.

2o. Esta verdade é ensinada claramente noutras passagens das Escrituras - Lev.
18:5; Nee. 9:29; Mat. 19:16,17; Gál. 3:12; Rom. 10:5.

Essa vida não era simplesmente a continuação da existência que Deus lhe dera
como agente moral falível, e sim um dom adicional de excelência moral infalível
e de felicidade inalienável, sob a condição de obediência durante um período de
provação.

Io. Isso é evidente porque a recompensa prometida no caso de se cumprirem as


“condições” deveria necessariamente compreender alguma coisa mais, além
daquilo que já havia sido dado.

2o. Porque o homem, assim como havia sido criado, era sujeito a pecar, e nesse
estado não podia haver felicidade permanente e segura, nem excelência muito
elevada.

3o. Porque, com a concessão da recompensa termina necessariamente o prazo da


provação, acabam as condições e a felicidade inalienável torna-se certa e segura.

4o. Porque os anjos que não abandonaram a sua habitação (Jud., vers. 6), foram
premiados com vida dessa natureza.

5o. Porque a vida prometida devia corresponder à morte prenunciada, e essa


morte envolvia separação eterna de Deus e destruição irremediável do pecador.

6°. Porque a vida que nos é oferecida no “Segundo Adão” c dessa natureza.

9. Que é “provação” e quando e onde esteve a raça humana sujeita à


provação sob a aliança das obras?

Provação c prova. A palavra é empregada em diversos ■.ent idos, para exprimir


o estado, o tempo ou o ato da prova. O tempo de provação, sob uma constituição
tal qual foi a aliança diu nbruk, não podia deixar de ser um tempo
definidamente Inmiado, porque c auto-evidente que a aplicação da pena ou a i
ont chmio -1-1 prêmio poria termo, ipso facto, e para sempre, à provação, < o
prêmio nao podia ser concedido antes de finda a provaçao.

A prova da raça humana foi feita na pessoa de Adão no Jardim do Eden. Teve
como resultado a Queda, e, tornando-se dai por diante impossíveis as condições
da aliança, estando o homem incurso em sua pena, é impossível outra prova.
Os homens são agora por natureza filhos da ira.

10. Qual foi a condição dessa aliança? E por que foi escolhida como prova a
árvore da ciência do bem e do mal?

Perfeita conformidade do coração à vontade inteira de Deus até onde fora


revelada, e perfeita obediência a essa vontade nos atos - Deut. 27:26; Gál. 3:10;
Tia. 2:10. O mandamento de abster-se de comer do fruto proibido foi dado
simplesmente como prova especial e decisiva dessa obediência geral. Como era
moralmente indiferente em si a coisa proibida, o mandamento estava muito bem
adaptado para servir como prova clara e absoluta da prontidão de Adão para
submeter-se à vontade absoluta de Deus só porque era Sua vontade. A árvore
vedada foi sem dúvida chamada árvore da ciência do bem e do mal porque,
comendo do seu fruto em desobediência a Deus, os

homens chegaram pela experiência a conhecer o valor da bondade e o mal


infinito do pecado.

A obediência exigida pela lei como regra do dever é naturalmente perpétua. Mas
a exigência de obediência, feita pela lei como condição da aliança das obras, fora
limitada ao período da provação. A palavra “perpétua”, naConf. de Fé, Cap. 19,
§ 1, e Cat. Maior, Perg. 20, foi admitida sem dúvida por inadvertência.

11. Qual a natureza da morte prenunciada no caso de desobediência?

As palavras “certamente morrerás”, literalmente “morrerás de morte”, incluem


evidentemente, nesta conexão, todas as conseqüências penais do pecado. Estas
são - ..

Io. A morte natural - Ecl. 12:7.


2o. A morte moral e espiritual - Mat. 8:22; Ef. 2:1; 1 Tim. 5:6; Apoc. 3:1.

3o. A morte eterna - Apoc. 20:6-14.

No mesmo instante em que foi violada a lei, começou a operar a sua pena; mas,
em virtude da intervenção da dispensação da graça, o efeito pleno da sentença
fica suspenso durante a presente vida. Logo que o homem caiu, retirou-se dele o
Espírito de Deus, e ele tornou-se morto espiritualmente, mortal fisicamente, e
sujeito à sentença de condenação à morte eterna. .

Isso torna-se evidente -

Io. Pela natureza do homem como ser espiritual. “E a vida eterna é esta: que te
conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”
(João 17:3).* No

A versão de Figueiredo, citada no original desta obra, é ambígua porque


traduz, no versículo 2, a expressão “poder sobre toda carne” (literal)
por “poder sobre todos os homens”. Então, no versículo 3, o leitor
desavisado pode confundir a quem se refere o termo “eles” do versículo 3.
Nota de OdayrOlivetti.

mesmo instante em que a alma separa-se de Deus, morre, torna-se sujeita à Sua
ira e maldição, e a pessoa inteira - corpo e alma - fica envolvida numa série sem
fim de más condições.

2o. As Escrituras declaram que o salário do pecado é a morte - Rom. 6:23; Ez.
18:4.

A natureza dessa morte é determinada - (1) Pela narração dos efeitos produzidos
em nossos primeiros pais,e.g., vergonha por se reconhecerem nus, medo,
alheação de Deus, incredulidade, e, depois de algum tempo, a dissolução do
corpo, etc. (2) Pela percepção experimental dos seus efeitos nos
seus descendentes, e.g., corrupção da natureza, mortalidade do corpo, as misérias
da vida, segunda morte.

12. Que é que os aniquilacionistas afirmam a respeito da pena denunciada na


aliança das obras? '
Eles afirmam que a pena exata com que Deus ameaçou Adão foi expressa assim:
“Tu, tu mesmo, tua pessoa inteira, és pó e ao pó voltarás”. Citam Num. 23:10;
Juí. 16:30, etc. Sustentam que “morte” quer dizer precisa e unicamente cessação
da existência. Dizem eles que Adão não podia ter outra idéia em conexão com
essa palavra. A morte nesse sentido já havia existido no mundo inúmeros séculos
antes de Adão entre os animais inferiores, e isso era tudo o que Adão sabia
quanto a esse ponto.

E inútil que especulemos sobre a questão de qual foi a linguagem original em


que Deus falou com Adão, e qual foi precisamente o significado da palavra
correspondente à nossa palavra “morte” que Ele empregou. E provável que
Adão entendesse simplesmente que, se pecasse, perderia irremediavelmente o
favor divino. E foi exatamente isso que aconteceu. Os fatos são claros -

Io. A palavra morte é empregada nas Escrituras, não para exprimir cessação da
existência, e sim uma certa condição má de existência - Apoc. 3:1; Ef. 2:1-5;
5.14; 1 Tim. 5:6; Rom. 6:13; 11:15; João 5:24; 6:47.

2o. Mais adiante, Capítulos 37 e 40, será demonstrado que as Escrituras não
admitem, nem a noção do sono da alma durante o intervalo entre a morte e o
Juízo Final, nem a da aniquilação dos maus depois do Juízo.

13. Que quer dizer o selo de uma aliança, e qual foi o selo da aliança das
obras?

O selo de uma aliança é um sinal exterior e visível, instituído por Deus como
penhor da Sua fidelidade, e das bênçãos prometidas na aliança.

Assim, o arco-íris é o selo da aliança feita com Noé - Gên. 9:12,13. A


circuncisão foi o selo original da aliança feita com Abraão (Gên. 17:9-11; Rom.
4:11), em substituição da qual foi depois instituído o batismo- Col. 2:11,12; Gál.
3:26,27. A árvore da vida foi o sinal e selo exterior e visível da vida prometida
na aliança das obras, e da qual o homem foi excluído por causa do pecado, e à
qual é de novo admitido mediante o segundo Adão no Paraíso celeste. Compare
Gên. 2:9 e 3:22,24 com Apoc. 2:7; 22:2-14.

14. Segundo Witsius, em sua grande obra sobre as alianças, quais foram os
selos ou sacramentos da aliança das obras?
No Vol. 1, Cap. 6, Witsius enumera quatro - Io. O Paraíso.

2o. A árvore da vida. 3o. A árvore da ciência do bem e do mal. 4o. O Sábado, ou
o dia de descanso.

Todas estas realidades foram, sem dúvida, instituições simbólicas ligadas à


dispensação divina original da qual a aliança das obras era a base. Mas não
parece haver motivo para dizer que pertenciam à classe particular das
instituições simbólicas chamadas sacramentos sob a dispensação do
Novo Testamento. A árvore da ciência do bem e do mal selou a morte e, por
conseguinte, não podia ser um selo da aliança das obras, que oferecia a vida.

15. Em que sentido se acha revogada a aliança das obras, e em que sentido está
ainda em pé?

Tendo sido quebrada esta aliança por Adão, nem um só de todos os seus
descendentes naturais pode jamais cumprir suas condições; e, tendo Cristo
cumprido todas as suas condições a favor do Seu povo, a salvação é oferecida
agora sob a condição da fé. Neste sentido a aliança das obras foi revogada sob o
evangelho, porque Cristo cumpriu as suas condições.

Não obstante isso, sendo baseado nos princípios imutáveis da justiça, essa
aliança é ainda obrigatória sobre todos os que não se recolheram ao refúgio que
nos é oferecido em Cristo. Ainda hoje é verdade que “o que observar estes
preceitos, achará neles vida”, e “a alma que pecar, essa morrerá”. Neste sentido
essa lei ainda está em pé, e condena os homens por causa dos seus pecados; e, ao
mesmo tempo, em conseqüência da sua incapacidade absoluta de cumprir os
seus preceitos, opera como pedagogo (aio ou preceptor) para conduzi-los
a Cristo. Porque Cristo, tendo cumprido tanto a condição em que Adão falhou,
como também tendo sofrido a pena em que Adão incorreu, tornou-Se o fim dessa
aliança para justificar a todo aquele que crê e que nEle é tido e tratado como
se houvesse guardado a aliança e merecido a recompensa nela prometida.
A Natureza do Pecado e o Pecado de Adão

1. Quais são as únicas provas que servem para determinar a resposta à


pergunta: “Que épecado?”

Ia. A Palavra de Deus.

2a. Os juízos intuitivos dos homens. As provas da validade destes juízos são (a) a
auto-evidência; (b) a universalidade; e

(c) a necessidade. Esses juízos intuitivos dos homens não julgam imediata e
diretamente partindo de noções abstratas ou de proposições gerais, e sim de
casos concretos e individuais. E o entendimento que, de muitas
convicções intuitivas e individuais, tira máximas gerais e as generaliza, e essas
máximas gerais serão verdadeiras ou falsas segundo tiver sido bem ou mal feito
esse processo de generalização. A soma imensa de confusão e erro que existe a
respeito da natureza do pecado e do que se deve considerar como pecado é
devida a uma viciosa generalização de princípios gerais deduzidos de intuições
individuais, e à aplicação indiscriminada das máximas deduzidas assim a casos
que se acham fora dos limites a que se estendem as intuições. As máximas de
que todo pecado consiste em ação voluntária, e de que a nossa capacidade é
a medida da nossa responsabilidade, são máximas desse gênero e exemplos
desse abuso. É tão absurdo querer que o entendimento decida de uma questão
que pertence ao domínio do sentido moral, como o seria querer que o olfato
decidisse de uma questão de sons. Veja McCosh, Intuitions of the Mind

(Intuições da Mente), Livro 1, cap.2: § § 4 e 5, e Livro 4, cap. 3: § § 1-


3. ■ ■ ’

2. Que é necessário que uma verdadeira definição da natureza do pecado


abranja?

E necessário que uma definição do pecado abranja -

Io. Tudo o que a Palavra de Deus e a consciência esclarecida declaram ser


pecado.

2o. Não deve abranger mais nada. Se a definição não estiver de conformidade
com estas duas regras, será falsa.

3. Quais as definições de Turretino, dos nossos livros oficiais e de Vitringa?

Turretino,Locus 9, Quces. 1. - “Inclinado, actio vel omissio pugnans cum lege


Dei, vel carens rectitudine legali debita in esse”.

Conf. de Fé, cap. 6, § 6; Cat. Maior, Perg. 24; Breve Cat., Perg. 14 - “Pecado é
qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão
dessa lei”.

Campegio Vitringa, professor de teologia em Franeker, falecido em 1722 -


“Forma peccati est desconvenientia, actus, habitus, aut status hominis cum
divina lege”.

Esta última definição, excelente, abrange duas proposições constitutivas -

Ia. O pecado é toda e qualquer falta de conformidade com a lei moral de Deus,
quer seja de excesso quer de deficiência, quer de comissão quer de omissão;

2a. E qualquer falta de conformidade que haja nos estados e costumes morais,
como também nas ações da alma humana, com a lei de Deus.

4. Que é lei? Que é a Lei de Deus? ;

A palavra lei é empregada em muitos e variadíssimos sentidos. Os físicos a


empregam muitas vezes como designação
Qe SiBUQTÊÇÂ aubbey çlabh

Io. Um fato geral, e.g., o fato geral de que todos os corpos se atraem mutuamente
na razão inversa dos quadrados das distâncias.

2o. Uma ordem estabelecida da seqüência em que certos eventos sucedem, como,
e.g., as estações do ano, e qualquer ordem estabelecida da natureza.

3o. O modo de operação de uma forma específica, como a lei da indução elétrica,
etc.
4o. Uma ordem espontânea de desenvolvimento, como a lei interna e auto-
operativa do crescimento dos animais e plantas dos seus germes ou sementes.

A lei moral de Deus, porém, não é um princípio interno e auto-regulador da


natureza moral do homem, como a fingida luz interna dos quacres, e sim um
padrão imperativo de excelência moral imposto aos homens de fora e de cima,
pela autoridade suprema de um Governador moral e pessoal sobre súditos morais
e pessoais. Envolve (a) um certo grau de esclarecimento quanto à verdade e ao
dever, (b) uma regra de ação que regula a vontade e obriga à consciência, (c)
sanções ou motivos imperativos que constrangem à obediência.

5. Como se prova que qualquer falta de conformidade com a “Lei” é


pecado? .

Io. Sempre que pecamos, a consciência nos condena por não nos conformarmos a
um padrão que reconhecemos intuitivamente como sendo obrigatório para nós. A
consciência implica (a) responsabilidade moral, e, por isso, sujeição a
um Governador moral, e (b) um padrão ao qual nos devemos conformar. A
própria consciência, como órgão da lei de Deus, contém a lei escrita no coração.

2o. Está implícito na linguagem empregada pelo Espírito Santo nas Escrituras
para exprimir a idéia de pecado:set,setim, de sâtâh, “afastar-se do caminho”,
hâtâ, hamartano, “errar o alvo”,parabasis (Gál. 3:19), “um desviar-se, uma
transgressão”.

3o. Afirma-se também explicitamente nas Escrituras.

“Todo o que comete pecado, comete igualmente ten anomian, a ilegalidade,


porque o pecado é ilegalidade” - 1 João 3:4. “Porque onde não há lei também
não há transgressão” - Rom. 4:15.

6. Como se prova que qualquer falta de conformidade com a lei moral de Deus
é pecado?

Como se mostrou acima, isso está implícito nas operações da consciência. Esta
dá testemunho da lei que nos é imposta por uma autoridade exterior em relação a
nós - a autoridade suprema de Deus. Na falta de qualquer revelação
sobrenatural, ela tem levado todas as nações gentílicas a reconhecerem
a autoridade de Deus ou de deuses exercendo governo, a crerem em
recompensas e castigos administrados por Deus, e a praticarem certos ritos
expiatórios.

Davi assevera que toda e qualquer espécie de pecado é desobediência e uma


desonra feita a Deus. Veja o Salmo 51.

Segue-se que um pecado não é simplesmente uma violação da lei da nossa


própria constituição, nem do sistema das coisas, e sim uma ofensa contra um
Legislador pessoal e um Governador moral que vindica sua Lei com penas. A
alma que peca está sempre cônscia de que seu pecado (a) é intrinsecamente vil e
maculador, e (b) que com justiça merece castigo e chama sobre o pecador a justa
ira de Deus. Por isso o pecado traz sempre consigo duas características
inalienáveis - (a) desme-recimento, culpa, reatus, (b) corrupção, mácula.

7. Como se pode mostrar que essa Lei (qualquer falta de conformidade com a
qual épecado) exige perfeição moral absoluta?

Isso se acha envolvido necessariamente na própria essência da obrigação moral.


A própria essência do bem moral é que este deve ser. A própria essência do mal
moral é que este não deve ser. Se qualquer coisa for indiferente moralmente, não
será moral, e se for moral, será coisa de obrigação. Sendo isso da essência do
bem moral, é evidente que é tão verdadeiro a

respeito de cada parte como do todo. Por conseguinte, qualquer grau de falta de
plena conformidade com o bem moral no mais alto grau é da natureza do
pecado, “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto,
tornou-se culpado de todos” - Tia. 2:10. E verdadeira a antiga máxima: omne
minus bonum habet rationem mali.

Deste princípio segue-se evidentemente que a doutrina romana de obras de


supererrogação não é somente ímpia, mas também absurda; porque se essas
obras são obrigatórias, não são supererrogatórias; e se não são obrigatórias, não
são morais, e se não são morais, não podem ter valor moral. E segue-se também
que todos os perfeccionistas que, embora admitam que os homens nesta vida não
são capazes de guardar per-feitamente a lei de absoluta perfeição moral,
sustentam ao mesmo tempo que os cristãos podem nesta vida viver sem pecado,
empregam, evidentemente, linguagem incorreta e enganadora.

8. Como se prova que qualquer falta de conformidade com essa Lei, nos estados
e hábitos permanentes da alma, como também nos seus atos, épecado?
Io. Isso fica provado pelo juízo comum de todos os homens. Todos julgam que o
estado moral do coração determina o caráter moral das ações, e que o caráter
moral destas torna manifesto o estado do coração, e que o homem cujos atos
são habitualmente profanos, malévolos ou impuros, é ele mesmo quem, no
estado permanente do seu coração, é profano, malévolo ou impuro.

2o. O mesmo fica provado pela comum experiência religiosa de todos os


cristãos. Esta experiência envolve sempre convicção do pecado, e esta envolve
como seu elemento mais uniforme e proeminente, não só a convicção de não
estarem os nossos atos em conformidade com a lei de Deus, mas também o
sentimento de que nas profundezas da nossa natureza, debaixo e além do alcance
da volição, estamos mortos

cspiritualmente e manchados, impotentes e insensíveis para as coisas divinas, e


por isso merecedores da condenação. Todo verdadeiro cristão já tem dito com
Paulo: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
- Rom. 7:24. Este sentimento acha expressão, e deste princípio dá-se testemunho
em todas as orações, súplicas e confissões, e nos hinos e na literatura devocional
dos cristãos de todos os séculos e de todas as igrejas.

3o. As Escrituras chamam explicitamente “pecado” a todos os estados


permanentes da alma quando não estão de conformidade com a lei de Deus. Diz
que o pecado e suas paixões reinam no corpo mortal; que os membros do corpo
são os instrumentos do pecado; que os irregenerados são os servos do pecado -
Rom. 6:12-17. A disposição ou “tendência” permanente para pecar chama-se
“carne, em oposição ao “espírito”, Gál. 5:17; também “concupiscência”, Tia.l:
14,15; “homem velho”, “corpo do pecado”, “ignorância”, “cegueira do
coração”, “alienação da vida de Deus”, Ef. 4:18-22.

9. Como se pode mostrar que mesmo os primeiros movimentos espontâneos da


concupiscência constituem pecado?

10. O coração do cristão muitas vezes tem, momentânea e espontaneamente,


desejos maus, quando a consciência logo os condena, e a vontade os proíbe e
refreia, e deles desvia a atenção. Mesmo quando o homem assim não consente
com o pecado que está nele, o cristão, contudo, sente que tais movimentos da
concupiscência são pecaminosos e dignos de condenação, e não somente resiste
a eles, como também os condena e se aborrece por causa deles, e procura logo
lavar-se no sangue expiatório e pelo Espírito purificador de Jesus.
2o. Concupiscência é chamada “pecado” nas Escrituras. “Eu não conheci o
pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência (epithumian),
se a lei não dissesse: não cobiçarás (epithumeseis), Rom. 7:7. Também “as
paixões (os movimentos) dos pecados”, a “outra lei nos meus

membros”, e “o pecado que habita em mim” e que, sem o meu consentimento,


agiu produzindo “em mim toda a con-cupiscência”, etc. - Rom. 7:5-24.

10. Qual o primeiro grande mistério em conexão com a origem do pecado?

Como e por que foi permitida a existência do pecado na criação realizada por um
Deus ao mesmo tempo eterno, auto-existente e infinito em Sua sabedoria, poder,
santidade e bondade?

Todas as soluções propostas para este enigma, e que ainda em nossos dia têm
seus defensores, são resumidas do modo seguinte pelo professor Haven, de
Chicago:

“Ou Deus não podia impedir que entrasse o pecado (a) em sistema algum, ou (b)
num sistema que envolvesse agência livre.

“Ou Deus, por algum motivo, não quis impedir a entrada do pecado, ou (a) por
ser sua existência desejável em si mesma; ou (b) embora não sendo desejável em
si é o meio necessário para produzir a maior soma de bem; ou (c) embora
não propenda para o bem, pode ser dominado de modo que concorra para
produzir a maior soma de bem; ou (d) porque, em termos gerais, a sua permissão
será um mal menor do que o seu impedimento absoluto”.

É evidente (a) que Deus permitiu que entrasse o pecado, e (b) que por isso está
bem feito. Mas como pode estar bem feito, é e sempre será um mistério que
exige submissão da nossa parte e que desafia a que lhe achemos solução
satisfatória.

11. Qual foi a doutrina dos maniqueus a respeito da origem do pecado?

Eles sustentavam que o pecado tem sua razão de ser em algum princípio auto-
existente e eterno, independente de Deus - ou na matéria ou em algum demônio
auto-existente. Mas esta doutrina é incompatível, (a) com a independência,

infinitude e soberania de Deus; (b) com a natureza do pecado, que é


essencialmente a rebelião contra Deus de uma livre vontade (livre-arbítrio)
criada. O pecado é um elemento de agência moral pervertida. Considerá-lo
atributo da matéria é negá-lo. Todos os chamados “santos pais” unanimemente
se opuseram ao maniqueísmo, e sustentaram a doutrina ortodoxa de que o
pecado neste mundo só é produto do livre-arbítrio do homem. •

12. Que diz a teoria de Agostinho a respeito da natureza do pecado considerado


como privação?

Agostinho afirmava - Io. Que Deus é o Criador de todas os seres e o Governador


absolutamente soberano de todos os agentes morais e de todas as suas ações; e
2o. Que não obstante isso, Deus em nenhum sentido, nem é o autor, nem a causa
do pecado. A fim de conciliar estes dois pontos, ele sustentava, 3o. Que o pecado
não é um ser, uma entidade, e sim, na sua essência, é simplesmente um defeito.
Seu pronunciamento, que circula geralmente entre todas as classes de teólogos,
é: Nihil est malum nisi privatio beni. (Literalmente: Nada é mal, senão privação
do bem.) Os teólogos distinguem propriamente entre “negação” e “privação”.
Negação é a ausência daquilo que não pertence à natureza de um objeto, como ,
e.g., a faculdade da visão a uma pedra. Privação é ausência daquilo que,
pertencendo à natureza do objeto, é necessário para a sua perfeição, e.g., a
faculdade da visão a um homem.

Portanto, o pecado é privação porque tem sua origem na ausência das qualidades
morais que devem achar-se presentes nos estados e ações de um agente moral,
livre e responsável.

Devemos estar lembrados, porém, de que a depravação inerente que “vem de


uma causa defectiva ou privativa” toma imediatamente uma forma positiva, por
causa da natureza essencialmente ativa (dinâmica) da alma humana. Num
estado passivo de existência, um defeito poderia continuar sendo puramente
negativo. Todavia num ser sempre ativo (dinâmico),

e que está sempre com obrigações morais, um defeito moral não pode senão
tornar-se imediatamente em vício positivo. Não amar a Deus é odiá-10. Não
estar conformado em tudo à Sua vontade é rebelar-se contra Ele e violar a Sua
lei em todos os pontos. Veja Edwards, Original Sin (O Pecado Original), Parte 3,
sec. 2.

13. O que diz a doutrina pelagiana a respeito da natureza do pecado?


A teoria pelagiana do pecado, que é rejeitada por todos os ramos da Igreja Cristã,
é -

Io. Que uma lei pode comandar volições.

2o. Que os estados da alma só podem ser comandados até onde forem o efeito
direto de prévias volições.

3o. Que, portanto, o pecado consiste somente em atos de volição.

4o. Que o homem não tem obrigação alguma de fazer aquilo que não tem
capacidade plena para fazer.

5o. Que, portanto, não há coisa semelhante àquilo que se chama depravação
inata.

6o. Que, sendo necessário que uma volição seja determinada só e unicamente
pela vontade para que tenha caráter moral ou possa ser aprovada ou condenada,
segue-se que o pecado está fora do domínio absoluto de Deus.

14. Em que sentido é verdadeira a declaração de que “todo pecado é


voluntário”, e em que sentido é falsa?

Tudo depende do sentido em que se tomar a palavra “voluntário”. Se, no sentido


pelagiano, se restringir aos “atos de volição”, então a declaração de que “todo
pecado é voluntário” será falsa. Se, porém, a palavra for tomada no sentido
de incluir as disposições, tendências e afetos espontâneos que constituem o
caráter permanente da alma, que incitam as volições e decidem da sua natureza,
então todo pecado é voluntário, porque todo pecado tem sua razão de ser e sua
fonte

nessas tendências e disposições espontâneas, isto é, nos estados morais


permanentes da alma.

15. Quais são as peculiaridades da teoria católico-romana a este respeito, e


também as dos perfeccionistas arminianos?

A igreja católica romana concorda com todos os protestantes em sustentar que


são pecaminosos os hábitos e disposições permanentes, como também as ações
da alma, que não estejam em conformidade com a lei de Deus. Mas é
uma característica proeminente da sua doutrina que eles afirmam que não são
propriamente da natureza do pecado essa condição moral da alma que
permanece nos regenerados em conseqüência do pecado original, e o fomes* ou
alimento de pecado real. Eles sustentam que o primeiro movimento
espontâneo dessa concupiscência não é pecado em si mesmo e não deve ser
tratado como tal - porém que se torna causa de pecado só quando a vontade
entretém as suas solicitações e as traduz em ações - Cat. do Cone. de Trento,
Parte 2, cap. 2, Perg. 42.

Os arminianos servem-se mais ou menos das mesmas distinções em defesa da


sua doutrina da perfeição cristã. Wesley (Meth.Doc. Tracts (Tratados sobre a
Doutrina Metodista), págs. 294-312) distingue entre “o pecado propriamente
assim chamado, isto é, transgressão voluntária de uma lei conhecida, e o pecado
impropriamente assim chamado, isto é, transgressão involuntária de uma lei
conhecida ou não”, e declara: “Creio que nesta vida não há perfeição que exclua
essas transgressões involuntárias, que acho serem conseqüência natural
da ignorância e dos erros inseparáveis da mortalidade”.

O PECADO DE ADÃO

16. Qual o segundo mistério em conexão com a origem do

pecado? • !
Latim fomes - lenha, combustível. Nota de Odayr Olivetti. '■

Como pôde o pecado originar-se num ser criado com uma disposição
positivamente santa?

A dificuldade consiste em conciliar de um modo inteligível o fato de que o


pecado originou-se assim -

Io. Com a conhecida constituição da vontade humana. Se as volições são como


são os afetos e desejos, e se estes, estimulados por causas externas, são bons ou
maus, conforme o estado moral e permanente da vontade, como então uma
volição pecaminosa pôde originar-se numa vontade santa? Ou, como é que o
estado permanente da alma pôde tornar-se mau?

2o. Com a experiência universal. Sendo impossível que uma volição ou um


desejo pecaminoso se origine na santa vontade de Deus, ou na dos santos e dos
anjos, ou que um afeto ou uma volição verdadeiramente santa se origine,
sem que tenha ocorrido uma regeneração sobrenatural, nas vontades depravadas
dos homens decaídos (Luc. 6:43-45), como é que uma volição pecaminosa pôde
originar-se na vontade santa de Adão?

Que Adão foi criado com uma vontade santa mas falível, a qual decaiu, são fatos
estabelecidos pelo testemunho divino. Temos a obrigação de crer neles, apesar
de não podermos explicá-los racionalmente. E nos é impossível explicá-los -

Io. Permanece sempre na vontade humana um elemento inescrutável para nós,


seja qual for a teoria que a seu respeito adotarmos.

2o. Porque todo o nosso raciocínio baseia-se necessariamente em nossa


consciência íntima, e nenhum outro homem jamais teve na sua consciência a
experiência de Adão. A origem de nossas próprias volições pecaminosas é
muito evidente; faltam-nos, porém, alguns dos dados necessários para explicar a
situação de Adão.

No entanto, por via de aproximação, devemos notar -

Io. Que não é lógico deduzir da vontade independente de Deus alguma conclusão
a respeito da vontade dependente de uma criatura.

2o. Que a infalibilidade dos santos e dos anjos não lhes é inerente, e sim é uma
graça confirmadora acrescentada por Deus. Não está mais em estado de
provação (ou de prova) como estava Adão - a vontade dele era livre, porém não
estava confirmada. ■ .

3o. A vontade depravada do homem caído não pode originar afetos e volições
santos, porque é necessário que se ache presente um princípio positivamente
santo que os constitua santos. Mas, por outro lado, no caso de Adão, já
se achavam nele, na sua vontade santa, muitos princípios moralmente
indiferentes, em si mesmos nem bons nem maus, e somente se tornando maus
quando, na falta de sua boa direção da parte da razão e da consciência,
incitassem à indulgência de algum modo proibido por Deus, <?.£., incitassem o
homem, Adão, a admirar e desejar comer do fruto proibido, ou a adquirir ciência
(conhecimento) de um modo proibido. O pecado começou no momento em que,
levado pelas palavras persuasivas de satanás, Adão demorou-se em pensar
nesses dois motivos, apesar da proibição feita por Deus, e permitiu assim que
eles prevalecessem em sua alma ao ponto de neutralizar temporariamente tanto a
sua reverência pela autoridade de Deus como o receio de sua ameaça.

4o. Adão, conquanto dotado de uma disposição santa, estava sem a experiência
de tentações.

5o. A tentação dirigiu-se a um princípio da sua natureza que era mormente


indiferente, e o tentador era um ser de inteligência muito superior à de Adão, e a
ele é necessário referir a origem de todos os pecados.

17. Qual foi, segundo se pode inferir da narrativa da Queda, a natureza exata
do primeiro pecado de Adão?

Segundo se pode inferir da narrativa (Gên. 3:1-6), os movimentos iniciais cuja


influência resultou no primeiro pecado dos nossos primeiros pais, eram,
considerados em si mesmos, moralmente indiferentes. Eram - Io. Apetite natural

pelo fruto atraente. 2o. Desejo natural de adquirir ciência (ou conhecimento). 3o.
O poder persuasivo de satanás sobre Eva, junto com a conhecida influência de
uma inteligência e de uma vontade superiores. 4o. O poder persuasivo de satanás
e de Eva juntos sobre Adão. Seu terrível pecado, infere-se, consistiu
essencialmente - Io. Na incredulidade: trataram virtualmente a Palavra de Deus
como mentira. 2o. Na desobediência, cometida deliberadamente; arvoraram em
lei a sua vontade, em vez da vontade de Deus.

18. Que relação Deus sustentava para com o pecado de Adão?

A respeito da relação de Deus para com o pecado de Adão,

tudo quanto sabemos é -

Io. Que Deus criou Adão santo, com todas as faculdades morais necessárias para
fazer dele um agente responsável.

2o. Que com todo o direito deixou de conceder-lhe, durante o tempo da sua
provação, qualquer dom sobrenatural necessário para torná-lo infalível.

3o. Nem causou nem aprovou o seu pecado. 4o. Decretou soberanamente
permitir que pecasse, determinando, pois, que pecasse, como pecou.

19. Que efeito o pecado de Adão produziu sobre ele?

Io. Na relação natural que Adão mantinha para com Deus como súdito sob o Seu
governo moral, seu pecado não podia deixar de produzir imediatamente o efeito
de (1) desagradar a Deus e aliená-10, e (2) de depravar sua própria alma.

20. Em virtude da relação estabelecida entre Deus e Adão pela aliança das
obras, Adão incorreu na pena sentenciada nessa aliança, isto é, a morte, a qual
compreendeu (1) mortalidade do corpo, (2) corrupção da alma, e (3) sentença de
morte eterna.

20. Em que sentido o homem tornou-se totalmente depravado, e como pôde a


depravação total ser resultado de um só pecado?

Quando se afirma que a depravação total foi o resultado

imediato do primeiro pecado de Adão, não se quer dizer que ele se tornou tão
mau quanto lhe foi possível, nem tão corrompido como o é o melhor dos seus
descendentes não regenerados; mas o sentido é-

Io. Que a sua apostasia de Deus foi completa. Deus exige obediência perfeita, e
Adão foi rebelde.

2o. Que Deus retirou dele o Seu favor e a Sua comunhão com ele, as únicas
condições que lhe permitiam ter vida espiritual.

3o. Que um cisma se introduziu em sua própria alma. Sua consciência passou a
acusá-lo, e nunca mais poderia calar-se, sem que houvesse uma expiação. O
resultado disso foi que ele passou a ter medo de Deus, desconfiança, cometer
pre-
■ — •• A • S • • S ,

varicaçao e, como conseqüência necessana, mumeros outros pecados.

4o. Assim, tornou-se depravada a natureza inteira do homem. A vontade passou a


estar em guerra contra a consciência e, dessa maneira, o entendimento ficou
obscurecido; a consciência, sujeita constantemente a ultrajes e desprezo,
ficou endurecida; os apetites do corpo tornaram-se desordenados e os membros
do corpo se transformaram em instrumentos de iniqüidade.

5o. Não ficou na natureza do homem nenhum princípio recuperativo; iria de mal
a pior, se Deus não interviesse.

Assim, pois, sendo essencialmente ativa (dinâmica) a alma humana, embora um


só pecado não estabelecesse um hábito confirmado, esse pecado alienou Deus e
produziu confusão na alma do homem, e desse modo levou a um curso
interminável de pecado.

CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO DE ADÃO SOBRE A SUA


POSTERIDADE

São elas -

Ia. Que a responsabilidade legal desse pecado pesa

judicialmente, e desde o primeiro momento da sua existência, sobre todos


aqueles de quem Adão fora o representante na aliança das obras.

2a. Que, em conseqüência, cada um dos seus descendentes nasce em estado de


exclusão da comunhão vivificadora do Espírito divino.

3a. Que, em conseqüência, nasce sem a justiça original e com uma tendência
inerente que infalivelmente leva todos e cada um dos seus dependentes a
pecarem, desde o seu nascimento.

4a. Que os homens são absolutamente incapazes moralmente de mudar sua


natureza ou de cumprir suas obrigações.

Por motivos que aparecerão depois, discutiremos os pontos ligados à natural


corrupção e incapacidade moral do homem antes do ponto que se relaciona com
a imputação, ou a razão e o modo por que as conseqüências do pecado de Adão
passam dele para os seus descendentes.
O Pecado Original

(Peccatum Habituale)

1. Como se deve definir o pecado original?

Veja Conf. de Fé, Gap.6; Cat. Maior, Perg. 25,26;Breve Cat., Perg. 18.

A expressão pecado original é empregada às vezes no sentido de incluir tanto a


imputação judicial da culpa do pecado de Adão, como também a corrupção
moral hereditária, que é uma das conseqüências dessa imputação. Mais
restritamente, porém, a expressão pecado original designa somente a corrupção
moral hereditária comum a todos os homens desde o seu nascimento.

Ao definirmos esta doutrina,NEGAMOS:

Io. Que essa corrupção seja em qualquer sentido física e que seja inerente à
essência da alma ou a qualquer das suas faculdades naturais, como tais.

2o. Que consista primariamente na mera supremacia da parte sensual da nossa


natureza. E um hábito depravado ou uma tendência má da vontade.

3o. Que consista só na ausência de disposições santas; porque, em conseqüência


da atividade inerente à alma, o pecado manifesta-se desde o princípio por via de
uma tendência positiva para o mal.

Por outro lado, AFIRMAMOS:

Io. Que o pecado original é puramente moral, sendo a tendência inata da vontade
para o mal.

2o. Que, tendo sua sede na vontade oposta à santa lei de

Deus, desvia o entendimento e assim engana a consciência, conduz a juízos


morais errados, à cegueira do entendimento, a uma sensibilidade deficiente e
pervertida em relação às coisas morais, à ação desordenada da natureza sensual
e, assim, à corrupção da alma inteira.
3o. Que apresenta dois aspectos: (1) A perda do original hábito reto da vontade.
(2) A presença de um hábito positivamente mau.

4o. Contudo, do fato de não abranger esta depravação inata uma disposição
positiva para o mal, não se segue que não tenha sido infundida na alma uma
qualidade má positiva. Porque, da natureza essencialmente ativa (dinâmica) da
alma, e da natureza essencial da virtude, como aquilo que obriga à vontade,
segue-se evidentemente que é impossível que a alma seja indiferente
moralmente; e assim essa depravação que, como diz o Presidente Edwards*,
“vem de uma causa defectiva e privativa”, toma imediatamente uma forma
positiva. Não amar a Deus é rebelião contra Ele, e não obedecer à virtude
é calcá-la aos pés. O amor por nós mesmos em breve nos leva a temer, e depois a
odiar o vingador da justiça - Edwards, Original Sin (O Pecado Original), Parte 4,
sec. 2.

2. Por que esse pecado é chamado original?

Não porque pertencesse à constituição original da nossa natureza assim como


esta saiu das mãos de Deus, e sim, Io. Porque é derivado por geração ordinária de
Adão, estirpe original da raça humana; e 2o. Porque é a raiz interna ou a origem
de todos os pecados efetivos que maculam a nossa vida. Esse pecado chama-se
também, tecnicamente, Peccatum Habituale, ou um pecado que consiste num
hábito ou estado
Jonathan Edwards, grande teólogo e pregador, e um dos maiores, senão o maior filósofo norte-americano. Foi Presidente do Colégio de
Nova Jersey, atual Universidade de Princeton. Nota de Odayr Olivetti.

moralmente corrompido da alma, em distinção do pecado imputado e do pecado


efetivo.

3. Como se pode provar que a doutrina do pecado original não envolve


corrupção da substância da alma?

E juízo universal dos homens que existem na alma, além da sua essência e de
suas faculdades naturais, certos hábitos, inatos ou adquiridos, que qualificam (ou
condicionam) a ação dessas faculdades e constituem o caráter do homem.
Esses hábitos, ou disposições inerentes, que determinam os afetos e desejos da
vontade, governam as ações do homem e, quando bons, são aprovados e, quando
maus, são reprovados por todos. Um hábito moral inato da alma, e.g, o pecado
original, não é uma corrupção física como também qualquer hábito
adquirido (seja hábito intelectual, seja moral) não é uma mudança física.

Além disso, as Escrituras distinguem entre o pecado e o agente de um modo que


prova que o hábito de pecar (o hábito pecaminoso) não é alguma coisa
consubstanciai com o próprio pecador - Rom. 7:17, “o pecado que habita em
mim” - Heb. 12:1.

4. Como se pode provar que o pecado original não consiste em alguma


moléstia, nem somente na supremacia da parte sensorial da nossa natureza?

Embora seja verdade que os apetites desordenados do corpo dão ocasião a


muitos pecados, é contudo evidente que a origem ou a raiz do pecado não pode
estar neles -

Io. Pela própria natureza do pecado, o qual tem necessariamente sua sede no
estado moral do princípio voluntário. Uma moléstia, ou qualquer forma de
desordem física, não é voluntária e, por conseguinte, não pode ser elemento
de responsabilidade moral. E, além disso, obrigação da vontade regular a
natureza inferior e sensório-sensual, e o pecado deve sua origem à falta desses
afetos morais que seriam supremos se ainda continuassem a reinar na vontade.

2o. Pelo fato de não terem nenhum elemento sensório-sensual os pecados mais
graves, e.g., o orgulho, a ira, a malevolência, e a AVERSÃO A DEUS.

5. Como se pode provar que esse hábito ou disposição inata da alma, que leva
os homens a cometerem maus atos, é em si mesmo pecado?

Io. Esse hábito inato da alma é um estado da vontade, e é um princípio final que
os estados, bem como os atos da vontade, em relação à lei da consciência, são
morais, isto é, ou bons ou maus. Veja acima, Cap.15, Perg. 9 e 10.

2o. Esses hábitos ou estados permanentes da vontade constituem o caráter do


homem, que todos os homens julgam merecer louvor ou censura.

3o. Essa disposição inerente para cometer atos pecaminosos é chamada “pecado”
nas Escrituras - Rom. 6:12,14,17; 7:5-17. É chamada “carne” “carnal” em
oposição a “espírito” ou “espiritual”, Gál. 5:17,24; também “concupiscência”,
Tia. 1:14,15; “o nosso homem velho” e “corpo do pecado”, Rom. 6:6; também
“ignorância”, “cegueira do coração” e “separados da vida de Deus”, Ef. 4:18,19.
6. Como se pode mostrar que o pecado original não consiste somente na falta
da retidão original?

Io. Da atividade inerente à alma humana e da natureza inerentemente obrigatória


do que é moralmente bom, segue-se que a ausência de boas disposições conduz
imediatamente à formação de disposições positivamente más. Não amar a Deus é
odiá-10; não obedecer-Lhe é desobedecer-Lhe. A desobediência conduz ao
medo, à mentira e a todas as formas de pecado. Veja acima, Perg. 1.

2o. Como matéria de fato, a depravação inata manifesta seu caráter positivo
pelos pecados positivos, tais como o orgulho, a malevolência, etc. que dela
provêm mesmo nas crianças de idade muito tenra.

3o. As Escrituras lhe atribuem caráter positivo quando lhe aplicam termos como
“carne”, “concupiscência”, “homem velho”, “lei nos meus membros”, “corpo do
pecado”, “o pecado tomando ocasião”, “me enganou”, e “obrou toda a
concupiscência” - Romanos, capítulo 7.

7. Como se pode mostrar que o pecado original afeta o homem inteiro?

O pecado original tem sua sede na vontade, e consiste primariamente nesse


pendor para disposições e afetos ilícitos que é o hábito inato da alma humana.
Mas, as diversas laculdades da alma não são outros tantos agentes separados. E a
alma em sua unidade que opera em cada função como o agente indivisível,
qualificando-se mutuamente uma à outra suas diversas faculdades segundo a sua
espécie. Quando a alma está ocupada em entender alguma coisa,e.g., a
matemática, em que seus afetos não se acham interessados, então não há na sua
ação nenhum elemento moral. Entretanto, quando está ocupada em entender
alguma coisa a respeito da qual seus afetos depravados se acham interessados de
um modo perverso, sua ação imparcial será necessariamente prejudicada. As
conseqüências, pois, da propensão pecaminosa da vontade na sua influência
governadora sobre as operações da alma, em todas as suas faculdades, serão -

Io. O entendimento, tornado parcial pelos afetos perver-lidos, operando


concorrentemente com o sentido moral em formar juízos morais, dará como
resultado juízos errados, uma consciência enganadora e uma geral “cegueira do
entendimento” a respeito de coisas morais.

2o. As emoções e os sentimentos que acompanham os juízos da consciência em


aprovar o bem e condenar o mal, sendo muitas vezes ultrajados e tratados com
negligência, vão se tornando menos vivos, e isso redundará numa
consciência endurecida e numa insensibilidade moral em geral.

3o. Num curso prolongado de ação pecaminosa, a memória

ficará poluída pelos materiais amontoados das experiências corruptoras, e delas a


imaginação também tirará material para o seu uso.

4o. O corpo também se tornará corrompido. (1) Seus apetites naturais, na falta de
direção e governo apropriados, se tornarão desordenados. (2) Seus poderes
ativos serão empregados como “instrumentos de iniqüidade”.

5o. As Escrituras ensinam - (1) Que o entendimento do “homem natural” é


depravado, bem como os seus afetos - 1 Cor. 2:14; 2 Cor. 4:4; Ef. 4:18; Col.
1:21. (2) Que a regeneração envolve não somente a renovação do coração, mas
também a sua iluminação-Atos 26:18; Ef. 1:18; 5:8; 1 Ped. 2:9. (3) Que a
verdade dirigida ao entendimento é o meio principal de que se serve o Espírito
Santo nas obras de regeneração e de santificação-João 17:17; Tia. 1:18.

8. Que se entende pela afirmação de que o homem é, por natureza, totalmente


depravado?

Por essa frase ortodoxa NÃO SE DEVE ENTENDER -

Io. Que o homem depravado não tem consciência. A bondade de um agente não
consiste em ter consciência, e sim em estarem suas disposições e afetos em
conformidade com a lei da qual a consciência é o órgão. Mesmo os demônios e
as almas perdidas sabem o que é bom e mau, e sentem essas emoções
vindicativas das quais a consciência está armada.

Nem, 2o. que os homens não regenerados, possuindo uma consciência natural,
não admirem muitas vezes o caráter virtuoso e as boas ações dos outros.

Nem, 3o. que sejam incapazes de ações ou afetos interessados em suas diversas
relações com os outros seres humanos.

Nem, 4o. que qualquer homem seja tão depravado quanto é possível que se torne,
nem que todos tenham uma disposição propensa para todas as formas de pecado.
Mas, ENTENDE-SE-

Io. Que, desde que a virtude consiste na conformidade

J das disposições da vontade com a lei de Deus, e que a própria alma da virtude
consiste em ser a alma leal a Deus, segue-se que todo homem, por natureza, está,
em sua disposição geral, separado de Deus e que, por conseguinte, todos os seus
atos, quer sejam moralmente indiferentes, quer sejam conformados a princípios
subordinados do bem, são viciados pelo estado de rebelião contra Deus em que
se acha o agente.

I 2o. Que esse estado da vontade dá como resultado um cisma na alma, e a


perversão moral de todas as faculdades da alma e do corpo (veja a resposta à
Perg. imediatamente anterior).

3o. Que esse estado tende a resultar em mais corrupção, em progressão sem fim,
em todas as partes da nossa natureza, e que esta deterioração seria
incalculavelmente mais rápida do que é, se Deus não a restringisse por meio do
Seu Espírito.

4o. Não resta mais nenhum elemento recuperativo na alma. O homem só pode
tornar-se cada vez mais e para sempre pior, se não experimentar uma recriação
miraculosa.

9. Que prova da doutrina do pecado original se pode extrair da narrativa da


Queda?

Deus criou o homem à Sua imagem e declarou que, como agente moral, era
muito bom. Ameaçou-o com a morte no dia em que comesse do fruto proibido, e
esta ameaça cumpriu-se literalmente só no sentido da morte espiritual. A vida
espiritual do homem depende de estar ele em comunhão com Deus; mas Deus,
em Sua ira, baniu-o da Sua presença. Em conseqüência disso, é declarado que o
estado espiritual do homem agora é a “morte”, a mesma pena que fora
sentenciada - Ef. 2:1; 1 João 3:14.

10. Que descrição as Escrituras fazem da natureza humana, e como se pode


inferir daí a existência de uma depravação inata e hereditária?

Segundo as Escrituras, todos os homens estão totalmente separados de Deus, e


depravados moralmente em

seu entendimento, coração, vontade, consciência, corpo e ações-Rom. 3:10-23;


8:7; Jó 14:4; 15:14; Gên. 6:5; 8:21; Mat. 15:19; Jer. 17:9; Is. 1:5,6. Diz-se que
essa depravação diz respeito, Io. aos atos; 2o. ao coração; 3o. que é desde o
nascimento, e que é por natureza; 4o. que afeta a todos os homens, sem exceção -
Sal. 51:5; João 3:6; Ef. 2:3; Sal. 58:3.

11. Que testemunho desta doutrina é dado por Romanos 5:12-

21?

Nessa passagem Paulo prova a culpa - a obrigação legal de sofrermos a


penalidade - do pecado de Adão imputada a nós, pelo fato indiscutível de que a
penalidade da lei, que Adão violou, é infligida a todos. Mas essa pena toda
consistiu no mal penal - a morte física, espiritual e eterna. O pecado
original, junto com a morte natural, é declarado nessa passagem como um fato
inegável, e o apóstolo tomou-o como base de seu argumento para provar a
imputação do pecado de Adão.

12. Como fica estabelecida a verdade desta doutrina pelo fato da existência
geral do pecado?

Todos os homens, em todos os séculos, e sejam quais forem as suas


circunstâncias ou as influências educacionais que os cercaram na sua mocidade,
principiam a pecar logo que se tornam capazes de ações morais. Ora, um efeito
universal deve ter causa universal também. Assim, pois, como julgamos que o
homem é, por natureza, uma criatura inteligente, porque as ações de todos os
homens envolvem um elemento de inteligência, assim também julgamos com
certeza que o homem é, por natureza, depravado, porque todos os
homens pecam.

13. Se Adão pecou, apesar de estar livre de qualquer corrupção de sua


natureza, como então o fato de sua posteridade pecar poderia provar que a sua
natureza é corrompida?

O pecado de Adão prova que um agente moral pode ser

;io mesmo tempo santo e falível, e que tal criatura, entregue a si mesma,pode
pecar; mas, quanto à sua posteridade, a questão c: qual é a causa uniforme e
universal por que todos, sem exceção, pecam logo que se tornam agentes
morais? No caso de Adão, a questão é: como ele pôde pecar? No de seus
descem dentes: por que é que todos com certeza pecam desde crianças?

14. Com quais outras objeções os pelagianos e outros procuram diminuir a


força do argumento baseado na universalidade do pecado?

Io. Os que afirmam que a liberdade do indiferentismo é essencial à agência


responsável, e que as volições não ficam determinadas pelo precedente estado
moral do espírito, atribuem todas as ações pecaminosas ao fato alegado de
não estar condicionada a vontade do homem, e insistem em que o lato dele agir
como age seja tomado como fato final.

Em resposta, reconhecemos que o homem se determina sempre como lhe apraz,


mas a questão é: por que é que todos se aprazem em determinar-se para o
pecado? Uma causa indiferente não pode explicar um resultado uniforme.
A doutrina do pecado original ensina simplesmente que o caráter depravado da
própria vontade é a causa uniforme do resultado uniforme.

2o. Outros procuram explicar os fatos alegando a influência universal do mau


exemplo.

Respondemos: (1) As crianças uniformemente manifestam disposições


depravadas numa idade tão tenra que não se pode racionalmente atribuir esse
pecado à influência do exemplo. (2) Mesmo as crianças que desde o nascimento
se acharam cercadas de influências que só podiam incliná-las para a santidade,
manifestam disposições depravadas.

3o. Outros ainda procuram explicar os fatos referindo-os à ordem natural que se
segue no desenvolvimento de nossas faculdades, e.g., as faculdades animais,
depois as intelectuais, e por último as morais; e assim as inferiores, antecipando-
se as superiores, pervertem-nas.

Em resposta, referimo-nos à Perg. 4, acima. E, ademais, essa explicação não


somente é imperfeita, porém também admite virtualmente o fato da depravação
inata e hereditária. Pois tal ordem de desenvolvimento, dando em
resultado conseqüências tão uniformes, é em si mesma uma corrupção total da
natureza.
15. Que argumento a favor da doutrina do pecado original pode-se deduzir da
universalidade da morte?

A penalidade da lei foi a morte, abrangendo a morte espiritual, a morte física e a


morte moral. A morte física é universal; a morte eterna, suspensa
temporariamente por amor de Cristo, foi sentenciada contra todos os
impenitentes. Mas, vendo que uma parte da pena tornou-se efetiva, mesmo
no caso de crianças que nunca pecaram pessoalmente, somos obrigados a crer
que a outra parte tornou-se efetiva também. Os animais irracionais, que também
sofrem e morrem, não são agentes morais, e nunca estiveram incluídos numa
aliança de vida, e por isso o seu caso, embora apresente certas dificuldades
peculiares, não tem analogia com o dos homens. A geologia afirma que os
animais irracionais sofreram e morreram em gerações sucessivas antes da
criação e apostasia do homem; e isso é ainda um dos problemas não resolvidos
da providência de Deus.

16. Como se pode provar esta doutrina pelo que as Escrituras dizem a respeito
da regeneração?

As Escrituras declaram -

Io. Que a regeneração é uma mudança radical de caráter moral, operada pelo
Espírito Santo no exercício de poder sobrenatural. E chamada “nova criação”; os
regenerados são chamados “feitura de Deus, criados para as boas obras”, etc. -
Ez. 36:26; Ef. 1:19; 2:5,10; 4:24; 1 Ped. 1:23; Tia. 1:18.

2o. Diz-se que é absoluta e universalmente necessária -João 3:3; 2 Cor 5:17.

17. Como se pode provar esta doutrina pelo que as Escrituras

dizem a respeito da redenção? -

A respeito da redenção as Escrituras afirmam -

Io. Quanto à sua natureza, que o desígnio do sacrifício de Cristo e seu efeito é
livrar todo o Seu povo, por meio de uma propiciação, tanto do poder como da
culpa do pecado - Ef. 5:25-27; Tito 2:14; Heb. 9:12-14; 13:12.

2o. Quanto à sua necessidade, que era absolutamente necessária para todos - não
somente para os adultos, mas também para as crianças que nunca cometeram
pecado efetivo - Atos 4:12; Rom. 3:25,26; Gál. 2:24; 3:21,22; Mat. 19:14; Apoc.
1:5; 5:9.

Alguns dizem que Cristo só remiu as crianças libertando-as da sujeição ao


pecado. No entanto, sendo a redenção uma propiciação feita por sangue, em que
sofreu “o Justo pelos injustos”, se as crianças não são pecadoras, não podem
ser remidas. O estado de inocência resultante da libertação da sujeição ao pecado
não admite redenção. Veja Dr. Taylor, Concio ad Clerum (New Haven, 1828),
págs. 24,25; também Harvey’s Review, do mesmo autor (Hartford, 1829), pág.
19.

18. Qual a prova derivada do batismo das crianças?

O batismo, como foi com a circuncisão, é um rito externo que significa as graças
internas da regeneração e da purificação de natureza espiritual - Mar. 1:4; João
3:5; Tito 3:5; Deut. 10:16; Rom. 2:28,29. Ambos esses ritos deviam ser
aplicados às crianças. Todavia a aplicação do rito externo seria inútil e profano
se as crianças não precisassem e não fossem capazes daquilo que o rito significa.

19. Se Deus é o autor da nossa natureza, e se essa natureza é pecaminosa,


como podemos evitar a conclusão de que Deus é o autor do pecado?

Essa conclusão seria inevitável se, Io. O pecado fosse elemento essencial da
nossa natureza, ou se, 2o. Fosse inerente a

essa natureza originariamente, como saiu das mãos de Deus.

Mas sabemos, Io. que o pecado teve origem no livre ato do homem, criado santo,
porém ao mesmo tempo falível; 2o. que a corrupção inteira da nossa natureza
veio do pecado; e, 3o. que, em conseqüência do pecado e com toda justiça,
Deus tirou de nós as influências conservadoras do Seu Espírito Santo e deixou os
homens entregues às conseqüências naturais e penais do seu pecado. Veja
Calvino, Instit., Lib. 2, Cap. 1, sec. 6 e 11.

20. Como se pode conciliar esta doutrina com a liberdade do homem e sua
responsabilidade por seus atos?

Io. A nossa consciência afirma que o homem é sempre responsável por seus atos
livres, e que seu ato é sempre livre quando ele se determina como, tudo
considerado, lhe apraz.

20. O pecado original consiste em más disposições e, por conseguinte, o


homem, pecando, age livremente, porque age exatamente como quer agir.

3o. A nossa consciência declara que a incapacidade não é incompatível com a


responsabilidade. O hábito ou a disposição inerente à vontade é o que determina
a sua ação; mas homem algum pode mudar a sua disposição por um ato da
volição, ou simplesmente por querer mudá-la. Veja Cap. 18, Perg. 4 e 25.

21. Como se propaga essa corrupção da natureza ?

Veja abaixo, sob o Cap.21.

22. Em que sentido o pecado pode ser o castigo do pecado?

Io. Por via de conseqüência natural (1) nas operações

internas da própria alma, no desordenamento de suas faculdades; (2) na confusão


das relações entre o pecador e Deus.

2o. Por via de abandono judicial. Por causa do pecado, Deus retira o Seu
Espírito, e a conseqüência disso é mais pecado - Rom. 1:24-28. .

23. Que ensinam as Escrituras a respeito do pecado contra o Espírito Santo?

Veja Mat. 12:31,32; Mar. 3:29,30; Heb. 6:4,6; 10:26,27; 1 João 5:16.

Estas passagens dão a entender que esse pecado consiste em rejeitar


malignamente o sangue de Cristo e o testemunho do Espírito Santo, apesar de
provas e contra a própria convicção. E chamado pecado contra o Espírito Santo
porque é o testemunho e a influência dEle, presente no coração, que o pecador
rejeita direta e a que resiste desdenhosamente. É imperdoável, não porque a sua
culpa exceda aos merecimentos de Cristo, nem porque o estado do pecador seja
tal que o Espírito Santo não tenha poder para transformá-lo, e sim porque o
pecado consiste na rejeição deliberada e final de Cristo e Seu Espírito, e porque
Deus determinou soberanamente que este seria o limite final da Sua graça.

24. Quais as idéias principais envolvidas na doutrina pelagiana do pecado


original?

O sistema chamado pelagiano originou-se com Pelágio, em suas controvérsias


com Agostinho, no princípio do quinto século, e foi depois desenvolvido
completamente pelos discípulos de Fausto e Loelio Socino no século 16. É o
sistema explicado no Catecismo Racoviano*, eéo dos unitários da Inglaterra e
dos Estados Unidos dos séculos 18 e 19. Abrange os pontos seguintes:

Io. O pecado de Adão só afetou a ele próprio.

2o. As crianças nascem no mesmo estado moral em que Adão foi criado.

3o. Todo homem possui capacidade plenária para pecar

De Racov, Polônia, onde foram disseminadas as idéias socinianas. Nota de


Odayr Olivetti.

ou para arrepender-se e obedecer sempre que lhe aprouver.

4o. A responsabilidade está na razão exata da capacidade; e as exigências de


Deus estão na razão das diversas capacidades (morais e constitutivas) e
circunstâncias dos homens.

25. Quais as idéias principais envolvidas na doutrina semipelagiana?

Segundo a apreciação crítica feita por Wiggers em sua Historical Presentation of


Augustinianism and Pelagianism (Apresentação Histórica do Agostinianismo e
do Pelagianismo), o pelagianismo considera o homem como moral e
espiritualmente são, o semipelagianismo o considera como enfermo, e
o agostinianismo como morto.

Eis aqui um resumo das doutrinas peculiares que os semipelagianos ensinavam


na idade média -

Io. Negavam a imputação do pecado de Adão.

2o. Reconheciam que o homem herda de Adão uma condição mórbida da sua
natureza.
3o. Essa condição, porém, não é pecado, mas é a causa certa de pecados.

4o. Essa condição envolve as faculdades morais da alma a tal ponto que ninguém
pode, sem auxílio divino, cumprir as exigências nem da Lei nem do evangelho.
O homem possui, porém, o poder de começar a viver bem, e então Deus,
vendo os seus esforços, e sabendo que sem a Sua graça esses esforços serão
infrutíferos, dá-lhe, por Sua graça, o auxílio de que ele necessita.

A doutrina de Armínio e o “sinergismo” de Melanchthon reduzem-se


praticamente à doutrina que acabamos de expor, com a única diferença de que os
semipelagianos sustentavam que o homem pode e necessariamente tem que
iniciar em si a obra do arrependimento e obediência, e que Deus então coopera
imediatamente com ele; e que os arminianos e os sinergistas sustentam que o
homem é tão depravado que precisa da graça de Deus para dispô-lo e habilitá-lo
a começar como

também a continuar e levar a efeito essa obra; mas que, ao mesmo tempo, todos
os homens realmente têm a mesma graça comum operando neles, a qual, porém,
nada efetua enquanto o homem não coopera voluntariamente com ela, quando
então essa graça comum se torna eficaz em virtude dessa cooperação.

A Igreja Grega ocupa a mesma posição geral a respeito do pecado original, e


sustenta -

Io. Que o pecado original não é voluntário e por isso não é verdadeiramente
pecado.

2o. Que a influência de Adão estende-se somente à natureza sensório-sensual dos


seus descendentes, e não à sua natureza racional, nem à sua natureza espiritual,
estendendo-se, por isso, à sua vontade somente mediante a natureza sensório-
sensual.

3o. As crianças estão sem pecado, porque possuem só uma natureza física e
propagada.

4o. A vontade humana tem a iniciativa na regeneração, mas precisa do auxílio


divino. Isso é semipelagianismo; enquanto a posição correspondente do
arminianismo é que a graça tem a iniciativa na regeneração, porém que a sua
eficácia depende da cooperação humana.
26. Qual é a teoria de “New Haven” a este respeito?

O Dr. Nathaniel W. Taylor, de New Haven, o príncipe da teologia da escola nova


da América, ensinava que o pecado consiste unicamente nos atos da vontade:
que “o pecado original é ato do próprio homem, e consiste em ele escolher
livremente como seu bem principal algum outro objeto e não Deus”.
Essa definição inclui a preferência permanente que predomina na vontade e que
determina os atos de escolha especiais e transitórios; que a respeito dessa
preferência cada ser humano determina-se logo que se torna agente moral, e que
é sempre uma preferência de algum bem menor, em vez de Deus. Sustenta
igualmente que a natureza do homem, na condição em que começa a existir
agora, em conseqüência do pecado de Adão, é a ocasião e não a causa de os
homens fazerem unifor-

memente má escolha moral, e que o pecado original é, assim, por natureza,


somente no sentido de que a vontade o comete livremente, apesar de
uniformemente, como ocasionado por natureza, mas que a própria natureza, ou
sua tendência inerente de ocasionar o pecado, não é em si pecado nem merece
castigo. Veja Concio ad Clerum, New Haven, 1828, e Haruey’s Review, do
mesmo autor.

27. Qual é a doutrina concernente à mudança efetuada pela Queda na


natureza moral do homem?

Veja abaixo as exposições públicas das diversas igrejas.

28. Que distinção os católicos romanos fazem entre pecados mortais e pecados
veniais?

Dizem eles que mortais são os pecados que separam de Deus a alma e fazem
perder a graça batismal; e que veniais são os que só impedem o acesso da alma a
Deus. Veja abaixo, Belarmino, nas “Exposições autorizadas das diversas
igrejas”.

As objeções são - Ia. E uma distinção que as Escrituras nunca fazem. 2a. Se não
fosse o sacrifício de Cristo, todo pecado seria mortal - Tia. 2:10; Gál. 3:10.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DAS DOUTRINAS DAS DIVERSAS


IGREJAS
DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Concilio de Trento, Sess. 5, Can. 2. -
“Se alguém disser que o pecado de Adão só foi nocivo a ele mesmo, e não à sua
descendência; e que a santidade que recebeu de Deus e a justiça que perdeu, para
si só a perdeu e não para nós; e que manchado com o pecado de desobediência
só transfundira por todo o gênero humano a morte e moléstias do corpo, e não o
pecado, que é morte da alma - anathema sit” . Ib.6, Cap. 1. “Declara em
primeiro lugar o Santo Concilio que, para se entender bem e sinceramente a
doutrina da justificação, convém que cada um conheça e confesse que, tendo
todos os

homens pela prevaricação de Adão perdido a inocência e se tornado imundos...


em tal forma são servos do pecado, e sujeitos ao poder do diabo e da morte...
posto que o livre arbítrio não ficou neles extinto, e sim atenuado de forças e
inclinado”. Ib. Sess. 6: Can. 5. “Se alguém disser que o livre arbítrio depois do
pecado de Adão foi perdido e extinguido... - anathema sit”. Can. 7. “Se alguém
disser que todas as obras que se fazem antes da justificação (regeneração), de
qualquer modo que se façam, verdadeiramente são pecados, ou merecem o ódio
de Deus; e que com quanto maior veemência forceja alguém em se dispor para a
graça, tanto mais gravemente peca - anathema sit”.

Belarmino, “Amiss. Gratia”, 3:1 - “A penalidade propriamente imposta em


conseqüência do primeiro pecado foi a perda da retidão original e dos dons
sobrenaturais que Deus tinha concedido à nossa natureza” - “De Gratia primi
Hom.” 1: “Eles (os católicos romanos) ensinam que pelo pecado de Adão o
homem inteiro ficou deteriorado, mas não perdeu nem o livre-arbítrio nem
nenhum dos dona naturalia, mas unicamente os dona supernaturalia”. Ib. C. 5 -
Por isso o estado do homem depois da queda de Adão não difere do seu estado in
puris naturalibus (isto é, o estado em que foi criado e em que estava antes de
receber os dona supernaturalia - veja as “Exposições” no fim do Cap. 16) mais
do que o estado de um homem a quem roubaram a roupa difere do estado de um
homem originalmente nu, nem é pior a natureza humana (se tirardes a culpa
original), nem labora ela em maior ignorância e enfermidade do que era e
laborava quando criada in puris naturalibus. Daí seguir-se que a corrupção da
natureza não é o resultado da perda de dom algum, nem a do acréscimo de
nenhuma qualidade má, e sim unicamente o resultado da perda do dom
sobrenatural em conseqüência do pecado de Adão”.

Amiss. Gra., 5, 5: “A questão entre nós e nossos adversários não é se a natureza


humana ficou gravemente depravada em conseqüência do pecado de Adão:
porque isso confessamos livremente. Nem é se essa depravação

pertence de qualquer modo ao pecado original, de maneira que se possa dizer


que é o material desse pecado. Mas a controvérsia toda versa sobre este ponto -
se essa corrupção da natureza, e especialmente a concupiscia per se e em sua
própria natureza, como se acha nos batizados e justificados (regenerados) é
propriamente pecado original. E isto que os católicos romanos negam.

DOUTRINA LUTERANA - “Formula Concordiee,\ pág. 640 - (Deve-se crer) -


Io. “Que esse mal hereditário é culpa (desmerecimento) mediante a qual, por
causa da desobediência de Adão e Eva, nós todos estamos sujeitos à ira de Deus
e somos por natureza filhos da ira, como testificou o apóstolo Paulo (Rom. 5:12,
ss. Ef. 2:3). 2o. Que há em todos falta, defeito e privação totais da justiça
original criada no Paraíso, ou da imagem de Deus à qual o homem foi no
princípio criado em verdade, santidade e justiça; e que há, ao mesmo tempo, a
impotência e incapacidade, a fraqueza e estupidez, que tornam o homem
totalmente incapaz de tudo quanto é espiritual e divino... 3o. Além disso: que o
pecado original na natureza humana não só envolve a perda e a ausência totais
de tudo quanto é bom nas coisas espirituais e que dizem respeito a Deus;
mas que, em vez da imagem perdida de Deus, há também no homem uma
corrupção interior, péssima, profunda, inescrutável e indescritível da natureza
inteira e de todas as faculdades, e primariamente nas faculdades principais e
superiores da alma, na mente, no intelecto, no coração e na vontade”.

Ib. pág. 645 - “Mas, ainda que esse pecado original infeccione e corrompa a
natureza inteira do homem, como uma espécie de veneno ou lepra espiritual
(como diz o Dr. Lutero), de modo que em nossa natureza corrompida não é
possível apresentar separadamente aos olhos esses dois, a natureza em separado
e o pecado original em separado; contudo, essa natureza corrompida, ou
substância do homem corrompido, o corpo e a alma, ou o próprio homem como
criado por Deus, no qual habita o pecado original, não é um e o mesmo que esse

pecado original que habita na natureza ou na essência do homem e a corrompe;


como no corpo do leproso, o corpo leproso e a lepra que está no corpo não são
uma e a mesma coisa”.

DOUTRINA REFORMADA - “Conf Belga”, Art. 15: “(Peccatum originis) é


essa corrupção da natureza inteira e esse vício hereditário que os torna
corruptos mesmo no ventre de suas mães, e que, como raiz, produz toda
espécie de pecados no homem e é por isso tão vil e execrável à vista de Deus,
que é suficiente para condenar a raça humana”.

“Conf. Gallica”, Art. 11: “Cremos que este vício (originis) é verdadeiramente
pecado, que torna a todo e qualquer homem, sem exceção mesmo das crianças
escondidas ainda no ventre de suas mães, réus diante de Deus, da morte eterna”.

“Os 39 Artigos da Igreja Anglicana.”, Art. 9: “(O pecado original) é um vício e


corrupção da natureza de todo homem da geração de Adão; pelo que o homem
está distanciado muitíssimo da justiça original, e é de sua própria natureza
inclinado ao mal; de forma que a carne tem sempre desejos sensuais contrários
ao espírito; e por isso toda pessoa que nasce neste mundo merece a ira de Deus e
a condenação”.

DOUTRINA REMONSTRANTE - “Apol. Conf. Remon-strante”, pág. 84:


“Eles (os remonstrantes) não consideram o pecado original como pecado
propriamente dito, nem como um mal que, como pena, no sentido restrito
dessa palavra, passe de Adão para a sua posteridade, e sim como um mal, uma
enfermidade ou vício ou qualquer nome que se lhe queira dar, que de Adão,
privado da sua justiça original, vem por propagação sobre a sua posteridade”.

Limborch, “Theol. Christ.”, 3, 3,4: “Confessamos também que as crianças


nascem menos puras do que era Adão quando foi criado, e com uma certa
propensão para pecar, mas isso não lhes advém tanto de Adão como de seus pais
imediatos, porque, se viesse de Adão, devia ser igual em todos os homens.
Contudo é agora desigual no

mais alto grau, e os filhos pendem comumente para os pecados de seus


pais”.

DOUTRINA SOCINIANA - “Cat. Racoviano”, pág. 294: “E a queda de Adão,


tendo sido um só ato, não podia ter o poder de corromper nem a natureza
do próprio Adão, e muito menos a da sua posteridade. Não negamos,
porém, que, em conseqüência do costume constante de pecar, a natureza do
homem está agora infeccionada de uma certa queda e de uma tendência
excessiva para pecar. Mas negamos que isso seja pecado per se, ou que seja da
natureza do pecado”.
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Incapacidade

1. Quais são os três elementos principais envolvidos nas conseqüências que o


pecado de Adão trouxe sobre a sua posteridade?

São -

Io. A culpa, o reato1 ou a justa responsabilidade legal do primeiro pecado ou ato


de apostasia de Adão, que é imputada ou imposta judicialmente sobre os seus
descendentes, e em virtude da qual cada criança nasce em estado de condenação.

2o. A depravação total da nossa natureza, envolvendo uma disposição pecadora


inata e levando inevitavelmente a transgressões efetivas. .

3o. A inteira incapacidade da alma de mudar sua natureza ou de fazer coisa


alguma que seja espiritualmente boa, em obediência à lei divina.

2. Quais os três tipos de doutrina que, a respeito da incapacidade humana


para cumprir a lei de Deus, sempre existiram na Igreja?

Io. O tipopelagiano - (a) Caráter moral só pode ser predicado de volições. (b) A
capacidade é sempre a medida da responsabilidade, (c) Por conseguinte, todo
homem possui sempre pleno poder de fazer tudo quanto é de seu dever fazer,

(d) Por isso é só a vontade de cada um que, com exclusão da interferência de


qualquer influência interna que venha de Deus, tem que decidir sobre o caráter e
o destino do homem. A única

influência divina de que o homem precisa e que é compatível com o seu caráter
como agente autodeterminado é uma influência externa, providencial e
educativa.

2o. O tipo semipelagiano - (a) A natureza do homem ficou enfraquecida pela


Queda de modo que, nas coisas espirituais, ele não pode agir bem sem auxílio
divino, (b) Esse estado moral enfraquecido que as crianças herdam de seus pais é
a causa do pecado, mas não é em si mesmo pecado no sentido de merecer a ira
de Deus. (c) E necessário que o homem procure cumprir todos os seus deveres e,
neste caso, Deus lhe dá a Sua graça cooperativa e torna bem-sucedidos os seus
esforços, (d) O homem só é responsável pelos pecados cometidos por ele
depois de receber e abusar das influências da graça.

3o. O tipoagostiniano - Este foi adotado por todas as igrejas protestantes


originais, luteranas e reformadas, (a) O homem é por natureza tão inteiramente
depravado que é totalmente incapaz de fazer alguma coisa espiritualmente boa,
ou de começar ou dispor-se em qualquer grau para isso. (b) Mesmo sob as
influências incitantes e persuasivas da graça divina, a vontade do homem é
totalmente incapaz de agir bem, em cooperação com a graça, enquanto a própria
vontade não é, radical e permanentemente, renovada pela energia da graça, (d)
Mesmo depois de renovada, a vontade fica sempre dependente da graça divina,
no sentido de que ela o incite, dirija e habilite a fazer qualquer boa obra.

3. Qual é a diferença entre os escritores protestantes antigos e os modernos


quanto ao usus loquendi das palavras “liberdade” e “capacidade”?

Os antigos muitas vezes empregavam a palavra “liberdade” no mesmo sentido


em que empregamos agora a palavra “capacidade”, e negavam que, depois da
Queda, o homem tivesse qualquer “liberdade” de vontade a respeito das
coisas divinas.

Os teólogos modernos sustentam, a esse respeito,

exatamente a mesma doutrina que os antjgos; mas julgam que é mais judicioso
fazer uma distinção no uso dos dois termos. Entendem, pois, pelo termo
“liberdade” a propriedade inalienável de qualquer agente moral e livre, seja bom
ou mau, de exercer volições segundo lhe apraz; isto é, segundo as disposições e
tendências predominantes da sua alma. Por “capacidade”, porém, entendem o
poder de uma alma humana depravada, e indisposta por natureza para qualquer
bem espiritual, de mudar suas disposições e tendências predominantes por meio
de qualquer volição, por mais que procure mudá-las assim, ou de obedecer aos
preceitos da lei na ausência de quaisquer disposições santas. Os afetos
permanentes da alma governam as volições; mas estas não podem mudar
os afetos. E quando dizemos que ninguém depois da Queda tem capacidade para
prestar a obediência espiritual que a lei exige, o sentido é (a) que as radicais
disposições morais de todos opõem-se por natureza a essa obediência, e (b) que
o homem é absolutamente incapaz de mudá-las, ou (c) de exercer
volições contrárias a elas.
4. Como se pode expor a doutrina ortodoxa tanto negativa como positivamente?

A doutrina ortodoxa não ensina -

Io. Que o homem tenha perdido na Queda qualquer de suas faculdades


constitutivas necessárias para fazer dele um agente moral e responsável. Essas
faculdades são (a) a razão, (b) a consciência, e (c) a livre vontade (o livre-
arbítrio). Essas todas o homem possui e tem em exercício. Ele tem o poder
de conhecer a verdade; reconhece e sente as distinções e as obrigações morais;
seus afetos, tendências e hábitos de ação são espontâneos; em todas as suas
volições ele prefere, escolhe e rejeita livremente o que lhe apraz e como lhe
apraz. Portanto, é responsável.

2o. Nem, que o homem não tenha o poder de sentir e fazer muitas coisas que são
boas e dignas de amor, benévolas e justas,

nas suas relações com os seus semelhantes. Muitas vezes isso é admitido nas
confissões protestantes e nas obras clássicas dos seus teólogos, onde se concede
que o homem, mesmo depois da Queda, ainda tem capacidade para a humana
justitia, o bem civil, etc.

Mas a doutrina ortodoxa ensina - ‘

Io. Que, depois da Queda, a incapacidade do homem diz respeito às coisas que
envolvem as nossas relações, como seres espirituais, para com Deus - a
apreensão e amor da excelência espiritual e uma vida em conformidade com ela.
Nas confissões de fé essas coisas são chamadas “coisas de Deus”, “coisas
do Espírito”, “coisas que dizem respeito à salvação”.

2o. Que o homem, depois da Queda, é inteiramente incapaz de saber, sentir ou


agir em conformidade com essas coisas. Um homem natural pode estar
esclarecido intelectualmente, porém espiritualmente está cego. Pode possuir
afetos naturais, mas o seu coração está morto para com Deus e é
invencivelmente avesso à Sua Pessoa e à Sua Lei. Pode obedecer à letra desta,
entretanto não pode obedecê-la em espírito e em verdade.

5. Em que sentido essa incapacidade é absoluta, em que sentido é natural e em


que sentido é moral?
Io. E absoluta no sentido próprio deste termo. Nenhum homem não regenerado
tem o poder de fazer aquilo que a esse respeito Deus exige dele - quer direta quer
indiretamente; nem pode mudar a sua natureza de modo que tenha mais
poder; nem pode preparar-se para a graça; nem pode principiar a cooperar com
a graça enquanto Deus, no ato da regeneração, não lhe mudar a natureza e,
mediante a Sua graça, não lhe der capacidade graciosa de agir graciosamente e
em constante dependência de Sua graça.

2o. E natural no sentido de não ser acidental ou adventícia, e sim inata, e que
pertence à nossa natureza decaída como ela se propaga por lei natural de pais a
filhos.

3o. Não é natural num sentido, porque não pertenceu à

natureza do homem como foi criado. Ele foi criado com plena capacidade de
fazer tudo quanto lhe era exigido, e a posse dessa capacidade é sempre
necessária para a perfeição moral da sua natureza. Pode ser um homem real sem
ela, contudo não homem perfeito. A capacidade concedida ao homem pela
graça de Deus na regeneração não é um dote extranatural, mas consiste numa
parcial restauração da sua natureza à sua condição de integridade original. .

4o. Não é natural ainda noutro sentido - porque não é de modo algum resultado
de qualquer deficiência da natureza humana, como existe agora, nas faculdades
morais e racionais da alma. '

5o. Essa incapacidade é puramente moral, porque, enquanto todo homem


responsável possui todas as faculdades, tanto morais como racionais e
intelectuais, necessárias para agir bem, o estado moral dessas faculdades é tal
que é impossível ao homem agir bem. Sua essência está na incapacidade da
alma de conhecer, escolher e amar o que é espiritualmente bom,
e seufundamento está nessa corrupção moral da alma que a torna cega, insensível
e totalmente avessa a tudo quanto é espiritualmente bom.

6. Qual a história da célebre distinção entre capacidade natural e capacidade


moral?

Essa distinção foi primeiro apresentada explicitamente nesta forma por João
Cameron, que nasceu em Glasgow, Escócia, em 1580, foi professor na escola
teológica de Saumur, França, em 1618, e faleceu em 1625.
O Presidente (Jonathan) Edwards (da futura Universidade de Princeton), em sua
grande obra intitulada On the Wül (Sobre a Vontade), Parte 1, C. 4, adotou os
mesmos termos, afirmando que, depois da Queda, os homens têm capacidade
natural para fazer tudo o que deles é exigido, mas que não têm capacidade moral
para fazê-lo. Por capacidadenaíwra/ ele entendia que todo homem natural está de
posse, como condição necessária para

o tornar um agente responsável, de todas as faculdades constitutivas necessárias


para habilitá-lo a obedecer à lei de Deus. Por capacidade moral entendia esse
estado moral e inerente dessas faculdades, essa disposição reto tboa do
coração que é necessária para o cumprimento desses deveres.

Não há por que questionar a validade e a importância dessa exposição feita pelo
Presidente Edwards e do modo com ele faz essa distinção; e o mesmo princípio é
reconhecido acima, na exposição da doutrina ortodoxa, nas respostas às
perguntas 4 e 5. Apesar disso, porém, temos sérias objeções contra a fraseologia
empregada, e pelos seguintes motivos: ■

Io. Essa fraseologia não é autorizada pela analogia das Escrituras. Estas nunca
dizem que o homem tem uma espécie de capacidade e que não tem a outra.
Ensinam coerentemente em toda parte que o homem não pode fazer o que é
exigido dele; e nunca ensinam que o possa fazer em algum sentido.

2o. Nunca foi adotada pelas confissões de fé promulgadas pelas igrejas


reformadas.

3o. E essencialmente ambígua, e assim tem sido empregada muitas vezes para
exprimir, e outras para encobrir, erros semipelagianos. O seu emprego tende
naturalmente a fazer errar e a confundir o pecador convicto de seus pecados;
pois afirma que ele pode (fazer o que lhe é exigido), em certo sentido, enquanto
a verdade é que ele só possui alguns dos requisitos essenciais da capacidade.
Dizer que um pássaro morto tem capacidade muscular para voar e que só lhe
falta a capacidade vital é brincar com palavras. A verdade do caso é que o
pecador é absolutamente incapaz por causa de uma deficiência moral. E certo
que essa incapacidade é pura e simplesmente moral. Mas não é verdade, e é
enganador, dizer ao pecador que ele tem capacidade natural, quando o fato é que
ele é incapaz de fazer o que deve fazer. A obra realizada pelo Espírito Santo
na regeneração não é uma persuasão moral, e sim uma nova criação moral.
4o. “Natural” não é a antítese própria de “moral”; porque

uma coisa pode ser ao mesmo tempo natural e moral. A incapacidade do homem,
como demonstramos acima, é com certeza inteiramente moral, porém é ao
mesmo tempo, e num sentido importante, natural, isto é, pertence à sua natureza
no seu estado atual e assim é transmitida dos pais aos filhos.

5o. A linguagem empregada não exprime acuradamente a distinção importante


que se quer assinalar. A incapacidade é moral, e não é nem física nem
constitutiva. Não tem seu fundamento na falta de nenhuma faculdade, mas sim
no estado moral e corrompido das faculdades, na desinclinação inveterada dos
afetos e disposições da natureza voluntária.

7. Como se pode provar pelas Escrituras o fato dessa incapacidade?

Com o exame de passagens como as seguintes: Jer. 13:23; João 6:44,65; 15:5;
Rom. 9:16; 1 Cor. 2:14.

8. Como se pode provar o mesmo fato pelo qual as Escrituras ensinam a


respeito do estado moral do homem por natureza?

E um estado de cegueira e de trevas espirituais - Ef. 4:18; de morte espiritual -


Col. 2:13. Os não regenerados são “servos (escravos) do pecado” - Rom. 6:20;
estão “fracos” - Rom. 5:6. A Bíblia afirma que os homens estão nos laços do
diabo e que estão “presos à vontade dele” - 2 Tim. 2:26; e que o único modo por
que se pode mudar o caráter de nossas obras é que se mude o caráter de nossos
corações - Mat. 12:33-35.

9. Como se pode provar a mesma verdade pela qual as Escrituras ensinam


acerca da natureza e necessidade da regeneração?

Quanto à sua natureza, ensinam que a regeneração é um “novo nascimento”,


uma “nova criação”, um gerar de novo, o dar-nos Deus um novo coração; os que
a experimentam são “novas criaturas”, “feitura de Deus”, etc. E efetuada pela
“sobre -excelente grandeza do seu poder” (do poder de Deus) - Ef. 1:18-20. Elas
afirmam que todas as graças cristãs, como sejam

o amor, a fé, a paz, a alegria etc., são “fruto do Espírito” - Gál. 5:22,23. “Deus é
o que opera em vós tanto o querer como o efetuar,* segundo a sua boa vontade”
- Fil. 2:13.
Quanto à sua necessidade, ensinam que esta mudança radical dos estados e
propensões predominantes da própria vontade é, no caso de todo filho de Adão,
sem nenhuma exceção, absolutamente necessária para a salvação.

E claro, pois, que, antes dessa mudança operada nele pelo poder divino, o
homem só pode estar absolutamente impotente espiritualmente, e que toda
capacidade que em qualquer tempo possa ter, mesmo para cooperar com a graça
que o salva, só pode ser conseqüência dessa mudança.

10. Como se pode provar o mesmo fato pela experiência?

Io. Pela experiência de todo pecador convicto de seu pecado. Toda convicção
verdadeira do pecado abrange estes dois elementos: (a) Uma completa convicção
de responsabilidade e culpa, que faz o pecador justificar a Deus e prostrar-se
ele mesmo diante de Deus em confissão , na completa renúncia da confiança em
si, e na maior auto-humilhação. (b) Uma

Figueiredo, seguindo aVulgata, tem aqui “perfazer”. Mas é de notar que no


original a palavra traduzida aqui “perfazer” por Figueiredo é “perficere” na
Vulgata. Acha-se ainda, no Novo Testamento, em Mat.l4:12; Mar.
6:14; Rom. 7:5; 1 Cor. 12:6,11; 2Cor. 1:6; 4.12; Gál. 2:8; 3:5; 5:6; Ef.
1:11,20; 2:2; 3:20; Fil. 2:13; Col. 1:29; 1 Tess. 2:13; 2Tess. 2:7; Tia. 5:16, e
em nenhuma outra passagem; e que em todas essas passagens, exceção feita
de Fil. 2:13 eTia. 5:16, a Vulgata traduz a palavra grega por “operari”; e
Figueiredo a traduz por “obrar”, com exceção de Ef. 1:20, onde a traduz
por “effeituam” (efetuam), Ef. 2:2, por “exercitam o seu poder”, e Tia. 5:16,
onde a Vulgata traduz a palavra, que no original está na forma de particípio
passivo, por “assidua”, e Figueiredo por “fervorosa”. E é de notar ainda que
em Fil. 2:13, na primeira parte do versículo, a Vulgata traduz o original
grego por “operatur” e Figueiredo por “obra”, a mesmíssima palavra grega
que na segunda parte do mesmo versículo, e só e unicamente neste lugar - de
todo o Novo Testamento - a Vulgata o traduz por “perficere” e Figueiredo
por “perfazer”, evidentemente por motivos doutrinários. Nota do Tradutor.

completa convicção da nossa impotência moral e inteira dependência tanto da


graça divina para habilitar-nos como dos merecimentos de Cristo para justificar-
nos. E necessário que o pecador chegue nos dois sentidos, isto é, a respeito da
sua culpa e também a respeito da sua completa impotência espiritual, a
desesperar-se inteiramente de si - ou não poderá ser conduzido a Cristo.
2o. Pela experiência de todo cristão verdadeiro. Sua convicção mais intima é (a)
que estava absolutamente sem forças espirituais e que foi salvo por uma
intervenção divina, ab extra, (b) que as forças que agora ele goza, por mais
fracas que sejam, são sustentadas só e unicamente mediante as comunicações
constantes do Espírito Santo, e que ele só vive espiritualmente na medida em que
se apega a Cristo.

3o. Pela experiência universal da família humana. Concluímos que todo homem
está absolutamente sem nenhuma capacidade espiritual porque nunca, desde que
o mundo existe, se descobriu caso algum de um único homem que exercesse essa
capacidade.

11. Como se pode expor e refutar a objeção feita contra a nossa doutrina, e
baseada na alegação de que “a capacidade é a medida da responsabilidade”?

Não há dúvida de que o axioma segundo a qual a capacidade é a medida da


responsabilidade é verdadeira nalguns casos e falsa noutros. O erro que vicia
completamente a objeção acima citada contra a doutrina bíblica da incapacidade
humana consiste na falta de discriminação entre as circunstâncias em que o
axioma é verdadeiro e aquelas em que é falso.

E uma verdade auto-evidente - uma que ninguém nega que uma incapacidade
que consiste (a) na ausência das faculdades absolutamente necessárias para o
cumprimento de um dever, ou (b) na ausência de qualquer ocasião para o
seu emprego, é totalmente incompatível com responsabilidade moral no caso. Se
um homem não tiver olhos, ou, se os tiver

mas estiver irremediavelmente sem luz, não pode ser moralmente obrigado a ver.
Assim também um homem sem intelecto, ou sem consciência natural, ou sem
qualquer das outras faculdades constitutivas e essenciais para agência moral, não
pode ser responsável por não agir como agente moral.

E é evidente também que essa ausência de responsabilidade vem só e


unicamente do simples fato da incapacidade. A este respeito não importa nada se
a incapacidade é devida a um ato voluntário ou a um ato praticado por outrem,
contanto que a incapacidade seja real. Por exemplo, um homem que arrancasse
os próprios olhos para eximir-se ao recrutamento, poderia com justiça ser
responsabilizado por esse ato, mas não por não ver, isto é, por não empregar
olhos que já não tem.
Por outro lado, porém, não é menos evidente que quando a incapacidade consiste
unicamente na falta de disposições e afetos convenientes e próprios, em vez de
ser, neste caso, incompatível com a responsabilidade, ela se torna motivo de uma
justa condenação. Nada há que seja mais certo ou mais universalmente
concedido do que os fatos de que os nossos afetos e disposições (1) não estão
sob o governo da nossa vontade. Uma volição nossa não os pode mudar mais do
que pode mudar a nossa natureza. (2) Apesar disso, somos responsáveis por eles.

Os que sustentam que a nossa responsabilidade é limitada por nossa capacidade


devem, por conseguinte, sustentar (1) que todo homem, por mais degradado que
seja, pode imediatamente, por um ato de volição, conformar-se, e de coração, ao
mais sublime padrão da virtude, o que é absurdo; ou (2) que o padrão de
obrigação moral fica rebaixado mais e mais à medida que o homem peca, e em
conseqüência dos seus pecados torna-se cada vez mais incapaz de obedecer, isto
é, que a obrigação moral diminui à medida que a culpa aumenta, ou, por outra,
que os direitos de Deus diminuem à medida que aumenta a nossa rebelião contra
Ele - o que também é absurdo, porque este princípio acabaria evidentemente
com a

Lei, tornando de nenhum efeito tanto os seus preceitos como a sua penalidade;
pois o pecador, rebaixando-se mais e mais, rebaixaria consigo também a Lei. O
princípio acima tiraria a lei das mãos de Deus e a colocaria nas do pecador,
que determinaria sempre a extensão das exigências da Lei segundo a extensão da
sua própria apostasia. .

12. Como se pode provar que os homens são responsáveis por seus afetos?

Io. As Escrituras todas dão testemunho do fato de que Deus exige que os homens
tenham bons afetos, e que Ele julga e trata os homens segundo os seus afetos.
Cristo declara (Mat. 22:37-40) que toda a lei moral se resume nos dois
mandamentos de amarmos a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós
mesmos. “Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.” Mas o
“amor” é um afeto, e não uma volição, e nem está ele sob o governo imediato
das volições.

2o. E juízo instintivo de todos que os afetos e disposições morais são


intrinsecamente bons ou maus, e que em todos os casos, independentemente da
sua origem, e só segundo o seu caráter, merecem louvor ou censura. Verdade é
que alguns afetos são em si mesmos moralmente indiferentes e se tornam
bons ou maus só quando adotados pela vontade como princípio de ação em
preferência a outros princípios competidores, como, e.g., o afeto do amor de si
mesmo. Há outros afetos, porém, que são intrinsecamente bons, como, e.g., o
amor a Deus e a benevolência desinteressada para com os nossos semelhantes; e
há outros que são intrinsecamente maus, como, e.g., a malevolência, ou a
desconfiança a respeito de Deus; e são bons ou maus sem que nisso influa de
modo algum a sua origem -Rom. 7:14-23. Toda volição deriva sua qualidade
moral do afeto que a incita; mas a qualidade moral do afeto é
original, independente e absoluta.

3o. As Escrituras e a experiência cristã universal ensinam que a condição comum


dos homens é, ao mesmo tempo,

condição de impotência moral e de responsabilidade. Segue-se, pois, que as duas


coisas não podem ser incompatíveis.

13. Como podem conciliar-se a incapacidade dos homens e os mandamentos,


promessas e ameaças de Deus?

Com toda a justiça, Deus trata o pecador segundo a medida da sua


responsabilidade, e não segundo a medida da sua incapacidade pecaminosa.
Teria sido uma concessão inteiramente indigna de Deus se Ele baixasse as Suas
exigências em proporção aos pecados dos homens. E, além disso, sob
a dispensação do evangelho, Deus faz uso de Seus mandamentos, promessas e
ameaças como meios de atuação da Sua graça, a fim de esclarecer os
entendimentos, vivificar as consciências e santificar o coração dos homens, sob a
influência do Seu Espírito.

14. Como se pode mostrar que o uso racional de meios não é incompatível
com a incapacidade dos homens?

A eficácia de todos os meios depende do poder de Deus, e não da capacidade do


homem. Deus estabeleceu uma conexão entre certos meios e o fim que se deseja
alcançar; manda-nos empregá-los e prometeu abençoá-los; e a experiência
tem demonstrado que Ele é fiel a Suas promessas e também que existe uma
conexão instrumental entre os meios e o fim.

15. Como se pode mostrar que o legítimo efeito prático desta doutrina não é o
de levar o pecador a procrastinar a obra da sua salvação?
Essa doutrina tende, obviamente e com razão, a extinguir as falsas esperanças de
todo pecador e a paralisar as suas tentativas de salvar-se empregando suas
próprias forças e confiando nos seus próprios recursos. Mas, tanto a razão
como a experiência nos asseguram que o efeito natural e real dessa grande
verdade é - Io. Tornar humilde a alma e fazê-la desesperar-se de si. 2o. Fazê-la
sentir que a sua única esperança

racional está em confiar imediatamente e sem reserva na graça soberana de Deus


em Cristo. 3o. Esta verdade leva o cristão, depois de convertido, a desconfiar
habitualmente de si, a ser diligente e vigilante, e a confiar habitualmente em
Deus e ser--Lhe grato. . . ,

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DAS DIVERSAS IGREJAS

DOUTRINA ROMANA - Cone. de Trento, Sec. 6, cân. 7: “Se alguém disser


que todas as obras que se fazem antes da justificação, de qualquer tipo que se
façam, verdadeiramente são pecados, ou merecem o ódio de Deus... anathema sit
(seja anátema).” Sobre este assunto o leitor poderá ver algo mais sob os títulos
de “Pecado Original” e “Vocação Eficaz.”

DOUTRINA LUTERANA - Conf. deAugsburgo, pág. 15: “A vontade humana


possui certa capacidade (libertatem) para produzir retidão civil e escolher as
coisas aparentes aos sentidos. Mas, sem o Espírito Santo, não tem o poder de
produzir a justiça de Deus ou a justiça espiritual, porque o homem natural não
percebe aquelas coisas que são de Deus.”

Formula Concordice, pág. 579: “Cremos, pois, que tanto como a um cadáver
falta o poder de revivificar-se e restaurar-se à vida corpórea, igualmente faltam a
quem, por causa do pecado, está morto espiritualmente, todas e cada uma das
faculdades de restaurar-se à vida espiritual.” .

Ibidem, pág. 656 - Cremos que o intelecto, o coração e a vontade do homem não
regenerado são inteiramente incapazes, nas coisas espirituais e divinas, e por
seu próprio vigor natural, de entender, crer, abraçar, pensar, determinar-se,
aperfeiçoar, fazer, operar ou cooperar em coisa alguma.” <

DOUTRINA REFORMADA - Os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana,


Art. 10: “A condição do homem, depois da queda de Adão, é tal que ele não
pode mover-se nem preparar-se a si mesmo por sua própria força natural e boas
obras, para a fé e a invocação de Deus; portanto, não temos poder para fazer
boas obras agradáveis e aceitáveis a Deus, sem a graça divina a nós provinda por
meio de Cristo, para que tenhamos vontade realmente boa, e agindo conosco
quando temos essa boa vontade.”

Conf. Helvética Posterior: “No homem não renovado não há vontade livre para
o bem, nem força para o fazer... Ninguém nega que a respeito de coisas
exteriores tanto os não regenerados como os regenerados tenham do mesmo
modo a vontade livre; porque o homem tem esta constituição em comum com os
outros animais, que algumas coisas ele se determina a fazer e outras determina-
se a não fazer... A respeito deste ponto, condenamos os maniqueus, que negam
que o mal tenha sua origem no exercício da livre vontade (livre-arbítrio) de um
homem bom. Condenamos também os pelagianos, que dizem que até os homens
maus possuem livre vontade suficiente para fazer o bem que Deus nos
manda fazer.”

Formula Consensus Helvetica, Cass. 22: “Sustentamos, pois, que falam com
pouca exatidão e não sem perigo os que chamam a esta incapacidade de crer
incapacidade moral, e que não a consideram natural, acrescentando que o
homem, seja qual for a condição em que seja colocado, pode crer, contanto que
queira, e que a fé realmente é de algum modo produto do próprio homem;
enquanto o apóstolo muito distintamente afirma que é dom de Deus (Ef. 2:8).”

Artigos do Sínodo deDort, Cap. 8, sec. 3, Art. 3: “Todos os homens são


concebidos em pecado e nascem filhos

da ira, indispostos para qualquer bem salvador, propensos para o mal, estão
mortos nos pecados e são escravos do pecado, e sem a graça do Espírito Santo
regenerador nem querem nem podem voltar para Deus, corrigir sua natureza
depravada, nem dispor-se para a sua correção.”

Conf de Fé (de Westminster), Cap.9, § 3: “O homem, por sua queda e por seu
estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade para qualquer
bem espiritual que acompanhe a salvação; de maneira que o homem natural, por
ser inteiramente avesso a esse bem, e por estar morto no pecado, não pode, por
seu próprio poder, converter-se nem preparar-se para a sua conversão.”

DOUTRINA REMONSTRANTE - Limborch, Theol. Christ., Lib. 4, cap. 14, §


21: “A graça de Deus é a causa primária da fé, sem a qual o homem não pode
fazer bom uso da sua livre vontade... Portanto, a livre vontade coopera com a
graça, de outro modo a obediência ou a desobediência do homem não teria
lugar... A graça não é a única causa, e sim a causa primária da salvação... porque
a própria cooperação da livre vontade com a graça vem da graça como causa
primária; porque, se a livre vontade não fosse incitada pela graça preveniente,
não poderia cooperar com a graça.”

DOUTRINA SOCINIANA - Cat. Racoviano, Perg. 422: “Não nos seria


concedida vontade livre para que obedeçamos a Deus? Sem dúvida; porque é
certo que o primeiro homem foi constituído por Deus de tal modo que se achava
dotado de uma vontade livre; nem, por certo, tem sobrevindo causa alguma pela
qual Deus privasse o homem daquela livre vontade depois da sua queda.”

1
Estado ou condição de réu, de acusado. Nota de Odayr Olivetti.
A Imputação do Pecado Original de Adão à sua Posteridade

1. Como podemos expor os fatos já provados pelas. Escrituras, pela consciência


e pela observação, e reconhecidos geralmente em todos os credos das igrejas
protestantes, quanto ao estado moral e espiritual do homem, desde o nascimento
e por natureza?

Io. Todos os homens, sem nenhuma exceção, começam a pecar logo que exercem
agência moral.

2o. Todos nascem com uma natureza cuja tendência antecedente e preponderante
é pecar.

3o. Essa tendência inata é em si mesma um pecado no sentido mais rigoroso da


palavra. Merece castigo e é corruptora e destruidora e, sem nenhuma referência à
sua origem em Adão, merece plenamente a ira e a maldição de Deus e, quando
não é expiada pelo sangue de Cristo, carrega sempre essa maldição. O Presidente
Jonathan Edwards, em sua obra Freedom of the Will (A Liberdade da Vontade),
pt. 4, sec. 1, diz: “A essência da virtude e do vício das disposições do coração
não está na sua causa, e sim na sua natureza”.

4o. Portanto, os homens são, por natureza, totalmente avessos a todo bem
espiritual, e incapazes de por si sós mudar essa má tendência inerente à sua
natureza e de escolher o bem em preferência ao mal.

5o. Por conseguinte são, por natureza, filhos da ira e seu caráter é formado e seu
mau destino determinado antes de qualquer ação pessoal sua.

2. Como podemos mostrar que é nestes fatos incontestáveis que está a


verdadeira dificuldade na conciliação dos caminhos de Deus para com o
homem; e mais, que o reconhecimento destes fatos em sua inteireza é de muito
maior importância doutrinária do que pode ser qualquer explicação da sua
origem?

O fato de que, antes de nos ser possível qualquer ação pessoal, começamos a
existir com uma natureza que com justiça nos expõe à condenação e
infalivelmente nos predispõe para o pecado, é um mistério assombroso, um mal
indizível e, contudo, um fato certo e universal. Nenhuma teoria possível quanto à
sua origem pode agravar o mistério ou sua significação terrível. Não dizemos
que na doutrina de sermos responsáveis pelo pecado original de Adão não haja
dificuldades muito graves. Dizemos, porém, (a) que ela é ensinada nas
Escrituras, e (b) que ela é mais satisfatória à nossa razão e aos
nossos sentimentos morais do que qualquer outra explicação dada em qualquer
tempo.

Nem é menos evidente que o pleno conhecimento desses fatos é de muito maior
importância doutrinária e prática do que o pode ser qualquer explicação da sua
origem ou causa. Nossas opiniões a respeito desses fatos determinarão
imediata e necessariamente a nossa relação com Deus, o caráter inteiro da nossa
experiência religiosa, e também as nossas idéias sobre a natureza do pecado e da
graça, a necessidade e natureza da redenção, da regeneração e da santificação; e
qualquer explicação destes últimos fatos só servirá para esclarecer e expandir as
nossas idéias quanto à conformidade que existe entre as perfeições de Deus e o
modo como Ele trata a raça humana; e também quanto às relações em que estão
umas com as outras as diversas partes do plano divino.

Achamos, portanto - (1) Que as Escrituras insistem mais e falam mais


freqüentemente nesses fatos que dizem respeito ao estado inato de pecado do
homem, do que em nossa responsabilidade pelo ato de apostasia de Adão. (2)
Que todos os grupos da Igreja Cristã, em todos os períodos, têm definido

e concordado nesses fatos, enquanto que, a respeito da nossa conexão com Adão
tem sempre havido opiniões muito vagas e contrárias umas às outras - Theo. of
the Ref, “Essay” 7:1, de autoria do Diretor Cunningham.

3. Como expor os princípios morais auto-evidentes


pressupostos necessariamente em todas as investigações no modo pelo qual
Deus trata Suas criaturas responsáveis?

Io. Deus não pode ser o autor do pecado. 2o. Não devemos crer que Deus pode
criar uma criatura de novo com natureza pecadora. 3o. A perfeição de justiça e
retidão, não mera soberania, é a grande distinção de todo o Seu
procedimento para conosco. O erro de que a volição de Deus
determina distinções morais foi por motivos opostos mantido
pelos supralapsários Twisse, Gomar, etc., e por arminianos tais como Grotius,
querendo mostrar, uns que Deus podia condenar a quem quisesse, mesmo sem
que houvesse culpa real, e outros que Ele podia salvar a quem quisesse, mesmo
sem que houvesse uma propiciação real. A verdade fundamental,
porém, admitida agora por todos os cristãos, é que as imutáveis perfeições
morais de Deus é que constituem a norma absoluta do que é justo, e que elas
determinam a Sua vontade em todos os Seus atos e se manifestam em todas as
Suas obras. 4o. E uma noção pagã, adotada pelos racionalistas naturalistas, a
idéia de que “a ordem da natureza”, ou “a natureza das coisas”, ou “a lei
natural”, é um agente real independente de Deus, limitando a Sua liberdade ou
operando com Ele como cooperador na produção de efeitos. A “natureza” nada
mais é que uma criatura e um instrumento de Deus. E Ele quem faz o que
ela gera. 5o. Não podemos crer que Deus infligiria um mal físico ou moral a uma
criatura que não estivesse incursa com justiça na pena da perda de seus direitos
naturais. 6o. A justiça exige que todo agente moral passe por uma prova
equitativa, cujas condições sejam tais que lhe dêem ao menos tanto ensejo
de sair-se bem quanto o perigo de sair-se mal.

4. Como poderíamos expor as duas questões distintas que daí se derivam e que,
embora muitas vezes confundidas, precisamos conservar separadas?

Ia. Como é que se origina uma natureza má, inata, em cada ser humano no
começo da sua existência, e de modo que o Criador do homem não é a causa do
pecado? Se essa corrupção da natureza originou-se em Adão, como nos é
transmitida?

2a Por que, e sob que fundamento de justiça, inflige Deus esse mal terrível, a raiz
e o motivo de todos os demais males, logo no começo da nossa existência
pessoal? Qual a prova equi-tativa pela qual foi permitido às crianças passarem?
Quando e por que perderam elas seus direitos como criaturas que acabaram de
ser criadas? - -

É auto-evidente que estas questões são distintas e que devem ser tratadas como
tais. Para a primeira talvez se possa achar resposta em base fisiológica. A
segunda, porém, diz respeito ao governo moral de Deus e à justiça de
Suas dispensações. A indevida desatenção a essa distinção, e porque nem sempre
foi conservada proeminente, resultaram em muita confusão na história da
teologia de todas as épocas e escolas.

A. COMO SUCEDE QUE TODAS AS ALMAS HUMANAS SÃO


CORRUPTAS DESDE O NASCIMENTO? SE ESSA CORRUPÇÃO VEM
TRANSMITIDA DE ADÃO, COMO É TRANSMITIDA?
5. Que respostas têm sido dadas a esta pergunta, negando ou não fazendo caso
da origem adâmica do pecado?

Ia. A teoria dos maniqueus, originariamente adotada por Manes (240 d.C.) mas
procedente do dualismo de Zoroastro, da eterna auto-existência de dois
princípios, um deles bom, identificado com o Deus absoluto, e o outro mau,
identificado com a matéria, ou com o princípio do qual a matéria é uma das
manifestações. Os nossos espíritos têm sua origem primária em Deus, e o pecado
é o resultado necessário de se acharem

eles enredados com a matéria. É óbvio que este sistema destrói o caráter moral
do pecado, e sofreu zelosa oposição de todos os antigos “Pais” da Igreja Cristã.

2a. A teoria panteísta, segundo a qual o pecado é o incidente necessário de uma


natureza limitada e finita. Alguns escritores, não absolutamente panteístas, têm o
pecado na conta de um incidente inevitável num certo grau de desenvolvimento
e como o meio determinado para produzir uma perfeição superior.

3a. Os pelagianos e outros racionalistas, negando que haja corrupção inata,


atribuem à liberdade da vontade (ao livre-arbítrio), à influência dos maus
exemplos, etc., o fato geral de que todos os homens pecam logo que se tornam
agentes livres.

4a. Outros atribuem essa corrupção culpável da nossa natureza, inerente a toda
alma humana desde o nascimento, a uma apostasia efetiva de cada alma,
cometida antes do nascimento, ou num estado de preexistência individual,
como ensinam Orígenes e, modernamente, o Dr. Edward Beecher em sua obra
intitulada The Conflict of the Ages (O Conflito das Eras); ou como
transcendental e fora do tempo, como ensina Júlio Müller no livro de sua autoria,
The Chnstian Doctnne of Sin (A Doutrina Cristã do Pecado), vol. 2, pág. 157.
Esta é, evidentemente, uma pura especulação não apoiada nem por fatos da
consciência nem da observação; tem contra si o testemunho das Escrituras, Rom.
5:12 e Gên. capítulo 3, e nunca foi aceita pela Igreja.

6. Quais as diversas teorias, sustentadas por diversos teólogos cristãos, que


admitiam a origem adâmica do pecado humano, sobre a maneira pela qual é
propagado de Adão para os seus descendentes?

E óbvio que esta é uma questão de importância muito menor do que a da questão
moral que ainda fica por discutir, quanto às bases de direito e de justiça que Deus
tem para trazer esse mal direta ou indiretamente sobre todos os homens no

seu nascimento. Por isso, nem as Escrituras explicam este ponto explicitamente,
nem dá a seu respeito uma explicação uniforme a maior parte dos teólogos. ■

Desde o princípio os teólogos ortodoxos se dividem em traducionistas e


criacionistas. Tertuliano advogou a teoria segundo a qual os filhos derivam sua
alma por geração natural da de seus pais (traducionismo). Jerônimo era de
opinião que Deus cria cada alma independentemente quando nasce a criança
(criacionismo). Agostinho esteve indeciso entre estas duas opiniões. A maioria
dos teólogos católicos romanos tem sido criacionista; a maior parte dos teólogos
luteranos, e os da Nova Inglaterra, seguindo o Dr. Hopkins, têm sido
traducionistas. Quase todos os teólogos da Igreja Reformada têm
sido criacionistas. Veja:

Io. A teoria comum dos traducionistas não é “que a alma é gerada de outra alma,
nem o corpo de outro corpo, e sim que o homem inteiro é gerado de outro
homem inteiro” - D. Pareus (Heidelberg, 1548-1622), sobre Romanos 5:12.
Segundo essa teoria, é evidente que a corrupta natureza moral de
nossos primeiros pais seria transmitida inevitavelmente a todos os seus
descendentes por geração natural.

2o. A doutrina do realismo puro é que a humanidade é, genericamente, uma só


substância espiritual que se corrompeu por seu próprio ato de apostasia em
Adão. A alma dos homens individuais não é substância distinta, e sim
manifestação dessa única substância genérica e espiritual através de suas
diversas organizações corporais. E, sendo corrompida a alma
universal, corrompidas são também, desde o nascimento, as suas
diversas manifestações.

3o. Os que sustentam que Deus cria cada alma separadamente, sustentam em
geral também que ele, como justa pena pelo pecado de Adão, priva as almas das
influências do Espírito Santo das quais depende toda a vida espiritual na criatura,
e que, em consideração à justiça de Cristo, restitui aos eleitos, no ato da sua
regeneração, essa influência vivificadora. O Dr.

T. Ridgely (Londres, 1667-1734) diz (em sua obra teológica), vol. l,págs.
413,414: “Deus cria os homens sem dons celestiais e sem luz sobrenatural; e,
com justiça, porque Adão perdeu esses dons para si e para a sua posteridade”.

Alguns poucos criacionistas, como Lampé (Utrecht, 16831729), Tom. 1, pág.


572, ensinam que o corpo derivado dos pais “é corrompido por emoções
desregradas e perversas, por meio do pecado”, e que assim comunica à alma
colocada nele por Deus iguais afetos desregrados. Essa teoria, porém,
nunca prevaleceu, porque o pecado não pertence à matéria e só pode pertencer
ao corpo em virtude de ser este o órgão instrumental da alma. Contudo, muitos
criacionistas atribuem a propagação de pecados habituais à geração natural; num
sentido geral, como uma lei estabelecida por Deus, em virtude da qual os filhos
serão como os pais, sem indagarem sobre o modo. Assim De Moer, Cap. 15, §
33, e “Cânones do Sínodo de Dortrecht”.

B. POR QUE, E FUNDADO EM QUE BASE DE JUSTIÇA E RETIDÃO,


DEUS FARIA COM QUE TODOS OS SERES HUMANOS NASCESSEM
PERDIDOS ANTES DE POSSUÍREM QUALQUER AGÊNCIA PESSOAL E
PRÓPRIA?

7. Qual é a explicação arminiana desse fato?

Io. Eles todos admitem que todos os homens herdam de Adão uma natureza
corrompida que os predispõe para o pecado, mas negam que essa condição inata
seja em si mesma pecado propriamente dito, ou que envolva culpa ou
demérito digno de castigo.

2o. Afirmam que está em harmonia com a justiça de Deus permitir que este
grande mal viesse sobre todos os homens ao nascerem, somente à vista do fato
de que Ele se havia determinado a introduzir uma compensação adequada na
redenção em Cristo, destinada imparcialmente a todos os homens, e
as influências suficientes da Sua graça, que todos os homens

experimentam, e que restitui a todos a capacidade de fazer o bem e, por isso,


plena responsabilidade pessoal. Por conseguinte, as crianças não estão sob a
condenação; esta não pesa sobre nenhum ser humano enquanto não tiver
abusado da graça que lhe é concedida. No dom de Cristo, Deus retifica o
mal que sofremos permitindo Ele que Adão usasse da sua natureza depravada
como o meio pelo qual gerar filhos pecadores. - Cf. Dr. D. D.Whedon, em
Bibliotheca Sacra, abril 1862, Conf Rem.,l\ 3; Limborch, Theol. Christ., 3:3, 4,
5, 67.
OBJETAMOS contra essa doutrina afirmando - Io. Que a nossa condenação em
Adão é dt justiça, e que a nossa redenção em Cristo vem da graça. 2o. Que o
remédio do sistema compensador não é aplicado a muitos gentios, etc. 3o. Que
essa teoria não concorda com as doutrinas das Escrituras sobre o pecado, a
incapacidade humana, a regeneração, etc.

8. Qual é a resposta dada geralmente pelos teólogos da Nova Inglaterra


posteriores ao tempo do Dr. Hopkins?

O Dr. Hopkins ensinou a doutrina da eficácia divina na produção do pecado (ou


seja, que Deus é a causa eficiente do pecado). Isso naturalmente dissolve a
questão quanto à justiça de Deus em introduzir no mundo os descendentes de
Adão como pecadores, porque Deus seria a causa final de todo o pecado. Os
teólogos da Nova Inglaterra, posteriores a Hopkins, abandonaram a doutrina de
Deus como causa eficiente, mas concordam com ele em negar a imputação e em
referir a uma divina constituição soberana a lei que faz com que cada um dos
descendentes de Adão herde a sua corrupção.

Se os que adotam essa teoria, embora reconhecendo que essa divina constituição
soberana é infinitamente justa e reta, querem simplesmente confessar que não
têm conhecimento claro de Seus motivos e razões, respondemos tão-somente
que, enquanto simpatizamos em parte com ela, não podemos, no entanto, recusar
a luz parcial que as Escrituras projetam sobre o problema, e que patentearemos
abaixo. Mas se o desígnio

desses teólogos é afirmar (1) que essa constituição não é justa, ou (2) que é só a
vontade divina que a torna justa, e que o fato de ser soberana é o fundamento
sobre o qual podemos declarar que é reta, protestamos contra a teoria como uma
heresia grave.

9. Qual é a resposta ortodoxa à pergunta acima, e em que concordam


geralmente os teólogos romanos, luteranos e reformados?

E certo que, embora tenha havido diferença de opinião e falta de clareza nas
exposições sobre as bases da nossa responsabilidade justa pelo pecado original
de Adão, a Igreja toda tem sempre sustentado que a perda da justiça original e a
nossa depravação moral e inata são a justa e reta, não soberana, conseqüência
penal do ato de apostasia de Adão. Esta é a DOUTRINA, a qual não só está de
acordo com as Escrituras, mas também presta honra aos atributos morais de
Deus e à eqüidade do Seu governo moral, e está de conformidade com a
ortodoxia histórica. Na explicação desta doutrina tem havido diferença de
opinião entre os ortodoxos. E um simples fato que Deus, como Juiz justo,
condenou a raça inteira por causa do pecado de Adão, e ser condenado por Deus,
a fonte de vida, envolve a morte moral e espiritual, e com justiça é seguido por
ela.

10. Onde, nas Escrituras, é afirmado o fato de que Deus condenou a raça
inteira por causa da apostasia de Adão?

Em Romanos 5:17-19 - “Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por


esse... Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens
para condenação... Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores...”.

11. Como se pode mostrar que a Igreja inteira está de acordo quanto a esta
doutrina?

O pecado de Adão foi um ato de apostasia. A deserção espiritual e a conseqüente


corrupção espiritual que ocorreram

imediatamente em sua experiência pessoal (a própria pena denunciada) foram


evidentemente uma justa conseqüência penal desse ato. Agostinho diz (De Nupt.
et Concup. 2:34) - “E, pois, forçoso concluir que se entende que naquele
primeiro homem todos pecaram, porque todos estavam nele quando pecou; e
assim o pecado entra com o nascimento, e não é tirado senão pelo novo
nascimento”.

O Dr. G. F. Wiggers, o erudito expositor de Augustima-nism and Pelagiamsm,


from the Original Sources (O Agosti-nianismo e o Pelagianismo, com Base nas
Fontes Originais), diz, em sua exposição das idéias de Agostinho sobre o pecado
original, capítulo 5, divisão 2, § 2: “A propagação do pecado de Adão entre a sua
posteridade é um castigo desse mesmo pecado. A corrupção da natureza humana,
na raça inteira, é o castigo justo da transgressão do primeiro homem, no qual
todos os homens já existiam”.

O Concilio de Trento, Sec. 5, 1 e 2, afirma que “o pecado, que é morte da alma”,


foi parte da pena em que Adão incorreu por sua transgressão, e é transfundido
por todo o gênero humano, e não foi nocivo a ele só.
Belarmino,Amtss. Grat. 3,1, diz: “A pena que corresponde propriamente ao
pecado original é a perda da justiça original e dos dons sobrenaturais dos quais
Deus supriu a nossa natureza”.

Lutero (sobre Gênesis 1, pág. 98, cap. 5) afirma que a imagem de Adão segundo
a qual foi gerado Sete “incluiu o pecado original e a pena da morte eterna
infligida por causa do pecado de Adão”.

Melanchthon (Explicatio Symboli Niceni, Corp. Refor., 23: 403 e 583) diz:
“Adão e Eva trouxeram sobre seus descendentes culpa e depravação”.

Formula Concordiae, págs. 639 e 643 - “Especialmente desde que, pela sedução
de satanás, mediante a Queda, pelo justo juízo de Deus no castigo dos homens,
perdeu-se a justiça eoncriada ou original... e corrompeu-se a natureza humana”.

Apol. Aug. Conf., pág. 58: “No livro de Gênesis está descrita a pena imposta pelo
pecado original. Porque aí a natureza humana ficou sujeita não só à morte e aos
males corporais, senão também ao domínio do diabo... Defeito e
concupiscência são tanto males penais como pecados”.

Quenstedt (falecido em 1688), Quaes. Theo. Did. Pol. 1, pág. 994: “Não foi
simplesmente da vontade ou da soberania absoluta de Deus, e sim da maior
justiça e eqüidade que o pecado, que cometeu Adão, como a raiz e a origem de
toda a raça humana, nos fosse imputado e propagado em nós de modo que nos
constituísse culpados”.

Tanto a Segunda Confissão Helvética, Cap. 8, como a Gálica, Art. 9, dizem que
Adão, “por sua própria culpa, tornou-se sujeito ao pecado, e tal como ele depois
da Queda, tais são também todos os por ele propagados, sujeitos ao pecado,
à morte e a diversas calamidades”.

Pedro Mártir, professor em Zurique (1500-1561), citado por Turretino (Locus 9:


2, 9, § 43), diz: “Não há por certo ninguém que possa duvidar de que o pecado
original (inerente) é infligido sobre nós como vingança e castigo da
primeira queda”.

Calvino: “Deus, por um juízo justo, condenou-nos à ira em Adão, e determinou


que nascêssemos depravados por causa do seu pecado”.

Ursino (1534-1583), amigo de Melanchthon e autor do Catecismo de


Heidelberg, diz (Qucest. 7, págs. 40,41): “O pecado original” (inerente) “passa
para” os seus descendentes, “não mediante o corpo nem mediante a alma, e sim
mediante a geração impura do homem inteiro, por causa da culpa de
nossos primeiros pais, por cuja causa Deus, por um juízo justo, enquanto cria
nossas almas, ao mesmo tempo as priva da retidão original e dos dons originais
que havia conferido aos pais”.

L. Danaeo (1530-1596) - “Há três coisas que constituem um homem culpado


diante de Deus: 1. O pecado emanando do fato de termos todos pecado no
primeiro homem. 2. A

corrupção, que é o castigo desse pecado, e que caiu sobre Adão e toda a sua
posteridade. 3. Pecados próprios”.

Teodoro de Beza (1519-1605), sobre Romanos, capítulo 12 etc., diz: “Assim


como Adão, pela comissão do pecado, tornou-se primeiro culpado da ira de Deus
e, depois, por ser culpado, sofreu como castigo do seu pecado a corrupção da
alma e do corpo, assim também transmitiu à sua posteridade uma natureza em
primeiro lugar culpada, e em segundo depravada”.

J. Armínio, de Leyden (1560-1609) - “O mesmo castigo, pois, que foi infligido a


nossos primeiros pais, desceu para toda a sua posteridade e pesa agora sobre
esta; de modo que todos são, por natureza, filhos da ira, sujeitos à condenação...
e a uma privação da retidão e da santidade verdadeira”, falta-lhes a justiça
original, pena geralmente chamada perda da imagem divina, e pecado original”.

G. J. Vóssio, Leyden (1577-1649),Hist. Pelag., Lib., 1 - 1: “A igreja católica


romana tem sempre decidido assim, que o pecado original é imputado a todos;
isto é, que os seus efeitos são, segundo o justo juízo de Deus, transmitidos a
todos os filhos de Adão... por cuja causa nascemos sem a justiça original”.

Sínodo de Dort (1618) - Tal como foi o homem depois da Queda, tais os filhos
que gerou... pela propagação de uma natureza viciada, segundo o justo juízo de
Deus”.

Francisco Turretino, Genebra (1623-1687), Locus 9, Q. 9, §§ 6, 14.*

Amésio, Medulla Theolog, Lib., prim., cap. 17: “2. Esta propagação do pecado
consta de duas partes, dtimputação e de comunicação real. 3. Pela imputação
esse ato único de
' Turretino, apud Hodge,System. Theol., 2, p. 211: “Recaiu sobre nós a pena
do pecado de Adão, tanto de privação como de punição positiva. Primeiro
é a falta e privação da justiça original; depois a morte, não só temporal
mas (ambém eterna, e para todo o gênero humano pecaminoso, que imita
os pecados”. Em latim no original. Acréscimo e tradução de Odayr Olivetti.
/LQl

desobediência que Adão cometeu é tornado nosso também. 4. Pela comunicação


real, não somente pelo pecado único. 5. O pecado original, visto que consiste
essencialmente na privação da justiça original, e visto que essa privação segue
ao primeiro pecado como um castigo, então o pecado original tem em primeiro
lugar a natureza de um castigo, mais do que a de um pecado. E um castigo,
porque a justiça de Deus nos nega essa justiça original; mas é também um
pecado, porque essa justiça deveria achar-se presente, e acha-se ausente por
culpa humana.

6. Por conseguinte, essa privação nos vem de Adão como demérito até onde é
castigo, e como causa eficiente real até onde se acha ligada a ela a natureza do
pecado”.

H. Witsio (1636-1708), Economy, Liv. 1, cap. 8, §§ 33 e 34: “E,pois, necessário


que, em virtude da aliança das obras, o pecado de Adão seja de tal modo
carregado sobre os seus descendentes, que se achava incluída com ele na
mesma aliança, que, por causa do demérito do seu pecado, eles nasçam sem a
justiça original, etc,”

Formula Consensus Helvetica (1675), Cânone 10: “Parece, porém, que de modo
algum a corrupção hereditária poderia cair, como morte espiritual, sobre toda a
raça humana pelo justo juízo de Deus, se não fosse precedida por algum
pecado dessa raça trazendo sobre ela a pena dessa morte. Porque Deus, o Juiz
supremamente justo de toda a terra, só castiga os culpados.”

Confissão e Catecismos de Westminster - Confissão, cap. 7, § 2, e cap. 6, § 3;


Cat. Maior, Pergs. 22 e 25; Breve Cat., Perg. 18.

O Presidente Witherspoon, Works (Obras), vol. 4, pág. 97: “Parece claro que o
estado de corrupção e maldade em que os homens se acham agora é, segundo as
declarações das Escrituras, efeito e castigo do pecado original de Adão”.
Veja também a verdade desta doutrina afirmada pelo Dr. Thomas Chalmers,
Institutes ofTheology, Parte 1, Cap. 6; pelo Dr. William Cunningham, Theology
of the Reformation, Ensaio

7, § 2; pelo Dr. James Thornwell, Collected Writings, Vol. 1,

págs. 479, 559, 561, etc.; e um artigo de alta erudição escrito pelo Prof. George P
Fisher, de New Haven, no “New Eng-lander” de julho de 1868.

Temos, pois, o consenso de católicos romanos e protestantes, luteranos e


reformados, supralapsários e infralapsários, de Gomar e Armínio, do Sínodo de
Dortrecht e da Assembléia de Westminster, da Escócia e da Nova Inglaterra.

12. Por que se deu a esta doutrina o nome técnico de imputação do ato de
apostasia de Adão? Qual o significado destes termos?

No Concilio de Trento, Alberto Pighio e Ambrósio Catherino (Hist. Cone. Trent,


por Padre Paulo, Lib. 2, sec. 65) sustentaram que a culpa imputada do pecado
original de Adão constituía a única base da condenação que pesa sobre
os homens em seu nascimento. O Concilio não admitiu essa heresia, mas, apesar
disso, sustentou antes uma teoria negativa mais do que positiva da corrupção
culpada que é inerente ao homem. Em conseqüência, Calvino e todos os
primeiros reformadores e credos acentuaram muito o fato de que o
pecado original inerente, em distinção do pecado original imputado,
é intrinsecamente e com justiça, por ser corrupção moral, merecedor da ira e da
condenação de Deus. E o motivo pelo qual se atribui a salvação das crianças à
graça soberana de Deus e aos merecimentos expiatórios de Cristo, e nos adultos
continua como fonte de todo pecado próprio e pessoal, e é a base principal da
condenação à morte eterna. Crianças e adultos sofrem, e adultos são condenados
por causa da culpa do pecado inerente, mas nunca por causa do pecado imputado
de Adão.

Mas quando se pergunta por que é que Deus, direta ou indiretamente, nos
introduz no mundo corrompidos assim, a Igreja inteira responde, como
mostramos acima: porque Deus nos castiga assim pela apostasia de Adão.

Essa verdade exprime-se tecnicamente como a “imputação a nós da culpa do ato


de Adão”.

“Culpa” é o que nos expõe com justiça ao castigo. O


reconhecimento da culpa é um ato judicial e não imposto pela soberania de
Deus.

“Imputação”(o termo hebraico hâsab e o grego logízomai encontram-se


freqüentemente e são traduzidos por “ter em conta”, “reputar como”, “imputar”,
etc.) é simplesmente levar alguém sobre os seus ombros um delito como motivo
justo para que contra ele se proceda segundo a lei, quer o delito imputado tenha
sido cometido pela pessoa que o leva sobre si, quer haja outro motivo válido
para fazer dele, com justiça, responsável por esse delito. Assim, pois, não
imputar o pecado a quem o cometeu é deixar, como um ato da graça, de
fazer pesar sobre essa pessoa a culpa do seu ato ou do seu estado como
fundamento para o castigo; e imputar a justiça sem obras é pôr a crédito do
crente uma justiça que não é pessoalmente dele. -Rom. 4:6,8; 2 Cor. 5:19. Veja
Núm. 30:15; Lev. 5:17,18; 7:18; 16.22; (2 Sam. 19:19; Sal. 32:2); Rom. 2:26;
2Tim. 4:16, etc.

A imputação a nós do pecado de Adão, isto é, a colocação dele sobre nós


judicialmente, deve ser considerada como se Deus contemplasse a raça humana
como um só todo, como um só corpo moral, antes do que como uma série de
indivíduos. A raça foi condenada como um só todo, e por isso cada indivíduo
nasce num estado de ruína pré-natal e justa. Turretino o chama commune
peccatum, communis culpa, L.9, Quaes.9. Isso, e somente isso, é o que a Igreja
entende por esta doutrina. A imputação a nós em comum do ato de apostasia de
Adão leva o homem, judicialmente, ao desamparo espiritual em particular, e este
o leva, como conseqüência necessária, à depravação inerente. Por outro lado, a
imputação dos nossos pecados em comum a Cristo resultou em Seu desamparo
(Mat. 27:46), mas o Seu desamparo temporário não trouxe consigo
nenhuma tendência para pecado inerente, porque Cristo é o Deus--homem. A
imputação a nós da justiça de Cristo é a condição da restituição do Espírito
Santo, e essa restituição leva, como conseqüência necessária, à regeneração e à
santificação. “É só

enquanto a justificatio forensis mantém a posição que teve na Reforma,


precedendo o processo da salvação que (esta verdade doutrinária) ocupa lugar
firme e seguro” - Hist. Prot. Theol., de autoria do Dr. J. A. Dorner, vol. 2, pág.
160.

13. Qual a origem da distinção entre a imputação mediata e a imediata do


pecado de Adão, e qual tem sido o uso feito dessas expressões entre os teólogos?
Como mostramos acima, a Igreja, desde o princípio, tem estado de acordo em
sustentar que a culpa do pecado original de Adão foi lançada diretamente na
conta da raça humana por inteiro, do mesmo modo que foi lançada sobre ele; e
foi punida na raça pelo desamparo e pela conseqüente depravação, do mesmo
modo que o foi nele. Isso os teólogos exprimem uniformemente pela frase
técnica: a imputação da culpa do pecado original de Adão aos seus descendentes.

Na primeira metade do século 17 entendeu-se universalmente que Josué Plaçao,


professor em Saumur, negava qualquer imputação do pecado de Adão à sua
posteridade, e que admitia somente uma corrupção inerente derivada de
Adão por geração ordinária. Isso foi condenado explicitamente pelo Sínodo
Nacional francês, reunido em Charenton, em 1645; e foi repudiado por todos os
teólogos ortodoxos, tanto luteranos como reformados. Plaçao subseqüentemente
originou a distinção entre imputação mediata e imediata. Chamou por aquele
nome o ato de Deus fazer pesar diretamente sobre os homens, e anteriormente ao
seu próprio estado de pecador, a culpa do pecado de Adão. E por este designou a
teoria segundo a qual Deus nos vê culpados da apostasia de Adão
juntamente com ele, porque nós também somos apóstatas em virtude
da corrupção inerente. Negava a primeira destas teorias, e admitia a segunda.

É óbvio - Io. Que essa doutrina de uma só imputação mediata é virtualmente a


dos teólogos da Nova Inglaterra, já discutida na resposta à Perg. 8, que atribui à
soberania e não

ao juízo justo de Deus o abandono da raça humana à operação da lei natural e


hereditária.

2o. Essa doutrina é uma negação da doutrina universal da Igreja de que o pecado
de Adão foi imposto com justiça aos seus descendentes como sobre ele mesmo, e
que neles é punido por depravação como o foi nele. Aquela imputação, fosse
qual fosse o seu motivo, foi evidente e puramente imediata e antecedente.

3o. É evidente que o pecado de Adão não pode ser imputado mediata e
imediatamente ao mesmo tempo e para o mesmo efeito. Seria quase um absurdo
supor que os homens são punidos judicialmente tendo a corrupção inerente
como castigo justo do pecado de Adão, e que, ao mesmo tempo, tê-los como
culpados desse pecado porque sofrem aquele castigo. E por isso que tantos
defensores da doutrina da Igreja quanto à imputação imediata negam que em
algum sentido a imputação possa ser mediata.
4o. Mas a pena do pecado de Adão foi a “morte”; isto é, todos os males penais,
tanto os temporais como os eternos. Os defensores mais estrênuos da imputação
imediata, para explicarem a inflição do pecado inato e inerente, admitem
que todos os demais elementos da pena imposta a Adão vieram sobre nós por
causa de nossos próprios pecados inerentes e realmente cometidos - Veja
Turretino, L. 9, Quaes. 9, § 14, e Princeton Essays (Ensaios de Princeton).

5o. A culpa do pecado de Adão é imputada imediatamente à raça como um só


todo, e essa imputação diz respeito a cada indivíduo anteriormente à sua
existência em uma condição depravada. Quando se considera cada homem
individual em si mesmo, pessoal e subseqüentemente a seu nascimento,
todos concordam em que é condenado junto com Adão por causa de uma comum
depravação e vida inerentes.

6o. Muitos têm dificuldade em conceber como é que a corrupção inerente e


herdada pode ser ao mesmo tempo culpa e corrupção. Pensam que um estado
pecaminoso deve ter

m necessariamente sua origem na escolha livre da pessoa " interessada, para que
lhe possa ser imposta a responsabilidade que a culpa traz consigo. Mas todos
reconhecem que a É corrupção inerente é culpa. Alguns explicam isso
tacitamente pelo princípio de Edwards, segundo o qual “a essência das ,
disposições virtuosas ou viciosas do coração não está na sua causa e sim na sua
natureza”. Outros, porém, sustentam que a culpa inerente ao pecado inato se
deve ao fato de estar ligado este pecado como um efeito com a apostasia de
Adão. Se, pois, se perguntar: por que é que a raça está sob maldição, e por
que Deus permite que principiemos a nossa atividade moral numa condição
depravada? - todos os ortodoxos responderão explícita ou virtualmente: “É por
causa da justíssima imputação imediata do pecado original de Adão”.

Se se perguntar: por que é que cada um de nós, depois de nascer, é julgado


culpado e não só corrompido, e por que é que somos punidos com todos os
males penais, tanto temporais como eternos, que foram aplicados a Adão?
Muitos dos

[ortodoxos responderão: “E porque o nosso próprio pecado inerente medeia a


plena imputação do pecado de Adão”.

André Quenstedt (falecido em 1688), Theo. Did. Pol., Wittenberg, 1.998: “O


pecado original de Adão nos é imputado imediatamente porquanto existimos até
aqui em Adão. Mas o seu pecado nos é imputado mediatamente, até o de
somos tratados individualmente e na própria pessoa de cada um de nós”.

F. Turretino (falecido em 1687), Genebra, Locus 9, Quaes. 9, § 14 - “A pena que


o pecado traz sobre nós ou é de privação ou é positiva. Aquela é a falta ou
privação da justiça original. Esta é a morte, tanto temporal como eterna, e em
geral todos os males que sobrevêm ao pecador... A respeito da
primeira, podemos dizer que o pecado de Adão nos é imputado imediatamente
quanto ao efeito da pena, porque é a causa da privação da justiça original, e
assim deve preceder à privação, ao menos na ordem da natureza; entretanto a
respeito da

segunda, pode-se dizer que a pena positiva é imputada mediatamente, porque lhe
ficamos expostos só depois de nascermos e nos acharmos corrompidos”.

Segue-se - (1) Que todos admitem efetivamente a impu-tação imediata e negam


que haja somente imputação mediata. (2) Muitos não fazem caso da distinção, na
qual nunca se falou antes do tempo de Plaçoeo. (3) Alguns afirmam uma e
outra, no sentido explicado acima.

14. Que prova desta doutrina nos dá a analogia que em Romanos 5:12-21 Paulo
assevera existir entre a nossa condenação em Adão e a justificação em Cristo?

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os
homens para justificação de vida.”

A analogia afirmada nessas palavras diz respeito ao fato e à natureza da


imputação nos dois casos, e não ao motivo ou base dela. Cristo é um com os
Seus eleitos porque Seu Pai, por Sua graça, O designou para isso e porque Ele
assumiu voluntariamente a nossa natureza. Adão foi um com os
seus descendentes porque foi o seu cabeça natural e porque Deus, por Sua graça,
o designou para isso. Nestes aspectos há diferença nos dois casos. Mas são
idênticos quanto à unidade que subsiste nos dois casos, e em virtude da qual pesa
sobre nós, com justiça, a culpa do pecado original de Adão e somos punidos por
causa dele, e Cristo leva com justiça sobre Si as nossas “muitas ofensas” e é
punido por causa delas, ao passo que nós recebemos o crédito de Sua justiça e
por causa dela somos aceitos, regenerados e salvos. Veja acima, Perg. 12.
Se a imputação da justiça de Cristo é imediata, imediata deve ser também a do
pecado de Adão; e, embora o motivo daquela seja a graça, nem por isso é menos
justa; e, embora o motivo desta seja a justiça, nem por isso é menos
impregnada da graça a constituição original de onde deriva.

15. Como têm explicado os teólogos ortodoxos o MOTIVO ou o hUNDAMENTO desta


imputação judicial, universalmente pressuposta, da culpa do pecado original de
Adão aos seus descendentes?

Concordam geralmente que a raça é com justiça responsável pelas conseqüências


judiciais desse pecado. Afora isso, as explicações dadas do caso têm sido
diversas e muitas vezes vagas. Veja:

Io. Agostinho entendeu a raça como essencialmente uma só unidade. Até onde se
considera Adão como uma pessoa, seu pecado foi só dele; mas até onde a raça
inteira estava nele em sua forma de existência essencial, não distribuída e
não individualizada, o seu ato de apostasia foi a apostasia da raça inteira e, sendo
culpada e também depravada a natureza comum, esta é com justiça distribuída
nesta condição e sob a condenação a cada indivíduo. A raça inteira coexistia e
era coativa em Adão, não pessoal ou individualmente, e sim virtual ou
potencialmente. Veja o que dizem o Dr. Philip Schaff, no Comentário de Lange
sobre Romanos, págs. 191-196, e o Dr. Jorge P Fisher, em New Englander, julho
de 1860. Este é um modo de pensar que ao menos pressupõe a verdade
do realismo; e a linguagem empregada neste sentido tornou-se tradicional na
Igreja e tem sido empregada num sentido geral por muitos que estavam longe de
serem realistas em filosofia, quando tratavam da nossa relação com Adão. Até
entre teólogos que rejeitaram explicitamente o realismo e o
substituíram definitivamente por outra explicação dos fatos, têm
sido conservadas formas de expressão que tiveram origem nesse realismo. A raça
inteira tem sido considerada como uma só unidade orgânica, e tem-se dito que
estivemos em Adão como os ramos estão numa árvore, etc. Explicações como
esta e outras têm continuado até aos tempos ulteriores, e têm sido mescladas com
outras essencialmente diversas, como, por exemplo, a da representação, etc.
Esta, por pouco satisfatória que seja como explicação da nossa culpa, é muito
ortodoxa,

não só pelo número e pela autoridade dos escritores que a adotaram, mas
também porque nela se acha incluído, no mais alto grau concebível, o motivo da
imputação imediata. O ato de apostasia de Adão nos é imputada como foi a
Adão “porque fomos co-agentes culpados com ele nesse ato” - Essays (Ensaios),
de Shedd.

2o. A teoria federal pressupõe a relação natural. Adão era, diante de Deus no
Paraíso, um agente moral, livre, responsável, falível, com um corpo animal e
uma natureza geradora, procriadora. Se não interviesse um milagre, levaria seus
filhos consigo em seus destinos. Tomando-se em consideração somente a lei, o
seu estado dependia, e não podia deixar de depender sempre, da sua livre
vontade (do seu livre-arbítrio). Por isso Deus, como o Curador benévolo e justo
de todas as criaturas morais, por Sua graça constituiu Adão como cabeça e
representante federal da raça como um todo e lhe prometeu, para ele e para
todos, a vida eterna, ou seja, a santidade e a felicidade confirmadas, sob a
condição de obediência temporária em condições favoráveis, e o ameaçou, para
ele e para todos, com a pena de morte, ou seja, a condenação e o desamparo, se
desobedecesse. Este foi um ato de graça em favor de Adão, porque substituiu
uma provação eterna por uma temporária. E foi também um ato de graça em
nosso favor, pelas razões mencionadas abaixo.

Esta “teologia federal” foi desenvolvida e introduzida em toda a sua plenitude de


pormenores e relações por Cocceio (1602-1669), lente em Franecker e em
Leyden. Foi considerada como um sistema muito bíblico, substituiu o
escolasticismo tanto em voga, destruiu para sempre a influência das
especulações supralapsárias e, com certas modificações, foi
aceita gradativamente tanto por luteranos e arminianos como por calvinistas.

Duas coisas, porém são historicamente certas:

Ia. Que a idéia de uma aliança com Adão, seus descendentes inclusive, havia
sido concebida claramente e proposta

enfaticamente muito tempo antes dessa ocorrência. Isso fora feito por Catherino
diante do Concilio de Trento (Hist. Cone. de Trento, de autoria do padre Paul,
págs. 175,177), e entre os protestantes por homens como Hypério (f 1567),
Oleviano (cerca de 1563) e Rafael Eglin (Hist. Prot., Theol., de Dorner, vol. 2,
págs. 31-45).

2a. Que as idéias essenciais da teoria da representação federal prevaleceram


muito geralmente entre os teólogos protestantes desde o princípio. O Dr. Carlos
E Krauth, falando da teologia luterana como um todo, diz: “Os
motivos assinalados para a imputação e a transmissão têm como centro o caráter
representativo de Adão (e Eva). As minudências técnicas da idéia federal
apareceram mais tarde, mas a idéia essencial em si existia já no começo da nossa
teologia”. Melanchthon disse: “Adão e Eva mereceram culpa e depravação para
sua posteridade, porque os nossos primeiros pais haviam sido dotados de
integridade, para que a conservassem para a sua posteridade inteira, e nesta
provação representaram a raça humana inteiramente” - Explicatio Symboli
Niceni, Corp. Refor.23: 403 e 583.

Chemnitz (1522-1586),Locitheol.,foi. 213,214, diz: “Deus depositou em Adão os


dons com os quais quis adornar a natureza humana, sob a condição de que, se
Adão os guardasse para si, guardá-los-ia para a sua posteridade; e que, se os
perdesse e se tornasse depravado, geraria filhos à sua imagem”. Hutter, (f
1616),Lb. Chr. Com. Expli. 90, Wittenberg, diz: “Adão representou a raça
humana toda inteira”. Assim também Tiago Armínio(f 1609)-(Disp. 31,Thes. 9);
João Owen (1616-1683) - (Justification, pág. 286); a Confissão de Westminster,
Cap. 7, § 2, e Cat. Maior, 22 (1646 e 1647).

Parece, pois, que quando os escritores teológicos, posteriormente ao predomínio


da filosofia realista, explicam a nossa unidade moral com Adão por meio das
frases gerais e não interpretadas de “que nós pecamos nele estando na sua
coxa”, ou “sendo ele a nossa raiz”, não se deve entender estas frases

como se excluíssem toda referência à representação ou à responsabilidade que


pesava sobre ele em virtude da aliança. Essa linguagem exprime a verdade
segundo qualquer das duas teorias, ou mesmo quando as duas são combinadas
numa só noção. E pela substituição indiscriminada dos termos vê-se que muitas
vezes as duas teorias estavam latentes debaixo de uma noção geral.

16. Que se pode aduzir com justiça em apoio do modo agostimano de explicar a
nossa unidade moral com Adão?

Essa teoria explica a nossa unidade moral unicamente sobre o fundamento de


que ele é o cabeça e a raiz natural da raça, e da conseqüente unidade física ou
orgânica da raça inteira nele.

A favor dessa teoria se pode alegar com justiça:

Io. Que, se pudermos provar que nós fomos “co-agentes culpados com Adão no
seu pecado”, teremos apresentado o melhor motivo possível, e o mais
satisfatório, para nos ser imputada com justiça e imediatamente a culpa desse
pecado.

2o. A analogia, até onde ela se estende, de todo o proceder providencial geral e
especial de Deus com os homens. As alianças feitas por Deus com Noé, Abraão
e Davi incluem os filhos junto com os pais e se apoiam nas relações naturais
de gerador e gerados. A constituição da congregação judaica, e também a da
Igreja Cristã, determinam que os direitos das crianças sejam predeterminados
pelo estado de seus pais. Este, é certo, é determinado por uma aliança baseada na
graça; mas, ao mesmo tempo, essa aliança pressupõe a mais fundamental e geral
relação natural de geração e educação. Toda condição e todo caráter humano,
independentemente de qualquer intervenção sobrenatural, são determinados por
condições históricas. Hugh Miller - Testimony ofthe Rocks (O Testemunho das
Rochas), falando como cientista cristão, diz: “E um fato amplo e palpável, como
o é a economia da natureza, que... progenitores decaídos, quando separados
completamente da

civilização e de toda intervenção de caráter missionário, tornam-se fundadores


de uma raça decaída. As iniqüidades dos pais são visitadas nos filhos”. E ainda:
“Uma das conseqüências inevitáveis da natureza do homem que o Criador
lhe deu é que, tendo deixado livre a sua vontade, a vontade do pai se tornasse o
destino do filho”.

17. Que argumentos se pode apresentar com justiça contra a suficiência dessa
explicação do motivo da imputação imediata da culpa do pecado original de
Adão?

Io. Note-se (1) que a congregação judaica, a quem foi dado o segundo
mandamento - Ex. 20:5, e os filhos de Noé, Abraão e Davi, como também a
Igreja Cristã, foram incluídos em alianças especiais baseadas na graça; (2) que,
nos casos em que Deus visita nos filhos a iniqüidade dos pais, na
providência natural e sem nenhuma consideração por quaisquer
obrigações especiais baseadas em aliança, Deus age com discrição realmente
justa, embora soberana, tratando com rebeldes que já estavam sob uma prévia
condenação justa.

2o. Quando se refere ao fato de que Adão foi nosso cabeça natural, e diz que nós
estivemos nele como “raiz” e “os galhos de uma árvore”, a noção não é
satisfatória, (1) porque é muito indefinida; (2) porque é uma explicação material
e mecânica e, por isso, deixa inteiramente de explicar a responsabilidade moral,
que é essencialmente espiritual e pessoal; (3) além disso, essa noção baseia-se,
ao menos veladamente, na falácia de que as leis do desenvolvimento natural
constituem os limites necessários da operação divina, ou como agentes
independentes de Deus, ou como co-causas com Ele. A verdade, porém, é que a
constituição da natureza é criatura de Deus e Seu instrumento. (4) Essa teoria
não dá nenhuma explicação, nem por meio de algum princípio nem por alguma
analogia, porque somente o primeiro pecado (o original) de Adão nos é
imputado e porque não nos é imputado nenhum dos pecados subseqüentes de
todos os nossos antepassados.

3o. A idéia de uma coexistência e cooperação não pessoal (veja Essays e Histor.
Christ. Doc./Ensaios e História das Doutrinas Cristãs - por Dr. W. G. T. Shedd, e
o comentário de Romanos em Lange’s Commentary, págs. 192-194, por
Dr. Philip Schaff) como a única base de uma justa responsabilidade moral não
tem apoio algum no testemunho da consciência, que é a nossa única cidadela de
defesa contra o materialismo, o naturalismo e o panteísmo. A única concei-
tuação do pecado que a consciência íntima nos dá é de que é o estado ou o ato de
um agente pessoal livre. Mesmo que fosse uma cooperação moral de natureza
impessoal, virtual, potencial, transcenderia a nossa consciência e a nossa
inteligência, e, sendo ela mesma ininteligível, não poderia lançar luz sobre os
fatos misteriosos para cuja explicação e justificação ela é invocada.

4o. Quando se procura explicar essa teoria segundo a filosofia realista, o


resultado das tentativas não nos parece mais feliz. Veja:

(1) Segundo o realismo puro, a humanidade é uma substância simples,


genérica, espiritual, que voluntariamente apostatou e se corrompeu em Adão.
Cada pessoa humana é uma manifestação individual desse espírito comum,
em conexão com uma organização corporal e separada. Mas - (a) Se fizermos tão
pouco caso da nossa consciência íntima, como poderemos defender-nos contra o
panteísmo? (b) Como podem ser justificados e santificados espíritos individuais,
enquanto o espírito geral permanece corrompido e culpado? (c) Como foi que o
Logos encarnou? (d) Em último lugar, como uma parte dessa substância
espiritual será glorificada para sempre, enquanto que outra parte será para
sempre condenada?

(2) O Dr. Shedd explica que a substância espiritual genérica que pecou foi
depois, pela agência de Adão, distribuída e desenvolvida numa série de
indivíduos. Todavia, pode porventura um espírito ser dividido, e as suas partes
podem ser distribuídas, tornando-se cada parte um agente ativo da

mesma forma como foi o todo de onde essa parte foi separada? Não será isso
confundir os atributos de espírito e matéria, e explicar o pecado como material?
E não é o pecado eminentemente espiritual e pessoal?

18. Que razões estabelecem o caráter mais satisfatório da teoria federal da


nossa unidade com Adão?

Ia. A teoria de que Adão foi nosso cabeça federal pressupõe o fato de que ele foi
nosso cabeça natural e nesse fato se apóia. Ele era nosso cabeça natural antes de
ser nosso cabeça federal. Sem dúvida ele foi feito nosso representante federal
porque era nosso progenitor natural e estava em circunstâncias tais que os seus
atos não podiam deixar de afetar os nossos destinos, e porque a nossa natureza
estava sendo provada (típica, senão essencíalmente) nele. Portanto, tudo quanto
de virtude que segundo esta explicação se pode supor que contém o fato de Adão
ser nosso cabeça natural, tudo isso a teoria federal retém.

2a. Como já mostramos, a aliança foi um ato da graça suprema de Deus para com
Adão mesmo. E o foi mais ainda para com os seus descendentes. Todas as
criaturas morais de Deus são introduzidas na existência em estado de
integridade moral que é real, mas instável. E evidente que, quanto aos homens e
aos anjos, isso é verdadeiro e também equitativo. É necessário, pois, que passem
por uma provação limitada ou ilimitada. Adão estava na condição mais vantajosa
possível de passar incólume por essa provação limitada pela graça
divina. Parece, porém, que os seus descendentes não poderiam passar por uma
provação justa, a não ser na pessoa de Adão. “Só eram possíveis três planos: (1)
Deus poderia ter deixado a raça inteira em sua relação natural para com Ele. (2)
Cada indivíduo poderia ser sujeito a uma prova individual, sob uma aliança de
obras proposta pela graça divina. (3) A raça como um todo poderia ser
representada por algum termo limitado na pessoa de seu cabeça natural. O
primeiro plano teria com certeza tido como resultado o pecado universal. O
segundo é o que os

pelagianos supõem que foi adotado. O terceiro é, sem comparação, o plano mais
vantajoso para os homens.” -Syllabus (Sumário) do Dr. Robert L. Dabney. A
provação separada das almas nascentes das crianças não era de certo preferível.
3a. Deus, decerto, como matéria de fato, sujeitou Adão a uma prova especial e
temporariamente limitada, e fez-lhe uma promessa de “Vida” e o ameaçou de
“Morte”. E esta mesma pena, da qual ele foi ameaçado, em seu sentido geral e
em seus termos especiais (Gên. 2:17; 3:16-19) tem sido infligida a toda a sua
posteridade.

4a. Esta teoria é confirmada também pela analogia que as Sagradas Escrituras
afirmam existir entre a imputação a nós do pecado original de Adão e a
imputação a Cristo dos nossos pecados e da Sua justiça a nós. Isso mostra que a
raça é uma unidade com Adão e que os eleitos são uma unidade com Cristo. Esta
analogia é por certo mais completa segundo a teoria federativa da união íntima
entre Adão e a raça do que segundo qualquer teoria que não faça caso dessa
união. Tanto a aliança da graça, que incluiu os eleitos, como a aliança das obras,
que incluiu a raça, vieram da graça divina. Cristo, pelo amor que nos teve,
tornou-se voluntariamente o Cabeça do Seu povo; Adão, pela obediência que
devia a Deus, e por interesse e dever, não se recusou a tornar-se o cabeça federal
da raça humana. Deus, por Sua graça, escolheu os eleitos pelo amor que lhes
tem, e também por Sua graça incluiu os descendentes de Adão em sua
representação, como ato de beneficência para com eles.

Não será verdade que o que restar de misterioso nesta doutrina perde-se nesse
abismo aberto pelo fato da permissão para que entrasse o pecado, diante do qual
todas as diversas escolas de teístas deste lado do véu se vêm obrigados a
prostrar-se em silêncio?
A Aliança da Graça

Todas as questões que dizem respeito ao assunto geral da redenção pertencem a


um ou outro dos seguintes títulos:

Io. O plano da redenção, incluindo a aliança da graça e a eleição eterna, de que já


se tratou acima, no Cap. 11.

2o. A Pessoa e a Obra de Cristo na consecução da redenção.

3o. A aplicação e a consumação da redenção pela operação do Espírito Santo,


junto com os meios da graça divinamente instituídos para esse fim.

A ALIANÇA DA GRAÇA

É evidente -

Io. Que, sendo Deus uma inteligência infinita, eterna e imutável, deve, desde o
princípio, ter formado um plano totalmente abrangente e imutável, de tudo
quanto iria fazer no tempo, plano no qual deviam achar-se incluídas Suas
obras de Criação, Providência e Redenção.

2o. Um plano formado pelas três Pessoas, e que, nas suas diversas partes
recíprocas, devia ser distribuído entre Elas e por Elas ser executado, como
Aquele que enviou e Aquele que foi enviado, como Dirigente e Mediador, como
Executor e Aplicador, deve necessariamente possuir todos os atributos essenciais
de uma aliança eterna entre essas Pessoas.

3o. Desde que Deus, em todos os diversos ramos do Seu governo moral, trata o
homem como um ser moral, inteligente, voluntário e responsável, segue-se que a
execução do plano da

redenção deve ser ética e não mágica em seu caráter geral, deve proceder pela
revelação de verdades e pelas influências de motivos, e o plano deve ser
apropriado voluntariamente por aqueles que lhe estão sujeitos, como uma graça
oferecida a eles, e lhe devem obedecer como a um dever imposto, sob pena
de reprovação. Daí se segue que a sua aplicação deve possuir todos os atributos
essenciais de uma aliança feita no tempo entre Deus e Seu povo.
1. Qual o uso da palavra berith nas Escrituras hebraicas?

Essa palavra encontra-se mais de duzentas e oitenta vezes no Velho Testamento e


é traduzida pelas palavras aliança, concerto e pacto.

E empregada para exprimir -

Io. Uma ordem natural estabelecida divinamente. A aliança de Deus com o dia,
com a noite, etc. Veja Jer. 33:20.

2o. A aliança de um homem com outro. Jônatas com Davi - 1 Sam. 18:3 e
capítulo 20. Davi e Abner - 2 Sam. 3:13.

3o. A aliança que Deus fez com Noé quanto à sua família, Gên. 6:18,19, quanto à
raça humana, Gên. 9:9. Tomou-se o arco-íris como um sinal dessa aliança - Gên.
9:13.

4o. A “Aliança da Graça” feita com Abraão, Gên. 17:2-7, que Paulo chama “a
promessa”, Gál. 3:17. Como sinal desta aliança foi estabelecida a circuncisão -
Gên. 17:11; cf. Atos 7:8. '

5o. A mesma aliança, feita geralmente, com Abraão, Isaque e Jacó - Ex. 2:24,
etc.

6o. A mesma aliança, com modificações especiais e temporárias de forma,


constituindo a aliança nacional-eclesi-ástica de Deus com o povo de Israel. A lei
desta aliança foi escrita por Moisés, do seu lado legal, primeiro num livro
(“o livro do concerto” - Ex. 24:7), e depois sobre tábuas de pedra (“destas
palavras tenho feito concerto contigo”, “as palavras do concerto, os dez
mandamentos”), o Decálogo, depois depositado numa caixa de ouro, “a arca do
concerto” - Núm. 10:33.

7o. A aliança feita com Arão, de um sacerdócio eterno ou perpétuo - Núm.


25:12,13.

8o. A aliança feita com Davi-Jer. 33:21,22; Sal. 89:4,5.

2. Qual o uso da palavra diatheke no Novo Testamento?


Essa palavra acha-se trinta e três vezes no Novo Testamento, e é quase sempre
traduzida por concerto ou aliança quando se refere a qualquer ato divino em
relação à igreja antiga, e por testamento quando se refere a um ato divino
em relação à igreja sob a dispensação evangélica. Seu sentido fundamental é o
de dispor, arranjar; nos clássicos essa forma específica de arranjar ou dispor
refere-se ao ato de fazer um testamento; este sentido, porém, a palavra tem
propriamente numa só passagem do Novo Testamento, a saber, em Heb. 9:16,17.
Apesar de nunca ser empregada para designar a aliança eterna da graça que o Pai
fez com o Filho como o segundo Adão em favor do Seu povo, contudo, designa
sempre ou a antiga ou a nova dispensação, isto é, o modo de administrar essa
aliança inalterável ou então alguma aliança especial feita por Cristo com Seu
povo mediante a administração da aliança da graça, como, por exemplo, as
alianças feitas com Abraão e com Davi.

Assim, a disposição feita por Deus com a igreja antiga por meio de Moisés, a
diatheke antiga, contrastada no Novo Testamento com a nova - Gál. 4:24; Heb.
8:8, foi realmente uma aliança, tanto civil como religiosa, feita entre Jeová
(Iavé) e os israelitas; ao mesmo tempo, tanto no seu elemento legal, que, “por
causa das transgressões foi posto, até que viesse a semente, a quem havia sido
feita a promessa”, como também no seu elemento simbólico e típico ensinando
verdades a respeito de Cristo, era, em sentido mais exaltado, uma dispensação ou
um modo de administrar a aliança da graça. Assim também a dispensação
evangélica atual introduzida por Cristo, que toma a forma de uma aliança entre
Ele e Seu povo, incluindo muitas promessas pela graça, dependendo de

condições, é, contudo, no seu aspecto mais exaltado, esse modo de administrar a


aliança inalterável da graça que é chamada “dispensação nova e melhor”, em
contraste com a comparativamente imperfeita “dispensação antiga e primeira”
dessa mesma aliança. Veja 2 Cor.3:14; Heb. 8:6,8-10; 9:15; Gál. 4:24.

A dispensação atual da aliança da graça por meio do nosso Salvador tem,


evidentemente, num aspecto, grande analogia com uma disposição testamentária,
porque dispensa bênçãos que só depois poderiam ser plenamente gozadas, e por
meio da Sua morte. Por conseguinte, a palavra diatheke é empregada numa única
passagem para designar a dispensação atual da aliança da graça neste seu
interessante aspecto - Heb. 9:16,17. Contudo, desde que as diversas dispensações
dessa aliança eterna são sempre representadas nos outros lugares das Escrituras
sob a forma de alianças especiais administrativas, e não sob a forma de
testamentos, é para lamentar que essa palavra grega seja tantas vezes traduzida
pela palavra específica de testamento, em vez de aliança, ou da palavra mais
geral, que é dispensação.1 Veja 2 Cor. 3:6,14; Gál. 3:15; Heb. 7:22; 12:24; 13:20.

3. Quais são as três opiniões sustentadas pelos calvinistas, a respeito das partes
componentes da aliança da graça ?

Nestas diferenças não se acha envolvida de modo algum a verdade de qualquer


doutrina ensinada nas Escrituras, mas elas dizem respeito somente à forma pela
qual essa verdade pode ser apresentada com maior ou menor clareza.

Ia. A primeira opinião diz respeito à aliança da graça como feita por Deus com
pecadores eleitos, prometendo Deus salvar os pecadores como tais sob a
condição da fé, e prometendo eles, quando convertidos, crer e obedecer.
Segundo esta

opinião, Cristo não é uma das partes da aliança, e é, sim, o seu Mediador a favor
dos Seus eleitos, e seu Fiador; isto é, Ele garante que todas as condições exigidas
dos eleitos serão cumpridas por eles mediante a graça divina.

2a. Conforme a segunda opinião, houve duas alianças, das quais a primeira,
chamada aliança da redenção, foi feita desde toda a eternidade entre o Pai e o
Filho como partes. Nela o Filho prometeu obedecer e sofrer, e o Pai prometeu
dar-lhe um povo e conceder a este, no Filho, todas as bênçãos espirituais e a vida
eterna. A segunda, chamada aliança da graça, é feita por Deus com os eleitos
como partes, sendo Cristo o Mediador e o Fiador a favor do Seu povo.

3a. Falando as Escrituras em dois Adãos, dos quais um representa a raça inteira
na economia da natureza, e o outro o corpo inteiro dos eleitos numa economia
baseada na graça, parece mais simples considerar como o fundamento de todo
o proceder de Deus em relação aos homens, somente as duas alianças
contrastadas, das obras e da graça. A primeira destas, feita por Deus no jardim
do Éden com Adão como cabeça e representante federal de toda a sua
posteridade. Das promessas, condições, penas e resultados dessa aliança já falei
sob título anterior (veja o Capítulo 17). A segunda, ou seja, a aliança da graça,
feita nos conselhos da eternidade entre o Pai e o Filho como partes contratantes.
Segundo esta opinião, o Filho entrou nesta aliança na qualidade de segundo
Adão, representou todo o Seu povo como seu Mediador e Fiador, assumiu o seu
lugar e tomou sobre Si todas as obrigações que eles tinham debaixo da aliança
das obras, violada, e tomou sobre Si o aplicar-lhes todos os benefícios
alcançados por esta eterna aliança da graça e fazer com que eles cumprissem
todos os deveres envolvidos nesta mesma aliança. Assim, pois, sob um aspecto,
esta aliança pode ser considerada como se fosse feita pela cabeça para a salvação
dos membros, e, sob outro, como se fosse feito com os membros em sua cabeça
e seu abonador. Porque aquilo que é uma graça vinda de Deus é para nós um
dever, como ora

Agostinho: “Da quod jubes, etjubes quod vise daí resulta esta complexa idéia da
aliança.

Aos olhos de Deus, todo homem do mundo está como que contemplado numa ou
noutra destas grandes alianças, ou das obras ou da graça. Devemos estar
lembrados, porém, de que nas diferentes dispensações, ou modos de administrar
a eterna aliança da graça, Cristo contratou com Seu povo diversas alianças
especiais, como provisões administrativas para levar a efeito os compromissos e
para aplicar-lhe os benefícios de Sua própria aliança com o Pai. Houve assim a
aliança feita por Jeová (Iavé) (a segunda Pessoa, veja acima, Cap. 9, Perg.
14) com Noé, o segundo cabeça natural da raça humana, Gên. 9:11,15; a aliança
feita com Abraão, o crente típico, tendo o sinal e selo visível da circuncisão, e
sendo fundada assim a Igreja visível como um agregado de famílias. Esta
aliança continua até o dia de hoje a ser a carta constitucional da Igreja visível, e
as ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor, que agora lhe são anexos,
significam e selam para os crentes os benefícios da aliança da graça, a saber, a
vida eterna, o arrependimento, a obediência etc., da parte de Deus, como coisas
prometidas; da nossa parte, porém, como coisas que são do nosso dever, isto é,
até onde devem ser feitas por nós -compare Gên. 17:9-13 com Gál. 3:15-17. A
aliança nacional feita com os judeus, que constituíam então a Igreja visível, Êx.
34:27; a aliança feita com Davi, tipo de Cristo como Rei mediatário, 2 Sam.
7:15,16; 2 Crôn. 7:18. As ofertas universais do evangelho durante a dispensação
atual são também apresentadas sob a forma de uma aliança. A salvação é
oferecida a todos sob a condição da fé, mas a fé é dom de Deus, adquirido por
Cristo para os eleitos e a esses prometido e por eles exercido quando lhes é dado.
Todo crente, quando chega ao conhecimento de Deus, faz aliança com Ele e a
renova em todos os atos de fé e oração. Mas todas e cada uma destas
alianças especiais são provisões para a administração da eterna aliança da graça,
e o seu único desígnio é comunicar os benefícios que

asseguram àqueles a quem pertencem.


Para as exposições de nossos livros simbólicos (nossos símbolos de fé) sobre
este assunto, comparem-se a Confissão de Fé, cap.7, seção 3, com o Catecismo
Maior, Pergs. 30-36.

4. Como se pode provar pelas Escrituras que realmente foi formada na


eternidade uma “aliança da graça” entre as Pessoas Divinas, em que “o Filho”
representou os eleitos?

Io. Como se mostrou no princípio deste capítulo, semelhante aliança se acha


virtualmente implícita na existência de um plano eterno de salvação formado
mutuamente por três Pessoas pelas quais deveria ser executado.

2o. Que Cristo representou os Seus eleitos nessa aliança está necessariamente
implícito na doutrina da soberana eleição pessoal para a graça e a salvação. A
respeito de Suas ovelhas, diz Cristo: “Eram teus, e tu mos deste”, e “Tenho
guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu” - João 17:6,12.

3o. As Escrituras afirmam a existência da promessa e das condições de


semelhante aliança e as apresentam juntas - Is. 53:10,11.

4o. As Escrituras afirmam expressamente a existência de semelhante aliança -


Sal. 89:4; Is. 42:6.

5o. Cristo se refere constantemente a uma comissão prévia que recebera de Seu
Pai-João 10:18; Luc. 22:29. -

6o. Cristo pede a recompensa, tendo Ele cumprido essa comissão-João 17:4.

7o. Cristo assevera constantemente que Seu povo e a glória esperada Lhe são
dados por Seu Pai como recompensa - João 17:6,9,24; Fil. 2:6-11.

5. Quais foram as partes contratantes desta aliança da graça? Quais suas


promessas ou condições da parte do Pai? E quais as suas condições da parte do
Filho?

Io. As partes contratantes foram o Pai, representando a

Deidade integralmente em Sua soberania indivisível, e por outro lado, Deus o


Filho, como o Mediador, representando todo o Seu povo eleito e, como
administrador da aliança, fazendo-Se seu Fiador pelo cumprimento de todos os
deveres envolvidos da parte deles.

2o. As condições às quais o Pai se impôs foram, (1) toda a preparação necessária,
Heb. 10:5; Is. 42:1-7; (2) apoio à Sua obra, Luc. 22:43; (3) uma recompensa
gloriosa, primeiro consistindo na Sua Pessoa teantrópica, “o nome que esta
acima de todo nome”, Fil. 2:6-11 (ARA), e o domínio universal entregue a Ele
como o Mediador, João 5:22; Sal. 110:1; e a entrega em Suas mãos da
administração de todas as provisões da aliança da graça a favor do Seu povo,
Mar. 28; 18; João 1:12; 7:39; 17:2; Atos 2:33; e, em segundo lugar, a salvação de
todos aqueles pelos quais fez a aliança, incluindo as provisões para
a regeneração, a justificação, a perseverança e a glória - Tito 1:2; Jer. 31:33;
32:40; Is. 35:10; 53:10,11 (Dick,Lect. on Theol., vol. 1, págs. 506-509).

3o. As condições a serem cumpridas pelo Filho foram, (1) que encarnasse,
nascesse de mulher, nascesse debaixo da lei, Gál. 4:4,5; (2) que assumisse e
cumprisse perfeitamente, por Seus eleitos, todas as condições violadas e todas as
penas impostas pela aliança das obras e nas quais eles incorreram, Mat. 5:17,18;
o que Ele devia fazer, primeiro, prestando uma obediência perfeita aos preceitos
da Lei, Sal. 40:8; Is. 42:21; João 9:4,5; 8:29; Mat. 18:17•, t,em segundo lugar,
sofrendo toda a penalidade em que Seu povo incorreu por seus pecados -Is. cap.
53; 2 Cor. 5:21; Gál. 3:13; Ef. 5:2.

6 .Em que sentido se afirma que Cristo é o Mediador da aliança da graça?

Io. Como o único Mediador entre Deus e o homem, Ele O contratou.

2o. Como Mediador, Ele cumpre todas as condições previstas na aliança em


favor do Seu povo.

3o. Como Mediador, Ele administra a aliança e dispensa todas as Suas bênçãos.

4o. Em tudo isso Cristo não foi um mero internúncio mediatário, expressão
aplicável a Moisés - Gál. 3:19, mas foi Mediador (1) plenipotenciário - Mat.
28:18, e (2) Sumo Sacerdote, realmente efetuando reconciliação por sacrifício -
Rom. 3:25.

5o. A írasemesítes diathékes, mediador da aliança, é aplicada três vezes a Cristo


no Novo Testamento-Heb. 8:6; 9:15; 12:24; mas, como em cada um desses casos
a palavra que significa aliança é qualificada pelo adjetivo “novo” ou “melhor”, é
evidente que não é empregada nesses casos para designar a aliança da graça
propriamente dita, e sim a nova dispensação dessa aliança que Cristo introduziu
em Sua própria Pessoa em contraste com a menos perfeita administração dela
que foi introduzida instrumentalmente por Moisés.

Na administração geral da aliança da graça, Cristo age como Mediador


sacerdotal desde a fundação do mundo - Apoc. 13:8. Por outro lado, porém, a
primeira ou “antiga dispensação” ou modo especial de administrar essa aliança
visivelmente entre os homens, o era instrumentalmente e, quanto à forma, era
ordenada por anjos na mão de um mediador, que foi Moisés (Gál. 3:19). É
precisamente em distinção desta relação mantida por Moisés com a revelação
externa dessas instituições simbólicas e típicas, por meio das quais era então
administrada a aliança da graça, que se declara que a excelência superior
da administração “nova” e “melhor” consiste em que Cristo, o “Filho em sua
própria casa”, descobre-se agora visivelmente como o verdadeiro Mediador na
administração espiritual e pessoal da Sua aliança. Por isso, Aquele que desde o
princípio fora “o único mediador entre Deus e os homens” (1 Tim. 2:5) é
revelado agora, como por via de eminência; o Mediador e Fiador dessa aliança
eterna sob sua dispensação “nova” e “melhor”, porque agora Ele é tornado
visível na plenitude de Suas graças espirituais como o administrador imediato
dessa

aliança, enquanto que sob a “primeira” e “antiga” ou “velha” dispensação Ele


estava oculto. Veja Comm. on Hebrews, de Sampson.

6o. Como Mediador Cristo obriga-Se também a dar a Seu povo a fé, o
arrependimento e todas as graças, e garante por eles que da sua parte exercerão a
fé, arrepender-se-ão e cumprirão todos os seus deveres.

7. Em que sentido Cristo é chamado Fiador da aliança da graça?

No único caso em que o termo fiador é aplicado a Cristo no Novo Testamento


(Heb. 7:22), “Jesus se tem tornado fiador de superior aliança” (ARA), a palavra
traduzida por “testamento” (modernamente traduzida por “aliança”)
significa evidentemente a nova dispensação da aliança da graça, em contraste
com a antiga. Paulo está contrastando o sacerdócio de Cristo com o dos levitas.
Cristo é Sacerdote ou Fiador segundo uma ordem superior, sob uma revelação
mais clara e uma administração mais real e mais direta da graça do que era o
caso com os sacerdotes típicos, descendentes de Arão. Cristo é nosso Fiador ao
mesmo tempo como Sacerdote e como Rei. Como Sacerdote porque, como tal,
Ele toma sobre Si e cumpre todas as nossas obrigações sob a transgredida
aliança das obras. Como Rei (os dois ofícios são inseparáveis nEle; Ele é
sempre um Sacerdote real), porque, como tal, Ele administra a Seu povo as
bênçãos da Sua aliança, para este fim entra em aliança com eles, oferece-lhes
graça sob as condições de fé e obediência, e então, como seu Fiador, dá-lhes as
graças da fé e da obediência para que eles cumpram a sua parte.

8. Que método geral caracteriza o modo pelo qual Cristo administra a Sua
aliança sob todas as dispensações?

Os benefícios adquiridos pela aliança estão postos nas mãos de Cristo para serem
concedidos a Seu povo como dádivas gratuitas e soberanas. Da parte de Cristo
são dádivas, da nossa

parte, porém, para com Ele, muitos deles são deveres. Assim, na administração
da aliança da graça, muitas dessas bênçãos adquiridas, e que devem tornar-se
efetivas por atos nossos, como, por exemplo, a fé, etc., Ele exige de nós como
deveres, e promete outros benefícios como uma recompensa que tem
por condição a nossa obediência. Pode-se dizer, pois, que Ele recompensa a
graça com graça, e faz da graça uma condição da graça. Promete a fé a Seus
eleitos e então opera neles a fé, e em seguida dá-lhes em recompensa à sua fé a
paz de consciência, a alegria no Espírito Santo, a vida eterna, etc.

9. Qual a idéia arminiana da aliança da graça? '

Os arminianos sustentam:

10. Quanto às partes da aliança da graça, que Deus a oferece a todos, e que
firma contrato realmente com todos os crentes.

2o. Quanto às suas promessas, que estas incluem todos os benefícios temporais e
eternos da redenção realizada por Cristo.

3o. Quanto às suas condições, que Deus agora aceita, por Sua graça, a fé e a
obediência evangélica como justiça, em vez de aceitar como tal somente essa
perfeita obediência legal que Ele exigiu do homem sob a aliança das obras, a
obra meritória de Cristo tendo tornado compatível com os princípios da
justiça divina que Ele faça isso. Eles ensinam que todos >s homens recebem
graça suficiente para torná-los capazes de cumprirem tais condições, se
quiserem.

10. Em que sentido pode-se chamar a fé uma condição da salvação?

A fé é uma condição«ne qua non da salvação; isto é, nenhum adulto pode ser
salvo se não crer, e todo homem que crê será salvo. Ela é, porém, uma dádiva
que vem de Deus, e é a primeira parte ou o primeiro passo da salvação. Vista do
lado divino, ela é o princípio e o índice da obra salvadora de Deus em nós. Vista
do lado humano, ela é um dever da nossa parte e é um ato nosso. Como ato
nosso, ela é, portanto, o meio que

nos une a Cristo e, assim, é o antecedente necessário, mas nunca a causa


merecedora da salvação gratuita que se segue. A fé, como condição, é
naturalmente fé viva, que necessariamente produz “confissão” e obediência.

11. Quais são as promessas que Cristo, como o Administrador da aliança, faz
a todos os que crêem?

A promessa feita por Deus a Abraão de que seria o seu Deus e o da sua
posteridade depois dele (Gên. 17:7) abrange todas as demais. Todas as coisas,
tanto físicas como morais, na providência e na graça, para o tempo e para a
eternidade, contribuirão, segundo as promessas, para o nosso bem. “Tudo é
vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus” - 1 Cor. 3:22,23.

Esta aliança do evangelho é muitas vezes chamada “aliança da redenção”. Veja


acima, Pergunta 3, § 2. “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer
será condenado” - Mar. 16:16. - -■■ ■ "3

12. Como se pode provar que Cristo era o Mediador dos homens tanto antes
como depois do Seu advento em carne?

Io. Como Mediador Ele é tanto Sacerdote como Sacrifício, e como tal temos a
afirmação de que Ele é o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”,
e de que Ele é a vítima “para que, intervindo a morte para remissão das
transgressões que havia debaixo da primeira aliança, os chamados recebam a
herança eterna” - Apoc. 13:8; Rom. 3:24; Heb. 9:15.

2o. Foi prometido a Adão - Gên. 3:15.


3o. No capítulo 3 da Epístola aos Gálatas Paulo prova que a promessa feita a
Abraão (Gên. 17:7; 22:18) é o mesmíssimo evangelho que o apóstolo mesmo
pregava. Assim Abraão tornou-se o pai dos que crêem.

4o. Em Atos 10:43 lemos: “A este dão testemunho todos os profetas, de que
todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome”. Veja
também Is. cap. 53, todo o capítulo, e 42:6.

5o. As instituições cerimoniais de Moisés eram símbolos e tipos da obra


realizada por Cristo; como símbolos, elas figuravam para os antigos, e para a sua
salvação, os merecimentos e a graça de Cristo; e como tipos, elas profetizavam
a substância daquilo que haveria de vir - Heb. 10:1-10; Col. 2:17.

6o. Cristo é o Jeová (Iavé) da antiga dispensação. Veja acima, Cap. 9, Perg. 14.

13. Como se prova que a fé era a condição da salvação antes da vinda de


Cristo, no mesmo sentido em que o é agora?

Io. Isso é afirmado no Velho Testamento - Hab. 2:4; Sal. 2:12.

2o. Os escritores do Novo Testamento elucidam sua doutrina da justificação pela


fé com o exemplo de crentes do Velho Testamento. Veja Rom. cap. 4 e Heb. cap.
11.

14. Como se pode demonstrar que Cristo, como o Administrador da aliança da


graça, fez aos membros da Igreja do Velho Testamento as mesmas promessas
que Ele nos faz?

Io. As promessas feitas ao antigo povo de Cristo abrangem claramente todas as


bênçãos espirituais e eternas; por exemplo, a promessa feita a Abraão, Gên. 17:7,
e explicada por Cristo, Mat. 22:32, e a promessa feita a Abraão, Gên. 22:18;
12:3, e explicada por Paulo, Gál. 3:16. Veja também Sal. 73:25; Ez. 36:27; Dan.
12:2,3.

2o. Também deixam clara essa verdade as expectativas e as orações do povo de


Deus - Salmos 51 e 16; Jó 30:24-27; Sal. 73:24-26. , -

15. Como foi administrada a aliança da graça do tempo de Adão ao de


Abraão?
Io. Por promessa. . t .

2o. Por meio de sacrifícios típicos instituídos na família de Adão.

3o. Por meio de revelações imediatas e manifestações pessoais de Jeová (Iavé)


ou do Mediador divino. Assim “o Senhor” é representado nos onze primeiros
capítulos de Gênesis como “falando” aos homens. Que essas promessas
e sacrifícios eram entendidos em sua verdadeira significação espiritual fica
provado pelo que se lê em Heb. 11:4-7. E que essa administração da aliança da
graça estendeu-se a muitos povos da terra durante esse período fica provado pela
história de Jó, na Arábia, de Abraão, na Mesopotâmia, e de Melquise-deque, em
Canaã.

16. Como foi ela administrada desde os dias de Abraão até aos de Moisés?

Io. A promessa feita durante o período anterior (Gên. 3:15) foi revelada na forma
de uma aliança mais definida, revelando que o Salvador prometido deveria vir da
linhagem de Abraão e Isaque, e foi exposto mais plenamente o fato de que o
mundo inteiro estava interessado na salvação que ele haveria de receber Gên.
17:7; 22:18. Este foi o evangelho anunciado primeiro - Gál. 3:8.

2o. Os sacrifícios continuaram do mesmo modo.

3o. A Igreja, ou seja, a congregação de crentes, que existira desde o princípio nos
seus membros individuais, foi então formada numa congregação geral como um
agregado de famílias, pela instituição da circuncisão, como um símbolo visível
dos benefícios da aliança da graça, e como um sinal de que se pertence à Igreja.

17. Qual é a verdadeira natureza da aliança feita por Deus com os israelitas
por meio de Moisés?

Podemos considerá-la sob três aspectos -

Io. Como um pacto nacional e político, pelo qual os israelitas, num sentido
político, tornaram-se o povo de Deus, reconheceram-se sob o Seu governo
teocrático, e tornando-se Ele, neste sentido peculiar, o seu Deus. Sob um aspecto,
o

sistema todo tinha referência a essa relação. ! ‘


2o. Sob outro aspecto, foi um pacto legal, porque a lei moral, obediência à qual
foi a condição imposta na aliança das obras, figurou nele proeminentemente, e
conformidade a essa lei foi imposta como a condição de gozarem os israelitas
do favor divino e de todas as bênçãos nacionais. Mesmo o sistema cerimonial,
no seu aspecto meramente literal, e sem referência a seu aspecto simbólico, foi
também uma regra de obras; porque “maldito aquele que não confirmar as
palavras desta lei, não as cumprindo” - Deut. 27:26.

3o. Na significação simbólica e típica de todas as instituições mosaicas, elas


foram uma revelação mais clara e mais completa do que nenhuma anterior, das
provisões da aliança da graça. Isso é comprovado abundantemente por toda
a Epístola aos Hebreus. Veja Hodge on Romans (Hodge sobre Romanos).

18. Quais as diferenças características existentes entre a dispensação da aliança


da graça debaixo da lei de Moisés e depois da vinda de Cristo?

E evidente que essas diferenças se referem somente aos modos da administração,


e não à matéria das verdades reveladas, nem da graça administrada.

Io. Antes da vinda de Cristo, a verdade era ensinada por meio de símbolos que
eram ao mesmo tempo tipos da propiciação real pelo pecado que se deveria fazer
depois. Agora a verdade é revelada na clara história evangélica.

2o. Essa revelação era menos completa e também menos clara.

3o. Estava embaraçada com tantas cerimônias que era uma dispensação
comparativamente carnal. A dispensação atual é espiritual.

4o. Estava limitada a um só povo. A dispensação atual, livre de todas as


organizações nacionais, abrange o mundo inteiro.

5o. É evidente que o modo anterior de administração foi preparatório para o


atual, que é o modo final.

Quanto às opiniões calvinistas sobre a aliança da graça, vejaTurretino,Inst. Theo.


Elench., Loc. 12; Witsio,Mcon. ofthe Covs. Quanto às arminianas, veja as obras
de Fletcher elnst. of Theo., de Ricardo Watson.
> JC :-
1

As versões e as edições modernas da Bíblia em geral têm corrigido esse


engano de uma forma ou de outra. Nota de Odayr Olivetti.
A Pessoa de Cristo

1. Como se pode provar que já veio o Messias prometido nas

Escrituras judaicas, e que Jesus Cristo é essa Pessoa? . .

Provamos anteriormente que Ele já veio, mostrando que as condições da época e


as circunstâncias que, segundo as declarações proféticas haveriam de assinalar o
Seu advento, não são mais possíveis. Provamos, em segundo lugar, que Jesus de
Nazaré foi essa Pessoa, mostrando que todas aquelas condições foram cumpridas
nEle.

2. Como se pode mostrar que Gên. 4:10 se refere ao Messias,

e como essa passagem prova que o Messias já veio? ■

A palavra traduzida porShüo (Figueiredo) Siló (Almeida), “aquele que deve ser
enviado”, significa paz e é aplicada ao Messias - Cf. Miq. 5:2,5 com Mat. 2:6.
Além disso, é só o Messias que foi “a expectação das gentes”, ou a quem
serão congregadas as gentes ou nações. Veja Is. 55:5; 60:3; Ag. 2:7. Além disso,
os judeus sempre entenderam a passagem como se referindo ao Messias.

Até ao nascimento de Jesus Cristo, Judá retinha o cetro e tinha legislador, ou,
como diz Figueiredo, General; mas na destruição de Jerusalém, setenta anos
depois, Judá perdeu todo o poder político. Se, pois, o Messias não tivesse vindo
antes dessa catástrofe, a profecia seria falsa. .
' } ' - l ’ L

3. E quanto àprofecia de Daniel 9:24-27? -

Essa profecia refere-se explicitamente ao Messias e à Sua obra peculiar e


exclusiva. Que as setenta semanas mencionadas aqui devem ser interpretadas
como semanas de anos, é certo,

Io. Porque era costume judaico dividir assim o tempo; 2o. Porque é o uso comum
nos livros proféticos. Veja Ez. 4:6; Apoc. 12:6; 13:5; e 3o. Porque a interpretação
literal das palavras, como setenta semanas, é impraticável.
A profecia é que em sete semanas de anos, ou em quarenta e nove anos depois de
findo o cativeiro, a cidade seria reedifi-cada; que em sessenta e duas semanas de
anos, ou quatrocentos e trinta e quatro anos depois de reedificada a cidade,
apareceria o Messias; que Ele, durante o período de uma semana de
anos, confirmaria a aliança, e que, no meio da semana, seria cortado.

Há alguma dúvida quanto à data exata da qual se deve começar calcular; mas a
maior diferença não é mais de dez anos, e a data mais provável faz a profecia
coincidir exatamente com a história de Cristo. '

4. Quais as profecias sobre a data, o lugar e as circunstâncias do nascimento


do Messias, que foram cumpridas em Jesus de Nazaré?

Quanto à data, foi predito que Ele viria antes que se tirasse o cetro de Judá (Gên.
49:10), no fim de quatrocentos e noventa anos depois de sair o edito mandando
reedificar Jerusalém e enquanto existia ainda o segundo templo-Ag. 2:9; Mal.
3:1.

Quanto ao lugar e às circunstâncias, devia nascer em Belém (Miq. 5:2) da tribo


de Judá e da família de Davi (Jer. 23:5,6). Devia nascer de uma virgem (Is. 7:14)
e ser precedido de um precursor (Mal. 3:1). Tudo isso cumpriu-se em
Jesus Cristo, e nunca mais se poderia cumprir em outrem porque todas as
genealogias de famílias e tribos se perderam.

5. Quais características notáveis, descritas no Velho Testamento, verificaram-


se em nosso Salvador?

Ele deveria ser Rei e Conquistador de um império universal (Sal. 2:6 e 45; Is.
9:6,7), e, ao mesmo tempo, ser “objeto de

desprezo e o último dos homens, um varão de dores”, e ser “cortado da terra dos
viventes” - Is. cap. 53 (Figueiredo). Deveria ser uma luz para os gentios e sob a
Sua administração deveria mudar-se a condição moral do mundo inteiro -
Is. 42:6; 49:6; 60:1-7. Sua morte deveria ser expiatória - Is. 53:5,9,12. Ele
deveria entrar na cidade montado num jumentinho - Zac. 9:9, e ser vendido por
trinta moedas de prata. - Zac. 11:12,13. Suas vestes deveriam ser repartidas
por sorteio. - Sal. 22:19. Deveriam dar-lhe vinagre a beber - Sal. 49:22. As
próprias palavras que deveria pronunciar na cruz foram preditas - Sal. 22:2. Foi
predito também que Ele seria traspassado, Zac. 12:10, e que a Sua morte e a Sua
sepultura seriam com os ímpios e com os ricos - Is. 53:9.
VejaEvidences ofChristianity (Evidências do Cristianismo), do Dr. Alexander.

6. Que obra peculiar o Messias deveria realizar e que foi realizada por Cristo
?

Todos os Seus ofícios mediatários foram substancialmente preditos. Ele deveria


realizar a obra de um profeta (Is. 42:6; 9:3) e a de um sacerdote (Is. 53:10), para
fazer expiação pelo pecado (Dan. 9:24). Como Rei, deveria administrar as
diversas dispensações do Seu reino, pondo termo a uma e introduzindo outra,
selando as visões e as profecias, fazendo cessar os sacrifícios e oblações (Dan.
9:24), e fundando um reino que nunca teria fim (Dan. 2:44).

7. Cinco pontos envolvidos na doutrina da Igreja quanto à Pessoa de Cristo:

Io. Jesus de Nazaré é verdadeiro Deus, possuindo a natureza divina e todos os


atributos essenciais da Deidade.

2o. E também verdadeiro homem, sendo a sua natureza humana derivada por
geração (comum) do tronco de Adão.

3o. Estas duas naturezas continuam unidas em Sua Pessoa, mas sempre sendo
verdadeira divindade e verdadeira humanidade, sem mistura nem mudança
quanto à essência, de modo

que Cristo possui ao mesmo tempo, na unidade da Sua Pessoa, dois espíritos,
com todos os seus atributos essenciais, a consciência, a mente, os sentimentos e
a vontade humanos, e a consciência, a mente, os sentimentos e a vontade
divinos. (“Gemina substancia, gemina mens, gemina sapientia robur et virtus ”

- Admonitia Neostadtiensis, 1581, da qual Ursinus foi o autor principal). Mas


não convém que procuremos explicar a maneira pela qual os dois espíritos
afetam mutuamente um ao outro, nem até onde eles se unem numa só
consciência, nem como as duas vontades cooperam numa só atividade na
união da Pessoa única.

4o. Não obstante isso, eles, unidos assim, constituem uma só Pessoa, e a esta
única Pessoa pertencem os atributos das duas naturezas.

5o. Esta Personalidade não é personalidade nova constituída pela união das duas
naturezas no ventre da virgem, mas é a Pessoa eterna e imutável do logos, a qual
no tempo assumiu uma nascente natureza humana e sempre depois abrange
a natureza humana com a divina na Personalidade que pertence eternamente à
divina.

8. Como se pode provar que Cristo é realmente homem?

E chamado homem - 1 Tim. 2:5. Seu título mais comum é “o Filho do homem”,
Mat. 13:37; também posteridade ou descendência (semente) da mulher, Gên.
3:15, de Abraão, Atos 3:25; Filho de Davi, e fruto dos seus lombos, Luc. 1:32;
Atos 2:30; feito de mulher, Gál. 4:4. Ele tinha um corpo, comia, bebia, dormia,
crescia em estatura (idade), Luc. 2:52, e durante uma vida de trinta e três anos
era reconhecido por todos como um verdadeiro homem. Morreu em agonia na
cruz, foi sepultado, e provou a Sua identidade por meio de sinais físicos

- Luc. 24:36-44. Tinha uma alma racional, dado que Ele crescia em sabedoria.
Tinha os sentimentos comuns da nossa natureza, visto que Ele “moveu-se muito
em espírito”, perturbou-Se e chorou - João 11:33,35. Ele amava Marta, Maria,
Lázaro e o

discípulo que estava recostado em Seu peito -João 11:5; 13:23.

A absoluta deidade de Cristo já foi provada acima, Cap.9.

9. Como se pode provar que as duas naturezas em Cristo constituíam somente


uma Pessoa?

Em muitas passagens é feita referência às duas naturezas, quando é evidente que


a referência é a uma só Pessoa - Fil. 2:6-11. Noutras muitas passagens fala-se nas
duas naturezas como unidas. Nunca se diz que a deidade abstratamente, ou que
um poder divino, fosse reunido ou manifestado numa natureza humana, mas o
que se diz concretamente da natureza divina é que uma Pessoa divina foi unida a
uma natureza humana - Heb. 2:11-14; 1 Tim. 3:16; Gál. 4:4; Rom. 8:3 e 1:3,4;
João 1:14; 1 João 4:3.

A união de duas naturezas em uma só Pessoa é ensinada claramente também nas


passagens em que os atributos de uma das naturezas são afirmados da Pessoa,
enquanto, ao mesmo tempo, esta é designada por um título derivado da
outra natureza. Assim, são atribuídos a Cristo atributos e ações divinos em certas
passagens, enquanto que a Pessoa a quem são atribuídos é designada por um
título divino - Atos 20:28; Rom. 8:32; 1 Cor. 2:8; Mat. 1:23; Luc. 1:31,32; Col.
1:13,14.

Por outro lado, há passagens nas quais são atribuídos a Cristo atributos e ações
divinos, enquanto que a Sua Pessoa é designada por um título humano-João
3:13; 6:62; Rom. 9:5; Apoc. 5:12.

10. Que princípio geral se deve seguir na explicação das passagens em que se
atribuem a Cristo os atributos de uma das naturezas mas que pertencem à
outra?

O seguinte: a Pessoa de Cristo, constituída de duas naturezas, é uma só. Ele


pode, portanto, ser designado indiferentemente por títulos humanos ou divinos, e
atributos tanto divinos como humanos podem ser-Lhe atribuídos
verdadeiramente. Quando Ele morreu, ainda era Deus, e quando

chama para a vida os mortos, ainda é homem.

As ações mediatárias pertencem a ambas as naturezas. Devemos lembrar, porém,


que, enquanto a Pessoa é uma só, as naturezas, como tais, são distintas. O que
pertence a qualquer das naturezas é atribuído à Pessoa única, à qual as duas
naturezas pertencem; mas o que é peculiar a uma delas nunca é atribuído à outra.
Deus, isto é, a Pessoa divina, que é ao mesmo tempo Deus e homem, deu Seu
sangue por Sua Igreja, isto é, morreu quanto à sua natureza humana (Atos
20:28). Mas nunca se afirma que as ações e os atributos humanos são da
natureza divina de Cristo, nem que as ações e os atributos divinos são da Sua
natureza humana.

11. Como os teólogos definem as designações “natureza” e j

“pessoa” conforme se acham elas envolvidas nesta doutrina? ;

Na doutrina da Trindade, a dificuldade é que um só Ser : espiritual existe como


três Pessoas. Na doutrina da Encarnação, ■ a dificuldade é que dois espíritos
existem reunidos em uma só Pessoa.

“Natureza”, nesta conexão, tem sido definida como “essência” ou “substância”.

“Pessoa”, nesta conexão, tem sido definida como “uma substância individual
que, nem é parte de alguma outra coisa, nem é sustentada por ela”, ou como
“uma subsistência individual e inteligente,per se subsistens” (auto-subsistente).
A natureza humana de Cristo nunca foi “per se subsistens”, mas, tendo
começado a ser como um gérmen gerado numa união pessoal com a eterna
Segunda Pessoa da Deidade, pode, l portanto, ser desde o princípio, “in altero
sustentatur” (ser j sustentado por outrem). j

12. Que efeitos esta união pessoal produziu na natureza divina ' de Cristo?

Sua natureza divina, sendo eterna e imutável, e, por conseguinte, incapaz de


aumento, não sofreu mudança essencial

por esta união. A inteira essência divina e imutável continuou a subsistir como o
eterno Verbo pessoal, abrangendo então uma perfeita natureza humana na
unidade da Sua Pessoa e como o órgão da Sua vontade. Contudo, em
conseqüência desta união, foi alterada a relação da natureza divina com a criação
toda, porque Cristo tornou-se, assim, Emanuel, “Deus conosco”, “Deus que se
manifestou em carne”.

13. Que efeitos esta união pessoal produziu na natureza humana de Cristo?

A natureza humana, sendo perfeita segundo a sua espécie, começou a existir em


união com a natureza divina e como uma parte constitutiva da Pessoa divina, e
como tal continua sendo para sempre uma natureza humana sem mistura e
sem mudança essencial.

O efeito produzido por essa união na natureza humana de Cristo foi, portanto -

Io. Uma exaltação de todas as excelências humanas acima do nível da natureza


dos homens e de outras criaturas - João 1:14; 3:34;Is. 12:2.

2o. Uma exaltação sem igual à dignidade e glória, sobre todo nome que se
nomeia, e uma comunhão de honra e glória com a Deidade, em virtude da Sua
união com ela numa Pessoa divina.

3o. Como se dá com a união de alma e corpo no homem, a alma, embora privada
absolutamente de extensão em si mesma, nem por isso deixa de estar presente ao
mesmo tempo, desde a cabeça até às plantas dos pés, em virtude da sua
união com o corpo - isto é, está virtualmente, se não essencialmente, presente na
percepção e na volição ativas - assim também a natureza humana de Cristo, em
virtude da sua união pessoal com o Verbo eterno, está (a) presente virtualmente
(apesar de localmente no céu) com Seu povo até às partes mais remotas da terra
ao mesmo tempo, simpatizando (isto é, em empatia real) com cada membro do
Seu povo como alguém que também

foi tentado; (b) praticamente inexaurível, apesar de tudo quanto se Lhe pede no
exercício constante das funções mediatárias que envolvem ambas as naturezas.

Daí vem a doutrina da Igreja a respeito da “communicatio idiomatum


velproprietatum” (comunicação de peculiaridades ou de propriedades) das duas
naturezas de Cristo. Esta doutrina é afirmada no concreto a respeito da Pessoa,
mas negada no abstrato a respeito das naturezas; é afirmada utrius naturce
adpersonam (das duas naturezas para com a Pessoa), mas é negada
utrius naturce ad naturam (das duas naturezas para com esta ou
aquela natureza).

14. Até onde está incluída a natureza humana de Cristo no culto que Lhe é
devido?

E preciso que distingamos entre o objeto e os motivos de culto. O único motivo


por que devemos culto a alguém é que possui atributos divinos. O objeto de
culto não é a excelência divina no abstrato, e sim a Pessoa divina de quem
essa excelência é um atributo. Ao Deus-homem, existindo Ele em duas
naturezas, devemos culto na perfeição de Sua Pessoa inteira, unicamente em
razão de Seus atributos divinos.

15. Qual a analogia apresentada na união de duas naturezas nas pessoas dos
homens ?

Io. Todas as pessoas humanas compreendem duas naturezas: (a) um espírito


cônscio, auto-operando, auto-determinando, absolutamente sem extensão no
espaço, e(b) um corpo altamente organizado, composto de matéria passiva.

2o. Estes constituem uma só pessoa. O corpo é parte da pessoa.

3o. Estas naturezas permanecem distintas, nunca se tornando comuns ao corpo


material os atributos do espírito, nem os atributos do espírito ao corpo, mas os
atributos, tanto do espírito como do corpo, são comuns a uma e à mesma
pessoa. Esta muitas vezes é designada por um título próprio de uma

das naturezas, sendo que aquilo que se afirma é próprio da outra. ' -: ' 1

4o. O espírito é a pessoa. Quando ele deixa o corpo, este é sepultado como
cadáver, enquanto que o espírito vai para o Juízo. Na ressurreição, o espírito
reassumirá o corpo correspondente à sua pessoa.

5o. Enquanto estes se acham unidos, a pessoa possui e manifesta os atributos de


ambas as naturezas; e, em virtude da união, o espírito sem extensão acha-se
presente onde quer que o corpo esteja, com extensão, e a matéria inerte e
insensível dos tecidos nervosos exulta com sensações e palpita com desejos pois
esses nervos são sensores da alma que sente e deseja.

16. Qual a opinião peculiar introduzida na teologia pelos luteranos quanto à


communicatio idiomatum? Quais as razões para rejeitá-la?

Junto com o processo, e nele, pelo qual eles mantêm sua opinião peculiar sobre a
presença da própria substância do corpo e do sangue de Cristo em, com e sob o
pão e o vinho na Eucaristia, Lutero e os que o seguiram introduziram e
elaboraram a doutrina de que, em conseqüência da união hipostática das
naturezas humana e divina na Pessoa única de Cristo, cada uma das duas
naturezas participa dos atributos essenciais da outra.

Quando se explicavam mais completamente a esse respeito, não afirmavam que


a natureza divina participa de qualquer atributo distintivo da natureza humana,
nem que a natureza humana tem parte em todos os atributos da Sua deidade, mas
afirmavam simplesmente que a humanidade de Cristo tinha parte em Sua
deidade nos atributos de onisciência, onipresença e do poder de dar a vida.

Os defensores dessa doutrina dividem-se em duas escolas:

Ia. A escola mais extrema, e, logicamente, mais conseqüente, representada por


João Brentz e os teólogos de Tubingen.

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531

Estes sustentavam que o próprio ato de encarnação efetuou, como sendo a


essência da união pessoal, que cada uma das naturezas participasse das
propriedades da outra. Desde a sua concepção no ventre da virgem, a natureza
humana de Cristo foi dotada inalienavelmente de toda a majestade divina e
de todas as propriedades que a constituem. Estas estavam necessariamente em
exercício desde o princípio, mas não se manifestaram durante a Sua vida
terrestre, estando ocultas. Os fatos da vida de Cristo durante o Seu estado de
humilhação têm, portanto, sua explicação numakrypsis voluntária, ou seja, num
ocultamento das propriedades divinas da Sua natureza humana.

2a. A outra opinião, menos extrema, é a representada por Martinho Chemnitz e


os teólogos de Giessen. Eles também sustentavam que, pelo próprio ato de
encarnação, a humanidade de Cristo foi dotada de perfeições divinas. Que,
quanto à sua relação ao espaço, Logos non extra carnem, et caro non
extra Logon (ou seja, o Logos não sai dos limites da carne, e esta não sai dos
limites do Logos). Ensinavam, contudo, que o exercício dessas perfeições não
era necessário (no sentido filosófico da palavra), e, sim sujeito à vontade da
Pessoa divina, a qual fazia a Sua natureza humana achar-se presente onde e
quando quer que o quisesse, e a qual, durante o período da Sua humilhação na
terra, voluntariamente esvaziou (kenosis) a Sua natureza humana do seu uso e do
exercício de seus atributos divinos. Diz o Prof. A. B. Bruce, D.D., em
Humiliation of Christ, Lect. 3 (A Humilhação de Cristo, Pales. 3) - “Os luteranos
sustentaram a exaltação da humanidade de Cristo para encontrar a Sua deidade e
(enquanto estava na terra) a kenosis da Sua humanidade. Os reformados
insistiram na realidade da vida humana de Cristo e no auto-esvaziamento
(kenosis) da Sua deidade para encontrar a Sua humanidade. Os luteranos
sustentaram a vida dupla da Sua humanidade glorificada (a presença local e
a onipresença não local). A tendência reformada foi reconhecer a vida dupla do
Logos - totus extra Jesum e totus in Jesus”

(totalmenteforadejesuse totalmente em J esus). ^ ?

Nós rejeitamos a opinião luterana:

Io. Porque não é ensinada na Bíblia. Funda-se realmente em sua errônea


interpretação das palavras de Cristo: “Isto é o meu corpo”.
2o. E impossível conciliá-la com os fenômenos da vida terrena de Cristo.
Aumenta a dificuldade do problema para cuja explicação ela foi inventada.

3o. Ela virtualmente destrói a encarnação, porque, segundo essa doutrina, a


natureza divina assimila a natureza humana atribuindo a esta certas propriedades
daquela, ab-rogando-a assim virtualmente e deixando efetivamente só a divina.

4o. Envolve a falácia de se conceber que as propriedades são separáveis das


substâncias das quais elas são as forças ativas, e assim se expõe às mesmas
críticas a que se expõe a doutrina da transubstanciação.

17. Como se pode provar que a doutrina da encarnação é doutrina fundamental


do evangelho?

Io. Esta doutrina e todos os seus elementos são ensinados nas Escrituras com
suma clareza e proeminência.

2o. Sua verdade se acha envolvida em todas as demais doutrinas de todo o


sistema de fé cristã; em todos os atos mediatários de Cristo, como Profeta,
Sacerdote e Rei; na história inteira do Seu estado de humilhação, e em todos
os aspectos do Seu estado de exaltação; e, sobretudo, na significação e valor do
Seu sacrifício vicário, que é o coração do evangelho. Se Cristo não é na mesma
Pessoa tanto Deus como homem, ou não poderia morrer, ou a Sua morte não
teria valor. Se Ele não fosse homem, a Sua história seria um mito; se não fosse
Deus, seria idolatria prestar-Lhe culto, e, ao mesmo tempo, não Lhe prestar culto
seria desobedecer ao Pai - João 5:23.

3o. As Escrituras declaram expressamente que essa doutrina é essencial - 1 João


4:2,3.

18. Quais os credos em que esta doutrina tem sido mais acuradamente
definida? Epor quais concílios?

Io. O Credo do Concilio de Nicéia, emendado pelo Concilio de Constantinopla,


como também o Credo de Atanásio e o de Calcedônia, são exposições acuradas e
autorizadas de toda a Igreja quanto a esta doutrina. Eles se acham no Cap. 7,
acima.

2o. A decisão do Concilio de Éfeso a respeito, 431 d.C., condenando os


nestorianos e afirmando a unidade da Pessoa; a decisão do Concilio de
Calcedônia (451) contra Êutico, afirmando a distinção das naturezas (contra a
idéia de fusão, de Êutico).

3o. A decisão do Concilio de Constantinopla (681) contra os monotelitas (que


afirmavam uma só vontade na Pessoa única de Cristo), afirmando que a natureza
humana de Cristo retém na completa integridade uma vontade separada como
também uma inteligência separada. Essas decisões conciliares concluíram a
definição, aperfeiçoada pouco a pouco, da Igreja sobre a Pessoa de Cristo, e têm
sido aceitas por todos os protestantes.

19. Como se pode classificar todas as heresias sobre este assunto ?

No sentido de que elas procuram evitar a impossibilidade

que a razão humana encontra na tentativa de compreender perfeitamente a


compatibilidade mútua de todos os elementos desta doutrina, (1) na negação do
elemento divino; ou (2) na negação do elemento humano em sua realidade e
integridade; ou, (3) na negação da unidade da Pessoa abarcando ambas
as naturezas.

20. Quais partidos sustentam que Jesus era mero homem?

Na Igreja Primitiva os ebionitas e os alogi. No tempo da Reforma, os socinianos.


Em nossos dias os racionalistas e os unitários. Quanto à sua história e suas
doutrinas, veja acima, Cap. 6, Pergs. 11 e 13, e abaixo, no fim deste capítulo.

21. Quais partidos negam a verdadeira humanidade de Cristo, epor quais


motivos?

Estas especulações tiveram todas uma origem gnóstica. Daí veio a convicção de
que a matéria é má em si mesma, e que inúmeros aons, ou grandes emanações
espirituais de Deus, que é o Absoluto, medeiam entre Este e o mundo.
Ospnêumata vêm de Deus, mas a matéria existe por si mesma e as almas animais
vêm de um ser menor do que Deus. Por isso os docetce (docetistas; dedokéo,
supor, pensar, parecer) sustentavam que a natureza humana (corpo e alma) de
Cristo era um mero fantasma ou aparência, sem nenhuma existência real
e substancial; que não passava de uma visão ou fantasma através do qual o
Logos quis manifestar-se aos homens por algum tempo.
22. Em que consiste a heresia apolinariana?

Apolinário, bispo de Laodicéia, cerca do ano de 370, tido

como ortodoxo e erudito, ensinava que, assim como o homem se constitui de um


corpo, de uma alma animal e de uma alma racional, todos compreendidos em
uma só pessoa, assim em Cristo o Logos divino toma o lugar do pnêuma
humano, e Sua Pessoa única se constitui do pnêuma divino, ou alma racional, e
da alma animal e corpo humanos. Livrou-se ele assim da dificuldade ligada à
existência de dois espíritos racionais, autoconscientes e autodeterminantes na
mesma pessoa, mas, ao mesmo tempo, anulou o fato revelado de que Cristo é
ao mesmo tempo verdadeiro homem e verdadeiro Deus. A doutrina de
Apolinário foi condenada pelo Concilio de Constantinopla, em 381d.C.

23. Em que consiste a heresia nestoriana?

O termo nestoriano exprime uma tendência exagerada de especular sobre este


assunto, antes que uma falsa doutrina positiva e definível. E a tendência de
acentuar tanto a distinção das duas naturezas completas e não unificadas

de Cristo que se torna obscuro o fato igualmente revelado da unidade da Sua


Pessoa.

Essa tendência foi mais conspícua nos escritos de Teodoro de Mopsuéstia, chefe
da escola antioquiana, e, em razão da sua influência, ela tornou-se a
característica geral dessa escola. A teologia da Igreja Oriental dos séculos quarto
e quinto estava dividida entre as duas grandes escolas rivais de Alexandria e de
Antioquia. “Na escola de Alexandria predominava um modo intuitivo de pensar,
inclinando-se para o misticismo; na de Antioquia predominava uma inclinação
lógica e reflexiva da inteligência” - Neander,//£sí., Tradução de Torrey, vol. 2,
pág. 352.

Nestório, que havia sido monge em Antioquia, veio a ser patriarca de


Constantinopla. Ele censurou a aplicação da frase “Mãe de Deus” à virgem,
afirmando que Maria dera à luz ao Cristo e não a Deus. Cirilo, patriarca de
Alexandria, contestou-o, e ambos lançaram-se anátemas mútuos. Nestório,
segundo o modo antioquiano de pensar, julgava que se devia
distinguir claramente entre as naturezas divina e humana de Cristo e admitia
somente uma synáfeia (junção) de uma e outra, e uma enoikesis (presença
permanente) da deidade. Cirilo, ao contrário, foi levado pelas tendências da
escola egípcia (de Alexandria) a sustentar a perfeita união das duas naturezas.
Nestório, como representante do seu partido, foi condenado pelo Concilio
de Éfeso, em 431 d.C. -Hist. ofDoct., de Hagenbach, Vol. 1, § 100.

24. Em que consiste a heresia eutiquiana ou monofisita?

Eutico era abade em Constantinopla e discípulo extremo de Dióscuro, sucessor


de Cirilo. Ele levou a sua oposição aos nestorianos ao ponto de confundir as
duas naturezas de Cristo, sustentando, por isso, que Ele possuía uma só
natureza, resultante da união da deidade com a humanidade. Os que adotaram
esta opinião foram chamados monofisitas. Foram condenados pelo Concilio de
Calcedônia, 451 d.C., que adotou a fórmula comunicada por Leão, o Grande,
bispo de Roma, a

Flaviano, patriarca de Constantinopla: “Totus in suis, totus in nostris”(qae


afirma a totalidade da natureza divina e a totalidade da natureza humana na
Pessoa de Cristo). . ■ ;:

25. Qual é a doutrina dos monotelitas?

O Imperador Heráclio procurou reunir à Igreja os monofisitas adotando, por


convenção, a decisão do Concilio de Calcedônia quanto à coexistência de duas
naturezas distintas na Pessoa única de Cristo, com a emenda de que,
em conseqüência da união pessoal, havia em Cristo uma só energia divino-
humana e uma só vontade. Em oposição a isto, o Sexto Concilio Ecumênico de
Constantinopla (681 d.C.), com a cooperação do bispo de Roma, adotou a
doutrina de duas vontades em Cristo, duas energias, como doutrina
ortodoxa, mas decidiu que sempre se deve conceber a vontade humana dEle
como subordinada à vontade divina - Hagenbach, Hist. ofDoct., § 104. Com esta
decisão completou-se a definição desta doutrina como esta é recebida pela Igreja
toda, tanto romana e grega como protestante. - . - . . : . . ■.

26. Em que consiste a doutrina moderna de Kénosis?

A antiga doutrina sociniana ensinava que Jesus, verdadeiro homem, depois da


Sua ascensão passou por uma apoteose, pela qual foi exaltado a uma condição e
a uma ordem intermediárias entre Deus e o universo. Os eutiquianos ensinavam
que a natureza humana de Cristo foi absorvida pela divina e assimilada a esta.
Os luteranos ensinavam que a natureza humana foi dotada de propriedades da
divina. A doutrina moderna de kénosis (quénose) é que, no caso de Jesus, o
homem se tornou Deus e não foi unido pessoalmente à divindade, mas que
Deus tornou-se literalmente homem. Esta doutrina é ensinada com diversas
modificações pelos doutores Thomasius, Hoffmann, Ebrard, Martensen e outros,
e mui claramente pelo Dr. W. F. Gess, numa obra muito bem traduzida (para o
inglês) pelo Dr. J. A. Reubelt. j ■

O termo kénosis significa um despejar voluntário de Si mesmo, da Sua deidade,


pelo Logos. E derivado de Fil. 2:7: “aniquilou-se a si mesmo”, e tem o apoio de
declarações como a de João 1:14: “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”.

1. O Pai só é de Si mesmo. Ele comunica eternamente a plenitude da Sua


essência e das perfeições divinas ao Filho, dando-Lhe assim o ter vida em Si
mesmo. O Filho, dimanando assim eternamente do Pai, une-Se ao Pai na
comunicação da Sua plenitude ao Espírito, eéa vida do mundo.

2. “Mas o Logos é Deus; tem vida em Si assim como a tem o Pai; a Sua
volição quanto a receber a vida .do Pai é a fonte da Sua vida; Sua consciência de
Si é Seu próprio ato. Daqui se segue que Ele pode suspender Sua consciência
de Si.”

3. Condescendendo em ser concebido no ventre da virgem, o Logos despiu-Se


temporariamente da Sua consciência de Si e com ela da comunicação da vida do
Pai ao Filho, pela qual o Filho tem vida em Si assim como a tem o Pai, e por
isso estiveram suspensas a Sua onisciência, a Sua onipresença e o Seu governo
onipotente do mundo.

4. Quando a substância do Logos recobrou a Sua consciência de Si como o


menino Jesus, o foi como um verdadeiro menino humano, e Ele cresceu e se
desenvolveram o Seu conhecimento e as Suas faculdades como um
verdadeiro homem sem pecado, dotado de graça preeminente e da plenitude do
Espírito de Deus que nEle habitava.

5. Quando Jesus foi glorificado, tornou a começar a eterna e anteterrena


comunicação da plenitude da vida divina, do Pai ao Filho, e Este, embora
continue a ser verdadeiramente humano, não é menos verdadeiramente Deus. E
outra vez eterno, onisciente, onipresente, onipotente. “Assim um homem é
admitido à vida trinitária da Deidade, da glorificação do Filho e por ela” -
Reubelt, Script. Doct. Per. Christ. - Gess.
Essa doutrina - Io. É uma ofensa feita às infinitas perfeições e à imutabilidade da
natureza divina.

2o. Não é compatível com o fato de que Cristo, quando na terra, era Deus real e
absoluto.

3o. Tampouco é compatível com o fato de que a humanidade de Cristo foi uma
humanidade real, gerada da semente de Abraão.

4o. Admite-se em geral que é uma doutrina diversa da fé imemorial e universal


da Igreja.

Para uma discussão completa, veja Humiliation of Christ (A Humilhação de


Cristo), de autoria do Dr. A. B. Bruce.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

As igrejas romana, grega e protestante concordam todas em aceitar as definições


dos credos de Nicéia e de Calce-dônia, e o Credo de Atanásio (assim chamado).
Veja acima, Cap.7.

A doutrina LUTERANA quanto às relações das duas naturezas:

Formula Concordice, Parte 1, Epitome, cap. 8, §§ 11 e12: “Por isso, não


somente como Deus, senão também como homem, Ele sabe todas as coisas e
tem o poder de fazer tudo, está presente com todas as criaturas, e tem nas
Suas mãos e debaixo dos Seus pés todas as coisas que estão no céu, na terra e
debaixo da terra. “E-me dado todo o poder no céu e na terra”, e “subiu acima de
todos os céus, para cumprir (ou “encher”) todas as coisas”. Estando presente em
toda parte, Ele pode exercer este poder, e não há coisa alguma que Ele não possa
fazer ou que Lhe seja desconhecida. Segue-se, além disso, e muito facilmente,
que Ele, achando-Se presente, pode distribuir Seu verdadeiro corpo e Seu
verdadeiro sangue na Ceia do Senhor. Isso, porém, não se efetua segundo o
modo e a propriedade da Sua natureza humana, e sim segundo o modo e a
propriedade da mão direita de Deus... E esta presença de Cristo na Ceia não é
física, nem terrena, nem “capernáitica” (veja João 6: 52-59), e, contudo, é
verdadeira e substancial.”

Parte 2 (“Solida Declaratio”), cap. 8, § 4: “Porque essa comunhão de naturezas e


propriedades não é resultado de alguma efusão essencial ou natural das
propriedades da natureza divina sobre a humana, como se a humanidade de
Cristo as tivesse subsistindo independentemente e separadas da Sua deidade; ou
como se, por essa comunhão, a natureza humana de Cristo se tivesse despido de
suas propriedades naturais, ou fosse convertida na natureza divina, ou fosse em
si e per se feita igual à natureza divina por meio dessas propriedades
comunicadas dessa forma, ou que as propriedades e operações naturais
fossem idênticas ou mesmo iguais. Porque estes e semelhantes erros têm sido
rejeitados”, etc.

Disse Lutero: “Onde quer que colocardes Deus, aí é necessário que coloqueis a
humanidade (de Cristo); não podem ser separados nem desunidos; é uma só
Pessoa, e a humanidade está unida mais intimamente a Deus do que a nossa pele
está unida à nossa carne, sim, mais intimamente do que o corpo à alma”. .

A doutrina das IGREJAS REFORMADAS:

Confessio Helvetica Posterior, cap. 11: “Reconhecemos, pois, que em um e o


mesmo Senhor Jesus Cristo há duas naturezas, e dizemos que estas se acham
juntas e unidas de tal modo que elas não são absorvidas, nem confundidas, nem
misturadas; mas são, antes, unidas e juntas em uma só Pessoa, sendo
conservadas com suas propriedades permanentes; de modo que nós adoramos a
um só Senhor, o Cristo, e não dois; um só, dizemos, verdadeiro Deus e homem,
segundo a Sua natureza divina consubstanciai com o Pai, e segundo a Sua
natureza humana consubstanciai conosco, homens, e em todas as coisas
semelhante a nós, exceto no pecado. Portanto, assim como abominamos o dogma
nestoriano, que faz dois Cristos de um só, e dissolvendo a união da Pessoa;
assim também execramos de coração a loucura de Eutico, dos monofisitas e dos
monotelitas, que apagam a propriedade da natureza humana. Por isso nós de
modo algum ensinamos que a

natureza divina em Cristo tenha sofrido, nem que Cristo, segundo a Sua natureza
humana, tenha até agora estado no mundo e assim em toda parte.”

Confissão de Westminster, Cap. 8, § 2: “O Filho de Deus, a segunda Pessoa da


Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância e igual ao Pai,
tomou sobre Si, quando havia chegado a plenitude do tempo, a natureza do
homem e todas as suas propriedades essenciais e suas enfermidades comuns,
mas sem pecado; sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da
virgem Maria, da sua substância. De modo que duas naturezas inteiras, perfeitas
e distintas, a deidade e a humanidade, foram unidas inseparavelmente em uma só
pessoa, sem conversão, composição ou confusão. A qual Pessoa é verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, e, contudo, um só Cristo, o único Mediador entre
Deus e o homem.”
O Ofício Medianeiro de Cristo

1. Quais os diversos sentidos da palavra Mediador, e em qual destes sentidos é


ela especialmente empregada quando aplicada a Cristo?

Io. O sentido de internúncio ou mensageiro, para explicar a vontade e cumprir os


mandados de uma das partes contratantes ou de ambas, e.g., Moisés, Gál. 3:19.

2o. O sentido de simples advogado ou intercessor, advogando a causa da parte


ofensora na presença da parte ofendida.

3o. O sentido em que a palavra é especialmente empregada quando aplicada a


Cristo. Neste sentido, Cristo, o pacificador eficiente, como Mediador, (1) tem
entregues em Suas mãos todo o poder e todo o juízo - Mat. 28:18 e 9:6; João
5:22, 2527; e, (2) Ele faz eficazmente reconciliação entre Deus e o homem por
meio de uma expiação plenamente satisfatória e de uma obediência perfeita.

2. Por que foi necessário que o Mediador possuísse uma natureza divina,
como também uma natureza humana?
f

Io. E evidente que era necessário que o Mediador fosse Deus; (1) Para que fosse
independente e não uma simples criatura de uma das partes, pois, de outro modo,
não poderia fazer eficazmente a paz. (2) Para que revelasse Deus e a salvação
que dEle vem aos homens, porque “ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar” -Mat. 11:27; João 1:18. (3) Para que,
estando, quanto à Sua

Pessoa, acima de toda a lei, e sendo, quanto à dignidade da Sua natureza,


infinito, pudesse, a favor do Seu povo, prestar à lei uma obediência voluntária e
que não lhe devia por Sua própria conta, e para que a Sua obediência e os Seus
sofrimentos tivessem valor infinito. (4) Para que possuísse a sabedoria,
o conhecimento e o poder necessários para a administração dos reinos infinitos
da providência e da graça que se acham entregues nas Suas mãos como o
Príncipe medianeiro.

2o. Era evidentemente necessário que fosse homem. (1) Para que representasse
verdadeiramente os homens como o segundo Adão. (2) Para que fosse feito
debaixo da lei, a fim de tornar possíveis a Sua obediência, os seus sofrimentos e
as Suas tentações - Gál. 4:4,5; Luc. 4:1-13. (3) “Foi conveniente que ele se
fizesse em tudo semelhante a seus irmãos, para vir a ser um pontífice*
compassivo e fiel no seu ministério...” (Figueiredo) - Heb. 2:17,18; 4:15,16. (4)
Para que, em Sua humanidade glorificada, fosse o cabeça da Igreja glorificada, e
exemplo e modelo ao qual os que pertencem ao Seu povo foram predestinados
“para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos” - Rom. 8:29. . . :

3. Qual a diversidade de opiniões que existem sobre a questão sobre se Cristo


age como Mediador em uma só natureza ou nas duas?

Os católicos romanos sustentam que Cristo foi Mediador somente em Sua


natureza humana, dizendo que era impossível que Deus intermediasse entre Si
mesmo e os homens.

Também tem sido sustentada a opinião oposta, a saber, que Cristo foi Mediador
somente em Sua natureza divina.

A doutrina bíblica é que Cristo foi Mediador como o Deus--homem, nas duas
naturezas.

sumo sacerdote

4. Como se pode classificar os atos de Cristo com referência a Suas duas


naturezas?

Os teólogos têm distinguido com propriedade (veja Turretino, in loco) entre a


Pessoa que age e a natureza ou a energia interna pela qual ela age. Afirmamos
assim a respeito do próprio homem, que pensa e que anda. Neste caso, a
mesma pessoa faz estas duas classes de ações tão radicalmente distintas, em
virtude das duas naturezas abrangidas por ela. Assim também a Pessoa única do
Deus-homem realiza todos os atos que envolvem os atributos de uma natureza
divina, em virtude da Sua natureza divina, e todos os atos que envolvem
os atributos de uma natureza humana, em virtude da Sua natureza humana.

5. Como se pode provar que Cristo era Mediador e que agia como tal tanto em
Sua natureza divina como na humana?
Io. Pelo fato de que o desempenho de cada uma das três grandes funções do
ofício medianeiro - a profética, a sacerdotal e a real - envolvem os atributos de
ambas as naturezas, com foi provado plenamente sob a Pergunta 2.

2o. Pelo fato de se atribuírem na Bíblia todos os atos de Cristo como Mediador a
uma só Pessoa, considerada como abrangendo as duas naturezas. A Pessoa é
muitas vezes designada por um termo derivado de uma das naturezas, enquanto a
ação medianeira atribuída a essa Pessoa é feita evidentemente em virtude da
outra natureza abrangida na Pessoa. Veja Atos 20:28; 1 Cor. 2:8; Heb. 9:14.

3o. O fato de que o Mediador o é desde a fundação do mundo (veja Cap. 22,
Perg. 11), mostra evidentemente que não o era só em Sua natureza humana; e o
fato de que o Verbo eterno encarnou-Se a fim de Se preparar adequadamente
para a Sua obra medianeira (Heb. 2:17,18), mostra com igual clareza que não era
Mediador somente em Sua natureza divina.

6. Qual o sentido em que os católicos romanos têm os santos e os anjos na


conta de mediadores?

Eles não atribuem, nem aos santos nem aos anjos, a obra de propiciação
propriamente dita. Contudo, afirmam que os merecimentos dos santos são o
motivo e a medida da eficácia da sua intercessão, da mesma forma como se dá
no caso de Cristo. ■■■■...■ u.

7. Até onde atribuem eles um caráter medianeiro a seus sacerdotes?

O protestante sustenta que a Igreja é composta de uma companhia de homens


unidos uns aos outros em virtude da união imediata de cada um deles com
Cristo, a Cabeça. O romano, ao contrário, afirma que cada membro individual
é unido imediatamente à Igreja, e, por meio da Igreja, a Cristo. Por isso os seus
sacerdotes, da verdadeira sucessão apostólica, como dizem, sujeitos aos bispos
apostólicos, assim chamados, sendo os únicos despenseiros autorizados dos
sacramentos, e, por meio destes, da graça de Cristo, são mediadores -

Io. Entre o indivíduo e Cristo - o elo necessário de união com Ele. , í •


■ ■ ' . : ^

2o. Porque oferecem o sacrifício da missa e fazem nela, segundo dizem, uma
verdadeira propiciação pelos pecados veniais do povo, tendo o grande sacrifício
de Cristo feito propiciação pelo pecado original e lançado o fundamento para a
virtude propiciatória que pertence à missa. >■ ■ =

3o. Porque, segundo dizem, são intercessores poderosos.

8. Como se pode provar que Cristo é o nosso único Mediador no sentido


próprio desta palavra?

Io. Pelo testemunho direto das Escrituras - 1 Tim. 2:5.

2o. Porque, segundo as Escrituras, Cristo desempenhou por nós todas as funções
necessárias, tanto de propiciação como de intercessão, 1 João 2:1, na terra e no
céu - Heb. 9:12, 24; 7:25.

3o. Porque, em virtude da dignidade da Sua Pessoa e da perfeição da Sua


natureza, todas essas funções foram por Ele desempenhadas exaustivamente -
Heb. 10:14; Col. 2:10.

4o. Porque nEle há salvação perfeita, não há salvação em nenhum outro, e


ninguém pode vir ao Pai senão por Ele -João 14:6; Atos 4:12.

5o. Não há lugar para nenhum outro mediador entre o indivíduo e Cristo - (1)
porque Ele é nosso “irmão” e “sacerdote compassivo”, que convida todos a
chegar-se a Ele imediatamente, (diretamente), Mat. 11:28; (2) porque a obra de
atrair os homens trazendo-os a Cristo pertence ao Espírito Santo-João 6:44;
16:14.

9. Segundo as Escrituras, qual a relação do Espírito Santo com a obra


medianeira de Cristo?

10. A de gerar e dar preenchimento à Sua natureza humana. Luc. 1:35; 2:40;
João 3:34; Sal. 45:8.

2o. Cristo cumpriu no Espírito todas as Suas funções medianeiras com o Seu
ensino profético, Seu sacrifício sacerdotal e Suas administrações reais. O
Espírito desceu sobre Ele no Seu batismo, Luc. 3:22; levou-o para o deserto para
ser tentado, Mat. 4:1; “pela virtude do Espírito, voltou Jesus para a Galiléia”,
Luc. 4:14; “pelo Espírito eterno (Jesus) se ofereceu a si mesmo imaculado a
Deus” - Heb. 9:14.
3o. Cristo, como Mediador, e como parte das condições da aliança da graça, é
revestido da dispensação do Espírito como “o Espírito da verdade”, “o
Santificador”, e “o Consolador” -João 15:26; 16:7; 7:39; Atos 2:33.

4o. Nas ministrações do Espírito por Cristo, como Mediador, opera por Ele e
dirige para Ele, ensinando, vivificando, santificando, conservando e operando
todas as graças em Seu povo. Assim como Cristo, quando no mundo,
conduzia, somente Ele, ao Pai, assim o Espírito Santo agora conduz, somente
Ele, a Cristo - João 15:26; 16:13, 14; Atos 5:32; 1 Cor. 12:3.

5o. Enquanto se diz que Cristo, como Mediador, é nosso “advogado” para com o
Pai - 1 João 2:4, também se diz que o Espírito Santo é nosso “advogado”,
traduzido “Consolador”, sobre a terra, para ficar conosco para sempre, mostrar-
nos as coisas de Cristo, e ter controvérsia com o mundo - João 14:16, 26; 15:26;
16:7-9.

6o. Enquanto se diz que Cristo é nosso Mediador para interceder por nós no céu,
Heb. 7:25; Rom. 8:34, também se diz que o Espírito Santo, formando dentro de
nós pensamentos e desejos segundo a vontade de Deus, intercede por nós,
orando por nós com gemidos inexprimíveis - Rom. 8:26, 27.

7o. A soma de tudo é que temos acesso ao Pai, mediante o Filho, pelo Espírito -
Ef. 2:18. ■ .

10. Qual o fundamento em razão do qual se aplicam a Cristo os três ofícios de


profeta, sacerdote e rei?

Io. Porque estas três funções são todas igualmente necessárias, e juntas exaurem
toda a obra medianeira.

2o. Porque a Bíblia atribui todas essas funções a Cristo. A profética, Deut.
18:15,18; conferir Atos 3:22; 7:37; Heb. 1;2; a sacerdotal, Sal. 110:4, e toda a
Epístola aos Hebreus; a real, Atos 5:31; 1 Tim. 6:15; Apoc.17:14.

Devemos lembrar-nos sempre de que esses realmente não são três ofícios, e sim
três funções do ofício único e indivisível de Mediador. Estas funções são
facílimas de distinguir no abstrato, mas no seu exercício elas se qualificam
mutuamente em todos os atos. Assim, quando Cristo ensina, é
essencialmente Mestre real e sacerdotal; quando reina, é Rei sacerdotal
e profético, e quando expia ou intercede é Sacerdote profético e real.

Foi Eusébio, 261-340 d.C., quem primeiro agrupou estes três ofícios como
pertencendo a Cristo (Livro 1, cap. 3) - “De modo que todos estes têm referência
ao verdadeiro Cristo, o Verbo divino e celeste, o único Sumo Sacerdote de
todos os homens, o único Rei de toda a criação, e do Pai o único

supremo Profeta dos profetas”.

11. Qual o sentido bíblico da palavra profeta?

Seu sentido geral é de alguém que fala por outrem com autoridade como
intérprete. Assim Moisés foi profeta para seu irmão Arão - Êx. 7:1.

Profeta de Deus é quem está qualificado e autorizado a falar por Deus aos
homens. O ato de predizer eventos futuros é apenas incidental. .

12. Como executa Cristo o ofício de profeta? ,

Io. Imediatamente, em Sua própria Pessoa, como quando

(1) no mundo com os Seus discípulos e (2) como a luz da nova Jerusalém no
meio do trono - Apoc. 21:23.

2o. Medíatamente, (1) por Seu Espírito, (a) por inspiração, (b) por iluminação
espiritual. (2) Pelos oficiais da Sua Igreja, (a) os inspirados, como apóstolos e
profetas, e (b) os dotados naturalmente, como o ministério estabelecido - Ef.
4:11.

3o. Tanto externamente, como por Sua palavra e por Suas obras dirigidas ao
entendimento, como também...

4o. Internamente, pela iluminação espiritual do coração - 1 João 2:20; 5:20.

5o. Em três grandes passos sucessivos de desenvolvimento. (1) Antes da Sua


encarnação; (2) depois da Sua encarnação; (3) durante a eternidade na glória -
Apoc. 7:17; 21:23.

13. Como se pode provar que Ele agiu como tal antes da Sua encarnação?
Io. Por Seu título divino de Logos, “Verbo”, como o eterno Revelador por
natureza e também por ofício.

2o. Já foi provado (Cap.23, Perg. 11, e Cap. 9, Perg. 14) que Ele é o Jeová (Iavé)
da economia do Velho Testamento. É chamado Conselheiro - Is. 9:6. Anjo do
testamento (aliança) -

Mal. 3:1. Intérprete* -Jó 33:23. ■ " ‘ ~

3o. O fato é afirmado diretamente no Novo Testamento -1 Ped. 1:11. . . • -

14. Que é essencial ao ofício sacerdotal, ou, que é um sacerdote no sentido


bíblico desta palavra?

Assim como, no sentido geral, profeta é quem é qualificado e autorizado a falar


por Deus aos homens, assim também, no sentido geral, sacerdote é quem é
qualificado e autorizado a tratar com Deus a favor dos homens.

E necessário, pois, que o sacerdote - ■'

Io. Seja tomado dentre os homens para representá-los -Heb. 5:1,2; Êx.
27:9,12,21,29.

2o. Seja escolhido por Deus como Sua eleição e Sua propriedade especiais -
Núm. 16:5; Heb. 5:4.

3o. Seja santo, moralmente puro e consagrado ao Senhor -Lev. 21:6; Sal. 106:17;
Êx 39:30,31. -

4o. O sacerdote tem o direito de aproximar-se de Deus, oferecer sacrifícios e


fazer intercessão - Núm. 16;5; Êx. 19:23; Lev. 16:3, 7, 12, 15.

O sacerdote era, pois, essencialmente mediador, admitido dentre os homens para


apresentar-se a Deus, (1) a fim de propiciar por meio de sacrifícios, Heb. 5:1-3 e
(2) a fim de fazer intercessão - Luc. 1:10; Êx. 30:8; Apoc. 5:8; 7:3,4. Tomado da
Tipologia de Fairbairn, Vol. 2, Parte 3, Cap. 3.

15. Como se pode provar pelo Velho Testamento que Cristo foi
verdadeiramente Sacerdote?
Io. É declarado expressamente. Comparar Sal. 110:4 com Heb. 5:6; 6:20; Zac.
6:13.

2o. São-lhe atribuídas funções sacerdotais - Is. 53:10,12; Dan. 9:24,25.

Em vez de “intérprete”, nesta passagem, a Vulgata traz somente loquem, que


Figueiredo traduz, “que fale a seu favor”.

3o. Toda a significação e virtude do templo, do seu serviço, e do sacerdócio


levítico estava no fato de serem típicos de Cristo e da Sua obra como Sacerdote.
Isto a Epístola aos Hebreus prova claramente.

16. Como se pode provar pelo Novo Testamento que em Cristo se achavam
todos os requisitos de um sacerdote?

Io. Cristo foi tomado dentre os homens para representá-los diante de Deus - Heb.
2:16; 4:15.

2o. Foi escolhido por Deus - Heb. 5:6. .

3o. Era perfeitamente santo - Luc. 1:35; Heb. 7:26.

4o. Tinha o direito de perfeito acesso ao Pai, e com a maior influência-João


16:28; 11:42; Heb. 1:3; 9:11,14,24.

17. Como demonstrar que Ele realmente desempenhou todos os deveres do


ofício sacerdotal?

O dever de um sacerdote é mediar por meio (1) de propiciação, e (2) de


intercessão.

Io. Ele mediou no sentido geral da palavra - João 14:6; 1 Tim. 2:5; Heb. 8:6;
12:24.

2o. Ofereceu uma propiciação-Ef. 5:2; Heb. 9:26; 10:12; 1 João 2:2.

3o. Fez (e faz) intercessão - Rom. 8:34; Heb. 7:25; 1 João

2:1.
Que esta obra intercessória realizada por Cristo foi real e não metafórica torna-se
evidente pelo fato de que ela substituiu o serviço do templo, que era tão-somente
um tipo dela. Um tipo e sombra pressupõe necessariamente uma substância
literal -Heb. 9:10-12; 10:1; Col. 2:17.

18. Na realização de Sua obra sacerdotal, que pane Cristo executou na tena e
que parte executa no céu?

Na terra apresentou obediência, propiciação e intercessão -Heb. 5:7-9; 9:26,28;


Rom. 5:19.

No céu apresentou Seu sacrifício no mais santo lugar e

O Ofício Medianeiro de Cristo vive sempre para interceder por nós - Heb.
7:24,25; 9:12,24.

19. Em que aspectos foi mais excelente o sacerdócio de Cristo do que o de


Arão?

Io. Na dignidade de Sua Pessoa. Os sacerdotes araônicos eram só homens. Ele


era o Filho eterno. Eles eram pecadores que tinham necessidade de oferecer
sacrifícios primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo. Ele era
santo, inocente, imaculado - Heb. 7:26,27. Era perfeito homem e, contudo, podia
aproximar-Se de Deus infinitamente mais do que qualquer outro ser - João
10:30; Zac. 13:7.

20. No valor infinito do Seu sacrifício. Os sacrifícios dos outros sacerdotes não
podiam tirar os pecados, Heb. 10:4, e era preciso repeti-los continuadamente -
Heb. 10:1-3. O sacrifício de Cristo foi perfeitamente eficaz, e foi oferecido
uma só vez, sem necessidade de repetição - Heb. 10:10-14. Assim, pois, os deles
eram apenas uma sombra do de Cristo - Heb. 10:1.

3o. Na maneira da Sua consagração. Eles sem juramento; Ele com juramento -
Heb. 7:20,22.

4o. Eles, sendo muitos, sucederam-se por geração. Ele permanece para sempre -
Heb. 7:24.

5o. O sacerdócio de Cristo está ligado a “um tabernáculo maior e mais perfeito”,
do qual a terra é o átrio e o céu o verdadeiro santuário - Heb. 9:11-24.

6o. Cristo faz intercessão estando sobre um trono - Rom. 8:34; Heb. 8:1,2.

7o. Enquanto alguns dos servos de Deus do Velho Testamento foram ao mesmo
tempo profetas e reis, como Davi, ou Profeta e Sacerdote, como Esdras, somente
Cristo foi ao mesmo tempo, e com perfeição divina, profeta, sacerdote e Rei.
Deste modo as Suas divinas perfeições proféticas e reais qualificaram e
realçaram a virtude transcendental de todos os Seus atos sacerdotais - Zac. 6:13.

20. Em que sentido Cristo foi sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque?

O sacerdócio araônico foi típico de Cristo; mas em dois principais aspectos


deixou de representar o grande Antítipo.

Io. Constava de sucessivas gerações de homens mortais.

20. Constava de sacerdotes que não eram de linhagem real.

Por outro lado, o Espírito Santo nos apresenta subitamente,

na história patriarcal, Melquisedeque, sacerdote real, com os nomes


significativos de “Rei de Justiça”e “Rei de Paz”, Gên. 14:18-20, e também
subitamente o retira. De onde vem e para onde vai não sabemos. Como homem
particular, ele tinha uma história não escrita, assim como a têm os outros. Mas,
como sacerdote real, ele permanece para sempre sem pai, sem mãe, sem origem,
sucessão ou fim; e por isso, como diz o Espírito Santo em Heb. 7:3, foi suscitado
antecipadamente, como tipo exato da eternidade do sacerdócio de Cristo - Sal.
110:4. A profecia foi: “Tu és (ou serás) um sacerdote eterno, segundo a ordem de
Melquisedeque”.

Foram duas, pois, as verdades prefiguradas a respeito de Cristo neste tipo: (1)
um sacerdócio eterno; (2) a união das funções reais e sacerdotais numa só
pessoa. - Fairbairn, Typology, Vol. 2, Parte 3, Cap. 3.

21. Como se pode provar que o ministério cristão não é sacerdócio?

Io. Em qualquer tempo os sacerdotes humanos eram possíveis somente como


tipos; mas tipos são possíveis somente antes da revelação do antítipo. O fim por
que foi instituído o sacerdócio araônico cumpriu-se em Cristo, e por isso a
instituição sacerdotal foi abolida para sempre por Cristo - Heb. 10:1,9,18.

2o. Cristo cumpre perfeitamente todos os deveres e fins do ofício sacerdotal, de


modo que qualquer sacerdote humano (assim chamado) é um anticristo - Heb.
10:14; Col. 2:10.

3o. Não pode haver necessidade de sacerdote para

abrir-nos caminho para Cristo, porque as Escrituras nos ensinam que é somente
por Cristo que podemos chegar ao Pai, João 14:6, e com igual ênfase nos
ensinam que nos é necessário chegar direta e imediatamente a Cristo - Mat.
11:28; João 5:40; 7.37; Apoc. 3:20; 22:17.

4o. No Novo Testamento nunca se atribui nenhuma função sacerdotal a qualquer


dos oficiais nele mencionados, quer inspirados quer não, quer ordinários quer
extraordinários. Todos os deveres de todos esses oficiais constavam só
das funções de ensinar e governar - 1 Cor. 12:28; Ef. 4:11,12; 1 Tim. 3; 1-3; 1
Ped.5:2.

5 o. São chamados constantemente por nomes indicativos de uma classe


inteiramente diversa de funções, tais como “mensageiros, atalaias, arautos da
salvação, mestres, governadores, administradores, pastores e presbíteros”. Veja
Bibl. Repertory, Janeiro, 1845.

22. Em que sentido todos os crentes são sacerdotes?

Apesar de não poder existir na Igreja Cristã uma classe de sacerdotes que
intervenham entre seus irmãos e Cristo, contudo, em conseqüência da união,
tanto federal como vital, que existe entre cada cristão e Cristo, a qual envolve
comunhão com Ele em todas as Suas graças humanas e em todas as Suas funções
medianeiras, todo crente tem parte no sacerdócio do Seu Cabeça num sentido tal
que tem acesso imediato a Deus por Cristo, até ao mais santo lugar - Heb. 10:19-
22; e que, sendo santificado e qualificado espiritualmente, pode oferecer ali,
como “sacerdote santo”, “sacerdote real”, sacrifícios espirituais, não expiatórios,
e sim a oblação de louvor, súplicas e ações de graças, por Jesus Cristo, e pode
fazer intercessão por seus amigos vivos - Heb. 13:15; 1 Tim. 2:1,2; 1 Ped. 2:5,9.

Pelo mesmo motivo eles são também profetas e reis em comunhão com Cristo -
1 João 2:20; João 16:13; Apoc. 1:6; 5:10. ........

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

A doutrina CATÓLICO-ROMANA do sacerdócio cristão...

Concilio de Trento, Sess. 23, Cap. 1: “O sacrifício e o sacerdócio de tal modo


são unidos por determinação de Deus, que um e outro se encontram em todas as
leis. Como, pois, no Novo Testamento a igreja católica recebeu por instituição do
Senhor o santo e visível sacramento da eucaristia; devemos também confessar
que nela há um novo e visível sacerdócio, ao qual o antigo se transferiu. Este
sacerdócio, como mostram as Sagradas Letras, e ensinou sempre a tradição da
igreja católica, foi instituído pelo mesmo Salvador nosso, o qual deu aos
apóstolos e seus sucessores no sacerdócio o poder de consagrar, oferecer e
ministrar o Seu corpo e Seu sangue, e também de remitir e reter os pecados”.

A doutrina PROTESTANTE...

Conf. Helv., 2: cap. 18: “O ofício sacerdotal e o ofício ministerial diferem


muitíssimo um do outro. Aquele é comum a todos os cristãos; este não. No Novo
Testamento de Cristo não há mais um sacerdócio tal como o que existiu entre o
povo antigo, que tinha uma unção externa, Vestimentas santas e numerosas
cerimônias, que eram tipos de Cristo, o qual, vindo e cumprindo-os, tem ab-
rogado todas estas coisas. Mas Ele permanece eternamente o único Sacerdote, e
para que nada derroguemos dEle, não damos o nome de sacerdote a ninguém da
classe dos ministros. Porque o próprio Senhor nosso não ordenou na Igreja do
Novo Testamento nenhum sacerdote para oferecer diariamente o sacrifício do
Seu corpo e do Seu sangue, e sim, unicamente ministros para pregarem
e administrarem os sacramentos”.

A doutrina SOCINIANA sobre os ofícios medianeiros de Cristo...

O Catecismo Racoviano ensina que Cristo é tanto Sacerdote como Profeta e Rei.
Mas ocupa cento e oitenta páginas (Seção 5) com a discussão do Seu ofício
profético, e só onze páginas (Seção 6) com a discussão do Seu ofício

sacerdotal, e nove (Seção 7) com a discussão do Seu ofício real. Sua morte e a
maneira pela qual ela contribui para a nossa salvação são discutidas (Seção 5 do
cap. 8) sob o título de Seu ofício profético, enquanto que a Sua obra sacerdotal,
discutida muito vagamente, é representada como constando principalmente da
Sua apresentação de Si no céu como nosso Advogado, sendo eficaz para
com Deus a Sua intercessão em decorrência de Suas virtudes e de Seus
sofrimentos como mártir.
A Propiciação: sua Natureza, Necessidade, Perfeição e Extensão

A NATUREZA DA PROPICIAÇÃO

1. Como se pode definir o uso e o verdadeiro significado dos diversos termos


empregados na discussão deste tópico?

Io. A palavra agora empregada para designar a natureza precisa da obra realizada
por Cristo oferecendo-Se na cruz é “propiciação”.

No Velho Testamento é empregada muitas vezes como tradução da palavra


hebraica kafar, cobrir por meio de um sacrifício expiatório. No Novo
Testamento (no inglês) a palavra encontra-se apenas uma vez - Rom. 5:11. Aí a
palavra grega é traduzida por reconciliação. Seu significado correto é fazer
reparação moral ou legal por uma falta cometida ou um mal praticado. Segundo
o seu uso no Velho Testamento, e também no seu uso correto e teológico, ela não
exprime a reconciliação efetuada por Cristo, e sim a satisfação legal que é o
motivo dessa reconciliação.

Seu sentido é muito limitado para exprimir adequadamente a natureza completa


da obra que Cristo realizou como nosso Substituto; porque, conquanto signifique
propriamente expiação de culpa, efetuada no sofrer a pena do pecado,
deixa inteiramente de exprimir o fato de que Cristo também adquiriu para nós,
mediante Sua obediência ativa, o prêmio positivo da vida eterna.

2o. A palavra antiga empregada pelos teólogos do século 17 era


“SATISFAÇÃO”. Dessa forma se expressa acurada e adequadamente o que
Cristo fez. Como o segundo Adão, Ele cumpriu todas as condições da quebrada
aliança das obras, como foi deixada pelo primeiro Adão. (a) Ele sofreu a pena
da transgressão, (b) Prestou a obediência que foi a condição para que houvesse
“vida”.

3o. Distinção entre SATISFAÇÃO PENAL e SATISFAÇÃO PECUNIÁRIA.


A primeira diz respeito a crimes e pessoas; a segunda a dívidas e coisas. Elas
diferem: (1) Em crimes a exigência de se fazer expiação termina na pessoa do
criminoso; em dívidas, na coisa devida. (2) Em crimes exige-se um sofrimento
que, em qualidade, grau e duração, a razão esclarecida julga exigida pela justiça;
em dívidas exige-se exata e unicamente a coisa devida, um quid pro quo1 exato.
(3) Em crimes é admissível um sofrimento vicário somente à discrição absoluta
do soberano; e a conseqüente soltura do criminoso é questão de graça; em
dívidas o pagamento da coisa devida, seja quem for que o faça, livra ipso facto;
e sua aceitação e a soltura do devedor não são questão de graça. (Turretino,
L.14; Qs. 10). : -

4o.O significado do termo PENA, e a distinção entre CALAMIDADES,


CASTIGOS e MALES PENAIS. Calamidades são sofrimentos considerados
sem referência alguma ao desígnio com que são infligidos ou permitidos.
Castigos são sofrimentos com o fim de melhorar moralmente o sofredor. Males
penais são sofrimentos infligidos com o desígnio de satisfazer as exigências da
justiça e da lei. Pena é essa espécie e grau de sofrimento que o legislador e juiz
supremo determina como legalmente e, com justiça, devido no caso de qualquer
criminoso específico. Se um substituto submeter-se a esses sofrimentos, não
deixarão de ser a pena da lei, se de fato satisfizerem à

lei. A natureza e o grau dos sofrimentos podem com justiça ser mudados com a
mudança da pessoa que os padece, porém o caráter deles como pena permanece,
ou o substituto incorre em falta.

5o. Significado das palavras SUBSTITUIÇÃO e VICÁRIO. Substituição é o


ato de graça de um soberano, quando permite que uma pessoa não obrigada
desempenhe um serviço ou sofra um castigo no lugar de uma pessoa obrigada. O
desempenho desse serviço e o padecimento da pena pelo substituto, e
o substituto que desempenha o serviço e padece a pena são vicários, isto é, em
vez de (vice), como também a favor da pessoa originalmente obrigada. ■ í

6o. EXPIAÇÃO e PROPICIAÇÃO. Estas duas palavras representam o termo


grego hiláskethai. Quando empregado comtón theón, toüs theoüs, como é o caso
constantemente nos clássicos, significa fazer propiciação pelo pecado por meio
de um sacrifício de expiação. No Novo Testamento é empregado com tàs
hamartías - Heb.2:17, e significa expiar a culpa do pecado. Expiação tem
referência à relação da satisfação com o pecado ou com o pecador. Propiciação
tem referência ao efeito produzido pela satisfação em remover assim o
desprazer judicial de Deus.

7o. IMPETRAÇÃO e APLICAÇÃO. Impetração significa a obtenção meritória,


por meio de sacrifício, dessa salvação que Deus prepara para Seu povo, e
aplicação refere-se aos atos pelos quais Deus aplica a salvação a Seu povo no
processo que principia com a justificação e a regeneração, e termina com
a glorificação.

8o. O uso das palavras PROPICIAÇÃO e REDENÇÃO. (1) Durante os séculos 16 e 17 as


palavras redenção e propiciação foram empregadas por todos, calvinistas e
arminianos, como equivalentes, como, e.g., nos tratados de Baxter e do Dr.
Isaac Barrows sobre Universal Redemption. (Veja Cunningham, Hist. Theol.,
Vol. 2, pág. 327, e o Dr. H. B. Smith, em Hist. ofDoct., por Hagenbach, Vol. 2,
págs. 356, 357. Também a Confissão de

Fé, cap.8, § 1, e o Catecismo Maior, Perg. 59.) (2) Nos tempos modernos alguns
defensores calvinistas de uma propiciação indefinida distinguem assim entre os
dois termos: dizem que a propiciação, ou a impetração sacrificial da salvação, foi
feita indefinidamente a favor de todos os homens; mas que a redenção,
entendendo-se por este termo a aplicação que Deus tencionava fazer da salvação,
como também a sua impetração, é limitada aos eleitos (Dr. W. B. Weeks, em
Atonement, por Park, pág. 579). (3) Nas Escrituras propiciação
(kippurim) significa a expiação da culpa por meio de umapcena viçaria, a fim de
propiciar a Deus. Mas o uso bíblico da palavra redenção é menos definido e mais
compreensivo. Significa livramento de perda ou de ruína pelo pagamento de um
resgate, que o nosso substituto (Cristo) fez por nós. Por isso ela pode
significar ou, (a) o ato de um só substituto pagando esse resgate, e
então significa o mesmo que propiciação - Gál. 3:13; ou, (b) pode significar o
nosso conseqüente livramento especial do nosso estado de perdidos, como a
“morte” ou o “diabo” - Col. 2:15; Os. 13:14; ou, (c) o nosso completo
revestimento da plena salvação assim alcançada - Ef. 1:14; 4:30; Rom. 8:23; etc.

9o. MERITUM e SATISFACTIO. Esta distinção foi primeiramente assinalada


por Tomás de Aquino (1227-1274),Summa Theologice, Parte. 3: Q. 48,49.
Cristo, como o segundo Adão, cumpre por nós todas as condições da aliança das
obras, que fora rompida. Satisfactio exprime a qualidade e o efeito de toda a Sua
obra terrena de obediência sofredora, mesmo até a morte, considerada como um
padecimento da pena, a fim de livrar dela o Seu povo. Meritum exprime a
qualidade e o efeito da mesma obra considerada como a prestação daquela
obediência que era para o Seu povo a condição para terem a vida. Na teologia
protestante exprime-se esta distinção empregando-se as expressões obediência
ativa e passiva, ou referindo-se a uma só obra vicária de Cristo, considerada (a)
como um sofrimento de males penais, e (b) como obediência às exigências da
aliança.
2. Qual a diferença entre as relações “natural”, “federal” e “penal” que os
homens mantêm com a lei divina?

Io. Toda criatura moral, no momento da sua criação e em conseqüência da sua


natureza, fica necessariamente obrigada a conformar-se em estado e em ato à lei
divina de perfeição moral absoluta, e qualquer falta de conformidade é
pecado. Esta relação é “natural”, perpétua e inalienável, e é impossível que uma
pessoa a tome sobre si em lugar de outra, ou como seu representante.

2o. Aprouve a Deus, por Sua graça, pôr o homem, quando da sua criação, sob
uma aliança especial, na qual, sob a condição de obediência perfeita, para a qual
estabeleceu uma prova especial, em condições favoráveis e por um período
limitado, Ele prometeu dotar a raça humana de “vida eterna”, com
o estabelecimento, inclusive, de um caráter indefectível e santo, e de uma
herança celeste para sempre, sendo a alternativa a pena de “morte” imediata.
Esta é a relação “federal” com a lei, da qual a raça inteira, representada por
Adão, caiu originalmente, e na qual os eleitos, representados por Cristo,
são subseqüentemente habilitados a conservar-se firmes.

3o. Pela queda de Adão todos os homens se encontram numa relação “penal” à
Lei, da qual os eleitos estão isentos, devido ao fato que Cristo a assumiu
voluntariamente a favor deles.

3. Que é antinomismo? E como se pode mostrar que essa heresia abominável


não está, de maneira alguma, envolvida na doutrina geral dos reformadores
protestantes e dos que os seguem?

O “antinomismo”, como a palavra o dá a conhecer, é a doutrina segundo a qual


Cristo satisfez todas as exigências da lei moral a favor de todos os eleitos, ou de
todos os crentes, num sentido tal que eles não têm mais nenhuma obrigação
de cumprir os seus preceitos como o padrão do caráter e dos atos. Essa doutrina
horrível, da qual Paulo foi caluniosamente acusado, foi por ele repudiada - Rom.
3:8; 6:1.

Em sua reação natural contra a doutrina papal de uma justiça de obras, Lutero e
Melanchthon no princípio usaram algumas expressões menos pensadas que
parecem sugerir essa heresia. Todavia, todo o seu sistema teológico, o espírito
de sua vida eo grosso dos seus escritos estão afastados dela o mais que é
possível. Quando o verdadeiro antinomismo foi conseqüentemente ensinado por
João Agrícola (f 1566), Lutero se opôs a ele vigorosamente, refutou-o com êxito
e o obrigou a retirar-se. Alguns hipercalvinistas ingleses do século 17,e.g., o Dr.
Crisp, reitor de Brinkworth (f 1642), foram acusados dessa heresia, porém eles
negaram as inferências que outros tiraram da sua doutrina. Muitas vezes o
calvinista tem sido acusado pelos arminianos de antinomismo (maliciosa ou
ignorantemente) como uma inferência necessária. Como tendência,
ele naturalmente assalta o coração humano, quando o entusiasmo religioso não é
moderado pelo conhecimento bíblico e pela verdadeira santificação, e a essa
tendência estão em perigo de sucumbir os fanáticos ignorantes e todas as classes
de perfeccionistas.

É evidente que as doutrinas da satisfação feita por Cristo e da justificação pela


imputação da Sua justiça, nos termos mantidos pelas igrejas luteranas e
reformadas, nada têm em comum com o antinomismo. Elas ensinam - (1) Que
Cristo cumpriu por Seu povo somente as obrigações federais e penais da Lei, e
que a Sua obediência e os Seus sofrimentos nessa relação constituem Sua
justiça, que é imputada ao que nEle crê. (2) Que a própria finalidade da
satisfação feita por Cristo é “nos remir de toda iniqüidade, e purificar para si um
povo seu especial, zeloso de boas obras” - Tito 2:14. (3) Que os crentes
permanecem toda a sua vida sob a relação “natural” com a lei, e esta é
intransferível pessoalmente e nela serão gradativamente aperfeiçoados por
aquela santificação que a justiça de Cristo impetra para eles. Veja Júlio C.
Hare, VindicationofLuther.
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4. Como se pode mostrar que a perfeita satisfação realizada por Cristo


abrange tanto a Sua obediência “ativa” como a “passiva”, e também a relação
de cada um destes elementos com a nossa justificação?

Cristo, conquanto fosse homem, foi uma pessoa divina. Como tal, Ele
voluntariamente submeteu-Se à condição de “nascido sob a lei”, e toda a Sua
obediência terrestre à lei em condições humanas foi tão vicária como o foram os
Seus sofrimentos. Sua obediência “ativa” abrange Sua vida inteira e Sua morte,
consideradas como uma obediência vicária. Sua obediência “passiva” abrange
Sua vida inteira e especialmente a Sua morte sacrificial, considerada como um
padecimento vicário.

Adão representava a raça sob a aliança original das obras, feita segundo a graça
de Deus. Ele caiu, perdendo o direito à vida eterna, cuja condição era obediência
perfeita, e incorreu na pena de morte, que era a pena imposta à
desobediência. Cristo, o segundo Adão, assumiu por Seus eleitos a aliança que
Adão tinha abandonado. Cristo (a) sofreu a pena - “a alma que pecar, essa
morrerá”, (b) adquiriu o prêmio - “aquele que fizer estas coisas viverá por elas”.
Toda a Sua obediência sofredora e vicária, como também os Seus sofrimentos
obedientes são uma só justiça. Como obediência “passiva”, a justiça de Cristo
“satisfaz” a exigência penal da Lei. Como obediência “ativa”, ela adquiriu para
nós a vida eterna, desde a regeneração até à glorificação. A imputação a nós
dessa justiça é nossa justificação.

5. Como se pode expor a verdadeira doutrina da satisfação realizada por


Cristo?

Io. Negativamente: (1) Os padecimentos de Cristo não foram um substituto posto


em lugar da execução da pena da Lei aos pecadores em suas próprias pessoas,
mas foram a própria pena infligida ao seu Substituto. (2) Esta pena não foi da
natureza de um pagamento pecuniário, um quid pro quo

exato; mas foi uma verdadeira satisfação penal, sendo um substituto a pessoa
que a sofreu. (3) Não foi um mero exemplo de castigo. (4) Não foi uma simples
exibição de amor ou de consagração heróica.

2o. Positivamente: (1) Seu MOTIVO foi o amor inefável que Deus tem para
com os eleitos - João 10:16; Gál.2:20. (2) Quanto à sua NATUREZA, (a) Cristo
é Pessoa divina, mas tomou sobre Si as responsabilidades legais de Seu povo nas
condições de um ser humano, (b) Ele obedeceu e sofreu como seu
Substituto. Sua obediência e Seus sofrimentos foram vicários. (c) A culpa, ou a
justa responsabilidade legal de nossos pecados, foi-Lhe imputada, isto é, foi
imposta a Ele e punida nEle. (d) Ele não passou pelos mesmos sofrimentos, nem
quanto à qualidade, nem quanto ao grau ou duração, que teriam sido infligidos
a nós pecadores, porém passou precisamente pelos sofrimentos exigidos pela
justiça divina de Sua Pessoa sofrendo em nosso lugar, (e) Seus sofrimentos
foram os de uma Pessoa divina sofrendo numa natureza humana. (3) Quanto aos
seus EFEITOS, (a) Foi o efeito, e não a causa do amor de Deus. Satisfez
Sua justiça e tornou o exercício do Seu amor compatível com Sua justiça, (b)
Expiou a culpa do pecado e reconciliou Deus conosco como Governador justo,
(c) Alcançou a salvação daqueles por quem Ele morreu, adquirindo para eles o
dom do Espírito Santo, os meios de graça e a aplicação e consumação da
salvação, (d) Não livraipsofacto, como seria no caso de uma satisfação
pecuniária, mas, como uma satisfação penal e vicária, os seus benefícios são
aplicados às pessoas nos tempos e sob as precondições prescritos pela aliança
feita entre o Pai e o Filho. Sua aplicação é assunto de direito da parte de Cristo,
entretanto de graça, no que diz respeito a nós. (e) Sendo ela uma execução de
justiça perfeita e castigo vicário, é exemplo muito eficaz e real de castigo para o
universo moral, (f) Sendo ela um exercício de amor imenso, produz
legitimamente a mais profunda impressão moral, amolecendo o coração,
subjugando a rebelião e dissipando os receios dos pecadores convictos.

PROVA BÍBLICA DA DOUTRINA

6. Como expor o argumento derivado da natureza da justiça

divina, em apoio desta doutrina?


/

E evidente que Deus pune o pecado (1) por causa do demérito intrínseco dele,
que é oposto à retidão essencial e imutável da natureza divina; ou, (2) por causa
do mal que o pecado faz às criaturas de Deus, sendo Ele levado a fazer isso por
um princípio de sábia benevolência que O leva a restringir o pecado, fornecendo
motivos dissuasivos; ou, (3) de Sua pura soberania.

Mas, já temos provado (veja acima, Cap. 8, Pergs. 59-66) -

(1) Que a perfeição moral de Deus é essencial e fundamental, e não produto da


Sua autodeterminação. (2) Que em Sua essencial perfeição moral se acha
incluído um princípio de justiça que faz da punição do pecado um fim em si
mesmo. (3) Que a virtude, e especialmente a justiça, não pode ser
concebida como benevolência desinteressada.

Os atributos essenciais de justiça e benevolência não se acham em conflito.


Benevolência para os que nada merecem é graça, que essencialmente dá lugar a
uma opção. A justiça é livre, mas não dá lugar a uma opção.

7. Como expor a prova derivada da imutabilidade da lei divina, e da verdade


absoluta de Deus?

A vontade de Deus é determinada livremente por Sua natureza. Sua lei, incluindo
preceitos e castigos, é a expressão e revelação, tanto da Sua natureza quanto da
Sua verdade. Até onde a Lei representa a Sua natureza e o Seu propósito,
não pode deixar de ser imutável. Até onde é uma revelação desse propósito, sua
imutabilidade é garantida pela verdade inviolável de Deus. . :

Mas- :VJ. ' • ‘

Io. Ele declarou que a Sua Lei é imutável, Luc. 16:17, isto é, a Lei revelada, em
todos os seus elementos; se a lei

cerimonial é imutável, a fortiori a lei moral o é.

2o. É declarado que Cristo veio cumprir, e não suspender ou rebaixar, a Lei -
Mat. 5:17,18; Rom.3:31; 10.4

3o. É afirmado que Deus há de punir o pecado - Gên. 2:17; Ez. 18:4; Rom.3:26.

8. Como se pode mostrar que as Escrituras ensinam que Cristo sofreu como
nosso Substituto no sentido definido desse termo?

Substituto é quem é nomeado ou aceito para agir ou sofrer em lugar de outrem, e


seus atos ou sofrimentos são vicários. Que Cristo obedeceu e sofreu como o
Substituto de Seu povo fica provado pelos fatos de que - r.. vi .j ; '

Io. A preposição hypér, com o caso genitivo, significa “em vez de”, “em lugar
de”, João 11:50; 2 Cor. 5:20; Fm., vers. 13; e esta construção é empregada para
expor a relação em que está para conosco a obra realizada por Cristo - 2 Cor.
5:14,21; Gál. 3:13; 1 Ped. 3:18

2o. A preposição antí sempre e definidamente exprime substituição (Winer, N. T.


Graus, Parte 3, § 47) - Mat. 2:22; 5:38. Isto se torna ainda mais enfático por ser
ela associada a lytron, resgate, preço redentor. Cristo veio como resgate em
lugar de muitos - Mat. 20:28; Mar. 10:45; 1 Tim. 2:6. Cristo é chamado
antilytron, isto é, resgate substitutivo.

3o. O mesmo fica provado pelo que as Escrituras ensinam quanto ao fato de que
os nossos pecados são postos sobre Cristo. Veja abaixo, Perg. 9.

4o. Também fica provado pelo que elas ensinam quanto à natureza dos sacrifícios
e quanto à natureza sacrificial da obra realizada por Cristo. Veja abaixo, Pergs.
10 e 11.
9. Como igualmente se pode mostrar que Cristo morreu como nosso
Substituto, com respeito às passagens que falam em termos de “fez cair sobre
ele a iniqüidade” ou de “levou sobre si o pecado” (cf., e.g., Is. 53: 6 e 12)?

O pecado pode ser considerado (1) em sua natureza formal,

como “transgressão da lei”, 1 João 3:4 (ARA); ou (2) como qualidade moral
inerente ao agente (macula), Rom. 6:11-13; ou (3) com respeito à sua obrigação
legal de sofrer punição (reato). E só neste último sentido que se fala em termos
de o pecado “cair sobre” ou de “ser levado por outrem”.

Io. Imputar o pecado a alguém é simplesmente colocá-lo em sua conta como o


fundamento da punição. (1) A palavra hebraica hâsab significa estimar, ter
como, imputar, creditar algo a alguém como lhe pertencendo - Gên. 31:15;
Lev.7:18; Núm. 18:27; Sal. 106:31. (2) Os mesmos significados tem a palavra
grega loguízomai - Is. 53:12; Rom. 2:26; 4:3-9; 2 Cor. 5:19. (3) As Escrituras
afirmam que os nossos pecados são imputados a Cristo-Mar. 15:28: Is. 53:6,12;
2 Cor. 5:21; Gál. 3:13.

2o. (1) A palavra hebraica sâbal tem o sentido exato de levar, carregar, não de
tirar ou remover, Lam. 5:7. E aplicada a Cristo levando (sobre Si) os nossos
pecados - Is. 53:11. (2) Também a palavranâsâ, construída com o vocábulo
“pecado”, tem o sentido de ser “penalmente responsável” por ele - Núm. 30:15;
Lev. 5:17,18; 16:22. (3) A Septuaginta traduz essas palavras às vezes por háiro,
levar, carregar, e às vezes por féro e anaféro, que nesta conexão sempre tem o
sentido de levar sobre si, com o fim de tirar, remover - Robinson, Lex. Cf.
Mat. 8:17 com Is. 53:4.

10. Como se pode mostrar que os sacrifícios judaicos (as vítimas oferecidas em
sacrifício) eram sofredores vicários das penas a que estavam expostos os que os
ofereciam, e que, no sentido literal, eram tipos do sacrifício de Cristo?

E admitido por todos que, desde os tempos mais remotos, ofereciam-se


sacrifícios entre as nações pagãs, e com o fim de propiciar a justiça ofendida.

A. O fato de que as vítimas dos sacrifícios cruentos dos judeus sofriam


vicariamente as penas devidas aos pecados dos ofensores fica provado:

Io. Por suaocasião - Lev. 4:1 a 6:13. Sempre, nesses casos, a relação era com
algum pecado, alguma transgressão moral ou cerimonial.

2o. Pelas qualificações das vítimas. Era preciso que fossem da melhor classe de
animais associados estreitamente aos homens,e.g., ovelhas, touros, novilhos,
cabras, bodes, pombas; os espécimes escolhidos tinham que ser os melhores do
seu gênero quanto à idade, ao sexo e à condição física - Lev. 22:20-27; Êx.
22:30; 29:1.

3o. Pelo próprio ritual do sacrifício. Esse abrangia (1) A imposição das mãos,
com confissão do pecado - Lev. 1:4; 3:2; 4:4; 16:21; 2 Crôn. 29:23. Este ato
exprime sempre nas Escrituras uma transferência da pessoa que impõe as mãos
para a pessoa ou animal ou coisa que recebe essa imposição, e.g., de autoridade
oficial, Deut. 34:9; Atos 6.6; ou de virtude curadora, Mat. 9:18; Atos 9:12,17; ou
do pecado, Lev.l6:7-22. O rabi Arão Ben Chajim diz: “Onde não há confissão do
pecado, não há imposição das mãos” - Outram,De Sacrificiis, Div. 1., Ch. 15, §§
8, 10, 11. Por isso a vítima, embora perfeita em si, sempre foi
chamadahattâhth,pecado, Lev. 4;3, thâsâm, culpa, Lev. 5:6.

(2) A imolação da vítima. Era oferecida pelo pecador e “aceita em lugar dele
para fazer expiação por ele”, Lev., cap. 4, e depois imolada, “porque é pelo
sangue que se faz expiação pela alma - Lev. 17:11. (3) A aspersão do sangue, no
caso de sacrifícios comuns, sobre os chifres do altar, mas no dia da propiciação
o sangue da vítima oferecida pelos pecados de todo o povo era levado para
dentro do véu e aspergido sobre o propiciatorio, Lev. 4:5 etc., significando isto
sua aplicação para cobrir os pecados e sua aceitação da parte de Deus.

4o. Por seu efeito, que era sempre o perdão. “E lhe sera perdoado” era a
promessa constante - Lev. 4:20-31; 6:30, etc. É expresso sempre pela palavra
hebraicakâfar, cobrir o pecado, e pela palavra grega iláskesthai, expiar ou
propiciar. Veja Lev., caps. 4 e 5; Heb. 2:17. A tampa da arca santa chamava-
se kapporeth, ilásterion,propiciatorio, ou sede de expiação.

5o. Esta é a exposição que todos os judeus instruídos fazem destes ritos em todos
os tempos subseqüentes. Veja Outram, De Sac., Div. 1., Caps. 20-22.

B. O fato de que, no sentido rigoroso, eram tipos do sacrifício de Cristo fica


provado...

10. São expressamente chamados “sombras”, das quais Cristo é o “corpo”, e


“figuras” - Heb. 9;13-24; 10:1,13; 11:12.

2o. Cristo assevera que a Lei, como igualmente os profetas, fala dEle e da Sua
obra - João 1:45; 5:39; Luc. 24:27.

3o. Declara-se que “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” - 1 Cor. 5:7;
Luc. 24:44. Cf. Êx. 12:46 e Núm. 9:12.

4o. Declara-se que Ele foi “oferecido” por Seu povo, que Seu “sangue” foi um
sacrifício pelo pecado, etc. - João 1:29; Heb. 9:26,28; 10:12,14; 1 Ped. 1:19; Ef.
5:2; 2 Cor 5:21.

5o. Declara-se em toda parte que, para chegar-se por Ele a Deus, Cristo fez
precisamente aquilo que os antigos sacrifícios faziam em esfera inferior - Gál.
3:13; Mat. 20:28; 1 João 2:2; 4:10; Rom. 3:24,25; 5:9,10; Ef. 1:7; 2:13; Col.
1:14-20.

O SACERDÓCIO

11. Exponha o argumento derivado do fato de que Cristo fez satisfação por
Seu povo como seu Sumo Sacerdote.

1. O sacerdote era -

Io. Um homem escolhido dentre os homens para representá-los nas coisas


pertencentes a Deus - Heb. 5:1. Isso era verdade especialmente no caso do sumo
sacerdote. “Ele representava o povo todo; Israel todo era considerado
como estando nele” - Vitringa, Obs. Sac., pág. 292; Êx. 38:9-29. Se ele pecava, o
seu pecado era considerado como pecado de todo o povo - Lev. 4:3. Ele levava
sobre o peitoral do juízo2 os

nomes de todas as tribos. Impunha as mãos sobre o bode de propiciação (ou “da
expiação”) que levava o pecado, e confessava os pecados de todo o povo - Lev.
16:15,21.

2o. Tinha o direito de se apresentar a Deus, e todo o povo só tinha acesso a Deus
por meio dos sacerdotes, especialmente do sumo sacerdote. Núm. 16:5.

3o. Isso os sacerdotes efetuavam por meio de sacrifícios propiciatórios e de


intercessão. Veja acima, Perg. 10. Heb. 5:1-3; Núm. 6:22-27.

2. E declarado que Cristo salva o Seu povo na qualidade de Sumo Sacerdote.

Io. Tanto no Velho como no Novo Testamento se diz expressamente que Ele é
Sacerdote - Sal. 110:4; Zac. 6:13; Heb. 5:6.

2o. Ele possui todas as qualificações necessárias para esse ofício. (1) Foi
escolhido dentre os homens para representá-los. Comparar Heb. 5:1 com 2:14-18
e 4:15. (2) Foi escolhido por Deus - Heb. 5:4-6. (3) Foi santo - Heb. 7:26. (4)
Tinha o direito de aproximar-Se de Deus-Heb. 1:3; 9:11-14.

3o. Ele exerceu todas as funções de um sacerdote. Dan. 9:24-26; Ef. 5:2; Heb.
9:26; 10:12; 1 João 2:1.

4o. No momento em que se consumou a obra realizada por Cristo, rasgou-se o


véu do templo e acabou-se todo o típico sistema sacrificial como íunctus officio
(como missão cumprida) -Mat. 27:50,51.

12. Como se pode provar a verdade da doutrina acima exposta quanto à


natureza da satisfação feita por Cristo, pelos efeitos que ‘lhe são atribuídos nas
Escrituras?

Io. No que estes efeitos dizem respeito a Deus, declara-se que constituem
propiciação e reconciliação. (1) Hiláskesthai significa propiciar uma deidade
ofendida por meio de um sacrifício expiatório-Heb. 2:17; 1 João 2:2; 4:10; Rom.
3:25.

(2) A palavra hebraica káfar significa, quanto ao pecado, uma coberta, e quanto a
Deus, propiciação. E traduzida muito bem

em nossas Bíblias por fazer propiciação ou expiação, aplacar,


reconciliar,perdoar,purgar, limpar, Ez. 16:63; Gên. 32:20,21; Sal. 45:4,5; 78:38;
1 Sam. 3:14; Núm. 35:31,32;reator, Sal. 49:8; fazer satisfação (receber preço),
Núm. 35:31. (3) Katallásso, reconciliar - pela morte de Cristo, não imputando as
transgressões, justificando por sangue, etc., Rom. 5:9,10; 2 Cor. 5:18-20.

2o. No que estes efeitos dizem respeito ao pecado, declara-se que constituem
umaexpiação, oupropiciação -Heb. 2:17; 1 João 2:2; 4.10; Lev. 16:6-16.
3o. No que dizem respeito ao pecador, declara-se que constituem redenção, isto
é,livramento medianteresgate - 1 Cor. 7:23; Apoc. 5:9; Gál. 3:13; 1 Ped. 1:18,19;
ITim. 2:5; Sal. 51:11; 62:12.

Nas mesmas frases declara-se que a obra realizada por Cristo é (1) uma oblação
expiatória, (2) o preço de um resgate, e (3) uma satisfação dada à Lei. Portanto,
somos “remidos (ou resgatados) pelo sangue precioso de Cristo como de um
cordeiro imaculado e sem contaminação alguma”. Cristo “deu sua vida
em redenção por muitos”. Ele “nos remiu da maldição da lei, feito ele mesmo
maldição por nós”. “Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus fez
pecado (isto é, sacrifício pelo pecado) por nós, para que nós fôssemos feitos
justiça de Deus nele” (Figueiredo). Assim, pois, não se diz que Cristo foi feito
um sacrifício, resgate e objeto da maldição da Lei, e sim que Ele é esse gênero
especial de sacrifício que é um resgate - que a Sua obra de redenção é de tal
natureza que é efetuada pelo fato dEle levar a maldição da lei em nosso lugar, e
que Ele nos resgata oferecendo-Se como sacrifício cruento a Deus.

13. Em que sentido e por quais motivos foi necessária a satisfação prestada por
Cristo? E como é que a verdadeira resposta a essa pergunta confirma a doutrina
ortodoxa quanto à Sua natureza?

Desde que a salvação dos homens é objeto da graça soberana, não poderia haver
necessidade de que Deus

providenciasse os meios necessários para alcançá-la; mas, se Deus determinou


salvar pecadores, qual o sentido em que, nesse caso, a satisfação prestada por
Cristo foi necessária}

Io. Os defensores da teoria sociniana ou da influência moral dizem que ela foi
necessária só contingente ou relativamente, como o melhor meio imaginável de
comprovar o amor de Deus e vencer a oposição dos pecadores.

2o. Os defensores da teoria governamental da propiciação sustentam que ela foi


relativamente necessária unicamente porque era o melhor exemplo que, para
desviar-nos do pecado, Deus podia dar da Sua determinação de puni-lo. ' '

3o. Alguns supralapsários, como o Dr. Twisse, presidente da Assembléia de


Westminster, a fim de exaltarem a soberania de Deus, têm mantido que havia
somente uma necessidade hipotética, isto é, que a satisfação foi necessária
unicamente porque Deus tinha determinado perdoar o pecado só sob
essa condição.

4o. A doutrina verdadeira é que íoiabsolutamente necessária como o único meio


possível de satisfazer a justiça de Deus com referência ao perdão do pecado. E
evidente que os motivos para uma necessidade absoluta da parte de Deus só
podem estar na justiça imutável da Sua natureza, justiça que está por trás da Sua
vontade e a determina.

Que a satisfação foi absolutamente necessária fica provado -

(1) Se fosse possível alcançar-nos a salvação de qualquer outra maneira, Cristo


teria morrido em vão - Gál. 2:21; 3:24.

(2) Deus declarou que a Sua dádiva de Jesus Cristo é a medida do Seu grande
amor ao Seu povo. Sendo assim, é evidente que não havia outra alternativa,
porque de outro modo o Seu amor não teria sido o motivo do sacrifício - Rom.
5:8; João 3:16; 4:9.

(3) Paulo afirma que foi necessária como justificação da justiça de Deus em
relação aos pecados passados - Rom. 3:25,26.

É claro que, se era absoluta a necessidade de satisfação, deveria ter seu motivo
na natureza de Deus. Sendo assim, não poderia ser outra coisa senão, em sua
essência, uma satisfação dada à justiça ou retidão essencial dessa natureza. Mas
uma satisfação à justiça ofendida é sofrimento penal.

14. Como se pode provar que a satisfação dada por Cristo inclui tanto a Sua
obediência “ativa” como a “passiva”?

Veja acima, Perg. 1 § 8. Cristo, como o segundo Adão, toma sobre Si as


obrigações que a aliança das obras impõe sobre o Seu povo no estado em que
foram deixadas pela queda do primeiro Adão. As sanções dessa aliança eram -
(1) “O homem que fizer estas coisas viverá por elas” - Lev. 18:5,
comparado com Rom. 10:5; Gál. 3:12 e Mat. 19:17. (2) A pena de morte. Se
Cristo sofresse somente a pena de morte e não prestasse a obediência federal
exigida de Adão, seguir-se-ia necessariamente, ou (1) que Deus mudou as
condições da lei e dá “a vida eterna” sem que fosse cumprida a condição
imposta; ou (2) que nós nunca poderíamos alcançar essa vida; ou (3) que
nós teríamos que começar como Adão antes da sua apostasia e cumprir em
nossas pessoas as condições da aliança das obras. Isso, porém, nos é impossível,
e por isso Cristo as cumpriu por nós por Sua obediência.

Isso é provado -

Io. Pelas Escrituras, que declaram que Ele não somente sofreu a pena, mas
também, por Seus merecimentos, adquiriu para nós “a vida eterna”, “a adoção de
filhos” e uma “herança eterna” - Gál. 3:13,14; 4:4,5; Ef. 1:3-13; 5:25-27; Rom.
8:15-17.

2o. Pela declaração expressa de que Ele nos salva tanto por Sua obediência como
por Seus sofrimentos - Rom. 5:18,19.

15. Qual é a doutrina da Igreja quanto à perfeição da satisfação dada por


Cristo?

A. Quanto ao seu valor intrínseco de satisfazer a justiça,

tem sido sustentado - ••«bi.vb;--. t,. '• '

Io. Por Duns Scotus (f 1308), que referiu a necessidade de propiciação à vontade
e não à natureza, afirmando que cada oblação criada tem o valor que a Deus
apraz dar-lhe”. Aprouve a Deus, em Sua graça, aceitar os sofrimentos da
natureza humana de Cristo como suficientes, segundo o princípio de accepti
latio, “tomar, segundo a vontade e voluntariamente, nada por alguma coisa, ou
uma parte por tudo”.

2o. Grotio (f 1645), em sua grande obra De Satisfactione, etc., afirmou que, por
ser a lei um produto da vontade divina, Deus tinha a prerrogativa inalienável de
relaxá-la (relaxatio), e que por Sua graça relaxou-a, aceitando nos sofrimentos
de Cristo alguma coisa diversa e menor do que aquilo que a lei exigia, um aliud
pro quo, e não um quid pro quo.

3o. Limborch e Curceloea (f 1712 e f 1659) -Apol. Theol., 3:21,6, elnst. Rei.
Christi, vol. 5, cap.19: § 5 - sustentaram que Cristo não sofreu a pena da Lei,
mas nos salva como um sacrifício que não foi o pagamento de uma dívida e,
sim, uma condição que Deus em Sua graçajulgou suficiente, perdoando, então,
por Sua grafa, a pena.
4o. As igrejas romana, luterana e reformada sempre têm sustentado que a
satisfação dada por Cristo foi a de uma Pessoa divina e, por isso, foi (1)
supererrogatória, não devida a Ele próprio e podendo ser creditada a outros; (2)
de valor infinito. Desde os tempos de Tomás de Aquino, a igreja católica
romana tem sustentado que é de valor super abundante e, por
conseguinte, satisfaz às exigências da lei no estrito rigor da justiça.

B. Quanto à sua intenção e ao seu efeito ~

Io. As igrejas reformadas concordam todas em sua oposição aos romanistas e aos
arminianos, defensores de uma propiciação indefinida, sustentando que a
satisfação dada por Cristo é perfeita no sentido de não só tornar possível a
salvação daqueles a favor de quem foi oferecida, mas também de tornar
certas, pelos merecimentos de Cristo, a aplicação dessa satisfação a

Seu povo e a sua completa salvação.

2o. Os romanistas sustentam que, por meio do batismo, os merecimentos de


Cristo (1) anulam a culpa de todos os pecados originais e próprios cometidos
antes do batismo, e (2) alteram a pena dos pecados cometidos depois do batismo
de morte eterna para penas temporais. Contudo, as pessoas que depois de
batizadas cometem pecados, têm que expiá-los mediante penitências ou obras de
caridade neste mundo, ou mediante penas sofridas no purgatório, no outro -
Cone. de Trento, Sess. 14, cap.8, e Sess. 6, cânones 29, 30.

3o. Os arminianos sustentam que a satisfação dada por Cristo torna possível a
salvação de todos os homens e adquiriu para eles graça suficiente, mas que o seu
pleno efeito depende da livre escolha que eles fizerem.

A verdade da doutrina reformada fica provada (1), pelo fato de que as Escrituras
referem o livramento da condenação unicamente à morte de Cristo, e que
representam como disciplinares todos os sofrimentos dos crentes - Rom. 8:1-
34; Heb. 12:5-11. (2) Elas declaram que o sangue de Cristo “nos purifica de todo
pecado” e que “estamos perfeitos nele” que, por “um único sacrifício” nos
aperfeiçoa - Col. 2:10; Heb. 10:12-14; 1 João 1:7. (3) A única condição imposta
para a nossa salvação é que tenhamos confiança na obra realizada por Cristo, e
esta mesma confiança (fé) nos é dada como um resultado dos merecimentos de
Cristo - Ef. 2:7-10. (4) Provamos acima (Perg. 14) que a satisfação dada por
Cristo, e como merecimento dela, adquiriu real e perfeita salvação sob certas
condições. Veja abaixo, Perg. 21.

16. Como se pode expor e responder às objeções que têm sido feitas contra a
verdade da doutrina ortodoxa?

Io. Os socinianos e outros objetam que, enquanto é um dever imperativo e uma


virtude cristã que os homens perdoem livremente as ofensas, a nossa doutrina
atribui a Deus o erro maligno de ser vingativo.

RESPONDEMOS - (1) Que nós perdoamos o mal que se nos faz e nada temos a
fazer com a punição dos pecados, enquanto Deus pune o pecado e não pode
sofrer males. (2) Provamos acima (Cap.8, Pergs. 53-58), que não se pode
resolver toda virtude em benevolência, que a justiça é atributo essencial de Deus
e que o pecado é desmerecimento intrínseco.

2°. Socino (1539-1604) e outros sustentavam que, se o pecado é punido, não


pode ser perdoado, e se é perdoado, não pode ser punido, e que por isso a nossa
doutrina exclui o exercício da graça livre da parte de Deus em nossa salvação.

RESPONDEMOS: (1) A livre graça manifesta-se na soberana admissão e


aceitação, da parte de Deus, da substituição feita por Cristo, e (2) na soberana
imputação de Seus merecimentos aoa pecador individual. (3) O fato de serem
livres o amor de Deus e Sua graça que levou Cristo a oferecer-Se, é mil
vezes mais conspícuo, à vista dos fatos de que os homens são condenados com
justiça e de que ela inexoravelmente exigiu satisfação na auto-humilhação do
nosso Substituto, do que poderia ser em qualquer soberana relaxação da lei ou
por qualquer simples perdão concedido aos arrependidos.

3o. Outra objeção é que Cristo não sofreu a pena da lei, porque nela foram
incluídos essencialmente (a) o remorso, (b) a morte eterna.

RESPONDEMOS: a pena da lei é essencialmente o simples desprazer divino,


envolvendo a retirada da comunhão vivifi-cadora do Espírito Santo. Tal pena, no
caso de toda criatura, tem por conseqüência (a) a morte espiritual, (b) e por isso
e naturalmente eterna. Cristo sofreu esse desprazer e abandono, Mat. 27:46, mas,
sendo Pessoa divina, era impossível que sofresse a morte espiritual.

Ele sofreu exatamente esse gênero, grau e duração de dor que a sabedoria divina,
interpretando a justiça divina, exigiu de uma Pessoa divina sofrendo
vicariamente a pena dos pecados humanos; pela mesma razão, o sofrimento
temporário de uma só Pessoa divina é um pleno equivalente legal

do desmerecimento de toda a raça humana.

4o. A objeção feita por Piscator (Professor em Herborn, 1584-1625) e outros


contra o reconhecimento da obediência ativa de Cristo como elemento
componente da satisfação por Ele prestada consiste em afirmar: (1) Que,
segundo a lei, obediência e sofrimentos penais eram alternativas. Se se
obedece ao preceito, não se deve sofrer a pena. (2) Que Cristo, como homem,
precisava da Sua justiça ativa para Si próprio, como a qualificação essencial do
Seu caráter pessoal.

RESPONDEMOS: (1) Como se mostrou acima, Pergs. 2 e 14, Cristo foi o


nosso Representante em nossa relação federal à lei, e não em nossa relação
natural. A Sua obediência ativa e passiva tem fins diversos, merecendo a
primeira os prêmios positivos que têm por condição a obediência, e a segunda
a bênção negativa da remissão da pena. (2) Cristo, conquanto homem, é Pessoa
divina e, por isso, nunca esteve sujeito pessoalmente à aliança das obras feita
com Adão. Sendo essencialmente justo, nasceu debaixo da lei unicamente
como nosso Representante, e Sua obediência debaixo das condições da Sua vida
terrestre, assumida voluntariamente, foi puramente vicária.

5o. Outra objeção dos arminianos e de outros é que a doutrina segundo a qual
Cristo satisfez por nós às exigências preceptivas da lei por Sua obediência ativa,
e também sofreu as suas penas, conduz ao antinomismo.

A RESPOSTA a isso acha-se acima, Perg. 3.

6o. Socino e todos os demais oponentes da doutrina ortodoxa objetam ainda que,
quando a justiça exige satisfação penal, essa exigência é essencialmente pessoal.
O que a justiça ofendida exige é especificamente a punição da pessoa que pecou.
Como, então, podem os sofrimentos infligidos a uma pessoa que substitui
arbitrariamente, pela vontade divina, o criminoso, satisfazer às exigências da
natureza divina? Como podem os sofrimentos de um homem inocente substituir,
aos olhos da justiça, os do homem culpado?

RESPOSTA - A substituição de Cristo, realizada a favor de pecadores eleitos,


não foi um ato arbitrário. Ele deu satisfação por eles como o Cabeça
verdadeiramente responsável de uma comunidade que constitui uma corporação
moral, constituída de pessoas morais. Esta união responsável com Seu povo
foi estabelecida (a) tomando Ele sobre Si, voluntariamente, as
suas responsabilidades legais, (b) reconhecendo Deus, a fonte de toda a Lei no
universo, a Cristo como Fiador, e (c) assumindo Ele a nossa natureza. Esse é, ao
menos, o testemunho da revelação, testemunho que, se não pode ser explicado,
não pode ser desmentido.

O DESÍGNIO DA PROPICIAÇÃO

17. Como expor; primeiro negativa e depois positivamente, a verdadeira


doutrina quanto ao desígnio com que o Pai e o Filho proveram uma
satisfação? .

Negativamente -

Io. Não há duas opiniões entre os cristãos quanto à suficiência dessa satisfação a
fim de adquirir a salvação para todos os homens, seja grande quanto for o seu
número. E absolutamente ilimitada.

2o. Nem quanto à sua aplicabilidade a qualquer de todos os pecadores humanos


que em qualquer tempo tenham existido, existam ou venham a existir. As
relações de todos com a lei são idênticas, e aquilo que salvaria um salvaria os
outros.

3o. Nem quanto àoferta que no evangelho Deus faz a “todo o que quer”. É
aplicável a todos e será aplicada infalivelmente a todos os crentes.

4o. Nem quanto à sua aplicação efetiva. Os arminianos concordam com os


calvinistas no ensino de que, dos adultos, somente os que crerem serão salvos, e
os calvinistas, como também os arminianos, ensinam que todas as criança
que morrem são remidas e salvas.

5o. Nem há diversidade de opiniões quanto ao alcance

universal de alguns dos benefícios adquiridos por Cristo. Os calvinistas crêem


que toda a dispensação de longanimidade ^ sob a qual vive a raça humana depois
da Queda, abrangendo justos e injustos para bênçãos temporais e os meios de
graça, é parte do que em nosso favor o sangue de Cristo adquiriu. Eles admitem
também que Cristo morreu por todos os homens [ num sentido tal que por Sua
morte Ele tirou todos os obstáculos legais que impediriam a salvação de todo e
qualquer homem e que a satisfação dada por Ele pudesse ser aplicada a
qualquer pecador, se Deus assim quiser.

2. Mas, positivamente, a questão é qual foi o desígnio, o propósito, que o Pai e o


Filho tiveram em vista na morte vicária de Cristo? Esse propósito foi tornar certa
a salvação dos eleitos, ou só tornar possível a salvação de todos? Sua
satisfação abrange a todos indiferentemente, tanto a um homem como a qualquer
outro? Essa satisfação adquiriu e tornou certa a sua própria aplicação e todos os
meios necessários para isso, para todos aqueles em favor dos quais foi
especificamente dada? A impetração e a aplicação desta propiciação abrangeram
a mesma classe de objetos? Na ordem do propósito divino, foi ela um meio para
alcançar o propósito da eleição, ou é esta um meio para levar a efeito a satisfação
de Cristo, de outro modo inoperante?

A nossa Confissão de Fé responde -Cap. 8, § 5: “O Senhor Jesus, por Sua


perfeita obediência e pelo sacrifício de si mesmo ... não somente adquiriu a
reconciliação, mas também uma herança perdurável no reino dos céus para todos
os que o Pai Lhe deu” - Cap. 8, § 6. “Como Deus tem destinado os eleitos para a
glória, assim também, pelo eterno e muito livre propósito da sua vontade, Ele
preordenou todos os meios para isso. Portanto, os que são eleitos, tendo caídos
em Adão, são remidos por Cristo... Nem há outros quaisquer que sejam remidos
em Cristo... senão só os eleitos.”

Cap. 8, § 8. “A TODOS aqueles para quem Cristo adquiriu a salvação, ele com
certeza e eficazmente aplica e

comunica a mesma.” Também os Artigos do Sínodo de Dort, Cap. 2, §§ 1, 2, 8.

O propósito com que Cristo morreu foi efetuar aquilo que realmente efetua no
resultado. Io. Incidentalmente, tirar todos os obstáculos legais do caminho de
todos os homens e tornar objetivamente possível a salvação de todos os que
ouvem o evangelho, de modo que cada um tem o direito de apropriar-se dela à
vontade; impetrar bênçãos temporais para todos e os meios de graça para todos
os que deles são supridos na providência divina. Todavia, 2Especificamente, Seu
propósito foi impetrar a efetiva salvação do Seu povo, em todos os seus meios,
condições e partes, e torná-la infalivelmente certa. Segundo a maneira dos
escolásticos agostinianos, Calvino diz sobre João 2:2: “Cristo morreu
suficientemente por todos, mas eficientemente só pelos eleitos”. Assim também
o arcebispo Usher, números 22 e 23 das Cartas publicadas por seu
capelão, Ricardo Parr, D.D. .

18. Como se pode expor a doutrina arminiana sobre este assunto?

Segundo essa doutrina, Cristo tinha o propósito de

oferecer uma oblação sacrificial a favor de todos os homens


indiscriminadamente, alcançando assim para todos graça suficiente e tornando os
seus pecados perdoáveis, conforme os termos da aliança evangélica, isto é, sob a
condição de terem fé - Watson, Theol. Institutes, parte 2, Cap.25.

19. Qual era a doutrina dos “Marrow Men”, na Escócia?

O livro Marrow of Modem Divinity (Medula da Teologia Moderna) foi publicado


na Inglaterra em 1646, e reeditado na Escócia por Tiago Hogg, de Carnock, em
1726. Os “Marrow Men” eram Hogg, Thomas Boston e Ralph e Ebenezer
Erskine, e os seus adeptos, naSecession Church (Igreja Dissidente).
Eram perfeitamente ortodoxos com respeito à referência da propiciação aos
eleitos. A sua peculiaridade consistia em acentuarem a referência geral da
propiciação a todos os homens.

Diziam que Cristo não morreu por todos, mas que é morto, isto é, é aproveitável,
por todos. “Deus deu o dom de Cristo a todos os homens”, diziam eles. Eles
distinguiam entre o Seu “amor que dá”, que é universal, e o Seu “amor que
elege”, que é especial (Marrow of Mod. Divinity). O Dr. John Brown
disse perante o Sínodo da UnitedSecession Church (Igreja Dissidente Unida), em
1845: “No sentido dos universalistas, que dizem que Cristo morreu para adquirir
a salvação, eu sustento que Ele morreu só pelos eleitos. No sentido dos
arminianos, que dizem que Cristo morreu para alcançar condições mais fáceis de
salvação, e graça comum para habilitar os homens a cumprirem essas condições,
mantenho que Ele não morreu por ninguém. No sentido da maioria dos
calvinistas, que dizem que Cristo morreu para tirar os obstáculos legais do
caminho da salvação humana, dando satisfação perfeita pelo pecado, eu sustento
que Ele morreu por todos os homens” - Rev. A. Robertson, History of Atonement
Controversy in Secess. Church (História da Controvérsia sobre a Éxpiação na
Igreja Dissidente).

20. Como se pode expor a doutrina de Amyraldus, da escola francesa de


Saumur, e de Baxter, na Inglaterra?

Sua doutrina é a teoria do universalismo hipotético ou condicional, que sustenta


que Deus entregou Seu Filho à morte a fim de prover redenção para todos os
homens indiscriminadamente, fazendo depender o seu gozo efetivo da sua livre
apropriação dela. Ao mesmo tempo, Ele quer dar soberanamente a graça eficaz
que determina somente os eleitos para a apropriação pessoal da redenção.

A doutrina comum dos calvinistas logicamente faz do decreto de provisão da


redenção o meio para levar a efeito o decreto de eleição. A teoria francesa e de
Baxter faz do decreto da eleição o meio pelo qual se leva a efeito o propósito
geral da redenção. Estas “novidades” os seus defensores procuraram explicar de
conformidade com as doutrinas ortodoxas perante

o sínodo francês de 1637, e foram virtualmente condenadas. Veja Richard


Baxter, Universal Redemption of Mankind by the Lord Jesus Christ (A Redenção
Universal da Humanidade pelo Senhor Jesus Cristo) e a resposta de John Owen
em sua obra Death of Christ (A Morte de Cristo), etc.

21. Como expor as provas bíblicas em que se apóia a doutrina calvinista quanto
ao “Propósito da Propiciação”?

Io. Comprova-a o fato de que só esta doutrina condiz com a doutrina bíblica de
que Deus, soberanamente e desde a eternidade, elegeu certas pessoas para a vida
eterna e todos os meios necessários para produzirem este resultado. E claro
que dar satisfação especialmente pelos eleitos é um meio racional para levar a
efeito o decreto de eleição. Por outro lado, porém, a eleição de alguns para a fé e
o arrependimento não é provisão racional para levar a efeito o propósito de remir
todos os homens. R. Watson (Institutes, vol. 2, pág. 411) declara que a teoria
de Baxter, etc. “é a teoria mais inconseqüente a que tem ensejado os esforços
feitos no sentido de modificar o calvinismo”. Claro está que, se Deus tinha o
propósito de que fossem com certeza salvos os eleitos, e os outros deixados a
sofrer as justas conseqüências de seus pecados, Cristo não poderia ter o
propósito de que todos os homens indiferentemente gozassem dos benefícios da
Sua morte.

2o. Seu propósito manifesta a própria natureza da propiciação, como acima foi
provado. (1) Cristo expiou os nossos pecados como nosso Substituto no sentido
restrito. Ora, um substituto representa pessoas definidas, e seu serviço, quando
aceito, realmente livra de suas obrigações as pessoas a favor de quem o serviço
foi prestado. (2) Cristo, sendo o nosso Substituto debaixo da “aliança das obras”,
satisfez real e perfeitamente todas as exigências da aliança. Neste caso,
as próprias condições da aliança estipulam que as pessoas a favor das quais essas
condições foram cumpridas gozem a recompensa merecida pelo Substituto. Não
é a possibilidade

de vida, e sim a vida mesma que éprometida.

3o. As Escrituras declaram em toda parte que o desígnio e o efeito legal da obra
de Cristo não foram para que se tornasse possível a salvação do pecador, e sim
salvá-lo efetivamente; reconciliá-lo com Deus, e não somente torná-lo
reconciliável

- Mat. 18:11; Rom. 5:10; 2 Cor. 5:21; Gál. 1:4; 3:13; Ef. 1:7; 2:16.

4o. As Escrituras ensinam em toda parte que Cristo, por Sua obediência e morte,
adquiriu a fé, o arrependimento e as influências do Espírito Santo. Segue-se que
deve ter adquirido estes dons para aqueles por quem Ele obedeceu e sofreu, e
por conseguinte, não podem ser as condições de que depende o gozo dos
benefícios da Sua morte. “Deus... nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nos lugares celestiais em Cristo.” O Espírito Santo “abundantemente
Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” - Tito 3:5,6; Gál.
3:13,14; Fil. 1:29; Tito 2:14; Ef. 5:25,27; 1 Cor. 1:30.

5o. Cristo morreu em conformidade com os termos de uma aliança eterna entre
Ele e o Pai. Isso é certo - (1) Porque três Pessoas eternas e inteligentes só podem
ter tido um plano mútuo compreendendo todas as Suas obras, prescrevendo
a cada uma delas a Sua parte nele. (2) As Escrituras referem-se muitas vezes a
essa aliança - Sal. 89:4,5; Is. 42:6,7; 53:10,12.

(3) Cristo referiu-Se constantemente a ela enquanto a executava

- Luc. 22:29; João 6:38; 10:18. (4) Cristo reivindica o prêmio ou recompensa
estipulada-João 17:4-9. (5) Cristo fala sobre os que Lhe haviam sido dados pelo
Pai - João 10:25-29; João 17:11 etc. Portanto, Jesus Cristo morreu
especificamente por aqueles que o Pai Lhe dera.

6o. Declara-se sempre que aquilo que motivou esse sacrifício de Si mesmo é a
mais exaltada forma d & amor pessoal -João 15:13; Rom. 5:8; 8:32; Gál. 2:20;
Ef. 3:18,19; 1 João 3:16; 4:9,10. .

7o. A doutrina de que Cristo morreu especificamente pelos eleitos acha-se


exposta em toda parte nas Escrituras - João

10:11,15; Atos 20:28; Rom. 8:32-35; Ef. 5:25-27.

22. Se Cristo morreu unicamente por Seu povo,em que é que se apóia a oferta
geral do evangelho?

“O Senhor Jesus, para alcançar a salvação do Seu povo, e com este fim
especificamente em vista, cumpriu as condições da lei ou da aliança sob a qual o
Seu povo e todos os homens estavam colocados. Essas condições eram - (1)
Perfeita obediência; (2) Satisfação dada à justiça divina. A justiça de Cristo
consta, pois, da Sua obediência e morte. Essa justiça é precisamente aquilo que a
lei exige de todo pecador para a sua justificação perante Deus. Está, pois, em sua
natureza, adaptada a todos os pecadores que estavam debaixo dessa lei.
Sua natureza não ficou mudada pelo fato de que foi adquirida só para uma parte
de tais pecadores, nem pelo que lhes foi alcançada em virtude de uma aliança
entre o Pai e o Filho. O que é necessário para a salvação de um só homem é
necessário para a salvação de outro e de todos. E também de valor infinito, por
ser a justiça do Filho eterno de Deus, e por isso suficiente para todos” - Hodge,
Essays, págs. 181 e 182.

A todos os homens se deve, pois, oferecer de boa fé o evangelho- • 1

Io. Porque a satisfação dada à lei é suficiente para todos.

2o. Porque é exatamente adaptada à redenção de todos.

3o. Porque é do propósito de Deus salvar a todos os que crêem em Cristo. Assim,
a propiciação torna objetivamente possível a salvação de todo aquele a quem for
oferecida. O desígnio da morte de Cristo foi adquirir a salvação do Seu
povo; mas é incidental que essa obra inclua também a oferta livre, e feita de boa
fé, da salvação a todos os homens, sob a condição de terem fé em Cristo.
Ninguém se perde por falta de uma propiciação, nem porque haja outro
obstáculo que lho impeça, a não ser sua própria vontade libérrima e má.
23. Como se pode conciliar a condenação dos homens por

rejeitarem a Cristo com a doutrina de que Ele só morreu pelos eleitos?

Uma salvação totalmente suficiente e exatamente adaptada às suas necessidades


é oferecida de boa fé a todo homem a quem chega o evangelho, e não há como
não seja dele, se ele crer, senão unicamente por sua própria má disposição.
É claro que ele nada tem a fazer com o desígnio que Deus teve em vista
provendo essa salvação, além da promessa positiva de que Deus a tenciona dar-
lhe, se crer. Se um homem é responsável por seu maucoraçãoe pelo exercício
detodas as suas faculdades, é por certo digno de condenação por rejeitar um
Salvador tão bondoso. ,

24. Como se deve explicar as passagens que falam em Cristo levar ou tirar os
pecados do MUNDO e em morrer por TODOS?

São passagens como Heb. 2:9; 1 Cor. 15:22; 1 João 2:2; 1 Tim. 2:6; João 1:29;
3:16,17; 6:51. Os termos “mundo” e “todos” inquestionavelmente são
empregados com graus muito diversos de latitude nas Escrituras. Em muitas
passagens essa latitude é evidentemente limitada pelo contexto,e.g., 1 Cor.
15:22; Rom. 5:18; 8:32; João 12:32; Ef. 1:10; Col. 1:20; 2 Cor. 5:14,15. Noutras
passagens a palavra “mundo” é empregada em oposição à nação judaica, povo
de privilégios exclusivos - Rom. 11:12,15; 1 João 2:2. E evidente que afirmações
quanto ao desígnio da morte de Cristo, envolvendo semelhantes termos gerais, é
preciso limitar pelas afirmações mais definidas acima referidas. As vezes é
empregada esta forma geral de afirmação para realçar o fato de que, sendo Cristo
uma só vítima, fez expiação por tantos mediante um só sacrifício. Compare
Mat. 20:28 com 1 Tim. 2:6 e Heb. 9:28. E conquanto Cristo não tenha morrido
com a intenção de salvar todos, mesmo assim sofreu a pena dessa lei, debaixo da
qual todos se achavam, e agora oferece a todos a justiça assim adquirida.

25. Como devemos entender as passagens que falam da possibilidade de


perecerem aqueles por quem Cristo morreu?

Tais passagens são hipotéticas e expõem com verdade a natureza e tendência do


ato contra o qual nos admoestam, e são meios utilizados por Deus, sob a
administração do Seu Espírito, para cumprir Seus propósitos. Deus trata os
homens sempre dirigindo motivos à sua inteligência e à sua vontade, e assim
cumpre Seus próprios desígnios por meio dos homens. No caso do naufrágio de
Paulo, era certo que ninguém pereceria; contudo, todos pereceriam se os
marinheiros não permanecessem no navio - Atos 27:24-31. Segundo o
mesmo princípio se deve explicar passagens como Heb.10:27-30; 1 Cor. 8:11 e
todas as demais semelhantes a essas.

HISTÓRIA DAS DIVERSAS OPINIÕES

MANTIDAS NA IGREJA

26. Como se pode expor o caráter geral da soteriologia dos chamados santos
pais?

Io. Desde o princípio os “Pais” cristãos representativos ensinavam de maneira


indigesta e não científica que Cristo sofreu como Substituto do Seu povo, para
expiar o pecado e propiciar a Deus. Aplicavam livremente à obra realizada
por Cristo a linguagem sacrificial das Escrituras. Outram,Disc. 1, cap. 17:
“Quanto ao que diz respeito à obra de Cristo como o Redentor dos homens,
achamos já na linguagem empregada sobre este ponto pelos “Pais” da Igreja, no
período que consideramos, todos os elementos fundamentais da doutrina como
essa veio depois a ser definida pela Igreja” - Neander, Ch. Hist., vol. 1, pág. 640;
veja os testemunhos abaixo registrados.

2o. Junto com estes sentimentos houve, em combinação com eles, durante todos
os primeiros séculos até ao tempo de Anselmo, uma teoria acentuada
especialmente por Orígenes (185-254) e Irineu (c. 120-200), segundo a qual
Cristo foi oferecido por Deus como preço do resgate do Seu povo, resgate pago a
satanás, a cujo poder estavam sujeitos por ele os haver

conquistado. Essa teoria fundava-se em passagens como Col. 2:15 eHeb.


2:14. .

27. Como se pode expor, em termos gerais, as quatro teorias sob uma ou outra
das quais se pode agrupar todas as opiniões mantidas em qualquer tempo sobre
a natureza da reconciliação efetuada por Cristo?

1a. A MÍSTICA. Esta teoria, embora tenha assumido diversas formas, pode ser
exposta, em termos gerais, assim: a reconciliação efetuada por Cristo foi operada
pela união misteriosa de Deus e o homem realizada na Sua encarnação, e não
por Sua morte sacrificial. Esta é a teoria defendida por alguns dos santos “Pais”
que adotaram a filosofia de Platão, pelos discípulos de Scotus Erígena durante a
Idade Média, por Osiander e Schwenkfeld no tempo da Reforma, e pela escola
de Schleiermacher, entre os teólogos alemães modernos.

2a. A TEORIA DA INFLUÊNCIA MORAL, distintivamente elaborada


primeiro por Abelardo (1079-1142) e mantida pelos socinianos e por trinitários
tais como Maurice, Young, Jowett, Bushnell, etc. Os pontos envolvidos são - (1)
Não há em Deus um princípio tal como a justiça vindicativa. (2) A benignidade é
o princípio único, supremo e determinante que leva Deus a cuidar da redenção
dos seres humanos. (3) A única finalidade da vida e da morte de Cristo é
produzir um efeito moral sobre o pecador individual, subjugando a sua obstinada
aversão a Deus e a sua teimosa desconfiança da Sua prontidão em perdoar -
reconciliando assim o homem com Deus, antes que Deus com o homem. (4) Os
socinianos sustentavam, além disso, que a morte de Cristo foi a necessária
condição para a Sua ressurreição, pela qual Ele trouxe à luz a imortalidade.

3a. A TEORIA GOVERNAMENTAL, a qual, pressupondo todas as verdades


positivas contidas na Teoria da Influência Moral, sustenta - (1) Que em Deus a
justiça não é vindicativa, mas deve ser relacionada com uma retidão
governamental geral, baseada numa consideração benévola pelo melhor e mais

geral bem-estar final dos súditos do Seu governo moral. (2) A lei é um produto
da vontade divina e por isso Deus pode relaxá-la. (3) As prerrogativas soberanas
de Deus incluem o direito de perdoar. (4) Mas a retidão governamental acima
explicada, tendo em vista que um perdão indiscriminado haveria de estimular o
pecado, determina a Deus que faça o perdão dos pecados depender de um
exemplo imponente de sofrimento numa vítima relacionada com os homens e
com Ele, de modo que manifeste eficazmente a Sua determinação de que
ninguém pode entregar-se com impunidade ao pecado. Por isso - (a)
Os sofrimentos de Cristo não constituíram punição, e sim um exemplo de uma
determinação de punir o pecado no futuro, (b) Cristo não sofreu com o propósito
de satisfazer a justiça divina, e sim o de dar a todo o universo moral um
motivo poderoso para evitar o pecado. A teoria governamental foi elaborada
primeiro por Hugo Grotio (f 1645) em sua grande obra intituladaDefensio Fidei
Catholicae de Satisfactione Christi (Defesa da Fé Católica acerca da Satisfação
de Cristo), na qual abandonou a fé cuja defesa tinha assumido. Essa teoria
nunca foi incorporada no credo de nenhuma igreja histórica, mas tem sido
sustentada por diversas escolas de teólogos, como,e.g., os sobrenaturalistas do
século passado na Alemanha (Staudlin, Flatt, Storr e outros) e, na América, por
Jonathan Edwards Jr., Smalley, Maxey, Dwight, Emmons e Park.

OBSERVAÇÕES - Essa teoria contém muitas verdades preciosas, mas, ao


mesmo tempo, falha no ponto essencial do qual depende a integridade do todo.
Porque - (1) Somente uma real e verdadeira punição pode ser exemplo de
uma punição ou uma prova da determinação de Deus de punir o pecado. (2) Ela
não faz caso da justiça essencial de Deus, nem (3) do fato de que o pecado é um
mal essencial em si, nem (4) do fato de que Cristo sofreu como a CABEÇA a
quem todos os seus membros estavam unidos.

4a. A TEORIA DA SATISFAÇÃO, que abrange coerentemente os elementos


positivos das teorias da Influência Moral e

Governamental acima expostas. Foi analisada e exposta de maneira científica


primeiro por Anselmo, arcebispo de Cantária (1093-1109), em seu célebre livro
CurDeus Homo (Por que Deus Homem?), e tem formado a base das doutrinas
sote-riológicas de todos os credos e da literatura teológica clássica de todas as
igrejas históricas, desde o tempo em que foi originariamente formulada até
agora. Foi exposta e comprovada suficientemente na primeira parte deste
capítulo.

LITERATURA. - Hase, Libri Symbolici Eccle. Evangelicae; Niemeyer,Collectio


Confessionum etc.; Streitwolf,Libri Symbolici Eccle. Catholicae, De Sacrificiis,
Gulielmo Outramo Auctores; Neander e Schaff, Church Histories; Archb.
Magee, The Atonemenf, Shedd, History of Christian Doctrine-, Owen,
Works, vol. 10,Redemption; Ritschl, Crit. Hist. of the Christ. Doctrine of
Reconciliatiorv, Candlish, The Atonemenf, Watson ,Institutes.

AUTORIDADES CLÁSSICAS E CONFESSIONAIS

Orígenes, Homil. ad Lev., 1, falando sobre Cristo, diz: “Impôs as mãos sobre
cabeça do novilho, isto é, deitou os pecados dos homens sobre a Sua própria
cabeça, porque Ele é a Cabeça do corpo, a Igreja”.

Atanásio (298-373), Contra Arianos, 1, 45-60. “A morte do Logos encarnado é o


resgate pelos pecados dos homens e uma morte da morte”... “Carregado de
culpa, o mundo estava condenado pela Lei, mas o Logos tomou sobre Si
a condenação e, sofrendo na carne, deu salvação a todos”.

Gregário, o Grande (c. 540-604), Moralia in Jobum, 17,


46: “A culpa só pode ser extinta por uma oferta penal feita à justiça...Segue-se
que se deveria oferecer um homem sem pecado...Era preciso, pois, que o Filho
de Deus nascesse de uma virgem e Se tornasse homem por nós.

Ele tomou sobre Si a nossa natureza sem a nossa corrupção (culpa). Ele Se fez
sacrifício por nós e expôs pelos pecadores o Seu próprio corpo, vítima sem
pecado e capaz, tanto de morrer em virtude da Sua humanidade, como de
purificar

os culpados, com base na justiça”.

Bernardo de Claraval (1091-1153), Tract. contra Err. Abcelardi, caps. 6 e 15:


“Se Um morreu por todos, por conseqüência, logo todos morreram”(2 Cor.
5:14), isto é, a satisfação prestada por Um é imputada a todos, porque esse Um
levou os pecados de todos; e não se diga que quem ofendeu foi um e quem fez a
satisfação foi outro, porque a cabeça e o corpo são um só em Cristo. Por isso a
Cabeça fez satisfação por Seus membros”.

Wycliffe (1324-1384),DeIncarn. etMort. Christi: “E, desde que, segundo a


terceira suposição, é necessário que se dê satisfação pelo pecado, assim também
era necessário que essa mesma raça de homens desse uma satisfação tão grande
como foi grande no primeiro pai (Adão) a ofensa, o que não poderia fazer
homem algum que não fosse ao mesmo tempo homem e Deus”.

Os valdenses do Piemonte, em 1542, apresentaram a Francisco I, rei da França,


por intermédio do cardeal Sadoleto, uma confissão na qual diziam: “Esta
Confissão é a que recebemos de nossos antepassados, passada de mão em mão,
segundo os seus predecessores ensinaram e relataram em todos os tempos e
idades... Nós cremos e confessamos que a gratuita remissão dos pecados
procede da misericórdia e imerecida bondade do nosso Senhor Jesus Cristo, que
morreu uma só vez por nossos pecados, o justo pelos injustos; que levou os
nossos pecados em Seu próprio corpo na cruz; que Ele é o nosso Advogado junto
a Deus, sendo Ele mesmo o preço da nossa reconciliação; que deu satisfação em
favor dos crentes, aos quais os pecados não são imputados como imputados são
aos incrédulos e réprobos”.

João Wessel (1419-1489), De Causis Incarnationis. Verdadeiramente, Ele


mesmo Deus, sacerdote e vítima, deu satisfação por Si, de Si e para Si”. Exempla
Scalce Meditationis, Exemplo 1, fig. 544: “O nosso Pai aman-tíssimo quis que
Tu, Seu próprio Filho amantíssimo, fosses o fiador e a garantia no sentido de que
fosse feito e sofrido o suficiente, com base em justo penhor, por meu

fracasso total e meu inteiro malogro”. : 1 • ' •

CONFISSÃO ORTODOXA DA IGREJA ORIENTAL CATÓLICA E


APOSTÓLICA, composta por Petrus Mogilas, Metropolitano de Kiev, em 1642,
e sancionada pelo Sínodo de Jerusalém em 1672, pág. 85. A morte de Cristo foi
morte muito diversa da morte de todos os demais homens, nestes aspectos:
primeiro, por causa do peso dos nossos pecados; em segundo lugar, porque Ele
cumpriu o sacerdócio completo, mesmo até à cruz; Ele Se ofereceu a Deus o
Pai para resgate da raça humana. Por isso até à cruz Ele cumpriu a mediação
entre Deus e os homens”.

DOUTRINA ROMANA - Cone. de Trento, Sess. 6, cap. 7: “Cristo que, sendo


nós inimigos, pela nímia caridade com que nos amou, adquiriu por nós a
justificação e satisfez por nós ao Pai eterno, com Sua santíssima paixão no
lenho da cruz...”. Catecismo do Cone. de Trento, Parte 2, cap. 5, Perg. 60: “A
primeira e mais excelente satisfação é aquela pela qual tudo quanto é devido por
nós a Deus por causa de nossos pecados, foi pago abundantemente, ainda
que Ele nos tratasse segundo o restrito rigor da Sua justiça. Esta é aquela
satisfação que nós dizemos que aplacou a Deus e no-lO tornou propício, e isso
devemos somente a Cristo o Senhor que, tendo pago na cruz o preço dos
nossos pecados, muito plenamente satisfez a Deus”.

CONFISSÕES LUTERANAS - Hase, Collection, pág. 684, Formula


Concordia‘.“Aquela justiça que, diante de Deus, somente por Sua graça é
imputada à fé, ou ao crente, é a obediência, o sofrimento e a ressurreição de
Cristo, pelos quais Ele, por amor de nós, satisfez à lei e expiou os
nossos pecados. Porque, sendo Cristo não somente homem, e sim Deus e homem
numa só Pessoa não dividida, não estava sujeito à Lei nem ao sofrimento e morte
por causa de Si mesmo, porque era o Senhor da Lei. Por isso a Sua obediência
(não somente em que Ele obedeceu ao Pai nos Seus sofrimentos e morte, mas
também em que Ele, por amor de nós, fez-Se voluntariamente sujeito à Lei
e cumpriu-a por Sua obediência) nos é imputada, de modo que Deus, por causa
dessa inteira obediência (que Cristo

por Seus atos e sofrimentos, em Sua vida e em Sua morte, por amor de nós
prestou a Seu Pai que está no céu) remite os nossos pecados, reputa-nos como
bons e justos e nos dá a salvação eterna”.

DOUTRINA REFORMADA - Os Trinta e Nove Artigos, Arts. 11 e 31.

“A oblação de Cristo, feita uma só vez, é a completa redenção, propiciação e


satisfação de todos os pecados, tanto o original como os atuais, do mundo todo;
e nenhuma satisfação há para os pecados, senão unicamente esta”. Homil. 3a. Da
Salvação - “Deus enviou a este mundo Seu Filho único, nosso Salvador Jesus
Cristo, para cumprir a lei por nós e, pelo derramamento do Seu
preciosíssimo sangue, oferecer um sacrifício e dar satisfação a Seu Pai por
nossos pecados”. Catecismo de Heldelberg, Pergs. 12-18 e 40. Conf. de Fé, de
Westminster, cap.8, § 5; cap.ll, § 3. Form. Cons. Helvética, cans. 13-15. Cocceio,
De Foed. et Testam. Dei, cap. 5, 92. “Assim esse maior de todos os mistérios (a
aliança eterna entre o Pai e o Filho) é revelado, de que maneira somos
justificados e salvos por Deus, de que maneira Deus pode ser tanto aquele que
julga como aquele que age como fiador, e que é Ele mesmo julgado, que absolve
e que intercede, que envia e é enviado. Isso é, de que maneira Deus mesmo
satisfaz-Se por Seu próprio sangue.”

DOUTRINA REMONSTRANTE - Limborch, Apol. Thes. 3, 22, 5: “Talvez se


pergunte aqui como é que o sacrifício de um só homem pode ser suficiente e
com efeito foi suficiente para expiar os inúmeros pecados de tantas miríades de
homens. Resposta: Foi suficiente por dois motivos. Primeiro, com respeito à
vontade divina, que nada mais exigia para o livramento da raça humana,
mas satisfez-Se com este único sacrifício. Em segundo lugar, com respeito à
dignidade da Pessoa, Jesus Cristo...”. 21, 6. A satisfação de Cristo é chamada
assim porque livra de todas as penalidades devidas aos nossos pecados
e, ouvindo-as e esgotando-as, satisfaz à justiça divina. Mas este sentimento não
tem apoio nas Escrituras. Chama-se

a morte de Cristo um sacrifício pelo pecado; porém os sacrifícios não são


pagamentos de dívidas, nem constituem plena satisfação pelos pecados; no
entanto uma remissão gratuita é concedida quando são oferecidos”.

Remonstrantia, etc., cinco artigos preparados pelos defensores holandeses da


redenção universal (1610). Art. 2: “Por conseguinte, Jesus Cristo, o Salvador do
mundo, morreu por todo e qualquer homem, de modo que impetrou para todos,
por Sua morte, a reconciliação e a remissão dos pecados; mas, não obstante isso,
sob a condição de que somente quem fosse crente, e isso também segundo o
evangelho, teria a fruição real dessa reconciliação”.

DOUTRINA SOCINIANA -Rac. Caí., Sec. 5, cap.8: “Qual foi o propósito da


vontade divina que Cristo sofresse por nossos pecados? Resposta: em primeiro
lugar, a fim de que se criasse por este meio para todos os pecadores um
direito muito real e, por conseguinte, uma esperança segura de lhes serem
remitidos os pecados (Rom. 8:32; 5:8-10. Em segundo lugar, para que todos os
pecadores fossem incitados para irem a Cristo e atraídos por Ele, buscando a sua
salvação somente nAquele e por Aquele que por eles morreu. Em terceiro lugar,
para que Deus desta maneira testificasse o amor ilimitado que tem pela raça
humana e a reconciliasse inteiramente conSigo (João 3:16)”.
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Isto por aquilo (um pelo outro). Em latim no original. Nota de Odayr
Olivetti.

Em Figueiredo: “o Racional”. Ver Êxodo 28:29.


A Intercessão de Cristo

1 .Em que sentido Cristo permanece sacerdote para sempre?

Isso é declarado em Hebreus 7:3,24, para contrastar o sacerdócio de Cristo com


o de Arão, que constava de uma sucessão de homens mortais nas suas gerações.
O sacerdócio de Cristo é perpétuo porque -

Io. por um só sacrifício pelo pecado aperfeiçoou para sempre aqueles pelos quais
o sacrifício foi oferecido.

2o. Ele vive sempre para interceder por nós.

3o. Sua Pessoa e obra como Mediador continuarão a ser, durante toda a
eternidade, o motivo pelo qual somos aceitos, e o meio da nossa comunhão com
o Pai.

2. Cristo intercedeu no mundo por Seu povo?

Exerceu no mundo essa função do Seu sacerdócio, Luc. 23:34; João 17:20; Heb.
5:7; exerce-a,porém,principalmente no Seu estado de exaltação, no céu.

3. Que ensinam as Escrituras a respeito da intercessão de Cristo?

Io. Ele apresenta-Se por nós diante de Deus como o

Advogado sacerdotal do Seu povo, e apresenta o Seu sacrifício -Heb. 9:12,24;


Apoc. 5:6.

2o. Ele age como Advogado junto ao Pai e, apoiando-Se na Sua própria obra
perfeita e nos termos da aliança da graça, exige como Seu direito, mas como
uma graça infinitamente

livre quanto a nós, o cumprimento de todas as promessas da Sua aliança-1 João


2:1; João 17:24; 14:16; Atos 2:33; Heb. 7:25.

3o. Tendo comunhão de natureza com Seu povo e experiência pessoal das
mesmas tribulações e tentações que as que os afligem agora, Ele tem empatia
com eles, vela por eles e socorre-os em todas as suas diversas circunstâncias, e
adapta as Suas incessantes intercessões ao curso inteiro da Sua experiência - 1
Ped. 2:5; Ef. 1:6; Apoc. 8:3; Heb. 4:14-16.

4. Por quem Ele intercede?

Não pelo mundo, e sim por Seu povo, de todos os rebanhos e de todos os tempos
- João 10:16; 17:9,20.

5. Como se pode mostrar que a intercessão de Cristo faz parte essencial de


Sua obra sacerdotal?

É absolutamente essencial, Heb. 7:25, porque é necessário que Ele, como


Mediador, não somente abra o caminho de uma salvação possível, mas que
realmente alcance a salvação de todos os que o Pai Lhe deu, e que forneça a cada
um deles uma “apresentação” ao Pai-João 17:12; Ef. 2:18; 3:12. A comunhão do
Seu povo com o Pai será sustentada sempre por Ele como sacerdote medianeiro -
Sal.110:4; Apoc. 7:17.

6. Qual a relação existente entre a obra do Espírito Santo e a intercessão de


Cristo?

Cristo é Sacerdote real - Zac. 6:13. Do mesmo trono Ele, como Rei, dispensa
Seu Espírito a todos os objetos do Seu cuidado, enquanto, como Sacerdote,
intercede por eles. O Espírito realiza Sua obra por Ele, tomando unicamente de
Suas coisas. Ambos agem de mútuo acordo, Cristo como quem dirige, o Espírito
como Seu agente. Cristo intercede por nós estando fora de nós, como o nosso
Advogado no céu, segundo os termos da aliança eterna. O Espírito Santo, como
o nosso

Advogado dentro de nós, age sobre o nosso entendimento e o nosso coração,


iluminando e vivificando, e assim determinando os nossos desejos “segundo a
vontade de Deus”. A obra de um é o complemento da do outro, e juntas formam
um todo completo - Rom. 8:26,27; João 14:26.

)
O Reinado Medianeiro de Cristo

1. Como difere a soberania de Cristo como Mediador da Sua

soberania como Deus? '

Sua soberania como Deus é essencial à Sua natureza; não foi derivada e é
absoluta, eterna e imutável.

Sua soberania como Rei medianeiro é derivada, foi-Lhe dada pelo Pai como
prêmio por Sua obediência e por Seus sofrimentos; é especial e diz respeito à
salvação do Seu povo e à administração das provisões da aliança da graça; e ela
não pertence à Sua natureza divina como tal, e sim à Sua Pessoa como Deus-
homem, ocupando o ofício de Mediador.

Seu reino é assunto muito proeminente nas Escrituras -Dan. 2:44; Mat. 13:1-58;
20:20-29; Luc. 13:23-30; 17:20, 21; Rom. 14:17; 1 Ped. 3:22; Ef. 1:10,21,22.

2. Qual é a extensão do reino medianeiro de Cristo, e quais os seus diversos


aspectos?

A autoridade medianeira de Cristo abrange o universo -Mat. 28:18; Fil. 2:9-11;


Ef. 1:17-23. Apresenta dois grandes aspectos.

Io. Na Sua administração geral, como abrangendo o universo como um todo.

2o. Na Sua administração especial, como abrangendo a Igreja.

Tem sido distinguido como - (1) Seu reino d<z poder, que abrange o universo
inteiro em Sua administração providencial

e judicial. Seu fim é a sujeição dos Seus inimigos,(Heb. 10:12,13; 1 Cor. 15:25),
a vindicação da justiça divina (João 5\22-21; 9:39) e o aperfeiçoamento da Sua
Igreja. (2) Seu reino dtgraça, que é espiritual tanto a respeito de Seus súditos,
como de Suas leis, modos de administração e meios empregados. (3) Seu reino
dtglória, que é a consumação da Sua administração providencial e pela graça, e
há de permanecer para sempre.

3. Quais os fins da Sua autoridade medianeira sobre o universo, e como é ela


administrada?

Seu fim geral é alcançar a salvação da Sua igreja na execução de todas as


provisões da aliança da graça, que recaiem sobre Ele como Mediador - Ef. 1:23.
Constituindo o universo um sistema moral e físico, era necessário que a Sua
supremacia como Mediador se estendesse a tudo, para que todas as
coisas contribuíssem para o bem do Seu povo, Rom. 8:28; para estabelecer um
reino para eles, Luc. 22:29; João 14:2; para subjugar todos os seus inimigos, 1
Cor. 15:25; Heb. 10:13; e para que todos O adorassem - Heb. 1:6; Apoc. 5:9-13.
Seu governo geral medianeiro do universo é administrado,
Io. providencialmente; 2o. judicialmente - João 5:22,27; 9:39; 2 Cor. 5:10. .

Efésios 1:10 e Colossenses 1:20 parecem ensinar que a supremacia medianeira


de Cristo tem relações muito abrangentes com o universo moral em geral, que de
outro modo não são de maneira alguma reveladas.

4. Quando Cristo tomou formalmente sobre Si o Seu reino medianeiro?

Io. Os defensores do advento premilenário e do reino pessoal de Cristo à terra


admitem que Ele reina agora à direita de Seu Pai, sobre o trono de Seu Pai e pelo
direito que a Seu Pai pertence; mas sustentam também que somente no
Seu segundo advento Ele tomará posse efetiva do Seu próprio reino, Se assentará
em Seu trono como Mediador e ocupará então o

trono literal de Davi, e de Jerusalém, como sua capital, constituirá Seu reino.

2o. A verdade, como é sustentada por todos os ramos da Igreja histórica, é que,
conquanto Jesus tenha sido virtualmente Rei medianeiro, como também Profeta
e Sacerdote desde a queda de Adão, contudo, a ocasião em que tomou posse
pública e formal do Seu trono e inaugurou Seu reino espiritual foi quando subiu
ao céu e assentou-Se à destra de Seu Pai. A prova disso é que as predições do
Velho Testamento sobre o Seu reino (Sal. 2:6; Jer. 23:5; Is. 9:6; Dan. 2:44) são
aplicadas no Novo Testamento ao primeiro advento. João Batista declarou que
o reino dos céus estava próximo. Cristo declarou que é “chegado a vós o reino de
Deus” e o assemelhou ao campo em que cresciam juntos o trigo e a cizânia, etc. -
Mat. 12:28; Atos 2:29-36.

5. Quais os diversos títulos aplicados nas Escrituras a esse reino, e quais os


sentidos em que esses títulos são empregados?
É chamado - (1) O “reino de Deus”, Luc. 4:43, porque é proeminentemente de
origem divina, e Deus exerce a Sua autoridade muito direta e plenamente em sua
administração. (2) O “reino de Cristo” e do “Filho do seu amor” (do
amado Filho de Deus), Mat. 16:28; Col. 1:13, porque Cristo é pessoalmente o
Soberano imediato. (3) O “reino dos céus”, Mat. 11:12, porque a sua origem e as
suas características são do céu e ali será consumado.

Essas frases às vezes são empregadas para exprimir - (1) A autoridade


medianeira de Cristo, ou Sua administração, como quando nós Lhe atribuímos
“o reino, o poder e a glória” ou afirmamos que “o seu reino não terá fim”. (2) As
bênçãos e vantagens de toda espécie, internas e externas, que caracterizam essa
administração, como quando se diz que “o reino é justiça, e paz, e alegria no
Espírito Santo”. Ilustra isso o que Napoleão III disse: “O Império é a paz”. (3)
Os súditos do reino coletivamente, como quando se diz que se “entra no reino”,
ou

quando se fala nas “chaves do reino” que dão acesso a essa comunidade ou
excluem dela. Neste último sentido a frase “reino de Deus” ou “dos céus” é um
sinônimo da palavra “igreja”.

A palavra basileía (reino), nesta conexão, acha-se cento e trinta e sete vezes no
Novo Testamento, sendo cento e dez vezes nos quatro Evangelhos, e cinqüenta e
três só no Evangelho Segundo Mateus, que é o Evangelho mais
intimamente relacionado com o Velho Testamento, e somente vinte vezes nas
Epístolas, enquanto o vocábulo ekklesía (igreja), quando se refere à Igreja de
Cristo, encontra-se só uma vez nos Evangelhos e oitenta e oito nas Epístolas e no
Apocalipse.

6. Qual a natureza da administração de Cristo como Rei do Seu povo, isto é, do


Seu reino em distinção do universo?

Io. É providencial. Ele exerce o Seu governo providencial sobre o universo com
o fim de alcançar assim o sustento, a defesa, o enriquecimento e a glorificação
do Seu povo.

2o. Consegue este fim pela dispensação de Seu Espírito chamando eficazmente,
santificando, consolando, preservando, ressuscitando e glorificando o Seu povo -
João 15:26; Atos 2:33-36.
3o. Consegue-o também prescrevendo a forma, a ordem e as funções de Sua
Igreja, os oficiais que devem exercer essas funções, e as leis que eles devem
administrar - Mat. 28:18,19,20; Ef. 4:8,11. ■«- .r-A:

4o. Consegue-o ainda designando as pessoas que devem tomar sucessivamente


sobre si essas funções, por meio de um chamado espiritual, expresso no
testemunho do Espírito, no seu encaminhamento providencial e na chamada de
seus irmãos -Atos 1:23,24; 6:5; 13:2,3; 20:28; 1 Tim. 1:12; 4:14. .

Sob essa administração esse reino apresenta dois aspectos - Io. como militante,
Ef. 6:11,16; 2o. como glorificado -Apoc. 3:21. De conformidade com isso, Cristo
apresenta-Se como desempenhando, na administração dos quefazeres do

Seu reino, as funções de um grande comandante, Apoc. 19:11,19, e de um


soberano reinando assentado em seu trono -Apoc. 21:5,22,23.

O trono em que está assentado e de onde reina nos é apresentado em três


aspectos diversos, correspondendo às diversas relações que Cristo mantém com
Seu povo e com o mundo; como um trono de graça, Heb. 4:16; um trono de
juízo, Apoc. 20:11-15; e um trono de glória - Comp. Apoc. 4:2-5 com Apoc. 5:6.

7. Em que sentido o reino de Cristo é espiritual? ■

Io. O Rei é Soberano espiritual, e não terreno-Mat. 20:28; João 18:36.

2o. Seu trono está à direita de Deus - Atos 2:33.

3o. Seu cetro é espiritual - Is. 53:1; Sal. 110:2.

4o. Os cidadãos do Seu reino são homens espirituais - Fil. 3:20; Ef. 2:19.

5o. O modo como exerce o Seu governo é espiritual - Zac. 4:6,7.

6o. Suas leis são espirituais - 1 Cor. 5:4-11; 2 Cor. 10:4; Ef. 1:3-8; 2 Tim. 4:2;
Tito 2:15.

8. Qual a extensão dos poderes de que Cristo tem investido Sua Igreja visível?

Com relação ao magistrado civil, a Igreja é absolutamente independente. Em


sujeição à autoridade suprema de Cristo o Cabeça, os poderes da Igreja são
unicamente -

Io. Declarativos, isto é, consistem em explicar as Escrituras, que são a regra


perfeita de vida e fé, e assim dar testemunho da verdade e promulgá-la em
credos e confissões, no púlpito e pela imprensa.

2o. Ministeriais, isto é, consistem em organizar-se segundo o modelo fornecido


na Palavra, e então administrar, por meio dos oficiais próprios, os sacramentos,
as leis e a disciplina prescritas pelo Mestre, e fazer provisão para a proclamação
do

evangelho do reino a toda a criatura humana - Is. 8:20; Deut. 4:2; Mat. 28:18-20;
Heb. 13:17; 1 Ped. 2:4.
■ -...'O' ; •

9. Quais são as condições de admissão no reino de Cristo?

Simplesmente o reconhecimento prático da autoridade do

Soberano. Como Ele e o modo inteiro da Sua administração são espirituais, é


claro que é preciso entender a sua autoridade e sujeitar-se praticamente a ela, de
conformidade com a sua natureza espiritual. E esta a fé espiritual que
envolve iluminação espiritual-João 3:3,5; 1:12; 1 Cor. 12:3.

10. Qual a doutrina romana quanto à relação da Igreja com o Estado?

Segundo a doutrina romana estritamente lógica, o Estado é tão-somente uma fase


da Igreja. Sendo a nação inteira, em todos os seus membros, uma parte da Igreja
universal, a organização civil está compreendida na Igreja para certos
fins especiais e subordinados, e é responsável ante a Igreja pelo exercício de
todos os poderes que lhe foram delegados.

A Primeira Constituição sobre a Igreja, Concilio do Vaticano, 1870, cap.4,


afirma que o juízo do papa, pronunciadoex-cathe-dra, como pastor e doutor de
todos os cristãos, sobre qualquer questão de fé ou de moral, é infalível e
irreformável. Esta infalibilidade é pessoal, independente, separada e absoluta.
Isso abrange todas as matérias de fato e doutrinas reveladas, e todas as demais
matérias de fato e de verdades não reveladas, mas que se acham envolvidas na
defesa daquilo que está revelado. No capítulo 3 declara-se que a autoridade
suprema do papa infalível estende-se “ao supremo e pleno poder de
jurisdição sobre a Igreja universal, não somente nas coisas pertencentes à fé e à
moral,mas também nas que dizem respeito à sua disciplina e ao seu governo”.

No “Sílabopapal de Erros”, 1864, enviado a todos os bispos pela autoridade do


papa, é condenada a liberdade religiosa, é afirmado o direito da igreja (romana)
de obrigar pela força à

obediência a seus decretos, e é declarado nulo o casamento daqueles que se


recusam a aceitar o sacramento romano do matrimônio. (Veja as proposições
afirmativas publicadas, com a aprovação do papa, por E Clemens Schrader).

O próprio Pio IX, em sua resposta àMensagem da Academia da Religião


Católica (21 de julho de 1873) declarou que o papa possui o direito, do qual se
vale com propriedade, de, em circunstâncias favoráveis, “poder passar juízo
mesmo sobre os negócios civis e sobre os atos dos príncipes e das nações”.

O arcebispo Manning, em Ccesarism and Ultramontanism, p. 35, diz: “Se, pois,


o poder civil não é competente para definir os limites do poder espiritual, e se o
poder espiritual pode, com certeza divina, definir os seus próprios limites, este
é evidentemente divino. Ou, por outra, o poder espiritual conhece, com certeza
divina, os limites da sua própria jurisdição, e por isso conhece os limites e a
competência do poder civil”. E mais: “Qualquer poder que seja independente e
o único que pode fixar os limites da sua própria jurisdição, e que, assim, pode
fixar os limites de outra jurisdição qualquer, é ipsofacto supremo”. Veja “The
Vatican Decrees in their beanng on Civil Allegiance”, de autoria de Wm. E.
Gladstone, e sua “Answer to Reproofs andReplies”.

11. Qual a doutrina erastiana quanto à relação da Igreja com o Estado?

Essa doutrina, cujo nome deriva de Erasto, médico que residia em Heidelberg,
no século 16, é precisamente o contrário da doutrina romana, e considera a Igreja
somente como uma fase do Estado. O Estado, instituído divinamente com o
fim de cuidar de todas as necessidades, quer temporais quer espirituais, dos
homens, está, pois, encarregado do dever de cuidar da disseminação da doutrina
pura e da administração devida dos sacramentos e da disciplina. E, portanto,
dever do Estado sustentar a Igreja, nomear seus oficiais, definir suas leis e velar
sobre a sua administração.
12. Qual é a doutrina comum das igrejas reformadas sobre

esteponto? . ; .. ’> ■'

Que a Igreja e o Estado são ambos instituições divinas, tendo fins diversos e, em
todos os aspectos, independentes uma da outra. Os membros e os oficiais da
Igreja são, como homens, membros do Estado e têm o dever de serem bons
cidadãos; e os membros e os oficiais do Estado, se são cristãos, são membros da
Igreja e, como tais, sujeitos às suas leis. Mas, nem os oficiais nem as leis de
qualquer das duas instituições têm qualquer autoridade dentro da esfera da outra.

13. Qual a idéia e a finalidade do Estado? •: -

O governo civil é instituição divina, e tem por fim proteger

os homens no gozo de seus direitos civis. Portanto, recebeu de Deus autoridade


para definir os direitos que dizem respeito a todas as questões de pessoa e de
propriedade, cuidar da sua vindicação, regular a intercomunicação e cuidar de
todos os meios necessários para a sua própria segurança. ■ ■ -

14. Qual a finalidade da Igreja Visível?

É uma instituição divina e tem por fim servir de meio para conseguir a salvação
dos homens. Com este fim ela foi instituída especialmente -

Io. Para levar os homens ao conhecimento da verdade.

2o. Para torná-los obedientes à verdade e exercer suas graças pela profissão
pública de fé em Cristo, pela comunhão com seus irmãos e pela administração
das ordenanças e da disciplina.

3o. Para constituir o testemunho visível e o tipo profético da Igreja invisível e


espiritual.

15. Quais os dever es dos oficiais do Estado com relação à Igreja?

O Estado é instituição divina e seus oficiais são ministros

de Deus - Romanos 13:1-4. Cristo o Mediador é, como fato revelado, o


“Governador das Nações”, o “Rei dos reis e Senhor
dos senhores”, Apoc. 19:16; Mat. 28:18; Fil. 2:9-11; Ef. 1:17-23; e as Escrituras
Sagradas são regra infalível de vida e fé para todos os homens em todas as
condições.

Segue-se, pois -

Io. Que todas as nações deveriam reconhecer explicitamente ao Cristo de Deus


como o Governador supremo, e Sua vontade revelada como a lei suprema do
país, aos princípios gerais da qual se deveria conformar toda a
legislação especial.

2o. Que todos os oficiais civis deveriam fazer da glória de Deus o seu fim e
tomar como seu guia a vontade revelada de Deus.

3o. Que, posto que não se devesse fazer distinção entre as diversas denominações
cristãs, e se devesse conceder a todos os seres humanos perfeita liberdade de
consciência e de culto, contudo, o magistrado civil deveria procurar promover
a piedade bem como a ordem civil (Conf. de Fé, cap.23, § 2). Não deveriam
fazer isso tomando sobre si funções eclesiásticas, nem procurando patrocinar ou
dirigir a Igreja, e sim, por meio do seu exemplo pessoal, dando proteção
imparcial às propriedades das igrejas, facilitando os seus trabalhos, fazendo e
tornando eficazes leis concebidas no verdadeiro espírito do evangelho, e
especialmente mantendo invioláveis o domingo e o casamento cristãos, e
fornecendo ensino cristão nas escolas públicas.

16. Qual a relação que nos Estados Unidos da América a lei civil mantém com
as constituições, a disciplina e as propriedades das diversas igrejas?

A. FATOS DA HISTÓRIA -

Io. Na Inglaterra a Igreja estabelecida (Anglicana) é uma corporação criada e


dirigida pelo Estado.

2o. Na maior parte das colônias americanas, no princípio o Estado tomou sobre si
a direção absoluta dos negócios eclesiásticos e concedeu os direitos de cidadão
somente aos

que professavam certas doutrinas religiosas. ;'


B. FATOS ATUAIS -

Io. A Constituição dos Estados Unidos declara que “Nunca será exigida uma
prova religiosa como qualificação para qualquer ofício ou emprego público sob a
chancela dos Estados Unidos, e o Congresso não fará lei alguma a respeito
do estabelecimento de religião ou proibindo seu livre exercício”. As
constituições dos diversos estados contêm declarações no mesmo sentido.

2o. Num sentido geral, o cristianismo é, como fato histórico, elemento essencial
da lei comum da Inglaterra, bem como da dos Estados Unidos (com exceção de
alguns estados, como os de Luisiana, Texas, Novo México, e
Califórnia), incorporado em nossos costumes, princípios, precedentes, etc.*

3o. O cristianismo é reconhecido pela lei civil como a religião histórica e atual de
imensa maioria dos cidadãos dos Estados Unidos. A fé cristã e as instituições
pelas quais se manifesta devem, portanto, ser respeitadas e protegidas pela lei
civil.

4o. A lei civil reconhece, pois, a Igreja, e também que ela tem um caráter
histórico e que é um elemento importante da sociedade. Reconhece e protege seu
direito de existir e de gozar da posse de seus privilégios e poderes legítimos.
Assim a lei civil reconhece e protege (1) a autonomia da Igreja quanto a (a) seu
modo geral de governo e (b) sua disciplina das pessoas; (2) os direitos de cada
igreja, como organização, sobre seus bens.

5o. Os tribunais civis reconhecem como finais as decisões dos tribunais


eclesiásticos quanto (1) aos que devam ser considerados como membros da
igreja, e (2) aos que devam ser considerados como oficiais espirituais da igreja.
Os tribunais

Caso de “Updegraffcontra a Commonwealth da Pensilvânia”, 11 S. e R. 400,


perante o Tribunal Supremo. Juizes; Duncan, Tilghman e Gibson; 1824.

civis não têm a pretensão de reformar as decisões de nenhum tribunal


eclesiástico, com o fím de determinar (1) se foi devidamente constituído (isto é,
se o tribunal eclesiástico em questão é reconhecido pela autoridade superior
existente na igreja), nem (2) se, depois de constituído, observou e conformou-se
em tudo a suas próprias regras'.
O Juiz Rogers, do Supremo Tribunal da Pensilvânia, no caso da Igreja Alemã
Reformada do Condado de Lebanon, Pensilvânia, disse: “As decisões dos
tribunais eclesiásticos, como as de qualquer outro tribunal judicial, são finais,
porque eles são os melhores juizes para a determinação do que constitui uma
ofensa contra a Palavra de Deus e contra a constituição da Sua Igreja”.

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos, quanto ào caso que envolveu a Igreja
da Rua Walnut, Louisville, Kentucky, 1872, decidiu -

(1) Quando a disputa versar sobre matéria estrita e puramente eclesiástica em


seu caráter, matéria que diga respeito a controvérsias teológicas, à disciplina da
Igreja, ao governo eclesiástico ou à conduta moral dos membros, e sobre a
qual os tribunais eclesiásticos disserem que têm jurisdição, os tribunais civis não
assumirão jurisdição - nem mesmo inquirirão do direito de jurisdição do
(respectivo) tribunal eclesiástico.

(2) Um tribunal espiritual é o juiz exclusivo da sua própria jurisdição; sua


decisão sobre essa questão compromete os tribunais seculares. Veja Dr. Wm. E.
Moore, em Presbyterian Digest, pág. 251.

6o. A lei civil reconhece o direito da Igreja de disciplinar seus membros. Mesmo
a declaração pública, feita de conformidade com as regras de ordem (governo)
de uma igreja da qual um membro tenha sido excomungado (excluído) por ter
cometido uma ofensa tida como infame pela lei, é justificada, e perante a lei tal
publicação não é injúria.

7o. A igreja ou “sociedade eclesiástica” propriamente dita

c distinta da “sociedade religiosa”, criada e incorporada com o fim de possuir


bens para uso daquela. Estas sociedades religiosas incorporadas são regidas
segundo as suas cartas de incorporação e os regulamentos internos formulados
de conformidade com as cartas; elas possuem bens por meio de curadores, e são
virtualmente sociedades civis, tanto como os bancos ou as companhias de
estradas de ferro. Estão sujeitas à lei como as outras corporações. Estão sujeitas
a serem visitadas. Há remédio legal contra a intrusão nos seus escritórios,
mas elas podem sofrer restrição por administrarem mal ou empregarem mal os
bens a seu cuidado. Seus artigos de associação e os regulamentos feitos de
conformidade com suas cartas de incorporação, providenciando sobre eleições,
reuniões, e sobre a direção de seus negócios temporais, podem ser mudados,
contanto que nada se faça contrário às cartas de incorporação; porém, enquanto
existirem (tais artigos), serão obrigatórios para todos os membros. Conformidade
substancial com eles é indispensável para a validade das transações seculares e
podem ser revistos pelos tribunais civis.

8o. Quando o “Testamento” ou a “Escritura de Doação” ou os “Termos de


Subscrição”, ou a carta de incorporação de uma igreja não prescrever nem (1)
alguma doutrina específica, nem (2) alguma forma especial de governo
eclesiástico, nem (3) conexão com alguma denominação religiosa definida,
a maioria dos membros dessa igreja dirigirá o emprego dos bens seculares e, no
caso de mudança de doutrina, disciplina ou conexão denominacional, levará
consigo a posse da propriedade.

Mas quando a doutrina, a forma de governo ou a conexão eclesiástica se achar


definida pelos donos originais ou pela carta de incorporação da igreja, os
tribunais civis farão respeitar todos os termos e condições mencionados nas
diversas escrituras públicas. Em tal caso, se a maioria dos membros fizer
qualquer mudança em qualquer desses pontos essenciais, ela, por maior que seja,
perderá todos os direitos sobre a direção dos bens da

igreja, e a minoria, por menor que seja, será mantida na posse deles. E, em todos
os casos semelhantes, os tribunais se conformarão, em suas decisões, às dos
tribunais eclesiásticos superiores como finais. Veja Lectures by Wm. Strong,
LL.D., Juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, 1875.

17. Quais são as jurisdições relativas das “Mesas de Curadores” J e das


“Sessões” de nossas igrejas presbiterianas sobre as casas de ; culto
pertencentes às suas respectivas congregações? «

A “Sessão” é a única corporação de oficiais congregacionais j reconhecida em


nossa constituição eclesiástica. A “Mesa de Curadores” é produto dos tribunais
civis, a qual foi instituída com o fim de ser o guardião dos bens congregacionais.

Quanto às suas respectivas jurisdições, as decisões dos tribunais civis e as da


Assembléia Geral estão de acordo. Os curadores são investidos do direito legal
às propriedades, e são seus guardas “para os usos e fins para os quais lhes
foram confiadas”, a saber, o culto divino etc., segundo a ordem da igreja à qual
as propriedades pertençam, inclusive as reuniões para tratar dos negócios
temporais da congregação. A sessão está encarregada da direção dos interesses
espirituais da congregação, inclusive o direito de dirigir e regular o uso
do edifício para semelhantes fins. No Supremo Tribunal dos Estados Unidos, no
caso da Igreja da Rua Walnut, de Louisville, foram enunciados os seguintes
princípios: “1. Pelos atos da legislatura criando os curadores de uma igreja, em
corporação, e pelas regras reconhecidas da Igreja Presbiteriana, os curadores são
mera e nominalmente portadores dos títulos e os guardas dos bens da igreja. 2.
No uso dos bens para serviços religiosos, ou fins eclesiásticos, os curadores
estão sujeitos à direção da sessão da igreja”. Numa contenda entre os curadores e
a sessão de uma igreja em Filadélfia, a respeito de um organista, a questão foi
levada perante o Supremo Tribunal da Pensilvânia, que decidiu que o culto da
congregação estava sob a direção da sessão, que o serviço de cânticos era parte
do

culto, e que, por isso, era só a sessão que podia nomear o organista. Os tribunais
civis mantêm com muita firmeza os direitos e privilégios do culto religioso e das
igrejas, e exigem fidelidade aos compromissos aceitos.

18. Quais os deveres da Igreja com relação ao Estado?

Io. A Igreja deve obediência ao Estado no exercício da sua autoridade legal sobre
as propriedades públicas da Igreja.

2o. Está com a obrigação de usar todos os meios legais ao seu alcance para levar
o evangelho a todos os membros do Estado. Além disso ela não tem dever algum
para com o Estado.

19. Em que sentido Cristo vai restituir Seu reino ao Pai, e em que sentido há
de permanecer para sempre a Sua soberania medianeira?

Parece-nos que a suma do que nos está revelado sobre estes pontos é que, depois
da plena glorificação do Seu povo e da destruição dos Seus inimigos, Cristo
abdicará da Sua autoridade medianeira sobre o universo, que Ele administrou
como Deus-homem, para que a Deidade absoluta seja imediatamente tudo em
tudo para a criatura (para que Deus seja tudo em todos) - 1 Cor. 15:24-28. Mas a
Sua soberania medianeira sobre o Seu próprio povo, inclusive os ofícios de
profeta, sacerdote e rei, há de permanecer para sempre. Isto é certo -

Io. Porque Ele é sacerdote para sempre, e do Seu reino não haverá fim - Sal.
110:4; Dan. 7:14; Luc. 1:33.
20. A união pessoal entre as Suas naturezas divina e humana há de permanecer
para sempre.

3o. Como Mediador Ele é o Cabeça da Sua Igreja, que é a plenitude


(complemento) dEle, e a consumação das bodas do Cordeiro é o princípio do céu
- Apoc. 19:7; 21:2,9.

4o. As Escrituras nos dizem que Ele, como “um Cordeiro que foi morto”, está no
céu e no trono; que Ele será sempre o templo e a luz da cidade; que apascentará
sempre o Seu povo

e o levará às fontes das águas vivas - Apoc. 5:6; 7:17; 22:22,23

CRISTO EXECUTOU O SEU OFÍCIO DE MEDIADOR TANTO NO SEU


ESTADO DE HUMILHAÇÃO COMO NO DE EXALTAÇAO.

20. Em que consiste a humilhação de Cristo?

Veja o Catecismo Maior, Pergs. 46 e 50, to Breve Catecismo,

Perg. 27.

21. Em que sentido Cristo foi sujeito à lei, e como isso foi um ato de
humilhação?

Em Sua encarnação, Cristo nasceu substituindo exatamente o Seu povo em sua


relação com a lei, e manteve com a lei exatamente a mesma relação mantida por
Seu povo. Nasceu, pois, sujeito à lei, como se vê , Io. Como regra de dever, 2
. Como aliança de vida; 3o. Como aliança violada, em cuja maldição a raça
humana já incorrera. Assumir Ele voluntariamente essa posição foi
proeminentemente um ato e humilhação: Io. O ato pelo qual Ele assumiu a
natureza humana foi voluntário. 2o. Depois da Sua encarnação, Sua Pessoa
permaneceu divina, e, cumprindo as exigências da ei sobre pessoas e não sobre
naturezas, Sua submissão a essas exigências foi puramente gratuita. 3o. Esta Sua
condescendência é realçada infinitamente pelo fato dEle aceitar a maldição a lei
como aliança de vida já violada - Gál. 3:10-13; 4:4,5.

22. Em que sentido sofreu Cristo a maldição da lei, e como foi

isso possível ao Filho amado de Deus? .

O Pai declarou muitas vezes que Cristo, em Sua própria Pessoa, absolutamente
considerada, era Seu “Filho ama o , do qual disse: “em quem me comprazo”,
Mateus 3:17; 2 Ped. 1:17; e Ele sempre fez o que era do agrado de Deus Pai -
Joao 8:29. Contudo, no exercício do Seu ofício de Mediador, e tinha tomado o
nosso lugar e tinha assumido a culpa de nossos

pecados. Portanto, a ira de Deus, que Cristo levou sobre Si, foi o desagrado
infinito de Deus causado pelos nossos pecados, e esse desagrado concretizou-se
vicariamente na Pessoa de Cristo, porque sobre Ele foi posta a iniqüidade de
todos nós - Mat. 26:42,54; Luc. 24:44-46; João 19:30.

23. Quais as diversas interpretações da frase do Credo dos Apóstolos, “desceu


ao inferno” ou “ao Hades”?

A frase katábasis eis ádon, descensus ad inferos, foi uma das últimas a serem
incorporadas no antigo Credo. Supõe-se que foi derivada de Sal. 16:10; Atos
2:27; 1 Ped. 4:18-20. Veja:

Io. A igreja católica romana, sobre o fundamento de uma antiga tradição,


interpreta essa frase no sentido de que Cristo, depois de Sua morte, foi, em Sua
Pessoa inteira, como Deus--homem, aoLimbus Patrum, imaginária parte do
Hades em que os santos do Velho Testamento estariam esperando a revelação e a
aplicação a eles da salvação por Ele alcançada. Ali Ele teria pregado o evangelho
e os teria levado para o céu. Veja abaixo, Cat. do Cone. de Trento.

2o. Os luteranos sustentam que a morte de Cristo foi o último passo da Sua
humilhação e que a Sua descida ao Hades foi o primeiro da Sua exaltação,
porque foi revelar e consumar Sua vitória sobre satanás e sobre os poderes das
trevas, e pronunciar Sua sentença de condenação.

3o. A Igreja da Inglaterra (Anglicana) afirma em seu 3o. artigo: “Assim como
Cristo morreu por nós e foi sepultado, assim também devemos crer que Ele
desceu ao inferno”. No primeiro livro de Eduardo VI acha-se a seguinte
exposição, mais completa: “O corpo de Cristo ficou no sepulcro até à
Sua ressurreição, mas Seu espírito partiu dEle e esteve com os espíritos que
estavam no cárcere, ou no inferno, e pregou aos mesmos, como testifica a
passagem de Pedro”. O bispo Pearson, em suaExposition of the Creed, ensina
que Cristo realmente foi ao lugar dos condenados para consumar a expiação dos
pecados humanos e destruir o poder do inferno sobre os Seus remidos.

4o. Calvino (Institutas, Liv. 2, cap.16, § 10) interpreta essa frase


metaforicamente, dizendo que exprime os sofrimentos penais de Cristo na cruz.
Nossa Conf. de Fé afixa ao Credo a cláusula explicativa, “permaneceu no estado
dos mortos”, e a Igreja Episcopal Americana afixa a cláusula equivalente, “foi ao
lugar dos espíritos dos mortos”. Isto é, Cristo era verdadeiro homem, consistindo
de corpo e alma, e Sua morte foi uma verdadeira morte, e, deixando Seu corpo, a
alma foi para o mundo invisível dos espíritos, onde teve uma existência separada
mas cônscia, até à Sua ressurreição.

24. Qual o verdadeiro sentido de 1 Pedro 3:19-21?

E passagem muito obscura. A interpretação romana, já dada na resposta à


pergunta anterior, é que Cristo foi aoLimbus Patrum e pregou o evangelho aos
espíritos presos que esperavam o Seu advento.

A interpretação comum dos protestantes é que Cristo foi morto fisicamente, mas
vivificado, ou restaurado à vida, pelo Espírito, Espírito pelo qual, inspirando a
Noé como pregador da justiça, Cristo, muitos séculos antes, tinha descido do céu
e pregado aos homens daquela geração. Estes, em seus pecados e em sua
incredulidade, eram os “espíritos em prisão”. Somente oito pessoas creram e
foram salvas; por isso os cristãos professos e os pregadores do evangelho não
devem ficar desanimados face à incredulidade dos homens atualmente.

Outra interpretação, sugerida pelo arcebispo Leighton numa nota, como sua
última opinião, e explicada largamente pelo falecido Dr. Brown, de Edimburgo,
é que Cristo, morrendo fisicamente como sacrifício vicário, é vivificado
no espírito, isto é, vivificado espiritualmente, manifestado como Salvador
perfeito num grau muito superior ao que foi possível antes; morrendo como um
grão de trigo, Ele começou a produzir muito fruto; e vivificado assim, Ele agora,
por meio da inspiração do Espírito, prega aos “espíritos em prisão”, isto é, aos
prisioneiros do pecado e de satanás, do mesmo modo
como tinha feito anteriormente, posto que com menor poder, por meio de Noé e
de todos os profetas, quando os espíritos eram desobedientes; sob o ministério de
Noé foram salvas só oito almas; porém depois de vivificado Cristo no espírito,
isto é, depois de manifestado como o Salvador perfeito, multidões têm crido.

25. Em que consiste a exaltação de Cristo?

Veja o Breve Cat., Perg. 28, e o Cat. Maior, Pergs. 51-54.

26. Como era possível que o Filho coigual a Deus fosse exaltado?

Como Filho coigual a Deus era impossível, mas a Sua

Pessoa, como Deus homem, podia ser exaltada em diversos aspectos. Veja:

Io. Em conseqüência da união de Suas naturezas divina e humana, a


manifestação externa da glória da Sua Pessoa tinha sido escondida aos olhos das
criaturas.

2o. Como Mediador, Ele ocupou oficialmente uma posição inferior à do Pai, pois
condescendeu em ocupar o lugar dos pecadores. Tinha sido humilhado mais do
que podemos conceber e, como prêmio da Sua auto-humilhação voluntária, o Pai
O exaltou muitíssimo - Fil. 2:8,9; Heb. 12:2; Apoc. 5:6.

3o. Sua alma humana e Seu corpo foram exaltados em grau para nós
inconcebível - Mat. 17:2; Apoc. 1:12-16; 20:11.

27. Quais as diversas fontes que estabelecem a ressurreição de Cristo?

Io. O Velho Testamento a predisse. Compare Sal: 16.10 com Atos 2:24-31. Todas
as demais predições a respeito do Messias foram cumpridas em Cristo, o que
confirma o cumprimento desta também.

2o. Cristo mesmo a predisse e, por conseguinte, sendo Ele o profeta verdadeiro,
Sua predição cumpriu-se em Sua ressurreição - Mat. 20:19; João 10:18.

3o. Tomando-se em consideração a origem e o caráter

extraordinários de Cristo, o evento em apreço não tinha contra si nenhuma


improbabilidade antecedente.
4o. O testemunho dos onze apóstolos. Os escritos destes homens provam que
eles eram bons, inteligentes e sérios, e cada um deles teve muitas oportunidades
para verificar o fato; e eles selaram o seu testemunho com o seu sangue - Atos
1:3.

5o. O testemunho independente de Paulo. Este, como quem nasceu fora do tempo
devido, viu seu Senhor ressuscitado e recebeu dEle, pessoalmente, Sua revelação
e Sua comissão -1 Cor. 15:8; Gál. 1:12; Atos 9:3-8.

6o. Foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos, e Paulo apela para eles - 1
Cor. 15:6.

7o. A mudança do dia de descanso semanal do último para o primeiro dia da


semana é um monumento do testemunho concorde de toda a primeira geração de
cristãos do fato da sua fé na ressurreição de Cristo.

8o. Os milagres operados pelos apóstolos foram os selos postos por Deus no
testemunho dado por eles de que Ele ressuscitou a Cristo - Heb. 2:4.

9o. O testemunho do Espírito Santo, acompanhando a pregação dos apóstolos e


honrando a sua doutrina e os seus trabalhos, não somente por meio de milagres,
e sim também por Seu poder de santificar, elevar e consolar - Atos 5:32
(Dr. Hodge).

28. Pelo poder de quem Cristo ressurgiu?

As Escrituras atribuem a ressurreição de Cristo -

Io. A Ele mesmo - João 2:19; 10:17.

2o. Ao Pai - Atos 13:33; Rom. 10:9; Ef. 1:20.

A conciliação dessas duas proposições é feita pelo princípio de que todos os atos
do poder divino, concretizando-se em objetos externos à Deidade, podem ser
atribuídos a qualquer das Pessoas divinas, ou, em termos absolutos, à Deidade -
João 5:17-19.

29. Qual o fundamento da declaração feita pelo apóstolo de que a nossa fé é


vã se Cristo não ressuscitou (1 Cor. 15:14)?
Io. Se Cristo ressuscitou, Ele é o verdadeiro Messias e todas as profecias de
ambas as dispensações têm nesse fato um penhor do seu cumprimento. Se Ele
não ressuscitou, todas elas são falsas.

2o. Por Sua ressurreição ficou provado que Ele é o Filho de Deus, Rom. 1:4,
porque (1) Ele ressurgiu por Seu próprio poder, e (2) Sua ressurreição autenticou
tudo quanto Ele dissera a respeito de Si mesmo. .

30. Em Sua ressurreição o Pai manifestou publicamente a Sua aprovação e


aceitação da obra realizada por Ele, Seu Filho, como fiador do Seu povo. - Rom.
4:25.

4o. Se Cristo ressurgiu, temos um advogado junto ao Pai -Rom. 8:34; Heb.
9:11,12,24. ,

5o. Se Cristo ressurgiu, temos certeza da vida eterna; se Ele vive, nós também
viveremos - João 14:19; 1 Ped. 1:3-5.

6o. Em conseqüência da união entre Cristo e Seus membros, que é tanto federal
como espiritual, a Sua ressurreição é penhor certo e seguro da nossa, (1) porque,
assim como morremos em Adão, seremos vivificados em Cristo, 1
Cor. 15:21,22; e (2) em razão do Seu Espírito, que mora em nós -Rom. 8:11; 1
Cor. 6:15; ITess. 4:14.

7o. A ressurreição de Cristo elucida e determina a nossa, e a torna certa e segura


- 1 Cor. 15:49; Fil. 3:21; 1 João 3:2 -Dr. Hodge.

30. Quando, onde e na presença de quem Cristo subiu ao céu?

Subiu quarenta dias depois da Sua ressurreição, de um certo lugar situado no


Monte das Oliveiras, perto da vila de Betânia, na presença dos onze apóstolos e
talvez de outros discípulos, enquanto Ele os abençoava e enquanto eles O viam e
olhavam atentamente para Ele. Lucas diz, além disso, que se achavam dois
varões glorificados; estes o Prof. J. A. Alexander conjetura que foram Moisés e
Elias. Estava acompanhado

também de anjos celebrando Sua vitória sobre o pecado, e Sua exaltação ao Seu
trono de Mediador - Luc. 24:50,51; Mar. 16:19; Atos 1:9-11; Ef. 4:8; Col. 2:13-
15; Sal. 24:8-11; 78:19.
31. Quais as diversas opiniões quanto à natureza da ascensão de Cristo?

Aqueles que, como os luteranos, crêem que o corpo de Cristo está onipresente
para a Sua Igreja sustentam, como é natural, que em Sua ascensão Ele não
mudou de local e sim retirou-Se do anterior trato sensorial que Ele mantinha
com Seus discípulos.

O certo é, porém, que Sua alma e Seu corpo passaram realmente da terra para a
morada dos bem-aventurados, e que a Sua Pessoa inteira, como Deus-homem,
foi gloriosamente exaltada. Ele subiu como Mediador, triunfando sobre os
Seus inimigos e concedendo dons aos Seus amigos, - Ef 4:8-12; para completar
Sua obra medianeira - João 14:2,3; como o Precursor do Seu povo, Heb. 6:20; e
para encher o universo com as manifestações da Sua glória e do Seu poder - Ef.
4:20.

32. Que é que a“sessão”de Cristo à direita de Seu Pai abrange?

Veja Sal. 110:1; Mar. 16:19; Rom. 8:34; Ef. 1:20,22; Col.

3:1; Heb. 1:3,4; 10:12; 1 Ped. 3:22.

E evidente que a palavra “sessão” (que se refere ao ato de assentar-se) é


empregada figuradamente neste contexto. No entanto, ao mesmo tempo expõe
expressivamente a suprema glorificação de Cristo no céu. Apresenta-0 como o
Deus-homem, e no Seu ofício de Mediador exaltado à glória e à felicidade
supremas e universais, como também dotado de poder sobre todos os
principados e potestades e sobre todo nome que se nomeia - Heb. 2:9; Sal.15:12;
Mat. 26:64; Dan. 7:13,14; Fil. 2:9,11; Apoc. 5:6; assumindo assim,
publicamente, o Seu trono como Sacerdote e Rei medianeiro sobre o universo, a
bem da Sua Igreja.

CRISTO, ASSENTADO SOBRE ESSE TRONO, DURANTE A PRESENTE


DISPENSAÇÃO, COMO MEDIADOR, APLICA EFICAZMENTE AO
SEU POVO, POR MEIO DO SEU ESPÍRITO, A SALVAÇÃO QUE
PREVIAMENTE HAVIA ADQUIRIDO PARA ELES EM SEU ESTADO
DE HUMILHAÇÃO.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DE DOUTRINAS

DOUTRINA ROMANA - Cat. Cone. de Trento, Parte 1, cap. 6: “Professamos,


pois, que, logo depois da morte de Cristo, Sua alma desceu ao inferno... Mas
confessamos ao mesmo tempo, por estas palavras, que a mesma Pessoa de Cristo
estava ao mesmo tempo no inferno e no sepulcro, porque... posto que Sua alma
partisse do Seu corpo, Sua deidade nunca esteve separada nem do corpo nem
da alma... A palavra “inferno” refere-se àquelas moradas ocultas onde são
detidas as almas daqueles que não alcançaram a bem-aventurança celestial...
Essas moradas não eram todas da mesma natureza... Uma terceira espécie de
receptáculo é aquele em que foram recebidas as almas dos santos que morreram
antes da vinda de Cristo, nosso Senhor; e onde, sem sentimento algum de dor,
sustentadas pela bem-aventurada esperança de redenção, elas gozaram morada
tranqüila. As almas, pois, desses homens piedosos, que, no seio de Abraão,
esperavam o Salvador, Cristo, o Senhor, livrou, descendo ao inferno... Ele não
desceu para sofrer alguma coisa, e sim para livrar do lastimoso abatimento desse
cativeiro os santos e justos, e para comunicar-lhes o fruto da Sua paixão”.

DOUTRINA LUTERANA - Form. Concordire (Hase), pág. 788: “Cremos,


pois, simplesmente, que a pessoa inteira, Deus e homem, depois de sepultada,
desceu às regiões inferiores, venceu a satanás, derrubou os poderes infernais e
tirou do diabo toda a força e toda a autoridade”. “Em virtude desta união e
comunhão pessoal, Ele operou todos os Seus milagres e manifestou Sua divina
majestade, segundo a Sua libérrima vontade, no tempo e do modo que bem lhe
pareciam, não somente depois da Sua

ressurreição e ascensão ao céu, porém até mesmo em Seu estado de humilhação.


Já tinha, com efeito, esta majestade logo em Sua concepção, ainda no ventre de
Sua mãe; mas, como diz o apóstolo (Fil. 2:7), despiu-Se (aniquilou-Se) a Si
mesmo; e, como ensina o Dr. Lutero, Ele tinha esta majestade secretamente no
estado de Sua humilhação, e nem sempre fez uso dela, mas, sim, todas as vezes
que Lhe aprouve. Todavia agora, tendo subido ao céu, não de maneira comum,
como qualquer pessoa santa, e sim como o apóstolo testifica (Ef. 4:10) subiu
acima de todos os céus, enche verdadeiramente todas as coisas e se acha
presente em toda parte, e, não somente como Deus, mas também como homem,
Ele reina e governa de mar a mar e até às extremidades da terra... Estas coisas,
porém, não se fizeram de um modo terreno, e sim, como o Dr. Lutero costumava
dizer, do modo e maneira da mão direita de Deus (pro modo et ratione dexterce
Dei), que não é um lugar limitado e fixo no céu; entretanto significa nada
menos que o poder onipotente de Deus, que enche o céu e a terra - na posse do
qual Cristo entra real e verdadeiramente quanto à Sua humanidade, sem
nenhuma confusão ou igualação de Suas naturezas (divina e humana),
nem quanto à Sua essência ou aos Seus atributos essenciais” -págs. 767,768.

A Aplicação da Redenção Feita por Cristo Como Rei


Medianeiro por Meio da Operação Pessoal do Espírito Santo
VOCAÇÃO EFICAZ

1. Qual é o uso geral, no Novo Testamento, das palavras kaléin (chamar), klêsis
(vocação, chamamento) e kletós (chamado)?

A palavra kaléin é empregada nos sentidos, Io. de chamar com a voz, João 10:3;
Mar. 1:20; 2o. de chamar para fora, intimar com autoridade, Atos 4:18. 24:2; 3o.
de convidar, Mat. 22:3; 9:13; 1 Tim. 6:12. Muitos são chamados, mas poucos
são escolhidos. 4o. Da vocação eficaz do Espírito - Rom. 8:28-30; 1 Ped. 2:9;
5:10. 5o. Da designação para um ofício-Heb. 5:4. 6o. No sentido de dar-se um
nome, Mat. 1:21.

Klêsis encontra-se onze vezes no Novo Testamento, e em todos os casos


significa a vocação eficaz do Espírito Santo, com exceção de 1 Coríntios 7:20,
onde o termo é empregado como sinônimo de ofício ou ocupação. Veja Rom.
11:29; 1 Cor. 1:26, etc. -Lexicon de Robinson.

Kletós encontra-se dez vezes no Novo Testamento. E empregado como


designação -

Io. Dos nomeados para algum ofício - Rom. 1:1.

2o. Dos que recebem o chamado externo da Palavra - Mat. 20:16.

3o. Dos chamados eficazmente - Rom. 1:7; 8:28; 1 Cor. 1:2,24; Jud., vers. 1;
Apoc. 17:14.

A própria palavra ekklesía (igreja), designando a companhia dos fiéis, os


herdeiros das promessas, significa, etimolo-gicamente, a companhia chamada
para fora, a corporação constituída pela “vocação”.

2. Que é que a vocação externa inclui?

Io. Uma declaração do plano de salvação.


2o. Uma declaração do dever que o pecador tem de arrepender-se e crer.

3o. Uma declaração dos motivos que devem influir no espírito do pecador, como
sejam o temor, a esperança, o remorso ou a gratidão.

4o. Uma promessa de que serão aceitos todos os que se conformarem com as
condições - Dr. Hodge.

3. Como se pode provar que a vocação externa para a salvação é feita


unicamente por meio da Palavra de Deus?

A lei de Deus, como se acha impressa na constituição moral do homem, é natural


no homem e inseparável dele como um ser responsável - Rom. 1:19,20; 2:14,15.
O evangelho, porém, não faz parte dessa lei natural. É da graça, e não
da natureza, e é só por meio de uma revelação especial e sobrenatural que
podemos chegar ao seu conhecimento.

Isso é evidente - Io. porque as Escrituras declaram que o conhecimento da


Palavra é essencial à salvação, Rom. 10:14-17; e, 2o. porque declaram também
que os que fazem pouco caso da Palavra, quer escrita quer pregada, cometem o
grande pecado de rejeitar a possibilidade de salvação - Mat. 11:21,22; Heb. 2:3.

4. Segundo qual princípio essa vocação é dirigida aos não eleitos bem como
aos eleitos?

Que é dirigida indiscriminadamente às duas classes

Iica provado -

Io. Pela declaração expressa das Escrituras - Mat. 22:14.

2o. Pelo mandamento que ordena pregar o evangelho a

toda criatura - Mar. 16:15.

3o. Pela promessa feita a todos os que o aceitam - Apoc.

22:17.
4o. Pelo juízo terrível pronunciado sobre os que o rejeitam -João 3:19; 16:9.

E dirigida de igual modo aos não eleitos como aos eleitos porque é de igual
modo seu dever e do seu interesse aceitar o evangelho; porque as provisões de
salvação são de igual modo adaptadas ao seu caso, e são abundantemente
suficientes para iodos; porque Deus quer que nos benefícios do
evangelho tenham parte todos os que o aceitarem.

5. Como se pode provar que há uma vocação interna espiritual distinta da


vocação externa?

Io. Pelas passagens que distinguem entre a influência do Espírito e a da Palavra -


João 6:45,64,65; 1 Tess. 1:5,6.

2o. Pelas passagens que ensinam que a influência do Espírito é necessária para a
aceitação da verdade - Ef. 1:17.

3o. Pelas passagens que atribuem a Deus tudo quanto de bom há no homem - Fil.
2:13; Ef. 2:8; 2 Tim. 2:25, e.g., a fé e o arrependimento.

4o. As Escrituras distinguem entre os dois chamamentos: dos que recebem um,
dizem elas: “muitos são chamados, mas poucos escolhidos”; dos que recebem o
outro, dizem: “aos que chamou a estes também justificou”. Daqueles Deus
diz: “Porque eu vos chamei e vós não quisestes ouvir” - Prov. 1:24 (Figueiredo).
Dos outros Ele diz: “Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim” -
João 6:45.

5o. Há uma necessidade absoluta de semelhante vocação interna, espiritual: o


homem por natureza é “cego” e “morto” nas transgressões e pecados - 1 Cor.
2:14; 2 Cor. 4:4; Ef. 2:1.

6. Qual é a idéia pelagiana sobre a vocação interna?

Os pelagianos negam que haja pecado original e sustentam que os termos bom e
mau só podem ser aplicados aos atos executivos da vontade. Afirmam, pois -

Io. Que como o homem tem perfeita liberdade da vontade, pode a qualquer
tempo tanto deixar o pecado como continuar na prática dele.
2o. Que a única mudança interna efetuada pelo Espírito Santo no coração dos
que são convertidos é devida aos fatos de ser Ele o Autor das Escrituras e delas
apresentarem estas verdades e motivos morais que, por sua própria
natureza, exercem influência moral sobre a alma. Eles negam inteiramente a
existência da “graça” no sentido bíblico.

7. Qual é a idéia semipelagiana?

Os semipelagianos sustentam que a graça é necessária para habilitar o homem a


voltar-se efetivamente para Deus e viver; contudo, ao mesmo tempo afirmam
que, segundo a própria natureza da vontade humana, é preciso que o homem
primeiro deseje estar livre do pecado e que escolha a Deus como o seu bem
supremo, podendo então esperar o auxílio divino para levar esse desejo e essa
escolha a efeito. Eles negam a existência da graçapreveniente, mas admitem a da
cooperativa.

8. Qual é a idéia arminiana?

Os arminianos admitem a doutrina da depravação total do homem e que, em


conseqüência dela, ele é inteiramente incapaz de fazer bem algum no desajudado
exercício de suas faculdades naturais. Contudo, tendo Cristo morrido igualmente
por todos, todos recebem graça suficiente para habilitá-los a fazerem tudo o que
lhes é exigido. Esta graça suficiente só se torna eficiente quando o pecador
coopera com ela e dela se vale - Apol. Conf Remonstr., pág. 162, b; Limborch,
Theol. Christ., págs. 4,12, 8.

9. Qual a doutrina ensinada sobre este assunto pelos símbolos da Igreja


Luterana?

Concordam absolutamente com os dos reformados ou calvinistas em ensinar -

10. Que todos os homens estão por natureza mortos espiritualmente e que são
totalmente incapazes tanto de começar a voltar-se para Deus como de cooperar
com a Sua graça para isso antes da sua regeneração.

2o. Que a operação que o Espírito Santo por Sua graça realiza na alma humana é
a única e exclusiva causa eficiente que vivifica a alma morta. Por isso -

3o. O fundamento em que descansa a salvação dos que crêem é a eleição eterna
que por Sua graça Deus realizou para a salvação. Eles se recusam, porém, a dar o
passo que se segue logicamente, que é o de reconhecer que a razão pela qual
os que não crêem não são vivificados é que Deus, com igual soberania, não lhes
dá a graça regeneradora. Eles insistem em atribuir isso unicamente à resistência
criminosa contra a graça, que todos recebem nos graus iniciais - Hase,
Formula Concordice, págs. 579-583, 662-666 e 817-821.

Fulano e Sicrano são igualmente pecadores; F. crê e S. permanece réprobo. Os


pelagianos dizem que é porque F. determinou-se a crer e S. a recusar-se. Os
semipelagianos dizem que é porque F. começou a procurar crer e foi
ajudado, enquanto S. não fez esforço algum. Os arminianos dizem que é porque
F. cooperou com a graça comum a todos e S. não cooperou. Os luteranos dizem
que é porque ambos eram totalmente incapazes de cooperar, mas que S.
resistiu persistentemente à graça, enquanto que F. cedeu afinal. Os calvinistas
dizem que é porque F. foi regenerado pelo poder regenerador do Espírito de
Deus e S. não foi.

10. Qual é a idéia sinergista1 sobre este ponto?

A convite de Maurício, o então novo Eleitor da Saxônia, os teólogos de


Wittenberg e de Leipzig reuniram-se em conferência em Leipzig, em 1548 d.C.,
e foi nessa ocasião que se suscitou a controvérsia sinergista. A palavra
significa cooperação. Os sinergistas eram teólogos luteranos que sobre este único
ponto se afastaram do seu próprio sistema e adotaram a posição arminiana.
Melanchthon ensinou que “concorrem três causas de uma boa ação - a Palavra
de Deus, o Espírito Santo e a vontade humana anuindo e não resistindo à
Palavra de Deus” -Loci Communes, pág. 90.

11. Qual a doutrina comum das igrejas reformadas sobre a vocação interna?

Que é simplesmente uma manifestação do poder divino sobre a alma, imediata,


espiritual e sobrenaturalmente, comunicando uma nova vida espiritual e
tornando assim possível um novo modo de atividades espirituais. Que o
arrependimento, a fé, a confiança, a esperança, o amor, etc., são pura
e simplesmente atos do próprio pecador, mas que, como tais, estes atos são
possíveis unicamente em virtude da mudança operada no estado moral de suas
faculdades pelo poder regenerador de Deus. Veja Conf de Fé, Cap. 10, Seções 1
e 2.
Antes da regeneração, a graça comum produz sobre o caráter e a vida externa
uma superficial impressão moral, contra a qual geralmente o pecador resiste.
Com o ato de graça que regenera, agindo dentro das energias espontâneas da
alma e mudando o seu caráter, o homem não pode nem cooperar nem resistir-lhe.
Mas, no momento em que a alma é regenerada, começa a cooperar com as
subseqüentes influências prevenientes e cooperativas da graça, e às vezes,
infelizmente,

também a resistir-lhes. Todavia, de maneira geral, a graça tem valor


preservativo, e finalmente ela vence e salva. Os teólogos reformados chamam à
regeneração Conversio habitualis seu passiva, isto é, a mudança de caráter, em
cuja efetivação a alma é o objeto, e não o agente da ação. A conversão eles
chamam Conversio actualis seu activa, isto é, a mudança
instantaneamente subseqüente de ação, em que a alma, sugerindo ainda
e ajudando a graça, é o único agente.

12. Qual a diversidade de opiniões que sobre este ponto existem entre os
romanistas?

Os discípulos de Agostinho na igreja romana, dos quais os jansenistas foram os


mais proeminentes, são ortodoxos; mas têm sido quase universalmente
derrubados e substituídos por seus adversários, os jesuítas, que são
semipelagianos. O Concilio de Trento procurou satisfazer a ambos os partidos. -
Concilio de Trento, Sess. 6, Caps. 3 e 4. As doutrinas de Quesnel, que defendeu
a verdade sobre este ponto, foram condenadas naBulla “Unigenitus”, 1713 d.C.
Belarmino ensinou que todos os homens recebem a mesma graça, que só pelo
evento se verifica se é praticamente congruente com a natureza de um, e por isso
eficaz no seu caso, e incongruente com a natureza de outro, e por isso ineficaz
no seu caso.

13. Que é que se entende por “graça comum”, e como se pode provar que o
Espírito Santo realmente opera nas almas daqueles cujo coração não é
renovado?

A graça comum é a influência restritiva e persuasiva do Espírito Santo, operando


somente por meio das verdades reveladas no evangelho, ou por meio da luz
natural da razão e da consciência, aumentando o natural efeito moral
dessas verdades sobre o coração, a inteligência e a consciência. Não envolve
mudança do coração, e, sim, unicamente um aumento do poder natural da
verdade, uma ação restritiva das más paixões e um aumento das emoções
naturais em face do

pecado, do dever e do interesse próprio.

Que Deus realmente opera desse modo sobre o coração dos não regenerados fica
provado - Io. Pelas Escrituras, Gên. 6:3; Atos 7:51; Heb. 10:29; 2o. Pela
experiência e pela observação universais.

14. Em que a graça comum difere da graça eficaz?

Io. Quanto a seus objetos. Todos os homens, em maior ou menor escala, são
objetos da graça comum; somente os eleitos são objetos da graça eficaz - Rom.
8:30; 11:7; 2 Tess. 2:13.

2o. Quanto à sua natureza. A graça comum é ,somente mediata, agindo por meio
da verdade, e é somente moral, aumentando a influência moral que a verdade
exerce naturalmente, e estimulando somente as faculdades morais da alma, tanto
as racionais como as morais. No entanto, a graça eficaz é imediata e
sobrenatural, porque é operada diretamente na alma pela energia imediata do
Espírito Santo, e porque ela implanta uma nova vida espiritual e a capacidade de
exercer de um novo modo as faculdades naturais.

3o. Quanto a seus efeitos. Os efeitos da graça comum são superficiais e


transitórios, modificando a vida externa, mas sem mudar a natureza, e sua
influência sempre sofre resistência mais ou menos conscientemente, por estar
oposta às disposições prevalecentes da alma. A graça eficaz, porém, não
operando ela sobre, e sim, em a própria vontade, mudando os
desejos dominantes e dando nova direção às faculdades ativas da alma, nem é
resistível nem irresistível, mas sim muito livre, espontânea e, não obstante,
muito certamente eficaz.

15. Como se pode provar que a graça eficaz é limitada aos eleitos?

Io. As Escrituras apresentam os eleitos como chamados e os chamados como


eleitos - Rom. 8:28,30; Apoc. 17:14.

2o. Há textos que mostram que a vocação eficaz é baseada no decreto da eleição
- 2 Tess. 2:13,14; 2 Tim. 1:9,10.
3o. Há também os que mostram que a santificação, a justificação e todos os
benefícios temporais e eternos da união com Cristo são efeitos da vocação eficaz
- 1 Cor. 1:2; Ef. 2:5; Rom. 8:30.

16. Como se pode provar que a graça é concedida por amor de Cristo?

Io. Todas as bênçãos espirituais são concedidas por amor de Cristo - Ef. 1:3; Tito
3:5,6.

2o. As Escrituras declaram especificamente que somos chamados em Cristo -


Rom. 8:2; Ef. 2:4-6; 2 Tim. 1:9.

17. Que é que se entende quando se declara que esta influência divina é
imediata e sobrenatural?

Entende-se, 1°., que nega, (1) que ela é nada mais que a influência moral da
verdade; (2) que é unicamente a influência moral do Espírito, aumentando a
influência moral da verdade apresentada objetivamente; (3) que estimula
meramente as faculdades naturais da alma. Entende-se, 2°., que afirma, (1) que o
Espírito Santo opera imediatamente na alma a partir do íntimo; (2) que o Espírito
Santo, exercendo o Seu poder regenerador, implanta uma nova natureza moral,
ou um novo princípio de ação.

18. Quais os argumentos que provam que, além da influência exercida por
meio da verdade, o Espírito exerce na alma uma influência imediata?

Io. E feita distinção entre a influência do Espírito e a da Palavra-João 6:45,64,65;


Rom. 15:13; 1 Cor. 2:12-15; 1 Tess. 1:5,6.

2o. E declarado que uma influência divina é necessária para a recepção da


verdade - Sal. 119:18; Atos 16:14; Ef. 1:17.

3o. Essa operação interna no coração é atribuída a Deus -Fil. 2:13; 2 Tess. 1:11;
Heb. 13:21.

4o. Há distinção entre o dom do Espírito e o da Palavra -

João 14:16; 1 Cor. 3:16; 6:19; Ef. 4:30.


5 o. A natureza desta influência é evidentemente diferente da natureza da
influência produzida pela verdade - Ef. 1:19; 3:7. E o efeito é chamado “nova
criação” (ou “nova criatura”), “novo nascimento”, etc.

6o. Os homens estão por natureza mortos no pecado e precisam de tal


intervenção direta do poder divino - Turretino, Theol. Instits., Lo.15, Quaes. 4.

19. Quais os diversos motivos alegados para dar-se a esta graça o nome de
“graça eficaz”?

Io. Os jesuítas e os arminianos, sustentando que todos os homens recebem graça


suficiente para habilitá-los a obedecerem ao evangelho, se quiserem, afirmam
que esta graça torna-se eficaz quando a vontade do indivíduo coopera com ela,
e em todo caso é só o evento que prova que é eficaz.

20. Belarmino e outros sustentam que a mesma graça, dada a todos, é


congruente com a natureza moral de um, e neste caso é eficaz, e incongruente
com a natureza moral de outro, e nesse caso é ineficaz.

3o. Alguns romanistas têm sustentado o que se chama doutrina da influência


cumulativa. A influência suasória do Espírito, tornada eficaz por uma constante
repetição e longa continuação, efetua afinal o consentimento da alma.

4o. A doutrina ortodoxa é que a eficácia desta graça é inerente à sua própria
natureza, por ser o exercício do poder onipotente de Deus na execução do Seu
propósito eterno e imutável.

20. Em que sentido a graça é irresistível?

Devemos lembrar-nos de que o cristão é ao mesmo tempo objeto das influências


morais mediatas da graça sobre a vontade, que são comuns a ele e aos
incrédulos, e também das influências especiais da graça dentro da vontade, que
são certamente eficazes. A primeira classe de influências os cristãos

podem resistir, e constantemente resistem, por causa da lei do pecado


remanescente em seus membros. A segunda classe de influências é certamente
eficaz, mas nem são resistíveis nem irresistíveis, porque operam de dentro e
levam espontaneamente a vontade consigo. E lamentável que a expressão
“graça irresistível” seja de uso corrente, porque sugere a idéia de uma influência
mecânica e coerciva sobre uma criatura contra a sua vontade, enquanto que é
realmente um ato transcendente do Criador infinito, que faz com que a criatura
deseje espontaneamente a graça divina. 2

21. Como se pode provar que esta graça é certamente eficaz?

Io. Pelas provas acima apresentadas, quanto à sua natureza,

de que é uma operação imediata do poder onipotente de Deus.

2o. Pelas descrições da obra da graça. Os homens são por natureza “cegos”,
“mortos”, “escravos”, etc. A mudança efetuada é uma “nova criação”, etc.

3o. Pelas promessas de Deus, que são seguras. Os meios que Ele utiliza para
vindicar a Sua fidelidade não podem deixar de ser eficazes - Ez. 11:19; 36:26;
João 6:45. >v. .? ..

4o. Pela conexão que, segundo as Escrituras, existe entre a vocação e a eleição.
Os chamados são os eleitos; os eleitos são os chamados. Como os decretos são
certos, a vocação não pode deixar de ser eficaz. Veja acima, Perg. 15.

5o. A fé e o arrependimento são dons de Deus, e quem verdadeiramente se


arrepende e crê é salvo. Segue-se que a graça que comunica esses dons é eficaz -
Ef. 2:8; Atos 11:18; 2 Tim. 2:25. .

22. Como se pode provar que esta influência é congruente com a nossa
natureza?

Apesar de nos descartarmos inteiramente da distinção feita

por Belarmino (veja acima, Perg. 19), dizemos que a graça eficaz é “congruente
com a natureza humana como tal, no sentido de que o Espírito de Deus, posto
que exerça na alma uma influência imediata e regeneradora, opera contudo
em perfeita harmonia com a integridade daquelas leis da nossa natureza livre,
racional e moral, que Ele mesmo constituiu. Mesmo na obra miraculosa do novo
nascimento Ele opera em nossa razão e em nossa vontade de perfeito acordo
com a constituição de cada uma delas. Isto é certo:

Io. O mesmo Deus cria e regenera; Seu objetivo não é destruir, e sim restaurar
Sua própria obra.

2o. As Escrituras e a nossa própria experiência ensinam que os atos da alma que
se seguem imediatamente depois da implantação da graça são eminentemente
livres e racionais. O fato é que nunca antes a alma havia operado normalmente -
Sal. 110:3; 2 Cor. 3:17; Fil. 2:13. 3o. Esta influência divina acha-se descrita por
termos como “atrair”, “ensinar”, “iluminar”-João 6:44,45; Ef. 1:18.

23. Que nos ensinam as Escrituras quanto à conexão entre esta influência e a
verdade?

E evidente que no caso da regeneração de crianças a verdade não é empregada.


Na regeneração de adultos a verdade está sempre presente. No ato de
regeneração o Espírito opera imediatamente na alma e muda o seu estado
subjetivo, enquanto que a verdade é o objeto apreendido conscientemente, sobre
o qual se exercem as novas faculdades de discernimento espiritual e os novos
afetos. O Espírito provê vista, a verdade é a luz discernida. O Espírito dá
sentimento, a verdade apresenta o objeto amado - Rom. 10:14,17; Tia. 1:18;
João 17:17.

24. Que motivos podem ser apresentados para a crença em que o Espírito não
regenera os adultos por quem a verdade não é conhecida?

Negativamente: a Bíblia não apresenta base para a esperança de tal extensão da


graça, e nem nela nem em nossa experiência entre os gentios modernos
encontram-se casos de semelhante obra.

Positivamente: as Escrituras associam sempre toda a influência espiritual com a


verdade, e declaram que a pregação (da verdade revelada) é necessária para a
salvação dos pecadores -Rom. 10:14.

25. Quais as objeções contra a doutrina arminiana da graça suficiente?

Os arminianos sustentam que Deus tem o propósito de salvar a todos e que por
isso chama a todos do mesmo modo, dando a todos graça suficiente, se quiserem
aproveitá-la.

OBJETAMOS - Io. Relativamente poucos têm tido ocasião de ouvir o


chamamento externo do evangelho. Os gentios são responsáveis com base na luz
da natureza e estão sob a lei das obras, mas ao mesmo tempo não têm os meios
da graça - Rom. 1:18-20;2:12-15.

2o. Essa doutrina é incompatível com o propósito divino de eleição. Veja acima,
Cap.ll.

3o. Segundo o sistema arminiano, depende da livre vontade do homem (do livre-
arbítrio) o tornar a graça suficiente da parte de Deus, comum a todos, em graça
eficiente no seu caso. Mas as Escrituras ensinam que a salvação é totalmente de
graça e um dom de Deus - Ef. 2:8; 2 Tim. 2:25; Rom. 9:15,16.

4o. As Escrituras declaram expressamente que nem todos os que recebem o


chamamento externo têm graça suficiente -Rom. 9:16-24; 11:8.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DE DOUTRINA


.. .

DOUTRINA ROMANA - Cone. de Trento, Sessão 6, Cân.

1: “Se alguém disser que o homem pode justificar-se para

com Deus” (por justificação os romanos entendem a IliLlOTEÇA AUBREY


ÇLABK

remoção do pecado e a infusão de uma disposição na alma resultante da


graça) “pelas suas obras, feitas com as forças da natureza, ou com a
doutrina da Lei, sem a graça divina por Jesus Cristo, seja anátema. Cân. 2 -
Se alguém disser que a graça divina por Jesus Criso se dá somente para
que o homem possa mais facilmente viver justificadamente e merecer a vida
eterna; como se pelo livre-arbítrio, sem a graça, pudesse conseguir uma e
outra coisa, ainda que com trabalho e dificuldade, seja anátema. Cân. 3. - Se
alguém disser que sem a inspiração proveniente do Espírito Santo e Sua
ajuda o homem pode crer, esperar e amar como convém, para lhe ser
conferida a graça da justificação, seja anátema. Cân. 4. - Se alguém disser
que o livre-arbítrio do homem, movido e estimulado por Deus, devido
Deus o estimular e chamar, em nada coopera a fim de que se disponha para
alcançar a graça da justificação; nem pode dissentir, se quiser, mas, como
uma coisa morta, nada faz, é meramente passivo, seja anátema. Cân. 5. - Se
alguém disser que o livre-arbítrio, depois do pecado de Adão, se perdeu e se
extinguiu; ou que é coisa só de título, ou antes, título sem realidade, e enfim
uma ficção introduzida na Igreja por satanás, seja anátema”.

DOUTRINA DA IGREJA GREGA -Jerem. in Act. Witem. -“Mesmo depois da


Queda, nada impede o homem de voltar-se do mal e, acrescentado a isso, de
fazer o bem e escolher o que é justo, como quem possui o livre-arbítrio... De
tudo isso é claro que é da nossa parte acordar e obedecer, e somos capazes
de escolher o bem como também o mal. Só precisamos de uma coisa, e esta é
o auxílio de Deus para que possamos ser bem sucedidos no bem e ser salvos,
e sem esse auxílio não temos forças para concluir a obra”.

DOUTRINA LUTERANA - Form. Concordúe, pág. 662 -Mas antes de ser o


homem iluminado, convertido, regenerado e atraído pelo Espírito Santo, ele
não é capaz, de per si e por suas próprias forças naturais, nas
coisas espirituais e (tendentes) à sua própria conversão e regeneração, de
produzir ou cooperar em coisa alguma, mais do que o poderia um poste ou
um torrão de terra”.

Ib., pág. 589: “O que escreveu o Dr. Lutero - “A vontade do homem


conserva-se puramente passiva na conversão”, é necessário recebê-la reta e
convenientemente, a saber, com respeito à graça divina fazer surgir os
novos movimentos, isto é, deve-se entender no sentido de que, quando o
Espírito de Deus opera na vontade do homem pela Palavra ouvida, ou pelo
uso dos sacramentos, produz no homem a conversão e a regeneração.
Porque, depois de o Espírito Santo produzir isso mesmo, e depois
de, unicamente por Sua energia, mudar e renovar a vontade do homem;
então, sim, esta nova vontade é um instrumento do Espírito Santo de Deus,
de modo que ela não só pode lançar mão da graça, mas também cooperar
com o Espírito nas obras subseqüentes”.

DOUTRINA REFORMADA - Conf. de Fé, Cap. 10, § 1: “Todos aqueles que


Deus predestinou para a vida, e somente aqueles, aprouve a Ele, no tempo
por Ele determinado e aceito, chamar eficazmente por Sua Palavra e por
Seu Espírito, daquele estado de pecado e morte em que se acham por
natureza, para a graça e a salvação por Jesus Cristo; iluminando
espiritualmente e de um modo salvador o entendimento deles para
compreenderem as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-
lhes um coração de carne; renovando-lhes a vontade e por Seu poder
onipotente determinando-os para aquilo que é bom, e atraindo-os
eficazmente para Cristo; mas ao mesmo tempo de tal modo que eles vêm
muito livremente, sendo para isso dispostos por Sua graça”. § 2: “E
esta vocação eficaz é só da graça livre e especial de Deus, e não de coisa
alguma que fosse de qualquer modo prevista no homem, o qual em tudo isso
é inteiramente passivo, até que, sendo vivificado e renovado pelo Espírito
Santo, fica assim habilitado a corresponder a esta vocação e a receber a
graça oferecida e comunicada nela” - Cat. Maior, Perg.

67. Breve Cat., Perg. 31.

Cânones do Sínodo de Dort, Caps. 3 e 4, Rejec. Er., Eno.

4: “(São rejeitados aqueles) que ensinam que o homem não regenerado não
está estrita e totalmente morto nos

pecados, nem vazio de toda a força quanto ao que é bom espiritualmente; mas
que pode ter fome e sede de justiça e oferecer o sacrifício de um espírito
quebrantado e contrito que seja aceito por Deus”. Art.12: “(A regeneração)
é claramente sobrenatural, uma operação muito poderosa e ao mesmo tempo
muito suave, maravilhosa, secreta e inefável, não inferior a uma criação, nem
menor do que uma vivificação dos mortos; de modo que todos aqueles em cujo
coração Deus opera desta maneira maravilhosa, são com certeza regenerados
infalível e eficazmente, e manifestam fé. E então a vontade, sendo renovada,
não só tem operado Deus sobre ela e é por Ele movida, mas sendo movida assim
por Ele, ela mesma se move. Por isso também se diz com razão que é o próprio
homem que, por meio desta graça recebida, crê e se arrepende”.

DOUTRINA REMONSTRANTE - Conf. Remonstr., 17, 6: “Decidimos, pois,


que a graça de Deus é o princípio, o progresso e o remate de tudo o que é bom,
de modo que mesmo a pessoa regenerada não pode pensar, determinar nem fazer
coisa boa e salvadora, sem esta graça prévia, preveniente, estimulante,
subseqüente e cooperativa”.

Apol. Conf. Remonstr., pág. 162, b: “A graça é chamada eficaz por causa do
resultado, o que, porém se pode tomar em sentido duplo: primeiro, do modo que
se julga que a graça não tem, de per si, poder algum para produzir consentimento
na vontade, mas que toda a sua eficácia pode depender da vontade humana; ou
em segundo lugar, do modo que se julga que a graça tem, de per si,
poder suficiente para produzir consentimento na vontade, porém, por ser parcial
este poder, não pode manifestar-se em atos sem a cooperação da livre vontade
humana, e por isso ela, para produzir efeitos, depende da livre vontade (do livre-
arbítrio). Os remonstrantes desejam que se tome o segundo como o seu modo de
entender”.

1
Na derivação grega da palavra temos a preposição syn (com) e o >>

< <substantivo érgon (ação, trabalho). Daí, o sinergista, seguidor do sinergismo, acredita na ação conjunta da graça divina e a
capacidade humana. Nos contextos científicos emprega-se a palavra sinergia-, nos religiosos ou doutrinários, sinergismo. Nota de
Odayr Olivetti.

2
É perfeitamente válida a preocupação do autor. Apenas tomo a liberdade de opinar que a graça eficaz é irresistível somente no sentido
de que não há criatura que possa frustrar sua eficácia. Nota de Odayr Olivetti.
A Regeneração

1. Quais os diversos termos e expressões empregados nas Escrituras para


designar esta obra ?

Io. “Criar” de novo-Ef. 4:24. 2o. “Gerar”-Tia. 1:18. 3o. “Dar vida” - João 5:21;
Ef. 2:5. 4o. “Chamar das trevas para uma maravilhosa luz” - 1 Ped. 2:9. A
respeito dos regenerados dizem as Escrituras: Io. Que são “ressuscitados dos
mortos” -Rom. 6:13. 2o. Que são “novas criaturas” - 2 Cor. 5:17. 3o. Que
“nasceram de novo” - João 3:3,7. 4o. Que são “feitura de Deus” - Ef. 2:10.

2. Qual a opinião pelagiana a respeito da regeneração?

Eles sustentam que só as volições podem ser pecaminosas, e que é essencial à


liberdade e à responsabilidade dos homens que eles sejam sempre capazes tanto
de deixar o pecado como de permanecer nele. Por isso a regeneração nada mais
é que uma reforma da vida e dos costumes. O homem que dantes se comprazia
em transgredir a lei, compraz-se agora em obedecer-lhe.

3. Qual a doutrina da igreja católica romana sobre este assunto?

Os católicos romanos -

Io. confundem a justificação com a santificação, fazendo delas um só ato de


Deus no qual, para a Sua glória, por amor dos merecimentos de Cristo, pelo
poder eficaz do Espírito Santo e por meio do batismo, Ele apaga uma vez por
todas a

culpa dos nossos pecados e nos livra do poder inerente ao pecado original e
também da sua mácula - Cone. de Trento, Sessão 6, cap.7.

2o. Eles sustentam a doutrina de que a regeneração é operada unicamente por


meio do batismo. Este é eficaz em todos os casos da sua aplicação a crianças. No
caso dos adultos, estes podem resistir à sua eficácia ou anulá-la. No batismo
(1) os pecados são perdoados; (2) a natureza moral do batizado é renovada; (3)
ele é feito filho e herdeiro de Deus - Cat. Rom., Parte 2, Cap.2.

4. Quais as diversas opiniões mantidas na Igreja Anglicana sobre a regeneração


batismal?

Ia. A teoria do partido chamado puseíta, e que é essencialmente a mesma da


igreja católica romana. Eles sustentam em geral que o Espírito Santo, servindo-
Se do batismo, implanta na alma um gérmen de vida espiritual, e que este
pode permanecer latente por muito tempo, e depois ser desenvolvido ou
destruído.

2a. A opinião de um grande partido muito habilmente representado pelo falecido


bispo H. U. Underdonk, em seu Essay on Regeneration, Filadélfia, 1835. Este
sustentava que há duas regenerações distintas, constando uma de uma
mudança de estado ou condição, e a outra de uma mudança de natureza.
A primeira é batismal, a segunda, moral, à medida que ambas sejam espirituais
por serem obra do Espírito Santo. A primeira, ou a regeneração batismal, é um
novo nascimento, porque nos torna filhos de Deus, assim como a aliança que
tinha por selo a circuncisão tornou os judeus Seu povo peculiar. A segunda é um
novo nascimento ou uma nova criação em sentido superior, porque é uma
gradual mudança santificadora operada no caráter moral pelo Espírito Santo, e
não é necessariamente ligada ao batismo.

5. Qual a opinião sobre a regeneração mantida por aqueles que, na América,


sustentam o “Exercise Scheme”?

Esses teólogos negam que existam na alma quaisquer hábitos ou disposições


morais permanentes, e só admitem a existência da alma ou agente e seus atos ou
“exercises” (exercícios). No homem natural a série de atos é
totalmente depravada. No homem regenerado uma nova série de atos santos é
criada pelo Espírito Santo e continuada por Seu poder -Emmons, Sermão 64,
sobre o “Novo Nascimento”.

6. Qual a opinião característica de “New Haven”, defendida pelo Dr. N. W.


Taylor, sobre este assunto?

O Dr. Taylor concordou com os defensores do “Exercise Scheme” em que não há


na alma nada além do agente e seus atos; mas divergiu deles sustentando que o
homem, e não Deus, é o autor independente das ações humanas. Ele sustentava
que, quando Deus e o mundo se apresentam à contemplação do espírito do
homem, a regeneração consiste do ato do pecador pelo qual ele escolhe Deus
como o seu bem supremo, confundindo assim a regeneração com a conversão. O
Espírito Santo, de algum modo desconhecido, ajuda a refrear a operação ativa do
princípio natural e egoístico que prefere o mundo como o seu bem supremo.
“Um espírito assim apartado do mundo como seu bem supremo escolhe logo a
Deus por sua porção, sob o impulso desse desejo inerente de alcançar
a felicidade, sem o qual nenhum objeto nunca poderia ser considerado como
bom, desejável ou amável”. Este motivo original para fazer essa escolha de
Deus, que é a regeneração, é meramente natural, e moralmente não é nem bom
nem mau. Assim - Io. A regeneração é um ato do próprio homem. 2o. O Espírito
Santo ajuda o homem, (1) suspendendo o poder dominador da sua disposição
egoística e pecadora; (2) apresentando ao seu espírito, à luz clara da verdade, a
superioridade de Deus como objeto de sua escolha. 3o. O pecador escolhe então
a Deus

como o seu bem supremo sob a convicção da sua inteligência e impelido por um
motivo natural, mas não pecaminoso, de amor próprio, que se deve distinguir do
egoísmo, sendo este a essência do pecado. Veja Christian Spectator, dezembro
de 1829, págs. 693, 694, etc.

7. Qual é a doutrina comum, dos cristãos evangélicos?

Io. Que na alma, além de suas diversas faculdades, existem também hábitos ou
disposições, alguns dos quais são inatos e outros adquiridos, e que dão o
fundamento ou a base para a alma exercer suas faculdades de um modo
particular. Assim julgamos ser permanentemente má a disposição moral de
um homem quando o vemos agir habitualmente de um modo pecaminoso, e
permanentemente boa quando o vemos agir habitualmente de um modo
moralmente bom.

2o. Estas disposições precedem as ações morais, e determinam o caráter destas


como boas ou más.

3o. Na criação Deus fez santa a disposição do coração de Adão.

4o. Na nova criação Deus torna a criar santa a disposição dominante do coração
do homem regenerado.

Por isso é propriamente chamada “regeneração”, “nova criação”, “novo


nascimento”.
8. Quando se diz que a regeneração consiste em dar um novo coração, ou em
implantar um novo princípio ou uma nova disposição, o que é que se entende
pelos termos “coração”, “princípio” e “disposição”?

O Presidente Edwards (de Princeton) diz: “Por um princípio da natureza


entendo, neste ponto, essa base posta na natureza, quer velha quer nova, para
qualquer modo ou maneira particular pela qual se exerçam as faculdades da
alma. Assim, pois, este novo “sentido espiritual” não é uma nova faculdade da
inteligência, e sim uma nova base posta na alma para uma nova espécie de
exercício dessa mesma faculdade

cia inteligência. Assim também essa nova disposição do coração, que


acompanha esse novo sentido, não é uma nova faculdade da vontade, e sim uma
base posta na natureza da alma para uma nova espécie de exercício dessa mesma
faculdade da vontade - Edwards, sobre Religious Affections (Afetos Religiosos),
Parte 3, Seção 1.

O termo “coração”, significando essa prevalecente disposição moral que


determina as volições e as ações, é o termo mais comumente empregado nas
Escrituras - Mat. 12:33,35; 15:19; Luc. 6:43,45.

9. Como se pode mostrar que esta idéia sobre a regeneração não a representa
como envolvendo alguma mudança na essência da alma?

Essa é a acusação feita contra a doutrina ortodoxa por todos os que negam que
haja na alma outra coisa além de suas faculdades constitutivas e seus exercícios.
Argumentam, pois, que, se for mudada qualquer coisa além dos meros
exercícios da alma, sua constituição fundamental será mudada fisicamente. Em
oposição a isso, nós argumentamos que temos precisamente as mesmas provas
de que existe na vontade uma permanente disposição moral, ou uma disposição
inerente a ela, como a razão pela qual um homem bom segue habitualmente o
bem, e o homem mau o mal. Argumentamos que temos as mesmas provas de que
existe a própria alma invisível, ou qualquer das suas faculdades, como a razão
pela qual um homem faz qualquer coisa, ou pela qual as suas ações são,e.g., um
pensamento, uma emoção ou uma volição. E-nos impossível conceber a escolha
produzida em nós pelo Espírito Santo, de mais de três modos diversos:
“Primeiro, por sua operação direta em produzir a escolha, caso em que esta
não seria ato nosso. Em segundo lugar, apresentando aos nossos princípios
constitutivos e naturais de amor próprio motivos tais que eles nos levam a fazer a
escolha, caso em que não haveria moralidade no ato. Ou, em terceiro lugar,
produzindo em nós um tal gosto pelo caráter divino que a alma se regozija tão

espontânea e imediatamente em Deus como sua porção como se regozija na


percepção do belo”.

“Se o nosso Criador não somente nos dotou de susceti- á bilidade geral para
amar, mas também da disposição específica " para amar nossos filhos, somente
Ele nos pode dar discernimento e suscetibilidade para a percepção da beleza
natural, e pode dar-nos também gosto pela beleza moral. E se este gosto, por
causa do pecado, está viciado e pervertido, Ele o pode restaurar por Seu Espírito
na regeneração” - Hodge,ffoajys.

10. Em que sentido se pode dizer que a alma é passiva na regeneração?

O Dr. Taylor sustentou que a regeneração é o ato da alma em que o homem


escolhe a Deus como sua porção. Assim, o autor é o homem, e não Deus.

A Igreja Cristã, ao contrário, sustenta que na regeneração o Espírito Santo é o


Autor e o homem é o objeto. O ato do Espírito Santo, implantando um novo
princípio, não estorva : a atividade essencial da alma, mas somente dá nova
direção a ’ essa atividade, porque, conquanto seja ativa a alma, ao mesmo tempo
é possível agir sobre ela. E, posto que seja necessariamente ativa no mesmo
instante da sua regeneração, afirma-se com razão que ela é passiva com relação a
esse ato do Espírito Santo pelo qual é regenerada. Considere:

Io. A alma, sob a convicção do Espírito Santo, e no exercício de sentimentos


meramente naturais, considera algum aspecto da verdade salvadora, e procura
aceitá-la. .

2o. O Espírito Santo, pelo exercício do Seu poder criador, muda a disposição
dominante do coração de uma maneira inexplicável e mediante uma influência
que a pessoa é incapaz de apreender.

3o. A alma exerce simultaneamente novos afetos e aceita experimentalmente a


verdade.

11. Qual a diferença entre a regeneração e a conversão?


O termo conversão é empregado muitas vezes num sentido lato, incluindo tanto
a mudança da natureza como também o exercício dessa natureza depois de
mudada. Mas, quando se faz distinção entre ela e a regeneração, significa o
primeiro exercício da nova disposição implantada na regeneração, isto c, o ato de
voltar-se livremente para Deus.

A regeneração é ato de Deus; a conversão é ato nosso. A regeneração é a


implantação de um princípio concedido pela graça; a conversão é o exercício
desse princípio. A regeneração nunca é matéria de consciência direta de quem é
regenerado; a conversão o é para o convertido. A regeneração é um só
ato, completo em si, e nunca repetido; a conversão, sendo o começo de uma vida
santa, é o começo de uma série constante de atos, sem fim e progressiva. “Leva-
me tu, correremos (correrei) após ti” - Cant. 1:4. Esta distinção é assinalada
pelos teólogos do século 17 (e.gTurretino, Lo. 15, Quaes. 4, § 13) com as
frases conversio habitualis seu passiva, isto é, a infusão feita por Deus de um
hábito na alma, fruto da graça, a cujo respeito ela é passiva; e conversio actualis
seu activa, isto é, os atos de fé e arrependimento, que são a conseqüência,
produzidos pela graça cooperativa e que, ao mesmo tempo, são atos do
homem mesmo.

12. Como se pode provar que existe o que se chama comumente regeneração?

Io. Pelas passagens das Escrituras que declaram que é necessária tal mudança-
João 3:3; 2 Cor. 5:17; Gál. 6:15.

2o. Pelas passagens que descrevem a mudança - Ef. 2:5; 4:24; Tia. 1:18; 1 Ped.
1:23.

3o. Pelo fato de que ela é necessária tanto para os homens caracterizados pela
maior moralidade como para os que levam vida dissoluta- 1 Cor. 15:10; Gál.
1:13-16.

4o. Pelo fato de que esta mudança interna não é uma simples reforma externa,
como fica provado pelo fato de que é atribuída

ao Espírito Santo - Ef. 1:19,20; Tito 3:5.

5o. Pela comparação entre o estado do homem na graça e seu estado como é por
natureza - Rom. 6:13; 8:6-10; Ef. 5:8.
6o. Pela experiência de todos os cristãos e pelo testemunho de sua vida.

13. Qual a natureza da iluminação sobrenatural?

A alma do homem é uma unidade: um estado radicalmente defeituoso ou


pervertido de qualquer de suas faculdades afeta para o mal todas as demais
faculdades. A essência do pecado consiste no fato de que as disposições e os
sentimentos morais da vontade estão pervertidos. Mas o estado pervertido
í destes sentimentos afeta necessariamente os exercícios da i inteligência, a
respeito de todos os objetos morais, tanto como as próprias volições. Não
podemos amar ou desejar um objeto se não percebermos a sua beleza, e não
podemos perceber intelectualmente a sua beleza se as suas qualidades não
forem análogas ao nosso gosto inerente ou à nossa disposição. O pecado é, pois,
essencialmente enganoso, e o homem, como pecador, é espiritualmente cego.
Isso não consiste em nenhum defeito físico. Ele possui todas as faculdades
necessárias para ver a beleza e sentir o poder da verdade, porém a sua
natureza inteira está pervertida em conseqüência das suas más disposições. Logo
que tais disposições forem mudadas ele passará a ver e, vendo, amará a verdade
e lhe prestará obediência, sem que se opere em sua natureza nenhuma
mudança constitutiva, isto é, sem que se lhe dê nenhuma faculdade nova, mas
somente sendo retificadas moralmente as suas faculdades pervertidas.

Esta iluminação é chamada sobrenatural - Io. Porque, tendo-se perdido, pode ser
restaurada unicamente pelo poder imediato de Deus. 2o. Em contradistinção do
estado defeituoso da atual natureza depravada do homem. Ela não comunica,
porém, novas verdades ao espírito, nem diminui de modo algum o dever do
cristão de estudar a Palavra de Deus

com diligência e oração, nem conduz a interpretações fantasiosas das Escrituras,


e alheias ao sentido claro da letra: ela simplesmente conduz à percepção e à
apreciação da beleza natural e do poder espiritual da Palavra inspirada e
das verdades nela reveladas.

14. Como se pode provar que os crentes recebem essa iluminação ?

Io. É necessária - 1 Cor. 2:14; 2 Cor. 3:14; 4:3; João 16:3.

Pela constituição da nossa natureza é necessário que apreendamos um objeto


como amável antes de podermos amá-lo por amor de si mesmo.
2o. As Escrituras afirmam essa verdade expressamente. Conhecer a Deus é vida
eterna - João 17:3; 1 Cor. 2:12,13; 2 Cor. 4:6; Ef. 1:18; Fil. 1:9; Col. 3:10; 1 João
4:7; 5:20; Sal. 19:9,10; 43:3,4.

Sendo a alma uma unidade, uma mudança em suas radicais disposições morais
muda necessária e simultaneamente o exercício de todas as suas faculdades, em
relação aos objetos morais e espirituais. A alma não pode amar aquilo
cuja beleza não percebe, nem pode ver beleza naquilo que nada tem de análogo à
sua natureza. O primeiro objeto, pois, produzido na ordem da natureza pela
regeneração, ou por uma mudança radical da disposição moral, é que se abram
os olhos do nosso entendimento para verem a excelência da verdade divina; o
segundo efeito é que amemos a excelência assim percebida. Isto é o que o
Presidente Edwards (Religions Affec-tions) chama “o sentido do coração”.

15. Qual o sentido da convicção de pecado que acompanha a regeneração?

A iluminação espiritual conduz o homem não regenerado imediatamente à


percepção da justiça, da bondade e do imenso alcance e exatidão da lei de Deus,
e também, por contraste, à percepção da grande culpabilidade do pecado no
abstrato, Rom. 7:7,13, e, sobretudo, do seu próprio pecado - revelando-lhe

assim, em contraste com a pureza e com a justiça divinas, a corrupção do próprio


coração, que ele merece a condenação, e que, em todas as suas relações com
Deus, é totalmente incapaz de fazer algo que seja bom - Jó 42:5,6. Este é um
conhecimento prático e experimental - produzido pela luta do Espírito
Santo com o homem (João 16:8) - da sua culpa, da sua corrupção e da sua
impotência moral e espiritual.

16. Qual a natureza dessa convicção de pecado quemuitas vezes ocorre antes
da regeneração ou sem ela, e como se pode distinguir essa falsa convicção
daquela que é verdadeira ?

A consciência natural é um elemento essencial e indestrutível da natureza


humana, e nela se acham incluídos o sentimento do bem e do mal, e emoções
dolorosas associadas com o sentimento do mal. Conquanto esta faculdade possa
ser pervertida por algum tempo e possa tornar-se endurecida a sensibilidade
associada com ela, contudo, pode ser e muitas vezes é vivificada, no caso dos
não regenerados, para uma atividade penosa, levando à convicção do
desmerecimento, da corrupção, da impotência e do perigo. No mundo futuro
isso constituirá em grande parte os sofrimentos dos perdidos.

Por outro lado, a convicção de pecado que é peculiar aos regenerados distingue-
se por ser acompanhada do sentimento da beleza positiva da santidade e de um
desejo ardente de não somente ver-se livre das angústias do remorso, mas
principalmente da corrupção e do domínio do pecado.

17. Qual a natureza desses novos afetos que são a conseqüência da renovação
do coração, e como se distinguem dos exercícios dos homens não renovados?

A iluminação espiritual produz a percepção daquela beleza que os afetos


renovados do coração aceitam e em que encontram prazer. São espirituais,
porque são formados dentro de nós e mantidos em exercício pelo Espírito de
Deus. São santos, porque os seus objetos são santos, e porque têm prazer

nos seus objetos por serem santos. Por outro lado, os afetos dos homens não
regenerados, por mais puros e até religiosos que sejam, são apenas naturais em
sua origem e terminam unicamente em objetos naturais. Tais homens podem ser
gratos a Deus pelos benefícios dEle recebidos, mas nunca O amam simplesmente
pelas perfeições da Sua natureza.

18. Qual a natureza da nova obediência resultante da regeneração, e em que


difere da moralidade?

A lei perfeita é espiritual e, por conseguinte, exige perfeita conformidade quanto


a ser, como também quanto a agir; é necessário que os princípios centrais e
dominantes de vida estejam em harmonia com ela. Portanto, o homem
regenerado pensa, sente e age de conformidade com o espírito de toda a Palavra
de Deus, até onde lhe está revelada, e isso ele faz porque é Palavra de Deus, e
porque deseja sobretudo glorificá-10. Os afetos santificados são a origem, a lei
perscrutadora do coração c a regra, a glória de Deus é o fim, e o Espírito Santo é
o coope-rador em todos os atos de obediência cristã.

A moralidade, ao contrário, tem sua origem nos afetos meramente naturais; sua
única mira é a conformidade dos atos externos com a letra da lei, enquanto que o
eu, em alguma forma de justiça própria, reputação, fama ou felicidade, é o fim
determinador.

19. Como se pode provar a absoluta necessidade da regeneração?


Io. As Escrituras afirmam essa necessidade - João 3:3;

Rom. 8:6; Ef. 2:10; 4:21-24.

20. E provada pela natureza do homem como pecador -Rom. 7:18; 8:7-9; 1
Cor. 2:14; Ef. 2:1.

3o. Pela natureza do céu - Is. 35:8; 52:1; Mat. 5:8; 13:41; I leb. 12:14; Apoc.
21:27. A restauração da santidade é o grande íim que o plano inteiro da salvação
tem em vista - Ef. 1:4; 5:5,26,27.

20. As crianças podem ser regeneradas? Se podem, qual a natureza da sua


regeneração? r I

As crianças, bem como os adultos, são agentes racionais e ] morais, e por


natureza totalmente depravadas. A diferença é que nas crianças as faculdades
estão em gérmen, ao passo que nos adultos se acham desenvolvidas. Sendo a
regeneração uma mudança operada pelo poder criador na inerente condição
f moral da alma, é claro que essa mudança pode ser efetuada \ nas crianças
exatamente no mesmo sentido em que se efetua i nos adultos; em ambos os casos
a operação é miraculosa e, por \ isso, inescrutável. ■

O fato é estabelecido pelo que as Escrituras ensinam quanto à depravação inata,


à salvação das crianças que morrem, à circuncisão e ao batismo de crianças -
Luc. 1:15; 18:15,16; Atos 2:39. Veja abaixo, Cap.42.

- DECLARAÇÕES AUTORIZADAS

DOUTRINA ROMANA - Cone. de Trento, Sessão 6, Cap.

7: “A justificação (regeneração) não é somente a remissão dos pecados, mas


a santificação e renovação do homem interior, pela voluntária recepção da
graça e dos dons; pelo que o homem passa de injusto para justo, e passa de
inimigo para amigo, a fim de ser herdeiro segundo a esperança da vida
eterna. As causas desta justificação são as seguintes: a causa final, a glória de
Deus e de Cristo, e a vida eterna; a causa eficiente, a misericórdia de Deus
que, gratuitamente, lava e santifica, assinalando e ungindo com o
Santo Espírito da promessa, que é o penhor da nossa herança; quanto à
causa meritória, é esta o Seu diletíssimo Filho unigênito, nosso Senhor Jesus
Cristo, que, sendo nós inimigos, pelo nímio amor com que nos amou,
nos mereceu a justificação, e satisfez por nós ao Pai eterno, com Sua
santíssima paixão no lenho da cruz. A causa instrumental é o sacramento do
batismo, que é o sacramento da fé, sem a qual ninguém jamais se justificou.

Finalmente, a única causa formal é a justiça de Deus; não aquela com a qual
Ele é justo, mas aquela com a qual nos faz justos; por ela, sendo-nos
concedida pelo Senhor, a nossa alma fica espiritualmente renovada, e não
somente somos reputados justos, porém verdadeiramente se nos dá este
nome, e o somos”.

DOUTRINA LUTERANA - Hase, Formula Concord., pág. 379: “Porque a


conversão é tal mudança do homem mediante a operação do Espírito Santo
na inteligência, na vontade e no coração do homem que este pode (isto
é, mediante a operação do Espírito Santo) aceitar a graça oferecida”. Ib.,
pág. 681: “Mas a inteligência e a vontade do homem ainda não renovado
constituem os únicos objetos da conversão, porque são a inteligência e a
vontade do homem morto espiritualmente, em quem o Espírito Santo opera
a conversão e a renovação; para esta obra o homem que vai ser convertido
não contribui com nada, todavia ela é realizada nele até que seja
regenerado. Mas depois, permanecendo noutras boas obras, ele coopera
com o Espírito Santo, fazendo as coisas que agradam a Deus, daquela
maneira que já foi exposta plenamente neste tratado”,

DOUTRINA REFORMADA e DOUTRINA REMONS-TRANTE. Veja Cap.


28, acima.
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A Fé

1. Qual é, segundo a sua etimologia e o uso do Novo Testamento, o significado


da palavra pístis, “fé”, “crença”?

E derivada da palavra peithó, persuasão ou convicção. No Novo Testamento é


empregada -

Io. Para significar o estado do espírito que é induzido pela persuasão - Rom.
14:22.

2o. Muitas vezes significa boa fé, fidelidade, sinceridade -Rom. 3:3; Tito 2:10.

3o. Assentimento à verdade - Fil. 1:27; 2 Tess. 1:13.

4o. Fé para com Deus ou em Deus-Heb. 6:1; 1 Tess. 1:8; 1 Ped. 1:21; Marcos
11:22. Fé em Cristo, Atos 24:24; Gál. 3:26; e no Seu sangue, Rom. 3:22,25; Gál.
2:16,20.

5o. E empregada no sentido de objeto da fé, a saber, a revelação do evangelho -


Rom. 1:5; 10:8; 1 Tim. 4:1. -Robinson,L^x. oftheNew Testament.

2. Quais os diversos significados do verbo pisteúein (crer) e da frase pisteúein


eis ou epi (crer em)?

Io. Assentir à verdade, ser persuadido dela - Luc. 1:20; João 3:12.

2o. Dar crédito a uma pessoa e à sua verdade - João 5:46.

3o. Confiar ou ter confiança em - Atos 27:25.

A frase pisteúein eis ou epí é empregada sempre para exprimir confiança


culminando em Deus, ou em Cristo como Mediador. Diz-se muitas vezes que
cremos ou damos

crédito a Moisés e a outros que ensinaram a verdade, mas podemos crer só em


Deus ou em Cristo. Em Deus, João 14:1; Rom. 4:24; 1 Ped. 1:21. Em Cristo,
João 14:1; Atos 16:31; João 3:15-18.
3. Como se pode definir fé?

Fé é um ato complexo da alma, que envolve a ação concorrente da inteligência e


da vontade, sendo modificada em diversos casos do seu exercício pela natureza
do seu objeto e pelas provas em que se baseia. A definição mais geral
é “assentimento à verdade, depois de apresentadas as provas apropriadas. Mas é
claro que a sua natureza deve variar segundo a natureza da verdade cri d a, e
especialmente segundo a natureza das provas sobre as quais se baseia o nosso
assentimento. O assentimento dado a uma verdade abstrata ou especulativa é um
ato especulativo; o assentimento dado a uma verdade moral é um ato moral; o
assentimento dado a uma promessa feita a nós é um ato de confiança. Nossa
crença em que a terra gira sobre o seu eixo é um mero assentimento; nossa
crença na excelência da virtude é da natureza de um juízo moral; nossa crença
numa promessa é um ato de confiança”. Assim também com respeito às provas
em que se baseia a nossa fé. “O mesmo homem pode crer na mesma verdade por
motivos diversos. Um pode crer na verdade do sistema cristão somente
porque outros ao seu redor crêem nela, e porque foi criado de modo que nela
cresse sem questionar; essa fé é na verdade credulidade. Outro pode crer nela por
causa de suas provas externas, e.g., milagres, profecias, história, harmonia lógica
com o sistema ou plausibilidade como teoria para explicar os fenômenos da
criação e da providência. Esta é uma fé especulativa. Outro pode crer porque as
verdades da Bíblia recomendam-se à sua razão e à sua consciência, e
concordam com a sua experiência interna. Esta fé é baseada em provas morais.
Existe ainda outra fé que, porque o homem sente e ama a excelência moral das
verdades cristãs, é baseada em sua

intrínseca excelência, beleza e adaptação às nossas necessidades. Esta é fé


espiritual, que é dom de Deus” - Hodge, Way ofLife.

Fé religiosa é “crença na verdade sob o testemunho de Deus”. Abrange,


(l)Notitia, conhecimento; (2)Assensus, assentimento; (3)Fiducia, confiança. ^

4. Até onde a fé é um ato da inteligência, e até onde é um ato da vontade?

A alma una e indivisível sabe, conhece e ama, deseja e decide, e estes diversos
atos da alma reúnem-se sobre o mesmo objeto. A alma não pode amar, nem
desejar, nem escolher ^ aquilo que não conhece, nem pode ela conhecer um
objeto como bom ou verdadeiro sem que haja alguma afeição da vontade para
com ele. O assentimento dado a uma verdade especulativa pode ser
simplesmente um ato da inteligência; i mas a crença numa verdade moral, num
testemunho, em promessas, é necessariamente um ato complexo, abrangendo a
vontade bem como a inteligência. A inteligência apreende a verdade a crer, e
avalia a validade das provas; mas a disposição para crer no testemunho, ou nas
provas morais, tem sua base na vontade. A real confiança numa promessa é um
ato da vontade, e não somente um juízo da inteligência sobre a fé que a promessa
merece. Há uma relação exata entre o juízo moral e os afetos, e a vontade, como
a sede dos afetos morais, determina os juízos morais. Por isso, assim como o
homem é responsável por sua vontade, também o é por sua fé.

Até onde a fé inclui em si um ato de “cognição”, ela é evidentemente um ato da


inteligência. Entretanto até onde inclui em si “assentimento” e “confiança”,
envolve também as faculdades espontâneas e ativas da alma - “a vontade” - e
nos seus exercícios superiores envolve muitas vezes a própria volição
proposital. ■. 7

5. Qual a diferença entre conhecimento e fé?

Falando em termos gerais, conhecimento é a apreensão

de um objeto como verdadeiro, e fé é o assentimento dado à sua verdade. E


evidente, pois, que neste sentido geral do termo, todos os exercícios da fé
incluem em si o conhecimento do objeto ao qual se dá assentimento. É
impossível distinguir entre a apreensão da verdade, de uma verdade puramente
especulativa, e o assentimento que se lhe dá reconhecendo-a como verdadeira.
Em tais casos, fé e conhecimento parecem idênticos. Mas, conquanto a
apreensão da confiabilidade de uma promessa merece fé seja conhecimento, a
confiança na promessa é fé. A apreensão da verdade moral de um objeto
é conhecimento; o assentimento dado a ele, reconhecendo-o como bom e
desejável, é fé.

As vezes é empregada a palavra conhecimento nas Escrituras como equivalente


à fé-João 10:38; 1 João 2:3.

Geralmente, porém, as Escrituras empregam o termo conhecimento só para


designar a apreensão daquelas idéias que derivamos mediante as fontes naturais
da razão, da sensação e do testemunho humano, enquanto o termo fé é
aplicado somente ao assentimento dado às verdades que se apoiam
no testemunho direto de Deus somente, e reveladas objetivamente nas Escrituras
e apreendidas mediante a iluminação espiritual. Assim a fé é “um argumento (a
prova) das coisas que não aparecem” - Heb. 11:1, Figueiredo. E-nos ordenado
que andemos “por fé, e não por vista” - 2 Cor. 5:7. Aqui a distinção entre fé e
conhecimento tem referência especialmente ao modo de conhecer. Um é natural
e discursivo, o outro é sobrenatural e intuitivo.

6. Qual a distinção que os católicos romanos fazem entre fé implícita e


explícita?

Os católicos e os protestantes concordam em que não é essencial à fé que o seu


objeto seja compreendido pela inteligência. Mas, por outro lado, os protestantes
afirmam e os católicos negam que é essencial que o objeto em que se crê seja
apreendido pela inteligência, isto é, que o conhecimento

daquilo em que se crê é essencial à fé. Os católicos romanos inventaram, então, a


distinção entre fé explícita, que termina em um objeto distintamente apreendido
pela inteligência, e fé implícita, que é a de quem crê na verdade de uma
proposição a cujo respeito nada sabe. Eles sustentam que aquele que exerce fé
explícita numa proposição geral, exerce assim fé implícita em tudo quanto se
acha incluído nela, quer saiba o que é, quer não o saiba. Se, por exemplo, um
homem tem fé explícita em que a igreja católica é mestra infalível, ele exerce
desse modo fé virtual ou implícita em todas as doutrinas ensinadas pela igreja,
mesmo se as ignorar. Além disso, eles distinguem entre as verdades que é
preciso considerar com fé explícita, e as que podem ser sustentadas
implicitamente. Seu ensino comum é que o povo precisa crer explicitamente
somente em três doutrinas: Ia. que há Deus; 2a. que Ele é remunerador, inclusive
de recompensas e castigos futuros; 3a. que é salvador.

“Esta doutrina foi recentemente ressuscitada pelos puse-ítas, sob o título de


reserva. Diziam eles que as verdades distintivas do evangelho, em vez de serem
claramente apresentadas, deveriam se escondidas ou mantidas em reserva.
O povo pode olhar para a cruz como o símbolo da redenção, mas não é
necessário que saiba se é à sua forma, ao seu material ou ao grande sacrifício que
foi oferecido uma vez por todas sobre ela que se deve a eficácia da redenção. “A
luz religiosa são trevas intelectuais”, dizia o Dr. Newman. Essa teoria baseia-se
na mesma suposição falsa de que é possível haver fé sem conhecimento” - Dr.
Hodge.

7. Qual é a diferença entre conhecer e compreender uma coisa, e até onde o


conhecimento é essencial à fé?

Sabemos ou conhecemos uma coisa quando a apreendemos simplesmente como


verdadeira. Somente a compreendemos quando compreendemos perfeitamente a
sua natureza, e a perfeita harmonia de todas as suas propriedades umas com as
outras e com todo o sistema das coisas de que ela

faz parte. Conhecemos a doutrina da Trindade quando as suas diversas partes nos
são expostas; porém não há criatura que a possa compreender.

Que o conhecimento ou uma simples apreensão do objeto em que se crê ou


confia é essencial à fé é evidente da própria natureza dela. Fé é esse estado de
espírito que tem a relação de assentimento dado a certo objeto, envolvendo
aquela ação da inteligência e da vontade que é apropriada ao dito objeto. Quando
alguém ama, teme ou crê, é necessário que ame, tema ou creia em algum objeto,
porque é claro que estes estados de espírito só podem existir em relação a seus
objetos apropriados. Se não se achar presente um objeto real, a imaginação
poderá apresentar um objeto idealizado; mas é necessário que essa mesma ficção
da imaginação seja apreendida (ou conhecida) como verdadeira, antes que se lhe
possa dar o assentimento como verdadeira (ou que se possa crer nela). Assim
como é impossível que alguém goze do belo sem que o apreenda em algum
objeto do espírito, ou que exerça amor complacente num ato virtuoso sem que
perceba o ato, assim também, e pelos mesmos motivos, é impossível que um
homem exerça fé sem que saiba o que ou em que é que ele crê. “Fé implícita” é
uma fórmula inteiramente sem sentido.

8. Como se pode provar pelas Escrituras que conhecimento é essencial à fé?

Io. Pela etimologia da palavra pístis, de peito, persuadir, instruir. Fé é um estado


de espírito resultante da instrução.

2o. Pelo uso nas Escrituras do termo conhecimento como sinônimo de fé-João
10:38; 1 João 2:3.

3o. Pelo que as Escrituras ensinam quanto às fontes da fé. Esta vem pela
instrução - Rom. 10:14-17.

4o. As Escrituras declaram que os regenerados são esclarecidos, receberam a


unção e sabem todas as coisas - Atos 26:18; 1 Cor. 2:12-15; Col. 3:10.
5o. Os meios de salvação consistem na disseminação da

verdade. Cristo é o grande instrutor. Os ministros do evangelho são instrutores -


1 Cor. 4:1; 1 Tim. 3:2; 4:13. Os cristãos são gerados pela verdade, são
santificados pela verdade-João 17:19; Tiago 1:18 -Dr. Hodge.

9. Como se deve explicar as passagens que falam do conhecimento como


distinto da fé?

Conquanto todo ato de fé pressuponha um ato de conhecimento, contudo, tanto a


fé como o conhecimento variam muito, tanto com relação à natureza do objeto
conhecido e crido, como à maneira pela qual se recebe o conhecimento,
e também com relação à evidência em que se apoia a fé. A fé que as Escrituras
distinguem do conhecimento é a forte persuasão de coisas não vistas. E a
convicção da verdade de coisas que estão além do círculo da nossa observação,
que podem transcender inteiramente as faculdades da nossa inteligência e cuja
existência só é garantida pelo testemunho de Deus. Neste testemunho a fé
descansa, apesar de tudo quanto pareça inconseqüente ou impossível à razão
humana.

Posto que o conhecimento seja essencial à fé, pode-se distinguir dela - Io. A fé
abrange em si também um ato da vontade assentindo, além do ato da inteligência
apreendendo. 2o. O conhecimento derivado de uma fonte natural distingue-se do
que é derivado de uma fone divina. 3o. Como atual apreensão imperfeita das
coisas divinas, apreensão que é fé, esta difere do conhecimento perfeito das
coisas divinas que teremos no céu - 1 Cor. 13:12. s

10. Se na fé se acha necessariamente compreendido o conhecimento, como se


pode ordenar aos homens que creiam?

Io. A ninguém jamais se ordena que creia naquilo que não lhe foi revelado, ou
pela luz da natureza, ou pela Palavra inspirada.

2o. A ninguém jamais se ordena que creia numa verdade meramente


especulativa. As verdades da religião apóiam-se

no testemunho de Deus. Este é reforçado por provas morais, e a fé nessas


verdades envolve conhecimento moral e espiritual delas e gozo nelas. Provas
morais só podem ser devidamente apreciadas por quem possui sensibilidade
moral; e a insensibilidade moral que leva à cegueira quanto à distinção entre o
bem e o mal, é ela mesma um estado de depravação extrema.

As Escrituras, pois, luminosas pela sua própria luz evidenciai, apresentam a


verdade a todos a quem chega o seu conhecimento, e exigem que eles aceitem a
verdade ao receberem o testemunho de Deus. Se alguém sentir que a evidência
não é conclusiva para ele, a causa não pode deixar de ser a cegueira pecaminosa
do seu espírito. Por isso Jesus Cristo diz; “Não quereis vir a mim para terdes
vida” - João 5:40. E a incredulidade é sempre lançada à culpa do “coração mau”.

11. Quais os motivos fundamentais do assentimento dado à verdade, que é da


essência da fé?

Em geral, a base fundamental em que se funda o nosso assentimento à verdade


de qualquer objeto de conhecimento é a veracidade de Deus. O testemunho dos
nossos sentidos e as intuições da nossa razão firmam-se todos em Sua
veracidade como Criador. Praticamente somos levados a dar este assentimento
pela confiança universal e instintiva que temos na constituição da nossa própria
natureza.

A fé religiosa funda-se, Io. na fidelidade de Deus como essa nos é garantida em


Sua revelação sobrenatural, João 3:33; 2o. na evidência da iluminação espiritual,
da experiência pessoal do poder da verdade, e do testemunho do Espírito Santo,
o Santificador, e, assim, não “em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”
- 1 Cor. 2:5-12.

12. Quais as duas espécies de provas pelas quais sabemos que Deus revelou
certas verdades como objetos de fé?

Ia. A evidência que reside na própria verdade moral,

espiritual, experimental, racional - João 6:63; 7:17,26; Jer. 33:29.

2a. A evidência abonadora da presença e do poder de Deus acompanhando a


propagação da verdade e provando que esta veio dEle. Consta de milagres,
dispensações providenciais, cumprimento de profecias, etc. - João 5:36; Heb.
2:4.

13. Como se pode mostrar que a autoridade da Igreja não é base para a fé?
Veja acima, Cap. 5, Perg. 13. :

14. Qual a natureza da fé histórica, e qual a evidência em que se funda?

A espécie de fé puramente racional, que se chama fé histórica, é aquela


apreensão da verdade, e o assentimento dado a ela, que a considera unicamente
em seus aspectos puramente racionais como meros fatos históricos, ou meras
partes de um sistema lógico de opinião. Sua evidência apropriada é puramente
racional, isto é, a explicação dada pelas Escrituras dos fatos da história e da
experiência, e a evidência dos milagres, das profecias, da história, etc.

15. Qual a natureza da fé temporária, e qual a evidência em que se funda?

Fé temporária é o estado de espírito em que se acham muitas vezes neste mundo


os impenitentes que ouvem o evangelho, e que é induzido pela evidência moral
da verdade, pelas influências comuns do Espírito Santo, e pelo poder da simpatia
religiosa. As vezes a imaginação exaltada apropria-se com regozijo das
promessas do evangelho - Mat. 13:20. Outras vezes, o homem, à semelhança de
Félix, crê e treme. Muitas vezes é impossível, a princípio, distinguir entre este
estado de espírito e a fé verdadeira e salvadora. Mas, não nascendo de uma obra
divina de regeneração, ela não tem raiz nos princípios permanentes do coração.
E, pois, sempre, Io. ineficaz, não

purificando o coração nem vencendo o mundo; 2o. temporária.

^ 16. Qual a evidência específica em que se funda a fé salva

dora?

| E a luz que o coração recebe do Espírito Santo em Sua obra de iluminação


espiritual. Assim são apreendidas a beleza, a excelência e a adaptação da
verdade às suas necessidades práticas por quem dá entrada a essa luz. Com isso
o testemunho do Espírito Santo coopera com a verdade e por meio dela - 1 Cor.
2:4,5; Rom. 8:16; 2 Cor. 4:6; Ef. 2:8.

17. Como se pode provar pelas Escrituras e pela experiência que a iluminação
espiritual é a base da fé salvadora?

Io. As Escrituras, onde quer que cheguem, exigem incondicional, imediata e


universalmente de todos, tanto dos mais inteligentes como dos mais ignorantes,
que as recebam e nelas creiam, e a incredulidade é sempre taxada de pecado, e
não como se fosse mera ignorância ou incapacidade mental. A fé que elas
exigem deve, pois, ser um ato moral e deve depender da congruência espiritual
do crente com a verdade.

2o. Por natureza os homens são cegos espiritualmente, e o seu coração é “um
coração mau e infiel” - 2 Cor. 3:14; 4:4; Heb. 3:12.

3o. Os crentes são descritos como esclarecidos e capazes de discernir as coisas


do Espírito - Atos 13:48; 2 Cor. 4:6; Ef. 1:17,18; 1 João 2:20,27; 5: 9,10.

4o. Os homens crêem porque são ensinados por Deus -João 6:44,45.

5o. Todo cristão tem consciência do que crê porque vê que a verdade crida é
verdadeira, bela, poderosa e satisfatória.

6o. Provam-no os efeitos da fé. “Diz-se que vivemos por fé, que somos
santificados pela fé, que vencemos pela fé e que somos salvos pela fé. Um
consentimento cego à autoridade, ou uma convicção racional, não
produzem semelhantes efeitos; se os efeitos são espirituais, segue-se

que a sua origem deve ser espiritual.”

18. Quais as diversas opiniões a respeito da relação entre a fé e a confiança?

Em conseqüência da sua doutrina da fé implícita, segundo a qual nada se exige


além de um assentimento cego ao ensino da igreja, os romanistas (católicos)
negam necessariamente que a confiança é da essência da fé salvadora.

Os sandemanianos, como os campbelitas, sustentando que a fé é simplesmente


um juízo afirmativo da inteligência, um juízo a respeito da verdade, em
conformidade com a evidência, negam também que a confiança é um elemento
essencial da fé salvadora.

Alguns teólogos ortodoxos têm sustentado que a confiança deve antes ser
considerada como uma imediata e invariável conseqüência da fé salvadora, em
vez de um elemento dessa própria fé.
A fé religiosa, sendo resultado da iluminação espiritual, respeita a Palavra total e
completa de Deus e Seu testemunho, e, como tal, é um estado complexo do
espírito, variando com a natureza da parte especial das verdades reveladas que
é contemplada em qualquer ato especial. Muitas das proposições das Escrituras
não são objetos de confiança, e então a fé que as aceita é somente um
assentimento complacente e reverente dado a elas como verdadeiras e boas. Mas
o ato específico de fé que nos une a Cristo e é o começo, a raiz e o órgão de toda
a nossa vida espiritual, culmina na Pessoa e na obra de Cristo como Mediador,
como nos são apresentadas nas ofertas e nas promessas do evangelho. Isso por
certo inclui em sua própria essência a confiança, e a esta fé se chama, por via
de proeminência, “fé salvadora”, porque é a fé que salva, e porque é só por ela,
como seu princípio, que são possíveis outros quaisquer exercícios mais gerais da
fé salvadora.

19. Como se pode provar pela linguagem das Escrituras que a fe salvadora
inclui em si a confiança?

A condição uniforme e única que as Escrituras impõem i orno necessária à


salvação é a expressa nas palavras “crê em i :risto” - João 7:38; Atos 9:42;
16:31; Gál. 2:16. O ato de crer em uma pessoa envolve necessariamente
confiança bem como crédito.

O mesmo fica provado abundantemente pelo uso da frase “pela fé em Cristo” - 2


Tim. 3:15; Atos 26:18; Gál. 3:26; Heb. 11:1. A fé é a substância das coisas
esperadas, mas o fundamento da fé é a confiança.

20. Como se pode provar a mesma verdade pelas expressões empregadas nas
Escrituras equivalentes à frase “crer em Cristo”?

“Receber a Cristo” - João 1:12; Col. 2:6. “Olhar para Ele” Is. 45:22; comparar
Núm. 21:9 com João 3:14,15. “Pôr nosso refúgio nEle” - Heb. 6:18. “Vir a Ele” -
João 6:35; Mat. 11:28. “Confiar-Lhe (o depósito) para o guardar” - 2 Tim. 1:12.
Todas essas expressões não só comunicam mas também elucidam o ato da fé
salvadora, e todas envolvem confiança como elemento essencial; porque não
podemos “receber”, “ir a Cristo”, “olhar para Ele” senão em função do caráter de
uma propiciação realizada por Cristo como advogado e libertador, em que Ele Se
nos oferece.

21. Como se pode provar a mesma verdade pelos efeitos que as Escrituras
atribuem àfé?

As Escrituras declaram que pela fé os cristãos “alcançam as promessas”, “são


persuadidos das promessas”, “de fracos tornam-se fortes”, “são fortes no
combate”, “confessam que são estrangeiros e peregrinos que buscam uma pátria
melhor”. Assim como a fé numa ameaça necessariamente envolve medo, assim
também a fé numa promessa necessariamente envolve confiança.

Além disso, a fé funda-se na fidelidade de Deus e, por

isso, necessariamente envolve confiança - Heb. 10:23, e todo o capítulo 11.

22. Como se pode mostrar que estas idéias a respeito da fé não confundem
aféea esperança?

Contra a nossa doutrina de que a fé salvadora envolve confiança, os católicos


romanos objetam que desse modo confundimos a fé e a esperança, que as
Escrituras distinguem - 1 Cor. 13:13, porque a esperança é somente uma
forte confiança. Entretanto a esperança não é somente uma forte confiança. A
confiança funda-se na base que nos dá certeza, enquanto que a esperança
contempla o objeto futuro, a cujo respeito nos é dada certeza. A esperança é fruto
da confiança. Quanto maior a confiança, tanto mais segura a esperança.

23. Quais as diversas opiniões a respeito da relação entre a fé e o amor, e da


distinção romanista (católica) entre “fides informis” e “fides formata”?

Ia. Para manterem a sua doutrina de que a fé, só, não é salvadora, os católicos
distinguem entre uma fé perfeita, ou formada, e uma fé não formada.
Reconhecem que a fé é coisa distinta do amor, mas sustentam que o amor é
essencial para tornar a fé meritória e eficaz como o meio da nossa
salvação. Fides informis é um simples assentimento, explícito ou implícito, dado
ao ensino da igreja. Precede necessariamente à “justificação” como sua
condição. Fides formata é fruto da primeira justificação e é a condição daquelas
boas obras que merecerem maior graça.

2a. Alguns dizem que o amor é a raiz de onde nasce a fé.

3a. A doutrina verdadeira é que o amor é efeito imediato e necessário da fé. A fé


inclui em si a apreensão espiritual da beleza e excelência da verdade, e um ato da
vontade aceitando-a e confiando nela. Contudo, essas duas graças não podem
ser separadas analiticamente, porque se envolvem mutuamente. Não pode haver
fé sem amor, nem amor sem fé. A fé apreende

a beleza do objeto, e o coração ama-o espontaneamente. É assim que “a fé obra


pelo amor”, porque esses afetos são a origem dos motivos que dirigem a
vontade.

É impossível conciliar a doutrina rorqanista com os princípios essenciais do


evangelho. A fé não é obra, e não pode ter merecimento algum, quer formada
quer não formada; é essencialmente um ato em que nos despejamos inteiramente
e que nos salva porque nos valemos dos merecimentos de Cristo. Ela nos leva a
fazer boas obras e manifesta-se nos seus frutos, mas em sua relação com a
justificação é, em sua própria natureza, um protesto solene contra o mérito de
todas as obras humanas-Gál. 3:10,11; Ef. 2:8,9.

A doutrina protestante, de que o amor é fruto da fé, fica estabelecida pelo que as
Escrituras declaram a respeito da fé, no sentido de que ela “santifica”, “obra pelo
amor” e “vence o mundo” - Gál. 5:6; Atos 26:18; 1 João 5:4. Isso é efetuado
do seguinte modo - pela fé somos unidos a Cristo, Ef. 3:17, e assim somos feitos
participante do Seu Espírito, 1 João 3:24, um dos frutos do Espírito é o amor,
Gál. 5:22, e o amor leva à obediência -Rom, 13:10.

24. Qual é o objeto da fé salvadora?

A iluminação espiritual da inteligência e a renovação dos afetos, que lançam a


base para a alma exercer fé em qualquer parte do testemunho de Deus, lançam a
base para ela exercer fé em todo esse testemunho. Toda a Palavra revelada de
Deus, pois, até onde é conhecida do indivíduo, à exclusão de todas as tradições,
doutrinas de homens e revelações particulares, é objeto da fé salvadora. Aquele
ato particular de fé, porém, que nos une a Cristo, chamada, por via de distinção,
fé justificadora, tem por seu objeto a Pessoa e obra de Cristo como Mediador -
João 7:38; Atos 16:31.

25. Que quer dizer um artigo de fé em distinção de um artigo de opinião?

Os católicos sustentam que todo cristão é obrigado, sob pena de condenação


eterna, a crer como artigo de fé, fé explícita se lhe for conhecido, fé implícita se
não lhe for conhecido, todo e qualquer dogma decidido pela igreja (católica)
como verdadeiro, quer seja derivado das Escrituras, quer da tradição. Por outro
lado, a respeito de todas as questões não decididas pela igreja, todos são livres
para crer ou não, como matéria de opinião.

■ 26. Qual é o critério anglicano ou puseíta para distinguir as doutrinas que é


necessário conhecer e crer para que alguém seja salvo?

Os anglicanos ou puseítas concordam com os romanistas (veja acima, Perg. 6)


em sustentar que o conhecimento não é essencial à fé; mas discordam deles
quanto à regra de fé. Os católicos tomam por essa regra o ensino da igreja papal;
os puseítas, ao contrário, tomam por regra o testemunho uniforme da tradição
conservada na linha de sucessão dos bispos apostólicos. •

27. Qual a doutrina comum aos protestantes quanto às coisas fundamentais em


religião, e por meio de que provas se pode saber quais são essas causas
fundamentais?

Toda a doutrina ensinada na Bíblia é objeto de uma fé esclarecida e espiritual.


Nenhum princípio revelado, por mais subordinado que pareça
comparativamente, pode ser tido como indiferente, e adotado ou rejeitado à
vontade. Todo homem é obrigado a dar crédito ao testemunho todo de Deus.
Contudo, o evangelho é um sistema logicamente conseqüente de verdades, de
cujos princípios algumas verdades são essenciais à sua integridade, enquanto que
outras verdades são essenciais unicamente à simetria e à perfeição; e a
ignorância, a fraqueza de compreensão lógica e os preconceitos podem levar,
e constantemente levam, bons homens a apreenderem imperfeitamente este
sistema de verdades.

Uma doutrina fundamental, pois, seria uma doutrina que

todos precisariam apreender mais ou menos claramente para que pudessem ser
salvos, ou é uma doutrina que, quando conhecida, acha-se tão evidentemente
envolvida com aquelas essenciais à salvação, que não se pode rejeitar aquela se
se crê realmente nessas.

Uma doutrina fundamental é determinada -

Io. Do mesmo modo como se determinam os princípios essenciais de qualquer


outro sistema, isto é, por sua relação com o sistema como um todo.

2o. Todas as doutrinas fundamentais são claramente reveladas. -


3o. As próprias Escrituras as declaram essenciais - João 3:18; Atos 16:31; 1 Cor.
5:17; Gál. 2:21; 1 João 1:8.

28. Qual o objeto da “fides specialis”,ou do ato específico de fé pelo qual


somos justificados?

A Pessoa e a obra do Senhor Jesus Cristo como Mediador.

Isso fica provado da seguinte maneira:

Io. As Escrituras declaram expressamente que somos justificados por aquela fé


da qual Cristo é o objeto - Rom. 3:22,25; Gál. 2:16; Fil. 3:9.

2o. A Bíblia diz que somos salvos pela fé em Cristo - João 3:16,36; Atos 10:43;
16:31.

3o. A fé justificadoraé representada como um “olhar para Cristo”, um “vir a


Cristo”, etc. - João 1:12; 6:35,37; Is. 45:22.

4o. É declarado que a rejeição de Cristo, isto é, a recusa a sujeitar-se à justiça de


Deus, é o motivo da reprovação - João 8:24; 3:18,19.

29. De que maneira a doutrina católica sobre este ponto é oposta à doutrina
protestante? -

Os católicos, confundindo a justificação e a santificação, sustentam que a fé


justifica mediante a virtude santifícadora da verdade. Visto que toda a verdade
revelada possui essa virtude santifícadora, segue-se que toda a revelação de
Deus,

como é compreendida conforme as decisões da igreja, é o objeto da fé


justificadora. Isso, porém, é refutado por tudo quanto temos estabelecido por
meio das Escrituras, a respeito da justificação, da santificação e da fé.

30. Seria Cristo, em todos os Seus ofícios, objeto imediato da fé justificadora,


ou somente em Seu ofício de Sacerdote?

No ato de fé o crente apropria-se de Cristo e funda-se nEle como Mediador, o


que inclui todas as Suas funções como tal. Essas funções podem ser distinguidas
analiticamente, mas de fato acham-se sempre reunidas inseparavelmente
nEle. Quando Ele age como Profeta, ensina como Rei e Sacerdote. Quando
reina, está assentado como Profeta e Sacerdote em Seu trono. Além disso, a alma
despertada sente-se conscientemente necessitada das obras profética e real de
Cristo, e estas são necessariamente apreendidas por ela como inseparáveis
da Sua obra sacerdotal, no ato de fé.

É verdade, porém, que, sendo a obra substitutiva que Cristo realizou como
Sacerdote o fundamento meritório da nossa salvação, por isso o Seu caráter
sacerdotal é o mais proeminente, tanto nas Escrituras como na experiência do
povo de Deus.

31. Até onde a paz de consciência e a paz com Deus são conseqüências
necessárias da fé?

A paz com Deus é a reconciliação com Ele. Paz de consciência quer dizer, ou a
consciência dessa reconciliação, ou o apaziguamento da nossa consciência, que
nos condena. Em todo caso, a fé nos dá paz com Deus porque nos une a Cristo,
Rom. 5:1; e à medida que a fé em Cristo for clara e constante, ígualmente o
serão a nossa consciência da reconciliação com Deus e a satisfação do nosso
sentido moral de que a justiça foi cumprida e que estamos perdoados. Ao
mesmo tempo, assim como a fé pode ser obscurecida pelo pecado, assim
também o verdadeiro crente pode cair no desagrado de

seu Pai e perder a convicção de que está perdoado, como também perder a sua
satisfação moral na perfeição da propiciação.

32. Quais seriam as três classes de opinião nutridas a respeito da relação entre
fé e certeza ?

Io. Os reformadores sustentaram geralmente que a fé justificadora consiste na


apropriação das promessas de salvação por Cristo, feitas no evangelho, isto é,
consiste em considerarmos Deus como propício a nós por amor de Cristo.

2o. Há quem tenha sustentado que a certeza da salvação é inatingível nesta vida.
Os católicos, sustentando que a fé cristã é principalmente o assentimento
implícito ao ensino de uma sociedade infalível e visível chamada igreja, e a
conformidade obediente com esse ensino, negaram estrenuamente que
os indivíduos particulares tenham qualquer autoridade bíblica para nutrirem uma
persuasão segura de que são objetos especiais do favor divino. Costumavam
asseverar que nem é “obrigatório”, nem “possível”, nem “desejável”, que
alguém nutra tal convicção sem alguma revelação especial e sobrenatural. Veja
Belarmino, etc., abaixo citados.

3o. A verdadeira doutrina é que “posto que esta convicção infalível não pertença
de tal modo à essência da fé que não seja possível que um crente verdadeiro
tenha que esperar muito tempo e lutar com muitas dificuldades antes de possuí-
la, contudo, sendo habilitado pelo Espírito a conhecer as coisas dadas
gratuitamente por Deus, ele pode alcançá-la, sem nenhuma revelação
extraordinária, no uso devido dos meios ordinários. E, pois, dever de todos agir
diligentemente para tornarem certa a sua vocação e eleição”. Todos concordam
em que a verdadeira fé não pode admitir nenhuma dúvida quanto ao seu objeto.
O que se crê, crê-se com certeza. Mas o objeto da fé salvadora é Cristo e Sua
obra como Mediador garantida a nós nas promessas do evangelho, sob a
condição da fé. A verdadeira fé, pois, inclui essencialmente a convicção segura

de - Io. Que Cristo nos pode salvar. 2o. Que Ele é fiel e nos há de salvar, se
crermos. Queremos dizer que isso é da essência da fé, não que todo crente
verdadeiro esteja sempre em tal estado de espírito que exclua toda dúvida quanto
ao poder ou ao amor de Cristo; porque a iluminação espiritual de que depende a
fé é muitas vezes imperfeita em grau e variável em seu exercício. | Contudo, toda
dúvida semelhante é do pecado, e é alheia à natureza da fé. No entanto, a
condição se crermos, da qual depende toda convicção segura da nossa salvação,
não é matéria de revelação, e sim de experiência, não de fé, e sim de consciência
íntima. 1

Os teólogos distinguem, pois, entre a convicção segura da fé - Heb. 10:22; e a


convicção segura da esperança - Heb .6:11.

A primeira é da essência da fé salvadora e é a convicção íntima de que Cristo é


tudo quanto diz que é, e fará tudo quanto promete. A segunda é a convicção
íntima da nossa salvação pessoal, e é uma das aquisições superiores da vida
cristã.

33. Como se pode provar que a certeza da nossa salvação pessoal não é
essencial àfé salvadora?

Io. Pelo verdadeiro objeto da fé salvadora, como apresentado acima.


2o. Pelos exemplos apresentados nas Escrituras de santos proeminentes que
duvidaram a respeito de si - 1 Cor. 9:27.

3o. Pelas exortações dirigidas aos que já eram crentes, no sentido de que
alcançassem a convicção segura como um grau de fé superior ao que já
gozavam.

4o. Pela experiência do povo de Deus em todos os séculos.

34. Como se pode provar que é possível alcançar nesta vida uma convicção
segura?

Io. E assegurado por afirmações divinas - Rom. 8:16; 2 Ped. 1:10; 1 João 2:3;
3:14; 5:13.

2o. As Escrituras dão exemplos que mostram que essa convicção segura foi
alcançada - 2 Tim. 1:12; 4:7,8.

3o. Muitos cristãos proeminentes têm gozado de uma permanente convicção


segura, de cuja verdade sua santa vida e conversação foi selo indubitável.

| ' j 35. Em que base o homem pode ser certamente convencido da

sua salvação?

“É uma convicção infalível, fundada, Io. na verdade divina das promessas de


salvação; 2o. na evidência interna das graças às quais são feitas essas promessas,
e 3o. no testemunho do Espírito de adoção, Rom. 8:15, testemunhando com o
nosso espírito que somos filhos de Deus, sendo o Espírito, Ef. 1:13,14; 2 Cor.
1:21,22, o penhor da nossa herança, por quem somos selados para o dia da
redenção - Conf de Fé, Cap. 18 §, 2.

Pode-se distinguir essa convicção legítima daquela vã e presunçosa confiança


que é uma ilusão de satanás, distinção que pode ser notada por estas
características:a convicção legítima, Io. gera humildade não fingida, 1 Cor.
15:10; Gál. 6:14; 2o. leva o homem a uma ação diligente cada vez maior na
religião prática, Sal. 51:13,14,20; 3o. ao estrito exame de si mesmo e ao desejo
de ser examinado e corrigido por Deus, Sal. 139:23,24; 4o. a constante aspiração
de maior conformidade e mais íntima comunhão com Deus - 1 João 3:2,3.

36. Como se pode mostrar que uma fé viva conduz necessariamente a boas
obras? ;

Io. Pela natureza da fé. E a apreensão espiritual e aceitação voluntária da verdade


inteira de Deus - as promessas, os mandamentos, as ameaças das Escrituras -
consideradas como verdadeiras e boas. Essa fé induz necessariamente o
exercício dos afetos renovados, e o amor manifestado em atos é obediência.
Cada verdade, assim apreendida, produz seu efeito apropriado no coração, e, por
conseguinte, na vida.

2o. Pelo testemunho das Escrituras - Rom. 15:18; Gál. 5:6; Tia. 2:18; 1 João 5:4.

3o. Pela experiência da igreja universal. -r,,'T ' ’i ' ’

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

Agostinho - “Quid est fides nisi credere quand nov nides?”

(sic)

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA

Cat. do Cone. de Trento, 1:1: “Falamos aqui daquela fé em virtude da qual


damos o nosso consentimento inteiro a tudo quanto tem sido divinamente
revelado...em virtude da qual mantemos como certo que tudo o que a
autoridade de nossa santa madre igreja ensina foi revelado por Deus”.

Belarmino, Justif., 1:4- (Os católicos romanos) ensinam que fé histórica, tanto de
milagres como de promessa, é uma e a mesma coisa, e que esta coisa não é
propriamente um conhecimento ou convicção segura, e sim um assentimento
certo e muito firme, fiado na autoridade suprema da verdade... Objeto da fé
justificadora, que os hereges limitam ao objeto único de misericórdia
especial (pessoal), os católicos romanos desejam estender tão largamente como
se estende o mundo; e, mais ainda, eles contendem que a promessa de
misericórdia especial não pertence tanto à fé como à presunção. Diferem, pois,
(dos protestantes) quanto à faculdade do espírito que seja a sede da fé. Porque
eles (os protestantes),’ colocando a fé na vontade, definem-na como convicção
segura (fiducia (ou confiança)), e assim confundem-na com a esperança, porque
a confiança (ou convicção segura) nada mais é do que uma esperança forte,
como ensina o piedoso Tomás. Os católicos romanos ensinam que a fé tem sua
sede na inteligência. Finalmente, eles diferem quanto ao ato da inteligência (em
que consiste a fé). É verdade que eles (os protestantes) definem a fé como uma
forma de conhecimento; nós (católicos romanos, a definimos como uma forma)
de assentimento. Porque assentimos a Deus, ainda que Ele proponha coisas em
que crer, as quais não compreendemos. Cap. 7 - Naquele que crê há duas
coisas, apreensão e um juízo ou assentimento. Além disso, apreensão não é
propriamente chamada conhecimento. Porque pode acontecer que um católico
romano pouco

instruído apreenda só muito confusamente os três nomes (da Trindade), e, não


obstante isso, pode crer nela verdadeiramente. Mas o juízo ou assentimento é
duplo, seguindo um a razão e a evidência de uma coisa, e o outro a autoridade de
quem propõe; o primeiro chama-se conhecimento; o segundo, fé. Por isso os
mistérios da fé, que transcendem a razão, nós os cremos embora não
os compreendamos, de modo que a fé é distinguida como oposta à ciência e é
mais definida como ignorância do que como conhecimento”.

Cone. de Trento, Sessão 6, Cap. 9: “Porque, assim como nenhuma pessoa


piedosa deve duvidar da misericórdia de Deus, do merecimento de Cristo, da
virtude e eficácia dos sacramentos; assim também, quando cada um olha para si
mesmo, para a sua fraqueza e falta de disposição, pode recear, pode temer por
sua graça; pois ninguém pode saber com certeza de fé (a qual não pode estar
com falsidade) que conseguiu a amizade de Deus”.

Belarmino, Justif., 3, 3, diz: “A questão debatida entre os católicos e os


reformados foi: se alguém deve ou pode, sem uma revelação especial, ter a
certeza de uma fé divina, sobre à qual não pode incidir erro nenhum de que os
seus pecados têm sido perdoados”.

A DOUTRINA PROTESTANTE DA FÉ E DA CERTEZA INABALÁVEL

Calvino, Institutas, Liv. 3, Cap. 2, 87: “Teremos uma completa definição de fé se


dissermos que é um conhecimento firme e certo da benevolência divina
para conosco, o qual, sendo fundado na verdade da promessa gratuita em Cristo,
não só é revelado ao nosso espírito, mas é também confirmado aos nossos
corações pelo Espírito Santo”.
Cat. de Heidelberg, Perg. 21: “Que é fé verdadeira? Não só é um mero
conhecimento, pelo qual concordo firmemente com tudo quanto Deus nos tem
revelado na Sua Palavra, mas é também uma plena confiança, acesa no meu
coração pelo Espírito Santo, mediante o

evangelho, que não só a outros, senão a mim também, o perdão dos pecados, a
justiça e a vida eterna foram dados gratuitamente pela misericórdia de Deus,
unicamente por causa dos merecimentos de Jesus Cristo”.

Apol. da Conf. de Augsburgo, Perg. 68: “Mas a fé que justifica não é meramente
o conhecimento da história; é sim assentimento à promessa de Deus em que, por
amor de Cristo, são oferecidas gratuitamente a remissão dos pecados e a
justificação... Esta fé especial, pois, pela qual cada um crê que os seus pecados
lhe foram perdoados por amor de Cristo, e que Deus é reconciliado e
tornado propício por Cristo (é a fé que) alcança a remissão dos pecados e (que)
justifica”.

Conf. de Fé de Westminster, Cap. 18, § 2: “Esta certeza não é uma mera


persuasão conjectural e provável, fundada numa esperança falível, e sim uma
convicção infalível de fé, fundada (a) na verdade divina das promessas, (b)
na evidência interna daquelas graças a que são feitas essas promessas, (c) no
testemunho do Espírito Santo... § 3: Esta convicção infalível não pertence de tal
modo à essência da fé que não seja possível que um verdadeiro crente tenha de
esperar muito tempo e lutar com muitas dificuldades antes de participar dela...
Contudo, ele pode adquiri-la sem nenhuma revelação extraordinária, no uso dos
meios comuns. E por isso é dever de todos aplicar-se diligentemente a fazerem
certa a sua vocação e eleição”.

Turretino, Livro 15, Quaes. 10: “A diversidade (de expressões) que se encontra
entre os ortodoxos proveio da diversidade de sentidos em que se empregou a
palavra fiducia (confiança), que pode ser tomada em três sentidos:

1. No sentido de assentimento seguro, ou persuasão, que tem por origem o juízo


prático da inteligência, a respeito da verdade e da bondade das promessas
evangélicas, e a respeito do poder, da vontade e da fidelidade de Deus em Suas
promessas. Neste sentido, peismoné (persuasão), Gál. 5:8, é termo empregado
como seu sinônimo, e a plerofía (plena certeza) é atribuída à fé, Col. 2:2; Heb.
10:22. 2. No sentido do ato de fugir para e de aceitar a Cristo, pelo qual o
crente, conhecendo a verdade e a bondade de Cristo, foge para Ele, recebe-O,
abraça-0 e só se fia nos Seus merecimentos. 3. No sentido de confiança,
satisfação e tranqüilidade de espírito, que provêm de refugiar-se o espírito em
Cristo e de recebê-lO. Porque aquele que se funda firmemente em Cristo e O
recebe, não pode deixar de comprazer-se nEle seguramente, e de considerar-se
como tendo achado nEle e recebido dEle aquilo que procurou. No primeiro e no
segundo sentidos, confiança fiducia) é da essência da fé, e é apropriadamente
chamada pelos teólogos a sua forma*-, porque, como será provado mais adiante
contra as idéias papistas, é uma confiante apreensão de Cristo e de todos os
benefícios oferecidos na palavra do evangelho. Mas no terceiro sentido outros
dizem acertadamente que ela não é a forma e sim o fruto da fé; porque nasce
dela, porém não a constitui”.

No sentido etimológico de “substância”, aquilo que constitui algo. Nota de


Odayr Olivetti. , .
A União dos Crentes com Cristo

1. A quem estão todos os homens unidos em seu estado natural?

A Adão. A nossa união com ele inclui, Io. sua capitania federal sob a aliança das
obras - Rom. 5:12-19. 2o. Sua capitania natural, como, por força da geração
comum, a origem da nossa natureza e da sua corrupção moral - Gên. 5:3; 1 Cor.
15:49.

Mas, tendo sido morta por Cristo a lei que se baseava na aliança das obras, pela
qual nos achávamos em união com Adão, agora “morremos para aquilo em que
estávamos retidos”, e estamos livres para ser “de outro marido”, a saber, Cristo -
Rom. 7:1-6.

2. Qual é a natureza geral da nossa união com Cristo?

É uma união singela, inefável e muito íntima, apresentando à nossa vista dois
aspectos e dando lugar a duas diversas classes de conseqüências.

Io. O primeiro aspecto desta união é seu caráter federal e representativo, em que
Cristo, como o segundo Adão - 1 Cor. 15:22, assume na aliança da graça as
obrigações violadas da aliança das obras que o primeiro Adão deixou de
cumprir, e cumpre-as a favor de todas as Suas “ovelhas”, a favor de todos “os
que o Pai lhe deu”. As conseqüências que provêm da nossa união com Cristo sob
este aspecto são tais como a imputação a Ele dos nossos pecados, e a nós da Sua
justiça, e todos os benefícios forenses de justificação, adoção etc. Veja os
capítulos 33 e 34.

2o. O segundo aspecto desta união é seu caráter espiritual e vital, cuja natureza e
cujas conseqüências havemos de discutir neste capítulo.

3. Qual é a base desta união?

(1) O propósito eterno do Deus triúno, expresso no decreto da eleição (elegeu-


nos nele mesmo antes da fundação do mundo - Ef. 1:4), providenciando o seu
cumprimento na aliança da graça feita entre o Pai, como Deus absoluto, e
o Filho, como o Mediador - João 17: 2-6; Gál. 2:20; (2) na encarnação do Filho,
em que assumiu semelhança conosco em comunidade de natureza, e Se fez
nosso irmão-Heb. 2:16,17; e (3) na missão e obra oficial do Espírito de Cristo (1
João 4:13), mediante cuja operação poderosa nos corpos e nos corações do Seu
povo o último Adão é feito espírito vivificador (1 Cor. 15:45), e são todos
constituídos em corpo de Cristo e Seus membros em particular - 1 Cor. 12:27.

4. Por quais analogias, tiradas das relações terrenas, esta união dos crentes
em Cristo é ilustrada nas Escrituras?

A designação técnica desta união é pelo termo “mística” em linguagem


teológica, porque ela transcende tanto todas as analogias das relações e
parentescos terrenos, como na intimidade da sua comunhão, no poder
transformador da sua influência e na excelência das suas conseqüências.
Contudo, as Escrituras Sagradas ilustram diversos aspectos desta fonte de graças
com muitas analogias aptas, mas parciais.

Como, Io. os alicerces de um edifício e o próprio edifício - 1 Ped. 2:4-6. 2o. Uma
videira e seus ramos - João 15:5. 3o. A cabeça e os membros do corpo - Ef.
4:15,16. 4o. Marido e mulher - Ef. 5:31,32; Apoc. 19:7-9. 5o. Adão e
seus descendentes, tanto em sua relação federal como natural -Rom. 5:12-19; 2
Cor. 15:22,49.

5. Qual a natureza essencial desta união?

Por um lado, esta união não envolve nenhuma confusão misteriosa da Pessoa de
Cristo com as pessoas do Seu povo; e, por outro, não é uma simples associação
de pessoas semelhante à que existe nas sociedades humanas. Mas é uma união
que, Io. determina ter o nosso estado ou posição legal a mesma base que tem o
seu; 2o. vivifica e sustém, pela influência do Seu Espírito morando em nós, a
nossa vida espiritual, da fonte da vida de Cristo, e transforma os nossos corpos e
as nossas almas para terem semelhança com a Sua humanidade glorificada.

E, pois -

Io. Uma união espiritual. Sua fonte ativa e seu vínculo são o Espírito de Cristo, a
Cabeça, que mora e opera nos membros - 1 Cor. 6:17; 12:13; 1 João 3:24; 4:13.

2o. Uma união viva, isto é, a nossa vida espiritual é mantida e determinada em
sua natureza pela vida de Cristo por meio da morada em nós do Seu Espírito -
João 14:19; Gál. 2:20. .
3o. Abrange a nossa pessoa inteira, o nosso corpo mediante o nosso espírito - 1
Cor. 6:15,19.

4o. E união legal ou federal, de modo que todas as obrigações legais ou federais
estão sobre Cristo, e nós recebemos

0 benefício de todos os Seus merecimentos legais ou federais.

5o. É união indissolúvel - João 10:28; Rom. 8:35,37; i

1 Tess. 4:14,17. .

6o. E uma união entre o crente e a Pessoa do Deus--homem em Seu ofício como
Mediador. Seu órgão imediato é o Espírito Santo, que mora em nós, e por Ele
somos unidos à Deidade inteira e temos comunhão com Ela, porque Ele é
o Espírito do Pai bem como do Filho - João 17:21,23.

6. Como é estabelecida esta união entre Cristo e o cristão?

Foi estabelecida desde a eternidade no propósito e decreto

de Deus, e na aliança do Pai com o Filho - Ef. 1:4; João 17:2,6. Contudo, os
eleitos, quanto a seu caráter pessoal e às suas

relações atuais, antes da sua vocação eficaz pelo Espírito, nasceram e foram “por
natureza filhos da ira, como os outros lambém”, e “estranhos aos concertos da
promessa” - Ef. 2:3,12. No tempo determinado por Deus esta união é
estabelecida mutuamente com cada um dos Seus escolhidos. - Io. Pelo início das
operações eficazes e permanentes do Espírito Santo dentro deles (dá-lhes vida
juntamente com Cristo); no ato do novo nascimento, abrindo-lhes os olhos e
renovando-lhes a vontade; e lançando assim em sua natureza o fundamento para
o exercício da fé salvadora. 2o. A fé salvadora é o segundo vínculo pelo qual é
estabelecida esta união mútua, por cujas operações contínuas é sustentada a sua
comunhão com Cristo e são desenvolvidas as suas ditosas conseqüências - Ef.
3:17. Assim “chegamo-nos a ele”, “recebemo-lo”, “comemos a sua carne
e bebemos o seu sangue”, etc.

7. Quais são para os crentes as conseqüências desta união?


Ia. Têm em comum com Cristo a Sua posição e os Seus direitos federais. Em
termos forenses, são feitos “completos nele”. Sua justiça é a justiça deles e Seu
Pai é o Pai deles. Recebem nEle a adoção e são aceitos no Amado, quanto
às suas pessoas como também quanto a seus serviços. São selados pelo Espírito
Santo da promessa; nEle adquirem uma herança; têm assento com Ele em Seu
trono e vêem a Sua glória - Rom. 8:1; Col. 2:10; Ef. 1:6,11,13; Fil. 2:8-11; 3:8,9.

Como Mediador Jesus é “o Cristo”, o ungido, e o crente é o cristão, aquele que


recebe “a unção” - Atos 11:26; 1 João 2:20. Seu ofício medianeiro abrange três
funções principais -(1) A de profeta, e, em comunhão com Ele, o crente é
profeta-João 16:13; 1 João 2:27. (2) A de sacerdote, e também o crente é
sacerdote nEle - Sal. 61:6; 1 Ped. 2:5; Apoc. 20:6. (3) A de rei, e nEle o crente é
rei - 1 Ped. 2:9; Apoc. 2:21; 5:10.

2a. Têm comunhão com Ele na virtude transformadora e assemelhadora da Sua


vida, tornando-os semelhantes a Ele; “todos nós recebemos também da sua
plenitude, e graça por

graça”, João 1:16. Isto é verdade (1) com respeito à nossa alma, Rom. 8:9; Fil.
2:5; 1 João 3:2; (2) com respeito ao nosso corpo, fazendo com que seja agora
templo do Espírito Santo, 1 Cor. 6:17,19; e que a Sua ressurreição seja a causa
da nossa ressurreição e o Seu corpo glorioso o tipo do nosso corpo. - Rom. 6:5; 1
Cor. 15:47,49; Fil. 3:21. E assim os crentes se tornam frutíferos em Cristo, tanto
em seu corpo como em seu espírito, que são dEle-João 15:5; 2 Cor. 12:9; 1 João
1:6.

3a. O resultado disso é sua comunhão com Cristo em sua experiência e em seus
trabalhos, sofrimentos, tentações e morte - Gál. 6:17; Fil. 3:10; Heb. 12:3; 1 Ped.
4:18; desse modo tornando até mesmo a nossa vida terrena sagrada e gloriosa.

4a. Conduz também à comunhão justa de Cristo com eles em tudo quanto
possuam - Prov. 19:17; Rom. 14:8; 1 Cor. 6:19,20.

5a. Conduz também à conseqüência de que, na recepção espiritual das santas


ordenanças, eles realmente tenham comunhão com Ele. São “batizados com
Cristo” - Gál. 3:27. “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é
a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a
comunhão do corpo de Cristo?” - 1 Cor. 10:16; 11:26; João 6:51,56.
6a. Conduz também à comunhão dos crentes uns com os outros, por Ele, isto é, à
comunhão dos santos.

8. Qual a natureza da “comunhão dos santos” que nasce da união de cada


crente com o Senhor?

Veja a Conf. de Fé, Cap. 26. Estando todos os crentes unidos a uma só Cabeça,
segue-se naturalmente que por Cristo, a Cabeça, acham-se relacionados
mutuamente uns com os outros na mesma comunidade de espírito, vida, estado
e privilégios espirituais.

Isso envolve, da parte de todos os crentes -

Io. Obrigações e deveres recíprocos, segundo a graça especial concedida a cada


um. E como no corpo: todos os diversos

órgãos têm parte na mesma vida geral e, ao mesmo tempo, cada um tem uma
adaptação individual e especial, diversa dos outros e, conseqüentemente, um
dever diverso: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos” - 1
Cor. 12:4-21; Ef. 4:11-13.

2o. Têm comunhão uns com os outros em seus dons e graças complementares,
contribuindo cada um com a sua beleza especial para a beleza do todo - Ef.
4:15,16.

3o. Esses deveres recíprocos dizem respeito ao corpo e aos interesses temporais
dos irmãos, bem como aos interesses de sua alma -Gál. 2:10; 1 João 3:16-18.

4o. Têm comunhão na fé e na doutrina - Atos 2:42; Gál.

2:9.

5o. No respeito e na subordinação mútuos - Rom. 12:10; Ef 5:21; Heb. 13:17.

6o. No amor e na simpatia mútuos - Rom. 12:10; 1 Cor. 12:26.

7o. Essa comunhão existe sem interrupção entre os crentes na terra e no céu. É
uma só, de “toda a família nos céus e na terra”-Ef. 3:15.
8o. Na glória a comunhão dos santos será perfeita, quando haverá “um rebanho e
um pastor”, e todos os santos serão um, como o Pai e o Filho são um - João
10:16; 17:22.
O Arrependimento e a Doutrina Católico-Romana das Penitências

1. Quais as palavras empregadas no original para exprimir esta mudança de


espírito e de sentimentos?

Ia. metamélethai, de mélomai, importar-se com-, combinada com metá, mudar de


cuidado. Palavra empregada só cinco vezes no Novo Testamento.

2a. metanoeín, de noéo, perceber, entender, considerar-, combinada com metá,


mudar de intenção ou propósito. Esse é o verbo empregado constantemente no
Novo Testamento para designar essa mudança.

3a. Da mesma origem vem o substantivo metánoia, arrependimento, mudança de


intenção ou propósito. No uso que no Novo Testamento se faz dessas palavras,
elas incluem as idéias de luto e de contrição.

2. Que é arrependimento salvador?

Veja Conf.de Fé, Cap. 15;Caí. Maior, Perg. 76-.Breve Cat., Perg. 87.

O arrependimento salvador inclui -

Io. Um sentimento de culpa, de corrupção e de incapacidade pessoais.

2o. Uma apreensão da misericórdia de Deus em Cristo.

3o. Abatimento, como também ódio ao pecado, o ato de voltar-se resolutamente


dele para Deus, e um esforço persistente no sentido de levar nova vida, de santa
obediência.

3. Como se pode provar que o arrependimento é dom de Deus?

Io. Isso é evidente pela própria natureza do arrependimento. Este inclui: (1) um
sentimento da odiosidade do pecado; (2) um sentimento da beleza da santidade;
(3) a apreensão da misericórdia de Deus em Cristo. Pressupõe, portanto, a fé,
que é dom de Deus - Gál. 5:22; Ef. 2:8.

2o. As Escrituras afirmam-no expressamente - Zac. 12:10; Atos 5:31; 11:18; 2


Tim. 2:25.

4. Qual a natureza do sentimento de pecado, que é elemento essencial do


arrependimento?

A iluminação espiritual e a renovação dos afetos que são efetuadas na


regeneração levam o crente a ver e a apreciar a santidade de Deus revelada tanto
na Lei como no evangelho, Rom. 3:20; Jó 42:6, e também a ver e a sentir nessa
luz a extrema culpabilidade de todo pecado e a inteira corrupção pecaminosa da
sua natureza, como esta na verdade é. Esse sentimento de pecado,
correspondendo assim aos fatos próprios do caso, inclui: Io. consciência de
culpa, isto é, de que se está exposto ao justo castigo, por oposição à justiça de
Deus - Sal. 51:5,10; 2o. consciência de corrupção oposta à santidade de Deus-
Sal. 51:4,8,11; 3o. consciência de incapacidade - Sal. 51:12,13; 109:22. Veja O
Caminho da Vida - C. Hodge

5. Quais os frutos e as provas deste sentimento de pecado?

Um sentimento de culpa, especialmente quando acompanhado do sentimento de


incapacidade, produzirá percepção de perigo. Este sentimento penoso ocorre em
graus e modificações de uma diversidade infinita, dependendo do temperamento
natural, da instrução e das operações especiais do Espírito Santo. Estes termos
legais, porém, são comuns ao arrependimento verdadeiro e ao falso, e os
sentimentos em si não possuem nenhuma virtude santificadora.

O sentimento de corrupção produz vergonha quando pensamos em Deus, e causa


aborrecimento de nós mesmos

quando pensamos em nós.

A confissão do pecado, tanto em particular, diante de Deus, como também diante


dos homens, é um modo natural e indispensável pelo qual este sentimento de
pecado se manifestará legitimamente - Sal. 32:5,6; Prov. 28:13; Tia. 5:16; 1 João
1:9.

A única prova incontestável de que tal sentimento é verdadeiro e genuíno é o


desejo de ver-se livre do pecado e esforços sinceros e permanentes nesse sentido.

6. Mostre que uma apreensão da misericórdia de Deus em Cristo é essencial


ao arrependimento.

Io. A consciência despertada ecoa a lei de Deus e não pode ser apaziguada por
nenhuma propiciação que seja menor do que a que a própria justiça divina exige,
e enquanto isso não for efetuado, com sua aplicação feita com fé em Cristo, ou
o indiferentismo fará adormecer a alma, ou o remorso haverá de atormentá-la.

2o. Fora de Cristo Deus é fogo consumidor, e um temor inextinguível afugenta


desse fogo a alma - Deut. 4:24; Heb. 12:29.

3o. Um sentimento da admirável bondade que Deus manifestou para conosco na


dádiva de Seu Filho, e da ingratidão com que lho pagamos, é necessário para
despertar e fomentar na alma que se arrepende a vergonha e o pesar devidos ao
fato de que foi contra Deus que ela pecou - Sal. 51:4.

4o. Isso fica provado pelo ensino e pelos exemplos apresentados na Palavra de
Deus - Sal. 51:1; 130:4.

7. Qual a natureza dessa “volta para Deus” que constitui a essência do


arrependimento?

E o abandono voluntário do pecado como mau e odioso, com pesar, humilhação


e confissão sinceros; e o regresso para Deus, porque Ele tem direitos sobre nós e
porque é misericordioso e pronto a perdoar; junto com a determinação de,

ajudados por Sua graça, viver em obediência a Seus mandamentos.


— .■ * • ■ i - * i - . »

8. Quais as provas do verdadeiro arrependimento? '

Ia. A concordância da nossa própria experiência interna com o ensino da Palavra


de Deus sobre este assunto. Para determinar isso é necessário que estudemos
com oração as Escrituras em conexão com o cuidadoso exame de nós mesmos.

2a. Os efeitos permanentes manifestados na vida. Estes são o ódio e o abandono


dos pecados patentes, como também dos ocultos, a escolha do serviço a Deus
como bom e desejável, a profissão pública e inteira consagração prática - “Se em
vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” - 2 Ped. 1:8.
9. Quais as relações mútuas existentes entre os termos
“fé”, “arrependimento”, “regeneração”e “conversão”?

Regeneração é o ato inefável de Deus implantando uma nova natureza. O termo


conversão é empregado geralmente para exprimir os primeiros exercícios dessa
nova natureza, deixando a vida antiga e principiando a nova. Fé designa
o primeiro ato da nova natureza e também o estado ou hábito permanente do
espírito que permanece como a condição essencial de todas as demais graças. E a
apreensão espiritual da verdade pela mente, e a aceitação leal da verdade
pela vontade. Sem isso não pode haver, nem amor, nem esperança, nem paz, nem
alegria, nem arrependimento. O sentido comum ligado à palavra arrependimento
é muito semelhante ao sentido ligado ao termo conversão; mas em seu emprego
difere dela em duas particularidades. - Ia. Conversão é uma palavra mais geral e
é empregada para incluir os primeiros exercícios da fé, bem como todas as
experiências de amor, santidade, etc., que são a sua conseqüência. O termo
arrependimento é mais específico, e exprime o ódio ao pecado e a renúncia a ele,
e o

regresso para Deus, que acompanham a fé como conseqüência ■ dela. 2a. A


palavra conversão é empregada geralmente para I designar somente as primeiras
operações da nova natureza no 1 começo de uma vida religiosa, ou, quando
muito, os primeiros ^ passos para Deus depois de uma reincidência notável
no pecado, Luc. 22:32, enquanto que a palavra arrependimento é empregada para
exprimir a constante ação de levar a cruz, que é uma das principais
características da vida do crente na terra - Sal. 19:13,14; Luc. 9:23; Gál. 6:14;
5:24.

10. Qual a doutrina a respeito do arrependimento que foi , ensinada por


muitos dos reformadores?

Alguns deles definiram o arrependimento como consistindo, Io. em mortificação,


em um morrer para o pecado;

2o. em vivificação, um viver para Deus. Isso corresponde à nossa doutrina sobre
a santificação. Os luteranos fazem o arrependimento consistir, Io. em contrição,
ou pesar pelo pecado; e 2o. em fé no evangelho, ou absolvição. - Conf. de
, Augsb., Art. 12. Essa, posto que seja empregada uma fraseologia peculiar, é a
doutrina verdadeira.
11. Qual a doutrina católico-romana da penitência?

No sistema romanista de salvação, a verdadeira analogia da doutrina protestante


da justificação não se acha na doutrina romanista da justificação (assim
chamada), e sim em sua j doutrina da penitência. Por justificação os protestantes
' entendem uma mudança de relação para com a lei divina, da condenação para o
favor de nosso Juiz e Rei, cuja razão de ser é a satisfação dada por Cristo. Os
católicos, porém, não entendem por justificação “somente a remissão dos
pecados, mas também a santificação e a renovação do homem interior, por meio
da aceitação voluntária da graça e dos dons; pelo que o homem de injusto se
torna justo, e de inimigo, amigo”. E mais: “Posto que ninguém pode ser justo,
senão aquele a quem se comunicam os méritos da paixão do nosso Senhor Jesus

Cristo; isso, contudo, assim sucede, nesta justificação do ímpio, enquanto pelo
mérito dessa mesma sacratíssima paixão o Espírito Santo derrama a caridade de
Deus no coração daqueles que são justificados, sendo ela inerente à paixão” -
Cone. de Trento, Ses. 6, cap. 7. Isso é efetuado pelo batismo, e a cada passo dado
pressupõe a satisfação e os méritos de Cristo. Sua satisfação faz propiciação por
todos os pecados cometidos antes do batismo e pelo castigo eterno de todos os
pecados dos batizados. Os méritos dEle alcançam graça preveniente,
a regeneração batismal, e são a base posta para os crentes merecerem, por sua
obediência graciosa e seus sofrimentos temporais, o perdão dos pecados, a
permanência, a restauração e o aumento da graça, bem como as recompensas do
céu.

Justificados assim, e feitos amigos de Deus, eles vão adiante, de virtude em


virtude, e são renovados de dia em dia mediante a observância dos mandamentos
de Deus e da igreja (católica), e estas suas boas obras merecem verdadeiramente,
e recebem, como prêmio justo, aumento de graça e justificação (santificação)
cada vez mais perfeita. Aprimeira justificação do cristão, efetuada no batismo, o
foi por amor de Cristo, sem a cooperação do seu próprio mérito, embora pela
cooperação da sua vontade (se for adulto). Mas a sua justificação
(santificação) continuada e cada vez aumentando é efetuada por amor de
Cristo mediante seu próprio merecimento e na proporção deste, crescendo este
merecimento à proporção (a) da sua santidade, e (b) da sua obediência às regras
morais e eclesiásticas - Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 10, Cân. 32.

No caso daqueles que pelo pecado caíram da graça recebida da “justificação”, o


SACRAMENTO DA PENITÊNCIA, concedido como segunda prancha (de
salvamento), depois do naufrágio da graça perdida, recobra essa graça pelos
méritos de Cristo. Essa penitência inclui (1) pesar pelo pecado, (2) a confissão
desses pecados, (3) a absolvição sacerdotal, (4) uma satisfação, consistindo (a)
neste mundo em jejuns, esmolas, orações, etc., e (b) depois da morte, no fogo do
purgatório.

Eles distinguem a penitência - Io. Como uma virtude, equivalente à doutrina


protestante da graça do arrependimento. 2o. Como um sacramento. A penitência,
como uma virtude, é interna; é uma mudança de espírito, incluindo pesar
pelo pecado e regresso para Deus. A penitência externa, ou a expressão externa
desse estado interno, é o que constitui o SACRAMENTO DA PENITÊNCIA.
O que constitui a matéria desse sacramento são os atos praticados pelo penitente
por via de contrição, confissão e satisfação. Contrição é pesar pelos
pecados passados e aversão por eles, junto com o propósito de não pecar mais.
Confissão é a acusação de si mesmo feita a um sacerdote que tem a respectiva
jurisdição e o poder das chaves .Satisfação é alguma pena imposta pelo
sacerdote e cumprida pelo penitente para dar satisfação à justiça pelos pecados
cometidos. Essas práticas efetuam (a) a expiação da culpa dos pecados passados,
e (b) a disciplina e o crescimento da vida espiritual da alma. A forma do
sacramento é a absolvição proferida judicialmente, e não só declarativamente,
pelo sacerdote. Eles sustentam que “é somente por meio deste sacramento
que podem ser perdoados os pecados cometidos depois do batismo” - Cat. Rom.,
Parte 2, Cap. 5, Pergs. 12 e 13; Cone. de Trento, Sess. 6, Caps. 14-16; Sess. 14,
Caps. 1- 9, Sess. 6, Cân. 30.

12. Como se pode provar que a penitência não é sacramento?

Io. Não foi instituída por Cristo. As Escrituras nada

ensinam a seu respeito.

2o. E conseqüência essencial da falsa teoria da regeneração batismal.

3o. Não significa, nem sela, nem comunica os benefícios de Cristo e da nova
aliança. Veja abaixo, Cap.41, Pergs. 2-5.

13. Qual a doutrina romanista a respeito da confissão?

A confissão é uma acusação de si mesmo, feita a um sacerdote que tem a


respectiva jurisdição e o poder das chaves. E necessário que sejam confessados
todos os pecados, sem

reserva alguma, com todos os seus pormenores e circunstâncias qualificantes. Se


qualquer pecado mortal não for confessado, não será perdoado, e se a omissão
for proposital, é sacrilégio e a pessoa incorre em culpa maior - Cat. Rom., Parte
2, Cap. 5, Pergs. 33,34 e 42.

14. Quais os argumentos protestantes contra a confissão auricular?

Io. Não é autorizada pelas Escrituras. Elas nos mandam “confessar-nos uns aos
outros” - Tia. 5:16.

2o. Perverte o plano inteiro da salvação, porque torna necessária a mediação de


um sacerdote entre o cristão e Cristo, o que foi refutado acima. Veja o Cap. 24,
Pergs. 8 e 21.

3o. As Escrituras nos mandam confessar os nossos pecados a Deus diretamente,


sem intermediários - Mat. 11:28; 1 Tim. 2:5; 1 João 1:9.

4o. Os resultados práticos desse sistema sempre têm sido maus, e essa invasão
grosseira de todos os direitos sagrados da personalidade é coisa que só pode
causar revolta a toda alma culta e honesta.

15. Qual a natureza da absolvição que os sacerdotes católicos dizem que têm o
poder de conceder?

A pretensão é a de que o sacerdote absolve judicial, e não só declarativamente, e


pela autoridade de Jesus Cristo, de todas as conseqüências penais dos pecados
confessados. Em prova citam Mat. 16:19; 18:18; João 20:22,23. Cat. Rom., Parte
2, Cap. 5, Pergs. 13 e 17; Cone. de Trento, Sess. 14 “De Poenitentia”, Cân. 9.

16. Quais os argumentos contra aposse de tal poder de absolver, por parte do
ministério cristão?

Io. O ministério cristão não é sacerdócio. Veja acima, Cap. 24, Perg. 21.

2o. Mesmo que fosse, não se seguiria a conclusão que os


romanistas tiram. A absolvição é ato soberano e não sacerdotal. Isso fica provado
claramente pela definição do sacerdócio, dada em Heb. 5:1-6, pela prática
levítica, e pela própria natureza do ato.

3o. A concessão do poder das chaves, seja ele qual for, não foi feita ao ministério
como tal; porque em Mat. 18:1-18 Cristo não Se dirigiu ao corpo dos discípulos
(note especialmente Mat. 18:15-22), e os ministros da Igreja Primitiva
nunca reivindicaram para si, nem exerceram tal poder.

4o. O poder de perdão absoluto é incomunicável em si, e de fato nunca foi dado;
as palavras em questão não podem ser entendidas nesse sentido, e não foram
entendidas assim. A prática dos apóstolos prova que eles as entenderam
como comunicando simplesmente o poder de declararem as condições sob as
quais Deus perdoaria o pecado, e, de conformidade com essa declaração,
admitirem os homens à Igreja de Cristo ou excluí-los dela.

5o. Só esse princípio falso já torna Cristo sem nenhum efeito, e perverte o
evangelho inteiro - “Bib. Rep.”, janeiro de 1845.

17. Qual a doutrina católico-romana a respeito da satisfação como parte da


penitência?

Pela satisfação entendem eles as obras impostas pelo sacerdote depois da


confissão, a cujo respeito se supõe que elas, contrapostas aos pecados
confessados e pelos quais (o confes-sante) se professou contrição, constituem
uma compensação da violação da lei de Deus, e em atenção a elas os pecados
são perdoados-Caí. Rom., Parte 2, Cap. 5,Pergs. 52 e 53; Cone. de Trento, Sess.
14, “De Poenitentia”, Caps. 1-9.

18. Quais as objeções contra essa doutrina?

Ia. Não tem o apoio de nenhuma autoridade bíblica.


/

2a. E uma desonra à única satisfação perfeita dada por nosso Sumo Sacerdote
uma vez por todas - Heb. 10:10-14.

3a. A distinção feita entre castigos temporais e eternos dos pecados é destituída
de autoridade. A pena do pecado é a ira judicial de Deus - e enquanto esta durar,
não haverá paz; e quando for propiciada, não haverá mais condenação (Rom.
8:1). Os sofrimentos temporais dos que crêem em Cristo são correções, não
punições nem satisfações.

4a. As pretensas “satisfações”, ou nos são impostas por mandamento (do padre),
ou não. Se são, constituem simplesmente deveres, e o cumprimento delas não
pode ser uma “satisfação” pela violação de outro dever. Se nos são impostas por
mandamento, são uma forma de culto voluntário que Deus odeia - Col. 2:20-23.

19. Qual a doutrina papal das indulgências?

A doutrina papal das INDULGÊNCIAS -

Io. Apóia-se nos mesmos princípios nos quais se baseia a PENITÊNCIA. (1) Na
distinção entre as penas temporais e as eternas exigidas em satisfação pelos
pecados. (2) No merecimento superabundante adquirido pelo Chefe da Igreja e
por Seus membros (Cristo, a “virgem” e os santos), e pertencendo-lhes,
constituindo um tesouro de merecimentos que está à disposição discricionária da
autoridade competente a bem de qualquer crente pendente que não esteja em
pecado mortal. (3) No poder dispensador da igreja (católica romana), em virtude
do qual um oficial eclesiástico com competente jurisdição tem autoridade para
dispensar, fazendo as vezes de Deus e da igreja, quaisquer ou todas as
satisfações temporais devidas pelo penitente, quer na terra, quer no purgatório,
e não cumpridas ainda por ele pessoalmente.

20. Estas indulgências devem ser concedidas por “motivos razoáveis”, isto é,
“é necessário que o motivo seja piedoso, não uma obra meramente temporal, ou
vã, não respeitando a glória de Deus, e sim toda e qualquer obra que tenda para a
honra de Deus e para o serviço da igreja”. A eficácia das indulgências “não
depende da importância da obra ordenada, e sim do

Capítulo 32

tesouro infinito dos méritos de Cristo e dos santos”. Os “motivos” são dinheiro
dado para fins piedosos, orações especiais, peregrinações a certos lugares santos,
etc.
3o. As indulgências são de diversas classes. (1 )Gerais, para toda a igreja,
concedidas unicamente pelo próprio papa a todos os fiéis em todo o mundo; ou
particulares, concedidas pela competente autoridade a certas pessoas. (2) Podem
serplenárias, concedendo remissão de todos os castigos temporais neste mundo e
no purgatório; ou parciais, remitindo somente parte das penas devidas. (3)
Podem ser temporárias, para um número especificado de dias ou meses. (4)
Perpétuas, sem nenhuma limitação de tempo. (5) Locais, legadas a certas igrejas
ou a outros lugares. (6)Reais, ligadas a certos objetos portáteis, tais como
rosários, medalhas, etc. (J)Pessoais, concedidas a certas pessoas ou
comunidades. Veja Enciclopédia, por McClintock e Strong, e abaixo, Cone. de
Trento, etc.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

Cone. de Trento, Sess. 14, Cap. 1: “Então instituiu o Senhor principalmente este
sacramento da penitência quando, depois que ressuscitou dos mortos, bafejou a
Seus discípulos, dizendo: “Recebei o Espírito Santo: aqueles cujos pecados
perdoardes, lhes serão perdoados, e os que retiverdes, serão retidos”. Com esta
ação tão insigne e palavras tão claras, o consenso de todos os padres
entendeu sempre que fora comunicado aos apóstolos e seus legítimos sucessores
o poder de perdoar e reter os pecados, de reconciliar os fiéis que caíssem depois
do batismo”.

Tb. Cap. 3: “Ensina ainda o santo sínodo, (1) que a FORMA do sacramento da
penitência, em que principalmente consiste a sua eficácia, se acha nestas
palavras: “EU TE ABSOLVO, etc...”. Mas (2) os atos do próprio penitente, a
saber, a contrição, a confissão e a satisfação, são como que a SUBSTÂNCIA
deste sacramento; os quais atos de penitência, visto que são, por instituição de
Deus,

exigidos do penitente, para a inteireza do sacramento, e para perfeita remissão


dos pecados, se chamam partes da penitência. Mas (3) o intento, o efeito deste
sacramento, quanto ao que pertence à sua virtude e eficácia, é a reconciliação
com Deus”.

Ib. Cap. 4: “A contrição, que tem o primeiro lugar entre os mencionados atos do
penitente, é uma tristeza da alma, e aversão pelo pecado cometido, com o
propósito de não tornar a pecar”.
Ib. Cap. 5: “Os penitentes devem relatar na confissão todos os pecados mortais
que, depois de diligente exame, tiverem na consciência, ainda que sejam os mais
ocultos, e cometidos somente contra os dois últimos preceitos do Decálogo...
Quanto aos veniais, pelos quais não somos excluídos da graça de Deus, em que
freqüentemente caímos, posto que seja conveniente e útil, e de nenhum modo
presunçoso, confessá-los, contudo, pode-se calar a respeito deles sem culpa, e
podem ser expiados com outros remédios... Quanto aos demais pecados
(mortais) que não ocorrem a quem faz esta diligente consideração, se entendem
geralmente que são incluídos na mesma confissão: pelos quais dizemos
fielmente com o profeta: “purifica-me, Senhor, de meus ocultos delitos”.

Id. Cap. 6: “(O concilio) declara também que os sacerdotes, ainda que estejam
em pecado mortal, pela virtude do Espírito Santo, dada na ordem, exercitam
como ministros de Cristo a função de perdoar os pecados... Ainda que a
absolvição do sacerdote seja a dispensação de um benefício alheio, contudo, não
é só um mero ministério de anunciar o evangelho, ou de declarar que estão
perdoados os pecados; mas uma semelhança de ato judicial, no qual ele, à
maneira de juiz, pronuncia sentença... Nem a fé sem a penitência causaria
remissão alguma dos pecados; nem deixaria de ser negligentíssimo na matéria da
sua salvação aquele que, sabendo que o sacerdote o tenha absolvido por
zombaria, deixasse de buscar com todo o cuidado outro que agisse seriamente”.

Ib. Cap. 8: “Enfim, quanto à satisfação, que, assim como

entre todas as partes da penitência, foi sempre e em todo o tempo por nossos pais
recomendada ao povo cristão...”. Cap. 9: “Não só podemos satisfazer a Deus Pai
por Cristo Jesus, com as penas que de livre vontade aceitamos em vingança do
pecado, ou impostas por arbítrio do sacerdote à medida do delito, mas também
(o que é maior prova de amor) com castigos temporais, que Deus nos dá,
sofridos por nós com paciência”.

Sessão 6, Cone. 29: “Se alguém disser que aquele que caiu depois do batismo
não pode se levantar com a graça de Deus, ou que na verdade o pode, mas que
com a fé somente recupera a justiça que perdera, sem o sacramento da
penitência... seja anátema. Cân. 30. - Se alguém disser que, depois de recebida a
graça da justificação, a qualquer pecador penitente é perdoada a culpa, e a
punição eterna é apagada de tal modo que não lhe fica resquício algum de pena
temporal a ser paga ou neste mundo ou no purgatório, antes que possa entrar no
reino do céu, seja anátema”.
INDULGÊNCIAS - Cone. de Trento, Sess. 25, “De Indulgentiis”.

O papa Leão X, Bulla “De Indulgentiis” (1518) - “Para que ninguém no futuro
possa alegar ignorância da doutrina da igreja católica romana a respeito das
indulgências e sua eficácia... o pontífice romano, vigário de Cristo sobre a terra,
pode, por motivos razoáveis, em virtude do poder das chaves, da
superabundância dos méritos (expressamente chamados tesouro) de Cristo e dos
santos, conceder indulgências aos fiéis, quer nesta vida, quer no purgatório; e
que os que têm verdadeiramente alcançado essas indulgências, (são) aliviados
tanto do castigo temporal devido por seus pecados reais à justiça divina, quanto é
equivalente à indulgência concedida e alcançada”.
A Justificação

1. Em que sentido a palavra díkaios, justo, é empregada no Novo Testamento?

Sua idéia fundamental é a de perfeita conformidade com todas as exigências da


lei moral. Consideremos:

Io. Dito a respeito de coisas ou pessoas - Mat. 20:4; Col.

4:1.

2o. Dito a respeito de Pessoas (1) como pessoalmente santas, conformadas em


seu caráter à lei - Mat. 5:45; 9:13. (2) A respeito de possuírem elas uma só
qualidade exigida pela lei -Mat. 1:19; Luc. 23:50. (3) Como justas no sentido
forense, isto é, como conformadas às exigências da Lei consideradas como
condição da aliança de vida - Rom. 1:17. (4) Dito a respeito de Deus como
possuindo os atributos de justiça distributiva na administração das provisões da
Lei e das alianças - Rom. 3:26; 1 João 1:9. (5) Dito de Cristo, com respeito ao
Seu caráter como o único homem perfeito, e à Sua posição representativa em
satisfazer todas as exigências da Lei a favor do Seu povo - Atos 3:14; 7:52;
22:14.

2. Qual é o uso do verbo dikaióo, justificar, no Novo Testamento?

Significa declarar que uma pessoa é justa.

Io. Pessoalmente conformada à Lei quanto ao caráter moral - Luc. 7:29; Rom.
3:4.

2o. Justa em termos forenses, isto é, significa que, a seu

respeito, foram satisfeitas todas as exigências da Lei, tida como a condição de


vida-Atos 13:39; Rom. 5:1,9; 8:30-33; 1 Cor. 6:11; Gál. 2:16; 3:11.

3. Como se pode provar que a palavra dikaióo é utilizada em sentido forense


quando as Escrituras a empregam em referência à justificação do pecador
debaixo do evangelho?
Io. Em muitos casos é o único sentido que pode ter. Diz-se que os ímpios são
justificados sem as obras da Lei, pelo sangue de Cristo, pela fé, livremente e de
graça, mediante a intervenção de um advogado, por meio de uma satisfação e
da justiça imputada - Rom. 3:20-28; 4:5-7; 5:1; Gál. 2:16; 3:11; 5:4; 1 João 2:2.

2o. É empregada para exprimir o contrário de condenação - Rom. 8:33,34.

3o. A mesma idéia é comunicada por muitas outras expressões equivalentes e


permutáveis entre si - João 3:18; 5:24; Rom. 4:6,7; 2 Cor. 5:19.

4o. Se o termo em apreço não tivesse esse sentido, não haveria diferença entre a
justificação e a santificação -Turretino, Loc. 16, Quaes. 1.

4. Qual o uso do termo dikaiosyne,;wshfa, e da frase “justiça de Deus” no


Novo Testamento?

O termo “justo” é concreto, designando a pessoa que está parcialmente


conformada à lei, ou a cujo respeito foram satisfeitas perfeitamente todas as
exigências da lei. O termo “justiça”, porém, é abstrato, designando qualidade,
obediência ou sofrimento que satisfaz às exigências da Lei, e que constitui o
motivo da justificação.

Por conseguinte, significa, Io. santidade de caráter, Mat. 5:6; Rom. 6:13; 2o.
aquela perfeita conformidade de pessoa e vida à Lei, que foi a base original para
a justificação, sob a aliança das obras, Rom. 10:3,5; Fil. 3:9; Tito 3:5; 3o.
a obediência e os sofrimentos vicários de Cristo, o nosso

Substituto, alcançando assim para nós uma justiça que, sendo-nos imputada,
torna-a nossa, ou faz dela a base da nossa justificação, Rom. 4:6; 10:4; 1 Cor.
1:30, e é por nós recebida e aceita mediante a fé, Rom. 3:22; 4:11; 10:5-10;
Gál. 2:21; Heb. 11:7.

A frase “justiça de Deus” encontra-se em Mat. 6:33; Rom. 1:17; 3:5,21,22,25,26;


10:3; 2 Cor. 5:21; Fil. 3:9; Tia. 1:20; 2 Ped.1:1.

Significa evidentemente aquela perfeita justiça ou satisfação dada à Lei inteira,


tanto a seus preceitos como a suas penas, que Deus proveu e que Ele aceitará,
em contraste com os nossos serviços imperfeitos ou penitências infligidas a
nós mesmos, que Deus rejeitará se forem oferecidos como base para a nossa
justificação.

5. Qual o uso do termo dikaíosis, justificação, no Novo Testamento?

Encontra-se somente em Rom 4:25; 5:16,18. Significa a relação com a Lei na


qual somos introduzidos quando a justiça de Cristo se torna legalmente nossa.
Somos então absolvidos, não incorrendo na pena. E as Escrituras declaram que
nos pertencem as recompensas prometidas aos obedientes.

6. Como se deve definir justificação em seu sentido evangélico?

Deus, como Soberano, elegeu Seu povo escolhido e o deu

a Seu Filho na aliança da graça, e como Soberano leva a efeito essa aliança
quando, por imputação, faz da justiça de Cristo a justiça do Seu povo eleito. A
justificação, porém, é um ato judicial de Deus pelo qual Ele declara que, em
virtude dessa imputação soberana, a lei foi perfeitamente cumprida a
nosso respeito. Isso envolve, Io. perdão; 2o. restauração ao favor divino, como
pessoas a cujo respeito serão cumpridas todas as promessas que têm como
condição a obediência aos mandamentos da Lei. E um ato estritamente legal,
posto que Deus nele admita e ponha em nossa conta uma justiça vicária,

porque esta justiça vicária é exatamente aquilo que, em todos os aspectos, a Lei
exige e pelo qual ela é cumprida. Veja abaixo, Perg. 28.

7. Que exige a Lei para a justificação do pecador? ^

A Lei consta essencialmente de uma regra de dever e de

uma pena anexa a ser aplicada no caso de desobediência. No caso do pecador,


que já se tornou culpado, a Lei exige, pois, que, além de prestar-lhe perfeita
obediência, seja também sofrida a pena que lhe cabe - Rom. 10:5; Gál. 3:10-
13. j

8. Como se pode provar que as obras não podem constituir

base para a justificação do pecador? !

Paulo repetidamente assevera isso (Gál. 2:16), e declara que não somos
justificados por nossa própria justiça, provinda da obediência da Lei - Fil. 3:9.
Também o mesmo apóstolo prova essa verdade mediante diversos argumentos -

Io. A Lei exige obediência perfeita. Por isso todas as obras não perfeitas levam à
condenação, e nenhum ato de obediência praticado numa ocasião pode expiar a
culpa por um ato de desobediência praticado noutra-Gál. 3:10,21; 5:3.

2o. Se fôssemos justificados pelas obras, Cristo teria morrido em vão - Gál. 2:21;
5:4.

3o. Se fosse pelas obras, não seria pela graça - Rom. 11:6; Ef. 2:8,9.

4o. Se fosse pelas obras daria ocasião para blasonar - Rom. 3:27; 4:2.

5o. Paulo cita o Velho Testamento para provar que todos os homens são
pecadores, Rom. 3:9,10, e que, por isso, não podem ser justificados pelas obras -
Sal. 143:2; Rom. 3:20. Cita Hab. 2:4 para provar que “o justo vive da (pela) fé”;
e cita também o exemplo de Abraão - Gál. 3:6.

9. Quais as diversas opiniões quanto à classe de obras que, segundo o ensino


das Escrituras, não bastam para a justificação?

Os pelagianos admitem que as obras de obediência à lei cerimonial são dessa


natureza, mas afirmam que as obras de obediência à lei moral são a própria e
única base para a justificação. Os católicos admitem que as obras praticadas
pelas forças naturais do homem, antes da sua regeneração, não têm mérito e nada
valem para a justificação, mas, ao mesmo tempo, sustentam que, tendo sido
perdoados por amor a Cristo, no batismo, o pecado original e as transgressões
próprias previamente cometidas, as boas obras praticadas depois, mediante a
graça, têm a virtude, em conseqüência dos méritos de Cristo, de Io. merecer o
céu, e 2o. dar satisfação pelos pecados. Somos, pois, justificados pela obediência
evangélica - Caí. Rom., Parte 2, Cap. 5; Cone. de Trento, Sess. 6, Cânones 24 e
32. Os protestantes negam a eficácia justificadora de todas e quaisquer obras.

10. Como se pode mostrar que nenhuma classe de obras, quer cerimoniais quer
morais ou espirituais, pode justificar?

Io. Quando as Escrituras negam que a justificação possa vir das obras, o termo
“obras” é sempre empregado no sentido geral de obediência à inteira vontade de
Deus revelada, seja qual for a maneira pela qual foi revelada. Obras praticadas
em obediência a qualquer lei, como base para a justificação, nunca são
contrastadas com obras praticadas em obediência a outra lei, mas sim com a
graça - Rom. 11:6; 4:4. Deus exige perfeita obediência à Sua vontade inteira,
como revelada a qualquer homem. Todavia, sendo todos os homens pecadores,
a justificação pelas obras da Lei é igualmente impossível para todos - Rom.
2:14,15; 3:9,10.

2o. O crente é justificado sem as obras da Lei, Rom. 3:28; e Deus justifica os
ímpios, por amor de Cristo - Rom. 4:5.

3o. Segundo as Escrituras, a justificação baseia-se em fundamento inteiramente


diferente. É “em nome de Cristo”, 1 Cor. 6:11; “por seu sangue” (ou “pela sua
vida”), Rom. 5:9; “gratuitamente”, “pela sua graça”, “pela fé” - Rom. 3:24,28.

4o. Paulo prova que, em vez de sermos justificados por

boas obras, essas se nos tornam possíveis somente em virtude da nova relação
para com Deus em que a justificação nos introduz - Ef. 2:8-10; Rom., capítulos 6
e 7.

11. Como se pode conciliar Tiago 2:14-26 com esta doutrina?

Tiago não está falando da base meritória da justificação, e

sim da relação em que as boas obras estão para com a fé verdadeira como seus
frutos e como sua evidência ou comprovação. A base meritória da justificação é
a justiça de Cristo -Rom. 10:4; 1 Cor. 1:30. A fé é o requisito essencial e o
meio instrumental para que se possa receber essa justiça - Ef. 2:8. Tiago, na
citada passagem, simplesmente declara e argumenta sobre a verdade de que a fé,
que é assim a causa instrumental da justificação, nunca é uma fé morta, porém é
sempre uma fé viva e um princípio que produz frutos. Paulo muitas vezes ensina
a mesma verdade: “a fé opera por caridade”, Gál. 5:6; “O cumprimento da lei é o
amor”, Rom. 13:10.

12. Qual é, segundo as Escrituras, a verdadeira e única base da justificação?

A justificação é uma declaração, da parte de Deus infinitamente sábio e santo, de


que a Lei está satisfeita. A Lei, como o seu Autor, é absolutamente imutável, e
não pode satisfazer-se com coisa alguma que não seja uma justiça
absolutamente perfeita, a qual ao mesmo tempo cumpre os seus preceitos
e cumpre a sua pena. Isso foi feito por Cristo o nosso Representante, e Sua
justiça, imputada a nós, é a base única e estritamente legal da nossa justificação.
Assim Ele foi feito o fim da lei para a nossa justificação , e nós somos feitos
nele justiça de Deus-Rom. 3:24; 5:9,19; 8; 10:4; 1 Cor. 1:30; 6.11; 2 Cor. 5:21;
Fil. 3:9.

13. Como se pode provar que a obediência ativa de Cristo aos preceitos da Lei
se acha incluída na justiça pela qual somos justificados?

Io. A condição da aliança das obras era a obediência perfeita. Tendo falhado essa
aliança na pessoa de Adão, foi necessário que o segundo Adão cumprisse essa
condição, porque na aliança da graça Cristo assumiu todas as obrigações não
cumpridas que o Seu povo tinha sob a aliança das obras. Ele, por Seus
sofrimentos, tirou a pena, mas somente Sua obediência ativa cumpriu a
condição.

2o. Todas as promessas de salvação acham-se ligadas à obediência e não a


sofrimentos - Mat. 19:16,17; Gál. 3:12.

3o. Cristo veio cumprir a Lei toda-Is. 42:21; Rom. 3:31; 1 Cor. 1:30.

4o. A obediência de Cristo é expressamente contrastada com a desobediência de


Adão - Rom. 5:19.

14. Como se pode mostrar que a obediência de Cristo foi espontânea (e não
forçada)?

Embora Cristo tenha sido feito sujeito à Lei nascendo de uma mulher e tenha
prestado obediência a essa Lei nos exercícios da Sua assumida natureza humana,
todavia Ele não devia essa obediência por si, entretanto prestou-a
livremente, para que os Seus méritos pudessem ser imputados a Seu
povo, porque as exigências de qualquer lei não terminam em naturezas, e sim em
pessoas; e Ele sempre foi e é Pessoa divina. Assim como Ele sofreu, o Justo
pelos injustos, assim também obedeceu, o Autor da Lei em lugar daquele que
está sujeito à Lei. . !

15. Em que sentido a justiça de Cristo é imputada aos crentes?


A imputação é um ato de Deus como Juiz soberano, ao

mesmo tempo judicial e soberano, no qual (1) Ele faz com que sejam realmente
de Cristo a culpa e as responsabilidades legais dos nossos pecados, e pune a
Cristo por causa deles. “Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas
nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados” - Is. 53:5,11. “Cristo nos

resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós”

- Gál. 3:13. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que
nele fôssemos feitos justiça de Deus” - 2 Cor. 5:21; João 1:29. (2) Ele torna
nossa a justiça de Cristo (isto é, torna nosso o direito legal à recompensa pela
aliança da graça, cuja condição foi a justiça), e então nos trata como pessoas que
fazem legalmente jus a esses direitos. “Assim também Davi declara bem-
aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras”- Rom. 4:6.
“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” - Rom. 10:4; 1
Cor. 1:30; 2 Cor. 5:21; Fil. 3:9.

“Imputação” é creditar ou pôr na conta de alguém alguma coisa como o motivo


pelo qual se lhe dá tratamento judicial.

“Culpa” é a obrigação justa de sofrer castigo. Oreatus poena, ou “acusação para


castigo”, é imputado a Cristo em nosso lugar. O reatus culpa, ou “acusação de
culpa”, permanece nosso.

“Justiça imputada” é o cumprimento vicário de todas as exigências da aliança


que constituem a condição para recebermos a vida eterna.

“Mérito” é aquilo que merece recompensa por causa das promessas feitas numa
aliança. O merecimento da recompensa nos é imputado em função de Cristo, o
de ser digno de louvor Lhe pertence para sempre.

Da mesma maneira como Cristo não se torna pecador pela imputação a Ele dos
nossos pecados, também não nos tornamos santos pela imputação a nós da Sua
justiça. A transferência é unicamente da nossa culpa para Ele e do Seu mérito
para nós. Ele com justiça sofreu o castigo devido aos nossos pecados, e nós com
justiça recebemos a recompensa devida à Sua justiça

- 1 João 1:9. Para a explicação de “imputação”, veja acima, Cap. 21, Perg. 12,
e Cap. 25, Perg. 9.

16. Sobre que fundamento procede esta imputação?

Procede sobre o fundamento da união federal, espiritual e vital que subsiste entre
Cristo e Seu povo. Esta união, por

sua vez, está baseada no eterno decreto de eleição, comum a todas as Pessoas da
Deidade, e em Sua eterna aliança da graça feita entre o Pai como Deus Absoluto,
e o Filho como Mediador. Assim é que o fundamento supremo da
imputação consiste na natureza eterna e na vontade imperativa de Deus, a fonte
de toda a lei e de tudo o que é bom.

17. Como se pode provar pelas Escrituras o fato desta imputação?

Veja Rom. 5:12-21. Compare Rom. 4:6 e 3:21 com Rom. 5:19.

A doutrina da imputação está envolvida essencialmente na doutrina da


substituição. Se Cristo obedeceu e sofreu em nosso lugar, isto só pôde acontecer
por Lhe haverem sido imputados os nossos pecados, o que é afirmado
diretamente nas Escrituras, Is. 53:6; 2 Cor. 5:21; 1 Ped. 2:24; e, sendo assim, o
mérito da Sua obediência e dos Seus sofrimentos só pode redundar em nosso
proveito - Mat. 20:28; 1 Tim. 2:6; 1 Ped. 3:18. Veja acima, Cap. 21, Perg. 12.

Esta doutrina é ensinada também nas passagens que afirmam que Cristo cumpriu
a lei, Rom. 3:31; 10:4; e pelas que asseveram que somos justificados pela justiça
de Cristo, 1 Cor. 6:11; Rom. 8:1, etc.

Além disso, esta doutrina fica em pé ou cai com todo o sistema de doutrinas por
nós apresentado a respeito do sacerdócio de Cristo, da justiça de Deus, das
alianças das obras e da graça, e da natureza da propiciação; aos quais
assuntos, sob seus respectivos títulos, remetemos o leitor.

18. Quais os dois efeitos atribuídos à imputação da justiça de Cristo?

A justiça de Cristo Io. satisfaz à pena da Lei, e 2o. cumpre as condições positivas
impostas na aliança das obras, isto é, obediência aos preceitos da Lei. A
imputação dessa justiça alcança, pois, para o crente, Io. a remissão da pena, o
perdão
dos pecados; e 2o. o reconhecimento e tratamento dele como pessoa a cujo
respeito foram cumpridas todas as condições da aliança das obras e que tem
direito legal a todas as suas promessas e vantagens. Veja abaixo, Perg. 28.

19. Acaso os pecados dos crentes, cometidos depois da sua justificação,


acham-se incluídos no perdão concedido em conseqüência da imputação da
justiça de Cristo? Se a resposta é “sim”, de que maneira sucede?

Os eleitos, posto que incluídos no propósito de Deus e na aliança feita desde a


eternidade com Seu Filho, são efetivamente unidos a Cristo somente no
momento da sua regeneração, quando, em conseqüência da sua união a Ele e
da imputação a eles feita da Sua justiça, sua relação com a Lei fica mudada
permanentemente. Conquanto a lei imutável continue sempre a ser a regra e o
padrão perfeito para a sua experiência e para a sua vida, não é mais para eles
uma condição da aliança de vida, porque foi cumprida para eles por seu Fiador.
Deus não lhes imputa mais o pecado com o fim de castigo judicial; e todo o
sofrimento que ainda lhes sobrevenha é da natureza de correção, cujo fim é
corrigi-los e torná-los melhores, e, em relação a eles, não forma parte alguma da
pena da Lei.

20. Quais as diversas opiniões a respeito da classe de pecados que são


perdoados quando o pecador é justificado?

Os católicos romanos ensinam que o pecado original e todas as transgressões


pessoais cometidas antes do batismo são perdoados por amor de Cristo pelo
meio instrumental desse sacramento, e que, depois do batismo, os pecados, à
medida que se cometem, são, mediante os méritos de Cristo, perdoados na
observância do sacramento da penitência. Veja acima, Cap. 32, Perg. 11.

O Dr. Pusey fez reviver uma antiga doutrina segundo a qual se perdoam no
batismo todos os pecados passados,

original e reais ou fatuais; mas o seu sistema não faz provisão para o perdão dos
pecados cometidos depois.

Muitos protestantes têm sustentado que no primeiro ato da justificação se


perdoam somente os pecados passados e presentes, e que os pecados cometidos
depois da regeneração são perdoados à medida que são cometidos, depois de
novos atos de fé.
A verdadeira opinião, porém, é que, em conseqüência da imputação da justiça de
Cristo ao crente, este está emancipado da sua prévia relação federal com a Lei, e,
por isso, daí por diante nenhum pecado é mais lançado em sua conta com o fim
de condenação judicial. Isso segue-se da natureza da imputação, como foi
anteriormente exposta, e fica ilustrado pela experiência registrada de Paulo, o
qual, posto que lamentasse que uma lei nos seus membros repudiava a lei do seu
espírito, todavia nunca duvidou da sua relação filial com Deus, nem do perdão
dos seus pecados.

21. Quais as diversas opiniões a respeito da relação entre a fé e a justificação?

Os socinianos sustentam que a fé, inclusive a obediência, é a própria base


meritória para a justificação-Cat. Rac., Pergs. 418-421 e453.

Os arminianos ensinam que, posto que a fé não tenha merecimento próprio, por
ser dom de Deus, contudo, sendo um princípio vivo, incluindo obediência
evangélica, ela, por amor dos merecimentos de Cristo, nos é imputada pela
graça de Deus, como justiça, isto é; é aceita como justiça e, por isso, somos
declarados justos - Limborch, Theol. Christ.,6A,22 e 6:4,26.

A opinião ortodoxa é que a obediência de Cristo, passiva e ativa, que satisfaz


tanto ao preceito como à pena da Lei e constitui assim uma justiça perfeita, é,
pela imputação ao crente, realmente feita justiça dele, no sentido legal,
quando se apropria dela no ato de crer. Nossa fé constitui, pois,

simplesmente o meio pelo qual participamos da justiça de Cristo, sendo esta a


verdadeira base da nossa justificação.

22. Como se pode provar que a fé é somente a causa instrumental da


justificação?

Io. Pela própria natureza da fé. (1) Ela não é de nós, mas é dom de Deus - Ef.
2:8; Fil. 1:29. (2) É um dos frutos do Espírito e, por isso, não pode ser o motivo
meritório para recebermos bênçãos espirituais - Gál. 5:22. (3) E um ato da alma
e, por isso, é uma obra; porém, posto que sejamos justificados mediante a fé, não
o somos por obras. - Rom. 4:2-5; 11:6. (4) A fé justificadora culmina em Cristo
ou sobre Ele, em Seu sangue, em Seu sacrifício e nas promessas de Deus; em sua
própria essência, pois, envolve confiança e, negando que tenha valor justificador
em si, só afirma o merecimento unicamente daquilo (ou daquele) em quem
confia - Rom. 3:25,26; 9:20,22; Gál. 3:26; Ef. 1:12,13; 1 João 5:10. (5) A
Lei exige necessariamente uma justiça perfeita, mas a fé, mesmo quando
combinada com a obediência evangélica que ela produz, não é uma justiça
perfeita.

2o. As Escrituras, quando se referem à relação da justificação com a fé,


empregam as expressões ek písteos, pela fé, e diàpísteos, pela fé ou mediante a
fé, entretanto nuncadiàpístin, por causa da fé, Gál. 2:16.

3o. A fé é distinguida da justiça que ela apreende - Rom. 1:17; Fil. 3:8-11.
Turretino, Loc. 16, Quaes. 7.

23. Qual o objeto específico da fé justificadora?

Segundo os socinianos, que negam a deidade de Cristo, o ato da fé justificadora


culmina “em Deus por Cristo” - Cat. Rac., Sec. 5, Cap. 9.

Os católicos romanos, que confundem a justificação e a santificação, fazem da


revelação inteira de Deus o objeto da fé que justifica - Cat. Rom., Parte 1, Cap.
1.

A doutrina bíblica é que, posto que o coração renovado

creia igualmente em toda a Palavra de Deus conhecida, todavia o ato específico


da fé, pelo qual somos justificados, tem como objeto a Pessoa de Cristo e Sua
obra como Mediador.

Prova-se isso- .

Io. Pelas declarações terminantes das Escrituras - Rom. 3:22,25; Gál. 2:16; Fil.
3:9.

2o. Pelas declarações de que somos salvos pela fé nEle -Atos 10:43; 16:31; João
3:16,34.

3o. Por aquelas expressões figuradas que ilustram o ato de fé salvadora como
“olhando para Cristo” etc. - Is. 45:22; João 1:12; 6:35,37; Mat. 11:28.

4o. Incredulidade é recusar aceitar a justiça que Deus proveu, isto é, Cristo -
Rom. 10:3,4.

24. Qual a natureza da paz que provém da justificação?

Io. Paz com Deus, por estar perfeitamente satisfeita a Sua justiça pela justiça de
Cristo - Rom. 5:1; 2 Cor. 5:19; Col. 1:21; Ef. 2:14. Em testemunho de que Ele
nos dá Seu Espírito - Rom. 8:15,16; Heb. 10:15,17. Derrama Seu amor em
nossos corações, Rom. 5:5, e estabelece comunhão habitual entre nós e Ele - 1
João 1:3.

2o. Paz interior de consciência, incluindo a consciência íntima de estarmos


reconciliados com Deus mediante a operação do Seu Espírito, como acima se
viu, e o apaziguamento da nossa consciência acusadora mediante a apreensão da
justiça pela qual somos justificados - Heb. 9:14; 10:2,22.

25. Que outros benefícios mais nos vêm da justificação?

Sendo justificados na base de uma justiça perfeita, toda a

nossa relação com Deus e com a Lei fica mudada; e o resultado é que recebemos
o dom do Espírito Santo, a adoção, a santificação, a perseverança, a garantia de
que todas as coisas contribuem para o nosso bem, livramento na morte,
a ressurreição do corpo e a glorificação final.

RESPOSTAS A OBJEÇÕES

26. Como se pode expor e refutar as principais objeções contra a doutrina


protestante da justificação?

Io. Objeta-se que ela é legal e, por isso, exclui a graça.


RESPONDEMOS - Na verdade, é doutrina transcendental-mente caracterizada pela graça. (1) A admissão de um substituto dos
pecadores culpados foi ato de graça. (2) A obediência e os sofrimentos vicários do Deus-homem foram atos de graça infinita. (3) A
imputação da Sua justiça a pessoas eleitas dentre toda a massa da humanidade decaída é puramente um ato de graça. Logo, (4) o fato
grandioso de que Deus depois considera e trata o crente como justo é obra da graça.

2a. Que essa doutrina é ímpia porque declara que o pecador é justo e que é
possuidor da própria justiça de Cristo.
RESPONDEMOS: Não é ímpia porque - (1) Esta justiça foi planejada livremente com a intenção de que fosse nossa, e nos é dada
livremente. (2) Não se trata da justiça pessoal e subjetiva de Cristo, a qual é incomunicável, mas o que nos é imputado é o Seu
cumprimento vicário da aliança de vida, sob a qual nascemos. (3) O mérito de louvor é retido por Cristo; só nos é dado o mérito de
recompensa. (4) A dádiva da justiça nos é feita gratuitamente, para que o louvor da graça gloriosa reflua unicamente a Cristo.
3a. Que a justificação gratuita, pela fé, leva à licenciosidade.
PAULO RESPONDE: Romanos 6:2-7 -

(1) proposição: onde o pecado foi abundante, a graça foi muito mais abundante
- Romanos 5:20.

(2) proposição: concluiremos, pois, que devemos continuar no pecado para que
a graça seja abundante? De modo nenhum - Romanos 6:1, 2.

(3) proposição: a união federal do crente com Cristo, a qual assegura a nossa
justificação, é o fundamento inseparável daquela união espiritual e vital com Ele
que assegura a nossa santificação.

(4) proposição: este método de justificação, longe de levar à licenciosidade,


adquiriu as únicas condições sob as quais podemos ser santos, (a) Este método
de justificação, devido à mudança que opera em nossa relação com Deus,
habilita-nos a retornar a Ele prestando-Lhe um serviço espontâneo e feito por
amor-Romanos 6:14; 7:1-6. (b) Somente este método de justificação nos liberta
de um espírito de escravidão e de temor, e nos dá o de adoção e de amor -
Romanos 8:1-17;13:10; Gálatas 5:6; 1 João 4:18; 2 João, versículo 6.

27. Em que aspecto diferiu a doutrina de Piscator sobre este assunto da


doutrina das igrejas reformadas?

Piscator, teólogo protestante, lente em Herborn (15841625), ensinou, Io. que,


quanto à Sua natureza humana, Cristo estava sujeito à Lei no mesmo sentido em
que o está qualquer outra criatura humana, e que, por isso, Ele podia obedecer
à lei somente por Si; 2o. que, se Cristo tivesse obedecido à Lei em nosso lugar,
ela não poderia exigir de nós um segundo cumprimento dela e,
conseqüentemente, os cristãos não teriam nenhuma obrigação de obedecer à lei
de Deus; 3o. que, se Cristo tivesse obedecido aos preceitos da Lei e também
sofrido a pena, a Lei teria sido cumprida duas vezes, por serem alternativas e não
coincidentes as exigências dos preceitos e a pena da Lei.

Essa doutrina foi expressamente condenada nas igrejas reformadas da Suíça e da


Holanda, e pelos sínodos franceses celebrados nos anos de 1603,1612 e 1614.

Em 1615, porém, o sínodo permitiu tacitamente que essas opiniões passassem


sem condenação -Hist. Eccl. de Mosheim.
28. Como se pode mostrar que a justificação não é simplesmente perdão?

Piscator errou, deixando de distinguir -

Io. Que as exigências da Lei não terminam em naturezas, e sim em pessoas.


Cristo foi Pessoa divina e, por isso, Sua obediência foi espontânea.

2o. Que há uma diferença evidente entre uma relação federal com a Lei como
condição da salvação e uma relação natural com ela como regra de vida. Com a
Lei como condição, Cristo a cumpriu como nosso Representante federal; porém,
como regra de vida, ela é obrigatória para o crente e para todas as criaturas
morais para sempre.

A justificação é mais que perdão -

Io. Porque a própria palavra “justificar” o prova. “Perdoar” é desistir, no


exercício de uma prerrogativa soberana, da execução das sanções penais da Lei.
“Justificar” é declarar que as exigências da Lei são satisfeitas, não que se
desistiu delas. O perdão é ato soberano; a justificação é ato judicial.

2o. Como já provamos no capítulo 25, Cristo, no rigor estrito da justiça, satisfez
vicariamente por nós às exigências da Lei. Sua satisfação é a base requerida para
a nossa justificação. Mas perdão é remissão da pena sem satisfação.

3o. Se a justificação fosse mero perdão, livrar-nos-ia simplesmente dos


sofrimentos penais, todavia não nos proveria nenhum outro bem. Mas “a
justificação pela fé em Cristo” não somente traz como resultado o perdão, porém
também a paz, a graça, a reconciliação, a adoção de filhos, a bênção de
sermos co-herdeiros com Cristo, etc. Veja acima, Perg. 13, e Rom. 5:1-10; Atos
26:18; Apoc. 1:5,6.

No caso dos crentes justificados, a “justificação” inclui o “perdão”. A nossa


justificação tem por fundamento uma “satisfação”, e, por isso, não é mero
perdão, e sim uma satisfação “vicária”, lançada pela graça de Deus a crédito de
indignos, e, por isso, efetua o perdão de nós pecadores que cremos em Cristo.

29. Acaso Calvino não teria empregado muitas vezes uma linguagem que indica
que a justificação e o perdão são a mesma coisa?
Empregou. No entanto, na interpretação da sua linguagem devemos estar
lembrados -

Io. Do fato de que ele estava argumentando com os

romanistas, que ensinavam que a “justificação consiste na remissão dos pecados


e na infusão da graça”. Em oposição a isso, ele argumentava que a justificação
consiste na remissão, contudo não inclui a infusão.

2o. Do fato conclusivo de que as suas definições completas de “justificação”


compreendem a verdade toda, definida mais acuradamente nos símbolos das
igrejas luterana e reformada. Entretanto, vejamos:

João Calvino, Institutas, Livro 3, Cap. 2, § 2: “Diz-se que um homem é


justificado diante de Deus quando, no juízo de Deus, ele é decretado justo e é
aceito por causa da sua justiça... Do mesmo modo dir-se-á que um homem
é justificado por obras, se em sua vida, ou pela perfeição de suas obras, ele pode
responder e satisfazer à justiça divina.

Se, porém, um homem quiser justificar-se pela fé, quando excluído da justiça de
obras, ele pela fé lança mão da justiça de Cristo e, dela revestido, não aparece
diante de Deus como pecador, e sim como justo. Assim, pois, nós interpretamos
a justificação simplesmente como a aceitação pela qual Deus nos recebe em Seu
favor, e dizemos que esta justificação consiste no perdão dos pecados e na
imputação da justiça de Cristo.

Calvino, Com., 1 Cor. 1:30 - “Cristo nos é feito justiça, e por estas palavras ele
(o apóstolo) entendeu que somos aceitos por Deus em Seu nome (de Cristo),
porque Ele expiou os nossos pecados, e Sua obediência nos é imputada como
justiça. Porque, consistindo a justiça da fé na remissão dos pecados e na
aceitação gratuita, nós obtemos as duas coisas por Cristo”.

30. Em que sentido a teoria governamental modifica a doutrina da justificação?

Veja acima, Cap. 25, Perg. 27.

Io. Daquela teoria segue-se que a justificação é um ato soberano e não judicial de
Deus. Cristo não satisfez à Lei, mas somente alcançou que fosse compatível com
o governo de Deus
que Ele pusesse de lado a Lei no caso dos crentes. É mero perdão, um ato de
clemência executiva.

2o. Devido Cristo não ter morrido como um substituto, segue-se que Sua justiça
não é imputada; é a ocasião, mas não a base da justificação.

30. Devido Cristo não ter morrido como um substituto, não há união
estritamente federal entre Ele e Seu povo, e a fé não pode ser o meio da
salvação, unindo-nos a Cristo, mas é tão-somente a condição arbitrária sob a
qual se nos concede a justificação, ou é o meio de recomendar-nos a Deus.

4o. Sendo a justificação mero perdão, só põe de lado a condenação, e assim torna
possível a salvação. Contudo, nada faz para conseguir a posição futura do crente
e suas relações com Deus, sob a aliança da salvação.

O Dr. Emmons (1745-1840), um dos mais hábeis teólogos da Escola da Nova


Inglaterra, diz (Sermons, Vol. 3., págs. 3-67) - (1) “A justificação, no sentido do
evangelho, não significa nem mais nem menos que o perdão ou remissão dos
pecados”. (2) “Perdão é o único favor que Deus concede aos homens por amor
de Cristo”. (3) “A plena ou final justificação dos crentes, ou o seu direito à
herança eterna, é condicional. E necessário que eles façam certas coisas, que Ele
especificou como termos ou condições, cumprindo os quais eles podem tomar
posse dos seus diversos legados”. (4) “Deus com efeito promete a vida eterna a
todos os que obedecem a Seus mandamentos ou exercem os santos e benévolos
afetos que os Seus mandamentos exigem”.

31. Como a teoria arminiana modifica a doutrina da justificação quanto à


natureza e ao desígnio da satisfação dada por Cristo?

Os arminianos sustentam - Io. Quanto à natureza da satisfação dada por Cristo, a


qual, posto que fosse uma propiciação real feita a nosso favor atendendo à
justiça, a rigor não foi perfeita, no que diz respeito à justiça, mas foi aceita por
Deus, por Sua graça, e como tal foi tratada por Deus -

Limborch, Apol. Theol., 3, 22, 5. 2o. Que essa satisfação não foi estritamente a
substituição dos eleitos por Cristo, mas antes, que Ele sofreu a ira de Deus a
favor de todos os homens, a fim de fazer com que fosse compatível com a
justiça, para que Deus pudesse oferecer a salvação a todos os homens sob
a condição da fé.
Consideram, pois, a justificação como um ato soberano e não judicial - Io. Em
aceitar Deus os sofrimentos de Cristo como suficientes para habilitá-10, sem
quebra das Suas perfeições, a oferecer aos homens a salvação sob condições
da nova aliança de graça, isto é, a condição da fé. 2o. Em imputar ao crente a sua
fé como justiça, por amor de Cristo.

Esta fé, segundo eles - Io. Inclui obediência evangélica, isto é, o inteiro princípio
de religião no coração e na vida. 2o. Eles a consideram mais como a base
admitida pela graça, do que como simplesmente o meio de justificação, sendo a
fé imputada como justiça, pela qual Cristo morreu - Limborch, Theol. Christ.,
6:4, 22 e 6: 4, 26.

Essa teoria (arminiana) tem contra si todos os argumentos que acima


apresentamos estabelecendo a doutrina ortodoxa, mas além disso labora sob as
seguintes objeções - '

Ia. Ela deixa de tornar claro como é que a satisfação dada por Cristo tornou
compatível com a justiça divina que os homens sejam salvos sob a condição da
fé. Se Cristo não obedeceu nem sofreu estritamente como o Substituto de
Seu povo, é difícil entender como, quanto ao que lhes diz respeito, a justiça de
Deus poderia ser aplacada; e se se disser que Ele realmente cumpriu assim em
seu lugar as exigências da justiça, isto será admitir a teoria ortodoxa, acima
exposta.

2a. Ela deixa de tornar clara a relação da fé com a justificação - (1) Porque a fé
em Cristo, incluindo a confiança, necessariamente implica que os méritos de
Cristo, nos quais se deposita finalmente a confiança, constituem o
fundamento da justificação. (2) A fé deve ser ou o fundamento ou simplesmente
o meio da justificação. Se é o meio, a justiça de

Cristo, que é o objeto da fé, é o fundamento. Todavia se a fé é o fundamento,


onde ficam os méritos de Cristo em que a fé se baseia?

32. Como definem os católicos a justificação?

Eles a confundem com a santificação. Para eles, é, Io. perdão dos pecados, 2o. a
remoção do pecado inerente, por amor de Cristo, e 3o. a infusão positiva da
graça.
A respeito desta justificação ensinam que a causa final é a glória de Deus e a
vida eterna. A causa eficiente é o poder do Espírito Santo. A causa meritória é a
obra realizada por Cristo. A causa instrumental é o batismo. A causa formal é a
influência da graça, pela qual nós não só nos tornamos justos no sentido forense,
mas também inerentemente -Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 7.

A fé, em sua relação com a justificação, eles definem como o princípio da


salvação humana, fonte e raiz de toda a justificação, isto é, da vida espiritual.
Sustentam, por conseguinte, que a justificação é progressiva e que, depois de
receber o homem uma nova natureza e o perdão e a remoção dos pecados no
batismo, é necessário levar avante a obra pelo exercício da graça implantada, isto
é, pela prática de boas obras. Confundindo eles a justificação com a santificação,
negam necessariamente que os homens seja justificados pela imputação
da justiça de Cristo, ou somente pela fé, sem obras - Cone. de Trento, Sess. 6,
Cans. 9 e 11, “De Justificatione”.

Eles admitem que a justificação é inteiramente gratuita, isto é, que vem só da


misericórdia de Deus, e por amor dos méritos de Jesus Cristo, por não terem
merecimento algum nem os exercícios espirituais, nem as obras dos
homens, praticadas antes da sua justificação - Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 7.
Deve-se distinguir cuidadosamente entre (a) aquilo que no caso de um adulto o
prepara para a justificação, (b) a realização da justificação em primeira instância,
(c) sua subseqüente realização progressiva no adiantamento da alma

beneficiada pela graça na justificação para a perfeição, e (d) a restauração do


cristão batizado a um estado de graça depois de ter voltado para o pecado.

Veja:

Io. A preparação do pecador para a justificação procede da graça preveniente de


Deus, sem nenhum merecimento da parte do preparando. Essa graça, operando
pelo ato de ouvir a Palavra, conduz à convicção do pecado, ao arrependimento,
à apreensão da misericórdia de Deus em Cristo, (à igreja), e assim à
determinação de receber o batismo e levar vida nova - Cone. de Trento, Sess. 6,
Caps. 5 e 6. '

2o. A justificação efetiva do pecador é a infusão de hábitos mediante a graça,


depois de haver sido limpo da corrupção do pecado pelo poder de Deus, por
amor dos méritos de Cristo, por meio do batismo, que produz seus efeitos em
virtude de uma energia inerente a ele, segundo a sua instituição por Deus. Depois
disso, estando removido o pecado inerente, a remissão da culpa segue-se
necessariamente como seu efeito imediato. Culpa é a relação do pecado com a
justiça de Deus. Sendo removida a causa (o pecado), a relação deixa de existir
ipso facto-Belarmino, De Amiss. Gratia etc., v: 7.

3o. Tendo sido justificado assim e tendo sido feito amigo de Deus, o cristão vai
adiante, de virtude em virtude, e é renovado dia a dia mediante a observância dos
mandamentos de Deus e da igreja (católica), cooperando a fé com as boas obras,
tornadas possíveis então em virtude da prévia justificação, e merecendo elas
realmente, e recebendo como sua justa recompensa, aumento de graça e
justificação cada vez mais perfeita. A primeira justificação do pecador foi por
amor de Cristo, sem nenhuma cooperação de seu próprio merecimento, mas com
o consentimento da sua vontade. A sua segunda justificação, ou a justificação
continuada e aumentando sempre, é por amor de Cristo, por meio e à proporção
do seu próprio merecimento, e este merece aumento de graça e aceitação
à medida (a) da sua santidade pessoal, e (b) da sua obediência às

regras eclesiásticas -Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 10 e Can. 32.

4o. No caso dos que pecaram, depois de justificados, a graça perdida da


justificação é restaurada, por amor de Cristo, mediante o sacramento da
penitência, provido como segunda tábua para aqueles em quem a graça
naufragou. Esta penitência inclui (a) pesar pelo pecado, (b) confissão feita a um
sacerdote da respectiva jurisdição, (c) absolvição sacerdotal, (d)
satisfação, constando de esmolas, jejuns, etc., e se esta satisfação não for toda
dada nesta vida, completar-se-á nas chamas do purgatório. Todas estas
satisfações, terrenas e purgatoriais, são satisfações meritórias dadas à justiça
divina, cancelam os castigos temporais devidos pelos pecados em cuja remissão
se penitenciam, e cujo castigo eterno já foi perdoado gratuitamente, ou no
próprio sacramento ou no sincero desejo de participar dele - Cone. de Trento,
Sess. 6, Caps. 14 e 16, Can. 30, e Sess. 14, Caps. 1 a 9.

33. Quais os pontos de diferença entre os protestantes e os católicos a respeito


de toda esta questão?

Io. Quanto à natureza da justificação. Nós a consideramos como um ato judicial


de Deus, declarando que o crente é justo, em termos forenses, com base na
justiça de Cristo, que é feita justiça dele por imputação. Os romanistas a
consideram como a infusão da graça inerente.

2o. Quanto à sua base meritória. Eles, como nós, dizem que são os méritos de
Cristo. Mas nós dizemos que esses méritos se tornam nossos por imputação, por
meio da fé; e eles dizem que se tornam nossos pela santificação.

3o. Quanto à natureza e ao ofício da fé. Nós dizemos que é o meio da


justificação; eles, que é o seu princípio e a sua raiz.

4o. Eles dizem que a justificação é progressiva.

5o. Dizem também que a podemos perder cometendo algum pecado mortal, e
que ela pode ser recobrada e aumentada mediante o sacramento da penitência, e
que será aperfeiçoada no purgatório. Veja acima, Cap. 32, sobre
“O Arrependimento e a Penitência”.

34. Quais os principais argumentos contra a teoria romanista sobre este


assunto?

Io. A doutrina católico-romana é toda confusa. (1) Ela confunde numa só


definição duas coisas inteiramente distintas, a saber, a nossa remissão forense da
condenação que merecem os pecados, com a nossa purificação do pecado
inerente, e a nossa introdução num estado em que, em conseqüência da
Sua aliança com Cristo, gozamos do favor de Deus, com a infusão da graça
inerente. (2) Deixa de dar uma explicação satisfatória da maneira pela qual o
mérito de Cristo nos propicia a justiça divina.

2o. A definição católico-romana é refutada por todas as provas acima


apresentadas de que os termos “justificação” e “justiça” são empregados nas
Escrituras em sentido forense.

3o. Essa teoria, dizendo que a nossa graça inerente, operada pelo Espírito Santo,
por amor de Cristo, é a base, o motivo, de sermos aceitos por Deus, subverte o
evangelho todo. E da própria essência do evangelho que a base da nossa
aceitação por parte do Pai seja a obra medianeira do Filho, sendo que Ele, e não
a nossa graça inerente, é o fim da Lei para a justiça em nosso favor.

4o. A teoria romanista do merecimento das obras praticadas por nós, mediante a
graça divina, depois do batismo, não condiz com aquilo que as Escrituras e a
própria igreja católica romana ensinam a respeito do pecado e da culpa originais,
e a respeito da gratuidade essencial da salvação operada por Cristo. O próprio
Tomás de Aquino diz (Summa, Quaes. 114, Art. 5): “Se a graça for tomada no
sentido de um dom gratuito, todo o merecimento será excluído pela
graça”. Logo, cai por terra todo o sistema papal de justificação.

5o. E legal em seu espírito e em seu método, e assim, ou induz ao orgulho


espiritual ou ao desespero, mas nunca pode nutrir a verdadeira e segura
confiança evangélica, que é ao mesmo tempo humilde e inabalável.

6o. As Escrituras declaram que Deus, por causa dos méritos

de Cristo, justifica o crente em sua condição de ímpio, e não de santificado.


Certamente não poderia haver necessidade de uma propiciação para que Deus Se
tornasse justo e ao mesmo tempo santificador dos ímpios - Rom. 4:5.

7o. As expressões imputar, contar como ou pôr pecado ou justiça são


compatíveis absoluta e unicamente com uma interpretação forense. Imputar
justiça sem obras no sentido forense, é visto como racional no capítulo 4 da
Epístola aos Romanos. Imputar graça inerente sem obras é absurdo.

8o. A definição romanista é refutada por todos os argumentos que estabelecem a


verdadeira teoria a respeito da natureza e do ofício da fé justificadora. Veja
acima, Pergs. 21-23.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Para a exposição sobre a natureza, a


base e os meios da justificação, ver acima, no Cap. 29. Para a exposição sobre a
doutrina romanista das boas obras e das obras de supererrogação, veja
abaixo, no Cap. 35, e ver o que é dito sobre a doutrina da penitência no Cap.
32.

Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 8 - “Diz-se que somos justificados pela fé porque a
fé é o princípio da salvação dos homens, e o fundamento e a raiz de toda a
justificação”.

Ib., Can. 23. - “Se alguém disser que o homem, uma vez justificado, não pode
pecar mais, nem perder a graça; e por isso aquele que cai e peca nunca fora
verdadeiramente justificado; ou se, ao contrário, disser que o homem
pode durante toda a vida evitar todos os pecados, ainda os veniais, salvo por
especial privilégio, como da bem-aventurada virgem Maria entende a
igreja: seja anátema”. Can. 24: “Se alguém disser que a justiça recebida não
se conserva, nem também aumenta para com Deus pelas boas obras; mas
que as boas obras somente são frutos e sinais da justificação que se
alcançou: seja anátema”. Can. 29:

“Se alguém disser que aquele que caiu depois do batismo,

não pode levantar-se com a graça de Deus; ou que na verdade pode, mas que
com a fé somente recupera a justiça que perdera, sem o sacramento da
penitência... seja anátema”. Can. 30: “Se alguém disser que, depois de recebida a
graça da justificação, a qualquer pecador penitente é perdoada a culpa, e a
punição eterna é apagada, de tal modo que não lhe fica nenhum resquício de
pena temporal a ser paga, ou neste século ou no futuro, no purgatório, antes de
poder entrar no reino do céu: seja anátema”. Can. 32: “Se alguém disser que as
boas obras do homem justificado de tal modo são dons de Deus que não são
também bons merecimentos do mesmo justificado; ou que este, com as boas
obras que pratica, pela graça de Deus e pelos méritos de Jesus Cristo, de
Quem ele é um membro vivo, não merece verdadeiramente aumento de graça, a
vida eterna e, se morrer em graça, a consecução da mesma vida eterna e aumento
de glória: seja anátema”.

Belarmino, “De Justificatione”, 5, 1: “A opinião comum de todos os católicos


sustenta que todas as boas obras das pessoas justificadas são verdadeira e
propriamente meritórias, e não somente merecem alguma recompensa, mas a
própria vida eterna”. 4, 7. - “Dizemos que as boas obras são necessárias ao
homem justificado para a sua salvação, não só de modo que estejam presentes,
mas também porque são eficazes; porque elas efetuam a salvação, e sem elas a fé
não a efetua”. Ib.5,5: “Os méritos das pessoas justificadas não estão opostos aos
de Cristo, porém têm nestes a sua origem, e todo o louvor que mereçam os
merecimentos dos justificados, redunda inteiramente no louvor dos
merecimentos de Cristo”.

DOUTRINA LUTERANA - Apologia Confessionis -“Justificar significa neste


lugar (Rom. 5:1) absolver, em sentido forense, uma pessoa acusada e declará-la
justa, mas por causa da justiça de outrem, isto é, de Cristo; sendo que esta justiça
de outrem é lançada em nossa conta mediante a fé”.
Form. Concordice (Edição de Hase), pág. 685: “Nesta

transação o termo justificação significa declarar justos, absolver dos pecados e


do castigo eterno os pecadores, por causa da justiça de Cristo, que é imputada
por Deus à fé”. Ib., pág. 684: “O homem pecador pode ser justificado diante de
Deus... sem nenhum merecimento nosso, e independentemente de quaisquer
obras, precedendo ou acompanhando a mera graça de Deus ou desta
decorrendo”. Ib., pág. 584: “Confessamos que unicamente a fé é o meio ou
instrumento com que apreendemos a Cristo, nosso Salvador e, em Cristo, aquela
justiça que pode suportar o juízo de Deus”. Ib., pág. 689: “Nem o
arrependimento, nem o amor, nem outra virtude qualquer, mas sim somente a fé
é o único meio e instrumento com que somos capazes de apreender e aceitar a
graça de Deus, os méritos de Cristo e a remissão dos pecados”.

DOUTRINA REFORMADA -Conf. de Fé, de Westminster, Cap. 11.

Cat. de Heidelberg, Perg. 60: “Todavia, posso agora aceitar todos esses
benefícios com verdadeira ousadia de espírito; sem nenhum merecimento meu,
somente da graça de Deus, a perfeita satisfação, justiça e santidade de Cristo me
são imputadas e dadas como se eu mesmo nunca houvesse pecado ou me
houvesse manchado; sim, como se eu mesmo tivesse prestado essa perfeita
obediência que Cristo prestou por mim”.

DOUTRINA REMONSTRANTE - Limborch, Christ. Theol., 6: 4, 22:


“Entenda-se que, quando dizemos que somos justificados pela fé, não excluímos
as obras, que a fé exige e, como mãe prolífica, produz, mas nós as incluímos...
nem se deve entender pela fé uma mera fé, em contrastante distinção das obras
que a fé produz, e sim, junto com a fé, toda aquela obediência que
Deus prescreve no Novo Testamento, e que é suprida pela fé em Jesus Cristo...”
pág. 31. Mas a fé é a condição em nós e de nós exigida para que obtenhamos a
justificação. E, pois, um ato que, quando considerado em si mesmo, de modo
algum é perfeito, e sim defeituoso em muitos aspectos; todavia, é aceito gratuita
e livremente por Deus

como completo e perfeito, e por causa dela Deus dá gratuitamente a remissão


dos pecados e a recompensa da vida eterna...” pág. 29. O objeto da fé
(justificadora) declaramos que Jesus Cristo é, em toda a Sua Pessoa,
como Profeta, Sacerdote e Rei; não somente a Sua propiciação, mas também os
Seus preceitos, promessas e ameaças; por ela, pois, aceitamos o Cristo integral,
Sua Palavra e todos os Seus benefícios salvadores”.

DOUTRINA SOCINIANA - Cat. Racoviano, Sec. 5, Cap. 9: “A fé que é de per


si acompanhada da salvação é um tal assentimento à doutrina de Cristo que a
aplicamos ao seu objeto apropriado; isto é, que confiamos em Deus por Cristo e
nos entregamos inteiramente à obediência à Sua vontade, alcançando assim as
Suas promessas... Se, quando a vida tem continuidade depois do reconhecimento
de Cristo, a piedade e a obediência são exigidas como indispensáveis para a
salvação, é necessário que a fé, à qual só e verdadeiramente é atribuída a
salvação, compreenda a obediência...”. Ib., Cap. 2: “Somos justificados quando
Deus nos considera como justos, ou quando nos trata como se fôssemos
inteiramente justos e inocentes. Isso Ele faz na Nova Aliança, perdoando os
nossos pecados e outorgando-nos a vida eterna”.

A Adoção e a Ordem Observada pela Graça na Aplicação da


Redenção, nas Diversas Partes da Justificação, da Regeneração e
da Santificação
1. A que classes de criaturas é aplicada a expressão “filhos de Deus” nas
Escrituras, e por quais motivos se faz essa aplicação?

Io. No singular é aplicado em sentido superior e incomunicável unicamente à


Segunda Pessoa da Trindade.

2o. No plural, aos anjos, (1) porque são as criaturas favorecidas de Deus, (2)
porque, como inteligências santas, são semelhantes a Ele- Jó 1:6; 38:7.

3o. Aos magistrados entre os homens, porque possuem autoridade delegada por
Deus, e a esse respeito se Lhe assemelham - Sal. 82:1,6.

4o. Aos homens que foram objetos da adoção divina.

Essa adoção, e o estado de filhos que é sua conseqüência, é dupla, (1) geral e
externa, Êx. 42:2; Rom. 9:4; (2) especial, espiritual e imortal - Gál. 4:4,5; Ef.
1:4-6.

2. Que é a adoção que os crentes têm em Cristo, e qual a relação que a idéia
representada por essa palavra nas Escrituras tem com as idéias representadas
pelos termos justificação, regeneração e santificação?
Turretino faz da adoção uma parte integrante da justificação. Diz ele que na
execução da aliança da graça, Deus

soberanamente imputa aos eleitos, quando primeiro crêem, a justiça de Cristo,


que foi o cumprimento de toda a Lei e, por isso, a base legal, sob a aliança das
obras, a fim de obter para o Seu povo tanto a remissão da pena como o direito
legal a todas as promessas que dependem da obediência. Fundado
nesta imputação soberana, Deus declara judicialmente que a Lei, em suas
relações federais, foi cumprida perfeitamente a respeito deles e, por outro lado,
justifica-os, o que envolve duas classes de bênçãos, Ia. a remissão da pena
merecida por seus pecados, e 2a. a concessão de todos os direitos e relações que
resultam do cumprimento positivo, da parte de Cristo e a favor dos eleitos, da
aliança das obras. Esta segunda parte integrante da justificação Turretino chama
adoção, e isso concorda essencialmente com a definição de adoção dada em
nossa Confissão de Fé, Cap. 12, no Cat. Maior, Perg. 74, e no Breve Cat.,
Perg. 34 - Turretino, L. 16, Pergs. 4 e 6.

O grande Amésio (f 1633), em sua Medulla Theologica, Cap. 28, representa a


adoção como uma nova graça, mais adiantada que a justificação, e não como um
dos seus elementos: a sentença de Deus, baseada em Sua graça, na qual o
crente, tendo sido justificado, é recebido por amor de Cristo para a relação e os
direitos de filho.

A nós, porém, nos parece que as palavras “adoção” e “estado de filhos”, como
empregadas nas Escrituras, exprimem mais do que uma mudança de relação, e
que uma concepção mais adequada delas é a de que elas exprimem uma idéia
complexa, incluindo a mudança da natureza junto com a da relação e mostrando-
nos o que é a nova criatura em suas novas relações.

No instante em que um pecador é unido a Cristo no exercício da fé, operam-se


nele simultânea e inseparavelmente, Io. uma mudança radical em sua relação
com Deus e com a Lei como uma aliança; 2o. uma mudança em seu estado
interior, ou em sua natureza. Esta mudança de relação é chamada justificação. A
REGENERAÇÃO é um ato de Deus no qual uma

nova criação dá origem a uma nova vida espiritual no coração do regenerado. O


primeiro ato e o imediato dessa nova criatura, depois da sua regeneração, é FÉ,
ou seja, a aceitação genuína e confiante da Pessoa e obra de Cristo. Quando
então a pessoa regenerada exerce fé, segue-se a JUSTIFICAÇÃO como ato
imediato de Deus, com base naquela justiça perfeita que a fé habilitou o pecador
a apreender, e Deus o declara livre de toda a condenação e com direito a todas as
relações e benefícios prometidos na aliança que Cristo cumpriu a seu favor.
A SANTIFICAÇÃO é o crescimento progressivo para a maturidade
aperfeiçoada da nova vida implantada na regeneração. A ADOÇÃO apresenta a
nova criatura em suas novas relações, exercendo-as de todo o sen coração,
desenvolvendo sna nova vida no meio de uma família congenial, cercada de
relações que promovam o seu crescimento e a coroem com abem--aventurança.
A justificação é tão-somente um ato forense, e só diz respeito a relações,
imunidades e direitos. A regeneração e a santificação são obras totalmente
morais e espirituais, e só dizem respeito a qualidades e estados inerentes. A
adoção compreende a condição complexa do crente ao mesmo tempo como
regenerado e como justificado.

3. Qual é a ordem da graça na aplicação da redenção?

Io. Os dois princípios que fundamentalmente caracterizam a soteriologia


protestante são -

(1) A clara distinção entre a mudança de relação, chamada justificação, e a


mudança de caráter, chamada regeneração e santificação.

(2) O fato de que a mudança de relação, a remissão da pena e a restauração ao


favor de Deus, envolvida na justificação, necessariamente precede e torna
possível a real mudança moral chamada regeneração e santificação. Enquanto
permanece a condenação judicial, não há lugar para o exercício da graça.
E preciso que a remissão da pena preceda à operação do Espírito. Somos
perdoados para que sejamos bons, e nunca somos

tornados bons para que sejamos perdoados. !;fn;J

f “É evidente que era necessário que Deus mesmo já fosse [ em secreto


favoravelmente disposto, por Sua graça, para com o homem, e que já o tivesse
perdoadoforurn divinum, por amor de Cristo e da Sua relação com a natureza
humana, para que lhe pudesse conceder o dom da regeneração. De
fato, considerada a regeneração como actus Dei forensis, havia necessidade de
que fosse considerada como existindo já antes do homem ser cônscio dela, e até
já antes da sua fé” - Dr. J. A. Dorner, Hist. Prot. Theology, Vol. 2, págs. 156,
160.
2o. Daí vem o aparente círculo (vicioso) na ordem da graça. Diz-se que a justiça
de Cristo é imputada ao crente, e ao mesmo tempo que a justificação é pela fé.
Mas a fé é ato da alma regenerada, e a regeneração é somente possível no caso
da alma já reconciliada com Deus pela aplicação da satisfação prestada por
Cristo.

Assim, a satisfação e os méritos de Cristo são a causa antecedente da


regeneração e, por outro lado, a participação do crente na satisfação e nos
méritos de Cristo (sua justificação), tem como condição sua fé, que é um efeito
da regeneração. É necessário que tenhamos parte em Cristo, para que
sejamos regenerados, a fim de que tenhamos parte nEle para alcançar
a justificação.

Não se trata de ordem cronológica, porque a regeneração e a justificação são atos


da graça de Deus absolutamente sincrônicos. A questão versa somente sobre a
verdadeira ordem das causas: seria imputada a nós a justiça de Cristo para
que possamos crer, ou ela nos é imputada porque cremos? Seria a justificação
um juízo analítico, no sentido de que o homem é justificado como crente, apesar
de ser pecador, ou seria ela um juízo sintético, no sentido de que esse pecador é
justificado por amor de Cristo?

3o. A solução acha-se no fato de que Cristo impetrou que a Sua salvação e todos
os seus meios, condições e passos, fossem aplicados aos “Seus”, e que isso se
fez em conseqüência de

uma aliança em que Ele entrou com o Pai e na qual se providenciou que a
redenção fosse aplicada a pessoas específicas em certos tempos e debaixo de
certas condições. A relação em que, desde o seu nascimento, uma pessoa eleita
está com Adão, o pecado e a condenação, é exatamente a mesma em que
estão todos os demais homens. Mas a sua relação com a satisfação e com os
méritos de Cristo, como também com as graças que tudo isso outorga, é análoga
à de um herdeiro com a herança que lhe é legada num testamento. Enquanto o
herdeiro é menor, o testamento dá-lhe de jure o direito em princípio à herança.
Para prepará-lo para ela, o próprio testamento faz provisão para a sua educação,
a expensas da herança; determina quais os pagamentos em prestações que os
executores do testamento lhe devem fazer; determina em certo sentido a
sua condição atual como herdeiro em perspectiva; e determina quando e sob que
condições se lhe pode entregar a posse absoluta da propriedade. Ele possui
certos direitos e goza de certos benefícios desde o princípio; mas tem os direitos
e os poderes absolutos de proprietário somente quando chega à idade própria e
cumpre as condições prescritas no testamento. E assim também que os méritos
de Cristo são imputados ao herdeiro eleito desde o seu nascimento, até onde eles
constituem a base para o tratamento que pela graça lhe é dado como preparação
para a sua plena posse.

Os teólogos protestantes dizem que a justificação é o ato final de Deus como


Juiz, pelo qual Ele declara que o herdeiro está de plena posse dos direitos à sua
herança, e que, daí por diante, ele deve ser reconhecido e tratado como herdeiro
de posse, ainda que a consumação do ato de dar-lhe posse só seja efetuada no dia
da ressurreição. Cristo e Sua justiça não são dados ao crente por causa da sua fé.
Ela é a cônscia e confiante aceitação daquilo que já lhe foi dado. O nosso
Breve Catecismo diz, Perg. 33: “A justificação é um ato da livre graça de Deus,
no qual Ele perdoa todos os nossos pecados, e nos aceita como justos diante
dEle, unicamente pela justiça de

Cristo (1) imputada a nós e (2) aceita somente pela fé”.

A regeneração e, por conseguinte, a fé são operadas em nós por amor de Cristo e


como resultado que tem por condição uma prévia imputação da Sua justiça para
este fim. A justificação sobrevêm à fé e implica uma tal imputação da justiça de
Cristo que ela efetua uma mudança radical e permanente nas relações do
justificado com a lei como condição de vida.

4. Segundo as Escrituras, que é que se acha envolvido no fato de alguém ser


filho de Deus por essa adoção? ' - -

Io. Natureza derivada de Deus - João 1:13; Tia. 1:18; 1 João 5:18.

2o. O renascer à imagem de Deus, à Sua semelhança -Rom. 8:29; 2 Cor. 3:18;
Col. 3:10; 2 Ped. 1:4.

3o. O fato de trazer o Seu nome - 1 João 3:1; Apoc. 2:17; 3:12.

4o. O serem objetos do Seu amor peculiar - João 17:23; Rom. 5:5-8; Tito 3:4; 1
João 4:7-11.

5o. A habitação em nós do Espírito de Seu Filho (Gál. 4:5,6), que forma em nós
um espírito filial, ou um espírito que convém aos filhos de Deus, obediente, 1
Ped. 1:14; 2 João 6; livre do sentimento de culpa, do cativeiro da Lei, do medo
da morte, Rom. 8:15,21; 2 Cor. 3:17; Gál. 5:1; Heb. 2:15; 1 João 5:14; e elevado
por uma confiança santa a uma dignidade real, Heb. 10:19,22; 1 Ped. 2:9; 4:14.

6o. Proteção, consolações e abundantes provisões presentes - Sal. 125:2; Is.


66:13; Luc. 12:27-32; João 14:18; 1 Cor. 8:21-23; 2 Cor. 1:4.

7o. Correções paternais presentes, incluindo aflições temporais e espirituais- Sal.


51:11,12; Heb. 12:5-11.

8o. A segura herança das riquezas da glória de nosso Pai, como herdeiros de
Deus e co-herdeiros com Cristo, Rom. 8:17; Tia. 2:5; 1 Ped. 1:4; 3:7; inclusive a
exaltação de nossos corpos para comunhão com Ele - Rom. 8:23; Fil. 3:21.

5. Qual a relação âas três Pessoas da Trindade com esta adoção, e em que
relação ela nos introduz com cada uma das três Pessoas respectivamente?

Esta adoção procede do eterno propósito do Pai, em consideração aos méritos do


Filho e é efetuada pela operação eficaz do Espírito Santo - João 1:12,13; Gál.
4:5,6; Tito 3:5,6. Por ela Deus o Pai torna-Se nosso Pai, o Deus-
homem encarnado torna-Se nosso irmão mais velho, e nós nos tornamos - (1)
semelhantes a Ele; (2) intimamente associados com Ele em comunidade de vida,
posição, relações e privilégios; (3) co-herdeiros com Ele da Sua glória -Rom.
8:17,29; Heb. 2:17; 4:15. O Espírito Santo mora em nós como Mestre,
Guia, Advogado, Consolador e Santificador. Todos os crentes recebem a mesma
adoção e, por conseguinte, são todos irmãos -Ef. 3;6; 1 João 3:14; 5:1.
i\r- >.
A Santificação

1. Qual o sentido que as palavras hágios, santo, e hagiázein, santificar, têm


nas Escrituras?

O verbo hagiázein é empregado em dois sentidos diferentes no Novo


Testamento:

Io. No de tornar limpo, física ou moralmente. (1) Purificação cerimonial - Heb.


9:13; (2) Tornar limpo em sentido moral - 1 Cor. 6:11; Heb. 13:12. Por isso as
palavras “os santificados” significam o mesmo que crentes - 1 Cor. 1:2.

2o. Separar de um uso comum para um uso sagrado; consagrar. (1) dito de coisas,
Mat. 23:17; (2) dito de pessoas, João 10:36; (3) ter e venerar como santo, Mat.
6:9; 1 Ped. 3:15.

Hágios, como adjetivo,limpo, puro, santo; como substantivo, o santo, é também


empregado em dois sentidos diferentes, correspondendo aos do verbo:

Io. Puro, limpo: (1) cerimonialmente, Mat. 24:15; Heb. 9:1, (2) moralmente, Ef.
1:4; (3) como substantivo, os santos, os santificados, Rom. 1:7; 8:27.

2o. Consagrado, devotado - Mat. 4:5; Atos 6:13; 21:28; Heb. 9:3. Esta palavra é
empregada também em louvor a Deus -João 17:11; Apoc. 4:8.

2. Quais as diferentes opiniões sustentadas a respeito da natureza da


santificação?

Ia. Os pelagianos, negando o pecado original e a incapacidade moral do homem,


e sustentando que o pecado pode ser

tido como predicado de atos da vontade, somente, e não de estados ou


disposições inerentes, consideram, por conseguinte, a santificação apenas como
uma reforma moral da vida e dos costumes, operada sob a influência da verdade
pelo próprio pecador no uso da sua força natural.

2a. Os defensores do “modelo de exercícios” (exercise scheme) afirmam que


nada podemos achar na alma além de um agente ou autor e seus exercícios. A
regeneração, portanto, nada mais é que a cessação de uma série de exercícios
maus e a inauguração de uma série de exercícios santos. Uma facção,
representada pelo Dr. Emmons, afirma que Deus efetua imediatamente
estes exercícios santos. Outra facção, representada pelo Dr. Taylor, de New
Haven, declarou que é o próprio homem que determina o caráter dos seus
exercícios pessoais, escolhendo a Deus como o seu bem supremo e tendo o
auxílio do Espírito Santo de uma maneira não explicada. Veja acima, Cap.29,
Pergs. 5 e 6.

3a. Muitos membros da Igreja Anglicana, em distinção do seu segmento


evangélico, sustentam que, quando um homem se conforma com a igreja, o que
constitui a condição da aliança evangélica é introduzido no uso de todos
os benefícios dessa aliança, e, se cumprir decentemente os seus deveres relativos
e participar das ordenanças, ficará habilitado a fazer tudo o que se exige dele
atualmente, e conseguirá toda a bondade moral que é possível ou desejável no
presente.

4a. A doutrina ortodoxa é que o Espírito Santo, por Suas influências constantes
sobre a alma, em todas a suas faculdades, por meio da verdade, nutre, exerce e
desenvolve os princípios e as disposições santas que implantou por ocasião do
novo nascimento, até que, sendo mortificadas e extirpadas as disposições
pecaminosas e plenamente desenvolvidas as disposições santas, num progresso
constante, o objeto desta graça alcança imediatamente após a morte a medida da
estatura de homem perfeito em Cristo - Conf. de Fé, Cap. 13; Cat. Maior, Perg.
75; Breve Cat., Perg. 35.

3. Como se pode mostrar que a santificação envolve mais que

mera reforma? - v *

Veja acima, Cap.29, Perg. 12. *. ■ "

4. Como se pode mostrar que a santificação envolve mais que a produção de


santos exercícios?

Veja acima, Cap.29, Pergs. 7-10.

Além dos argumentos apresentados no capítulo acima referido, podemos


estabelecer esta verdade pela evidência contida nas passagens das Escrituras que
distinguem entre a mudança operada no coração e os efeitos que ela produz
na vida-Mat. 12:33-35; Luc. 6:43-45. -

5. Qual a relação da santificação com a regeneração?

A regeneração é um ato criador do Espírito Santo, implantando na alma um novo


princípio de vida espiritual. A conversão é o primeiro exercício desse novo
princípio originado pela graça, voltando-se o pecador renascido
espontaneamente para Deus. A santificação é a obra realizada
constantemente pelo Espírito Santo pela qual Ele sustenta e
desenvolve espiritualmente o regenerado, sujeitando todas as faculdades da alma
cada vez mais perfeitamente à influência purificadora e reguladora do princípio
de vida espiritual implantado.

6. Qual a relação recíproca da justificação e da santificação?

Na ordem da natureza, a regeneração precede à justificação;

quanto ao tempo, porém, são sempre e necessariamente concomitantes. No


mesmo momento em que Deus regenera um pecador, o pecador exerce fé em
Cristo; e no mesmo momento em que exerce fé em Cristo, é regenerado, e a
santificação, que é a obra pela qual é levado adiante e aperfeiçoado aquilo que
tem por começo a regeneração, é efetuada sob as condições daquelas novas
relações nas quais o pecador é introduzido pela justificação. Nela somos
libertados das conseqüências penais do pecado e introduzidos num tal estado

de reconciliação com Deus e comunhão com o Espírito Santo, que ficamos


emancipados da escravidão e do temor legal, e revestidos daquele espírito de
confiança e amor filiais que é o princípio essencial de toda obediência aceitável.
Além disso, somos justificados em virtude da nossa união federal com Cristo
pela fé, que é a base daquela união viva e espiritual da alma com Ele - da qual
procede a nossa santificação. Veja acima, Cap.31, Perg. 3.

7. Como se pode mostrar que esta obra se estende a todo o


homem, integralmente, ou seja, à inteligência, à vontade e aos afetos?

A alma é uma unidade, uma e a mesma autora ou agente pensando, sentindo e


decidindo. Um homem não pode amar algo se não percebe que é merecedor do
seu amor, nem pode perceber a beleza, quer natural quer moral, que não
seja congenial com o seu coração. Sua natureza está por inteiro depravada, Io.
cega e insensível para a beleza espiritual; 2o. adversa ao bem moral, nas
disposições dominantes da vontade, e por isso é desobediente. A ordem em que
as faculdades operam é a seguinte: a inteligência percebe as qualidades do objeto
que ocupa a atenção; o coração ama as qualidades que lhe são congeniais; a
vontade escolhe aquilo que é amado.

Isso fica provado: Io. Pela experiência. A medida que o espírito se torna mais
depravado, torna-se também mais insensível à luz espiritual. Por outro lado, à
medida que os olhos percebem mais e mais claramente a beleza da
verdade, tanto mais vivos se tornam os afetos e mais obediente a vontade.

2o. Pelo testemunho das Escrituras. Por natureza o homem todo está depravado.
A inteligência está obscurecida e os afetos e a vontade estão pervertidos - Ef.
4:18.

Sendo assim, é evidente que a santificação só pode estender-se à natureza inteira


do homem.

Io. Pela necessidade do caso.

2o. Pelo testemunho das Escrituras - Rom. 6:13; 2 Cor. 4:6; Ef. 1:18; Col. 3:10; 1
Tess. 5:23; 1 João 4:7.

8. Em que sentido é santificado o corpo?

Io. Como consagrado: (1) por ser templo do Espírito Santo, 1 Cor. 6:19; (2) por
ser membro de Cristo - 1 Cor. 6:15.

2o. Como santificado: sendo o corpo parte integrante da nossa pessoa, seus
instintos e apetites operam imediatamente sobre as paixões da alma, e, por isso, é
necessário que os sujeitemos à direção da alma santificada e que façamos
de todos os membros, como órgãos da alma, instrumentos de justiça para Deus -
Rom. 6:13; 1 Tess. 4:4. ■

3o. Nossos corpos hão de tornar-se semelhantes ao corpo glorificado de Cristo -


1 Cor. 15:44; Fil. 3:21.

9. A quem as Escrituras atribuem a obra de santificação?


10. Ao Pai - 1 Tess. 6:23; Heb. 13:21. ■

2o. Ao Filho - Ef. 5:25,26; Tito 2:14.

3o. Ao Espírito Santo - 1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13.

As três Pessoas da Trindade são sempre representadas como concorrendo em


todas as Suas operações externas, o Pai operando pelo Filho e pelo Espírito
Santo, e o Filho pelo Espírito. A obra de santificação é atribuída com
proeminência especial ao Espírito Santo porque Ele é nela o Autor ou
Agente imediato e porque esta é, em especial, Sua obra oficial no plano da
redenção.

10. Que nos ensinam as Escrituras a respeito da operação da verdade na obra


de santificação?

Todo o processo de santificação consiste no desenvolvimento e na confirmação


do novo princípio de vida espiritual implantado na alma por ocasião da
regeneração, e é dirigido pelo Espírito Santo de conformidade com a operação
das leis e dos hábitos de ação naturais da alma humana como autora ou agente
inteligente, moral e livre, e mediante a referida operação dessas leis e desses
hábitos. Assim como as faculdades naturais do corpo e do espírito, e os hábitos
naturais que modificam a ação dessas faculdades, são desenvolvidos pelo

exercício, assim também se dá com as graças cristãs, ou com os hábitos


espirituais, sendo as verdades do evangelho os objetos sobre os quais operam
essas graças e pelos quais elas são estimuladas e dirigidas. Assim, a sublime
beleza de Deus apresentada na verdade, que é imagem dEle, é objeto do
nosso amor satisfeito e prazeroso; Sua bondade, da nossa gratidão; Suas
promessas, da nossa confiança; Seus juízos, do nosso temor salutar; e Seus
mandamentos promovem em nós a obediência filial em suas diversas e
muitíssimas formas - João 17:19; 1 Ped. 1:22; 2:2; 2 Ped. 1:4; Tia. 1:18.

11. Que eficácia atribuem as Escrituras aos sacramentos (ordenanças) nesta


obra?

Io. A teoria mais simples é que os sacramentos apresentam a verdade aos olhos
de uma maneira muito viva, meramente como símbolos, e que são eficazes
somente como um modo de apresentar o evangelho objetivamente.
2o. A teoria do extremo oposto é que eles, por sua eficácia própria, comunicam
graça santificadora ex opere operato, “porque comunicam graça em virtude do
próprio ato sacramental, instituído por Deus para este mesmo fim, e não
pelo mérito do administrador (sacerdote), nem pelo de quem os recebe” -
Belarmino, De Sac., 2, 1.

3o. A teoria verdadeira é “que os sacramentos são meios eficazes de graça, não
só exibindo e sim realmente conferindo aos que os recebem dignamente, os
benefícios que eles representam”; todavia, esta eficácia não reside
propriamente neles, mas acompanha o seu uso devido em virtude da
divina instituição e promessa, mediante a operação do Espírito Santo que os
acompanha, e dependendo isso da fé daquele que os recebe, fé que, ao mesmo
tempo, é a condição e o meio de se receber o benefício - Mat. 3:11; Atos 2:41;
10:47; Rom. 6:3; 1 Cor. 12:13; Tito 3:5; 1 Ped. 3:21.

12. Na santificação, que ofício as Escrituras atribuem àfé?

Quanto ao número de ordem, a fé é a primeira graça

exercida pela alma depois de regenerada; quanto ao princípio, é a raiz de todas


as demais - Atos 15:9; 26:18. É o instrumento pelo qual obtemos a santificação.
Portanto...

Io. O de conseguir que se mude a relação do crente com Deus e com a Lei, como
a condição de obter a vida e o favor. Veja acima, Perg. 6.

2o. O de conseguir a união do crente com Cristo - 2 Cor. 13:5; Gál. 2:20; Col.
3:3.

3o. Por sua própria natureza a fé nos santifica, porque, em seu sentido mais lato,
a fé é aquele estado espiritual da alma em que ela tem comunhão viva e ativa
com a verdade espiritual. “Por esta fé o cristão crê que é verdadeiro tudo quanto
é revelado na Palavra, pela autoridade do próprio Deus falando nela; e atua
diferentemente, segundo aquilo que cada passagem dela contém; prestando
obediência aos mandamentos, tremendo às ameaças e aceitando as promessas de
Deus para esta vida e para a que há de vir - Conf de Fé, Cap.14, § 2.

13. Segundo as Escrituras, o que seria necessário para que uma obra seja
considerada boa?
Io. Que tenha como origem um bom motivo, isto é, que seja praticada por amor
ao caráter de Deus, por respeito à Sua autoridade e por zelo pela Sua glória; o
amor como fruto do Espírito, mesmo que não esteja sempre presente
conscientemente, todavia imperando como princípio permanente e dominante na
alma.

2o. Que esteja em consonância com a Sua Lei revelada -Deut. 12:32; Is. 1:11,12;
Col. 2:16-23.

14. Qual é a doutrina papal a respeito dos “conselhos de Cristo” que não se
acham incluídos nos preceitos positivos da Lei?

Os mandamentos positivos de Cristo são apresentados como obrigatórios a todas


as classes de cristãos de modo igual,

e sua observância como necessária à salvação. Seus conselhos, porém, obrigam


somente àqueles que, buscando um grau mais exaltado de perfeição e uma
recompensa mais excelente, assumem-nos voluntariamente. São tais como o
celibato, a pobreza voluntária, etc., e a obediência a regras (monásticas) -
Belarmino, De Monachis, Cap.7.

A impiedade desta distinção é evidente. -

Io. Porque Cristo exige a consagração total de todos os cristãos: depois de termos
feito tudo, somos servos inúteis. As obras de supererrogação são, pois,
impossíveis.

2o. Todo culto semelhante é indevido e é uma abominação para Deus - Col. 2:18-
23; 1 Tim. 4:3.

15. Que juízo se deve fazer das boas obras dos não regenerados?

Os homens não regenerados retêm algumas disposições e

alguns afetos relativamente bons em si e fazem muitas coisas que em si são boas
e estão em harmonia com a letra da lei. Todavia -

Io. Quanto à sua pessoa, todo homem não renovado está sob a ira e maldição de
Deus e, por conseguinte, nada pode fazer que Lhe seja agradável. O rebelde com
armas nas mãos é rebelde em tudo, enquanto não se submete a quem é
seu soberano legal.

2o. Amor a Deus e respeito por Sua autoridade nunca são o motivo supremo dos
atos do homem não regenerado. Assim é que, posto que muitos dos seus atos
sejam civilmente bons com respeito a seus semelhantes, todavia nenhum deles
pode ser espiritualmente bom com respeito a Deus. O pecador, antes da
justificação e renovação, é rebelde; cada um dos seus atos é ato de um rebelde,
ainda que, considerado em si, qualquer dos atos possa ser bom, indiferente ou
mau.

16. Em que sentido as boas obras são necessárias para a salvação?

Como os frutos necessários e invariáveis tanto da mudança

de relação operada na justificação, como também da mudança de natureza


operada na regeneração, mas nunca como o fundamento meritório ou a condição
da nossa salvação.

Essa necessidade resulta:

Io. Da santidade de Deus; 2o. do Seu propósito eterno, Ef. 1:4; 2:10; 3o. do
desígnio e da eficácia redentora da morte de Cristo, Ef. 5:25-27; 4o. da união do
crente com Cristo e da energia do Seu Espírito morando nos cristãos, João 15:5;
Gál. 5:22; 5 o. da própria natureza da fé, que primeiro leva a amar e então pratica
obras por amor, Gál. 5:6; 6o. do mandamento de Deus, 1 Tess. 4:6; 1 Ped. 1:15;
7o. da natureza do céu, Apoc. 21:27.

17. Qual é a teoria dos antinomistas a esse respeito?

Os antinomistas são, como o seu nome indica, os que negam que os cristãos
tenham a obrigação de guardar a Lei. Argumentam que, tendo Cristo cumprido,
em nosso lugar, tanto as partes preceptivas como as partes penais da lei de
Deus, segue-se que o Seu povo está livre da obrigação de guardá-la, quer como
regra de vida, quer como condição de salvação. Veja acima, Cap. 25, Perg. 3.

É evidente que todas as teorias perfeccionistas que (como as teorias pelagiana e


de Oberlin), ensinam que a capacidade do homem para obedecer é a medida da
sua responsabilidade, ou (como as teorias papal e arminiana), que Deus, por
amor a Cristo, em Sua graça, não exige mais absoluta perfeição moral, mas sim
a fé e a obediência evangélica, são teorias essencialmente antinomistas; porque
todas concordam em ensinar que os cristãos nesta vida não têm mais a obrigação
de cumprir a lei adâmica de absoluta perfeição moral.

Paulo, no capítulo 6 da Epístola aos Romanos, declara que naquele tempo diziam
que esta heresia condenável era conseqüência lógica de sua doutrina. Ele, porém,
não só o nega, mas afirma que, ao contrário, a justificação mediante uma justiça
imputada, sem o merecimento de obras, é a única

condição possível em que o pecador pode aprender a produzir boas obras como
frutos do amor filial. O próprio fim que Cristo teve em vista foi remir para Si um
povo peculiar, zeloso de boas obras, e isso Ele efetuou livrando-os do
cativeiro federal da Lei, a fim de torná-los capazes de conformar-se moralmente
a ela, como libertos do Senhor, cada vez mais nesta vida e absolutamente na vida
que há de vir.

18. Quais os diversos significados que têm sido dados ao


termo “merecimento”?

O termo tem sido empregado tecnicamente em dois sentidos diferentes:

Io. Estritamente, para designar a qualidade comum de todos os serviços a que se


deve uma recompensa, ex-justitia, por causa do seu valor e da sua dignidade
intrínsecos.

2o. Impropriamente, foi empregado pelos chamados “Pais” como equivalente


daquilo que dá como resultado uma recompensa ou coisa conseqüente, sem
especificação do motivo ou virtude por cuja causa se obtém - Turretino, Loc. 17,
Ques. 5.

19. Que distinção a igreja católica romana quer assinalar com as expressões
“merecimento de condignidade” e “merecimento de congruência”?

Essa igreja ensina que “merecimento de condignidade” só pertence a obras feitas


depois da regeneração com o auxílio da graça divina, e que esse auxílio é aquele
grau de merecimento que intrinsecamente e por eqüidade, e não somente
por causa de uma promessa ou aliança, merece a recompensa que recebe das
mãos de Deus. O “merecimento de congruência”, ensinam os romanistas,
pertence às boas disposições e às obras que o homem, antes de sua regeneração,
pode nutrir e praticar sem auxílio da graça divina e que fazem com que
seja congruente com Deus ou especialmente conveniente que Ele recompense o
autor infundindo a graça em seu coração.

E muito difícil determinar a posição exata da igreja

católica romana a respeito deste assunto, porque as diversas escolas de seus


teólogos divergem muito e as decisões do Concilio de Trento são de propósito
ambíguas. Parece que a crença geral é que a capacidade de praticar boas obras
tem sua origem na graça infundida no coração do pecador por amor de
Cristo, por meio dos sacramentos, mas que depois estas boas obras merecem,
isto é, colocam para nós uma base para exigirmos com justiça a salvação e a
glória. Alguns, entre eles Belarmino, De Justific., 5, 1 e 4, 7, dizem que este
merecimento pertence intrinsecamente às boas obras dos cristãos, bem como
em conseqüência das promessas divinas; outros dizem que estas obras merecem
a recompensa somente porque Deus prometeu a recompensa sob a condição da
prática de boas obras - Cone. de Trento, Sess. 6, Cap. 16 e Cans. 24 e 32.

20. Que é necessário para que uma obra seja meritória no conceito verdadeiro
deste termo?

Segundo Turretino, há cinco condições necessárias para esse fim. Io. Que a obra
não seja devida, ou que a pessoa que a pratica não tenha a obrigação de praticá-
la - Luc. 17:10. 2o. Que seja uma obra propriamente nossa, isto é, praticada
por nossas forças naturais. 3o. Que seja perfeita. 4o. Que seja igual à recompensa
merecida. 5o. Que a recompensa seja de justiça devida a tal obra - Turretino,
Loc.17, Ques. 5.

Conforme essa definição, é claro que, em conseqüência da absoluta dependência


e obrigação da criatura, ela nunca pode merecer recompensa alguma por
qualquer obediência que possa prestar aos mandamentos de seu Criador. Io.
Porque toda a força com que o homem age lhe é dada gratuitamente por Deus.
2o. Todo o serviço que ela possa prestar, já o deve a Deus. 3o. Nada que ela possa
fazer pode ser igual à recompensa do favor de Deus e da bem-aventurança
eterna.

Na aliança das obras, Deus graciosamente prometeu recompensar a obediência


de Adão com a vida eterna. Mas essa recompensa não foi por merecimento, e
sim, da livre graça

e da promessa. Sob aquela constituição, tudo dependia da posição que a pessoa


ocupava diante de Deus. Enquanto Adão permaneceu sem pecado, os seus
serviços foram aceitos e recompensados segundo a promessa. Todavia, desde o
momento em que perdeu o direito à coisa prometida e perdeu a posição que
ocupava diante de Deus, nenhuma obra sua, fosse qual fosse o caráter dela, podia
merecer coisa alguma das mãos de Deus.

21. Como se pode provar que as nossas boas obras, mesmo praticadas depois
de termos sido restaurados ao favor de Deus pela justificação, não merecem a
vida eterna?

1 °. A justificação tem por base os méritos ou merecimentos infinitos de Cristo, e


sobre esta base descansa o nosso direito ao favor de Deus e a todas as suas
infinitas conseqüências. Os méritos de Cristo, sendo eles a base de tudo e
abrangendo tudo, excluem a possibilidade de nós merecermos alguma coisa.

2o. A lei exige obediência perfeita - Rom. 3:23; Gál. 5:3.

3o. Somos salvos pela graça, e não por obras - Ef. 2:8,9.

4o. Todas as boas disposições são graças ou dons concedidos por Deus - 1 Cor.
15:10; Fil. 2:13; 1 Tess. 2:13.

5o. Dizem as Escrituras que a própria vida eterna é dom de Deus - 1 João 5:11.

22. Que ensinam as Escrituras a respeito das boas obras praticadas pelos
crentes e sobre as recompensas que lhes são prometidas?

Tanto a obra como a recompensa são ramos da mesma raiz benigna da graça. A
aliança da graça faz provisão tanto para a infusão de graça no coração como para
o exercício dessa graça na vida e para as recompensas dessa graça assim
exercida. E tudo de graça, graça por graça, graça acrescentada à graça, e
a recompensa nos é apresentada desta forma:

Io. Para que opere sobre nós como motivo racional para uma obediência
diligente.
2o. Para assinalar que o dom da bem-aventurança eterna é um ato de estrita
justiça legal (1) com respeito aos méritos ou merecimentos perfeitos de Cristo,
(2) com respeito à fidelidade com que Deus adere às Suas próprias promessas
livres - 1 João 1:9.

3o. Para indicar que a recompensa celestial, pela graça divina, está numa certa
proporção com a graça dada para a obediência na terra, (1) porque Deus assim o
quer, Mat. 16:27; 1 Cor. 3:8; (2) porque a graça dada na terra prepara a alma para
receber a graça dada no céu, 2 Cor. 4:17.

PODEM OS QUE CRÊEM EM CRISTO ALCANÇAR NESTA VIDA A


SANTIFICAÇÃO PERFEITA?

23. Em termos gerais, que é o perfeccionismo?

As diversas teorias sobre o perfeccionismo concordam todas em sustentar que é


possível a um filho de Deus neste mundo tornar-se, Io. perfeitamente livre do
pecado, 2o. conformado à lei debaixo da qual vivemos agora. Diferem muito
entre si, porém, Io. quanto à definição do pecado; 2o. quanto à lei que temos a
obrigação de cumprir; 3o. quanto aos meios pelos quais se poderia alcançar a
perfeição, se é pela natureza ou pela graça.

24. Como é que a teoria pelagiana quanto à natureza do homem e da graça


conduz ao perfeccionismo?

Os pelagianos afirmam:

Io. Quanto à natureza do homem, que ela não ficou radicalmente corrompida
pela Queda, e que todos os homens possuem o poder de cumprir todos os
deveres exigidos deles, pelo motivo de que Deus não pode com justiça exigir
nada que o homem não tenha pleno poder de fazer.

2o. Quanto à graça de Deus, que esta não é nada mais que a constituição
favorável de nosso espírito, a influência da verdade que Ele nos revelou, e as
circunstâncias propícias em

que Ele nos colocou. Assim, na Igreja Cristã, e de posse da revelação cristã, os
homens acham-se de fato colocados nas circunstâncias mais propícias para
serem persuadidos a cumprirem os seus deveres. Desse sistema segue-se
diretamente que todo aquele que quiser poderá com certeza alcançar a perfeição,
se usar com o devido cuidado as suas forças ou faculdades naturais e as
vantagens da sua posição - Wigger’s Hist., View ofAugustinianism
andPelagianism.

25. Qual é, segundo a teoria pelagiana, a natureza do pecado do qual o


homem pode livrar-se perfeitamente; qual a lei que o homem pode cumprir
perfeitamente; e quais os meios pelos quais se pode alcançar essa perfeição?

Eles negam a corrupção original e inerente da natureza do homem e sustentam


que pecado é somente alguma transgressão voluntária de uma lei conhecida, e
que disso qualquer homem pode abster-se, se quiser.

Quanto à lei que o homem pode cumprir perfeitamente em seu estado atual, eles
afirmam que ela é a única e original lei de Deus, de cujas exigências, porém, a
capacidade de cada homem e as oportunidades tidas para adquirir
conhecimento, são a medida.

Quanto aos meios pelos quais afirmam eles que o homem pode alcançar esta
perfeição, sustentam a capacidade plenária da vontade natural do homem para
cumprir todas as suas obrigações, e admitem o auxílio da graça de Deus só no
sentido de ser ela a influência da verdade e de outras circunstâncias propícias
persuadindo o homem a empregar as suas próprias forças. Assim, pois, os meios
pelos quais se pode alcançar a santificação perfeita são, Io. a vontade do homem;
2o. ajudada pelo estudo da Bíblia, pela atitude de evitar prudentemente
as tentações, etc.

26. Em que sentido os católicos romanos sustentam a doutrina da perfeição?

As decisões do Concilio de Trento sobre este assunto, assim como sobre todos os
pontos críticos, são de propósito ambíguas. Elas enunciam o princípio de que a
guarda da Lei deve ser possível àqueles a quem a Lei obriga, porque Deus não
manda fazer impossibilidades. Os justificados (santificados) podem, pela graça
de Deus habitando neles, satisfazer à lei divina,pro hujus vitce statu, isto é, pela
graça de Deus ajustada, por amor de Cristo, às nossas capacidades atuais. Mas ao
mesmo tempo confessam que os justos podem todos os dias cair em
pecados veniais e que, enquanto estamos na carne, ninguém pode
viver inteiramente sem pecado (salvo por especial privilégio concedido por
Deus); e, todavia, que os renovados podem nesta vida guardar perfeitamente a
Lei divina; e observando os conselhos evangélicos, podem até fazer mais do que
Deus manda e, dessa maneira, entesourar, como o fizeram muitos santos, um
fundo de merecimento supererrogatório -Cone. de Trento, Sess. 6. Cf. Caps. 11 e
16, e Cans. 18, 23 e 32. Veja acima, Perg. 14.

27. Em. que sentido sustentam os romanistas que os renovados podem nesta vida
viver sem pecado; em que sentido podem satisfazer plenamente à lei; e pelo uso
de que meios se pode alcançar, segundo o seu ensino, esta perfeição? .

Quanto ao pecado, eles sustentam a distinção entre pecados mortais e veniais, e


que a concupiscência que ainda resta no coração dos renovados, como resultado
do pecado original e o que alimenta o pecado atual, não é pecado em si mesmo,
por consistir este só no consentimento da vontade aos impulsos
da concupiscência. De conformidade com essas teorias, eles sustentam que o
cristão pode nesta vida viver sem cometer pecado mortal, porém que nunca pode
estar livre dos movimentos internos da concupiscência, nem da possibilidade
de cair em pecados veniais por ignorância, falta de atenção ou paixão.

Quanto à lei à qual o crente pode satisfazer plenamente nesta vida, eles
sustentam que, sendo Deus justo e não podendo

exigir de nós o que é impossível, Sua Lei foi bondosamente ajustada à nossa
capacidade presente, ajudada por Sua graça, e que é essa Lei pro hujus vitce
statu que podemos cumprir.

Quanto aos meios pelos quais se pode alcançar esta perfeição, eles sustentam
que a graça divina precede, acompanha e segue a todas as nossas boas obras, e
que esta graça devemos conseguir por meio dos canais sacramentais e
sacerdotais que Cristo instituiu em Sua igreja, e especialmente por meio da
oração, do jejum, das esmolas e da aquisição de méritos supererroga-tórios,
seguindo os conselhos de Cristo quanto à castidade, à obediência e à pobreza
voluntária - Cone. de Trento, Sess. 14, Cap. 5; Sess. 6, Caps. 11 e 12; Sess. 5,
Can. 5; Cat. Rom., Parte 2, Cap. 2, Perg. 32; Parte 2, Cap. 6, Perg. 59; e Parte 3,
Cap. 10, Pergs. 5-10.

28. Em que forma os primeiros arminianos ensinaram essa doutrina?

Armínio declarou que estava em dúvida a respeito deste assunto - Writings


ofArminius, tradução de Nichols, Vol. 1, pág. 256. Seus sucessores imediatos na
chefia teológica do partido remonstrante desenvolveram uma teoria de
perfeccionismo aparentemente idêntica à que foi depois ensinada por Wesley e
professada por seus discípulos. “O homem pode, ajudado pela graça divina,
guardar perfeitamente todos os mandamentos de Deus, segundo o evangelho ou
a aliança da graça. A maior perfeição evangélica (porque não estamos ensinando
uma perfeição legal, que inclui inteira isenção do pecado em todos os aspectos e
no mais alto grau, e exclui toda imperfeição e fraqueza, pois isto cremos ser
impossível), abrange duas coisas, Ia. uma perfeição que está na proporção das
forças de cada indivíduo; 2a. um desejo de fazer cada vez mais progresso e de
crescer cada vez mais em forças” - Episcopius, citado pelo Dr. G. Peck, em
Christian Perfection, págs. 135 e 136.

29. Qual a doutrina wesleyana sobre este assunto?

Io. Que, posto que todo crente seja regenerado logo que é justificado, e dê os
passos iniciais na santificação, todavia isso não exclui os restos de muito pecado
inerente, nem o combate da carne contra o Espírito, que pode continuar durante
longo tempo, mas que não pode deixar de cessar algum tempo antes do homem
estar preparado para o céu.

2o. Este estado de santificação progressiva não é de per si a perfeição, que é


propriamente chamada “santificação inteira” ou “perfeita”. Desta é necessário
que, mais cedo ou mais tarde, cada herdeiro da glória tenha experiência, e, posto
que a maioria não a alcance muito tempo antes da morte, todavia alguns
a alcançam em plena vida e, por isso, é dever e privilégio de todos procurá-la e
esperar que a alcancem agora.

30. Este estado de perfeição evangélica não consiste na capacidade de guardar


perfeitamente a Lei original e absoluta de santidade sob a qual Adão foi criado,
nem exclui toda a possibilidade de errar, de estar sujeito às enfermidades
(ou fraquezas) da carne e do temperamento natural, porém exclui, sim, toda
disposição interna de ceder ao pecado, bem como a comissão externa dele,
porque ela consiste num estado em que uma fé perfeita em Cristo e um amor
perfeito a Deus enchem a alma inteira e governam a vida toda, e cumprem assim
todas as exigências da “lei de Cristo”, a única sob a qual o cristão passa a sua
provação.

30. Em que sentido os wesleyanos ensinam que os homens podem viver sem
pecado?
Não foi Wesley quem pessoalmente fez o emprego da frase “perfeição sem
pecado”, mas também não fez objeção ao seu emprego. Ele distinguia entre “o
pecado propriamente assim chamado, isto é, uma transgressão voluntária de uma
lei conhecida, e o pecado impropriamente assim chamado, isto é, uma
transgressão involuntária de uma lei, quer conhecida quer não”, e declarou:
“Creio que nesta vida não há perfeição tal

que exclua estas transgressões involuntárias, que me parecem ser conseqüências


naturais da ignorância e dos erros inseparáveis da mortalidade”. Declarou
também que a obediência do cristão perfeito “não pode suportar o rigor da
justiça de Deus, mas precisa do sangue expiador”, e, por conseguinte, os mais
perfeitos “têm sempre motivo para dizer: “Perdoa-nos os nossos pecados”; e o
Dr. Peck afirma que “quanto mais santos são os homens, tanto mais se detestam
e se aborrecem a si mesmos”. Mas, por outro lado, eles sustentam que o
cristão pode nesta vida chegar a um estado de amor perfeito e constante, o que
cumpre perfeitamente todas as exigências da aliança evangélica. Violações da lei
original e absoluta de Deus não são imputadas ao crente como pecados, por
haver Cristo sido feito em seu favor o fim dessa lei para justiça, e ele foi
libertado dessa lei por amor de Deus e foi feito sujeito à “lei de Cristo”, e,
pecado, para o cristão, é só aquilo que é violação desta lei do amor. Veja o
tratado de Wesley sobre Christian Perfection (A Perfeição Cristã), na obra
sobreMethodist Doctrinal Tracts (Tratados Doutrinários Metodistas), págs.
294, 310,312, e a obra do Dr. Peck intitulada The Christian Doctrine of
Perfection (A Doutrina Cristã da Perfeição), pág. 204.

31. A que lei, como eles dizem, o cristão pode obedecer perfeitamente nesta
vida?

O Dr. Peck diz, na página 244, de sua citada obra: “A humanidade decaída, ainda
quando renovada pela graça, perfeita obediência à lei moral é impraticável
durante o estado atual de provação. Segue-se que a perfeição cristã não implica
em obediência perfeita à lei moral”.

Eles sustentam que esta lei moral é universal e imutável, que todas as criaturas
morais estão com obrigação perpétua de cumpri-la e que de modo algum ficam
livres dessa obrigação por terem perdido as forças por causa do pecado. Peck,
pág. 271. Esta lei, porém, tem dupla relação com a criatura. Io. E uma regra de
caráter e de procedimento. 2o. E uma condição
para sermos aceitos. Em conseqüência do pecado, tornou-se impossível aos
homens obterem a salvação pela Lei, e, por isso, Cristo veio e ofereceu a essa lei
em nosso lugar uma satisfação perfeita, e assim Ele é, em nosso favor, o fim da
Lei para justiça. Esta Lei, pois, posto que permaneça para sempre como regra de
dever, foi ab-rogada por Cristo como condição da nossa aceitação.

“Nem é homem vivo algum obrigado a guardar a lei adâmica mais que a mosaica
(quero dizer que ela não é a condição quer da salvação presente quer da futura).”
-Doctrinal Tracts (Tratados Doutrinários), pág. 332. -

“O evangelho, que é a lei do amor, ‘a lei da liberdade’, oferece a salvação sob


outros termos e ao mesmo tempo provê a vindicação da lei quebrada. A condição
da justificação é, a princípio, somente a fé, e a condição da aceitação permanente
é a fé agindo pelo amor. Há diversos graus de fé e também de amor... Fé perfeita
e amor perfeito são a perfeição cristã.”

“O caráter cristão envolve o perfeito cumprimento dessas condições, e mais


nada.”

32. Segundo o ensino wesleyano, por que meio se pode alcançar essa perfeição?

Wesley diz: “Creio que esta perfeição é sempre operada na alma por um simples
ato de fé; por conseguinte, num instante. Entretanto, creio também que há uma
obra realizada gradativamente, tanto antes como depois desse instante” -Citado
pelo Dr. Peck, op. cit., págs. 47 e 48.

Os wesleyanos sustentam que essa santificação não pode ser efetuada nem pelas
forças nem pelos merecimentos do homem, mas unicamente pela graça, por
amor de Cristo, pelo Espírito Santo, mediante a fé no Senhor Jesus Cristo, fé
que inclui crermos, Io. “na suficiência das provisões do evangelho para livrar a
alma completamente do pecado”. 2o. “Que essas provisões foram feitas para
nós”; 3o. “Que essa bênção é para nós agora” - Peck, Chr. Doct., Sanct., págs.
405-407.

33. Qual é a doutrina oberlinense da santificação?

“E o pleno e perfeito cumprimento do nosso dever inteiro, de todas as nossas


obrigações para com Deus e para com todos os outros seres. E obediência
perfeita à lei moral.” Esta é a lei original e universal de Deus, a qual, porém, não
devido à graça e sim simplesmente devido à justiça, sempre ajusta as
suas exigências à medida da capacidade presente dos que estão debaixo dela. A
lei de Deus não pode com justiça exigir agora que amemos a Deus tanto como O
poderíamos amar se tivéssemos sempre empregado bem o nosso tempo, etc.
Contudo, o cristão pode agora alcançar um estado de “benevolência perfeita e
não interesseira”; pode ser, “segundo o seu conhecimento, tão reto como Deus o
é”; e pode estar “conformado perfeitamente à vontade de Deus igualmente como
o está a vontade dos habitantes do céu”. E isso, Finney parece ensinar, é
essencial até nos primeiros passos da experiência cristã. Em suma, tudo parece
ser que Deus tem o direito de exigir somente aquilo que temos o poder de fazer;
e daí se segue, pois, que temos o pleno poder de fazer tudo o que Deus exige, e,
por isso, podemos estar conformados tão perfeitamente à vontade de Deus a
nosso respeito como seres celestais o estão a seu respeito. Pres. Mahan, Scripture
Doctrines of Christian Perfection, (Doutrinas Bíblicas sobre a Perfeição Cristã),
e Finney, Oberlin Evangelist (O Evangelista de Oberlin), Vol 4, N°. 19, e Vol.
4, N°. 15. Citado pelo Dr. Peck. ,

34. Quais os pontos de acordo e de desacordo entre as teorias pelagiana,


católico-romana, arminiana e oberlinense?

Io. Todas concordam em sustentar que é possível aos homens chegarem nesta
vida a um estado em que podem habitual e perfeitamente cumprir todas as suas
obrigações, isto é, ser e fazer tudo o que Deus exige que sejam ou façam agora.

2o. A teoria pelagiana difere de todas a outras em negar a deterioração das nossas
forças morais naturais, e, por conseguinte, em negar a necessidade da
intervenção de qualquer

graça sobrenatural, a fim de tornar os homens perfeitos. '

3o. As teorias pelagiana e oberlinense concordam em tomar como padrão a


original lei moral de Deus. Os teólogos ober-linenses, porém, enquanto admitem
que as nossas forças estão deterioradas por causa do pecado, sustentam que a lei
de Deus, como matéria de simples justiça, ajusta as suas exigências às forças
presentes dos que estão debaixo dela. A teoria católico--romana toma a mesma
Lei como padrão de perfeição, mas difere da teoria pelagiana em sustentar que as
exigências dessa Lei foram ajustadas às forças deterioradas dos homens, e
da teoria oberlinense difere em sustentar que a acomodação às forças
enfraquecidas do homem não foi questão de simples justiça, mas decorre da
graça, por amor dos méritos de Cristo. A teoria arminiana difere de todas as
outras em negar que a Lei original seja o padrão da perfeição evangélica, e
em sustentar que, tendo sido cumprido essa Lei por Cristo, o cristão tem agora
somente a obrigação de cumprir as exigências da aliança evangélica da graça.
Isso, porém, parece diferir mais em forma do que em essência da teoria
romanista a respeito disso.

4o. As teorias católico-romana e arminiana concordam -(1) Em admitir que o


cristão perfeito ainda está sujeito ao perigo de transgredir as provisões da lei
moral original e que está sujeito a erros e fraquezas. O católico romano chama-
os pecados veniais; o arminiano, erros e fraquezas. (2) Em referir toda a obra de
tornar os homens perfeitos à eficácia do Espírito Santo, que é dado por amor de
Cristo. Mas, por outro lado, diferem, (1) quanto à natureza da fé pela qual é
efetuada a santificação, e (2) quanto ao mérito das boas obras.

35. Com quais argumentos os perfeccionistas sustentam sua teoria, e como se


lhes pode dar resposta?

Io. Os argumentos apresentados a favor da teoria de que é possível conseguir esta


perfeição nesta vida são: (1) Os mandamentos de Deus, que nunca mandaria
fazer impossibilidades

- Mat. 5:48. (2) O fato de que no evangelho foram feitas abundantes provisões
para se conseguir a santificação perfeita do povo de Deus; fez-se, com efeito,
tudo o que se poderia fazer neste sentido em qualquer tempo. (3) As promessas
que Deus fez de remir Israel de todas as suas iniqüidades, etc. -Sal. 130:8; Ez.
36:25-29; 1 João 1:7,9. (4) As orações dos santos registradas nas Escrituras com
aprovação implícita - Sal. 51:2; Heb. 13:21.

2o. Os argumentos no sentido de que esta perfeição foi de fato alcançada são: (1)
Exemplos bíblicos, como Davi - Atos 13:22. Veja também Gên. 6:9; Jó 1:1; Luc.
1:6. (2) Exemplos modernos - Peck, Christian Perfection, págs. 365-396.

RESPONDEMOS:

Io. As Escrituras nunca dizem que um cristão pode nesta vida alcançar um estado
em que possa viver sem pecado.
2o. E preciso interpretar o sentido de passagens especiais de conformidade com o
testemunho global das Escrituras.

3o. A linguagem das Escrituras nunca implica que o homem possa viver aqui
sem pecado. Os mandamentos de Deus estão ajustados à nossa responsabilidade,
e as aspirações e orações dos santos remetem o homem a seus deveres
e privilégios, e não à sua capacidade atual. A perfeição é o verdadeiro alvo dos
esforços do cristão em todos os períodos do seu crescimento e em todos os seus
atos. Os termos “perfeito” e “irrepreensível” muitas vezes são relativos, ou são
empregados para significar simples sinceridade ou verdade. Isso se
torna evidente pelo seguinte fato registrado:

4o. Todos os homens perfeitos, segundo as Escrituras, às vezes pecavam; disso


dão testemunho as histórias de Noé, Jó, Davi e Paulo. Compare o leitor Gên. 6:9
com Gên. 9:21; Jó 1:1 com Jó 3:1 e9:20. Veja também Gál. 2:11,14; Sal. 19:13;
Rom., capítulo 7; Gál. 5:17; Fil. 3:12-14.

36. Que objeções especiais pode-se fazer contra a teoria pela-giana da


perfeição?

Essa teoria faz parte de um sistema inteiramente anti-cristão. Seus elementos


constituintes são a negação do testemunho bíblico a respeito do pecado original e
da obra do Espírito Santo na vocação eficaz, e a asserção do poder do homem de
salvar-se a si mesmo. Envolve uma teoria fraca a respeito da culpa e da torpeza
do pecado, e da extensão, espiritualidade e imutabilidade da santa lei de Deus. É
a única teoria da perfeição perfeitamente coerente em todos os tempos, e, na
mesma proporção, é a mais anticristã.

37. Que objeções especiais pode-se fazer contra a teoria católico-

-romana? '

Essa teoria está em desarmonia...

Io. Com a verdadeira natureza do pecado. Nega que a concupiscência seja


pecado e afirma que só são pecados os atos propositais da vontade que dão
assentimento aos impulsos da concupiscência. Faz distinção entre pecados
mortais e veniais. A verdade é que todos os pecados são mortais, e que
a concupiscência, “o pecado que habita em mim”, é da própria essência do
pecado - Rom. 7:8-23.

2o. Está em desarmonia com a natureza da santa lei de Deus, que é


essencialmente imutável e cujas exigências nunca foram rebaixadas para
acomodação às faculdades enfraquecidas dos homens.

3o. Está em ligação essencial com a teoria do mérito das boas obras e do mérito
superior das obras de supererrogação, o que é radicalmente destrutivo às
doutrinas essenciais do evangelho. ...

38. Que objeções especiais pode-se fazer contra a teoria oberlinense?

Essa teoria parece assemelhar-se mais que as outras à terrível regularidade lógica
e ao espírito anticristão da teoria pelagiana. Difere, porém, dessa heresia em
sustentar-

Io. Que a lei de Deus foi acomodada, como matéria de

simples justiça, às faculdades debilitadas dos homens. ^

2o. Que aquelas coisas que, julgadas pela lei original de Deus, seriam faltas da
parte dos homens, não são pecados, porque a capacidade do homem é a única
medida do seu dever, jj

3o. Que o princípio desta perfeição consiste na “benevolência perfeita e não


interesseira”. Em todos estes aspectos essa teoria também está em desarmonia
com a verdadeira natureza da lei de Deus, do pecado e da virtude.

39. Que objeções pode-se fazer contra a teoria arminiana? 1

Essa teoria, como a apresentam os escritores wesleyanos * mais autorizados, está


em muito menor desarmonia com os
\

princípios e o espírito do cristianismo do que qualquer das I outras, e, por isso,


na mesma proporção é menos coerente consigo mesma como teoria, e é menos
exata no uso que faz de linguagem técnica. Esses irmãos cristãos merecem ser
honrados por suas idéias elevadas e pelo zelo com que insistem no dever dos
homens de irem sempre avante até alcançarem os ; mais ricos de todos os dons
espirituais, e, ao mesmo tempo, . será sempre motivo de lástima que o seu
grande fundador tenha sido tão desviado pelos preconceitos de um sistema
que chegou a ligar em aliança antinatural muita verdade preciosa ’ a uma teoria e
a uma terminologia singularmente próprias de erros radicais. Direi, pois, aqui,
uma vez por todas, em termos j gerais, que, quando exponho a doutrina
arminiana sobre i qualquer ponto, tenho preferido em geral fazê-lo na forma em
que a doutrina foi definida explicitamente pelos remons-trantes holandeses, a
fazê-lo na forma modificada e, segundo me parece, menos logicamente definida,
em que ela se acha exposta nas obras das autoridades das igrejas
wesleyanas, cujos componentes se chamam propriamente
“arminianos evangélicos”. A peculiar falta de exatidão teórica que obscurece as
suas definições, especialmente as que dizem respeito à justificação e à
santificação, eu atribuo ao espírito de um cristianismo ardente, ativo e cheio de
amor em verdadeira

luta com as falsas premissas da filosofia arminiana.

CONSIDEREMOS: . ; ,:..v

Io. Conquanto insistam e tornem a insistir na distinção de estar a lei original de


Deus numa relação dupla com os homens (1) como uma regra de caráter e de
conduta, e (2) como uma condição de alcançarem o favor de Deus, sua
teoria inteira está baseada numa confusão lógica dessas duas coisas tão distintas.
O Dr. Peck ensina com solicitude, e confirma com muitos testemunhos
wesleyanos, excelente doutrina calvinista quanto aos seguintes pontos: a lei
original de Deus é universal e imutável, e suas exigências nunca podem
ser alteradas nem comprometidas. A obediência a esta Lei foi a condição da
aliança original das obras. Esta condição foi violada por Adão, mas foi cumprida
perfeitamente a nosso favor por Cristo, e assim foi conservada a inteireza da lei
imutável de Deus. Por isso, continua ele a argumentar, o crente não está mais
debaixo da Lei, mas sim debaixo da aliança da graça, isto é, para servir-nos do
parêntese qualificador ou restritivo do próprio Wesley, “como a condição da
salvação presente ou futura”. Com certeza, respondemos nós, Cristo nos é o fim
da Lei para justiça em seu sentido forense, isto é, para alcançar a nossa
justificação, porém é certo que Cristo não satisfez em nosso lugar àquela Lei
imutável em sentido tal que ela não seja mais para nós a regra de vida, e à qual
não seja mais nosso dever conformar-nos pessoalmente. A questão da perfeição
é questão que diz respeito ao nosso caráter pessoal e não às nossas relações: é
moral e inerente, e não forense. Provar, pois, que a lei original de Deus, sob a
aliança do evangelho, não é mais a condição da nossa salvação, o que nós
também nos regozijamos em crer, não serve de nada absolutamente para provar
que Deus, estando nós debaixo do evangelho, exige somente uma obediência
ajustada a um padrão mais fácil do que o anterior.

2o. Essa teoria faz parte da teoria arminiana da aliança da graça, que julgamos
estar em grande desarmonia com o evangelho e que Watson (veja Institutes,
Parte 1, Cap.23) parece

procurar evitar, recusando-se ao mesmo tempo a admitir a imputação da justiça


de Cristo ao crente. Diz essa teoria que, tendo Cristo cumprido a lei original de
Deus, por Sua propiciação, é agora compatível com a justiça divina apresentar-
nos a salvação sob condições mais fáceis, que se resumem na obediência
evangélica, não exigindo a perfeição cristã mais do que o cumprimento perfeito
destas novas condições benévolas. Ora, essa teoria, além de confundir as idéias
de lei e aliança, de regra e condição, de fundamento da justificação e padrão de
justificação, é incompatível com os ensinos gerais do evangelho a respeito da
justiça de Cristo e do ofício da fé na justificação. Torna os méritos de Cristo, de
um modo incerto e distante, em simples ocasião da nossa salvação, e torna a fé e
a obediência evangélica, em vez de obediência perfeita sob a aliança antiga, no
fundamento, em vez de simples meio e fruto da nossa justificação. Desenvolvida
logicamente, essa teoria não pode deixar de levar à doutrina católico-romana do
mérito das boas obras.

3o. Essa teoria nega que os erros e fraquezas, que resultam dos efeitos do pecado
original, sejam em si mesmos pecados, e ao mesmo tempo admite que devem ser
confessados, que se deve pedir perdão deles, que é necessário que lhes seja
aplicada a propiciação do sangue de Cristo e que, quanto mais santo se torna um
homem, tanto mais ele aborrece o seu estado interior. Isso de certo é uma
confusão de linguagem e um abuso da palavra pecado. Que será pecado senão
(1) uma transgressão da lei original de Deus, (2) que precisa da propiciação de
Cristo, (3) que deve ser confessada e precisa de perdão, (4) e é um motivo
próprio para o homem ter horror de si mesmo?

40. Com quais declarações expressas das Escrituras está em contradição


qualquer modificação possível da teoria da perfeição cristã?

1 Reis 8:46; Prov. 20:9; Ecl. 7:20; Tia. 3:2; 1 João 1:8.
41. Como se pode provar que está em oposição à experiência dos santos, como
se acha registrada nas Escrituras?

Veja o que Paulo diz de si mesmo, Rom. 7:14-25; Fil. 2:12-14. Veja o caso de
Davi, Sal. 19:12; 51; o de Moisés, Sal. 90:8; o de Jó, 42:5,6; o de Daniel, 9:20.
Veja Luc. 18:13; Gál. 1:11-13; 6:1; Tia. 5:16.

42. Como está ela em conflito com a experiência comum do povo de Deus?

Quanto mais santo se torna um homem, tanto mais ele se torna humilde, mais
renuncia a si próprio, mais sensível se torna a todo pecado, e tanto mais se apega
a Cristo. Sente que as imperfeições morais que ainda lhe aderem são
pecados, lamenta-as e procura vencê-las. Os crentes sabem que sua vida é um
combate constante, que é só fazendo violência que podem arrebatar o reino dos
céus, e que lhes é necessário vigiar e orar sempre. Estão sempre sujeitos às
constantes correções da mão amorosa de seu Pai, as quais só podem visar
corrigir suas imperfeições e confirmar suas graças. E é fato notório que
os melhores cristãos têm sido aqueles que se manifestaram menos dispostos a
dizer que tinham alcançado para si a perfeição.

43. Quais os legítimos efeitos práticos do perfeccionismo?

A tendência de toda doutrina semelhante é necessariamente má, exceto até onde


for modificada ou retificada por outras verdades mantidas em conexão com ela,
e que a limitem ou estejam em desarmonia com ela. Este é proeminentemente o
caso em relação à teoria wesleyana, porque nela a ficção do perfeccionismo se
acha ligada a grande quantidade de evangelho puro. Contudo, o perfeccionismo
de per si não pode deixar de tender, Io. a opiniões pouco dignas sobre a lei
de Deus; 2o. a opiniões inadequadas sobre a torpeza do pecado; 3o. a um padrão
baixo de excelência moral; 4o. ao orgulho e ao fanatismo espirituais.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DE DOUTRINAS DE DIVERSAS IGREJAS

DOUTRINA ROMANA A RESPEITO DA PERFEIÇÃO MORAL DOS


REGENERADOS, DAS BOAS OBRAS, E DAS OBRAS DE
SUPERERROGAÇÃO. Quanto à sua teoria do MÉRITO DAS BOAS OBRAS,
veja acima, Cap. 33.

Cone. de Trento, Sess. 5, “Dec. do Pec. Original”: “Se alguém negar que a culpa
do pecado original é perdoada pela graça do nosso Senhor Jesus Cristo,
conferida no batismo; ou até afirma que não é extinguido tudo o que tem
verdadeira e própria condição de pecado, mas diz que apenas é raspada, ou que
não é imputada: seja anátema... Confessa, porém, este santo concilio que nos
batizados fica a concupiscência ou incentivos (para o pecado)...
Essa concupiscência, a que o apóstolo algumas vezes chama pecado, declara o
sagrado concilio: que a igreja nunca entendera, se lhe dava o nome de pecado,
por que verdadeira e propriamente seja pecado nos renascidos; mas porque
procede do pecado e inclina para o pecado. Se, porém, alguém julgar o contrário,
seja anátema”.

Cone. de Trento, Sess. 5, Can. 18 - “Se alguém disser que ao homem justificado,
e que se acha em estado de graça, é impossível observar os preceitos de Deus;
seja anátema”.

Belarmino, De Justif., 4: 10, segs. - “Se os preceitos são impossíveis, não


obrigam a ninguém, e então os preceitos não são preceitos. Nem é possível
imaginar como é que se peque naquilo que é impossível evitar”.

Id., De Monachis, Cap.7: “Chamamos “conselhos de perfeição” a uma obra


declarada boa mas cuja prática não é ordenada por Cristo; não é prescrita, e sim
recomendada. Difere de um preceito quanto à sua matéria, assunto, forma e
finalidade. (1) A respeito da sua matéria (a diferença) é dupla. Primeiro, porque
a matéria do preceito é mais fácil, a do conselho mais difícil, porque aquele é
derivado dos princípios da natureza, enquanto este, em certo sentido, excede à
natureza; e.g., a natureza inclina a pessoa para a conservação da fidelidade
conjugal, porém não para a

abstenção da relação conjugal. Em segundo lugar, a matéria do preceito é boa...


porque o conselho inclui o preceito que diz respeito à mesma matéria e
acrescenta mais alguma coisa além do preceito. (2) Quanto ao assunto, os
preceitos diferem dos conselhos; porque os preceitos obrigam a todos os homens
em comum, e os conselhos não os obrigam. (3) Quanto à sua forma, diferem,
porque o preceito obriga em virtude de sua obrigatoriedade inerente, enquanto o
conselho obriga somente com o consentimento do homem. (4) A respeito de seus
fins ou efeitos, eles diferem, porque o preceito guardado tem uma recompensa,
e quando não é guardado, uma penalidade; mas o conselho, quando não é
guardado, não sofre pena, mas quando é guardado, tem maior recompensa”. Cap.
8: “É opinião de todos os católicos que há muitos verdadeiros e
próprios conselhos evangélicos, mas especialmente o celibato, a pobreza e a
obediência (monástica), que Deus nem manda a todos observar, nem são coisas
indiferentes, e sim agradáveis a Ele e por Ele recomendadas (Mat. 19:11-21; 1
Cor. 7:1-7). ■

DOUTRINA LUTERANA Apologia da Conf de Augsburgo, pág. 21: “As


Escrituras por inteiro e a Igreja toda declaram que a Lei não pode satisfazer-se
(com coisa alguma do poder do homem depois da Queda). Este
cumprimento imperfeito da Lei é aceito, não por si mesmo, mas unicamente
mediante a fé em Cristo. Doutro modo, a Lei nos acusa sempre... Nesta fraqueza
sempre há pecado que pode ser lançado em nossa conta (para condenação)”.

Formula concordice, pág. 678: “A doutrina papal e monástica, de que o homem,


depois de regenerado, é capaz de guardar perfeitamente a lei de Deus nesta
vida, deve ser rejeitada”.

Ib. pág. 589: “A nossa confissão é que as boas obras se seguem certíssima e
indubitabilissimamente a uma fé verdadeira, como os frutos de uma árvore.
Cremos também que não se deve, de modo algum, levar em conta as boas obras,
não só quando se trata da justificação, porém até quando estamos discutindo a

respeito da nossa vida eterna”. • •

Ib., pág. 700: “Porque não são boas obras aquelas que qualquer pessoa invente
com boa intenção, ou que se façam segundo as tradições humanas; mas aquelas
que Deus mesmo tem prescrito e mandado em Sua própria Palavra. Porque obras
verdadeiramente boas não podem ser praticadas pelas forças naturais, porém
somente quando a pessoa está reconciliada com Deus pela fé, está renovada pelo
Espírito e foi criada de novo para boas obras, em Jesus Cristo”.

DOUTRINA REFORMADA Catecismo de Heidelberg, Perg. 62: “Nossas


melhores obras nesta vida são todas imperfeitas e estão manchadas pelo pecado”.

Os Trinta e nove Artigos da Igreja da Inglaterra, Art. 12: “Ainda que as boas
obras, que são o fruto da fé, e seguem a justificação, não possam expiar os
nossos pecados, nem suportar a severidade do juízo de Deus; são todavia
agradáveis e aceitáveis a Deus, em Cristo, e brotam necessariamente de uma
verdadeira e viva fé; de modo que por elas se pode conhecer a fé viva tão
evidentemente como uma árvore se conhece pelo fruto”.
Ib., Art. 14. - “Será impiedade e arrogância ensinar que obras arbitrárias, que não
se acham compreendidas nos mandamentos divinos, são boas obras, chamadas
obras de supererrogação; porque por elas os homens declaram que não só
rendem a Deus tudo aquilo a que são obrigados, mas também que por amor dEle
fazem mais do que aquilo que, como rigoroso dever, lhes é exigido, apesar de
Cristo ter dito claramente: “Quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei:
somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” - Lucas
17:10.

Confissão Helvética Posterior, pág. 498: “Ensinamos que Deus dá uma


recompensa ampla aos que praticam boas obras. Contudo, não atribuímos esta
recompensa que o Senhor dá ao merecimento dos homens que a recebem, mas
sim à bondade, liberalidade e verdade de Deus, que a promete e a concede; o
qual, conquanto não deva nada a ninguém, todavia prometeu que dará
recompensa aos

que O adorem fielmente”. ,

Confissão de Fé, de Westminster, Cap. 16, § 4. - “Os que alcançam em sua


obediência o maior grau possível nesta vida, acham-se tão longe de poder fazer
algo de supererrogação e de fazer mais do que Deus requer, que ainda lhes falta
muito daquilo que em seu dever têm a obrigação de fazer”. (Veja o capítulo
inteiro.)

Ib., Cap. 13, § 2: “Esta santificação tem lugar no homem todo, e, todavia, é
imperfeita nesta vida; permanecem ainda alguns restos da corrupção em toda
parte, donde nasce uma guerra contínua e irreconciliável, lutando a carne contra
o Espírito e o Espírito contra a carne”.

Ib., § 3:- “Nesta guerra, posto que as corrupções remanescentes possam por
algum tempo prevalecer, todavia, mediante o suprimento contínuo de forças
do Espírito de Cristo, a parte regenerada vence; e assim os santos crescem em
graça, sendo aperfeiçoados na santidade e no temor de Deus”.
A Perseverança dos Santos

1. Que é a doutrina bíblica quanto à perseverança dos santos?

“Os que Deus aceitou em Seu Bem-amado, eficazmente

chamados e santificados pelo Seu Espírito, não podem cair do estado de graça,
nem total nem finalmente; mas com toda a certeza hão de perseverar nesse
estado até ao fim, e estarão. eternamente salvos” - Confissão de Fé, Cap.17, § 1;
Caí. Maior, Perg. 79.

2. Por quais argumentos se pode estabelecer a certeza da perseverança final


dos santos?

Io. As asserções diretas das Escrituras - João 10:28,29; Rom. 11:29; Fil. 1:6; 1
Ped. 1:5.

2o. Esta certeza é inferência necessária das doutrinas bíblicas (1) da eleição, Jer.
31:3; Mat. 24:22-24; Atos 13:48; Rom. 8:30; (2) da aliança da graça, na qual o
Pai deu o Seu povo a Seu Filho como recompensa de Sua obediência e de Seus
sofrimentos, Jer. 32:40; João 17:2-6; (3) da união dos cristãos com Cristo, no
aspecto federal, sendo Cristo o seu Fiador, razão pela qual eles não podem falhar
(Rom. 8:1), e no aspecto espiritual e vital, por cuja união eles permanecem
nEle, e necessariamente viverão porque Ele vive, João 14:19; Rom. 8:38,39; Gál.
2:20; (4) da propiciação, na qual Cristo cumpriu todas as obrigações que eles
tinham para com a lei como aliança de vida, e alcançou para eles todas as
bênçãos prometidas na aliança; se, pois, um deles falhasse, o seguro fundamento
de

todos seria abalado, Sal. 53:6,11; Mat. 20:28; 1 Ped. 2:24; (5) da justificação,
que declara cumpridas todas as condições da aliança de vida, e coloca o
justificado para sempre numa nova relação com Deus, de modo que ele não pode
cair sob condenação, porque não está mais debaixo da lei mas sim debaixo da
graça, Rom. 6.14; (6) da habitação do Espírito Santo nos que compõem o povo
de Deus, (a) como selo assinalando que pertencem a Deus, (b) como penhor ou
primeira prestação da redenção prometida, em penhor do cumprimento
completo, João 14:16; 2 Cor. 1:21,22; 5:5; Ef. 1:14; (7) da eficácia
da intercessão de Cristo- João 11:42; 17:11,15,20; Rom. 8:34.
3. Qual é a doutrina católico-romana sobre este ponto? ■ :

Cone. de Trento, Sess. vi, Can. 23: “Se alguém disser que o

homem, uma vez justificado, não pode perder a graça, e que por isso aquele que
cai e peca nunca fora verdadeiramente justificado, seja anátema”. - Veja abaixo,
na apresentação da doutrina católico-romana, neste capítulo, suas idéias
quanto aos “pecados veniais”. , ,....... ..

4. Qual a doutrina arminiana sobre este ponto?

Faz parte inseparável do seu sistema, dimanando necessariamente das suas


teorias sobre a eleição, o desígnio e os efeitos da morte de Cristo, a graça
suficiente e o livre- arbítrio, que os que foram uma vez justificados e
regenerados, se se descuidarem da graça e entristecerem o Espírito Santo,
podem cair em pecados que não condizem com a verdadeira fé justificadora e,
permanecendo e morrendo neles, podem por isso cair definitivamente na
condenação - Confissão dos Remonstrantes, xi, 7. Os luteranos e os arminianos
concordam neste ponto. Uns e outros crêem que os “eleitos” (os que
Deus escolheu para a vida eterna porque previra com certeza a sua perseverança
na fé e na obediência até ao fim) não podem apostatar definitivamente. A
verdadeira questão entre eles e os calvinistas não é, pois, se os “eleitos” podem
apostatar

finalmente e perecer, mas se os “verdadeiramente regenerados e justificados” o


podem.

5. Qual a objeção que, baseada no livre-arbítrio do homem, se faz contra a


doutrina ortodoxa?

Os que negam a certeza da perseverança final dos santos sustentam a falsa teoria
segundo a qual o livre-arbítrio consiste na indiferença, ou na faculdade de se
poder escolher o contrário, e que, por conseguinte, certeza é incompatível com a
liberdade. Essa falácia já foi refutada acima, Cap.15; veja especialmente as
Pergs. 25 e 26.

Que Deus dirige as ações livres de Suas criaturas é um fato provado claramente
pela história, pelas profecias e pela consciência e experiência cristã universal, e
pelas Escrituras -Atos 2:23; Ef. 1:11; Fil. 2:13; Prov. 21:1.
E claro também que Deus assegura a perseverança final de Seu povo de um
modo perfeitamente compatível com a sua liberdade. Ele muda os afetos do Seu
povo e determina assim a sua vontade mediante a sua própria livre
espontaneidade. Ele os introduz no estado de filhos pela adoção, cerca-os
de todos os meios santificadores, e quando caem em pecado castiga-os
zelosamente e os restaura. Vê-se, pois, que a doutrina bíblica não é que o homem
que uma vez creu verdadeiramente tem segura a salvação, sejam quais forem os
seus sentimentos e os seus atos subseqüentes; mas, ao contrário, é que
Deus garante a salvação final de todos os que foram uma vez verdadeiramente
unidos a Seu Filho pela fé, assegurando, pelo poder do Espírito Santo, a sua
perseverança, perfeitamente livre, nos sentimentos e obediência cristãos até ao
fim.

6. Qual a objeção que, baseada em sua hipotética influência imoral, se faz


contra a doutrina ortodoxa?

A objeção feita é que esta doutrina de “uma vez na graça, sempre na graça”, só
pode ter como resultado natural tornar os homens descuidados, produzindo neles
um falso sentimento

de que se acham seguros em sua posição atual, e de confiarem em que Deus os


há de salvar afinal, independentemente dos seus próprios esforços.

Posto que seja certo que, da parte de Deus, se somos eleitos e fomos chamados,
seremos salvos, são todavia necessárias, da nossa parte, vigilância, diligência e
oração constantes, para que se tornem firmes para nós essa eleição e vocação - 2
Ped. 1:10. O fato de que Deus age poderosamente conosco e assim nos assegura
a vitória em nossa luta contra o pecado é apresentado nas Escrituras como
motivo poderoso, não para que sejamos preguiçosos, e sim diligentes - Fil. 2:13.
A doutrina ortodoxa não afirma a certeza da salvação daqueles que uma vez
creram, e sim a perseverança na santidade dos que creram ou
crêem verdadeiramente; é esta perseverança na santidade, pois, em oposição a
todas as suas fraquezas e tentações, que é a única prova certa da verdade da
experiência cristã passada do crente, e da validade da sua confiança a respeito da
sua salvação futura, e por certo o fato de termos uma certeza como esta não pode
de modo algum promover nem o descuido nem a imoralidade.

7. Qual a objeção fundada nas exortações dirigidas nas Escrituras aos crentes
para que sejam diligentes; e nos avisos de que estarão em perigo se se tornarem
descuidados?

A objeção alegada é que as exortações e os avisos necessariamente envolvem a


contingência da salvação do crente, de ter ela como condição sua fidelidade
permanente, e que, por conseguinte, elas envolvem também a possibilidade de
sua apostasia.

RESPONDEMOS -

Io. A palavra externa fala necessariamente do mesmo modo a todos, dirigindo-se


a eles nas classes a que julgam pertencer; e como muitos dos que se professam
cristãos, ou “os que crêem estar em pé”, enganam-se a si mesmos, essa palavra
externa envolve necessariamente a diminuta segurança da sua posição (até onde
é dado aos homens julgarem),

e a possibilidade de caírem.

2o. Deus garante a perseverança na santidade de Seu verdadeiro povo pelo


emprego de meios adaptados à sua natureza como criaturas racionais, morais e
livres. Vistos em si mesmos, são sempre, como Deus lhes diz, instáveis, e
por isso Ele os exorta a que se apeguem com diligência à Sua graça. E também
sempre verdade que, se apostatarem, estarão perdidos; mas é por meio, em parte,
de tais ameaças que o Espírito de Deus, por Sua graça, os preserva, impedindo-
lhes a apostasia.

8. Quais os principais textos em que os opositores se apóiam para refutar os


argumentos dos ortodoxos sobre este assunto?

Ez.l8:24; Mat. 13:20,21; 2 Ped. 2:20,21; e especialmente Heb. 6:4-6 e 10:26.

Todas essas passagens podem ser explicadas de um modo natural em perfeita


harmonia com a doutrina ortodoxa, que se apóia na muito extensa evidência
bíblica que se acha apresentada acima, Perg. 2. Essas passagens, ou Io.
apresentam avisos hipotéticos das conseqüências da apostasia com o fim de
impedi-la, mostrando quais seriam as conseqüências da indiferença e do pecado,
e mostrando também quão grande é a necessidade de cuidado e esforços sérios;
ou, 2o. mostram quais serão as conseqüências terríveis do mau uso ou do
abuso das influências da graça comum, as quais, posto que envolvam grande
responsabilidade, todavia não chegam a redundar numa mudança radical da
natureza ou na conversão verdadeira.

9. Que argumento os oponentes desta doutrina deduzem de exemplos bíblicos e


da nossa experiência relacionada com a apostasia?

Citam das Escrituras casos como os de Davi e de Pedro, e se referem aos muitos
exemplos de apostasia de bem abonados cristãos professos de que, infelizmente,
todos temos conhecimento.

Todos esses exemplos, porém, pertencem evidentemente

a uma ou outra de duas classes: ou, Io. Eles nunca sentiram em seu ser a virtude
real da piedade, apesar de parecer tão bela sua vida aos olhos dos seus
semelhantes, Rom. 2:28; 9:5; 1 João 2:19; Apoc. 3:1; ou, 2o. São crentes
verdadeiros que, em conseqüência de um afastamento temporário da graça
restrin-gente, desviaram-se por algum tempo, mas, não obstante isso, são todos
restaurados pela graça divina, e isso geralmente por meio de correções - Apoc.
3:9. A esta classe pertenceram Davi e Pedro. Nenhum cristão verdadeiro é capaz
de apostasia proposital; e o seu maior desvio da justiça é ocasionado
por impulsos súbitos de paixão ou medo - Mat. 24:24; Luc. 22:31.

EXPOSIÇÕES AUTORIZADAS DA DOUTRINA ECLESIÁSTICA

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Concilio de Trento, Sess. 6, Cap. 15:


“Também se deve asseverar que não só com a infidelidade, pela qual se
perde a mesma fé, mas também por qualquer outro pecado mortal, ainda
que se não perca a fé, perde-se a graça da justificação, que se havia
recebido”.

Ib., Can. 23: “Se alguém disser que o homem, uma vez justificado, não pode
pecar mais, nem perder a graça, e por isso aquele que cai e peca nunca
verdadeiramente fora justificado... seja anátema”.

Ib., Cap. 11: “Ainda que nesta vida mortal, por mais justos e santos que
sejam, (os homens) caiam algumas vezes em pecados leves e cotidianos, que
também se chamam veniais, nem por isso deixam de ser justos”.

Ib., Sess. 14, Cap. 5: “Quanto aos (pecados) veniais, pelos quais não somos
excluídos da graça de Deus, e em que freqüentemente caímos, posto que
com retidão e utilidade se digam na confissão, fora de toda presunção, como
mostra a praxe das pessoas piedosas; contudo, podem calar-se sem culpa e
ser expiados com outros remédios. Mas, como todos os pecados mortais,
mesmo os

pensamentos, tornam os homens filhos da ira e inimigos de Deus, é


necessário buscar o perdão de Deus, com uma clara e modesta confissão”.

Belarmino,DeAmiss. Gra., Sess. 14, Cap. 5: “(1) O pecado venial se distingue do


pecado mortal por sua própria natureza, e sem nenhuma relação com a
predestinação, ou com a misericórdia de Deus, ou com o estado
dos regenerados, merecendo um certo castigo, porém não eterno. (2) Estes
pecados ou são veniais por sua própria natureza, tendo por seu objeto uma
coisa má ou desordenada, mas que não se opõe ao amor de Deus e
do próximo - como uma palavra ociosa; ou são veniais pela imperfeição da
ação, isto é, (a) os que não são inteiramente voluntários (propositais), como
os que nascem de um movimento súbito de cobiça ou de ira, e (b) os que
dizem respeito a ninharias, como o furto de um óbolo (pequeno donativo ou
esmola)”.

DOUTRINA LUTERANA - Formula Concordue, Pág. 705: “Deve-se refutar e


rejeitar zelosamente a falsa opinião de alguns segundo a qual não se pode
perder a fé, a justificação alcançada e a própria salvação em conseqüência
de nenhum pecado ou crime, seja qual for”.

Ib., pág. 591: “Condenamos o dogma segundo o qual o homem não perde a fé
e o Espírito Santo continua a habitar nele, mesmo quando ele consciente e
voluntariamente comete pecado, e de que os santificados e eleitos retêm o
Espírito Santo, ainda que cometam adultério ou outros crimes e perseverem
neles”.

Apol. Aug. Conf., pág. 71: “A fé não pode coexistir com pecados mortais”.

7è.,pág. 86: “A fé que recebe a remissão dos pecados... não permanece nos
que se rendem a suas paixões, nem pode coexistir com pecados mortais”.

DOUTRINA REFORMADA-Cân. Do Sínodo deDort, Cap. 5, c. 3: “Por causa dos


restos do pecado que neles habita... os convertidos não poderiam
permanecer nesta graça se fossem entregues às suas próprias forças.
Todavia Deus é fiel e os confirma na graça que uma vez lhes foi concedida
misericordiosamente, e poderosamente os conserva nela, até o fim. Cân. 4:
“Mas, apesar desse poder de Deus, que confirma os fiéis na graça e os
conserva, ser maior do que o que pode ser vencido pela carne, contudo, os
convertidos nem sempre são de tal modo influenciados e movidos por Deus
que não possam desviar-se, em certas ações especiais, da direção e da graça
e ser seduzidos pelas paixões da carne, e obedecer-lhes. Podem até cair em
pecados graves e atrozes...” Cân. 5: “No entanto, com esses
pecados enormes, eles ofendem muito a Deus, incorrem em culpa de morte,
entristecem o Espírito Santo, interrompem o exercício da fé, ferem
gravemente a consciência, e às vezes perdem por algum tempo a consciência
de estarem na graça, até que, voltando para o caminho com arrependimento
sincero, o rosto paternal de Deus torne a brilhar para eles.” Cân. 6: “Porque
Deus, que é rico em misericórdia, por causa do Seu imutável propósito de
eleição, não tira inteiramente o Espírito Santo dos que Lhe pertencem,
mesmo nas quedas lamentáveis, nem permite que escorreguem de tal modo
que caiam da graça da adoção e do estado de justificação, ou que cometam o
pecado que é para morte, ou contra o Espírito Santo, para que,
abandonados por Ele, se lancem à perdição eterna...” Cân. 8: “De modo que
não é por seus próprios merecimentos ou forças, e sim pela gratuita
misericórdia de Deus, que eles (os eleitos) alcançam tal posição que nem
caem totalmente da fé e da graça, nem permanecem até o fim em
suas quedas e assim pereçam”.

Conf. de Fé, de Westminster, Cap. 17 § Io: “Os que Deus aceitou em Seu Filho
amado, os que Ele chamou eficazmente e santificou pelo Seu Espírito, não
podem cair do estado de graça, nem total, nem finalmente; mas com toda a
certeza perseverarão nesse estado até o fim e serão eternamente salvos.” §
2: “Essa perseverança dos santos não depende do seu livre-arbítrio, porém
da imutabilidade do decreto da eleição, que brota do livre e imutável amor
de Deus Pai, da eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo, da
permanência do Espírito e

da semente de Deus neles, e da natureza da aliança da graça; de todas estas


coisas vêm a sua certeza e a sua infalibilidade”.
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A Morte e o Estado da Alma depois da Morte

1. Qual a parte da teologia em que entramos agora, e quais as matérias nela


incluídas?

A parte chamada ESCATOLOGIA, ou a discussão das últimas coisas.

Inclui a morte, o estado da alma depois da morte, o segundo advento de Cristo, a


ressurreição dos mortos, o juízo final, o fim do mundo, o céu e o inferno.

2. Quais as diversas formas de expressão empregadas para

descrever a morte na Bíblia? '

Um partir do mundo - 2 Tim. 4:6. Um entrar no caminho de toda a terra-Jos.


23:14. Um unir-se a seus pais, Juí. 2:10; e a seu povo - Deut. 32:50. Um
desfazer-se a casa terrestre desta morada - 2 Cor. 5:1. Um voltar ao pó - Ecl.
12:7. Um sono -João 11:11. Um expirar (render o espírito) - Atos 5:10. Um estar
ausente do corpo e presente com o Senhor - 2 Cor. 5:9. Um dormir em Jesus - 1
Tess. 4:14.

3. Que é a morte?

A morte é a suspensão da união pessoal entre o corpo e a alma, seguida da


resolução do corpo em seus elementos químicos, e da introdução da alma
naquele estado separado de existência que lhe seja designado por seu Criador e
Juiz -Ecl. 12.7.

4. Qual a relação existente entre a morte e o pecado?

A plena pena da lei, inclusive todas as conseqüências eternas do pecado -


espirituais, físicas e penais, é chamada morte nas Escrituras. A sentença foi: “No
dia em que dela comeres, certamente morrerás” - Gên. 2:17; Rom. 5:12.
Que isso incluiu a morte natural fica provado por Rom. 5:13,14; e também pelo
fato de que, quando Cristo tomou sobre Si a pena da lei, foi necessário que
morresse - Heb. 9:22.

5. Por que morrem os justificados?


A justificação muda toda a relação federal do justificado com a lei, e o eleva para
sempre acima de todas as conseqüências penais do pecado. A morte, pois, posto
que permaneça como parte da pena da lei violada em relação ao injusto, é,
como todas as demais aflições, mudada em relação aos justificados em elemento
de disciplina proveitosa. Ela lhes é necessária por causa da constituição presente
de seus corpos, mas é, tanto para seus corpos como para suas almas, a porta do
céu. Estão livres do aguilhão da morte e do seu temor - 1 Cor. 15:55,57; Heb.
2:15. São agora “bem-aventurados” em sua morte porque “morrem no Senhor” -
Apoc. 14:13, e serão afinal libertados perfeitamente do seu poder quando for
destruído o último inimigo - 1 Cor. 15:26.

6. Que provas temos da imaterialidade da alma, e que argumento se pode tirar


daí para provar a sua existência contínua depois da morte?

Para a comprovação da imaterialidade da alma, veja as provas no Cap. 2, Perg.


18.

Ora, conquanto a existência contínua de qualquer criatura dependa unicamente


da vontade do seu Criador, essa vontade pode tornar-se conhecida por meio de
uma revelação direta, ou, em qualquer caso especial, pode-se inferir por meio de
um raciocínio analógico baseado naquilo que sabemos do seu modo de agir
noutros casos. Até onde esse argumento

analógico tem aplicação, ele confirma decisivamente a crença . em que uma


substância espiritual é, como tal, imortal. Não há f jparte alguma do campo da
experiência humana que nos dê ifconhecimento de um só caso de aniquilação de
um átomo de npnatéria, isto é, da matéria como tal. Vemos que corpos
materiais, i organizados ou compostos quimicamente, ou formados por simples
agregações mecânicas, estão constantemente entrando em existência e por sua
vez desaparecendo, mas nunca pelo aniquilamento de suas partes elementares
constituintes ou componentes, por simples dissolução da relação que essas partes
haviam mantido umas com as outras. O que é espírito, porém, é essencialmente
simples e uno, por isso incapaz daquela dissolução das partes a que estão sujeitos
os corpos materiais. Inferimos, portanto, que os espíritos são imortais porque não
podem estar sujeitos à única forma da morte da qual temos conhecimento.

7. Que argumento a favor da imortalidade da alma se pode tirar do seu


imperfeito desenvolvimento neste mundo?
Em todas as seções da vida organizada, cada criatura individual, em seu estado
normal, tende a desenvolver-se até chegar a um estado que é a perfeição do seu
gênero. A bolota germina e se desenvolve, tornando-se carvalho. Mas cada
ser humano está cônscio de que nesta vida nunca alcançará a perfeição que o
Criador teve em vista quanto ao ideal do seu tipo; possui faculdades não
desenvolvidas, capacidades e desejos naturais não satisfeitos; sabe que foi
destinado a ser muito mais do que é, e a preencher uma esfera mais
elevada. Assim como a razão profética do Criador faz provisão para a borboleta
mediante o instinto da lagarta, assim também o Criador revela a existência
imortal da alma numa esfera mais elevada mediante suas limitações conhecidas e
seus movimentos instintivos na esfera atual.

8. Que argumento sobre este ponto pode ser tirado da justiça distributiva de
Deus?

E um juízo invariável da razão natural e uma doutrina fundamental da Bíblia que


o bem moral está associado à felicidade, e o mal moral à infelicidade, pela
natureza e pelo propósito invariáveis de Deus. Mas a história, tanto de todos os
homens como de todas as comunidades, estabelece o fato de que esta vida não
constitui um estado de retribuição; que aqui a maldade muitas vezes se acha
associada à prosperidade, e a excelência moral à aflição; devemos, pois, tirar daí
a conclusão de que há um estado (numa esfera transcendental) a ser conhecido
por nós no futuro em que será ajustado tudo o que aqui parefce incompatível
com a justiça de Deus . Veja Salmo 73.

9. Como parecem indicar um estado futuro as operações da consciência?

A consciência é a voz de Deus na alma, dando testemunho do nosso pecado e


desmerecimento, e da justiça divina essencial. Exceto no caso dos que buscaram
refúgio na justiça de Cristo, todos os homens sentem que suas relações morais
com Deus nunca são adequadas nesta vida, e por isso o testemunho característico
da consciência humana, apesar de grandes diferenças individuais a respeito da
luz, da sensibilidade, etc., sempre coincide com o da Palavra de Deus, no sentido
de que depois da morte segue-se o juízo - Heb. 9:27.

10. Como fica estabelecida esta doutrina pelo consenso geral da humanidade?

Essa tem sido a crença universal de todos os homens, de todas as raças e em


todas as idades. Um consenso universal, assim como qualquer outro efeito
universal, é necessário reportar-se a uma causa, igualmente universal, e este
consenso, uniforme entre homens que diferem entre si em todos os
outros aspectos e sentidos, não pode reportar-se a nenhuma outra

origem que não a constituição da natureza do homem, que é o testemunho do seu


Criador. . • ■ . <t>. :

11. Como se pode mostrar que o Velho Testamento ensina a mesma distinção
entre o corpo e a alma ensinada no Novo Testamento?

Io. Na narrativa da criação. Deus formou o corpo com o pó da terra, mas a alma
(ou o espírito) Ele fez à Sua própria imagem - Gên. 1:26; 2.7.

2o. Na definição da morte - Ecl. 12:7: “O pó volte à terra, como o era, e o


espírito volte a Deus, que o deu”. Veja também Ecl. 3:21. • . , > . ■

12. Que ensina o Velho Testamento a respeito do sheol? E como se pode


mostrar, pelo uso dessa palavra, que a imortalidade da alma é doutrina da
antiga aliança?

O substantivo sheol vem do verbo shâal, pedir, exprimindo o sentido do adágio


inglês: “A cova grita: dai, dai”. A palavra é empregada no Velho Testamento para
designar, em sentido vago e geral, o estado dos mortos, tanto dos bons como
dos maus, intermediário entre a morte e a ressurreição dos justos -Os. 13:14, ao
qual se achavam associadas em geral idéias tristes, e que se julgava, em sentido
indeterminado, nas partes inferiores da terra - Deut. 32:22; Amós 9:2.* E
empregada assim para designar a sepultura como o receptáculo do corpo depois
da morte - Gên. 37:35; Jó 14:13, mas principalmente para designar o receptáculo
dos espíritos separados do corpo, sem nenhuma referência explícita a uma
divisão entre a parte destinada aos justos e a destinada aos maus. Que os
espíritos se mantêm ativos e conscientes nesse estado vê-se pelo que nos
é revelado com relação a Samuel - 1 Sam. 28:7-20; Is. 14:15-17.

Cf. o texto hebraico. Um modo fácil de verificar o termo conforme o original


hebraico é utilizar a Tradução Brasileira, que não traduz sheol, mas
simplesmente o translitera. Nota de Odayr Olivetti.

Quanto aos bons, porém, a sua residência no sheol era considerada como algo
intermediário entre a morte e uma ressurreição feliz - Sal. 49:16. Quando tratam
deste assunto, as Escrituras do Velho Testamento falam antes como se
a existência contínua da alma fosse coisa concedida, e não a afirmam
explicitamente - Fairbairn, Hermeneutical Manual; Josefo, Antigüidades, 18.1.

13. Qual é o teor do argumento de nosso Salvador a respeito deste assunto,


contra os saduceus?

Veja Luc. 20:37,38. Muito tempo depois da morte de Abraão, Isaque e Jacó, O
Senhor (Yavé) continua a chamar-se seu Deus - Êx. 3:6. Mas Cristo,
argumentando contra os saduceus, que negavam a ressurreição dos mortos,
declara: “Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos”. Isto prova antes a
imortalidade da alma deles; mas, desde que Deus é o Deus pactuai de pessoas, e
desde que as pessoas desses patriarcas incluíam tanto o seu corpo como a sua
alma, o argumento estabelece também a imortalidade final do corpo, isto é,
da pessoa inteira.

14. Quais as passagens do Velho Testamento que afirmam explícita ou


implicitamente a esperança de um estado de bem--aventurança depois da
morte?

Núm. 23:10; Jó 19:26; Sal. 16:9-11; 17:15; 49:15,16; 73:25-28; Is. 25:8; 26:19;
Os. 13:14; Dan. 12:2,3,13.
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15. Que provas mais fornece o Velho Testamento da existência contínua da


alma?

Ia. A trasladação de Enoque e de Elias, e a temporária reaparição de Samuel (se


se entender que foi de fato Samuel) -Gên. 5:24; Heb. 11:5; 2 Reis 2:11; 1 Sam.
28:7-20.

2a. A proibição da prática da necromancia implica a existência geral da crença


em que os mortos continuarão a existir noutro estado - Deut. 18:11,12.

3a. Em seu sistema simbólico, a terra de Canaã representa a herança permanente


do povo de Cristo, e todo o propósito da revelação completa do Velho
Testamento, como foi apreendida pelos crentes daquela dispensação, dizia
respeito a uma existência futura e a uma herança depois da morte. Isso
é asseverado diretamente no Novo Testamento - Atos 26:6-8; Heb. 11:10-16; Ef.
1:14.

16. Que nos ensina o Novo Testamento a respeito do estado da alma logo depois
da morte?

“As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas nos
mais altos céus, onde vêem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena
redenção de seus corpos” - Luc. 23:43; 2 Cor. 5:6,8; Fil. 1:23,24. “E as
almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão em tormentos e em
trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final” - Luc. 16:23,24;
Jud., vers. 6 e 7. Conf. de Fé, de West-minster, Cap.32, § 1.

Esta exposição representa a doutrina das igrejas luteranas e reformadas.

Inclui os seguintes pontos: .

Io. Ao estado das almas, entre a morte e a ressurreição, pode-se com propriedade
chamar intermediário, quando considerado com relação aos estados que lhe
precedem e que se lhe seguem.

2o. Se também há ou não um lugar intermediário, as Escrituras não declaram


definidamente, mas o sugerem. Veja abaixo, Cap.40, Perg. 3.

3o. As almas, tanto dos justos como dos perdidos, permanecem ativas e
conscientes durante esse estado.

4o. O caráter e o destino espirituais e morais de cada um ficam decididos


irrevogavelmente para o bem ou para o mal no momento da morte.

5o. Os justos são aperfeiçoados imediatamente na santidade.

6o. Passam logo para a presença de Cristo e em Sua presença

permanecem durante todo o período.

7o. Este estado intermediário difere do estado final dos remidos - (1) Por causa
da ausência do corpo. (2) Porque a redenção ainda não se consumou de maneira
completa.
17. Qual o significado e uso da palavra ádes, hades, nas Escrituras?

O termo ádes, formado pela partícula privativa ou negativa a e pelo verbo ver,
designa em geral o mundo invisível habitado pelos espíritos dos mortos. Entre os
antigos pagãos clássicos, esse mundo invisível era considerado como consistindo
de duas regiões contrastadas, a uma das quais chamavam eliseu ou elísio, a
morada dos bem-aventurados, e à outra tártaro, morada dos viciosos e infelizes.

Os tradutores da Septuaginta empregaram essa palavra grega para traduzir a


palavra hebraica sheol. Cf. Atos 2:27 e Sal. 16:10. No Novo Testamento
encontra-se somente onze vezes, em Mat. 11:23; 16:18; Luc. 10:15; 16:23; Atos
2:27,31; 1 Cor. 15:55; Apoc. 1:18; 6:8; 20:13,14. Em todos estes casos, exceto
em 1 Cor. 15:55, onde as edições mais críticas do original têm aánate em vez de
ádes, o termo é sempre traduzido por inferno e, certamente, representa sempre o
mundo invisível sob o domínio de satanás, em oposição ao reino de Cristo,
e finalmente subjugado por Seu poder vitorioso. Veja Fairbairn, Herm. Manual.

18. Qual o significado e uso das palavras parádeisos, paraíso, e géena,


geena?

Parádeisos, paraíso, derivada de alguma língua oriental e adaptada às línguas


hebraica e grega, significa parque, jardim de recreio - Nee. 2:8; Ecl. 2:5. Os
tradutores da Septuaginta empregaram essa palavra para representar o jardim do
Éden -Gên. 2:8, etc. Encontra-se apenas três vezes no Novo Testamento - Luc.
23:43; 2 Cor. 12:4; Apoc. 2:7, onde se vê, pelo contexto, que ela se refere ao
“terceiro céu”, o jardim do Senhor

em que está a “árvore da vida”, junto ao rio que sai do trono de Deus e do
Cordeiro - Apoc. 22:1,2.

Géena é palavra hebraica composta, transcrita na Septua-ginta e no Novo


Testamento com letras gregas, e significa “vale de Hinom, Jos. 15:8, o vale que
ladeia Jerusalém ao sul e segue do vale de Josafá para o oeste, ao pé do monte
Sião. Ali se estabelecera o culto de Moloque, falso deus ao qual
eram sacrificadas crianças pelo fogo - 1 Reis 11:7. Josias deu cabo desse culto e
dessacralizou o lugar - 2 Reis 23:10-14. Depois disso, consta que esse lugar
tornou-se o receptáculo para toda a imundície da cidade, e para os corpos dos
animais mortos e dos malfeitores justiçados. Para a queima dessas coisas faziam-
se ali de tempos a tempos grandes fogos. Por essa razão deram ao lugar o nome
de Tofete, que significa abominação, vômito, Jer. 7:31,” - Robinson, Greek
Lexicon. Como uma figura muito natural foi, pois, empregada essa palavra como
designativo do lugar do castigo final, sugerindo com muita força a idéia
de degradação e infelicidade. Encontra-se doze vezes no Novo Testamento, e
sempre para designar o lugar dos tormentos fmais - Mat. 5:22,29,30; 10:28;
18:9; 23:15,33; Mar. 9:43,47; Luc. 12:5; Tia. 3:6.

19. Quais as diversas opiniões mantidas a respeito do estado intermediário das


almas dos homens entre a morte e o juízo?

Io. Muitos protestantes, especialmente da Igreja da Inglaterra, retendo a


significação clássica da palavra hades como equivalente à da palavra hebraica
sheol (como dada acima, Perg. 12), sustentam que há uma região intermediária,
consistindo de dois distritos distintos, num ou no outro dos quais as
almas separadas do corpo, tanto dos perdidos como dos
remidos, respectivamente, esperam a ressurreição de seus corpos, a decisão do
Juízo, e sua trasladação para suas moradas finais de bem-aventurança ou de
infelicidade. Sua doutrina difere da doutrina comum dos protestantes,
principalmente - (1) Em afirmar positivamente que o lugar, e não somente o
estado, é

intermediário. (2) Em afirmar que esse lugar se acha “embaixo” em relação a


este mundo. (3) Em sustentar que não se trata de “os mais altos céus”, onde Deus
manifesta a Sua presença especial e onde Cristo habitualmente reside. Veja
Yesterday, To-day and Forever, pelo Rev. E.H. Bickersteth, e Hades and Heaven,
or The State ofthe Blessed, pelo mesmo autor. '

2o. Quanto à exposição completa da doutrina dos roma-nistas, veja abaixo, Perg.
22.

3o. As seitas de ênfase materialista e alguns socinianos sustentam que as almas


dos homens ficam em estado inconsciente ou de vida interrompida desde a morte
até ao momento da ressurreição.

4°. Essa opinião é sustentada também pelos defensores da aniquilação final dos
maus, e é defendida muito habilmente por C. E Hudson na América, e
provávelmente pelo falecido arcebispo Whately na Inglaterra - View ofScripture
Concerning a Future State. -
Os argumentos são: (1) Não temos experiência e nem podemos formar idéia de
uma atividade mental consciente num estado separado do corpo. (2) São
obscuras e não conclusivas as provas bíblicas apresentadas em apoio da doutrina
das igrejas. (3) O significado original e simples da palavra morte é “extinção de
existência”. Deus disse a Adão: “No dia em que dela comeres, certamente
morrerás”; não o teu corpo, mas tu mesmo morrerás. Veja Mat. 10:28. (4) Que a
grande proeminência dada no Novo Testamento à futura ressurreição do corpo,
como efeito da redenção e como objeto da esperança cristã, prova que a única
vida futura esperada pelos apóstolos era posterior à ressurreição e dependia dela.
Veja 1 Cor. 15:14.

(5) Citam muitas passagens para provar que, segundo as Escrituras, os mortos
ficam por enquanto em estado de inatividade corporal e espiritual. Veja Sal. 6:5:
“Pois, na morte, não há recordação de ti; no sepulcro (sheol), quem te
dará louvor?” - Sal. 146:4; Jer. 51:57.

5o. Essa doutrina foi ensinada primeiro por certos hereges

da Arábia, chamados tanatopsiquitas, no tempo de Orígenes. Ressuscitou depois


como opinião de alguns teólogos nos séculos 13 e 14, mas foi condenada pela
Universidade de Paris em 1240, e pelo papa Benedito XII em 1366. Foi
ressuscitada outra vez por alguns anabatistas e refutada por Calvino em sua
obra Psicopaniquia, etc. Nunca foi sustentada por nenhuma igreja ou escola
permanente de teólogos.

Isaac Taylor, em sua Physical Theory ófAnother Life, Cap. 17, tira a conclusão,
fundada somente nas Escrituras, de que o estado intermediário das almas
remidas não é um estado realmente inconsciente, mas de relativa inatividade e de
energia suspensa - um estado de transição durante cuja permanência devem
acordar antes as faculdades passivas da natureza que as ativas”. ‘ ■ '■ "

20. Como se pode expor as provas bíblicas em que se baseia a doutrina


protestante exposta acima (Perg. 16)?

Io. A aparição de Samuel no uso de todas as suas faculdades

- 1 Sam. 28:7-20. - ■ •

2o. A aparição de Moisés e Elias por ocasião da transfiguração de Cristo - Mat.


18:3.

3o. As palavras dirigidas por Cristo ao ladrão na cruz -

Luc. 23:43. ^

4o. A parábola do homem rico e Lázaro — Luc. 16.23,24.

5o. A oração de Estêvão quando morria — Atos 7.59.

6o. Em 2 Cor. 5:1-8 Paulo afirma que estar ausente do corpo é estar presente ao
Senhor, e por isso declara (Fil. 1.21-23) que para ele morrer seria lucro, e que
estava constrangido de um e outro lado, “tendo o desejo de partir e estar com
Cristo, o que é incomparavelmente melhor” e “por vossa causa permanecer na
carne”.

7o. Ele declara (1 Tess. 5:10) que o sono da morte é o viver sempre com Cristo.
Veja também Ef. 3:15; Heb. 6.12-20,12.23, Atos 1:25; Jud. 1:6,7; Apoc. 5:9; 6:9-
11; 7:9; 14:1,3.

21. Como se pode mostrar que o estado intermediário não constitui mais tempo
de provação para os que saíram desta vida sem terem sido unidos a Cristo?

Entre algumas classes de protestantes está se tornando em voga* a opinião de


que entre a morte e a ressurreição as almas não unidas a Cristo terão mais uma
oportunidade para arrepender-se e alcançar a fé nEle. Que isso não tem
fundamento vê-se -

Io. Do fato de não ser ensinado em parte alguma das Escrituras. E, quando muito,
uma esperança sugerida pelo desejo, mas sem fundamento algum na Palavra de
Deus. Mesmo que o fato de Jesus Cristo ter pregado “aos espíritos em prisão” (1
Ped. 3:19) significasse realmente o ministério pessoal de Cristo na esfera do
estado intermediário, é certo que não teria aplicação aos que O tinham rejeitado
como seu Salvador aqui na terra, e, nesse caso, provavelmente só teria aplicação
aos verdadeiros crentes que viveram sob a dispensa-ção do Velho Testamento,
como a igreja católica romana sempre tem ensinado.

2o. A teoria funda-se no princípio fortemente anticristão de que Deus tem o


dever de conceder a todos os homens ocasião propícia para conhecerem e
aceitarem a Cristo. Se isso fosse verdade, o evangelho seria uma dívida, e não
uma GRAÇA.

3o. Todo o ensino de Cristo e dos apóstolos envolve o contrário. “Aos homens
está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” - Heb. 9:27.
“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu retiro-me, e buscar-me-eis, e morrereis
no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir” - João 8:21. “E, além
disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que
quisessem passar daqui para vós não
Hodge escreveu essas palavras em fins do século XIX (o prefácio traz a data de 6 de agosto de 1878). A tradução da qual estamos
fazendo revisão e atualização foi publicada em Lisboa, em 1895. Do nome do tradutor só constam as iniciais: F. J. C. S. Nota de Odayr
Olivetti.

poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá” - Luc. 16:26; Apoc. 22:11.

4o. A lei do hábito e do caráter moral confirmado tornaria naturalmente o estado


moral do pecador muito mais insensível e baldo de esperança no estado
intermediário do que estivera durante a sua vida terrena, mesmo que lhe fossem
oferecidas condições de arrependimento. A razão não é melhor fundamento para
a “Esperança” do que são as Escrituras.

22. Que ensinam os romanistas a respeito das almas depois da morte?

Io. Que as almas das crianças não batizadas vão para um lugar preparado
expressamente para elas, chamado “Umbus infantum”, onde não estão sujeitas a
sofrimentos positivos, mas também não gozam da presença de Deus. Esse lugar
(imaginário) acha-se colocado numa parte superior do inferno, aonde não
chegam as chamas, e elas sofrem somente apoenam damni (pena de privação), e
não têm parte napoenam sensus (pena de sofrimentos positivos), que aflige os
pecadores adultos.

2o. Que todos os adultos não batizados, e todos os que perderam a graça batismal
em conseqüência de pecado mortal, e morreram sem que estivessem
reconciliados com a igreja, vão imediatamente para o inferno.

3o. Que os fiéis que alcançaram o estado de perfeição vão imediatamente para o
céu. - -■ v,»;' 4

4o. Que a grande multidão de cristãos parcialmente santificados, morrendo na


comunhão da igreja, mas ainda embaraçados com imperfeições, vão para o
purgatório, onde ficam durante um período mais ou menos longo, até que os seus
pecados sejam expiados e também purgados, sendo então trasladados para o céu.
Durante esse período intermediário podem ser socorridos eficazmente por seus
amigos na terra, mediante orações e obras.

5o. Que os fiéis do Velho Testamento foram recolhidos a uma região chamada
“Umbuspatrum”, descrita como “o seio de

Abraão”, onde ficaram sem a visão beatífica de Deus, mas também sem
sofrimento, até ao tempo em que Cristo, durante os três dias em que Seu corpo
estava no sepulcro, foi libertá-los -1 Ped. 3:19,20. Cat. Rom., Parte 1, Cap. 6,
Perg. 3; Cone. De Trento, Sess. 25, do Purgatório.

Quanto ao purgatório, o Concilio de Trento só decidiu dois pontos: Io. Que há


purgatório; 2o. “que as almas ali detidas são ajudadas com os sufrágios dos fiéis,
e principalmente com o gratíssimo sacrifício do Altar”.

E opinião geral, porém, que as suas penas são tanto negativas como positivas.
Que o meio instrumental dos seus sofrimentos é fogo material. Que estes são
terríveis e indefinidos em extensão. Que os termos pelos quais se pode fazer
satisfação neste mundo são muito mais fáceis de cumprir. Que no purgatório as
almas nem podem incorrer em culpa nem ganhar merecimento algum; só podem
expiar seus pecados por meio de sofrimentos passivos.

Confessam que essa doutrina não se acha ensinada diretamente nas Escrituras,
mas afirmam, Io. Que se deduz necessariamente da sua doutrina geral quanto à
satisfação devida pelo pecado; 2o. Que Cristo e os apóstolos a
ensinaram incidentalmente, assim como ensinaram a doutrina do batismo das
crianças, etc. Fazem referência a Mat. 12:32; 1 Cor. 3:15.

23. Como se pode mostrar que essa doutrina é de caráter anticristãO? n .

Io. É confessado que ela não tem fundamento direto nas Escrituras, e é óbvio que
também não tem nela nenhum fundamento real. Só esta consideração é
suficiente.

2o. É fundada numa teoria inteiramente anticristã a respeito do modo de dar


satisfação à justiça divina pelos pecados cometidos. (1) Que, apesar de serem
infinitos os merecimentos de Cristo, são uma expiação somente do pecado
original. (2) Que é necessário que os fiéis façam expiação por seus
próprios pecados pessoais, cometidos depois do batismo, por meio de

penitência aqui ou das penas do purgatório. Isso é contrário a tudo quanto as


Escrituras ensinam, como já provamos acima, sob os seus respectivos títulos. (1)
quanto à satisfação dada à justiça divina por Cristo; (2) à natureza da
justificação; (3) à natureza do pecado; (4) à relação que têm com a lei
os sofrimentos e as boas obras dos justificados; (5) ao estado das almas dos fiéis
depois da morte, etc. etc.

3o. E doutrina pagã, derivada dos egípcios por via dos gregos e romanos, e
corrente em todo o império romano -Eneida, de Virgílio, Liv. 6, págs. 739,
43. .

4o. Seus efeitos práticos sempre têm sido (1) sujeição abjeta do povo ao
sacerdócio; (2) vergonhosa desmoralização do povo. A igreja é o autonomeado
depositário e despenseiro dos merecimentos superabundantes de Cristo, e dos
merecimentos supererrogatórios de seus santos proeminentes. Tomando isso por
fundamento, ela dispensa das penas do purgatório os que pagam por seus
pecados já cometidos, ou vende indulgências aos que pagam pela licença de
cometer pecados no futuro. Assim o povo vai pecando e pagando, e o sacerdote
vai recebendo o dinheiro e remitindo a pena. A ficção de um purgatório do qual
o sacerdote tem as chaves é a origem principal da influência que ele tem sobre o
povo por via dos seus temores. Veja Cap.32, Perg. 19.

EXPOSIÇÕES ECLESIÁSTICAS AUTORIZADAS

DOUTRINA ROMANA - Cat. do Cone. de Trento, Parte 1, Cap. 6 § 3: “Há


também o fogo do purgatório, no qual as almas dos justos são purificadas
durante um certo tempo por meio de penas, a fim de que sejam admitidas
na sua pátria eterna, na qual não pode entrar nada que contamine.

E da verdade desta doutrina, que santos concílios declararam ser


confirmada pelos testemunhos das Escrituras e pela tradição apostólica, o
pastor terá ocasião de tratar mais diligente e freqüentemente, por termos

chegado aos tempos em que os homens não sofrem a sã doutrina”.


Belarmino, Purgator, 2.10: “E certo que no purgatório, como também no
inferno, há castigo pelo fogo, quer se entenda esse fogo literal, quer
metaforicamente”. Sua própria opinião é que é fogo corpóreo.

Catecismo Maior da Igreja Oriental, Ortodoxa, Católica,


DOUTRINA DA IGREJA GREGA -
agora o símbolo mais autorizado da Igreja Ortodoxa Grego-Russa. Pergs.
372-377, sobre o Art. 11°: “Desde a morte até à ressurreição geral as almas
dos justos estão na luz e no descanso, com gozo antecipado da felicidade
eterna; mas as almas dos maus estão num estado que é o contrário disso.
Sabemos isso porque é ordenado que a retribuição perfeita, segundo
as obras, será recebida pelo homem perfeito depois da ressurreição do corpo
e do último juízo de Deus - 2 Tim. 2:8; 2 Cor. 5:10. Mas que elas têm um
gozo antecipado da bem-aventurança nos diz o testemunho de Jesus
Cristo, que, na parábola, afirma que o justo Lázaro foi levado para o seio de
Abraão imediatamente depois da sua morte -Luc. 16:22; Fil. 1:23. A
respeito das almas, porém, que partiram daqui com fé, mas não tiveram o
tempo necessário para produzir frutos dignos de arrependimento,
dizemos que elas podem ser ajudadas para alcançarem uma ressurreição
bem-aventurada por orações oferecidas a seu favor, e especialmente pelas
oferecidas em união com a oblação do sacrifício incruento do corpo e do
sangue de Cristo, e por obras de misericórdia feitas na fé em
memória delas”.

Artigos de Esmalcalda (Luteranos). Pág. 307: “O


DOUTRINA PROTESTANTE -
purgatório, e quaisquer ritos religiosos, culto ou outra coisa que lhe digam
respeito, é somente um disfarce do diabo”.

Os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, art. 22°: “A doutrina romana


relativa ao purgatório, às indulgências, à veneração e adoração tanto de
imagens como de relíquias, e à invocação dos santos, é uma coisa fútil,
vãmente inventada, que não se funda em testemunho algum das

Escrituras, mas antes é repugnante à Palavra de Deus”.

Breve Cat. da /4m. de Westminster, Perg. 37: “As almas dos fiéis na hora da
morte são aperfeiçoadas na santidade, e imediatamente entram na glória; e os
corpos, que continuam ligados a Cristo, descansam na sepultura até
à ressurreição”.
fí.
r:
A Ressurreição

1. Qual o significado das frases, “ressurreição dos mortos” e “dentre os


mortos”, empregadas nas Escrituras?

Anástasis significa, etimologicamente, “um levantar ou levantar-se”. Essa


palavra é empregada nas Escrituras para designar o futuro levantamento geral
dos corpos de todos os homens, do sono da morte, que há de ser efetuado pelo
poder de Deus.

2. Quais passagens do Velho Testamento têm aplicação a este assunto?

Jó 19:25-27; Sal. 49:15; Is. 26:19; Dan. 12:1-3.

3. Quais passagens do Novo Testamento aplicam-se a este 1

assunto? 1

Mat.5;29; 10:28; 27:52,53; João 5:28,29; 6:39; Atos 2:25- 1

36; 13:34; Rom. 8:11,22,23; Fil. 3:20,21; 1 Tess. 4:13-17; e o capítulo 15 de 1


Coríntios.

4. Qual o significado das expressões soma psyquikón, corpo natural, e soma


pneumatikón, corpo espiritual, como empregadas por Paulo em 1 Cor. 15:44?

A palavra psyqué, em contraste com pneüma, significa sempre o princípio da


vida animal; em distinção do princípio de inteligência e de atividade moral, que
é o pneüma. Um soma psyquikón, traduzido por corpo natural (animal), significa
«

evidentemente um corpo dotado de vida animal e adaptado ao estado atual da


alma e à presente constituição física da esfera em que ela se acha. Um soma
pneumatikón, traduzido corpo espiritual, é um corpo adaptado ao uso da alma em
seu estado futuro glorificado, e às condições morais e físicas do mundo celeste, e
com este fim assemelhado pelo Espírito Santo, que nele habita, ao corpo
glorificado de Cristo - 1 Cor. 15:45-48.

5. Como ressuscitará o mesmo corpo depositado na sepultura?


As passagens das Escrituras que tratam deste assunto

ensinam claramente que deverão ressuscitar os mesmos corpos que foram


depositados nas sepulturas, porque as frases que empregam para designar os
corpos ressuscitados são: Io. “o nosso corpo” - Fil. 3:21; 2o. “este corpo
corruptível” - 1 Cor. 15:53,54; 3o. “todos os que se acham nos túmulos” - João
5:28; 4o. “os que dormem” - 1 Tess. 4;13-17; 5o. “os vossos corpos são membros
de Cristo” -1 Cor. 6:15; 6o. A nossa ressurreição ocorrerá graças à ressurreição
de Cristo e será semelhante a ela, que foi do Seu corpo idêntico - João 20:27.

6. Por que se pode pensar que a ressurreição final será simultânea e geral?

Veja mais adiante, Cap. 39, Pergs. 9 e 10.

7. Que ensinam as Escrituras a respeito do corpo ressurreto?

Io. Há de ser espiritual -1 Cor. 15:44. Veja acima, Perg. 4.

2o. Há de ser semelhante ao corpo de Cristo - Fil. 3:21.

3o. Será glorioso, incorruptível e poderoso - 1 Cor. 15:54.

4o. Jamais morrerá - Apoc. 21:4.

5o. Nunca será dado em casamento - Mat. 22:30. .

8. Como se pode provar que o corpo material de Cristo ressurgiu

dos mortos? . .

Io. Cristo o predisse-João 2:19-21.

2o. Faz-se referência à Sua ressurreição como uma atestação

miraculosa da verdade da Sua missão; se o Seu corpo não tivesse ressuscitado


literalmente, não haveria nada de miraculoso no fato dEle viver depois da
crucifixão.

3o. Toda a linguagem das narrativas inspiradas necessariamente envolve isso,


quando falam de haver-se tirado a pedra, de haver estado dobrado o lençol, etc.

4o. Ressurgiu somente no terceiro dia, o que prova que foi uma mudança física, e
não uma simples continuação de uma existência espiritual - 1 Cor. 15:4.

5o. Seu corpo foi visto, tocado e examinado, durante o espaço de quarenta dias,
para que se estabelecesse precisamente esse fato - Luc. 24:39. Veja Dr. Hodge.

9. Como se pode conciliar a materialidade da ressurreição de Cristo com o


que se diz a respeito dos modos da Sua manifestação e com a Sua ascensão ao
céu?

Os aparecimentos súbitos dEle e também os desaparecimentos, narrados em


Lucas 24:31; João 20:19; Atos 1:9, foram efetuados por meio de uma
interferência nas leis ordinárias que regulam no caso dos corpos materiais, e
são exatamente da mesma ordem dos muitos milagres realizados por Jesus
quando em Seu corpo, antes da Sua morte; e.g., andar sobre o mar - Mat.14:25;
João 6:9-14.

10. Como a ressurreição de Cristo torna certa a do Seu povo e a ilustra?

O corpo e a alma juntos constituem uma pessoa, e é o homem, em sua pessoa


inteira, que é abrangido tanto na aliança da graça como o foi na das obras, e está
em união federal e viva tanto com o Segundo como com o primeiro Adão. A
ressurreição de Cristo torna certa a nossa -

Io. Porque a Sua ressurreição sela e consuma o Seu poder redentor; e a redenção
das nossas pessoas envolve a redenção do nosso corpo - Rom. 8:23.

2o. Graças à nossa união federal e viva com Cristo - 1 Cor.

15: 21,22; 1 Tess. 4:14.

3o. Graças ao Seu Espírito, que habita em nós (Rom. 8:11), tornando nossos
corpos em membros de Cristo - 1 Cor. 6:15.

4o. Porque Cristo, em virtude da aliança com o Pai, é Senhor tanto dos mortos
como dos vivos - Rom. 14:9. Esta mesma união federal e viva do cristão com
Cristo (veja acima, Cap. 31) também fará com que a ressurreição do crente
seja semelhante à de Cristo, e não só a conseqüência dela - 1 Cor. 15:49; Fil.
3:21; 1 João 3:2.

11. Até onde podem ser consideradas de peso as objeções científicas contra a
doutrina da ressurreição do corpo?

Todas as verdades concordam entre si e são de Deus e necessariamente


compatíveis umas com as outras, quer sejam reveladas por meio dos fenômenos
da natureza, quer pelas palavras da inspiração. Por outro lado, do nosso
conhecimento parcial dos dados, tanto da ciência como da revelação, e do modo
errado pelo qual muitas vezes as interpretamos, segue-se que muitas vezes
somos incapazes de perceber a harmonia de verdades que são de fato
intimamente relacionadas entre si. Não podemos crer que seja verdade qualquer
coisa que vemos ser incompatível com outra verdade já estabelecida firmemente.
Mas, por outro lado, no estado atual do nosso desenvolvimento, a maior parte
das matérias do nosso conhecimento tem por base provas independentes, e
aquilo que nos é provado por provas conclusivas nós aceitamos como verdade,
mesmo que não saibamos conciliar cada fato com todos os outros nas harmonias
de suas leis superiores. Os princípios das ciências físicas merecem fé em virtude
das provas que temos a seu favor, isto é, até onde as ciências se baseiam em
provas e não em hipóteses, e também o testemunho da revelação merece fé em
virtude das provas que temos da sua veracidade. As ciências podem modificar a
nossa interpretação da revelação, porém o mais certo de todos os princípios é
que toda ciência fundada em provas indiscutíveis

há de corroborar sempre a revelação corretamente interpretada.

12. Como se pode conciliar a identidade de nosso futuro corpo com o nosso
corpo atual com 1 Coríntios 15:42-50?

Nos versículos 42 a 44 de 1 Coríntios, capítulo 15, essa identidade é afirmada


expressamente. O corpo será o mesmo, posto que mudado em diversos aspectos -

Io. Agora é corruptível,então será incorruptível.

2o. Agora está em desonra, então será glorificado.

3o. Agora é fraco, então será poderoso. A


4o. Agora é natural (animal), isto é, adaptado à condição " atual da alma e à
constituição do mundo; então será espiritual, adaptado à condição glorificada da
alma e à constituição dos “novos céus e nova terra”. 1

O versículo 50 declara simplesmente que “a carne e o sangue”, isto é, a atual


constituição corruptível, fraca e depravada do corpo, “não podem herdar (ou
possuir) o reino de Deus”. Contudo, a passagem tomada globalmente ensina com
clareza a transformação do velho corpo, e não a substituição por um novo.

13. Quais os fatos estabelecidos pela ciência fisiológica a respeito das


mudanças perpétuas que se efetuam em nosso corpo atual, e qual a relação em
que estes fatos estão com esta doutrina?

Por um processo contínuo de assimilação do material novo e de excreção do


velho, as partículas que compõem o nosso . corpo mudam sem cessar desde o
nosso nascimento até à nossa morte, efetuando, segundo se tem computado, uma
substituição de todos os átomos do corpo inteiro de sete em sete anos. Não
haverá, pois, no organismo de um adulto, uma só partícula que constituísse parte
da sua pessoa quando era menino, e no corpo de um homem velho não haverá
nada daquilo que lhe pertencia quando era de idade mediana. Desde a meninice
até à velhice o corpo está sujeito universalmente a grandes mudanças de
tamanho, forma, expressão,

condição, e sofre diversas vezes uma mudança total das suas partículas
constitutivas. Tudo isso é certo; mas não é menos certo que, apesar de todas
essas mudanças, o homem possui o mesmo e idêntico corpo desde a juventude
até à velhice. Isso prova que, nem a identidade do mesmo homem desde
a juventude até à velhice, nem a identidade do nosso corpo atual com o da
ressurreição, consistem em serem as mesmas partículas. Se estamos certos da
nossa identidade num caso, não é necessário tropeçar nas dificuldades do outro.

14. Qual a objeção contra esta doutrina que se baseia no fato conhecido da
dispersão das partículas do nosso corpo depois da morte, e também no da sua
assimilação por outros organismos?

No instante em que o princípio de vida entrega os elementos do corpo ao


domínio exclusivo das leis de afinidade química, dissolvem-se as combinações
atuais e espalham-se no espaço os elementos, que, por sua vez, outros animais
e organismos vegetais tomam e assimilam. Assim, as mesmas partículas formam,
no decurso do tempo, parte dos corpos de miríades de homens, nos períodos
sucessivos do desenvolvimento dos indivíduos e em gerações sucessivas. Por
isso tem-se objetado contra a doutrina bíblica da ressurreição do corpo, alegando
que será impossível determinar a qual dos milhares de corpos de que essas
partículas formaram alternadamente uma parte, elas serão atribuídas na
ressurreição; e que será impossível também vestir cada alma com seu
próprio corpo, por haverem muitos corpos tido parte nos elementos constitutivos
de cada um. Nós respondemos que a identidade corporal não consiste no fato de
serem suas partículas constitutivas sempre as mesmas. Veja acima, Perg. 13.
Exatamente assim como Deus, por meio do nosso conhecimento interior, nos
tem revelado que o nosso corpo, apesar de mudados muitas vezes os seus
elementos constitutivos, são idênticos desde a meninice até à velhice, assim
também, com igual clareza e racionalidade, nos tem revelado, por meio da

Sua Palavra inspirada, que o nosso corpo ressuscitado em glória será idêntico ao
nosso corpo semeado em desonra, apesar de poderem ter se espalhado até aos
confins do mundo as suas partículas constitutivas.

15. Que é essencial para a identidade?

Io. “E evidente que em casos diversos a identidade depende de condições


diversas. A identidade de uma pedra ou de qualquer outra matéria não
constituída organicamente consiste em sua substância e em sua forma. Por outro
lado, a identidade de uma planta, desde a semente até ao seu completo
desenvolvimento, é em grande parte independente de serem sempre as mesmas
sua substância e sua forma. Neste caso, a identidade parece consistir no fato de
ser cada planta um só todo constituído organicamente, e na continuidade da
sucessão de seus elementos e de suas partes. A identidade de um quadro
não depende de serem sempre as mesmas as partículas da matéria colorida de
que é composto, porque podemos imaginar que essas mudam continuadamente,
porém depende do desenho, das cores, das partes claras e escuras, da expressão
da idéia que nele se acham incorporadas, etc.

2o. “A identidade corporal não é conclusão inferida de uma comparação ou


combinação de outros fatos, mas é em si mesmo um só fato irredutível da
consciência íntima. A criança, o selvagem e o filósofo, todos têm igual certeza
de que os seus corpos são os mesmos nos diversos períodos da sua vida, e
todos têm, para a sua certeza, os mesmos fundamentos. Essa convicção intuitiva,
assim como não é resultado da ciência, assim também não tem a obrigação de
dar conta de si à ciência, ou, por outra, não temos mais obrigação de explicar
isso antes de crê-lo do que temos de explicar qualquer outro dos simples dados
da nossa consciência. ; ■

3o. “A ressurreição do nosso corpo, posto que seja fato certo da revelação, é para
nós um fato do qual não temos experiência, um fenômeno não observado. E
impossível, pois, que

compreendamos agora as condições físicas da identidade do nosso “corpo


espiritual” com o nosso “corpo animal”, porque não temos nem a experiência,
nem a observação, nem a revelação dos fatos que tal conhecimento envolve. Os
seguintes pontos, porém, são certos, quanto ao resultado -(1)0 corpo da
ressurreição será tão estritamente idêntico ao corpo com que morrermos quanto
este é idêntico ao corpo com que nascemos. (2) Cada alma terá o conhecimento
intuitivo e indubitável de que o seu novo corpo é idêntico ao velho. (3) Cada
amigo reconhecerá as características individuais da alma na
expressão perfeitamente transparente do novo corpo - Dr. Hodge.

16. Até onde os judeus sustentaram a doutrina da ressurreição do corpo ?

Com exceção de algumas seitas heréticas, como a dos saduceus, os judeus


sustentaram essa doutrina no mesmo sentido em que nós a sustentamos. Isso é
evidente -

Io. Porque é claramente revelada em seus escritos inspirados. Veja acima, Perg.
2.

2o. É afirmada em seus escritos não inspirados - Sabed. 3:6,13; 4:15; 2 Mac.
7:9,14,23,29. ■■■

3o. Cristo, em vez de provar essa doutrina em Seus discursos, fala dela como já
reconhecida - Luc. 14:14; João 5:28,29.

4o. Paulo afirma que tanto os judeus antigos (Heb. 11:35)* como os seus
contemporâneos (Atos 24:15) criam nessa doutrina.

17. Na Igreja Cristã, quais antigas seitas heréticas rejeitaram a doutrina da


ressurreição do corpo?
Todas as seitas que tinham a designação genérica de

Tanto Hodge como Calvino admitiam a autoria paulina de Hebreus. Em geral o


protestantismo tem preferido deixar aberta essa questão, predominando a idéia
de que Paulo não é o seu autor. Nota de Odayr Olivetti.

gnósticas e que, debaixo de diversos nomes específicos, incorporaram em sua


doutrina o fermento da filosofia oriental que infeccionou a Igreja Cristã durante
muitos séculos, desde os seus primeiros dias, criam: Io. Que a matéria é
essencialmente má e constitui a origem de todo pecado e de toda a miséria para a
alma; 2o. Que a santificação perfeita é consumada unicamente na dissolução do
corpo e na emancipação da alma; 3o. Que, por conseguinte, qualquer
ressurreição literal do corpo é repugnante ao espírito e destruiria o
propósito global do evangelho.

18. Qual é a doutrina ensinada por Swedenborg sobre este assunto?

Em substância, é a mesma que o professor Bush expõe em seu outrora célebre


livro Anasthasia. Eles ensinam que o corpo literal é dissolvido e afinal perece
(deixa de existir, é destruído, desaparece) na morte. Mas que, por uma lei sutil
da nossa natureza, é elaborado um corpo etéreo e luminoso da psyqué (a sede da
sensibilidade nervosa, que ocupa (ou forma) o elo intermediário entre a matéria e
o espírito), de maneira que a alma não sai do seu tabernáculo de carne como
uma mera capacidade de pensar, porém é imediatamente revestida desse corpo
psíquico.Esto ressurreição do corpo, ensinam eles, ocorre em todos os casos no
momento da morte e acompanha a alma que sai. VejaReligion andPhilosophy of
Swedenborg, por Theophilus Parsons. . . ■

19. Como explicam os racionalistas modernos as passagens das Escrituras


que dizem respeito a essa doutrina?

Explicam-nas de modo que dela nada fica, negando seu sentido claro e dizendo:
Io. Que são modos puramente alegóricos de ensinar a verdade da existência
contínua da alma depois da morte; ou, 2o. Que são concessões feitas aos
preconceitos e superstições dos judeus.
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39
O Segundo Advento e o Juízo Geral

1. Qual é o significado das expressões “a vinda” e “o dia do Senhor”, como


empregadas tanto no Velho como no Novo Testamento?

Io. Qualquer manifestação especial da presença ou do poder de Deus - João


14.18,23; Is. 13.6; Jer. 46.10.

2o. São empregadas, por via de proeminência: (1) No Velho Testamento, para
exprimir a vinda de Cristo em carne e a ab-rogação da economia judaica - Mal.
3.2; 4:5. (2) No Novo Testamento, para exprimir a segunda e definitiva vinda
de Cristo. ......

Os diversos termos que se referem a este último grande evento são:


V.Apokálypsis, apocalipse, revelação - 1 Cor. 1:7; 2Tess. 1:7; 1 Ped. 1:7,13;4:13.
2o.Paroima,presença,advento - Mat. 24:3,27,37,39; 1 Cor. 15:23; 1 Tess. 2:19;
3:13; 4:15; 5:23; 2 Tess. 2:1,8; Tia. 5:7,8; 2 Ped. 1:16; 3:4,12; 1 João 2:28. 3o.
Epifáneia, aparição, aparecimento, manifestação - 2 Tess. 2:8; 1 Tim. 6:14; 2
Tim. 4:1,8; Tito 2:13.

O tempo daquela vinda é chamado: “o dia de Deus” e “o dia do Senhor” - 2 Ped.


3:12; 1 Tess. 5:2; “o dia de nosso Senhor Jesus Cristo” - 1 Cor. 1:8; Fil. 1:6,10; 2
Ped. 3:10; “aquele dia” - 2 Tess. 1:10; 2 Tim. 1:12,18; “o último dia” -João 6:39-
54; “o grande dia”, “o dia da ira”, “do juízo” e “da revelação” - Judas, vers. 6,
Apoc. 6:17; Rom. 2:5; 2 Ped. 2:9.

Cristo é chamado o erqómenos, o vindouro, o que há de vir, “o que vem”, com


referência aos dois adventos - Mat. 21:9;

Luc. 7:19,20; 19:38; João 3:31; Apoc. 1:4; 4:8; 11:17.

2. Que provas podem ser apresentadas de que a Bíblia ensina um advento


literal e pessoal de Cristo ainda futuro?

Io. A analogia do primeiro advento. Tendo sido cumpridas literalmente por uma
vinda pessoal as profecias que a Ele se referiam, podemos estar certos de que
serão cumpridas no mesmo sentido as profecias inteiramente semelhantes que
se referem ao segundo advento.
2o. A linguagem de Cristo predizendo tal advento não admite outra interpretação
racional. A vinda, sua maneira e o fim visado nela são todos definidos. Ele virá
acompanhado de uma multidão celeste, com poder e em grande glória. Virá
na ocasião da ressurreição e do juízo gerais e com o fim de consumar Sua obra
medianeira pela condenação e perdição finais de todos os Seus inimigos e pelo
reconhecimento e completa glorificação de todos os Seus amigos - Mat.
16:27; 24:30; 25:31; 26:64; Mar. 8:38; Luc. 21:27.

3o. Os apóstolos entenderam que essas predições diziam respeito a um advento


literal e pessoal de Cristo. A seus discípulos os apóstolos ensinaram que
formassem o hábito de olhar para esse advento como um motivo solene para que
fossem fiéis, e para operar neles animação e resignação em suas provações.
Ensinaram também que essa vinda de Cristo será visível e gloriosa, e que será
acompanhada da ab-rogação da presente dispensação evangélica, da destruição
dos Seus inimigos, da glorificação dos Seus amigos, da conflagração do mundo e
do surgimento de “novos céus e nova terra”. Veja as passagens citadas no
capítulo anterior, e Atos 1:11; 3;19-21; 1 Cor. 4:5; 11:26; 15:23; Heb. 9:28;
10:37 - Dr. Hodge emLectures.

3. Quais os três modos de interpretação adotados em referência a Mateus,


capítulos 24 e 25?

“É de notar que estes capítulos contêm respostas a três perguntas distintas.

“Ia. Quando seriam destruídos o templo e a cidade.

“2a. Quais seriam os sinais da vinda de Cristo.

“3a. A terceira pergunta refere-se ao fim do mundo. A dificuldade está na


separação das partes da resposta concernentes a cada uma destas perguntas. Há
três métodos adotados para a explicação destes capítulos. (1)0 primeiro entende
que eles se referem exclusivamente ao derrubamento do Estado e da religião
judaicos e ao estabelecimento e progresso do evangelho. (2) O segundo entende
que aquilo que se diz ali cumpriu-se em certo sentido na destruição de
Jerusalém, e se cumprirá num sentido superior no último dia. (3) O
terceiro supõe que algumas partes referem-se exclusivamente ao primeiro desses
eventos, e outras partes exclusivamente ao segundo. É claro que a primeira
destas três teorias é insustentável, e quer se adote a segunda, quer a terceira,
as dificuldades que se encontram nestes capítulos não devem levar-nos a rejeitar
o ensino claro e constante do Novo Testamento a respeito do segundo advento
pessoal e visível do Filho de Deus” - Dr. Hodge. , . ......

v •- •• . 1 ^ •

4. Em quais passagens se declara que não é conhecido o tempo

do segundo advento de Cristo? .

Mat. 24:36; Mar. 13:32; Luc. 12:40; Atos 1:6,7; 1 Tess. 5:1-3; 2 Ped. 3:3,4,10;
Apoc. 16:15.

5. Quais as passagens geralmente citadas para provar que os apóstolos


esperavam que o segundo advento aconteceria durante a vida deles?

Fil. 1:6; 1 Tess. 4:15; Heb. 10;25; 1 Ped. 1:5; Tia. 5:8.

6. Como se pode mostrar que eles não tinham essa expectação?

Io. Os apóstolos, como indivíduos, em não se tratando do

seu ofício público como mestres inspirados, estavam sujeitos aos preconceitos
comuns do seu século e da sua nação, e só gradativamente chegaram ao pleno
conhecimento da verdade.

Durante a vida de Cristo eles esperavam que Ele estabelecesse o Seu reino em
sua glória naquele tempo, Luc. 24:21; e depois da Sua ressurreição a primeira
pergunta que Lhe fizeram foi: “Senhor, será este o tempo em que restaures o
reino a Israel?” -Atos 1:6.

2o. Em seus escritos inspirados os apóstolos nunca ensinaram que a segunda


vinda do Senhor haveria de acontecer durante a vida deles, nem a qualquer
tempo determinado. Ensinaram somente (1) que devemos desejá-la
habitualmente, e (2) que, por ser indeterminada quanto ao tempo, deve
ser sempre considerada como iminente. ,

3o. A medida que lhes foram concedidas revelações mais completas, eles
aprenderam e ensinaram explicitamente que não somente era incerto o tempo do
segundo advento, mas também que antes dele aconteceriam muitos eventos,
então ainda futuros, e.g., a apostasia anticristã, a pregação do evangelho a todas
as nações, a plenitude dos gentios, a conversão dos judeus, a prosperidade
milenária da Igreja e a destruição final (da presente ordem de coisas) - Rom.
11:15-32; 2 Cor. 3:15,16; 2 Tess. 2:3. Isso está claro, mesmo porque se
declara que a vinda de Cristo será acompanhada da ressurreição dos mortos, do
juízo geral, da conflagração geral e da restituição (ou renovação) de todas as
coisas. Veja abaixo, logo a seguir.

7. Qual a doutrina bíblica a respeito do milênio?

Io. As Escrituras, tanto do Velho como do Novo Testamento, revelam claramente


que o evangelho há de ainda exercer uma influência sobre todos os ramos da
família humana, muito maior e mais transformadora do que a que exerceu
em qualquer tempo passado. Esse resultado será conseguido mediante a presença
espiritual de Cristo nas dispensações comuns da Providência e nas ministrações
da Sua Igreja - Mat. 13:31,32; 28:19,20; Sal. 2:7,8; 22:28,29; 72:8,11; Is.
2:2,3; 11:6,9; 60:12; 66:23; Dan. 2:35,44; Zac. 9:10; 14:9;
Apoc. 11:15. ...............

2o. O período dessa prevalência do evangelho deve durar mil anos e por isso é
chamado milênio - Apoc. 20:2-7.

3o. Os judeus serão convertidos ao cristianismo no começo ou duranteo decorrer


desse período - Zac. 12:10; 13;1; Rom. 11:26-29; 2 Cor. 3:15,16.

4o. No fim desses mil anos e antes da vinda de Cristo haverá um tempo
relativamente curto de apostasia e de conflitos entre os reinos da luz e das trevas
- Luc. 17:26-30; 2 Ped. 3:3,4; Apoc. 20:7-9.

5o. O advento de Cristo, a ressurreição geral e o juízo final ocorrerão


simultaneamente, e serão seguidos imediatamente pela conflagração do velho
céu e da velha terra e pela revelação de novos céus e nova terra - Conf de Fé,
Caps. 32 e 33.

8. Qual a teoria dos que sustentam que a vinda de Cristo será “premilenária” *,
e que Ele reinará pessoalmente na terra durante mil anos antes do Juízo? '

Io. Muitos dos judeus, cometendo erro total quanto ao caráter espiritual do reino
do Messias, criam que, assim como a Igreja tinha existido dois mil anos antes de
se lhe dar a Lei, assim também haveria de existir dois mil anos debaixo da
Lei, que o Messias começaria então o Seu reino pessoal, e que este, por sua vez,
haveria de continuar dois mil anos, até ao começo do dia eterno do Senhor. Eles
esperavam que o Messias reinaria visível e gloriosamente em Jerusalém, como
capital, sobre todas as nações do mundo, e que os judeus, como Seu
povo escolhido, seriam exaltados à maior dignidade e gozariam de privilégios
proeminentes.

2o. Os “pais” apostólicos do ramo judaico-cristão da Igreja - Barnabé, Hermes,


Papias e outros - adotaram essa opinião.

Popularmente se empregam os termos “milenista”, “premilenista”, etc. Em


português o certo é como está no texto acima, o que se aplica aos seus cognatos.
As vezes cedemos àquelas formas, por amor do leitor comum. Nota de Odayr
Olivetti.

Permaneceu geralmente na Igreja desde o ano de 150 até ao de j 250, sendo


defendida por Irineu e Tertuliano. Depois desse j tempo a doutrina ensinada
neste capítulo tem sido a doutrina j geralmente reconhecida por toda a Igreja, ao
passo que o { milenarismo ou quilianismo tem se limitado a indivíduos
e partidos transitórios. Seus defensores fundavam sua doutrina na interpretação
literal de Apoc. 20:1-10, e sustentavam - (1) Que, depois do desenvolvimento da
apostasia anticristã, num -tempo determinado de muitos e diversos modos, Cristo
viria subitamente e começaria Seu reino pessoal de mil anos em Jerusalém. Os
que tivessem morrido em Cristo (alguns, porém, diziam que só os mártires)
ressuscitariam então e reinariam com Ele na terra, a maioria de cujos habitantes
estaria convertida, e viveria durante esse período em grande prosperidade e
felicidade, sendo convertidos durante esse tempo também os judeus, que seriam
todos reunidos em seu próprio país. (2) Que, depois dos mil anos, viria por um
curto espaço de tempo a apostasia final, que seria seguida da ressurreição dos
demais mortos, isto é, os maus, seguida do seu julgamento e condenação no
último dia, da conflagração final e dos novos céus e nova terra.

3o. Os premilenaristas modernos, conquanto difiram entre si sobre os


pormenores das suas interpretações, concordam substancialmente com a teoria
acima exposta. Chamam-se premilenaristas porque crêem que o advento
de Cristo acontecerá antes do milênio.

9. Quais os principais argumentos contra o premilenarismo?


10. E evidentemente judaica em sua origem e em suas tendências.

2o. Não concorda com o que as Escrituras ensinam, (1) Quanto à natureza do
reino de Cristo, e.g., (a) que não é deste mundo, e sim, espiritual, Mat. 13:11-44;
João 18:36; Rom. 14:17; (b) que não se limita aos judeus, Mat. 8:11,12; (c) que a
regeneração é a condição de admissão a ele, João 3:3,5;

(d) que as bênçãos do Reino são puramente espirituais, sendo o perdão, a


santificação, etc., Mat. 3:2,11; Col. 1:13,14. (2) Quanto ao fato de que o reino de
Cristo já veio. Desde a Sua ascensão até agora Ele está assentado sobre o trono
do patriarca Davi-Atos 2:29-36; 3:13-15; 4:26-28; 5:29-31; Heb.
10:12,13; Apoc. 3:7-12. Segue-se que as profecias do Velho Testamento que
predizem este reino referem-se à presente dispensação da graça, e não a um reino
futuro de Cristo exercido por Sua própria Pessoa entre os homens em carne na
terra.

3o. O segundo advento não se dará antes da ressurreição, quando todos os


mortos, tanto maus como bons, ressuscitarão ao mesmo tempo - Dan. 12:2; João
5:28,29; 1 Cor. 15:23; 1 Tess. 4:16; Apoc. 20:11,15. Há somente uma passagem
(Apoc. 20:1-10) que, na aparência, dá a impressão de que está em desarmonia
com o fato aqui afirmado. Para a verdadeira interpretação dessa passagem, veja a
pergunta subseqüente.

4o. O segundo advento não se dará antes do julgamento de todos os homens, dos
bons e dos maus juntos - Mat. 7:21-23; 13:30-43; 16:24,27; 25:31-46; Rom.
2:5,16; 1 Cor. 3:12-15; 2 Cor. 5:9-11; 2 Tess. 1:6-10; Apoc. 20:11-15.

5 o. O segundo advento será acompanhado da conflagração geral e da geração de


“novos céus e nova terra” - 2 Ped. 3:7-13; Apoc. 20:11; 21:1. Brown, sobre o
segundo advento.

10. Quais considerações favorecem a interpretação espiritual e se opõem à


interpretação literal do Apocalipse 20:1-10?

Eis a interpretação espiritual desta difícil passagem: Cristo tem em reserva para a
Sua Igreja uma época de expansão universal e de imensa prosperidade espiritual,
quando o espírito e o caráter do “nobre exército dos mártires” tornará a
ser produzido, de um modo nunca visto, na grande multidão componente do
povo de Deus, e quando esses mártires, na vitória geral da sua causa e no
derrubamento dos seus inimigos, receberão o benefício do juízo sobre os seus
inimigos e reinarão na terra; nesse período, o partido de satanás, “os outros
mortos”,

não tornarão a florescer até que sejam cumpridos os mil anos, quando tornará a
florescer por um pouco de tempo.

Considerações a favor dessa interpretação:

Ia. Acha-se num dos livros mais figurativos ou simbólicos da Bíblia.

2a. Essa interpretação está em perfeito acordo com aquilo que noutras passagens
as Escrituras ensinam mais explicitamente sobre os diversos pontos envolvidos.

3a. A mesma figura, isto é, a de tornar o morto à vida, é empregada muitas vezes
nas Escrituras para exprimir a idéia de revivificação espiritual da Igreja-Is.
26:19; Ez. 37:12-14; Os. 6:1-3; Rom. 11:15; Apoc. 11:11. •

Considerações contrárias à interpretação literal dessa passagem:

Ia. A pretensa doutrina de duas ressurreições, primeiro a dos justos e, depois de


um intervalo de mil anos, a dos maus, não se acha ensinada em nenhuma outra
parte da Bíblia, e essa única passagem em que (aparentemente) se encontra é
pouco clara. Este é um forte pressuposto contra a veracidade da doutrina contra a
qual nos opomos.

2a. Está em desacordo com o que as Escrituras ensinam uniformemente quanto à


natureza do corpo da ressurreição, isto é, que será “espiritual”, não “animal”,
nem de “carne e sangue” - 1 Cor. 15:44. Contrariamente a esse ensino
das Escrituras, constitui parte essencial da doutrina associada à interpretação
literal da referida passagem, que os santos, ou ao menos os mártires, deverão
ressurgir e reinar com Cristo durante mil anos em sua carne e neste mundo,
como este se acha constituído presentemente.

3a. A interpretação literal dessa passagem contradiz o claro e uniforme ensino


das Escrituras de que todos os mortos, bons e maus, ressurgirão e serão julgados
juntos (ou concomitante-mente) por ocasião da segunda vinda de Cristo e da
completa subversão da presente ordem da criação. Veja os testemunhos bíblicos
reunidos sob a pergunta anterior.
11. Como se pode mostrar que a futura conversão dos judeus é

ensinada nas Escrituras? f

Isso Paulo, em Romanos 11:15-29, não somente assevera, porém também prova
pelas profecias do VelhoTestamento, e.g., Is. 59:20; Jer. 31:31. Veja também
Zac. 12:10; 2 Cor. 3:15,16.

12. Como expor os argumentos a favor e contra a opinião de que os judeus


seriam reconduzidos a seu próprio país?

Argumentos a favor dessa restauração ou recondução:

Io. O sentido literal de muitas profecias do Velho Testamento - Is. 11:11,12; Jer.
3:17; 16:14,15; Ez. 20:40-44; 34:11-31; 36:1-36; Os. 3:4,5; Amós 9:11-15; Zac.
10:6-10; 14:1-20; 3: 1-17.

2o. Que o território prometido por Deus a Abraão nunca foi totalmente possuído,
Gên. 15:18-21; Núm. 34:6-12, e a promessa foi repetida por boca de Ezequiel,
47:1-23.

3o. O país, posto que possa sustentar uma população imensa, está agora pouco
ocupado, evidentemente à espera de habitantes. Veja Keith ,Landof Israel*

4o. Os judeus, embora espalhados entre todas as nações, têm sido preservados
miraculosamente como um povo separado e evidentemente à espera de um
destino tão assinalado e peculiar como tem sido a sua história.

Argumentos contra a sua restauração ou recondução ao país de seus pais:

Io. O Novo Testamento absolutamente nada diz sobre tal restauração, e isso seria
uma omissão inexplicável nessa revelação mais clara, se esse evento estivesse
realmente no porvir.

2o. A interpretação literal das profecias do Velho Testamento que dizem respeito
a esta questão seria muito forçada -

(1) Porque, para que a interpretação seja conseqüente, é preciso

Hodge escreveu no fim do séculol9; a reocupação da Palestina por Israel deu-se


oficialmente a partir de 1948. Nota de Odayr Olivetti.

que seja literal em todas as suas partes. Seguir-se-ia então que o próprio Davi há
de ser ressuscitado para reinar pessoalmente em Jerusalém, Ez. 37:24, etc.; que
há de ser restabelecido do o sacerdócio levítico, e serão oferecidos sacrifícios
cruentos ] aDeus, Ez., capítulos 40 a 46; Jer. 17:25,26; que Jerusalém há j de ser
o centro do governo, que os judeus hão de constituir \ uma classe superior na
Igreja Cristã e que dos confins da terra hão de ir, semana após semana, todos os
adoradores prestar culto na cidade santa - Is. 2.2,3; 66.20-23; Zac. 14:16-

21. (2) Porque essa interpretação conduz ao restabelecimento ; de todo o sistema


ritual dos judeus e está em desacordo com a espiritualidade do reino de Cristo.
Veja acima, Perg. 9. (3) Porque essa interpretação está em desacordo com o que
o Novo Testamento ensina claramente a respeito da abolição de todas as
distinções entre judeu e gentio: os judeus, quando convertidos, tornarão a ser
enxertados na mesma Igreja - Rom. 6:19-24; Ef. 2:13-19. (4) Porque essa
interpretação está em desacordo com o que o Novo Testamento ensina quanto
ao desígnio temporário, à insuficiência virtual e à abolição final do sacerdócio
levítico e seus sacrifícios, e quanto à suficiência infinita do sacrifício de Cristo e
à eternidade do Seu sacerdócio - Gál. 4:9,10; 5:4-8; Col. 2:16-23; Heb. 7:12-18;
8.7-13; 9:1-14.

3o. Por outro lado, a interpretação espiritual dessas profecias do Velho


Testamento - interpretação que as considera como predições da pureza e da
extensão futuras da Igreja Cristã, indicando estes assuntos espirituais por meio
das pessoas, dos lugares e dos ritos da antiga economia que eram tipos deles -
é natural e também está de acordo com a analogia das Escrituras.

No Novo Testamento os cristãos são chamados semente de Abraão, Gál. 3:29;


israelitas, Gál. 6:16; Ef. 2:13,19; os que chegam ao monte de Sião, Heb. 12:22;
cidadãos da Jerusalém celeste, Gál. 4:26; a circuncisão, Fil. 3:3; Gál. 2:11, e
em Apoc. 2:9 são chamados judeus. Há também um sacerdócio cristão eum
sacrifício espiritual -1 Ped. 2:5,9; Heb. 13:15,16;

Rom. 12:1. Veja Fairbairn, Typology Appendix, Vol. 1.

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13. Quem será o juiz do mundo?


Jesus Cristo, em Seu caráter oficial como Mediador, em Suas duas naturezas,
como o Deus-homem. Isso é evidente -

Io porque, em Mat. 25:31,32 o Juiz é chamado “Filho do homem”, e em Atos


17:31, “o varão que (Deus) destinou”.

2o. Porque as Escrituras declaram que Deus “deu ao Filho todo o juízo” e “o
poder de exercer o juízo” - João 5:22,27.

3o. Porque, como Mediador, cabe-Lhe aperfeiçoar, completar e manifestar


publicamente a salvação do Seu povo e a destruição dos Seus inimigos, junto
com a gloriosa justiça da Sua obra a respeito de uns e outros, 2 Tess. 1:7-10;
Apoc. 1:7; e efetuar, assim, “a restauração de tudo” - Atos 3:21. E isso Ele fará
pessoalmente, para que se torne mais manifesta a Sua glória, seja maior a
humilhação dos seus inimigos vencidos, e sejam mais completas as esperanças e
o regozijo dos Seus remidos. , . . .

14. Quem será julgado? -

Io. A raça inteira de Adão, sem nenhuma exceção, de todas as gerações,


condições e caracteres, devendo comparecer cada indivíduo na inteireza da sua
pessoa, “corpo, alma e espírito”. Os mortos serão ressuscitados e os vivos serão
transformados simultaneamente-Mat. 25:31-46; 1 Cor. 15:51,52; 2 Cor. 5:10; 1
Tess. 4:17; 2 Tess. 1:6-10; Apoc. 20:11-15.

2o. Todos os anjos maus - 2 Ped. 2:4; Jud., vers. 6. Os anjos bons estarão
presentes como assistentes e ministros - Mat. 13:41,42.

15. Em que sentido se diz que os santos julgarão o mundo?

Veja Mat. 19:28; Luc. 22:29,30; 1 Cor. 6:2,3; Apoc. 20:4.

Em virtude da união dos crentes com Cristo, a vitória e o

domínio dEle são deles. São co-herdeiros com Ele, e, se sofrerem com Ele
também reinarão com Ele-Rom. 8:17;

2 Tim. 2:12. Ele julgará e condenará os Seus inimigos como Cabeça e Campeão
da Sua Igreja, e todos os Seus membros darão assentimento ao Seu juízo e se
gloriarão em seu triunfo -Apoc. 19:1-5. Hodge,Comm. on First Corinthians.
(Comentário de 1 Coríntios).

16. Mediante qual princípio será exercido o Seu juízo? u

Em Apocalipse (20:12) o Juiz é representado figurada-mente como, segundo a


analogia dos tribunais humanos, abrindo “os livros” (conforme as coisas escritas
neles os mortos deverão ser julgados), e também “outro livro”, que é o
“da vida”. Os livros mencionados primeiro sem dúvida representam em figura a
Lei ou o padrão segundo o qual cada um deverá ser julgado e os fatos que lhe
dizem respeito, ou “as suas obras”. O “livro da vida” (veja também Fil. 4:3;
Apoc. 3:5; 13:8; 20:15) é o livro do eterno amor de Deus, que O levou a escolher
os Seus. Aqueles cujos nomes se acharem escritos no “livro da vida” serão
declarados justos por terem parte na justiça de Cristo. A respeito de suas boas
obras, porém, e do seu caráter santo, será declarado que são as provas da sua
eleição, da sua relação com Cristo, e da gloriosa obra efetuada neles por Cristo -
Mat. 13:43; 25:34-40. r';

Aqueles cujos nomes não se acharem escritos no “livro da vida” serão


condenados por motivo das más obras que praticaram estando no corpo, julgadas
segundo a lei de Deus, não como aprouve a cada um imaginar essa Lei, e sim
como foi mais ou menos claramente revelada a cada um pelo Juiz. O gentio que
pecou sem a Lei escrita, sem a Lei será julgado, isto é, será julgado pela “obra da
lei escrita em seu coração” fazendo-se ele mesmo lei para si - Luc. 12:47,48;
Rom. 2:12-15. O judeu que pecou, tendo a Lei, “com a lei será julgado” -Rom.
2:12. Cada indivíduo que vive sob a luz da revelação cristã será julgado em
estrita conformidade com toda a vontade de Deus, como esta lhe foi revelada,
sendo também modificada a responsabilidade individual de cada um por todas as

vantagens especiais de qualquer gênero que cada qual gozou -Mat. 11:20-24;
João 3:19.

Os segredos de todos os corações, o estado interno de cada um e os mais bem


ocultos motivos de suas ações, bem como estas mesmas, tudo isso será
apresentado como matéria de julgamento, Ecl. 12:14; 1 Cor. 4:5, e será declarado
publicamente para vindicar a justiça do Juiz e tornar manifesta a vergonha à qual
será levado o pecador - Luc. 8:17; 12:2,3; Mar. 4:22. Se os pecados dos santos
serão ou não apresentados no Juízo é ponto não decidido pelas Escrituras,
embora seja muito discutido por certos teólogos. Se forem apresentados, temos a
certeza de que será feito isso unicamente com a finalidade de aumentar a glória
do Salvador e a consolação dos salvos.

17. Que revelam as Escrituras a respeito da futura conflagração da nossa terra?

As principais passagens que dizem respeito a esse ponto são: Sal. 102:26,27; Is.
51:6; Rom. 8:19-23; Heb. 13:26,27; 1 Ped. 3:10-13; Apoc., capítulos 20 e 21.

Muitos dos teólogos antigos foram de opinião que essas passagens indicam que
devia ser destruído inteiramente o universo físico que agora existe. Mas essa
idéia foi abandonada universalmente. Houve também quem afirmasse que esta
terra haveria de ser aniquilada.

A opinião mais comum e provável é que na “restauração de tudo”, Atos 3:21, a


terra e sua atmosfera serão expostos a um calor intenso, que mudará
radicalmente sua atual condição física, produzindo em lugar da presente ordem
de coisas uma ordem superior, que aparecerá como “novos céus e nova
terra”, nos quais “a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para
a liberdade da glória dos filhos de Deus”, Rom. 8:19-23, e nos quais a
constituição do novo mundo estará adaptada aos corpos “espirituais” dos santos,
1 Cor. 15:44, para ser o teatro da sociedade celeste, e sobretudo o templo e
palácio

do Deus-homem para sempre - Ef. 1:14; Apoc. 5:9,10; 21:1-5. Veja também
Fairbairn, Typology, Vol. 1, Parte 2, Cap. 2, Seção 7. .

18. Qual deve ser o efeito moral da doutrina bíblica do segundo advento de
Cristo? ■ ■ 'i

Deve ser um consolo para os cristãos em suas tristezas e um estímulo para que
cumpram seus deveres - Fil. 3:20; Col. 3:4,5; Tia. 5:7; 1 João 3:2,3. E também
seu dever amar, vigiar e esperar pela vinda do seu Senhor e apressar-se para ela
- Luc. 12:35,37; 1 Cor. 1:7,8; Fil. 3:20; 1 Tess. 1:9,10; 2 Tim. 4:8; 2 Ped. 3:12;
Apoc. 22:20.

Quanto aos incrédulos, esra doutrina deve enchê-los de apreensão e terror e levá-
los ao arrependimento imediato -Mar. 3:35,37; 2 Ped. 3:9,10; Jud., vers. 14,15.
Brown, Second Advent. -a- : ■

EXPOSIÇÕES ECLESIÁSTICAS AUTORIZADAS


Agostinho (De Civitate Dei, 20,7) informa que já sustentara a doutrina de um
sábado milenário, mas que depois a rejeitou, e defende a doutrina exposta neste
capítulo, que daí por diante tem sido a da igreja católica romana.

Conf. De Augsburgo, Parte 1, Art. 17: “Ensinam também que Cristo aparecerá no
fim do mundo para executar juízo, e que ressuscitará os mortos e dará vida e
felicidade eternas aos justos eleitos, mas condenará os homens maus e
os demônios para serem atormentados para sempre. Condenam os anabatistas
que crêem que terá fim o castigo futuro dos homens e dos demônios perdidos. E
condenam outros que espalham opiniões judaicas, ensinando que antes da
ressurreição dos mortos os justos ocuparão o governo do mundo e os maus
estarão em sujeição em toda parte”.

A Confissão Inglesa de Eduardo VI: “Os que procuram ressuscitar a fábula dos
milenaristas opõem-se às Sagradas Escrituras e se precipitam em loucuras
judaicas.”

Conf. Bélgica, Art. 37: “Em último lugar, cremos, segundo a Palavra de Deus,
que o nosso Senhor Jesus Cristo voltará corporal e visivelmente do céu, na maior
glória, quando chegar o tempo predeterminado por Deus, porém não conhecido
por nenhuma criatura, quando estiver completo o número dos eleitos... Naquele
tempo todos os que terão morrido no mundo ressurgirão”.

Conf. de Westminster, Cap. 32 e 33; Cat. Maior, Pergs. 8789. Estes (símbolos de
fé) ensinam - 1. No último dia haverá uma ressurreição geral, tanto dos justos
como dos injustos. 2. Todos os que estiverem vivos serão transformados
imediatamente. 3. Logo depois da ressurreição acontecerá o julgamento geral e
final dos homens e dos anjos bons e maus. 4. A data desse dia e hora Deus
de propósito mantém em segredo. Nas Perguntas 53-56 ainda nos é ensinado que
a segunda vinda de Cristo só ocorrerá no “último dia”, no “fim do mundo”, e que
Ele virá então “para julgar o mundo com justiça”.

rV \
O Céu e o Inferno

1. Qual o sentido em que os .termos ouranós, “céu”, e tá epouránia, “lugares


celestiais”, são empregados no Novo Testamento?

Ouranós é termo empregado principalmente em três sentidos -

Io. A atmosfera em que voam os pássaros - Mat. 8:20; 24:30.

2o. A região em que revolvem as estrelas. - Atos 7:42; Heb. 11:12.

3o. A morada da natureza humana de Cristo, o teatro da manifestação especial da


glória divina e da bem-aventurança eterna dos santos - Heb. 9:24; 1 Ped. 3:22.
Este é chamado às vezes “terceiro céu” - 2 Cor. 12:2. As frases “novos céus”
e “nova terra”, em contraste com o “primeiro céu” e a “primeira terra”, 2 Ped.
3:7,13; Apoc. 21:1, referem-se a alguma mudança não explicada, que dar-se-á na
catástrofe final, quando Deus vai revolucionar a nossa parte do universo físico,
limpá-la da mancha do pecado e prepará-la para ser morada dos bem-
aventurados.

Quanto ao uso da frase “reino dos céus”, veja acima, Cap.27, Perg. 5.

Afrase tá epouránia é traduzida “coisas celestiais” em João 3:12, onde significa


os mistérios do mundo invisível. Em Ef. 1:3; 2:6 e 6:12 é traduzida “lugares
celestiais”, e significa o estado em que o crente é introduzido pela regeneração;
veja

também Ef. 1:20, onde a tradução é “nos céus”. A referência é sempre ao


universo extraterreno.

2. Quais as expressões principais, tanto figuradas como literais, empregadas


nas Escrituras para designar a bem-aventurança futura dos santos?

Expressões literais: a vida, a vida eterna - Mat. 7:14; 19:16,29; 25:46. A glória, a
glória de Deus, um peso eterno de glória - Rom. 2:7,10; 5:2; 2 Cor. 4:17. A paz -
Rom. 2:10. A salvação, a salvação eterna - Heb. 5:9”. Veja Hitto, Bibl. Encycl.

Expressões figuradas: “O Paraíso - Luc. 23:43; 2 Cor. 12:4; Apoc. 2:7. A


Jerusalém Celestial - Gál. 4:26; Apoc. 3:12. Reino dos céus, reino celestial, reino
eterno, reino preparado desde o princípio do mundo - Mat. 25:34; 2 Tim. 4:18; 2
Ped. 1:11. Herança eterna - 1 Ped. 1:4; Heb .9:15. E-nos dito que os bem-
aventurados assentam-se com Abraão, Isaque e Jacó, e que estão no seio de
Abraão, Luc. 16:22; Mat. 8:11; que reinam com Cristo, 2 Tim. 2:11,12; que
gozam um descanso sabático, Heb. 4:11,12”- Kitto,ibid.

3. O que nos é revelado a respeito do céu como um lugar? Todas as


representações bíblicas envolvem a idéia de um

lugar definido, bem como a de um estado de bem-aventurança. A respeito


daquele lugar, porém, nada mais nos é revelado, senão somente que é definido
pela presença local da alma e do corpo finitos de Cristo, e que é o teatro da
manifestação proeminente da glória de Deus-João 17:24; 2 Cor. 5:9; Apoc. 5:6.

Segundo Rom. 8:19-23; 2 Ped. 3:5-13; Apoc. 21:1, parece provável que, depois
da destruição geral da forma atual do mundo, por meio do fogo, que
acompanhará o Juízo, este mundo será reconstituído e adaptado gloriosamente
para ser a morada permanente de Cristo e Sua Igreja. Assim como haverá um
“corpo espiritual”, talvez haja, no mesmo sentido,

um mundo espiritual, isto é, um mundo adaptado para ser o teatro dos espíritos
glorificados dos santos aperfeiçoados. Assim como a natureza foi amaldiçoada
por causa do homem, e a criatura está, por culpa dele, “sujeita à vaidade”, pode
ser que elas também tenham parte com ele em sua redenção e exaltação. Veja
Typology, Parte 2, Cap. 2, Sec. 7, de Fairbairn.

4. Em que consiste a bem-aventurança do céu, até onde nos é revelada?

Io. Negativamente: no livramento perfeito do pecado e de todas as suas


conseqüências, físicas, morais e sociais - Apoc. 7:16,17; 21:4,27.

2o. Positivamente: (1) Na perfeição da nossa natureza, material bem como


espiritual; no pleno desenvolvimento e exercício harmonioso de todas as nossas
faculdades morais e intelectuais, e no progresso desimpedido, durante toda
a eternidade-1 Cor. 13:9-12; 15:45-49; 1 João 3:2. (2) Em vermos o nosso
bendito Redentor, em desfrutarmos de comunhão com a Sua Pessoa, de
participação em toda a Sua glória e bem-aventurança e, por intermédio dEle, de
comunhão com todos os santos e anjos - João 17:24; 1 João 1:3; Apoc.
3:21; 21:3-5. (3) Naquela “visão beatífica de Deus” que, consistindo em
descobrirmos cada vez mais claramente a excelência divina apreendida com
amor, transformará à alma à mesma imagem, de glória em glória - Mat. 5:8; 2
Cor. 3:18.

Quando meditarmos naquilo que as Escrituras revelam das condições da


excelência celestial, devemos evitar dois erros: (1) O extremo de considerar o
modo de existência que desfrutam os santos no céu como muito semelhante ao
da nossa vida terrena; (2) O extremo oposto de considerar as condições da vida
celestial como inteiramente diversas das pertencentes à nossa vida presente. O
primeiro desses extremos produzirá naturalmente o mau efeito de rebaixar,
mediante associações indignas, as nossas idéias sobre o céu; e o outro
extremo produzirá o mau efeito de destruir em grande parte o poder

moral que a esperança do céu deveria ter sobre o nosso coração e a nossa vida,
tornando vagas as idéias que formarmos sobre ele e, por conseguinte, distante e
fraca a nossa simpatia por suas características. Para evitarmos tanto um como o
outro extremo, é necessário que fixemos os limites dentro dos quais devem
conter-se as nossas idéias sobre a existência futura dos santos, distinguindo entre
aqueles elementos da natureza do homem e das suas relações com Deus e com os
outros homens, que são essenciais e imutáveis, e aqueles que terão que
ser modificados para que se torne perfeita a sua natureza em
suas relações. ... : l.-^íi>

CONSIDEREMOS: ; -, O.:

Io. Ocorrerão necessariamente as seguintes mudanças: (1) Todo o pecado e suas


conseqüências terão que ser tirados; (2) “Corpos espirituais” terão que substituir
nossa carne e nosso sangue; (3) Os novos céus e a nova terra terão que substituir
os céus e a terra atuais como teatro da vida do homem; (4) As leis da
organização social terão que ser mudadas radicalmente, porque no céu não
haverá casamentos, porém será introduzida uma ordem social análoga à dos
anjos de Deus.

2o. Os seguintes elementos são essenciais, e por isso imutáveis: (1) O homem
continuará a existir sempre como composto de duas naturezas, espiritual e
material. (2) Ele é essencialmente intelectual, e necessariamente vive pelo
conhecimento. (3) É também essencialmente ativo, e é necessário que tenha
alguma coisa para fazer. (4) O homem, como criatura que é, só pode conhecer a
Deus indiretamente, isto é, por meio de Suas obras de criação e providência, da
experiência da Sua obra de graça em nossos corações, e por meio de Seu
Filho encarnado, que é a imagem da Sua Pessoa e a plenitude da Deidade,
corporalmente. Segue-se que no céu Deus continuará a ensinar os homens por
meio de Suas obras, e a operar neles por meio de motivos dirigidos à sua vontade
mediante a sua inteligência. (5) A memória do homem nunca perde para sempre
nem a mais leve impressão, e será parte da perfeição

celestial o fato de que toda a experiência adquirida estará sempre perfeitamente a


serviço da vontade. (6) O homem é essencialmente um ser social. Isso, tomado
em conexão com o ponto anterior, indica que as associações, bem como a
experiência da nossa vida terrena, levarão consigo para o novo modo de
existência todas as suas conseqüências, exceto onde forem necessariamente
modificadas (não perdidas) pela mudança. (7) A vida do homem é
essencialmente um progresso eterno para a perfeição infinita. (8) Todas as
conhecidas analogias das obras de Deus na criação, na Sua providência, nos
mundos material e espiritual, e na Sua dispensação da graça (1 Cor. 12:5,28),
indicam que entre os santos no céu haverá diferenças quanto às suas capacidades
e qualidades inerentes e também quanto à sua ordem relativa e aos seus ofícios.
Essas diferenças serão, sem dúvida, determinadas (a) por diferenças
constitucionais de capacidade natural; (b) por recompensas providas pela graça
de Deus no céu correspondendo em grau e gênero à fidelidade, sob a graça, do
indivíduo na terra, e (c) pela soberania absoluta do Criador-Mat. 16:27; Rom.
2:6; 1 Cor. 12:4-28.

5. Quais são as principais expressões literais e figuradas, aplicadas nas


Escrituras à condição futura dos réprobos?

Como lugar, é às vezes designada literalmente por ades, hades, e às vezes por
géena; ambas as palavras são traduzidas por inferno - Mat. 5:22,29,30; Luc.
16:23 (VA). Também pela frase “lugar de tormentos” - Luc. 16:28. Como
condição de sofrimento, é designada pelas frases “ira de Deus”, Rom. 2:5,
e “segunda morte”, Apoc. 21:8.

Expressões figuradas: Fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos - Mat.
25:41. “Para o inferno, para o fogo que nunca se apaga; onde o seu bicho não
morre, e o fogo nunca se apaga” - Mar. 9:44. O lago que arde com fogo e
enxofre -Apoc. 21:8. O abismo - Apoc. 9:2. A natureza terrível dessa morada dos
maus é revelada por expressões como “trevas
exteriores”, o lugar onde há “choro e ranger de dentes”, Mat. 8:12; “estou
atormentado nesta chama”, Luc. 16:24; “fogo que nunca se apaga”, Luc. 3:17;“
fornalha de fogo”, Mat. 13:42; “a negrura das trevas”, Judas, vers. 13;
“atormentado com fogo e enxofre”, Apoc. 14:10; “o fumo do seu tormento sobe
para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite”, Apoc. 14:11 -
Bib. Ency., de Kitto. ■ :

6. Que nos ensinam as Escrituras quanto à natureza da punição futura?

E evidente que são figurados os termos empregados nas Escrituras para


descrever esses sofrimentos; todavia, estabelecem com certeza os seguintes
pontos: esses sofrimentos consistirão -

Io. Na perda de todo o bem, quer natural, concedido por intermédio de Adão,
quer resultante da graça, oferecido por Cristo.

2o. Em todas as conseqüências naturais do pecado desenfreado, no abandono


judicial, no ódio total a Deus e na terrível sociedade dos homens perdidos e dos
espíritos malignos - 2 Tess. 1:9.

3o. Na inflição positiva de tormentos, na ira e na maldição de Deus executadas


tanto na natureza moral como na natureza física dos seus objetos. As Escrituras
estabelecem também o fato de que esses sofrimentos serão - (1) Mais terríveis do
que nos é dado imaginar. (2) Sem fim, intermináveis. (3) De diversos graus,
proporcional ao demérito de cada pessoa (em função da menor ou maior
gravidade dos pecados de cada pessoa)-Mat. 10:15; Luc. 12:48. .

7. Qual o uso das palavras aión, eternidade, e aiónios, eterno, no Novo


Testamento, e qual o argumento que, baseado nelas, estabelece a duração sem
fim da punição futura?

Io. A língua grega não possui termos mais enfáticos que esses para exprimir a
idéia de duração sem fim.

2o. Posto que sejam empregados às vezes no Novo Testamento para designar
uma duração limitada, todavia, na maioria imensa dos casos, evidentemente
designam duração ilimitada.

3o São empregados para exprimir a duração sem fim de Deus. (1) A palavramon
é assim empregada em 1 Tim. 1:17, e é aplicada a Cristo em Apoc.l: 18. (2) A
palavraaiónios é assim empregada em Rom. 16:26, e aplicada ao Espírito Santo -
Heb. 9:14.

4o. Ambos os termos são empregados para exprimir a duração sem fim da
felicidade futura dos santos. (1)0 vocábulo aión é assim empregado em João
6:57,58; 2 Cor. 9:9. (2) O vocábulo aiónios é assim empregado em Mat. 19:29;
Mar. 10:30; João 3:15; Rom. 2:7.

5o. Em Mat. 25:46 a mesmíssima palavra é empregada numa só cláusula para


definir tanto a duração da felicidade futura dos santos como da miséria dos
perdidos. Assim, pois, as Escrituras declaram explicitamente que a duração da
miséria futura será sem fim, no mesmo sentido em que são sem fim a vida de
Deus e a bem-aventurança dos santos. Veja o exame erudito, independente,
crítico e conclusivo que do uso dessas palavras no Novo Testamento fez o
falecido professor Moses Stuart, na obra StuarTs Essays on Future Punishment
(Ensaios de Stuart sobre o Castigo Futuro - ou, sobre as penas eternas).

8. Qual a prova que a favor da verdade sobre este assunto é fornecida pelo uso
da palavra aídios no Novo Testamento?

Essa palavra, em cuja formação entra o vocábuloacz, sempre, para sempre,


significa no grego clássico,eterno. Encontra-se duas vezes no Novo Testamento:
em Romanos 1:20, “tanto o seu eterno poder, como a sua divindade”; e em
Judas, vers. 6, “E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a
sua própria habitação, reservou na escuridão, e em prisões eternas...”. Mas os
homens que se perdem compartilham do destino dos anjos que se perderam -
Mat. 25:41; Apoc. 20:10.

Assim, a mesma palavra exprime a duração da Deidade e a duração dos


sofrimentos dos perdidos.

9. Que outras provas mais fornecem as Escrituras sobre este assunto?

Ia. Não há nada nas Escrituras que, mesmo de longe, sugira a idéia de que os
sofrimentos dos perdidos terão fim.

2a. A constante aplicação a este assunto da linguagem figurada, expressa em


termos como “o fogo que nunca se apaga”, “o seu bicho não morre”, “abismo”, a
necessidade de se pagar até o “último ceitil”, “e o fumo do seu tormento sobe
para todo o sempre” - Luc. 3:17; Mar. 9:45,46; Apoc. 14:11, só é compatível
com a convicção de que Deus quer que nós creiamos, baseados na Sua
autoridade, que a punição futura é literalmente sem fim. Dos que cometerem o
pecado irremissível se diz que nunca lhes será perdoado, “nem neste mundo nem
no porvir” - Mat. 12:32 (ARA).

Tem-se argumentado que a linguagem é figurada, e cita-se o dito: “Theologia


symbolica non estdemonstrativa”. E verdade. Mas o que representam essas
figuras? Que é que Deus quer ensinar por meio desses símbolos? E
inquestionável que cada um deles, tomando-se um por um, pode ser feito em
pedaços e tornar duvidoso o seu sentido. Mas devemos lembrar - (1) Que essa
linguagem é característica de todas as revelações divinas que temos do porvir
daqueles que morrem impe-nitentes. Descrições como essas colorem
uniformemente a representação inteira. (2) A Bíblia foi destinada à
instrução pública; por isso, o sentido óbvio deve ser o que o seu Autor queria
comunicar e, por conseguinte, é o sentido garantido pela veracidade divina. Esta
é uma consideração de peso especial no caso desta doutrina, porque - (a) E
doutrina prática, e diz respeito a cada pessoa, individualmente, (b) A
linguagem encontra-se freqüentemente e capta a atenção de todos os leitores, (c)
A Igreja histórica, toda ela (com algumas exceções individuais), tem, como
matéria de fato, interpretado essa

linguagem no sentido de sofrimento interminável, e isso apesar da pressão


constante e tremenda dos desejos humanos a favor de uma conclusão contrária.

10. Qual a suposição provável que sobre este assunto oferecem a razão e a
experiência?

As Escrituras nos ensinam - (1) Que o homem está morto no pecado e que é
moralmente impotente. (2) Que o arrependimento e a fé são operados na alma
pelo Espírito Santo. A experiência nos ensina que, como deveres, o
arrependimento e a fé são coisas muito difíceis, mesmo nas condições
mais favoráveis. A razão e a experiência juntas nos ensinam que, quanto mais
tempo uma pessoa vive, tanto mais difíceis e raros se tornam o arrependimento e
a fé, e tanto mais defmidamente fixos se tornam o seu caráter moral e os seus
costumes. Daí:

10. As condições mais favoráveis possíveis são aquelas em que estamos nesta
vida, isto é, juventude, caráter ainda imaturo, a Palavra, o Espírito Santo, a
providência de Deus e a Igreja Cristã. Demonstrações sobrenaturais e penas
purgatoriais não teriam efeito moral igual ao das condições que acabamos
de mencionar. “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão,
ainda que algum dos mortos ressuscite” - Luc. 16:31.

2o. A lei dos hábitos e do caráter moral fixo conduz à conclusão de que a
esperança de uma mudança favorável não pode deixar de diminuir rapidamente,
à medida que se adie o arrependimento.

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11. Quais as duas teorias que sobre esta questão têm sido sustentadas por
diversas pessoas, em oposição à fé proclamada por toda a Igreja Cristã e ao
claro ensino da Palavra de Deus?

Io. A da extinção total da existência dos réprobos, como a sentença da “segunda


morte”, depois do juízo final. Essa doutrina, popular mente descrita em termos
de “aniquilação dos maus”, e por seus defensores, “imortalidade condicional”,

é defendida habilmente por C. F. Hudson em seu livro Debt and Grace as


Related to the Doctrine of a Future Life (O Débito e a Graça em Relação à
Doutrina de uma Vida Futura), por Henry Constable em The Duration and
Nature of Future Punishment (Duração e Natureza da Punição Futura),
pelo arcebispo Whately em View of Scripture Revelation Concerning a Future
State (O Conceito da Revelação das Escrituras Concernente a um Estado Futuro)
e por Edward White em Life of Christ (A Vida de Cristo).

Eles argumentam que a palavra “morte” significa sempre “cessação de


existência”, e que “destruição eterna” significa sempre “pôr fora da existência”.

RESPONDEMOS - (1) Eles não conseguem, de modo algum, demonstrar que as


palavras e frases supracitadas têm em qualquer caso, e menos ainda que têm
sempre, o sentido que eles lhes atribuem. (2) Sua doutrina está em aberta
contradição com a apresentação uniforme das Escrituras quanto ao estado final
dos impenitentes, como foi ilustrado acima, Perg. 9. (3) A doutrina deles está em
contradição com o instinto natural e universal de imortalidade, de que dão
testemunho as religiões e a literatura de todas as nações, quer pagãs, quer
judaicas, quer cristãs.
2o. A opinião dos que em geral concordam em ensinar a futura restauração dos
pecadores, após um período indefinido de disciplina purificadora depois da
morte, quer no estado intermediário, quer depois do Juízo (veja acima, Cap.37,
Perg. 21). Essa opinião baseia-se (1) numa classe de passagens bíblicas que,
segundo se diz, ensinam a restauração de todas as coisas, como sejam Atos 3:21;
Ef. 1:10; Col. 1:19,20, etc.

(2) Naquilo que eles chamam intuição moral de que um castigo eterno seria
indigno de Deus. ■>

RESPONDEMOS - (1) As passagens das Escrituras em que se baseia o


argumento só seriam compatíveis com essa teoria de final salvação universal se
não existissem nas Escrituras declarações explícitas no sentido contrário. E
necessário que

se interprete cada classe de textos bíblicos com referência a outros, e é evidente


que o explícito e definido é a regra para o que é geral e indefinido. É axiomático
que as palavras “tudo” e “todas as coisas” abrangem mais elementos ou menos,
segundo o assunto de que se trata. Admitimos com prazer - (a) que TODOS os
que estão em Cristo serão vivificados, e (b) que Ele Se tornará o Cabeça de
TODAS AS COISAS, absolutamente sem exceção, no sentido de que o universo
inteiro, incluindo os amigos e os inimigos do Senhor, se tornarão sujeitos à
Sua supremacia real, que toda revolta será vencida, e que a cada classe será
atribuída a sua própria esfera. Veja abaixo, Perg. 14. (2) Quanto à “intuição” ou
às “intuições” em que se funda a doutrina em apreço, abaixo se mostrará que não
merecem confiança (Pergs. 12 e 13). (3) Assim como a esperança de uma
reforma moral, numa outra vida, não está de acordo com as apresentações das
Escrituras, assim tampouco é confirmada pelo que ensinam a razão e a
experiência. Veja acima, Perg. 10.

12. Quais as objeções que, derivadas da justiça de Deus, se fazem contra esta
doutrina?

A justiça de Deus exige - (1) Que ninguém padeça por aquilo pelo que não é
responsável. (2) Que o castigo esteja em todos os casos à medida exata da culpa
de quem o sofre.

Existe quatro objeções -


Io. Há multidões nos países pagãos, e até nos cristãos, que não têm nenhuma
responsabilidade por serem impenitentes, porque nunca, em toda a sua vida,
tiveram a oportunidade de conhecer ou receber a Cristo.

RESPONDEMOS - As declarações diretas da Bíblia, a analogia inteira do


sistema cristão, e a experiência de todos os cristãos, são unânimes em declarar
que toda a raça humana é culpada e merece a ira e a maldição procedentes de
Deus já antes da dádiva de Cristo e de ser Ele rejeitado. Se não fosse assim, não
seria necessário que Cristo viesse para expiar a culpa. E, se não fosse assim,
Cristo teria morrido em vão, e a salvação

seria uma dívida paga, e não uma GRAÇA concedida.

2o. Nenhum pecado de uma criatura finita pode merecer uma pena infinita; mas
um castigo sem fim é uma pena infinita.

RESPONDEMOS - A palavra infinito nesta conexão induz ao erro. E claro que


pecado sem fim merece castigo sem fim, e isso é tudo o que as Escrituras e a
Igreja ensinam. Um só pecado merece a ira e a maldição procedentes de Deus.
Ele não tem, em justiça, a obrigação de prover redenção. No momento em que
uma alma peca, ela é cortada da comunhão e da vida de Deus. Enquanto
permanecer nesse estado, continuará a pecar. Enquanto continuar a pecar,
continuará a merecer a ira e a maldição que procedem de Deus. E evidente que
as más disposições nutridas e os maus atos praticados no inferno merecerão e
receberão tão estritamente o devido castigo como o mereceram e receberam os
praticados e nutridos nesta vida. Se não fosse assim, seria verdadeiro o princípio
monstruoso de que quanto pior se tornar um pecador, tanto menos merecerá ele
censura e castigo.

3o. O infinito não admite graus, todavia a culpa dos diversos pecadores é maior
ou menor. i r-;-; ,* . .

RESPONDEMOS - Esta é uma cavilação sumamente desleal. E evidente que


penas igualmente eternas podem variar indefinidamente em grau.

4o. A diferença moral entre o pior santo salvo e o melhor pecador perdido pode
ser imperceptível, e, no entanto, a diferença dos seus destinos é infinita. - ; - -

RESPONDEMOS - É verdade, mas o tratamento do mais indigno crente tem por


fundamento a justiça de Cristo, e o tratamento do menos indigno incrédulo tem
por fundamento seu próprio caráter e conduta.

13. Qual a objeção que, extraída da benevolência de Deus, se faz contra esta
doutrina?

Há duas reivindicações - ;

Io. Que a benevolência de Deus O levará a fazer tudo

quanto está em Seu poder para promover a felicidade de Suas criaturas; e que,
como não temos nenhum direito de limitar esse poder, temos o direito de esperar
que Ele afinal proporcionará a felicidade de todos.

RESPONDEMOS - (1) A benevolência de Deus O leva a proporcionar a


felicidade de todas as Suas criaturas até onde , isso é compatível com estes Seus
outros atributos - sabedoria, \ santidade e justiça. (2) Sabemos pela experiência
de todos que Ele inflige sobre Suas criaturas males que não têm
nenhuma tendência nem influência alguma para promover finalmente a
felicidade dos indivíduos que os sofrem. (3) A benevolência do supremo
Governador Moral, interessado que é na paz e na pureza do universo, está de
acordo com Sua justiça em exigir a execução da pena total da lei sobre todos os
que quebrantam a lei, e especialmente sobre todos os que aumentam a sua
culpa rejeitando o Filho de Deus que morreu na cruz.

2o. Que as apuradas intuições dos cristãos lhes asseguram que é incompatível
com as perfeições morais de Deus,primeiro trazer à existência seres imortais sob
as condições comuns à maioria dos homens, tdepois condená-los a uma vida
posterior de miséria eterna.

RESPONDEMOS - (1) A permissão para que o pecado entrasse no mundo é um


grande mistério. Que os seres humanos, já antes de nascerem, perdessem sua
inocência em Adão é um grande mistério. Todavia, todo ser humano esclarecido
sabe que está sem desculpa e que merece a ira de Deus. (2) Deus, por meio da
pena que executou em Seu próprio Filho, quando Ele sofreu em nosso lugar,
mostrou em que conta Ele tinha a terrível culpa dos homens. (3) E um
absurdo dizer que as nossas intuições são adequadas para determinar o que será
justo que o Governador Moral de todo o universo faça com os pecadores que
permanecem impenitentes até ao fim. Sem dúvida, a justiça nEle é exatamente a
mesma que a justiça num homem perfeitamente justo. Mas nós não
sabemos todas as condições do caso, e as nossas “intuições” acham-se

obscurecidas pelo pecado - Heb. 3:13. Por conseguinte, a única fonte de


conhecimento seguro que temos é a Palavra de Deus, e ela, como já vimos, não
nos dá fundamento algum para a esperança de que haja arrependimento no além-
túmulo. (4) É uma grande crueldade seguir o exemplo do diabo quando enganou
Eva, e persuadir o povo de que afinal de contas pode ser que Deus seja mais
benévolo do que a linguagem da Sua Palavra dá a entender - Gên. 3:3,4.

14. Qual o argumento a favor da futura restauração de todas as criaturas


racionais à santidade e à felicidade, que se fundamenta em Romanos 5:18,19; 1
Coríntios 15:22-28; Efésios 1:10; Colossenses 1:19,20? - --> .-ouiui >

Com base em Rom. 5:18,19, argumenta-se que a frase “todos os homens” tem
exata e necessariamente aplicação tão ampla numa das cláusulas como na outra.

RESPONDEMOS-

Io. Que a frase “todos os homens” é muitas vezes utilizada nas Escrituras em
passagens em que o contexto lhe limita necessariamente o sentido. - João 3:26;
12:32.

2o. No presente caso, a frase “todos os homens” é evidentemente definida pela


frase qualificadora ou restritiva do versículo 17, “os que recebem a abundância
da graça, e do dom da justiça”.

3o. Este contraste entre “todos os homens” que estiveram em Adão e “todos os
homens” que estão em Cristo está em harmonia com a analogia de todo o
evangelho.

A respeito de 1 Cor. 15:22-28, o argumento é o mesmo que o tirado de Rom.


5:18,19. Com base nos versículos 25-28, argumenta-se que o grande fim do reino
mediatário de Cristo deve ser a restauração de todas as criaturas à santidade e à
bem--aventurança.

RESPONDEMOS- , i/a nsú),.)ü^-C-

Io. Que essa é uma interpretação forçada dessas palavras, que não é sua
interpretação necessária ou obrigatória, e que é

refutada pelos muitos testemunhos que temos citado anteriormente das


Escrituras.

2o. Que ela é incompatível com o escopo do assunto de que o apóstolo trata
nessa passagem. Ele declara que desde a eternidade até à ascensão Deus reinou
absolutamente. Da ascensão até à restauração de todas as coisas, Deus reina
na Pessoa do Deus-homem como Mediador. Da restauração até à eternidade,
Deus tornará a reinar como Deus absoluto.

Também de Efésios 1:10 e Colossenses 1:19,20 tira-se um argumento a favor da


salvação final de todas as criaturas. Respondemos que em ambas as passagens a
expressão “todas as coisas” significa toda a companhia dos anjos e dos
homens remidos e reunidos sob o domínio de Cristo. Porque, Io. Em ambas as
passagens o assunto do discurso não é o universo, mas sim a Igreja; 2o. Em
ambas as passagens as palavras “todas as coisas” são limitadas pelas frases
qualificativas “os predestinados”, “nos fez agradáveis a si no Amado”, “nós, os
que primeiro esperamos em Cristo”, “se, na verdade, permane-cerdes fundados e
firmes na fé”, etc. (nos respectivos contextos). Veja os comentários sobre
Romanos, 1 Coríntios e Efésios, por Dr. Hodge.

15. Quais as opiniões que sobre este assunto têm prevalecido entre os
arminianos extremistas?

Os seus princípios fundamentais a respeito da relação da capacidade com a


responsabilidade os obrigam a sustentar que não pode perecer ninguém que não
tenha tido, sob uma ou outra forma, e num ou noutro grau, alguma ocasião para
valer-se da salvação mediante Cristo.

Para evitarem as inferências óbvias que se poderia tirar dos fatos evidentes do
caso, alguns têm suposto que Deus talvez estenda o tempo da prova de alguns
para além da vida presente - Scot., Chnslian Life.

Limborch (Lib. 4, Cap. 11) julga provável que se salvem todos os que neste
mundo fazem bom uso da luz que têm; mas

que, se rejeitarmos esta idéia, dando preferência a crer que a bondade divina
condenaria estes (os ignorantes) ao fogo do inferno, parece que seria melhor
sustentar que, assim como há três estados para os homens neste mundo - o dos
crentes, o dos incrédulos e o dos ignorantes - assim também há de haver três
estados no mundo futuro: o da vida eterna para os fiéis, o das penas do inferno
para os incrédulos, e, além desses, o status ignorantium (o estado dos
ignorantes).

i
Os Sacramentos

1. Qual é a etimologia, e quais os usos clássico e patrístico da palavra


sacramentum? .

Io. E derivada àtsacro, sacrare, tornar sagrado, dedicar aos deuses, ou a usos
sagrados.

2o. Em seu uso clássico significava - (1) Aquilo pelo qual uma pessoa se
obrigava a fazer alguma coisa por outra. (2) Uma soma depositada em juízo
como penhor, e que, no caso do não cumprimento das palavras estipulados no
contrato, era dedicada a usos sagrados. (3) Também um
juramento, especialmente o do soldado, de dedicar-se fielmente ao serviço da
pátria-Dictionary (Dicionário) de Ainsworth.

3o. Os “pais” da Igreja empregavam essa palavra num sentido convencional,


como equivalente à palavra grega mystérion, mistério, isto é, alguma coisa
desconhecida antes de ser revelada, e assim um emblema, um rito, um tipo,
tendo alguma significação espiritual latente, só conhecida dos iniciados ou
instruídos.

Os “pais” gregos aplicavam o tzrmomystérion às ordenanças cristãs do Batismo


e da Ceia do Senhor, por terem esses ritos uma significação espiritual e serem
assim uma certa forma de revelação de verdades divinas.

Os “pais” latinos empregavam a palavra sacramentum como palavra latina no


seu sentido próprio, como designação de qualquer coisa sagrada em si mesma,
ou que tivesse o poder de obrigar ou consagrar os homens; e, além disso,
empregavam--na como o equivalente da palavra grega mystérion, isto é, no

sentido inteiramente diverso de uma verdade revelada, ou de um sinal ou


símbolo que revela uma verdade que de outro modo permaneceria oculta. Este
fato deu ao uso da palavra sacramentum, na teologia escolástica, uma danosa
latitude de significação e a tornou muito indefinida. Assim, em Ef. 3:3,9; 5:32; 1
Tim. 3:16; Apoc. 1:20, a palavra mystérion tem verdadeiramente o sentido de
“revelação de uma verdade que a razão não poderia descobrir, e é traduzida por
mystery na versão inglesa e sacramentum na Vulgata Latina (em Almeida,
por mistério). Assim é que a igreja católica romana emprega a mesma palavra
em dois sentidos inteiramente diversos, pois a aplica indiferentemente ao
Batismo e à Ceia do Senhor como “ordenanças que obrigam”, e à união dos fiéis
com Cristo como uma verdade revelada - Ef. 5:32. Dessa forma tiram a absurda
inferência de que o matrimônio é um sacramento.

2. Como dèfinem o sacramento os “pais”, os escolásticos, a igreja católica


romana, a Igreja da Inglaterra e os nossos próprios símbolos?

Veja as seguintes definições:

Ia. De Agostinho: “Signum rei saem”, ou: “Sacramentum est invisibilis gratice
visibile signum, ad nostram justificationem institutum”; “accedit verbum ad
elementum, etfit sacramentum”.

2a. De Victor de S. Hugo: “Sacramentum est visibilis forma invisibilis gratice in


eo collatce”.

3a. Do Concilio de Trento: “Um sacramento é alguma coisa apresentada aos


sentidos que, por instituição divina, não só tem o poder de significar, mas
também o de transmitir graça eficazmente” - Cat. Rom., Parte 2, Cap. 1, Perg. 6.

4a. Da Igreja Anglicana (Igreja da Inglaterra), conforme o seu 25°. artigo da


religião: “Os sacramentos (ordenanças) instituídos por Cristo não são somente
designações ou indícios da profissão dos cristãos, mas antes uns
testemunhos firmes e certos, e uns sinais eficazes da graça e da boa vontade de
Deus para conosco, pelos quais Ele opera invisivelmente em nós, e não somente
vivifica, mas também fortalece e

confirma a nossa fé nele”.

5 a.Do Catecismo Maior da Assembléia de Westminster, Pergs. 162 e 163: “O


sacramento é uma santa ordenança instituída por Cristo na Sua Igreja, para
significar, selar e conferir aos que estão dentro da aliança da graça, os benefícios
da Sua mediação; para os fortalecer e aumentar a sua fé e todas as suas outras
graças; para obrigá-los à obediência, para testificar e nutrir sua comunhão uns
com os outros, e para distingui-los dos que estão fora”; “As partes de um
sacramento são duas: uma o sinal exterior sensível utilizado segundo a
instituição de Cristo, e a outra uma graça interior e espiritual por
ele representada”. '
3. Segundo quais princípios se deve formular tal definição?
/

Io. E preciso lembrar que a palavra sacramento não se encontra na Bíblia.

2o. A extrema largueza com que este termo tem sido empregado, tanto em
sentido próprio como palavra latina, como no sentido que se lhe tem atribuído
como o equivalente convencional da palavra grega mystérion, torna evidente
que, nem por meio da etimologia da palavra sacramentum, nem por meio do seu
uso eclesiástico, é possível chegar a uma definição acertada de uma ordenança
evangélica.

3o. O único modo próprio de formular uma definição acertada de uma classe de
ordenanças evangélicas é fazer uma comparação de tudo quanto as Escrituras
ensinam a respeito da origem, natureza e propósito das ordenanças
universalmente reconhecidas como pertencentes a essa classe,
determinando assim os elementos essenciais que são comuns a todos
os membros da referida classe, e que os distinguem como classe de todas as
demais ordenanças divinas.

4o. As ordenanças “universalmente reconhecidas” como sacramentos são o


Batismo e a Ceia do Senhor. “Tomás de Aquino concordou com outros teólogos
em ter o Batismo e a Ceia do Senhor como potissima sacramenta” - Summa, P.
3,

Quaes. 62, Art. 5, apud Hagenbach. A verdadeira questão é, pois: haveria outras
ordenanças divinas que tenham as características essenciais que são comuns ao
Batismo e à Ceia do Senhor?

4. Quantos sacramentos os romanistas criaram, e como se poderá decidir a


controvérsia entre eles e os protestantes?

A igreja católica romana ensina que há sete sacramentos, a saber, o batismo, a


confirmação ou crisma, a Ceia do Senhor, a penitência, a extrema unção, as
ordens e o matrimônio.

Nós, porém, sustentamos que somente o Batismo e a Ceia do Senhor podem


propriamente ser chamados sacramentos (isto é, ordenanças), quer se aceite a
definição protestante deste termo, quer se aceite a dos romanistas, como a damos
acima, Perg. 2. Veja por quê:

Io. A crisma, a penitência e a extrema unção não são de instituição divina, não se
fundamentando de modo algum nas Escrituras.

2o. O matrimônio, instituído por Deus no paraíso, e a ordenação ao ministério do


evangelho, instituída por Cristo, embora tanto aquele como esta sejam
instituições divinas, evidentemente não são ordenanças do mesmo gênero que
o Batismo e a Ceia do Senhor e não cabem nas condições de nenhuma das
definições de um sacramento, porque nem significam nem comunicam nenhuma
graça interior.

5. Quais os dois componentes de todo sacramento?

Io. “Um sinal exterior sensível utilizado segundo a instituição de Cristo; 2o. Uma
graça interior e espiritual por ele representada”- Cat. Maior, Perg. 163. Veja
abaixo,Apol. Conf. DeAugsh. (Hase), pag. 267. -

Os romanistas, na linguagem dos escolásticos, distinguem entre a matéria e a


forma de um sacramento. Amatéria é aquela parte do sacramento que está ao
alcance dos sentidos e que é significativa da graça, e.g., a água e o ato de aplicá-
la no Batismo^ o pão e o vinho, e os atos de partir o pão e de derramar o

vinho na Ceia do Senhor. A forma é a palavra divina pronunciada pelo ministro


quando administra os elementos, dedicando-os assim ao ofício de significar uma
graça.

6. Segundo os católicos romanos, qual é a relação entre o sinal e a graça que


ele significa?

Eles sustentam que, em conseqüência da instituição divina, e em virtude do


“poder do Todo-poderoso que neles existe”, a graça significada acha-se contida
na própria natureza dos sacramentos, de modo que ela é conferida sempre,ex
opere operato (isto é, ex vi ipsius actionis sacramentalis - pelo poder do próprio
ato sacramental), a todo aquele que o recebe e não lhe oponha um obstáculo
positivo. Entendem, pois, que a “união sacramental”, ou a relação existente entre
o sinal e a graça que ele significa, é física, ou como a que subsiste entre
uma substância e suas propriedades, isto é, o poder de conferir graça está nos
sacramentos assim como o poder de queimar está no fogo - Cone. de Trento,
Sess. 7, Câns. 6 e 8; Cat. Rom. Parte 2, Cap. 1, Perg. 18; Belarmino, De Sacram.,
2,1.

7. Qual é a doutrina zwingliana sobre assunto?

Zwínglio, o reformador da Suíça, ensinou uma doutrina

que era o extremo contrário à da igreja católica romana, a saber, que o sinal
simplesmente representa por símbolos apropriados e por ações simbólicas a
graça à qual ele está relacionado. Assim, os sacramentos são unicamente meios
eficazes para a apresentação objetiva da verdade simbolizada.

8. Em que sentido acha-se empregada a palavra “exibir” 1 em nossos livros


simbólicos, em referência a este assunto?

Cf. Conf. De Fé, Cap.27, Séc. 3, e Cap. 28, Séc.. 6, e Cat. Maior, Perg. 162.

Essa palavra vem do verbo latino exhibeo, que tinha os dois sentidos, de
comunicar e de descobrir ou revelar. E evidente que o termo exibir tem em
nossos símbolos o primeiro desses sentidos: o de comunicar, conferir.

9. Qual a doutrina comum das igrejas reformadas quanto à relação do sinal


com a graça significada?

As confissões reformadas concordam em ensinar que essa relação é -

10. Simplesmente moral, isto é, é estabelecida somente em virtude da


instituição e da promessa de Cristo, e depende da devida administração da
ordenança e da fé e conhecimento do participante.

2o. É real, isto é, quando é devidamente administrado, e o participante o recebe


com conhecimento e fé, o sacramento, em conseqüência da promessa de Cristo,
realmente sela ao participante a graça significada e lha comunica; isto é, ele
recebe a graça junto com o sinal dela.

Esta doutrina inclui, pois - ; - ;

Io. A teoria zwingliana, de que o sinal externo e visível verdadeiramente


significa ou simboliza a graça.
2o. Que os sacramentos, como ordenanças instituídas por Deus, são selos
afixados à promessa para autenticá-la, como o fenômeno natural do arco-íris, em
virtude da instituição divina, tornou-se o selo da promessa feita por Deus a Noé.

3o. Que, como selos que assim acompanham por autoridade divina uma
promessa divina, eles realmente comunicam a graça que significam àqueles a
quem essa graça é destinada e que se acham em estado espiritual próprio para
recebê-la, “como uma chave transmite o direito de entrada, uma escritura pública
transmite uma propriedade, ou a cerimônia de casamento confere direitos
maritais”. Veja Turretino, Loc.19, Ques. 4; Conf. de Fé, Cap.27; Cat. Maior,
Pergs. 162 e 163; Caí.

de Gen., Seç. 5à.De Sacramentis-, Conf. da Igr. Francesa, Art. 34; Antiga Conf.
Escocesa, Seç. 21.

10. Qual é a finalidade dos sacramentos?

10. Para que signifiquem (ou simbolizem, ou representem), selem e confiram


aos que estão dentro da aliança da graça os benefícios da redenção realizada por
Cristo e assim sejam um dos principais meios de edificar a Igreja - Mat. 3:11;
Gên. 17:11,13; 1 Cor. 10:2-21; 11:23-26; 12:13; Rom. 2:28,29; 4:11; 6:3,4; Gál.
3:27; 1 Ped. 3:21.

2o. Que sejam insígnias visíveis dos que pertencem à Igreja, e estabeleçam uma
diferença visível entre o mundo e os que professam seguir a Cristo - Gên. 34:14;
Êx. 12:48; Ef. 2:19 -Conf de Fé, Cap.27, Seç. 1.

A DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA A RESPEITO ; ■ DA EFICÁCIA DOS


SACRAMENTOS

11. Qual é a doutrina católico-romana a respeito da eficácia dos


sacramentos?

Io. Como mostramos acima, Perg. 6, os católicos romanos sustentam que os


sacramentos contêm a graça que significam; que esse poder de conferir graça é
inseparável de um sacramento verdadeiro; e que, como fato objetivo, eles a
contêm sempre e a apresentam do mesmo modo a todos os participantes, seja
qual for o caráter deles. . ,
2o. Em todos os casos da sua aplicação, a não ser que se faça oposição positiva e
assim se anule a sua eficácia, eles efetuam a graça que significam, como um
opus operatum, isto e, pelo simples poder inerente à própria ação sacramental.
- •' ... úít ' ■' ■

12. Da parte do administrador, de que condições depende a eficácia do


sacramento, segundo a doutrina católico-romana?

Segundo os romanistas, a validade de um sacramento, quanto ao que diz respeito


ao administrador, depende -

Io. De ser ele autorizado canonicamente. No caso dos sacramentos de ordem e


confirmação, é necessário que ele seja um bispo em comunhão com o papa. No
caso dos outros sacramentos, que seja um sacerdote papal devidamente
ordenado. O caráter pessoal do bispo ou sacerdote, ainda que esteja em pecado
mortal, não impede a realização do efeito - Cone. de Trento, Sess. 7, De Sacr.,
Cân. 12.

2o. E necessário que o administrador tenha, no ato de administrar o sacramento,


a intenção positiva de fazer o que a igreja tem a intenção de fazer quando celebra
cada sacramento.

O teólogo católico-romano Pedro Dens (Vol. 5, pág. 127) diz: “Para que a
celebração do sacramento seja válida, é necessário que o ministro celebrante
tenha a intenção de fazer o que a igreja faz. A intenção necessária no ministro
consiste num ato da sua vontade, pelo qual ele se determina a realizar o ato
externo com a intenção de fazer o que faz a igreja”; isto é, celebrar um
sacramento válido. A não ser assim, o ato é nulo, mesmo quando se realizam
regularmente todos os atos externos. Veja Cone. De Trento, Sess. 7, Cân. 11. Isso
deixa o participante inteiramente a mercê do ministro, por depender a validade
do ato inteiro da sua intenção secreta, vindo a ser isto uma das muitas invenções
daquela igreja anticristã para tornar o povo dependente do sacerdote.

13. Em que sentido os protestantes admitem que “intenção” é necessária?

Eles admitem que, para tornar o serviço externo em sacramento, é necessário que
seja feito com o propósito ostensivo e professo de cumprir o mandamento de
Cristo e de fazer o que Ele exige que façam os que aceitam a aliança evangélica.
14. Qual a condição que os católicos romanos afirmam ser essencial à
eficácia do sacramento, da parte do participante?

Io. No caso do batismo de crianças não é necessária nenhuma condição da parte


delas.

2o. Da parte dos adultos, a única condição é que eles não se lhe oponham com
incredulidade absoluta ou com resistência da vontade (non ponentibus obicem).
Sendo a fé e o arrependimento possíveis à alma não regenerada, eles são também
exigidos como necessários para produzir o efeito do batismo (Cat. Rom., Parte 2,
Cap. 2, Perg. 39). Belarmino, De Sacram., 2,1, diz que a vontade de ser batizado,
a fé e o arrependimento são disposições necessárias para tornar o
sacramento capaz de produzir seus efeitos, exatamente como estar seca a lenha é
a condição para o fogo poder queimá-la, mas nunca é a causa do fogo. :

15. Quais são, segundo a igreja papal, os efeitos dos

sacramentos? ■ ■ o

1 °. Graça justificadora (santificadora).

2o. Três dos sacramentos, a saber, o batismo, a confirmação e a ordem,


imprimem também no participante um “caráter” (da palavra grega charactér, um
sinal ou divisa, gravado ou impresso como um selo - como com um sinete). Este
“caráter sacramental” é uma impressão distintiva e indelével estampada na alma,
“cujo duplo efeito é que nos prepara para receber ou fazer alguma coisa sagrada,
e distingue uns dos outros”. E por isso que nunca se repete o batismo ou a
confirmação, e que um sacerdote nunca pode desfazer-se da autoridade e
dos privilégios do sacerdócio - Cat. Rom., Parte 2, Cap.l, Pergs. 21-25; Cone. de
Trento, Sess. 7, Cân. 9.

16. Como se pode refutar essa doutrina?

Que os sacramentos não têm o poder de comunicar graça a todos, quer estejam,
quer não estejam incluídos na aliança da graça, e quer possuam, quer não
possuam fé, é certo, porque -

Io. São selos da aliança evangélica (veja abaixo, Perg. 20). Mas um selo só
ratifica uma aliança como aliança. Pode comunicar a graça prometida somente
na suposição de se

haverem cumprido as condições da aliança. No entanto, essa aliança declara que


a salvação e toda bênção espiritual dependem da fé como sua condição.

2o. Conhecimento e fé são exigidos como as condições prévias, e é necessário


que se achem em todos os que desejam participar dos sacramentos, como as
qualificações essenciais para recebê-los - Atos 2:41; 8:37; 10:47; Rom. 4:11.

3o. A fé é essencial para tornar eficazes os sacramentos -Rom. 2:25-29; 1 Cor.


11:27-29; 1 Ped. 3:21.

4o. Muitos que recebem os sacramentos estão notoriamente sem a graça que eles
significam. Atente-se para o caso de Simão, o mago, Atos 8:9-21, e para os de
muitos dos coríntios e dos gálatas, e para a maioria dos cristãos nominais do
tempo atuai.

5o. Muitos têm tido a graça sem os sacramentos. Disso dão testemunho os casos
de Abraão, do ladrão na cruz, de Cornélio, o centurião, e de uma multidão de
cristãos proeminentes entre os quacres.

6o. Essa doutrina amarra blasfemamente a graça do Deus soberano e sempre


vivo, e a coloca completamente à disposição das mãos de homens falíveis e
muitas vezes maus.

7o. Essa doutrina é um elemento essencial daquele sistema cerimonial e


sacerdotal que prevalecia entre os fariseus, e contra o qual todo o Novo
Testamento é um protesto.

8o. O efeito uniforme desse sistema tem sido o de aumentar o poder dos
sacerdotes e de confundir todo o conhecimento a respeito da natureza da religião
verdadeira. Como os batizados nem sempre e geralmente não produzem de fato
os frutos do Espírito, todos os ritualistas concordam em não considerar
esses frutos como essenciais para a salvação. Onde prevalece esse sistema,
morre a piedade.

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A DOUTRINA DAS IGREJAS PROTESTANTES QUANTO À EFICÁCIA


DOS SACRAMENTOS

17. Qual é a doutrina luterana quanto à eficácia dos sacramentos?

Io. Os luteranos rejeitam a doutrina papal de que os sacramentos (as ordenanças)


efetuam graça ex opere operato.

2o. Eles sustentam que a sua eficácia em conferir graça reside nos sacramentos
intrinsecamente.

3o Sustentam igualmente que, como fato objetivo, a graça é comunicada a todo


aquele que recebe o sacramento, quer tenha quer não tenha fé.

4o. Mas a graça comunicada só tem efeito naqueles que têm verdadeira fé para
recebê-la. Como o poder para curar residia em Cristo, quer a mulher tocasse
nEle quer não tocasse (Mat. 9:20); todavia, esse poder não teria sido aproveitado
pela mulher se ela não tivesse crido e tocado.

5o. Eles sustentam que esta eficácia não reside no sinal nem na cerimônia, e sim
na Palavra que acompanha o sinal e o constitui sacramento. A eficácia não é
devida ao simples poder moral da verdade, nem à fé do participante, mas é
sobrenatural, residindo no poder do Espírito Santo; não porém no poder do
Espírito Santo extrinsecamente à verdade, entretanto residindo na verdade e
permanecendo inseparável dela - virtus Spiritus Sancti intrinsicus accedens. Veja
Conservative Reformation, de Krauth, págs. 825-830.

18. Qual é a doutrina zwingliana e remonstrante quanto à mesma?

A tendência intelectual que, a respeito deste assunto, Zwínglio primeiro


desenvolveu, foi depois desenvolvida mais amplamente pelos remonstrantes no
século seguinte, e mais ainda pelos socinianos. Opiniões ultramoderadas a
respeito da natureza e eficácia dos sacramentos têm prevalecido muito também
no século atual (século 19) nas igrejas evangélicas,

cm conseqüência da reação contra as teorias extremas dos romanistas e dos


ritualistas em geral. Para uma exposição geral desse modo de pensar veja acima,
Perg. 7.

19. Como se pode expor a doutrina das igrejas reformadas sobre este assunto?
Quanto à doutrina sobre a relação do sinal com a graça significada ou
simbolizada, veja acima, Perg. 9.

Quanto à eficácia dos sacramentos, os reformados -

Io. Negam que eles confiram graça como um opus operatum.

20. Afirmam que os sacramentos não comunicam graça alguma ao participante


indigno.

3o. Que sua eficácia não vem de um mero poder moral da verdade que
simbolizam.

4o. Que eles realmente conferem graça ao participante digno.

5o. Mas isso eles fazem instrumentalmente, porque a eficácia sobrenatural não é
devida a eles, nem a quem os administra, e sim ao Espírito Santo que, como
operador livre e pessoal, serve-Se deles soberanamente para fazer a Sua vontade
(virtus Spiritus Sancti extrinsicus accedens).

6o. Que, como selos da aliança da graça, eles comunicam e confirmam graça
àqueles a quem ela pertence, isto é, àqueles que estão dentro daquela aliança, e,
no caso dos adultos, somente mediante uma fé viva.

7o. Que a graça conferida pelos sacramentos é muitas vezes conferida a


verdadeiros crentes antes de usá-los e sem o seu uso.

20. Por quais provas é estabelecida a verdade da doutrina reformada?

A verdade da doutrina reformada é estabelecida, de um lado, pelas provas que


refutam a doutrina católico-romana, expostas sob a Perg. 16. De outro lado, a sua
verdade, como oposta à teoria escassa de Zwínglio, é estabelecida como segue:

Io. Que os sacramentos não somente são sinais da graça de Cristo, mas também
são selos da aliança evangélica, oferecendo-nos aquela graça sob a condição de
termos fé, “é evidenciado pelo fato de que Paulo diz que a circuncisão foi o selo
da justiça da fé” - Rom. 4:11. E que o apóstolo pensava do mesmo modo a
respeito do batismo torna-se evidente de Colossenses, 2:11. Com referência à
Ceia do Senhor, o Salvador disse: “Este cálice é o Novo Testamento no meu
sangue”, isto é, a nova aliança foi ratificada por Seu sangue. O cálice desse
sangue é o memorial instituído por Cristo e é, por conseguinte, o memorial e
também a confirmação da própria aliança... O evangelho nos é apresentado sob a
forma de uma aliança. Os sacramentos são os selos dessa aliança. Deus, por sua
instituição, obriga-Se ao cumprimento das Suas promessas; Seu povo,
recebendo-os, obriga-se a confiar nEle e a servi-lO. Esta idéia está incluída na
representação dada na fórmula do batismo (Rom. 6:3,4) e em todas as passagens
em que se diz que a participação nas ordenanças cristãs inclui a profissão do
evangelho”.

2o. Como selos afixados à aliança, segue-se que realmente transmitem a graça
significada, como forma legal de investidura, àqueles a quem ela pertence -
segundo os termos da aliança. Assim como se diz que os títulos de uma
propriedade, quando assinados e selados, transmitem a propriedade que
eles representam, por serem eles a forma legal pela qual a intenção do
proprietário original fica expressa publicamente e ratificado o seu ato. E por esse
motivo que nas Escrituras, como também na linguagem geral, os nomes e os
atributos das graças seladas são atribuídos aos sacramentos pelos quais eles são
selados e transmitidos aos seus legítimos possuidores -Conf. de Fé, Cap. 27, Seç.
2. Diz-se que os sacramentos (as ordenanças) lavam-nos do pecado, que nos
unem a Cristo, que nos salvam, etc. - Atos 2:38; 22:16; Rom. 6:2,6; 1 Cor.
10:16; 12:13; Gál. 3:27; Tit. 3:5-0 Caminho da Vida, Dr. Hodge.

A NECESSIDADE DOS SACRAMENTOS

21. Qual a doutrina mantida pelos católicos romanos quanto ú necessidade dos
sacramentos?

Os romanistas distinguem -

Io. Entre uma condição absolutamente necessária para alcançar um fim, e uma
que só é muito conveniente e ajuda muito em sua consecução.

2o. Entre a necessidade que pertence a meios essenciais, e aquela obrigação que
vem de um mandamento positivo de Deus. De conformidade com isso, eles
sustentam que os diversos sacramentos são necessários em sentidos diferentes.

O BATISMO, dizem, é necessário absolutamente - sua administração positiva ou


ao menos o sincero desejo de recebê-lo - tanto para as crianças como para os
adultos, como o único meio de alcançar a salvação.

A PENITÊNCIA, dizem, é absolutamente necessária no mesmo sentido, mas


somente para os que caíram em pecado mortal depois de batizados.

A ORDEM, dizem, é absolutamente necessária no mesmo sentido, porém não


para todas as pessoas, como meio de salvação, mas sim com respeito à igreja
inteira como comunidade.

A CONFIRMAÇÃO, a EUCARISTIA e a EXTREMA UNÇÀO são necessárias


somente no sentido de terem sido ordenadas e de ajudarem muito.

O MATRIMÔNIO, dizem, é necessário somente neste segundo sentido, e


unicamente para os que entram na relação conjugal - Cat. Rom., Parte 2, Cap. 1,
Perg. 13.

Os pusseítas e em geral os extremistas da Igreja Anglicana sustentam o dogma


da regeneração batismal e, assim, a conseqüência de que o batismo é
absolutamente necessário como o único meio de salvação.

22. Qual a doutrina protestante quanto à necessidade dos sacramentos?

Io. Que os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor foram instituídos por


Cristo e que sua observância perpétua é obrigatória para a Igreja em razão do
preceito divino. Isso se torna evidente (1) da narrativa que temos da sua
instituição, Mat. 28:19; 1 Cor. 11:25,26; (2) do exemplo dos apóstolos -Atos
2:41; 8:36,37; 1 Cor. 11:23-28; 10:16-21.

2o. Que, não obstante isso, a graça oferecida na aliança evangélica não reside
fisicamente nesses sacramentos, nem está ligada inseparavelmente a eles, de
modo que, posto que sejam obrigatórios como deveres, e ajudem muito como
meios aos que estão preparados para recebê-los, todavia não são em sentido
algum os meios essenciais sem os quais seria impossível alcançar a salvação.
Isso fica provado pelos argumentos apresentados acima, sob a Perg. 16.

A VALIDADE DOS SACRAMENTOS

Isso inclui tudo quanto é essencial à legitimidade de um sacramento, para que


possa servir à finalidade da sua instituição.
23. Quais as diversas opiniões sobre este assunto?

Todos os segmentos eclesiásticos concordam que é necessário que haja -

Io. A “matéria” verdadeira, os elementos e ações apropriados.

2o. A “forma” verdadeira, as palavras prescritas que acompanham a celebração e


que, acrescentadas à “matéria”, constituem o sacramento.

3o. A “intenção” verdadeira, o propósito sério de fazer aquilo que Cristo mandou
fazer quando instituiu o rito.

Diversas igrejas divergem em suas opiniões a respeito do que são a “matéria”, a


“forma” e a “intenção” verdadeiras. Parece certo que não pode de modo algum
ter a “intenção”

verdadeira ninguém que não creia na deidade suprema de Cristo, no Seu ofício
como Redentor e na personalidade do Hspírito Santo. Por isso a Assembléia
Geral, em 1814 (Moore’s Digest, pág. 660) decidiu: “É opinião decidida e
unânime desta Assembléia que os que renunciam às doutrinas fundamentais da
Trindade e negam que Jesus Cristo é o mesmo em substância e igual em poder e
glória ao Pai, não podem ser reconhecidos como ministros do evangelho, e que
as suas ministrações (batismo etc.) não são válidas”. Todas as igrejas concordam
que “a eficácia de um sacramento não depende da piedade de quem o
administra” -Conf. de Fé, Cap. 27, § 3; Cone. de Trento, Sess.7, Cân. 11. E a
Conf. Gálica, Art. 28, expõe a opinião e a prática comuns de todas as igrejas
protestantes com respeito ao batismo católico romano: “Não obstante isso,
permanecendo ainda no romanismo alguns vestígios da verdadeira Igreja, e
especialmente a substância do batismo, cuja eficácia não depende de quem o
administre, reconhecemos que os que foram batizados por eles não precisam ser
rebatizados, embora, por causa da corrupção contagiosa, ninguém possa oferecer
seus filhos para serem por eles batizados sem que também quem o fizer
se contamine”.

Com relação às qualificações das pessoas que administram os sacramentos, os


papistas sustentam que, para a validade de um sacramento é essencial que seja
administrado por um ministro ordenado canonicamente; para os da ordem e
da confirmação é essencial que o administrador seja bispo; para os demais, que
seja sacerdote. Mas, por ser o batismo absolutamente necessário (como eles
dizem) para a salvação, eles admitem que “todos, mesmo de entre os leigos, quer
seja homem quer seja mulher, e seja qual for a seita que professe
(podem batizar). Porque isso é permitido quando a necessidade obriga, mesmo
aos judeus, aos incrédulos e aos hereges, contanto, porém, que o façam com o
propósito de fazer aquilo que a igreja católica romana faz nesse ato de seu
ministério” -Cat. do Cone. de Trento, e Cone. de Trento, Sess. 7, “Do batismo”,
Cân. 4.

Os protestantes consideram os sacramentos (as ordenanças) como uma pregação


da Palavra, também como selos autorizados e insígnias que atestam que se
pertence à igreja. Por conseguinte, a sua administração deve ser limitada
àqueles oficiais da igreja que possuam, por comissão divina, o ofício de ensinar
e governar, “nem um nem outro dos quais (sacramentos) pode ser celebrado por
quem não for ministro da Palavra, legalmente ordenado” -Conf. de Fé, Cap. 27,
§ 4. Não considerando o batismo como essencial para a salvação, os protestantes
em geral não fazem nenhuma exceção a favor do batismo leigo - Diretório para
o Culto Divino, Cap. 7, § 1; Calvino, Institutas, Livro 4, Cap. 15, § 20.

EXPOSIÇÕES ECLESIÁSTICAS AUTORIZADAS

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Cat. do Cone. de Trento, Parte 2, Cap. 1,


Perg. 8: “Um sacramento é coisa exposta aos sentidos, a qual, por instituição de
Deus, tem o poder tanto de significar como de efetuar santidade e justiça”.

Cone. de Trento, Sess. 7, “De Sacramentis”, Cân. 1: “Se alguém disser que os
sacramentos da nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, Senhor
nosso, ou que são mais ou menos do que sete, a saber: Batismo, Confirmação,
Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio; ou que algum
desses sete sacramentos não é verdadeira e propriamente sacramento; seja
anátema”.

Cân. 4 - “Se alguém disser que os sacramentos da nova lei não são necessários
para a salvação, mas (são) supérfluos; e que sem eles, e sem o desejo deles, só
pela fé os homens alcançam de Deus a graça da justificação; ainda que
nem todos sejam necessários a cada um; seja anátema”.

Cân. 6 - “Se alguém disser que os sacramentos da nova lei não encerram a graça
que significam, ou que não conferem a mesma graça aos que lhes não põem
óbice; e que só são sinais externos da graça, ou justiça, que se recebe pela fé, e
certos sinais da profissão cristã, com que entre

os homens se distinguem os fiéis dos infiéis; seja anátema”

Cân. 8 - “Se alguém disser que pelos mesmos sacramentos da nova lei não se
confere graça ex opere operato, mas que a fé na divina promessa somente basta
para conseguir a graça; seja anátema”.

Cân. 9 - “Se alguém disser que por estes três sacramentos, a saber, Batismo,
Confirmação e Ordem, não se imprime caráter na alma; isto é, um sinal
espiritual e indelével, pelo que eles não podem ser repetidos; seja anátema”.

Cân. 11 - “Se alguém disser que dos ministros, quando celebram e conferem
sacramentos, não se requer ao menos a intenção de fazer o que a igreja faz; seja
anátema”.

Cat. do Cone. de Trento, Parte 2, Cap. 1, Pergs. 24,25: “O outro efeito do


Batismo, da Confirmação e da Ordem é o caráter que eles imprimem na alma.
Este caráter é, por assim dizer, um certo sinal distintivo impresso na alma,
o qual, apegando-se, como sempre faz, nunca se pode apagar...tem efeito duplo:
porque nos prepara para podermos empreender e fazer alguma coisa santa, e
também serve para distinguir-nos uns dos outros por meio de algum sinal”.

Berlarmino, De Sacr., 2, 1: “Aquilo que ativa, próxima e instrumentalmente


efetua a graça da justificação é aquele único ato externo a que se chama
sacramento, e este se chama opus operatum, porque é recebido
passivamente (operatum), de modo que é a mesma coisa para um sacramento
conferir graça ex opere operato, que é conferir graça em virtude da própria ação
sacramental, instituída por Deus para esse fim, e não do merecimento nem
do administrador nem de quem o recebe... E verdade que a vontade de Deus, que
se serve do sacramento, concorda ativamente, de fato é a causa principal. Os
merecimentos de Cristo também concordam, sendo a causa meritória, não,
porém a (causa) eficiente, porque não está no ato mas no passado, visto que
permaneça objetivamente na mente de Deus. O poder e a vontade do ministro
estão de acordo necessariamente, todavia eles são causas remotas, porque

são necessários para efetuar a ação sacramental propriamente dita, que depois
opera imediatamente... Vontade, fé e arrependimento são necessariamente
exigidos como disposições do adulto que receber um sacramento, não como
causas ativas, porque nem mesmo a fé, nem o arrependimento, podem efetuar
graça sacramental, nem dar eficácia aos sacramentos, mas só (podem) tirar
os obstáculos que impediriam os sacramentos de exercerem a sua própria
eficácia; por conseguinte, no caso das crianças, não sendo exigida delas
disposição, a justificação se efetua sem essas coisas. Se, para queimar lenha,
seca-se primeiro a lenha, tira-se depois fogo da pederneira, aplica-se em seguida
o fogo à lenha, dando então em resultado a combustão, ninguém diria que a
causa imediata da combustão é, ou a sequidão, ou o ato de tirar o fogo
da pederneira, ou sua aplicação à lenha, e sim que a causa primária é só o fogo, e
a causa instrumental só o aquecimento”.

DOUTRINA LUTERANA -Conf. deAugsb., Pág. 13 (Hase): “Os sacramentos


foram instituídos, não somente para serem sinais da profissão (de fé em Cristo)
entre os homens, mas, antes, para serem sinais e testemunhos da vontade de
Deus para conosco, expostos para estimular e confirmar a fé das pessoas que
deles se servem”.

Apol. da Conf. de Augsb., Pág. 267: “E por haver duas coisas num sacramento, o
sinal e a palavra; esta é a promessa do Novo Testamento de remissão do
pecado... e a cerimônia é como que uma representação pictórica da Palavra, ou
como um selo pondo em distinção a promessa. Por isso, assim como a promessa
será inoperante se não for aceita com fé, assim também a cerimônia não
produzirá efeito se não houver fé. E assim como a Palavra foi dada para
estimular a fé, assim também o sacramento foi instituído para que essa
representação, sendo percebida, mova o coração levando-o a crer”.

Ib., pág. 203 - “Condenamos toda a classe de doutores escolásticos que ensinam
que os sacramentos conferem graça ex opere operato a quem não lhes oponha
obstáculos,

sem nenhuma ação positiva do participante. Mas os sacramentos são sinais de


promessas, e, por isso, é preciso que a fé esteja presente em sua celebração...
Falamos aqui da fé especial que confia numa promessa presente, não somente
crendo em geral que Deus existe, mas que crê que a remissão dos pecados é
oferecida”.

Quenstedt (Wittenberg, * 1688), Vol. l,pág. 169: “APalavra de Deus, pela


vontade e pela instituição do próprio Deus, tem, antes mesmo e além de todo uso
legítimo, um poder divino, que é intrínseco e comum a todos os homens,
e suficiente para produzir imediata e propriamente efeitos espirituais e divinos,
tanto de bênção da graça como de punição”. n. *

Conf de Augsb., Art. 9: “Eles condenam os anabatistas, que desaprovam o


batismo de crianças e afirmam que as crianças podem ser salvas sem o batismo”.

Apol. da Conf. de Augsb., pág. 156: “Aprova-se o nono artigo, em que


confessamos que o batismo é necessário para a salvação, que as crianças devem
ser batizadas, e que o batismo de crianças não é ocioso, e sim necessário e eficaz
para a salvação”.

Art. de Esmalcalda, Part. 3, Cap. 8: “E, quanto às coisas que dizem respeito à
Palavra falada ou externa, deve-se manter firmemente que Deus não concede a
ninguém o Seu Espírito ou a Sua graça, a não ser por meio da Palavra e com a
Palavra externa precedendo... Portanto, é necessário que perseveremos nisso
constantemente, porque Deus não quer tratar conosco por outro modo que não
seja pela Palavra falada e pelos sacramentos (ordenanças), e porque tudo aquilo
de que as pessoas se gabem como sendo do Espírito sem a Palavra e os
sacramentos, é o próprio diabo”.

DOUTRINA REFORMADA - Cat. de Genebra, pág. 519: “O sacramento é um


atestado externo da benevolência divina para conosco, o qual, por um sinal
visível, representa graças espirituais para selar em nossos corações as promessas
de Deus, podendo assim a sua virtude ser mais bem confirmada. Vocês pensam
que a virtude e eficácia

do sacramento não se acham no elemento externo mas que vêm unicamente do


Espírito de Deus? Eu verdadeiramente assim julgo, porque agrada mais ao
Mestre exercer o Seu próprio poder por Seus próprios instrumentos, seja qual for
o propósito para o qual Ele os destinou”.

Cat. de Heidelberg, Perg. 66: “Os sacramentos são sinais visíveis e santos
estabelecidos por Deus, para que, por meio do seu uso, a promessa do evangelho
se nos torne mais clara e seja selada; a saber, que Deus, por amor da
oblação única de Cristo, dá-nos o perdão dos pecados e a vida eterna”.

Os Trinta e Nove Artigos, Art. 25: “Os sacramentos instituídos por Cristo não
são unicamente designações ou indícios da profissão (de fé) dos cristãos, mas,
antes, são testemunhos firmes e certos, e sinais eficazes da graça e da boa
vontade de Deus para conosco, pelos quais Ele age invisivelmente em nós, e não
somente vivifica, porém também fortalece e confirma a nossa fé nEle. ...é
somente nas pessoas que os recebem dignamente que produzem saudável efeito
ou ação; todavia os que os recebem indig-namente adquirem para si mesmos
condenação, como diz o apóstolo Paulo”.

Conf. de Fé, de Westminster, Cap. 27; Cat. Maior, Pergs. 161-168; Breve Cat.,
Pergs. 91-93. Veja acima, Perg. 2.

DOUTRINA ZWINGLIANA E REMONSTRANTE -Limborch, Christ. Theol.,


5, 66, 31: “Resta dizer que Deus, por meio dos sacramentos, exibe-nos a Sua
graça, não conferindo-a de fato por meio deles, mas representando-a e
colocando-a diante de nossos olhos por meio deles como sinais claros e
evidentes... E essa eficácia não é mais que objetiva, exigindo (da nossa parte)
uma faculdade cognitiva que possa apreender aquilo que o sinal
apresenta objetivamente à (nossa) mente... Eles operam sobre nós como sinais,
representando à mente a coisa da qual são sinais. Não se deve procurar neles
nenhuma outra eficácia”.
P ú;-‘ f-J ■ .

Termo empregado nos textos em inglês. Na Perg. 162 do Cat. Maior, e.g., temos
em português o verbo “conferir” em lugar de “exibir”. Nota de
Odayr Olivetti. . 1 . ' -. r ■
O Batismo: Natureza, Propósito, Objetos, Modo, Eficácia e
Necessidade

A NATUREZA E O PROPÓSITO DO BATISMO

1. Como expor os fatos que dizem respeito ao costume que existia entre os
judeus e as nações gentílicas antes da vinda de Cristo, de lavar com água como
símbolo de purificação espiritual?

Nenhum outro símbolo religioso é tão natural e óbvio, e nenhum outro tem sido
empregado tão universalmente. Indícios claros nos ensinam que esse costume
existia entre os discípulos de Zoroastro, os brâmanes, os egípcios, os
romanos, os gregos e especialmente entre os judeus. No tabernáculo original,
cujo modelo Deus mostrou a Moisés no monte, achava-se uma grande bacia,
colocada entre o altar sobre o qual se fazia expiação pelo pecado, e o tabernáculo
do testemunho, e ali os sacerdotes deviam lavar-se sempre, antes de entrarem na
presença de Deus - Êx. 30:18-21. Este simbolismo entranhou-se em sua língua e
em seu culto religioso, Sal. 26:6; Heb. 9:10, e no tempo de Cristo entrou em
todos os detalhes da vida secular - Mar. 7:3,4.

Portanto, a lavagem religiosa do corpo com água já estava pronta para ser
empregada como símbolo por João Batista e pelos discípulos do nosso Senhor.

2. O batismo de João foi cristão?

O Concilio de Trento (Sess. 7, “De Baptismo”, Cân. 1) decidiu que, “Se alguém
disser que o batismo de João Batista teve a mesma eficácia que o batismo de
Cristo, seja anátema”. Por motivos controversiais, muitos protestantes,
principalmente os das escolas de Zwínglio e de Calvino, tomaram partido
contrário e decidiram que os dois eram idênticos (.Institutas, Livro 4, Cap. 15 §§
7-18; Turretino,Instit., Loc. 19, Qutes. 16).

Cremos que Calvino e os demais laboraram em erro, pelos seguintes motivos -

Io. João Batista pertenceu à economia do Velho Testamento, e não à do Novo.


Ele viera “no espírito e virtude de Elias”, vestido como um dos antigos profetas,
com os modos deles e ensinando a doutrina deles - Mat. 11:13,14; Luc. 1:17.
2o. Seu batismo foi o “de arrependimento”, obrigando os batizandos ao
arrependimento, mas não à fé em Cristo e à obediência a Ele.

3o. A igreja judaica ainda ficava em sua forma antiga. A Igreja Cristã, como tal,
ainda não existia. João pregava, “é chegado o reino dos céus”, Mat. 3:2, mas ele
não reuniu nem selou, por meio do batismo, súditos desse reino numa sociedade
visível e separada.

4o. Seu batismo não era ministrado em nome da Trindade.

5o. Alguns dos que foram batizados por ele foram rebatizados pelo apóstolo
Paulo - Atos 18:24-19:7.

3. Porventura os batismos ministrados pelos discípulos de Cristo antes da


crucificação foram idênticos aos ministrados pelos apóstolos depois da Sua
ascensão?

Até ao tempo da Sua morte, Cristo, como também o havia feito João,
conformou-se aos usos e ensinou as doutrinas da dispensação judaica. Sua
crucificação e Sua ressurreição demarcam a real transição da antiga dispensação
para a nova. A natureza do Seu reino e a Sua própria deidade, e por isso a

doutrina da Trindade, não eram ainda percebidas claramente, e a Igreja Cristã,


como comunidade, não estava ainda organizada. Ele pregou, como João pregara:
“Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”, Mat. 4:17, e enviou
Seus discípulos para que pregassem: “É chegado a vós o reino de Deus”-Luc.
10:9.

Cremos, pois, que o batismo ministrado pelos discípulos de Cristo antes da Sua
crucifixão foi, como o de João, simplesmente um rito preparatório e purificador,
obrigando ao arrependimento.

4. Onde está registrada a narrativa da verdadeira instituição do batismo do


cristão?

Em Mateus, 28:19,20: “Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em


nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as
coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até
à consumação dos séculos. Amém”.
5. Como se pode provar que a sua observância é de obrigação

perpétua? r

Isso tem sido negado pelos socinianos por motivos racionalistas, e pelos quacres
(Barclay, Apol. Prop., 12, com. § 6), em razão de uma falsa espiritualidade, e por
alguns partidos de anti-batistas (ou anabatistas), que sustentam que o batismo foi
instituído para a iniciação na Igreja dos que estão fora dela, e, por isso, não
deveria ser aplicado aos que nasceram dentro dela, em comunidades cristãs já
estabelecidas.

Que foi instituído com o fim de ser observado em toda parte e sempre deixam-no
claro -

Io. O mandamento dado nas palavras da sua instituição: (1) “todas as nações”, e
(2) “todos os dias, até à consumação dos séculos”.

2o. Os preceitos e a prática dos apóstolos - Atos 2:38; 10:47; 16:33, etc.

3o. A razão de ser e a necessidade da ordenança, que determinaram a sua


existência no princípio, permanecem e são universais.

4o. A prática uniforme da Igreja, toda ela, em todos os seus ramos, desde o
princípio.

6. Como os nossos livros simbólicos definem o batismo?

Conf. de Fé, Cap. 28; Cal. Maior, Perg. 165; Breve Cat.,

Perg. 94.

Os pontos essenciais da sua definição são -

Io. E um “lavar com água”.

2o. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

3o. E feito com o propósito de significar e selar “a nossa união com Cristo, a
participação das bênçãos do pacto da graça, e a promessa de pertencermos ao
Senhor”.

7. Que é essencial à “matéria” do batismo?

Quanto à sua “matéria”, o batismo é essencialmente um “lavar com água”.


Nenhum modo especial de lavar é essencial.

Io. Porque o mandamento não prescreve nenhum modo especial. Veja abaixo,
Pergs. 12-21.

2o. Porque nenhum modo especial de administração é essencial para o


simbolismo próprio deste sacramento. Veja abaixo, Perg. 11. Por outro lado, a
água é essencial para o simbolismo do rito. E o símbolo natural de purificação
moral, Ef. 5:25,26; e foi estabelecida como tal nas leis de Moisés.

8. Que é necessário quanto à fórmula de palavras empregadas na


administração do batismo?

Para a validade do sacramento, é essencial que seja ministrado “em nome do Pai
e do Filho e do Espírito Santo”. Isso é certo - Io. Porque está incluído no
mandamento - Mat. 28:19. 2o. Pela significação do rito. Além de ser um
símbolo de purificação, é também, essencialmente, o rito de iniciação na Igreja
Cristã, uma ordenança com força de aliança, em que

o batizando reconhece seus deveres para com Deus e promete ser-lhe fiel
naquele caráter e naquelas relações em que Ele Se nos tem revelado nas
Escrituras. A fórmula do batismo é, pois, uma resumida exposição de toda a
doutrina bíblica do Deus Triúno (Yavé), como Lhe aprouve revelar-Se a nós, e
em todas as relações que cada uma das Pessoas da Trindade, por Sua graça,
mantém com o crente, no plano da redenção. Por isso é nulo o batismo de todas
as seitas que rejeitam a doutrina bíblica da Trindade.

As frases que dizem batizar “em nome de Jesus Cristo”, ou “em nome do
Senhor”, ou “em nome do Senhor Jesus”, Atos 2:38; 10:48; 19:5, não
apresentam a fórmula de palavras empregada pelos apóstolos na administração
deste sacramento, mas são empregadas simplesmente para designar o
batismo cristão em distinção ao de João, ou para indicar o efeito uniforme
daquela graça espiritual que o batismo simboliza, a saber, a união com Cristo -
Gál. 3:27.
9. Qual a significação da fórmula com a qual se batiza “em” ou “no nome de
alguém”?

Ser batizado “em nome de Paulo”, 1 Cor. 1:13, ou “em Moisés” (i Moyse,
segundo a Vulgata*), 1 Cor. 10:2, é, da parte do batizado, tornar-se discípulo
crente e obediente de Paulo ou de Moisés, objetos do seu cuidado e participantes
de quaisquer bênçãos que eles possam conceder. Sermos batizados em nome da
Trindade (Mat. 28:19), ou “em nome do Senhor Jesus”, Atos 19:5, ou “em Jesus
Cristo”, Rom. 6:3, é sermos unidos a Cristo, ou à Trindade, por Cristo, por meio
do batismo, ou, antes, pela graça da qual o batismo cerimonial é símbolo, como
Seus discípulos, crentes em Sua doutrina, herdeiros de Suas promessas, e
participantes de Sua vida espiritual.

Figueiredo afasta-se muito disso. Nota do tradutor. (Figueiredo diz: e todos


foram batizados debaixo da conduta de Moisés, na nuvem e no
mar. Acréscimo de Odayr Olivetti.)

10. Qual é o propósito do batismo? >

O batismo tem por propósito -

10. Primariamente, significar, selar e comunicar àqueles a quem pertencerem,


os benefícios da aliança da graça. Assim, pois, (1) Simboliza a “lavagem da
regeneração” (Tit. 3:5, lavacrum, segundo a Vulgata), a “renovação do Espírito
Santo”, que une o crente a Cristo e assim o torna participante da vida de Cristo e
de todos os demais benefícios. - 1 Cor. 12:13; Gál. 3:27. (2) No batismo Cristo
sela, de um modo visível, as Suas promessas àqueles que O recebem com fé, e
lhes dá a graça prometida.

2o. Tem por propósito, em segundo lugar: (1) Ser uma insígnia visível do nosso
voto de pertencermos ao Senhor, isto é, de aceitarmos a Sua salvação e de nos
dedicarmos a Seu serviço. (2) E, por isso, ser uma insígnia da nossa
profissão pública, da nossa separação do mundo e da nossa iniciação na Igreja
Visível. Como insígnia, assinala-nos como pertencentes ao Senhor e, por
conseguinte, (a) o batismo nos distingue do mundo, e (b) simboliza a nossa
união com os cristãos, nossos irmãos.

11. Qual é o ensino emblemático do batismo?


Em todo sacramento há um sinal visível representando uma graça invisível. O
sinal representa a graça porque Cristo, com Sua autoridade, o estabeleceu e
designou para esse fim. Mas a escolha por Ele feita de qualquer sinal em
particular deveria fundar-se em sua idoneidade para ser emblema natural da
graça que deveria representar. Assim é que, na Ceia do Senhor, o pão partido
pelo ministro oficiante, e o vinho derramado, são emblemas naturais do corpo de
Cristo quebrado e do Seu sangue derramado como sacrifício por nossos pecados.

Do mesmo modo, no sacramento do batismo, a aplicação da água à pessoa do


batizando é emblema natural da “lavagem da regeneração” - Tit. 3:5. Por isso
nos é dito que nascemos

“da água e do Espírito”, João 3:5, isto é, que somos regenerados pelo Espírito
Santo, regeneração da qual o batismo com água é o emblema; e que somos
“batizados em um só Espírito em um corpo”,1 isto é, que somos batizados no
corpo espiritual de Cristo, 1 Cor. 12:13; que somos “batizados em Cristo”,
de modo que nos revestimos de Cristo, Gál. 3:27; e que somos “batizados na sua
morte (de Cristo)” e “sepultados com ele pelo batismo na morte”,2 para que
“andemos nós também em novidade de vida”, Rom. 6:3,4, porque o sacramento
do batismo é o emblema daquela regeneração espiritual que nos une a Cristo
tanto federal como espiritualmente, de modo que temos parte com Ele tanto em
Sua vida como em Sua morte, e que, assim como Ele morreu para o pecado
como sacrifício, assim também nós morremos para o pecado, deixando o
pecado de ser o princípio diretor da nossa vida; e assim como Ele ressuscitou
para tornar a assumir Sua vida natural, nós ressurgimos para tomar posse e para
o exercício de uma nova vida espiritual.

Os intérpretes batistas, porém, insistem em que a Bíblia, ensinando ser o sinal


externo deste sacramento a imersão do corpo inteiro na água, ensina que o sinal
é tanto um emblema de purificação como também da nossa morte, sepultamento
e ressurreição com Cristo. O Dr. Carson, na página 381 de sua

obra, diz: “A imersão do corpo inteiro é essencial ao batismo, não porque nada
senão a imersão possa ser emblema da purificação, mas sim porque a imersão é
o que Cristo nos manda fazer, e porque sem a imersão não há emblema da morte,
sepultamento e ressurreição, que estão no emblema juntamente com a
purificação”. Ele fundamenta a sua asserção de que o sinal externo do
sacramento do batismo haveria de ser o emblema da morte, sepultamento e
ressurreição do crente em união com Cristo, em Rom. 6:3,4 e em Col. 2:12.
Impugnamos essa interpretação -

Io. Em nenhuma das passagens citadas diz Paulo que o nosso batismo na água é
o emblema do nosso sepultamento com Cristo. Ele está falando evidentemente
do batismo espiritual do qual o com água é o emblema; e é este
batismo espiritual que nos faz morrer para o pecado e viver para a santidade, e
nesta morte e vida nova ficamos conformados à morte e ressurreição de Cristo.
O que a Palavra de Deus diz é que somos “batizados em Cristo”, que é obra
realizada pelo Espírito Santo, e não “no” ou “em nome de Cristo”, que é a frase
empregada sempre que se fala do batismo cerimonial. -Mat. 28:.19: Atos 2:38;
19:5.

2o. Ser “batizado na sua morte” (Rom. 6:3) é frase perfeita-mente análoga a ser
batizado “no arrependimento” (Mat. 3:11, - ARA, veja margem inferior; in
pcenitentiamy Vulgata); “na remissão dos pecados” (Mar. 1:4; veja a Vulgata e
Mat. 3:11, margem inferior), “em um corpo” ou “num só corpo”, 1 Cor. 12:13,
isto é, para que, ou para o efeito de que participemos dos benefícios da Sua
morte.

3o. A interpretação dos batistas envolve uma completa confusão com respeito ao
emblema. Quererão eles acaso dizer que o sinal externo da imersão é emblema
da morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, ou da morte, sepultamento
e ressurreição espirituais do crente? Mas o apóstolo, nas passagens citadas,
evidentemente não faz comparação entre o nosso batismo e a morte,
sepultamento e ressurreição de Cristo,

porém entre a nossa morte para o pecado e ressurreição para a santidade, e a


morte e ressurreição do Redentor.

4o. Os batistas concordam conosco na afirmação de que o batismo com água é


emblema de purificação espiritual, isto é, da regeneração, mas insistem em que o
batismo também é emblema (na imersão) da morte do crente para o pecado e
da sua nova vida para a santidade - Dr. Carson, pág. 143. Contudo, qual a
distinção entre regeneração, morte para o pecado e vida para a santidade?

5o. Os batistas dizem conosco que o batismo com água é emblema de


purificação. Mas é por certo impossível que o mesmo ato seja ao mesmo tempo
emblema de uma lavagem e de um sepultamento e ressurreição! É possível
associar uma dessas idéias à outra em conseqüência de suas relações espirituais,
entretanto não é possível que o mesmo sinal visível seja emblemático das duas.

6o. A nossa união com Cristo por obra do Espírito, e suas conseqüências
espirituais, acham-se representadas nas Escrituras por meio de muitas figuras,
como sejam - a substituição do coração de pedra por um de carne, Ez. 36:26; a
edificação de uma casa, Ef. 2:22; a enxertia de um ramo numa videira, João
15:5; o despir-se da roupa suja e vestir-se de roupa limpa, Ef. 4:22-24; uma
morte, sepultamento e ressurreição espirituais, e o ser plantado à semelhança da
morte de Cristo, Rom. 6:3-5; e a aplicação ao corpo de um elemento purificador,
Ez. 36:25. Ora, o batismo com água representa todas estas coisas, porque é o
emblema de purificação espiritual, da qual todas essas figuras são ilustrações
analógicas. Por isso nos é dito que somos “batizados em um corpo”, 1 Cor.
12:13, e que pelo batismo nos revestimos de Cristo, Gál. 3:27. Ao mesmo tempo,
seria um absurdo ter o batismo com água como emblema literal de tudo isso, e os
nossos irmãos batistas não têm nenhuma base bíblica para a asserção de que o
sinal externo deste sacramento é um emblema de uma das analogias mais do que
da outra. Veja Doctrine ofBaptisms, Parte 2, Cap. 2, do Dr. Armstrong.

O MODO DE BATIZAR

12. Quais são as palavras empregadas no idioma original das Escrituras para
transmitir o mandamento para ministração do batismo?

A palavra primária, bápto, encontra-se quatro vezes no Novo Testamento, Luc.


16:24; João 13:26 (duas vezes); Apoc. 19:13, mas nunca em conexão com o
assunto do batismo cristão. Seu (múltiplo) significado clássico é, Io.
Mergulhar, imergir; 2o. Tingir; 3o. Lavar, quer mergulhando na água,
quer derramando água sobre o que se lava.3 .

A palavra baptízo, que é na forma, mas não segundo o uso, o freqüentativo de


bápto, encontra-se setenta e seis vezes no Novo Testamento, e é a palavra
empregada pelo Espírito Santo para transmitir o mandamento para a ministração
do batismo. Seu (múltiplo) significado clássico é, Io. Mergulhar,
submergir, afundar; 2o. Molhar bem; 3o. Derramar sobre.

Além desses dois verbos, temos os substantivos derivados da mesma raiz e tendo
o mesmo uso,báptisma, que se encontra vinte e duas vezes e é traduzido batismo,
e baptismos, quatro vezes, traduzido batismos em Heb. 6:2, lavar em Mar.
7:4,8,4 e em Heb. 9:10 (sempre no plural).
A única questão de que temos que tratar é o uso bíblico dessas palavras, porque é
princípio importante e reconhecido universalmente que muitas vezes há grande
diferença entre os usos bíblico e clássico da mesma palavra.

Este efeito é devido à influência de três causas. VejaBap-tism, its Modes and
Subjects, por Dr. Alex. Carson; Meaning and Use of the Word Baptizein
(.Baptízo), pelo Rev. Dr. Conant; e Classic, Judaic, Johannic and Christian
Baptism, por Rev. James

W. Dale. Consideremos as referidas causas:

Ia. As principais obras clássicas foram escritas no dialeto ático. Mas a língua em
geral usada pelos povos que falavam grego no começo da era cristã era o dialeto
comum ou helênico do grego do tempo de Cristo, que resultou da fusão dos
diversos dialetos que existiam anteriormente. ■ *

2a. O idioma utilizado pelos escritores do Novo Testamento veio a ser mais
modificado ainda por estes fatos: sua língua vernácula era uma forma do
hebraico - o siro-caldaico (ou ara-maico); o uso constante que fizeram da
tradução das Escrituras hebraicas para o grego, a Septuaginta, influiu muito em
seu modo de falar e escrever em grego, particularmente quando tratavam de
assuntos religiosos; e, no próprio ato de comporem o Novo Testamento, eles
estavam ocupados na exposição de idéias religiosas, e na inauguração de
instituições religiosas que tiveram seus tipos e símbolos na velha díspensação,
como essa se achava revelada na língua sagrada das Escrituras hebraicas.

3a. Os escritos do Novo Testamento são a publicação de novas idéias e


revelações, e, por isso, as palavras e frases pelas quais esses novos pensamentos
são comunicados têm que ser muito modificados quanto ao seu sentido
etimológico anterior e seu uso pagão, e, “se quisermos apreender a profundidade
e o alcance completo da significação que elas têm em sua nova aplicação, é
preciso que procuremos isso no Novo Testamento, conferindo passagem com
passagem e examinando a linguagem empregada à luz das grandes coisas que ela
traz à nossa apreensão”.

Como exemplos desse contraste entre os usos bíblico e clássico de muitas


palavras, examinem-se ángelos, anjo, presbyteros, presbítero ou ancião,ekklesía
igreja; basileía toü Theoü, ou tôn ouranôn, reino de Deus ou dos céus,
palinguenesía, regeneração, cháris, graça, etc. - Fairbairn,Herm. Manual,
Parte 1, Seç. 2. .

13. Qual a posição das igrejas batistas com respeito ao significado da palavra
bíblica baptízo, e por quais argumentos elas procuram provar que a imersão é o
único modo válido de ministrar o batismo?

“...ela significa sempre imergir, e nunca exprime outra coisa senão o modo” -
Carson, on Baptism, pág. 55. Quanto à essa afirmação ele confessa: “Tenho
contra mim TODOS os lexicógrafos e comentadores”. Os batistas insistem,
portanto, em traduzir sempre as palavras baptízo e báptisma pelas
palavras imergir e imersão.

Os argumentos com os quais procuram provar que a imersão é o único modo


válido de batizar são -

Io. O significado constante da palavra baptízo.

2o. O significado simbólico do rito, como sendo emblemático do sepultamento e


ressurreição.

3o. A prática dos apóstolos.

4o. A história da Igreja Primitiva.

14. Qual a posição mantida sobre este ponto por todos os demais cristãos?

Io. É costume estabelecido pelo uso bíblico atribuir aos sinais as coisas
sacramentais que esses sinais significam ou simbolizam; e, por outro lado,
empregar o nome do sinal para designar a graça significada. É assim que, em
Gên. 17:11,13, a circuncisão é chamada pacto ou aliança; em Mat. 26:26-
28, Cristo chama o pão Seu corpo, e o vinho Seu sangue; e em Tit. 3:5 (segundo
o grego e a Vulgata), o batismo é chamado “lavagem da regeneração” (como
ARC). E assim também as palavras BATIZAR e BATISMO muitas vezes são
empregadas para designar aquela obra efetuada na regeneração pelo Espírito
Santo da qual o batismo com água é o sinal significativo ou simbólico -Mat.
3:11; 1 Cor. 12:13; Gál. 3:27; Deut. 30:6. Segue-se, pois, que essas palavras
muitas vezes são empregadas em sentido espiritual.
2o. Quando essas palavras se referem ao batismo cerimonial, ou ao sinal que
representa a coisa significada, elas

envolvem a aplicação de água em nome da Trindade, como emblema de


purificação ou de regeneração espiritual, e nunca, no seu uso bíblico, significam
coisa alguma a respeito do modo pelo qual se deva aplicar a água.

Este é o ponto exato em discussão: os batistas insistem em que o mandamento


que Cristo deu para a ministração do batismo é um mandamento para “imergir”.
Todos os demais cristãos* sustentam que o mandamento é para “lavar em
água”, como símbolo de purificação espiritual.

Dos argumentos dos batistas expostos sob a Perg. 13 dei resposta ao segundo sob
a Perg. 11; ao primeiro e ao terceiro darei resposta em seguida. . .. . .. . . . .
■ -------

15. Como se pode provar, por seu uso bíblico, que as palavras baptízo e
báptisma não significam imersão e sim LAVAGEM para significar
PURIFICAÇÃO, sem referência alguma ao modo?

Io. O verbo encontra-se quatro vezes na Septuaginta (tradução grega do Velho


Testamento), e em três desses casos refere-se ao batismo com água. Veja: 2 Reis
5:14 - O profeta mandara dizer a Naamã: “Vai, e lava-te... e ficarás
purificado”. E ele “mergulhou (literalmente: batizou-se) no Jordão... e
ficou purificado”. Eclesiástico 34:30 (Matos Soares) - “Se alguém se lava depois
de ter tocado um morto...” (literalmente: “Se alguém se batiza...”) Essa
purificação se fazia borrifando ou espargindo “a água da separação” - Núm.
19:9,13,20. Judite 12:7 (Matos Soares) - Judite “lavava-se numa fonte de
água” (literalmente: batizava-se). Entre aqueles povos não se tomava banho
imergindo-se na água; e as circunstâncias em que Judite se achava aumentam a
improbabilidade em seu caso. Lavava-se (batizava-se) para purificação. “E,
entrando, permanecia pura...” (versículo 9).

No tempo de Hodge ainda não tinham nascido as igrejas pentecostais. Nota


de Odayr Olivetti.

2o. A questão agitada entre alguns dos discípulos de João e os judeus, João 3:22-
30; 4:1-3, a respeito do batismo era acerca da purificação, peri katharismoü.
3o. Mat. 15:2; Mar. 7:1-5; Luc. 11:37-39- Nessas passagens a palavra baptízo é
empregada (1) para designar o costumeiro ato de lavar as mãos antes das
refeições, para limpá-las (ou purificá-las), e se fazia habitualmente derramando
água sobre elas, 2 Reis 3:11. (2) É trocada pela palavra nípto, que
sempre significa um lavar parcial. (3) Declara-se que o seu efeito era purificar,
katharizein. (4) As mãos batizadas, ou lavadas, acham-se opostas às imundas ou
impuras, koinais.

4o. Marcos 7:4,8, “...lavar os copos (grego: “batismos de”), e os jarros, e os


vasos de metal, e as camas” - klínai, camilhas dispostas em roda da mesa, nas
quais os judeus se recostavam enquanto comiam, várias pessoas em cada uma
delas. Esses batismos tinham por fim a purificação e, no caso das mesas, das
camilhas, etc., não podiam ser “batizadas” por imersão.

5o. Em Hebreus 9:8,10 lemos que no “primeiro taber-náculo” havia “manjares, e


bebidas, e várias abluções” (literalmente: vários batismos). Nos versículos 13, 19
e 21 são especificados alguns desses “vários batismos” ou dessas
“várias abluções”: “Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza duma
novilha esparzida sobre os imundos os santifica quanto à purificação da carne;
Moisés “tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e
hissopo, e aspergiu tanto o livro como todo o povo”; e ainda: “E
semelhantemente aspergiu com o sangue o tabernáculo e todos os vasos
do ministério”. -Doctrine ofBaptisms, Parte 1, do Dr. Armstrong.

16. Que argumento a favor deste modo de considerar o assunto se pode tirar
daquilo que a Bíblia diz do batismo com o Espírito Santo?

Mat. 3:11; Mar. 1:8; Luc. 3:16; João 1:26,33; Atos 1:5; 11:16; 1 Cor. 12:13.

Se a palavra baptízo só significasse imergir, não seria

aplicável ao uso figurado que nessas passagens se faz dela. Mas se, como nós
dizemos, ela significa purificar, limpar, então o batismo com água, como um ato
de lavar, porém nunca como uma imersão, pode bem representar a obra
purificadora realizada pelo Espírito Santo. Veja a Perg. subseqüente.

17. Que argumento se pode tirar do fato de se dizer que as


bênçãos simbolizadas pelo batismo são aplicadas por aspersão e
derramamento?
O dom do Espírito Santo é a graça simbolizada - Atos 2:1-4, 32, 33; 10:44-48;
11:15,16. O fogo, que não os imergiu mas lhes apareceu como “línguas
repartidas... as quais pousaram sobre cada um deles”, foi o sinal dessa graça.
Jesus mesmo foi o batizador (foi quem ministrou o batismo), cumprindo então a
profecia de João Batista de que Ele haveria de batizar com o Espírito Santo e
com fogo. A respeito do dom do Espírito Santo, diz a Bíblia que “veio do céu”,
“Deus... derramou” (veja Atos 2:17,18,33), “caiu sobre todos”, “caiu sobre eles”.

Essas mesmas bênçãos haviam sido preditas no Velho Testamento, em


linguagem semelhante - Is. 44:3; 52:15; Ez. 36:25-27; Joel 2:28,29.
Argumentamos, pois, que, se essas bênçãos espirituais foram preditas no Velho
Testamento por meio das figuras de aspersão e derramamento, e se no
Novo Testamento foram expostas simbolicamente sob as mesmas formas, é claro
que a Igreja pode simbolizá-las agora por meio dos mesmos atos emblemáticos
ou figurados. '

18. Que argumento se pode tirar do modo de purificação adotado sob o Velho
Testamento?

Os ritos de purificação prescritos na lei levítica não deviam, em nenhum caso de


pessoas, ser celebrados por meio de imersão. A lei prescreve atos de lavar e
banhos, mas nem as palavras empregadas, nem outra coisa alguma, indicam
que as pessoas deviam ser imergidas, sendo que a imersão não era

o modo usual de tomar banho naqueles países. Os sacerdotes, porém, deviam


lavar as mãos e os pés sempre que ministrassem perante o Senhor, Êx. 30:18-21,
e suas abluções pessoais eles faziam junto do “mar de fundição”, 2 Crôn. 4:2-6,
de onde a água corria por tubos ou torneiras -1 Reis 7:38-45. Por outro lado,
havia muitos preceitos que mandavam efetuar purificações borrifando ou
aspergindo sangue ou água, ou espalhando cinza - Lev. 8:30; 14:7 e 51; Êx. 24:5-
8; Núm. 8:6,7; Heb. 9:12-22. Ora, sendo o batismo cristão uma purificação,
e tendo sido instituído dentre os judeus, acostumados aos modos judaicos de
purificar, segue-se que o conhecimento desses modos deve lançar muita luz
sobre a natureza essencial e sobre o modo próprio de administrar o rito cristão.

19. Como se pode mostrar, com base em 1 Coríntios 10:1,2 e 1 Pedro 3:20,21,
que batizar {nessaspassagens) não quer dizer imergir?

Em 1 Coríntios 10:1,2 lemos que os israelitas foram “batizados...na nuvem e no


mar” - Cf. Êx. 14:19-31. Os israelitas foram batizados e, no entanto, passaram a
pé enxuto. Os egípcios foram imersos, mas não foram batizados. Diz o
Dr. Carson, pág. 413 que Moisés “recebeu uma imersão seca”.

Em 1 Pedro 3:20,21 Pedro declara que o batismo é o antítipo da salvação das


oito almas que estavam na arca. Mas a sua salvação consistiu em não serem
imergidos.

20. A respeito do verdadeiro modo de batizar, que argumento se pode tirar das
narrativas dos batismos feitos por João?

Io. O batismo de João não era o sacramento (a ordenança) cristão, mas sim um
rito de purificação, administrado por um judeu a judeus, sob a lei judaica. Disso
inferimos (1) que esse batismo não foi praticado por imersão, porque não se
efetuava a purificação levítica de pessoas desse modo; (2) que, não obstante, era
preciso, para o fim em vista, ou de um rio de água corrente, como o Jordão, ou
de muita água, como em Enom, que significa “fontes”, porque, segundo essa lei,
tudo o

que uma pessoa tocasse antes da sua purificação tornava-se imundo, Núm.
19:21,22. Havia “fontes, cisternas e depósitos de água”, Lev. 11:36, mas não no
deserto onde João Batista pregou. Depois da introdução da dispensação
evangélica, nada ouvimos sobre os apóstolos batizarem em rios ou de precisarem
de “muita água” para a administração do sacramento do batismo.

20. Em nenhuma das narrativas há um só caso em que se diga qúe João batizou
por imersão. A linguagem empregada tem aplicação natural e exata ao batismo
ministrado por aspersão (o batizando em pé na água pouco funda, e o ministrante
derramando água sobre ele com a mão). Neste caso, as frases “batizou no
Jordão”, “saíram da água”, etc., têm aplicação de igual peso tanto ao batismo por
imersão como por aspersão. Que o batismo de João foi mais
provavelmente ministrado por meio de aspersão vê-se (1) pelo fato de que
era uma purificação feita por um judeu em judeus, e que as abluções judaicas
eram feitas derramando água com as mãos. Era costume geral, e esse costume
tem permanecido até aos nossos tempos. (2) Aspersão ou derramamento é o
modo mais provável, em vista das grandes multidões batizadas por um
só homem. -Mat. 3:5,6; Mar. 1;5; Luc. 3:3-21. (3) As mais antigas obras de arte
cristã ainda existentes representam o batismo de Cristo, ministrado por João,
como ministrado por afusão* -Doctrine ofBaptisms, Parte 2, Cap. 3, do Dr.
Armstrong.

21. Que provas se pode tirar dos casos de batismo cristão mencionados no
Novo Testamento?

Ia. Foi demonstrado acima que o mandamento para batizar é mandamento para
purificar pelo ato de lavar com água, e daí se segue que, mesmo que fosse
provado que os apóstolos batizaram por imersão, isso não provaria que esse

Como o quadro cujo original está em Ravenna e que as primeiras edições do


Dicionário de Bíblia, de Davis traziam impresso. Nota de Odayr Olivetti.

modo particular de lavar é essencial à validade da ordenança, a não ser que fosse
provado também que, segundo as analogias das outras instituições evangélicas,
Deus tornou o mero modo de obedecer a um mandamento tão essencial como
aquilo que Ele manda. Mas é notório que o contrário disso é a verdade. A Igreja
foi organizada e o culto público do evangelho foi ordenado segundo certos
princípios gerais, mas não foram prescritos os pormenores do modo pelo qual se
deveria alcançar esses fins. Cristo instituiu a Ceia à noite, reclinado em
camilha e com pão sem fermento. Contudo, em nenhum desses aspectos é
essencial o “modo”.

2a. Não há de fato um só caso em que a narrativa torne provável que os apóstolos
batizassem por imersão, e em quase todos os casos essa suposição é muitíssimo
improvável.

(1) 0 batismo do eunuco, ministrado por Filipe, Atos 8:26-39, é o único caso que
parece favorecer a teoria da imersão. Entretanto, note-se (a) que a linguagem
empregada por Lucas, mesmo quando a tradução não é muito clara, tem
aplicação tão natural ao batismo efetuado por afusão como por imersão, (b) As
preposições gregas eis, aqui traduzida por à, e ek, aqui traduzida por da, acham-
se empregadas em inúmeros casos a fim de exprimir movimento para ou de
algum lugar - Atos 26:14; 27:34,40. É provável que Filipe e o eunuco
tenham descido com o “carro” até à margem da água. De Filipe também se diz
que desceu “à água” e que saiu “da água”, mas ele certamente não foi imerso, (c)
Na própria passagem que o eunuco estava lendo, Is. 52:15, está escrito que o
Messias, em quem ele cria, iria borrifar “muitas nações”, (d) Lucas informa que
a região estava “deserta”, e até hoje não se descobriu naquele caminho um lugar
com água suficiente para a imersão de uma pessoa.
(2) Todos os outros casos de batismo cristão registrados nas Escrituras trazem
provas positivas contra a imersão. Veja: (a) O batismo dos três mil em Jerusalém
numa só ocasião, no dia de Pentecoste - Atos 2:38-41; (b) O batismo de Paulo -

Atos 9:17,18; 22:12-16. Ananiaslhe disse: “O Senhor Jesus..., me enviou, para


que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo...recuperou a vista; e,
levantando-se, foi batizado”, (c) O batismo de Cornélio - Atos 10:44-48. (d) O
do carcereiro de Filipos - Atos 16:32-34. Em todos esses casos o batismo
foi administrado imediatamente no mesmo lugar em que os convertidos
aceitaram o evangelho. Nada se diz de rios nem de muita água, mas multidões ao
mesmo tempo, e famílias inteiras, e indivíduos foram batizados em suas casas,
ou no cárcere, onde quer que se achassem na ocasião.

22. Qual tem sido no passado, e qual é no presente, o uso das igrejas quanto ao
modo de batizar?

Nos primeiros tempos da Igreja Cristã o modo comum foi o de imergir o corpo
nu. Durante alguns séculos batizava-se imergindo três vezes o corpo, ou só se
derramava ou aspergia água na cabeça da pessoa em pé na água. Em casos de
grande perigo de morte, e onde escasseava água, considerava-se válido o
batismo por afusão ou aspersão (Christian Antiquities, de Bingham, Liv. 3, Cap.
11; Ch. Hist., de Neander, vol 1, tradução de Torrey, pág. 310; Ch. Hist., de
Schaff, vol. 2, § 92). A Igreja Grega insiste na imersão. A igreja católica romana
e as igrejas protestantes admitem uma e outra forma (mas em geral praticam a
aspersão). Os costumes modernos favorecem a aspersão. • : - . ■:>

Os batistas sustentam que a imersão é o único batismo válido.* Todas as demais


igrejas ocidentais negam isso e sustentam a validade igual do derramamento e da
aspersão -Conf. de Fé, Cap. 28, § 3.

Nenhum defensor da aspersão pode, se for coerente com os seus princípios


fundamentais e com os usos históricos da

Lembremo-nos de que no tempo de Hodge não existiam os pentecostais de


hoje, entre os quais predomina a prática do batismo por imersão. Nota de
Odayr Olivetti.

Igreja Cristã, negar a validade do batismo por imersão. A oposição da maioria


das igrejas a esse modo de batizar tem sua origem nas pretensões acanhadas e
arrogantes dos batistas (em geral) e na sua teoria errada a respeito da
significação emblemática ou figurada do batismo, fazendo dele um “sepulta-
mento” em vez de um “ato de lavar”; é contra isso que nós protestamos.

AS PESSOAS QUE DEVEM SER BATIZADAS

23. Quem deve ser batizado?

Conf. de Fé, Cap. 28, Seç. 4; Cat. Maior, Perg. 166; Breve Cat., Perg. 95.

Todos aqueles, e somente aqueles, que são membros da Igreja visível devem ser
batizados. Esses são, 1°., os que fazem profissão digna de crédito da sua fé em
Cristo; e, 2°., os filhos cujos pais, ou um deles, são crentes. ■ .

24. No caso dos adultos, quais são os requisitos necessários para o batismo?

Uma profissão digna de crédito da sua fé em Jesus como seu Salvador. Isso é
evidente - Io. Pela própria natureza da ordenança como simbólica de dons
espirituais, e como selo do nosso pacto de que pertencemos ao Senhor. 2o. Pela
prática uniforme dos apóstolos e dos evangelistas - Atos 2:41; 8:37. Para a
resposta completa a esta pergunta, veja abaixo, Cap. 43, Perg. 25, sobre as
condições de admissão à mesa da Ceia do Senhor, que são idênticas às
necessárias para o batismo.

25. Em que princípio essencial e constitutivo da natureza humana baseia-se


esta instituição? E como se pode mostrar que este princípio é reconhecido em
todo o tratamento providencial que Deus, por Sua graça, dá à raça humana?

A grande peculiaridade da humanidade é que, enquanto cada indivíduo é um


livre agente moral e responsável, nós

L CONSTITUÍMOS UMA RAÇA, REPRODUZIDA SEGUNDO A LEI DA GERAÇÃO,

, c cada novo agente recém-nascido é educado e o seu caráter se • forma debaixo


de condições sociais. Segue-se que em toda parte a “a livre vontade do pai se
torna o destino do filho”, e o resultado é o caráter representativo dos
progenitores e o caráter c destino herdados que distinguem todas as raças, nações
e família.

í E segundo esse princípio que Deus sempre tem tratado a raça humana na
economia da redenção. A família, e não o I indivíduo, é a unidade compreendida
em todas as alianças e dispensações. Pode-se notar esse fato em todo o
procedimento de Deus para com Adão, Noé, (Gên. 9:9) Abraão, (Gên. 17:7
e Gál. 3:8) e o povo de Israel (Êx. 20:5; Deut. 29:10-13). Esse i mesmo princípio
continua a reger também a dispensação cristã, como Pedro assevera em seu
primeiro sermão - Atos 2:38,39.

^ 26. Qual é a Igreja visível, à qual o batismo é o rito que dá

entrada?

| Io. A palavra igreja, ekklesta, é empregada nas Escrituras no sentido geral de


comunidade do povo de Deus, chamado para fora do mundo e ligado a Ele em
relações pactuais.

2o. Portanto, a verdadeira Igreja espiritual, em distinção da Igreja visível


organizada na terra, consiste na comunidade inteira dos eleitos, incluídos na
aliança eterna da graça feita entre o Pai e o segundo Adão - Ef. 5:27; Heb. 12:23.

3o. Mas a Igreja visível e universal consiste em “todos aqueles que, no mundo
inteiro, professam a religião verdadeira, juntamente com seus filhos, e é o reino
do Senhor Jesus Cristo, a casa e família de Deus, fora da qual não
há possibilidade ordinária de salvação” - Conf. de Fé, Cap. 35, Seç. 2. Este reino
visível Cristo, como Mediador da aliança da graça, instituiu como provisão
administrativa, com o fim de, por meio dele, administrar as provisões dessa
aliança; e este reino, como sociedade externa e visível de pessoas que
se professam cristãs, Ele estabeleceu na aliança que fez com

Abraão-Gên. 12:1-3; 17:1-14.

4o. Cristo tem administrado essa aliança por três modos, ou em três dispensações
sucessivas. (1) No período entre Abraão e Moisés, durante o qual lhe afixou o
selo comprobatório, ratificando a circuncisão. (2) No período entre Moisés e o
Seu advento (porque a lei que lhe foi acrescentada temporariamente não tornou
nula a promessa, mas antes administrou-a de um modo especial, Gál. 3:17,
acrescentou-lhe um novo selo, a Páscoa, emblemática da obra propiciatória da
semente prometida, como exposta na revelação mais clara que então lhe foi
concedida. (3) No período entre Cristo e o fim do mundo, em que, sendo a
promessa explicada por meio de uma revelação muito mais perfeita, os selos
originais se acham substituídos pelo Batismo e pela Ceia do Senhor. Veja abaixo,
Perg. 27.

5o. Segundo o propósito divino, a aliança feita com Abraão abrangia a Igreja
visível de Cristo, e não somente sua posteridade natural em seu caráter de
família ou nação. Isto se vê claramente pelas seguintes ponderações: (1) Nessa
aliança Deus prometeu salvação mediante Cristo e tendo a fé como
condição. Comparar Gên. 12:3 com Gál. 3:8,16; Atos 3:25,26. (2) O sinal e selo
afixado a ela simbolizava bênçãos espirituais e selava a justificação pela fé -
Deut. 10:15,16; 30:6; Jer. 4:4; Rom. 2:28,29; 4:11. (3) A aliança feita com
Abraão como o representante da Igreja visível e universal tinha estas
características: (a) Foi feita com ele como o “pai de muitas nações”, e Paulo
afirma que Deus o constituiu “herdeiro do mundo” e “pai de todos os que
crêem”, Rom. 4:11,13, e que todos os que crêem em Cristo agora, quer judeus
quer gentios, são “descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”,
Gál. 3:29. (b) Continha provisão para que fossem incluídos em seus privilégios
outras pessoas não nascidas como posteridade natural de Abraão - Gên. 17:12.
Multidões de tais prosélitos haviam sido introduzidas dessa forma (na esfera da
aliança) antes do advento de Cristo, e muitos deles achavam-se presentes em
Jerusalém como membros da Igreja em sua forma antiga,

no dia de Pentecoste, procedentes “de todas as nações que estão debaixo do céu”
- Atos 2:5-11.

6o. Está claro que a Igreja assim compreendida nessa aliança administrativa não
é composta só dos eleitos, como tais, e sim consiste na Igreja visível composta
de pessoas que se professam cristãs, e seus filhos, porque, (1) a aliança contém a
oferta do evangelho, inclusive a apresentação de Cristo, e a oferta da salvação
realizada por Ele a todos os homens (todas as famílias da terra), tendo a fé como
condição - Gál. 3:8. Mas isso pertence à Igreja visível e só pode ser administrado
por meio de oráculos inspirados e de um ministério visível. (2) Como fato
incontestável, existia semelhante sociedade visível sob a antiga dispensação; e
sob a nova dispensação, todos os cristãos, sejam quais forem as suas teorias,
procuram tornar realidade o ideal de semelhante sociedade visível, para
conseguirem a comunhão cristã e ministerial. (3) Sob uma e outra dispensação
Cristo entregou à Sua Igreja, como a um reino visível, documentos escritos,
ordenanças sacramentais, instituições eclesiásticas e um ministério que ensina e
governa. Posto que tudo isso tenha por desígnio ministrar as provisões da aliança
da graça e efetuar como seu fim supremo a salvação dos eleitos, é evidente que
sinais e selos visíveis, a palavra escrita e um ministério visível só podem, como
tais, pertencer a uma Igreja visível - Rom. 9:4; Ef. 4:11. (4) No Novo Testamento
dá-se a mesma representação da Igreja, na parábola do joio, etc. -Mat. 13:24-30,
e 47-50; 25:1-13. Ela deveria consistir numa comunidade mista de bons e maus,
de crentes verdadeiros e de outros somente professos, e a separação
deveria efetivar-se só no fim do mundo, “na consumação dos séculos”.

7o. Esta Igreja visível tem sido transmitida e propagada, desde o princípio, de
dois modos: (1) Os que nasceram “estranhos aos concertos da promessa”, ou
“hóspedes dos testamentos (das alianças) da promessa”, e “separados
da comunidade de Israel”, Ef. 2:12, eram introduzidos nessa relação somente
pela profissão de sua fé e pela conformidade

de sua vida. Debaixo da velha dispensação eles eram chamados prosélitos, - Atos
2:10; Núm. 15:15. (2) Todos os nascidos dentro da aliança tinham parte em todos
os benefícios próprios do fato de pertencerem por herança à Igreja visível. A
aliança foi feita com Abraão para si e para os seus “vindouros no decurso das
suas gerações, como aliança eterna”, e por isso eles receberam o sacramento
que era o sinal e o selo dessa aliança. Por isso também o dever de ensinar e de
educar foi imposto na aliança - Gên. 18:18,19; e a Igreja ficou sendo escola ou
instituição de educação, Deut. 6:6-9. De conformidade com essa verdade, Cristo
deu a Seus apóstolos a comissão ou incumbência de fazer discípulos de todas as
nações, batizando-as e ensinando-as - Mat. 28:19,20. Vemos, pois, que a Igreja é
representada sob a figura de um rebanho que inclui cordeiros e ovelhas,
Is. 40:11, e sob a de uma videira de cujos renovos se cuida, podando-se e
cultivando-se a planta infrutífera ou cortando-a, se for de todo imprestável - Is.
5:1-7; Luc. 3:7,8.

27. Como se pode mostrar que a Igreja é idêntica sob as duas dispensações, e
que argumento se pode tirar daí para provar que as crianças, quando filhos de
crentes, devem ser batizadas?

Io. A Igreja, sob ambas as dispensações, tem a mesma natureza e tem em vista o
mesmo fim. A Igreja do Velho Testamento, compreendida na aliança feita com
Abraão, confiava na oferta evangélica de salvação pela fé - Gál. 3:8; Heb., cap.
11. Tinha por fim preparar uma semente espiritual para o Senhor. Por
conseguinte - (1) Seu fundamento era o mesmo - o sacrifício e a mediação de
Cristo. (2) As condições impostas aos membros eram as mesmas, (a) Todo
verdadeiro israelita era verdadeiro crente - Gál. 3:7. (b) Todos os israelitas ao
menos professavam a verdadeira religião. (3) Seus sacramentos simbolizavam e
selavam a mesma graça que os da Igreja do Novo Testamento. A Páscoa, assim
como a Ceia do Senhor, representava o sacrifício de Cristo -1 Cor. 5:7. A
Circuncisão, assim como o Batismo, representava o “despojo do corpo da

carne”, e ao batismo Paulo chama “circuncisão de Cristo” -Col. 2:11,12. Até os


ritos da lei mosaica não eram senão uma revelação simbólica do evangelho.

2o. Elas têm exatamente o mesmo nome. A expressão ekklesía kyríou, igreja do
Senhor, é a tradução exata para o grego das palavras hebraicas hal Yavé,
traduzidas em nossa versão (a versão utilizada pelo autor) por “congregação do
Senhor”.5 Comparar o Salmo 22:22 com Hebreus 2:12. Vemos, pois,
que Estêvão chamou à congregação do povo de Israel que estava ao pé do Sinai
“a congregação (ou igreja) no deserto” - Comparar Atos 7:38, no grego, com
Êx., cap. 32. Assim também Cristo é a forma grega de Messias, e os anciãos
ou.presbíteros da Igreja do Novo Testamento são idênticos, em função e nome,
aos das sinagogas.

3o. Nos escritos apostólicos não se acha prova alguma de haver sido abolida a
Igreja antiga e de haver sido organizada em lugar dela uma Igreja nova e
diferente. Os apóstolos nunca dizem uma só palavra a respeito de semelhante
organização nova. A preexistência de tal sociedade visível é sempre pressuposta
como um fato. Seus discípulos sempre foram acrescentados à “igreja”, ou à
“corporação” já existente - Atos 2:47. Verdade é que estava abolida a lei
cerimonial de Moisés, por meio da qual o caráter abraâmico da Igreja havia
sido administrado durante cerca de mil e quinhentos anos. Mas Paulo argumenta
que a introdução dessa lei, quatrocentos e trinta anos depois, não podia fazer
nula a promessa, Gál. 3:17, e, por conseguinte, a anulação da lei só podia dar
lugar a uma administração mais perfeita da aliança e a um maior
desenvolvimento da Igreja nela compreendida.

4o. Há muitas provas positivas de que a Igreja antiga, baseada em sua


constituição original, não foi abolida pela nova dispensação.

(1) Muitos dos profetas do Velho Testamento declaram explicitamente que a


Igreja visível que em sua época existia, em vez de ser ab-rogada pelo advento do
Messias, ficaria, em conseqüência disso, fortalecida e aumentada
gloriosamente, de molde a abranger também os gentios - Is. 49:13-23; 60:1-14.
Eles declaram também que a constituição federal, abrangendo o filho com o pai,
haveria de permanecer sob a nova dispensação da Igreja, quando viesse o
“Redentor a Sião” - Is. 59:20,21. Pedro, em Atos 3:22,23, explica a profecia de
Moisés (Deut. 18:15-19) no sentido de que toda alma que não quisesse ouvir
aquele Profeta (o Messias) seria “exterminada dentre o povo”, isto é, cortada da
Igreja, dando assim a conhecer que permanece a Igreja da qual tal pessoa haveria
de ser cortada.

(2) De perfeito acordo com essas profecias, Paulo declara que a Igreja judaica
não foi ab-rogada, mas que os judeus incrédulos foram cortados da sua própria
oliveira e que os ramos gentílicos foram enxertados em seu lugar; e prediz
que chegará o tempo em que Deus tornará a enxertar os judeus na sua própria
oliveira, e não noutra - Rom. 11:18-26. Diz ele também que os gentios
adventícios são feitos cidadãos junto com os judeus crentes, e domésticos de
Deus na antiga família da fé-Ef. 2:11-22.

(3) A aliança que constituiu a Igreja antiga constituiu também a Abraão pai de
muitas nações. A promessa da aliança foi que Deus seria “o seu Deus e o da sua
posteridade depois dele”. Essa aliança abrangia, pois, as “muitas nações”
junto com seu pai Abraão. Por conseguinte, nunca poderia ter sido cumprida
antes do advento do Messias e da abolição da lei restritiva, e a aliança feita com
Abraão, em vez de haver sido substituída pelo evangelho, está só agora
principiando a cumprir-se realmente. Por isso foi que, no dia de
Pentecoste, Pedro exortou a todos a se arrependerem e a que
fossem BATIZADOS, PORQUE A ALIANÇA FEITA COM ABRAÃO
AINDA ERA VÁLIDA para todos os judeus, e para seus filhos, e para todos os
que estavam longe, isto é, os gentios, quantos o Senhor

haveria de chamar a Si - Atos 2:38,39. Por isso é também que Paulo argumenta
com tanta seriedade que, sendo ainda válida a aliança feita com Abraão, por essa
razão, por seus próprios termos, os gentios que criam em Cristo tinham o mesmo
direito que os judeus tinham a um lugar naquela antiga Igreja que nEle tinha o
seu fundamento. “Todas as nações serão benditas em ti. DE SORTE QUE” (ou
ASSIM QUE”), diz Paulo, “os que são da fé são benditos com o crente Abraão”,
e todos os que crêem em Cristo, quer judeus quer gentios, são, segundo
a intenção da aliança, “descendência de Abraão, e herdeiros conforme a
promessa” - Gál:l 3.6-29. E essa promessa foi: “SEREI O TEU DEUS E O DA
TUA DESCENDÊNCIA DEPOIS DE TI”.

Esse argumento tem aplicação direta e conclusiva à questão do batismo de


crianças. Veja:
Io. Em relação à aliança e à Igreja, o batismo ocupa agora o mesmo lugar que a
circuncisão ocupava. (1) Ambos os ritos representam a mesma graça espiritual, a
saber, a regeneração -Deut. 30:6; Col. 2:11; Rom. 6:3,4. (2) O batismo é agora o
que a circuncisão foi: o selo ou sinal comprobatório da aliança feita com Abraão.
Diz o apóstolo Pedro, em resumo: “Sede batizados, PORQUE A PROMESSA é
para vós e para vossos filhos” -Atos 2:38,39. Paulo diz explicitamente que o
batismo é o sinal daquela aliança, “Porque todos quantos fostes batizados
em Cristo... sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”,
Gál. 1 3:27,29; e que o batismo é a circuncisão de Cristo - Col. 2:10,11. (3)
Ambos os ritos foram estabelecidos para, nas eras sucessivas, servirem de meio
de entrada na Igreja, e esta, como já provamos, é a mesma sob as duas
dispensações.

2o. Sendo a Igreja a mesma, e não havendo mandamento contrário, os membros


são os mesmos. Os filhos dos crentes eram membros da Igreja antiga, e, por isso,
devem ser reconhecidos como membros agora e devem receber o rito
de iniciação. Isso os apóstolos pressupunham como evidente e universalmente
concedido; um mandamento explícito de

batizar as crianças teria sugerido dúvidas quanto ao seu antigo direito na Igreja.

3o. Sendo declarado expressamente que a aliança, com sua promessa, “serei o
Deus do crente e de sua posteridade”, ainda está firme debaixo do evangelho, os
filhos dos crentes têm direito ao selo dessa promessa - Dr. John M. Mason,
Essays on the Church. M

28. Quais as provas de que Cristo reconheceu que as crianças

têm direito a um lugar na Igreja? • .

Io. A respeito dos pequeninos (Mateus,paidía^Cncasbréfe (plural àebréfos),


crianças) Jesus Cristo declarou que “dos tais é o reino de Deus” ou “dos céus”-
Mat. 19:14; Luc. 18:15,16. A frase “reino de Deus” ou “dosçéus” significa a
Igreja Visível sob a nova dispensação - Mat. 3:2; 13:47. '

2o. Na comissão ou incumbência que deu a Pedro depois da sua apostasia, o


nosso Senhor o mandou apascentar os cordeiros, bem como as ovelhas do
rebanho - João 21:15-17.
3o. Na comissão geral que deu aos apóstolos, ordenou-lhes que fizessem
discípulos das nações (que sempre se compõem de famílias), batizando-as e
depois ensinando-as - Mat. 28:19,20.

29. Como se pode mostrar que os apóstolos sempre agiram

segundo o princípio de que o filho é membro da Igreja se um dos pais o é? r -

Os apóstolos (em geral) não eram pastores estabelecidos no meio de uma


comunidade cristã estável, e sim missionários itinerantes enviados a um mundo
incrédulo, não para batizar, mas sim para pregar o evangelho -1 Cor. 1:17. A
conseqüência é que temos em Atos e nas Epístolas menção feita de apenas dez
casos específicos de batizados. Em dois deles, os do eunuco e de Paulo, Atos
8:38; 9:18, não havia famílias para serem batizadas. No caso dos três mil do dia
de Pentecoste, no do povo de Samaria e no dos discípulos de João em Efeso,
foram

batizadas multidões de pessoas no mesmo lugar onde fizeram sua profissão de


fé. Em quatro dos cinco casos restantes é dito expressamente que as famílias
foram batizadas. São os casos de Lídia, de Tiatira (em Filipos), do carcereiro de
Filipos, de Crispo e de Estéfanas - Atos 16:15, 32, 33; 18:8; 1 Cor. 1:16. No
único caso que resta, o de Cornélio, a narrativa dá a entender que sua família foi
batizada com ele. Assim, pois, os apóstolos, sem que seja mencionada uma só
exceção, batizavam imediatamente os que professavam fé em Cristo, onde quer
que se achassem, e, quando tinham famílias, também batizavam estas, como tais.

Note-se ainda que eles, em suas Epístolas, dirigiram-se a meninos como


membros da Igreja. Comparem-se Ef. 1:1 e Col. 1:1,2 com Ef. 6:1-3 e Col. 3:20;
e Paulo declarou que, mesmo nos casos em que somente um dos pais fosse
crente, os filhos deveriam ser considerados “santos”, ou consagrados ao Senhor,
isto é, como membros da Igreja - 1 Cor. 7:12-14.

30. Que argumento se pode inferir do fato de serem prometidas e concedidas a


crianças as bênçãos simbolizadas pelo batismo?

O batismo representa a regeneração em união com Cristo. As crianças nascem na


condição de filhos da ira, como os demais. Não podem ser salvas, pois, a não ser
que nasçam de novo e tenham parte nos benefícios da morte de Cristo. Portanto,
é evidente, pela própria natureza do caso, que elas podem ser regeneradas no
mesmo sentido que os adultos o podem. “Dos tais é o reino dos céus” - Mat.
21:15,16; Luc. 1:41,44. ■

31. Que argumento se pode tirar da prática da Igreja Primitiva?

O batismo de crianças é instituição que existe de fato em todos os segmentos da


Igreja universal, com a única exceção dos batistas modernos (e dos pentecostais,
que surgiram no início do século vinte). Os batistas modernos estão
historicamente ligados aos anabatistas da Alemanha do ano de 1537,

aproximadamente. Ora, a instituição do batismo de crianças, ou veio dos


apóstolos, ou teve começo definido depois, como novidade ou inovação, que
necessariamente deveria suscitar oposição e controvérsias. O fato, porém, é que
nos documentos mais antigos já se fala dessa inovação como costume universal e
tradição apostólica. Justino Mártir, que escreveu por volta do ano 138, afirma
que “Entre os cristãos do seu tempo havia muitas pessoas de ambos os sexos,
algumas com sessenta e outras com setenta anos de idade, que haviam sido
feitas discípulos de Cristo desde a sua infância”. Irineu, que nasceu por volta do
ano 97, diz: “Ele veio salvar todos para Si; todos, digo, os que por Ele são
regenerados para Deus, crianças, meninos e moços”. Essa instituição é
reconhecida por Tertuliano, que nasceu em Cartago em 160, ou seja, só
sessenta anos depois da morte do apóstolo João. Origines, nascido de pais
cristãos no Egito, em 185, declara que era “uso da Igreja batizar crianças”, e que
“a Igreja tinha recebido dos apóstolos a tradição”. Cipriano, bispo de Cartago de
248 a 258, junto com um sínodo inteiro que ele presidiu, resolveu que
se administrasse o batismo às crianças antes do oitavo dia. Agostinho, nascido
em 358, declarou que esta “doutrina é mantida pela Igreja toda, não foi instituída
por concílios, mas retida sempre”. Pelágio admitiu isso, depois de haver
visitado todas as partes da Igreja, desde a Britannia (a Grã-Bretanha) até à Síria,
apesar de ser essa prática tão contrária ao seu sistema de doutrina. Veja Hist. of
Infant Baptism, por Wall, e Christ. Antiquities, por Bingham, Liv. 11, Cap. 4.

Nosso argumento é que o costume de batizar crianças tem existido (a) desde o
século apostólico, (b) em todas as diversas partes da Igreja Primitiva, (c) sem
interrupção até ao tempo presente, (d) em todas as grandes Igrejas históricas da
Reforma; ao passo que os seus impugnadores (a) tiveram origem depois da
Reforma, (b) cometem geralmente o grave pecado cismático de não permitirem
que os pedobatistas comunguem com eles.
32. Como se deve responder à objeção de que aféé necessária para o batismo? .
,

Os batistas argumentam - ■

Io. Que, tendo o Senhor dito, “Ide, pregai...quem crer e for batizado será salvo;
mas quem não crer será condenado”, Mar. 16:15,16, por isso as crianças não
devem ser batizadas, porque não podem crer.

2o. Que, sendo o batismo o sinal de uma graça espiritual e o selo de uma aliança,
por isso as crianças não devem ser batizadas, por não poderem entender o sinal
nem fazer uma aliança.

RESPONDEMOS- . . '■ • ' '

Io. E evidente que Cristo Se referiu somente a adultos quando falou da


necessidade de crerem; porque disse também que a fé era necessária para a
salvação, e as crianças são salvas mesmo que não possam crer.

2o. A circuncisão era sinal de uma graça espiritual; para que um adulto a
recebesse, exigia-se dele que fizesse profissão de fé; e a circuncisão era também
o selo de uma aliança. Apesar disso, porém, Deus mandou circuncidar as
crianças. A verdade é que a fé é necessária, porém (no caso das crianças) a fé é a
dos pais ou de um deles, representando seu filho. A aliança, da qual o batismo é
o selo, é feita com os pais a favor da criança, a quem se aplica então com
propriedade o selo.

Além disso, devemos estar lembrados de que a criança não é uma coisa, e sim
uma pessoa que nasceu com uma natureza moral má, inteiramente suscetível de
ser regenerada na infância e de receber do Espírito Santo o “hábito” ou estado da
alma do qual a fé é a expressão. Por isso é que Calvino diz (Jnstitutas, Liv. 4,
Cap. 16, § 20): “A semente do arrependimento e também da fé jaz escondida
nelas pela operação secreta do Espírito”.

33. Como devemos evitar a conclusão de que devemos admitir as crianças à


Ceia do Senhor, se as admitirmos ao Batismo?

Não têm aplicação aos dois sacramentos os motivos acima exarados. Vejamos
por quê:
Io. O Batismo é um ato que reconhece e sela o fato de que o batizado pertence à
Igreja; a Ceia do Senhor é um ato comemorativo.

2o. No Batismo quem recebe o sacramento é passivo; na Ceia é ativo.

3o. As crianças nunca foram admitidas à Páscoa, enquanto não fossem capazes
de compreender a natureza da ordenança.

4o. Os apóstolos batizaram famílias, mas nunca admitiram famílias, como tais, à
Ceia do Senhor.

34. Os filhos de quem devem ser batizados?

“Os filhos daqueles que são membros da Igreja visível devem ser batizados”i?
rm? Cat., Perg. 95; isto é, teoricamente, os filhos cujos pais, ou só um deles, são
crentes “(embora só um deles o seja)”, Conf. de Fé, Cap. 28, Seç. 4; e,
praticamente, “as crianças cujos pais, ou um só deles, professarem fé em Cristo e
obediência a Ele”, Cat. Maior, Perg. 166. Os episcopais, os católicos romanos, os
protestantes do continente europeu e os presbiterianos da Escócia (e antigamente
os deste país - os Estados Unidos da América) seguem o princípio de que
toda pessoa batizada, e não excomungada, sendo ela mesma membro da Igreja
Visível, tem o direito de ter também seus filhos reconhecidos e tratados como
tais. Mesmo quando os pais são incrédulos, os católicos romanos e os episcopais
mandam batizar seus filhos sobre a fé professa de padrinhos.

É evidente, porém, que só devemos batizar os filhos de pais, ou tutores efetivos,


que façam profissão digna de crédito de fé pessoal em Cristo. Motivos desta
restrição:

Io. Por causa da natureza do ato. A fé é a condição da aliança cujo selo é o


batismo. A Assembléia Geral de 1794 decidiu (definir) que o nosso Diretório
para o Culto Divino exige que

o pai, ou a mãe, ou os dois, se comprometam expressamente diante de Deus e da


Igreja “a orar com a criança e por ela, que lhe sirvam de bom exemplo de
piedade e religião”, etc. E o Sínodo Geral de 1735 afirma que, se fosse permitido
a outros que não os pais assumirem esses compromissos, “o selo seria afixado
como que num papel em branco” (Moore’s Digest, págs. 665 e 666). Por isso é
evidente que as condições necessárias para que alguém tenha seus filhos
batizados são exatamente as mesmas que são necessárias para que ele próprio
seja batizado ou admitido à Ceia do Senhor, as quais se resumem numa profissão
digna de crédito de verdadeira fé. = ... .u;ü. *

2o. Padrinhos que não sejam os pais ou tutores efetivos, e que provavelmente
nunca o serão, evidentemente não são os representantes providencialmente
designados da criança, e não estão em condições de cumprir suas promessas.

3o. Aqueles que, tendo sido batizados, não cumprem, pela fé e obediência, seus
votos batismais quando chegados à idade madura, estão ipso facto suspensos os
privilégios da aliança, e por isso (seus pais ou responsáveis) não podem recorrer
a eles a favor de seus filhos.

4o. Os apóstolos batizaram somente as famílias daqueles que professavam fé em


Cristo.

A EFICÁCIA DO BATISMO

35. Qual a doutrina católico-romana e dos ritualistas em geral quanto à eficácia


do batismo?

A doutrina católico-romana, com a qual o tractarianismo (ou o “Oxford


Movement”, tentativa de estabelecer o catolicismo romano na Igreja da
Inglaterra, iniciado ali em 14 de julho de 1833) concorda oficialmente, consiste
nos seguintes pontos:

Io. Que o batismo confere os merecimentos de Cristo e o poder do Espírito


Santo, e que, por isso, (1) ele purifica da corrupção inerente; (2) consegue a
remissão da pena do pecado;

(3) consegue a infusão da graça santificadora; (4) une a Cristo;

(5) imprime na alma um caráter indelével; (6) abre as portas do céu - Newman,
Lectures onjustification, pág. 257; Cat. Rom., Parte 2, Cap. 2, Pergs. 32-44.

2o. Que a eficácia da ordenança é inerente a ela mesma em virtude da instituição


divina. Seu poder não depende, nem do merecimento do ministro oficiante, nem
do de quem recebe o sacramento, e sim do próprio ato sacramental, como um
opus operatum. No caso das crianças, a única condição da sua eficácia é que o
sacramento seja devidamente administrado. No caso dos adultos, sua eficácia
depende da condição adicional de que o batizando não esteja em pecado mortal e
que não resista de vontade oposta - Pedro Dens,De Baptismo.

36. Qual é a doutrina luterana sobre este assunto?

Os luteranos estavam de acordo com as igrejas reformadas em repudiar a


doutrina romanista da eficácia mágica deste sacramento como opus operatum.
Mas foram muito além dos reformados em manter a união sacramental entre o
sinal e a graça significada. Lutero, em seu Pequeno Catecismo, Parte 4, Seç. 2,
afirma que “o batismo opera o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e
confere a salvação eterna a todos os que crêem”, e na Seç. 3, que “não é, de fato,
a água que produz esses efeitos, e sim a Palavra de Deus que está ligada à água e
a acompanha. Porque a água sem a Palavra só é água, não o batismo, isto é (não)
é a água da graça da vida, nem o ato de lavar da regeneração”. Esta eficácia, no
caso dos adultos, depende da fé verdadeira e salvadora: “Além disso, não
havendo fé, permanece sendo um mero sinal inoperante”.

Por conseguinte, os luteranos sustentam -

Io. O batismo é meio eficaz de conferir o perdão dos pecados e a graça de Cristo.

2o. Ele contém a graça que confere.

3o. Sua eficácia não reside na água, mas sim na Palavra e no Espírito Santo na
Palavra.

4o. Sua eficácia, no caso dos adultos, depende da fé do batizando-Conservative


Reformation, de Krauth, págs.545-584.

37. Qual é a doutrina zwingliana sobre este assunto?

Que o rito externo é um mero sinal, uma representação objetiva da verdade por
meio de um símbolo, mas sem ter eficácia alguma além da que é devida à
verdade representada.

38. Qual é a doutrina das igrejas reformadas, e, entre elas, da nossa, sobre
este assunto?

Todas elas concordam em afirmar - ■


Io. Que a doutrina zwingliana é incompleta. . .

2o. Que o batismo, além de ser um sinal, é também o selo da graça e, por
conseguinte, uma presente e sensível comunicação e confirmação da graça ao
crente que tem o testemunho em si mesmo, e para todos os eleitos é um selo dos
benefícios da aliança da graça, que, mais cedo ou mais tarde, serão comunicados
no tempo que for do agrado de Deus.

3o. Que essa comunicação não é efetuada pela ação do ato sacramental, mas sim
pelo Espírito Santo, que acompanha a Sua própria ordenança.

4o. Que, no caso de um adulto, a recepção da bênção depende da sua fé.

5o. Que os benefícios comunicados pelo batismo não lhe são peculiares, porém
pertencem ao crente anteriormente ao batismo, ou sem ele, e lhe são muitas
vezes renovados depois.

A nossa Conf. de Fé, Cap. 28, Seções 5 e 6, afirma que:

“Io. Pelo devido uso desta ordenança, a graça prometida não somente é
oferecida, mas realmente exibida e conferida pelo Espírito Santo àqueles (quer
sejam adultos quer crianças) a quem esta graça pertence.

“2o. O batismo não consegue em todos os casos as bênçãos da aliança.

“3o. Nos casos em que as consegue, o dom não está necessariamente ligado ao
momento da administração da ordenança.

“4o. O recebimento dessas bênçãos depende de duas coisas:

(1) o uso devido da ordenança; (2) o propósito secreto de Deus” -Dr. Hodge.

39. Em que consiste a doutrina da regeneração batismal, geralmente assim


conhecida ? Em que fundamento se baseia ? Como se pode mostrar que é falsa?

Os defensores protestantes da regeneração batismal, sem admitir a teoria


católico- romana de um opus operatum, sustentam que o batismo é o meio que
Deus instituiu para comunicar os benefícios da redenção em primeiro lugar. Que
qualquer experiência da graça desfrutada pelos não batizados é
bênção decorrente de uma misericórdia não prometida em aliança alguma. Que a
culpa do pecado original é tirada e o Espírito Santo é dado no batismo, e seus
efeitos ficam como semente na alma, para ser depois desenvolvida pela livre
vontade da pessoa batizada, ou, sendo negligenciada, tornar-se inoperante. Toda
criança é regenerada pelo batismo. Se morrer na infância, a semente desenvolve-
se no paraíso. Se chegar à idade adulta, o resultado dependerá do uso que dela
fizer -Dict. ofTheology, de Blunt, Art. “Baptism”. Veja acima, Cap. 29, Perg. 4.

Fundam essa doutrina numa numerosa classe de passagens das Escrituras, como
sejam: “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar,
purificando-a com a lavagem da água, pela palavra”,* Ef. 5:25,26; “Levanta-te,
e batiza-te, e lava os teus pecados”, Atos 22:16. E também João 3:5; 1 Ped. 3:21;
Gál. 3;27; etc.

Os reformados explicam essas passagens segundo os seguintes princípios: ' ■

Io. Em todo sacramento há duas coisas: (1) um sinal externo e visível; (2) uma
graça interna e invisível, significada pelo sinal. Entre essas duas coisas existe
uma relação sacramental ou simbólica que dá lugar a um modo de falar pelo

Figueiredo e Matos Soares dizem, no versículo 26: “Para a santificar,


purificando-a no batismo da água, pela palavra da vida”, mas no original grego
não consta “batismo”. Nota de Odayr Olivetti.

qual as propriedades e os efeitos da graça são atribuídos ao sinal. Todavia, não se


segue daí que os dois são inseparáveis, como tampouco que são idênticos.

2o. Os sacramentos são insígnias de fé religiosa e necessariamente envolvem a


profissão dessa fé. Na linguagem comum, presume-se que essa fé se acha
presente e que é verdadeira, e, nesse caso, a graça significada pelo
sacramento não somente é oferecida, mas também é realmente comunicada -
Breve Cat., Pergs. 91 e 92.

Que o batismo não pode ser o único meio, e nem mesmo o meio comum, regular,
de comunicar a graça da regeneração (isto é, de iniciar a alma num estado de
graça), é evidente. Veja -

Io. A fé e o arrependimento são frutos da regeneração. Mas a fé e o


arrependimento são as condições necessárias para que se possa receber o
batismo - Atos 2:38; 8:37; 10:47; 11:17.

2o. Essa doutrina é idêntica à dos fariseus, que Cristo e Seus apóstolos
censuraram constantemente - Mat. 23:23-26. Diz o apóstolo Paulo: “Porque em
Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem virtude alguma; mas sim
a fé que opera por caridade”, e “mas sim o ser uma nova criatura” - Gál. 5:6 e
6:15 Veja também Rom. 2:25-29. As Escrituras dizem que somente a fé salva, e
que somente a sua ausência condena-Atos 16:31; Mar. 16:16.

3o. O espírito e o método do evangelho inteiro são éticos, e não mágicos. O


grande meio de que o Espírito Santo Se serve é a VERDADE, e tudo quanto se
diz nas Escrituras da eficácia dos sacramentos também se diz da eficácia da
verdade. São, pois, meios de graça em comum com a Palavra, e somente
na medida em que eles a contêm e a selam - 1 Ped. 1:23; João 17:17,19. O nosso
Senhor diz: “Pelos seus frutos os conhecer eis ” -Mat. 7:20.

4o. Essa doutrina é refutada pela experiência. Imensas multidões de batizados, de


todas as idades e em todas as nações, nunca produzem nenhum dos frutos do
arrependimento. Os

séculos e as comunidades em que essa doutrina tem estado mais arraigada têm
sido os que se tornaram mais conspícuos por sua esterilidade espiritual. -

5o. O grande mal do sistema do qual faz parte a doutrina da regeneração batismal
está em sua tendência de tornar a religião uma coisa de formas externas e
mágicas, de criar e nutrir assim um ceticismo racionalista entre os inteligentes
e uma superstição entre os ignorantes e os mórbidos, como também de efetuar,
entre todas as classes, o divórcio entre a religião e a moralidade.

A NECESSIDADE DO BATISMO

40. Qual é a doutrina católico-romana sobre a necessidade do batismo?

Que ele é, por instituição de Deus, o único meio sine qua non da justificação
(regeneração, etc.), tanto para as crianças como para os adultos. No caso dos
adultos, eles excetuam somente aqueles que formaram o sincero propósito de
receber o batismo sem que, na providência de Deus, lhes fosse possível levá-lo a
efeito. No caso das crianças, não admitem nenhuma exceção.
41. Qual é a doutrina luterana sobre este ponto?

Seus livros simbólicos afirmam a necessidade dos sacramentos aparentemente


sem qualificação (sem restrições ou reservas). Veja a Confi deAugsb., Art. 9,
tApol. da Conf de Augsb., pág. 156, citada no Cap. anterior deste livro. Mas o
Dr Krauth provou, por citações das obras de Lutero e de outros escritores
autorizados, que a sua doutrina realmente era que (1) o batismo não é essencial
(nos termos em que, e. g., a pro-piciação de Cristo o é), mas que (2) é necessário
como algo que foi instituído para ser o meio comum, normal, de conferir graça;
todavia, (3) não absolutamente, porque a “necessidade” é limitada (a) pela
possibilidade de tê-lo, de modo que não é

a privação, mas sim o desprezo do batismo, que condena o homem, e (b) pelo
fato de que todas as bênçãos são prometidas sob a condição da fé. (4) O batismo
nem sempre é seguido pela regeneração, e ela nem sempre é precedida pelo
batismo, e os homens podem ser salvos mesmo sem o batismo. (5) Todas
as crianças que se acham dentro da igreja são salvas, mesmo que não sejam
batizadas. (6) Quanto às crianças entre os pagãos, o ponto fica sem decisão,
porque não está revelado, mas nutrem-se esperanças - Conserv. Reform., por Dr.
Krauth, págs. 557564.

42. Qual é a doutrina reformada?

Que o batismo é “necessário”, porque Cristo o ordena, e é universalmente


obrigatório, porque é um meio de graça divinamente ordenado e muito precioso,
do qual seria ímpio fazer pouco caso consciente e propositalmente; e porque é
a insígnia ordenada e geralmente reconhecida por meio da qual reconhecemos
publicamente a fidelidade a Cristo. Sendo assim, fazer conscientemente pouco
caso dos sacramentos é muito parecido com uma traição.

Mas, geralamente o batismo não confere graça em primeiro lugar, porém a


pressupõe, e a graça que ele simboliza e sela é conferida muitas vezes antes do
batismo e mesmo sem ele -Conf. de Fé, Cap. 28\lnstitutas, de Calvino, Liv.4,
Cap.16, § 26.

EXPOSIÇÕES DOS CREDOS AUTORIZADOS

DOUTRINA CATÓLICO-ROMANA - Cat. do Cone. de Trento, Parte 2, Cap.2,


Perg. 5: “Segue-se que se pode definir o batismo acurada e convenientemente
como o sacramento da regeneração pela água na Palavra. Porque por
natureza nascemos de Adão filhos da ira e pelo batismo renascemos em Cristo
filhos da misericórdia”.

Ib., Parte 2, Cap.2, Perg. 33: “Porque, não havendo outro meio de salvação para
as crianças, exceto o batismo,

é fácil entender quanto é enorme a culpa em que incorrem os que permitem que
elas sejam privadas da graça do sacramento por mais tempo do que a
necessidade exige”.

Berlarmino, De Bapt., 1, 4: “A igreja (católica romana) tem sempre crido que as


crianças perecem se saem desta vida sem o batismo. Embora as crianças deixem
de ser batizadas por nenhuma culpa sua, todavia elas não perecem sem culpa
sua, porque têm o pecado original”.

DOUTRINA LUTERANA - Veja as citações registradas no capítulo anterior.

Quenstedt, 4, 147: “Pelo batismo e no batismo o Espírito Santo infunde nas


crianças uma fé verdadeira, salvadora, vivificadora e real, seguindo-se daí que
também as crianças batizadas crêem verdadeiramente”.

Art. Esmalcalda, Parte 3, Art. 5, “De Batismo” - “O batismo nada mais é do que
a Palavra de Deus junto com a imersão na água, segundo a sua instituição e
mandamento... A Palavra é acrescentada ao elemento e torna-se em sacramento”.

Cat. Minor, 4, Quaes. 3 - “O batismo opera a remissão dos pecados, livra da


morte e do diabo, e dá a bem-aven-turança a todos e a cada um dos que crêem no
que a Palavra e as promessas divinas revelam”.

DOUTRINA REFORMADA - Cat.Geneb., pág. 522: “A significação do batismo


tem duas partes, porque nele é representada a remissão dos pecados... Acaso
alguém atribui à água nada mais do que a função de ser ela a figura de um ato de
lavar? Penso que é tal figura e que, ao mesmo tempo, uma verdade está ligada a
ela. Pois Deus não nos engana quando nos promete os Seus dons. Por isso é
certo que o perdão dos pecados e a novidade de vida nos são oferecidos e são por
nós recebidos no batismo”.

Institutas de Calvino, Liv. 4, Cap. 16, § 26: “Não desejo que me entendam como
que insinuando que se possa desprezar impunemente o batismo. Longe de
desculpar tal desprezo, sustento que com isso se viola a aliança do
Senhor. A passagem (João 5:24) tão-somente mostra que não devemos julgar o
batismo tão necessário que nos leve a supor que todo aquele que não teve
ocasião de obtê-lo tenha perecido”.

Os Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, Art. 27: “O batismo não é


somente sinal de profissão e marca distintiva pela qual se distinguem os cristãos
dos não cristãos, mas é também sinal de regeneração ou novo nascimento pelo
qual, como por instrumento, os que recebem retamente o batismo, são
enxertados na Igreja: as promessas da remissão dos pecados e da nossa
adoção como filhos de Deus pelo Espírito Santo são visivelmente assinaladas e
seladas, a fé é confirmada, e a graça é aumentada em virtude de oração a Deus.
O batismo das crianças deve ser mantido integralmente na Igreja como
plenamente conforme à instituição de Cristo”.

Conf. de Fé, Cap. 28; Cat. Maior, Pergs. 165-167; Breve Cat., Pergs. 94 e 95.

§ 1 - “O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus


Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja a pessoa batizada, mas também
para servir-lhe de sinal e selo da aliança da graça, de sua união com Cristo, da
regeneração, da remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus por
Jesus Cristo, a fim de andar em novidade de vida. Este sacramento, segundo a
ordenação de Cristo, há de continuar em Sua Igreja até ao fim do mundo”.

§ 5 - “Posto que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança,


contudo, a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas a ela
que ninguém possa ser regenerado e salvo, ou que sejam indubitavelmente
regenerados todos os que são batizados”.

§ 6 - “A eficácia do batismo não se limita ao momento em que é administrado;


contudo, pelo devido uso desta ordenança, a graça prometida é não somente
oferecida, mas realmente manifestada e conferida pelo Espírito Santo àqueles a
quem ele pertence, adultos ou crianças, segundo o conselho da vontade de Deus,
em Seu tempo apropriado”.

DOUTRINA SOCINIANA - Socino acreditava que o batismo tinha sido


praticado pelos apóstolos depois da morte de Cristo, e que era aplicado somente
aos convertidos, vindos de fora da Igreja. Os socinianos em geral sustentavam
que o batismo é apenas uma insígnia da profissão de seguir a Cristo, que só o
batismo por imersão é válido e que só os adultos devem ser batizados -
Cat. Rac., Seç. 5, Cap. 3.
';OJJ'U. III'/.. .

Mat. 26:26-28; Mar. 14:22-24; Luc. 22:17-20; 1 Cor. 10:16,17; 11:23-30.

2. Como se prova que a sua observância é de obrigação perpétua?

Provam-no:

Io. As palavras da instituição: “Fazei isto em memória de mim”.

2o. As palavras de Paulo - 1 Cor. 11:25,26: “Fazei isto, todas as vezes que
comerdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e
beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que ele venha”.

3o. O exemplo apostólico - Atos 2:42,46; 20:7; etc.

4o. As muitas referências feitas a ela nos escritos apostólicos como de obrigação
perpétua - 1 Cor. 10:16-21; etc.

5o. A prática da Igreja Cristã, toda ela, em todos os seus ramos, desde o
princípio.

3. Quais as diversas frases empregadas nas Escrituras para designar a Ceia


do Senhor, e qual o seu sentido?

Ia. “Ceia do Senhor” - 1 Cor. 11:20. A palavra grega deipnon, traduzida “ceia”,
designava o jantar, ou a refeição principal dos judeus, que se comia de tarde ou
pouco antes do anoitecer, e daí este sacramento recebeu esse nome, tendo

sido instituído na ocasião dessa refeição. Chama-se “do Senhor” porque foi por
Ele instituído, para comemorar Sua morte e significar e selar a Sua graça.

2a. “O cálice de bênção” - 1 Cor. 10:16. O cálice foi abençoado por Cristo, e a
bênção de Deus é agora invocada sobre ele pelo ministro oficiante - Mat. 26:27.

3a. “A mesa do Senhor” - 1 Cor. 10:21. “Mesa”, aqui, por uma figura comum,
representa as provisões postas em cima dela. E a mesa para a qual o Senhor
convida Seus hóspedes e à qual Ele preside.
4a. “A comunhão” -1 Cor. 10:16.0 ato de participar deste sacramento, em que se
dá e se recebe mutuamente, estabelece e exerce a comunhão do crente com
Cristo e, por conseguinte, também a dos crentes uns com os outros, por Cristo.

5a. “O partir do pão” - Atos 2:42. Aqui o ato simbólico do ministro oficiante é
usado para designar o ato completo da celebração. •

4. Por quais outros termos ela foi designada na Igreja Primitiva?

Io. “Eucaristia”, de eukaristéo, dar graças. Veja Mat. 26:27. Esta palavra
qualifica com muita propriedade este sacramento como um ofício divino de ação
de graças. E tanto o cálice de ação de graças, com o qual celebramos a graça de
Deus e prometemos ser-Lhe gratos, como o cálice de bênção, ou
cálice consagrado.

2o. “Reunião”, synaxis, porque o sacramento era administrado nas reuniões


públicas.

3o. “Administração santa”, leiturguía, aplicada ao sacramento como expressão


de eminência. Dessa palavra, obviamente, é derivada a palavra liturgia.

4o. “Oblação de sacrifício”, thusía. “Não se aplicava este termo ao sacramento


no sentido de um verdadeiro sacrifício propiciatório; aplicava-se porque (1) a
sua celebração era acompanhada de uma coleta e de ofertas de esmolas
(donativos para sustento da obra do Senhor e para beneficência);

porque (2) comemorava o verdadeiro sacrifício de Cristo na cruz; porque (3) era
verdadeiramente um sacrifício de louvor e de ação de graças, Heb. 13:15; porque
(4) no estilo dos antigos, todos os atos religiosos em que se consagrava qualquer
coisa a Deus para a Sua glória e para a nossa salvação eram chamados
sacrifícios.

5o. “Ágzpé”,agápe. Os ágapes, ou festas de amizade, eram refeições para as


quais se reuniam todos os comungantes, e em conexão com as quais eles
recebiam os elementos consagrados. Essa é a razão pela qual foi dado esse nome
também ao sacramento. . ;

6o. Mistério,mystérion, ou revelação simbólica da verdade, que tinha por fim o


proveito especial usufruído pelos cristãos iniciados. Este nome era aplicado aos
dois sacramentos. Nas Escrituras é aplicado a todas as doutrinas da revelação -
Mat. 13:11; Col. 1:26.

7o. Missa, (termo derivado do particípio passado do verbo latino mitto, que
significa, entre outras coisas, despedir), é a designação principal usada pela
igreja latina (católica). A derivação mais provável deste termo (em conexão com
o sacramento) é da antiga fórmula de despedir os irmãos reunidos. Quando
estavam concluídos os ritos sagrados, os diáconos diziam em voz alta: “Ite,
missa est”, Ide, despedida está -Turretino, Lib. 19, Quaes. 21.

5. Como se define este sacramento, e quais os pontos essenciais incluídos na


definição? v -■

Veja Cat. Maior, Perg. 168; Breve Cat., Perg. 96.

Eis os pontos essenciais dessa definição:

Io. Os elementos, pão e vinho, dados e recebidos segundo a instituição de Jesus


Cristo.

2o. O propósito de quem os recebe de faze-lo em obediência à instituição de


Cristo, em comemoração dele, para anunciar a Sua morte até quando Ele venha.

3o. A prometida presença de Cristo no sacramento, por

Seu Espírito, “de modo que aqueles que o recebem dignamente tornam-se
participantes do corpo e do sangue de Cristo, com todos os seus benefícios, não
de uma maneira corporal e carnal, e sim pela fé, para seu alimento espiritual e
crescimento na graça”.

6. Que qualidade de pão deve-se usar no sacramento, e qual é o uso das


diversas igrejas a este respeito?

O essencial é que seja pão, desta ou daquela qualidade -

Io. Em conseqüência do mandamento de Cristo.

2o. Em conseqüência da significação do símbolo; porque o pão, sendo o


principal alimento natural de nosso corpo, representa a carne dEle, a qual, como
o Pão vivo, Ele deu para ser a vida do mundo - João 6:51. Mas a qualidade
do pão, se deve ser levedado ou não, não está especificada no mandamento, e a
natureza do sacramento não torna isso essencial.

Cristo serviu-Se de pão asmo ou não levedado porque este estava na mesa,
tendo-se acabado de celebrar a Páscoa. Os primeiros cristãos celebravam a
comunhão na ocasião de uma refeição comum, com o pão comumente usado,
que era levedado. Desde o século oitavo, a igreja católica romana tem usado pão
não levedado e manda que se faça uso dele como o único que convém (na
verdade, criou o elemento específico para esse uso, chamado “hóstia”), mas não
o torna essencial (Cat. do Cone. de Trento, Parte 2, Cap. 4, §§ 13 e 14). A
Igreja Grega insiste no uso de pão não levedado, e é deste que a Igreja Luterana
faz uso. As igrejas reformadas, a Igreja Anglicana inclusive, consideram mais
próprio o uso de pão fermentado, por ser o pão da vida comum, e porque, na
Ceia do Senhor, o pão é símbolo de alimento espiritual. O uso do
bolo, introduzido nalgumas de nossas igrejas, é provinciano e arbitrário, e não se
funda nem nas Escrituras, nem na tradição, nem no bom gosto.

7. Qual o significado da palavra hóinos, vinho, no Novo Testamento, e como se


vê que se deve usar vinho, e não algum outro líquido, na celebração da Ceia?

O uso dessa palavra no Novo Testamento torna evidente que era propósito dos
escritores sagrados designar por ela o suco fermentado da uva - Mat. 9:17; João
2:3-10; Rom .14.2 , Ef. 5:18; 1 Tim. 3:8; 5:23; Tit. 2:3. ^

Isto se acha estabelecido pelo testemunho unânime de todos os eruditos e dos


missionários residentes no Oriente. Veja o artigo do Dr. Lindsay W. Alexander
naCyclopadia, de Kitto; o artigo intitulado “Wine”, por Dr. William L. Bevan,
no Smith’s Bible Dict.; o que diz o Dr. Ph. Schaff sobre Joao 2:1-11, na pág. 111
do Comm. onjohn, de Lange; o que diz o Rev. Dr. T. Laurie, missionário, na
revista Bibliotheca Sacra, de janeiro de 1869; a obra Residence ofEight Years in
Pérsia, por Dr. Justin Perkins, pág. 236; o artigo por Dr. Eli Smith, na Bibl.
Sacra, 1846, págs. 385 et alia; e o por Rev. J. H. Shedd (missionário) em
Interior, de 20 de julho de 1871.

A igreja católica romana, fundada na tradição, pleiteia que se deve misturar água
com o vinho (Cat. do Cone■ de rento, Parte 2, Cap. 4, Pergs. 16 e 17). Mas isso
não consta do mandamento, nem está envolvido de nenhum modo na sigoi
maçao simbólica do rito. Que é vinho, e nenhum outro líquido, que se deve usar
ficará evidente para quem ler as palavras a instituição, Mat. 26:26-29, e o que o
Novo Testamento diz sobre o uso dos apóstolos.

8. Como se vê que o partir do pão é parte importante da celebração do


sacramento?

Pelas seguintes considerações:

Ia. O exemplo de Cristo no ato da instituição, que se pode

observar em cada uma das narrativas inspiradas que temos

sobre o assunto - Mat. 26:26; Mar. 14:22; Luc. 22-193 or.

11:24. , .

2a. É ponto proeminente na referência que os apostolos

fazem ao sacramento nas Epístolas -1 Cor. 10:16. Todo o ofício é designado pelo
nome deste único ato - Atos 2:42.

3a. Pertence à significação simbólica do sacramento. (1) Representa o corpo de


Cristo quebrado por nós -1 Cor. 11:24. (2) Representa a comunhão dos crentes,
sendo eles muitos num só corpo - 1 Cor. 10:17. Isso a Igreja Luterana nega,
sustentando que “o partir é somente um ato preparatório para a distribuição”.
Veja Conservative Reformation, por Dr. Krauth, págs. 719-722.

9. Qual é a verdadeira interpretação de 1 Coríntios 10:16, e em que sentido se


deve abençoar ou consagrar os elementos?

In unum Spiritu... in unum corpus, segundo a Vulgata, da qual Figueiredo se afasta


muito. Nota do tradutor. (Figueiredo diz: “fomos batizados todos nós, para
sermos um mesmo corpo”; Almeida (Revista e Corrigida): “fomos batizados
em um Espírito formando um corpo”; Almeida, Atualizada: “em um só
Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo”; Versão Autorizada,
inglesa: “por um só Espírito somos todos batizados num só corpo”; Grego:
“kai gàr en eni pneúmati hemeis, pántes eis hèn sôma ebaptísthemen”. Acréscimo de Odayr
Olivetti. .
2

Aqui também Figueiredo afasta-se inteiramente até da Vulgata, que professa


traduzir. Ela diz: Consepulti sumus cum illo per baptismum in mortem. Ele: “Fomos
sepultados com ele para morrer ao pecado pelo batismo”. Nota do tradutor.

Raramente se vê referência ao fato de que em Daniel 4.33, naSeptuaginta, o


verbo traduzido por “foi molhado” (“o seu corpo foi molhado do orvalho do
céu”) éebáfe, 2o. aoristo passivo âtbápto. Nota de Odayr Olivetti.

No texto grego mais geralmente em uso não consta. Nota de Odayr Olivetti.

Figueiredo traz -igreja. Nota do tradutor. (Almeida: congregação; Versão


Autorizada (inglesa): igreja.)
A palavra abençoar oubendizer é empregada nas Escrituras somente em três
sentidos: Io. Bendizer a Deus, isto é, declarar Seu louvor e exprimir-Lhe a nossa
gratidão; 2o. Conferir realmente uma bênção, como Deus confere bênçãos às
Suas criaturas. 3o. Invocar a bênção de Deus sobre alguma pessoa ou
coisa. y- ' '

O “cálice de bênção que abençoamos” é o cálice consagrado sobre o qual o


ministro invocou a bênção divina. Assim como se invoca a bênção de Deus
sobre o alimento, que é assim consagrado para seu uso natural, 1 Tim. 4:5, assim
também na Ceia do Senhor se separam os elementos como sinais sacramentais
de uma graça invisível e espiritual, para anunciarem a morte de Cristo e
ministrarem graça ao comungante crente, invocando o ministro a bênção de
Deus que aí consiste na presença de Cristo prometida por Seu Espírito. -

A igreja católica romana ensina que, quando o sacerdote pronuncia as palavras


de consagração, com a devida intenção, ele realmente opera a transubstanciação
do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo. A forma, em latim, que se
deve usar na consagração do pão é, “Este é meu corpo”, e a que se deve usar na
consagração do vinho é, “Porque este é o cálice do meu sangue, do testamento
novo e eterno, o mistério da fé,

que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados” -Cat. do
Cone. de Trento, Parte 2, Cap. 4, Pergs.

19-26. , , .-.-V : ■'

10. Como se mostra que a distribuição dos elementos entre o povo, e sua
aceitação deles, é parte essencial deste sacramento?

Tendo a igreja católica romana desenvolvido completamente as doutrinas da


transubstanciação e do sacrifício da missa, logicamente chegou à conclusão de
que é conseguido o fim essencial da ordenança no momento em que ocorre
a consagração, e por isso julga que a distribuição dos elementos entre o povo não
é essencial. Conservam, portanto, o pão (a hóstia), como o verdadeiro corpo do
Senhor, fechado no hos-tiário, levam-no em procissões e lhe prestam culto.
Afirmam também que o sacerdote, na celebração da missa, tem o direito de
comungar sem o povo, e de levar a hóstia aos doentes que estiverem ausentes do
lugar da comunhão - Cone. de Trento, Sess.13, Cap. 6, cânones 4-7, e Sess. 20,
cân. 8.

Os protestantes, ao contrário, sustentam que é da essência desta ordenança santa


que seja uma ação, principiando e terminando no uso divinamente ordenado dos
elementos. “Tomai e comei”, disse Jesus Cristo. “Fazei isto em memória
de mim. ” É um “partir do pão”, um “comer e beber” em memória de Cristo; é
uma “comunhão”. Todos os protestantes sustentam, pois, que a distribuição e a
recepção dos elementos são partes essenciais do sacramento, e que, quando isso
se tem feito, concluiu-se o sacramento. Os luteranos sustentam que a presença da
carne e do sangue no sacramento limita-se ao tempo do uso sacramental dos
elementos, isto é, ao tempo durante o qual são distribuídos e recebidos, e que o
que sobra não é depois senão pão e vinho comuns - Form. Concord., Parte 2,
Caps. 7, 82 e 108; Conf. de Fé, Cap. 29, § 4.

As igrejas reformadas sustentam que se deve pôr os elementos na mão do


comungante, e não em sua boca, como fazem os católicos romanos. Cristo disse,
“tomai e comei”, e o

ato é simbólico, representando a apropriação pessoal por parte de cada


comungante.

Sendo este sacramento uma “comunhão” (1 Cor. 10:16,17) dos membros uns
com os outros e de todos com Cristo, é um abuso do rito enviar os elementos a
pessoas ausentes da companhia em que é celebrado, e um absurdo a
comunhão particular de ministros ou leigos. Em caso de necessidade, todas as
igrejas reformadas permitem que os seus pastores e presbíteros, acompanhados
de tantos irmãos em Cristo quantos as circunstâncias permitirem, celebrem a
comunhão nas casas de crentes enfermos ou de outro modo incapacitados
de comparecer ao culto público-Gen. Assemb., O. S., 1863, Aíoore^s Digest,
pág. 668.

11. Qual deve ser a natureza dos exercícios praticados durante a distribuição
dos elementos?

“Os sacramentos são selos da aliança da graça” feita entre Cristo e Seu povo, e
na Ceia do Senhor “os participantes dignos real e verdadeiramente recebem e
aplicam a si mesmos Cristo crucificado”, sendo cada crente “feito sacerdote
para Deus” (1 Ped. 2:5; Apoc. 1:6), “tendo liberdade de entrar no santuário pelo
sangue de Cristo” (Heb. 10:19). De tudo isso segue-se necessariamente que neste
sacramento os comungantes devem fazer tudo, sem mediação, na aliança que
fazem com o Senhor.

O ministro nunca deve, pois, tornar os comungantes rece-bedores passivos de


instruções ou exortações. Nas reuniões preparatórias e no sermão pregado logo
antes da celebração da Ceia, o ministro pode tratar de ensinar e de exortar o
povo; mas na celebração o ministro deve limitar-se a dirigir os comungantes no
ato de comunhão por meio de exercícios de culto direto, como sejam orações e
hinos apropriados. E todas as orações e hinos associados a esta santa ordenança
devem ser especificamente apropriados, e não só terem simplesmente um caráter
religioso.

A RELAÇÃO DO SINAL COM A GRAÇA SIGNIFICADA

12. Qual é a doutrina católico-romana sobre este ponto? E como é ela expressa
pelo termo transubstanciação?

Os antigos pais falavam em linguagem geral da presença de Cristo na Ceia, e


geralmente com a tendência de exagerar. Sua linguagem metafórica tendia a
confundir os símbolos do culto religioso e as idéias espirituais representadas. À
medida que se veio a considerar o ministério como um sacerdócio e como o
único canal da graça para o povo, os sacramentos (as ordenanças) passaram a ser
exaltados cada vez mais e a ser considerados como os instrumentos necessários
para o recebimento dessa graça. Da idéia de um sacerdócio real
veio necessariamente a idéia de ser necessário um sacrifício real; e para que o
sacrifício fosse real, atribuiu-se-lhe a presença real de uma vítima divina
encarnada.

A doutrina foi ensinada explicitamente primeiro, em sua forma atual, por


Paschasio Radberto, abade de Corobet, em 831. Foi combatida por Ratramno,
mas pouco a pouco ganhou terreno. O termo transubstantio, conversão da
substância, foi empregado primeiro por Hildeberto de Tours, falecido em 1134,
para definir a doutrina. Esta foi decretada primeiro, como artigo de fé, por
influência de Inocêncio III, pelo Quarto Concilio de Latrão, em 1215.

A doutrina declara que quando o sacerdote pronuncia as palavras da consagração


-

Io. A inteira substância do pão fica mudada no mesmo corpo de Cristo que
nasceu da virgem, e se acha agora assentado à destra do Pai no céu, e que toda a
substância do vinho fica mudada no sangue de Cristo.

2o. Que, assim como em sua Pessoa teantrópica a alma não é separável do corpo,
nem a deidade o é da alma, assim também no sacramento a alma e o corpo do
Redentor estão presentes, junto com Sua carne e Seu sangue.

3o. Que somente as espécies, ou qualidades sensíveis do pão e do vinho


permanecem, accidentia sine subjecto, e que a substância da carne e do sangue
está presente sem seus acidentes.

4o. Que esta conversão das substâncias é permanente, de modo que a carne e o
sangue permanecem para sempre e devem ser conservados e adorados como tais.
Baseiam essa doutrina nas Escrituras (Hoc estcorpus meum), na tradição e na
autoridade de certos concílios.

13. Por quais motivos a igreja católica romana recusa o cálice ao povo e só o
concede ao sacerdote oficiante? E qual é sua doutrina sobre “concomitância”?

Desde o tempo da Igreja Primitiva a Igreja Cristã, durante séculos, a Igreja


Grega e as igrejas protestantes, até ao tempo presente, seguem o exemplo de
Cristo e Seus apóstolos distribuindo entre todos os comungantes tanto o vinho
como o pão, “sub utraque forma”. A igreja católica romana, porém, temendo
que, sem intenção alguma, seja profanada parte da Pessoa do Senhor, concede o
cálice somente ao minis|ro oficiante. A única exceção admitida é quando o papa
dá o cálice aos cardeais na quinta-feira (chamada) santa. A guerra hussita teve
por finalidade principal conseguir para o povo o privilégio de receber ambas as
espécies na comunhão. Em defesa do seu costume, os teólogos inventaram a
doutrina de que Cristo acha-se totalmente presente em cada um dos elementos. A
essa doutrina Tomás de Aquino foi quem primeiro deu o nome de
concomitância. No corpo acham-se incluídos os nervos, os músculos e tudo o
mais que é necessário para um corpo inteiro; e como o sangue é inseparável da
carne, e a alma o é do corpo, como também a deidade o é da alma, segue-se que
a Pessoa inteira do Redentor se acha presente em qualquer porção dos dois
elementos, ao se fazer a separação. Aquele, pois, que recebe qualquer fração do
pão recebe sangue bem como carne, porque recebe o Cristo todo.

14. Quais os argumentos que provam que a doutrina católico--romana da


relação do sinal com a coisa significada é contrária as Escrituras e também à
razão?

Io. O único argumento bíblico dos católicos romanos é tirado das palavras da
instituição: “Este é meu corpo” - Mat. 26:26. Os protestantes respondem: “Essa
frase, nesse lugar, quer dizer necessariamente, “este pão representa, ou
simboliza, meu corpo”. Isso é evidente - (1) Porque muitas vezes não se
pode deixar de interpretar assim linguagem semelhante nas Escrituras,e. g., Gên.
41:26- “As sete vacas formosas são* sete anos; as sete espigas formosas também
são sete anos”. Dan. 7:24 - “Os dez cornos serão dez reis” (Figueiredo, aqui
mais de acordo com o hebraico; igualmente a NIV: “Os dez chifres são dez
reis...”. Ez. 37:11: “Estes ossos são toda a casa de Israel”. Mat. 13:19,38 - “Este
é o que foi semeado”; “O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do
reino”. Apoc. 1:20 -“As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete
castiçais são as sete igrejas”. (2) No caso em foco, o fato de Cristo achar-Se
corporalmente presente, assentado à mesa, quando pronunciou as palavras, e o
fato dEle mesmo comer do pão, torna outra qualquer interpretação impossível.
(3) Também o que Cristo disse do cálice torna impossível outra
interpretação: “Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue” - Luc. 22:20.
“Isto (o cálice) é o meu sangue” - Mat. 26:28. Diz o apóstolo Paulo (1 Cor.
10:16) que o cálice é akoinonía do sangue, e que o pão é a koinonía do corpo de
Cristo.

2o. Paulo chama pão um dos elementos, tanto antes como depois da sua
consagração - 1 Cor. 10:16; 11:26-28.

3o. Essa doutrina contradiz a sua própria definição de sacramento. Os católicos


romanos, bem como os protestantes e os antigos pais, distinguem duas coisas em
qualquer sacramento, a saber, o sinal e a coisa significada. Veja acima,

A Vulgata Latina aqui temsunt, são. Figueiredo afastou-se e pôs “denotam”. Nota
do tradutor.

Cap. 41, Perg. 2. Mas a doutrina da transubstanciação confunde essas coisas.

4o. Os sentidos, dentro da esfera que lhes é própria, são uma forma de revelação
de Deus como qualquer outra. Nenhum dos milagres narrados na Bíblia
contradizia os sentidos, mas, ao contrário, a realidade dos milagres
ficava estabelecida pelo testemunho dos sentidos. Veja a transformação da água
em vinho - João 2:1-10, e também Luc. 24:36-43. Mas a doutrina da
transubstanciação contradiz absolutamente os sentidos, porque para a vista, o
cheiro, o sabor e o tato os elementos são pão e vinho depois da
consagração como o eram antes.

5o. Também a razão, na esfera que lhe é própria, é uma forma de revelação
divina; e, posto que outra revelação, quer sobrenatural quer não, possa
transcendê-la, nunca pode estar em contradição com ela. Veja acima, Cap. 3,
Perg. 14. Mas a doutrina da transubstanciação contradiz os princípios da
razão (1) com respeito à natureza do corpo de Cristo, ensinando que, apesar de
ser material, pode estar, sem divisão, no céd e em muitos lugares diferentes deste
mundo ao mesmo tempo. (2) Sustentando que o corpo e o sangue de Cristo estão
presentes no sacramento, sem nenhuma de suas qualidades sensíveis, e que todas
as qualidades sensíveis de pão e de vinho estão presentes, apesar de se acharem
ausentes as substâncias a que elas pertencem. Todavia qualidades não podem ter
existência à parte dos corpos a que pertencem.

6o. A doutrina da transubstanciação é parte inseparável de um sistema de astúcia


sacerdotal que é inteiramente anticristão e que inclui a adoração da hóstia, o
sacrifício da missa, e assim a substituição completa de Cristo e Sua obra pelo
sacerdote e suas obras. Essa doutrina também sujeita de maneira blasfema a
majestosa divindade de nosso Salvador ao domínio de Suas criaturas pecadoras,
para que a seu bel-prazer O façam vir do céu, e O dêem ou se recusem a dá-lo ao
povo.

15. Como se pode expor a teoria luterana quanto à natureza da presença de


Cristo na eucaristia?

Os luteranos sustentam - Io. A communicatio idiomatum, ou seja, que a união


pessoal das naturezas divina e humana envolve ao menos o fato de a humanidade
participar da onipresença da Deidade. Por isso a Pessoa inteira do
Deus encarnado, em corpo, alma e deidade, está presente em toda parte. 2o. Que
se deve entender literalmente a linguagem de que se serviu o nosso Senhor na
instituição: “Este (pão) é o meu corpo”.

Logo, eles afirmam - Io. Que a Pessoa inteira, o corpo e o sangue de Cristo, está
real e corporalmente presente em, com e sob os elementos sensíveis. 2o. Que são
recebidos na boca. 3o. Que tanto o incrédulo como o crente os recebem, com a
ressalva de que o incrédulo os recebe para sua própria condenação.
Por outro lado, eles negam - Io. A transubstanciação, sustentando que o pão e o
vinho permanecem (quanto à sua substância) o que parecem ser. 2o. Que a
presença de Cristo no sacramento é efetuada pelo ministro oficiante. 3o. Que
a presença de Cristo nos elementos é permanente. Afirmam que, sendo
sacramental, cessa quando se conclui o sacramento. 4o. Que o pão e o vinho só
representam o corpo de Cristo. 5o. Que a presença do corpo e do sangue
verdadeiros é “espiritual”, no sentido de ser mediada ou (a) pelo Espírito Santo,
ou (b) pela fé daquele que recebe o sacramento.

16. Como expor a doutrina das igrejas reformadas?

A atividade de Lutero como reformador estendeu-se do ano de 1517 ao ano de


1546; a de Melanchton, de 1521 a 1560; a de Zwínglio, de 1518 a 1531; a de
Calvino, de 1536 a 1564. O “Colóquio de Marburgo ocorreu em outubro de
1529; a Confissão de Augsburgo foi publicada em junho de 1530, e a primeira
edição dasInstitutas de Calvino foi lançada em Basiléia, em 1536, e a obra
completa, em Genebra, em 1559.

Io. Zwínglio afirmava que o pão e o vinho são

simplesmente memoriais do corpo de Cristo ausente, no céu. Esta sua opinião


prevaleceu primeiro entre as igrejas reformadas e foi incorporada na obraFidei
Ratio, de Zwínglio, enviada à dieta (assembléia) realizada em Augsburgo, em
1530; na Confessio Tetrapolitana, de Martinho Bucer, 1530; na
Primeira Confissão de Basiléia, de Oswaldo Micônio, 1532; e na
Primeira Confissão Helvética, de Bullinger, Micônio e outros, 1536.

2o. Galvino situou-se num terreno intermediário entre os zwinglianos e os


luteranos. Sustentava - (1) Em comum com Zwínglio e com todas as igrejas
reformadas que as palavras, “Este é o meu corpo”, significam “este pão
representa o meu corpo”. (2) Que neste sacramento Deus oferece a todos, e a
todos os comungantes dá, mediante o seu ato de comerem o pão e beberem o
vinho, todos os benefícios sacrificiais da redenção realizada por Cristo. (3)
Ensinava também que, além disso, o próprio corpo e sangue de Cristo, posto que
ausentes, no céu, comunica ao crente, no ato de receber os elementos,
uma influência vivificadora. Essa influência é real e viva, mas (a) é mística, não
física; (b) é comunicada por intermédio do Espírito Santo, e (c) tem como
condição, da parte do comun-gante, fé para recebê-la. Esta doutrina acha-se
exposta principalmente nas Institutas de Calvino, Liv. 4, Cap. 17; na
Conf. Gálica, Art. 36, formulada por um Sínodo em Paris, em 1559; na Conf.
Escocesa, Art. 21, por João Knox, 1560; e na Conf. Belga, Art. 35, de Von Bres,
1561.

3o. Depois de perdida toda a esperança de reconciliação dos ramos luteranos e


reformados da igreja sobre este assunto, Calvino compôs o Consensus Tigurinus,
em 1549, com o fim de unir o partido zwingliano de Zurich e o calvinista
de Genebra numa só doutrina sobre a eucaristia. Foi aceito pelos dois partidos, e
a doutrina nele apresentada daí por diante tem sido recebida como a doutrina das
igrejas reformadas. Predomina na Segunda Confissão Helvética, de Bullinger,
1564; no Catecismo de Heidelberg, por Ursino, discípulo de Melanchton, 1562;
nos Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana,

1562, e na Confissão de Fé, de Westminster, 1648.

Todas elas estão de acordo -

Io. Quanto à “presença” da carne e do sangue de Cristo, (1) Sua natureza humana
está somente no céu. (2) Sua Pessoa como D eus-homem é onipresente e,
portanto, está em toda parte e sempre, e a nossa comunhão é com Sua Pessoa
inteira, e não (somente) com Sua carne e sangue. (Veja acima, Cap.lB, Pergs. 13
e 16.) (3) A presença da Sua carne e do Seu sangue no sacramento não é física
nem local, e sim somente pelo Espírito Santo, que pela graça influencia neste
sentido a alma.

2°. Quanto àquilo que o crente come e de que se sustenta, elas (as Confissões)
todas concordam em que não é a “substância”, mas sim a virtude (poder) e a
eficácia do Seu corpo e do Seu sangue, isto é, sua virtude sacrificial,
como quebrado e derramado pelo pecado.

3o. Quanto aos crentes “comerem” esse “corpo e sangue”, elas concordam em
que - (1) Não é de modo algum com a boca. (2) É somente com a alma. (3) E
pela fé, que é a boca ou a mão da alma. (4) Pelo ou mediante o poder do Espírito
Santo. (5) Não se limita à celebração do sacramento, mas acontece sempre que
se exerce fé em Cristo. -Bib. Rep., abril de 1848.
A EFICÁCIA DO SACRAMENTO DA CEIA DO SENHOR

17. Qual a doutrina da igreja católica romana quanto à eficácia da eucaristia,


em que sentido ela sustenta que é também um sacrifício, e em que fundamento se
baseia para ensinar isso?

Os católicos romanos distinguem entre a eucaristia como sacramento e como


sacrifício. Como sacramento, seu efeito é que ex opere operato o comungante
que não lhe põe óbice é nutrido espiritualmente, santificado e provido de
merecimento pela real e verdadeira substância do Redentor comida e bebida.

Por outro lado - “O sacrifício da missa é uma oblação externa do corpo e do


sangue de Cristo oferecidos a Deus em

reconhecimento do Seu domínio supremo, sob a aparência de pão e de vinho


mostrados visivelmente por um ministro legítimo, com o acréscimo de certas
orações e cerimônias prescritas pela igreja para assim dar-se melhor culto a Deus
e edificar-se mais o povo” - Pedro Dens, vol. 5, pág. 358.

Com respeito à sua finalidade, esta deve distinguir-se nos seguintes atos e
aspectos:

Io. Latreuticum, ato de adoração suprema oferecida a Deus.

2o. Eucharisticum, ação de graças.

3o. Propitiatorium, expiação dos pecados e propiciação de Deus, efetuadas pelo


sacrifício que se torna a fazer do corpo e do sangue de Cristo.

4o. Imperatorium, porque por meio dele alcançamos muitas bênçãos espirituais e
temporais - Pedro Dens, vol. 5., pág. 368.

A diferença entre a eucaristia como sacramento e como sacrifício é muito grande


e é dupla. Como sacramento, a consagração põe-lhe fim; como sacrifício, toda a
sua eficácia consiste em sua oblação (oferecimento). Como sacramento, é fonte
de mérito para o comungante digno; como sacrifício, não só é fonte de mérito,
mas também de satisfação, porque expia os pecados dos vivos e dos mortos -
Cat. Rom., Parte 2, Cap. 4, Perg. 55; Cone. de Trento, Sess. 22.

Fundamentam essa doutrina na autoridade da igreja e recorrem absurdamente a


Malaquias 1:11, como se houvesse aí uma profecia deste sacrifício repetido
perpetuamente, e à declaração encontrada em Hebreus 7:17, de que Cristo
é “sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque”, o qual, dizem
eles, desempenhou as funções de sacerdote oferecendo pão e vinho a Abraão -
Gên. 14:18.

18. Como se pode refutar essa doutrina?

Io. Não tem fundamento algum nas Escrituras. O apelo para a profecia de
Malaquias e para a relação típica de Melquisedeque com Cristo é patentemente
um absurdo.

2o. Fundamenta-se unica e exclusivamente na doutrina

da transubstanciação, a qual foi refutada acima, Perg. 14.

3o. O sacrifício de Cristo na cruz foi sacrifício perfeito e, por sua própria
natureza essencial, exclui todos e quaisquer outros-Heb. 9:25,28; 10:10-
14,18,26,27.

4o. Não está em harmonia com as palavras da instituição proferidas por Cristo -
Luc. 22:19; 1 Cor. 11:24-26. O sacramento comemora o sacrifício de Cristo na
cruz, e, por conseguinte, não pode ser, ele mesmo, um novo
sacrifício propiciatório. Pela mesma razão, a essência de um sacramento é
diferente da de um sacrifício. Os dois não podem coexistir na mesma
ordenança. :

5o. Pertencia à própria essência de todos os sacrifícios propiciatórios, tanto dos


sacrifícios típicos do Velho Testamento como do sacrifício totalmente perfeito de
Cristo, que se tirasse vida, que se derramasse sangue, porque a vítima sofria
viçariam ente a pena da lei - Heb. 9:22. Mas os próprios papistas chamam à
missa um sacrifício incruento, e nela ninguém sofre dor ou morte.

6o. Onde há sacrifício deve haver sacerdotes para o oferecerem; mas o ministério
cristão não é sacerdócio. Veja acima, Cap. 24, Perg. 21. v>r; chiv

19. Qual é a teoria luterana quanto à eficácia do sacramento?

A teoria luterana quanto a este ponto é que a eficácia do sacramento não está nos
sinais, e sim na Palavra de Deus que os acompanha, e que ela só é operante
quando o comungante tem verdadeira fé. Este efeito é idêntico ao da Palavra e
pela fé inclui os benefícios da comunhão viva com Cristo e todos os frutos dela.
A teoria dá, porém, muita importância à virtude ou poder do corpo e do sangue
verdadeiros, presentes em, com e sob as espécies do pão e do vinho. Este corpo e
seu sangue são recebidos fisicamente tanto pelos incrédulos como pelos fiéis,
mas é só nestes que, pela graça divina, eles se tornam eficazes - Pequeno Cat.,
de Lutero, Parte 5; Conserv. Reform., por Krauth, págs. 825-829.

20. Qual a teoria chamada zwingliana, remonstrante e soci-niana quanto à


eficácia da eucaristia?

Zwínglio faleceu prematuramente. Sua teoria a respeito dos sacramentos era,


sem dúvida alguma, muito imperfeita. Se não morresse tão cedo, teria por certo
acompanhado seus discípulos em unir-se a Calvino na aceitação do
Consensus Tigurinus. A doutrina conhecida por seu nome e realmente sustentada
pelos socinianos e pelos remonstrantes, difere da dos reformados - Io. Em fazer
dos elementos meros sinais; e em negar que Cristo esteja presente na eucaristia
de algum modo. 2o. Em negar que os sacramentos são meios de graça, e em
sustentar que são apenas atos de comemoração e insígnias da profissão cristã.

21. Qual é a teoria das igrejas reformadas sobre este assunto?

Elas rejeitam a teoria católico-romana, segundo a qual a

eficácia do sacramento é-lhe inerente fisicamente como sua propriedade


intrínseca, assim como o calor é inerente ao fogo. Rejeitam também a teoria
luterana, até onde ela atribui ao sacramento uma virtude ou poder sobrenatural e
inerente, não devida realmente aos sinais e sim à Palavra de Deus que
os acompanha, mas que, todavia, é sempre operante, contanto que o comungante
tenha fé. E, em terceiro lugar, elas rejeitam a doutrina dos socinianos e outros, de
que o sacramento nada mais é do que uma insígnia de profissão da religião
cristã, ou um vago sinal de Cristo e Seus benefícios. Elas ensinam que
o sacramento é um eficaz meio de graça; porém a sua eficácia não é atribuída a
alguma virtude nele existente, nem ao que o administre, e sim, unicamente, à
operação do Espírito Santo (vírtus Spiritus Sancti extrinsecus accedens),
exatamente como no caso da Palavra. O sacramento possui, sem dúvida, a
virtude moral e objetiva de um emblema significativo e, como selo, ele
realmente comunica a todo crente a graça da qual é sinal, e ocupa um lugar
especial como o rito em que Cristo e Seu povo se encontram; mas a sua virtude
de comunicar ou transmitir

graça depende inteiramente, como sucede com a Palavra, da cooperação do


Espírito Santo. Segue-se que essa virtude não está de modo algum ligada ao
sacramento, e pode ser exercida sem ele; não o acompanha sempre, e não se
limita ao tempo e ao lugar onde se celebra o sacramento, e nem a este-Bib.
Ref, abril de 1848; veja Conf Gal., Arts. 36 e 37; Helv., ii, c.21; Conf Escocesa,
Art. 21; Os Trinta e Nove Artigos da Igreja Anglicana, Arts. 28 e 29; e também
os nosso símbolos, e. g., Conf. de Fé, Cap. 29, § 7.

22. Que ensinam os nossos símbolos a respeito das qualificações necessárias


para admissão à mesa do Senhor?

Io. Somente aqueles que foram verdadeiramente regenerados pelo Espírito Santo
têm as qualificações necessárias, e somente aqueles que professam fé em Cristo
e andam em conformidade com essa profissão devem ser admitidos
à participação na Ceia do Senhor.

2o. Pessoas más ou ignorantes, e as que sabem que nunca foram regeneradas, não
possuem as qualificações necessárias e não devem ser admitidas pelos oficiais
das igrejas - Conf de Fé, Cap. 29, § 8; Cat. Maior, Perg. 173.

3o. Mas, apesar do fato de que há muitos que duvidam que estão em Cristo,
todavia, são cristãos verdadeiros; por isso, se aquele que duvida assim realmente
deseja ser achado em Cristo e apartar-se da iniqüidade, ele deve procurar meios
de resolver as suas dúvidas e, fazendo isso, chegar-se à mesa do Senhor para
receber mais força espiritual - Cat. Maior, Perg. 172.

4o. “Às crianças nascidas no grêmio da Igreja visível e dedicadas a Deus no


batismo, quando chegam à idade da discrição, se não tiverem dado motivo para
escândalo, parecerem sóbrias e cordatas, e tiverem conhecimento suficiente para
discernir o corpo do Senhor, deve-se ensinar que é seu dever e privilégio chegar-
se à Ceia do Senhor”. “Não se pode fixar precisamente os anos da discrição nos
cristãos jovens.

É necessário deixar isso ao critério da sessão da igreja (o conselho)” - Diretório


para o Culto, Cap. 9.
23. Qual costume a este respeito prevalece nas diversas igrejas, e quais os
princípios em que se funda?

Io. Segundo os católicos romanos, a salvação depende de a pessoa estar em união


com a igreja e de ser-lhe obediente, e, por conseguinte, eles admitem aos
sacramentos todos os que exprimem o desejo de conformar-se e obedecer.
“Ninguém”, porém, “com consciência de pecado mortal, ainda que se
julgue sumamente contrito, se houver oportunidade de recorrer a um confessor,
deve chegar-se à sagrada eucaristia sem antes proceder à/éonfissão sacramental”
- Cone. de Trento, Sess. 13, Cap. 7 e Cân. 11. Os luteranos concordam com eles
em admitirem todos os que se conformam às exigências externas da igreja.

2o. Os episcopais extremos e outros que consideram os sacramentos como em si


mesmos meios eficazes de graça sustentam que mesmo aqueles que sabem que
não têm em si nenhum dos frutos do Espírito, mas que têm fé especulativa no
evangelho, e estão livres de escândalo, devem ser admitidos, se desejarem
participar. '

3o. Segundo a doutrina e a praxe de todas as igrejas evangélicas, a Ceia do


Senhor foi instituída unicamente para os crentes e, por isso, deve-se exigir de
todos os que quiserem participar uma profissão digna de crédito de fé em Cristo
e a promessa de Lhe obedecerem. (1) As igrejas batistas, negando inteiramente
às crianças o direito de serem membros da igreja, recebem como vindos do
mundo todos os que pedem admissão, e por isso exigem de todos provas
positivas do novo nascimento. (2) Todas as igrejas pedobatistas, sustentando
que todas as crianças batizadas já são membros da igreja, fazem uma distinção
entre a admissão dos filhos da igreja à Ceia do Senhor e a admissão à igreja dos
não batizados que eram do mundo e inteiramente estranhos à igreja. Com relação
aos

primeiros, presume-se que virão à mesa do Senhor quando chegarem “à idade da


discrição, se não tiverem dado motivo para escândalo, parecerem sóbrios e
cordatos, e tiverem conhecimento suficiente para discernir o corpo do
Senhor”. No caso dos mundanos não batizados, presume-se que são estranhos
enquanto não fizerem profissão digna de crédito de que foram
transformados. ^ - v r-r}**

24. Como se pode provar que, segundo a intenção de Cristo, a Ceia do Senhor
não épara os não renovados?
E evidente que foi instituída somente para os que têm a preparação espiritual
necessária para fazer aquilo que todo comungante professa fazer no próprio ato
de participar do sacramento. Esta ordenança é essencialmente -

Io. Uma profissão de (fé em) Cristo.

2o. Um pacto solene em que o comungante professa aceitar a Cristo e Seu


evangelho e promete fazer o que deve fazer todo discípulo do Senhor.

3o. Um ato de comunhão espiritual com Cristo.

As qualificações necessárias para comungar dignamente são, pois, tal


conhecimento e tal estado espiritual que habilitem o comungante a discernir
inteligente e verdadeiramente nos emblemas (ou sinais, ou símbolos) o corpo do
Senhor como sacrificado pelo pecado, a fazer pacto com Ele na aliança
do evangelho, e a ter comunhão com Ele por Seu Espírito.

25. Que é que a igreja e seus oficiais têm o direito de exigir daqueles que eles
admitem à Ceia do Senhor?

“Os oficiais da igreja são os juizes das qualificações daqueles que eles admitem
à participação nos sacramentos.” Eles “examinarão sobre o seu conhecimento e
piedade aqueles que forem assim admitidos” - Diretório para o Culto, Cap. 9.
Não tendo Deus dado a nenhum desses oficiais o poder de ler o coração, segue-
se que as qualificações das quais eles são juizes são simplesmente as de
conhecimento suficiente, pureza de

vida e uma profissão digna de crédito de fé em Cristo. (Por “digna de fé” não se
entende aquilo que convence, e sim aquilo que se pode considerar como
verdadeiro.) E de seu dever examinar o candidato quanto ao seu conhecimento,
observar a sua vida e indagar a respeito dela, explicar-lhe com fidelidade quais
as qualificações espirituais e internas necessárias para se comungar dignamente,
e ouvir a sua profissão de fé e o seu propósito espirituais. A responsabilidade do
ato fica então com a pessoa que faz a profissão, e não com a sessão ou conselho
da igreja, a cujo fespeito nunca se deve entender que os oficiais passam juízo
sobre as provas apresentadas, ou sobre a validade delas.

26. Qual a diferença que a respeito deste ponto há entre as igrejas presbiteriana
e congregacional?
Entre essas duas corporações de cristãos existe uma diferença em suas opiniões
tradicionais e sua prática a respeito da capacidade, do direito e do dever dos
oficiais das igrejas de formarem e afirmarem um juízo oficial positivo sobre o
caráter interno e espiritual dos que lhes são apresentados para serem admitidos
aos privilégios da igreja. Por uma “profissão digna de crédito” os
congregacionais entendem provas positivas de experiência religiosa tais que
produzam nos oficiais juizes a convicção de que as pessoas admitidas são
regeneradas. Os presbiterianos, porém, entendem por essa frase somente
uma profissão inteligente de verdadeira fé espiritual em Cristo, e que não seja
desmentida pela vida.

O Dr. Candlish, em Edinburgh Witness, de 8 de junho de 1848, diz: “O princípio


(de comunhão), como é notório que sempre foi mantido pela Igreja
Presbiteriana, não constitui os pastores, os presbíteros ou os demais membros em
juizes da conversão verdadeira do candidato, mas, pelo contrário, lança sobre o
próprio candidato grande parte da responsabilidade. E preciso que o ministro e a
sessão ou conselho da igreja se satisfaçam quanto ao conhecimento, à profissão
digna de

crédito e à vida santa de quem pede que seja recebido na igreja. E preciso que
eles determinem negativamente que não há motivo para dizer que ele não é
cristão; mas eles não tomam sobre si a responsabilidade de julgar positivamente
a sua conversão. Esta é a regra presbiteriana de disciplina e, quer se considere
boa ou má, difere muito da dos congregacionais. Na prática, tanto uma regra
como a outra dão lugar a que se fale seriamente à consciência, e as pessoas sem
conhecimento e cuja profissão não seja digna de crédito são excluídas (ou não
são recebidas).

EXPOSIÇÕES ECLESIÁSTICAS AUTORIZADAS

DOUTRINA ROMANA - DOUTRINA DA EUCARISTIA COMO


SACRAMENTO ECOMO SACRIFÍCIO-Cone. de Trento, Sess. 13, Cân. 1:
“Se alguém negar que no santíssimo sacramento da eucaristia se contêm
verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue, juntamente com a alma e
a divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, e, por conseguinte, todo o Cristo, e
disser que (Cristo) está nele somente como em sinal, figura ou virtude; seja
anátem”.

Cân. 2 - “Se alguém disser que no sacrossanto sacramento da eucaristia fica a


substância do pão e do vinho, juntamente com o corpo e o sangue de nosso
Senhor Jesus Cristo; e negar aquela singular e admirável conversão de toda a
substância de pão em corpo e de toda a substância de vinho em sangue, ficando
somente as espécies (acidentes) de pão e de vinho; cuja conversão a
igreja romana com suma propriedade chama transubstanciação; seja anátema”.

Cân. 3 - “Se alguém negar que no venerável sacramento da eucaristia, debaixo


de cada uma das espécies, e debaixo de cada parte destas espécies, quando elas
se dividem, encerra-se todo o Cristo; seja anátema”.

Cân. 4 - “Se alguém disser que no admirável sacramento da eucaristia, depois da


consagração, não estão o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, mas
somente no uso,

quando se recebe, e nem antes nem depois; e que nas hóstias ou partículas
sagradas, que se guardam, ou sobejam, não fica o verdadeiro corpo do
Senhor; seja anátema”.

Cân. 6 - “Se alguém disser que o Unigênito Filho de Deus no santo


sacramento da eucaristia não se deve adorar com culto de latria também
externo; e que por isso nem se deve venerar com festividade particular, nem
se deve levar solenemente nas procissões, segundo o louvável rito e costufne
da igreja universal (católica); ou que se não deve expor publicamente ao
povo, para ser adorado, e que seus adoradores são idólatras; seja anátema”.

Cân. 7 - “Se alguém disser que não é lícito reservar no sacrário a sagrada
eucaristia, mas que imediatamente após a consagração deve ser distribuída
aos circunstantes; ou que não é lícito levá-la aos enfermos pomposamente;
seja anátema”.

Cân. 8 - “Se alguém disser que Cristo, na eucaristia, só é comido


espiritualmente, e não também sacramental e realmente; seja anátema”.

Cân. 10 - “Se alguém disser que não é lícito ao sacerdote que celebra, dar a
Comunhão a si mesmo; seja anátema”.

Sessão 21, Cân. 1 - “Se alguém disser que todos e cada um dos fiéis de
Cristo, por preceito de Cristo, e necessidade de salvação, devem receber
ambas as espécies do ss. sacramento da eucaristia; seja anátema”.
Cân. 2 - “Se alguém disser que a santa igreja católica, sem ter justas causas
e razões, se resolvera a conceder a comunhão aos leigos e aos clérigos que
não celebram, debaixo da espécie de pão somente, ou que nisto errara; seja
anátema”.

Cân. 3 - “Se alguém negar que Cristo, todo inteiro, fonte e autor de todas as
graças, se recebe debaixo da espécie só de pão; porque, como muitos
afirmam com falsidade, não se recebe conforme a instituição de Cristo,
debaixo de ambas as espécies; seja anátema”.

Sessão 22, Cân. 1 - “Se alguém disser que na missa não se oferece a Deus
verdadeiro sacrifício; ou que oferecê-lo não é outra coisa do que dar Cristo
a nós para o comun-

garmos; seja anátema”.

Cân. 2 - “Se alguém disser que Cristo não instituiu os apóstolos sacerdotes,
naquelas palavras: fazei isto em minha comemoração; ou que não ordenou
que eles e os demais sacerdotes oferecessem o seu corpo e o seu sangue; seja
anátema”.

Cân. 3 - “Se alguém disser que o sacrifício da missa é somente de louvor e


ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício feito na cruz; mas não
propiciatório; ou que só aproveita ao que comunga; e que não se deve
oferecer pelos vivos e pelos defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e
outras necessidades; seja anátema”.

Cân. 8 - “Se alguém disser que as missas em que comunga só o sacerdote são
ilícitas... seja anátema”.

Cap. 2 - “Como neste divino sacrifício, que na missa se exercita, encerra-se e


é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma vez
cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmo... portanto, com
razão, conforme a tradição apostólica, se oferece, não só pelos pecados,
penas, satisfações e outras necessidades dos fiéis vivos, mas também pelos
que morreram em Cristo, não estando plenamente purificados”.

Belarmino, Controv. de Eucharistia, v. 5: “O sacrifício da missa não possui


eficácia ex opere operato segundo a maneira de um sacramento. O sacrifício
não opera eficaz e imediatamente, nem é ele propriamente o meio de
que Deus Se serve para tornar alguém justo. Não o torna
justo imediatamente como o fazem o batismo e a absolvição, mas impetra o
dom da penitência, por meio da qual se opera no pecador a vontade de
chegar-se ao sacramento para ser por ele justificado... O sacrifício da Missa
é o que alcança, não só benefícios espirituais, mas também temporais, e por
isso pode ser oferecido pelos pecados, penas e quaisquer necessidades”.

DOUTRINA LUTERANA - Conf. de Augsb., Parte 1, Art. 10; Apol. da Conf.


de Augsb., pág. 157 (Hase); Form. Concordice, Parte 1, Cap. 7, § 1: “Nós
cremos, ensinamos e professamos que, na Ceia do Senhor, o corpo e o
sangue

de Cristo estão verdadeira e substancialmente presentes e que se distribuem e se


recebem verdadeiramente junto com o pão e o vinho. § 2. As palavras de Cristo
(isto é o meu corpo) devem ser entendidas somente no seu sentido estritamente
literal; de maneira que, nem o pão significa o corpo ausente de Cristo, nem o
vinho o sangue ausente de Cristo, e sim de modo que, por causa da
união sacramental, o pão e o vinho são verdadeiramente o corpo e o sangue de
Cristo. § 3. - Quanto ao que diz respeito à consagração, nós cremos, etc., que
nenhum ato humano, e nenhuma das palavras pronunciadas pelo ministro
da igreja, são a causa da presença do corpo e do sangue de Cristo na Ceia, mas
que isso deve ser atribuído unicamente ao poder onipotente de nosso Senhor
Jesus Cristo”. § 5: “Os motivos, porém, pelos quais contendemos a este respeito
contra os sacramentalistas, são estes... O primeiro motivo é um artigo da nossa fé
cristã, e vem a ser que Jesus Cristo é verdadeiro, essencial, natural e perfeito
Deus e homem, e em unidade de pessoa inseparável e indivisível. O segundo é
que a destra de Deus está em toda parte; mas aí Cristo foi posto real e
verdadeiramente, quanto à Sua humanidade, e, por conseguinte, achando-Se
presente, Ele reina e tem em Suas mãos e debaixo de Seus pés todas as coisas
que estão no céu e na terra. O terceiro é que a Palavra de Deus não pode ser
falsa. O quarto é que Deus conhece e tem em seu poder diversos modos pelos
quais lhe é possível estar num lugar (presente), e não está limitado a um único
modo de presença, a que os filósofos costumam chamar local ou circunscrito. §
6: Nós cremos, etc., que o corpo e o sangue de Cristo não são recebidos só
espiritualmente mediante a fé, mas também pela boca, não de uma maneira
física, e sim de uma maneira sobrenatural e celeste, em virtude de uma união
sacramental... § 7: Nós cremos, etc., que não somente os que crêem em Cristo se
aproximam dignamente da Ceia do Senhor, mas também os incrédulos e
indignos recebem o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, de tal modo, porém,
que eles não tiram daí nem consolação nem vida, mas, antes, de modo

que esta recepção virá a ser para seu juízo, a não ser que sejam convertidos e se
arrependam”.

DOUTRINA DAS IGREJAS REFORMADAS -Conf. Gálica, Art. 36: “Ainda


que Cristo esteja agora no céu para ficar ali até quando vier para julgar o mundo,
cremos, todavia, que Ele, pelo poder oculto e incompreensível do Seu
Espírito, nos nutre e nos vivifica com a substância do Seu corpo e do Seu
sangue, apreendidos pela fé”.

Conf. Escocesa: “E ainda que haja grande distância de lugar entre o Seu corpo
glorificado, que está agora no céu, e nós mortais, que estamos agora na terra,
todavia cremos, apesar disso, que o pão que partimos é a comunhão do
Seu corpo, e que o cálice que abençoamos é a comunhão do Seu sangue... Assim
também confessamos que os crentes, no uso devido da Ceia do Senhor, comem
assim o corpo e bebem o sangue de Jesus Cristo; e cremos firmemente que Ele
permanece neles e eles nEle, e, mais ainda, que se tornam de tal modo carne da
Sua carne e osso dos Seus ossos que, assim como a Deidade dá vida e
imortalidade à carne de Jesus Cristo, assim também a Sua carne quando comida,
e o Seu sangue, quando bebido por nós, conferem-nos os mesmos privilégios”.

Conf. Belga, Art. 35. • .: ■

Institutas, de Calvino, Livro 4, Cap. 17, § 10: “Em suma, a carne e o sangue de
Cristo alimentam a nossa alma do mesmo modo que o pão e o vinho mantêm e
sustentam a nossa vida corporal... Mas, ainda que pareça coisa incrível que a
carne e o sangue de Cristo, embora tão distantes de nós quanto a lugar, sejam
alimento para nós, lembremos quanto o poder secreto do Espírito Santo excede a
nossa débil capacidade. Aquilo, pois, que o nosso espírito não compreende,
conceba-o a fé; e é que o Espírito Santo une verdadeiramente coisas separadas
pelo espaço. Aquela sagrada comunhão de carne e sangue pela qual Cristo
nos comunica Sua vida, exatamente como se ela penetrasse os nossos ossos e a
nossa medula, Ele testifica e sela em Sua Ceia; e isso Ele não faz apresentando-
nos um sinal vão e vazio, mas o faz exercendo no sacramento uma

eficácia do Espírito pela qual Ele cumpre o que promete. E verdadeiramente a


coisa aí significada ela mostra e oferece a todos os que se assentam para tomar
parte naquele festim espiritual, ainda que somente pelos crentes recebida com
proveito”.

Os Trinta e Nove Artigos, Art. 28: “A Ceia do Senhor é um sacramento da nossa


redenção pela morte de Cristo; de modo que, para os que reta e dignamente, e
com fé, o recebem, o pão que partimos é uma participação do corpo de Cristo; e,
do mesmo modo, o cálice de bênção é uma participação do sangue de Cristo... O
corpo de Cristo dá-se, toma-se e come-se na Ceia de um modo
unicamente celestial e espiritual. E o meio pelo qual se recebe e se come o corpo
de Cristo na Ceia é a fé. O sacramento da Ceia do Senhor não se reserva, nem se
leva em procissão, nem se expõe, nem se adora, em virtude do mandamento
de Cristo”.

Cat. de Heidelberg, Perg. 76: “Que é comer o corpo crucificado de Cristo e


beber o Seu sangue derramado? E não somente apropriar-nos com coração grato
da paixão de Cristo, e receber assim o perdão dos pecados e a vida eterna, mas
também ficarmos, por esse ato, mediante o Espírito Santo, que habita em Cristo
e em nós, unidos mais e mais ao Seu corpo bendito, de modo que,
conquanto esteja Ele no céu e nós na terra, nós, apesar disso, somos carne da Sua
carne e osso dos Seus ossos, e vivemos sempre um só espírito com Ele”.

Conf. de Fé, de Westminster, Cap. 29, § 5: “Os elementos exteriores deste


sacramento, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal
relação com Cristo crucificado que, verdadeira mas só sacramentalmente, são às
vezes chamados pelos nomes das coisas que representam, a saber, o corpo e o
sangue de Cristo; porém em substância e natureza conservam-se verdadeira e
somente pão e vinho, como eram antes”. Id., § 7: “Os que
comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste
sacramento, também recebem interiormente, pela fé, a Cristo crucificado e todos
os benefícios da

Sua morte, e dEle se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real,


verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal
ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles,
mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como
estão os próprios elementos aos seus sentidos corporais”.
índice de Autores e de Assuntos

A Priori, Argumento - Veja Deus

Abelardo - 586

Absoluto, O - 171,176, 177

Acaso, última prova que mostra ser absurda a hipótese da evolução - 47 Adoção
- 718-724

a palavra definida - 718-720 vantagens - 723 Advento, Segundo - Veja Segundo


Advento '

Agrícola, João - 561 Ainsworth - 822 Alexander, Dr A - 75, 388,525 Alexander,


Dr J A - 20, 29, 243, 244 Alexander, Dr Lindsay W - 889 Aliança da Graça -
507-522

Cristo como mediador - 514-516 emprego da palavra berith - 508-510 fé como


condição - 517 história da administração - 519-522 idéia arminiana - 517

opiniões diferentes sustentadas por calvinistas -510-513 Aliança das Obras -


421-429

Adão representou a raça - 423, 424 diferentes sentidos da palavra - 421 doutrina
definida - 421-425 doutrina provada - 422, 423 em que sentido ainda em vigor -
428, 429 natureza da morte prenunciada - 426, 427 partes e condições - 423-
426 selo da aliança - 428 Alogi - 263, 265 Ambrósio de Milão - 123 Amésio -
491, 719

Amyrant - 312 Aniquilacionismo - 427

depois do juízo final - 814-816 durante estado intermediário - 774 Anjos - 337-
348 arcanjo - 339 corpos - 341, 342 da guarda - 343

doutrina romana quanto ao culto prestado - 342 mau - 344-346

natureza, caráteres, títulos, ofícios, ordens e poder -337-340


personalidade de satanás - 344, 345 possessão demoníaca - 347, 348 Anselmo -
54, 585,587 Antinomianismo - 560, 561, 733, 734 Antropologia - 22, 132, 138,
141, 143, 380 da Igreja Grega - 123 Antropomorfismo: bom e mau sentidos -
173, 174 textos bíblicos explicados - 174 Antroponianos - 263 Apol. Conf.
Remonstrante - 463, 622 Apolinariana, Heresias - 535 Apolinário -
535 Apologética - 16

Apologia da Confissão de Augsburgo - 163, 490, 670, 753, 762, 825,840,


841,880,881 Apóstolos não tiveram sucessores - 113 Aquino, Tomás de - 129,
559, 573, 713, 824, 894 Arcanjo - Veja Anjos Argyle, Duque de - 366, 402,
405 Arianos - 135,224,241,264 Ário - 233

Arminianismo - 125, 128, 300-302, 311, 140-143 vocação eficaz - 622, 628,
631 fé justificadora - 701 perfeiçã - 439 pecado original - 458, 459

justiça original - 414 perseverança -757 propiciação - 573, 576 doutrina da


vontade - 399-401

justiça de Deus e os seres humanos perdidos antes de nascerem -


486 justificação - 708-710, 716, 717 punição futura - 820, 821 Arminianos -
202, 203, 271, 278 Armínio, J - 491, 501,740 Arminius, James -
136 Armstrong, Dr Wm - 851, 859 Arnaulos - 130 Arqueologia - 15 bíblica -
19

Arrependimento e a doutrina católico-romana das penitências -678-690

a respeito da confissão - 684, 685

a respeito de absolvição - 686

apreensão da misericórdia de Deus em Cristo - 680

dom de Deus - 679

doutrina católico-romana de penitência - 682-684

doutrina de indulgências - 687, 688

exposição - 682-684
exposições autorizadas - 688-690

frutos - 679, 680

provas - 679, 680

refutação da doutrina católico-romana - 685-687 Artigos de Esmalcalda -


134, 163, 780, 841, 882 Artigos, 39 da Igreja da Inglaterra - 134, 148, 165,
318, 463, 478, 591,754,780,823, 842,882,883,898,912 Ascensão de Cristo -
Veja Cristo Atanásio - 588 Ateísmo - 55, 56 Atributos divinos - 141, 170-
219 Averroes - 63

Batismo - 843-884

a aplicação da graça simbolizada por aspersão e derramamento - 857

a ordem para batizar é uma ordem para lavar, significando purificação - 855,
856 a ordenança é de obrigação perpétua - 845, 846 água o símbolo de
purificação - 843 ,

batismo de João, não cristão - 844 .> .• *

batismo ministrado pelos discípulos antes da ressurreição, inválido - 844,


845 batismos feitos por João e pelos apóstolos - 858-861 .

definido quanto à substância e fórmula - 846, 847 definido quanto ao propósito -


848

doutrina batista quanto ao ensino emblemático do modo de batismo - 852-


862 ensino emblemático - 848-851 ,

modo - 852-862

modos de purificação do Velho Testamento - 857, 858 uso clássico e bíblico de -


852, 853 Pessoas que devem ser batizadas:

e a eficácia do batismo (doutrinas católico-romana, luterana, zwingliana e


reformada) - 875-880 batismo de crianças baseado na constituição da natureza
humana - 862, 863 batismo ocupa o lugar que a circumcisão ocupava -869
Cristo e Seus apóstolos reconheceram que crianças podem se membros de igreja
- 870, 871 doutrinas católico-romana, luterana e reformada -880,881 exposições
autorizadas - 881-884

filhos de quem deve ser batizados? - 874,875 Igreja idêntica sob as duas
dispensações - 866-870 Igreja Visível, sua natureza e seu propósito - 863-866

objeções declaradas e respondidas - 871-873 prática da Igreja Primitiva - 871,


872 regeneração batismal - 878-880 Batistas - 851, 854 Baur, Cristiano -
70 Baxter, Richard - 138,558,580 Beecher, Dr Edward - 484

Belarmino - 415, 418, 461,489,625,628,665,668,669,711,715, 730,732,752,762,


780,826,830,839, 840,881,882,909 Berilo - 266

Bernardo de Ciar aval - 588

Bevan - 889 ,

Beza - 313, 491 Bickersteth, Rev EH- 774 Bingham - 861, 872 Bissel, E Cone -
76 Blunt - 878

Brown, Dr John - 580, 612

Bruce, Dr A B - 532, 539

Bruno, Giordano - 62

Bucer, Martino - 898

Buchanan, Dr James - 56, 63

Bula, Unigenitus - 625

Bullinger - 898

Bushnell - 586

Butler, Bispo - 58

Calcedônia, Credo de - Veja Credos Calvinismo - 143-145,271


doutrina de justiça original - 411, 412, 419 doutrina do desígnio da propiciação -
577-579 Calvino - 130, 133,223,456,490, 580,612,707,838, 844, 873,

881,882,898,911,912 . r> ^ yé:^^i

Cambridge, plataforma - 167 -r ■: \'\ /*. 't^s

Cameron, J - 312, 469 , í ,.t

Candlish, Dr - 588 - •-> -

Capacidade e liberdade distinguidas 466, 467 v ;; -Caráter virtuoso - 389, 390

responsabilidade moral - 398-401 Carlyle - 57

Carson, Dr A - 849, 852, 854

Caso da Igreja da Rua Walnut - 606 .

Catecismos:

Assembléia de Westminster - 134, 148, 150, 268, 331, 349, 355,419,422,


426,431,445,492,501, 513, 558, 559,613, 678,719,722, 726,781,
874,887,888 Concilio de Trento - 157, 417, 418, 439, 636, 668, 684,
685, 686,695,702,778,779,826, 830,838-840,881, 888, 891 Genebra - 827, 841,
882 Escocês - 827

Grande e Pequeno de Lutero - 134, 163, 882 Heidelberg - 134,148,164,


591,669,716,754,842,898,912 Maior, da Igreja Oriental - 780

Racoviano - 135, 420,464,479,554, 555,592,701,702,717, 884

eficácia e necessidade do batismo - 875-884 fé - 658, 660, 663 graça - 631,


632 incapacidade - 477

merecimento de condignidade e de congruência - 734, 735 missa - 899,900,907-


909 . ;

pecado - 439 > , ,


pecado original - 460-462

perfeição - 738-740, 744, 747 perseverança - 757, 761, 762 purgatório e estado
intermediário - 777-779 regeneração - 682-690 sacerdócio cristão -
554 sacramentos - 825, 826, 828-831, 834-840 sacramentos, sua eficácia - 828,
829 transubstanciação - 890-896, 907-909 Ceia do Senhor - 885-913

designações bíblicas e eclesiásticas - 885-887 distribuição dos elementos,


essencial - 891,892 doutrina católico-romana (transubstanciação), exposta
e refutada - 893-896 doutrina católico-romana, como sacramento e
sacrifício (missa), exposta e refutada - 899-901 doutrina de concomitância -
894 doutrina luterana - 897

doutrina luterana da presença de Cristo na - 897 doutrina reformada - 897-899,


902,903 doutrina zwingliana - 902 eficácia de - 899-907 exposições autorizadas
- 907-913 instituição e obrigação perpétua - 885 maneira correta de ministrá-la -
892 motivos por recusar o cálice ao povo - 894 o partir do pão - 889, 890

qualificações necessárias para admissão - 903-907 relação do sinal com a graça


significada - 893-899 tipo de pão e vinho a serem usados - 888, 889 Celestio -
125 Cerinto - 135 '

Certeza da fé - 665-667 Céu e Inferno - 806-821 céu-806-810

eternos - 811-814 ’ 1' ■

natureza da punição futura - 811 o estado do réprobo - 810, 811 objeções


expressas e refutadas - 816-821

teoria de aniquilação ou imortalidade condicional - 814

teoria de restauração - 815,816

termos bíblicos - 806, 807, 810, 811 ;.xí V;J/\

Chemnitz - 501, 532

Christlieb, Dr - 76

Ciência e revelação - 333-336


Ciências físicas - 16

Cocceio - 500,591 Coleridge, S T - 71,79 Communicatio Idiomatum - 531-


533 Comparação de sistemas - 122-145

Constantinopla VI - 124

Éfeso- 123, 125, 534, 536

Latrão IV - 893

Milevo - 125

Nicéia 123, 151,223,233,257,534 Toledo - 123, 257

Trento, decretos - 101, 118, 156, 460, 477, 489, 554, 590, 574, 617,625,636,
646,683,684,685,686,688,690,695, 710-
712,714,735,738,739,740,752,757,761,778, 823, 826, 829, 830,
837,844,891,900,904, 907-909 Vaticano, decretos -
102,118,119,120,121,159,601

Conferência de Leipzig - 131 Confissões:

Augburgo- 131, 133, 134,148, 162, 163,477,682,804,840, 841,880,897, 909-


911 Basiléia - 898 — Belga- 103, 134,463,805,898,911 Igreja Grega Ortodoxa -
160, 589 Remonstrantes - 634, 757 Escocesa - 134, 148, 898, 903 Gálica -
134,463,490, 837, 898,903,911 Inglesa de Eduardo VI - 804 Primeira Helvetica -
898

Segunda Helvetica - 102, 134, 148,164, 478,490, 540, 554, 754,903,

Tetrapolitana - 164, 898

Westminster - 103, 166, 244, 245, 268, 315, 331, 349, 355, 419,422,426,
431,445,479,492, 501,513,541, 558, 559, 578,591,633,
670,676,678,716,726,755,756,771,795, 805,824,826, 827, 828,837,842,
846,874,877,881, 883, 891,903,912,913 Consciência - 384-388 Consensus:

Genevensis - 168
Tigurinus - 167, 898, 902 '

Constable, Rev Henry - 815 Convicção de eleição possível - 307 Cosmológico,


Argumento - Veja Deus Cousin - 63, 136 Credos:

Atanasiano - 148, 153,154, 155,245 Calcedônia - 155 dos apóstolos - 148,


150 Papa Pio IV- 157-159 Credos e Confissões - 146-169 autoridade - 148,
149 como produzidos? - 146 por que necessários? - 146 usos - 148

Crellio, J - 135 • obr.*u 'C • ■

narração mosaica e ciência - 332-336 Criação e estado original do homem - 402-


420 Criacionismo - 484-486 Crisp, Dr Tobias - 561 Cristianismo, provas - 17

opiniões heréticas declaradas - 534-539 profecias do advento - 523-525 Cristo,


reinado medianeiro - 596-618 diferentes aspectos - 596 doutrina das igrejas
reformadas - 603 doutrina erastiana - 602

doutrina romana da relação entre igreja e estado - 601, 602 finalidade de Igreja e
Estado - 603 fins - 597

jurisdições relativas de “Mesas de Curadores” e de “Sessões” - 608, 609 lei


americana - 604-608 ,

quando Cristo tomou sobre Si - 597,598 uso de frases “reino de Deus”, “reino
dos céus”, etc.

-598,599 o

natureza e administração - 599, 600 exposições eclesiásticas autorizadas - 617,


618

Cristo, Seu estado de exaltação - 613-617

Sua “sessão” à direita de Seu Pai - 616, 617 Sua ascensão - 615, 616 Sua
ressurreição - 613-615 Cristo, Seu estado de humilhação - 613-617

Sua descida ao inferno - 611,612 .

Cristo, união dos crentes com - 672-677 base - 674, 675


comunhão dos santos - 676, 677 conseqüências - 675, 676 natureza - 672, 673,
674 Cristo, intercessão de - 593-595 ,

Cristo, Sua deidade - 227-233 Cristologia - 131, 138,143 Crítica, alta, -


18 Crítica, textual - 18 Cunningham, Dr Wm - 482, 492, 558 Curceloea - 138,
573 .

Dabney, Dr Robert L - 506 Dale, Rev James W - 852, 853 Danaeo, L -


490 Darwin, Charles - 45, 47, 56 De Moor - 486 Declaração de Savoy -
167 Decretos de Deus - 268-286

até onde eficazes e permissivos - 280 com o uso de meios - 284, 285

consistentes com livre agência do homem - 281, 282 diferem da antiga doutrina
do fatalismo - 280, 281 dificuldades - 269

doutrina calvinista declarada - 271, 272

doutrina provada - 274-277

efeitos práticos desta doutrina - 286

eternos - 272

incondicionais - 278-280

ordem dos decretos - 310-317

ponto de vista arminiano - 271, 279

santidade de Deus - 283, 284 -u-vmoí soberanos - 277 '.■■'uío.n ^èy-aiL-


t-

Descida ao inferno - 611,612 Desígnio, Argumento de - Veja Deus Deus, Seus


atributos - 141, 143, 170-219 bondade absoluta - 212-215

sabedoria - 198 santidade - 218, 219 simplicidade - 180, 181 soberania - 217,
218 unidade - 183, 226 .

verdade - 216, 217 vontade - 200-204 Deus, Sua existência - 30-32 argumento a
priori - 53-55 argumento bíblico - 52,53 argumento cosmológico - 35
argumento cosmológico, objeções e respostas - 36-38 argumento moral - 48

argumento moral, objeções e respostas - 49-52 argumento teleológico, objeções e


respostas - 41-48 argumento teleológico, em duas formas - 38-41

argumentos formais, valor e classificação - 34, 35 definição nominal - 30

em que sentido inata e em que sentido intuitiva - 32-34 idéia, até onde se deve
tradição - 31 origem da idéia - 30 teorias antiteístas - 55-63 Deus, decretos de -
Veja decretos Deus, Seus atos classificados - 268, 269 não o autor do pecado -
283, 284 Dick, Dr John - 514 Dollinger - 63

Dominicanos - 129, 130 ,

Dona Naturalia e Supernaturalia - 416, 417 Dorner, Dr J A - 58,495,


501,721 Doutrina reformada - 368, 369 Pessoa de Cristo - 540, 541 Doutrina
zwingliana:

Ceia do Senhor, sua eficácia - 902 sacramentos - 827, 832 batismo e sua eficácia
- 877 Doutrinas, História das - 23 Dualismo - 56, 57 Dwight - 587

Ebionitas - 263, 534 Ebrard, Dr - 537 Eclesiologia - 22, 140

Edwards, Jonathan - 63, 352, 393,413,438,446,469,497,638, 643

Eglin, Rafael - 501 Eichhorn - 58, 70

Emmons, Dr - 366, 587, 637, 708, 726

Enciclopédia - 11

Episcopais - 134

Episcópio - 138

Erigena, Scotus - 62, 586 . dó-'

Erskine, Ebenezer - 75, 579 . ’ :: •■■njia‘?d<

Erskine, Ralph 579


acessíveis - 110

autoridade não vem da igreja - 115, 116 completas - 107, 108

doutrina católico-romana quanto à interpretação - 118 inspiração - 80-103,


107 interpretação não vem da igreja -115, 116 juiz de controvérsias - 110, 111,
114-117 perspícuas - 108, 109 r

regra infalível de fé e prática Espírito Santo, Sua deidade e personalidade - 233-


236 Estatística - 16 Estética - 16

Ética cristã - 22 '

Etnologia - 15

Eucaristia - 133 : -

Eusébio de Cesaréia - 27, 265

Eusébio de Nicomédia - 265

Êutico - 534,536

Eutiquianismo - 536

Evolução, teorias da - 44-48

Exaltação, estado de - Veja Cristo

Exegese - 19

Faber, Stanley - 289

Fairbairn, Dr Patrick - 338, 552, 801,808,853 Farrar, A S - 71, 76 Farrar, FW-58,


76, 136

Fé - 648-671 :

“Fides informis” e “fides formata” - 660, 661 <

“Fides specialis” e seu objeto - 663 artigos de fé e artigos de opinião - 661,


662 como relacionada com a confiança - 658

definida - 648-650

distinção católico-romana entre fé implícita e explícita 651,652

doutrina católico-romano - 658, 660, 663 doutrina provada - 659 exposições


autorizadas - 668-671 fé conduz a obras - 667 fé e conhecimento - 650-
655 motivos fundamentais da fé - 655 relação com justificação - 701 relação
entre fé e certeza - 665-667 temporária e viva - 656 Feuerbach - 62 “

Fichte - 70, 79 Filologia bíblica - 18 Filologia Comparativa - 15 Filosofia - 16

sua relação com teologia - 78, 79 Filosofia Aristotélica - 79 Finney, Prof - 744 '

Fisher, Dr G P - 76, 493, 499 Flatt - 587 Fletcher - 522

Flint, Prof Robert - 34, 43, 54, 56

Formula Concordiae - 102, 131, 163, 318, 418,462,477,489, 539, 590,617,618,


623,632,633,647, 716,753, 762, 891, 909-911,

Formula Consensus Helvetica - 168, 169, 478, 492, 591 Franciscanos -


129 Frederico o Grande - 69

Gerhard, João - 318, 223, 322 Gess, DrWF- 537, 538 Gibbon - 293

Gladstone, Hon Wm E - 602 Gnósticos - 56, 264 Gomaro - 313, 482 Graça -
126 .

Green, Prof Wm H - 403, 404 Gregório, o Grande - 588 Grotio - 138, 208, 573,
587
■ ::>■ ••nuigdvq >i

..; >r: ví- '■*1 •

Hagenbach - 71, 536, 537, 825 Hales - 403 ' • ;:üj

Hamilton, Sir Wm - 58, 171, 176, 383, 397, 415 ' • - ■>. t
Hardwicke - 57 Hare, Júlio C - 561

Hermes - 795 Herschell, Sir John - 325 Hetherington - 76 Hilário de Poitiers -


123

distinção entre imagem e semelhança de Deus - 415

doutrina romana do estado original do homem - 416, 417 exposições autorizadas


- 417-420 responsabilidade por disposições inatas - 411-415 teoria pelagiano de
justiça original - 411, 414 ^ Jtricotomia desprovada - 407 unidade da raça
provada - 405, 406 Homilias Clementinas - 135 Hopkins, Dr - 76, 485,
487 Hudson, C F - 774, 815 Humanitarianos - 263 Hume, David - 41

Humiliação, estado de - Veja Cristo .

Hurst - 58, 70 Hutter - 501 Huxley - 47 Hypério - 501

Idealismo - 58, 59

Igreja: ■

doutrina católico-romana de infalibilidade da igreja, expressa - 111 sem


fundamento - 112 idéia, constituição, oficiais, etc. - 23, 24, 25 .

idêntica sob as duas dispensações - 866-870 visível - 863-866 Igreja da


Inglaterra e Igreja Episcopal dos EUA, doutrina delas em relação à “descida ao
inferno” - 611, 612 Igreja e Estado - 601-610

Igreja Grega, doutrina quanto ao modo de batismo - 861 quanto à graça -


632 doutrina de pecado original - 459 Igreja Oriental, doutrina de, quanto ao
estado intermediário -780 Igrejas:

arminianas - 135 batistas - 134 independentes - 134 luteranas - 133

presbiterianas - 134 ^ ,, ,-.ui Ki pwtjimb s:b «wiq

reformadas - 134 -•?- í->f> owavj-cm*;

818L30TCT ‘LH^EY CLARK


931

Introdução Especial -18,19 Introdução Geral - 18 Irineu - 585, 796, 872

Jacobi - 62 Jâmblico - 62

Jansênio - 130 »

Jansenistas - 130, 625

Jesuítas - 129, 367

João Ascusuages - 265

João Filopono - 265

Josefo - 403 - ‘

Jowett, Prof - 71, 586 '

Judeus, futura conversão e restauração - 799, 800 Juízo Final - 801-805 Juízo
Particular - 117 Juliano-125

Justificação - 691-717 '

Calvino justificado - 707

doutrina católico-romana - 683, 684, 694, 695, 710-712 expressa e refutada -


710-714 doutrina definida e provada - 693-699 doutrina errada - 704-714 efeitos
- 703

exposições eclesiásticas autorizadas - 714-717 imputação de justiça provada -


697-700 mas pela justiça ativa e passiva de Cristo - 696, 697 modificado pela
teoria governamental da propiciação pela teoria arminiana - 707-710 não
baseado em obras - 694 objeções expostas e respondidas - 704 objeto específico
da fé justificadora - 702, 703 relação com fé - 701

teoria de Piscator - 705

uso noetestamentário de - 691-693


Kahnis - 71 ‘ • 1 "• >'r\

Kant-79

consistente com certeza - 396

distinção entre liberdade e capacidade - 392, 393 ■ni”v-falsas teorias de


contingência - 396-398 .'uioí tu ■ motivos definidos - 394

pecado original - 462 perseverança - 762 Pessoa de Cristo - 531-533, 539,


540 predestinação - 317, 318 presença de Cristo na eucaristia - 897, 909-
911 regeneração - 647 vocação eficaz - 623 Lutero - 130, 133,489, 531,561,618,
876, 897 Luz interior - 67

Macedônio - 233

Mahan, Prof - 744

Malebranche - 352

Manes - 56, 483

Manning, Arcebispo - 602

Manning, Cardeal - 120

Mansel- 171, 176

“Marrow Men” - 579, 580

Marburgo, Colóquio de - 897

Martensen - 537

Martineau, James - 136

Mártir, Justino - 872

Mártir, Pedro - 490

Mason, Dr John M - 870


Matéria, não eterna - 325-328

Materialismo - 59-61

Maurice - 70

Maurício - 624

Max Müller - 57, 63

McClintock, Dr John - 26, 27, 29, 688

McCosh, Dr James - 189, 384, 388, 430

Melanchthon - 130, 489, 501, 624, 897, 898

Merecimento:

conceito verdadeiro - 735, 736 doutrina católico-romana de merecimento


de condignidade e de congruência - 734, 735 Metodistas wesleyanos - 134,
138 Metodologia - 11

Miller, Hugh - 502

Missa, doutrina da - 887, 899, 900, 907-909 Moehler - 417 Molina, Luiz - 129,
196

Molinistas - 130 , ; l ,;r,. l •>, r

doutrina católico-romana - 777-779

doutrina da alma, descanso ou aniquilação - 773, 774

doutrina do Velho Testamento - 769-771

doutrina neotestamentária - 771

doutrina refutada - 775

Müller, Júlio - 484


Neander, Augustus - 27, 57, 233, 415, 536, 585, 861

Neo-platônicos - 62, 79

Nestoriana, Heresia - 535, 536 .

Nestório - 536

New Haven doutrina de pecado original - 459, 460

Newman, J H - 876

Newton, Sir Isaac - 188

Niceno, Credo - Veja Credos

Nicole - 130

Niemeyer, Dr H A - 169

Noeto - 266

Oberlinense, doutrina da perfeição - 744-748 Ochino - 135 Ofício - Veja


Cristo Oleviano - 501

Orígenes - 265, 266, 585, 775,, 872 Osiander - 586

Parker, Teodoro - 58, 71 Parsons, Dr Theophilus - 790

falta de conformidade com a lei - 432, 433 origem do pecado - 436,437

previsível de estados permanentes como também de atos -434

provas - 430 1 - - k-; • • •

sua natureza - 430-439 Pecado, de Adão - 439-444

efeito sobre ele mesmo - 442

sobre sua posteridade - 443-444 Pecado, imputação do original de Adão - 480-


506 dificuldade está nos fatos-81-482 doutrina agostiniana - 502, 503 bt.rsqmoo
..oitvjnsí.igc: doutrina da igreja provada - 498 :

imputação definida - 493, 494 imputação mediata - 495-498 princípios auto-


evidentes - 482 teoria da igreja - 488

teoria da Nova Inglaterra - 487, 488 ■ ■

teorias de origem que ignoram a origem adâmica

-483,484 b: f

teorias diferentes quanto à propagação do pecado : : -484-486 i.• !' . i

teoria federal - 500-506 1

Pecado, original - 126, 445-464

afeta o homem inteiro - 449, 450 ■

doutrina definida - 445, 446 doutrina provada - 451

doutrinas pelagiana e semipelagiana - 457-459 é verdadeiramente pecado -


448 em que sentido “total” - 450, 451 exposições eclesiásticas autorizadas - 460-
464 não envolve corrupção da substância - 447 não simplesmente perda de
retidão original - 448, 449 New Haven, doutrina de - 459, 460 pecado contra o
Espírito Santo - 457 Peck, Dr. George - 740, 742, 743, 744, 746,
749 Pelagianismo:

de pecado original - 453, 454, 458, 459 de regeneração - 635

perfeição - 737, 738 vocação eficaz - 622 Pelagianismo, comparado com


Agostinianismo - 124, 125 Pelágio - 125, 872

Plaçao, Josué - 495

objeções declaradas e respostas - 574-577 •'*nn-■>'!^

objeções expressas e respostas - 583-585

perfeição - 572-574
teoria da satisfação - 587, 588

teorias mística, da influência moral e governamental -586-588 termos definidos -


556-559 Provas do cristianismo - 17 Providência - 349-379

características expostas pelas Escrituras - 370 doutrina bíblica do governo


providencial expressa e provada - 355-361 extende-se a ações livres e
pecaminosas - 361-363 idéia dos deistas - 350, 351 '

preservação - 349, 350 providência particular - 360, 361 providências


extraordinárias e milagres - 372-379 teoria da criação contínua - 352, 353 teoria
das causas ocasionais - 366, 367 1

teoria de concursus - 367, 368 1 ■ " f- '

teoria mecânica da providência - 364-366 verdadeira doutrina da preservação


exposta - 354 Psicologia - 16

Punições, futuras, eternas - 811-821 Purgatório - 777-779 Pusey, Dr - 700

Quenstedt, André - 490, 497, 882, 322 Querubins - 338 Quesnel - 130,
625 Quilianismo - 795-797

Racionalismo - 8-71 Racionalistas - 234 Radberto, Paschasio - 893 Ratramno -


893 Rawlinson - 76

Razão: -

diferentes sentidos - 68 ■

não é, em última instância, argumento de verdade religiosa - 72, 73 Realismo -


499-502

eu-

Redenção - 127 Regeneração - 635-647


doutrinas erradas -635-638 exposições autorizadas - 646, 647, 688-
690 Regeneração batismal - 878-880 dV • woví

Regra de fé e prática - 104-121

doutrina católico-romana - 104 ddS. -

doutrina da predestinação - 319 doutrina da propiciação - 591, 592 doutrina de


eficácia dos sacramentos - 832, 842 - i- -doutrina da incapacidade - 479 doutrina
de justiça original - 419 doutrina do pecado original - 463 Remonstrantes - 137,
367 “

Renan - 70 ' i ■

Responsabilidade moral - 398-401 : :

Ressurreição 782-790

condições de identidade pessoal - 788, 789

doutrina dos judeus - 789

doutrinas heréticas - 789, 790

objeções científicas expressas e respostas - 785-787

ressurreição de Cristo - 783-785 ,-h < ;;i

simultânea e geral - 783 Revelação, sobrenatural, necessária, possível e


provável -73-76

sua natureza - 84 Ridgely, Dr T - 486 Ritschl - 588 Ritter - 63

Robertson, Rev A - 580

etimologia e uso da palavra - 822, 823 exposições autorizadas - 838-


842 necessidade de - 834-836 relação do sinal com a graça significada-
827 validade -836-838 veja Batismo e Ceia do Senhor Saisset - 63

boas obras, sua natureza e necessidade - 732, 733 conceito verdadeiro de


merecimento - 735, 736 diferentes conceitos - 725, 726 doutrina antinomiana -
733, 734 doutrina católico-romana - 731, 732, 738-740 doutrina definida - 725,
726 e fé-730, 731

exposições autorizadas - 752-755

merecimento de condignidade e congruência - 735

5*í- i

operação da verdade - 729, 730

Satanás - Veja Anjos 'v.-. ■

Schaff, Dr Philip - 27, 71, 146, 150, 153, 163, 169, 499, 504, 588,

i 7 í - zwidgisnic' •.ohoitbr.

861,889 Schelling - 61, 62, 70, 79 Schleiermacher - 62, 65, 586 Schwenkfeld -
586

exposições autorizadas - 804, 805 futura conversão e restauração dos judeus -


799, 800 interpretação do Apocalipse 20:1-10 - 797, 798 juízo final - 801-805 ‘

-793,794 ;

os príncipios do juízo - 802,803

• ai../. ’’ //da1 \Hc - aiíbi;»’ i Hn'1 ,) iíwjí

- 792, 793

Semiarianos - 224,264 Semipelagianismo - 125, 128,458,459


a; a a ,■ í a <> - (nii; •;

vocação eficaz - 622

doutrina da incapacidade - 466 Semler - 69

Serveto - 135 Shaftesbury - 57


Shedd, DrfmGT- 162, 264, 500, 504, 588 '

Shedd, Rev J H - 889

Sílabo Papal - 601

Simbólica - 28

Símbolos doutrinários:

da igreja de Roma - 156-160 da Igreja Grega - 160 da igreja luterana - 161-


163 da igreja reformada - 163-169 Sinergismo - 623, 624 ■

Sinergistas - 131 Sínodo:

de Charenton - 495 de Dort - 137, 578

Smith, Dr Henry B - 558 Socinianismo - 125, 138-140, 457, 479 de eficácia do


batismo - 883, 884 de justificação - 717 de propiciação - 575, 576, 586 doutrina
do sacerdócio de Cristo - 554, 555 fé justificadora - 702, 703 Socinianos - 124,
134, 263, 271, 277, 367, 534 Socino, Fausto - 135, 234, 457, 575,
576 Soteriologia - 22, 125, 138, 142, 144 Spencer, Herbert - 56 Spinoza - 61, 62,
352, 366 Stanley, Dean Edward - 71 Staudlin - 587 Stewart, Prof B - 38 Storr -
587 ‘

Strauss - 56, 61, 62, 70

Teodicéia - 329

Teodoro de Mopsuéstia - 536

Teodoto - 135

Teologia:

própria - 131 ‘ ' ' ' J

ramos do conhecimento humano, auxiliares no estudo de teologia - 15, 16 razão


não é, em última instância, fonte da - 72, 73 revelada - 64 sistemática - 20
da influência moral da propiciação - 586 i;ò - :f' "

de advento premilenário - 795-797 :

mística da propiciação - 586 ■ ,

utilitária da moral - 390 Teorias antiteístas - 55-63 Tertuliano - 220, 796,


872 Tertuliano de Cartago - 123 Tholuck, Prof - 26 Thomasius, Dr Gottfried -
537 Thornwell, Dr James - 493 . ■ - :

Tillemont - 130 Tipologia - 20

deidade e personalidade separada do Logos - 227-233 doutrina ensinada


diretamente nas Escrituras - 237-239 doutrina fundamental do evangelho -
266 eterna geração do Filho - 239-252 opiniões heréticas - 262-267 ,

Tulloch - 56, 71

Turretino, Francisco - 168, 181, 193, 203, 221, 245, 255, 349, 355, 362, 369,
393,431,490,491,496,497,522, 557,628,641,670, 671,692,702,718,719,734,735,
827,844,887 Twisse - 482, 571 Tyler, Prof - 57 Tyndal - 60 - .

Ulrici - 56

Underdonk, Bispo H U - 636 União com Cristo - Veja Cristo Unitários - 134,
234, 265 Universalismo condicional - 580 Updegraff, Caso de - 605 «

Ursino - 490, 526, 898 Usher, Arcebispo James - 579, 403

Valdenses - 589

Wace - 76 Wall, Dr Wm - 872 Wardlaw, G - 76

Watson, Ricardo - 138, 413, 414, 522, 579, 581, 588, 749

Weeks, Dr W B - 559

Wegscheider - 58, 70, 293


Wesley - 138, 302,413,439,741,742,743

Wessel, John - 589

Westcott, Rev B F - 76 Western - 138

Whately, Arcebispo - 289, 305, 774, 815 Whedon, Dr D D - 300, 399,


411,487 White, Rev Ed - 815 Wiggers, Dr G F - 458, 489, 738 Williams -
71 Wissowatis, André - 135 Witherspoon, Presidente - 492 Witsio, H - 428, 492,
522 Wolf-69

Wolfenbüttel, o Fragmentista - 70 Woolsey, President Theodore D - 210-


212 Wycliffe - 589

Young, Dr John - 586

Zoroastro - 56 »'• ; *

Zwinglio - 131, 897, 898 ò "

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