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RESUMO
Peroxissomos são organelas membranosas multifuncionais e dinâmicas com importantes
funções no metabolismo celular de lipídeos, sendo, portanto, essenciais para a saúde e o
desenvolvimento humano. Papeis importantes dessa organela na sinalização e no bom
funcionamento dos processos celulares estão emergindo, o que os integra numa complexa rede de
compartimentos celulares que interagem entre si. Como muitas outras organelas, peroxissomos se
comunicam por meio de sítios de contato membranoso. A título de exemplo: o crescimento, o
posicionamento e o metabolismo lipídico peroxissomal dependem de contatos com o Retículo
Endoplasmático (RE).
INTRODUÇÃO
A presença de organelas membranosas é a marca registrada das células eucarióticas. Esses
distintos compartimentos criam microambientes otimizados para promover vários tipos de reações
metabólicas necessárias à vida. Para que toda a célula funcione como uma unidade, uma interação
coordenada entre organelas especializadas precisa ocorrer. Recentes estudos têm revelado que essa
inter-relação é frequentemente mediada por contatos entre organelas, os quais permitem que as
organelas fiquem muito próximas uma da outra, tornando possível, dessa forma, a troca de
metabólitos, lipídeos e proteínas entre elas. Estudos em mamíferos e células de levedura têm
mostrado que contatos entre membrana são muito mais frequentes do que se imaginava e não se
limitam ao RE. As conexões entre organelas dependem de proteínas de interação que agem como
correntes para ligar as membranas das organelas. Apesar de estarem intimamente próximas e
interconectadas, as membranas dos sítios de contato membranal (SCM) não estão fundidas, havendo
um espaço de, em média, 20 nm de distância entre elas, de modo que não há ribossomos nessas
áreas. Estudos recentes identificaram moléculas relacionadas a SCM, as quais possuem funções
variadas, como no transporte de íons e lipídeos entre organelas, bem como no posicionamento e
divisão delas.
Peroxissomos são organelas multifuncionais e dinâmicas com um metabolismo do tipo
oxidativo, que possuem um importante papel no metabolismo de lipídeos celulares e espécies
reativas de oxigêncio (ERO). Para cumprir tais funções, essas organelas precisam interagir com
outras, como o RE, as mitocôndrias, os lisossomos, os fagossomos, as gotas lipídicas. Além disso,
também existe interação entre os peroxissomos e o núcleo, que pode involver sinalização via H2O2.
Peroxissomos (PO) de mamíferos contribuem para a quebra e a desintoxicação de ácidos graxos
(via α ou β oxidação), a síntese de fosfolipídeos, ácidos biliares e docosahexanoicos, o metabolismo
do glioxilato, o catabolismo de aminoácidos, a oxidação poliamínica e metabolismo de espécies
reativas oxigênio e nitrogênio. O processo de β oxidação peroxissomal, por exemplo, necessita de
uma rede metabólica altamente interconectada envolvendo a mitocôndria (MT) e o RE, ao passo
que a síntese de ácido biliar requer uma cooperação metabólica entre os PO, o citosol, a MT e o RE.
Já a síntese de fosfolipídeos e de ácido docosahexanoico depende da ação integrada dos POs e do
RE. Além de suas funções metabólicas, os POs também representam importantes plataformas de
sinalização intracelular que modulam processos fisiológicos e patológicos, como na imunidade, na
inflamação e na decisão do destino da célula.
Gotas Lipídicas ou Lipid Droplets são organelas dinâmicas que contribuem para o armazenamento
de lipídeos neutros como os triacilglicerois e os éster de esterol. Análises realizadas demonstraram
que cerca de 10% das gotas lipídicas realizam contato com peroxissomos. Curiosamente, a fração
de contatos entre os peroxissomos e as gotas lipídicas diminuíram (e aqueles entre os lisossomos e
as gotas lipídicas aumentaram) depois de um tratamento com excesso de ácido oleico. Isso é,
provavelmente, devido a maior digestão lisossomal de gotas lipídicas que ocorre quando há excesso
de ácido oleico. A interação entre os peroxissomos e as gotas lipídicas pode unir lipólise mediada
por gotas lipídicas com a β-oxidação peroxissomal de ácidos graxos e, além disso, lipídeos grados
por peroxissomos podem entrar em gotas lipídicas. Leve-se em consideração, ainda, que a
deficiência de β-oxidação peroxissomal ou mesmo a perda dos próprios peroxissomos tem sido
associadas a gotas lipídicas de maiores e com alterações em seu número.
Em leveduras, peroxissomos formam sítios de contato muito íntimos com gotas lipídicas
chamados de pexopodia. Essas estruturas protrudem para o núcleo das gotas lipídicas (GLs) e são
ricos em componentes do maquinário da β-oxidação, indicando que eles podem estimular a quebra
de lipídeos neutros e a transferência de ácidos graxos da gota para o peroxissomo. Embora existam
vários relatos acerca da interação entre os POs e as GLs, o conhecimento sobre as proteínas
relacionadas com essa conexão ainda são escassos. Procedimentos em leveduras revelaram que
proteínas que se localizam em GLs interagiam com várias proteínas peroxissomais, porém novas
investigações são necessárias para se saber se essas proteínas, de fato, constituem-se como
comunicantes. Curiosamente, em leveduras, GLs e POs recém-formados permanecem associados
aos subdomínios conservados do RE, sugerindo uma ligação entre GLs e a biogênese de
peroxissomos.
Recentemente, descobriu-se um papel da proteína M1 Spastin, no pareamento das GLs com
os POs. Essa proteína é uma AAA ATPase ligada à membrana em gotas lipídicas e está relacionada
a paraplegia espástica. Curiosamente, essa proteína forma um complexo de ligação com o
transportador de ácidos graxos, a ABCD1, para promover os Sítios de Contato Membranal (SCMs)
entre os POs e as GLs. A interação depende de uma região de interação peroxissomal da M1
Spastin, e seu motivo hairpin N-terminal, que se insere diretamente na monocamada lipídica da GL.
Ademais, a atividade ATPase da tal proteína pode regular os SCMs entre POs e GLs, sugerindo uma
ligação para flutuações nos níveis celulares de ATP. Demonstrou-se também que o complexo M1
Spastin-ABCD1 funciona em conjunto com a ESCRT-III (complexo endossômico necessário para
transporte), proteínas IST1 (aumenta a tolerância a sódio) e CHP1B (proteína 1B multivesicular
carregada) na condução dos ácidos graxos das GLs para os POs. As proteínas de modelação
membranal IST1 e CHAMP1B são recrutadas via domínio da M1 Spastin MIT (trafico e interação
de microtúbulos) e pode facilitar o tráfico de ácidos graxos por meio da modificação da morfologia
da membrana das GLs. O tráfico de ácidos graxos para os POs mediados por Spastin também
previne a acumulação de lipídeos peroxidados em GLs. Todas essas descobertas podem ajudar a
clarear a potogênese de doenças associadas com um metabolismo de gorduras deficientes em gotas
lipídicas e peroxissomos.
Estudos em células vivas revelaram que peroxissomos, que frequentemente movem-se pelos
microtúbulos na célula, também interagem com outros peroxissomos em contatos temporários ou
duradouros. O papel fisiológico dessa interação ainda é desconhecido, porém contatos entre
peroxissomos podem promover eficiente troca de metabólitos (como H2O2 e outros EROs) e
prevenir vazamentos. Sobre isso, pode ser especulado que muitas interações entre peroxissomos são
parte de um sistema de sinalização celular que monitora a distribuição e o estado dos peroxissomos,
garantindo a manutenção da população peroxissomal, Os mecanismos peroxissomais que permitem
a interação entre peroxissomos ainda não foi esclarecida.
Celulas de leveduras em brotamento sempre retem alguma fração da população de organelas
da célula-mãe e a retenção de organelas requer SCMs/comunicantes entre as organelas. Inp1 e Pex3
interligam peroxissomos ao córtex do RE, promovendo uma herança coordenada. Esses resultados
sugeriram que peroxissomos interagem indiretamente com a membrana plasmática através do
córtex do RE. Evidencias de uma interação direta entre peroxissomos e a membrana plasmática
foram contatadas recentemente. Entretanto, mais escla recimento é necessário para se constatar se
essas interações também dependem de Inp1 e Pex3, ou envolvem outras proteínas de conexão.
Essas interações entre peroxissomos e a membrana plasmática, contudo, não foram relatadas em
células animais ou humanas.
7. PERSPECTIVAS
Peroxissomos não podem funcionar como entidades isoladas. Como o metabolismo deles
requer cooperação e troca de metabólitos com outras organelas, eles são integrados numa complexa
rede de interação entre organelas, sobre a qual paulatinamente se constatam mais informações. Os
mecanismos moleculares e os componentes de ligação que medeiam contatos peroxissomos-
reticulares foram recentemente identificados em células de mamíferos. Além disso, papeis
importantes na expansão/biogênese, mobilidade, posicionamento e no metabolismo lipídico de
membranas peroxissomais têm sido revelados. Novos estudos certamente ampliaram ainda mais os
conhecimentos acerca da fisiologia e dos componentes que participam das interações
interoganelares. Comunicantes, os tethers, frequentemente, possuem funções adicionais em sítios de
contato, tal como na transferência de metabólitos. Questões importante são como as células utilizam
os SCMs para regularem o funcionamento celular e sobre como e se de fato o número de SCMs
mudam sob diferentes condições fisio(pato)lógicas. O desmembramento dos contatos
interorganelares têm sido associados à doenças, como a neurodegeneração, e mais informações
dentro desse campo devem ser estabelecidas. O diagnótico de doenças relacionadas com interações
entre organelas é um desafio, já que, provavelmente, nesses casos, os sintomas são complexos e não
bem caracterizados, uma vez que proteínas de pareamento podem ser redundantes e atuar em
múltiplos complexos proteicos. Com relação aos peroxissomos e seu papel central no metabolismo
celular, sugere-se que a perda de SCMs prejudica o funcionamento ideal dessa organela. Apesar
disso, como já foi dito, ainda é muito difícil estabelecer diagnósticos funcionais em pacientes
utilizando esse pressuposto, já que alguns exames podem não ser sensíveis o suficiente. Também se
sugere que contatos interorganelares, e sua interação dinâmica, influenciam o desenvolvimento de
desordens comuns e relacionadas à idade, como doenças neurodegenerativas. O maior
conheciemnto sobre esses contatos pode conduzir a abordagens terapêuticas que permitiriam o
combate de doenças nerodegenerativas por meio de uma modulação e direcionamento mais
específicos dos complexos de ligação. Para que isso seja alcançado é necessária uma integração das
áreas de pesquisa. De qualquer forma, o estudo das interações enre organelas e seus sítios de ligação
é interessante e extremamente importante para que conheçamos um pouco mais acerca da saúde e
da doença humana, bem como da sua biologia celular.