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MANUAL DE APOIO
DE FILOSOFIA DO
DIREITO
DOCENTES:
_________________________________________
ÍNDICE
I. CAPÍTULO: HISTÓRIA DA FILOSOFIA DO DIREITO (semana 27-14)
1.2.Os pensadores clássicos
1.3.Princípios gerais do direito
1.4.A filosofia jurídica na história
1.5. A história do direito e o direito comparado
BIBLIOGRAFIA
DO AMARAL, D. F., Historia das ideias politicas, Vol. II, Artes gráficas, Rio de Mouro.
LIOY, D., Della Filosofia del Direito; Vol. I, Giuseppe Pellas, Editore Firenze 1887.
REALE, M., Filosofia do Direito, 20ª Ed., Saraiva, São Paulo 2002.
WAINE, M., Filosofia do direito, Livraria Martins Fonte, São Paulo 2006.
I- METOLOGIA ADAPTADA PARA O CURSO.
Todo e qualquer rigor científico, é reconhecido através do seu método utilizado para se
chegar aos resultados em função dos objectivos propostos à partida. Assim sendo, as
nossas aulas serão administradas de modo expositivo dos argumentos, com base a
cronometria do nosso programa, com um ampla comparticipação por parte dos
estudantes.
Os estudantes serão avaliados em função dos seguintes critérios: 20% nos trabalhos
investigatórios semanais; 15% de participação nas aulas. Entende-se por participação, não
somente estar presente na sala de aulas, mais sim ter um envolvimento, nas discussões e
nos tempos propostos na sala. Questionar e opinar. Em outras palavras, tomar parte das
actividades durante as lições. 5% de presenças, 50% nos exames, a concordar com o
professor.
III- OBJECTIVO
Oferecer uma visão unitária e panorâmica dos diversos campos em que se desdobra a
conduta humana segundo regras do direito. Inculcar no estudante o princípio de que
compreender não é ver as coisas segundo nexos causais, mas é ver as coisas na
integridade de seus sentidos ou de seus fins, segundo conexões vivenciadas
valorativamente.
INTRODUÇÃO
Não é possível abordar a filosofia jurídica no seu mais amplo sentido, sem se ter já um
certo conhecimento prévio da problemática e do próprio movimento do pensamento
filosófico geral e da sua história.
A filosofia do direito não é uma disciplina jurídica ao lado das outras; não é sequer,
rigorosamente uma disciplina jurídica. É uma actividade mental ou ramo da filosofia que
se ocupa do direito; é uma parte, um capítulo particular da filosofia.
A filosofia do direito não é também mais que uma certa visão ou contemplação das coisas
do direito, ou, numa palavra, do “jurídico”. Essa visão ou contemplação é precisamente
a filosofia. Trata-se de uma aplicação do prisma próprio da visão filosófica as coisas do
direito e do Estado como realidades com as quais o homem também se preocupa e não
pode deixar de se preocupar. É uma transposição para o mundo das nossas habituais
preocupações de juristas, daquelas mesmas interrogações fundamentais que se nos
impõem a respeito de tudo o que pode ser objectivo de pensamento, quer no domínio da
fria especulação, quer no da acção, se formos filósofos.
Iº CAPÍTULO
Sendo um Direito ideal, o Direito Natural tende a ser concebido ou pensado como algo
tão permanente ou intemporal – ainda que apenas no plano formal, variando ou podendo
variar historicamente os seus conteúdos concretos – como permanente e supra temporal
é essa ordem normativa essencial e supra-empírica que rege ou estrutura a natureza ou a
realidade cósmica, social e humana.
Por outro lado, a ideia de existência de um Direito Natural contraposto ao Direito positivo,
faz apelo a uma determinada ideia ou noção de natureza, na qual se conteria, implícita
mas cognoscível, essa legalidade ou normatividade que constitui o Direito Natural, e
segundo a qual essa mesma natureza seria permanente e imutável, o que explicaria a
permanência e a imutabilidade quer seriam atributos do Direito Natural.
b) A de que essa natureza contém em si, como seu elemento intrínseco essencial e
estruturante, uma determinada legalidade ou ordem normativa;
c) A de que o homem pode ascender ao conhecimento dessa legalidade ou dessa
ordem normativa que se contém ou se manifesta na natureza;
A ideia de natureza
O termo natureza é dos mais equívocos e plurissignificativos dos com que lido o
pensamento filosófico, pelo que não será de estranhar que, quando usado ou contido na
designação Direito Natural, essa sua característica igualmente se revele.
Ele tem, desde logo, um duplo sentido ou significado, que se pode qualificar,
respectivamente de cosmológico ou físico e de ontológico.
a) Concepção cosmológica
Esta concepção individualiza-se por referir o Direito Natural à ideia de natureza como
ordem cósmica, que contém em si a sua própria lei, fonte da ordem em que se processam
os movimentos dos corpos que se articulam os seus elementos constitutivos ou essenciais.
b) Concepção teológica
O primeiro, fundindo em síntese original platónica e a sua teoria das ideias com a teologia
e o pensamento cristão, sustentou que a ordem universal ou a ordem do mundo é regida
pela lei eterna, dimanada de Deus, cujas ideias são os arquétipos eternos das coisas.
Por sua vez, a lei natural é entendida como participação do homem na lei eterna e
encontra-se impressa na alma humana, dela devendo os legisladores extrair as regras de
conduta, as normas ou as leis mais adequadas ao condicionalismo histórico.
Para o Aquinatense, a lei era definida como “prescrição da razão prática, em ordem ao
bem comum, promulgada por quem tem o cuidado da comunidade”. Toda a lei deriva da
lei eterna, na medida em que participa da recta razão.
A lei natural decorre da natureza humana, é participação da lei eterna na criatura racional,
tendo sido promulgada através da sua impressão na mente do homem, pelo que é
naturalmente cognoscível.
A mutação da lei natural pode verificar-se por dois modos: ou ela adição de novas
realidades ou por subtracção, deixando certos preceitos particulares de ser lei natural.
c) Concepção antropológica
Para esta corrente neo-Kantiana (o ser), aliás inacessível ao conhecimento, não é possível
retirar ou fazer derivar nenhuma norma ou princípio ético (dever-ser), que só na razão
pode encontrar-se. Tal princípio, de natureza racional, formal ou universal, na sua
máxima generalidade, como imperativo ético categórico, apresentar-se-ia da seguinte
forma: “age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua vontade, em lei
universal da Natureza”.
Por isso Heráclito definia a justiça a física necessidade que mantém cada coisa na própria
ordem e no próprio curso. Pitágoras definiu-a como harmonia do universo e das relações
sociais. Com os Sofistas, a fé na existência e na inteligibilidade de uma ordem natural é
choque ao homem empírico elevado a medida das coisas, a origem humana, convencional
da lei. O direito com Pitágoras se revela como conceito de relação, uma relação relativa
entre as acções e a lei positiva.
Sócrates se opõe ao direito como relação e como conceito. Ele não duvida da existência
de uma justiça natural; porém, mas do que afirma-lo, é preciso entende-lo, isto é, traduzi-
lo em conceito, conhece-lo na sua nota universal e constante. Para Sócrates, o problema
da justiça se resolve no problema do conhecimento daquilo que é justo em si,
independentemente das várias opiniões humanas. A injustiça é vício do intelecto não é da
vontade. Para ele, o conceito de legalidade, que é a justiça nos seus caracteres formais,
ou seja universais, e necessárias e que como tal, deve ser respeitada independentemente
dos seus conteúdos. Morrendo, rendeu homenagem ao valor da justiça.
Com Platão, o direito é uma realidade que o homem aprende através do intelecto e actua
o Estado. Justiça e Estado são para Platão termos que estão juntos necessariamente.
Segundo ele, a justiça não é do homem, mas sim do Estado, que atribui a cada um o que
é seu, que impõe a cada classe social a sua função específica. A ideia da justiça não tem
só valor formal. Não é um conceito que procura fora de si o seu conteúdo, mas é realidade
e actividade ideal que vive e se concretiza no Estado. O ponto de vista naturalístico, não
é superado porque a ideia platónica objectiva nem é subjectiva. É todavia superado o
conceptualismo abstracto de Sócrates, porque a ideia de que o intelecto desfeito dos
vínculos do sentido intuísse a realidade concreta, princípio de verdade e de acção.
A ideia de justo estranha e contraposto ao homem, foi com o tempo subjectivando nas
formas do conceito e da e da ideia numa primeira fase, com exigência da natureza racional
e sensível do homem e no segundo momento. Mesmo que o homem tenha desvinculando
a ideia de justo da ordem política, não conseguiu desfazer-se da ordem natural da qual ele
mesmo pertencia e refletia da lei e da felicidade. Um progresso inverso, seguiram os
Romanos, os quais compreenderam o direito como comando da vontade direcionada ao
útil e na necessidade. (ius civile), para se compreender progressivamente com uma norma
de equidade (ius aequum ac bonum), como norma que responde a natureza comum do
homem (ius gentium) e portanto, como expressão da razão humana em harmonia com a
razão universal (ius naturale), procuravam na natureza das coisas o fundamento do
direito.
Particular significado, tem a doutrina de paz com a ética onde se revela como princípio
de ordem interior, isto é, uma das tendências sensíveis e faz do indivíduo um membro
harmónico na vida de todo. A perfeição moral é sinónima de paz connosco mesmo, com
os nossos semelhantes, com Deus. Com a paz o homem garante-se e protege-se contra os
maus da vida terrena, conquista a saúde da alma. O ordenamento positivado tem como
objectivo, a pacificação da sociedade, numa lógica orgânica das relações humana. Esse
por sua vez não se actua por si, mas por obra do homem; não basta conhece-lo, ocorre
porém, obtê-lo, quere-lo e actuá-lo constantemente nas nossas acções. Essa é a conquista
progressiva; nisto consiste o fundamento e os limites da ordem jurídica e política.
O estado não surge para garantir as relações convencionais (ius aequatorium) mas
exprime e defende também os interesses públicos mediante normas, tendo como objectivo
as relações de soberania (ius rectorium).
SPINOSA: para ele o direito natural é ipsa naturae potentia, conexa a cada ser aos fins
da sua conservação. Mas as más experiências, induzem os seres dotados de razão a criar-
se uma ordem civil, na qual as exigências dos indivíduos e da sociedade se explicam sob
os auspícios do Estado nos limites impostos pela salus publica.
LOCKE: para este pensador inglês, o direito natural é na sua ótica, o direito do homem
no estado hipotético de simplicidade e de inocência originária, que opera sob o império
da lei natural, em conformidade as suas necessidades naturais segundo um cálculo
racional de utilidade. Neste Estado natural de paz, de mútua assistência os homens se
reconhecem livres e iguais e cada um em relação as suas necessidades constrói uma
propriedade mediante o trabalho e a ocupação da terra comum. A liberdade onde cada um
goza no estado natural é sinónimo de independência recíproca e esta é possível só se o
arbítrio de cada um for limitado.
A igualdade é a medida da liberdade natural. Com garantia dos direitos naturais, os
homens convergem a criar o Estado e a este confia-lo o poder coercivo e punitivo
desenhado a forma de natureza. O direito natural entendia-se segundo Locke com o direito
inalienável do homem à liberdade e a propriedade nos limites da igualdade.
A vontade que se explica em função dos fins subjectivos. É a vontade económica não
jurídica. A esfera do lícito não coincide com aquela do direito. A liberdade exterior onde
o direito consiste é uma ideia de relação, que implica uma relação entre os valores. Dai a
necessidade de uma norma de razão reguladora da mesma liberdade. Essa norma se
resume no reconhecimento e no respeito recíproco a liberdade. A consistência das
vontades empíricas é condicionada com a norma racional da igualdade, das liberdades
nas suas relações externas. O equilíbrio disto, implica acções recíprocas e portanto,
coercivas.
A estabilidade de um sistema jurídico pode ser concebido nos pressupostos que cada
querer ou vontade qual seja o movente (motivação) que o explique a operar, se mantenha
exteriormente nos limites impostos pela lei de coercividade sem a possibilidade de iludir,
por isso, a coesão como poder de obrigar ou de ajuste do direito, é condição da liberdade
e se estende quanto a mesma liberdade. O direito ou seja a liberdade externa, se realiza
no Estado e este deriva do contracto o título racional de legitimidade. O Estado kantiano
serve aos fins do direito e como tal é Estado jurídico. Na filosofia de Direito do Hegel,
(Histórico), as novas correntes tinham tendência de fazer do direito a expressão do
espírito colectiva e entendiam a vida na forma como se desenrolava. A filosofia do direito
é toda penetrada de influência romântica e histórica e pode ser entendida como uma
filosofia de história aplicada ao direito que se torna na história. E objectividade, significa
moralização dos valores, superando a própria individualidade empírica, subordinação a
uma realidade universal, afirmação de liberdade não abstracta, mas concreta e real. No
progresso de inserção do indivíduo na colectividade, isto é, na progressiva conquista da
consciência e da liberdade de ai, consiste na razão da história e do mundo. A liberdade e
a humanidade preveem mediante a coerção do direito e do Estado. O ponto de partida do
direito é a vontade livre; a liberdade é a substancia de querer em todos os seus graus. Mas
a vontade políptica é liberdade subjectiva, natural, imediata; é determinada dos instintos,
dos desejos é relativamente racional, isto é, em relação ao sujeito. A medida que a vontade
se desfaz da naturalidade torna-se universal e moral, isto é, absolutamente livre, não só
na forma mas também no conteúdo. O desenvolvimento tem lugar em contraste, superado
e renovado num grau mais alto. Ao querer imediato corresponde o direito abstrato, a
liberdade subjectiva; aqui se opõe o universo moral. Da sua síntese, se geram as
liberdades éticas que se revelam progressivamente na forma da família da sociedade, do
Estado. Só neste último o direito se configura como liberdade do espírito objectivo
inteiramente realizado. Kant e Hegel tinham delineado as orientações fundamentais da
especulação jurídica.
1.3. A FILOSOFIA JURÍDICA NA HISTÓRIA
O significado filosófico-histórico do Direito é encontrado a partir da contradição que
existe entre a natureza estática do Direito e a natureza dinâmica da História. A hegemonia
do direito encontra seus limites históricos, na soberania que coexiste com outras
soberanias sem ser dominada por nenhum outro sistema. A guerra, é um limite na
impossibilidade de se substituir regularmente uma Constituição por outra, por vias legais,
a revolução é um outro limite. A Filosofia do Direito é a filosofia que mesmo diante dos
fenómenos jurídico-normativas, foi preciso esperar que um filósofo e não um jurista
construísse um sistema filosófico tendo o direito como peça central. Friedrich Hegel
foi quem fez ao publicar em 1820 o seu livro intitulado Princípios da filosofia do Direito.
A obra Princípios da Filosofia do Direito de Hegel é um marco que delimita o início da
Filosofia do Direito como centro de uma investigação filosófica sistemática.
É por isto que se entende existir uma Filosofia do Direito propriamente dita, e uma
Filosofia do Direito impropriamente dita que se encontra nos textos filosóficos escritos
ao longo da história da filosofia, cujos sentidos incidem mais ou menos em questões
jurídico-normativas. Os filósofos sempre se depararam com a experiência da
normatividade social. Mas antes de Hegel não adveio daí nenhum sistema filosófico que
concebesse o direito em face da totalidade da sociedade (nem de um sistema lógico
coerente com as outras ciências). Podemos apontar, à guisa de princípio, que pode ser
levantada, dentre outras razões, o papel que o direito exerce nas sociedades modernas e a
forma como o direito moderno, com seus fundamentos lógicos e sua força coerciva,
reflectem em toda a estrutura social. O historicismo jurídico, e que comummente se
chama escola histórica do direito, não tem propósito filosófico directo nem político,
porém suas doutrinas interligam-se mediante certas premissas filosóficas e também por
meio do programa da restauração política.
A ideia da codificação não era nova, uma vez que contava já em seu favor com
experiências em alguns Estados italianos, na Prússia, na Áustria e especialmente na
França, cujo Código Civil, preparado durante a revolução, teve o selo de Napoleão.
Não era por acaso que, depois da proclamação dos direitos do homem e do cidadão
(1789), passaram os homens da Revolução Francesa a se dedicarem à elaboração de
normas do direito privado, para reunidas na unidade sistemática do Código que, aprovado
em 1804, é ainda hoje vigente na França.
Isto, fazia notar os inconvenientes produzidos pela disparidade das leis e dos costumes e
ainda chamava atenção para a importância nacional que a unificação do direito privado
assumiria nas relações entre os vários Estados. O direito, sustenta Savigny, vive na prática
e no costume, que é a expressão imediata da consciência jurídica popular. A "consciência
jurídica popular" tem um conceito característico, que a escola histórica do direito derivou
do historicismo filosófico de Shelling e de Rege! Na realidade, toda essa corrente está em
estreita conexão com o historicismo filosófico, e até se pode chamá-la uma aplicação
particular dele no campo do direito.) Todo povo tem um espírito, uma alma sua, que se
reflecte numa numerosa série de manifestações que são: moral, direito, arte, linguagem,
são produtos espontâneos e imediatos, todos, desse espírito popular (Volksgeist).
Facto da sua existência, assim o direito não é criação do legislador, mas uma produção
instintiva e quase inconsciente, que se manifesta no fato, e só na fase posterior aceita a
elaboração reflexiva por meio dos técnicos, que são os juristas.
Ao trabalho dos juristas segue-se, depois, a legislação, que se funda, porém, sobre
costumes preexistentes. Portanto, as leis, segundo Savigny, têm uma função de todo
secundária, não fazem nada que fixar (e quase imobilizar, cristalizar) os princípios já
elaborados pela consciência jurídica popular.
O estudo do direito positivo, justamente propugnado pela escola histórica, não deve
excluir a especulação ideal da justiça. Segundo a doutrina daquela escola, devemos tomar
uma posição passiva diante de todo produto histórico. Mas essa adoração do fato
consumado contradiz a exigência crítica da nossa consciência e é negação de todo
progresso jurídico. Se identificamos sistematicamente o real com o ideal, negamos a
possibilidade do progresso. Eis o ponto no qual permeia o erro de todo o historicismo e
em que se revela, de outro lado, a superioridade das escolas racionais clássicas. O fato
não pode conter a noção do direito; antes, a escolha dos fatos pressupõe um intuito ideal,
porque, para recolher os fatos ou fenómenos jurídicos, devemos, antes de tudo, ter os
critérios distintivos do jurídico do não jurídico.
Na verdade, se é certo que o direito surge mediante o costume, não é menos verdadeiro
que o costume é depois, gradativamente, absorvido pela lei. O costume é a folha primitiva,
rudimentar, tosca, do direito, é igualmente verdade que a elaboração legislativa é uma
folha superior, uma vez que admite e supõe uma crítica, uma discussão, uma consciência
"toda atenta". Mais, se a lei, na sua origem, não tem outra eficácia que a de estabelecer e
fixar os produtos do costume, e se constitui como fonte autónoma, afirma-se como
inovadora, também a respeito do costume.
A teoria da escola histórica tem, em suma, o defeito de ter dogmatizado a fase inferior do
desenvolvimento. Daí se poder dizer que aquela teoria recebe tanto o desmentido dos
fatos, quanto mais avançados são os estágios da civilização.
Muitos definem o direito comparado como ramo do direito, mas essa concepção é errada,
pois, um ramo de direito visa regular de maneira específica uma dada situação jurídica, o
que não acontece com o direito comparado. Este direito comparado vai estudar as
diferenças e semelhanças entre os ordenamentos por via de uma macro-comparação ou
micro-comparação.
Direito comparado é o estudo das diferenças e semelhanças entre a lei de diferentes países.
Mais especificamente, envolve o estudo dos diferentes sistemas jurídicos existentes no
mundo, incluindo o direito comum, o direito civil, direito socialista, a lei islâmica, a lei
hindu, e a lei chinesa. Ele inclui a descrição e análise dos sistemas jurídicos estrangeiros,
mesmo onde não há comparação explícita é realizada. A importância do direito
comparado aumentou enormemente na idade actual do internacionalismo, da globalização
económica e de democratização.
Como as leis civis dependem das instituições políticas, porque eles são feitos para a
mesma sociedade, sempre que há um projecto de adopção do direito civil de outro país,
seria adequado para analisar de antemão se estes têm as mesmas instituições e os mesmos
direitos políticos.
Direito comparado é diferente dos campos de jurisprudência geral (teoria legal), o direito
internacional, incluindo tanto o direito internacional público e direito internacional
privado (também conhecido como conflito de leis).
Apesar das diferenças entre o direito comparado e estas outras áreas jurídicas, de direito
comparado ajuda a informar todas estas áreas de normatividade. Por exemplo, o direito
comparado pode ajudar as instituições jurídicas internacionais, como os do Sistema das
Nações Unidas, ao analisar as leis de diferentes países a respeito de suas obrigações do
tratado. Direito comparado seria aplicável ao direito internacional privado no
desenvolvimento de uma abordagem para a interpretação de uma análise de conflitos.
Direito comparado pode contribuir para a teoria jurídica, criando categorias e conceitos
de aplicação geral.
F1) Família romana 2) família alemã 3) Família common law 4) Família Nordic 5)
Família das leis do Extremo Oriente (China e Japão) 6) Família religiosa (muçulmana e
lei Hindu).
Família romano-germânica: é formada pelo conjunto dos direitos nacionais que sofrem
fortes influências do direito romano e do seu estudo através dos séculos. Em termos
geográficos, pertencem a esta família os direitos de vários países europeus, de toda
a América Latina, uma grande parte de África, do Oriente Médio, do Japão e da
Indonésia.
O direito inglês, Common Law, foi forjado, portanto, a partir de decisões judiciais. Um
juiz, diante de um caso concreto, não buscava a regra geral contida numa lei escrita para
solucioná-lo; antes, examinava as decisões judiciais anteriores à procura de casos
semelhantes, cuja solução aplicava ao caso concreto. Esta é a grande diferença entre o
sistema romano-germânica e o do Common Law: o primeiro funciona “do top para baixo”
(o legislador preceitua uma lei geral, cuja regra abstracta é aplicada pelo juiz a um caso
concreto), enquanto o segundo opera "de baixo para cima" (as decisões judiciais em casos
concretos – jurisprudência - formam uma espécie de regra geral que é aplicável no futuro
a outros casos concretos semelhantes).
A base lógica deste direito jurisprudencial (case law, em inglês) é a regra do stare
decisis (ou regra do precedente), pela qual as decisões judiciais anteriores (os
precedentes) devem ser respeitadas quando da apreciação de um caso concreto.
O papel desempenhado pela lei escrita no Common Law é menor do que na família
romano-germânica. Em geral, a lei (statute, em inglês) só é acatada em juízo depois de
examinada nos tribunais; o rigor, não é a lei que é aplicada pelo juiz, mas os precedentes
gerados a partir do exame da lei nos tribunais.
Família dos direitos socialistas: antes fazia parte da romano-germânica, depois com a
entrada de ideias marxistas se separa. Teve sua origem na Rússia em 1917, quando a
Rússia assume o encargo da edificação de um novo tipo de sociedade, a sociedade
comunista, colocada sob o signo da fraternidade. A família dos direitos socialistas
pretende criar a “sociedade comunista”, onde não existirá Estado nem Direito, eles fogem
da tradição romano-germânica. Para os socialistas o direito é uma superstrutura, reflexo
de uma estrutura económica. Fazem parte desta família aqueles países socialistas que
pretendem atingir uma sociedade comunista como a União Soviética e alguns países da
Europa. A regra de conduta se baseia na doutrina marxista-leninista, onde não há
diferenças no direito, pois tudo visa o "o bem colectivo", prevalecendo as tendências
comunistas. Onde a lei tem um papel fundamental para o Estado. O direito dos países
socialistas é fortemente influenciado pela noção de Estado socialista, o qual possui muito
mais atribuições e poder de intervenção na sociedade, em comparação com os países
capitalistas. Sua forma aparente, por outro lado, assemelha-se ao direito dos países da
família romano-germânica.
Importa salientar que, não é incomum conviverem o direito formal, "moderno", adoptado
de modelos europeus ou americanos, com regras e hábitos (e concepções do direito)
locais.
Direitos do Extremo Oriente: nos Estados do Extremo Oriente, o direito é visto a exercer
a função subsidiária na composição dos conflitos sociais; mais importantes para tal fim
são a convicções, a moderação e a conciliação.
Para alguns teóricos, a diferença entre princípio jurídico e regra apresenta um carácter
lógico.
De acordo com esse ponto de vista, tantos os princípios quanto as regras, são conjuntos
de padrões que apontam para decisões particulares acerca das obrigações legais, mas
diferem no tipo de direcção que apontam.
A regra tem uma única dimensão: a da validade. Se for válida, a regra deverá ser aplicada
integralmente ou não ser aplicada. São normas que só pode ser cumpridas ou não. Se
uma regra é valida, então há que se fazer exatamente o que ela exige, nem mais, nem
menos. Portanto, as regras contem determinações no âmbito do fático e juridicamente
possível. Esse aspecto da regra é também chamado de “tudo ou nada” - ou a regra é
totalmente aplicada, ou não. Não existem diferentes graus de aplicação.
Em caso de conflito entre regras, uma poderá ser excluída do ordenamento, ou, ainda, em
casos mais ambíguos, aquela que apresentar maior poder descritivo e regulador
prevalecerá. Em outras palavras, podemos dizer que regras são comandos definitivos,
enquanto princípios são requisitos de optimização. Se a regra é válida e aplicável, esta
requer que seja feito o que se prevê na sua íntegra. Já os princípios são normas que exigem
que algo seja realizado em seu maior nível possível, dadas as condições do caso em
estudo, contendo assim uma ideia de gradação.
São exemplos:
A Filosofia do Direito (em estudos sobre o Direito positivo, com a escola positivista e o
jus naturalismo), encontramos o estudo da relação dos princípios com os preceitos
imutáveis do direito natural, que corresponde a uma justiça maior e essencial, emanada
da própria ordem equilibrada da natureza (ou de Deus), independente da vontade do
homem. Resgatando antecedentes históricos de nosso sistema normativo-judicial,
reportamo-nos à Roma antiga, onde, superada a fase da autotutela/autodefesa (quando
um indivíduo impunha sua vontade a outro, a pretensão era exercida pela força e a
punição ocorria em regime de vingança privada), os indivíduos passaram a constituir
árbitros de confiança mútua – normalmente sacerdotes e anciãos – para mediar a solução
do conflito. Suas decisões pautavam-se nos princípios ditados pelos costumes (mores) da
época. Os princípios gerais que são enunciados normativos – de valor muitas vezes
universais – que orientam a compreensão do ordenamento jurídico no que concerne à
elaboração, aplicação, integração, alteração (derrogação) ou supressão (ab-rogação) das
normas. Representam o núcleo do sistema legal. São, pois, as ideias de justiça, liberdade,
igualdade, democracia, dignidade, legalidade etc., que serviram, servem e poderão
continuar a servir de alicerce para o edifício do direito, em permanente construção.
Hoje, os princípios gerais são – em sua maioria – escritos, porque já foram incorporados
ao sistema legal (positivados, expressos, escritos, codificados). Tais princípios são a base,
o fundamento não apenas do ordenamento jurídico em si, mas, além, das relações entre
as pessoas e diretores do planeamento futuro da nação em todos seus aspectos.
Quanto ao critério que se usa para se dirimir a contradição, se usa, via de regra, os
seguintes critérios:
1. Critério Hierárquico (norma superior revogando norma inferior): no conflito entre uma
norma inferior e outra superior, esta deve prevalecer sobre aquela.
2. Critério Cronológico (lei posterior revoga anterior): havendo conflito entre duas
normas de igual hierarquia prevalece a editada posteriormente.
É fundamental frisar, que todo PGD escrito (inserido na legislação) é norma jurídica!
Exemplos: Na área constitucional (chamados normas princípios lógicas): - todos devem
ser tratados iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; todos são inocentes
até provas contrárias; ninguém deverá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude da lei; nenhuma pena deverá passar da pessoa do condenado; aos
acusados em geral devem ser assegurados o contraditório e a ampla defesa; a propriedade
deve cumprir sua função social; deve-se pugnar pela moralidade administrativa; etc. Na
área civil: ninguém deve violar a lei alegando que não a conhece; nas declarações de
vontade deverá ser mais considerada a intenção do que o sentido literal da linguagem; o
enriquecimento ilícito deve ser proibido; ninguém deve transferir ou transmitir mais
direitos do que tem; a boa-fé se deve presumir e a má-fé deve ser provada; deve ser
preservada a autonomia da instituição familiar; O dano causado por dolo ou culpa deve
ser reparado; as obrigações contraídas devem ser cumpridas (pacta sunt servanda); quem
exercitar o próprio direito não estará a prejudicar ninguém; deve haver equilíbrio nos
contractos, com respeito à autonomia da vontade e da liberdade para contractar; os valores
essenciais da pessoa humana são intangíveis e devem ser respeitados; a interpretação a
ser seguida é aquela que se revelar menos onerosa para o devedor; a pessoa deve
responder pelos próprios actos e não pelos actos alheios; deve ser mais favorecido aquele
que procura evitar um dano do que aquele que busca realizar um ganho; ninguém deve
ser responsabilizado mais de uma vez pelo mesmo facto; nas relações sociais se deve
tutelar a boa-fé e reprimir a má-fé; etc.
Se utilizarmos um PGD escrito (= Lei) para suprir lacuna, estaremos a realizar a operação
de integração por analogia. São os não-escritos, ou seja, não inscritos textualmente no
ordenamento jurídico: aqueles recém-surgidos, em forma de ideias e reflexões dos
juristas, sobre temas novos, que ainda não foram tutelados formalmente pelo legislador 1.
REFLEXÃO E ESPECULAÇÃO
FILOSOFIA E CIÊNCIA
“Cada ciência trata de algum género limitado de seres considerado como realidade que
é e como é, e não enquanto ser, ao passo que a filosofia é o único tipo de saber ou
actividade intelectual que se ocupa dos seres ou da realidade enquanto ser”, isto é, na
sua determinação contingente mas na sua essência, naquilo que faz que cada um seja o
que é.
Daqui decorre também ser a filosofia um saber especulativo e teórico e não um saber
prático e operativo, um saber “dos primeiros princípios e das primeiras causas” e não
um conhecimento de causas secundárias ou de princípios derivados, que, por isso mesmo,
é o único capaz de estabelecer os fundamentos de todo o saber humano, pois consiste
também numa actividade de fundamentação do saber, designadamente das condições de
1
Cf. Os argumentos podem ser consultados com maior pormenorização na obra de Norberto Bobbio, título
original em Italiano: Teoria dell'ordinamento Giuridico, Torino, G. Giapichelli, 1960. Teoria do
Ordenamento Jurídico, Trad. Maria Celeste C. J. Santos. Brasília: Editora UnB, 1995),
possibilidade e da validade do conhecimento e seus limites e de todo o saber, quer teórico
quer prático, incluindo o próprio conhecimento científico.
A noção de “aporia”
Termo que significa falta de caminho ou de saída, aquilo que impede o movimento e não
deixa avançar. Trata-se de contradições ontológicas, da irredutibilidade de uma coisa ou
de uma realidade ao pensamento, do desacordo entre o ontos e o logos.
Sendo reflexão filosófica sobre o direito, a filosofia do direito é filosofia e, como tal, não
é reconduzível ou assimilável à Ciência Jurídica ou à Teoria Geral do Direito. Por outro
lado, porque é filosofia, o modo como a filosofia do direito considera o Direito é muito
diverso daquele pelo qual estas ciências ou formas de conhecimento do jurídico o
consideram. Na verdade, ao passo que a Ciência Jurídica e a Teoria Geral do Direito
partem sempre do direito positivo, de um sistema jurídico-normativo concreto, espácio-
temporalmente definido, do direito vigente numa determinada comunidade e numa
determinada época; a filosofia do direito, porque é filosofia, interroga-se sobre a essência
do direito, sobre o seu valor e o seu fim, sobre o ser do direito ou o direito enquanto ser e
sobre a justiça que o garante, bem como sobre o valor gnosiológico do saber do direito
dos juristas, isto é, sobre o fundamento e valor da própria ciência jurídica.
Dai que, no seu ensaio metafísica dos costumes (1797) Immanuel Kant (1724-1804)
distingue duas grandes questões relativas ao direito. A primeira questão é relacionada ao
filósofo Jurista que se interroga (quid jus) o que é o direito? O que prescreve as leis num
certo lugar e num determinado tempo? A esta pergunta originária surge uma outra. Neste
caso a segunda questão está relacionada com o (quid Juris), ou seja, o que deve ser o
direito? São duas realidades consequentes produzidas desta dicotomia que forma o ser e
o dever ser do direito.
Norberto Bobbio foi um dos tantos pensadores que esquematizou o pensamento de Kant,
superando essa dicotomia em três áreas temáticas da Filosofia do direito:
A segunda área que Bobbio chama de deontológica é a que se ocupa do estudo de valores
das quais se inspiram os ordenamentos jurídicos, ou seja teoria da justiça. É nesta temática
onde se coloca a relação entre o direito e a moral. Os termos chaves deste tema são: a
justiça, o conceito de norma justiça. Nesta sua incarnação a filosofia do direito se
apresenta como teoria da justiça, sendo um momento saliente da divisão entre ser e dever
ser; dai a importância das normas que derivam de premissas logicamente normativas.
a) Instrumentos de regulação
b) De auto-regulação
c) As suas funções e normas internas dirigidas aos operadores para prefixar critérios e
princípios das suas intervenções. As alíneas, a e b são puras normas externas, dirigidas
aos operadores de direito, para reduzirem suas possibilidades de comportamentos e
consentir reciprocamente expectativas nos vários âmbitos social.
O conceito de direito, representa um conjunto e complexo (em género sistemático)
das normas que regulam a vida dos membros duma sociedade a que faz referência. A
ciência jurídica neste âmbito, estuda os subscritos sistemas, sendo uma faculdade
garantida do ordenamento em cada pessoa ou organização; o juízo sobre a legalidade e
legitimidade das acções do Estado e das personalidades físicas e jurídicas com que se
relaciona.
Alteridade – o direito não se destina a regular a conduta do homem isolado, mas sim
enquanto relacionado com outros no âmbito da sociedade, o direito regula essencialmente
algumas das relações entre os homens, as que assumem uma relevância jurídica e por isso
se tornam relações jurídicas
Coercibilidade – o caracter imperativo do direito impõe que este crie meios a fim de levar
os destinatários das suas normas a optar pelo cumprimento, castigando o infractor e
premiando o cumpridor. Traduz-se na possibilidade de imposição coactiva, se necessário
pela força e contra a vontade dos seus destinatários, das normas e sanções jurídicas
A segunda é aquela de aprender a natureza do direito, pois que a compreensão disto que
é o direito aparece decisiva para trata-lo de maneira mais adequada. Em particular, as
regras jurídicas para serem aplicadas precisam de um conjunto de operações, que tem o
nome de interpretações do direito. Tais operações podem ser concebidas e praticadas em
muitas formas. A compreensão do direito se apresenta decisiva para orientar o modo de
conceber e praticar tais operações.
As leis ordinárias são constituídas por Códigos (civil, de Processual Civil, Penal,
Processual Penal) que disciplinam de modo sistemático e detalhado os sectores das
relações entre os cidadãos e o Estado. Em consequência, estes se põem em posição de
subordinação em relação as leis que são destinadas em implementar e a suas eventuais
contrariedades a tais leis determina a invalidade que pode ser declarada dos juízos
ordinários.
Pode-se dizer que uma das relações da Filosofia com o Direito passará pela tentativa de
avaliar, de sopesar a actuação do Direito frente à sociedade a fim de contribuir para que
ele, o Direito, busque os aprimoramentos possíveis e necessários ao alcance de sua
primordial meta: organizar, de forma razoável, a sociedade administrando de modo
equitativas as divergências de interesses dos indivíduos que compõem a sociedade.
Depois do passado predomínio pelo direito natural e mais tarde o direito positivo, vive-
se em tempos, do pós-positivismo, pós-naturalismo onde as figuras principais dos
sistemas normativos são a ética e os princípios, (valores estes), que são objectivos de
inspiração do direito moderno enquanto sistema normativo. As liberdades individuais já
têm grande nas sociedades ditas liberal democráticas, onde os direitos são garantidos e
tutelados, (in factus), onde o ser humano é algo que tem seu valor reconhecido, e busca o
seu bem comum do mundo real.
2A Norma Fundamental é um conceito de teoria do Direito desenvolvido pelo jurista austríaco Hans
Kelsen, no âmbito de sua Teoria Pura do Direito. Para Kelsen, a Norma Fundamental é uma norma
se possa subsumir o conteúdo da norma das normas que constituem o ordenamento, assim
como a particularidade se assume sob o universal. As normas da moral pertencem por
exemplo a esta espécie. A norma tu não deves mentir, tu não deves enganar, tu deves
manter a tua promessa etc., são deduzidas de norma fundamental da verdade.
pressuposta no plano lógico jurídico, sendo fundamento último de validade do ordenamento jurídico. Para
Kelsen, há a assunção de que a norma fundamental é pressuposta. É um pressuposto baseado na razão
(dogmática) que, conforme observa Tércio de Sampaio Ferraz, “ela encarna o próprio princípio da
inegabilidade dos pontos de partida”(Júnior, 2003, p. 1888), sendo condição sine qua non para o estudo
dogmático do Direito. No entanto, não se pode falar que a “norma fundamental” é tão-somente uma ficção
positivista: a norma fundamental refere-se a uma determinada realidade. Segundo Krishnan, a norma
fundamental deriva do fato de que foi aceita por um número suficiente de membros de determinada
comunidade, podendo ser identificada como uma regra fundacional simplesmente por não depender de
outra norma superior, e sim pela simples aceitação, como válida, pelos membros dessa comunidade
(Krishnan, 2009, p. 7).
dar uma resposta imediata a cada pergunta prática jurídica sem transcorrer a existência de
lacunas, contradições, ambiguidades, da lei. Precisa conhecer e entender as leis melhor
do que as próprias pessoas conscientemente ao redigi-las ou aprova-las. A segunda fase
correspondente a ela, é a comprovação da ausência de lacunas e contradições nas normas
relativas a determinado instituto jurídico. Os factos sancionados pelo Código Penal visam
à protecção de um bem jurídico que a lei pretende tutelar. Essa operação de construção
jurídica faz-se a partir de determinados fins jurídicos (construção teleológica); todavia,
existem outras construções do processo como relação jurídica de desenvolvimento
gradual. A última fase examina cada instituto jurídico, a sistemática jurídica examina a
ordem jurídica sob seu aspecto geral ou universal. A evolução de cada norma concreta
que a integra ou alguma de suas partes.
Kelsen move-se da posição da doutrina pura de direito, segundo a qual, falando dos
mundos das normas e dos factos, ocorre evitar sempre evitar cada possível
ambiguidade e ter bem presente que, na falta de uma qualificação normativa, não se
podem individuar os factos que seriam relevantes de serem estudos para compreender
a norma do ponto de visa da filosofia de direito. No momento em que mete em
evidência as raízes factuais dos ordenamentos normativos, os confins entre um
discurso relativo ao mundo das normas e um discurso relativo ao mundo dos factos.
Ehrlich, por sua vez sublinha a prioridade temporal e social, com relação ao direito
posto pelo Estado, do direito que nasce espontaneamente das relações sociais, e que
por isso é em condições de regular em modo autónomo, atingindo a mínima parte a
considerar-se aquele direito positivo.
Com base em sua Teoria Pura do Direito e sendo esta uma construção teórica inserida
no positivismo jurídico, Kelsen não reconhece qualquer regra moral ou lei natural
como critério de validade de outra norma positiva, motivo pelo qual rejeita
considerações moralistas a respeito da validade da norma fundamental; trata-se assim
de uma teoria formal de validade, em que a validade da norma depende de elementos
que não levam em consideração o mérito das normas (Dimitri, p. 278).
Experiência dos objectos espirituais e culturais, em cujo domínio aparece justamente o “jurídico”
histórico e positivo, e que está na base das chamadas “ciências da cultura”.
Mas, há ainda, em segundo lugar uma outra função não menos importante na filosofia
do direito para a formação do jurista. Esta poderia chamar-se antes uma função de
pedagogia moral e de deontologia profissional. O jurista é talvez, entre todos os cultores
das ciências do espírito, depois do teólogo, aquele que maior tendência tem para o
dogmatismo.
É preciso notar, antes de tudo, que isso a que genericamente chama-se direito não se
deixa de situar numa camada, região ou esferas únicas do ser. Situa-se, por assim dizer,
antes, ao mesmo tempo ou sucessivamente, em várias dessas esferas ou regiões. Trata-se
aqui dum ser que, como alguns outros, percorre ou atravessa, as diversas esferas e regiões
ônticas do ideal, do real, do não-sensível e até mesmo do sensível, projectando-se em
cada uma delas de modo e com determinações gerais muito diferentes. Este pensamento
tornar-se-á mais claro se disser, que o direito, partindo do ser ideal como valor e ideia,
torna-se real como ser não-sensível na foram de direito histórico.
Nesse sentido, é lícito dizer que a positividade, o ser positivo, é tanto da essência do
direito, como da religião, da arte e de todos os outros seres e objectos culturais.
Para a teoria egológica do direito é concebido como algo que o homem faz actuando
segundo valorações, isto é, como objecto cultural. Dado, porém que o seu substrato não
é nenhuma porção da natureza, tem de concluir-se que é a conduta humana, ou seja, que
o direito é conduta, sendo, como tal, um objecto egológico. Mas a conduta humana
constitui uma experiência de liberdade, em que a criação de algo axiologicamente original
emerge a cada instante, constituindo por isso, não um ser, mas um dever-ser existencial.
Pretende-se afirmar que este, o direito, na experiência que dele tem-se, se apresenta à
nossa observação, não sob uma mas sob três formas: ora como facto, ora coo norma ou
lei, ora como valor. Dar-se-ia aqui uma como que natureza trina.
Para esta teoria, a norma jurídica, mais do que uma proposição lógica, é uma realidade
cultural, que não pode ser interpretada com abstracção dos factos e valores que
condicionaram, o seu advento, nem dos factos e valores supervenientes, assim como da
totalidade do ordenamento em que se insere. Recusa, portanto, a concepção que vê na
norma um simples e abstracto enunciado lógico, um mero dever-ser lógico, concebendo-
a como uma relação concreta surgida na imanência do processo factual-axiológico,
através da qual se compõem conflitos de interesses e se integram tensões factico-
axiológicas, segundo razões de oportunidade e de prudência. Toda a norma jurídica surge
da integração do facto e do valor, pois assinala uma tomada de posição perante factos em
função de valores.
O HOMEM E A CULTURA
Na estrutura do mundo ou da realidade definida por esta nova ontologia pluralista, o lugar
do homem é o de um ser composto por três elementos distintos mas inseparáveis e
reciprocamente interdependentes que participa das três últimas ordens ou estratos do real:
enquanto ser corpóreo, integra-se na região da vida, enquanto ser psíquico, na da alma ou
da psique, enquanto ser racional ou espiritual, na do espírito.
Valores e cultura
Nas suas diversas e múltiplas formas a cultura é sempre criação do homem, tentativa de
criar realidades valiosas, de incorporar valores nas coisas, de acrescentar à natureza ou de
dar à natureza um sentido valioso.
A experiência jurídica
Para uma adequada compreensão do conceito de experiência, há desde logo, que ter em
conta que este termo comporta dois sentidos diferentes, objectivo um, subjectivo o outro.
No primeiro deles, designa-se habitualmente por experiência o acto de experimentar ou
de fazer experiências, visando provar, ou comprovar hipóteses científicas acerca de
determinados fenómenos, das relações permanentes entre eles ou das condições da sua
ocorrência ou verificação, enquanto, no segundo, se refere ao resultado vital ou vivencial
do experienciado ou da vida vivida, reportando-se, por isso, ao mundo do homem e da
consciência e não já ao dos factos, dos fenómenos naturais das coisas.
Este tipo de experiência que é a experiência jurídica revela-se constituído por dados que
se referem não só a pessoas e a realidades da vida ou a coisas do mundo, como também
a valorações, a necessidades e pretensões, envolvendo questões concretas que é
necessário resolver ou decidir.
Como realidade cultural, o direito não pertence ao mundo físico nem biológico, em que
imperam a necessidade, a causalidade e o determinismo, nem ao domínio psíquico das
emoções e dos sentimentos, nem sequer ao dos seres ideais, em que se situam as
realidades lógicas e matemáticas, pois enquanto estas são intemporais e abstractas, o
direito é concreto, variável no tempo e no espaço, e, como realidade humana, é
profundamente marcado pela temporalidade e pela historicidade essenciais ao próprio
homem.
Como criação cultural não é um dado, uma realidade preexistente que o homem encontre
no mundo ou na natureza, nem uma realidade estática, mas sim espírito objectivado,
projecção espiritual do homem. Algo que está aí para ser pensado, conhecido e vivido e
cuja existência depende, por isso, da relação cognitiva e vivencial que o homem como ele
estabelece e mantém, a qual lhe dá vida e contendo e actualiza, dinâmica e criadoramente,
o sentido que nele está latente e lhe é conferido pela referência a valores, princípios ou
ideais.
O direito caracteriza-se por ser uma criação humana que se objectiva em normas,
constituindo uma ordem reguladora da conduta ou do agir humano na sua interferência
intersubjectiva, na sua convivência ou na sua vida social.
Por outro lado, o direito é uma realidade social heterónoma (característica), uma vez que
a regulamentação ou a ordenação da conduta que se propõe estabelecer é imposta do
exterior dos sujeitos, por um outro sujeito dotado de poder de definir e impor critérios,
regras ou normas de conduta ou de comportamento.
O homem obedece às normas do direito, desde que o faça conscientemente, tem de o fazer
no sentimento de quem presta uma homenagem a certas ideias de valor, mesmo que isso
lhe custe.
Costuma-se dizer que o direito é norma coactivamente imposta pelo Estado aos homens
na vida social. À primeira vista, pode ser contraditório falar em coercibilidade do direito,
justamente depois de se ter acabado de dizer que ele se funda só numa obrigatoriedade
toda moral de adesão aos seus preceitos, fora de qualquer coacção. Todavia a contradição
é meramente aparente. Ela só existirá se disser, ser todo o direito só coacção, mas direito
só se torna coactivo eventualmente; torna-se coactivo, ainda em homenagem a um dever-
ser moral, só na medida em que o não acatamento dos seus preceitos por parte de alguns
homens arraste necessariamente consigo: ou a ofensa dos direitos dos outros, ou a ruína
da ordem social estabelecida.
As normas em que se objectiva o direito constituem uma ordem, num amplo sentido: por
um lado, formam um conjunto ordenado a partir dos princípios, valores ou ideias de cuja
visualização ou interpretação são objectivada expressão; por outro lado, procuram
ordenar, reflectir ou tornar direita ou recta a vida social, a convivência entre os homens,
as suas relações, substituindo por uma ordem, caos a que a desordenada conduta
individual inevitavelmente conduziria, no seu jogo de egoísmos e na luta em que o mais
fraco sucederia ao arbítrio do mais forte.
A ordem que o direito visa instituir, porque referida a valores, princípios ou ideias, não é
uma ordem neutra ou indiferente, mas sim uma ordem justa, uma ordem concreta,
definida a partir do princípio ou valor justiça, que é precisamente, aquele que dá sentido
e conteúdo ao direito na sua essencial dimensão axiológico-cultural.
Partindo da justiça como princípio, valor ou ideal, o direito é, pois, o meio de que o
homem se serve para alcançar uma adequada ordenação da sua conduta social, com o fim
de coordenar o exercício da liberdade de cada um com a liberdade dos restantes,
realizando deste modo, o bem comum da sociedade política.
O tipo de ordem normativa que o direito constitui nas diversas formas por que se
manifesta e nos vários modos como se torna efectiva, apresenta como traço
individualizador a positividade. Esta, como atributo essencial das normas criadas ou
reconhecidas pelas entidades investidas de autoridade ou de poder, significa que o direito
é posto por essas mesmas entidades, que é por elas definido, estabelecido, estatuído ou
criado, seja pelo legislador, seja pela comunidade que adopta determinado costume, seja
pelo juiz que profere uma sentença.
O termo validade para o positivismo jurídico deve ser entendida de um modo formal,
reportando-se à conformidade de qualquer norma com as de valor superior que definem
o seu processo de formação.
Direito e moral
O direito não é, porem, a única ordem normativa da vida social do homem, outras com
ele coexistindo, como a moral, a religião e os usos sociais.
A moral de que aqui se fala é a moral positiva, a que se dá também muitas vezes, o nome
de moral dos costumes.
É o conjunto de preceitos, concepções e regras, altamente obrigatórios para a consciência,
pelos quais se rege, antes e para além do direito, algumas vezes até em conflito com ele,
a conduta dos homens numa sociedade.
É aquilo que os homens apreendem ou julgam apreender no seu esforço de realização dos
valores éticos, como única fonte e fundamento de todo o dever-ser e obrigatoriedade nas
suas relações consigo mesmo e com os outros homens.
Esta diversa natureza das ordens normativas explica, igualmente, outro decisivo e
essencial elemento distintivo: é que, atendendo ao indivíduo ou ao sujeito da conduta
enquanto tal, considerando-o a partir do domínio da interioridade e da consciência, a
moral caracteriza-se pela sua unilateralidade, e pela imanência do critério moral, pelo
seu carácter radicalmente autónomo, pela total liberdade no cumprimento dos respectivos
preceitos e pela sua irrecusável incoercibilidade, enquanto, pelo contrário, o direito se
define, precisamente, pela sua bilateralidade atributiva, em que cada direito corresponde
sempre um dever, e vice-versa, e pela sua natureza heterónoma, que faz que a realização
dos seus comandos possa ser imposta às vontades individuais.
A AXIOLOGIA DO DIREITO
A JUSTIÇA
A problemática da Justiça
Duas advertências cabem fazer aqui. A primeira para notar que, quando considerada
como virtude, a Justiça individualiza-se, face às restantes, pode dizer respeito a acções e
não a paixões e pela sua bilateralidade, por se referir sempre e necessariamente a relações
intersubjectivas.
A segunda observação será para recordar que, sabem que estas duas perspectivas ou
estes dois modos de considerar ou de pensar a Justiça sejam complementares, o segundo
(objectivo) tem prioridade lógica e axiológica sobre o primeiro (subjectivo), dado que,
sendo a Justiça virtude do Homem que age rectamente, necessário se torna, para defini-
la saber o que é, em si, a Justiça como valor, princípio, ideia ou ideal.
O princípio da Justiça
A Justiça é acima de tudo e antes de mais, liberdade, que implica respeito pela
personalidade livre de cada um ou por cada Homem enquanto pessoa. Mas se não é a lei
que nos pode dizer o que é devido a cada um, nem a Justiça se reporta apenas a bens
exteriores, as coisas ou a cargos, se o seu a que se refere é o próprio de cada um, num
sentido ontológico radical, vindo a consistir na liberdade e na personalidade e no que
uma e outra implicam de direitos e bens exteriores, isto é, de propriedade, então deve
concluir-se que a Justiça não depende nem pode procurar-se ou fazer-se residir na
generalidade da lei, antes se encontrando na diversidade do concreto, do singular e do
individual.
Com efeito, exigindo a Justiça plena e perfeita o integral respeito e consideração pelo
individual e pelo singular e concreto de cada homem, envolve, em si, o Homem todo e
não aspectos dele abstractamente considerados.
Daí que, se a igualdade pode ser e tende a ser o critério da Justiça legal ou da Justiça
que se exprime na lei, de modo sempre imperfeito, dada a sua generalidade, que
corresponde a uma abstracta média, a uma imagem ou um modelo mental e não a qualquer
concreta singularidade, que nunca com ela plenamente se conforma, nunca pode ser o
fundamento e o critério essencial e decisivo da Justiça enquanto valor, princípio, ideia ou
ideal.
A Justiça como valor, princípio, ideia ou ideal não pode ser concebida ou pensada como
algo de substancial ou entitativo; ela é antes o que é o próprio do justo, o que o faz ser
justo e que se revela pela sua negação ou pela sua ausência, isto é, pela injustiça.
Sendo princípio, valor, ideia ou ideal, a Justiça é um insubstancial que de nada depende
mas do qual, no mundo jurídico, tudo depende.
Por outro lado ainda, porque é insubstancial e concreta, a Justiça não é susceptível de ser
objectivada ou aprisionada ou expressa em fórmulas ou regras, de ser limitada ou
delimitada por qualquer definição. Verdadeiramente real é a injustiça. A Justiça, pelo
contrário, sendo o nada de que tudo depende, não existe em si, não tem ser, é uma meta,
um objectivo nunca plenamente realizado ou alcançado, é uma intenção ou uma
intencionalidade, é a luta permanente, infindável e sempre recomeçada pela sua própria
realização.
Em, segundo lugar, deve notar-se que, do ponto de vista da Justiça, é mais decisiva a
aplicação da lei do que a própria lei, porquanto é então que, em concreto, o direito se
realiza e o próprio de cada um se afirma e define, o que, obviamente, não impede um
juízo sobre a Justiça ou a injustiça da lei em si.
Desta conclusão uma outra deriva: a de que, na concreta realização da Justiça, é mais
decisivo o papel do juiz do que o do legislador, da jurisprudência do que da lei. De igual
modo, o costume e a norma, e pela sua menor abstracção e generalidade, pela sua maior
proximidade do concreto, pela sua origem mais vivencial do que racional-voluntária, mais
colectiva do que individual, poderá garantir melhor do que aquela uma solução justa.
Por outro lado, esta visão de Justiça vem pôr a claro a inadequação do modo de entender
a sentença como meio processo lógico formal, como um raciocínio silogístico e chamar
a atenção para que o dizer o direito – a jurisdição – do caso concreto, o juízo de legalidade
que o juiz profere, é condicionado, precedendo em larga medida, determinado por um
juízo de Justiça de natureza intuitivo-emocional, ditado pelo sentido de Justiça.
Gnosiologia da Justiça
Porque a Justiça é valor, princípio, ideia ou ideal e, por isso, insubstancial, não é
susceptível de ser apreendida ou aprisionada por uma definição, na medida em que esta é
sempre um pôr limites, um marcar de contornos de uma aspecto da realidade.
Por outro lado, a sua natureza de valor, princípio, ideia ou ideal impede-a de ser objecto
de um conceito, pois é o resultado das possibilidades criadoras da razão e os valores, os
princípios e os ideais transcendem a razão e ano dependem dela na sua existência, e
apenas na sua efectividade e na sua realização parcialmente dela quedam dependentes.
Assim, é corrente atribuir-lhe outros fins ou indicar outros valores como jurídicos. É
o que acontece com a ordem, a paz, a liberdade, o respeito pela personalidade individual,
a solidariedade ou a cooperação social e a segurança como fins do direito ou como valores
jurídicos que coexistem com a Justiça no firmamento axiológico do Direito, conveniente
se tornando, por isso, estudar o modo como ela se articula e compatibiliza.
A razão obedece a princípios formais, que lhe garantem a coerência. Uma das
principais descobertas da Filosofia Clássica, foi a de que existem três princípios
fundadores da racionalidade, que estão na base de todos os outros:
O Princípio da Não-Contradição: - Uma coisa não pode ser e ser ao mesmo tempo,
de acordo com a mesma perspectiva. (Uma proposição não pode ser verdadeira e falsa
ao mesmo tempo, de acordo com a mesma perspectiva).
1ª- Regra: O silogismo tem três e apenas três termos: o maior, o médio ou mediano e o
menor.
Exemplo:
Exemplo:
Silogismo inválido.
O termo médio é incluído nas duas premissas para fazer a ligação entre os termos maior
e menor e não na conclusão.
3ª Regra: O termo médio tem que ser tomado, pelo menos uma vez, em toda a sua
extensão (universalmente), ou seja, deve estar distribuído pelo menos uma vez.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Em nenhuma das premissas o termo médio ou mediano «mamíferos», designa a
totalidade dos mamíferos, ou seja, não está distribuído, por isso, não desempenha a
função de ligação entre os outros dois termos.
4ª Regra: Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas. Se
na conclusão um termo está distribuído, também tem de estar distribuído na premissa
onde ocorre.
Exemplo:
Todas as orquídeas são flores
Nenhuma rosa é orquídea
Silogismo inválido.
Apresenta o termo "flor" universal na conclusão - predicado de uma frase negativa-
sendo particular na premissa maior - predicado de uma frase afirmativa.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Quando existem duas premissas negativas, não é possível estabelecer qualquer conexão
válida entre os termos do silogismo.
2ª Regra: de duas premissas afirmativas não se pode extrair uma conclusão negativa.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Uma vez que as premissas são ambas afirmativas, o predicado não está distribuído, o
que significa que se referem a parte dos elementos do conceito (há pensadores que não
são físicos e há homens que não são físicos). Inferir uma conclusão negativa equivale a
usar o predicado em toda a sua extensão (o predicado das proposições negativas está
distribuído), o que torna o termo maior mais extenso na conclusão do que na premissa
maior.
3ª Regra: de duas premissas particulares nada se pode concluir.
Exemplo:
Silogismo inválido.
Sendo as premissas particulares referem-se a parte dos elementos e o termo médio ou
mediano não estabelece ligação com todos os elementos do conjunto.
4ª Regra: A conclusão segue sempre a parte mais fraca, isto é, se uma premissa é
negativa, a conclusão é negativa; se uma premissa é particular, a conclusão é
particular.
Silogismo inválido.
A qualidade negativa da segunda premissa não permite que se extraia uma conclusão
afirmativa.
Exemplo:
Silogismo inválido.
A quantidade particular da primeira premissa não permite que se extraia uma conclusão
universal
1.9.4. Silogismo expositório
O silogismo expositório não é propriamente um silogismo, mas um esclarecimento ou
exposição da ligação entre dois termos, caracteriza-se por apresentar, como termo
médio, um termo singular. Por exemplo:
a) Polissilogismo
O polissilogismo é uma espécie de argumento que contempla vários silogismos, onde a
conclusão de um serve de premissa maior para o próximo. Como por exemplo:
b) Silogismo informe
O silogismo informe caracteriza-se pela possibilidade de sua estrutura expositiva poder
ser transformada na forma silogística típica.
Por exemplo: "a defesa pretende provar que o réu não é responsável do crime por ele
cometido. Esta alegação é gratuita. Acabamos de provar, por testemunhos irrecusáveis,
que, ao perpetrar o crime, o réu tinha o uso perfeito da razão e nem podia fugir às graves
responsabilidades deste ato".
Todo aquele que comete um crime quando no uso da razão é responsável pelos seus atos.
Ora, o réu cometeu um crime no uso da razão.
Logo, o réu é responsável pelos seus atos.
c) Silogismo hipotético
Um silogismo hipotético contém proposições hipotéticas ou compostas, isto é,
apresentam duas ou mais proposições simples unidas entre si por uma cópula não-verbal,
isto é, por partículas. As proposições compostas podem ser divididas em:
- Copulativa ou conjuntiva: "a lua se move e a terra não se move". Nesse exemplo, duas
proposições simples são unidas pela partícula e ou qualquer elemento equivalente a essa
conjunção. Dentro do cálculo proposicional será considerada verdadeira a proposição que
tiver as duas proposições simples verdadeiras e será simbolizada como: p ∧ q (ou p.q, ou
pq).
-Disjuntivas: "a sociedade tem um chefe ou tem desordem". Caracteriza-se por duas
proposições simples unidas pela partícula ou ou equivalente. Dentro do cálculo
proposicional, a proposição composta será considerada verdadeira se uma ou as duas
proposições simples forem verdadeiras e será simbolizada como: p ∨ q.
- Condicional: "se vinte é número ímpar, então vinte não é divisível por dois". Aqui, duas
proposições simples são unidas pela partícula se...então. Dentro do cálculo proposicional,
essa proposição, será considerada verdadeira se sua consequência for boa ou verdadeira,
simbolicamente: p ⇒ q (ou p ⊃ q).
B) Ocultamente compostas: são duas ou mais proposições simples que formam uma
proposição composta com as partículas de ligação: salvo, enquanto, só.
- Reduplicativa: "a arte, enquanto arte, é infalível". Nessa proposição temos duas
proposições simples ocultas pela partícula enquanto. As duas proposições simples
componentes da composta são: "a arte possui uma indeterminação X" e "tudo aquilo que
cai sobre essa indeterminação X é infalível". O termo realmente também é considerado
reduplicativo. A proposição composta será considerada verdadeira se as duas proposições
simples forem verdadeiras.
d) Dilema
O dilema é um conjunto de proposições hipotéticas e contraditórias entre si, tal que,
afirmando qualquer uma das proposições, resulta uma mesma conclusão insatisfatória.
Por exemplo:
A falácia do termo médio não distribuído ocorre quando o termo que liga as duas
premissas não abrange toda a classe a qual pertence.
1. Todo Z é B
2. Todo y é B
3. Portanto, todo y é Z
B é o termo comum entre as duas premissas (o termo médio), mas em nenhum momento
ele é distribuído, portanto, esse silogismo é inválido.
Outra regra da lógica pertinente ao assunto enuncia que todo termo distribuído na
conclusão deve ser distribuído em ao menos uma das premissas .
1. Todo Z é B
2. Algum Y é Z
3. Portanto, todo Y é B
O termo médio – Z – é distribuído, porém, Y é distribuído na conclusão e não em uma
premissa. Por esse motivo tal silogismo é inválido.
1. Todo Z é B
2. Y é B
3. Portanto, Y é Z
Nesse argumento, B é o termo médio e não é distribuído na premissa maior "Todo Z é
B".
Pode ser ou pode não ser o caso de que "Todo Z é B", mas isso é irrelevante para a
conclusão. O que é relevante é quando pode-se afirmar que "Todo B é Z", situação
desconsiderada no argumento. Essa falácia é semelhante a afirmar o consequente e negar
o antecedente. Entretanto, ela pode ser corrigida com a troca dos termos na conclusão ou
na primeira co-premissa. É bem verdade que na perspectiva da lógica de primeira ordem,
todos os casos de falácia do termo médio não distribuído são, de fato, exemplos de
afirmação do consequente ou negação do antecedente, dependendo da estrutura do
argumento falacioso.
Por exemplo:
1- Os estudantes da Unia levam mochilas
2- Meu Avô leva uma mochila
3- Logo, meu Avô é um estudante da Unia
Conclusão
A filosofia do direito é a proposta de investigação, que valoriza a abstracção
conceitual, servindo de reflexão. Sobre as construções jurídicas sobre os discursos
jurídicos, sobre as práticas jurídicas, sobre os factos e as normas jurídicas.
Para conseguir superar, as diversas limitações empirista e idealista na abordagem, tanto
filosófico quanto científica do direito, o Miguel Reale propõe que este deva ser estudado
no seu tríplice aspecto:
Histórico-social
Axiológico
Normativo
Pois o direito realiza um valor através de uma norma de conduta. Assim não há que
separar o facto ou conduta, o valor ou finalidade a que a conduta está relacionada, nem a
norma que decide sobre a conduta, pois o direito é simultaneamente um facto social, uma
norma ou comando um valor ou dever-se. O direito portanto, possui sempre uma
Tridimensionalidade ôntica que o situa no mundo da cultura. Deste modo, qualquer
análise jurídica deve considerar necessariamente o complexo das normas em função das
situações nómadas, isto é deve apreender o objecto do direito em sua estrutura
tridimensional.
É só através das suas relações com facto a que se refere, dai Miguel Reale atribuir ao
direito carácter da ciência social compreensivo-normativa, que estuda o seu objecto numa
perspectiva que vai muito além do formalismo Kelseniano e da tendência idealista que vê
no direito sobretudo um complexo de juízos lógicos. A norma exerce no
tridimensionalíssimo jurídico o papel dinâmico de integrar o elemento fáctico ao
elemento axiológico, sendo por conseguinte parte da realidade jurídica. A norma é por
isso variável em função dos outros elementos da relação tridimensional: o facto e o valor.
Nas relações entre facto e valor, esses elementos são irredutíveis um ao outro, ou seja,
constituem realidades autónomas, distintas, de modo que do ser não se pode passar
directamente para o dever-se, embora a recíproca não seja verdadeira, ai está o factor
polaridade. Mas facto e valor exigem-se mutuamente, de modo tal que não podem ser
considerados em separado nem desvinculados da norma que, em ligada realiza o direito,
por sua vez a norma não pode ser compreendida senão em função desses dois elementos,
que constituem respectivamente o seu conteúdo e o seu fim eis o factor implicação.
Axiológica-normativa: o direito é visto como uma ordem positiva de valores, como algo
que apenas tem uma validade relativa, a relativa sobretudo, à consciência dos valores que
predominam num certo espaço e num certo tempo. Dai deriva grande parte da autonomia
do direito, dotado de uma lógica própria e de um esquema típico de desenvolvimento.
Normativo-real: o direito existe para ser realizado, porque quando se institui torna-se
real. As tendências axiológicas na linha do existencialismo, exigem-se um direito válido,
vigente e eficaz (os três momentos da vida do direito), a validade enquanto fundamento
do dever-se do cumprimento de um qualquer direito. A vigência e a eficácia enquanto
momento da respectiva realização. A vigência como momento potencial e intencional, a
eficácia como momento real e actual. Trata-se portanto de uma concepção integrada dos
três momentos do direito como dever-se que é, como um transcendente situado. O mesmo
equilíbrio se nota no concernente à “Teoria Pura do Direito” de Hans Kelsen, cuja
contribuição maior seria constituída pela demonstração de que no direito o essencial é a
sua dimensão normativa.