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A Torre de Bavel Misteriostanakh4
A Torre de Bavel Misteriostanakh4
Mistérios do Tanakh!
A Torre de Bavel!
Por Sha’ul Bentsion!
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I - Introdução!
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! Uma das passagens mais curiosas da Torah se refere ao episódio conhecido como a
Torre de Bavel (Babel/Babilônia).!
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! Segundo a leitura tradicional do episódio, toda a humanidade teria se reunido após o
dilúvio, numa arrogante tentativa de sobrepujar o Eterno, através da construção de uma
torre que atingiria os céus.!
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! O Eterno teria então confundido as línguas da humanidade, que a partir daí teria se
dividido em diversos dialetos diferentes.!
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! Por trás dessa intrigante história, o que há de mito popular, e o que é que as
Escrituras realmente dizem? Quais as possíveis interpretações para o texto hebraico?
Seria o episódio factual ou alegórico? Além da Torah, o que se sabe historicamente sobre
essa colossal estrutura?!
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! Essas e outras perguntas serão aqui abordadas, numa impressionante jornada por
uma das mais intrigantes histórias das Escrituras.!
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II - Registro Arqueológico!
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! Curiosamente, a Torre de Bavel é uma das
histórias do período antigo da Torah mais bem
documentadas arqueologicamente. O que, de
imediato, minimiza bastante a chance da narrativa ser
poética ou alegórica.!
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! Aqui será apresentado um resumo sobre as
principais informações acerca dessa impressionante
construção.!
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! A mais importante referência arqueológica sobre
a Torre de Bavel é uma estela da época de
Nabucodonosor II (século VI AC), que é parte do
acervo do colecionador norueguês Martin Schøyen, o
maior acervo pessoal de manuscritos antigos do
mundo, atualmente distribuído entre Londres e Oslo.!
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! As ruínas da torre de Bavel permaneceram
durante séculos no local, até que o rei babilônio
Nabopolassar, pai de Nabucodonosor II, iniciou um
trabalho de restauração. Mas foi seu filho,
Nabucodonosor II, o principal restaurador de torre,
num trabalho que durou 43 anos.!
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segunda torre, e sobre ela uma terceira, e assim por diante até oito. A subida ao topo é
no exterior, por um caminho que serpenteia em volta de todas as torres. Quando alguém
está cerca de metade da subida, encontra um local de repouso e assentos, onde as
pessoas podem se sentar por um tempo, no seu caminho até o cume. No topo da torre
existe um espaçoso templo, e dentro do templo há um divã de tamanho pouco usual,
ricamente adornado, e uma mesa dourada ao lado. Não há estátua de nenhum tipo posta
naquele local, nem sua câmara é ocupada à noite por ninguém exceto uma única mulher
solteira nativa, a qual, segundo afirmam os caldeus, sacerdotes desse deus, é escolhida
pela própria divindade para ele de todas as mulheres da terra.” (Histórias 1:181)
!
! Observa-se uma dupla-função na torre, ainda segundo o próprio Heródoto, tendo
um viés de proteção, e ao mesmo tempo um viés religioso.!
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! Isso não é surpreendente, uma vez que um povo que desejasse se proteger em
uma situação de guerra certamente também se sentiria melhor buscando abrigo em meio
aos seus deuses.!
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! O que não é claro, porém, é se a conotação religiosa da torre, dedicada ao deus
babilônio Bel-Merodach, a quem Heródoto chama de Júpiter Belus, sempre existiu, ou se
isso teria sido uma inovação de Nabucodonosor II. Mas, o autor deste material aposta na
primeira alternativa.!
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! Heródoto menciona oito andares, ao passo que Nabucodonosor apenas sete. Isso
provavelmente se explica pelo fato de Heródoto deve ter considerado o topo da torre/
pirâmide como um andar, ou deve ter contado como dois algum dos andares inferiores.!
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! A trágica história da torre de Bavel ao longo do tempo nos faz suspeitar que o local
fosse amaldiçoado, pois a torre nunca conseguiu permanecer por muito tempo. !
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! Restaurada no século VI AC por Nabucodonosor II, a torre já no século V foi
destruída pelo rei persa Xerxes I, em sua incursão contra a Babilônia.!
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! No século IV, Alexandre o Grande viria a capturar a cidade da Babilônia, e teria
ordenado sua reconstrução.!
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! Contudo, a dificuldade na restauração fez com que Alexandre ordenasse sua
demolição, para reconstruí-la. No entanto, Alexandre viria logo depois a morrer antes de
ter a chance de reconstruí-la, conforme narra o historiador Strabo, no século I AC:!
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“Aqui também está a tumba de Belus, agora em ruínas, tendo sido demolida por Xerxes,
conforme é dito. Era uma pirâmide quadrangular de tijolos assados, não apenas tendo um
estádio de altura, mas também tendo lados de um estádio de comprimento. Alexandre
intentou consertar esta pirâmide; mas teria sido uma tarefa muito grande e teria
demandado um grande tempo (para simplesmente limpar o monte foi uma tarefa para dez
mil homens em dois meses), de modo que ele não conseguiu concluir o que ele havia
tentado; pois imediatamente o rei foi tomado por uma doença e morte. Nenhum de seus
sucessores se importou com o assunto, e mesmo o que estava da cidade foi
negligenciado e deixado às ruínas." (Geografia 16:1:5)
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! No século III, o rei selêucida Antíoco I teria ainda feito uma visita ao local, levando
ofertas e aparentemente intentando fazer um sacrifício a Bel, o que indica que talvez
Antíoco I tivesse a intenção de reconstruir a torre de Bavel.!
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! Contudo, Antíoco I teria sofrido um acidente nas ruínas do local, provavelmente
caindo de sua montaria. !
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! Irado, Antíoco I teria ordenado que o remanescente das ruínas da torre de Bavel
fosse removido, e o terreno fosse totalmente liberado, o que marcou o fim definitivo da
história da torre de Bavel, e de todas as fracassadas tentativas de reerguê-la de forma
permanente.!
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! Tal evento é descrito no texto histórico babilônio das Crônicas da Ruína da Torre:!
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“… à Babilônia co[m…] de Bel; aos bab[ilôn]ios da [assembléia da To]rre ele [de]u uma
oferta; na ruína da torre eles a [arran]jaram. Na ruína da Torre ele caíu. Bois [e] uma oferta
do estilo grego ele fizera. O filho do rei, suas [tropa]s, suas carruagens, e seus elefantes
recoveram o entulho da Torre. No terreno vazio da Torre eles comeram." (BCHP 6)
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IV - Arquitetura
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! A arquitetura da torre de Bavel indica que ela era, na realidade, semelhante ao
brinquedo infantil chamado de torre de Hanói. Abaixo uma representação artística
baseada nos achados arqueológicos e nas informações históricas.!
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! Não se sabe ao certo quantos andares a torre
possuía nos tempos bíblicos. Contudo, a torre de
Nabucodonosor II teria 7 andares e uma base,
totalizando 8 níveis. Cada nível menor do que a base
que lhe sustentava anteriormente.!
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! A estela de Nabucodonosor II nos fornece a
única representação gráfica da torre. Aliada à
descrição de Heródoto, tem-se uma boa ideia de sua
aparência. Ao lado, uma representação gráfica da
torre.!
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! Do ponto de vista de suas dimensões, Strabo fornece uma medida um pouco
menor da torre do que Heródoto, de aproximadamente 180m, contra cerca de 200m
segundo Heródoto. Strabo também fornece a altura, que Heródoto omite.!
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! A diferença se explica porque provavelmente tanto Heródoto quanto Strabo
forneceram medidas aproximadas, e não um tamanho exato.!
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! Pela descrição de ambos, a base da torre de Bavel teria uma área aproximada
entre 5 e 6 campos de futebol, um pouco menor do que a base da Grande Pirâmide de
Gizé no Egito.!
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! Sua altura, contudo, também de aproximadamente 180m, seria ligeiramente maior
do que a Grande Pirâmide, o que indica uma estrutura de proporções mais ou menos
equivalentes, e certamente uma das obras mais impressionantes da antiguidade.!
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. וַתְּהִי ֵראשִׁית מַמְלַכְּתֹו ּבָבֶל וְאֶֶרְ וְאַּכַד וְכַלְנֵה ּבְאֶֶרץ שִׁנְעָר.יֵאָמַר ּכְנִמְֹרד ּגִּבֹור צַיִד לִפְנֵי יְהוָה
--ֶרסֶן ּבֵין נִינְוֵה ּובֵין ּכָלַח- וְאֶת.ּכָלַח-ְרחֹבֹת עִיר וְאֶת-נִינְוֵה וְאֶת-הָאֶָרץ הַהִוא יָצָא אַּׁשּור; וַיִּבֶן אֶת-מִן
ּפַתְֻרסִים- וְאֶת.נַפְתֻּחִים-וְאֶת--לְהָבִים-עֲנָמִים וְאֶת-לּוִדים וְאֶת- ּומִצְַריִם יָלַד אֶת.הִוא הָעִיר הַּגְֹדלָה
.חֵת-וְאֶת--צִיֹדן ּבְכֹרֹו- ּוכְנַעַן יָלַד אֶת.ּכַפְּתִֹרים-וְאֶת--ּכַסְלֻחִים אֲשֶׁר יָצְאּו מִשָּׁם ּפְלִשְׁתִּים-וְאֶת
הָאְַרוִָדי- וְאֶת.הַּסִינִי-הַעְַרִקי וְאֶת-הַחִוִּי וְאֶת- וְאֶת.הָאֱמִֹרי וְאֵת הַּגְִרּגָשִׁי-הַיְבּוסִי וְאֶת-וְאֶת
ּבֹאֲכָה גְָרָרה-- וַיְהִי ּגְבּול הַּכְנַעֲנִי מִּצִיֹדן.הַחֲמָתִי; וְאַחַר נָפֹצּו מִשְּׁפְחֹות הַּכְנַעֲנִי-הַּצְמִָרי וְאֶת-וְאֶת
חָם לְמִשְּׁפְחֹתָם לִלְׁשֹנֹתָם- אֵּלֶה בְנֵי.לָשַׁע-עַד-- ּבֹאֲכָה סְֹדמָה וַעֲמָֹרה וְאְַדמָה ּוצְבֹיִם:עַּזָה-עַד
ּבְאְַרצֹתָם ּבְגֹויֵהֶם.!
E os filhos de Ham são: Kush, Miṣraim, Put e Khena'an. E os filhos de Kush são: Seva,
Hawilah, Savtah, Ra'mah e Savtekha; e os filhos de Ra'mah: Shevah e D'dan. E Khush
gerou a Nimrod; este começou a ser poderoso na terra. E este foi poderoso caçador
diante da face de YHWH; por isso se diz: Como Nimrod, poderoso caçador diante de
YHWH. E o princípio do seu reino foi Bavel, Erekh, Akad e Khalneh, na terra de Shin'ar.
Desta mesma terra saiu à Ashur e edificou a Ninweh, Rehovot-‘Ir, Kalah, E Ressen, entre
Ninweh e Kalah (esta é a grande cidade). E Miṣraim gerou a Ludim, a 'Anamim, a
Lehavim, a Naftuhim, a Patrussim e a Kasluhim (donde saíram os filisteus) e a Kaftorim. E
Khena'an gerou a Ṣidon, seu primogênito, e a Het; E ao jebuseu, ao amorreu, ao
girgaseu, E ao heveu, ao arqueu, ao sineu, e ao arvadeu, ao zemareu, e ao hamateu, e
depois se espalharam as famílias dos cananeus. E foi o termo dos cananeus desde
Ṣidon, indo para Gerarah, até 'Aza; indo para Sedomah e 'Amorah, Admah e Ṣeboim, até
Lasha'. Estes são os filhos de Ham segundo as suas famílias, segundo as suas línguas,
em suas terras, em suas nações.!
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! Observa-se aqui que os filhos de Ham (Cão) partem para uma região
completamente diferente.!
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! Mais uma vez, temos o uso do termo lashon ( )לשוןpara se aplicar ao idioma. As
mesmas observações anteriores são válidas para este trecho.!
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! Os descendentes de Ham são descritos como tendo ocupado algumas cidades da
costa nordeste da África.!
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. ּבְנֵי שֵׁם עֵילָם וְאַּׁשּור וְאְַרּפַכְשַׁד וְלּוד וַאֲָרם.אֲחִי יֶפֶת הַּגָדֹול--עֵבֶר-ּבְנֵי- אֲבִי ּכָל:הּוא-ּולְשֵׁם יֻּלַד ּגַם
: ּולְעֵבֶר יֻּלַד שְׁנֵי בָנִים.עֵבֶר-שָׁלַח; וְשֶׁלַח יָלַד אֶת- וְאְַרּפַכְשַׁד יָלַד אֶת.עּוץ וְחּול וְגֶתֶר וָמַׁש--ּובְנֵי אֲָרם
שָׁלֶף-אַלְמֹוָדד וְאֶת- וְיְָקטָן יָלַד אֶת.שֵׁם הָאֶחָד ּפֶלֶג ּכִי בְיָמָיו נִפְלְגָה הָאֶָרץ וְשֵׁם אָחִיו יְָקטָן
.שְׁבָא-אֲבִימָאֵל וְאֶת-עֹובָל וְאֶת- וְאֶת.ִדְּקלָה-אּוזָל וְאֶת-הֲדֹוָרם וְאֶת- וְאֶת.יַָרח-חֲצְַרמָוֶת וְאֶת-וְאֶת
. וַיְהִי מֹושָׁבָם מִּמֵשָׁא ּבֹאֲכָה סְפָָרה הַר הֶַקֶּדם.אֵּלֶה ּבְנֵי יְָקטָן-יֹובָב; ּכָל-חֲוִילָה וְאֶת-אֹופִר וְאֶת-וְאֶת
;נֹחַ לְתֹולְֹדתָם ּבְגֹויֵהֶם-אֵּלֶה מִשְּׁפְחֹת ּבְנֵי.שֵׁם לְמִשְּׁפְחֹתָם לִלְׁשֹנֹתָם ּבְאְַרצֹתָם לְגֹויֵהֶם-אֵּלֶה בְנֵי
אַחַר הַּמַּבּול--ּומֵאֵּלֶה נִפְְרדּו הַּגֹויִם ּבָאֶָרץ.!
E a Shem nasceram filhos, e ele é o pai de todos os filhos de 'Ever, o irmão mais velho de
Yefet. Os filhos de Shem são: 'Elam, Ashur, Arpakhshad, Lud e Aram. E os filhos de Aram
são: 'Uṣ, Hul, Gueter e Mash. E Arpakhshad gerou a Shalah; e Shelah gerou a 'Ever. E a
'Ever nasceram dois filhos: o nome de um foi Peleg, porquanto em seus dias se repartiu a
terra, e o nome do seu irmão foi Yoqtan. E Yoqtan gerou a Almodad, a Shalef, a
Haṣṣarmawet, a Yarah, a Hadoram, a Uzal, a Diqlah, A 'Oval, a Avimael, a Sheva, A Ofir, a
Hawilah e a Yovav; todos estes foram filhos de Yoqtan. E foi a sua habitação desde
Mesha, indo para Sefarah, montanha do oriente. Estes são os filhos de Shem segundo as
suas famílias, segundo as suas línguas, nas suas terras, segundo as suas nações. Estas
são as famílias dos filhos de Noah segundo as suas gerações, nas suas nações; e destes
foram divididas as nações na terra depois do dilúvio.!
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! Certamente é possível interpretar que toda a região do Oriente Médio foi repartida
nos tempos de Peleg, e que isso se refira ao episódio da Torre de Bavel. Porém a Torah
aqui fala de um repartir, e não de uma dispersão. !
!
! É possível que a referência seja unicamente ao repartir da terra de Shem entre os
seus filhos. A principal porção dos filhos de Shem se distribuiu pela península da Arábia, e
também adjacências à terra de Khena’an (Canaã).!
!
! Novamente, temos o termo lashon ( )לשוןcomo nos trechos anteriores.!
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Conclusão sobre a Pré-Análise!
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! É intrigante que a Torah já se refira a uma divisão de idiomas no capítulo anterior.
O capítulo reforça a ideia, já observada durante a análise da narrativa do dilúvio, de que
ha’areṣ não se refira ao mundo, mas sim à região conhecida.!
!
! Observa-se ainda que os filhos de Noah se espalharam pelas seguintes regiões:
Entorno do Mar Negro; Costa Nordeste da África, região de Khena’an (Canaã) e
Península da Arábia.!
!
! Mesmo assim, a quantidade de cidades e povoados fundados é relativamente
modesta, especialmente considerando que nos tempos antigos o que se chama de cidade
seria menor do que um bairro para os nossos padrões.!
!
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IV - Análise do Texto
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! Em seguinda, será realizada a análise da passagem específica, referente a
Bereshit (Gênesis) 11:1-9:!
!
הָאֶָרץ ׂשָפָה אֶחָת ּוְדבִָרים אֲחִָדים-וַיְהִי כָל.!
wayhi khol-haareṣ shafah ehat udvarim ahadim.!
E era toda a terra de mesmos lábios e de mesmos ditos.!
!
! A primeira coisa que chama a atenção nesta passagem é o uso da palavra safah
()שפה, que significa literalmente lábios.!
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! Essa palavra aparece nas Escrituras cerca de 175 vezes. Embora ela possa ser
utilizada como idioma, tal ocorrência é bastante rara.!
!
! Talvez o exemplo mais claro de uso enquanto idioma esteja na passagem abaixo:!
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"Naquele tempo haverá cinco cidades na terra do Egito que falarão a língua [sefat kenani -
]שְׂפַת ּכְנַעַןde Kena'an e farão juramento ao YHWH Ṣevaot; e uma se chamará: Cidade de
destruição.” (Yeshayahu/Isaías 19:18)
!
! Neste caso, o uso enquanto idioma é inequívoco, embora, conforme dito
anteriormente, a palavra mais comum usada nas Escrituras para se referir a idioma seja a
palavra lashon ()לשון, que significa literalmente "língua".!
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! O autor deste material entende que a primeira opção seja a mais provável, embora
afirme que a segunda seja igualmente possível!
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! Como a narrativa na Torah nem sempre é linear, é possível que a divisão deles em
goyim (povos) tenha ocorrido depois dos eventos narrados no capítulo 11.!
!
! Este passuq (versículo) nos ajuda a entender a questão de kol-haareṣ (toda a
terra), no passuq (versículo) anterior. !
!
! Em sendo uma continuação do capítulo 10 e da história dos descendentes de
Noah, cabe lembrar que vimos que o termo ereṣ ( )ארץpode ser utilizado para uma região
específica, e não necessariamente se refere ao mundo como um todo.!
!
! Além disso, no artigo desta mesma série acerca do dilúvio, observou-se que a
leitura mais provável do dilúvio era enquanto fenômeno local ocorrido no Oriente Médio.
Sabe-se, historicamente, que ocorreu um dilúvio na região.!
!
הָאֶָרץ-ּפְנֵי כָל-נָפּוץ עַל- ּפֶן:ּלָנּו שֵׁם-ּלָנּו עִיר ּומִגְּדָל וְֹראׁשֹו בַשָּׁמַיִם וְנַעֲשֶׂה-וַּיֹאמְרּו הָבָה נִבְנֶה. !
wayomeru havah nivneh-lanu ‘ir umigdal werosho bashamayim wena’asseh-lanu shem:
pen-nafuṣ ‘al-penê khol-haareṣ.!
E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e
façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.!
!
! O texto diz que a cabeça/topo (rosh - )ראשda torre (migdal - )מגדלficaria
literalmente nos céus (bashamayim - )בשמים.!
!
! A ideia de fazer um nome significa tornar-se famoso. Esse é o objetivo daqueles
que construiriam a cidade e a torre.!
!
! O autor deste material entende que a ideia de tornar-se famoso reforça o
entendimento de que o acontecimento tenha sido local, e não global. Como poderiam
aqueles homens tornarem-se famosos, se toda a humanidade estava participando do
feito?!
!
! Alguém poderia interpretar isso como uma referência a tornar-se famoso perante
as futuras gerações. Sem dúvida, essa é uma leitura cabível. No entanto, o autor deste
material entende que a primeira leitura seja a mais provável, e deixa a critério do leitor
decidir a esse respeito.!
!
הַּמִגְּדָל אֲשֶׁר ּבָנּו ּבְנֵי הָאָָדם-הָעִיר וְאֶת-!וַיֵֶּרד יְהוָה לְִראֹת אֶת
wayered YHWH lirot et-ha’ir weet-hamigdal asher banu benê haadam.!
Então desceu YHWH para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;!
!
! A ideia do Eterno descendo para ver o evento pode parecer estranha a um leitor do
século XXI, acostumado com uma descrição mais etérea e abstrata do Eterno. Como
pode um ser onipresente, externo à Criação, descer para ver as obras dos filhos dos
homens?!
!
! A narrativa é antropomórfica, e visa apenas elucidar que o Eterno observava
atentamente o que faziam os homens na terra de Shin’ar.!
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! Com uma mega-estrutura de uma torre gigantesca, sua cidade seria impenetrável,
e eles seriam capazes de construir um império poderosíssimo.!
!
! Essa ideia reforça ainda mais a tese de que os descendentes de Noah não eram
os únicos habitantes da terra, isto é, considerando que ereṣ ( )ארץseja uma referência
local e não global.!
!
! Considere ainda o leitor que a narrativa se localiza a não muitas gerações do
episódio do dilúvio. Naquela ocasião, a iniquidade generalizada fez com que o Eterno
precisasse tomar providências e destruir a região.!
!
! É possível que o Eterno estivesse procurando evitar uma situação semelhante,
impedindo assim que o poderio militar dos homens de Shin’ar fosse responsável por nova
catástrofe, pouco tempo depois.!
! !
! Outra questão a ser indagada é se já naquela época a estrutura estava sendo
dedicada ao deus babilônio Bel-Merodach, ou se tal dedicação surge apenas
posteriormente.!
!
! A idolatria, aliada ao poderio militar, também poderiam ser uma mistura
catastrófica. Como, aliás, a história já provou.!
!
הָאֶָרץ-ּפְנֵי ּכָל-הָאֶָרץ; ּומִשָּׁם הֱפִיצָם יְהוָה עַל-שָׁם ּבָלַל יְהוָה שְׂפַת ּכָל-ּכֵן ָקָרא שְׁמָּה ּבָבֶל ּכִי-!עַל
‘al-ken qara shemah bavel ki-sham balal YHWH sefat kol-haareṣ; umisham hefiṣṣam
YHWH al-penê kol-haareṣ!
Por isso se chamou o seu nome Bavel, porquanto ali confundiu YHWH os lábios de toda a
terra, e dali YHWH os espalhou sobre a face de toda a terra.!
!
! Há duas hipóteses para a expressão acima indicada. Uma é a de que o nome do
local tenha realmente se originado desse evento. Esse é o entendimento tradicional.!
!
! A segunda hipótese é a de que, na realidade, a Torah esteja fazendo um trocadilho
entre Bavel e balal (confundir), de forma jocosa.!
!
! Se a segunda hipótese for verdadeira, de onde viria originalmente o nome Bavel?!
!
! A resposta estaria no termo em acádio Bab-Ilu, que significaria literalmente “portão
de El”, ou “portão poderoso”.!
!
! Nesse caso, o trocadilho entre Bavel e balal seria uma forma de ironizar o nome,
indicando que o local que antes era tido como poderoso e imponente, havia sido palco de
confusão.!
!
! O autor deste material entende que a segunda hipótese seja a mais provável, mas
admite que a primeira seja igualmente possível.!
!
! O desfecho desta história é a dispersão dos homens, que deixaram de se
concentrar na terra de Shin’ar, e se espalharam pelas regiões adjacentes.!
!
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V - Um Adendo Curioso
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! Provavelmente, a essa altura, o leitor já deve ter uma ideia de que interpretação
mais faz sentido acerca da confusão de lábios, isto é, se a referência é a idiomas, ou ao
discurso.!
!
! Porém, isso também não coloca fim à questão. O confundir línguas é usado pelo
menos em mais um lugar nas Escrituras:!
!
"Destrói, Adonai, reparte as suas línguas [palag leshonim - ]ּפַּלַג לְׁשֹונָם, pois vejo violência
e contenda na cidade. Há destruição lá dentro; opressão e fraude não se apartam das
suas ruas. Pois não é um inimigo que me afronta, então eu poderia suportá-lo; nem é um
adversário que se exalta contra mim, porque dele poderia esconder-me; mas és tu,
homem meu igual, meu companheiro e meu amigo íntimo.”
(Tehilim/Salmos 55:11-13)
!
! Pelo contexto, Dawid (Davi) se angustia por causa de pessoas próximas a ele que
tramavam o seu mal.!
!
! Poeticamente, a expressão se refere a trazer desentendimento entre aqueles que
tramam o mal. !
!
! Ou seja, mesmo que safah (lábios) seja efetivamente sinônimo de lashon (língua),
ainda seria possível compreender a passagem de forma figurativa, assim como o salmo.!
!
!
VII - Conclusão
!
! A história da Torre de Bavel torna-se ainda mais fascinante, e ganha vida, com a
análise não apenas dos elementos arqueológicos e históricos, como também do texto
hebraico original.!
!
! A arqueologia e a história confirmam o relato bíblico, desde sua composição,
imponência, antiguidade, e até mesmo curioso abandono. E ainda fornecem detalhes
interessantíssimos, tais como a trágica história das demais tentativas de reconstruir a
torre, e a sua característica como fortaleza e local de culto.!
!
! A leitura tradicional da confusão dos idiomas da humanidade, referenciada tanto na
introdução quanto ao longo do texto, certamente é possível a partir do texto hebraico
original, restando apenas como interrogação a sua relação com a história da humanidade
e com as descobertas históricas.!
!
! Porém, certamente essa não é a única leitura. E, para o autor deste material,
também está bem longe de ser a melhor leitura, não apenas pela dificuldade histórica,
como também pelas próprias questões inerentes ao texto hebraico.!
!
! A primeira coisa que fica bastante clara é a possibilidade, indicada por vários
indícios do texto da própria Torah, de que o fenômeno fosse estritamente local, e não algo
que envolvesse toda a humanidade. O autor deste material considera essa a leitura mais
provável.!
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