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14/07/2020 Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ - APELAÇÃO : APL 02240180620178190001 - Inteiro Teor

Tribunal de Justiça do Rio de


Janeiro TJ-RJ - APELAÇÃO :
APL 02240180620178190001
-
Inteiro Teor
VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL Nº


0224018-06.2017.8.19.0001

EMBARGANTE: SUL AMÉRICA COMPANHIA DE SEGURO


SAÚDE

EMBARGADA: SOCIEDADE HÍPICA BRASILEIRA

RELATORA: DES. SANDRA SANTARÉM CARDINALI

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL.


ACÓRDÃO EMBARGADO, QUE NEGOU PROVIMENTO AO APELO DA
EMBARGANTE E DEU PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DA
EMBARGADA. RÉ QUE OPÕE OS PRESENTES EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, COM PROPÓSITO INFRINGENTE E DE

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PREQUESTIONAMENTO, ADUZINDO QUE O ACÓRDÃO É OMISSO,
NA MEDIDA EM QUE “O PEDIDO DE CANCELAMENTO PELA PARTE
SE DEU EM 11.11.2016”, E O ACÓRDÃO PROFERIDO NA AÇÃO CIVIL
PÚBLICA Nº 0136265-83.2013.4.02.5101, QUE FUNDAMENTA O
DESPROVIMENTO DE SEU RECURSO, TRANSITOU EM JULGADO
APENAS EM 08/10/2018. MATÉRIA DEVIDAMENTE ENFRENTADA
QUE ADMITE PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. EMBARGANTE
QUE, MESMO QUE PARA FINS DE PREQUESTIONAMENTO, DEVE
DEMONSTRAR EM QUE PONTO MERECE ESCLARECIMENTO OU
INTEGRAÇÃO A DECISÃO EMBARGADA. O ACÓRDÃO NÃO PADECE
DA OMISSÃO APONTADA, VISTO QUE, NÃO OBSTANTE O
CANCELAMENTO DO PLANO DE SAÚDE PELA EMBARGADA TENHA
OCORRIDO ANTERIORMENTE AO TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO
CIVIL PÚBLICA Nº 0136265-83.2013.4.02.5101, MOVIDA PELO
PROCON-RJ EM FACE DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR, O RESPECTIVO ACÓRDÃO SE FUNDAMENTA NO
ART. 6º, INCISOS II E IV, DO CDC, NORMA COGENTE, APLICÁVEL À
HIPÓTESE DOS AUTOS. SENDO ASSIM, NA FORMA DO ART. 6º, II E
IV, DO CDC, É ABUSIVA A CLÁUSULA DE FIDELIDADE, QUE LIMITA
A LIBERDADE DE CONTRATAR E APLICA MULTA PENITENCIAL POR
RESCISÃO ANTECIPADA DO CONTRATO. ACLARATÓRIOS
REJEITADOS.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos dos presentes embargos de


declaração na apelação cível, em que são partes as acima indicadas,
ACORDAM os Desembargadores que integram a Vigésima Sexta Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade, em
NEGAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do voto da Relatora.

RELATÓRIO

Trata-se de embargos de declaração opostos por SUL AMÉRICA


COMPANHIA DE SEGURO SAÚDE ao acórdão de fls. 546/557
(indexador 546), que negou provimento ao recurso da embargante e deu
parcial provimento ao recurso da embargada.

Eis a ementa do acórdão embargado:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE
SEGURO DE SAÚDE COLETIVO. SEGURADORA RÉ QUE EFETUOU
COBRANÇA DE MULTA POR RESCISÃO ANTECIPADA DO CONTRATO
E NEGATIVOU O NOME DA PARTE AUTORA. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA, DECLARANDO A INEXISTÊNCIA DO DÉBITO,
DETERMINANDO A EXCLUSÃO DO NOME DA PARTE AUTORA DOS
CADASTROS DE INADIMPLENTES E CONDENANDO A RÉ A LHE
PAGAR A QUANTIA DE R$10.000,00 (DEZ MIL REAIS) A TÍTULO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. APELO DE AMBAS AS PARTES.
CONTROVÉRSIA RECURSAL QUE SE CINGE À ANÁLISE DA
REGULARIDADE DA APLICAÇÃO DA MULTA CONTRATUAL, PELA
PARTE RÉ, EM DECORRÊNCIA DE DESCUMPRIMENTO, PELA PARTE
AUTORA, DO PRAZO DE FIDELIDADE ESTABELECIDO NO
CONTRATO, BEM COMO À OCORRÊNCIA DE DANOS MORAIS E À
ADEQUAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. O PARÁGRAFO
ÚNICO DO ARTIGO 17 DA RESOLUÇÃO NORMATIVA 195/2009 DA
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE DISPÕE QUE “OS CONTRATOS DE
PLANOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE COLETIVOS POR
ADESÃO OU EMPRESARIAL SOMENTE PODERÃO SER RESCINDIDOS
IMOTIVADAMENTE APÓS A VIGÊNCIA DO PERÍODO DE DOZE
MESES E MEDIANTE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO DA OUTRA PARTE COM
ANTECEDÊNCIA MÍNIMA DE SESSENTA DIAS”. A OITAVA TURMA
ESPECIALIZADA DO TRF DA 2ª REGIÃO, AO JULGAR A AÇÃO CIVIL
PÚBLICA Nº 0136265-83.2013.4.02.5101, MOVIDA PELO PROCON-RJ
EM FACE DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS,
EM 06 DE MAIO DE 2015, FIRMOU O ENTENDIMENTO DE QUE A
CLÁUSULA DE FIDELIDADE “VIOLA O DIREITO E LIBERDADE DE
ESCOLHA DO CONSUMIDOR DE BUSCAR UM PLANO OFERTADO NO
MERCADO MAIS VANTAJOSO”, “BEM COMO ENSEJA À PRÁTICA
ABUSIVA AO PERMITIR À PERCEPÇÃO DE VANTAGEM PECUNIÁRIA
INJUSTA E DESPROPORCIONAL POR PARTE DAS OPERADORAS DE
PLANOS DE SAÚDE, AO ARREPIO DOS INCISO II E IV, DO ART. 6º, DO
CDC”, SENDO INDEVIDA, PORTANTO, A COBRANÇA DE MULTA
PENITENCIAL OU A TAXA CORRESPONDENTE A DUAS
MENSALIDADES EM CASO DE RESCISÃO ANTECIPADA, OU SEJA,
ANTES DO FINAL DO PRAZO DE

FIDELIDADE DISPOSTO NO CONTRATO. RÉ QUE NÃO SE


DESINCUMBIU DO ÔNUS DISPOSTO NO ART. 373, II, DO CPC/15,
DEIXANDO DE COMPROVAR A EXISTÊNCIA DE LASTRO
CONTRATUAL A LEGITIMAR A NEGATIVAÇÃO, DECORRENDO DE
TAL CONDUTA O DEVER DE INDENIZAR EM RAZÃO DA RESTRIÇÃO
CREDITÍCIA. DANO MORAL IN RE IPSA. VERBA INDENIZATÓRIA
FIXADA EM R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) QUE NÃO SE AFASTA DA
MÉDIA USUALMENTE FIXADA, NÃO SE MOSTRANDO
DESARRAZOADA, A JUSTIFICAR SUA MODIFICAÇÃO. PRECEDENTE.
APLICAÇÃO DA SÚMULA 343 DESTA CORTE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. BASE DE CÁLCULO QUE CONTEMPLE “OS
PROVEITOS ECONÔMICOS DE TODAS AS TUTELAS OBTIDAS COM O
PROVIMENTO DOS PEDIDOS DECLARATÓRIOS E
INDENIZATÓRIOS”. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE DESTA CORTE.
DESPROVIMENTO DO PRIMEIRO APELO. PROVIMENTO
PARCIAL DO RECURSO DA SOCIEDADE HÍPICA BRASILEIRA.

A ré opõe os presentes embargos de declaração (indexador 559), com


propósito infringente e de prequestionamento, aduzindo que o acórdão é
omisso, na medida em que “O pedido de cancelamento pela parte se deu
em 11.11.2016”, e o acórdão proferido na Ação Civil Pública nº 0136265-
83.2013.4.02.5101, que fundamenta o desprovimento de seu recurso,
transitou em julgado apenas em 08/10/2018.

É o relatório.

VOTO

Os embargos de declaração, nos termos do art. 1.022 do NCPC, têm como


objetivo sanar eventual obscuridade, contradição ou omissão existente na
decisão recorrida.

Da análise dos autos, vê-se que a embargante pretende obter, por via
oblíqua, a reversão da decisão colegiada, cuja fundamentação foi
exaustiva, sendo, inclusive, desnecessária a oferta dos aclaratórios
unicamente para fins de prequestionamento.

Conforme entendimento sedimentado do Superior Tribunal de Justiça,


admite-se o prequestionamento implícito para fins de conhecimento do
recurso em instâncias superiores, desde que a matéria tenha sido
devidamente

enfrentada na decisão, ainda que não mencionados expressamente os


dispositivos

legal e/ou constitucional supostamente violados.

Refira-se:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. MUDANÇA DE REGIME


TRIBUTÁRIO.

PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. INAPLICABILIDADE DA


SÚMULA 7/STJ.

1. Os embargos declaratórios somente são cabíveis para a modificação do


julgado que se apresenta omisso, contraditório ou obscuro, bem como para
sanar eventual erro material no acórdão, o que não ocorre na espécie.

2. A jurisprudência desta Corte entende não ser necessária a


menção explícita aos dispositivos legais no texto do acórdão
recorrido para que seja atendido o requisito de
prequestionamento, bastando, consequentemente, que a
questão jurídica tenha sido debatida, como na espécie,
porquanto abordada a temática referente à possibilidade de
mudança de regime tributário.

(...)
III. "O STJ admite o prequestionamento implícito nas hipótese
em que os pontos debatidos no Recurso Especial foram
decididos no acórdão recorrido, sem explícita indicação dos
artigos de lei que fundamentam a decisão" (AgRg no REsp
1.398.869/PB, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, DJe de 11/10/2013).

(...)

VII. Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp 1225067 / ES -


Ministra ASSUSETE MAGALHÃES - SEXTA TURMA – Julgamento:
04/02/2014). (g.n.)

Por fim, ressalte-se que mesmo para fins de prequestionamento visando


acesso às vias especiais e extraordinárias, deve a parte embargante

demonstrar em que ponto merece esclarecimento ou integração a decisão


embargada,

sob pena de rejeição dos aclaratórios.

Nesse sentido, refiram-se os julgados:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO INTERPOSTOS POR AMBAS AS


PARTES NO RECURSO DE APELAÇÃO. ALEGAÇÃO DE
CONTRADIÇÃO, OMISSÃO E NECESSIDADE DE
PREQUESTIONAMENTO. Recursos que não se prestam a rediscutir o
mérito da causa. O inconformismo dos embargantes apenas configura um
pretexto para reabrir, sob perspectiva dos seus interesses, a discussão
sobre a matéria decidida no acórdão. Não havendo obscuridade, erro
ou omissão a sanar, conhece-se dos embargos, pois
tempestivos, devendo os mesmos, entretanto, ser rejeitados.
(Apelação Cível nº: 0120582-41.2011.8.19.0001 - DES. MYRIAM
MEDEIROS - Julgamento: 10/04/2014 - VIGESIMA SEXTA CÂMARA
CIVEL CONSUMIDOR). (g.n.)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO . PREQUESTIONAMENTO DE


DISPOSITIVOS DE LEI. ATIPICIDADE AO ART. 535, INCISOS I
E II, DO CPC. INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO
OU OBSCURIDADE SUPRÍVEIS. REJEIÇÃO DOS EMBARGOS.
(Apelação Cível nº: 0000071-15.2001.8.19.0017 - DES. GABRIEL ZEFIRO
- Julgamento: 11/04/2014 - DECIMA TERCEIRA CÂMARA CIVEL). (g.n.)

No mais, o acórdão não padece da omissão apontada, visto que, não


obstante o cancelamento do plano de saúde pela embargada tenha
ocorrido anteriormente ao trânsito em julgado da Ação Civil Pública nº
013626583.2013.4.02.5101, movida pelo PROCON-RJ em face da
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, o respectivo acórdão
se fundamenta no art. 6º, incisos II e IV, do CDC, norma cogente, aplicável
à hipótese dos autos.

Confira-se:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e


serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços ;

(grifei)

Confira-se, por sua vez, os fundamentos do acórdão embargado:

(...)

Cinge-se a controvérsia à análise da regularidade da aplicação da multa


contratual, pela parte ré, em decorrência de descumprimento, pela parte
autora, do prazo de fidelidade estabelecido no contrato, bem como à
ocorrência de danos morais e à adequação do quantum indenizatório.

Compulsando-se os autos, verifica-se que o contrato de seguro saúde


entabulado entre as partes possuía vigência mínima de vinte e quatro
meses (indexador 56 – fl. 66).

Por sua vez, o parágrafo único do artigo 17 da resolução normativa


195/2009 da Agência Nacional de Saúde dispõe que “Os contratos de
planos privados de assistência à saúde coletivos por adesão ou empresarial
somente poderão ser rescindidos imotivadamente após a vigência do

período de doze meses e mediante prévia notificação da outra parte com


antecedência mínima de sessenta dias”.

Não obstante, a Oitava Turma Especializada do TRF da 2ª região, ao julgar


a Ação Civil Pública nº 0136265-83.2013.4.02.5101, movida pelo
PROCON-RJ em face da AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR – ANS, em 06 de maio de 2015, firmou o entendimento
de que a cláusula de fidelidade “viola o direito e liberdade de escolha do
consumidor de buscar um plano ofertado no mercado mais vantajoso”,
“bem como enseja à prática abusiva ao permitir à percepção de vantagem
pecuniária injusta e desproporcional por parte das operadoras de planos
de saúde, ao arrepio dos inciso II e IV, do art. 6º, do CDC”, sendo
indevida, portanto, a cobrança de multa penitencial ou a taxa
correspondente a duas mensalidades em caso de rescisão antecipada, ou
seja, antes do final do prazo de fidelidade disposto no contrato.

Veja-se:

ADMINISTRATIVO. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. ART. 17 DA


RESOLUÇÃO 195 DA ANS. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. CLÁUSULA DE FIDELIDADE. ABUSIVIDADE. -
Rejeitada a alegação de intempestividade recursal aduzida pela parte
apelada, na medida em que, não obstante o recurso de apelação tenha sido
interposto antes do julgamento dos embargos declaratórios, a parte ré,
após o julgamento dos referidos embargos, ratificou o apelo, conforme se
depreende da petição de fl. 105. -A controvérsia sobre a validade e o
conteúdo das cláusulas do contrato de plano de saúde coletivo atrai a
aplicação das normas do Código de Defesa do Consumidor, haja vista os
beneficiários do plano de saúde se enquadram no conceito de consumidor,
pois utilizam os serviços na condição de destinatários finais, previsto no
art. 2º da Lei 8078/90, e as empresas de plano de saúde se enquadram no
conceito de fornecedor de serviços, uma vez que prestam serviços de
assistência à saúde, mediante remuneração, nos termos do que dispõe o
art. 3º, § 2º, do mesmo Diploma Legal. -O verbete nº 469 da Súmula do
Superior Tribunal de Justiça formou diretriz de que: ¿Aplica-se o Código
de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde". -A relação
firmada em contrato de plano de saúde coletivo é consumerista, ainda que
decorrente da relação triangular entre o beneficiário, o estipulante e a
seguradora/plano de saúde, pois, embora se assemelhe ao puro contrato
de estipulação em favor de terceiro, dele difere na medida em que o
beneficiário não apenas é titular dos direitos contratuais assegurados em
caso de sinistro, mas também assume uma parcela ou a totalidade das
obrigações, qual seja, o pagamento da mensalidade ou prêmio. - A
autorização, concedida pelo artigo 17 da RN/ANS 195/2009,
para que os planos de saúde coletivos estabeleçam, em seus
contratos, cláusulas de fidelidade de doze meses, com cobrança
de multa penitencial, caso haja rescisão antecipada dentro
desse período, viola o direito e liberdade de escolha do
consumidor de buscar um plano

ofertado no mercado mais vantajoso, bem como enseja à prática


abusiva

o permitir à percepção de vantagem pecuniária injusta e


desproporcional por parte das operadoras de planos de saúde,
ao arrepio dos inciso II e IV, do art. 6º, do CDC. -Remessa
necessária e recurso desprovidos.

No mesmo sentido, é o entendimento deste E. Tribunal de Justiça:

0005926-56.2016.8.19.0014 - APELAÇÃO

Des (a). RICARDO COUTO DE CASTRO - Julgamento:


10/04/2019 - SÉTIMA CÂMARA CÍVEL
AÇÃO MONITÓRIA. CONTRATO DE SEGURO SAÚDE EMPRESARIAL
COLETIVO. APLICAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. VERBETE Nº 469, DA SÚMULA DO STJ E
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. RESCISÃO POR
INADIMPLÊNCIA DO CONTRATANTE DENTRO DO PERÍODO DE
VIGÊNCIA (12 MESES). MULTA PENITENCIAL. DESCABIMENTO. A
CLÁUSULA DE FIDELIDADE VIOLA O DIREITO E LIBERDADE DE
ESCOLHA DO CONSUMIDOR DE BUSCAR UM PLANO OFERTADO NO
MERCADO MAIS VANTAJOSO. PERCEPÇÃO DE VANTAGEM
PECUNIÁRIA INJUSTA E DESPROPORCIONAL POR PARTE DAS
OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE,

O ARREPIO DOS INCISOS II E IV, DO ART. 6º, DO CDC. PRÁTICA


ABUSIVA. DEVER DO CONSUMIDOR DE PAGAMENTO REFERENTE
AO MÊS EM ABERTO, UMA VEZ QUE NÃO PODERIA SE BENEFICIAR
DA EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO SEM A DEVIDA
CONTRAPRESTAÇÃO, SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

0086777-24.2016.8.19.0001 - APELAÇÃO

Des (a). REGINA LUCIA PASSOS - Julgamento: 16/07/2019 -


VIGÉSIMA PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

Apelação Cível. Ação de Cobrança. Faturas de plano de saúde coletivo


inadimplidas. Rescisão unilateral do contrato pela estipulante. Alegação de
necessidade de aviso prévio. Prazo mínimo de manutenção do plano de
saúde antes do encerramento do contrato. Sentença de improcedência.
Manutenção. Irresignação da operadora de plano de saúde.
Inaplicabilidade direta do Código de Defesa do Consumidor, diante da
ausência da figura vulnerável - art. 2º do referido diploma. Caráter sui
generis do contrato de plano de saúde coletivo. Necessidade de assegurar a
não transgressão do direito do consumidor como efeito colateral da
decisão na lide entre o estipulante e a operadora de plano de saúde. Lei nº
9.656/98 que não regulamenta a rescisão unilateral dos contratos
coletivos de plano de saúde. Declaração de nulidade do parágrafo único do
art. 17 da Resolução nº 195/2009 por meio da ação civil pública nº
0136265-83.2013.4.02.5101, julgada pela Segunda Seção (RJ) do TRF em
23/11/2016. Imposição de fidelidade do estipulante à operadora de plano
de saúde por qualquer prazo, que constituiria afronta ao consumidor de
forma transversa.

Incontroversa a contratação, a resilição do contrato e a cobrança pelo


serviço referente a período posterior à rescisão contratual. Impõe-se a
improcedência do pedido. Majoração dos honorários sucumbenciais, nos
termos do § 11 do art. 85 do CPC. Jurisprudência e Precedentes citados:
ACP 0136265-83.2013.4.02.5101 - TRF 2ª Região ¿ Turma Espec. III -
Relatora: Desembargadora Federal VERA LUCIA LIMA - julgamento:
23/11/2016, publicação: 05/12/2016. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Do todo exposto, conclui-se que a ré não se desincumbiu do ônus disposto


no art. 373, II, do CPC/15, deixando de comprovar a existência de lastro
contratual a legitimar a negativação (indexador 138), decorrendo de tal
conduta o dever de indenizar em razão da restrição creditícia.

Destarte, já não se discute sobre a possibilidade de ocorrência do dano


moral em face da pessoa jurídica quando ofensivo à sua honra objetiva, na
forma do verbete sumular nº 227 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Desse modo, caracterizada está a ocorrência dos danos morais, que
decorre do descrédito econômico, causador de presumíveis consequências
na aquisição de capital para incremento do negócio exercido pela empresa,
ou mesmo para o pagamento de fornecedores e funcionários, sendo certo
que a autora precisou se valer do Poder Judiciário para obter a exclusão do
seu nome dos cadastros desabonadores.

Sendo assim, na forma do art. 6º, II e IV, do CDC, é abusiva a cláusula de


fidelidade, que limita a liberdade de contratar e aplica multa penitencial
por rescisão antecipada do contrato.

Diante do exposto, VOTO no sentido de REJEITAR os embargos de


declaração.

Rio de Janeiro, na data da sessão.

SANDRA SANTARÉM CARDINALI

Relatora
Do Descumprimento a Princípios Consumeristas

A ré não respeita princípios básicos da relação de consumo, dos quais pode-se


destacar:

a) O Princípio da Boa-fé

É previsto de forma explícita no inciso III do artigo 4º do CDC, in verbis:

“Art. 4º. A Política Nacional de Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transferência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
.............................................................................................................
III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170 da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;”

Conforme Paulo V. Jacobina em sua obra, “A Publicidade no Direito do Consumidor, Rio de


Janeiro, Forense, 1996. pág. 66” "o certo é que as partes devem,
mutuamente, manter o mínimo de confiança e lealdade, durante todo o processo
obrigacional; o seu comportamento deve ser coerente com a intenção manifestada,
evitando-se o elemento surpresa, tanto na fase de informação, quanto na de execução, e
até mesmo na fase posterior, que se pode chamar de fase de garantia e reposição. É nesse
sentido que o princípio da boa-fé foi positivado pelo CDC, no inciso III do art. 4º, e é nesse
sentido que a lei fala em harmonização de interesses e equilíbrio nas relações entre
fornecedores e consumidores”. (grifo nosso)
Ora, por certo, esta lealdade e confiança manifestada no principio acima exposto
não é respeitada pela ré, visto não ter cumprido o prazo de entrega do produto ao
consumidor, bem como não cumprir com os inúmeros prazos subsequentes informados aos
consumidores, que não obtêm qualquer solução.
É fato que, ao assim agir, viola, também, direito básico do consumidor
consubstanciado no art. 6º, IV da Lei n.º 8.078/90, eis que garantido lhe está a proteção
contra métodos coercitivos e desleais, assim como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviço.

Da ilegalidade da conduta da ré

Inequívoco que a ré, ao não entregar o bem adquirido no seu site www.lojasguapore.com.br ,
obrigando o consumidor a entrar em contato inúmeras vezes com a empresa, que informa
inúmeros prazos de entrega e descumpre todos, sem se vislumbrar qualquer solução para o
problema, infringiu diversos dispositivos da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor), merecendo, pois, a efetiva reparação e prevenção dos danos materiais e
morais, coletivos e/ou individuais, daí advindos, conforme se demonstrará a seguir. Neste
sentido, a ré, ao não cumprir com o prazo de entrega da mercadoria pactuado com o
consumidor, atenta, a princípio, contra o que estabelece o artigo 6°, inciso III, do CDC, que
garante como direito básico do consumidor a informação clara e adequada sobre os
diferentes produtos e serviços, in verbis: “Art. 6°. São direitos básicos do consumidor: (...) III
– a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os
riscos que apresentem;” Como se vê, a ré, prevalecendo-se da hipossuficiência do
consumidor e de sua manifesta vulnerabilidade no mercado de consumo, adotou método
comercial desleal ao não cumprir com o prazo de entrega do produto adquirido, bem como
nem ao menos cumpriu os prazos subsequentes informados ao consumidor para solucionar
a questão, em discordância com o estabelecido no artigo 6°, inciso IV, do CDC, in verbis:
“Art. 6°. São direitos básicos do consumidor: (...) IV – a proteção contra a publicidade
enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;”

Além disso, o artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor prevê que as informações


acerca do produto ou serviço colocado no mercado pelo fornecedor o obrigam, passando o
mesmo a integrar o contrato celebrado. Dessa forma, o não cumprimento do prazo da
entrega do produto configura hipótese de recusa de cumprimento à oferta, sendo facultado
ao consumidor exigir o seu cumprimento forçado ou rescindir o contrato, recebendo a
restituição de quantia eventualmente despendida com a aquisição do produto,
monetariamente atualizada, e indenização por eventuais danos sofridos, a teor do artigo 35,
caput, e incisos I e III da legislação consumerista, in verbis: “Art. 30. Toda informação ou
publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação
com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a
fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 35. Se o
fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou
publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I – exigir o
cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; (...)
III – rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada,
monetariamente atualizada, e a perdas e danos.” (Código de Defesa do Consumidor)

Nesse contexto, não obstante a possibilidade de desfazimento unilateral, em se tratando de


contrato coletivo de plano de saúde, após a vigência do período de 12 (doze) meses e
mediante prévia notificação da outra parte, a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), ao regulamentar tal modalidade, efetuou distinção entre os que tenham menos de 30
(trinta) beneficiários e guardem semelhantes bases atuariais a dos planos individuais e
familiares e as demais avenças coletivas, exigindo daqueles motivação idônea para o
encerramento unilateral do vínculo.

1. O artigo 13, parágrafo único, II, da Lei n° 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos
contratos de plano de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência
apenas nas espécies individuais ou familiares. Precedentes das Turmas da Segunda Seção
do STJ. 2. A regulamentação dos planos coletivos empresariais (Lei n° 9.656/98, art. 16, VII)
distingue aqueles com menos de trinta usuários, cujas bases atuariais se assemelham às
dos planos individuais e familiares, impondo sejam agrupados com a finalidade de diluição
do risco de operação e apuração do cálculo do percentual de reajuste a ser aplicado em
cada um deles (Resoluçoes 195/2009 e 309/2012 da ANS).

3. Nesses tipos de contrato, em vista da vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de


escasso poder de barganha, não se admite a simples rescisão unilateral pela operadora de
plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea. Precedente da Terceira Turma
(RESP 1.553.013/SP, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJ 20.3.2018). 4. Para a
caracterização do dissídio jurisprudencial, é necessária a demonstração da similitude fática e
da divergência na interpretação do direito entre os acórdãos confrontados. 5. Recurso
especial parcialmente conhecido, ao qual se nega provimento. (REsp 1.776.04
Conforme precedente firmado por esta eg. Corte, "4. A contratação por uma microempresa
de plano de saúde em favor de dois únicos beneficiários não atinge o escopo da norma que
regula os contratos coletivos, justamente por faltar o elemento essencial de uma população
de beneficiários. 5. Não se verifica a violação do art. 13, parágrafo único, II, da Lei 9.656/98
pelo Tribunal de origem, pois a hipótese sob exame revela um atípico contrato coletivo que,
em verdade, reclama o excepcional tratamento como individual/familiar"

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